domingo, 28 de novembro de 2010

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81

Lembrando da viçosa mocidade
Aonde era feliz e não pensava
Que a vida se tornasse após escrava
No tanto quanto o tempo nos degrade,
O sonho feito em paz e liberdade
A sorte noutro vento me levava
E a voz que tantas vezes mais bradava,
Agora perde o tom, fragilidade,
Recordo dos meus sonhos e ideais
E sei que não voltando nunca mais
Apenas estas rugas no meu rosto,
A vida sem ter nada a me ofertar
Deveras vem ao fim só me cobrar
A cã como se fosse algum imposto.

82

A vida busca a vida sem perguntas
E segue seu caminho mesmo quando
Numa alma o tempo segue se invernando
E nisto as horas torpes tanto ajuntas,
E quando poderiam almas juntas
O tempo noutra face se formando
Na noite que deveras vai nublando
E ao vento sem saber o que perguntas,
Os ermos de uma luta sem descanso
E quantas vezes tolo eu já me canso
Buscando qualquer porto aonde eu possa
Traçar com magnitude esta esperança,
Porém quando ao vazio a voz se lança
Nem mesmo a fantasia me remoça.


83

A vida por si própria já desenha
Cenário mais diverso do que um dia
Pudesse imaginar e não teria
A luta se travando enquanto venha
E quando a solidão ditando ordenha
Do sonho mais feliz em fantasia,
O todo noutro tempo se faria
E a morte na verdade me convenha,
Depois de tantos erros vida afora
O quanto do que resta me devora
E gera tão somente o mesmo nada
Ainda que tentasse imaginar
Distante do que tanto quis amar,
A luta sem sentido, desolada.

84

O quanto vem de nós e não pertence
A quem pudera crer em vaga posse
Aonde na verdade não endosse
Sequer o que talvez gere o non sense,
A luta pouco a pouco me convence
Do quanto cada engano me destroce
E o vago caminhar jamais se aposse
Do todo sem sentido mesmo que eu pense.
O não poder ou mesmo não querer
Impede dentro da alma o amanhecer
E gera após o nada outro vazio,
E tendo mais distante uma esperança
A vida com certeza não alcança
Sequer o que tentasse e desafio.


85

Coabitar e ser tanto diverso
Gerando este momento em tom atroz
Calando o que restara dentro em nós
Ousando na expressão de um ledo verso
E quantas vezes tento e me disperso
O mundo se desenha mais feroz
E sei que na verdade meu algoz
Expressa esse caminho e vou submerso,
Esgoto a minha força a cada queda
E o passo noutro tanto se envereda
E assim se preconiza o fim de tudo,
Ao mesmo tempo pude imaginar
Apenas o que tenha sem notar
Que ao fim somente em caos me desiludo.

86

O quanto me entregara sem descanso
E sem pensar sequer em recompensa
Trazendo o que talvez já nem convença
O mundo em liberdade enfim alcanço,
Não basta simplesmente ser mais manso
A vida tal cenário já dispensa
E o preço que se paga, não compensa
Num dia sem um passo, sem avanço;
E o todo se permite desde quando
O tempo noutro instante emoldurando
A tela mais sutil: felicidade.
O caos dentro de mim domina tudo
E quando me tornasse quieto e mudo
Talvez este cenário enfim te agrade.


87

Suor é rara tinta aonde escreves
Milagres renovando a própria vida,
E nesta maravilha concebida
Vencendo descaminhos, medos, neves
E quando neste instante tu te atreves
E vês a sorte sendo repartida,
O tanto quanto possa em tua lida
Embora estas palavras sejam breves.
Ascendo ao que pudesse e não teria
O mundo se aproxima em agonia
E o fardo de sonhar vergando as costas,
Apresentando o cais que não concebes
Ainda imaginando velhas sebes
Perdendo sem sentido tais apostas.

88

A velha melodia da esperança
Ousando penetrar pelos umbrais
E os dias repetindo o nunca mais
Que tantas vezes sinto e sempre alcança
A faca penetrando diz fiança
E os versos são perversos e fatais,
Enquanto na verdade não ousais
A luta se presume e nada avança.
Mergulho nas lembranças e sei bem
Do quanto com certeza nada tem
Sequer o que pudesse imaginar,
A morte entre meus dentes, minha adaga
A vida sem sentido tudo draga
E o mundo se anuncia a divagar.

89

As horas murmurando outros tormentos
E neles outros tantos que percebo,
Amor quando pudera ser placebo
Os olhos em vazios pensamentos,
E sei dos meus caminhos desatentos
Enquanto cada sonho em vão eu bebo
E o norte se perdendo onde recebo
Do tempo o desafio feito em ventos,
Apenas poderia acreditar
Nos erros tão comuns e desenhar
Após o nada em mim qualquer cenário
Aonde o mundo fosse de tal forma
Diverso do que tanto se conforma
Matando sem sentido o itinerário.

51290

Aceitaria um gole de aguardente,
A vida não permite que se veja
A face mais atroz mesmo sobeja
E nisto outro caminho ora se tente,
Ainda quando o fim trama e pressente
O nada dentro da alma enfim dardeja
E toda a solidão maldita seja
Enquanto se faz dura e imprevidente,
Marcando com a luta o dia a dia
O tanto quanto pude e não queria
Ausenta dos meus olhos com frieza,
Apenas mergulhando no vazio,
O canto sem sentido ora desfio
E deixo a minha sorte em vaga mesa.

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