1
Amor que revelou
Seara mais feliz
E nela se eu me fiz
E o tempo desbotou
O quanto em mim sobrou
Apenas cicatriz?
Eu sei ser aprendiz
E nisto ainda estou
Vagando solitário
Embora temerário
Assim eu continuo
Levando esta saudade
Negando a realidade
Em vão, teimo e flutuo...
2
Nos olhos radiantes
Dos sonhos mais audazes
Ainda quando trazes
E mesmo por instantes
E neles me garantes
A vida em novas fases,
Mas sei que tanto fazes
Em passos degradantes.
Restando alguma luz
Aonde se produz
A senda mais dispersa,
E nesta luz somente
O farto se apresente
E o sonho ainda versa.
3
Que nos trouxe tristeza
Eu sei e não renego
Embora seja cego
Enfrento esta incerteza
Ainda sem surpresa
No mar onde me entrego
Persisto e não delego
O passo a quem se preza.
Vencido pelo sonho
Se ainda em vão componho
Um verso, nada trago
Somente esta ilusão
E nela desde então,
Rendido ao velho estrago.
4
A vida se mostrou
A quem não desejara
Sequer o quanto ampara
Ou mesmo o que inda sou.
Mergulho de onde estou
E sei desta seara
Aonde desampara
E nada em mim sobrou.
Apenas outro fato
E sei se desacato
Por vezes nego a face
Estranha e mais bisonha
De quem teimoso sonha
E o nada ainda grasse.
5
Em plenas convulsões
Delírios sem igual
E quando em ritual
Disperso tu me expões
Delírios e emoções
Degrau após degrau
O fato terminal
Traduz velhos senões,
Senil e torpe venho
E quando fecho o cenho
Encontro os meus resquícios
E neles precipícios
Restando dentro em mim
Transcendem ao que vim...
6
Dançávamos felizes
Nos bailes e festejos
Além destes desejos
Aonde contradizes
Diversas cicatrizes
Em dias mais sobejos
Realço os azulejos
E neles vejo as crises.
Redime-me saber
Do quanto em desprazer
Também te magoaste,
Assim a nossa vida
Embora em despedida
Traduz inda o desgaste.
7
Das horas de torpor,
Dos dias mais venais
Eu busco muito mais
Do que saber do amor
Aonde sem pudor
Em fatos desiguais
Pudesse até jamais
Saber da senda e flor,
No passo ou no vazio
O quanto desafio
E gero novamente
A face mais audaz
E nela se inda há paz
Já não mais me apresente...
8
Esquecemos que toda
Certeza gera o nada,
Aonde desfiada
A sorte que nos poda,
Pudesse enquanto roda
A vida noutra estada
Trazer alvoroçada
A sina que me açoda.
O resto em funeral
O tempo sempre igual
O vago caminhar
E nele não se veja
Sequer outra bandeja
Cabeça a se entregar.
9
Por certo murchará
A rosa que plantei
Nos sonhos se verei
O todo ou nada já
Só sei que brilhará
O amor quando ofusquei
No verso eu não ousei
E nem se mudará
A vida noutro tanto
E quando iludo ou canto
Vagando pelos ermos
Procuro na verdade
Aquém desta saudade
O tempo noutros termos.
10
Dores antigas matam
As ilusões de agora,
No quanto o velho aflora
E os tempos nos maltratam
Os laços não desatam
E tudo nos decora,
Na dor que se demora
Ou dias que retratam
A face doentia
Do todo onde podia
Gerar diversidade,
Na parte onde me cabe
Se o mundo já desabe
Não sinto nem saudade...
11
Nada mais restará
E tampouco mais quero
E sei quando sincero
O farto se trará
No passo aqui ou lá
Bastante manso ou fero
Apenas destempero
Não acomodará.
Meu passo dita o rumo
E sei quanto consumo
Do sonho mais mordaz,
Porém na face exposta
Da vida em vã proposta
Decerto tanto faz.
12
Palavra sem sentido
Amor ou glória quando
O templo desabando
Restando num olvido,
O gozo da libido
O tempo devorando
A sorte desejando
Outro caminho, e lido
Com toda esta incerteza
Expondo sobre a mesa
O gesto ritual
E bebo em goles tantos
Os fartos desencantos
No fundo é tudo igual...
13
Minha alma não se cansa
De ter além do sonho
O quanto me proponho
Em luz e confiança
No todo que se lança
Um ar torpe e medonho
Ou mesmo tão tristonho
Gerando outra aliança
Vasculho nos beirais
Quem queira muito ou mais
Do quanto já me dera,
Não tendo mais ninguém
Ainda amor contém
O olhar desta pantera...
14
O beijo que trocamos,
Os olhos entranhando
O corpo desnudando
O templo decoramos
Em luzes, fartos ramos
Em sonho calmo e brando
A vida em contrabando
O quanto destroçamos...
Resumo neste verso
E nele me disperso
Buscando a solução
Sabendo que deveras
Além do quanto geras
Só resta ausência e não.
15
Como se fora apenas
O resto do que um dia
Bebera em fantasia
As vidas mais serenas
E quando me apequenas
Dispersa melodia
Gerada em agonia
Repete velhas cenas
Glosasse esta emoção
E nela sem sermão
Vagasse noutra senda
Sem ter sequer quem ouça
O amor tão frágil louça
Quem sabe alguém o entenda?
16
Por tanto tempo, pálida
Olhara sem destino
O quanto me domino
E tento outra crisálida
Na face quase esquálida
Apenas desatino,
O sol do sonho a pino
Imagem quase cálida
E o sonho nega o passo
Aonde me desfaço
E tento alguma messe,
Mas nada do que trago
Gerasse um tempo mago
Aonde o nada tece...
17
Clamando por teu nome,
Chamando sem resposta
A vida decomposta
O todo sempre some,
E quando nada dome
O peso da proposta
O gozo de uma aposta
O farto se consome,
Resume-se em mentiras
O tanto que retiras
Dos dias mais felizes,
E geras tão somente
A dor que me atormente
Enquanto a contradizes.
18
Aos poucos, sem te ter,
Perdendo rumo e senso
No quanto ainda eu penso
Diverso do querer
Buscando sem saber
Ou mesmo em contra-senso
O verso mero ou denso
E nele o alvorecer.
Jamais quis a verdade
Se tanto me degrade
Ou brade mesmo em vão,
A ponte sobre o rio
A vida em desafio
Gerindo a solidão...
19
Pois não me sais jamais
Dos olhos, pensamento
E quando enfim me invento
Em tons originais
Procuro muito mais
Que o mero desalento
E tanto quanto tento
Resumo em sons venais;
O passo se apresenta
E nele esta sedenta
Vontade não sacia
A morte não me rende
Enquanto em vão atende
Aos dons da fantasia.
20
Sou pássaro tristonho
E sem saber de um canto
Aonde a dor espanto
O nada enfim componho,
Reúno o mais medonho
Do verso em desencanto
Matando e me quebranto
Enquanto decomponho
O verso inusitado
O tempo decorado
Nas ânsias de um vazio,
E tanto quando tento
Vencer, exposto ao vento
Depois eu me recrio.
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