sexta-feira, 18 de junho de 2010

37361 até 37380

1

Seguindo em toda parte
Ou mesmo me perdendo
No quanto ou sem adendo
O nada se reparte,
Aonde quis ver a arte
O todo se tecendo
E o nada me envolvendo
Preparo-me ao descarte,
O todo transformado
O nada recriado
Criados servos, amo.
Senzalas que visito
Ou nada vivo in sito
E teimo e inda reclamo.

2

Desejo e logo perco
Acerto o alvo errando,
E tento vez em quando
Apertar este cerco,
Gerado neste esterco
Ou nele me entranhando
Os sonhos vãos em bando
Ao menos já me acerco
Dos erros meus engodos
Dos ermos sei os lodos
E tanto pude ou não
Servir ou ser servido,
No parto repartido
Eu passo em procissão.

3

Aonde eu completo
Ou nada mais se vê
Resvalo no clichê
Responde ao predileto
Caminhos negam feto
E sei que sem por que
O amor já não revê
Nem mesmo um ermo afeto.
Opaco passo eu vejo
E tento algum desejo
Desvendo e sou nenhum.
Pudesse em messe ou menos
Momentos mais amenos
Somenos, não deu um.

4

Aonde eu me destino
Ou tino não se esconde
E nisto sem a fronde
O sol; recebo a pino,
Pudesse em farto tino
Ou nada mais responde
O quanto não sei onde
E mesmo sou menino.
Cristais do meu passado
O cálice quebrado
Brindando em copo plástico
Meu erro em berros urro
E quando já me emburro
Calado eu sou mais drástico.

5

Se eu sigo natural
Ou me disfarço enquanto
Pudesses; entretanto
No canto ritual,
Gerando bem ou mal,
O todo que garanto
Ou nunca mais me espanto
Caindo do degrau,
Degradação à vista
Amor eu sei à prazo
E quando me comprazo
Jamais a alma revista
E deixa para trás
Ou mesmo tanto faz.

6

Pudesse ser sublime
Ou climas mais diversos
Assim entre meus versos
O quanto me redime
Do nada onde se estime
Olhar se são perversos
Os dias mais dispersos
Cenários de outro crime,
Passivo? Mas nem tanto,
Altivo quando canto
E espanto esta platéia
Gerando em girassol
O pouco deste sol,
Dourando em alma atéia.


7

Segredos? Ledos, tenho
E sei que não pudera
Apascentar esta era
Nem mesmo mais contenho,
Se eu fecho ou não meu cenho
O nada me tempera
E não se desespera
A vida sem empenho.
Gerânios na janela
O sonho não se atrela
Ao pouco que inda vejo,
Na porta onde se abrira
A sorte ou a mentira
No corte mais sobejo.

8

Ainda que confirme
O quanto deste outono
Aonde eu abandono
O passo nunca firme,
Ou mesmo já se afirme
O todo onde me adono,
E morto até de sono,
Pisando em solo firme,
No passo rumo ao nada
A noite dita estrada
E o forte no final,
Mas mera coincidência
A voz em eloqüência
Locupleta afinal.

9

Sentindo deste orvalho
O toque mais macio,
E nada do rocio
Traria o que batalho,
Ou mesmo se me espalho
E assim eu já recrio
O quanto em desafio
Tomando este assoalho,
No fundo nada quero
Ou tanto sou sincero
Encantos? Não preciso.
Mas logo se vieres
Bendita entre as mulheres
Bendiga o teu sorriso.

10

Quisesse ser fiel
Balança não traía
Ou já descontraía
Quem tanto vai ao céu,
Seguindo sempre ao léu
O véu não diz da fria
Gigante ventania
Nem cumpre seu papel,
Arcando com meu erro
Arcanjo num desterro
Caído em plena treva,
Pudesse ter em mente
O que tanto se mente
E ao nada já me leva.

11

Procuro algum repouso
Aonde em desconsolo
Pudesse mesmo tolo
Tentar, mas não mais ouso.
Seria até teimoso
Se tudo fosse assim
Princípio meio e fim,
Ausente qualquer gozo.
Palácio derrubado
E longe do castelo
O quanto não revelo
Percebo em velho fado,
O gosto da maçã
Apodrecida e vã.

12

A lâmina que apara
E traga toda a grama
No quanto não reclama
Ou gera nova escara
No todo cara a cara
O velho dita o drama,
E ainda mesmo trama
A farsa se escancara.
Pudesse pelo menos
Vencer estes serenos
Momentos que antecedem
Errático caminho
E sigo mais mesquinho
E os pés já não impedem.

13


Desvendo a cada passo o que hoje sou
Imagem distorcida e caricata
Enquanto a realidade me maltrata
Espelho demonstrando não negou,
Aonde no passado mergulhou
A sorte mesmo vã, ou mesmo ingrata,
O tanto que pudesse se desata
E o resto o próprio tempo carregou.
Minha alma entorpecida não percebe
O quanto se desmancha em vulga plebe
E o todo se desfaz a cada instante,
Do tanto que já fora agora o nada,
Qual senda pela vida abandonada,
Imagem tão somente degradante.

14

Ao mesmo tempo eu tinha a mera chance
De ter alguma luz e nada existe,
O coração adentra a senda triste
E neste nada ser ora se lança.
Meu passo rumo à morte agora avança
O sonho se inda resta não persiste,
Apenas o vazio já consiste
No todo que inda levo na lembrança,
A poesia é fútil companheira,
Também como as que eu tive é traiçoeira,
O esgoto de minha alma se transborda
Quem nesta vida esteve sempre à borda
Jamais em consistência vira a luz,
Aos poucos ao final enfim conduz.

15

Ainda que pudesse acreditar
No dia mais feliz, um devaneio,
Enquanto os meus demônios eu rodeio,
Tentando vislumbrar qualquer lugar,
Aonde eu possa enfim já descansar
Depois de tantos anos, sigo alheio
Não tendo nem o sonho por recreio,
A vida não se tarda a derramar
Seus braços sobre a morte incontestável,
E o fim mesmo que seja detestável
Talvez seja um alento ou pouco além,
Do todo que pensara ainda haver
Ao ver a face escusa do viver
Somente um vago traço inda retém.

16

Atrelo cada sonho ao mais distante
Caminho aonde eu pude ter nas mãos
Apenas os momentos ledos, vãos
E nada se apresenta em degradante
Cenário onde já quis ser deslumbrante,
Os olhos sem destino quais pagãos
Os sonhos meros torpes artesãos
E nada de um futuro me garante.
Ao passo em que a mortalha em teias firmes,
A cada novo não tu reafirmes
E sendo assim a vejo mais presente,
Sem nada que inda possa em lenitivo,
Apenas tão somente sobrevivo
Embora uma saída, insano, eu tente.

17

Apenas quis ouvir a voz do vento
E nela adivinhar qualquer beleza,
Porém a vida gera com destreza
Somente o que se vê; vil sofrimento,
E quando alguma chance ainda invento
O tempo segue rumo à correnteza
E nada se restando sobre a mesa,
Somente do vazio eu me alimento.
Ao menos poderia uma esperança,
Mas quando no sombrio o passo avança
Não resta qualquer dúvida é meu fim,
A morte redimindo cada engodo,
Adentro e mergulhando neste lodo
Revivo cada instante de onde vim.

18


Acendo outro cigarro e mesmo assim,
Esfumaçada vida se apresenta
E quando uma alma tétrica e sedenta
Procura algum alento, bebo o gim
Aonde poderia ver enfim
A sorte noutra forma, mais aumenta
A dor que na verdade me sustenta,
E teimo até chegar o ledo fim.
Se um dia fui feliz? Não sei aonde,
Nem mesmo uma saudade me responde
Ausência se mostrara mais constante,
Sem ter um dia ao menos de alegria,
A morte se mostrando em fantasia
De alguma paz ao menos já garante.

19

Ouvindo a voz de quem se foi e agora
Distante dos meus olhos trama a fuga
O olhar empapuçado, dor e ruga,
A própria natureza desancora
O corte da esperança agora aflora,
E o medo se transforma e tudo suga,
Uma alegria tola não se aluga
Nem mesmo se aproxima e não demora.
O todo se perdendo neste fato
E sigo contra a sorte, um insensato
Buscando alguma luz, e sabe bem
Que a vida não propaga outra certeza
E roto destroçado, sem beleza,
Apenas a mortalha me convém.

20

Pudesse acreditar em novos dias,
Seria bem melhor. Mas o que eu faço?
Felicidade cede cada espaço
E além eu te percebo em ironias,
As horas morrem turvas e vazias,
O quanto de esperança já não traço,
Mergulho neste não e cada passo
Demonstra a solidão aonde guias
Os passos deste incauto navegante,
Sem nada que talvez já me adiante
Eu sigo em erma senda rumo ao nada.
Pudesse acreditar em soluções,
Mas quando a realidade tu me expões
Minha alma há tanto tempo degradada...

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