domingo, 28 de novembro de 2010

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51291

O ser diverso traz o dissabor
De quem pudera crer noutro momento
Vencer a tempestade e o desalento
Ousando ter por arma o ledo amor,
Mas quando se percebe aonde for
O tanto que fizera em excremento
O rústico cenário onde alimento
Matando em nascedouro qualquer flor,
Não mais me permitisse crer na sorte
E o tempo noutro passo não comporte
Sequer o que desejo em tom sombrio,
Escassa melodia em noite escusa
A solidão deveras se entrecruza
Marcando com terror quanto eu desfio.

92

Estar e ser apenas cego e mudo
Num mundo sem sentido e sem razão
No fundo novos dias mostrarão
O quanto em erros tais já não me iludo,
O rústico cenário onde transmudo
Apresentando apenas tal lição
Esbarra na dorida solidão
Num plano contumaz, atroz e agudo,
Apenas mau agouro e nada mais?
Diversos e sem nexo os rituais
Aonde a sorte infausta se reflete,
No olhar incendiado em fúria e medo,
Somente este vazio ora concedo
Na ponta de uma faca, um canivete.

51293

O amor só se desnuda no final,
Enquanto sobrevoa nada dita,
Mas sei da sua força se infinita
Apenas quando o mundo é mais venal,
O passo se desenha desigual
E o corte noutro engodo necessita
Da sorte que lapida uma pepita
Numa expressão diversa e tão banal,
Esqueço cada traço onde pudera
Apascentar somente a intensa fera
Que habita os corações destes amantes,
Após o fim do jogo, este vazio
Transforma o mundo claro hoje sombrio
E nada mais deveras me garantes.

51294

Ao separar o joio de algum trigo
Talvez não tenha forças para ver
O quanto poderia apodrecer
O todo que carrego inda comigo,
E quando novo passo hoje persigo
Tentando após o nada, o amanhecer
Percebo cada dia esvaecer
Vibrando sem sentido em desabrigo,
O medo se aproxima e dita o todo,
Amor já não seria mais que engodo
Ou mera fantasia em escassez,
Destarte caminhar enquanto pude
Viver apenas passo atroz e rude
E nele toda a sorte se desfez.

51295

O quanto nada vejo nem escuto
Protege-me decerto e disto eu sei
Ausente dos meus olhos rara grei
E nela cada passo mais astuto,
O prazo delimita o quanto luto
E nada do que eu possa enfim terei,
Nos ermos de minha alma em mergulhei
E sei do corte atroz, audaz e bruto.
Vacante coração de um vagabundo
E quando no vazio eu me aprofundo
Inundo em ilusões o quanto resta
A luta sem sentido agora infesta
O sonho aonde aberta qualquer fresta
Mudasse meu caminho num segundo.


51296

A venda se retira e deixa ver
A imensa tempestade que virá
O rústico cenário desde já
Impede qualquer sonho, amanhecer,
E sei do quanto pude perceber
Ousando o que deveras me trará
O fim e neste tanto moldará
A vida sem sentido e nem prazer.
Ocasionando a queda após o farto
Momento onde deveras eu comparto
E aparto o meu caminho de outros tantos,
A sorte se desdenha e ao fim do jogo
Não resta ao sonhador sequer um rogo,
Tomado por terríveis desencantos.

51297

O todo do universo em cada senda
Aonde se tentara crer no fato
Sujeito ao mais dorido ou insensato
Caminho enquanto o passo não se estenda
Além do que pudesse em tal contenda
Apenas a mortalha que resgato
Esbarra nos meus erros e retrato
A vida atrás da máscara e da venda,
Presumo o que viria após a queda
E a luta noutro passo se envereda
Marcando com terror o dia a dia,
Dos ermos mais atrozes, a esperança
Ao fogo sem sentido algum se lança
Enquanto noutra face o fim se erguia.

51298

Fastio toma conta dos meus dias
E vejo o que pudera ser diverso,
Mas quando aquém do todo o passo eu verso
Ainda que talvez em heresias
O todo noutro passo não trarias
E nisto a cada instante me disperso
E sei do meu caminho em tom perverso
Marcado por terríveis ironias.
Não vejo qualquer luz aonde o medo
Traduz o quanto possa e não concedo
Matando pouco a pouco uma esperança
A falsa sensação: felicidade
Aonde o que pudesse se degrade
Jogado sem destino, nada alcança.

51299

Os dentes invadindo a jugular
E o manto sanguinário da esperança
Vagando sem sentido não se cansa
A luta eu não concebo em tal vagar,
A sorte se dilui neste luar
E a pedra no caminho já se alcança
A morte trago viva e quando avança
Traduz o quanto pude mais sonhar.
Esbarro nos meus erros, desenganos
Cerzindo sem poder em frágeis panos
O quanto poderia ser abrigo,
Mas quando me imagino solitário,
O tempo se desenha imaginário
E apenas, sendo honesto já nem ligo.

51300

Um velho sentimento aflora e doma
O quanto ainda trago além das cãs
E as sortes; desdenhosas nas manhãs
Enquanto o meu passado nega a soma,
Do todo que pudera já se toma
O rumo entre diversos vãos e afãs
As lutas são das mortes quais irmãs
E o mundo noutro passo gera o coma,
Apenas o que tento ou desafio
Expressa a solidão, e ser sombrio
Reflete neste espelho o meu olhar,
Depois de tanto tempo em desatino,
Ao nada sem sentido me destino
E perco sem mais nada eu encontrar.

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