sexta-feira, 18 de junho de 2010

37441 até 37460

1

Pensara ser feliz
Engano tão somente
A vida tanto mente
Enquanto nos desdiz
E sei que a cicatriz
Tomando plenamente
O quanto se apresente
E muda este matiz.
Hercúlea fantasia
O tempo desafia
E gera o nada além,
Assim ao ver enfim
Um nada dentro em mim,
A morte me convém.

2

Apodrecida sorte
Medonha face exposta
E quando sem resposta
A vida sem aporte,
Talvez nada conforte
Nem mesmo outra proposta
Perdendo a velha aposta
Não tenho sequer norte.
Vestindo as ilusões
Ausentes meus verões
E os dias são sombrios,
Sem rumo sigo aquém
Do quanto ainda vem
Em dias mesmo os frios.

3



Meu rumo sem teu rastro
Meu canto perde o nexo
E sigo assim perplexo
Vagando sem um astro
Que possa trazer lastro
E tento mesmo anexo
Um dia mais conexo
E em vão, enfim me alastro.
Brindando com cicuta
A sorte não me escuta
A morte traz a paz,
Depois da imensa luta
O passo não reluta
E assim tudo desfaz.


4


Buscando por prazeres
Aonde nada vira
Somente esta mentira
Ditando os meus quereres,
E nada do que veres
Trará a mão que tira
No olhar perdendo a mira,
Distintos, turvos seres.
E sei do meu final,
Esgoto em face imunda,
A sorte moribunda
O olhar quase venal,
O corte se aprofunda
E a morte é triunfal.


5


Na espera de viver
Ao menos um momento
Aonde me apascento
E esqueço o desprazer,
Não pude mais tecer
Além do que ora tento,
E sei que um excremento
Em vida eu posso ser,
Mas quando se aproxima
A morte muda o clima
E traz a mansa brisa,
Assim o meu caminho
Que sei tanto mesquinho,
Das messes se matiza.


6




Gozando de perfeitas
E doces harmonias,
Pudesse em novos dias
Aonde te deleitas
Palavras sendo aceitas
E nelas tu recrias
As tantas fantasias,
Porém sei já desfeitas,
O todo imaginário
Um fato temporário
Agora se desfez,
A morte climatiza
E tanto estigmatiza,
Mas traz a lucidez.


7




A vida me omitindo
Verdades mais profundas
E quando te aprofundas
Percebo bem mais lindo
O dia se esvaindo
E nele quando inundas
Em sonhos, não redundas
No tempo quase infindo.
Eu sei do quanto pude
E agora em atitude
Não bebo da ilusão
O corpo se espalhava
Agora em medo e lava,
Só decomposição.


8

Tortura-me feroz
O belicoso passo
Aonde tento e traço
Ouvindo a mansa voz
Deixando além o atroz
Caminho em que ora faço
Tomando todo espaço,
Morrendo em mesma foz.
No quanto ainda resto
Não tendo mais um gesto
Que possa redimir,
Meus erros costumeiros
Os dias traiçoeiros
Negando algum porvir.


9


Trazendo-me fatal
O olhar de quem se dera
Diversa primavera
Chegando ao seu final,
O gesto sensual
A vida se tempera,
Mas quando esta quimera
Adentra o ritual,
Levando para além
O quanto já contém
O coração audaz,
Mas quando assim se espalha
A fúria da navalha
Somente o tempo traz.


10


Não deixa-me sequer
Resíduos do passado
E vendo desolado
O mundo que se quer,
A sorte sei qualquer
E nela novo fado,
Bebendo este recado,
Ou tento o que vier,
Atento muita vez
O quanto se desfez
Da dura caminhada,
Resisto e na verdade,
A morte quando invade
É sempre abençoada.


11

Do tempo em que, felizes,
Talvez imaginasse
O mundo noutra face
Distante destas crises,
Cultivo cicatrizes
E sei de cada impasse
Aonde a sorte grasse
E nela seus deslizes,
Restando pouco ou nada
Do quanto em nova alçada
A vida pode dar,
Medonha face exposta
Aguardo por resposta,
Adentro em paz o mar.


12


Os olhos e seus brilhos
O passo sem destino
E quando não domino
Os dias andarilhos,
Diversos os ladrilhos
E neles perco o tino,
Ainda não fascino
E sigo novos trilhos,
Resolvo desde então
E bebo a solução
Tentando novamente
Vencer os meus temores
E se decerto opores,
O tempo já desmente.


13


Do tempo onde sincero
Eu desejei além
Do quanto já não tem
O amor aonde eu quero
Embora seja fero
O mundo em seu desdém
Não quero ser refém
E assim o nada espero,
Fagulhas de esperanças
E nelas tu me lanças
Ferrenhas desventuras,
E sinto o que talvez
Ainda já não vês,
Porém tanto procuras.


14



A fonte do prazer
O olhar mais reticente
E nada já se sente
Senão o apodrecer
Do quanto quis mais ser
E nada se aparente,
Mergulho e qual demente
Procuro me conter.
Resumo a fantasia
No quanto não podia
Ou mesmo não mais pude,
E sei ora distante
Do olhar mais radiante
A morta juventude.


15


Fonte da juventude
Jamais imaginara
A sorte dita escara
E nada mais ilude,
Vivendo como pude
Não tento e se escancara
A morte cara a cara
E toma esta atitude.
Amordaçado eu vira
O olhar em louca mira
Agindo em inclemência
De tudo resta o nada,
E sendo desolada
A estrada sem clemência.


16

Um dia me sentindo
Aquém do que pudera
A vida, esta quimera,
Aos poucos não mais brindo
E quanto mais me findo
Gerando a imensa fera
Abrindo esta cratera
E nela descobrindo
Apenas o que resta
Do que pensara festa
Nem fresta mais se vê
O todo se atrapalha,
O laço e a cordoalha,
O tempo sem por que.


17


Das dores mais diversas
Dos medos costumeiros
Os pés aventureiros
Adentram onde versas
E sem nem mais conversas
Encontro os derradeiros
Caminhos traiçoeiros
Em sendas mais dispersas,
Restando do passado
Apenas maltratado
O corpo maltrapilho,
Olhando para o nada
Buscando uma escalada
Sozinho eu já me pilho.


18


Sonhei com novos dias
Imersos em tal luz
E quanto me conduz
Às velhas melodias
Embora me dizias
Do tempo feito em pus
Do medo em vera cruz
E nele as agonias,
Eu tento vislumbrar
Na noite sem luar
Algum rastro qualquer,
Bendito dia creio
E quando sem receio
Encaro o que vier.


19


A paz, enfim, sonhada
Depois de tantos anos
Imerso em desenganos
Restando apenas nada,
Assim ao ver a escada
E nela velhos danos,
Momentos mais profanos,
A sorte derrocada,
Resumo em verso o fato
Aonde me destrato
E sei da realidade,
O velho atrás do espelho
No nada me aconselho
Enquanto a morte brade.


20


Meu verso, tanta vez
Pudesse ainda ter
O lume de um prazer
Aonde se desfez
O mundo em altivez
E nele passo a crer
Podendo amanhecer
E nisto não mais crês,
O velho desdentado
O olhar turvo e nublado
Mera caricatura,
Assim eu me retrato
E sei do tempo ingrato
Que mata enquanto cura.

Nenhum comentário: