quinta-feira, 17 de junho de 2010

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1


Por vezes te encontrei em noite fria
Vagando pelas ruas, simplesmente
O olhar alheio segue e já descrente
Apenas novo tempo poderia
Traçar além da mera fantasia
O quanto na verdade ora se ausente
E tendo em minhas mãos o penitente
Delírio onde o caminho traçaria
Alhures decisões e nada vejo
Somente a mera sombra de um desejo
Vivendo apenas isto e nada mais,
O quanto quis presente em minha vida
A imagem totalmente destruída
Imersa no vazio agora eu vejo.

2


Nas outras me embalava a sensação
De ter além da vida algum alento,
E quantas vezes penso e mesmo tento
Sabendo das ausências que virão,
No quanto fui feliz, e agora não
O corpo entregue à fúria e ao sofrimento,
No quanto em solidão eu me apascento,
Bebendo desta turva ingratidão,
Resumo de um momento mais sombrio,
E quando a própria morte eu desafio
Tentando meramente alguma luz,
O todo se perdendo pouco a pouco,
Do quanto desejara, sou qual louco
Vivendo em sortilégio o medo e a cruz.


3

Sozinho, por teus lumes maltratado
Bebendo cada gota da cicuta
Aonde na verdade não se escuta
Sequer da fantasia o menor brado,
Revivo em dores tais o meu passado,
E nada nem a força mais astuta
Ainda poderia, mas reluta
E teimo contra o fogo, desolado.
Mergulho nas entranhas do meu ser
Desvendo em todo passo o desprazer
E morro pouco a pouco, mais distante
De quem já poderia ser feliz,
E tanto quanto posso me desfiz
Deste desejo torpe e delirante.

4

Na brusca indecisão que me domina
O medo de seguir sabendo quando
O mundo noutra face se mostrando
Vontade incomparável desatina,
Bebera a sorte grande em rara mina,
O tempo noutro tanto transtornando
E o gozo incomparável me tocando
A vida sem sentido ora extermina
O sonho mais audaz onde pudera
Domar a solidão, terrível fera
E tanto quis um dia, mas desisto,
O todo no tão pouco transformado,
O sonho que pensara iluminado,
Apenas amordaça e não insisto.

5

Amor, simples palavra em desencanto
Gerando o sofrimento e nada além
Na fúria que deveras me contém
Ainda imaginando teimo e canto,
Mas quando me percebo em tal quebranto
Ausência de esperança, a vida vem
E traz no olhar distante o que sei bem,
Agora dissemina medo e pranto.
Restara dentro em mim uma esperança
E quanto mais a vida atroz avança
Não tendo nem sinal do que eu buscara,
A sorte se transforma e nada resta,
Senão esta presença mais funesta
Da noite em dura senda, vaga e amara.


6

Embalde te esperei, hoje cansado
Não tenho mais sequer uma alegria,
O tempo noutro fato mostraria
Apenas o caminho desdobrado,
Assim por tanta dor, temor e enfado
Alheio ao que pudesse em fantasia,
Restando dentro em mim esta agonia
E dela não se ouvindo mais recado,
Esqueço o que pudesse em lenitivo
E teimo, se em verdade sobrevivo,
Não temo mais as dores, nem vazios,
Os olhos buscam paz e nada vejo,
Somente o apodrecer deste desejo
Rendido aos mais diversos desvarios.



7

Agora, com meu tempo noutro instante
Amortalhada cena não se trama,
O quando desenhara em medo e drama
Agora noutra face não espante,
No todo sou somente algum farsante
Enredo a cada dia a mesma chama
E na verdade a morte inda me clama
Qual fosse a meretriz mais delirante.
Buscara ser feliz e nada tive,
Meu braço contra a fúria se contive
O corte mais profundo já se fez,
Bebendo cada gole da ilusão
Meus dias na verdade não terão
Sequer alguma sombra em lucidez.


8

A tarde se mostrando mais atroz
Não posso imaginar sequer o sol,
Tomado pela angústia, nada em prol,
Ninguém escutaria a minha voz,
O rio se perdendo, e sei de nós
No fardo carregado em arrebol,
Ainda que pudesse algum farol,
O rumo se mostrara noutra foz.
Não posso acreditar numa esperança
Enquanto no vazio ora se lança
A voz de quem buscara a paz somente,
Mortalhas que revestem meu poema,
A vida na verdade sempre algema,
E a liberdade nunca se apresente.


9

No dia que renasce em sol imenso
Beleza incomparável deste dia,
Vivendo a mais perfeita poesia,
No amor que tanto quero e agora penso,
Aos poucos neste mar me recompenso
E bebo com ternura esta alegria
Aonde no passado sei que havia
Apenas este frio mais intenso,
Restando dentro em mim a primavera
E nela se transforma em florescência
O quanto não pensara em evidencia
Agora noutra face regenera
Moldando o verdadeiro sonho aonde
O amor mesmo sozinho enfim se esconde.


10

Escuto teu cismar em noite clara
E tento te encontrar sob esta lua,
Minha alma procurando já flutua
No amor que tanto quero e se declara,
A vida brilha intensa na seara
E além desta beleza rara e nua,
A sorte se espalhando continua
E bebe da ilusão deveras rara.
Saneio com ternura meus temores
E sigo teu amor sem mais te opores
Vencendo os dissabores, sigo em frente
No amor que me entranhando me permite
Viver sem respeitar qualquer limite
Sem nada nem terror que ainda enfrente.

11

Remoendo-me inteiro
O quanto poderia
Saber desta alegria
Sem ser o mensageiro
E quanto mais me esgueiro
Maior esta agonia
E nela se veria
Aquém qualquer canteiro,
Amortalhada vida
E nela percebida
Apenas o final,
Do quanto quis e nada
A morte anunciada
Aguarda o funeral.

12

No colar perolado
Dos sonhos mais felizes
Ainda que desdizes
Mantenho sempre ao lado
O tempo desejado
Imerso em tantas crises
Olhares aprendizes
Procuram no passado
Rendida fantasia
Aonde não teria
Sequer satisfação,
Meu mundo decaído
O tempo decidido
Ausente algum verão.

13

Encontrei tal sereia
Após pensar bastante
No passo que adiante
Na noite em lua cheia,
Ainda me incendeia
A lua em consonante
Caminho delirante
No qual sorte rodeia,
Vestindo de luar
Pudesse te encontrar
Desnuda e bela estrela,
Quem sabe finalmente
No amor que se apresente
Eu possa então bebê-la;


14

Pensei que novamente
O tempo não traria
Sequer a fantasia
Domando a minha mente,
Enquanto já se ausente
De mim esta alegria
A noite invade o dia
E sigo um penitente,
Caminho sem ter fim
Vagando de onde vim
Não tendo mais saída,
A sorte noutra sebe
Assim não se percebe
Razões para esta vida.


15


Viria destruir
Meu sonho e nada mais,
Aonde em vendavais
Encontro o meu porvir,
Ainda a pressentir
E quanto se é demais,
As horas terminais
O tempo que há de vir,
Resumo em cada verso
O meu olhar disperso
Imerso no vazio,
E tento ser alheio,
Mas quando me incendeio
Esqueço medo e frio.


16


Entretanto, ao sentir
O medo me rondando
O tempo desde quando
Ainda pude ouvir
A voz de algum porvir
E a morte me tocando,
Olhar ameaçando
O sonho a me impedir,
Mas nada do que eu possa
Ainda inunde a fossa
E gere alguma chance,
No todo não sou nada
A sorte imaginada,
Jamais o olhar alcance.


17

Carinhos mergulhei
Nos braços desejados,
Assim os meus recados
À vida eu também dei,
No quanto desvendei
Da sombra seus enfados,
Os cantos, novos brados,
A sorte, norma e lei,
O mando ora puído
O tempo repartido
O corte se propaga,
E tudo o que buscara
Agora não me ampara
Vislumbro em mim a chaga.


18

Cansado do viver
Inúteis sonhos trago,
E quando sem afago
A vida sem prazer,
Pudesse ainda crer
Na placidez de um lago
Num dia manso e mago,
No céu amanhecer,
Mas nada resta em mim,
Voltando para o fim,
O olhar não mais se sente
E o todo se ausentando
Aonde fora brando
Agora é só demente.


19

Penetro por teus mares
E neles busco o cais
Em dias magistrais
Diversos os lugares
Aonde procurares
E sei que nunca mais
Verás os rituais
Em bons, claros altares,
Apenas teimo enquanto
A dor já não espanto
E vivo por viver,
Não pude acreditar
Nas ânsias deste mar,
Nem mesmo em teu prazer.


20

Relances imprecisos
Olhares mais discretos
Em passos tão diletos
Ausentes os juízos
Imensos prejuízos
Em fatos mais concretos,
Resumo os tão diretos
Caminhos mais concisos,
Na ausência de esperança
Aonde a vida avança
E bebe do vazio,
Assim dentro de mim
Imenso este jardim
Maior, ainda o estio.

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