1
Abandone este barco
Aonde quis timão
Naufraga a embarcação
Amor quando se é parco
O todo não abarco
Nem dias se verão
Após a ingratidão
E nela busco um arco
Aonde tanto faz
O quanto se é mordaz
Ou mesmo se porfia
No passo rumo ao nada
Gestara a madrugada
Parindo um novo dia.
2
Nevando dentro em mim
O farto da existência
Ausente complacência
Traçando início e fim
O gesto é sempre assim
Trazendo em inclemência
O quanto da inocência
Traduz ao que não vim,
A morte sem notícia
O corpo sem malícia
O gosto da verdade
A boca se esfaimando
O peso sonegando
O quanto de saudade.
3
Roletas desta vida
O jogo sobre a mesa
Os dados da incerteza
A sorte descumprida
O parto em despedida
O gozo desta beleza
O quanto sem defesa
Preparo outra saída.
Vasculho o que restara
E nada da seara
Servia ou serviria
Apago da memória
O quanto fora escória
E agora dita o dia.
4
Bebendo da saudade
Lembranças do passado
E quanto doce enfado
Ditando a realidade
O tanto quanto agrade
Gerando novo fado,
Rolando assim o dado
Adentro tempestade.
Vergando sobre as costas
As horas sem respostas
Propostas de outra sina
E tanto quis outrora
Agora me devora
Com tez mais assassina.
5
Restando muito ou menos
Do passo que se dera
Ainda não pudera
Vencer os teus venenos
E quando nos serenos
Adentro casa e fera
O corte me tempera
E tramas dias plenos
Resisto e se pudesse
Aonde não se esquece
Faria moradia,
Marcado pela estrada
Vazia e sonegada
A sorte não traria.
6
O mundo andando avesso
A quem nada traria
Senão a velharia
E nisto o recomeço
Ainda se mereço
Ou mesmo me omitia
Quem sabe não teria
A vida outro endereço?
Problemas e mentiras
Aonde tanto atiras
Retiras cada farpa
E tento ancoradouro
Vazio o morredouro
Penhasco dita escarpa.
7
Vencido por cansaço
Da luta onde pudera
Saber da dura fera
E nela nada faço
Senão tal embaraço
E quanto mais venera
A morte dita espera
E rompe qualquer laço.
O caos se aproximando
O mundo mais nefando
Nevando dentro em mim,
Morrendo pouco ou tanto
Ainda quando eu canto
O encanto chega ao fim.
8
Sem medo e sem vontade
Do todo quanto quis
O parto sem matiz
O gosto da saudade
O gesto aonde invade
E trama o quando fiz
No corte no aprendiz
O beijo dita a grade,
Resumos entre rumos
Diversos e consumos
De ritos, rios, glórias
Assim ao assinar
Não pude ter luar
Nem mesmo em vãs memórias.
9
Olhar primaveril
Aonde não pudesse
Saber desta benesse
E nela não se viu
Senzala que se abriu
Nos pés de quem merece
Ou mesmo se obedece
O corte amargo e vil,
Resulto do vazio
E tento em desvario
O desafio além
A morte não promete
O quanto se arremete
E nada em troca vem...
10
Te canto mergulhado
Nos ermos da ilusão
Procuro a direção
E nada do recado
Aonde foi tramado
O passo em solidão
O vento em louvação
O risco abençoado,
O pântano que espero
Embora seja fero
É tudo o que inda vejo
Além do mais sombrio
Caminho desafio
E tento este desejo...
11
Procuro teu olhar
Por onde nada vinha
Sequer a sorte minha
Ou mesmo noutro altar,
Restando sem cansar
Revoo de uma andorinha
Aonde se continha
Vontade de chegar.
Batendo na janela
A sorte se revela
Diversa do que eu quis,
Mas mesmo sendo assim
Bebendo do teu gim
Eu sei que sou feliz.
12
Meu mundo sem teu canto
Teu canto sem meu mundo
O tanto quanto inundo
Gerando algum espanto
E quando desencanto
Teimoso me aprofundo
E bebo deste imundo
Caminho em dor e pranto,
Restando a minha voz
Aonde fora algoz
O tempo preservado
Dos ermos da promessa
E o passo se tropeça
Completa o seu legado.
13
Em tristes melodias,
Ou mesmo em serenatas
Enquanto me maltratas
Não vês os novos dias
Resumo que querias
E neles velhas matas
Ainda onde retratas
As velhas heresias.
Perpetuando a dor
Aonde fora flor
E agora amor mortalha
Não posso nem pretendo
Ainda se desvendo
O campo da batalha.
14
Transborda neste mundo
O peso da promessa
Aonde recomeça
E nela se me inundo
Viesse vagabundo
O tempo sem a pressa
E nele se confessa
Ao menos um segundo
E tento acreditar
No quanto é bom voar
Embora asas não tenho,
Vencido pelo medo
Enquanto me concedo
Ao menos eu me empenho.
15
Avesso, sem te amar
Cansado da batalha
Aonde já se espalha
A fúria a nos tomar
Pudesse trafegar
Na antiga cordoalha
E nela se atrapalha
O passo a procurar
Caminho invés de messe
E nada se obedece
A quem buscara a paz,
Assisto em camarote
O quanto não se brote
Do nada que me traz.
16
Nos céus donde vieste,
O passo rumo ao nada
Ainda em escalada
Gerando medo e peste
Tampouco mais agreste
A senda nesta estrada
A voz alvoroçada
O corte que se empreste,
O farto do caminho
A vida em tom mesquinho
E o gozo da esperança
Aonde nada pude
Sequer em juventude
A vida ora me lança.
17
Promessas benfazejas
Palavras mais sutis
E quanto além de quis
Deveras não desejas,
E quando em azulejas
Transformas em versos vis
O gozo do aprendiz
Que enfim tanto apedrejas.
Recebo esta intenção
Aonde quis verão
E nada se formara,
A lua se escondera
A vida se perdera
A noite jamais clara.
18
A noite em tempestades,
Momentos fabulosos
Aonde em prazerosos
Delírios tu me invades
E sei das tantas grades
E nelas pedregosos
Caminhos caprichosos
Ausentes das saudades
Não pude contornar
As tramas do lugar
E tento mesmo em vão
O que tanto redime
Fingindo ser sublime
O engano em tal senão.
19
Espreita, de tocaia,
Olhando de soslaio
E quando não me traio
A vida já me traia,
Não posso nesta praia
Olhando este lacaio
Caminho aonde espraio
E tento enquanto caia
O mundo noutra face
Aonde gere impasse
E passe para trás
O manto delicado
Há tanto destroçado
Já nada há tempos traz.
20
Eu canto esta canção
Aonde quis o dia
Trazer uma alegria
Em dia mesmo vão
Resumo esta ilusão
Aonde a melodia
Deveras não podia
Tomar a direção.
Dançando a noite inteira
A sorte costumeira
Ou mesmo mais tenaz,
Restando do passado
O corte tatuado,
Mas juro tanto faz...
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