sexta-feira, 18 de junho de 2010

37421 até 37440

1

Ausente dos meus olhos outro dia
Aumentam-se os terrores, é normal.
O mundo se mostrando em fel e sal,
Gerando a mais cruel desarmonia
Provoca em cada tempo outra sangria
No fundo é tudo sempre muito igual,
A morte num momento triunfal
Somente este temor aplacaria.
Não vejo outra saída e nem tento,
Enquanto vez em quando sigo atento
Vencido pela imensa discrepância
E nela não se vendo solução
Aonde quis a messe outro senão
E a vida se mantém, leda distância.

2

Olhando para trás e nada vindo
Somente o meu momento mais atroz,
Pudesse ainda haver decerto a voz
E nela se tornara bem mais lindo,
Aquilo que em verdade já deslindo
E sinto a mão pesada deste algoz
O rio se perdendo em torpe foz,
O todo não se vendo o sonho findo.
Resumos de momentos mais audazes,
E quando a realidade tu me trazes
Negando qualquer chance de algum brilho,
A treva, minha herdade, eu enveredo
Descubro do vazio o seu segredo
E entre demônios, sombras, eu palmilho.


3

Satânicos e orgásticos delírios
E neles entre fúrias e fogueiras
As noites mais temidas, traiçoeiras
Gerando a cada angústia outros martírios,
Cenários discrepantes e tão ledos,
Momentos mais venais em olhos frios,
Ainda permitira desvarios?
Como se não se mudam meus enredos?
Eu tento acreditar em algum dia
Diverso desta face em tom cruel,
Alçando o mais disperso e vago céu,
Aonde na verdade nada havia
É quando me percebo melancólico
Cenário juvenil que eu quis bucólico.


4


Somente um mero adeus e nada mais,
Assim a minha sorte se desnuda
E quando mais atroz, tola e miúda
Os tempos me respondem, pois, jamais.
No quarto meus espelhos e cristais
A morte na verdade ceva a ajuda
E quando no meu corpo adentra e gruda
Instintos entre ritos comensais;
Dos vermes e bactérias, meus parceiros
E sei quanto são vis e traiçoeiros,
Banquete se oferece em podridão,
O fardo da existência não suporto,
E quanto mais além em paz conforto,
Meus dias sem remendos moldarão...

5

Meu corpo segue além
Do quanto poderia
A noite morta e fria
E nada me convém
Apenas um refém
Do tempo em heresia
Imensa picardia
A morte sei que vem,
E nela meu consumo,
Entrego todo o sumo
E sei felicidade,
Granizo dentro da alma
Apenas se me acalma
O vago que degrade.


6

Penetro neste ocaso
E sei que ali talvez
Ainda mesmo vês
O quanto não tem prazo,
Assim enfim me aprazo
Da imensa insensatez
Aonde se desfez
O quanto em ledo atraso
Pudesse desvendar
Ou mesmo desnudar
Em face mais escusa,
A morte em consonância
A vida em discrepância
A dor já não se acusa.


7

Adeus e nunca mais
Verás esta excrescência
Terrível virulência
Exposta aos vendavais,
Em atos rituais
Assim sem paciência
Negando esta clemência
Não quero os dias tais
E bebo deste esgoto
Sabendo bem mais roto
O passo que daria
E morto em vida sigo
E quanto em desabrigo
A morte reinaria.


8

Somente sendo vão
O passo que se dá
E nele mostrará
As dores desde então,
Assim em sedução
Percebo aqui ou lá
O sol que negará
Deveras solução.
Eu bebo do vazio
E neste desvario
O rio encontra a foz,
Ninguém percebe o fato
Aonde me retrato
Em face mais atroz.


9

Jogado nalgum canto
Perdido pela casa,
A morte já se atrasa
E sei e até garanto
Aonde não me espanto
Ou mesmo se defasa
O quanto não abrasa
Nem mesmo me adianto,
Pudesse imaginar
Quem sabe algum lugar
Diverso do que resta,
Assim ao menos possa
Viver em plena fossa
E ali a imensa festa.


10


Sedento camarada
Em noite mais vazia,
A porta não se abria
E não restando nada,
Não sendo desta alçada
A velha hipocrisia
E nela se daria
A morte anunciada,
Sou velho e já senil,
Porém não sendo vil,
Eu tento alguma paz
E sei que esta semente
Jogada em inclemente
Caminho já me traz.

11

Aonde já não pude
Saber de alguma luz,
Apenas me conduz
Ausente juventude
E sem ter mais saúde
O corpo imerso em pus
Aonde em contraluz
A sorte não ilude.
Viver assim talvez
O quanto se desfez
Em treva e nada mais,
Perdoe cada verso
E nele sinto imerso
Em loucos vendavais.

12

Ocasionando o caos
Aonde quis a sorte
Sem nada e sem suporte
Os dias são tão maus,
E neles sem as naus
Apenas perco o norte
E bebo desta morte
Alçando os vãos degraus,
Resisto e até tentara
Vencer a minha escara
Com dor e plenitude,
Mas quando me percebo
Além do que recebo
Matara a juventude.


13


Ferrenhos sonhos tive
E nada mais conheço
A queda outro tropeço
Aonde me retive,
A sorte não se prive
Nem mesmo do endereço
O nada reconheço
E sei quanto me crive
De dor e de inclemência
Assim em penitência
Eu sorvo a turva face
E sei que apenas isto,
O nada em que consisto
O vazio já grasse.

14

Adeus às ilusões
E nada mais se vendo
Apenas dividendo
E assim tu recompões
O passo aonde expões
O nada percebendo
O todo perecendo
Em dias sem verões
Não tenho quase nada
E sei da vã estada
Aonde o medo gera
Ausente de clemência
A vida em tal demência
Não trouxe primavera.


15

Meu tempo terminando
O dia não verei
E sei que sem a grei
O corte é mais infando
Infâmia desde quando
O medo eu entranhei
E assim se mergulhei
Num mundo mais nefando
O passo sonegado
O risco adivinhado
A morte me redime,
E sei que nada valho
Apenas ato falho
Aonde o quis sublime.

16

Meu verso incoerente
O dia não verá
E sei que desde já
Ainda que se tente
Viver mais plenamente
O que não haverá
E nada domará
O peito mais doente.
O corte na raiz
A vinda do infeliz
Tormento aonde pude
Saber desta amplitude
E nela mergulhara
A sorte mais amara.

17

Perdoe minha amiga
Se eu quis um dia ter
Além do desprazer
Que tanto desabriga
A morte ora prossiga
E nela a se tecer
O meu anoitecer
Aonde não consiga
Ver mais alguma luz
E gero o intenso pus
E sei do desigual
Caminho aonde a sorte
Traduz apenas morte,
Em rito funeral.

18

Não tenho mais um dia
Sequer aonde eu possa
Viver além da fossa
E nela em harmonia
O corte me traria
O quanto já se endossa
Do todo em que se apossa
A dor, melancolia.
O fim já se tecendo
E nele me envolvendo
O fardo se mostrara
O peso desta vida
A luz já sei perdida
Ausente da seara.

19

Não pude acreditar
Na luz que nunca veio
E sigo tão alheio
Aos raios do luar
E tento imaginar
Somente em devaneio
O mundo perde o veio
E teimo em navegar
Buscando alguma paz
Distante da que traz
O sonho de quem ceva,
Espero realmente
A sombra que inclemente
Adentre enfim a treva.

20

Jogado nalgum canto
Apenas, nada mais,
Adentro em vendavais
E ali eu já garanto
O dia em tal quebranto
Podendo ter o cais
Aonde em temporais
A morte traça o manto,
Não quero outra partilha
A sorte já não trilha
Além do esquecimento,
E um dia após o todo
Imerso em mangue e lodo
Aplaca o sofrimento.

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