segunda-feira, 26 de julho de 2010

43001 até 43100

001


Buscando meramente algum apoio
Aonde prenuncio a queda, eu tento
Vencer o mais comum alheamento
Tomando em incerteza o velho arroio,
E tento discernir trigo de joio,
Num passo muitas vezes violento
E quando permaneço desatento
A vida se sonega em vão comboio.
Olhar e ver apenas o que extinto
Ainda trago, é como se o futuro
Houvesse transformado em ermo e escuro,
Cenário corriqueiro em minha vida,
No quanto posso mesmo ou tanto eu minto,
A sorte imprevisível, corroída.


002


Exatamente quando mergulhava
Num mar em palidez, vasculho o fim
E bebo cada parte do que há em mim,
Ondeio caminho em dor e lava,
E mesmo quando ausente procurava
A consonante sorte, nada enfim
Tomando plenamente e sendo assim,
A trama se esbarrando em qualquer trava.
Solucionar as dívidas que trago
Na busca em placidez, ausente o lago
Somente este bravio mar reside
Na praia dos meus pânicos constantes
Sirena em face escusa; já adiantes
E nela o meu reflexo agora incide.


003


Somatizando ao fim estas crisálidas
Na ultrapassagem dura; se apresente
A vida com a face descontente
Resumo de outras eras bem mais cálidas,
Palavras muitas vezes são inválidas
E nelas o que eu teimo e não se atente
Expressa o mais complexo contingente
Nas noites tão erráticas quão pálidas.
Esgoto dentro em mim uma esperança
Enquanto a realidade ainda avança
E traça novo tempo aonde eu possa
Tramar a realidade em claro tom,
E o dia amanhecendo, farto dom
Que impede num instante a velha fossa.


004


O quanto trago em pedras ar e fúria
Mesquinho ser enquanto racional,
Mergulho num destino sempre igual
Gerado pela insânia e por incúria,
Legado onde me entrego, em tal penúria
Cercado por constante e mais venal
Delírio desenhando este abissal
Caminho aonde resto e sem lamúria.
Escalo os mesmos montes e vasculho
O quando dentro da alma é pedregulho
Horrivelmente nu exposto ao chão
Denigro a própria imagem cada dia,
E migro para o próximo a agonia
Herança para os que inda, iguais, virão.

005


À cântaros carrego e me lastimo
Do peso desenhado pelo escasso
Desenho aonde ausência teimo e traço,
Caindo a cada passo, mesmo limo.
O tanto quanto posso e não lastimo
Resumo o meu delírio em novo espaço,
A porta se entreabrindo quando passo
Vestindo em ironia o que deprimo.
A tola humanidade já se espelha
Na face desdenhosa e dita ovelha
No quanto em liberdade Ensinaste.
Assim ao desnudar o rosto obtuso
De quem no vago espelho ora entrecruzo
Percebo a insanidade deste traste.





006

Na explosão destes canhões
Nada trago em consonante
Caminhar onde garante
O que tanto não me expões,
E persisto em negações
Desviando a cada instante
Outro passo, degradante,
Visto em várias direções.
Escusando-me na culpa
Do que tanto se esculpa
Deste sórdido demônio,
O mercante sonho agora
Onde a fonte desarvora
Indefectível pandemônio.


007


Percorrendo em paralelo
Vago passo eu tento quando
O que trago e te revelo
Noutro tanto desnudando,
Presumir o quanto é belo
O mergulho neste brando
Desenhar onde te atrelo,
Face sempre renovando.
Neste alheio desenhar
Onde outrora algum lugar
Poderia haver, decerto,
Na incerteza mais atroz
O caminho dito em nós,
Na verdade eu já deserto.


008


Nesta lentidão a vida
Esboçando alguma luz
Quando enfim eu já me opus
Provocando a despedida,
Desta cena outrora urdida
No cenário em dor e pus,
Vejo assim na contraluz
O que outrora achei perdida.
Naufragar é tão comum
Quando em dois não restando um
Esta soma se divide,
Perco o rumo e nada veio
Prosseguindo em rumo alheio
Onde a morte em paz, incide


009


Sem memória que me baste
Nem desejo onde um dia
Bem diverso poderia
Restaurando algum resgate,
Nada além do vil desgaste
Gera em nós vaga agonia,
E medonha fantasia
Onde a sorte má repaste
Ouso em tétricos pudores
Mesmo até se não mais fores
Resgatar algum anseio
Vasculhando cada parte
Do que tanto não reparte
Noutro rumo eu devaneio.


010



Quando havia a nostalgia
De momentos consonantes
Percebera que agigantes
Quanto mais amor recria
A fantástica heresia
Por desejos torturantes
Onde mesmo ou até antes
Cada passo se faria,
Sintonizo o tolo ardil
Esboçando outro gradil
E tentando ver além
Do que outrora não soubera
Na solvente primavera
Longa espera me contém.


31


Ao descer várias encostas
Onde outrora vicejara
A beleza intensa e rara
Sendo nunca mais repostas
Desde quando já não gostas
Do caminho que prepara
Minhas sortes; escancaras,
Em funérea face; expostas.
Nada mais resta afinal
Horizonte terminal
Sem sequer saber o rumo
Quando tento e me abandono
Do passado em desabono,
Ao descer também me esfumo.

32

Que se faz de quem procura
Mesmo em paz outra guerrilha,
Na verdade este ermo trilha
Numa vida mera e dura.
O passado na amargura
O futuro inda palmilha
Perfazendo e se estribilha
Muito aquém desta brandura.
Necessária a quem porfia
E acredita noutro dia,
Quando a sorte se fará
Discordantes tons eu vejo
Ao beber este desejo
Que bem sei e desde já.




33


No submerso mundo em mim,
Vasculhando cada ponto,
Se deveras já me apronto
O que eu vejo diz do fim,
Por princípio é sempre assim,
Nada levo nem desconto,
Na tangente não remonto
Ao cenário de onde vim.
Resumindo em verso e canto
O diverso desencanto
Tão comum dos nossos dias,
Entorpecido cometa
No vazio se arremeta,
Revela as vozes sombrias.


34

Anular o pensamento
E tentar quem sabe a sorte,
Onde o nada me deporte
E o caminho diz alento,
No final enquanto eu tento
Remeter-me ao frágil norte,
Tanto quanto eu me comporte
Explorando o pensamento,
Verticais quedas eu sinto
Resumindo o vago instinto
Nas defesas costumeiras
Perceptível face aonde
O meu mundo não responde,
Mesmo até se não me queiras.



35

Ao restituir o passo
Na incerteza de outro além
O desnível já provém
Do que em mim decerto eu traço,
Meu olhar neste ermo traço
Vaga ou busca o quanto tem,
E se entranha e volta sem
Revelando o morto espaço.
Um caminho quase esquálido
Num cenário tosco e pálido,
Reduzindo ao que provê
Esta vida sem resposta,
Quando enfim já decomposta
Sem talvez qualquer por que.


36


Sobre os crânios, vários vermes,
Subterrâneos caminhares,
Onde além não mais ousares
Em cenários quase inermes,
Decompondo as epidermes,
Roubam fartos lupanares
Mesmo assim ao te entregares
Adiposas, vastas dermes
No final restituindo
O que outrora se extraindo
Noutra forma se compõe,
Ao eterno renascer
No vibrar e apodrecer
Vida, a vida além repõe.

37



Infernais caminhos onde
O delírio eu não mais tento,
E se bebo o sortimento
Nele a vida não esconde
E perdendo o trem e o bonde,
Meu olhar mais desatento
Entregando a sorte ao vento,
O vazio me responde.
Sendo assim, quimera em bote,
Quando muito mais me esgote
A franqueza feita em luz,
Noutra face refletira
Sonegando uma mentira
Que à mentira contrapus.


38


Uma entrega interminável
Dita a ronda sobre a Terra,
No final o início encerra
Ciclo vário enquanto arável,
Reciclar o palatável
Noutra face já descerra
O delírio onde se enterra
Este ser cruel e afável.
Esgarçando a cada instante
Num cenário degradante
Vejo até maravilhado,
Do composto em pasta e pus
Nova vida ora faz jus
Devolvendo o conquistado.

39


Quando vejo em todo vão
Outro tanto se aflorando,
Na cratera deformando
O sentido e a direção,
Novos tempos mostrarão
O que um dia em contrabando
Senti mesmo me pesando
Oprimindo outra estação.
Régios dias onde pude
Mesmo sendo brusco ou rude,
Entender um pouco mais
Dos heréticos cenários,
Mesmo sendo necessários
Calmarias; vendavais.


40

Fui ninado com sangue e com melaço
Nos meus ermos vitais e redentores
Deveras entre tantos desamores
O quadro sem sentido eu ouso e faço,
O manto consagrado eu não repasso
Tampouco me entregando aos vãos pudores
Espelho minha vida aonde pores
Os olhos no futuro, mesmo escasso.
Resulto em verso e canto do que fora
A sorte sem sentindo ou traidora,
Vestindo esta diversa fantasia,
Do todo ensimesmando bala e faca,
A morte se provoca e não aplaca
Quem tanto nova sorte em paz queria.

41

Rasguei berro e valentia
Nas estradas e tocaias,
Onde mesmo se distraias
Não verás um novo dia,
Resumindo esta agonia
Entre dores, facas, saias
Quando aquém do sol desmaias
No final outra agonia,
Vicejando a morte em mim,
Não suporte algum jardim
Neste sangue exposto ao chão,
A florada quase certa
Nela a vida se desperta
Nova face em mutação.


42


O meu mar mineiro trama
Outro mar dentro de mim,
Salgo a vida desde o fim
Quando a sorte nega a flama
Espreitando o quanto se ama
Boca exposta, carmesim,
O funéreo golpe enfim
Diz do velho e tolo drama,
Nada vejo deste mar
Que aprendi mesmo a salgar
No momento, neste ensejo
Sorte alheia não contém
Nada além deste desdém
E deveras, lacrimejo.


43


Dos meus restos nada trazes
Nem sequer qualquer promessa,
Onde a sorte não começa
Nem se vêm futuras fases,
Aprendo em meras frases
Eras novas; endereça
Meu olhar ao que confessa
Ermos trágicos, vorazes.
Aprendendo a cada tombo,
Deste etéreo sonho zombo
Ou quem sabe me aconselhe.
Quanto mais o tempo engelhe
O meu carma ora desnudo
Num cenário vil, miúdo.

44


Nas laçadas desta vida
Outra sorte eu não produzo
E se tento sem abuso
Encontrar uma saída
Esta bala antes perdida
Num olhar que ora entrecruzo
Deixa o passo mais confuso
Nova história sendo urdida,
Resta em mim o desabono
De quem sabe e em paz me adono
Dos erráticos demônios,
Cerceados dentro em pouco
Se deveras me treslouco
Ou se enfrento os pandemônios



45


Tanta vida sem valia
Vida diz esta ventura
Onde a dita não perdura
Nem tampouco merecia
Outra sorte ou sintonia
Cada gole em amargura
Renegando já tortura
Remetendo à fantasia.
Expressões de vida e morte
Que o caminho não comporte
Nem traduza em verso ou canto,
Do meu ego insatisfeito
O delírio aonde eu deito
No final quieto me espanto.


46

Traquinagens de uma vida
Entre vidas desenhadas,
Outras tantas desprezadas,
O que resta já se acida,
No final a mesma urdida
Nas entranhas destes nadas,
Ou decerto destinadas
Onde a sorte é distraída.
Percebendo qualquer bote,
Mesmo assim nada denote
A palavra sanidade,
Rescaldado em tal tormenta
Quem deveras não se inventa,
No final, pois se degrade.


47


Tetas fartas, mãe e glória
Resvalando à perfeição,
Nesta face se verão
Os verões da torpe história,
Mas a vida sem memória
Esquecendo esta lição
Da provável mansidão
Outra fera em vil vanglória.
Restaurando ao menos quando
Decomposto renovando
Em sutis e delicadas
Formas várias das matérias
Entre vermes e bactérias
Tetas fartas, ofertadas.


48


Madrugada onde os orgasmos
Poderiam ser sublimes,
Na verdade em tantos crimes,
Dias mortos sempre pasmos,
No vazio dos sarcasmos
Ou deveras não estimes
O que tange e não redimes
Entre ocasos e marasmos.
Restaurando ou revelando
Na pureza desde quando
Outra sorte em concordância
Gera a sombra de outra igual,
Num caminho sensual
Ou na torpe mendicância.


49


Irreais sonhos deveras
São comuns a quem delira,
Muito mais do que a mentira
Faces várias, primaveras,
Onde tanto ou nada esperas
Do não tido se retira
A palavra que desfira
Entre luzes e quimeras.
Mero espectro do que um dia
Demonstrado em tez sombria
Esboçara algo azulejo
Sendo assim resumo o fato
Onde tento e me maltrato
Noutro tanto me prevejo.


50


Vou e nos currais do sonho
Outro fato se resume
Onde nada mais assume
Quem se fez tolo e medonho,
Vasculhando não me oponho
Mesmo quando sou estrume
E deveras de costume,
Volto ao mar, mesmo enfadonho,
O delírio em tez diversa
Molda a sorte que se versa
Entre gados, liberdade,
Dos amores e perdões
O que em sonhos tu expões
Reproduz o quanto invades.

51



Nem sei do mar, vivendo minha praia
Nas águas cristalinas das Geraes
Aonde se pudesse ou muito mais
Do quanto ao mesmo tempo nada esvaia,
No vago caminhar, o passo traia
E trace com promessas terminais
Delírios entre fartos temporais,
Ou mesmo nada surja nem retraia.
As ondas dos meus mares em marés
São fortes e bravias por quem és
E nisto se acredita quem mais sonha,
Nas âncoras do tempo, a liberdade
Ainda que tardia, já me invade,
Porquanto o meu delírio em mar se ponha.



52


Neste sol universal
Destoando em tons sombrios
Dos meus tantos desafios,
Menos bem quem sabe o mal
Estreitando o virtual
Caminhar por entre os rios,
Quando vejo em desvarios
Afluência sol e sal.
Litorais dos meus engodos,
Apresentam mangues, lodos
Charqueadas dentro da alma.
Neste pântano que entoa
A saudade diz canoa
E decerto ora me acalma…


53


Os peixes no regato
Quanto mais o tempo quis
Entre bagres, lambaris
Os meus dias eu resgato,
Quando muito não desato
Do que tento ser feliz
Esquecendo a cicatriz,
Mergulhando em pleno mato.
Nas entranhas deste rio
O meu âmago eu desvio
E provendo com ternura,
Pescador quase menino,
Velho tolo desatino,
Sempre a paz, teima e procura.


54


Onde houvesse confusão
No passado ou se apresente
Sempre além pela tangente
Novas faces mostrarão
Outras tantas na estação
Mesmo estando descontente,
Sou decerto impertinente
Quando tomo a decisão,
Esquecendo o que soubera
Antes mesmo desta espera
Numa estreita e vã viela
Casamatas da esperança
Onde a vida já se lança
E a saudade se revela.


55

Na surdina em noite vaga
Ouço vozes dentro em mim,
Vasculhando chego enfim
Ao que tanto já me alaga,
Resumindo cada adaga
Neste instante beijo o fim,
E se cirzo quando vim
A medalha dita a plaga.
Resplandece além e aponte
Onde houvera qualquer ponte
Paralelos entre nós.
Resvalando face a face
O que sei mesmo e inda grasse
Solidão expressa em voz.


56


Nos herméticos ou farto
Do que tento e não consigo,
Vejo até no desabrigo
A verdade que reparto,
Estação gerando o parto,
Novo mundo e sem amigo
Resumindo o passo antigo
No que tanto em mim descarto.
Vasculhar cada pedaço
Deste todo onde refaço
Novamente o que pudesse,
A vazão diz da torrente
Onde quer que se apresente
Já não vejo mais benesse.


57


No piano, na senzala
Noutro canto dentro eu pude
Desvendar o quanto rude
A minha alma não se cala,
Atravessa esta ante-sala
E se expondo em plenitude
Quis até a magnitude
Onde nada mais se fala.
Resplendores, realejo
Quando o tempo em mim revejo
Vejo apenas vagas formas,
E o que tento não seduz,
Falta sempre o tom e a luz
E o que tem; logo deformas.


58

Esgueirando pelos chãos
Entre espinhos e mortalhas
Tantos cortes e batalhas,
Dias ermos, mesmos vãos,
Resumindo em tantos nãos,
Os caminhos onde espalhas
Revivendo as dores, palhas
Sonhos tolos artesãos.
Particípio diz passado
Participe do legado
E verás em tom diverso,
O que agora aflora e faz
Mesmo sendo pertinaz
O cenário, eu tergiverso.


59


Engelhada fronte em cãs
Tão sombrias; verdadeiras
Nelas quando tu esgueiras
Espreitando outras manhãs
Verás sempre as mesmas, vãs
E decerto em tais ladeiras
Noutras quedas, corredeiras
Velhos dias, meu afãs.
Alpargatas entre espinhos
Olhos podres e daninhos
Ventos rugas em disfarces,
Condenando cada passo
Outro até tecendo escasso
Logo após o quanto esgarces.


60


Se na morte o meu carinho
Vez em quando faço e até
Procurando sem ter fé
No futuro qualquer ninho,
Muito embora vá sozinho
Não cansado, sigo ao pé
Da montanha e no sopé
Abandono outro caminho,
Espreitar e ver apoio
Onde a sorte sem comboio
Gera apenas outro cardo,
Seduzido em cada engano,
Onde tento e já me dano
Passo lento, ora retardo.



61


Quando no colo da serra
Outra serra se desvenda
O que tange vira lenda
E o já certo não descerra,
Violão ao longe, a terra
Onde o sonho não entenda
E o passado já se estenda
Muito aquém do quanto encerra.
Vasculhar cada momento
Por ser tanto ou não atento
Venço ou perco, mas prossigo,
O que teimo em voz igual
Ou se mostra magistral
Ou condena ao desabrigo.


62


Onde outrora quis o porto
Cada parto refugando
O momento desde quando
Na verdade semimorto
Caminhando além desporto
Nada tento ou mesmo em bando
A coragem desolando
Onde eu quis virando aborto,
Represando em mim um mar
Tão cansado de sonhar
Com a praia que não vejo,
Cismo errando bar em bar,
Até que posso ao ancorar
Refletir algum desejo.

63

Na prolixa fantasia
Resplendores e luzeiros
Dias velhos. Costumeiros?
No final o tempo adia,
E se tanto temeria
Noutro mar; mesmos cruzeiros
Resto apenas nos cinzeiros,
Qual imagem cinza e fria.
Derrapando neste fato
Onde até tento e resgato
Outros tantos, mero espelho,
Movimento em barcos, mares,
Nos caminhos se notares
O meu mar; sempre avermelho.

64


Tardes baças, mar distante
Meu olhar sem sol ou brilho,
Neste incerto vão palmilho
E decerto se adiante
Outra face a cada instante,
Como fosse um estribilho,
E deveras eu me pilho
Neste infausto degradante,
Resoluto, mas nem tanto
No que tento e me adianto
Quedas vejo e nada além,
O trajeto se repete
Quando a voz nada reflete
E a palavra não contém.


65



Dolorosa solidão
Ao mergulho em tal abismo,
Quando além ainda cismo
Não suporto os que virão,
Olho atento em precisão,
Cada passo um cataclismo,
No final em otimismo
Bebo o fim desta estação,
Visto o inverno e até procuro
Mesmo quando está maduro
Outro fato em que talvez,
Nova senda se desvende
Ou quem sabe a morta atende
O que agora já não vês.


66


O meu rio sem aporte
A nascente há tanto morta,
Assinala cada porta
Onde a vida dita a sorte,
Sem ter nada que a conforte,
Resumindo o quanto importa
Na senzala se deporta
O caminho outrora forte,
Ao carpir toda ilusão
Dias novos não verão
O que tento e não descarto,
Jogo fora e no abandono,
O final já desabono,
Mesmo até por estar farto.



67

Indeciso passo eu tento
Onde o nada em mim resiste,
Se decerto eu sigo em riste
Ausentando o pensamento,
Nada tendo em provimento
O caminho onde persiste
Ilusão já não resiste
Cai em tolo sofrimento,
Vento expressa a sensação
Deste mesmo mar de então
Sem marulhos mais diversos,
Marinheiro sem saveiro
O que resta, este vespeiro
Traduzido em poucos versos...


68


Quando agitas, coração
Sem juízo e sem fronteira
Quer a sorte traiçoeira
Ou se perde em mero não,
Navegar no mar, senão
O caminho já se esgueira
Sonegando uma bandeira
Reparando a imprecisão.
Cais ausente, mar também,
E o delírio quando vem
Transtornando este andarilho
Arco até com fúria e gozo,
Onde quis mais majestoso
O passado ainda trilho.


69


Aguardando a minha morte
Curva claras do destino,
Quanto muito eu determino
Qual será mesmo o transporte,
No final já pouco importe
Se eu pudesse ser menino
Distrair o que não mino,
Mergulhar em nova sorte.
Paralelos olhos vendo
O que fora algum remendo
E em verdade nada diz,
Ser ou não e persistir,
Jogo bruto aonde ouvir
Não me faz nem quer feliz…



70



Um comboio no deserto
Em camelos, dromedários
Outros tais itinerários
Onde mesmo me desperto
Seja longe, dentro ou perto,
Escondendo em meus armários
Dias tolos; necessários
O mergulho em mim; alerto.
Prazo acaba acaso seja
De soslaio ou de bandeja,
Servidão a cada instante,
Previsível rumo ao quando
Meu comboio desertando
Novo igual já se adiante.



71

Aprendendo a navegar
Entre tantas vis tormentas
Quando até tu me apascentas
Bem maior, o imenso mar,
Procurando onde aportar
Nada encontro e não lamentas,
As procelas que acalentas
Já não posso me mergulhar,
Abissais fossas marinhas,
Onde agora tu te aninhas,
Expondo a face oculta
Do passado denegrido
Do presente presumido,
E a verdade se sepulta.



72



Arrebento estas algemas
E procuro, libertário
Um caminho imaginário
Onde nada veja ou temas,
Resumindo os meus dilemas
Neste vago itinerário,
Tantas vezes necessário
Encarar velhos problemas.
Restaurando o passo além
Do que tanto me convém
Congregando tudo em mim,
Investindo contra a fúria
Do delírio em tal penúria
Traduzindo o medo e o fim.


73



Rimas fartas onde outrora
Dissonância me diria
Quem se fez em alegria
Ou do tanto não devora,
Restaurando desde agora,
Nova face, mesmo dia,
Horizonte não traria
O que alheio desancora,
Coração coragem tem,
Mas imerso em teu desdém
Marca em duras cinzeladas
Esculpindo em alabastro
Noutro mundo em vão me alastro
E me dizes sempre nadas.


74


Quando crivas ironias
Esboçando risco em tom
Divergente traz por dom
Estas mãos somente frias,
Frágeis noites esvazias
E percebo o quanto é bom
Esgotado este neon
As dormências mais sombrias,
Lua alheia à cheia ou não
Das marés desta emoção
Desenhada em cores gris,
Retalhando esta promessa,
O vazio se confessa
Onde o tanto outrora eu quis.


75


Lapidar com precisão
Ou quem sabe em tons diversos
Os meus vários universos
Noutro rumo o mesmo não,
Vago e busco desde então
Quanto pinto em tons dispersos
Os caminhos já submersos
Desta leda sensação,
Vasculhando cada ponto
Onde nada tento e apronto
Recontando as tais estrelas,
Cabem mesmo dentro em mim
Reluzindo no jardim
Tão somente por revê-las.


76


Nada estóico quando tento
Aprender outro caminho,
Se eu persisto em tom mesquinho
Bebo a sorte em catavento
Ou divirjo num momento
Doutro tanto mais daninho
Mesmo até quando me aninho
Neste errático incremento.
Postular ao menos isto,
Quando posso e sempre insisto
Refletindo este granito.
Gelidez adentrando a alma
A certeza não acalma
Tanto quanto eu necessito.


77


Observando e bem de perto
Quem se fez tanto ou tão pouco,
Na verdade quase rouco
Quando grito em vão deserto,
Se deveras me desperto
E percebo se treslouco
Nada tenho nem tampouco
Quero o coração aberto,
Reparando agora bem
O que tanto não convém
Espalhando em tal seara,
Onde nada mais se vendo,
O meu passo algum remendo,
Noutro igual já se escancara.

78


Tais estigmas que eu carrego
São enigmas nada mais
Paradigmas entre os quais
O meu passo é sempre cego,
Na verdade não me entrego
Encarrego em vendavais
Outros ermos tão iguais
E percebo e já não nego.
Ocasiono vez em quando
Cada passo semeando
Serenando o quanto pude,
Realmente a vida trama
Com ternura medo e drama
A estupenda juventude.


79

Ao cerzir novo poema
Onde possa em poesia
Traçar minha fantasia
Sem saber corrente algema,
Nada vence quem não tema
Outra luz forte irradia
E mergulha mesmo em fria
Solidão e sem dilema.
Quando a culpa se esclarece
Redimida em nova prece
Mea culpa logo assumo,
Mas se perco algum apoio,
Novamente viro joio
Volto ao velho e tomo aprumo.


80


Aspergindo a luz aonde
Renascesse esta promessa
E se tanto ali tropeça
A verdade em vão se esconde
Nada faço onde responde
A saudade cruza e apressa
Navegando se endereça
Alameda em frágil fronde.
Respirar o quanto eu posso,
Sendo o amor diverso ao nosso,
Aspirando algum alento,
Reparando qualquer erro,
Até quando no desterro
Volto ao mesmo e velho vento.

81

Cada trago no cigarro
Alimenta o caranguejo,
Muito além do que desejo,
Mas da morte tiro um sarro,
E se tanto me desgarro
No vazio do verdejo
Onde dita o realejo
A incerteza deste escarro.
Presumindo a melhor sorte
Quando o nada me comporte
Venço os medos, tão comuns
Dos demônios que eu carrego,
Cada passo num nó cego,
Na incerteza bebo alguns.

82


Musicando a luz do canto
Neste tanto em primavera,
O meu verso não espera
E provém do desencanto,
Quero além e se; entretanto
Nada vence tal quimera,
Amanheço em nova fera
Adormeço em raro espanto.
Agonizo e não me canso,
Mesmo até se algum remanso
Encontrasse no caminho,
Passageiro aleatório
Neste mundo merencório
Sigo até quando sozinho.



83



Jorram fontes divergentes
E dos versos que alimento
Tento dar prosseguimento
Onde quer e não pressentes,
Vestimentas coerentes,
Encaminho ao vão tormento
E percebo alheamento
Dos meus olhos indigentes.
Respirando este ar profano
Onde tanto e sei que engano
Desenganos; acumulo.
Não salteio em tom suave,
Cada queda mais agrave,
Mas persisto neste pulo.



84



Redondilhas entre as ilhas
Dos meus sonhos vagam; sós,
Tento dar diversos nós
E decerto não palmilhas
Caminhares entre trilhas
Desmembrando aonde nós
Emergimos destes pós
E voltamos; armadilhas.
Prazo dado, jogo as cartas
E se logo me descartas
Agradeço e peço bis,
Morredouro a cada verso,
No final quando submerso
Terei tudo o quanto quis.


85


Já não tento em fanatismo
Obsedado pelo fato
Onde o medo eu não constato,
Nem sequer temo este abismo,
Resumindo em realismo
O de outrora não resgato,
Aguardando o pulo, o gato
Sabe inútil cataclismo.
Peçonhenta face exposta
De quem tanto sabe e aposta
Que o final será semente
Restaurando o mesmo rumo,
Quando o fim em mim resumo,
Outro início se apresente.


86


Languidez no olhar de quem
Sabe quantas quedas tendo
O princípio ou dividendo
No final tudo convém,
Mesmo até qualquer desdém
Prevenindo outro remendo,
Corte alheio e a mais desvendo
No passado perco o trem.
Apalpando o meu futuro
Qualquer cena onde procuro
Retratar a minha ausência,
Negará o simples trato
E o caminho onde maltrato
Traduziu conveniência.




87

Esperando o fim do jogo,
Muita calma desde agora,
O resumo não demora
E não ponho a mão no fogo,
Tanto amor sem ter o rogo
De quem bebe e me devora,
Incerteza me apavora
Desde quando além ou logo.
Aspirando alguma luz
O caminho eu não supus
Desta forma impenetrável,
Desejava mais plausível
O que vejo noutro nível
Tão superno e nunca arável.

88


Espreitando cada espaço
Onde pude adivinhar
A certeza do lugar
Nele o canto já desfaço,
Aproveito este bagaço
E realço o navegar
Nas entranhas deste mar,
Mesmo quando o céu é baço.
Prazo aceito; eu sigo aquém
Do delírio e quando vem
Bagunçando o meu coreto,
Desta forma reagindo
Vejo ao longe ressurgindo
Noutra forma, a de um soneto.

89

Aprender nunca é demais,
Mas saber da direção
Dos meus erros não virão
Traduzir em temporais
Quero a sorte e peço mais,
Mas cansado em promissão
Na verdade a revisão
Desalenta qualquer cais,
Sou deveras tal refugo,
E se tento ou mais verdugo
Presumindo o cadafalso,
Esperando a guilhotina
O meu passo não domina
E deveras nada calço.

90

A incerteza de quem sonha
A verdade de quem luta,
No final a sorte astuta
Pinta em tez dura e bisonha,
Revelando o que proponha
Mesmo até na força bruta,
A saudade não reluta
E deveras é medonha.
Aprendendo ou aprontando
Desde agora ou senão quando
Esta queda for maior,
Já não peço mais ajuda,
A incerteza carrancuda
Reconheço e sei de cor.

91

Violência e imprevisão
Bala solta e até perdida
Encontra morta a vida
Onde quis a precisão,
Movo o passo sem senão
E percebo a distraída
Caminhada sendo urdida
No final desta estação,
Preservando alguma messe
O meu sonho reconhece
O delírio de um poeta,
E se bebe até fartar
Salga as águas deste mar
Onde em lástimas repleta.

92

Reação em tom igual
Representa a fúria quando
Novo mundo desabando
Traz do velho este sinal,
Num instante triunfal
O demônio se assentando
Neste trono traz em bando
O sorriso ritual,
Vastidões em mim; procuro
E sabendo quão maduro
Este fruto em louco ardil,
Apressando a própria queda
O caminho onde envereda
Tal cenário já previu.


93



São meus sonhos causadores
Destes tantos ermos meus,
Entre dias mais ateus
Outros vários sonhadores,
E sequer sem mais te opores
Espalhando os velhos breus,
Tentativa em apogeus
Do cultivo de tais flores.
Cirzo em tom agrisalhado
0 meu canto desolado
Lado a lado com diverso,
Digerindo a paz enfim,
Bebo as cores do jardim,
E vomito tudo em verso.


94

São meus dias sempre iguais,
Restaurando algum sentido
Ou deixando neste olvido
Outros tantos funerais,
Quero a praia e perco o cais,
O meu barco desvalido,
Já não faz qualquer ruído
Tão puído em vendavais.
Preço caro a se pagar
Timoneiro teima em mar,
Rosa dos ventos nas mãos,
Mas depois de certo tempo
Tanta dor e contratempo
Sei que os sonhos serão vãos.


95

Nada além do pouco ou nada
Esboçasse esta verdade
Quando a vida se degrade
Prostitui a velha estrada,
Navegar nesta alvorada
Sem saber de porta ou grade
Nem tampouco quanto invade
Dos meus passos; nova estada.
Aliando assim ao quanto
O que teimo e me quebranto
Restituo os meus anseios,
E bebendo cada gole
Da incerteza que console
Adentrando os velhos veios.


96

Expressões aonde a fossa
Traduzira depressão
No passado a imprecisão
Meu presente agora adoça
Muito além do que inda possa
Ou entendo esta visão
Ou meus passos não terão
A incerteza que os destroça.
Da palhoça ou do castelo
O meu canto não revelo
Já cansado de lutar,
Visto, pois que nada entendo,
Quando quero sou remendo
Se eu consigo, sou luar.


97


Deste caos gerado quando
Percebera a mesma face
Onde o nada sempre trace
O diverso se moldando,
Remodelo o quanto brando
Fosse o dia que se passe
Noutro rumo e não embace
Novamente me nublando.
Sou assim, por vezes tento
Engrenar o pensamento
Onde existe a calmaria,
Mas que faço se concebo
Raro amor, mero placebo,
Ser feliz? É fantasia...

98

Quando resolutamente
Não soubera responder
O que tanto a se perder
Poderia novamente
Seguiria o que apresente
Com certeza a me envolver
Nestas tramas do prazer
Dominando corpo e mente.
Sou rascunho e mero esboço,
Mergulhando neste poço
Realçando esta ferida
Primavera? Já desprezo,
O que tento e teimo ileso,
Vasculhar o fim da vida.

99

Bebo até já não caber
Dentro em mim luar e sonho,
Se o meu mundo assim componho
Eu só tenho o que perder,
Resumir em desprazer
O que eu sei por si medonho,
Noutro fato mais bisonho
É deveras se embeber.
Ser ou não disperso sim
E singrar começo e fim
Desta estrada em curvas feita,
A minha alma neste ardil,
Presumindo, pois não viu,
Qualquer sonho que a deleita…

100


Terminando cada passo
Noutro passo até que possa
Conhecer a sorte, e nossa
Maravilha em novo espaço.
Realçando o que desfaço
Gero a sorte onde se apossa
Do caminho e nada roça
Senão velho e mesmo laço.
Lassos dias velhos termos,
Meus demônios seguem ermos,
Mas na espreita com sarcasmo,
Este prazo terminara
No final desta seara,
Mas persisto enquanto pasmo.

Nenhum comentário: