segunda-feira, 14 de junho de 2010

36801 até 36820

1


Belezas e perfumes; poderia
Quem tanto quis a vida de outra forma,
Mas quando a realidade já me informa
Da noite feita em dor, farta sangria
Mudando neste instante a melodia
Na qual a própria vida se transforma
E desta sensação a alma deforma
Matando qualquer luz em fantasia.
Ser mais ou muito menos, pouco importa
Apenas abrirei do sonho a porta
E deixando voar em liberdade
Em plena transparência o verso quando
Meu mundo das algemas liberando
No amor em plena paz que ora me invade.

2

Vulcânicos fulgores sensuais
Delírios tão comuns na primavera,
E quando num outono se tempera
Resulta em atos loucos, vendavais.
Mas quando se mostrando muito mais
Do todo feito em dúvida esta espera
Noutro caminho, audaz, já se tempera
E deixa bem distante os temporais.
Num invernal caminho inexorável,
Às vezes poderia ser amável,
Mas como, se esta vida assim o impede?
Agrisalhando aos poucos meus cabelos,
Em furioso passo posso vê-los
Sem calmaria ao menos que os procede.

3

Minerva, se encantado com teu ar
De tal sabedoria em simples sonho
E quando a ti meu barco enfim proponho
Aprendo a cada instante o bem de amar.
Por vezes tão cansado de lutar
Jogado pelo céu vago e medonho,
Adentro outro caminho e nele ponho
Meu verso com vontade de voar.
Cenários divididos, hoje ou ontem
Diverso passo eu mostro desde então,
Aprendo a caminhar na direção
Sem ter sinais alguns que inda remontem
Ao tétrico futuro aonde em vão
Meus passos sem teus passos se darão.

4

Mandou iluminar o dia quando
Ao fabricar inteiro este universo
Do pó aonde outrora mais disperso
Unindo num cenário e abençoando
A vida do vazio se gerando
E nela a cada dia eu teimo e verso
Usando um tom suave ou mais perverso,
Somente noutro fato me moldando.
Espectros divergentes de uma vida
E nela se mostrando sem saída
A sórdida lembrança da vingança
Minha alma atemporal? Assim se lança
E busca no final a temperança
Por mais que a realidade em dor agrida.

5

Levando seus talentos no passado
Pagando alguma parte da miséria
Que tanto poderia sendo séria
Deixar outro caminho por legado,
Assim ao ver o passo desolado
Do ser humano, torpe e vã bactéria
Sem ter sequer a luz esta matéria
Em podridão apenas se formando,
Os juros sobre juros enriquecem
Aqueles que decerto se oferecem
Como de impostos nobres cobradores,
E quanto mais ao rumo não te opores
Verás tão desolada esta paisagem
Aonde do Pai fora qual imagem.

6

Desta mulher as flores mais audazes
Transformam em eterna a primavera
E quando mais do amor enfim se espera
Os olhos tão sombrios e mordazes
Aonde na verdade tu me trazes
A face mais atroz da vulga fera
E todo este caminho destempera
Deixando para trás diversas fases.
Na espúria sordidez de quem a vende
Mercadoria nobre e não entende
A bela sensação de liberdade
Do sonho feminino, sem ter grade,
E tanto quanto pode se aviltando
Gerando um ser sombrio e quase infando.

7

Beleza feita em cachos, teus cabelos
Não sei por que tu cismas em deixá-los
Diversos da natura em seus regalos
E assim noutros caminhos envolvê-los
Aonde poderia em tais novelos
Cenários divinais e garimpá-los
Ou mesmo em sutileza contemplá-los
Deixando para trás tolos desvelos.
Mas quando diferente do que outrora
A face se demonstra e em vão decora
Beleza natural com sortilégios,
Não posso aceitar tal desvario
E quando vejo liso cada fio,
Jogando assim ao lixo os privilégios.

8

Ao mundo, então, brindou no amor sereno
Aquele que se fez Irmão e Pai,
Ao mesmo tempo o mundo tanto trai
Vendendo este terror onde enveneno
A voz que imaginara em tom ameno
E a cada novo dia já se trai
E o sangue do cordeiro ali se esvai
Invés de claro vinho, algum veneno.
Pudesse neste pleno caminhar
Apenas entender o que é amar,
E nisto a liberdade se tecendo,
Mas quando vejo as portas de uma igreja
Maldita para sempre que ela seja
O sangue gota a gota já vendendo.

9

Errei ao perseguir buscando a paz,
Aonde os vendilhões são tantos quanto
Há tempos noutra fase do quebranto,
Porém a corja agora é mais audaz,
Jamais com pouca coisa satisfaz
Quem vende desde o sonho até seu canto
E quando mais vivo mais me espanto
Ao ver a face espúria, vã mordaz
E percebendo enfim tal canalhice
Aonde o puro amor já se desdisse
Na inusitada sombra de um fantoche,
A cruz é leiloada a cada instante
E vendo este cenário degradante
Platéia se diverte em tal deboche.


10


Tantas vezes, perdido e sem caminhos
Olhando para os lados, nada vejo
Senão a mera sombra de um desejo
Esboço destes tempos mais daninhos,
Aonde morta a rosa, sei de espinhos
E cada novo dia outro lampejo
Roubando do meu céu seu azulejo
E tantos dissabores, tão mesquinhos.
Sou pobre e deste jeito morrerei,
Não sei nem quero mais alguma lei
Meu canto se transforma em anarquia
Que danem-se profetas, alquimistas
Cansados destes tantos vigaristas
Só quero libertária, a poesia.


1


Outras tantas; busquei
Em noite soberana
Aonde já se engana
Quem tenta nova lei
E mesmo quando errei
A vida mais profana
Ou tanto sendo insana
Se nela eu mergulhei,
Gerara outro caminho
E quando em desalinho
Já tanto faz ou fez,
Benesses? Não as quero
Meu canto se é sincero
Pergunto à lucidez.

2


Ao longe, transtornado
Um eco e nada mais
Ouvindo os funerais
Aumento o som do brado,
Se eu tento outro passado
Ou bebo até demais
Os velhos rituais
Porquanto eu profanado,
Percorro o que em der
Na telha e se eu puder
Eu bebo esta avenida.
No fundo sou fiasco,
E quanto mais me lasco
Mais ganho a minha vida.

3

Por ter, assim, entrado
Sequer bati na porta
A realidade aporta
O rumo mal traçado
E tanto maltratado
Importa ou pouco importa
No sonho se deporta
O vinho avinagrado.
Ourives ou medonho
No quanto eu me proponho
Nada que satisfaça
No cristalino gole
Meu mundo só engole
No fim a velha taça.

4

Tens razão: destruir
Aonde poderia
Haver mais rebeldia
Da vida um elixir.
O parto a se partir
O corte em euforia
A velha sintonia
Deixara de existir.
Labuto enquanto tento
E sorvo em cata vento
O beijo do abandono
Se não ou senão sim
Do começo ao teu fim
Enfim eu já me adono.

5

Rebentará, decerto,
O que não pude crer
Se houvesse algum prazer
Meu rumo não deserto
E quanto em vão me alerto
Ou mesmo tento ver
Depois do teu querer
Este caminho aberto,
Resumo doutro fato
Aonde desacato
E maltrato afinal
Quem vende em tal propina
Se a vida não me ensina
O bem; devoro o mal.

6

Mas peço, por favor,
Silêncios à platéia
E tento nova idéia
E nela sem furor
Apenas por propor
Diversa panacéia
A vida em assembléia
Gerando algum calor.
No fundo deste prato
Se eu tento ou se desato
Atento ao que puder
Não deixo para trás
O quanto já se traz
Num sentido qualquer.

7

Não deixes este sonho
Apenas à deriva
A vida não se priva
Nem mesmo o que proponho
Se é feito em ar bisonho
O quanto em paz não criva
Uma alma sendo altiva
Não bebe este enfadonho,
Opaco passo ao quando
Pudera ou derramando
Em gotas de veneno.
No passo que me resta
O tanto poupa a resta
E assim eu me sereno.


8

Em vão, já procurei
O quanto pude ou não
E sei que servirão
Banquete como lei,
No fundo eu me estrepei
E sei deste espigão
Aonde houvera pão,
Mas nunca o comerei.
Igualitário quando
Pudesse em contrabando
Perceber o que eu sei
O muito saberia
Não fosse turvo o dia...

9

A luta se mostrou
Conforme quis a vida
Assim nesta avenida
O sonho desfilou
Mentira e mergulhou
Aonde desprovida
A sorte já perdida
Apenas se negou.
Sou menos e somenos
Se eu tenho mais amenos
Ou mais do que mereça
Ao todo quando dera
Não sendo fúria ou fera
Eu entro de cabeça.


10

A noite, meu amor,
Foi feita sem complexo
No gozo em ledo nexo
Por isso sem pudor,
Se é frio, o teu calor
E nele sigo anexo
Jamais fico perplexo
Apenas te propor
Momento desejado
Aonde meu legado
Também se mostre teu,
Meu corpo no teu porto
Eu quero vivo ou morto,
Pois se reconheceu.

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