1
... Choro demais,
não consigo
te esquecer
jamais ...
IVI
Palpita um sentimento
Dourando cada verso
Em quanto em ti eu verso
A glória eu alimento
E sinto este momento
Outrora tão disperso
E a dor ora disperso
Tocado em raro alento,
No todo se mostrara
A vida imensa e rara
Tornando mais feliz
Quem tanto busca a sorte
E tendo quem conforte
Adentra o que mais quis.
2
Sem forças, vou tentando
Apenas desvendar
Beleza que sem par,
Por vezes noutro bando
Percebo se emigrando
Gerando noutro mar
O quanto pude amar
E nada se moldando,
Aprendo a ter nas mãos
Embora dias vãos
Os grãos que me permitam
Cevar nova esperança
E nisto a confiança
Em luzes que se emitam.
3
Amor que me transforma
Renasce após o outono
Aonde este abandono
Decerto fora a norma,
E agora noutra forma,
Do quanto em paz me adono,
Embrenho-me e já clono
A sorte onde se forma
A vida após a morte
Ou mesmo mude o norte
Outrora em tez sombria,
Assim se não consigo
Ainda em ti o abrigo
O fim, a messe adia.
4
É mais do que consigo
Ou mesmo quis um dia,
Vencer esta agonia
Seguindo em paz contigo,
No verso eu busco o abrigo
E tanto poderia
Trazer velha utopia,
Um tempo em que persigo
O gozo mais sublime
Além do que se estime
Ou mesmo queira crer,
No pouco que me resta
Amor em tosca fresta
Ainda posso ver.
5
No canto que te faço
Apenas a lembrança
Que ainda vem e alcança
Depois do vago passo,
Resumo neste traço
Ausente confiança
E nele esta pujança
Ao menos já desfaço,
Querendo muito mais
Do quanto em atos tais
Pudesse ainda ver,
E sendo esta inconstância
O fardo em discrepância
Alheio ao meu querer.
6
Eu tento transformar
Um último suspiro
E quando em vão transpiro
Diverso do luar,
Perdendo o meu lugar,
Ausência onde respiro
E quando não retiro
Meu mundo do sonhar
Pudesse ainda ter
O sonho a se tecer,
Mas nada mais restando
Somente em tom funéreo
O quanto quis sidéreo
E agora sei nefando.
7
Fogueira que me abrasa
O sonho mais sutil
Embora não se viu
Da fúria sobre a casa
A morte não se atrasa
E gera o passo vil
Aonde quis gentil
E nada dita a brasa
O pânico tomando
Enquanto em tom infando
Meu verso se aproxima
Do fim, gerando o caos,
E tanto quis além
Do pouco que contém
Naufrago minhas naus.
8
Meu amor desenhando
Em últimas passagens
Olhares em miragens
Momentos onde infando
Pudesse em contrabando
Alçar novas paisagens
E crer nas tais aragens
Aonde se moldando
O risco de sonhar
O canto a se negar
A morte se aproxima
E tento, mas não posso
Enquanto sou destroço
Mudar um velho clima.
9
Não diga, por favor,
O todo que não pude
Viver sem atitude
Apenas desamor,
O corte mata a flor
Podando o que se mude
E gera o quanto ilude
O passo redentor.
Acolho cada espaço
E sei o quanto traço
Do nada que inda existe,
A morte me abraçara
E assim nesta seara
O fim imenso e triste.
10
A dor que me exaltando
Não deixa qualquer passo
Gerando o que desfaço
E nego em contrabando
Olhando desde quando
O rumo aonde eu grasso
Marcado pelo laço
E tudo se negando,
Eu quis apenas isto,
E agora se desisto
Não posso e nem duvido
O manto me recobre
E nele quando pobre
Apenas tramo o olvido.
11
Também é semente para
Quem tenta nova face
Do mundo em que inda grasse
E tanto desampara
O corte dita a escara
E nada mais se trace
Senão nada renasce
Aonde se prepara
A fonte mais precisa
E quando não avisa
Granizo eu acumulo,
O todo se esvaindo
E nisto sinto findo
O medo em que estimulo.
12
Assim como p’ra vida
Não tenho esta importância
Gerado em discrepância
No quanto fora urdida
A paz sem mais saída
O mundo em militância
A trama sem distância
A porta destruída.
A morte se transborda
E quando nada aborda
Somente o fim de prazo
O todo se transforma
E nada toma a forma
Atroz do mero ocaso.
13
Etéreo sentimento
Ausência de esperança
A morte já me lança
Ao sabor deste vento
E quando me alimento
Da ausente confiança
Apenas nada avança
E dita o sofrimento,
Pudesse acreditar
Num passo a se mostrar
Em luz ou fantasia,
Mas quando me entranhara
Na noite em vã seara
Ausente melodia.
14
Cobrindo meus delírios
Em tons duros, nefastos,
Os dias sendo gastos
Em turvos, vãos martírios
Recebo em contra-ataque
O corte mais profundo,
E sei do quanto inundo
Meu mundo em tolo baque,
O peso de uma vida
Após o nada ter
Ainda merecer
Após a despedida
Ao menos um adeus,
Em turvos, néscios breus.
15
Alvirubram desejos
Aonde pude ver
As cenas de um prazer
Em dias mais sobejos
Realço os azulejos
E neles posso crer
Distantes do querer
Momentos em lampejos.
Resumo o dia a dia
No quanto mais se urdia
Verdade insofismável,
Mas sei quanto não trago
E nisto bebo e estrago
Embora incontrolável.
16
Cores, formas, anseios
Do todo que se vê
Apenas sem por que
Belezas, corpos, seios,
No fundo meros veios
Aonde não se crê
Além de algum clichê
E deles mais alheios
Meus passos ao futuro
Não temem mais o escuro
Nem pedem nova luz,
Apenas agradeço
Bem mais do que mereço
Do barro ao mero pus.
17
Diáfana, redentora
Imagem que renego,
O passo segue cego
Aonde quer já fora
Uma alma tentadora
Ou mesmo adentrando o ego,
O tanto que carrego
Negando a sonhadora
Presença de um futuro
Que viva após a morte
E frágil tão suporte
Aonde não procuro
Sequer algum alento
À dor ou sofrimento.
18
Este cenário audaz
Gerado pelo medo
Aonde do degredo
Eternidade traz,
Não quero o fim em paz
Também um ermo ledo,
Apenas me concedo
Ao quanto se é mordaz,
Não tenho eternidade
Nem mesmo esta ansiedade
Que tanto nos maltrata,
A vida se desata
Da própria vida e após,
O nada é minha foz.
19
Meus humores, prazeres
Sonhares e loucuras,
As noites pós, escuras,
Não trazem os quereres
Inúteis somos seres
Aonde sem ternuras
As mortes que amarguras
Negam amanheceres.
E assim depois do fim
A sombra do vazio,
E nela nada crio
Nem treva e nem jardim,
Do nada volto ao nada
É curta e vã estrada.
20
Os céus se multiplicam
Nos olhos dos cristãos,
E neles dias vãos
Enquanto não se explicam,
Porquanto reaplicam
Nos ermos vários grãos
E neles outros vãos
Deveras se complicam,
Os passos perdem rumo,
E quando enfim me esfumo,
Apenas fátuo fogo,
Assim em gás metano
O olhar mais soberano
Percebo o fim do jogo.
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