domingo, 13 de junho de 2010

36641 ATÉ 36660

1

A chaga terebrante
O tempo em desvario
Descendo o velho rio
No passo que adiante
Percebo este farsante
Caminho e desafio
Vencido pelo estio
O solo em dor constante.
Pudesse ainda ver
As sendas do prazer
E ter o benefício
Do passo em plenitude,
Mas quando tudo ilude
Só vejo o precipício...

2


Angústias acompanham
Os passos de quem tenta
Vencer qualquer tormenta
E sei quando se banham
Nas águas em que entranham
O tempo não alenta
E nem mesmo apascenta
Tampouco os que inda ganham
A luz em contramão
Somente este senão
Traduz a realidade
Do quanto trago em mim
Da seca já sem fim
No vento da saudade...

3

Quem me dera beijar
A boca delicada
De quem se fez amada
E nunca quis voltar
Rendido ao vão luar
Bebendo a madrugada
Uma alma que indomada
Não tendo mais lugar
Lutando contra a sorte
E nela sem suporte
Não crê na solução
E gesta a solidão,
Jorrando do passado
O fardo, destroçado.

4

Caminhar por estradas
Diversas e medonhas
Enquanto além tu sonhas
Procuras desvendadas
As sortes destroçadas
E nelas recomponhas
Os passos quando enfronhas
As solidões veladas.
Não tenho mais paragem
A mesma paisagem
Domina o dia a dia,
E quanto mais procuro
O céu bem mais escuro
O amor se fantasia...

5

De ladrilhos dourados,
Por sobre os desatinos
Em tantos pequeninos
Momentos desolados,
Resultam dos gelados
E torpes, vãos ladinos
Aonde cristalinos
Já foram desejados.
Após a queda eu tenho
Somente o tolo empenho
E nele não resgato
Sequer o que pudesse
Ainda sem a messe
O amor negando o fato.

6

É beleza sem par
A que domina a cena
E quando amor serena
Delírio a nos tocar,
Pudesse caminhar
Por vida mais amena
E tudo não condena
Quem tanto quis buscar
Apenas redenção
E mesmo sendo em vão
O tempo não destroça
O quanto ainda guardo
Do verso e não resguardo
Assim disfarço a fossa.

7

As praias, belos mares
Os sonhos mais gentis
E tanto quanto eu quis
Desejo enfim mostrares
O quanto desejares
E peço mesmo bis
Vivendo por um triz
Bebendo os teus luares.
Eu sei do quanto posso
E nisto me remoço
Vivendo intensamente,
Mas quando no cansaço
Apenas me desfaço
A vida açoda e mente.

8

Amor se diluindo,
O tempo me transtorna
O quanto não retorna
Do dia em que ora brindo
Com sol imenso e lindo,
Porém a vida adorna
E após a noite morna
O tempo em paz luzindo...
E ao ver vário matiz
O quanto já desfiz
Do sonho em falso brilho,
Mas nada me impedira
De crer nesta mentira
E assim me maravilho.

9

Invadem litoral,
Adentram pelas praias
Morenas, curtas saias
O sonho é sensual,
Mas sei do ritual
E nele não espraias
E bebes ou desmaias
Na farsa original.
A luz se contrapõe
E quando mais se expõe
Resume a falsidade,
Assim porquanto brade
A tarde iridescente
Encanta, porém mente...

10

Morenas desfilando
Nos olhos de quem tanto
Bebera deste encanto
E agora em contrabando
O dia terminando
O peso em que me espanto
A bruma doma o canto
E a chuva desabando.
O fato de sonhar
E crer noutro luar
Embora temporão
Não traça a realidade
Apenas a saudade
Domina o meu verão...

11

A febre dos amores
Volúvel, mas mortal
Gerando um desigual
Caminho entre mil cores
Por onde quer e fores
O dia bem ou mal
Traduz o ritual
E nele risos, dores.
Assim esta paixão
Mudando a direção
Transforma em pena ou ódio
Só sei que na verdade
Amor, sinceridade?
Distantes deste pódio...

12

Nos altares divinos
Dos sonhos mais felizes
Em meio às tantas crises
Os cortes mais ferinos
Olhares femininos
E neles me desdizes
Os riscos infelizes
Atrozes dos destinos.
Eu pude acreditar
No quanto devagar
A vida poderia
Traçar noutro cenário
Além do temerário
A paz em novo dia.

13

Nas praias o desejo
Amorenado gozo
Aonde prazeroso
O olhar segue o traquejo
E também o molejo
Cenário generoso,
Num dia majestoso
Meu verso eu azulejo.
Mas sei quanto é cruel
O fardo deste céu
Inusitado em mim,
Depois desta bonança
A vida a dor alcança
E volto de onde vim.

14

Caminhos de corais
Delírios sobre as águas
Aonde tu deságuas
E queres muito mais
Dos dias tão iguais
Ausentes dores, mágoas
E mantendo tais fráguas
Quem sabe enfim meu cais?
O passo rumo ao quando
Pudesse transformando
O dia a dia em luz,
Mas quanto mais me enfronho
Apenas vejo o sonho
Porquanto em vão me pus.

15

As ilhas tão distantes
Dos olhos no horizonte
Aonde não desponte
Sequer em deslumbrantes
Momentos que agigantes
E deles nova fonte
E sem ter quem aponte
Nem mesmo mais garantes
Os dias são iguais
E os versos buscam paz
Mergulho não se faz
E sei dos abissais.
Do quanto sou atol,
Inútil, pois meu sol.

16

Belas sereias, nuas,
Ninfas maravilhosas
Enquanto em sonhos gozas
E além teimas, flutuas
As sortes morrem cruas
E nelas pedregosas
Estradas dolorosas
Enquanto em vão atuas.
Gerada em fantasia
A falsa melodia
Não dá justa medida
Do que se mostra inteira
Sem eira ou mesmo beira
Em inconstância, a vida...

17

Elfos e silfos, vento
Tocando mansamente
O quanto se pressente
Do amor, meu alimento
E sei do desalento
Em tom rude e constante
E nisto não garante
Sequer qualquer provento
A quem bem poderia
Fingir uma alegria
E pô-la em tolos versos
Romântico? Nem tanto,
Mas quando em desencanto
Meus cantos são dispersos...

18

Num marulho suave,
A paz que me redime
O tanto onde se estime
A vida noutra nave
Sem nada que me entrave
Nem mesmo isto suprime
O dia mais sublime
Meu sonho, uma mansa ave.
O tanto pude ver
Na face do prazer
Jocoso riso então,
Assim ao mergulhar
Na essência do teu mar
Encontro a solidão...

19

Meu barco, meu amor,
Naufraga a cada instante
E sei quanto garante
A vida sem temor,
Pudesse sonhador
Viver o radiante
Caminho delirante
E nada mais me opor.
Mas sei da decadência
Da imensa incoerência
Do outonal desespero,
E quanto mais me entranho
O passo sigo estranho
Em pálido tempero.

20

Cerrando o triste olhar
Já não consigo crer
No quanto pude ver
Distante do sonhar,
Vagando sem lugar
Algum a me esconder
Do farto desprazer
Que pude em ti achar,
Não tento outra saída
Deixando aquém a vida
Do quanto pude outrora
Meu verso não diz nada
A vida em desolada
Presença não demora...

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