quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

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671

O tom nefasto quando em versos dita
A sorte sem proveito ou distorcida
Gerando o que pudera e sempre acida
Na luta se moldando em tal desdita,

O quanto na verdade se limita
E sangra após expressa esta ferida
No caos determinando o quanto agrida,
Um coração em pânico palpita.

Escárnios são comuns aos ignorantes
E neles outros tantos que agigantes
Ao dar ouvido a quem já nada escuta,

E quando se aproxima da verdade
A morte transcendendo à claridade
Espelha em seu olhar a face bruta.

672

Desintegrando o sonho em mil pedaços,
A corja acorda e corta a cordoalha
Ainda quando finda a vida espalha
Entranha por momentos mais devassos.

Os olhos traduzindo meros passos
Ou nada mais pudera em tal batalha,
Já não suportaria esta cangalha
Nem mesmo os ermos dias sempre lassos.

Na frialdade feita em heresia
O passo noutro engodo se faria
E o cérebro vazio do imbecil

Ultrapassando assim qualquer barreira
Somente se entranhando aonde queira
E nada este amaurótico ora viu.

673

Já não me caberia a decisão
De ter além da face mais sombria
O passo aonde o todo moldaria
A vida sem sentido ou precisão.

Esgoto meu caminho e desde então
A sorte no final não preveria
Sequer o quanto pude e não teria
Marcante dentro em pouco esta ilusão.

Acordo em meio ao nada e sendo assim,
O pouco que reside dentro em mim
Expressa o vandalismo do insensato,

E quando me entranhando noutra senda
Meu verso noutro canto já desvenda
O que pudesse ser ou é ingrato.

674

Deliberar apenas o que possa
Trazer algum alento ou mesmo até
Gerar outro momento e por quem é
A vida não seria mera fossa.

O quadro aonde o pouco já se endossa
E tenazmente o templo marca a fé
E gera o quanto pude e no sopé
Adivinhando além do que se apossa.

A fase mais audaz não se permite
E gesta tão somente este limite
Aonde se acredite noutro sonho.

E o pântano que adentro sem defesas,
A vida traz em si tais incertezas
E apenas meu vazio ora componho.

675

As místicas imagens confundindo
Os passos entre tantos desenhados,
Os olhos quando traçam novos brados
O mundo se mostrasse agora findo.

Não pude disfarçar nem me oprimindo
Resolveria todos os enfados,
As noites entre passos degradados
Cenário se aproxima e não deslindo.

Um pânico tomando cada voz
E o quanto ainda se ousa logo após
Ao restaurar apenas o vazio,

Dos ermos mais audazes ou sutis,
O fato na verdade contradiz
E o espúrio navegante, desafio.

676

Em flóreas ilusões a vida traça
O marco mais audaz e sem proveito,
E quando na verdade nada aceito
A sorte se desenha em vã fumaça;

Ao mesmo tempo o todo dita e passa
Gerando o quanto pude contrafeito,
Mergulho neste instante e me deleito
Tentando onde não há a mera graça.

Caminhos mais diversos dizem tanto
Do pânico gerado em desencanto
Amordaçando sempre o pensamento.

A imagem mais atroz do desvalido
Não faz, tenho certeza, algum sentido
Embora em direção diversa, eu tento.

677

No imenso caminhar em noite vaga
A luta prosseguindo nega a paz
E o quanto poderia ser capaz
Apenas no vazio tudo draga,

A marca penetrante desta adaga,
Engodo com certeza contumaz,
O mar aonde o prazo não se faz
Meu pensamento além tenta e divaga.

Escolto-me nos erros e presumo
A sorte sem defesas, mero sumo
Aonde mergulhasse em tom inerte

Meu mundo sem sentido ou direção
Esgota neste imenso turbilhão
E o canto em tom sombrio se converte.


678


Aonde consagrasse algum caminho
Na busca pelo quanto ainda resta
Imagem distorcida nunca atesta
O quanto poderia além do espinho.

O mundo se moldando tão mesquinho
A luta em tom sombrio é desonesta
E o todo noutro engodo tenta a fresta
E nela se avizinha o mero ninho.

Isolo-me decerto e desta forma
O canto quando muito mal informa
O passo que jamais houvera dado,

Assíduo sonhador, por ser poeta
A vida noutra vida não completa
E o tempo num fastio, desolado.

679

Gementes ilusões, toscos ditames
E nada mais pudera acrescentar
Quem tanto quis da sorte o desenhar
E nisto novos erros, teus enxames

Ainda quando muito busques, clames
O passo num disfarce a modular
O quanto poderia me entranhar
Gerando do vazio tais reclames.

Os antros onde a súcia se escondia
No submundo asqueroso, a poesia
Expressa a dimensão desta impudência

E o fato de saber ou não só rege
A tez mais obsoleta de um herege
Distante do que fora consciência.

680

Um denso nevoeiro em noite amarga
Expressa a realidade que vivemos,
A via se perdendo sem os remos
Apenas o caminho em vão se alarga.

A voz já sem sentido algum se embarga
E aos poucos novos sonhos que queremos
Desenham tão somente toscos demos
Mal suportando a sorte em dura carga.

Arcaico caminhante do não ser
Ainda que pudesse amanhecer
No ousado caminhar em vasta fonte.

Sem nada que pudesse traduzir
Meu mundo se aproxima e sem sentir
Somente a cada engano desaponte.

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