domingo, 28 de novembro de 2010

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51341

Após este momento em dor e tédio
O manto se desnuda e mostra a face
Atroz de quem deveras sonegasse
À vida qualquer tom, sonho e remédio
E quando no final a vida traça
Apenas a mortalha que me veste
Ao sonho mais feliz, ao passo agreste
A luta noutra senda, mais devassa;
Demônios que cultivo e bebo a vã
Figura desvendada de um Satã
Aonde o meu caminho se entranhara
Gestando deste inferno o quanto pude
Marcando com temor cada atitude
Traçando a dor constante, a chaga, a escara.

51342

Da volumosa copa da esperança
Apenas um momento e nunca mais,
Os dias adentrando meus umbrais
A voz sem mais valia agora avança
E o templo na verdade dita a lança
E gera tão somente os vendavais
E nisto poderia onde jamais
Houvesse no final a temperança,
Ainda que pudesse ser escasso
O sonho noutro rumo tento e traço
Marcando com temor o que virá,
A morte redimindo cada engano
E o tempo do vazio soberano
Ao fim de certo prazo negará.

51343

A déia desejada não viria
E o corte na raiz mata a esperança
Enquanto no vazio a vida lança
O pouco que redime em fantasia,
A sorte se desdenha a cada dia
E nisto nada trama em aliança
A morte sonegando esta lembrança
Aonde nem encanto ainda havia.
Jazendo no sombrio tom brumoso
Enquanto se pudesse caprichoso
O passo se desnuda sem sentido,
E o quanto ainda possa na verdade
Somente noutro passo me degrade
E nisto sigo aquém e dividido.

51344

Sinceramente vejo o quanto é rude
O passo sem sentido e direção
As horas não trariam dimensão
Do quanto poderia e desilude,
A sorte desnudando a juventude
Os olhos com certeza não verão
O quanto desejara em teu verão
E sei do meu caminho em plenitude,
No canto sem sentido, no vazio,
Ainda quando possa eu desafio
Os ermos de minha alma mais tenaz,
E o corte se aproxima da raiz
Vivendo o que deveras tanto quis
A vida noutra face se desfaz.

51345

Fervilha dentro da alma esta esperança
E o canto sem sentido e nem alento
Traçando tão somente o sofrimento
E o passo na verdade sempre cansa,
Buscando nas entranhas da lembrança
O mundo se mostrara em tal tormento
E quando alguma luz inda fomento
O medo nega ao fim qualquer fiança;
Cadenciando o passo nada vem,
Somente o mesmo caos, ledo desdém
E o fato de sonhar já nada ajuda
A luta se desenha em tom atroz
A morte me rondando traz a foz
Em dor mais lancinante, audaz e aguda.

51346

Humanidade aonde existe a fome?
Não posso nem sonhar sendo disforme
Cenário aonde o todo não conforme
E tudo multiplica e tudo some,
Aonde na verdade o fim se tome
E gere o quanto pude noutro enorme
Caminho sem o que tanto deforme
É fera que jamais o mundo dome,
Espero pelo menos um descanso
E quando no final já não avanço
Esbarro nos meus passos e tropeço,
Ao quanto poderia ter acesso
Somente a mera imagem distorcida
Do que pensara ser serena vida.

51347

O mundo se aproxima do final
E o ocaso toma conta do horizonte
Aonde no vazio o sonho aponte
Marcando cada dia mais venal
Ousasse caminhar e bem ou mal
Ainda se tentasse em nova fonte
O quanto na verdade desaponte
E marque com audácia um ritual,
Esqueço o que pudera apaziguar
E sei do meu inútil caminhar
Nos ermos de minha alma sem proveito
E quando porventura a sorte muda,
A luta se mostrara e sem ajuda
Apenas neste canto atroz me deito.

51348

Um dia quando jovem eu pensara
Num tempo onde a justiça se veria
A noite na verdade segue fria
E a lua não se fez ainda clara,
somente esta ferida, enorme escara
Aonde outro caminho eu aferia
Marcando em total desarmonia
A solidão que agora se escancara,
O que restara enfim? Nada me traz
Sequer o que pudesse crer em paz
Mortalhas espalhando pela casa,
Do verbo desejar nada mais resta
A sorte do não ser hoje se infesta
E a poesia aquém já se defasa.

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Aprendo com meus erros e sei bem
O todo sem sentido e sem razão
E o mundo noutro ermos direção
Deveras com certeza já não tem,
Aonde desejara ter alguém
A face desta escusa solidão
Negando a mais sublime plantação
A sorte se traduz nalgum desdém,
e o manto se transforma em medo e tédio
Encanto não seria este remédio
Nem mesmo ainda aplaque o quanto trago,
Dos sonhos de uma vida bem melhor
Restando tão somente o vão suor
O tempo não negara um só estrago.

51350

Não sou e nem serei um super-homem
Poderes? Não levanto um pedregulho
E quanto do vazio onde mergulho
Traduz os dias tolos que consomem
Meus passos onde nada mais os domem,
E nisto se consiste o meu orgulho,
E sendo tão somente um vago entulho
Os passos entre tantos nada somem,
Acordo dentro em mim cada demônio
E sei que este será meu patrimônio
Gerado pelo ocaso e nada mais,
Depois de morto apenas podridão,
E assim na mais vazia proporção
Os ermos de meus passos “siderais”.

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