51751
Habito as tempestades
E vago em ermos quando
O mundo desenhando
Apenas traz as grades
E sei que desagrades
O tempo em contrabando
Mergulho me inundando
Aonde agora evades.
O caos invés do cais
Os dias desiguais
Errático cenário.
Negar a previsão
Saber do mesmo não
Dos sonhos, o inventário.
51752
Lutando em parcimônia
Com tantas heresias
E o quanto me trarias
Negasse a cerimônia
Jardim morta a begônia
As horas, agonias
As sortes que verias
Trazendo além a insônia.
Esqueço o que ventura
Pudesse e se assegura
No infausto deste nada,
A noite se aproxima
Insuportável clima
Adentra a madrugada.
51753
Não tenho mais saída
E nem que inda pudesse
Vencer a dor em prece
A luta sempre acida,
O todo se duvida
E a sorte em vão se tece,
Apenas obedece
A leda despedida.
Incauto sonhador
Nas ânsias de um amor,
A provisão sonega
Esqueço alguma sorte
E o todo não comporte
A vida amarga e cega.
51754
Um verso além do sonho
Pudesse me trazer
O claro amanhecer
Num mundo mais medonho,
E quando eu me proponho
Tentando algum lazer
Meu canto a se perder
E nada ao fim componho.
A luta não permite
Sequer qualquer limite
Aonde poderia
Cerzir em leda teia
O quanto me rodeia
Em noite amarga e fria.
51755
Ausento do que um dia
Pudesse ser maior
E sei que no redor
Do sonho nada havia,
A luta mais sombria
Cenário sei de cor
O quanto fui pior
Já nada me traria.
Numa expressão dorida
Perdendo a minha vida
Ou mesmo o que inda resta.
Bastando para tal
Um gesto em ritual
Que ao nada enfim se empresta.
51756
Escuto a voz de quem
Há tanto não se traz
Nem mesmo a leda paz
Que sei jamais convém
E nisto o quanto tem
Pudesse mais tenaz
Num erro contumaz
Não sou bem sei, ninguém
Uma expressão inerte
Meu passo se converte
Na turva penitência
Do quanto houvera em nós
Apenas vejo a foz
Completa incoerência.
51757
Apenas meu jazigo
O que inda restaria
Em torpe fantasia
O quanto em vão persigo,
E assim tanto prossigo
Vagando a cada dia
No todo em heresia
Expresso o desabrigo.
E o medo traz além
Da luta quando vem
Em plena sordidez
Assumo os meus enganos
E sei dos frágeis planos
E nada mais se fez.
51758
O mundo desafia
A luz que não recebo
E o quanto sou placebo
Jamais dita a alegria,
A voz não poderia
Trazer onde percebo
O tempo onde eu concebo
A luta a cada dia.
Não tendo outra saída,
A sorte dividida
A parte que me cabe
Expressa o sem futuro
Caminho que inseguro
Aos poucos já desabe.
51759
Não tenho mais o quanto
Desejo e até mereça
A sorte que apeteça
O sonho onde me espanto,
E vivo assim, portanto
Ainda que enlouqueça
Só peço que me esqueça
Ou rasgue o turvo manto.
Escória tão somente
Aonde quer que eu tente
Não vejo outra saída,
Apenas me desdenho
E sei deste desenho
Marcando a despedida.
51760
No prazo aonde um dia
O sol inda brilhasse
Gerando o mesmo impasse
E nele se traria
A sorte em agonia
Mergulho aonde embace
E o nada se moldasse
Bem mais do que teria.
Esquivo camarada
Na luta aonde evada
Meu passo em tal fastio
Não tendo o recomeço
Ausento e no tropeço
Meu tempo em desvario.
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