sábado, 4 de dezembro de 2010

51771/80

51771

Uma alma tantas vezes sonhadora
Mergulha neste caos gerado em vida
E quando a sorte vejo resumida
Procuro noutra senda aonde fora,

Imagem da mulher que, redentora,
Por vezes trás no olhar a despedida,
E ao mesmo tempo sana uma ferida,
Na pálida expressão mais sedutora.

Ocasos entre quedas e temores
Seguindo sem pergunta aonde fores
Alcanço assim teus rastros pelas ruas,

Porém num certo tempo não mais vejo
O sonho mais audaz claro e sobejo,
Depois é que percebo que flutuas.


51772

Um bardo que pudesse, enamorado
Tramar em versos, sonhos, serenatas
E quando te aproximas e maltratas
Mudando num instante o ledo fado,

E assim tal paraíso; em vida, invado
Gerando dentro da alma estas cascatas
Diversas noites, vasto amor resgatas
Desvendo após o caos supremo prado.

Amar e ter certeza de também
Viver cada momento aonde tem
A luz que se irradia a todo instante,

Meu mundo se apresenta mais gentil
E o todo noutro tom se permitiu
Vibrar em harmonia consonante.

51773

Teu riso em primavera dita o sonho
E nele mergulhando sem temores,
Ainda bebo os raros bons sabores
Enquanto amor intenso eu te proponho.

O mundo tantas vezes enfadonho
Sem nada nem talvez aonde pores
As sortes mais diversas, teus pudores,
Num ato em precisão, claro e risonho.

Erguendo o meu olhar além do fato
A imensidão de um todo onde constato
A sorte sem igual de ser feliz.

Depois de tanto tempo em solidão,
As horas desenhadas desde então
Traduzem o que tanto em paz eu quis.

51774

Pudesse em paz a sorte
Negar a solidão
Teria desde então
Alguém que me conforte,

Vagando rumo ao norte
Dos tempos, precisão,
A luta sem senão
O manto que comporte

O brilho em teu olhar
Além do imenso mar
Vontades tão diversas

E quando em ilusões
O amor audaz; expões
Nos infinitos versas.

51775

Beber os teus perfumes
E crer noutro momento
Aonde em paz me alento
E neste intento rumes,

Galgando raros cumes
Vencendo o imenso vento
E nisto me provento
Na luz amor resumes.

O passo além do todo
A vida após o engodo
Refaz cada esperança

E o verso que lançara
Além da noite clara,
Aos poucos já te alcança.


51776

Seguindo cada passo
Que deixas quando vais,
Os dias magistrais
Caminhos onde traço

O tempo aonde eu faço
As sortes tantas quais
Pudessem sempre mais
Vencer qualquer cansaço.

Apresentando o sonho
E nele quando enfronho
Meu verso ou a atitude,

A noite se aproxima
Num manso e doce clima,
Bem mais do quanto eu pude.

51777

O quanto pensativo
O sentimento toma
E mais que mera soma,
De ti serei cativo,

Porquanto sobrevivo
A vida traz o coma
E o peito não se doma,
Reluta, e não me privo.

O ser e o tentar ver
Ainda amanhecer
Depois da queda imensa,

Amar e ter nas mãos
O solo, os sonhos, grãos
E a sorte que convença.

51778

A face predileta
De quem se fez bem mais
Que meros vendavais
E a luta se completa

Apraza-me a dileta
Manhã em dias tais
E neles teus cristais
A sorte dita a seta.

O manto nos cobrindo
O tempo audaz e lindo
Quem dera, se em verdade

Apenas solidão
Do todo em expressão
Agora em dor me invade.


51779

Um sonho vaporoso,
Um termo em dor e pranto,
E sei onde me encanto
Num dia feito em gozo,

O marco caprichoso,
A queda noutro canto,
A sorte em desencanto
Meu rumo pedregoso.

Afasto-me de ti
E quando me perdi
Não tive outra saída

Senão a mesma luta
E nisto não se escuta
A voz enternecida.

51780

A lânguida beleza
Deitada nesta sala,
Enquanto me avassala,
Sublime correnteza

No quanto me faz presa
E nada mais nos cala
O sonho que me embala
Já não trará surpresa,

E sendo de tal sorte
A vida não comporte
Apenas o que tento,

Alheio ao quanto pude
Meu mundo outrora rude,
Agora em manso vento.

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