quarta-feira, 16 de junho de 2010

37021 até 37040

1


Em todo misticismo
Alguma fuga existe
Ao ver a vida em riste
Teimando, tento e cismo
Sabendo o cataclismo
O olhar amargo e triste
Enquanto em vão persiste
Percebe assim o abismo,
Felicidade é sonho
Ao qual se me proponho
Que seja mesmo além,
Num inconstante rito
Adio ao pós finito
Aquilo que não vem.

2

Nas horas tolas, mortas
Procuro acreditar
No quanto irei achar
Depois de findas portas
E quando além aportas
Na estância após o mar
Buscando este ancorar
No instante em que te exportas.
A morte não redime
Tampouco má, sublime,
Apenas necessária,
E tendo outra visão,
Em dor e imprecisa
A vida é procelária.

3

Celebro os funerais
Qual fossem redenção
E sei que após virão
Momentos triunfais
Aonde os canibais
Em tal putrefação
Fazem renovação
Em atos magistrais
O estoque se renova
E estando sempre à prova
Religiosidade
É fuga ou mero sonho
Aquilo que proponho
De uma alma eternidade.

4

Vibrando este desejo
De um mundo após o cais
E tento em vendavais
Um pasto mais sobejo,
E quando a vida eu vejo
Com olhos desiguais
Vagando além ou mais
Do quanto enfim prevejo,
Recebo com brandura
O que talvez tortura
A mente sem preparo,
Se houver ou não além
A vida em si contém
As brumas e o céu claro.

5

Um celeste caminho
Que possa redimir
As dores e sentir
Após manso carinho,
Aonde não me aninho
Nem tento este elixir
Não temo o que há por vir,
Não me importando o vinho.
O prêmio ou penitência
Não vejo esta ingerência
De vida após a morte,
Encontro riso e pranto
Neste improvável manto
Regendo a minha sorte.

5

Uma alegria acesa
Aonde tanta vez
A dor e a insensatez
Domaram correnteza
Exposto sobre a mesa
Na morte que tu vês
Banquete em que não crês
A fera é mera presa.
Renovação existe
E tento alegre ou triste,
Apenas perceber
A glória do milagre
Na vida em que se sagre
A dor, medo e prazer.

6

O ser tão caridoso
Permite algum alento
E tanto quanto tento
Por ser mais prazeroso
Um ato generoso
Expondo o sentimento
E assim eu me alimento
E encontro enfim meu gozo,
Não quero outra paragem
Tampouco uma viagem
Além do que esta que
Aos poucos se esvaindo
E sei enquanto brindo
O que este olhar já vê.

7

Em glórias e ternuras
Terrores e pudores
Abrolhos entre flores
E neles já perduras
Sabendo quão escuras
Manhãs sem os albores
E quanto mais te opores
Às ânsias mansas, duras
Verás a realidade
E nela eternidade
Existe, e na matéria
Parece até cruel
Negar um pasto em céu.
Qual fosse vã miséria.

8

Afasto-me da cruz e chego a Ti,
Senhor e Irmão que tanto prezo e quero,
O verso mais audaz sendo sincero
Transcorre da maneira em que senti
A vida noutro tanto e vejo aqui
O passo rumo ao quanto mais venero,
E quando mais da vida, eu mesmo espero
Meu prumo entre os vazios eu perdi.
A poesia dita em várias formas
O quanto muitas vezes já deformas
E tramas com teus ares mais venais,
O porto mais longínquo, ausente em mim,
O todo esvaecendo traz ao fim
O nada que se espalha em falsos cais.

9

Meu canto libertário não descreve
A realidade viva em que ora sinto
O amor há tanto tempo sendo extinto
Tampouco esta ilusão, ausente ou breve,
No quanto ao mais profundo o passo atreve
E tantas vezes vejo em vago instinto
O porto feito em dor, e se inda minto
Apenas coletando frio e neve.
Risonhas madrugadas, dias bons,
Imersos nestas luas de neons
Deixando para trás velho lirismo,
E tanto quanto pude acreditar
Na força incomparável do luar
Restando mera sombra do otimismo.

10

Religiões e farsas se entranhando,
O peso da mentira nos detém
E quando mais além meu mundo vem
O todo noutra face mais infando,
Ao escandalizar o passo dando
Um norte aonde o nada me convém
Seguindo das vontades bem aquém
Segredo vez em quando desvendando,
Mas nada se aproxima da verdade
É tão difícil ver a liberdade
E nela se moldar novo horizonte.
Grilhões que nos atando em vãos galés
Correntes amarradas em teus pés
Impedem que outro dia em paz desponte.

11


A vida insiste à toa enquanto toa
Ao longe melodias que me falem
Dos dias que deveras não se calem
Enquanto a voz de uma esperança não ecoa
E o tempo mansamente enfim se escoa
Nas alas e nos sonhos que resvalem
Nos passos onde os dias nada valem
Tocando a minha sorte numa boa
A morte que entranhara cada dia
Vestida de terror teima heresia
E beija a ingrata face da verdade
Brotando deste solo em aridez
A flor de uma esperança se desfez
E apenas solidão ainda invade.

JR PALÁCIO

Uma esperança morta dita a regra
Aonde o nada se em tolo passo
Enquanto a realidade já desfaço
A falsa sensação, ainda integra
O quanto poderia haver se desintegra
Ousando com firmeza um belo laço
O tempo noutra face perde espaço
Nem mesmo a fantasia reintegra
O tudo que deveras se dispersa
E quando além do tempo, a vida versa
Adentrando sidéreas esperanças
Porquanto com temores nada vês
E quanto mais envoltos em clichês
Os pés atados, nunca mais avanças.


12

Ao papel vou dizendo minhas letras,
Como as sarjetas sabem das calçadas...
A jornada aguarda a noite e as canetas
Pretas, ou coloridas, são domadas.
Tudo ou nada eis o jogo da escrita
São benditas as palavras e misturadas
Varam madrugadas e o verso grita
E as poesias, irrestritas, são montadas.
Bem trajadas estas belas senhoritas,
Refletidas nestas folhas, entristecidas,
Ou alegres, a conter o verso tido.
Nasce o dia e o poema já viaja
Fica só, o poeta, e já se engaja
Em rabiscar, pra poder ser, quando for sido.
Josérobertopalácio
Poema vem em letras, mas de uma alma
Aonde latejando já se explode
E tanto quanto teima ainda pode
Trazer tanto alegria quanto o trauma,
O corte que decerto nos acalma
O rumo aonde o pó vida sacode
Adentro sacristia ou num pagode
Procuro a turbulência em plena calma.
Os medos e as verdades se misturam
E quanto mais os sonhos amarguram
Procuro uma saída, mas não vejo,
Insofismável luz que me alimenta
E nela beijo o caos desta sedenta
Paisagem que diversa, enfim desejo.

13


Apaguei o brilho do luar
Prá ter você num eclipse solar,
Orbitar melhor ao seu redor
Num plano inclinado
Alinhados em nosso amor,
Nosso imaginário nodal,
Sou teu astro do dia e
Você da minha noite;
Sou teu eclipse lunar e
Você meu eclipse Solar,
Umbra e penumbra...
Transmutamo-nos em satélites
Consumidos num aquecimento cinético!
Regina Costa

O amor em conjunção celestial
Transcende ao próprio espaço e no universo
Enquanto muito além ainda verso
Usando da palavra como nau,
Adentro a fantasia, outro degrau
E sinto o passo além mesmo disperso
E quanto mais em ti bebo o diverso
Prazer em gesto claro e sensual
Encontro os meus anseios e dessedento
Consumo a cada instante o imenso vento
E nele me entranhando sem defesas
Percebo a plenitude em cada gesto
E ao gozo mais sublime enfim me empresto,
Sem medo de que ocorram vãs surpresas.

14

Visões do meu passado me rondando,
Momentos onde pude desvendar
Além de qualquer raio do luar
Um ar mesmo tranqüilo e sei mais brando,
O mundo noutra face se mostrando
O canto sem poder silenciar
A sorte noutra senda a mergulhar
Um dia mais feliz assim gerando.
Aprazo cada verso aonde eu possa
Viver a sensação imensa e nossa
Dourando a realidade com meu canto,
E quando mergulhara em mar sombrio,
O tempo em mais completo desvario
Redunda no vazio onde me espanto.

15

Errei ao perseguir retratos meus
Aonde os tantos dias não veria,
E sei da vida em tal mesquinharia
Gerada em noites vagas, sóis ateus,
Resumo o meu caminho em tolos breus
E sorvo cada gota da utopia
E nela se percebe esta alegria
Que os dias renegaram num adeus.
O passo rumo ao quanto pude crer
O mundo noutra face amanhecer
E mesmo assim lutar contra as marés
Errei ao procurar a solução
Sabendo da provável direção
Diversa que demonstrem velhos pés.

16

Tantas vezes, perdido em noite vã
Seguindo estes cascalhos, rua afora,
O tempo aonde a vida não demora
Negando qualquer forma de amanhã,
A vida procurando um talismã
O corte se aprofunda e já devora
Enquanto a fantasia não demora
Na morte bendita ou tão malsã.
O fato do sonhar não permitia
A face mais real de um novo dia
E nele se pensara liberdade,
Mas como é tão difícil caminhar
Sabendo das angústias do luar
Ausente dos meus olhos claridade...

17

Ao longe, transtornado sonhador
Bebendo do vazio e nada mais,
Aonde poderia em temporais
Gerar quem sabe um templo, um raro andor
Louvando o que inda fosse pleno amor
Imerso nestes sonhos magistrais
E tento vislumbrar entre os cristais
O conto mais feliz, sem o torpor
Inexato caminho aonde eu possa
Vencer a solidão imensa e nossa
Depois de tanta luta inconseqüente
Viver a juventude em mansidão
Tentando perceber quanto o verão
Aos poucos dos meus olhos já se ausente.

18

Por ter, assim, entrado em teu caminho
Bebendo cada gole deste sonho
Agora aonde em nada me proponho,
Seguindo o passo a passo, vou sozinho
E tento quantas vezes não me alinho
Ao rito mais suave e até risonho
Aonde na verdade nada ponho
Senão a sensação de dor e espinho.
Pesando em minhas costas o passado,
O lanho entre chicotes demonstrado
O risco de viver e de pensar
Ausenta a cada dia este universo
E quando neste tanto ou pouco eu verso
Distante dos meus olhos o luar.

19

Tens razão: destruir o sonho
E nada permanece em seu lugar,
Cansado inutilmente de lutar
As tréguas por momentos eu proponho
E sei o quanto inútil ou mais bisonho
O tempo de viver e de esperar
Apenas noutro rumo irei vagar
Num passo que bem sei ser enfadonho.
O fardo carregado sobrepesa
E a vida quanto muito não despreza
O rito inconstestável, gozo e pranto.
Rescindo velhos ermos dentro em mim
E vejo que aproximo enfim do fim
E mesmo assim teimando ainda canto.

20

Rebentará, decerto quem pudesse
Ainda acreditar noutro planeta
Aonde a própria vida me arremeta
Além do que pudesse ser a messe
Incomparável passo se obedece
E nele cada engodo se cometa
Na paz aonde a vida diz falseta
O farto deste traço o tempo esquece.
Rescindo meus contratos com futuro
E quanto mais além teimo e perduro,
O risco de sonhar ainda existe,
O velho coração se embota quando
O dia no final se aproximando
Prenunciando a noite amarga e triste.

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