Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
ALEXANDRE O'NEIL
1
“Abraçados contra a morte.”
Nada impede a caminhada
De quem tanto ou quase nada
Transforma a dor em norte
Tendo a lua que conforte
Nesta senda desvendada
Ao sentir nova alvorada
Percebendo rara sorte
Entranhando com fervor
A batalha em dor e amor
Na seara prometida
Faz valer sua esperança
E decerto agora alcança
A razão pra própria vida.
2
“Ao silêncio dos amantes “
Nada impede amanhecer
E deveras passo a ver
Em momentos deslumbrantes
Quando tanto te agigantes
Mergulhada no prazer
E singrando o alvorecer
Noutras sendas por instantes
Permitindo a rara luz
Que em silêncio reproduz
A emoção de cada fato,
E nas tantas maravilhas
Superando as armadilhas
Neste encanto eu me retrato.
3
“Aonde a noite é mais forte, "
Poderia crer no sol
Dominando este arrebol
Com calor que ora conforte
Caminheiro desta noite
Entre trevas e bodegas
Se decerto tu navegas
Onde a morte sempre acoite
Solidão? Já não concebes
E também a luz se farta
Na verdade não descarta
A ternura destas sebes
E recebes com furor
Este sol, pleno calor...
4
“Palavras que nos transportam "
Pelo tempo em tal tormenta
Ou por certo me apascenta
Noutros tantos já confortam
E se tanto assim comportam
Não se mostra a violenta
Caminhada desalenta
E tampouco já se importam
Navegantes do vazio
Onde etéreo algum estio
Nas entranhas do não ser,
Bebo a me fartar a luz
Quando a mesma me conduz
Às entranhas do prazer.
5
“No papel abandonado”
Na incerteza de um futuro
Muitas vezes me procuro
Por distante e turvo prado,
Nada além de uma ilusão
Nada aquém da realidade
Cada passo que degrade
Disfarçando a solução
Resenhas do dia a dia
Mortalha do meu presente
Sem ter nada que apascente
Se prevendo esta sangria
Desvairada sorte aonde
O meu peito em vão se esconde...
6
“No mármore distraído”
Nas estâncias mais fugazes
Quando ainda em paz tu trazes
As lembranças esquecido
Perseguindo em disparada
O que tanto desejara
Perfilando a sorte amara
Vislumbrando o mesmo nada
Onde tanto procurei
Outra sanha bem diversa
E deveras vida versa
Transformando a antiga lei
Derrocada? Não conheço,
Venço assim todo tropeço.
7
“Letra a letra revelado”
Caminhar em noite escusa
E se a sorte sempre abusa
Dos descasos do passado
Candidez já se permite
A quem tanto desenhara
Com ternura a manhã clara
E sabendo sem limite
Os amantes, noite afora
Neste tanto em que se vê
A beleza tem por que
Toda a glória enfim se aflora
Dominando a poesia
E decerto a fantasia...
8
“Pois o nome de quem se ama”
Desvendado em tanto brilho
Se me entranho e maravilho
Vou mantendo assim a chama
Decorando cada passo
Rumo ao tanto em que me dava
Sem servil sem ser escrava
A minha alma agora traço
Andarilha em rumo incerto
Navegante do futuro
Dos prazeres me asseguro
Do terror eu me deserto
Nada faço além do quanto
Resistindo ainda canto.
9
“Como a poesia, amor”
Transportando num momento
Leva livre o pensamento
Para onde ainda for
Transformando o dia a dia
Nada deixa para trás
E se for bem mais audaz
Novo mundo então se cria
Nas benesses desse sonho
Nas entranhas da emoção
Transcorrendo em direção
Ao que possa ser risonho
Versos de amores que eu faço
Ocupando cada espaço.
10
“Esperada, inesperada”
Sorte dita esta palavra
E a verdade já se lavra
Onde há tanto disse o nada
Vou vertendo em verso apenas
O que tanto se fez claro
E decerto se declaro
Busco noites mais serenas
Em verdade ditas rumos
Bem dispersos, mesmo assim
Caminhando até o fim
Nos meus olhos mansos fumos
Esperanças são fugazes
Como os dias que me trazes.
11
“Entre palavras sem cor”
Rumos; tão diversos, vejo
E se tanto o meu desejo
Diz da senda em medo ou flor
Não podendo contra o medo
Nem tampouco contra a sina
A minha alma se alucina
Sob a fúria de um degredo
Jazigo da sorte eu trago
Nas entranhas mais sutis
E se canto ou se desdiz
O que tanto fora afago,
Das estâncias do passado,
Nem sequer um som ou brado.
12
“De repente coloridas "
As palavras que ora dizem
O que tanto contradizem
Muitas vezes nossas vidas
Não pudesse ter certeza
Nem tampouco mais queria
Viver sempre esta agonia
Da alegria tola presa
Caça feita em dores fartas
Podridão já se aproxima
Modifica todo o clima
E deveras, pois descartas
Todo o sonho que inda houvera
Na distante primavera...
13
“Aos muros do teu desgosto”
Nada podem os meus cantos
E se fazem tais quebrantos
O caminho não exposto
Transcendendo ao próprio ser
Num diverso itinerário
Quando o tempo é necessário
E descreve sem prazer
A mortalha em que se vê
O que tanto soneguei
Sem saber de regra ou lei
Já não tendo mais por que
Morte apenas se desfia
Nesta ausente alegoria.
14
“Palavras que se recusam”
Nada trazem nem se vêm
Muitas vezes são aquém
Do que tanto reproduzam
E se o canto fosse feito
De maneira mais sutil,
O que tanto se previu
Noutro tanto já desfeito
Não traria solução
Nem tampouco leve rumo
E se tanto me acostumo
Noutros tantos que virão
Aversão ao que se tanto
Desejara sem quebranto.
15
“Quando a noite perde o rosto
Noutra luz, intenso sol,
Mergulhando um caracol
Neste tanto ou quase exposto
Perseguindo cada sombra
Que encontrara a madrugada
Sendo assim do quanto em nada
O que resta nos assombra
E transcende ao próprio quando
Prometendo e não cumprindo
O que outrora fora infindo
Já percebo me tomando
No calor de um novo tempo
Outro tanto em contratempo.
16
“Palavras nuas que beijas”
Onde outrora fora fato
O que tanto ora retrato
Em palavras mais andejas
Sendo alheio ao caminhar
Tendo exposta minha lavra
Cada tom dita a palavra
Num diverso versejar
Esgarçando algum sentido
Realçando novo além
Muitas vezes não contém
O meu canto pressentido
E se o quanto não se fez
Interrogo a lucidez...
17
“Deste amor louca esperança”
Rege o quanto ainda trama
Na diversa intensa chama
Onde o tanto já se lança
Permitindo a revoada
Do caminho em que disperso
Cada força de outro verso
Na certeza ora somada
Às dispersas que encontrara
Pela senda mais profana
A palavra não engana
E por vezes escancara
O portal ora trancado
Dos meus dias, meu legado.
18
“Como se tivessem boca”
Nos tocando num delírio
Profanando algum martírio
Sorte tanto quando à loca
Transmitindo em viva voz
A versão mais condoída
Transformando qualquer vida
Reatando velhos nós
Servidão não mais se crendo
Nem tampouco poderia
Na palavra com magia
Não se vê qualquer adendo
E sei quanto se cultiva
A palavra estando viva.
19
“Há palavras que nos beijam”
Outras tantas que me ignoram
E se tanto quanto afloram
Na verdade não desejam
Muito quanto poderia
Tanto quando não pudesse
A verdade se oferece
E transcorre noite em dia
Quantas vezes cri no fato
Mais além do tanto ou pouco
E se tanto me treslouco
Na palavra eu me retrato
Vou cevando em verso a vida
Na palavra a lavra urdida...
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