quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

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651

Há tanto o que fazer e nada possa
Vencer a mesma hipócrita expressão
Moldando a cada nova gestação
O quanto sem destino trama a fossa,

E quando do vazio o ser se apossa
Tramando sem sentido ou direção
Apenas vendo os ermos que trarão
A luta aonde o todo não se endossa.

Negar qualquer afeto e ver além
Do prazo que em verdade nunca vem
E dita incontestáveis heresias,

Assim ao se mostrar mais intratável
O ser que, desprezível é notável
Expressa apenas vagas ironias.



652

Não tento desvendar alguma luz
Envolta tão somente no não ser,
Ainda que pudesse parecer
Cenário sem vestígios não produz

Sequer o quanto tento e jamais pus
Neste âmbito diverso do viver,
Ousando tantas vezes perceber
Somente sem saber se faço jus.

A cada instante volto e me percebo
Bem mais do que talvez quando o concebo
Expressa a voz sem nexo ou provimento.

A leda poesia morre vaga
E quando a sensação aquém divaga
Dos tantos que não pude, eu me alimento.


653

No quadro mais agudo, a sorte trama
O quanto da mortalha se apresenta,
Depois de tanto engodo, a virulenta
Noção dicotomiza e nada clama.

O mundo se mostrara em resto e lama
Vestindo a face turva e mais sangrenta,
Apenas no final se me atormenta
A luta não seria o quanto exclama.

Cerzindo o meu passado, sem ter nexo,
O medo se moldara e mais perplexo
Apenas escolhendo alguma voz

Não tendo a sensação de liberdade
Tampouco quando a sorte agora evade
O resto se anuncia dentro em nós.



654

As uvas estão verdes; com certeza
O quanto mostra ser um incapaz
O ser que no final já nada traz
Desfaz de quem desenha com firmeza,

Assim ao me moldar e com franqueza
Sentido se presume mais audaz,
E quanta coisa eu deixo para trás
Tentando o que pudesse em sobremesa.

Ignorância não traz sequer a face
De um espúrio caminhante que já trace
Seu passo sem sentido, cego e roto,

Vociferando o quanto não conhece
Traduz o que não pode ou não soubesse
Num cérebro que lembra imenso esgoto.

655

O ser atemporal nos mostraria
Esta imutável face do que trama
A luta se mostrasse além da lama
E assim se imortaliza a poesia.

O tétrico boçal não saberia
O quanto se desvenda após o drama,
E quando na verdade faz da grama
Repasto desejado a cada dia.

Lutar contra evidência, onde se visse
Além de simplesmente uma burrice
Expressa a farta imagem do incapaz,

Ao ter em suas mãos outro sentido,
Apenas se condena ao ledo olvido,
E nada, com vileza, enfim nos traz.

656

É duro conviver com a arrogância
Dos imbecis disformes, caricatos,
E quando se mostrassem tais retratos
O pensamento em plena mendicância,

A sorte na verdade traz distância
E molda com certeza velhos atos,
Matando esta nascente e sem regatos
A vida traz em si tal discrepância.

E o ser ou mesmo até o querer ser
E não ter a menor capacidade
Enquanto o pensamento foge, evade

E o mundo se mostrando a apodrecer,
O tolo se permite; estupidez,
O que não saberia, já desfez.

657

São poucos os que pensam. Na verdade,
O mundo só se faz para imbecis,
E o quanto do que tenta ou contradiz
Presume a mais atroz realidade,

A cada novo canto o sonho brade,
Mas vejo tão somente por um triz
Uma arrogância espúria do infeliz
Que pensa ter alguma qualidade.

A luta se fazendo a cada dia
Não deixa libertária a fantasia
Nem mesmo nos permite o pensamento,

E quando vejo a face mais bisonha
Do cego ou insensato, se proponha
Caminho aonde; em trevas, só lamento.

658

Jogado nalgum canto do passado
O velho sem sentido mesmo algum,
Matando o que seria mais comum
E o todo noutro rumo abandonado,

A sorte desdenhosa, outro recado,
Do tanto quanto eu quis restou nenhum,
Mesmo que para ver aumente zoom
O olhar deste imbecil é desfocado.

O caos gera do caos continuísmo
E o prazo determina o quanto cismo
Vagando em teimosia, mesmo além

Da estúpida figura carcomida
Que tanto se mostrara e até duvida
Do prazo que em verdade não detém.

659

Legado de um passado milenar
Soneto faz, decerto, a diferença
E o quanto já se crê ou mesmo pensa
Permite à poesia o seu altar.

Ainda que se visse a desenhar
Diversa formação em nova crença
O tosco com certeza não convença
Quem sabe e tem firmeza ao desenhar.

O barco naufragado dita o sumo
Aonde a estupidez eu não consumo,
Ousando ter um cérebro capaz.

Enquanto o ser ignaro este idiota
Ao mesmo tempo quando nada nota
Somente este vazio já nos traz.

660

Eu não me julgo sábio nem poeta
Apenas eu não sou este imbecil
Que tantas vezes tenta e nunca viu
A face mais sublime e predileta,

Aonde o verso apenas se completa
De forma mais suave e até gentil,
O tanto quanto possa se sentiu
Além de meramente espúria meta.

Vistosa maravilha, a poesia
Expressa com audácia o que traria
E nessa condição reinando esta arte

Não cabe nas palavras, pensamento
E quando bebo a sorte ou mesmo tento,
Beleza sem igual, já se comparte.

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