sábado, 19 de junho de 2010

37641 até 37660

1


Mas quase não conheço
Qualquer caminho a mais
E bebo os tão iguais
Sabendo este endereço
O amor, velho adereço
Em dias divinais
Agora em terminais
Delírios, enlouqueço.
Eu pude acreditar
Num raio de luar
Em minha juventude,
Porém o tempo passa
E tudo se desgraça
E nada mais ilude.

2

Quem dera ser assim
Um mero passageiro
Do sonho aventureiro
Na noite que é sem fim,
Tramando de onde vim
Destino derradeiro
E quanto mais me esgueiro
Encontro dentro em mim
As sombras do que fui
E nada mais influi
Somente a amiga morte,
No peso de sonhar,
O quanto mergulhar
Sem nada que conforte.

3

É coisa que não quero
Saber e nem insisto
Se eu tanto já desisto
O tempo sendo fero
O corte mais sincero
Pensando sempre nisto
Decerto não resisto
E mundo e destempero,
Vagando por vazios
Olhares desafios
E o tempo de viver
Perdido e sem alcance
Ainda quando avance
A morte a se tecer.

4

Batuca no meu peito
Uma saudade imensa
E quando nela pensa
O mundo insatisfeito
Além dos sonhos deito
E nada mais compensa
Nem mesmo a fúria intensa
Perdida em raso leito,
Apátrida caminho
E nele sou sozinho
Jamais quis outra sorte,
Apenas desvendando
No olhar se penetrando
Entranhas desta morte.

5

No fundo não me cabe
Saber mesmo se é certo
O mundo onde deserto
Ou nada mais se sabe,
Ainda que desabe
O pranto onde desperto,
Seguindo já me alerto
Do quanto agora acabe,
O fardo não suporto
O peso em desconforto
O aborto da esperança,
Quem tanto assim porfia
Um pouco a cada dia,
Ao nada enfim se lança.

6

A noite se refresca
Em ventos mais suaves
Enquanto tanto agraves
E o sonho nada pesca,
Adentro este ribeiro
E o quanto não percebo
Do todo que concebo
Apenas traiçoeiro
Desejo se desvenda
E nada mais se vê
O mundo sem por que
O amor é mera lenda.
Quimera onde estraçalho
O corte, o vão trabalho.

7

O manto das estrelas
Em céus iridescentes,
Mas logo te apresentes
E negas poder vê-las
Quisera algum momento
Aonde num segundo
Vagasse pelo mundo
Levado pelo vento,
Não posso acreditar
Na ausência de horizonte
Aonde se desponte
Sem máculas, luar
Mas quando acordo e só,
Dos sonhos, nem o pó.

8

Nos versos dessa amada
Entranho sem defesa,
E quando sou a presa
A sorte é demonstrada
Na força da alvorada
E nela em correnteza
Bebendo da incerteza
Por vezes desolada,
O pânico sem nexo
O rumo mais perplexo
Anexo ao nada ser,
Eu risco o nome enquanto
Ainda me levanto
Preparo um bom morrer.

9

Meus erros se acumulam
E sei que os dias são
Conforme a sensação
Aonde se maculam
Os versos dissimulam
E trazem a emoção
Sabendo desde então
As cores que estimulam
O passo rumo ao nada
A morte em cada escada
Degrau após degraus,
Depois de toda a sorte
Apenas me conforte
Saber do etéreo caos.

10

Desculpe se machuco
Ou mesmo se maltrato
O passo mais ingrato
Ditame deste eunuco
O nada se provoca
O férreo desejar,
A morte sem lutar
O corte toma a toca,
O peso do viver
Não posso mais e tento
Enquanto em pensamento
Pudesse recolher
As sobras do que sou
E aonde, teimo e vou.

11

Amores do meu jeito,
Olhando de mansinho
E quando me avizinho
No vago sonho eu deito
E tento ser perfeito
Aonde sou espinho,
Quem dera por vizinho
Tivesse um manso pleito,
Restando o quanto pude
De tola juventude
Num ato mais cruel,
E assim sem nada ser
Apenas recolher
Da vida o torpe véu.

12

Das águas surge bela
A ninfa que desejo
E quando num lampejo
A vida em sonhos sela,
O passo se revela
E nele sou sobejo
Quem dera em azulejo
Tivesse a turva tela.
O pântano onde piso
O corte mais preciso,
O rito desigual,
Vencido pelo medo,
Condeno-me ao degredo
Intenso vendaval.

13

Seus olhos refletindo
O mar que não havia
Apenas fantasia
Em tempo claro e lindo
E quando ao nada brindo
Encontro esta heresia
E dela repartia
O mundo que ora findo,
Acordos dissonantes
Momentos, vãos instantes
E tudo nada diz,
O quadro se desola
O peso não consola
E sigo um aprendiz.

14

Das festas e dos cantos
Sisudos dias traço
E perco cada passo
Aonde vis quebrantos
Gerando desencantos
Olhar dita o cansaço
E sigo além e lasso,
Bebendo os erros tantos.
Não pude acreditar
Sequer neste luar
E quem sem horizonte
Mergulha no vazio
Enquanto desafio
Sem nada que me aponte.


15

Beleza que emoldura
Em telas mais sombrias
Enquanto me trazias
A vida não se cura,
E bebo desta escura
Montanha em noites frias,
Sorvendo em agonias
O quanto se procura.
Perpetuando o fim
Bebendo tanto em mim
O medo sem remédio,
Não posso mais seguir
E sem sequer porvir,
Adentro o medo e o tédio.

16

Ao vê-la, o coração
Não sabe mais conter
O quanto do prazer
Eu sei ser sempre em vão
Apenas negação
Do todo que sem ver
Pudesse amanhecer
Sem ser neste porão,
Recado recebido
O tempo dividido
O nada se transforma,
E bebo do vazio
Enquanto desafio
O mundo vai sem norma.

17

Dispara como fosse
Um vento em tempestade
O quanto se degrade
Em sonho que agridoce
Permite ou não atenda
O todo feito em lua
A sorte não cultua
E gera após a lenda,
Resisto ao descaminho
E bebo a luz sombria,
Deveras poderia,
Porém sei ser mesquinho
E brindo nesta taça
À velha e fútil traça.

18

No corpo dessa amada
As sendas sensuais
E quero cada cais,
Porém não tenho nada,
Aonde decorada
Em luas virtuais
Desejos desiguais
Transformam esta estrada
E bebo cada gota
Aonde fora rota
Assim já não se crê
No passo rumo ao pouco
E se ora me treslouco
Procuro algum por que.

19

Amores e promessas
Divinas cercanias
E logo poderias
E tanto em vão tropeças
Enquanto te endereças
Às várias fantasias
E cevas heresias
E nelas recomeças
Vagando sem destino
No quanto me alucino
Bebendo o inusitado,
O pólen da esperança
Aos poucos toma e avança
Deixando-a no passado.

20

Pergunto aos deuses como
Pudera acreditar
Em quem por tanto amar
Agora já não domo,
O resto teimo e somo
Bebendo devagar
Pudesse adivinhar
A vida em cada cromo
Não tenho outro momento
E sigo contra o vento
Tentando algum descanso,
Mas quando nada alcanço
Um cais ainda invento
E me desesperanço.

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