segunda-feira, 29 de novembro de 2010

51541/50

51541

A vida não permite mais um fulcro
E o tanto que pudera já não faço
O sonho noutro rumo segue o traço
Que apenas determina meu sepulcro
O corte se aprofunda e nada vejo
Sequer o que pudera acreditar
A luta sem ter nada a me mostrar
Moldando cada toque em vão lampejo,
Aprendo e me percebo neste túmulo
Os erros me ensinando a cada dia
Ao menos a verdade vivencia
E o tempo se anuncia desde o cúmulo,
E traz apenas ermos nada mais
E assim sem tais guaridas tu te esvais.

51542

O meu olhar procura apenas isso,
Um mar onde eu pudera ter a fonte
Que tanto me oriente enquanto aponte
O quanto sem temor algum cobiço,
O mundo tantas vezes movediço
E nada mais pudera além da ponte
O canto que talvez me desaponte
Aos poucos recupera o antigo viço.
Jogado nalgum canto desta sala
Saudade pouco a pouco me avassala
E cala o que pudesse ser maior
Levando a mesma cena que ao redor
Gerasse outro momento dentro em nós
Mostrando tão somente o nada após.

51543

Embalos entre sonhos e ternuras
E quando no final já nada existe
O meu olhar atroz deveras triste
Enquanto noutro rumo tu perduras
As sombras do passado, as amarguras
O corte que decerto inda persiste
E o manto quando muito não resiste
Rastreio passos turvos em torturas,
Sobrevivente apenas. Quem me dera
Pudesse reaver a primavera
Neste invernal caminho rumo ao fim,
E a lua que entre brumas se escondeu
Traduz o quanto resta e sei só meu,
Tornando sem sentido o meu jardim.

51544

Buscando este infinito a cada passo
Jamais acreditei noutro sentido
E o tempo muitas vezes redimido
Expressa tão somente o que desfaço
A morte noutro engodo toma espaço
E o peso na verdade desprovido
Do canto com certeza reprimido
E o verso se demonstra em tal cansaço;
Abraço a redenção de quem tentara
Tocar extremos claros da seara
E apenas apodrece em solidão,
Pó que jamais verá um novo dia
Enquanto o meu caminho eu perderia
O sonho se mostrara atroz e vão.

51545

Amor seria um mito e nada além
O caos se transbordando a cada instante
O fim noutro cenário não garante
Sequer o quanto quero e nunca vem,
O manto se desenha e sem ninguém
O peso se acumula e doravante
Seguindo sem cansar, sempre adiante
Dos sonhos sou somente algum refém,
Revejo os meus anseios e não tento
Cerzir e nem tecer a mansidão
A luta se desenha desde então
Na pútrida certeza do vazio,
E quando me sentira mais tranquilo
Apenas o meu corpo em vão desfilo
E o tempo em contratempo ora desfio.


51546

Auroras entre quedas e tormentas
As brumas mais atrozes que inda vejo
Transformam o que tento em azulejo
Em áreas tão ferozes, turbulentas
E quando alguma sorte ainda tentas
O medo no final ditando o ensejo
Meu verso sem sentido algum dardejo
Enquanto um novo porto além inventas,
Esqueço cada passo que inda resta
E o peso na verdade nega a festa
A fresta se vedando a quem porfia,
Imóvel nada tendo em minhas mãos
Marcando com ardume dias vãos
Matando o que pudera em fantasia.

51547

A vida sonegando a consciência
Gerando sem constância a tempestade
E o quanto desejara em liberdade
Agora não se tem sequer ciência
A luta não seria coincidência
O passo sem sentido desagrade
Quem tanto quis a imensa claridade
Aos poucos se enredando em tal demência
Apresso-me a tentar algum apreço
E sei que no final nada mereço
Senão a mesma queda costumeira,
E sendo de tal forma a vida eu bebo
O amor como se fosse algum placebo
Aonde a solução em vão se queira.

51548

Meus olhos no vazio se perdendo
O tempo não traduz o que mais quero
E sei do sentimento amargo e fero
Retalhos de minha alma num remendo,
E o prazo noutro tanto em dividendo
O marco que pudesse e destempero
O nada dentro em mim já degenero
Blindando o meu caminho, vou vivendo,
Apenas não concebo a liberdade
E sinto cada algema, fria grade
Correntes que inda atastes nos meus pés
Pudesse acreditar em novo dia
E nisto com certeza mudaria
Meu rumo sem saber destas galés.


51549

No cintilar dos olhos de quem ama
A sorte se transforma e já fulgura
A noite que pudesse ser escura
Agora se inundando em rara chama
meu verso sem sentido também trama
A vida aonde o todo se emoldura
Cansado de viver em tal obscura
Verdade que deveras tanto inflama,
Esqueço o quanto tenho e não mais quero
O mundo solitário se faz fero
Mujique que tentara a liberdade
No quanto imaginara um samovar
Apenas o vazio de um luar
E o canto sem razão que a vida brade.

51550

Meu mundo desenhando além um astro
E neste passo esboço a sensação
Do tempo sem sentido ou direção
E aquém do quanto quis enfim me alastro
Seguindo com certeza cada rastro
Os dias sem certeza me trarão
Apenas o que resta em solidão
Tomando do navio qualquer lastro,
Mergulho neste mar em ledo abismo
E quando noutro passo em vão eu cismo
O corte aprofundasse muito além
Do quanto pude ver e não teria
Sequer um mero tom de fantasia
E a morte sem ressalvas logo vem.

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