segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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481

Tempestuosa sorte
Traduz o quanto resta
Do tanto ainda em festa
E nada mais comporte
Senão qualquer suporte
Ou mesmo a mais funesta
Imagem que me atesta
A luta sem aporte,
Expresso outro caminho
E quando me avizinho
Do fim já não consigo
Viver o quanto pude
Nem mesmo em atitude
Audaz em desabrigo.

482

Escrevo além do canto
Encanto onde tivera
Uma expressão que dera
A vida o seu encanto,
Apenas não garanto
O quanto desespera
A vida mais austera
O medo onde agiganto
Errático cometa
Aonde se arremeta
Mentiras coletando,
O prazo determina
A luta cristalina
E o tempo em ledo bando.

483

Janela sempre aberta
Dos sonhos e tentasse
Viver sem mais impasse
Aonde o tempo alerta
A vida me deserta
E gera o que moldasse
Na sombra que se trace
A velha descoberta
Espero algum alento
E teimo enquanto tento
Vencer o que inda resta
Do medo ou sortilégio
A morte em tom mais régio
Expressa a tosca festa.

484

Canetas entre os dedos
Olhares sem saber
O quanto possa ver
Além destes segredos,
Os dias em tais medos
O canto a perceber
Rastreia amanhecer
E sabe os sonhos ledos,
Enredos variados
Os dias demarcados
Os dados sobre a mesa
A vida sem surpresa
A presa dos meus sonhos
O mundo em harmonia?
Nem mesmo poderia
Em dias tão medonhos.

485

Abrir venezianas
E crer no imenso sol,
Tomando este arrebol
Em luzes soberanas,
Mas quando logo danas
E tento algum farol
Amor vibrando em prol
Enquanto aquém explanas
As horas mais sombrias
E nelas me trarias
Apenas o sinal
Demônios dentro da alma
A fúria não se acalma
E gera o meu final.

486


Levado para além
Do quanto quis e trago
A vida sem afago
O mundo sem um bem,
O todo diz de alguém
Enquanto em vão divago
E bebo enquanto alago
Meu passo em tal desdém,
Refém da fantasia
Aonde poderia
Vencer o que não pude,
O tempo se desenha
Diverso do que tenha
Em tom amargo e rude.

487


Em filigrana o sonho
Expressa o que não veio
E o tempo sem receio
Ainda em vão proponho
E quando enfim me oponho
O tanto sigo alheio
E o vago mar rodeio
Num ar triste e bisonho,
Marcando a minha voz
Cevando a dura foz
Algoz de quem seria
Além de meramente
O todo se apresente
Em tom de hipocrisia.

488

O sol em luz suave
Adentra esta janela
E quando se revela
Além de algum entrave
A sorte feita em ave
Aos poucos rompe a cela
E o mundo então se atrela
Etérea e frágil nave,
A poesia traz
O quanto mais audaz
Pudesse ser o sonho,
Expondo realidade
O tanto que me invade
Expressa o que proponho.


489

Deserta sensação
Da página que em branco
Trouxesse o quanto é franco
O tempo em negação,
As horas me trarão
O dia em tal barranco
E o quanto ainda arranco
Expressa a direção,
Esgarço em verso e vejo
Apenas o desejo
Sem nexo e num fastio
Enquanto bebo a vida
A luta desprovida
Esconde o que não crio.

51490

Um Deus paisagista
Pudesse imaginar
Beleza que sem par
Olhar jamais assista
E o tempo, velho artista
Ao quanto emoldurar
O todo em tal lugar
Traçando o que se avista
Resumo em verso e sonho
O quanto te proponho
E nunca tu virás,
Mas sei do quanto é falho
E nada mais eu valho
Apenas vão, mordaz.

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