quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

51601/10

51601

Falar de tanto amor quanto possível
Qual fosse um raro néctar, um maná
E o mundo num instante moldará
O passo noutro rumo ou novo nível,
Quem dera se pudesse ser mais crível
A senda desenhada desde já
Restando dentro da alma mudará,
Porém sei deste sonho incoercível.
A sorte desdenhosa dita o rumo
E quantas vezes; tento e me resumo
Na ausência mais completa de esperança;
A luta não se cansa, mas no fim
Do sonho nada resta e sigo assim,
Aonde esta vontade em vão me lança.

602

Nos templos desenhados no vazio
Meus antros entre altares, quedas, arcos
E os dias mais felizes são tão parcos
Que mesmo após o fim, nada recrio.
Apenas tão somente desafio
E sei dos meus caminhos, perco os barcos,
As esperanças tolas; sendo marcos
De tempos que hoje vejo por um fio.
Depois de tanta luta e sempre em vão,
Destinos mais diversos mostrarão
Somente este vazio dentro da alma,
A solidão deveras me tocando,
Aonde se quisera mesmo brando,
Nem mesmo a solidão atroz me acalma.

603

Um mausoléu em meio ao vão deserto
Depois de tantos anos, solitário.
O mundo; eu sei que tanto é necessário
E o velho caminhar inda desperto,
Mantendo o coração além e aberto,
O rumo se moldara em tom mais vário,
O canto noutro tom e itinerário,
Do nada que inda teimo enfim me alerto.
Resumos de outras eras, outro fato,
E o tanto quanto quis já não constato
Marcantes heresias dias mortos,
E os olhos procurando algum descanso,
Apenas no final; a noite, alcanço
Fazendo destas brumas os meus portos.

604

Não pude e nem quisera ter nas mãos
Momentos mais felizes. Mero mito,
E o tanto quanto busque, eu acredito
Jamais semearia áridos chãos,
Os dias na verdade foram vãos
E o corte marca o tempo onde é finito
O sonho que deveras necessito,
Mas traz os dias toscos, tantos nãos.
Escuto o imenso vento em turbulência
A vida se transforma em inclemência
E a luta não termina. Continua.
Exposto sob as sendas do passado,
Apenas os meus ermos quando invado
O tempo sem ter freio, em vão flutua.

605

Arcaico sonhador se faz presente
E bebe cada gole da ilusão,
Mas sei dos meus momentos desde então
E nada além do fim já se apresente,
Traçando nos meus olhos, o indigente
Tormento aonde a vida faz serão
Os sonhos no final nada trarão,
Sequer o que pudera urgentemente.
Apenas apresento o fim do jogo
Sem medo sem caminho paz ou rogo,
Alegro-me talvez por ter enfim
Sabido desta fútil vilania
Aonde se adormece a poesia
E morro desde quando em vão eu vim.

606

Minha alma nas charnecas da ilusão,
O lodo, a lama, o limo, o caos e a sorte
E nada na verdade me conforte
Nem mesmo esta semente, inútil grão.
Os erros no final transformarão
Traçando sem sentido a minha morte,
E o todo que pudera noutro porte
Expressa a mais dorida solidão;
Escassa luz adentra cada quarto
E quando noutro rumo eu me reparto
Tentando acreditar, dicotomias,
No fundo sem proveito e sem alento,
O quanto do meu mundo ora fomento
E nele em tantas noites, mentirias.

607

Já não suporto mais ouvir a voz
De quem por tanto tempo fora minha,
A lida se mostrara mais daninha
E o passo sem sentido, meu algoz,
Não vendo na verdade nada após,
Apenas solidão aonde vinha
A luta não se cansa e desalinha
Marcando o que restasse dentro em nós,
Apresentar meu canto e crer no encanto
Ainda que pudesse eu não garanto
Sequer qualquer momento de alegria,
A morte ronda a cama bebe o olhar,
E quando noutro instante me entregar
Já nada mais deveras restaria.

608

Presumo tão somente um dia a mais
E nada em mesquinhez ou covardia,
Meu tempo o próprio canto sempre adia
E gera outros tormentos tão iguais,
As contas são diversas e banais,
Apenas o que resta em heresia
Matando o meu caminho em agonia
Vencendo os mais diversos vendavais;
Vestira tão somente o meu anseio
E quando a palidez ora rodeio
Nos seios da esperança avança o corte,
Alegram-me visões de novo tempo,
E o tanto se mostrara em contratempo
Gerando no final apenas morte.

609

Não tenho uma saída
Nem mesmo pude ver
O quanto do querer
Domina cada vida,
A sorte presumida
O passo a se perder
O raro enaltecer
Da luta decidida,
Meu mundo e nada mais
Os dias desiguais
Repastos para a dor,
Ainda que pudesse
A vida sem tal messe
Expressa o dissabor.

610

Um gole de café
Um pouco de esperança
A mesa posta, a lança
A sorte a farsa a fé,
E o tanto e por quem é
A morte toca e avança
Ainda em tal pujança
Andando sempre a pé
O rústico cenário
O canto de um canário
E o tempo se esvaindo.
A lida recomeça
A vida vai sem pressa,
E aos poucos me iludindo.

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