sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

51721/30

721

Não tento e não pudera ser assim,
Meu verso se perdera em luta e medo,
E quando no final eu me concedo
Presenciando quieto o ledo fim.

O mundo se desenha e traz a mim
O tanto quanto pude noutro enredo
E o vago caminhar dita o segredo,
Já nada mais resiste, morro enfim.

As turbulentas águas deste rio,
Aonde o meu momento eu desafio
Tentando nova ponte ou travessia.

A foz se aproximando, a correnteza
Minha alma da esperança mera presa
Aos poucos sem defesas se perdia.

722

No quanto tanta vida poderia
Traçar qualquer momento após a luta
E o verso se desenha em força bruta
Matando o quanto resta em sintonia,

Ausente de um olhar a fantasia
Gerada pelo engano, sempre astuta,
O grito sem descanso não se escuta
Somente a noite nua, vã, sombria.

Ocasos dentre tantos que comigo
Carrego enquanto ao sonho desabrigo
Ouvindo este tormento sem sentido,

O mundo se desenha em tom venal
Vagando por cenário desigual,
Meu canto sem destino, o dilapido.


723

Não mais comportaria uma esperança
O caos tomando conta, nada resta
Somente a mesma imagem desonesta
E nela o meu passado em vão se lança,

A face mais atroz nega a mudança
Tampouco alguma luz ao fim atesta,
No quanto poderia e nada presta
A morte se gerando em temperança.

Poupando meus enganos, erros tais
Espalho o velho canto e tu me trais
Negando melhor sorte a quem se dera,

Depois de certo tempo, nada tendo,
Dos sonhos tão somente algum remendo
Alimentando em mim a rude espera.


724


Já não comportaria outra saída
Nem mesmo algum sinal em redenção,
O tempo se moldando desde então
A luta noutra face desprovida,

E quanto mais se quer já se duvida
Dos dias mais diversos que virão,
Apresentando a mesma direção
Na face sem sequer qualquer medida.

Um ato em tantas dores, medos, sortes
E nestes antros todos, não comportes
Além da mera história em fantasia.

O canto sem final e sem emenda,
A luta na verdade não atenda
Nem mesmo o que minha alma inda queria.

725

Espero qualquer dia em novo rito
Um mar aonde o nada pude ver,
Desdenha cada instante o amanhecer
E nele novamente necessito,

O pranto traduzindo enquanto grito
Vestígios de minha alma a se perder,
No caos aonde tento perceber
O mundo num cenário mais bonito.

O resto dos meus dias? Solidão...
A luta com tamanha imprecisão
Presume o que talvez não fosse minha

Aposso-me do quanto poderia
E nisto se desenha em rebeldia
O corte quando o nada se adivinha.

726

A marca destas garras, minha pele,
O tempo dita o tanto quanto pude
Sabendo ser alheia a juventude
Ao nada cada engano me compele,

Vestindo o que deveras nos repele
E gera o quanto possa mesmo rude
Necessitando sempre da atitude
E nela o que pudesse sempre sele.

Acossam-me vontades desiguais
E os dias repetindo rituais
Expressam tão feroz melancolia,

Aprendo com meus erros, cortes, medos
E sei dos meus anseios e degredos
Deixando no caminho a poesia.


727

Itinerários vários, noite afora
O marco mais audaz pudesse ver
Ainda quanto tento esvaecer
O risco a cada instante mais se aflora,

Meu mundo se desdenha desde agora
E tendo tão somente o que verter
Nas ânsias de um vazio entorpecer
O prazo determina e comemora.

A luta sem descanso, o manso rio,
O passo aonde o todo eu desafio
E gero dentro da alma a solidez.

Negar esta evidente sensação
Tramando sem sentido a direção
Diversa da que tanto agora vês.


728

Já não mais pude ver qualquer alento
E nisto o que se fez não mais traria
Sequer o quanto posso em agonia
Bebendo além do mero e tosco vento.

E quando novo rumo em paz invento,
A noite se aproxima mais sombria,
A luta se desenha e sempre guia
Meu passo num vazio em vão tormento.

Cerzir com teias leves o meu sonho,
Traçando o que decerto inda componho
Tentando noutro fato a claridade,

Ainda quando possa ser diverso
Ousando ter meu mundo mais disperso
Sabendo o quanto disto desagrade.


729

São frágeis os caminhos de quem sonha,
A luta não sossega um só segundo
E quando nos meus erros me aprofundo
O todo se transforma em voz medonha,

Ainda que deveras me proponha
Seguindo o quanto pude neste imundo
Cenário sem certeza, ledo mundo,
Derrota sem batalhas envergonha.

E o prazo se findando nada deixa
Somente o mesmo olhar em turva queixa
Gerado pelo fato do não ser.

E mesmo sendo assim, um ledo cão,
A sorte se desenha em solidão,
E nega o quanto possa renascer.

51730

Alheio ao que inda pude no passado
Seguindo os descaminhos mais audazes,
E quando novos dias tu me trazes
O rumo noutro passo desdenhado,

A sorte me acompanha e se a degrado
Esqueço cada luta aonde fazes
Das dores tão somente novas fases
Tentando adivinhar sobejo prado.

Escusas não resolvem, nem mais quero
Além do que pudesse mesmo fero
Trazer a dimensão real da vida,

Sem nexo sem juízo em descaminho,
Sabendo ser deveras mais daninho,
Mortalha sobre a pele já tecida.

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