sábado, 19 de junho de 2010

37541 até 37560

1

Nos teus níveos sorrisos,
Pudesse ainda ver
A fúria de um prazer
Diversos paraísos,
Em dias mais concisos
Alheios ao sofrer
Adentro o bem querer
E perco os raros sisos.
Mas logo te enfadonhas
E em horas mais tristonhas
Vagando noutros mares,
Pudesse imaginar
Ou mesmo penetrar
Aonde tu sonhares.


2

Sultana que escraviza
Reinando sobre o sonho,
O verso que componho
Na mansidão da brisa,
A voz quando me avisa
De um dia mais risonho,
Amor quando proponho
Das ânsias se matiza,
Aromatiza a vida
O incenso de tua alma,
E logo já me acalma,
Dos medos, saída.
Por isso é que eu te falo:
Que bom ser teu vassalo!

3

Meu mundo; transtornaste
E logo me dominas
Os sonhos, raras minas
O amor que me ensinaste
E quando mais me ensinas,
A vida em tal contraste
Deveras no desgaste
Amores; exterminas.
Legando ao meu futuro
Um tempo escuso e escuro
Ausência de esperança,
Quem tanto fora o brilho
Agora que eu palmilho
Em outro céu se lança.


4

Rastejo te implorando
Ao menos o perdão,
Os dias não verão
O meu olhar mais brando,
O amor em contrabando
O tempo sem razão
A vida segue em vão
O mundo se nublando,
Pudesse ter enfim
O sol neste jardim,
Dos sonhos o farol,
Tomando cada canto,
E eu teu helianto,
Apenas girassol.

5

Tantas vezes, a vida
Negando alguma luz
A quem não se conduz
Ou vaga em despedida,
Não tendo mais saída
Ao todo reproduz
E nunca mais me opus
À sina a ser cumprida,
Decerto um dia eu quis
Quem sabe, ser feliz
E ter esta certeza
Do amor que nunca veio,
Do mundo sem receio,
Suave correnteza...

6

É preciso encontrar
Quem possa neste instante
Num ato alucinante
Beber cada luar,
Singrando céu e mar
E assim jamais se espante
Ou mesmo me garante
O bem de tanto amar
O tempo já passou
E nada mais restou,
Somente esta esperança,
E nela o meu caminho
Decerto tão mesquinho,
Deveras já se cansa.

7

No meu flácido rumo,
No pálido destino,
O quanto não domino
Ou mesmo não me aprumo,
Porquanto eu me consumo
Em tanto desatino,
Pudesse ser menino,
Da fruta ver o sumo,
Do risco a cada instante
O passo que agigante
O medo queda atrás,
Mas velho e sem remédio
Apenas medo e tédio,
O fim da vida traz.

8

Que deixe de prestar
Ao menos à ilusão
Somente a direção
E nada a declarar,
Pudesse adivinhar
O dia sem o não,
Quem sabe esta emoção
Talvez soubesse amar.
Mas nada foi bastante
O passo se inconstante
Não deixa que se veja
Ao fim da caminhada
A reta de chegada
A quem tem alma andeja.

9

Não posso caminhar
Nem mesmo se eu tentasse
Vencer o medo e o impasse
Teria algum lugar
Aonde descansar
Ainda quando trace
O resto ou me desgrace
Na busca deste altar.
A vida se extermina
E seca então a mina
Aonde este regato
Formado em cachoeiras
Em curvas traiçoeiras
Enfim, morto resgato.

10

Não posso respirar
Este enfadonho e roto
Delírio em podre esgoto
Numa ânsia de buscar
Além, qualquer lugar
Da dor o imenso broto,
Do amor, sequer um coto,
Mais nada a se mostrar,
Somente então me resta
Da vida mais funesta
Ausente brilho, pois
De tudo o que eu quisera
A vida esta quimera
Só pensa no depois.

11

A vida não perdoa
Quem sabe e nada fala
A sorte esta vassala
Vagando sempre à toa,
Destroça esta canoa,
E quando a vida cala
Não resta nesta sala
Nem voz que ainda ecoa.
O tempo de viver
O quanto do prazer
É coisa tão banal,
Amor-libertação
Seara do perdão,
Momento triunfal.

12

Guardiã dos anseios
A lua enamorada
Enquanto abandonada
Por olhos mais alheios
Adentro novos veios
Embebe cada estrada
Da luz tão prateada
E doma sem receios,
Pudesse nesta lua
Uma alma clara e nua
Sem medo do futuro,
Mas quando se percebe
Uma alma em turva sebe
Bebendo o céu escuro.

13

De que vale, sem fruta
O pomar que eu cevara
Tentando na seara
A vida já sem luta,
No quanto não reluta
Quem tanto semeara
A vida bem mais clara,
E agora nada escuta
Senão a voz do vento
E em todo pensamento
Alheio ao que inda possa
Viver em raro brilho,
Porém logo palmilho
Em direção à fossa.

14

Sem jardim a vida
Em tanta dor já feita
E quando alma se deita
A estrada mais comprida
Em sonhos se cumprida
Uma alma ora deleita,
Mas quando noutra feita
Não vendo uma saída,
O desespero toma
E nada mais se doma,
A noite em pesadelo.
Meu rumo que se aponte
E beba este horizonte
Aonde eu possa vê-lo.


15

Nas origens da Terra,
Nos antros dos meus dias
Palavras, sintonias
O tempo já se encerra
E dentre paz e guerra
A dor e as harmonias
Em tantas agonias,
A sorte me desterra.
Vagando sem destino
Se eu tanto me fascino
Ou nada me entorpece,
O coração se esvai
Enquanto a noite cai
E o vazio se tece.

16

Absoluta, total,
Reinando muito além
Do quanto não convém
Ou gera um ritual
Diverso ou tão igual
Ao quanto mais contém
Seguindo sempre aquém
Do mar manso ou venal,
Eu tento e não desisto
Ainda quando insisto
Existo e tão somente
Percebo o fim da estrada,
A morta anunciada
Aos poucos se apresente.

17

Na treva verdadeira,
Sem holofote ou lua
Minha alma segue nua
E pelo vão se esgueira
Usando por bandeira
A sorte em que se atua
A curva, o medo e a rua,
Do nada; garimpeira,
Perdida em noite vaga,
Teimando tudo draga
E morre sem sentido,
O todo se esvaíra
Nas curvas da mentira
Nos turvos da libido.

18

Se confundindo qual
Pudesse ainda ver
Um manso amanhecer
Ou dia desigual,
Porém rotina é tal
Que nada possa ter
Nem dor sequer prazer
Estranho ritual.
O sonho gera o mito
E quando eu acredito
No dia mais tranqüilo,
O quanto se aproxima
E muda logo o clima
Em trevas eu desfilo.

19

Caminha no deserto
O olhar ensimesmado,
O tempo iluminado
O rumo sempre aberto,
E quando me desperto
Sem nada tendo ao lado,
Revivo este passado,
Por nuvens recoberto.
Pudesse ver o sol
E ter neste arrebol
O brilho iridescente,
Mas logo e mal acordo
Sem nada ter a bordo
Meu mundo já se ausente.

20

Sem ter sequer noção
Do quanto ou mesmo menos
Os dias são amenos
Ou perdem direção,
Nos medos que virão
Os ritos quase plenos,
Os olhos tão serenos,
O corte, a provisão.
Assim após as chuvas
Em nuvens de saúvas
A vida se refaz,
No canto abandonado,
No verso maltratado
Encontro enfim a paz.

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