quarta-feira, 16 de junho de 2010

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1


//Hoje quero te dar colo,/
Vem, recoste em meu seio,/
Nessa noite fria sou teu esteio,/
Teu doce consolo...//

REGINA COSTA

Nesta noite gentil, maravilhosa,
Sentindo o teu perfume junto ao meu,
Meu corpo no teu porto percebeu
A vida desta forma, generosa,
Teu seio delicado, a vida goza
E bebe deste tanto que escolheu
E agora que decerto me acolheu
A vida passa a ser mais prazerosa,
Rendido aos teus anseios quero e tanto,
E quanto mais desejo teimo e canto
Bebendo gota a gota este rocio,
E nele sem saber de outro momento,
O amor servindo enfim, raro alimento,
No qual já me sacio e assim vicio.

2

Aonde houvera luz tempos atrás
Agora tão somente a escuridão
Meu passo sem destino ou direção
A vida na verdade tanto faz
Ocaso de uma vida, ausente paz,
Enfrento a cada passo o furacão
E sei do quanto posso desde então
E nisto nada além me satisfaz,
Acasos entre ocasos, risos, ritos,
Os dias que pensara mais bonitos
Aqueles onde a bruma se espalhava,
Meu mundo desabando, nada resta
Senão esta figura vã, funesta
Expondo a cada ausência dor e lava.

3

Olhando para frente o que se vê
A vida noutro fato consumada,
Ainda quando houvesse alguma estrada
Procuro inutilmente, mas cadê?
O tanto que pudesse e não se crê
No dia após a velha madrugada,
A roupa já puída e amarrotada,
O tempo sem sentido e sem por que.
O fato de sonhar me impediria
De ter em minhas mãos o novo dia
E em solilóquio perco o rumo quando
Eu tento e nada vindo, sigo só,
Do todo que pensara, mero pó
A chuva em tempestade desabando.

4

Não tento ver além do quanto pude
Sentindo o fim da história, tão somente
E quando dos meus olhos já se ausente
Mudando cada passo em atitude,
A vida na verdade não me ilude,
Amortalhado sonho sem semente,
E quando a realidade se apresente,
Não tendo nem noção desta amplitude
Aonde cada passo ora se mude
E a vida noutra face violente.
Pudera ser feliz, e não teria
Ao menos teu olhar, hipocrisia,
Vergando as velhas dores costumeiras,
E sendo assim a vida não reluta,
E sei do quanto a dor se faz astuta
Alçando com terror velhas bandeiras.


5

Teclando com ternura posso crer
No tanto quanto a vida se mistura,
E sei quanto a verdade diz ternura
Ou mesmo a cada fato esmorecer
O passo rumo ao nada teimo em ver,
Ainda quando a dor tanto tortura,
Minha alma se expressando com candura
Sonhando com um cais, mas sem poder.
Não tento outro caminho, sigo alheio
E quando busco um passo, não receio
Adentro os meus diversos ermos, sou
Apenas o restolho da emoção
E o todo se mostrando em direção
Por onde o velho barco naufragou.

6

Tanta dor jogada ao relento,
Faz um tento! A bola é quadrada?
Na virada do morro, o vento
Trás alento. Pede apelo a Buda.
Não desbunda, aguarda teu momento...
A dor é aguda e faz-se velada
Vai e aguda; não aceita tormento
Descabido em seu fato, negando guarida.
Dá-lhe lida pra dor ser contida,
E invertida há de fazer-se em prazer;
Deixa ver nova fase imprimida,
Não duvida, deixa o verso dizer,
Merecer, tantas cores na aurora
E bota fora o que não da pra tecer.
Josérobertopalácio

Há tanto se procura uma emoção
Aonde dessedente uma esperança
E tudo que se mostre em confiança
Permite novo rumo ou direção,
A vida se mostrando em amplidão
Gestando com ternura outra mudança
E nela com meu passo a sorte avança
Bebendo sem temor, sofreguidão.
Partida onde enfrento novo empate
E sem ter na verdade quem combate,
O peso da camisa pouco importa,
Assim ao penetrar na dura zaga
O corte no zagueiro, não afaga,
Goleiro fecha logo o gol e a porta.

7

Não quero a força bruta nem o medo,
Apenas conviver com dor e luz
No quanto o dia a dia me conduz
Deveras desvendando este segredo
Se tanto quanto posso me concedo,
E nisto com certeza não me opus
Vestindo esta mortalha feita em cruz,
Tentando desairoso novo enredo.
O passo que se dá rumo ao futuro
Diverge do vazio onde procuro
Saber da sanidade deste sonho.
E tanto quanto pude, mas não veio,
Seguindo o meu caminho, mesmo alheio,
O resultado eu sei ser tão bisonho...

8

O parto sonegado, a noite vã
O medo se apresenta a cada instante
E quanto mais o rumo se adiante
Não tenho mais presente um amanhã,
O verso se mostrando em tez malsã
O fato é que se vendo doravante
O quanto da verdade não espante
Quem tem nova esperança, temporã.
O caos gerado quando a gente tece
O sonho mais audaz, teimando em messe
E nada se prepara, senão restos,
Os passos se transformam em caídas
As horas não encontram mais saídas
E os dias em terrores são infestos.

9

Ocasionando a queda de quem tenta
Vencer o temporal mais agressivo,
Ainda quando muito eu sobrevivo
E teimo mesmo após vaga tormenta,
A vida na verdade se apresenta
E nela cada verso em que me crivo,
Diverge do meu sonho mais altivo
Presumo persistir mesmo se venta.
Avento esta vontade de lutar,
Atento caminheiro que ao luar
Reconhecendo as sombras, segue em frente,
No todo em que pudesse ver além,
A face se demonstra e sem ninguém
Apenas o vazio se apresente.

10

O gume desta faca entranha a pele
E nada do que eu possa ainda ver
Permite que se tente algum prazer
No quanto ao nada ser tudo compele
Porquanto cada passo em vão se atrele
E gere na verdade outro querer,
O quanto dos teus olhos pude crer,
Sentindo este terror aonde apele.
O medo não permite um novo rumo,
E quando nos teus braços eu me esfumo,
Acostumado a ter quem sabe a luz,
Medonha cicatriz; demonstro quando
Meu solo sem desculpas desabando
Rondando o céu nefastos urubus.

11

O quanto de minha alma é tão gelado
Não tenho mais sequer esta vontade
De ter ou perceber tranqüilidade
A morte se persiste lado a lado,
Quem dera se eu pudesse ser alado,
Ganhando com ternura a imensidade,
Vagando sem terror aonde brade
O sonho mais feliz, tudo negado.
O passo mais audaz, a noite intensa,
E quando nos teus braços já se pensa
A vida poderia ser diversa,
Mas sinto o que talvez não sentiria
Não fosse a vida assim gélida e fria
Nem mesmo esta emoção que se dispersa.


12

Sinta-se envolto em meu amor,
Ouça as batidas do meu coração,
Estar com você é pura emoção,
Abstraia a dor...
REGINA COSTA

Ouvindo o coração acelerado
Vibrando com feliz taquicardia,
A sorte noutra face não traria
O gozo tanta vez anunciado,
E sinto-me decerto enamorado,
Acalentando a noite, mesmo fria,
E toda a maravilha em poesia,
O sonho em doce luz sendo traçado,
Açoda-me o desejo de te ter
Sorvendo cada gota do prazer
Anunciado em ti, noite divina.
E dessedento assim neste momento,
Enquanto deste sonho eu me alimento
Somente esta presença me fascina.

13

A face mais sinistra da paixão
Tomando a minha mente não permite
Além do que pensara algum limite
Deixando para trás o dia vão,
Assim os nossos dias mostrarão,
No quanto tanto sonho se acredite,
E vejo nosso amor quando palpite
Com mais firmeza um tolo coração.
Mas sei que nada disso se fará,
O tempo se nublando e desde já
Somente o temporal enfim se vê
Pudera acreditar num só momento,
E quando me percebo em desalento,
A vida continua sem por que.


14

Luar se banha imerso em tal nudez
E vejo enquanto ali me dessedento
Sentindo a precisão de um forte vento
Aonde a nossa história ora se fez,
O amor invade tudo e toma a vez
E nele se percebe o sofrimento
Acompanhado sempre pelo alento
Na mais completa e louca lucidez.
Eu quero estar contigo e isto me basta,
Minha alma de tua alma não se afasta
E teima emparelhada, em ser feliz.
O quanto da verdade nos consome,
E assim cada momento o sonho dome,
E em ti encontro tudo o que mais quis.

15

Calores entre frios, a paixão
Adentra e destroçando tudo e tanto
Ao mesmo tempo enquanto já me espanto
Momentos prazerosos se verão,
Olhando com ternura a direção
Por onde se apresenta em raro encanto
O gozo mais sublime, eu me agiganto
E sei destes delírios que virão.
Resumo o verso em flores e palavras,
Aonde com ternura cevas, lavras
Encontro o que buscara em lenitivo,
E sendo assim a vida não permite
Qualquer outro cenário. Sem limite,
No entanto cada sonho que ora vivo.

16

Sangrentas, sensuais, noites profanas
Enquanto na verdade nada tema
A vida se nos traz corrente e algema
Por outro lado as dores; cedo enganas,
E sinto estas vontades soberanas,
Não vendo com certeza algum problema
Resolvo dia a dia outro dilema
Porquanto com ternura disto ufanas.
Eu sei que sempre em ti há liberdade,
E quando a vida assim domando invade,
Não permitindo mais qualquer terror,
Eu sinto a mais sublime maravilha
Minha alma junto à tua enfim palmilha
Coabitando em glória o bem do amor.


17

As asas vão libertas, alçam céus
E tento disfarçar o sofrimento
Enquanto deste sonho eu me alimento
Adentro sem temor os fogaréus,
Meus dias se recobrem nos teus véus
E quando desta luz em bom fomento,
Embrenho destemido o pensamento
Meus cantos da ilusão somente réus.
Abrindo o coração nada a temer,
Entregue às dissonâncias do prazer,
Encontro a cada passo outro resquício
Do quanto pude mesmo imaginar,
Bebendo gole a gole devagar
Deixando muito além um precipício.

18

Ondeiam milharais, os ventos fartos
E sei do quanto posso em luz suave
Alçando o pensamento como uma ave,
Deixando os dias ledos, claros quartos,
Articulando sonhos, sigo em frente
E tento novamente ver além
Do quanto em sordidez a vida tem
E neste caminhar, a morte enfrente.
O tanto que pudesse ser feliz
Ao menos imagino, mas que faço?
A cada ausência tua perco o passo
E a própria fantasia se desdiz,
Aonde quis apenas ter aqui
O amor que há tantos anos já perdi.


19


Perfis mais delicados, belas divas,
Aonde no passado perseguira
A sorte em mais diversa e bela lira,
Palavras tão cruéis ora me crivas,
E sei das minhas mãos, velhas cativas
Em cada amanhecer nada interfira,
E quando no vazio já se atira
As farpas onde teimas; queres vivas.
Pudesse ter ao menos a ternura
Que ainda mais distante não perdura,
Deixando como sombra este vazio,
O todo se percebe claramente
No quanto de minha alma se apresente
Gerando a cada ausência o medo e o frio.

20

Pudesse ser tranqüilo o passo aonde
Tentara pelo menos meu descanso
E quando na verdade nada alcanço,
Nem mesmo uma ilusão tola responde,
O tanto que pensara, nunca veio
E sei do meu vazio a cada instante,
O nada quando muito me garante
O olhar embrutecido em tal receio.
Esgueiro-me decerto e nada vejo
Somente a sensação da morte enquanto
Ainda que pudesse, não me espanto,
E sigo cada rastro do desejo
Maior que me domina e não me esquece,
E nele cada passo a vida tece...

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