quarta-feira, 28 de julho de 2010

43201 até 43300

001

A minha poesia me sustenta
No que mais de importância existe em vida
No sonho, na beleza construída
Apascentando mesmo em violenta
Esfera aonde o dia se apresenta,
Embora muitas vezes mais sofrida,
Ao ver esta palavra consumida
Na entranha de minha alma virulenta,
Eu sinto a liberdade em minhas mãos
Cevando até nos vastos, duros chãos
Nubente da ilusão neste himeneu
Meu canto em versos feito me liberta
E tendo esta certeza, a porta aberta
Resgata o quanto em vida se perdeu.


002

Do que mais necessito pra viver
O sonho se traduz em base e rumo,
Ao mesmo tempo quando eu me consumo,
Da dor e da loucura, algum prazer,
Tecendo com palavras o meu ser
Por vezes numa praia em vão me escumo,
Mas logo reanimo e tomo o prumo,
No mar que se dá mesmo a conhecer,
Seara tão fantástica e superna,
Enquanto a poesia for eterna
Também o sonho existe e nada o cala,
De tantas fantasias, os meus versos
Porquanto até nos cantos mais dispersos
Permitem com ternura dor e gala.

003

Quando busco dessa água, alma se entrega
E ri como se fosse algum infante,
O quanto da palavra é radiante
Durante a caminhada, mesmo cega,
O rumo aonde o sonho ora navega
Mudando a cada frase, num instante,
O pouco que a verdade me garante
Enquanto a fantasia além trafega,
Ousar e criar asas, no infinito,
E assim até no nada eu acredito
Tentando recriar o já criado,
Lacaio da ilusão, nada acorrenta
A vida de quem foge da tormenta
E singra no futuro o seu passado.

004

Sacia sua sede inesgotável
Quem ousa imaginar novo cenário,
Além do costumeiro itinerário
Um passo no infinito, no intocável,
O canto se mostrando mais arável
E nele o meu delírio, este corsário
Saqueia um inimigo imaginário
E passa noutro instante a ser amável,
Expresso com palavras o que eu sinto
E minto ao proteger o semi extinto
Desejo de uma nova vida em mim,
E quando a liberdade toma a cena,
A vida se envenena, mas serena
Acende imponderável estopim.


005


Na fonte maviosa e cristalina
Que a vida muitas vezes se encarrega
De ter ou não fazer a farta entrega
No quanto se permite e determina,
Uma alma quase mesmo feminina,
Tangenciando a dor onde carrega
A sorte desdenhosa e quase cega,
Mas assim dolorida se ilumina.
Arcar com meus desejos mais atrozes
Ouvir destas entranhas firmes vozes
Cercando com palavras dia a dia,
Usando da cadência destes versos
Ousando em momentos mais diversos
Cevando a cada instante a poesia.

006

Que só na poesia surge agora
A solução aonde procurada
E tantas vezes dita o mesmo nada
No qual a fonte seca e o vão devora
O quanto do não ser já me apavora,
Regendo com firmeza a leda estrada,
O dia se transforma em alvorada
A noite em lua clara se decora,
Mas quando apresentando nas brumosas
Manhãs as horas turvas, também gozas
Diversidade traz a cada passo,
E assim (asas abertas) sigo em frente
E o canto me permite que eu freqüente
Além do mero e escasso, vago espaço.


007

Quanto mais vou faminto, mais preciso,
E tento a cada instante outro caminho,
Porquanto em mais nenhum ali me aninho
A vida se acumula em prejuízo,
Mas sei do passo além e se conciso
Enfrenta com a paz o mar daninho,
E sente na pureza de um espinho
O quanto na defesa me matizo.
Acrescentar ao sonho esta crisálida
Porquanto a sorte às vezes quase esquálida
Inválida semente? Nunca. O sonho
É mais do que eu anseio e se vislumbra,
Luzeiro sem igual toma a penumbra,
E um novo e radiante sol; componho.

008

Desse maravilhoso, bel repasto,
Ousando a cada fato ou mesmo crença
Não tendo quem deveras me convença
Do mundo mais alheio ou mesmo gasto,
O quanto da verdade eu já me afasto
E tento imaginar seara imensa
E nela cada passo em recompensa
Por vezes mais profano e noutras casto
Escandalizo ou mesmo sou banal
No verso o meu destino desigual
Pintando em multicores a minha alma,
Espelho d’água toma cada verso
E nele o meu reflexo segue imerso
E a fúria provocada ora me acalma.

009


É pão, e deste tanto como e até
Procuro novamente aonde eu possa
Ousar além da queda e mera fossa
Tentando caminhar desnudo a fé,
E quando me aproximo sigo a pé
Esparso caminheiro já se apossa
Da plena solidão quando me endossa
Tal qual da cordilheira o seu sopé.
Esplêndido cenário se observando
Num mundo desabando desde quando
O sonho não sacia quem se dá
E sinto o meu caminho desde já
Noutro cenário às vezes mais cruel,
Gerando e percorrendo o imenso véu.


010

Afastando o temor procuro um canto
Aonde descansar após o gládio
E sei da pequenez de cada estádio
Gerado pela dor e desencanto.
O sonho na medida enquanto invade-o
Produz o que deveras não garanto
E quando se anuncia a dor e o pranto
É como se inda ouvisse o velho rádio,
E dele discernisse voz confusa
Enquanto o dia a dia se entrecruza
E nega o quanto o julgo paralelo,
E assim ao me mostrar inteiramente
Assusto, mas também já se pressente
Além do que deveras te revelo.


11

De sentir, madrugada afora a luz
Que emanas quando em sonhos mais audazes
E assim ao perceber quanto me trazes
Imagem noutra imagem reproduz,
A velha ansiedade em contraluz
Os passos mais felizes, belas frases,
E o risco de viver entre os mordazes
Delírios quando a sorte dita a cruz.
Renasço nos teus braços e me vejo
Além de meramente algum desejo
Um prisioneiro em pleno paraíso,
E assim das tantas fontes e holofotes
Aonde com ternura tu denotes
No mesmo claro instante eu me matizo.

12

Poesia-banquete há tantos anos
Vencendo os preconceitos mais banais
Gerando estes momentos triunfais
E mesmo quando puem fartos panos,
Os dias sobrepujam aos vis danos
E seguem mesmo após os vendavais
Já tanto preparam funerais
E a poesia em ares soberanos.
Uma iguaria rara e se presume
Além da magnitude de algum cume,
Fazendo da palavra o seu cinzel,
Poeta ousa mesmo em tecer telas
E nelas os delírios que revelas
Transcendem ao superno e etéreo céu.

13

Ar que respiro, base para a vida,
O sonho não se cala e nem consente
Ainda que deveras já se tente
Realidade nele vê saída,
E quando a face escusa é sempre urdida
E o passo se tornara inconseqüente
No vasto deste campo a vida sente
E bebe sem pensar em despedida,
Atravessar fronteiras, tempo/espaço
E assim o novo em mim decerto eu traço
Lavrando com cuidado, este campônio
Audaz e ao mesmo tempo frágil, pois
Tentando adivinhar o que há depois
Matando a cada verso outro demônio.

14

Sem ela; a poesia, eu me sufoco
E tento imaginar a solução
Seguindo meu caminho desde então
Ousando mergulhar até in loco,
E sei do quanto posso e me provoco
Gerando após o verso a precisão
De tempos que inda mesmo não virão
E até neste vazio eu me desloco,
Esgarço e renascendo após a queda
O passo no futuro o tempo seda
E gerencio enfim o que jamais
Pudera imaginar ou mesmo ter
A poesia emana este poder
De gerar calmaria em temporais.

15

Força mantenedora da esperança
O sonho é necessário e dele eu bebo
Porquanto mesmo sendo algum placebo
Permite cada passo onde se avança
E gera após a queda a confiança
E tanta luz assim sorvo e recebo
E quanto mais liberto eu me percebo
Neste apogeu a vida em aliança;
Maturidade enquanto traz o outono
A vida em tons diversos se matiza
E a poesia assim já pereniza
E tenta ultrapassar ao próprio abono
E gesta o meu inverno em mansidão
Ou mesmo renascendo outro verão.


16

Nos meus versos, amores e carícias
E ao mesmo tempo dores, perdição,
A vida vê na vida a solução
E sabe das diversas vãs notícias
E quando muitas vezes em sevícias
Os ares se transformam, ilusão.
Os cantos se aproximam e trarão
Diversas magnitudes em delícias.
Assim ao me entregar ao sonho eu creio
No quanto dos meus medos siga alheio
Sobejamente o tempo se anuncia,
Acalentando a messe aonde um dia
O tempo se mostrara mais instável
Na poesia o sonho é sustentável.


17

Eu pergunto-te então, como seria,
A vida de quem tenta acreditar
Sem ter onde deveras se apoiar
Perdendo a correnteza dia a dia,
E tantas vezes vendo esta sombria
Loucura noutro fato a se moldar
Gestando dentro em mim um raro altar
Enquanto se prepara em heresia,
A sórdida presença, a redenção
Os dias mais doridos que virão
E esta bonança em sonhos delicados,
Se eu sou ou não feliz, já pouco importa,
O verso abre o caminho e sem a porta
Os dias bem mais plenos desnudados.

18

Se não houvesse enfim o sonho, a vida
Seria de tal forma insuportável
Jamais algum terreno então arável
A dor sem direção nem mais saída.
Uma alma mais venal embrutecida
Também deseja o belo, e mais notável
Caminho entre tanto imaginável
Seara pelo encanto; percebida,
As deusas e os cometas, meus parceiros
Em versos ou nos sonhos costumeiros
Preparam novas asas e me dão
Além num quixotesco, mas liberto
Delírio a própria vida ora deserto
E atinjo num segundo esta amplidão.

19

Vieste, em favor divino
Para quem tanto te quis
Coração já por um triz
Nas entranhas do destino,
Mas agora esmeraldino
Caminhar em raro bis,
O delírio tanto diz
Do que agora mal domino,
E talvez melhor assim,
Entranhar o bom em mim
Desvendando cada passo,
Onde o mundo se alimente
Deste sonho onde envolvente
Nova cena além eu traço.


20


Para um velho sonhador,
Que se fez além de tudo
No caminho onde transmudo
Passo feito em raro amor,
O meu canto trama a flor
E se tanto não me iludo,
Na verdade enfim me mudo
Para além da própria dor.
Esboçar um novo dia
Onde tanto poderia
E talvez já não quisesse,
Mas amor tanto redime
E decreta a mais sublime
Devoção sobeja em prece.


21

Na fumaça do cigarro
Jogo além minha esperança
E se quando a vida alcança
O cenário onde me agarro,
Da saudade tiro um sarro
E ao vazio o passo lança
Ao traçar esta aliança
Nela todo dia esbarro,
E o meu canto mais tranqüilo
Nele o sonho; em paz, desfilo
Desenhando com firmeza
Cada cena representa
O final desta tormenta
Aplacando a correnteza.


22


Tanto quanto a vida tece
Em palavras, gestos medos
Entre vários arremedos
Outro passo se obedece
E gerando o quanto esquece
Noutros dias quase ledos
Enveredo por enredos
Onde a vida busca a messe,
E não fosse desta forma
O caminho nos transforma
E redime qualquer queda,
Antevejo o fim da história
Bebo a sorte merencória
Quando o sonho além se veda.


23

Quando o rumo não se vendo
Noutra estrada em afluência,
A maior clarividência
Gera apenas este emendo,
O meu tanto percebendo
Claramente esta anuência
O temor de uma impotência
Gera o medo mais horrendo.
Revitalizar o sonho,
Na verdade o que proponho
E desvendo em todo engodo,
Movediço solo aonde
O meu mundo agora esconde
E transpassa então tal lodo.


24

Das ausentes claridades
Onde o mundo quis bem mais,
Outra sorte onde jamais
Com certeza ainda invades,
No final as qualidades
Expressões fenomenais
Entre tantas, tão normais
Jorram frágeis claridades,
Libertário sonhador
O poeta diz da flor
Com essência bem diversa
Da que a vida traça quando
Outra vida ali gerando
Num etéreo passo versa.

25


Apresento a cada instante
O que tanto aprendi quando
O meu canto resvalando
No caminho aonde encante
Com ternura um provocante
Delirar ora tomando
Quem deseja novo bando
Ou mergulha em diamante;
Resumindo o fato assim,
Abissais encontro em mim
E desvendo o meu segredo
Quando à lua sem defesas
Envolvido em tais clarezas
Noite em paz, eu me concedo.

26


Digo a todos em bom dia
O que o coração lamenta
A verdade me alimenta
Somente ela livraria
Quem da mansa poesia
Enfrenta a violenta
Decisão onde se tenta
Revelar o que podia
Coração em ledo sonho
Mesmo quando mais risonho
Não tem mais juízo algum,
E se tanto quero além
No final o que inda vem,
Traduzindo por nenhum.

27

Caminhando sem patrão
Sem paragem vida afora
O luar quando decora
Trago em mim esta emoção
E tomando a direção
Desta vida vou embora
Na incerteza que devora
Outros tempos não virão,
Esquecido nalgum canto
Bebo a sorte em desencanto
E procuro algum sinal
Do que tanto desejava,
Mas a vida em tanta trava
Nada deixa no final.


28

O meu peito esta mobília
Da emoção envolta em luz,
Quantas vezes eu me pus
Nos delírios de família,
A verdade não traduz
O que esta alma maltrapilha
Por vontade já não trilha
O desejo é que a conduz,
Sendo assim o mais distante
Apresento neste instante
Onde a vida se faz tanta,
E o meu passo se adiante
E mostrando galopante
A canção que esta alma canta.

29

Há tanto que aqui cheguei
Na procura de quem quero
O meu canto mais sincero
Transformando o sonho em lei,
E se o rumo; agora errei
Na vontade o quanto espero
De quem teimo enquanto gero
O desejo onde eu criei,
Venço os medos e percorro
Sem um verso por socorro
As veredas de um amor,
Onde a vida não traduz
E sequer sabe da luz
Noutra luz a se propor.

30

A cidade, a capital
O meu canto de um roceiro
Coração aventureiro
Busca ali amor igual,
Na verdade é sempre igual
Já não tendo mais canteiro
O meu sonho derradeiro
Não percebe o meu final,
Venço os medos, mas sozinho
Cantoria vira espinho
Madrugada à bala e medo,
O luar já se escondeu
E o que um dia fora meu
Noutro rumo não procedo.


31

O meu canto em serenata
No sertão da minha terra,
A vontade logo encerra
O que o coração maltrata,
No sorriso desta ingrata
A verdade se desterra,
Olho além e vejo a serra
Inda cheia em plena mata,
Lua vendo esta beleza
Derramando uma clareza
Onde havia escuridão,
Mas calado resta o peito
De quem ama deste jeito
Só restando o violão.


32

Já não vou nem me gabar
Das histórias que inda trago
De outros tempos, pois afago
Dentro em mim qualquer luar,
E sem ter sequer lugar
Onde o sonho doce e mago
Procurando um manso lago
Pra mineiro fosse o mar,
Esbarrando na aridez
Do meu canto onde se fez
Solitário sabiá,
O meu dia se perdendo,
O meu peito agora horrendo
Sei que nunca cantará.

33

O meu canto verdadeiro
Trovador e repentista
Quando o sonho mais assista
Acordando o violeiro
Enfrentando o mundo inteiro
Com certeza não desista
Mesmo quando não se avista
O luar deste canteiro.
Vestimenta de poeta
No luar já se completa
E traduz a claridade,
Mas sozinho sem ninguém
A minha alma nunca tem
Nem sequer quem mais a agrade.

34

Do sertão lá das Gerais
Onde um dia quis a sorte
Do carinho que conforte
E não tive nunca mais,
O meu canto em temporais
No meu peito bate forte
A saudade não suporte
Quem procura os seus cristais,
Em verdade eu reconheço
Cada passo outro tropeço
E a viola se calando,
Meu amor é mais que tudo
E se assim eu não me iludo
Não pergunto aonde e quando.

35

Quando falo em minha terra
O meu peito enche em luz
E o meu passo reproduz
O que o coração descerra,
Novamente o peito encerra
O cenário que o produz,
E cansado desta cruz
A saudade volta e berra,
Cantador sem esperança
A minha alma já se cansa
De querer sem ser amada,
E vagando a noite fria
Sem saber da cantoria
Volta sempre abandonada.


36

Aonde toa a viola
E se faz felicidade
O meu sonho logo invade
E a saudade já me assola,
Pensamento enfim decola
E procura na cidade
Um sinal, tranqüilidade
Libertado da gaiola
O meu peito passarinho
Já não quer ser mais sozinho
E se aninha aonde quer,
Nos olhares mais bonitos
Percorrendo os infinitos
Dos anseios da mulher.


37

Já não vejo nascer dia
Onde quis antigamente
Um caminho mais contente
Feito em luz e em alegria,
O meu canto não sabia
Coração decerto mente
E se planta esta semente
Rega sempre em fantasia,
Pois senão a vida leva
E trazendo então a treva
Solidão tomando tudo,
Mas meu peito não se cansa
E procura uma esperança
Onde quero e enfim me iludo.

38

O gemido mais chorado
E quem tanto quis amor
E sem ter o seu calor
No final foi derrotado,
O meu canto desolado
No canteiro sem a flor,
E sem ter aonde pôr
Sigo assim velho e cansado,
Resumindo o canto em sonho,
O meu mundo eu já proponho
A quem tanto eu quero bem,
No final a noite volta,
Coração traz a revolta
De quem sabe ninguém vem.

39

A nascente deste rio
Fonte sempre cristalina
Traz no olhar desta menina
O que tanto desafio,
O meu canto acerta o fio
E a vontade determina
O calor que nos domina
E um lugar em paz eu crio.
Sinto a voz mais empolgada
De quem sabe a madrugada
Na viola de quem ama,
O luar deitando o claro
O meu sonho em paz; declaro
Seu olhar acende a chama.

40

Da semente cultivada
Com amor e com carinho
Nasce a flor e nasce espinho,
Outra vida revelada,
Ao buscar na madrugada
Nos teus braços o meu ninho,
Quem se fez sempre sozinho,
Encontrando a sua estrada,
O luar dentro do peito
Quando ali, contigo deito
Claridade toma o quarto,
De manhã o sol imenso,
No teu corpo ainda penso,
Deste amor jamais me farto.


41

O meu peito prometia
Novo sol em lua cheia
A vontade me rodeia
E trazendo esta alegria
Bebo cada fantasia
Onde a sorte não se anseia
Vou tecendo então a teia
Nela enfim me prenderia,
Venço os dias mais doídos
E meus cantos esquecidos
Nas promessas mais sutis,
Onde tanto amor eu quis
No final a solidão
Tange as cordas, coração.

42

Quando o amor ainda crê
Neste sonho mais feliz,
O meu mundo nada quis
Minha vida sem por que
No casebre de sapê
Onde o canto em paz eu fiz
Não ouvindo por um triz
O meu peito não mais vê
Quem se fez a inspiração
Do plangente violão
E do peito enamorado,
Minha noite sem luar
Como é duro caminhar
Sem ninguém sempre ao meu lado.


43

Já não faz conta das horas
Quem no coração se esquece
Deste amor que é feito em prece
E no sonho me decoras,
Sem saber das tais demoras
Nem do sonho onde se tece
Minha vida se enlouquece
Quando perde assim escoras.
E no fundo do meu peito
Solidão quando eu me deito
Derramando numa enchente
Tanta mágoa do passado,
Deste dia desolado
Novo dia se apresente.


44

Ao pensar nesta incerteza
Do meu sonho em lua e sol,
Busco em ti o meu farol,
Dos teus sonhos sou a presa
Coração com tal destreza
Toma este arrebol,
E o meu canto, um girassol
Procurando esta beleza
Feita em luz e claridade,
Que decerto quando invade
Entornando em mim a glória
No riacho da saudade
Água farta em qualidade,
Não me larga na memória.

45

Um caboclo sonhador
Não se cansa de tentar
Encontrar quem tanto amar
Já não trague medo e dor,
Num caminho sem se opor
Bebe tanto a se fartar
Das belezas do lugar,
Canta o peito trovador,
Mas se chega uma saudade
E o meu passo se degrade,
O meu rumo eu já perdi,
Tudo aquilo que eu procuro,
Mesmo tendo o céu escuro
Encontrei amor em ti.

46

Muito pelo contrário eu quero a sorte
Que tantas vezes teima em não fulgir
E quando vejo o tempo a dividir
Meu canto na verdade sem suporte,
Não vejo e nem decerto verei norte
Vagando sem saber deste elixir
Do amor que tanto quero e ao te pedir
Não posso em solidão, ser nobre e forte,
Resumos de promessas onde um dia
Deitando dentro em mim esta alegria
Gerara tão somente a solidão,
Do todo que decerto eu poderia
O medo se apresenta e não traria
Senão caminho tosco, rude e vão.


47

Supunha indiferente quem um dia
Vestida de ilusões não mais viera,
E o tempo se perdendo a cada espera
O nada na verdade mostraria
O quanto se deseja em fantasia
E o caminhar desvenda ali a fera
Atocaiada e brusca, destempera
Marcando o meu caminho com sangria,
A voz de uma sofrível emoção
Perdendo novos rumos que trarão
Ao velho caminhante, apenas paz,
Meu canto se transforma em tal tristeza
E a vida acompanhando a correnteza
A cada nova curva é mais voraz.

48

Adentra o coração de um sonhador
A pálida promessa de outra vida,
E quando a sorte a vejo aquém urdida
O que resta somente é dissabor
Semente sonegando qualquer flor,
A manta há tanto tempo destruída,
O corte se aprofunda e a despedida
Aos poucos noutro rumo a se compor,
Deste estuário torpe, solitário,
O canto tão sutil de algum canário
Já não se escuta mais, somente ecoa
A voz de quem sofrendo diz lamento
E assim neste terror não me apascento
O barco se adernando, inútil proa.

49

O quanto se é decente o amor enquanto
Traduz felicidade e confiança
A vida neste instante ali se lança
E mata qualquer dor, temor quebranto
O passo noutro rumo eu adianto
E bebo com ternura esta esperança
De um dia mais feliz em temperança
Tramando em tal brandura novo canto,
Espreito cada passo aonde eu possa
Pensar na vida imensa sendo nossa
E nada mais cerzindo senão isto
O cálice que o tempo traduzisse
Além desta tortura em vã mesmice
Razões para sonhar, e assim resisto.

50

Pintando com severas cores vejo
O sonho desolado de um poeta,
Aonde a solidão não diz da meta
Nem mesmo traduzisse algum desejo,
E quando se percebe noutro ensejo
A vida que na vida se repleta
O todo se apresenta e desta seta
O amor entranha além do que prevejo.
Revelo com ternura este desenho
E quantas vezes; tento e mesmo venho
Atrás da imaginária fantasia,
Que há tanto anunciada não continha
A sorte sendo ausente e jamais minha
A morte com certeza não se adia.


51

Parece-me impossível caminhar
Sem ter a mesma força que se vira
Além do que desenha uma mentira
Quem sabe algum nuance do sonhar.
Encontro a cada passo este lugar
Aonde o caminho já se atira
E bebe da certeza onde prefira
O canto se mostrando a divagar,
Vencer as intempéries costumeiras
E crer que na verdade tu me queiras
E tenha a cada passo esta certeza,
Da vida noutra vida resumindo
Um tempo abençoado, calmo e lindo
Seguindo com ternura a correnteza.


52

Se a vida consentisse novo rumo
A quem se fez ausente da esperança
O passo noutro tanto agora avança
E sei quanto deveras me acostumo
E neste navegar acerto o prumo,
Vencendo a mais dorida e fria lança
Com toda esta ternura e com pujança
Ao longe do vazio não me esfumo,
Escuto a voz do mar e nisto eu vejo
Além da imensidão, raro azulejo
O tanto que a Natura se oferece,
E traz a redenção de quem procura
Das dores e temores mansa cura
É como a louvação em bela prece.

53

Só peço não me ocultes este passo
Aonde a vida trama nova senda,
E quando a realidade já se estenda
Além deste caminho duro e baço,
Resumo o meu sonhar a cada espaço
E nele com certeza além desvenda
O manto que o caminho traz por prenda
Depois de tanto tempo em vão cansaço,
Resulto deste encanto quando tento
Beber a claridade e num alento
Vestir a fantasia de quem ama,
Mantendo com ternura esta emoção
Os dias mais felizes mostrarão
O quanto se eterniza em nós a chama.


54


Nada do que te disse a vida em guerras
Traduz o meu anseio mais audaz,
O amor quando no amor em luz se faz
Desvenda a maravilha onde descerras
Sobejas ilusões tomando as terras,
O canto se mostrara pertinaz,
Enquanto a realidade se desfaz
E o pranto noutro intento logo enterras.
Vasculho cada ponto e te anuncio
O quanto deste amor em desafio
Permite novamente ao velho, o dia.
E aonde se pensara em duro inverno
Encanto sem igual, suave e terno,
De novo neste tanto se veria.


55


Ouvindo da senhora a voz suave
E disto me fazendo tão somente
Aquele que se mostra plenamente
E nega qualquer dor que ainda entrave,
O manto consagrado diz desta ave
Vagando pelos céus, incontinente
E a cada novo fato se apresente
Brandura neste dia outrora grave.
Resisto aos dissabores e ciúmes
E quando além dos mares, também rumes
Navego pareado junto a ti,
Cerzindo muito além deste horizonte
O sol quando sobejo nos aponte
O quanto em tais raios percebi.


56


Sinceramente a digo neste verso
Das tão supernas noites onde eu pude
Reacender em paz a juventude
Aonde cada dia não disperso
Nos antros mais suaves vou imerso
E bebo assim enfim a magnitude
Não deixo qualquer luz que em vão ilude
Vagando a cada instante este universo.
Ecléticos momentos do passado
Um sonho tão somente desejado
O risco de um naufrágio a cada instante,
E o marco traduzindo em tanta messe
Do amargo desvario a vida tece
Um dia sem igual, tão fascinante

57


Enquanto tu não amas o que trago
Demarco com angústias os meus cantos
E gero novamente os ledos prantos
Na busca insaciável por afago,
Retiro o meu caminho e se me alago
Os ermos na verdade são quebrantos
E os dias onde a quis, se foram tantos
Prenunciando um raro canto, mago.
Expresso em poesia o quanto a vida
Transcende à dor atroz tanto temida,
Numa expressão aonde se esperança
E sinto a cada dia bem mais forte,
E quando a confiança diz aporte
O olhar antes calado traz pujança.

58


Tanto estima o perigo quem se dá
Sem nada mais sentir além da espera
E a vida noutro fato não tempera
O sol que na verdade não virá,
E sinto este temor e desde já
Marcando a cada passo esta quimera,
O manto se denigre aonde a fera
Decerto num momento saltará,
Restando do meu sonho, quase nada,
O fátuo caminhar marcando a estada
Prediz ausência quando mais queria
Seguir em força e fúria o dia a dia,
Gerando dentro em nós esta alvorada
Que além do próprio sol nos tomaria.

59

Se na tua alma vejo refletida
Especular imagem desta que
Ao menos te encontrando sabe e vê
A sorte tantas vezes esquecida,
Reinando sem temores sobre a vida,
O marco demonstrando onde se crê
No amor quando a verdade, pois revê
A paz que um dia vira vã, perdida.
Alvoroçando assim o dia quando
O tempo noutro rumo se tomando,
Pudesse saciar cada vontade,
A força geratriz de quem mais sonha
Permite uma alegria onde risonha
A messe de viver tomando invade.

60

Sentira estes sinais aonde há tanto
Meu barco poderia imaginar
Um cais bem mais tranqüilo e se ancorar
Nas ânsias deste sonho em raro canto,
Bebendo cada gole já me encanto
E brindo à raridade deste mar,
Imenso e num sobejo azulejar
Deitado sob o céu, um claro manto.
E vejo na amplidão que agora sinto
O amor como se fosse além do instinto
Iridescente senda a nos tocar,
Eflúvios delicados da emoção
Permitem antever que inda virão
Momentos sem igual, vida em par.

61

O mundo por preceito dita as leis
E quando se mostrassem mais cruéis
Vagando sem destino carrosséis
Gerando o que deveras não vereis,
O quanto percebeste e sabereis
Percorre o pensamento quais tropéis
E neles os meus dias em seus papéis
Redimem o que tanto não tereis.
Expressos entre noites solitárias
Vagões, locomotiva, escuridão,
O marco se transforma em solução
Imerso em tantas horas temerárias
E quando se aproxima o novo dia,
A velha norma o tempo esqueceria.

62

O quanto corresponde ao tanto eu quis
Cerzir com a palavra em tais momentos
E neles bebo enfim os meus alentos
Regendo um caminhante mais feliz,
O passo noutro rumo outrora gris
Trouxera tão somente sofrimentos
E quando realçando os pensamentos
Um novo amanhecer em paz eu fiz,
Resulto deste fato e não sonego
A vida se aproxima e num nó cego
Transgride o que pudera ser vital,
O velho timoneiro encontra um cais
Das brumas e dos medos virtuais
Encontra o que procura no final.

63


Que bom se houve decerto um belo dia
Após as tempestades de uma vida
Há tanto noutra face destruída
E agora tão somente ressurgia
Gerando dentro em nós a poesia
Por vezes desejada e consumida
No quanto se percebe sendo urdida
Numa expressão suave em calmaria,
Verdugos do passado, nunca mais,
Os dias entre tantos divinais
Expressam realidades mais felizes,
E nelas entranhando cada verso
Espalho minha voz quando disperso
Tomando em claridade estes matizes.

64

Ambos são dignos deste sonho além
De um mero caminhar por sobre espinhos
E quando os dias fossem mais daninhos
A poesia em paz imensa vem,
E nada com certeza; ali detém
O passo rumo aos novos belos ninhos
Após os dias tétricos, mesquinhos
A vida nova face agora tem,
E o canto se tornando quase um hino
E nele a sorte em mim; já determino
Galgando a cordilheira da esperança
E o passo sem sequer ter um percalço
Enquanto esta emoção imensa eu alço
Meu rumo para o teu em paz se avança.


65

Do sangue mais fiel onde eu pudera
Erguer um raro brinde à fantasia,
O tanto quanto ilude ou mais queria
Gestando dentro em nós a imensa fera
Depois do desafeto, destempera
A vida noutra imensa alegoria
E o quanto mais tentara em alegria
Marcando com fineza esta quimera,
Aprazo-me ao sentir em ti a messe
Do sonho quando em sonho; sonho tece
E transcendendo à noite, neste albor
Iridescente toma este arrebol,
E gera muito além do próprio sol
Na clara providência de um amor.


66

No ilustre caminhar por onde o sonho
Adentra e nos conquista passo a passo
O quanto do destino assim enlaço
E tramo novo dia aonde o ponho
E sei do meu caminho e não me oponho
Mesmo quando se vê no olhar cansaço
A vida ocupa em paz o imenso espaço
De um dia tão cruel quanto enfadonho,
E gera noutro encanto esta promessa
Do amor que na verdade se confessa
No olhar extasiado, em voz serena,
E quando nada aquieta o coração
Bebendo destas sortes que virão
A vida se desnuda, agora é plena.

67

Olhos quaisquer nos fazem sonhadores
Se neles há reflexos de momentos
Aonde se bebendo calmos ventos
Prenunciando o dia enquanto fores,
Cevando com carinho tantas flores
E delas os diversos, bons alentos
O mundo anunciado em sofrimentos
Transcende aos mais doridos dissabores,
Restauro com candura este cenário
E nele vejo em paz raro estuário
Procuro a cada instante desvendar
Belezas onde outrora houvera trevas
E assim ao paraíso tu me levas
Nas asas deste belo e bom sonhar.

68

As ínclitas belezas deste olhar
Domando o que jamais se domaria
Trazendo à própria vida a fantasia
Tomando pouco a pouco o seu lugar
Vestindo em alegria o caminhar
Por vezes se espalhando à cercania
Invade com mais força o dia a dia
E traz a imensa luz, rara e solar,
Trazendo com ternura esta vontade
Que tanto nos aclara quando invade
E molda uma esperança mais tenaz,
Assim ao me envolver a cada passo,
O rumo no teu rumo agora grasso
E bebo inconfundível, rara paz.

69

Dos claros ascendentes da ilusão
Aos mais supernos brilhos percebendo
A vida como um raro dividendo
Traduz nos novos dias que virão,
E sinto desta imensa provisão
O manto novamente se tecendo
E quando no passado houve remendo
Agora a sorte trama a solução.
Agindo com firmeza e com ternura
O quanto deste encanto já perdura
E traz a quem deseja este caminho,
Vagando sem destino bebo à sorte
E tendo amor que tanto me conforte,
Eu sei; já não serei tão mais sozinho.

70

O aspecto deste sonho aonde eu pude
Vencer os meus rancores onde outrora
A sorte sem remédio desancora
E mata o quanto resta em juventude,
Bem antes quando a vida tudo mude
O parto se aproxima e sem demora
O todo imaginário desde agora
Promete a mais sensata magnitude.
O amor por ser amor e nada além
Enquanto a divindade em si contém
Expressa a mais sublime sensação
Vestir esta insensata maravilha
Aonde esta emoção gera e palmilha
Do todo mais feliz, a tradução.


71

Deixo a doce morada aonde um dia
Pudesse ser feliz e mesmo assim
O mundo desviando trouxe ao fim
A dor de uma terrível agonia,
O quanto deste sonho geraria
Um novo amanhecer em meu jardim,
Vibrando de emoção encontro enfim
O todo que decerto mais queria,
Revivo esta vivenda do passado
E tendo junto a mim o ser amado,
Já nada mais impede o meu sorriso,
E quando me perdera, rumo e meta,
A vida noutro tom, pois se completa,
Vislumbro agora em ti, meu paraíso.

72

Na dorida incerteza de um futuro
Aonde tantas vezes procurara
A sorte noutro rumo, outra seara
O canto em guerra e medo eu asseguro,
Mas quando encontraria o que procuro
O amor quando em verdade se escancara
E o passo com firmeza então ampara
Adentro a fantasia, invado o muro.
E resto em paz ainda que ilusória
Ao renascer em mim a vaga história
De quem na juventude tanto quis,
Ao menos neste inverno, por instantes,
Ainda que deveras não garantes
Eu posso até dizer que sou feliz.

73

Verdes aonde outrora fora gris
Apresentando o sonho em novos tons
Os dias com certeza têm os dons
De transcender ao tanto quanto eu quis,
E sendo assim decerto mais feliz,
Momentos desenhados, ora bons
Ouvindo da emoção sobejos sons,
Do encanto insofismável quero bis.
Ascendo num instante ao mais sublime
E o canto doravante me redime
Dos antros dolorosos do passado,
O vento na janela traz teu nome,
E o quanto do medonho em mim se dome
Permite um novo dia, abençoado.


74

À Musa se entregando o coração
Transforma a vida e gera noutro fato
Um canto mais suave onde resgato
A vida que perdera a direção,
E tendo deste encanto a provisão,
No manto delicado me retrato
E bebo sem saber qualquer maltrato
Os dias que decerto mudarão
O rumo em discordância, tão venal,
Ousando apresentar novo degrau
E nele se estendendo ao infinito,
Da sórdida figura em amargor
À plena consciência de um amor,
Que tanto quanto quero, necessito.

75

Tornando a aparecer em sonhos vis
Angustiadamente vejo a cena
Da sorte que deveras se envenena
E o canto se perdendo aonde o quis,
Expresso com terror este infeliz
Momento aonde a vida não acena
Tampouco outro caminho me serena
E roubo do vazio o seu matiz.
Escancarando a vida noutro rosto,
Do todo imaginário este desgosto
Expondo a mais cruel caricatura
Da vida em turbulência e tão somente
O vago do meu sonho se apresente
E negue o que minha alma mais procura.

76

Começa dos meus ócios o sofrer
Estende-se ao ingrato dia a dia,
E o quanto noutro tom já poderia
Ao menos paz em mim enfim tecer
O amor necessitando o merecer
Regendo com ternura ou agonia
O passo que decerto a vida cria
E nele se adivinha o amanhecer,
Encontro em ti o quanto mais quisera
E bebo da alegria sem espera
Gerando outro caminho após a queda;
Porém um novo engodo e tão somente
Assim a minha vida se apresente
E o meu destino aos poucos tudo veda.


77


A dura experiência de uma vida
Exposta aos mais diversos dissabores
Trazendo mais espinhos que estas flores
Há tanto sem saber qualquer saída,
A imagem que ora vejo distorcida
Esconde dentro da alma os refletores
E neles se percebem multicores
Desenhos noutra face mais ungida,
O mergulhar insano sem respostas
Enquanto estas veredas são expostas
Transcendem ao que tanto desejara,
O amor quando se entranha e nos domina
Gerando com certeza a rara mina
Clareia em magnitude esta seara.


78

Corpo entregue aos cães onde pudesse
Haver apenas sonho e nada mais,
Os dias se preparam tão iguais
Sonegam a quem tenta uma benesse,
A vida tendo o fim que ora merece
E gera dentro em si seus funerais,
Resíduos dos diversos vendavais
História natural, pois se obedece.
Resisto o mais que posso, mas bem sei
Da dura e tão sofrida mera lei
E nela não discuto e só lamento,
O risco que eu assumo a cada dia,
Transborda no final e não traria
Senão este terror, ledo alimento.

79


Viu; das emoções diversas faces
E ao perceber a dor numa constância
Aonde imaginara a calma estância
Somente este delírio e nele grasses
Vagando sem descanso, logo traces
Os rumos mais cruéis até que; trance-a,
A vida com total vil discrepância
Trazendo a quem sonhara tais impasses,
E nada do que tento ou mesmo quis,
Quem viu este momento poderia
Acreditar num dia mais feliz,
E neste mergulhar insanamente,
Ao ver já desvairada a fantasia
O todo que inda resta, volta e mente.


80


Seres imaginários tomam tudo
E bebem cada gota desde quando
O dia noutro caos anunciando
O medo; aonde imerso, eu não me iludo,
A sorte se transcende, mas, contudo
O peso novamente me envergando
Trazendo este ar sofrível e nefando
E neste ser cruel eu me transmudo,
A fera que entre feras se transforma
E injeta na sua alma a fria forma,
Expressa o pandemônio mais temido,
Assaz já caricata face exposta
No quanto a própria vida nos desgosta
Legando às ilusões o torpe olvido.

81

Outrora tu me enchias de ilusões
E nelas outras tantas desenhadas
Gerando no final em mim estradas
Aonde com ternura me compões,
Porém por vários rumos, direções
As sortes noutras faces desdenhadas
Abortam sensações imaginadas
E deixam sem sentido os meus verões,
O pântano que invade movediço
Negando este caminho onde cobiço
A sorte sem igual de quem delira,
O amor imaginado apenas traça
A leda fantasia e a fria traça
Transforma todo o sonho em vã mentira.

82

Ignoro algum destino aonde um dia
O mar que existe em mim inda pudera
Traçar além da dura e vã quimera
O quanto ainda resta em fantasia,
O mundo a cada passo discernia
O rústico ventar onde esta fera
Sonega cada passo e destempera
A vida numa forma de heresia,
Mas quando a noite chega e traz além
Do quanto a realidade em si contém
Mergulho no oceano feito em luz,
E um novo amanhecer, mesmo distante
A sorte neste sonho enfim garante
Delírio onde meu barco agora eu pus.

83

Como não tem sequer igual caminho
Quem tenta adivinhar o seu futuro,
Apenas o meu sonho, eu te asseguro
E nele com certeza eu já me alinho
Cerzindo cada passo com carinho
Encontro a mansidão que inda procuro
E sei do quanto além do sonho escuro
O amor gerando em nós flor entre espinho.
Escassas luzes; vejo à minha frente,
Mas quanto mais audaz eu me apresente
Eu tenho alguma chance de encontrar
Em meio às tantas brumas desta vida,
A sorte imaginada e merecida
Bebendo um raio imenso do luar.

84


Aonde ateia o sonho em fogo e fúria,
O velho coração não se apascenta
E bebe com fervor esta tormenta
Embora no final reste a penúria,
O quanto do viver gestasse a incúria
E o medo de volver já se apresenta
E quando o sonho apenas aposenta
Resulta no final, triste lamúria,
Enquanto enfim sonhar estarei vivo
De toda esta beleza não me privo
E crivo-me de tantas ilusões
O barco mesmo alheio a qualquer porto
Aonde imaginara semimorto
Revolve e bebe em gozo mil tufões.

85

Dos transes padecera quem sonhara
Com toda a insensatez de um raro brilho
E quando sem destino me polvilho
Tomando imensamente esta seara,
O olhar em tanta luz hoje declara
O canto aonde tento; cismo e trilho
Ousando na emoção, doce estribilho
Tornando a minha vida bem mais clara,
O quanto imaginasse e não podia
Cerzindo esta ilusão, a fantasia
Esboça alabastrina e imaginária
Beleza aonde a sorte solidária
Transcende à própria luz e num segundo
Produz este oceano onde eu me inundo.

86

Meus olhos visionários tentam ver
Os ermos de minha alma mais sombria
E quando muitas vezes poderia
Apenas revelar um torpe ser,
Encontram nos teus olhos o saber
Do raro e mais perfeito em sincronia
Gerando novamente esta alegria
E nela vejo o mundo amanhecer
Apenas ilusão? Não sei, mas tento
Enquanto bebo o farto e raro alento
Vestindo o meu olhar em tal clareza,
Deslumbro nos teus dias os meus cantos
E envolto pelas luzes dos encantos
Entrego-me à sonhada correnteza.


87

Enquanto houver torturas dentro da alma
De quem se entrega mesmo sem sentir
Qualquer realidade num porvir
Envolto pelo medo de outro trauma,
Seara imaginada, sempre calma
Transcende ao que pudesse mais pedir
E traz com tanta luz este elixir
E nele o meu caminho em paz se acalma,
Resisto aos mais incríveis sonhos, mas
Eu sei que a maravilha já se faz
Apenas por saber desta existência,
Meu canto se apercebe da sutil
Beleza aonde o nada se previu,
E nisto segue em paz, sem penitência.


88

Separado de um cais por mar imenso,
Revolto em tais procelas costumeiras,
Aonde na verdade não mais queiras
Deveras noutro instante teimo e penso,
E quanto mais do amor bebo e convenço
Enfrento com ternura estas ladeiras
As sortes de outras tantas mensageiras
Traduzem um cenário claro e intenso,
Esboço de um provável Paraíso,
Edênico caminho mais preciso,
Vagando por teus braços, doce encanto,
E quando mais além eu me fascino,
O mundo que buscara cristalino,
Ao próprio caminhar ora adianto.

89

Aborto eu já não temo quando vejo
O amor enaltecendo cada passo,
E aonde percebera o meu cansaço
A sorte se aproxima em raro ensejo,
E bebo cada gole do desejo
Sabendo quanto posso e não desfaço
Meu mundo ocupa em paz imenso espaço
Porquanto no passado fora andejo,
E agora ao mergulhar sem mais defesas
Encontro mesmo em grandes profundezas
Belezas onde a dita me levara
E incrível que pareça em tal abismo,
Do amor ao respirar, tranqüilo eu cismo
E sorvo cada imagem bela e rara.


90

Remindo com teus dons a minha vida,
O quanto no passado nada tinha,
A sorte na verdade jamais minha
A morte a cada instante sendo urdida,
O tempo se perdendo e sem saída
O manto a cada esgarce desalinha
E o vento traz apenas a daninha
Aonde a messe nunca é presumida,
Assim durante a vida fora até
O amor saber deveras por quem é
E tendo esta visão maravilhosa,
O tanto que mergulho neste encanto
E sinto pulular em cada canto
Traçando nova estrada majestosa.

91


Que me disseste ó vida sobre o amor?
A cada tentativa um novo não
E acordas outra vez o coração
Depois de tanta queda e dissabor?
Espero novamente e nada a pôr
Somente a mesma velha solidão
E tantas noites turvas se verão
Neste verão espúrio e sem calor.
O quanto acreditar no imponderável
Presume o nada além e inadiável
A morte se aproxima e vejo o fim.
Do amor que imaginara sequer sombra,
Imagem fantasmal ainda assombra
E o túmulo florindo em meu jardim.

92


Temo esta novidade mesmo enquanto
O manto se tecendo deixa ver
As marcas indiscretas do querer
E neste caminhar delírio tanto,
Ainda mesmo assim nada garanto,
Somente as velhas tramas e a tecer
No todo imaginário um novo ser,
Mas sei quando ao final o velho espanto;
Resulto desta louca incoerência
E tento um ar de mansa transparência,
Porém a turbulência não permite,
Herético desenho profanado
E nele o meu delírio e; desolado,
O tempo vai chegando ao seu limite.


93

Minha alma turbulenta nada sente
Senão a mesma angústia contumaz,
E quando à realidade o mundo traz
A dor se apresentando plenamente,
O pouco quando resta tão somente
Levando para alhures minha paz,
O corte na verdade satisfaz
Embora alma se mostre vã, demente.
Restando quase nada desta vida
Minando a cada passo ou despedida,
Resumo os meus temores neste fato
Aonde sem saída nada vejo
Senão a mera sombra de um desejo
E nela o meu caminho em vão, retrato.


94

Metade do caminho em dor e pranto
Resumos de uma vida intolerável,
Aonde qualquer sonho imaginável
Embrenha nas torturas, desencanto.
E quanta vez eu pude vejo o manto
Puído pelas mãos do incontrolável
Delírio enquanto quis um tempo afável
Marcando com as garras tal quebranto.
Assiduamente busco a paz em mim,
E sinto que afinal, chegando ao fim
Outra metade traça o mesmo rumo,
E o quanto inda pudesse acreditar
No sol além sobejo a desfilar,
Decerto e sem saída eu me acostumo.


95


Conheço a já perdida sensação
De um novo amanhecer em mansa luz,
A cada turbulência se produz
A mesma face escusa: negação.
O tempo diz das dores que virão
E nelas o meu canto em contraluz
Gerando a cada ausência o medo e o pus
Os sonhos em dorida arribação.
Nefastos dias trazem novamente
O quanto da verdade se apresente
Nas curvas do caminho que há por vir.
E quando capotando sem defesa
Levado pela incúria, a correnteza
Imagem do não ser, reproduzir.

96

A face da fortuna eu desconheço,
Apenas a diversa e vã quimera,
A vida noutro esgar se destempera
O sonho, meramente um adereço,
Revejo cada queda e a sei, mereço
O marco entranha como fria fera
E doma o meu caminho e nada espera
Sequer imaginável recomeço.
Esgoto as minhas forças nesta luta
E quando ainda tento e já reluta
Meus trilhos trazem medo e nada além.
Enquanto desejava pelo menos
Momentos terminais bem mais amenos
Somente este vazio me contém.

97

Mudando num momento a minha sorte,
Galgando qualquer monte aonde eu veja
Ainda que talvez não benfazeja
A imagem de uma luz que me conforte.
Cansado de lutar, buscar um norte
O corte a cada passo se preveja
E a morte muito embora inda não seja
O rumo preferido; entoa forte.
E traz a negação de qualquer sonho,
E ao nada quando muito eu me proponho,
Residualmente apenas o vazio.
Durante a minha vida tanta vez
O canto noutro canto se desfez
Cada segundo além, eu desafio.

98

Presságios entre medos mais constantes
Os dias não se tornam solução,
Os medos tomam toda a direção
E nada além dos ermos me garantes.
Pudesse acreditar em diamantes
Aonde vejo o fim desta estação,
Negando a tão sonhada provisão
Erráticos demônios degradantes.
Estúpido fantoche e nada mais,
Escuto na distância este eco quando
A voz num novo tom se derramando,
Reflete sem sentir meus vendavais.

99

O meu abatimento é costumeiro
Sinal deste outonal envelhecer,
O quanto pude mesmo até não ver
E neste pouco ou nada não me inteiro,
O risco de sonhar, cevar canteiro
Sem nada que pudesse oferecer
Senão este esgarçar de um torpe ser
Num canto talvez mesmo o derradeiro.
Augúrios entre quedas e tormentas
Assim a cada passo me alimentas
E domas o que resta de um sombrio
Destroço aonde uma alma perambula
O tempo sem limites, pois ondula
E nele tão somente me desfio.



100


Encontro com terror a face escusa
De quem se acreditara muito além
Do quanto na verdade não contém
Enquanto a própria vida se entrecruza
E gera noutra face mais confusa
O mesmo caminhar em tal desdém,
Meu passo prosseguindo muito aquém
Porquanto a fantasia já me abduza
Levando para aonde poderia
Singrar o canto em paz, farta alegria,
Edênico caminho desenhado
Nas ânsias e louvores. Nada resta,
Nem mesmo a menor, mínima fresta
A morte em solidão é meu legado.

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