quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Agora dominando o pensamento
E quando deste sonho eu me alimento
A vida preparando uma rasteira,
Ainda que esperança tente e queira
Restando tão somente o desalento
E aos poucos o vazio experimento
A sorte se desenha traiçoeira.
Um sonho e nada mais, eis a verdade,
Aonde se pensou felicidade
O caos se aproximando dita o fim;
Depois de certo tempo nada tenho
E quando me restara o ledo empenho
Meu canto se distando então de mim.

Sozinho sem saber de algum descanso,
Alado coração procura a paz,
E nada se desenha aonde jaz
O que pudera ser e não alcanço,
Depois de tanto tempo quando avanço
Olhando para a cena mais mordaz
O tempo se anuncia e nada traz
Sequer o que pudesse num remanso.
Apenas aprendendo com a queda
Aonde o desengano que envereda
Expressa tão somente a solidão.
Do tanto que pudera nada vejo,
A vida se perdendo noutro ensejo
Inverna o que pudesse ser verão.

No quanto poderia ser além
Do medo e da vontade de se ter
A sorte desenhada em tal prazer
Enquanto sei que o nada sempre vem,

Ousasse acreditar, mas tal desdém
Ainda que pudesse me conter
Gerando o quanto pude perceber
Após cada momento sem ninguém;

Numa expressão diversa o sonho dita
A luta que pudera e já finita
Expressa a solidão de quem sonhara,

Ainda sendo escassa a sorte em nós
O tempo se transforma e desta foz,
Apenas o vazio se escancara.


Um gole de esperança me inebria
E vence cada engano aonde a sorte
Sem ter sequer um canto que suporte
Gerando esta amargura em agonia,

Vencer o que pudera e não viria,
Ainda se desenha em rumo norte
O quanto se prepara em ledo corte
Matando o quanto houvera em poesia,

Resplandecente lua após o sonho,
E gera dentro da alma o que proponho
Ousando num instante magistral,.

Ainda que pudesse ser diverso
Ao todo sem sentido ou medo verso,
E bebo deste instante sem igual.

Um gole de aguardente, um sonho a mais
As noites se perdendo em frio e medo,
E quando no final nada concedo,
As horas se desenham tão venais,
Pudesse desenhar ocasionais
Caminhos onde tento algum segredo,
Ao fim de tudo apenas me degredo
E bebo destes rumos desiguais,
Assisto à derrocada e nada sobra
Somente este caminho em leda dobra
E esta incerteza dita o meu futuro,
Apresentando apenas o não ser,
Marcando o que pudera amanhecer,
O tempo permanece mais escuro.




6


Um único momento após a queda
A luta se desenha sem proveito
E quando no final a vida em pleito
No passo mais temido se envereda,
A sorte se previne enquanto seda
Marcando cada sonho de algum jeito
Diverso do que pude e quando aceito,
A morte com desejo a sorte veda.
Expresso noutro rumo o quanto pude
E sei que no final sendo mais rude,
Apenas o vazio se apresenta,
No caos onde se torna o dia a dia,
O pouco que decerto inda teria,
Gerando esta vontade mais sangrenta.


7


Reúno no final em grande abada
As flores que colheste no jardim,
Vivendo o quanto resta para mim,
Depois de certo tempo sobra nada,

A vida em avidez, numa alvorada
Traduz cada momento de onde eu vim,
Vagando sem sentido chega ao fim,
E molda com certeza a que degrada,

Cerzindo dos meus erros outros tais,
Momentos entre errôneos, desiguais
Ascendo ao que pudesse sem sentido,

E quando me aproximo de algum ermo,
O todo se desenha e traz o termo
Dos sonhos onde o canto eu dilapido.

8


Além do que pudera este abelhal
Trazendo raro mel,em cera e sonho,
Depois de cada passo mais risonho,
A vida se desenha bem ou mal,
O tanto que pudera magistral
Agora só traduz o sol bisonho,
E nisto novo rumo enfim proponho
Vagando sem sentido irracional.
Meu tempo noutro engodo se desdenha
E o quanto a própria vida desempenha
Sentido mais diverso em medo e fúria,
Depois de cada passo sem porvir,
O tempo se aproxima e ao resumir
A luta se desenha em vã lamúria.

9


Tumulto neste imenso abigarrado
O peso de uma sorte se apresenta
E sabe da verdade mais sangrenta
Enquanto sem sentido teimo e brado,

O verso noutro tom anunciado,
A lida com certeza violenta
Quem sabe do que tanto nos contenta
Ou mesmo dita após somente enfado.

Fraternos dias ficam para trás
E o tempo se desenha enquanto traz
Vacante sensação pudesse além,

Depois de certo tempo a queda vem
E deixa algum momento aonde audaz
Pudesse na verdade em novo bem.


10


Açangalhadas torpes tais imagens
E nelas o que possa traduzir
O engodo a cada instante no porvir
Gerando sem sentido tais miragens,

E quando na verdade as paisagens
Expressam o que possa e sei que ao vir
Trouxesse tão somente a confundir
Momentos noutros ermos, engrenagens,

Apresentando ao fim qualquer momento
Enquanto com certeza eu já lamento
Os erros de quem busca outro caminho,

Em tantas garatujas desenhado,
O sonho noutro enfado desabado,
Trazendo o quanto pude ser daninho.


11



A lua se desenha imensa e plena
Tornando este cenário inesquecível
O tempo noutro tempo perecível
A vida tantas vezes me serena,
A sorte em discordância me condena
E o manto se moldara mais incrível
Momento mais feliz onde é plausível
O quanto com certeza o sonho acena,
Depois de cada instante em novo rumo,
Aos poucos com certeza eu me acostumo
E gesto uma esperança mais sutil,
Depois no amanhecer imenso sol,
Trazendo em meu olhar este farol
Que o tempo noutra etapa já previu.


12

Ainda que pudesse te esquecer
Já não seria tudo como fora,
A sorte tantas vezes redentora
Agora noutra cena passo a ver
Meu mundo neste imenso bem querer
Imagem tantas vezes sonhadora,
Pudesse na verdade em promissora
Vontade de sonhar e de te ter,
A vida não traduz felicidade
E o quanto deste passo nos degrade
Marcando com ternura e mesmo assim,
Gerando outro momento após o cais,
Enfrento dias tortos desiguais
E vivo esta esperança até o fim.

13

Ao te encontrar de novo, minha amiga
Depois de tanto tempo sem saber
Do quanto poderia te querer
E nisto o meu caminho em paz se abriga,
A sorte desenhada aonde irriga
A luta se aproxima e sei perder,
Mas quanto deste sonho eu pude ver
Marcando a mesma história mais antiga,
Insumos expressando esta verdade
E o manto se desenha em realidade
Vestindo uma ilusão apenas isso,
E quando no final já não se vira
Sequer o quanto resta em tal mentira
Deixando para trás o que cobiço.


14


Negando qualquer passo rumo ao farto,
Sabendo quantas vezes na distância
A vida se mostrara em arrogância
E assim cada momento em vão reparto,
O mundo se desenha além do quarto
E bebo do que possa em militância
Vencendo o que tentara noutra instância,
Gerando outro momento onde o comparto,
Apresentando apenas o tormento
E vaga com terror o quanto eu tento
Seguindo cada passo em volta ao sonho,
Depois de novo engodo, nada trago,
E quando me procuro; sem afago
Não trago nem sequer o que proponho



15

Arcando com enganos, sigo além
E o preço a se pagar em tanto juro
A vida na verdade assim depuro
E trago o que deveras nunca vem,
Do tempo desenhado em tal desdém
O corte se anuncia e me asseguro
Vagando sobre o solo amargo e escuro
E sei deste vazio aonde o tem.
Negar o que pudesse ser diverso
E quando na verdade busco e verso
Encontro com firmeza outro cenário,
A luta se apresenta simplesmente
Gerando o que deveras tanto mente
Cursando outro caminho imaginário.

16


Expectativas tantas dita a vida
E gera a cada engano um novo igual
E o prazo se desenha no final,
A sorte deste rumo desprovida,
Legando o que pudera e não duvida,
A senda noutro encanto desigual
Marcando cada passo em rumo tal
A luta tanta vez embevecida,
A senda mais amarga dita o quando
O todo no final vai desabando
E o medo não se traz sequer um dia
Memórias tão diversas do abandono
E quando no final o sonho eu clono
Marcando o que decerto não veria.

17


Ao enfrentar o todo noutra cena,
A luta não se mostra após o cais
E os dias entre tantos desiguais
À morte a fantasia nos condena,
E quando no final o tempo acena
Gerando outros momentos divinais,
Ausente do que possa ou muito mais,
Trazendo com certeza a luta plena.
Mecânicas diversas na engrenagem
A vida não respeita esta barragem
Abrindo estas comportas, tudo inunda,
Uma alma sem razão e sem remédio
Trapaças transformando em ledo tédio
Minha alma segue alheia; nauseabunda.


18

Meu mundo se aproxima do final
E o canto se desenha aonde um dia
O tempo noutro engano sentiria
Vencendo outro momento desigual,
Ao menos poderia bem ou mal
Traçar o quanto pude em fantasia
Marcando sem temor esta agonia
Vestindo o mesmo caos irracional,
Alheio aos meus anseios mais sutis
Pudera acreditar e mesmo quis
Trazendo a tempestade para nós,
O tempo se aproxima do vazio
E quando no final eu desafio
Meu mundo se apresenta mais atroz.

19

A dona dos meus sonhos, mensageira
Do canto mais feliz que inda escutasse
A vida se desenha em ledo impasse
E traça muito mais do que se queira,
Vencendo esta incerteza, a derradeira
Enquanto o descaminho, a sorte trace
O medo anunciando o que vogasse
Gerando no vazio esta bandeira,
Aprendo com enganos, sei tão bem
Do quanto na verdade nada tem
Marcando com firmeza algum rebote
Assim o meu caminho se perfila
Trazendo no final a mesma argila
Da qual a criação já se denote.

20


Saudades deste tempo que não volta
A luta entre o querer e o prosseguir,
A senda mais gostosa a redimir
O quanto o coração dita em revolta,
E sei desta emoção que a sorte solta
E vago sem caminho a resumir
O pranto noutro canto a se cerzir,
A dor superaria alguma escolta,
E o preço a se pagar pela esperança
Somente quando o mundo agora cansa
Trazendo outro momento consoante
Destarte nada tenho do passado
E enquanto no final, em fúria eu brado
A vida noutro ocaso não garante.

21

A velha jardineira já cansada
Da sorte em tal desdita em aridez
Aonde cada estio ora desfez
Enquanto o descaminho sempre brada,
A rosa noutro canto cultivada,
O passo que em total insensatez
Gerasse no caminho o que não vês
Marcando desde início cada estrada,
A morte se aproxima do quintal
Canteiros da esperança não resistem,
E quando noutro rumo ainda insistem,
Os olhos entre tantos; ar venal,
Alheia ao que pudesse em primavera
Apenas sua morte, enfim espera,

22

O quanto que faria para ter
Comigo o teu amor e nada vinha,
Somente a mesma sombra tão mesquinha
Ditame do que vejo em desprazer,
Apenas na vontade de colher
A sorte que pudera ser tão minha
Agora rapineira se avizinha
Do medo que concebo a me perder,
No cais se desenhando após a queda
O passo sem saber já se envereda
E marca cada engano de outra forma,
E assim ao me sentir sem mais proveito
O quanto desenhar ainda aceito
E o tempo contra todos me deforma.

23


Soneto que se faz sempre formal
Também desenha versos mais sutis,
E quando se falasse de um nariz
Gregório se mostrara magistral,
Assim noutro momento sem igual
A sorte se deixando por um triz
Vespeiro cutucasse esta infeliz
Traçando outro momento tal e qual,
Assim um marimbondo no vestido
Fazendo uma arruaça sem sentido
E quando se pressente este acidente
Momento em discordância se gerando
Aos poucos o bichinho penetrando
Coitado, no final imprevidente...

24

Vestindo esta vontade que se dera
Trazendo no final novo cenário
O tanto quanto fora imaginário
Traçando no futuro esta quimera
E assim a própria vida destempera
Marcando com temor o itinerário
Mudando com certeza este fadário
Aonde o meu caminho degenera,
A moça na verdade me assegura
Serpente é tentadora e traz no bote
O quanto com certeza enfim derrote
E trama no final em picadura
Veneno mais sutil tão enganoso
Gerando em desespero o pleno gozo.


25

Maria que em rabada faz a festa
A bela cozinheira de além mar
Pudesse noutro rumo navegar
Ousando penetrar em qualquer fresta
Assim neste cozido já se empresta
E traz o que pudera imaginar
Traçando quanto pude navegar
Atravessando então toda a floresta
Deixando para trás o frio e o gelo
Agora cozinhando um raro grelo
Marcante como fosse sem igual
Audaciosamente se promete
E neste caminhar já se arremete
Moldando este cenário magistral.

26


Aprendo com meus erros e percebo
A vida nesta anfíbia sensação
Ousando muito além e desde então
Aonde com ternura já recebo
O mundo se desenha e do placebo
Encontro com certeza a solução
Dos dias que decerto mostrarão
Somente o quanto quero e até recebo,
Marcando cada passo de tal forma
A vida na verdade nos informa
Do quanto poderia e mesmo assim
Depois de certo tempo nada vindo
O canto noutra cena fora infindo
E agora vejo apenas neste fim.

27

Legados tão diversos desta sorte
Marcando com profunda sensação
Engano após o prazo diz do não
Que sei jamais pudera e não conforte,
Alheio ao que viera em novo corte
Sem ter sequer os dias que verão
Após a mesma amarga solidão,
O quanto na verdade dita o norte,
A luta se desenha sem sentido
E quando do meu canto agora olvido
Presumo o que viria e não tive
Assoberbado passo rumo ao nada
Desenho no final a velha estrada
Enquanto nada mais tenho ou contive.

28


Usando da expressão que enfim sanasse
O errático momento em caos e medo,
E quando no final assim procedo
Fortuna desenhando um novo impasse
Enquanto esta verdade o tempo trace
Marcando sem denodo este segredo,
Presumo o que puder e se procedo
O corte a cada engano se tramasse,
Pressinto o fim do jogo, mas procuro
Um porto que seria mais seguro
Usando da palavra em sanidade,
Ainda quando pude conceber
Beleza sem igual domina o ser
Enquanto a fantasia agora invade.

29


Bebesse cada gole da esperança
Primando pelo sonho mais sutil,
Depois do que em verdade se reviu
Meu mundo se gerasse insegurança
Ainda que pudesse em tal fiança
Falar em tom suave e mais gentil,
Resulto do que outrora não se viu
E a vida sem proveito ao nada lança
Escudos; proteção, só resta o frio
O meu olhar medonho e mais esguio
O caos se transformando em corriqueiro,
Ascendo ao meu demônio e não domino
Tornando sem valia o meu destino,
Aonde a cada engodo ao fim me esgueiro.

30

Diversas emoções a vida traz
E nesse desenhar a queda eclode
E o mundo se aproxima e mais que pode
Meu passo se desdenha vão, mordaz,

No quanto poderia em plena paz
O tempo a cada instante gire e rode
Marcando com a fúria o quanto explode
Ousando o que pudera ser capaz,

Negar o suprimento da esperança
Aonde nem o brilho mais alcança
Grassando sobre o nada que inda vejo,

Ainda sem destino, sigo em vão
A vida se repete em novo não,
E o prazo se presume em ledo ensejo.


31


“Se eu não te amasse tanto” quanto a quero
A vida poderia ser diversa,
Mas quando para o nada o passo versa
O tempo se desenha amargo e fero

Apenas sendo assim franco e sincero
A própria previsão já desconversa
E quando para o nada a mais perversa
Visão de outro momento o torna fero,

Encontro após a queda os meus escombros
O sol se desenhando sobre os ombros
As sombras ledas sobras do que fomos
Assíduo sonhador qualquer poeta
No fundo a sua vida não completa
Deixando no caminho velhos tomos.

32

Perdido sem saber do que viria
Arcando com enganos, sigo alheio
Ao quanto poderia e sem receio
Jamais desenharia uma utopia,

A luta se desenha em heresia
E quando se aproxima devaneio,
O canto se presume e de permeio
A sorte na verdade não veria.

Realço com meu verso cada engodo,
Sabendo da magia enquanto o lodo
Tomando toda a cena não permite

Sequer o quanto possa ou mesmo queira
Cercando esta ilusão, a derradeira,
Ficando ora restrita em tal limite.

33

Realces entre luzes e neons
Os dias se apresentam de tal forma
Que nem esta insistência agora informa
Dos sonhos entre tantos, rudes, bons,

Ausentam-se deveras velhos dons
E os medos são talvez única norma
Além da que deveras já deforma
Deixando no passado claros tons,

Assisto ao quanto pude e não teria,
Meu verso se perdendo a cada dia
No ocaso em fim de tarde, no crepúsculo,

O mundo se moldando em tez brumosa,
A luta tantas vezes pavorosa,
Caminho sem sentido; ora minúsculo.

34


Blindagem que se faz em verso e canto
Atando cada passo ao que virá
Sabendo da vontade desde já
Aonde no final nada garanto,
Restando dentro da alma o velho pranto
O mundo com certeza tocará
A luta que jamais se esquecerá
Cobrindo com temor em desencanto,
Vencendo os meus anseios e temores,
Seguindo sem caminho aonde fores
Vagando sem temor o quanto é rude,
Não tento contra o passo mesmo nobre
E apenas o vazio nos recobre
E deixo para trás o mais que pude.

35

Beleza sem igual, plena verdade
Não deixa que se veja outro momento
E quando sem razão eu me atormento
O tempo noutro instante já degrade,

Apenas desenhando a realidade
Tocado pela fúria deste vento
Somente o quanto busco e não fomento
Negando uma possível claridade,

Meu verso se perdera em tom atroz,
Jamais se escutaria a minha voz
E o medo se aproxima e dita sorte,

Depois de cada engano entranho o medo,
E quando no final calo e concedo
Gerando o que deveras nos conforte.

36



Notando a cada engano novo rumo,
Escondo dos meus sonhos emoção
E sei dos dias tantos que virão
Enquanto outro caminho em vão resumo,
Apenas desenhando e sem o prumo
A queda se anuncia e vejo o chão
E semeando enfim inútil grão
Da vida se perdendo sem insumo,
Pudesse acreditar noutro caminho,
Seguindo sem paragem vou sozinho
E morto em plena vida, nada resta
Sequer alguma luz ou claridade
Perdendo a cada dia a liberdade,
Não tenho uma alegria, morta a festa.


37


Garçon que tantas vezes tem ouvido
Lamentos de quem segue solitário,
O tempo noutro rumo temerário
E o corte se mostrando em dor e olvido,
O preço a se pagar já resumido
No quanto poderia ser corsário
O verso que se fez mais necessário
Depois de certo tempo enfim regrido,
E volto aos meus momentos de criança
Enquanto o pensamento além me lança
A vida se inebria e gera apenas
As horas mais doridas, temerosas
Aonde poderiam tantas rosas
Ao nada que virá tu me condenas.


38


Perguntas sem resposta, tão somente
O medo se anuncia a cada passo,
E quando no final apenas traço
O que esta vida tange e mesmo mente,
No caos que se vislumbra plenamente
O mundo se aproxima e sendo escasso,
Ainda que pudesse noutro laço
O templo se desenha friamente,
Marcando com tais versos o que tramo,
A vida propagando em cada ramo
Gerando no final esta alameda,
E assim cada momento se diverge
E a solidão decerto agora imerge
Negando o que esperança em vão conceda.

39


Pudesse inda voltar ao mesmo rancho
Aonde no passado fui um rei,
A luta se desenha e se a travei
Tentei noutro caminho ser mais ancho,

E quando em ilusões meu mundo eu mancho
O corte se apresenta e tanto errei
Vestindo o que decerto imaginei
Na vida sem sentido enfim me engancho,
Resulto deste enfado costumeiro
E o tempo noutra face onde me esgueiro
Explode em discordantes ilusões
A vida de tal forma decompões
Gestando o que abortara: esta esperança
Que ao longe sem sentido algum me lança.

40

Em tanta e quente areia caminhara
Ousando na procura sem valia,
E quanto mais o sonho enfim queria
Diversa da verdade tal seara,
A luta sem proveito se escancara
O mundo gera apenas a agonia
E quanto mais a gente fantasia
Maior a queda enfim que se prepara.
Negar qualquer alento e mesmo assim
Trazer em todo olhar outro jardim
Perenizando enfim a primavera,
A noite se anuncia enluarada,
Mas sei desta mutável, leda estrada
E tudo com certeza a vida espera.

41

Tentasse noutro rumo acreditar
E ter além do todo este caminho
Vagando aonde possa mais sozinho
E tenha o quanto ousasse acreditar.

Depois de tanto tempo a desenhar
O mundo se apresenta e me avizinho
Do engodo enquanto eu possa além do ninho
Trazendo outro momento a nos guiar.
Negar qualquer suporte e ter um sonho,
E nele todo bem que ora proponho
Seguindo sem temor o que viria,
Ainda que pudesse em novo tom,
Meu canto se aproxima e sei do bom
Cenário feito em glória e fantasia.


-----x-------

Numa ávida expressão de liberdade
Que mova quem anseia noutro passo
E quanto mais audácia, mais escasso
O tempo se anuncia em tempestade,
O manto decorado, a claridade
O ledo desenhar onde desfaço,
Meu pranto se anuncia e sei que lasso,
O dia sem sentido me degrade,
Aguardo pelo menos; pós-revés
O quanto se pudera num viés
Diverso deste em queda e tão somente,
Assim que se aproxima o desencanto,
Viver o quanto resta e não garanto
Enquanto a própria vida sempre mente.

----x------


Jogado sobre as pedras deste cais
Meu barco não teria solução
E os dias mais audazes mostrarão
O tempo entre diversos vendavais

A vida sonegando seus avais
E molda da incerteza outro senão,
Enfrenta o mesmo velho turbilhão
No vórtice de engodos terminais.

Pudesse em germinais ousar além
E ter o quanto possa e não mais vem
E peremptoriamente ter nas mãos

Bem mais do que pudera então colher,
E neste desenhar, farto querer
Apodrecendo enfim os tantos grãos.


-----x---------


Invisto cada sonho neste rumo
Diverso do que tange o dia a dia,
Meu mundo aonde quis em harmonia
Aos poucos noutro engano ora resumo,

E vejo do passado e não presumo
Sequer o que pudesse em alegria,
A luta com firmeza não se adia
E o corte traça o tempo e deixa o sumo.

Mergulho neste vago desejar
E tento quanto possa caminhar
Negando a minha sorte, e sendo assim,

Depois de tantos anos, solidão,
A morte talvez seja a solução
Trazendo o quanto anseio; o próprio fim.


------x--------


Na vida sem mais nada por fazer
Apenas caminhando sem destino,
O vento enquanto enfrento e determino
Presume novo tempo a se tecer,
Mas quando se aproxima em desprazer
Festejos do passado não domino
E tento e volto a ser feito um menino
Tentando noutro encanto o merecer,

Já não comportaria novo encanto,
Sequer o que pudesse e já não canto
Desanimadamente a vida segue,

Mas quando após a curva ouvindo a banda
A lua se aproxima da varanda
E o sonho noutro encanto enfim prossegue.

------x--------


Destrói a natureza e traz o fim
No olhar sem piedade, em vã fortuna
E quando no final a sorte puna
O tempo se desdenha mesmo assim,

Açoda-se o querer e vejo em mim
Além do quanto possa em cada duna
Navego em mar sereno, minha escuna,
Regando em esperanças o jardim,

Crepúsculo da vida me permite
Tentar imaginar além limite
E ver outro cenário benfazejo,

Porém realidade me calando
E o mundo permanece mais infando,
Agrisalhando o que era em azulejo.

A noite sem luar, em negros tons,
Os dias entre enganos, descaminhos
Momentos mais atrozes e mesquinhos,
Procuro alguns instantes claros, bons,

As bocas entre lábios e batons,
O amor traçando além seus vários ninhos,
E quanto mais antigos, raros vinhos
Desenham com firmeza belos tons.

E perco na verdade o que inda trago,
Ousando acreditar no falso afago
Ditame de uma vida sem proveito,
Incauto passageiro do passado
Ainda quando tento, calo e evado,
Marcando o que pudera e não aceito.


---------x-----------

Das cenas mais diversas que inda vivas
Carrego dentro da alma em tom atroz
Já nada mais calasse a nossa voz,
E dela outras palavras são cativas,
E quando na verdade tu cultivas
O mundo ora sem rumo em leda foz,
O passo se aproxima e traz algoz
Entre palavras rudes e agressivas.
Mas vejo alguma luz ao fim da estrada
E quando se presume a madrugada
Regida pelo encanto do amanhã
Meu mundo se transforma plenamente
O todo quanto o pude volta e mente
Na luta já dispersa e tão malsã.

-------------x-------------

49

Não nego o que pudera ser diverso
E sei da mesma luta dia a dia
Além do que trouxesse a fantasia
O mundo se permite enquanto verso,
E sei do quanto mesmo desconverso
Marcando com engano o que veria
Bebendo muito além de tal sangria
O canto se anuncia e sigo imerso,
Apenas acredito no que há tanto
Gerasse novo sonho e se garanto
O rústico momento em dor e tédio,
A luta se anuncia mesmo bruta
E quando se presume não reluta,
Matando com angústia o velho assédio.


50


Há quem diga do encanto já perdido
E beba em tantos goles, o passado
E quando no final eu me degrado
Condeno ao temor do triste olvido,
E sinto cada instante consumido
No tanto quanto pude e sonegado
Caminho se transforma e; lado a lado
Alado coração segue perdido.
Aproximando o passo do abandono
A cada novo instante o desabono
E tramo outro cenário e sei do fim,
Marcante com temor esta heresia
E nela com certeza não teria
Sequer o que resiste dentro em mim.


51


Há quanto não te vejo, mas procuro
Ousando em cada estrada após o fim,
O mundo se aproxima e traz em mim
Apenas o caminho atroz e escuro,
Olhando para a vida além do muro
A senda mais audaz trazendo assim
O sonho em caos e medo, algum motim,
E perco o meu juízo a cada engano
Sem ter a minha sorte sigo insano
Bebendo deste amargo fel em vida,
Pudesse te tocar, e assim tivera
Apascentada na alma a dura fera
Já tanto noutra face resumida.

52

Eu quero te falar do quanto é rude
Meu canto feito a ferro fogo e bala
E quando esta incerteza me avassala
Nem mesmo outra emoção inda me ilude
Matara há tanto tempo a juventude,
Minha alma sem sentido não se abala
E quando outro momento em dor embala
A luta se desenha mais que pude
Carrego a velha culpa dos meus pais
E marco com angústias quando trais
E trago tão somente o que inda possa,
Apenas preconizo o fim do sonho,
E mesmo quando aquém me decomponho,
Só mostro a realidade em queda e fossa.


53


Levando as minhas mágoas para o cais
Depois de tanto tempo navegar
Tentando na verdade além do mar
Momentos mais diversos e reais,
Os tempos se alternando, nada mais
Do quanto poderia imaginar
Marcando com temor cada lutar
A morte sangra em atos vis banais,
O cântico se traça após o fim
Vereda que inda trago dentro em mim
Vivenda feita em luz e falsos tons,
De brilhos mais diversos, verso e sigo
Apenas neste incerto e vão perigo
Deixando para trás vagos neons.

54

Das coisas que aprendi no dia a dia
Carrego muito pouco e perco a senda
Aonde cada engodo se desvenda
Matando o quanto houvera em poesia,
O nada se resume em agonia
E tento outro caminho aonde estenda
A mão a quem pudera, e sei da venda
E dela o que deveras não veria.
Sacrílego sonhar em tempo tosco,
O mundo mais dantesco, gris e fosco
O canto em discordância, outra cadência
A lida se apresenta destoante,
E quantas vezes; nada se garante
Matando em nascedouro a consciência.

55

Não pude desenhar qualquer alento
Em meio ao quanto trago e nada vem,
Apenas o caminho diz desdém
Embora outro cenário inútil, tento,
Incauto caminhante bebo o vento
E sigo contra todos, sem ninguém
Nem mesmo uma ilusão, inda convém
A quem se fez somente em vão tormento.
Respiro mal e mal, já não me trazes
Sequer o quanto pude noutras fazes
Ousar acreditar, sabendo enfim,
Apenas o momento mais dorido
Aonde o meu viver não foi cumprido,
Matando o quanto resta ainda em mim.


----------x--------------

56


Quando hoje eu quis o tempo renovado
Em luzes mais diversas e brilhantes
Traçando o que talvez já não garantes
Meu mundo se apresenta desolado,
O verso noutro tom anunciado
As sortes mais doridas, degradantes
Ainda que pudesse ter instantes
Aonde do vazio em vão me evado,
Ascendo ao quanto tenho; e sendo pouco,
O passo em desacordo deste louco
Prepara simplesmente o nada e tento
Em plena tempestade amargamente
Viver o que pudera e não se sente,
Abrindo o coração exposto ao vento.

57


Buscando entre os azuis, raros florais
Alçando nos canteiros da esperança
O passo com firmeza vai e alcança
O quanto desejara ou muito mais,
A vida se apresenta e traz no cais,
O dia aonde o verso em paz avança
Deixando para trás e busca a mansa
Manhã entre divinos madrigais.
A luta contra a fúria do futuro
E nisto o céu se torna mais escuro,
A primavera cede cada espaço,
E vejo este invernal cenário gris
Aonde imaginara o que mais quis,
Sorriso se tornando mais escasso.

58


Eu bebo da ilusão e não me engano
O caos trazendo o fim desta alegria
E o manto no vazio se cobria
Puído e sem sentido o velho pano,

Porém cada momento é soberano
E trago dentro da alma esta utopia
E quando o meu olhar longe traria
A vida se negando em novo plano,
Apenas apostando na perdida
Manhã que mostra a face desta vida
Jogada sobre as pedras, tão somente
O marco que nos une, pune e trama
Partindo do começo rege o drama
E a própria desventura tanto mente.


59


Manhã que carecendo de esperança
Não deixa qualquer rastro para trás,
O vento se pudera mais audaz,
Mas vejo tão somente aonde avança
E o passo sem sentido ora se lança
Vencendo a cada instante Satanás
Pudesse na verdade o que se faz
Tramando a vida em toda confiança
Das desventuras tantas; o oceano
Traduz o quanto perco e se me engano
Já nada mais traria noutro olhar
Somente este vazio que me deste
E o quanto imaginara ser celeste
Em brumas não se vê sequer luar.


60


Não quero mais saber do que pudesse
Traçar noutro momento o descaminho,
A vida na verdade onde avizinho
Tramando o que deveras dita a prece,
O rústico cenário que se tece
O vago desenhar sempre sozinho,
Matando com temor cada mesquinho
Momento aonde a vida desmerece.
O prazo determina o fim de tudo
E quando no final me desiludo,
Somente o que restara não me basta,
A luta se anuncia bem mais bruta
E quando noutro instante a alma reluta
A imagem se desenha bem mais gasta.

61

Meu tempo de viver já se esgotando
O velho coração tanto cansado
Do quanto fora sempre imaginado
Sequer outro momento ainda brando,
A vida se desenha em contrabando
O corte noutro porte anunciado
E o medo se presume e se me evado
Apenas o que trago se negando,
O medo se traduz a cada engodo,
O tanto se aproxima em mero lodo
E deste lamaçal nada mais vejo,
Somente o que pudera noutro ensejo
E o caos tornando a vida sem proveito
Ditame que decerto agora aceito.


62

Descerra esta janela doce amada,
A lua nos convida em serenata
E deita belos raios sobre a mata
Na noite tão sublime, iluminada,
A sorte noutra face desenhada
Apenas a saudade me maltrata
E quando o sonho vem e enfim nos ata
A força deste amor, mais alto brada;
Ausentas dos meus olhos, sendo assim,
O mundo se transforma dentro em mim
E o brilho se ocultando em névoa densa;
Mas quando ora te trago em verso e canto
O tanto quanto a quero, enfim garanto
Apenas num sorriso, a recompensa.

63

Espalha-se deveras o luar
Tocando com seus raios cada ponto
Do tanto quanto quero e além desponto
Vivendo esta beleza em claro amar,
A noite nos ensina a meditar,
Amor já não seria mero conto,
E quantas vezes teimo, mesmo tonto
Ousando nos teus braços mergulhar,
Apenas quando acordo e que me vendo
Na solidão, cenário amaro e horrendo
Retorno à dura e fria realidade,
Do tanto que te quero e te imagino,
Searas mais atrozes do destino,
O sonho sem sentido e em vão se evade.

64


Poética emoção em verso e luz
A vida se aproxima do que eu quero,
O tanto que pudesse ser sincero
Somente aos braços teus, amor conduz.
O manto se desenha e já faz jus
Ao todo que vencendo um mundo fero
Traçasse noutro passo o quanto espero
Além da imensidade que propus.
Viver cada momento e crer no todo
Do amor que venceria algum engodo
E nisto se aproxima a libertária
Vontade de seguir sempre ao teu lado
E quando dos meus ermos logo evado
A vida se desenha solidária.


65

A noite num sossego inesperado
Traduz o que tentara e não viera,
Moldando no final a primavera
Embora o coração siga hibernado,
O canto se anuncia e quando o brado
A luta no final se destempera,
Marcando com firmeza cada espera
Desenho sem sentido, mal traçado.
O prazo terminando e nada veio
Somente outro momento em devaneio
E agora que o final já se aproxima,
Meu mundo traiçoeiro e sem guarida
Agora no final da amarga vida
Mudando de cenário em manso clima.

66

Amante dos meus sonhos ideais
O quanto se anuncia a cada passo,
O todo se pudera além do escasso
Vencendo outros momentos desiguais,
Anseio pelas sendas em cristais
Sabendo que em verdade quando a traço
O manto se aproxima e sei do espaço
Aonde vejo luzes divinais,
Alçando com as alas de quem sonha
A vida mais suave e até risonha
Traçando dentro da alma esta harmonia,
Meu mundo na verdade se deleita
E quando a lua surge após a espreita
Também meu coração libertaria.

67


O leito perfumado; em rosas, trazes
E mostras num sorriso a plenitude
Do amor que na verdade nos transmude
E deixe para trás temidas fases,
As horas se desenham mais audazes
Um dia após o nada não ilude
E o canto se transforma em atitude
E nele tais carinhos sempre fazes.
Pousando dentro da alma do poeta
A lua se transborda e me repleta
Na audácia deste sonho em claridade,
Aberto o coração não temo nada,
A vida entre estas mãos entrelaçadas
Presume o quanto em luz já nos invade.


68


Deitando sobre as flores, bela diva
Neste cenário raro em primavera,
O quanto deste encanto nos espera
E a sensação de luz ainda viva
Minha alma de tua alma mais cativa
Moldando dentro em mim a mais sincera
Noção do que seria e já tempera
Palavra com a sorte mais altiva,
Negando o que não temo e não teria
Escassas emoções, no meu passado
E agora quando firme sonho e brado
Vivendo o que pudera em fantasia,
Expresso com meu verso mais feliz
O quanto deste amor audaz, eu quis.


69

No amor que se acredite ou mesmo até
Na vida se propondo outro cenário,
Ainda quando o vejo imaginário
A sorte se anuncia em rara fé,
O tanto que pudera ser quem é
O rústico momento, este corsário,
Aonde o meu caminho é temerário
O todo se aproxima sem galé,
Seguindo o libertário dia a dia
Enquanto com firmeza se ousaria
Vencer os desafetos costumeiros,
Viceja dentro da alma este momento
E quando na verdade a sorte eu tento
Espalhas no jardim os jasmineiros.

70

A pálida manhã se anunciando
Depois de tanto sonho; inutilmente,
A vida por si só sempre desmente
O quanto imaginasse bem mais brando,
O manto se puindo desde quando
Rogando pelo menos a semente
Traçasse outro caminho onde envolvente
O canto se mostrasse desnudando.
Minha alma se apresenta após no sol
O sonho dominando este arrebol
Presume outro momento mais diverso
E para o novo encanto que viria,
O marco a cada passo em alegria
Ousasse transbordar num novo verso.

71


Cantigas de ninar, sonhos e brilho
Aonde na verdade o amor; carrego,
Meu mundo se desenha e num nó cego
Vencera este temor de um andarilho,
E assim cada momento em paz; palmilho
E bebo esta esperança onde navego
E a cada novo passo mais me entrego
Cerzindo na alegria o raro trilho.
Poética expressão de canto e luz
Enquanto cada verso reproduz
Somente o quanto eu quis e nada visse,
A luta se desenha de tal forma
Que nada neste mundo mais deforma
Nem deixa refletir mera tolice.


72

Amar-te como às flores, colibri,
Vivendo o quanto possa a cada instante
E o medo noutro rumo mal garante
O quanto na verdade sei, perdi.
O canto se escutasse e já daqui
Momento mais feliz e deslumbrante
Ousando num cenário mais brilhante
Diverso do que outrora em vão vivi
Cerzindo novo tempo em nova rota,
A luta se transforma e se denota
Atravessando mares e procelas,
Aonde cada passo se traduz
Moldando com ternura a imensa luz
Enquanto tanto amor tu me revelas.

73

O orvalho sobre as folhas da esperança
Matando na geada o que inda resta
Inverno dentro da alma em cada fresta
A vida ao fim de tudo ora se lança
E o marco mais atroz sem confiança
Somente a solidão agora empesta
Marcando com terror a ausente festa
Sem ter qualquer apoio não descansa.
A luta desenhando em caos e medo,
O quanto na verdade mal concedo,
Vencendo os desenredos da emoção
Um cândido momento não veria
Deixando para trás a poesia,
Meus olhos quaisquer luzes não verão.

74


A deslumbrante aurora dita o quanto
A senda se aproxima de outro rumo,
E o tanto quanto possa além resumo
E vejo o que tentara e assim garanto,
Vestindo esta ilusão, um novo canto,
Aonde o meu caminho traz em prumo
O verso mais sutil, onde consumo
O termo mais audaz em acalanto.
O marco desenhado nos cenários
Diversos entre meus itinerários
Tramasse no fadário novo dia,
Cerzindo com ternura o quanto pude
O tanto quanto fora atroz e rude,
Agora noutro tom encontraria.

75

O quanto sempre amei e te amarei
Explode em clara areia, a fúria em mar
E possa sobre as ondas navegar
Grassando na esperança, nossa lei,
E o tanto quanto possa e até terei
Sentindo outro momento a nos tocar,
Pudesse na verdade imaginar
O tanto que te quero e enfim sonhei.
Vagando sob estrelas, radiantes
Ternuras se apresentam e acalantes
Os dias mais felizes que inda houver,
A porta já se abrindo, o tempo urgindo
Um dia mais audaz, portanto lindo,
Tecido pelos seios da mulher.

76


A imensa onda deitando em bela praia
Expressa a claridade e dita rumo
Aonde o meu momento enfim presumo
Sem nada que deveras já me traia,
A luta se desenha e quando esvaia
Meu verso noutro passo, mal perfumo
E sei do raro amor enquanto esfumo
O vento toca após; a moça e a saia.
O quanto desejei e agora a vendo
Produz de cada sonho um dividendo
E neste novo passo sou feliz,
Apresentando além o verso em paz,
Meu canto tantas vezes satisfaz
E nada neste mundo o contradiz.



77

Na perolada cena se desenha
O quanto deste encanto toca e volve
Amor quando de mais tanto me envolve
E gera o que decerto além já venha.
A sorte desejando em tal resenha
Com toda a sensação sutil revolve
A dor sem mais guarida se dissolve
E o manto com ternura em luz empenha
Apresentando ao máximo o caminho
Aonde como concha ora te aninho,
E toco esta bendita maravilha,
O canto se apresenta noutro instante
E desse desejar amor garante
A cena onde esperança mansa trilha.

78

Nas entranhas do sonho vejo o brilho
Daquela que se fez além do cais,
Traçando tais momentos magistrais
Aonde com ternura em paz palmilho,
Amor ao apertar o seu gatilho
Acende dentro da alma os seus cristais
Ascendo em tais verdades muito mais
Vencendo qualquer tédio ou empecilho.
Absoluta verdade dita a sorte
Que tanto nos tocando já conforte
Marcando com ardência cada passo,
No tanto que te quis e até teria
Trazendo a cada instante outra alegria
Deixando para trás o canto escasso.

79

Cantavas docemente o raro amor
E nesta noite feita em tal beleza
Também imaginando a natureza
Num raro desenhar em farta cor,
Aonde poderia redentor
Meu passo se aproxima e traz já presa
Minha alma que seguisse quase ilesa
Vencendo com ternura e destemor,
Ouvindo a tua voz, serena amada,
Adentra o pensamento a madrugada
E vaga pelas sendas do passado,
O tanto que pudera em glória e luz,
Meu mundo no teu mundo reproduz
Deixando o coração alvoroçado.

80

Nas noites de tristeza nada tenho
Senão a mesma face em dor e medo,
O quanto deste passo em desenredo
Traduz esta agonia em ledo cenho,
E quando no final tanto desdenho
O prazo onde tanto em vão concedo
O marco mais audaz dita segredo
O amor não é sequer mero desenho,
Alucinadamente busco em ti
O sonho que em verdade já perdi
Deixado para trás, solenemente
A vida sem sentido e sem razão
Enquanto novos tempos moldarão
O todo que deveras não desmente.


81

Cantando para estrelas, noite afora
Na constelar diversa sensação
O amor como se fosse desde então
O tanto que deveras cedo aflora,
A luta no vazio desancora
Tramando em nova rota e dimensão
Meu verso se anuncia e a solidão
Aos poucos noutro rumo, desancora.
Marcantes dias dizem deste tanto
E quando na verdade teimo e canto,
Tragando a liberdade a cada verso,
Não pude imaginar outro cenário,
Amor além de tudo solidário
Trazendo dentro da alma este universo;


82


A lua traz saudade e dita o quanto
Pudesse noutro encanto dominar
Tramando em cada raio este luar
Transcende ao que deveras mal garanto
E quando se anuncia em belo canto
O todo noutro instante a desenhar
O mundo se aproxima e toma o mar
Cobrindo todo o mundo, argênteo manto
Estrelas espalhando em carrossel
Tomando imensidão infindo céu
O verso se anuncia em harmonia,
E como fosse um sol em noite imensa
Reinando sobre nós quase convença
Que em plena noite surge um claro dia.

83

Trazendo da esperança o seu jazigo
Já nada mais comporta quem outrora
Marcando com ternura o que demora
E trama muito além do que eu consigo,
A cada novo engodo outro castigo,
A senda sem certeza já se aflora
E nesta sensação a vida ancora
O quanto noutro passo tento e abrigo,
Apenas ilusão? Nada mais vejo
Somente o que pudera noutro ensejo
Gerando depois disso o medo e o triste
Cenário aonde a vida dispersara
A sorte desejada, audaz e rara
Aonde o meu caminho não resiste.


84


Eu sei quanto deveras magoaste
Marcando esta palavra tão maldita
E quando noutro rumo se acredita
A cada novo instante outro desgaste,
A vida se apresenta e o velho traste
Expressa esta razão e não palpita
Sequer o que pudera mais bonita
A luta noutro engano reforçaste,
Mergulho nos engodos costumeiros
E tento meus anseios, nos ribeiros
Enquanto presumisse novo tempo,
Perece a cada instante um pouco mais
Enquanto imaginara siderais,
Os sonhos desenhando contratempo.

85

Adeus, a vida segue e não vieste
Deixando para trás todo este sonho,
E quando na verdade decomponho
O mundo se tornara mais agreste,
O canto noutro engodo mais agreste
O corte se aprofunda e tão medonho
O passo no vazio hoje proponho
Matando o que inda resta e já não preste.
A luta se desenha noutro rumo
E quando sem sentido me consumo
Bebendo cada trama mais diversa
Agruras de meu tempo? Nada disso,
E o tempo se tornando movediço,
A própria persistência desconversa.



86

A vida em fado atroz ditando o fim
Do grande amor que tanto imaginara
Abrindo o velho peito esta seara
Transcende ao que pudera ter em mim,
Acende da esperança este estopim
E marca o que pudesse e não viera
Gerando o quanto a sorte degenera
E mata esta ilusão velho motim.
O canto de outro pássaro, saudade
Aos poucos noutro rumo se degrade
Tomando num instante o quanto quero,
E bebo esta incerteza a cada instante
E o quanto poderia mais sincero
Apenas o não ser já se garante.

87

Um sonho regendo cada canto
E trazes nos teus olhos tal ternura
Enquanto a solução trama e perdura
O mundo noutro caso eu não garanto,
Vestindo o mundo alheio aonde em pranto
A sorte se traduz e nada apura
Apenas o vazio que tortura
Moldando o quanto quero e não me espanto,
Ainda que seria mais diverso
O tempo para o qual ainda verso
E encontro o meu caminho em consonância,
A luta noutro passo se mostrara
Gerando na verdade outra seara
Vencendo a cada tempo esta distância.

88


Um bando de andorinhas, sonhos meus
Penetram tantos céus em tom mais claro
E quando cada luz onde a declaro
Tramando muito além de tal adeus,
Os sonhos adentrando antigos breus
O tempo em alegria hoje preparo
E sei do quanto possa e quanto é raro
Podermos atingir tais apogeus.
Lutando contra o medo de quem tenta
Em paz vencer deveras a tormenta
E neste caminhar já nada vê
A luta se desenha a cada instante
E quanto mais o amor ora acalante
Encontro deste sonho algum por que.

89

Ao ver a bela lua clarear
Tomando este cenário inteiramente
Porquanto o meu caminho se apresente
Deitando rara prata sobre o mar,
Ainda que pudesse divagar
E nisto o quanto quero e mais freqüente
Minha alma se desenha claramente
E nisto pude mesmo mergulhar,
Gerando novo mundo dentro da alma
A vida com firmeza sempre acalma
E traça outro momento após o nada,
A noite se apresenta noutro engano
E sei deste delírio onde é profano
Moldando do vazio; nova alvorada.

90

As pedras prateadas pela lua
Os sonhos se dourando em raro brilho,
Enquanto a liberdade em paz palmilho
O tempo noutro encanto continua,
Vagando sem sentido já flutua
Marcando com candura o quanto trilho
Cerzindo dentro da alma este andarilho
Cenário aonde o todo se cultua.
Mergulho nos teus braços, sigo a ti
E tanto quanto quero consegui
Bebendo cada gota da ventura
Que possa me trazer a liberdade
E desta rara e imensa claridade
Meu rumo para o teu já se aventura.

91

Meus sonhos acordando a cada instante
Resultam neste tanto que te quero,
O passo mais audaz, sendo sincero
Apenas novo canto em paz garante.
O mundo desenhando um diamante
E nele todo o manto onde o venero,
Transcende ao que pudesse ser mais fero
E traça este cenário deslumbrante,
Amante da ilusão; somente vejo
O olhar enamorado e mais sobejo
De quem se fez além de mero lume
E quantas vezes bebo em tom suave
O amor que na verdade nada agrave,
E dita muito além do que o costume.

92

Escuto então gemidos pela noite
Durante pesadelos e torturas
Enquanto na verdade me amarguras
Apenas esperança ainda acoite,
A vida se presume quando açoite
Gerando no final as amarguras
De tanto que desejas e procuras
Meu sonho do teu lado, outro pernoite,
Negando qualquer sonho em claridade
O tempo pouco a pouco se degrade
E mostra este momento mais além
Do quanto poderia e já não vem,
E nisto desenhando o que pudera
E molda sem sentir a dor mais fera.


93


O quanto me traíste no passado
Deixando demarcada esta ilusão
E nela bebo os dias que virão
Trazendo este vazio hoje ao meu lado,
E o canto que pudesse e não mais brado
Vencido pela turva solidão
Ousando noutra forma de expressão,
Traduz o tempo aonde me degrado,
A vida diz assim cada momento
Descumprindo o nono mandamento
Perdendo qualquer sorte,rumo e paz,
Apenas lamentando tal descaso
Ainda quando tento o quanto aprazo
Expresso um mundo tosco e mais mordaz.

94

Minha alma tanto amando este caminho
Desmancha qualquer erro e dita além
A vida se traduz enquanto vem,
O tempo onde decerto em paz me alinho,
Vencido caminheiro, noutro ninho,
A luta se traçando em tal desdém,
Pudesse acreditar e quando tem
Meu mundo não seria mais mesquinho.
Na fonte ressequida da esperança
Somente este vazio agora alcança
E o turbilhão de sonhos se perdendo,
Do quanto poderia ser eterno
Ao menos um desenho bem mais terno,
Expressa a solidão, temido adendo.

95

Não posso desprezar o sentimento
Que vivo dominasse o meu anseio,
E sei do quanto possa e enfim rodeio
Abrindo o coração em tal provento,
Nas tramas que deveras alimento
A vida se desenha em novo veio,
O velho coração em devaneio
A paz chegando após,noutro momento.
Esbarro nos engodos e tramóias
As lutas sonegando belas jóias
As perlas não seriam tais comparsas,
As falsas emoções, ditame rude
E sei do quanto possa e desilude
E aos poucos sem sentido tu me esgarças.


96


Pudera dentro da alma algum penedo
Ao enfrentar as ondas deste amor,
E quanto se imaginar redentor
Apenas ao mais árduo me concedo,
O tempo noutro prazo, onde procedo
Tentando da alegria o redentor
Caminho delicado em paz e cor
Diversa da que dite algum segredo.
Louvando cada verso que inda trago
O mundo se apresenta em novo afago
Sentindo toda a glória de ilusões
Aonde os dias tanto se desnudam
E as horas se traçando tudo mundo
E nelas outras luzes tu compões.

97

Os olhos negros belos, da morena
Tramando cada passo rumo ao tanto,
E quando no final sonho eu garanto
A vida noutra face me serena,
O quanto da verdade me envenena
E o tempo sem proveito dita espanto,
O mundo se anuncia em claro manto,
E a luta não termina, a vejo plena.
E encontro tempestades, temporais
Vagando entre momentos desiguais
Podendo acreditar noutro segundo,
Aonde muito além do que quisera
Traçasse sem sentido a primavera
Em luzes onde tanto agora inundo.

98


Negrume desta noite solitária
Em brumas dominada, nada vendo
O mundo se apresenta em novo adendo
A luta se desenha temerária,
Porquanto fosse sempre imaginária
A sorte que deveras mal desvendo,
Traduz outro momento e sei que ascendo
Ao quanto poderia em noite vária.
O manto mais audaz gerando o medo
E nele de tal forma sigo ledo
Ouvindo outros vazios dentro da alma
Os brilhos que invadissem turvos campos
Seriam tão somente pirilampos,
Nem mesmo uma saudade hoje acalma.

99

Rosais entre jardins e meus canteiros
Os dias se anunciam num cenário
Aonde cada verso imaginário
Trouxesse rumos claros, verdadeiros,
Ainda que pudessem tais luzeiros
Vencerem cada engodo, sigo vário
E bebo do temor no itinerário
Que leva teus altares, derradeiros,
No amor que dissemina em luz e brilho
Aonde Tu caminhas hoje eu trilho
Vestindo esta emoção suave e branda,
A noite se desenha em tal ciranda
E quando vejo além me maravilho
Deitando a bela lua na varanda.

100

Saudades da beleza sertaneja
No olhar deste riacho enamorado,
Vivendo cada dia em novo fado,
Aonde esta esperança já dardeja
Apenas dentro da alma enfim poreja
O sonho sem temor, anunciado,
Reveste cada passo desenhado
Nas ânsias onde o mundo em paz já seja.
Viceja esta alegria num poeta
Que tanto se desenha e completa
Na voz doce e suave da ilusão,
A lua enamorada deste artista
Enquanto em rara senda ora se avista
E espalha sobre todos; seu clarão.

101

A vida branquejando cada passo
De quem se fez além do engano e tenta
Vencer a sorte atroz e tão sangrenta
E neste caminhar o sonho escasso,
Depois de mergulhar apenas traço
O mundo se desnuda em vã tormenta
E o prazo determina o que fomenta
Marcando cada sonho em ledo laço,
Aprendo e como meus erros continuo,
Tentando ser além deste uno, e em duo
Trazer este futuro em minhas mãos,
Assim ao semear felicidade
Enquanto o novo tempo em paz invade
Espalho pelos cantos, novos grãos.


102

As folhas outonais tocando o chão
Meu tempo se esgotando a cada instante
E vejo o que deveras não garante
Sequer o quanto pude em direção,
Vencendo este caminho amargo e vão
O tempo se anuncia degradante
Nesta aguardente bebo e se agigante
Momentos onde enfrento a solidão,
Escassas luzes dizem do que vendo
Presume no final o mesmo horrendo
Tormento entre os anseios mais vulgares,
Gerassem nos meus olhos, fantasias
E nelas outras tantas moldarias
Criando destes sonhos meu altares.

103

O brilho na cidade em tais neons
Expressa a falsidade das pessoas,
E quando imaginavas serem boas
Lembranças desviando velhos tons,
As bocas entremeiam-se em batons
E nisto se desfazem tais canoas,
E logo sem sentido também voas
Repetem pensamentos, ecos, sons.
E o vasto se aproxima do minúsculo,
Apenas me restando este crepúsculo
E dele nada mais que bruma e morte,
Após o descaminho mais freqüente
Ainda que meu passo se apresente
Nem mesmo uma ilusão inda conforte.

104

Saudade escurecendo o sentimento
Marcando com angústia o que pudesse
Trazer no meu olhar a rara prece
E nada do que possa ainda tento,
O mundo se desenha em tal momento
E o quanto desejara assim se esquece
E o manto que ilusão decerto tece
Expressa do vazio este fomento.
Negar as tais origens costumeiras,
E crer nas sendas raras, derradeiras,
Ouvindo neste encanto o mar imenso,
E quando no final já não teria
Sequer o quanto pude em fantasia
Num dia abençoado, sempre penso.

105

Luar que campesino trama o todo
E neste desenhar já nada resta
Somente o quanto possa em mais funesta
Verdade desenhada em pleno lodo,
Queria que isto fosse um mero engodo,
A vida se presume e quando empesta
Marcando com temor o que se empresta
Ainda se pudera sem denodo,
Arcando com meus erros, desenganos
A sorte renegando velhos planos
Expressa a solidão deste poeta,
Que em plena madrugada bebe a lua
E nesta solidão teima e flutua
Aonde a luta traça e não completa.

106

Luar que se presume num sertão
Diverso do que tanto pude outrora
Vencendo o quanto quero e não demora
Marcando com terror a dimensão,
Dos dias que decerto não verão
Ainda quando a vida em paz se aflora
Matando o quanto pude e revigora
Moldando no final tal dimensão,
Esqueço cada passo e vejo alhures
E quando no final tanto tortures
Encontro em discordância outro caminho,
Vestindo esta ilusão já não me basta
Apenas o que tanto assim me afasta
Deixando este delírio, em vão daninho.

107


A lua surge em noite imensa, claridade
Prateia toda a mata e segue em brilho
Tramando cada raio onde palmilho
E bebo desta imensa liberdade,
Ousando noutro tom, felicidade,
Não vejo mais sequer um empecilho
Indômito e sem tréguas o andarilho
A cada novo instante mais se agrade,
Dos tantos e diversos bens que a vida
Produz e desenhando já decida
Presume noutro tanto o quanto eu quis,
Açoda-me a verdade feita em luz
E o quanto do meu passo reproduz
Deixando para trás um céu mais gris.

108


Pastor entre os pastores, Rei e Irmão
Ensina-nos que Amor tanto liberta
Usando esta palavra amiga e certa
Pregando entre todos a união,
E nesta maravilha o que é perdão
Deixando esta porteira sempre aberta
E trama com brandura o quanto alerta
Traçando da esperança a direção,
No encanto onde deveras eu persisto
Vivificando na alma o Eterno Cristo,
Há tanto sem amarras, e sem cruz,
Palavras que redimem, aliviam,
Caminhos que deveras propiciam
Felicidade em nome de Jesus.


109


Um sol que prateasse a noite imensa
Gerando o quanto pude imaginar
Vagando sem sentido a se mostrar
Enquanto o que desejo se compensa,
Jogado pelos ermos, recompensa
Vislumbra a cada engano outro lugar
E sei da imensidade de um luar
Na noite mais sublime e tanto densa


109


A solidão prateia a imensidade
E trama noutro rumo o mais que pude
E ousando de tal forma em atitude
Diversa da sublime realidade,
Enquanto o dia a dia nos degrade
O mundo se apresenta bem mais rude
Ainda eu o caminho aos poucos mude
Ao fim de cada sonho a liberdade.
Pastoreando amores onde outrora
A fome sem sentido que apavora
Gestasse e não parisse qualquer luz,
Ainda se apresenta em consonância
A vida desenhando a cada instância
A ressonante glória que seduz.

110

Viola ponteada em noite clara
Varandas e sobrados, Minas, sonho.
Diamantino encanto onde proponho
A vida dominando esta seara,
O quanto se aproxima e se declara,
Marcando o que se fez além bisonho,
O dia se moldara em enfadonho
Caminho sem sentido, em noite rara,
Apenas aproxima novo dia
Demonstra com tal brilho o que eu queria
Ousando num anseio sem igual,
Alhures ouço o canto em luz imensa,
E neste desenhar o mundo pensa
Cerzindo outro momento triunfal.


111


Nascendo do meu peito esta emoção
Aonde se aproxima noutro ninho,
O canto mais suave, um passarinho
Tramando em luz serena este verão,
Os olhos no futuro e desde então,
Não tendo outro cenário onde mesquinho
Explode a sensação de um doce vinho
Moldando com ternura esta ilusão,
Vencer os dissabores e seguir,
Apenas onde possa resumir
O canto sem temor e mesmo em paz
A luta se apresenta tão constante
E o manto na verdade me garante
O quanto possa ser bem mais capaz.


112


Distante desta terra aonde um dia
O sol me viu nascer em tons grisalhos
Os dias entre tantos ledos falhos
A vida sem nenhuma poesia,
Desvendo cada passo que daria
E nestes caminhares, sem atalhos,
O corpo se anuncia e ora em frangalhos
O todo noutro passo levaria,
A senda mais diversa e mais sublime
E nisto cada passo nos redime
Do engodo costumeiro e sem sentido,
E os erros dos meus dias principais
Desabam entre vagos, vis astrais
E o corte noutro engano resumido.

113


Já não conheço além do quanto vira
No olhar desta morena acaboclada,
A sorte noutro tempo desenhada
Vencendo o que pudera ser mentira,
E quando esta verdade ronda e fira
Marcando com temor a velha estrada
E bebo o que pudesse em alvorada
E neste desenhar além desfira
O canto mais audaz que inda pudera
Cerzindo o quanto pude nesta esfera
Trazendo em concordância cada luz,
E sei do quanto possa imaginar
E neste mais sublime desenhar
O mundo noutro tanto o reproduz.

114


Serestas entre luas e neblinas
As noites solidárias emoção
E o tempo em total transformação
Ainda que decerto femininas
Vontades expressando as tantas minas
E nelas a suave solução
Marcando com os dias que virão
As nossas delicadas, vagas sinas.
Espero tão somente qualquer luz
E sei que na verdade o que produz
Encontra no caminho alguma sorte,
Seria muito bom seguir além
E o todo que deveras sempre vem
Aos poucos com certeza nos conforte.

115

Encantos em luares, noite afora,
O sonho sertanejo se tramando
Num tempo mais suave e mesmo brando
Aonde esta certeza nos ancora,
Brilhando a sensação que não demora
E torna este caminho desde quando
Meu verso no teu verso se entranhando
Desenha o quanto pude e em paz escora
O dia noutro dia refletindo
O quanto se pensara ser infindo
E gera em discordância outro matiz,
Mas sei desta beleza imaginária
E nela cada voz embora vária
Transmite o quanto em sonho um dia eu quis.

116


Quando olvidaste o amor que tanto tinha
Quem sabe e já procura apenas paz,
O mundo se apresenta e sempre traz
O quanto fosse além; em glória minha,
Na parte que me cabe e se avizinha
Em cena tantas vezes mais audaz
Deixando cada passo para trás
O tempo se presume e não continha
Sequer o que pudesse ainda ousar
Aprendo a cada dia o bem de amar,
Entrego o coração e vou sem medo,
Ainda quando possa noutro rumo
Viver o que deveras já resumo
O tanto quanto deva em paz concedo.




117


Já tanto desprezaste quem um dia
Ousando procurar felicidade
Rompendo do passado a velha grade
Marcando cada passo em harmonia,
O mundo se aproxima em sintonia
E o tanto quanto eu possa em liberdade
Presumo em cada esquina da cidade,
E neste desenhar tanto o queria,
Negar a vida e ter apenas isto,
Sabendo que ao final mesmo desisto
E morro sem sentir sequer a brisa,
Tocando mansamente no meu rosto,
A vida noutro passo sem desgosto
Desta beleza rara nos avisa.


118


Na casa sobre os montes das Gerais
Os olhos no horizonte se perdendo
Cenário aonde amor eu quero e aprendo
Vencendo os mais diversos temporais,
Sem ter sequer o mar desenho o cais
E neste novo passo em dividendo
O mundo na verdade me contendo
Bebendo destes sonhos ancestrais.
Anseio pela minha liberdade
E sei do quanto possa e já degrade
O cântico suave em tom maior,
Meu pranto sem sentido e sem razão
Apenas um vazio em emoção
Inunda a minha cama em vão suor.


119

Fitando muito além do imenso rumo
Aonde o céu desenha brumas, luzes,
Enquanto noutro passo me seduzes
Um tempo mais audaz inda presumo,
E nesta primavera eu me perfumo
Pousando sobre versos, ermos, cruzes,
Sentindo o quanto possa e me conduzes
Ditando da esperança o raro sumo,
Encontro em dissabores outro engano,
E bebo deste vinho soberano
Marcante sensação a cada gole,
E o tanto quanto quis humanidade
Enquanto com encanto cante e brade
Expressa o que deveras nos console.

120


Palmeiras gigantescas, noites claras
Esbelta fantasia de um poeta
Aonde a minha sorte se completa
E nisto tantas luzes me preparas,
Cicatrizando enfim estas escaras
A vida se pudera predileta
E neste caminhar amor em seta
Vagando pelos ermos das searas
Negar qualquer tormento e prosseguir,
Ousando no possa sem porvir
Apenas por prazer e nada além,
O amor se desvendando a cada passo,
E quando no final apenas traço
O mundo que deveras nos convém


121

Feliz de quem se fez além de tudo
Ousando em juvenil felicidade
Ainda quando dista a mocidade,
ao menos neste passo eu já me iludo.
O corte se anuncia e sei do mudo
Cenário aonde o todo dita a grade
E marco o que pudera e não mais brade
E quanto em cada queda ao fim me acudo,
Negar cada momento onde se visse
A vida sem saber desta tolice
Mesmices traduzindo cada infausto,
O amor não merecera sacrifício
Nem mesmo o que pudera em precipício
Deixando para trás cada holocausto.

122

O quanto ser feliz tanto mudasse
A vida num cenário mais suave
Meu coração liberto feito uma ave
Vencendo qualquer medo e mesmo impasse,
A sorte se transforma e em nova face
Apenas o que possa e não se agrave,
O rústico momento aonde trave
A luta sem sentido e nos desgrace,
Um turbilhão de luzes onde se sente
Cenário sem igual iridescente
Vagando pelos ermos do infinito
E quantas vezes bebo esta certeza
Usando do meu verso com destreza
Vibrando enquanto a paz eu necessito,


123

O amor que tu me deste se puindo
O tanto se aproxima do vazio
E quando na verdade desafio
O tempo se anuncia e o sonho findo,
Restando o que pudesse não deslindo
O quanto inda tentara em ledo e frio
Cenário sem saber do desvario
Nascendo do que pude e não me blindo,
Acolhem-se ilusões e nada mais
Os dias entre tantos divinais,
Ausência se anuncia a cada engano,
Meu tempo sem sentido e sem razão
A sórdida e diversa hibernação
Traduz o quanto alhures já me dano.


124

O amor que tu me deste, falsos brilhos
E nestes desenhares sem futuro
O quanto sem sentido inda procuro
Vagando por diversos toscos trilhos,
Os olhos são deveras andarilhos
E sigo contra o tempo mais escuro
No todo desenhando este inseguro
Caminho desvendando tais gatilhos,
Espero uma explosão em bala e tédio
A vida ao teria outro remédio,
Apenas outro engano e nada mais,
Ascendo ao mais superno caminhar
Desejo tantas vezes te encontrar,
Mas vejo tão somente funerais.


125

Deixando para trás o meu passado,
Já nada construísse na verdade,
O peso se transtorna e já degrade
Marcando o quanto pude desolado,
O canto noutro rumo desejado
A luta sem saber da realidade
O mundo a cada passo liberdade
Mostrando o que pudera destroçado.
Resulto desta inércia e sigo assim
Deixando o que restara além de mim
Mergulho neste abismo e nada trago,
O tempo se moldando sempre vago
E o corte se anuncia em leda história
Deixando sem sentido a vã memória.


126

Jamais contigo um dia inda falasse
Dos tantos e diversos sonhos vãos,
Marcando com ternura o solo e os grãos
Trazendo tantas vezes outro impasse,
No quanto poderia e não traçasse
Deixando sempre em paz tantos irmãos
Tocando com brandura nossas mãos
A vida se renova em cada face,
O pranto desenhando o medo dita
A luta que pudera e se permita
Apenas outro rumo em meio ao nada,
A noite tantas vezes mais bonita,
A luta se presume e da desdita
A velha solidão decerto enfada.

127

Aonde te vislumbro mais formosa
Percebo o quanto quero e muito além
Meu passo na certeza que contém
Deixando minha vida em polvorosa
Cevando em meu jardim diversas rosas,
O amor quando demais sempre provém
O sonho mais audaz e deste alguém
Estradas divinais e majestosas,
Sonhar com teu carinho em tais delícias
Vivendo com certeza estas carícias
Aonde o meu desejo se faz tanto,
Bebendo cada gota da esperança
O todo sem temor já não descansa,
E nisto outro momento em paz garanto.


128

A vida desengana quem pudera
Traçar além do todo outro momento
E quando na verdade em paz alento
O mundo noutro tom de primavera,
A sorte desenhando a vida fera
E o prazo se mostrara em tal lamento
E quanto mais pudera novo vento
Espalha o quanto quero a cada esfera.
Rolando sobre as pedras, chego à praia
E quando a solidão deveras traia
Mesquinhos dias moldam meu futuro
Aonde na verdade nada resta
Sequer a mesma face atroz, funesta
O todo em dor e medo, eu me torturo.


129


Abrindo toda a terra sob os pés
O cântico louvasse o que não vejo,
Ainda quando tento noutro ensejo
Marcando com temor ledo viés
Assim e tão somente por quem és
O mundo se aproxima e malfazejo
Cenário se negando não desejo
Sequer o que pudera em tais galés,
Amar o quanto pude e não tivesse
E mesmo que tentara em tanta messe
Matando esta vontade e nada trago,
Somente enfim divago sobre o nada,
E vejo a mesma estrada desolada
Negando cada sonho onde te afago.

130

Os céus que me punissem pelo engano
Errático caminho onde imprevisto
Ainda noutro passo se persisto
Aos poucos vou puindo cada plano,
O passo sem sentido e quase insano,
Deixando para trás e já desisto,
Marcando cada passo e sei que nisto
O mundo não se fez jamais humano,
Restauro cada traço aonde um dia
Pudera desejar e não veria
Sequer qualquer momento em claro tom,
A vida não trouxera nada além
Do quanto sem perdão já não convém
Sabendo que este amar seria um dom.


131

Olhando para ti num só momento
Vislumbro este futuro em tom sutil,
E o quanto cada passo se reviu
Marcando com ternura o quanto tento,
Depois de se entranhar no desalento
O vento noutro rumo sendo vil
Apenas o vazio se previu,
E nisto sigo mesmo desatento,
Esgarço os dias velhos entre nadas
E as sortes pelas quais deveras bradas
Matando num segundo o quanto tive,
A cada novo engano, novo ocaso,
A vida se mostrando enquanto atraso
E a luta tão somente sobrevive.

132

O mar que me atrapalha e nega o cais
Dourando com certeza outro momento
E tanto quanto possa busco e tento
Vencer outros caminhos desiguais,
Ainda quando fossem divinais
O tempo se anuncia enquanto invento
Marcando com temor o pensamento
Deixando o meu alento em dias tais,
Vestindo com certeza os dias rudes
Ainda que deveras tu transmudes
Os passos entre tantos se perdendo,
Meu mundo se anuncia em vaga noite
O todo se traduz enquanto açoite
Marcando com temor o dividendo.

133

Os pastores que pudessem nesta aldeia
Cuidar do imenso gado em noite fria,
A luta se desenha em fantasia
E a lua se anuncia clara e cheia,
Depois do que pudera e se incendeia
A sorte na verdade nos veria
Bebendo cada gole em alegria
O amor vai penetrando em minha veia,
O mágico momento em plena glória
Deixando para trás a velha escória
Trazendo uma esperança que redima,
E assim ao mergulhar em braços firmes
Ainda que este sonho não confirmes
A vida muda todo o velho clima.

134

O tempo se congela se não vens
E apenas outros dias tão iguais
Desenhos entre enganos mais venais
Os sonhos são diversos destes bens,
E quando noutro instante me deténs
Cenários entre tantos magistrais
Marcando com ternura os divinais
Alentos onde tudo espalhas sem reféns
Os versos entre tantas noites vagas,
E quando sem ninguém também divagas
A nossa velha história se confunde
O tempo sem ter tempo de mudança
Aonde se pudera em aliança
A solidão deveras se aprofunde.


135

Pudesse desenhar um paralelo
E nele cada passo em mesmo rumo,
O amor quando demais cedo perfumo
E neste delirar meu sonho atrelo,
O tanto quanto pude em teu castelo
Aos poucos sem sentido algum me esfumo,
E vago sem saber do que presumo
Num dia tão diverso quanto belo,
Marcando cada verso em tom suave
Aonde se pudera não se agrave
O justo caminhar em claros dias,
E neste mesmo passo, sigo além
Sabendo da esperança que inda vem
E nela tantas luzes irradias.

136


Vivendo bar em bar, sem ter descanso,
Na luta sem ternura, simples pária
A vida se moldara temerária
E nada do que busco enfim alcanço,
Apenas outro mundo em tal remanso
O corte na verdade solitária
A luta se desenha imaginária
Mas quando me percebo logo canso
Encontro a plenitude que buscava
Depois desta verdade quase escrava
Narrando com temores novos dias,
E nestes vivos sonhos, nada vejo
O quanto poderia noutro ensejo
Matando o que tivera em alegrias.

137


Quando além de tudo tu cismares
Vagando em noite imensa sem sentido,
O tanto quanto pude e agora olvido
Vencendo os temporais em ledos mares,
Adentro em solidão diversos bares,
Do quanto poderia já duvido
E o passo noutro rumo decidido
Marcando com terror velhos altares,
Os olhos de um matuto enamorado
Falando tão somente do passado
Deixando assim de lado uma esperança
Depois de tanto engano vida afora
Agora o que deveras me devora
Apenas ao vazio ora me lança.


138

Infinda esta saudade que carrego
Daquela que se fez etérea e vaga,
Ainda quando o sonho além divaga
Caminho sem sentido quase cego,
O tanto que pudera e mal navego
O passo a cada rumo já não traga
Além da solidão diversa adaga
Que a cada novo engano em vão entrego,
Apresentando apenas o vazio,
Meu mundo noutro passo desafio
E vivo tão somente esta ilusão,
Meus dias sem sentido e sem caminho
Ainda que pudesse ser daninho
O mundo sonegando algum clarão.

139



Brilhando entre os palmares vejo o sol
E nele iridescentes raios belos,
A vida se anuncia em meus castelos
Domina cada passo no arrebol,
Ainda que vivera em tal farol,
Os dias são deveras meus rastelos
E sigo outros caminhos paralelos
Vivendo o que pudesse um girassol,
Mergulho neste lago em plenitude
E nada do que tente ainda ilude
Vencendo os dissabores costumeiros
Desenho com ternura cada passo,
Destarte outro cenário agora traço
E nele vou cevando os meus canteiros.

140

Ainda por te amar sofrendo tanto,
Não tendo solução jamais pudesse
Trazer o quanto pude em rara messe
E neste caminhar nada garanto,
O marco se anuncia em ledo manto
E o passo noutro instante se obedece
E o coração exposto em rara prece
Apenas num alento eu me acalanto,
Jorrando dentro da alma esta vontade
O passo se transforma em liberdade
E a claridade invade todo o verso,
Negando outro cenário,sigo em frente
E quando esta verdade se apresente
Nas sendas deste sonho sigo imerso.

141

O canto enamorado de um poeta
Qual fosse um rouxinol em noite bela
A vida noutra face se revela
E nisto outro momento se completa
A luta tantas vezes predileta
Futuro sem igual deveras sela
E superando o medo, o caos a sela
Cupido me tocando em sonho e seta,
Apenas aprender a direção
Do passo que viceja desde então
Marcando com ternura o que virá,
Meu canto se resume no teu sonho
E quando novo encanto eu te proponho
Desvendo desta vida este maná.

142 ------ sexta feira


O quanto dita a sorte em joio e ou mesmo em trigo
Meu mundo se desenha e tento logo após
Vencer o que se molde e traz além da foz
O passo onde me perco e aos poucos desabrigo

Arcando com meu erro assim tento e prossigo
Produzo novo intento e bebo a sorte em nós
O marco se aproxima e tento em fúria, a voz
De um marco mais suave e sei demais antigo,

Reinando neste ocaso o prazo se findara
Deixando que se veja apenas a seara
Deveras desenhada em inocente sonho.

Partindo do começo ao fim em tom igual
Raiando um belo sol, imerso onde é banal
Proposta que hoje eu trago em ar turvo, enfadonho.


143


Pudesse ser feliz se após já permitia
Ousar noutra palavra o medo sem sentido
E o canto novamente expressa o quanto olvido
Traduzo tão somente a vida em agonia,

Negar o que vivesse e nisto a vida adia,
O tempo se aproxima e vejo dividido
O passo aonde um dia o tempo presumido
Apenas num segundo ou nada mais traria.

Restauro o traço aquém do quanto quis e sinto
Somente o que me resta, o sonho em ledo instinto
O vasto caminhar em noite sem proveito

E quando imaginasse apenas um alento
Meu sonho satisfaz o quanto ainda tento
E neste emaranhado extenso então me deito.


144

Não tenho outro momento e quero acreditar
No prazo que se dera a luta sem ter fim
Mecânica diversa a que pensasse em mim
Ou mesmo me trouxesse a marca de um luar

Numa expressão serena aonde me entranhar
O rústico cenário e o tempo traz enfim
As cores mais sutis e belas do jardim
Aonde sem saber eu aprendi a amar,

Viceja cada sonho e traz em raro brilho
O manto em paz bordado e quando além eu trilho
Enfrento os vendavais e vejo o quanto traça

A vida sem sentido ou mesmo em discordância
E nisto se veria ao longe nova estância
E o pântano previsto, embuste em noite escassa.


145
Aonde esta epopéia expressa o quanto pude
Vencer cada momento em dor ardor ou tédio
A vida se desenha e nisto um velho assédio
Expressa esta mortalha em leda juventude

O charco se anuncia e molda o passo rude
E desabando o sonho, imenso e frágil prédio,
A luta se apresenta e sem um só remédio,
Insanidade trama o quanto além transmude.

Vencer o descaminho e ter no olhar o rumo
Enquanto se anuncia o medo onde me esfumo
Vagasse sem proveito e sem sequer a paz,

Acordos mais sutis e engodos costumeiros,
Aonde sendo vis os dias corriqueiros
Não deixam que se veja o quanto enquanto o traz.

146

Na sorte desenhada entre momentos vãos
Os olhos no horizonte e o tempo determina
O quanto se tentara e vendo ser a sina
Emanam-se no olhar os dias entre nãos,

A sorte se aproxima e cevo antigos grãos
A noite que eu quisera anseia cristalina
A senda sem sentido; apenas já fascina
E trama noutro ocaso os passos noutros chãos,

E sei do desafio e nele me entranhava
Marcando com constância o mundo em elegância
E nada mais teria além da discrepância

Ousando em enfrentar a sorte sendo escrava
Matando o quanto trago em erro e me disperso
Pousando na incerteza e sigo além imerso.

147

Já nada mais teria enquanto versejasse
Deixando para trás o passo mais audaz
E quando na verdade a vida não se traz
Cerzindo cada rumo e vejo o velho impasse

A vida não traduz nem mesmo este repasse
Tramando o que teimando apenas fui capaz
De ter no olhar sem rumo o mundo outrora em paz.
E o peso se anuncia e nada mais se trace.

Somente o medo dita em ermo caminhar
O quanto se pudera ainda imaginar
Crivando em sonho e meta a luta sem porvir,

Ainda em destemor a queda noutro infausto
Até que me perceba apenas mais exausto
Vivendo o quanto tento ainda redimir.

148

Jamais a vida traz o que mais desejara
Quem tanto entre brumosa essência se perdendo
O canto se traçando aonde sou remendo
Na noite sem destino e nesta vã seara,

A luta se desenha e sei da sorte rara,
Enquanto mais silente o nada percebendo,
Prazeres tão sutis num mundo tão horrendo
Enquanto esta harmonia aos poucos não notara,

Esqueço sentido e rota e nada mais me diz
Do mundo que pudera e tento ser feliz,
Dos astros imenso céu envolto em claridade

E quando se tentasse ainda acreditar
Bebendo cada raio imerso em tal luar
A vida sem sentido aos poucos se degrade.


149

Meu canto sem sentido e sem acento
O lúdico cenário traz por si
O quanto desejara e além perdi
Entregue o coração e exposto ao vento,

E quando alguma noite em paz eu tento,
O tanto que versejo e sei em ti,
Amar e desenhar em frenesi
O caos tomando todo o pensamento.

Após o que tentara e não tivera
Encontro em desencontro a primavera
E sigo sem sentido e sem anseio

Depois de cada ocaso uma manhã
Trazendo o meu caminho em senda vã
Ditando o que seguira e devaneio.


150

Pediste que deveras não restasse
Sequer a menor sombra desta história
E o tempo se perdendo na memória
Aonde o meu momento não vagasse.

A leda sensação que traz o impasse
A sorte tantas vezes merencória
E gera nulidade e sem a glória
O tempo na verdade se ultrapasse.

Presumo o que inda vejo e não resumo
Meu mundo se perdendo e sem o sumo
A vida não teria qualquer luz;

O verso se anuncia sem razão
E os dias noutros dias volverão
E o sonho no vazio se traduz.


151

Não posso nem sequer mais procurar
Quem tanto desejara e não mais vira,
Ainda que se encante com a lira
Já não consigo até mesmo cantar,
Vestindo o quanto quero imaginar,
A sorte noutro rumo agora gira
E trago dentro da alma esta mentira
E dela não consigo me livrar,

Apenas o caminho mais audaz
A vida com certeza não me traz
E deixa bem aquém da fantasia

Depois que tu partiste o que restou
Desenha o quanto agora desabou
E marca o pouco além que inda teria.

152

Atendo ao teu pedido e simplesmente
O marco se desenha em tom atroz
Já nada mais contendo a antiga voz
E nela se desdenha o que se sente,

O manto se desdenha e plenamente
Mergulho neste instante ou logo após,
Tecendo do passado o rumo algoz
Aonde meu caminho não se ausente.

Apresentando o caos aonde um dia
Pudesse desejar e nada veria
Sequer a menor sombra do passado,

A luta se desenha e se definha
A sorte que julgara ser tão minha
Deixando para trás o inútil brado.


153

Bobagens tantas ditas por quem ama
São meras traduções do que entontece
E quando se teimara em nova prece
Vencendo com certeza esta árdua chama

A voz que em tenebrosa senda clama
O prazo sem sentido onde obscurece
A vida que deveras tem por messe
O amor que na verdade tanto chama.

Esqueço esta ventura e nada vem,
Somente o teu olhar, velho desdém
Vestindo esta quimera, falsidade,

Aprendo a desejar a sorte boa,
Mas quando no final além ecoa
A voz não mais teria liberdade.


154

Apenas odiando o quanto tenho
No insólito momento onde pudera
Vencer o que decerto desespera
E marca a própria vida em ledo empenho,

E quando na verdade sempre venho
Tramando o quanto vivo em leda espera
O mundo se anuncia em trevas, fera
Que marca o quanto tento e não convenho.

Assisto ao fim do jogo e nada resta
Ainda que tentasse além da festa
Ocasionando o passo sem sentido,

E nego qualquer norte sem saber
O todo que tentara ainda ver
E nisto cada passo enfim olvido.

155

Apenas o que possa em tal queixume
Trazer outro momento sem sentido
O prazo determina o quanto olvido
Somente no vazio se resume,

Amar e ter um pouco de ciúme
Deixando onde se possa em desvalido
Vestindo o que se entrega resumido
Caminho aonde possa além do cume,

Vagar entre tempestas e não crer
No quanto poderia amanhecer
Depois de tanto tempo sem sentir

Enfrento o que perdera este matiz,
Deixando o quanto traz e a vida quis
Negando qualquer passo no porvir.


156

Sentir o teu perfume e ver o quanto
Meu tempo se anuncia e nada vejo
Somente o que pudera em benfazejo
Momento se tramando um raro canto,

E quando no final nada garanto
Apenas o que tente e se prevejo
Vencer o descaminho e além desejo
Sincera sintonia onde me espanto,

Sincrônicos caminhos, paralelos
Os dias desenhando velhos elos
E tento acreditar que isto é possível,

Ainda que vencesse o descaminho
Gestando aonde além tanto me alinho
Trazendo a cada olhar o quanto é crível.



157

Ao caminhar em noite escura eu vejo
A sombra de quem fora e não voltara
Tomando como névoa esta seara
Deixando para trás qualquer desejo,
A sorte deste velho sertanejo
Viola se ponteia e assim declara
O quanto de emoção quer e prepara
Marcando com delírio cada ensejo.
O coração mineiro apaixonado,
Depois de certo tempo desolado
Já nada caberia senão isso;
Um sonho sem proveito e nada além
A noite dita estrelas lua e sonho,
Porém este momento em dor, medonho
É tudo o que decerto ainda vem.


158


Não tento mais sequer saber do passo
Aonde poderia me perder
Tentando noutro instante o amanhecer
E aos poucos já não vejo o menor traço
Do sol que imaginara e sem espaço
Agora não consigo nem mais crer
Vestindo de temor cada viver
Enquanto dia a dia eu me desfaço,
Falindo o coração aventureiro
O canto se inda existe, o derradeiro,
O verso dominando este momento,
Porfio contra a sorte e na batalha
O vento noutro rumo ora se espalha,
Um mundo mais tranqüilo, inútil, tento...


159



Tão belo quando escuto a voz do vento
Assobiando versos de saudade,
E o tempo se desenhe e tanto agrade
Cerzindo o quanto resta em pensamento,
E quantas vezes; vejo, ou mesmo tento
Restando muito pouco em claridade
Ousando noutro tom felicidade
Embora com tamanho sofrimento.
Ditames da saudade, mel ferrão
Assim no enxame louco da paixão
A vida se desenha e se definha,
Daninha? Pode ser. Mas tudo bem
O tanto que a saudade me contém
Me faz pensar que ainda és toda minha.

160

Remotas sensações do velho medo
Abrindo esta porteira, o coração
Os dias mais audazes mostrarão
O passo aonde o nada além concedo,
Depois de desenhar em tolo enredo
As horas sem sentido e direção
Vencido o descaminho desde então
Depois da tempestade, este degredo.
O marco audacioso da esperança
Ainda neste espaço em vão me lança
E tento acreditar em novo dia,
Mas quando se aproxima o fim da tarde
A noite sem luar que inda me aguarde
O sonho novamente a vida adia.

161


Um hálito diverso do que outrora
Trazia neste doce e bom bafejo
O tempo diferente do que vejo
E a sorte noutro porto agora ancora,
Ainda quantas vezes me apavora
O temporal atroz que ora prevejo
O vento que julgara benfazejo
Determinando o fim, logo devora.
E sinto sem saída o passo quando
O mundo de tal forma desabando
Não deixa que se toque no infinito,
Um verso mais audaz eu poderia,
Mas quando vejo morta a fantasia
Apenas do que reste; eu necessito.

162


Jamais acreditara em solução
Depois de tanto engano pela vida,
A história noutra face resumida
E os dias tramam leda negação,

Pudesse adivinhar e desde então
Teria o quanto possa e não divida,
A senda que julgasse mais florida
Jazendo noutro caos sem direção,

Aprendo com a queda, a faca, a foice,
E sei que esta esperança em sonhos; foi-se
Deixando para trás o descaminho

Tentando vislumbrar novos corcéis
Os mundos desenhando carrosséis
Sobrando para mim somente o coice.

163


Jargões diversos ditam tal momento
E sei quando se trata do não ser
O mundo noutra face; a se perder
Embora a solução, incauto eu tento.
O mar se revoltando em forte vento,
O dia que não pude conhecer
O tempo se aproxima de um querer
Diverso do que rege o pensamento,
Negar qualquer vontade e ter deveras
Apenas estas garras, presas, feras
E o tempo se anuncia mais instável,
Depois da tempestade; uma bonança?
O amor que de esperar ora se cansa
Sabendo deste sonho inalcançável.

164


Jogando sobre a areia o meu saveiro
As ondas em procelas dizem tudo,
E quantas vezes; tente mais me iludo
O tempo se desenha aonde esgueiro
O todo que tentara por inteiro
Agora se transforma e me amiúdo,
Do passo desenhado; hoje eu vou mudo
Volúpia diz do encanto derradeiro,
E a noite se anuncia em frio e neve
O rumo tento além; mas não se atreve
Uma alma sem sentido e sem por que
Depois de certo tempo nem se vê
A marca desenhada sobre o chão,
Do que fora, em verdade, solidão.

165


Ourives da esperança, algum poeta
Pudesse lapidar o que não veio,
A sorte noutro passo, o mundo alheio
A luta se desenha e não completa
A via se expressando em torpe seta
Cruzeiros mais distantes; nada creio
E o tanto que inda resta hoje rodeio
Tentando pelo menos uma meta.
Jogando contra os erros do passado
O tanto quanto pude desenhado
No caos que cada verso hoje matiza,
Retrata o dia a dia de quem sonha,
Embora a luta seja até bisonha,
Entrego o meu caminho à mansa brisa.

166


Bom dia, meu amor, a vida segue
O rumo sem desvios ou tormentos,
Os olhos entre vagos pensamentos
O rústico momento em vão prossegue,

Ainda que pudesse crer, não negue
Além de cada olhar os sentimentos
Vencessem os temidos desalentos
E o velho coração jamais sossegue.

Cercando com ternura ou mesmo dor,
Buscando nos teus olhos, refletor
Grassando sobre o mundo que não tenha

Sequer onde ancorar, o barco apenas
Repete do passado velhas cenas,
E nem uma esperança mais contenha.

166

Trazendo esta alvorada no meu peito
Embora saiba tarde o que inda resta
O prazo determina o que não presta,
E o vento sem sentido toma o pleito,

Vestindo esta ilusão enquanto aceito
Planejo no sertão do sonho, a festa
E a luta se desdenha e não gesta
Sequer o quanto em paz toma este leito,

Assisto ao fim da tarde, e bebo a noite,
Sabendo que virá pós o pernoite
Apenas o final da caminhada,

E sendo de tal forma cuidadosa
A vida se presume e mata a rosa
Prepara-se no fim para outro nada.


167

Alimentando o sonho em profecia
Restauro o que se fez e não coubesse,
Ainda o coração louvando em prece
A sorte na verdade não queria,
O prazo determina o fim do dia
E além neste festejo, na quermesse
O passo sem saber nada obedece,
Somando no final sigo vazio,
E o quanto sem sentido desafio,
Arranco cada parte e nada sobra,
Além desta loucura onde a manobra
Deixando a nossa sorte por um fio;
Em pouco tempo apenas se desdobra.

168

Jornada após jornada sigo sem
Sentir o que inda tenha no final
O passo sem saber do bem ou mal
Expressa neste instante o que não vem,
Legado que recebo sem um bem
A parte que me toca, sempre igual
Desenha o quanto ausenta e mais banal
O verso sempre imerso diz ninguém.
Presumo do pé-sujo outro lugar
Em meio aos mil clarões, belos neons
Gerando estes momentos que sei bons
Voando sobre tudo irei buscar
Ao fim de certo tempo a aterrissagem
Trazendo a solidão; velha bagagem.


169

Fragilizando o sonho sem sentido
Esqueço os meus velhuscos dissabores
E sei que na verdade ao decompores
O caos agora segue apodrecido,

Não posso sonegar enquanto eu lido
Com tais jardins sem ter sequer mais flores
Ousando acreditar em novas cores,
Depois do meu destino aquém cumprido.

O risco de saber e de antemão
Os dias que sem nada não verão
O canto em fantasia ou mesmo engodo.

Depois de certo tempo não mais vejo
Sequer o quanto quis tão benfazejo,
Restando tão somente a lama e o lodo.

170

Vermelhava a saudade no meu verso
E o pranto desenhando o quanto nega
A luta se aproxima em tal refrega
E o medo toma conta do universo
Assim enquanto mesmo desconverso
A sorte se anuncia sempre cega
E o barco sem destino não navega
Apenas no vazio sigo imerso,
Depois da ocasião não mais veria
A lua avermelhada, a poesia
E o tempo sem sentido perde o prumo,
Ao ver esta ilusão se desbotando
Aonde imaginara bem mais brando
Aos poucos num engano eu já me esfumo.

171


Já não suporto mais qualquer cangalha
A vida que escraviza e me tortura
Deixasse pelo menos a brandura
Domar o frio corte da navalha,
Jazendo aonde o sonho inda batalha
A luta prosseguindo em noite escura,
A morte se transforma e se conjura
É fogo dominando inteira a palha,
Canhestro coração me chicoteia
E viciado em quedas continua
Sabendo ser distante a bela lua,
Das nuvens se desenha a frágil teia.

172

Já tanto me esgotara em tal desgosto
Cevado para o fim em sortilégio
O coração traduz o quanto é régio
Caminho sem sentido aquém exposto,
Sentindo da esperança o leve gosto,
Ainda se fosse algum egrégio
Momento em que pudera privilégio,
Mas sei do quanto pago em tosco imposto.
Lacunas entre quedas, desengano
E quando no final eu me profano
Presumo o caos após os temporais,
Jagunço da esperança, o bem querer
Tramando sem sentido o amanhecer
Responde o que pensara ser jamais.

173

Alvejo uma esperança na alameda
Dos ermos caminhantes sem futuro
E sei do passo atroz nada seguro
Enquanto uma ilusão a mais conceda,
Assim ao me sentir nesta vereda
O quanto imaginara ser seguro
O passo noutro ocaso e me torturo
Deixando esta alegria bem mais leda,
Aprazo o que inda resta, mas no fim
Do nada vê surgir outro jardim,
Jogado contra as pedras velho barco,
Assisto no alvejar impertinente
O rumo que deveras já se sente
Diverso do que em sonho tolo abarco.

174


Dos córregos unindo no ribeiro
Assim vejo a emoção de alguma luta
Enquanto na batalha se reluta
Eu quero o resultado derradeiro,
Negar o quanto possa e por inteiro
A fonte mais audaz, nem sempre astuta
Uma esperança velha, esta matuta
Num canto que pudera e não me esgueiro.
Esgares de quem tenta acreditar
Numa alma que tentasse menos suja
A face disfarçada em garatuja
O manto se aproxima a divagar
Marcando o que teimasse ser diverso
Matando em nascedouro este universo.


175


O quanto mais me afasto mais me ajunto
E tento acreditar no inverso disto
E sei que na verdade assim persisto
Fazendo desta soma um mal conjunto,
Ao medo sem juízo o velho assunto
Tramando cada engano onde resisto,
Morena situando eu não resisto
O coração sozinho é qual defunto.
Lacrasse o que me resta vivo, então,
Trazendo eterna seca no sertão
Deixando ao deus-dará o canto em falso,
Nesta aridez de solo sem proveito
O quanto poderia e não aceito
Presume no final o cadafalso.


176

O amor já não seria algum suplício
E nem trouxesse algemas nem gradis,
O quanto se transforma e já desdiz
Ferrando desde sempre em precipício
O tanto que pudesse em artifício
Deixando para lá tal cicatriz
O medo não pousara no aprendiz
Fazendo da esperança um mero ofício,
Jagunços espalhando bala e faca
Punhal adentra o peito e a seda aplaca
Jorrando efervescência em tal sangria,
Mordendo o que bem sei seria a sobra
O mundo noutro engodo se desdobra
E nada mais decerto em paz, traria.

177


O meu nascer invés de ser festejo,
Foi vômito da porca natureza
A vida sempre traz na sorte presa
Bem mais do que decerto inda desejo.
O sonho se transforma num bocejo,
A luta não deixara a senda ilesa,
Invisto contra a forte correnteza
Futuro? Na verdade malfazejo.
Tropeço nos caminhos mais sutis
Quisera e na verdade nada diz
Senão a mesma noite mais sombria,
Dos erros costumeiros sou mais um,
Somando o quanto trago resta algum
Bem mais até do que já merecia.

178

Um arremedo dita o dia a dia
E não concedo um passo rumo ao que
Ainda se vencesse algum cadê
Talvez tornasse a vida menos fria,
Expresso no não sei a fantasia
E bebo o quanto tento e nada vê
Uma alma sem sentido apenas crê
No rastro feito em fúria, e em vã sangria.
Demônios que eu carrego desde cedo,
E quando no vazio eu me concedo
Acendo o velho ocaso, no horizonte,
Sem ter qualquer semente árido chão
Marcando em total destruição
Ainda que outro passo o sonho aponte.

179


Bebesse mais um gole da aguardente
Deixada pela sorte, em má fortuna
E quando vejo o nada que desuna
Meu tempo noutro passo ainda tente,
Sentindo o quanto pôde, impertinente
Desértica emoção a cada duna
E neste delirar a vida puna
Quem tenta ser deveras mais contente.
Jazigo invés do quanto eu quis jazida
E assim ao embotar meu fim de vida
A pena se cumprindo e com mais juro
O tanto quanto possa ser alheio
Já nada mais concebe e o que receio
Decerto é no final o que procuro.

180

Sou filho do quem sabe ou do talvez
Criado ao deus-dará, sobrevivente
Embora tanta vez impertinente
O quanto poderia se desfez,
O que decerto agora ainda vês
Ainda que esperança não freqüente
O prazo se mostrara e mais descrente
Roubara o que restara em lucidez,
Na ponta do punhal, no canivete
O todo que deveras se promete
Traduz a morte apenas neste instante,
Depois a vida segue seu caminho
E sei que embora seja ao fim daninho,
Futuro de tal forma se garante.

181

O passo se resume em emboscada
Depois do quase ter e no final
Repete a mesma história sempre igual
Trazendo após a queda o mesmo nada,
A luta pelo ocaso desenhada,
Dos vagos dos rincões à capital
O preço se mostrando mais venal,
A fonte há muito tempo degradada.
Cartadas no final? Um mero engano,
O prazo determina o soberano
Caminho sem proveito e sem promessa,
Norteio meu caminho pelo teu
E o quanto que restou não mereceu
Sequer o quanto possa ou me interessa.

182

Deste endemoninhado caminheiro
Por entre as mais profundas e profanas
Enquanto no final já desenganas
Da luta que se trava, nem o cheiro,

O manto se desenha e aventureiro
O coração em ordens soberanas
E sei que sem proveito algum me danas
Vestindo qualquer medo corriqueiro,

Ausento dos meus erros e prossigo
Buscando a cada passo um novo abrigo
Ouvindo o velho vento nos clamando,

Espero na tocaia da esperança
O rumo que sem prumo sempre avança
Deixando para trás o que era brando.

183


Espíritos diversos invadindo
A mente sem juízo ou profanada
A luta sem saber ainda brada
Gerando esse caminho atroz e infindo,
Matando o que pudera ser tão lindo
A noite se pensara constelada
E quando no vazio é desenhada
Ocasos dentro da alma produzindo.
Aprendo com a queda e disto eu vivo,
O ser por ser apenas um cativo
Não sabe mais escolha ou horizonte,
Depois de certo tempo resta apenas
As horas onde tanto me condenas
Ou mesmo a vida atroz me desaponte.

184

Descarnas e descansas logo após
Nas férias onde a vida desse o prazo
E neste caminhar intenso ocaso
Jazendo qualquer sonho dentro em nós
Ao caminharmos sempre para a foz,
Dos sonhos sem proveito eu me defaso,
E bebo o sortilégio e já me atraso
Tentando em harmonia a nossa voz,
O cântico se trama noutro pranto
E nada mais pudera ou mal garanto
Vestindo a fantasia que me resta,
Depositando a sorte em urna escusa
A vida se apresenta mais confusa
Na luta tantas vezes indigesta.

185


Crescendo entre o temor e o farto engano
A praga mais comum por estas plagas
Enquanto sem sentido algum divagas
No fundo também cego eu já me dano,
Porfia quem pensara ter tutano
E o rastro destas sombras, quando alagas
E tanto sem sentido tu me esmagas
Destroças o que fora mero plano,
Apresentando assim o que inda tenho,
O mundo sem razão e sem empenho,
Lanhando as minhas costas com vergastas,
As horas entre engodos sendo gastas
E nisto deste todo já te afastas
E nada mais que trague abrisse o cenho.

186

Espero alguma luz e nada veio
Somente esta semente sem proveito
Linguagem sem sentido não aceito
Marcando o quanto possa e não rodeio,
Vagando o que tentasse sem receio
E bebo este momento em raro pleito
Devassas no meu sonho e no meu peito
O mundo ultrapassando algum recreio.
A faca se afiando nesta briga
Ainda que deveras já consiga
Eu sigo sem saber o que viria,
Morrendo mais um pouco noutro rumo,
E sei do quanto possa e assim consumo
O que inda me restara em alegria.

187

A morte encomendada é sempre justa
E deita esse defunto em capinzal
O tempo feito à bala, ou coisa e tal
Ainda que em verdade; a conta ajusta
O preço variando enquanto custa
A sorte desenhada num quintal
O corpo se estendendo traz o aval
Da dita sem sentido ou mesmo augusta.
Gerar os erros quando nada veio
O tanto se mostrara sem receio
E o vago caminhar em pedra e caos
Zunindo pelos ares, o balaço
O sonho noutro engano eu já desfaço
E subo para inferno outros degraus.

188

Presumo que inda venha após o fato
A cantoria trata do que vejo
E quando se tentasse no desejo
Momento que deveras mal resgato,
O tempo no vazio não constato
E sei do quanto pude e não prevejo
Senão qualquer final e noutro ensejo
A seca dominando este regato.
E nada mais tivesse qualquer ponto,
Ainda que se mostre e nada conto
Senão cada momento ou mesmo até,
Perdendo a direção do meu caminho
Mostrando o que pudera mais mesquinho
Deixando para trás o rumo e a fé.

189

Das tramas desta vida a mais comum
Traduz o caminhar quase sem rumo,
Depois de certo tempo eu me acostumo
Do todo imaginado mais nenhum,
Pintasse o velho sonho, este urucum
Avermelhando a sorte onde resumo
O pasto da esperança e neste sumo,
Não tento imaginar de modo algum.
Desculpas não resolvem o problema
E quando no final a vida tema
A trama desenhando em leda história
Do quanto tentei ver e não se cria
A luta se desenha em agonia
E a sombra traduzida, merencória.


190

Jornada após jornada jorra o sonho
E trama a mesma luta sem descanso
E sei que no final mais nada alcanço
Senão este momento onde o proponho,
E o verso tantas vezes decomponho
Vestindo o que deveras fosse manso,
O prazo determina enquanto lanço
Meu passo no horizonte mais tristonho.
Jamais pude viver felicidade
E quando no final tanto degrade
O preço a se pagar não justifica
A noite extasiante do passado
Agora diz somente o quanto invado
A noite que sem rumo se complica.

191


Braseiro no lugar dos olhos; trazes
Incinerando o sonho do poeta,
A vida noutra fase se repleta
Marcando os velhos dias mais tenazes,

E mesmo que decerto ainda atrases
A sorte em discordância nega a meta,
A porta no vazio se completa
E a vida desenhando asas mordazes,

Assisto ao fim da tarde, e no crepúsculo
O sonho se transforma e tão minúsculo
Escuto apenas ecos do que vira

A cada nova queda a vida arpoa
Deixando para trás peixe e canoa
Levando dentro da alma outra mentira.


192

Rasteiras noites dizem deste arbusto
E nele se aproxima o mais além
Do quanto na verdade não retém
Deixando o que pudera a qualquer custo
E quando no final enfim ajusto
O passo sem saber mais deste alguém
Retesando o velho arco e com desdém
O preço nunca fora reto e justo.
Apresentando ao fim desta invernada
A faca noutra pele ora afiada
Oradas entre flores? Ilusão.
Somente traduzisse os que verão
Gerando depois disso o mesmo nada
Mal importando sorte ou estação.

193

Um tiro a mais no escuro e a bala trama
Caminho divergente ou paralelo
E quando noutro rumo me revelo
A vida sonegando qualquer drama,
Lacônica vontade já me clama
E traço com futuro um infindo elo
E neste caminhar somente atrelo
O passo desdenhoso em medo e lama,
Assuntos tão diversos, noite afora,
A luta se desenha e revigora
O prazo determina o fim do jogo,
Ainda que pudesse noutro rogo
Vencer o quanto bebo e me apavora
Traçando o meu destino a ferro e fogo.

194

Legados diferentes, medo e sonho
No fundo são iguais, mesma carniça
E quando qualquer canto não mais viça
A sombra do passado em vão; proponho.
O trágico momento até bisonho
O mundo sem proveito além enguiça
E a senda se mostrando movediça
Enquanto o meu caminho ao nada oponho.
Espécies diferentes, mesmo cais
E nada do que possa em magistrais
Vontades se aproximam do que um dia
Trouxera em ledo canto outra vez mais
Meu prazo que deveras não traria
Sequer o quanto ousasse em fantasia.

195


Um brinde e não me blindo, sigo alheio
Ao preço que se cobra por sonhar,
Depositando os olhos no luar
Enquanto o meu caminho diz receio,
E sei do que pudesse e já não veio
Escolho aonde eu tente divagar
Sabendo que no fim cada lugar
Traduz diversidade neste esteio,
E bebo o meu anseio sem sentido
Transcendo ao que pudera e dilapido
Jogado sobre a areia por tal onda
E nada mais soubera senão isto,
E quando no final, inda resisto,
Apenas a saudade não responda.

196

Um eco do que fosse voz e teima
Amena resistência? Não mais crendo
O tanto se aproxima do remendo
E o mundo sem sentido a sorte queima,
Amor se desenhando em guloseima
A sorte se traduz e me envolvendo
Aos poucos noutro encanto me perdendo
A morte se aproxima e sei que teima.
O parto onde se aborta o sonho em vão
E os dias entre tantos mostrarão
Apenas o velório que carrego,
Depois de quanto pude ou mais tentara
Sobrando para mim esta seara,
O passo se fechando num nó cego.

197

Dos cupinzeiros trago esta lembrança
Moleque nas montanhas das Gerais,
O pasto num repasto sem jamais
Traçar o que esta luz ainda alcança
A pressa não presume quem descansa
E bebe destes fatos desiguais
E nisto quanto muito descontrais
Deixando para trás a vida mansa.
Açudes onde a sorte não responde
A luta se desenha e sei por onde
Começa o fim de tudo, nada além,
Vestindo o quanto invisto noutro fado
Apenas o que resta e já degrado
Tramóia sem sentido sempre vem.

198

Uivando contra a lua, noite adentro,
O mundo se adensando noutro parto,
O quanto da esperança não reparto
Enquanto no vazio eu me concentro,
E neste delirar sei que no centro
Do todo outro momento inda comparto,
E cada novo sonho hoje eu descarto
E o corte dilacera aonde adentro,
Marcando o dia a dia em turbulência
A sorte se permite na ingerência
Do tempo após o tempo em concordância,
Enluto o coração e nada vindo
Somente o meu caminho distraindo
Aonde se quisera em nobre estância.

199

Lagunas entre mares, terras, sendas
Nos prados e nos campos verdejantes
Os olhos onde nada mais garantes
Sequer outros caminhos; já desvendas
Amores só seriam meras lendas?
E nestes sóis diversos e brilhantes
Os templos tantas vezes deslumbrantes
Enquanto os meus anseios não atendas,
Rendido ao que pudesse ser diverso
O tanto desdenhando este universo
Disperso o meu alento e já sem voz,
O quanto poderia ser complexo
Traduz momento atroz e sem reflexo
O mundo se desenha em tantos nós.

200

Edênico momento aonde um dia
Elementares noites percebidas
Deixando no passado ainda as vidas
Enquanto muito mais se merecia,
O prazo determina o que se adia,
E vence a turbulência onde erigidas
As sortes não pudessem nem duvidas
E nisto nega ao fim uma harmonia,
A cândida presença de quem amo,
A vida se transborda e em cada ramo
Apenas um sinal do que já fora,
Ocaso por acaso atrasos dita
E o quanto desta noite tão maldita
Sonega o quanto a quis mais sonhadora.

201

Prenunciando a queda após o fato,
O manto sem ter brilho reproduz
A ausência mais completa desta luz
Aonde o meu caminho em vão retrato,
O tempo se anuncia e não resgato
Sequer o que pudesse em contraluz
E o canto sem sentido algum produz
A quebra do que fora este contrato.
A bala ultrapassando este limite
No fim já nada mais tente e acredite
Ousando na parábola sem fim,
Ascendo em espiral desenhos tétricos
E sei dos meus anseios quase elétricos
Marcando com temor o nada em mim.

202

A vida em providência me encamisa
E traz após a queda esta lembrança
E quando para além ainda avança
Bebendo no final a mansa brisa,
A sorte tantas vezes mais precisa,
Depositando em sonho o quanto alcança
A marca de tal forma ao fim me lança
E nisto outro momento em vão matiza.
Dos bambuzais apenas os vestígios
E nestes longos anos em litígios
Diversos se tentara a liturgia
Dançando entre os missais, promessas falsas
Enquanto no caminho os sonhos calças
O tempo em caudalosa hemorragia.

203

Prepare esta jogada e veja o quanto
Do passo poderia ser alheio
E tento outro momento e não receio
Sequer o que deveras não garanto,
Pudesse ter além do desencanto
Bebendo a minha sorte hoje eu rodeio
O tétrico cenário e nele veio
Apenas o momento em erro e pranto,
Ascendo ao mesmo engano e vez em quando
O bote noutra cena preparando
Expressa o fim do jogo e nada mais,
Ainda que pudesse imaginar
Acida a minha vida sem lugar
E sorvo sem temor os vendavais.

204

O canto se aproxima do que um dia
Tentasse após vencer os desafios
E sei dos erros tantos mais vazios
E neles cada sorte ditaria,
A morte não será mera heresia
Nem mesmo ao desatar os velhos fios
Acende do não ser estes pavios
E a lida noutra sorte explodiria,
Crivando o coração em bala e tédio,
Já não teria em paz este remédio
Que tanto procurara inutilmente,
Desfaço cada passo em tom atroz,
Calando desde sempre a minha voz
E o quanto inda me resta a vida mente.

205


Nos embornais da vida, abarrotados
Os ermos de meu sonho são vulgares
E quando na verdade me encontrares
Verás os dias tantos degradados,
Enfrento sem temor os velhos fados
E bebo do vazio onde sonhares
E sei que na esperança dos altares
A vida joga ao léu cartas e dados,
Represo esta vontade e nada vejo
Somente o que tentasse noutro ensejo
E vibro em consonância com o sonho
Enquanto fora audaz e mesmo até
Vivendo o que inda resta em leda fé
Uma saída a mais sempre componho.

206

Nos tantos dias feitos do que visse
Emaranhados em caramanchão
Os tempos se mostrando desde então
Tramando cada passo em tal tolice,
O mundo sem certeza contradisse
E sei dos dias novos que verão
Apenas o que possa em solução
Vencendo o que se molda em tal mesmice,
E nada do passado inda carrego
O rumo se desenha e sendo cego
Somente mal farejo alguma sorte,
E o tanto que arredio o mundo nu
Sendo mirim o quanto quis açu
Já nada mais deveras me conforte.

207

Apresentando ao fim dos desenredos
Os olhos semeando mero ocaso,
E quando no final eu já me atraso
Condeno os meus caminhos, vãos degredos,
E sei desta esperança em dias ledos,
O tempo ultrapassasse e em muito o prazo
A vida se desenha num acaso
E sinto sem sentido os meus segredos,
Acolho em paciência o que me sobra
O tempo desenhando em cada dobra
A luta sem descanso, avanço e caio,
Na velha sensação de algum desmaio,
O quanto na verdade ao fim me traio
Na mera fantasia o tempo cobra.

208

Cadenciando o passo rumo ao quanto
Pudera ser além de mero ou nada
A luta se aproxima desenhada
E nisto nem um pouco em paz garanto,
Alheio ao que pudera noutro canto
A sorte tantas vezes desdenhada
Aos poucos o que resta não mais brada
Deixando tão somente o desencanto,
Algemas do que tangem fantasias
E neste caminhar nada verias
Senão as mesmas vastas ilusões
E nelas outras tantas que desdenhas
E a vida se presume em tais ordenhas
E cerzis o que agora mal me expões.

209


Trazendo na bagagem bala e tiro
O manto se desdobra noutro rastro
E deste desenhar se tanto alastro
Ao mesmo tempo o rumo em paz prefiro,
Mas sei do quanto possa e me retiro
Deixando para trás o antigo lastro
E quando esta esperança além eu castro
O quanto ainda resta além eu miro,
E faço deste caso o que inda rege
A vida tantas vezes, mais herege
E tramas entre augúrios e fastios,
Os tempos sem futuro e sem passado
Meu canto na verdade eu já degrado
Em dias sempre iguais, toscos, sombrios.

210


Um corte na carótida outra morte
E a vida se repete em tal constância
Viceja dentro da alma esta ganância
E nela cada passo que se aporte,

A senda que pudesse ter por norte
Sem nada que em verdade, sei que alcance-a
E neste caminhar sem elegância
A foice repartindo em ermo corte,

A luta desabafa o que trazia
Esta alma em temor ou agonia
Nascendo deste caos dentro de mim

Estrumes entre mortos e batalhas,
Nos campos onde os corpos tu espalhas
Tu cevarás ao fim o teu jardim.

211

Adentra o coração meu verso incauto
E bebes o que resta deste pouco
O quanto inda pudera e já treslouco
Querendo na verdade um mundo lauto,
A sorte se desenha aonde asfalto
Um grito sem sentido e mesmo rouco
Fazendo que nem ouço, sou qual mouco
A queda se anuncia num ressalto,
Parâmetros diversos; vida afora
E o tempo com ternura ora me ancora
Marcando em concordância o que se traz
Depois de certo tempo esta promessa
Aonde o meu caminho já tropeça
E sempre desejei ser mais audaz.


212

A sorte desenhada na terçã
Em febres, calafrios, pesadelos
Dispersos caminhares sem retê-los
A vida sempre fora amara e vã.
Ainda que teimasse noutro afã
Os passos entre quedas, falhas, zelos
Envolto nos meus dias, os desvelos
E os tempos na faceta mais malsã.
Ocasos entre falsas pedrarias
E nada no final tu me trarias
Senão a mesma face incauta e turva,
Fortuna a cada instante além se curva
E gesta este vazio por herança
E traça o que deveras não avança.

213

Colhendo o que plantara no passado,
Capins entre chupins, medos e sonho
E quando na verdade decomponho
O passo a cada instante mais evado,
O tempo se desenha em cada enfado
E bebo o que se fez mais enfadonho
Ocaso deste passo onde eu proponho
A vida mais diversa além do gado.
Espero qualquer chuva que não veio,
Ainda sem saber o que há no meio
Dos erros mais comuns, momento algoz
Já nada mais teria após o fim,
E tento adivinhar e sendo assim
A senda silencia verbo e voz.

214

Veredas sertanejas onde a lua
Detinha cada brilho e quando ousara
Tornando imensamente esta seara
Aonde este desenho continua.
Meu canto se evadindo toma a rua
E bebe cada engano enquanto ampara
A luta tantas vezes se escancara
E sem sentido algum nada cultua.
Espero ao fim do verso nada mais
Que tanto poderiam desiguais
Caminhos sem saber do quanto rume,
Trazendo da ilusão qualquer momento
E nisto sem saber o quanto invento
Gerasse dentro da alma o velho ardume.


215

Um antro aonde a vida se desenha
Ausência de esperança dita o quanto
Pousasse noutro cais e assim garanto
O mundo sem saber de alguma senha,
Acida esta ilusão e nela venha
O mantra repetindo o desencanto
E bebo o que rumina além do pranto
Sem nada que deveras me detenha.
Conecto estes caminhos paralelos
Os dias quando os quis presentes, belos
Alio cada verso com vã cola,
E esgares entre risos e tempestas
Ainda quando além deveras restas
A praga nos domina e sempre assola.

216

Visões de alucinantes dias trago
E sigo o meu tormento em passo lento
E sei do quanto pôde o pensamento
E neste caminhar o nada afago,
Após o temporal a cada estrago
O parto que deveras alimento
Marcando com temor o ledo tento
Sem rumo em sentimento vão divago.
O peito sempre aberto, o fim de tudo
E quando no final já desiludo
O prazo determina o meu final,
Redimes com teus versos os meus dias
E nisto tantas vezes poderias
Traçar outro momento desigual.

217


Açudes entre tétricos desertos
Os dias são iguais neste sertão
O bandoleiro dita o coração
Em rumos com firmeza em dor repletos
Os olhos os mantenho sempre abertos
Sabendo tão diversa a direção
E o passo se desenha em traição
Mergulho nos cenários mais incertos,
Sondando cada passo em seca e sol,
Negando qualquer sombra em arrebol,
Apenas a mortalha em tal suor,
Caminho em cardo e cactos medo e teia
A luta se desenha e assim se ateia
O fogaréu num tom ledo e menor.


218

O pântano dos sonhos, movediço
O carma se apresenta em tom sombrio,
E o verso quando muito desafio
Traçando o quanto tento e até cobiço
O dia sem saber do imenso viço
A sombra se traduz em desvario
Pudesse desvendar no quanto eu rio
O mundo preconiza em dom mortiço.
Assenta-se a poeira e nada vejo
Somente o que pudera noutro ensejo
Depois de cada engano sem resposta,
Minha alma em treva e medo, anseio e falha
Apenas o não ser ora se espalha
Na face mais atroz e decomposta.

219


Um erro ou mesmo até outra tramóia
Da vida sem sentido e sem proveito
E quando no final o tempo aceito
A sorte sem juízo algum não bóia
O quanto parecesse paranóia
E nisto outro momento em novo leito
Restando muito pouco deste pleito
Fazendo todo dia, nova Tróia.
Cavalos de batalha, sonhos meus,
E o tanto que pudera noutro adeus
Emoldurando a sorte sem tormenta,
E o cântico suave ou mesmo atroz
Já nada mais conhece a velha voz,
Enquanto outro caminho a vida inventa.

220

O preço sem saber de qualquer ágio,
O mundo se anuncia em tom diverso
E quando outro caminho desconverso
Apenas desenhando este presságio;
Aonde poderia num sufrágio
O tempo se anuncia mais disperso
E tento conquistar enquanto verso
Tentando caminhar além do plágio,
Arranco cada cena deste olhar
Num horizonte imenso a dominar
O prazo se resume em leda sorte,
Sem ter o que inda reste dentro da alma
A vida se desdenha e nada acalma
Quem tanto fez do sonho o seu suporte.

221

Espero sem saber se existe paz
E o mundo não traduz qualquer aceno,
O mundo que pudera e hoje condeno
E nisto outro momento mais audaz,
O tempo se desenha e nada traz
Ou mesmo outro caminho e me enveneno
Ou quanto se tentara ser mais pleno
No prazo aonde o corte é mais mordaz,
Espero após o todo alguma luz
E sei que no final nada traduz
Somente o que me envolve no final,
A lúbrica verdade se negando
O quanto poderia e sendo brando
O mundo não suporta um temporal.


222

Refugo da esperança, apenas isso,
E o marco se anuncia a cada engano
E quando no final em dor me dano
O prazo sem sentido hoje cobiço
O canto se moldara movediço
E nisto outro momento soberano
Deixando para trás o velho plano
Num ato tantas vezes corrediço.
O marco se anuncia em agressivo
Tormento onde em verdade já me privo
Dos erros mais comuns e sei fugazes
Ainda que pudesse ou mesmo além
E desta sensação o que se tem
Traduz o quanto quero e tu me trazes.

223


Beijando cada rastro que deixaste
Vencendo os meus anseios, medo e trevas
E quando noutro rumo sempre nevas
A vida se apresenta em vão desgaste,
Ousando caminhar contra o que negaste
E nisto outro momento tanto cevas
As dores com certeza mais longevas
Impedem que se veja qualquer haste,
O parto se anuncia enquanto o canto
Seduz e se entranhando onde garanto
Apenas o vazio não se traça
E sigo o quanto fora em leda praça
Vestindo o que pudesse e sei não veio
A cada novo engano atroz receio.

224


Vinganças entre quedas e tormentas
A luta não traria novo rumo
E bebo deste caos e já me esfumo
Enquanto novo prazo tu alentas
E sei das tempestades mais sangrentas
Matando o que em verdade hoje resumo
E quando no final decerto aprumo
Expressas o que tanto agora ostentas
Meu mundo se trouxera após o cais
E nestes dias claros, magistrais
Apenas ilusão, somente em fúria,
E quando se aproxima esta penúria
Ainda que se visse noutro ponto
O quanto sem sentido e em vão desconto.

225

Apenas o que sei e não viera
Audaciosamente a luta traça
O mundo na verdade diz fumaça
E a sorte se aproxime, mesmo fera,
Resumo cada passo em tal quimera
Gerando dentro da alma a sorte escassa
A vaga sensação dita devassa
E o corte sem proveito destempera,
Criando alguma luz onde não há
O canto se anuncia desde já
Rondando o meu destino e sem alento,
Enquanto poderia acreditar
A vida sonegando algum lugar
E assim a liberdade após invento.

226

Reverso da medalha, a sorte trama
A luta sem sentido que me esgota
A vida se perdendo e já sem rota
Restando tão somente a velha lama,
Meu mundo se anuncia sobre a cama,
E sinto cada engano que amarrota
Aonde poderia tropel, frota
O verso sem sentido nada clama,
Ausento dos meus sonhos e permito
Viver o que deveras foi bonito
E agora se expressara no vazio,
Depois de certo tempo urgindo o passo,
O nada sem proveito algum eu traço
Enquanto a cada engano desafio.

227

Nascido nas entranhas mais bravias
Dos ermos do meu passo em caos e medo
No fim desde momento onde procedo
Deveras nada resta em novos dias,
As sombras retalhando o que querias
E sei que na verdade não concedo
Pousando dentro da alma este segredo
Marcado a ferro e fogo em agonias,
Vencido lutador já não me resta
Sequer o que pudesse ser em festa
Possuis temido dom de vã magia
E quando o meu caminho não veria
Senão a mesma luz onde se cria
Na sorte tão amarga quão funesta.

228



Ao me encostar nos fios do passado
Bebesse pelo menos outros ares
Querências onde tanto ou mal notares
Ditame de um caminho mal traçado,
Apenas o que possa já raiado
Os ermos entre sonhos e vagares
Vestindo com teus olhos os luares,
Num tom decerto além enamorado.
O pasto que carrego, retirante
O mundo que no fim nada garante,
O medo em queda livre, o fim se vendo
Expresso o quanto pude em primavera
A vida não avisa e nem espera
Deixando por herança este remendo.

229


Um gole a mais e a vida já transborda
Rompendo qualquer elo que inda havia
Mergulhos nos vagões da poesia
Enquanto fragilizo enfim a corda,
A vida se aproxima e desta borda
Já nada mais pudera ou conseguia
Senão a mesma face em fantasia
Dos sonhos inda vejo a fúnebre horda.
Jazigo do que fora alguma luz
Meu sonho no vazio reproduz
Somente o mesmo engodo e nada mais,
Depois de ter no olhar esta tormenta,
Saída mais honrosa a sorte tenta
E enfrenta os dias turvos, desiguais.

230

Já não soubera além do que inda vejo
E sinto esta vontade de seguir
Deixando para trás o que há de vir
Marcando com temo o meu ensejo,
Depois de certo tempo em malfazejo
Caminho aonde eu possa redimir
Ocaso dita o quanto a se sentir
Trouxesse outro momento em azulejo.
Depois da queda apenas outro abismo,
Vagando sobre o fim ainda cismo
E vejo em desalento o todo ausente
E nada mais se visse senão isto,
E quando no final inda persisto
O mundo que eu sonhara não contente.

231

Ainda ou mais sem jeito pude apenas
Vencer os erros tantos, costumeiros
E espalhando sementes nos canteiros
Aos versos mais ferinos me condenas,
A vida se repete em velhas cenas
E sigo outros momentos, derradeiros
Alimentando o sonho, os fogareiros
Aonde desejei sortes amenas,
Acordo e sem razão de promover
Além do que se dera a perceber
Bebendo com afeto o que inda visse,
Meu canto se aproveita deste bote
E nada que inda possa mais denote
O mundo muito além desta mesmice.

232

O preço a se pagar pela ilusão
Jamais se permitira alguma luz
E nisto o quanto possa e até me opus
Esbarra nos vazios desde então,
A sórdida e dorida sensação
O mundo se anuncia em leda cruz
Caminho sem sentido não faz jus
Deixando os dias todos que virão.
Ousando acreditar noutro acalanto
Apenas o final vejo e garanto
Amaldiçoas tanto quem te quis
O néscio caminhar em meio ao nada
Trazendo para a vida a degrada
Imagem hoje feita em cicatriz.

233

Já não mais caberia outra verdade
Nem mesmo a que coleta em medo e dor,
O tempo de outro tempo refletor
Enquanto o coração mais alto brade,
A vida muito além da tempestade
Expressa o que pudera e sem rumor
Vestisse tão somente sem pudor
O canto que deveras nos degrade.
Anunciando assim a violência
E neste caminhar tenho ciência
Do pouco ou mesmo nada que me resta
Imagem reprisada noutra cena
A própria resistência me condena,
E nada do que eu quis adentra em festa.

234


Não pude e não teria a menor chance
De acreditar nos tempos que legaste
A vida não suporta o tal desgaste
E nada mais pudera onde se avance,
Depois de certo tempo, outro nuance
A sorte se embaraça e mal notaste
O velho coração do tolo traste
Ainda que ao vazio ora se lance,
Apresentando assim qualquer escusa
A sorte se mostrara mais confusa
E neste caminhar já não se via
Sequer a menor sombra de esperança
O passo no vazio ora me lança
E corta na raiz a fantasia.

235

Incauto lutador perdendo a linha
E o vento que pudera me ajudar
Agora sem saber onde aportar
Deixando toda a sorte mais daninha
E quando da verdade se avizinha
Deixando tudo fora do lugar,
Cercando com temor o que ao provar
Destroça esta esperança mais mesquinha,
Uma ave se liberta da gaiola
E o tempo em nova cor agora assola
Resumos de momentos mais audazes,
Só sei que não sabendo quase nada
A sorte a cada engano desenhada
Expressa o que em verdade tu me trazes.

236


Não pude e nem tentara este poder
E nada se criando na verdade
O renascer daquilo que degrade
Fazendo com certeza o renascer,
Eterna sensação do que faz crer
E trama cada passo a liberdade
Na fátua sensação de claridade
A própria resistência se faz ver,
Renovam-se em matéria bem diversas
As sombras pelas quais tu sempre versas
Marcando o mundo além desta constância
E nisto esta beleza dita vida
A cada geração vem ressurgida
Sem nada que decerto enfim, alcance-a.

237


Nos seios da montanha generosa
Amamentar os sonhos de criança
E bebo do que tento e quando alcança
A vida se presume em sonho e rosa,
Ainda quando vejo a melindrosa
Verdade que deveras não se lança
Marcando com temor cada esperança
Restando muito pouco em rima e glosa
Num ciclo onde reciclo o que já fora
A luta se aproxima tentadora
E o medo não transcende o que inda trace,
O passo sem temor não poupa a queda
E o mundo se deveras se envereda
Permite que se veja em nova face.

238

Um átimo e percebo o que inda trago
Depois de certo tempo em medo e canto
A luta se desenha e me garanto
No todo que pudera em ledo afago,
Sentido sem razão, tento e divago
Vivendo o que deveras já me espanto
E sinto o quanto pude noutro encanto
Marcando outro momento sempre vago.
Não pude resistir ao que se fez
Além da mais completa insensatez
Um eco do vazio que carrego,
Depois de certo tempo a temporada
Expressa esta emoção já desenhada
Num ermo caminhar atroz e cego.

239

Num salto sem defesas, sem o medo,
Apenas suicida companheira
A sorte em tuas mãos quando se esgueira
Resume o que deveras mal procedo,
Envolto nos caminhos de um segredo
A luta se apresenta derradeira
E nada do que possa ou mesmo queira
Ultrapassa os limites deste enredo,
Esqueço o quanto fui e não seria
Vencido pela dor, na alegoria
Tramada pelo engano e nada além
Depois de certo tempo o que inda tenho
Traduz outro momento em raro empenho,
Porém no fim do jogo nada vem.

240

Esqueço o que inda vejo e nada trago
Senão a mesma face em tom sombrio,
Depois de certo tempo desafio
O mundo aonde o sonho se faz vago,
E quando este horizonte inteiro alago
O tempo se mostrara noutro fio,
A rota se transforma e morto e frio
O corte se aproxima e em vão divago,
Assisto à derrocada deste passo
E nisto o que inda tenho busco e traço
Ousando num instante mais além
Depois desta incerteza corriqueira
A luta se aproxima e sempre tem
No olhar o que deveras mais não queira.

241

Olhando para trás, retrovisor
Denunciando os erros de quem tenta
Vencer o que pudera da tormenta
Tramando outro caminho redentor,
A vida sonegando em desamor
Gerando o que deveras me apascenta
A face mais senil, mesmo sangrenta
Expressa em teu olhar cada rancor.
Puindo o que em verdade não se quis
Apenas sendo aquém mais infeliz
Não levo desta vida algum alento.
Concedo o verso ao nada que pressinto
Deixando para trás este recinto
Exposto ao mais temido e louco vento.


242

Neste engarrafamento retratado
A luta sem sentido ou mesmo inglória
De quem se transformando em vã memória
Bebera alguma sombra do passado,
O tempo se desenha mais nublado
A chuva recomeça; a velha história
Chegar ao meu trabalho, uma vitória
O mundo se aproxima do engradado.
O verso que procuro como alento,
A luta pelo fim deste tormento
A casa de uma infância mais feliz
Ressurge na Paulista e o tempo fecha
Morena esparramando a negra mecha
O todo por si só se contradiz.

243

Deixara para trás o velho sonho,
Ainda me acredito e sei que nada
Do quanto se traduz na mesma estrada
Expressa o que pudesse em tom medonho,
E quando no final eu me proponho
Ouvindo sem sentido esta balada
A sorte pela vida destroçada
E o prazo determina e não me oponho
A cada novo instante uma arapuca
A bala passa além da minha nuca
E a vida segue sempre por um fio.
A morte talvez seja a solução
Quem sabe retornar para o sertão?
Mas quando me percebo sigo o rio.

244

Ouvira de quem tanto desejara
A mesma sensação de um suicida
A luta há tanto tempo desprovida
Marcando o que se fez em sorte amara,
A cada novo corte a nova escara
Buscando em multidão alguma ermida,
Semblante desta luta distraída
O fim de alguma luz já se escancara;
Queixar e ter enfim outra atitude
Embora na verdade nada mude
É como retirar peso das costas,
A morte se mostrando a cada engano
Aonde poderia ser humano
Perdera sem saber minhas apostas.

245

Num átimo depois do quanto pude
Vestir este uniforme dar plantão
E a vida se aproxima deste não
Cenário aonde perco a juventude,
O dia a dia sei deveras rude
E os dias entre tantos mostrarão
A imensa sensação de solidão
E nada que deveras já se mude,
Apenas refletindo o que se fez
Na louca turbulência, insensatez
Atraso costumeiro vida afora,
O passo no futuro? Nada disso,
E quanto mais o solo é movediço
Maior a multidão que nos devora.

246


Não posso reclamar nem ter escolha
O caos generaliza o dia a dia,
Ainda quando a sorte se veria
Apenas ventania em leve folha,
E quando no final sempre recolha
Marcando o que inda tenho em fantasia
A porta escancarada não traria
Além do que a verdade já nos tolha,
Espero outro momento e sei do fim,
A praça destroçada dentro em mim,
O fim da minha luta não se trama
Cerzindo no final a velha lama
Tocada pelos pés de um sonhador
E nisto vejo morto o redentor.

247


Espero qualquer sorte que inda trame
O mundo sem proveito ou mesmo enganos
Dispersos entre dias mais profanos
A vida não se fez sequer no enxame,
Equânime delírio sem ditame
Os seres que julgavas mais humanos
No fundo são malditos e profanos
E nisto a cada engano outro reclame
Parêntesis diversos, queda em solo,
E tento no final quando me assolo
Vestir a mesma face em contraluz,
Numa expressão diversa sigo só
Alimentando a vida em ermo pó
E nela outro momento em vão me pus.

248

Estradas destruídas, sonho roto,
A luta se desenha muito além
E o quanto na verdade não mais vem
Deixando a cada passo o velho esgoto,

Do tanto que busquei sobrando o coto
O prazo se desdenha e nada tem
Somente a solidão e sem ninguém
A vida sonegou semente e broto,

Depois de novo sonho ou novo ocaso
Aos poucos sem sentido algum me atraso
E visto o quanto cabe dentro da alma,
Ascendo ao mais formal dos elementos
E sei dos dias turvos, desalentos
Nem mesmo uma esperança ao fim me acalma.

249

Já nada mais impera sobre nós
Sequer o que inda trago do passado
E quando no final inútil brado
O mundo se desenha mais feroz,

Resulto do que um dia fora algoz
E agora noutro quadro desenhado
Apenas na incerteza desejado
Mudando a cada instante a velha foz,
Cenários mais diversos verso e sonho
Aonde meu caminho não proponho
E vivo por viver e nada mais,
Assisto ao nada mais que inda tivera
E bebo a solidão, velha pantera
Envolto nos sofríveis temporais.

250

Expressos entre noites e tormentas
Acendo outro cigarro e bebo o fim,
A vida se aproxima do que vim
E neste delirar nada alimentas
E quando no final mal me apascentas
Restando o que pudera dentro em mim,
A luta se desdenha e no jardim
As flores são diversas e sangrentas,
Resumos de outras eras em momentos
E nestes vagos passos, pensamentos
Não deixam qualquer rastro nem pudera
Apraz-me recolher após o nada
A sorte no vazio desenhada
E sei da noite amarga em rude fera.

251

Olhando para trás já nada tendo
Sequer o que pudesse imaginar
A luta se desenha sem lugar
E nada do que creia enfim atendo,
O mundo se anuncia num remendo
O prazo vai correndo e ao chegar
Apenas o vazio a encontrar
Ou mesmo este cenário mais horrendo,
Espúria noite dita o já sem rumo
E quando no final meu nada assumo
Resulto deste infausto em tom sombrio
Ainda que pudesse ser diverso
Cabendo dentro da alma este universo
O mundo sem sentido desafio.

252

Apresentar ao fim qualquer desculpa
E nada ter sequer o quanto trame
A vida se presume num enxame
E nisto nada mais inda se esculpa

Apenas o vazio e nada além
Amortalhando o passo onde me perca
A vida ultrapassando qualquer cerca
No fim somente o encanto não mais vem,

E sei do mais sombrio dentro em mim,
Semente que se nega e não germina
A sorte que deveras cristalina
Jamais traria o sonho ameno e clean.

Presumo nova queda e sei do medo
Enquanto em desvario eu me concedo.

253

Negar o que inda resta da colheita
E ter noutro momento um novo canto,
Depois do que pudera e não garanto
A vida sem sentido se deleita
Olhando de soslaio numa espreita
O manto se puindo e não me espanto
Rolando dos meus olhos cada pranto
No fim desta ilusão tenho a maleita
Jogado sem sentido sobre o chão,
Anseio pela velha indagação
Tornando a solidão bem mais distante
No verso que presume novo dia,
A sorte tantas vezes poderia
Tramar o que deveras me acalante.

254

Enveredando o passo rumo ao que
Pudesse ser diverso do passado,
Meu mundo noutro tempo desenhado
Apenas o que tento não se vê
Cenário sem razão nada mais crê
Na trama deste passo desolado
E o vento que deveras teima e brado
Momento sem audácia se revê.
Colhendo os mesmos erros, sigo além
Do quanto poderia e já não vem
Somente redundando no vazio
E sigo sem saber da sorte em nós
E bebo do final em tosca foz
Tentando conhecer de perto o rio.

255

Ainda que pudesse ser diverso
O mundo não traria novo espaço
E quando na verdade sigo lasso
Ousando com temor em novo verso,
O pouco que permito não converso
E sigo sem sentir além do traço
A vida se anuncia em tal cansaço
Reinando sobre o manto mais disperso.
Perenes dias dizem do abandono
E quando no final me desabono
Escolho para sempre o que não pude
Vestir em privilégio ou mesmo rude
Apenas o que trago dita o sono
Matando o quanto resta em atitude.

256

Alguma nova fonte sem sentido
Ou mesmo a velha faca com seus gumes
E quando no final ao nada rumes,
O mundo se apresenta desvalido,
E nisto se pudera presumido
Os dias entre vagos tons e ardumes
Os sonhos estrelares quais cardumes
O tempo noutro tempo vai perdido,
Um gole ou mesmo até uma garrafa
A sorte sem segredo não se safa
E deixa o que pudesse para trás,
O caos desenha na alma o quanto pude
Mergulho no vazio deste açude
E apenas solidão, meu verso traz.


257

Jamais pudesse em tanto bem querer
Pensar no amor feroz do louva-deus
No derradeiro toque o vago adeus,
Prazer levando a vida a se perder.
Não tendo nem sequer o amanhecer
Depois do que pudesse em atos meus
Vestindo de terror meus apogeus
Fortuna sem sentido a me tolher.
Não quero este insensato amor que toma
E deixa para trás o quanto soma
Levando ao fim de tudo num segundo,
Prefiro amor sem eira sem ter beira
Somente alguém que saiba o quanto queira
O coração audaz e vagabundo.


258

Levado pelas águas do ribeiro
O tempo não se traça de tal forma
E quando o coração tanto se informa
Tremula num instante costumeiro,
Vencer o quanto possa e ser inteiro
A vida tem ditame, lei e norma
E assim se noutro passo me transforma
Deixando no caminho este aguaceiro.
Aprendendo a lidar co’a enxurrada
Sabendo que depois mesmo que brada
A vida levará para o riacho
Amor que poderia ser luzeiro
Quem sabe ato final e derradeiro,
Porém se desenhando como um facho.

259

Abraços e sorrisos, medos tantos,
A vida não presume o que inda tento,
Abrindo o pensamento quando eu tento
Vencer os meus temores, desencantos,
A luta se apresenta em vários mantos
E nisto outro caminho ainda invento
Tentando enfim conter o sangramento,
Os dias não secassem velhos prantos.
Sacio esta vontade de te ter
No olhar judicioso do prazer
Que rege o dia a dia de quem sonha,
Sentindo este perfume de jasmim,
O quanto ainda trago vivo em mim,
Traduz esta palavra audaz, medonha.


260

A vida sem saber de algum sentido
Parâmetros diversos que obedece
Traçando muito além de qualquer prece
O mundo noutro mundo repartido,
E quando se pensara deprimido
O tempo noutra luz nos engrandece
E gera o que pudesse em tal benesse
Depois de ter somente o que duvido.
Não tento acreditar no que viria
Tocando mais profundo a fantasia
Gerando das crisálidas o sol,
A luta se desenha sem descanso
E quando no final eu tento e avanço
Espalho o desenredo no arrebol.

261

Não tento outro caminho, pois não há
Sequer o quanto pude noutra senda
Tentar traçar o que ora se desvenda
Teimando em navegar aqui ou lá,
O prazo determina o que virá
E o passo se produz enquanto estenda
A luta sem temor e como lenda
O céu por outra estrela vagará,
Assim cometa vivo, o coração
No espaço sideral sem direção
Jamais encontra um porto mais seguro,
Depois de tanto tempo inutilmente
Ainda que decerto um sonho eu tente,
Apenas o final eu configuro.

262

Antigas emoções em ermos passos
Meus olhos vão sem rumo e sem proveito
No quanto poderia e mal aceito
Os sonhos que inda existem são escassos.
Cigarros se esvaindo em tantos maços
Os cantos onde além já não me deito
O verso que traduz cada defeito
Dos tempos entre medos, rotos laços.
Depois de tanto tempo solitário
O vento se mostrando solidário
Escaras acumulo em alma impura,
Das chagas e dos antros mais ferinos
Os tempos se anunciam, ouço em sinos
Verdade derradeira que tortura.

263

Das Minas e dos olhos noutra fonte
Gerando o que pudera em tais montanhas
As horas entre tantas sendo ganhas
Ao quanto este sentido em paz aponte,
No claro e belo tom deste horizonte
As sortes se anunciam novas sanhas
Depois destas saudades que, tamanhas
Traduzem o que tanto em paz desponte.
Negar qualquer alento a quem se fez
No encanto dominando esta acidez
Comum de quem sofrendo não insiste,
Assim a vida segue sem razões
E na verdade o pouco que me expões
Aponta o nada ser, do sonho em riste.

264

Encontro o que inda trague e mesmo tento
Vencer os dissabores costumeiros
Sabendo dos meus dias derradeiros
O mundo se desenha em pensamento,
E quanto mais pudesse em sentimento
Regar com emoção velhos canteiros
Os dias entremeiam seus ribeiros
Descendo para o mar bebendo o vento,
Apresentando apenas o que resta
Da noite sem sentido e mais funesta
Atesta com seus sonhos o passado
Depois de certo tempo sem proveito
Apenas caminhando enquanto deito
Deixando para trás único brado.

265

Um ermo que inda trago se presume
No ocaso deste sonho e nada mais,
Aprendo com os vários temporais
E a vida sem saber de algum perfume,
E quando para o nada sempre rume
Bebendo os dias velhos e frugais
Aonde poderiam magistrais
Apenas outro engodo em vago ardume,
Não pude já sem lume caminhar
A noite mais brumosa esconde a lua,
Uma alma sem sentido continua
E tenta mesmo em tom crepuscular
Sabendo que ao final nada viria
Sequer o quanto tenta em poesia.

266


Legado sem certeza e sem proveito
A sorte se desenha de tal porte
Que nada mais se tendo por aporte
O vago caminhar jamais aceito,
Depois de certo tempo me deleito
E tento acreditar no que conforte,
Após este cenário eu vejo a morte
E nos umbrais do tempo bebo o pleito,
Ainda que se faça mais discreto
O quanto desenhando não completo
Expresso em ardilosa melodia,
E quanto mais não fora de outra forma
A luta se anuncia e nos deforma,
Deixando sem sentido uma alegria.


267



Jamais eu soube ou mesmo poderia
Ousar noutro caminho que não este
E quando no final me convenceste
O mundo com certeza em agonia
Vestindo a mais atroz alegoria,
E tendo por final o que perdeste
Ainda que se creia e percebeste
O fim da mesma história em ironia,
Depois do mero ocaso nada vem
E o manto se transforma e sem ninguém
Meu mundo desabando em tom diverso,
Ascendo ao que pudera mais atroz
Tentando ainda ouvir a minha voz
Vagando na palavra verso em verso.

268

Saudades de quem foi e não voltasse
Marcando com seus olhos o passado
Nesta alma o que pudesse tatuado,
Ainda que deveras mal restasse,
A luta se anuncia a cada impasse
E sei que na verdade tente e brado
Presumo o que inda tenha lado a lado,
E noutra sensação em nada grasse,
Espero que talvez a velha teia
Que tanto quanto a fúria que se ateia
Ousasse em nos unir contra o viés
Mais duro deste sonho em contra-senso
E quando neste encanto ainda penso,
Procuro tão somente por quem és.

269

Mutáveis emoções, monções, barragens
Rompidas pelo tempo e nada mais,
Ainda quando escuto os vendavais
E neles ao mudar as paisagens
Buscando no final novas aragens
Talvez noutros cenários radicais,
Usando da esperança dos chacais
Marcando com temor outras visagens,
Partícipe devasso deste fausto
Momento mesmo estando quase exausto
Expresso em verso e voz vaga aversão
Ao vento a mais veloz em vasta estância
Tentando convencer quem não viria
A crer na tresloucada fantasia
Ainda que enfrentasse esta inconstância.

270

Retoma o velho brilho de outras eras
Sinais que inda espalhaste sobre o solo,
E quando num momento já sem dolo
Aprendo a reviver as primaveras,
As noites que em vazios destemperas,
O todo se anuncia e me assolo
Invisto no passado e sem teu colo
As hordas se anunciam, vãs quimeras.
O medo sem sentido e sem proveito
Após o que inda resta não aceito
Sequer outro caminho, e sendo assim,
Mortalha se anuncia a cada engodo,
E o prazo me atirando enfim ao lodo
Deixando no passado o que há em mim.

271


Valei-me coração, impasse e medo
E o nada mais trouxera outro cenário
E o vento que se fez imaginário
Deixando para trás o que não cedo,
O vento se anuncia em desenredo
E traça este caminho necessário
Ao todo muita vez quase um corsário
Matando o quanto possa em dia ledo,
Segredos de um amor que não valera
A vida se desenha feito cera
E quando no pavio incendiada
Depois de certo tempo se consome,
E o nada desenhando em rara fome,
Não deixa que se veja após mais nada.

272

Nas várzeas da esperança o quanto pude
Vestir em capinzais o verde olhar,
De quem se fez decerto anunciar
Num ato mais audaz e mesmo rude,
Ainda que mantenha a plenitude
Decido entre os caminhos aportar
Vencendo o quanto tente me aprumar
Marcando a cada engodo outra atitude.
Espero após a curva outra armadilha,
Uma alma sem sentido algum já trilha
Tocando as artimanhas do caminho,
Percebo o fim do jogo e nada tendo
Apenas o que resta num remendo,
Deixando para trás onde me alinho.

273

A própria reticência de uma vida
Atocaiando o passo de quem luta
Ao fim a solidão da imersa gruta
A sorte de outra sorte desprovida,
A vista se cansando não duvida
E o passo sem sentido inda reluta,
Mas sei da força amarga, leda e bruta
Na ausência do que fora uma avenida,
Aprendo com o corte e sei do quanto
A cada prazo esgota o que me espanto
Vestindo o que restara em traje escuso,
O verso se exalando em cada passo,
Depois de certo tempo o quanto eu traço
Deixando o meu caminho mais confuso.

274

Montado na garupa da esperança
Corcel que sem juízo não se vence
Deixando no caminho este non-sense
E deste desenhar já nada alcança
Depois de certo tempo em tal fiança,
Do quanto poderia se convence
E gera o que tentara e sempre pense
No passo aonde a sorte diz vingança.
Jamais me caberia outro momento
E quando no final em vão eu tento
Sentir o vento apenas no meu rosto,
Desenho outro cenário e me imagino
Aonde o sol pudera sempre a pino
Deixar este momento em paz exposto.

275

Na tromba d’água feita em cachoeira
Os rios dos amores se perdendo
Jorrando pelo caos de um mero adendo
A sorte se transforma e não me queira,
A luta se desenha em tal bandeira
E o pranto se anuncia revertendo
O passo que se dera e nada vendo
Apenas esperança é corriqueira,
Jogado pelo medo e sem sentido,
O verso se traduz em tempestade,
E quanto mais no fundo desagrade,
O prazo se conduz ao dividido
Momento entre traições em artimanhas
E assim neste final já nada ganhas.

276

Remando contra a fúria em correnteza
Redemoinhos tantos, medo tal
E o canto se desenha desigual,
Ainda quer do sonho sua presa,
A luta se pensara mais ilesa
O cais desdenha um vaso de cristal
E o preço se cobrando, magistral
Deixando para trás e sem defesa.
Incertos caminhares noite afora,
A sorte sem temor não mais ancora
Quem tanto quis a paz que não havia,
Jogado pelos ermos do caminho,
Bebendo sem saber onde me alinho
Restando muito pouco em harmonia.

277

Aprendo com enganos, disso eu sei
E jogo a minha vida sobre a mesa,
Apenas no final e sem surpresa
Cumprindo noutro instante a velha lei
E quando no vazio eu mergulhei
A sorte se traduz e sobre a mesa
A morte que pudera ter por presa
A senda que jamais eu desejei.
Marcando com temor e persistência
A luta se transforma e sem ciência
Embates tão diversos guerra e paz,
Ainda que não visse qualquer luz,
Ao fato mais tardio que conduz
Somente o desenredo agora traz.

278


Havendo mais que o medo ou mesmo até
O passo em imprecisa direção
O canto se aproxima e toca o chão
Depois de desenhar e não ter fé,
A vida na inconstância da maré
Os dias mais audazes mostrarão
Apenas o que possa embarcação
E nela outro cenário e por quem é.
O credo, o rito, a missa o terço e o prazo
A velha ladainha num ocaso
E o tempo desfiando sob o olhar
O todo que pudera e não mais vinha
No Pai-Nosso, talvez Salve Rainha,
A vida se anuncia a divagar.

279

Já nasce com o olhar em reticência
Vagando sem sentido e sem proveito
Aonde no final mais nada aceito
A luta se mostrando em vã ciência
Aos poucos poderia em ingerência
Traçar o que em verdade me deleito,
E o tempo se anuncia em imperfeito
Cenário que não fora coincidência.
Açucarado sonho de castelos
Em dias mais suaves mesmo belos
Após a tempestade de verão,
Assisto ao quanto pude e não sabia
Ainda que vivesse a fantasia
O tempo se anuncia sempre em vão.


280


A vida não seria qualquer blefe
E nada mais pudera ser assim,
O mundo se desenha dentro em mim
Matando a velha sombra de algum chefe,

Enquanto na verdade mal clamaram
Os sonhos entre enganos e verdades
E quando na incerteza me degrades
Os dias entre nadas mergulharam,

O tempo já sem tempo não acode
E o rumo se traduz em queda e medo,
Aonde poderia e não concedo
A vida sem juízo e senso implode,

Deixando no caminho esta penúria
E nela qualquer luto diz incúria.

281

Depois de tanto tempo ora arquejando
A luta não cansara de mostrar
O quanto se pudera imaginar
Um dia mais suave e quiçá brando,
O tempo noutro rumo se escoando
A foz da juventude aquém do mar,
E bebo a fantasia a me tocar
E nada deste sonho hoje, aluando.
O golpe caudaloso de um punhal
Sangrante sensação atroz, fatal
Gramando com a dor o campo em paz,
E a luta se desenha no final,
O passo que pudesse ser audaz
Somente este não ser agora traz.

282

Do tanto que deveras já foi tudo
Apenas ao saber do que não veio,
Olhando para trás trago em receio
O passo; aonde em dor me desiludo,
Vencido pelo medo sigo mudo,
E tento qualquer noite em devaneio,
Ousando acreditar e me incendeio
Num canto sem ter eco, em tom agudo.
O tempo noutro passo se cumprindo,
Aonde se imagina ser mais lindo,
O peso da verdade não me custa
Sequer outra impressão em passo lento
A sorte na verdade nunca é justa
E traz ao fim de tudo o sofrimento.

283

O mundo; enquanto vejo e já me queixo
Deixando para trás o desenredo,
Ainda quando possa ou mais me cedo,
A sorte se desenha além desleixo,
Dos rios da esperança cada seixo
Marcando assim de Iara o seu segredo,
O tempo noutro passo, sem degredo
A vida se mantendo no seu eixo,
Após a plenitude ou mesmo a queda
A lida se desenha e quando veda
Caminho em desventura eu não supero,
Apreciando ao fim tal paisagem
A sorte se contendo na barragem
O passo sem sentido, sempre insincero.

284

O rio com certeza não parava
Descendo as corredeiras segue além
Do quanto na verdade não contém
Sabendo a mesma história atroz e brava,
Minha alma deste senso sendo escrava
Resume o que pudera e quando vem
Explode e sem saber sequer de alguém
A luta que em silêncio a vida trava.
Vespeiro na verdade o não mexer
Garante o mais suave amanhecer
E toda a sensação de alívio e paz,
Mas quando se tratando de outra forma
Eclode este terror e se transforma
Deixando o tempo amargo e mais mordaz.

285

Ainda que deveras não demandes
O prazo determina a construção
Dos ermos do que fosse coração
Em passos que pudessem ser tão grandes
E quando no final ainda abrandes
Os sonhos entre sonhos se verão
Abrindo esta porteira desde então
Das Minas eu percebo além meus Andes.
E sigo o que puderam pensamentos
Vencendo os mais atrozes sentimentos
Momentos mais dispersos e felizes,
Depois de cada engano, sigo alheio
Colhendo muito além do que receio
Embora veja o céu em tons mais grises.

286

O passo que se dera bem mais forte
Navego pelos mares que deixaste
E sei do quanto a vida em tal contraste
Desenha o que pudera e nos comporte,
Depois de me envolver e ter no norte
A luta mais audaz que demonstraste
Vestindo em privilégio que notaste
Quem dera ter um passo que conforte,
Consorte da esperança este himeneu
Traduz o que tentara e se perdeu
No breu das tocas vejo o meu anseio,
E sei que em devaneio nada vinha
Sequer esta emoção que fosse minha,
Deixando para trás o quanto anseio.

287

Nem toda metafísica pudera
Trazer a claridade que preciso
E sei do quanto tente num sorriso
Vencer a sensação da rude fera,
O prazo na verdade destempera
Gerando ao fim de tudo o prejuízo
Depois deste momento em que matizo
Meu mundo desdenhando uma quimera,
A luta sem sentido e previsão
O engodo se anuncia e sei que irão
Meus passos sem saber de qualquer rumo,
Ainda que pudesse ser diverso
Bebendo integralmente este universo
Meu mundo na esperança hoje eu resumo.

288


Trazendo no costado estas arrobas
As sortes noutro rumo, ou vão propósito
O tempo se entranhando em tal depósito
As lutas na verdade sempre bobas,

Dobrando cada esquina em laço e trama
Da parte que me cabe nada veio,
Somente o mesmo olhar em devaneio
E o prazo determina o quanto clama,

Apresentando o canto em tom diverso
Gerando o que inda tenho além promessa,
E o passo quando muito recomeça
Pousando a sensação e me disperso

Do prazo derrotado a cada queda,
Aonde o meu caminho não se enreda.

289

A vida se traduz onde retomo
A velha caminhada rumo ao fato
E nisto com certeza mal constato
O quanto poderia em cada tomo,
A sorte se anuncia noutro gomo
E bebo da saudade no retrato
Expresso o que teria e não resgato
O mundo que em verdade já não domo.
Ainda sem sentido e sem razão
As horas no final não me trarão
Sequer o que pudera em plena paz,
O marco tatuando o dito em tédio
E assim no tempo visto sem remédio
O canto se mostrara mais audaz.

290

O quanto da esperança ainda monta
Cerzindo em tal galope esta viagem,
Ainda que vislumbre outra paragem
A sorte no momento faz de conta,
A estrela prosseguindo além e tonta
Bebendo do futuro em vaga aragem,
Resumos de outros dias, a barragem
Deixara para trás o que não conta,
A lua se desnuda em noite imensa
E quando na alegria se compensa
A ausência do que pude imaginar,
Em vão procuro apenas discernir
O quanto trago na alma e sem porvir,
O rumo sem sentido navegar.

291

Lembrança da criança entre as igrejas
Vestindo uma esperança que não veio,
Ainda que tivesse algum receio
As horas entre tantas sempre vejas,
As sortes na verdade mais andejas
O tempo aonde o sonho em paz rodeio,
O corte anunciando o que permeio
Com lendas e senzalas malfazejas.
Poreja dentro da alma este vazio
E quando no final já nada crio
Somente o mesmo engano do passado,
Meu verso se anuncia sem sentido
E quanto mais pudera mais duvido,
Apenas sem ter norte algum, me evado.

292

O tempo na verdade se revolta
E gera o temporal aonde um dia
Pudesse imaginar o que viria
E o corte se aproxima em leda escolta,
Ainda que pudesse não se solta
Nem marca o que tentara em alegria,
Depois de certo tempo a poesia
Retrata o que teimasse noutra volta,
Apresentando enfim o que se vira
Outrora qualquer luz feita em mentira
Da lira não trouxera esta aliança,
Após o mundo tramo a queda e vejo
Apenas o que possa noutro ensejo
E o tempo sem destino agora avança.

293

Nas mãos a travessia sem o remo,
E o prazo determina o fim do encanto,
Ainda que deveras; eu garanto
Expresso o que eu pudera e sempre temo,
Não tendo mais diverso em cada extremo
O mundo sem sentido quando espanto
Transcende o que pensasse em ser o tanto
Trazendo o que vencesse um ser supremo,
Ausente da palavra mais vulgar
Ainda sem saber do velho altar
A mesma sensação de nada ou quase,
A luta se desenha sem proveito
E quando no final já nada aceito
O passo num compasso vão se atrase.

294

Sabia ser diverso o que daquele
Momento não teria outro preceito
Querendo este caminho onde me deito
No quanto a própria vida ora me grele.

E quantas vezes sinto o que concebes
Diversa da vacante liberdade
E nada do que possa ou mesmo brade
Traduza no final as tantas sebes,

Recebes o carinho de quem ama
E trama sem saber qual direção
Os dias desenhados desde então
Dourando com temor a paz e a chama,

O marco mais agudo em traço rude,
Determinando ao fim o que não pude.

295

Os dias entre dias reunidos
Os olhos se perguntam pelo canto
E vejo que em verdade não garanto
Sequer o que pudessem permitidos
Ousando noutros rumos, concebidos
Ausento do caminho onde me espanto
E vendo assombrações, não me levanto
E tento os dias tolos, presumidos.
Esgarças com palavras mais sutis
O quanto na verdade sempre quis,
Um andarilho tosco e sem verdades,
Assim ao mergulhar neste sombrio
Cenário transformado em ledo rio,
Aos poucos sem saber tu me degrades.

296

Em despejadas quedas, chuva e caos,
Ausento do que fora algum juízo
E sei deste cenário mais conciso,
Ousando persistir em velhas naus,
Ainda que se tente nos degraus
O corte se traduz em prejuízo
E o beijo sem sentido perde o siso,
Os dias são deveras ermos, maus.
Ausento do passado e sem presente
No quanto sem sentido se apresente
A vida não transcende ao quanto tento,
Depois de certo tempo resta apenas
Invés de noites claras e serenas,
O olhar ledo em soslaio, sofrimento...

297

A voz que inda pudera ser agônica
A luta não descansa e quer bem mais
Dos dias entre quedas magistrais
A porta não se abrira, desarmônica,
Aonde se queria a luz hedônica
Apenas outros erros tão iguais,
E sei dos meus caminhos siderais
No quanto a vida traça em nova tônica.
Aprendo com ocasos, e sei disso,
O solo aonde piso é movediço
E o verso sem sentido e sem razão,
Explode em insensata maravilha
E quando na verdade a vida trilha
Os dias mais audazes se verão.

298

A vida se desenha em raros louros,
Lauréis que no final não restariam,
E os dias entre tantos poderiam
Apenas esfolar os velhos couros,
Ainda que pudessem teus tesouros
Os tempos no final sonegariam,
E os olhos que deveras bendiziam
Negando dos meus passos, nascedouros,
Arcando com os erros e arquejante
Já nada mais cerzisse e nem garante
Um único momento feito em paz,
Ao galopar sem rumo e precisão
Bebendo do vazio e sendo em vão,
Meu canto no final, a sombra traz.

299

Os olhos ao mantê-los mais abertos
Percebem o que traça no horizonte
E quando nova lua além desponte
Ousando nestes rumos tão desertos,
Caminhos tantas vezes mais incertos
A luta se desenha e sem ter ponte
Naufrágio da esperança sempre aponte
Inertes caminhares encobertos.
As sendas mais audazes e louçãs
As horas onde pude em tais manhãs
Servindo de bandeja o verso a ti,
Depois de cada instante mais atroz
Jazendo sem saber sequer de nós
O tempo sem temor enfim perdi.

300

Ao capitanear o barco ao cais
Levando entre tempestas o que possa
Vencer a imensidão e ser tão nossa
Tramando dias claros, sensuais,
E visto o que deveras não contrais
E tento acreditar no que se apossa
Da luta onde arredia em velha troça
A sorte se produz em dias tais,
Esqueço o que eu pudesse e não tivera
A vida se anuncia em vã espera
E momentaneamente sigo só,
O todo se traduz em meramente
E quando no final, um rumo eu tente,
Do todo que tentara, nem o pó.



301

Caçando na tocaia algum tatu,
Que possa degustar com mandioca
Gerando do caminho o que me toca
Preparo com certeza um bom aaru
Assim do quanto quis saúdo o açu
Deixando para trás o que provoca
O gosto se desenha e assim desloca
Deixando para trás qualquer jacu,
A vida se apresenta na caçada
Adentro sem temor a madrugada
Pintadas e jaguares? Nem a sombra,
A luta se travando pela vida,
Na sorte a cada passo decidida
Nem mesmo o que eu temera mais me assombra.

302

Na noite de luar, meu abará
Trazido pelas mãos de algum malê
Ainda na verdade não se vê
Nem mesmo outro caminho mudará
Fazendo da oração e desde já
Bebendo o quanto pude e sei por que
A luta se desenha e se revê
A sorte onde pudera aqui ou lá,
A vida se desenha desde arriba
Prepara e nos trará ‘ luma gariba
Trazendo boa sorte a quem se entrega,
Atende aos velhos cantos em cenários
Diversos e pensara em dias vários
Vencendo a tempestade mesmo cega.

303

Abalaú-aiê nos protegendo
Das chagas, das bexigas dores tantas
E quando no final ergues, levantas
O mundo não seria mais horrendo,
O passo na verdade se trazendo
Aonde esta certeza diz das santas
Palavras mais diversas onde espantas
O sonho feito apenas num remendo,
Protege-nos Senhor desta maldita
E quando na verdade a sorte dita
Sentido que pudesse transformar,
Depois de cada lanho em nossa pele,
A sorte com ternura já repele
E deixa o sol em paz nos clarear.

304

Prepare este abará e com cuidado,
Usando do feijão e do dendê
Trazendo o quanto possa e mesmo vê
O dia noutro canto anunciado,
E sei deste momento em tanto agrado
Tramando com certeza algum por que
Saudade é bicho audaz e se revê
Cenário noutro tempo desenhado,
Além do que permita esta vontade,
Falando em precisão o que me agrade
Deixando o sofrimento para lá,
Voltando ao meu começo, num instante
Meu sonho de menino se garante
Ao ver por sobre a mesa este abará.

305

Aprendo no ABC fazer soneto
Brincando com palavras, vou em frente
Colhendo o que pudera previdente
Depois de certo tempo o que prometo
Esqueço na verdade e se cometo
Fazendo do que possa e não enfrente
Gravando o coração do impertinente
Havendo nova banda no coreto,
Imola a fantasia quem se dera
Jogando para trás a primavera
Levando dentro da alma a fantasia
Marcando o que tentara noutra sorte
Navego sem saber aonde aporte
O mundo que deveras mais queria.

306

Oxum trazendo em mãos seu abebé
Iemanjá senhora deusa e dama
Mantendo da esperança a velha chama
Trazendo em mansidão a imensa fé,
O quanto posso crer e sei até
Da vida quando mesmo em lutas clama,
Vencendo o coração a lida exclama
E tenta caminhar sem mais galé,
O tempo se desenha em lua cheia
E quando no abebé vejo a sereia
Imaginando mares e belezas
Enfrento cada queda de tal forma
Que nada mais deveras me deforma
Nem mesmo minhas mãos seguindo presas.

307

Um gole de cachaça, um aberém
E o tempo se transforma num instante
O quanto poderia e se garante
O gozo mais diverso nos convém
A sorte se anuncia e sei tão bem
O manto aonde o passo se agigante
Nesta abará meu verso galopante
Vencendo qualquer forma de desdém,
Já trago neste olhar o que traria
A vida sem diversa hipocrisia,
Colhendo desde a infância o meu futuro,
E quando de Oxalá sou protegido,
A luta com certeza faz sentido
E o passo rumo ao todo eu asseguro.

308

Eu sei que no nascer de outras manhãs
A vida se renova em cada sol
Depois ao dominar todo arrebol
Lembrando quando foram abiãs,
As sortes se deveras são malsãs,
Os cantos noutro rumo, outro farol,
O tempo se aproxima e, girassol,
Meu verso procurando teus afãs,
Assisto ao mais profundo e movediça
Fortuna que regendo uma noviça
Presume outro momento sem igual,
Assisto ao crescimento desta que
Meu canto na verdade quer e vê
Num dia feito em glória, magistral.

309

Ouvindo o velho canto em triste aboio
Tangendo a minha vida pro curral
Da sorte desenhada e sem igual,
O tempo se anuncia e mostra o joio,

Ainda que pudesse noutro apoio
O passo se desenha bem ou mal,
Avança pela estrada em ritual
O coração persegue este comboio,

Vaqueiros entre espinhos, na caatinga
Cantiga que aboiada não se extinga
Num improviso feito a cada instante,

Também o sentimento sem certeza
Depois do grande amor, quando sou presa,
Nem mesmo algum momento em paz garante.

310

Num dia por talvez buscar quem é
No meio do terreiro o mais antigo,
O passo se desenha e assim me abrigo
No canto deste pai, meu aboré,
E a vida se desenha em rara fé,
Dos todos os anseios já prossigo
Vencendo qualquer medo e vão perigo
Chegando sem temor ou mesmo até.

O babalorixá mais respeitado,
De tantos o supremo e graduado
Qual fosse sacerdote, pai supremo,

Eu agradeço a ti, meu babanlá
O rumo que esta vida tomará
E sei que de tal forma nada temo.

311

Prepare este abrazô, minha sinhá
Que a vida necessita de sustança
E o tempo da batalha tanto cansa
Quem sabe e se rodeia desde já
Dos sonhos onde a vida me trará
Além da tempestade e da bonança
A sorte perpetrada em trama e lança
Diverso caminhar se mostrará,
E o passo noutro passo se entremeia
Encaro desta forma a velha teia
E venço ou se vencido tanto faz,
Preparo novo bote e não me calo,
Somente não serei jamais vassalo
Meu passo na verdade é mais audaz.

312

Tomando esta abrideira, outras vêm
E a festa continua mesmo quando
O tempo se mostrasse já nublando,
Mudando este cenário mal ou bem,
Ainda que pudesse e assim contém
O peso noutro caos em contrabando,
A luta se aproxima e nos guiando
Transforma esta esperança em qualquer trem,
Não vejo e não veria o que inda trazes
E sei do mundo feito em tantas fases
Uns dias tão diversos de outros dias
Só sei que na batalha não me canso,
E quando este cenário se fez manso
Dezenas de garrafas; beberias.

313

A tartaruga invade a mansa areia
A noite dominando toda a praia
A luta pela vida enquanto esvaia
Expressa o que deveras incendeia,
Apresentando assim o que permeia
Vontade sem igual já não me traia
E quando a noite além dorme e desmaia
Minha alma sem sentido devaneia,
E venho desde cedo na manhã
Sonhando com repasto em abunã,
Fazendo este regalo em festa e gozo,
O tempo se anuncia majestoso
E a vida se trazendo antes malsã
Desenha este cenário saboroso.

314

A cada novo povo este abusão
Trazendo o mau-olhado, tanto agouro
Aonde poderia duradouro
O prazo no final diz negação,
E vejo os dias todos que virão,
Tentando adivinhar o nascedouro
E quando me percebo sem tesouro
Olhando no horizonte vejo o chão,
A luta se permite e nada traz
Sequer o que pensasse ainda em paz
Crendice? Pode ser, mas na verdade
O quanto se traduz e sempre invade
Mostrando o que pudesse o pensamento
Trazendo no final bom provimento.

315

Menina quando trazes o abuxó
Curando qualquer mal que inda pudesse
Traçar noutro caminho em triste messe
Deixando o sofredor de veras só,
Tramando o que em verdade mostra a dó
E nela outro momento se obedece
Usando no terreiro com a prece
Legando ao sofrimento o mero pó,
Dos babalorixás, das entidades,
Os cantos em que tanto sempre agrades
Aos deuses mais potentes deste mundo,
Tratando quem decerto já procura
Depois desta doença a santa cura,
Num ato onde em ternura eu me aprofundo.

316

Prepara com carinho este acaçá
E deixa para trás o que não cabe
Ainda que deveras ali desabe
O sonho noutro ponto nascerá,
Depois de separado o bom fubá
O mundo na verdade já se gabe
Da sorte que pudera e sei que sabe
Do todo que decerto me trará,
Assim sem sortilégio ou medo algum
Da gelatina feita em milho como,
E sei do que tentasse e até mais um
Cabendo neste olhar trazendo ao fim,
O quanto mais queria e sei que assim,
Mais outro com mais outro enfim eu somo.

317

Brincar de cademia, minha infância
Trazida pelas mãos destas avós
A vida se desenha logo após
E nisto se mostrando cada estância
A lua que pudera e sempre alcance-a
Canção feita em delírio velha voz,
O marco desenhado dentro em nós
Embora se perceba tal distância
Num mundo feito em tal tecnologia
Ficando para trás a cademia
Já nada mais condiz com a lembrança
Que mesmo sendo viva dentro em mim,
Há tanto se perdeu, mundo ruim,
Enquanto a humanidade além avança.


318

Roubando todo o fogo de Tupana
O jacaré fugindo já se alcança
E quando se embriaga, na lembrança
Apenas o vazio que profana,
A luta se desenha e sempre engana
Marcando no final em fria lança
A morte se desenha com pujança
E o bicho se incendeia em fúria insana,
O bico agora eu vejo que encarnado
Traduz o quanto fora então queimado
Por moça delicada e traiçoeira,
Acaé também exposto à lua
Ainda avermelhado continua
Raisaua se escondendo na touceira.

319

Tomando mais um gole de açaí
Depois de tanto tempo mais distante,
A lua do Pará hoje garante
O quanto poderia e vivo aqui,
Enquanto no passado eu me prendi
Num rito mais mordaz e delirante
A vida se transforma a cada instante
E o quanto poderia já perdi,
Voltando para os ermos do Xingu
O coração exposto e agora nu
Bebendo do passado vivo em mim,
O mundo se anuncia e me apresenta
O quanto se perdera em vã tormenta
Matando o que inda houvera em meu jardim.


320

Menina ouvindo ao longe este acalanto
Voltando para a etérea e doce infância
Meu tempo não sabendo mais distância
Apenas outro tempo em paz garanto,
E sei do que pudera neste tanto
Marcar cada momento em sua estância
Vencendo o que perdera em discrepância
Secando de uma vez o antigo pranto,
Bebendo esta lembrança mais suave,
Sem nada que deveras tanto entrave
O passo deste eterno sonhador,
Menina se me nina com teu sonho,
Também a cada instante a paz componho
Na forma mais tranqüila de um amor.

321

Nas mãos trazendo agora a acangapema
Enfrento qualquer tribo outro guerreiro
E o tempo se desenha derradeiro
Sem nada que certo ainda tema,
A vida se prepara e não algema
Quem faz do seu caminho o verdadeiro
E trama com ardor este celeiro
Aonde se produz o que não trema,
De todas as certezas, a fortuna
Presume no final cada borduna
E trás consigo a sorte em minhas mãos
Ao tanto que decerto eu me acostumo
A vida traduzindo em guerra o rumo,
Os dias não seriam todos vãos.

322

Trazendo por presente, acangantara
Nas festas onde o povo reunido
Presume na esperança o seu sentido
E bebe da alegria mesmo rara,
E quando esta beleza se escancara
Nos ermos da floresta, presumido
Caminho tantas vezes percorrido
Por lua sem igual, imensa e clara,
Desejos cobiçados, pelas tribos
O mundo não traria mais estribos
Nem mesmo outra tormenta ou erro e fado
O quanto se permite em belo encanto,
O dia mais sublime e assim garanto
Meu mundo neste instante em que ora brado.


323

Voando em liberdade esta acará
Na graça desta garça em alvas penas
Ainda que deveras me serenas
A vida se desenha desde já,
E o quanto poderia e moldará
Embora tantas vezes, me condenas
Vencendo o que pudesse se envenenas
Errático cenário mudará,
E o tanto quanto trago do passado,
Agora ao ver no céu encantos brado
E tramo outro futuro em ar supremo,
E quantas vezes traço esta esperança
Nesta ave que decerto enfim se lança
Num átimo um desenho além e extremo.

324

Outro acará e segue a pescaria,
Nem mesmo alguma sorte mais diversa,
Aonde quis piau já desconversa
E nada mais deveras me traria,
A noite em bagres, vejo após o dia
E sigo o que pudera e não mais versa
A luta se mostrara tão perversa
A ceva não trouxera o que eu queria,
Porém já não desisto e sigo em frente,
Ainda que deveras se apresente
Assim imita sempre a minha vida,
Do tanto desejada nada veio,
Somente o que pudera em devaneio
Traçando a cada ausência, outra partida.

325

Matando esta serpente, outra acauã
Levando assim no bico o seu sustento
Eu tento outro cenário e me alimento
Da sorte desejada e até malsã
Sem ter sob meus olhos o amanhã
Entrego o coração ao sentimento
E bebo sem temor algum o vento
Liberto o coração nova manhã;
E a vida se renova noutro instante
E quanto do meu passo se garante
Trazendo para o ninho outra esperança
A lida se repete a cada fato
E de tal sorte vejo e até constato
Sabendo que a rotina não me cansa.

326


Prepare outra cabaça; este açobá
E mostre com firmeza o quanto trama
A vida se anuncia e sempre clama
Destino que decerto mudará
No ritual da sorte nos trará
Além do que pudera ser um drama
A luta não se cansa e sempre chama
Deixando ao coração o que virá,
Um açobá fazendo outro feitiço
O mundo que eu quisera e mais cobiço
Ditando este caminho sem quebranto,
Desditas do passado já não vejo,
Apenas noutro novo em novo ensejo
O todo que inda creio hoje garanto.

327

Tocando com beleza a acordeona
A noite de forró, baião xaxado,
O tempo noutro canto desejado
Minha alma desta cena já se adona,
Trazendo nos teclados da sanfona
O dia que pudesse em arretado
Caminho muitas vezes desvendado
No quanto a cada xote mais abona,
A moça se fazendo mais faceira
O quanto na verdade mais se queira
Fulô mostrando enfim a primavera,
Perfume de donzela, lua mansa
Meu mundo sem paragem segue e avança
Nem mesmo algum futuro, a sorte espera.

328

Pagasse como multa a acuação
Trazendo esta presença bem marcada,
A sorte tantas vezes desejada
Decerto muito além da tradição
Expressa os dias claros que virão
E neles outra forma desenhada
Uma alma com certeza não se evada
E trace com prazer a solução.
Em Carapicuíba a festa dita
Pagando com cachaça a velha prenda
E nada do que possa se desvenda
Deixando a casa sempre mais bonita
Enquanto o coração além se lança
A vida se prepara outra festança.

329

O quanto se fizera em acubá
Pedidos para a paz quando tu vês
Cenário abençoado onde malês
Em oração desenham desde já

O mundo que em verdade brilhará
Quem tanto com brandura e sem porquês
Usando da suave sensatez
O tempo noutro tom nos tocará.
Assim se preparando desde cedo
O quanto deste amor quero e concedo
Bebendo o teu sorriso, cara amiga,
A vida se renova a todo instante
Uma oração em paz sempre garante
Mesmo que surja a dor, velha inimiga.

330

Um acutipuru minha alma ascende
Os tantos arvoredos do caminho
E quando muito além em paz me aninho
O sonho em tal perfume se recende
Vestindo esta emoção, nada depende
Sequer do que decerto eu me avizinho
Ousando na candeia e sem espinho,
O tempo noutro rumo se desprende
Assim em liberdade, sigo além
Do quanto na verdade ainda tem
O coração que nada mais impede
E vivo a solução em plena paz,
Meu passo noutro rumo hoje se faz
E a plena consciência em luz concede.

331

Se cada povo traz o seu adágio
Meu mundo se resume em tais caminhos,
E vejo na incerteza destes ninhos
A vida se cobrando em juros, ágio.
Pudesse muito além de algum naufrágio
Vencer estes momentos mais daninhos
Trazendo pros meus lábios raros vinhos
Supero a cada instante novo estágio.
Até saber do pleno que viria
Toando com fineza a poesia
E nisto nada mais pudesse então,
Somente desmanchar velho cenário
E um mundo que talvez imaginário
Mudasse do meu barco a direção.

332


Oxum trazia sempre o seu adê
Em proteção divina contra a fúria
Do quanto poderia a cada incúria
A vida sem sequer saber por que,
E quando na verdade o que se vê
Além do que pudera em cada injúria
A sorte se prolonga na penúria
Outro momento nega o quanto crê,
E assim no capacete deusa Oxum
Perigo não correndo mais nenhum
Trazendo sobre Angola a proteção
Diversa do que tanto se veria
Vencendo com firmeza o dia a dia
Encara os outros tantos que virão.

333

Brincando qual criança de adivinha
A vida me trazendo esta bucólica
Beleza que pensara em luz eufórica
E sei que na verdade sempre vinha,

Ainda que se trame toda minha
A vida prenuncia a luz teórica
E nisto esta lembrança quase histórica
Levando ao pensamento o que continha.
Saudade deste tempo que não volta,
A sorte no vazio não se solta
E o canto do passado já não traz
Sequer o que pudesse e não soubera
A lida se renova noutra esfera,
Porém ao recordar eu bebo a paz.

334

Baricada-subá diz um malê
E traz no olhar o quanto brilhará
Encerra cada dia no adixá
E nisto tanta coisa em seu por que,
Ainda quando o tempo nada vê
Ou mesmo outro momento tornará
A vida mais diversa e desde já
Um corte não traduz o que se crê
Alá nos protegendo a cada instante
A luta com certeza nos garante
Vitória sem temor de qualquer forma
O mundo quando é nosso nada tolha
Ousando na esperança a cada folha
Enquanto o dia em paz já nos transforma.

335

Ouvindo no terreiro enfim o adjá
O santo saciando esta vontade
Da fome que deveras quando invade
Tomando este momento desde já,

O tanto quanto pude e mostrará
O canto na mais bela lealdade,
Ainda que se trace em liberdade
O quanto poderia aqui ou lá

Bendigo os tantos santos da capela,
Minha alma neste instante se revela
E trago em oferenda o que há em mim,
Dos dias mais bonitos tanta paz,
Entrego o coração aos Orixás
Liberto dos grilhões, até que enfim!

336

Ouvindo na floresta assobiar
Adjuloná trazendo para perto
O quanto imaginara estar deserto
E agora sei que existe outro lugar,
A vida noutro ponto a desenhar
Deixando este cenário sempre aberto
E quando do vazio hoje desperto
Meu canto noutro canto a se guiar,
Da folha sai o som que refletindo
Expressa para mim o quanto é lindo
O mundo de meu deus, sem mais temer,
Ainda que distasse deste espaço
O tempo que julgara em sonho escasso
Permite no final o amanhecer.

337

No tempo que pudera em tal adjunto
Bater a própria laje em mutirão
Agora noutro engodo servirão
Sozinho o que se dera em tal conjunto
E quando na verdade mal ajunto
Meu passo sem saber da direção
As horas dominando esta estação
Traduzem no final um novo assunto,
Assisto ao que pudesse ser diverso
E sei do meu caminho enquanto verso
Restando muito pouco do que fui,
Ainda que se veja este momento
O quanto no final buscando eu tento
Em dura fantasia tudo rui.

338

Ainda sinto o gosto mais guloso
Deste ado que fizeste para mim,
O sonho dominando não tem fim,
E lembro com prazer em antegozo,
Cerzindo este momento majestoso,
Do milho com dendê trazendo enfim
O gosto desejado e feito assim
De um modo generoso e caprichoso,
A vida me levando para além
Do todo que tivera nada vem
Restando a voz que tanto inútil brade
Dos tempos de moleque, nada resta
Senão alguma cena em leve fresta
Ditame do que fora esta saudade…

339

Prepara em ado-chu tal sacrifício
Aos deuses e orixás, festas e ritos,
Os dias entre tantos infinitos
Separam no final marcado ofício
Sangrando este animal, ao dar início
Aos dias entre tantos outros ditos
Os olhos no futuro seguem fitos
Deixando para trás o precipício.
Assim ao coagular esta sangreira
Prendendo em feminina cabeleira
Expressa o que se faz à divindade,
Os dias que virão serão de paz,
E assim este holocausto então se faz
Trazendo tanto bem que nos agrade.

340

Fazendo o adubalé, na saudação
Tanto os filhos e as filhas deste santo
Trazendo ao coração o raro encanto
Tocando com seus rostos, frio chão,
Assim ao se mostrar na direção
Do sonho onde possa e não me espanto
Deveras noutro rumo me agiganto
Ao ver mantida a velha tradição,
Um pai-de-santo vendo este momento
Traçado aonde tanto eu me contento
E nisto perpetua a nossa história
Há tanto em vilipêndio destroçada,
Porém ao resistir abençoada
Traduz em ritual esta vitória.

341

Tocando o velho adufe na folia
Janeiro se prepara nesta choça
E a vida quando a vida mesmo roça
Trazendo ao coração esta alegria,
E quantas vezes tendo o que queria
A luta sendo eterna e sendo nossa
O vento se espalhando na palhoça
A dança se desenha em sintonia,
E vejo o que o passado nos legara
E sei do quanto a vida é jóia rara
Na velha tradição de um povo inteiro,
Depois de tantos anos seculares
Momentos atravessam anos, mares,
E voltam sempre a cada outro janeiro.

342

No carnaval cantando um afoxé
Usando do nagô como linguagem
O povo vendo em paz, dando passagem
Ao quanto pode a vida em rara fé,
Lembrando deste Obá por ser quem é
Tomando mais bonita esta paisagem,
Dos sonhos do passado uma viagem
Presume o coração liberto até,
E quando se aproxima em alegria
Trazendo desde além, lá do Garcia
Beleza que traduzo sem igual,
Ouvindo e vendo a festa anunciada
A sorte nesta senda desenhada
Traduz a imensidão do carnaval.

343

Bebendo do afurá que me fizeste
Trazendo num frescor esta vontade
De ter num novo encanto a liberdade
Vencendo este verão num solo agreste,
O sol que em demasia nos reveste
O quanto com certeza; desagrade
Enquanto esta delícia agora invade
Moldando a sensação de ser celeste,
Um gole de afurá, outro repito
E o tempo com certeza mais bonito,
Desenha em claros tons, diverso encanto,
E assim em plenitude a vida trama
E mostra o que em verdade dita a chama
E um dia mais sublime e em paz garanto.

344

Quando Aganju tocasse Iemanjá
Irmão e companheiro que das águas
Ousando em terra firme já deságuas
O quanto poderia e moldará
A vida representa o que virá
E mesmo que se encontrem tantas mágoas
As sortes iluminam, pois são fráguas
E neste tempo o mundo mudará,
Esposa sua irmã o forte deus,
E deixa para trás qualquer adeus,
Ousando ser além do imenso mar
Procria em tantas ilhas a beleza
Do amor que se traduz pela firmeza
Embora saiba sempre navegar.


345


Agoxum com sua faca em fino fio
Ogã que em sacrifícios se fez forte,
Ao quanto na verdade mais suporte
Vencendo sem temor o desafio,
E bebe desta senda onde desfio
O passo com firmeza rumo ao norte
E trago com beleza a melhor sorte
Cessando sobre a terra algum estio,
E assim num holocausto se redime
Tramando outro momento mais sublime
Traçando uma esperança já sem fim,
E quando no terreiro em noite mansa
A lua se traduz enquanto avança
Expressa o que melhor encontra em mim.

346

Nas águas de Oxalá purificando
Mudando destes potes, das quartinhas,
As sortes se apresentem bem mais minhas
Num tempo mais bonito e sempre brando,
As filhas, procissão, já dominando
As dores mais atrozes e mesquinhas
E nada destas ervas que daninhas
Mostrassem o futuro mais infando,
Ao renovar o sonho, esta esperança
O passo noutro rumo já se lança
E dita o que virá em nova luz,
O coração aberto de quem sabe
Bem mais do que decerto ainda cabe
Eterna sensação em paz produz.

347

O sangue acumulado desde quando
Começam holocaustos no terreiro,
Marcando este destino aventureiro
E todo o meu caminho transformando,
O verso se mostrando em contrabando
O sonho muito além do corriqueiro
Poder já sem igual, e verdadeiro
Por sobre toda a terra enfim reinando,
São águas dos Axés, tenha a certeza
E vencem o que traga a correnteza
Traçando este futuro bem mais forte,
Assim nada temendo no horizonte
Aonde cada dia sempre aponte
O rumo com firmeza, o nobre norte.

348

Tomando em diarréia, água-Panada
Diminuído a fúria do intestino
Domina com certeza o mal destino,
E traça a luta agora desenhada,
Depois de se trazer a desejada
Certeza que a vontade enfim domino,
Depois de tanto tempo em desatino,
Moléstia já se mostra então curada,
Usando deste pão que é redentor
Aprendo como a vida dá valor
Aos mais tradicionais conhecimentos,
Sem ter qualquer efeito em malefício
E sem necessitar de sacrifício
Melhor do que os comuns medicamentos.

349

Reinando nos infernos o Aguará
Domina todo o mal e sempre dita
Ordenando ao Exu, sorte maldita
Moldando o descaminho desde já,
Das esposas dos santos mostrará
A face dolorosa em tal desdita
E deste caminhar sempre palpita
Cevando o que jamais, pois colherá,
Assim ao se fazer este diabo
Enquanto noutro passo ora me acabo
Tentando vencer tais dificuldades,
Ainda se aproxima e teima quando
O mundo sem sentido se nublando
Negando o que pudessem claridades.

350

Tocando o meu aguê no teu terreiro,
Da cuia bem curtida, nova orquestra
A vida que pensara ser canhestra
Agora dá seu salto derradeiro,
E o canto se mostrando por inteiro
Ao todo com certeza já se adestra
Minha alma que permito ser mais destra
E nisto me aproximo verdadeiro.
Trazendo tantos seixos dentro em si,
Assim também como eu me permiti
Traçar o dia a dia em tons diversos,
No canto em harmonia, o candomblé
Reinando sobre tudo, nossa fé
Traduz em raros tons sobejos versos.

351

Um babalorixá, seu aguiri
Usado para a sua proteção
Ainda que outras dores; moldarão
De todos os perigos, não senti
Sequer algum temor e revivi
Depois de ter tombado a embarcação,
Ousando até na nova direção
O quanto em segurança presumi,
A vida se conforta a quem se dera
Vencendo com nobreza qualquer fera,
A fé nos libertando noutro passo,
Redime cada engano do passado
E traz um dia novo abençoado
E nele outro momento em paz eu traço.

352

A noite se entregou para Aiacó
A mãe das trevas deusa do terreiro
Aonde o meu caminho derradeiro
Não vira e não deixara nem o pó
Cansado de viver deveras só,
O velho coração mau companheiro
Espera este momento aventureiro
E bebe da esperança o que traz dó.
E vendo a nebulosa noite nua,
Quando Oxalá esconde além a lua,
A divindade trouxe um raro alento
Os raios de Iansã tomando o céu
E num clarão imenso novo véu,
Entregue sem cansaço ao forte vento.

353

Um aiapá prendendo a minha perna
Na dança quando em ritmo mais veloz
O tanto que pudera dentro em nós
Tramando a sorte clara, mesmo terna,
A vida se desenha e não se inverna
No peito que pudera mesmo atroz
Gerando com brandura a nossa voz
Canoa da esperança não aderna,
Assim ao me mostrar em liberdade
Não vejo enfim mais nada que degrade
O passo rumo ao quanto ainda espero,
Chocalhos retratando esta harmonia
E nela o meu canto mostraria
O coração aberto e mais sincero.

354

Princesa de Aiocá, pois nos proteja
E trague bom pescado para quem
Ousando nos saveiros sabe bem
Da sorte tantas vezes malfazeja,
E quando muito além o passo almeja
O todo com certeza enquanto vem
Deixando para trás qualquer desdém,
Um dia bem melhor cedo preveja,
Nos olhos desta deusa, uma rainha
Vontade de quem tenta já se aninha
E agradecendo a ti, bela senhora,
O quanto trago em paz o coração
Fazendo desta pesca uma oração
Àquela que meu peito em luz adora.

355

Um velho protegido por Airá
Xangô que tem nas mãos tanto poder
Trazendo o mais sublime a se tecer
E nisto cada estrela brilhará,
O tempo após o tempo reinará
E quando se aproxima e sinto ter
O mundo desenhado onde o querer
Transforma este momento aqui ou lá
Oluwá mi, Xangô meu Pai,
O sonho noutro sonho não mais trai
Quem tanto se aproxima do infinito
E sei do quanto quero e necessito
Ousando com palavra mais serena
A vida onde meu canto em luz se acena.


356


Ajá que nos levasse e me ensinasse
Trazendo ao fim de tudo o que teria
Na sorte mais audaz, sabedoria
Vencendo com certeza algum impasse,
E neste desenhar o quanto trace
Moldasse com tamanha sincronia
A vida se permite em harmonia
Ainda que o terror às vezes grasse.
Redemoinho leve para além
Quem tanto necessita e sempre vem
Beber desta diversa maravilha,
Aprendendo os feitiços e mandingas
Usando com firmeza tais mezinhas
As noites que pensara serem minhas
Embora na verdade sei que vingas
Ao longe o pensamento vaga e trilha.

357


Ajê-Xalugá proteja quem
Em ervas e em palavras dita a sina
E traz no seu olhar a medicina
Vagando quanto sabe e muito além,
O tanto que se possa e mais convém
Enquanto na verdade desatina
A sorte com firmeza me ilumina
E sigo o paraíso em raro bem.
Usando da palavra redenção
Ao sonho com total dedicação
Trazendo com amor bem mais que pude
Tentando subverter qualquer tormenta
A luz que me consagra e me alimenta
Tramando com vigor vasta saúde.

358

Ajibonã ajude a mãe de santo
E trace no terreiro outro momento
Aonde se mostrando em raro alento
O mundo se anuncia em tal encanto,
Cenário aonde o canto ora garanto
E mesmo que deveras quando invento
O sonho se traduz convencimento
Deixando para trás o medo e o pranto,
Assim neste ajutório a ajibonã
Vencendo esta desdita ora malsã
Permite, junto à mãe outro cenário,
Enquanto neste passo em liberdade
A vida com certeza nos agrade
Num tempo mais feliz e solidário.

359

Trazendo em seu ajó um novo ebó
Dos cantos do terreiro quem me guia
Gerando a cada instante a fantasia
Deixando o meu passado exposto em pó,
Uma oração que trame em cada ajó
Além do que sentir feitiçaria
Marcando com vigor e em sintonia
Não deixe este momento quedar só,
Avance com a fúria do guerreiro
E quando sendo assim o verdadeiro
Senhor que toma parte nas pendências
Usando do teu braço, com certeza
A vida se espalhando sem surpresa
Em noites consteladas, eloqüências.

360

Fazendo da raiz desta jurema
O fumo que pudesse nos guiar
A sorte poderia demonstrar
Além do que em verdade a vida tema,
Neste ajucá a sorte sem algema
A luta a cada instante a se travar
Expressa o que pudesse imaginar
Estrelas desfilando em diadema,
Ouvindo as cantadeiras; maracás
A sensação de imensa e rara paz
Traduz o que pudesse em perfeição,
Depois de inebriante maravilha
Meu coração liberto agora trilha
Vencendo os dias rudes que virão.

361

Tramando com certeza outro ajuri
E neste desenhar o tempo passa
Aonde outro momento em sorte escassa
Diverso do que tanto quero aqui,
Assim a todo instante eu resumi
O velho coração que ao léu se faça
Ousando na palavra enquanto traça
O todo que pudera e presumi,
Cevando uma esperança em tal comboio
Levando para além do ledo arroio
As águas para o bem já cultivar,
Em concordância vejo a sintonia
E nela se desenha o que viria,
Vencendo qualquer sombra a nos tocar.

362

Quando Alabá reinasse sobre tudo,
Marcando a ferro e fogo em traição
O mundo noutro rumo e direção
Deixando o coração enfim mais mudo,
E nesta ocasião me desiludo,
Os dias em total sofreguidão,
Apenas outros tantos moldarão
O quanto no final tento e transmudo,
Ruínas desenhando o mesmo caos
E nisto estes momentos vagos, maus
Apresentando a queda de quem possa,
Vencer as artimanhas do demônio
A sorte se transcende e em patrimônio
A vida traduzindo a imensa fossa.

363

O alabê domina os atabaques
E rege com vigor esta harmonia
E traz dos orixás a companhia
Vencendo desta vida os tantos baques,
E quando na verdade as dores saques
Gerando no final uma alegria
A vida com certeza se faria
Maior do que do mal, ledos ataques,
E assim com toda a sorte enfim se vê
Nos ritmos que comanda este alabê
Certeza de uma vida mais tranqüila,
Conversas com os santos na verdade
Ousando quando além do sonho brade
A luta em rara força se perfila.

364

Um alafi proteja nossa porta
E trague a paz a quem se fez mais forte
E assim a cada passo nos conforte
Deixando para trás o que deporta
O sonho onde o tanto nos suporta
Vagando com certeza em ermo norte,
Ousando perpetrar além do corte
Negando o que esta vida agora aborta.
Acompanhando quem se mascarasse
No espírito dos dias venturosos
Os passos mesmo sendo caprichosos
Superam o que fora algum impasse,
Traçando este caminho em rara paz,
Momento em plenitude agora traz.

365

Um potiguar desejo em alambica
Fazendo com toucinho e jerimum
Desejo tão igual resta nenhum,
A fonte majestosa assim se explica
E quando se aceitasse a velha dica,
De todos os desejos trago algum
E sei do que pudera ser mais um
Satisfação suprema imensa e rica,
Lembrando de Natal, de Mossoró
O sonho não se sonha nunca só
E trama este momento mais sublime
E assim com mais beleza e em luz imensa
A vida no final me recompensa
De todos os meus erros me redime.

366

Quando em Noronha vira esta Alamoa
Imagem da sereia loura e bela
A vida nesta face se revela
Aonde se naufraga outra canoa,
A luta se desenha enquanto ecoa
A voz de quem pudera e não se sela
Deixando tão somente a velha cela
E nisto outra verdade já destoa,
A doce sensação se faz cruel
E o quanto poderia ser o mel
Agora traz apenas ferroada,
Da deusa nua e rara nada sobra,
Somente o que este sonho toma e cobra
Transforma o paraíso em quase nada.

367

No norte capixaba, sei do alardo
E travam-se batalhas do passado,
Aonde o meu futuro desejado
Pudesse imaginar e não retardo,
Enquanto outro momento agora aguardo
O tempo noutro tempo desenhado
O quanto em cada verso invado e brado
A vida desfiando o velho fardo.
Assim dos mouros vejo este vermelho
Azul representando então cristãos
Até que no final um novo espelho
Traduz a cada passo em outros vãos
Momentos gloriosos em tesouros
Aonde se venceram tantos mouros.

368

Um alfelô adoça o meu desejo
E mata esta vontade mais sublime,
E quanto mais deveras se suprime
Minha alma; neste ponto sempre a vejo,
E traz neste momento benfazejo
O quanto na verdade se redime
A sorte que pudera e tanto estime
Quem ama com ternura algo sobejo,
Embora diabetes sonegasse
O quanto deste doce se mostrasse,
Vontade superando algum juízo,
Se a vida tem sabores, na verdade
Neste alfelô mais alto sempre brade
Trazendo ao paladar, o Paraíso.

369

Um alfenim soberbo nesta festa
Transcende ao que pudera e mais queria
A sorte se desenha em iguaria
E nisto meu caminho além não resta,
O tanto que tentara e já se empresta
Marcando com vontade a fantasia,
E nesta delicada alegoria
O gosto mais audaz a vida atesta,
E sei de cada imagem traduzindo
O todo mais audaz, porquanto lindo
Cenário; aonde eu pude e sei até
Vibrar em um momento mais audaz
E nele este alfenim me satisfaz
Um gosto delicado por quem é.


370

Um alicali toma em decisão
O quanto poderia sem intriga
Assim ao evitar a nova briga
A vida se mostrando em precisão,
Depois destas discórdias se verão
A paz que na verdade já prossiga
Tramando com certeza o que consiga
Na justa e mais real satisfação.
Judiciosamente sei do fato
E nele cada passo hoje eu constato
Retrato do que fora bem mais justo
Não sendo de tal forma em arrogância
Vencida com certeza noutra instância
O quanto tu quiseste a qualquer custo.

371


Alijenus usados por quem possa
Traçando os vãos destinos entre tantos
Chamados para o mal em desencantos
Ou mesmo para o bem em nova troça
Enquanto por alufas são usados
E nisto se presume qualquer sorte,
Trazendo tanto a vida quanto a morte
Momentos com certeza variados,
Depois de certo tempo nada vejo
Sequer algum cenário mais audaz
E nisto tanto fez e tanto faz
Desenha outras vontades do desejo,
Certeiros passos dizem do abandono
E quando na verdade desabono.

372

A alma de mestre voa para o mar
Trazendo este bom tempo que permite
Pescar e muito além de algum limite
Aonde pude em paz imaginar,

Porém se é para a terra o seu voar,
A sorte tão diversa num palpite
Procela nos trazendo e me acredite
Há chance até do barco naufragar,

No voo desta sorte a procelária
Trazendo nos anseios sorte vária
Tramando o quanto pude e até quisera,

Ao enfrentar dos céus esta vontade,
Na certa ao beber da tempestade
Enfrentarei deveras tal quimera?

373

Calçando esta alparcata em puro couro
Vencendo os espinheiros do caminho
Jamais me mostraria mais sozinho,
Usando da esperança o meu tesouro,
No quanto poderia ancoradouro
Trazendo qualquer dia eu me avizinho
Do quanto quis deveras com carinho
Ousando neste encanto duradouro,
Assim se desenhando o que viria
Dançando novo xote em alegria
Arrastando a chinela no xaxado,
Depois de certo tempo sem ninguém
A sorte de outra forma sempre vem
E agora me mostrando acompanhado.

374

Quando Iansã devora este amalá
Trazido em oferenda por quem sabe
O quanto da esperança não acabe
E segue este momento aqui ou lá,
Até que mesmo enquanto raiará
O sol neste momento não desabe
Em raios e trovões o quanto cabe
Diversa da ventura que virá.
Assim a redenção se desenhando
Num tempo mais suave em contrabando
Deixando a tempestade para trás,
A deusa, de Xangô a companheira
Comendo com doçura o que mais queira
Espalha sobre a terra inteira a paz.

375

Tomando este aluá em goles fartos,
Refrigerando esta alma tão inquieta
Aonde poderia ser poeta
Vagando sem sentido os velhos quartos
A sorte se aflorando noutro tento
Viceja dentro da alma uma esperança
E a vida de tal forma sempre avança
Traçando muito além do que inda alento,
Num átimo mergulho e sei da sorte
Que tantas vezes dita o que virá
Meu mundo se desenha no aluá
Em cujo paladar eu me conforte,
Vencendo os meus temores do passado,
Ousando noutro tempo imaginado.

376

Um alufá, decerto um sacerdote
Ousando ser mais sábio e na verdade
Enquanto outro caminho sempre invade
A vida na certeza deste dote,
Ainda que pudesse e sempre note
Audaciosamente em liberdade
Ditando o que persiste em claridade
Mudando desta vida até o mote,
No cântico se faz claro e evidente
O todo que deveras já pressente
Com tal sabedoria, Saravá,
Presume com certeza o bom da vida
Na sorte desta feita construída
Na voz já comedida do alufá.

377

Marchando neste ritmo, em alujá
A vida se desenha mais tranqüila
A sorte de tal forma já perfila
E todo este momento mostrará
O quanto desejara aqui ou lá
Enquanto a magnitude em paz desfila
Reinando sobre o quanto não vacila
Quem sabe deste sonho e o beberá,
Ainda que eu pudesse me perder
Vibrando em consonância posso ver
Raiar a maravilha de tal hino,
Cadenciando o passo sem temor,
Apenas vou seguindo este tambor
Aonde com certeza eu me fascino.

378

Nesta alumiação sei que é finados
E os dias são diversos, mas decerto
A claridade trama o peito aberto
Em sonhos versos ritos consagrados,
Assim se permitindo tais legados
E neles outro rumo já desperto
Vagando onde pudera ser incerto
E agora se aproximam novos fados,
Ascendo quando acendo a nova vela
E toda esta certeza se revela,
Num ato mais sublime e até brilhante,
Vivenciando o tempo que se fora
Minha alma neste lume redentora
Outro momento belo hoje garante.

379

Aluvaiá domina todo o mal,
Na Angola feito Exu já não suporta
E fecha da esperança qualquer porta
Vagando pelo espaço sideral,
Dos bantos o orixá tradicional
Deveras com a dor nunca se importa
E vendo o que pudesse e não comporta
Espreita com olhar frio e venal,
Em artimanhas doma este cenário
E marca com a fúria do corsário
O passo de quem tenta a liberdade,
Ocasionando a queda e o sofrimento
E quando a claridade, inútil tento
Apenas outro engodo que a degrade.

380

Alvíssaras a quem me desse o rumo
De quem partiu e assim levara
O quanto poderia ser mais rara
Na noite aonde o sonho em vão consumo,
Assim a cada engodo já me esfumo
E a vida sem sentido desampara
Marcando com terror cada seara,
Embora no final eu sei me aprumo,
Alvissareira luz que me tocando
Trazendo o quanto quero calmo brando
Vibrando em emoção além de tudo,
Depois do que perdera no passado
Agora com firmeza sempre brado
E o passo em novo tom ouso e transmudo.

381

Amanaci trouxesse pro sertão
A chuva que redima quem se fez
No espólio da temida insensatez
Tornando mais inóspito o verão
Os dias que sagrados mostrarão
Além do quanto mesmo agora crês
Numa expressão de rara lucidez
Minha alma se entregando em nova ação,
Da dimensão das coisas mais doridas
Entrego as minhas sortes construídas
Nas tantas e diversas alegrias
Assim a cada ceva outra colheita
E o paraíso em vida se deleita
E nele novas sendas; pois trarias.

382

Enquanto no sertão em raro estio
A vida se trouxera em dor tamanha
Pudesse ter no olhar Amana-Manha
E assim todo o cenário em paz desfio,
A sorte se desenha sem desvio
E sei desta partida agora ganha
E sigo muito além de tal montanha
Ao ver já renascer o morto rio,
Açude que esperança traz de volta
A sorte se desenha nesta escolta
E traça além do caos outro momento,
E quando me percebo muito além
Do quanto na verdade agora vem
Meu medo do passado o dessedento.

383

Amao quando ensinara a burilar
Fazendo este beiju da mandioca
Trazendo uma esperança a cada loca
Tramando cada passo no luar,
Depois de certo tempo a se traçar
Vagando pelo além hoje desloca
E segue seu caminho e quando toca
Apenas nos fazendo relembrar
Ao ter seu filho morto levando além
Embora duas luas, pois contém
O coração do infante perecido
Da cobra grande e desta turva arraia
Apenas a verdade onde se traia
O sonho se fez logo em duro olvido.

384

Da terra onde amazonas dominaram
Jamais sobrevivesse qualquer macho,
Apenas na verdade algum capacho
E deles sensuais, se aproveitaram,
Meninos com firmeza degolaram
E nada mais que mero e tosco facho,
Ainda quando os ossos ledos acho
Percebo o quanto além em luta ousaram,
Decepando algum seio em melhor mira
A mão bem firme quando além atira
A flecha dominado mais certeira,
Rainhas semi-deusas na verdade
Enquanto humanidade se degrade
A sorte em suas mãos, aventureira.

385

Um ambrozô presume esta delícia
E traz ao paladar diverso ardume,
E nisto com certeza já resume
O gosto com ternura e até malícia
Trazendo da Bahia esta notícia
Mistura de sabores e perfume
Apimentado sonho e nele rume
Um toque de brandura e de sevícia,
Assim domando o senso e o paladar
Decerto noutro encanto irá domar
O que inda restaria dentro em mim,
O amor que na verdade já se crê
Desenha a maravilha do dendê
Temperos mais diversos; têm no fim.


386

Num amelê a festa garantida
Tocando a noite inteira em harmonia
Traçando a cada toque esta magia
Na sorte tantas vezes presumida,
O passo se traduz em nova vida,
E o quanto muito além já se queria
Trazendo neste encanto uma alegria
E nela outra vontade resumida,
Da cuia se desenha esta cabaça
E a vida se aproxima e sempre traça
Cenário mais sublime em perfeição
E quando se tocando em noite e lua
Minha alma se inebria e além flutua
Adentra sem temor a imensidão.

387

O prato de feijão quando em farinha
Engrossa e com pimenta é temperado
Trazendo este sabor que desejado
Aos poucos noutra face a sorte aninha
E sei do que pudera e se avizinha
Num átimo mergulho lado a lado,
E como com torresmo o desenhado
Aspecto que decerto mostra e alinha,
Vencendo com ternura algum perigo
Por isso é se diz feijão amigo
No frio traz alento a quem faminto
Pudesse tão somente imaginar
Um modo de prazer a me esquentar
Sabor raro e sublime agora eu sinto.

388

Das folhas da mostarda este amori
Temperas como efó e depois fritas
Enquanto em tais delícias infinitas
O tanto quanto quero concebi,
E neste desenhar eu percebi
As horas mais audazes e bonitas
Aonde com certeza enfim palpitas
E deste desejar chegando a ti
Assim da mostardeira novo sonho,
E neste emaranhado eu me proponho
Fritando no dendê, com tal perícia
Assim a cada passo se desvenda
Além do que em prazer a sorte atenda
Montando este cenário co’a delícia.

389

Num amurê decerto convidado
Sabendo dos malês em casamento
Bebendo esta ternura eu me alimento
Do quanto poderia noutro brado
E sei do meu caminho desejado
Vencendo o que pudera num tormento,
E quando no final o sonho eu tento
Expresso outro caminho desenhado
E sinto o novo dia onde anuncio
O canto muita vez em desafio
Traduz o quanto pude e assim me expresso,
Traçando o que pudera e recomeço
Usando do festejo em harmonia,
E nisto o que se faz neste casório
E sei do meu momento mais simplório
Ousando muito além da poesia.

390

Um amuxã seguindo assim os ritos
Diversos protegendo o seu ixã
Tramando com certeza em seu afã
Momentos com firmeza mais bonitos
E sei do quanto possa além granitos
Ousando convencer mesmo a malsã
Verdade que pudera noutra afã
Gerando dias claros e benditos
E nesta posse dita o seu caminho
E deste desejar onde me aninho
Encontro a mais sublime liberdade,
O todo se anuncia em proteção
Meus olhos na verdade moldarão
O quanto com certeza; não degrade.

391

Anaantanha figura onde o diabo
Traduz a imagem torpe onde se vê
Ainda que pudesse sem por que
O tanto quanto possa e além desabo
Mostrando pouco a pouco em face escusa
A sórdida presença que deveras
Desenha tão somente ledas feras
Destarte se mostrando mais confusa,
Fincando numa entrada de uma aldeia
O quanto com firmeza ora rodeia
Cravando algum madeiro em pleno chão,
Assim ao se afastar o mal olhado,
O mundo se desenha noutro lado
Trazendo na verdade a solução.

392


Aniflaquete traz os Orixás
Deste solo africano pro Brasil,
E quando tal destino decidiu
Moldando o que pudesse ser audaz,

Gerando muito além do que se faz
Ou mesmo o quanto o tempo já previu,
Ousando ser além do que se viu,
Num ato tão constante, e assim tenaz.

Um galo em sacrifício à entidade
E nisto outro caminho já lhe agrade
Arroz e com total satisfação

Ajuda este Orixá nesta viagem
Acrescentando além na paisagem
Tratando desta nova importação.

393

Passando pelo anjinho na tortura
Os dedos em frangalhos; dores tantas
E desta forma atroz tu já garantas
A imprecisão imensa da amargura,
A sorte que em verdade não procura
Enquanto entre caminhos vis levantas
As sendas mais escusas onde espantas
Trazendo tanto medo onde perdura,
Anjinhos prendem hoje os polegares
E quando este temor no olhar notares
Não creias que devera, tudo fale,
Um companheiro quanto mais fiel
Suporta este castigo tão cruel
E em nome do ideal sempre se cale.

394

Usaste a pedra de ara em teu feitiço
E agora o quê que eu faço desta vida?
Há tanto minha sorte já perdida
Nos olhos deste amor mais movediço
Enquanto cada instante em que cobiço
Alguma lua nova, presumida,
A minha sorte vejo em despedida,
Nas tramas deste amor, duro e mortiço,
Assim ao desenhar o que inda tenho
Apenas do vazio agora venho
E sei que outro não ser além me espera,
Pudesse ter a paz que tanto eu quis,
Pudesse ser ao menos mais feliz,
Mas nada se traduz em primavera...

295

Depois de ter trazido para perto
Iscado este pintado de respeito,
Apenas na araçanga dou meu jeito
E com um golpe seco, o peixe acerto,
É necessário estar bem mais esperto,
O bicho conhecendo o rio, o leito
Encara em luta clara e quando estreito
Procura ter à frente o rio aberto,
Das tantas pescarias do passado,
Apenas a lembrança do pintado,
Ou mesmo do dourado mais bravio,
Saudades do que fui e não vou ser,
A vida se perdendo em desprazer
Nas margens generosas deste rio...

396


Ouvindo a mãe-do-dia ali cantando
Esta Araci zunindo com firmeza
E quanto mais é bela a natureza
Meu sonho deste canto se entranhando,
Um tempo bem mais quente desde quando
A sinfonia chega com presteza
Toando muito além dando a certeza
Da própria vida assim se renovando,
O pensamento então enfim desgarra
E fixa no concerto da cigarra,
A mãe do dia dona da paisagem
Voltando ao que ontem fui e não sabia
Traçando o renovar da fantasia,
Mudando com certeza toda a aragem.


397



Usando desde já sua araçóia
A festa se prepara nesta aldeia
Assim outra alegria nos rodeia
Enquanto o tempo segue rara jóia
O olhar sem direção por vezes bóia
E quando solto ao ar já devaneia
Deveras do passado me incendeia
Vencendo qualquer medo sem tramóia
A sorte se revela mais audaz
E o quanto da esperança o tempo traz
Mostrando a direção do pensamento,
Depois deste festejo outro momento
A luta a cada dia se refaz
Enquanto ser feliz, também eu tento.

398

Olhando para o céu vejo Aracu
Domina este cenário, constelar
E bebo desta noite a nos guiar
Deixando o coração exposto e nu,

Ainda mais distante outro cenário
E como se espalhando neste céu
Diversa maravilha em carrossel
É quase que um momento imaginário.

Entregue às fantasias deste sonho
A cada instante bebo um pouco mais
Dos ermos e divinos siderais
Aonde um novo tempo hoje componho,

Marcando com ternura a noite em paz,
O coração se mostra mais audaz.

399

Olhando nesta noite Arapari,
Trazendo em seu cruzeiro esta esperança
Que aos poucos com certeza quando alcança
Traduz esta brandura que senti,
O quanto em claridade estava ali,
Do céu à própria terra em aliança
Gerando a mais sublime confiança
Na qual eu me encontrei e me perdi,
Vislumbro em diademas o futuro
E quando deste tanto eu me asseguro
Ousando no prazer que vejo além,
Descortinando a noite em tal beleza
A tribo dorme em paz e a correnteza
Do rio canta o quanto amor se tem.

400


No araparu chamando estas cunhãs
Que o boto num momento em sedução
Levou para o seu leito na ambição
Tornando tantas gentes mais malsãs,
Vazios só sentidos nas manhãs
E nisto esta total desilusão,
Um mundo sem destino e mesmo vão,
A vida sem saber dos amanhãs,
E o boto retornando ao rio leva
O que já conseguira em sua ceva
Cunhã enfeitiçada deixa tudo,
Quem sabe ela voltando a vida traga
E cure desta tribo inteira a chaga,
Apenas solitário então me iludo.

401


No ararapari ornamentado
Trazendo no festejo desta aldeia,
A lua se anuncia bela e cheia,
O tempo noutro tempo alimentado,
E quando em pensamentos eu invado
E toda esta alegria me rodeia,
Vagando sobre a sorte que se anseia
O canto se aproxima iluminado,
Nas danças e nos sonhos coração
Aberto ao que pudera desde então
Vibrando com a sorte que viria,
Nos olhos se desenha este horizonte
E quanto mais além a dança aponte
Maior será decerto esta alegria.

402

Dilúvios no passado em plena mata
E nada mais sobrara ou quase nada,
Aré, com alma pura e ilumindada
Vencendo este mistério traz a grata
Presença de Tupã e se constata,
Em meio a tanta luta na enxurrada
Trazendo em suas mãos a demarcada
Noção que em luz diversa se retrata,
Assim ao se vencer os temporais
A vida se renova e muito mais
Que há tanto se imagina em tom diverso,
Regendo com sobeja maravilha
Estrela solitária quando brilha,
Mantendo a vida além, neste universo.

403

Nesta areia-gulosa, movediça
Quem entra não consegue mais sair,
Devora e renegando algum porvir
Traduz o que se visse em vã cobiça,
E mesmo que se veja além a liça
Sem ter futuro o quanto ali cair,
Não traz uma esperança a prosseguir,
A flor que emaranhando não mais viça,
Assim também a fêmea que não cessa
Nem mesmo que se faça uma promessa
Jamais sossega e dá-se a quem vier,
Areia movediça, ou tão gulosa,
Tornando a vida mansa, pedregosa,
Nas artimanhas próprias da mulher.

404


Nos olhos atingidos por argueiro
Semente de alfavaca traz a cura
A senda que jamais nada assegura
Transforma após o intento por inteiro,
Correndo para além um cavaleiro
Santa Luzia busca e na procura
Trazendo um lenço claro em água pura
Remédio para o mal, o derradeiro.
Mas quando é mal de amor, o que fazer?
Os olhos se fechando nada vendo
Nem mesmo com fervor já se benzendo,
Já não consigo mesmo nada ver,
Apenas este olhar enfeitiçado
Nos olhos da mulher segue vidrado...

405

Ariaxé com ervas mais diversas
Em preciosos ritos, magistrais,
Trazendo dias claros sem iguais
Enquanto para além tu segues, versas,
A vida entre palavras que dispersas,
Os olhos buscam cores sensuais
Perfumes delicados e banhais
Em águas olorosas, vejo imersas,
Depois ao perceber o raro aroma
Todo sentido amor decerto doma,
No olhar, no tato a voz e neste odor
No paladar da boca, redentor
Vibrando em consonância, em harmonia
No ariaxé que agora em rito nobre
O sacro desejar já se descobre
E nele todo o mundo mudaria.

406

Ouvindo o Arigau-Bari tocar
Relembro dos bororos de outras eras
A vida se desenha e nela esperas
O quanto que passamos retornar,
A sorte muda às vezes de lugar,
Distando de outras tantas primaveras,
E sei quanto ilusões se fazem feras
Atocaiando a vida no espreitar,
Depois de certo tempo o nada vem,
E o mundo se anuncia e sem ninguém
O quanto poderia ter um nexo
Desenho a velha foz e nada vindo
Apenas o cenário resumindo
Um mundo tantas vezes mais complexo.

407

Veneno sem igual este aripá
Que um dia preparaste para mim,
A sorte se traduz em medo e fim,
E o tempo pouco a pouco findará,
E sei da cascavel e desde já
Preparo outro momento enquanto enfim
Pudesse traduzir o quanto assim
Vivesse sem temor o quanto que há,
Depois a escapatória dita o rumo
E o quanto desta vida ainda resta,
Aos poucos na arapuca eu me acostumo,
E sei desta tocaia preparada,
Nos ermos mais atrozes da floresta,
Sabendo que afinal não serei nada.

408


Da rapadura faço esta aritica
E dela este feijão trazendo o gosto
Da vida que também nega o proposto
E o quanto ainda resta não explica,
A sorte se anuncia e já complica
O todo noutro rumo sempre exposto,
A cada nova sorte um novo rosto,
A luta sem sentido queda e fica,
A senda mais distante, o mesmo tom
No solo nordestino, um tempo bom
Esta invernada traz uma esperança
Assim no agridoce deste prato,
A vida traz também o que retrato
Enquanto o passo, torto sempre avança.

409


A deusa destas águas, Arocá
Trazendo nos seus olhos a beleza
De quem conhece bem sua nobreza
E reina sobre tudo o que virá,
Senhora dominando desde já
A sorte desejada em tal certeza
E segue o seu caminho com firmeza,
Moldando o que em ventura nos trará,
Ó Bela divindade eu te agradeço
E tendo muito mais do que mereço,
Um pescador retorna; barco cheio,
Entrego esta oferenda, e agradecido
O sonho noutro encanto resumido,
Junto à Senhora, eu sei, nada receio.

410

O mestre-arrais tomando a embarcação
Enfrenta as procelas que inda vêm
Assim como o meu sonho segue além
Dos medos e dos tombos que virão,
Olhando com firmeza a direção
Percebo até quem sabe o teu desdém,
Mas sei do quanto amor, a luz provém
E bebo com ternura outro verão,
Vestindo o meu olhar em raros tons,
Estrelas espalhadas, dias bons
E o velho coração de um timoneiro,
O Arrais ao comandar a pescaria
Traduz o quanto amor sempre queria,
E neste mergulhar me dou inteiro.


411

Enquanto Arranca-Língua devorava
O gado que em Goiás um fazendeiro
Criava com o rito costumeiro,
A sorte noutro rumo se entranhava,
A vida muitas vezes leda e brava,
Impede o renascer deste canteiro
E vejo noutro ponto o derradeiro
Caminho feito em dor, temor e lava,
Depois de certo tempo se percebe
A dura ingratidão da velha sebe
E nela os monstros surgem sem um freio,
Sacia sua fome no rebanho,
E aonde poderia haver um ganho,
Apenas este olhar, pleno em receio.

412

No arrasta-pé aonde eu conheci
A moça mais bonita e mais brejeira
Dançando este forró a noite inteira,
Quando eu me percebi te vi aqui,
A dona dos meus olhos e senti
O quanto o coração somente queira
Trazendo pro sertão a verdadeira
Razão que eu encontrei e enfim vivi,
Das noites de luar, noutro bailão
Deixando correr solto o coração
Sem nada que sossegue este matuto,
Ainda quando vejo em noite clara
Meu peito em tanto amor teima e declara
Distante dos teus olhos, inda luto...

413

Arruda dando sorte a quem pudera
Trazer um galho ao menos, sei do quanto
A vida nesta forma eu já garanto
Vencendo o que pudesse ser espera,
A dita de tal jeito se tempera,
E trama o que deseje e assim espanto
O quanto fora apenas um quebranto
Tornando a minha vida noutra esfera,
A dita mais sincera ou mesmo o fado
Deixando para trás o mau-olhado
Permite que se abrindo estes caminhos
Os dias mais felizes se viriam,
E neles outros tantos brotariam
Matando os desenganos mais daninhos.

414

Comendo com total satisfação
Soltando algum arroto no final,
Demonstra quanto foi sensacional
O prato que serviste em refeição,
Repito e vou bisando desde então
Até que não coubesse nem sinal
Resumo de um momento magistral
E dele vou levar recordação,
Assim quando se mostre mais feliz,
Trazendo na verdade o quanto eu quis,
No olhar agradecido, a cozinheira
Já sabe que deveras satisfez
E os pratos que comi, prá lá de três
Se inda coubesse mais, além se queira.

415

Aru trazendo sorte pro roçado,
A mãe da mandioca vem trazendo
E nisto outro momento se prevendo
E nele o quanto vejo iluminado,
Assim o solo sempre bem cevado
Tramando esta colheita onde pretendo
Bem mais do que pudera num adendo
O coração encontro do meu lado,
E sigo com anseio o seu cantar
Ouvindo toda noite o sapo aru
Deixando o quanto pude imaginar
Vivendo a sensação que me completa
Da bela plantação que vendo a nu
Traduz esta emoção, a predileta.

416


Um aruá bem feito, uma delícia
Lembranças que inda trago do passado,
Um búzio, um caramujo desejado
Ao paladar decerto uma carícia
Falando dos meus dias mais felizes
De um tempo que jamais retornaria
Tramando o quanto pude em harmonia
Num rumo bem diverso do que dizes,
Assim ao perceber cada momento
Aonde tive a sorte de saber
Delírios entre tantos conceber
Vivendo o que pudera e me alimento
Dos sonhos e verdades que inda trago
Trazendo ao coração tal raro afago.

417

Aru-apuicutá em margens várias
Destes igarapés onde constato
A cada novo dia o velho fato
Das noites estreladas, solidárias,
No barco que invadisse imaginárias
Diversas sensações e assim retrato
O tempo mais gentil e mesmo grato
Vencendo estas tormentas solitárias,
A mãe da mandioca, aru levava
E nisto toda a ceva se mostrava
Maior do que em verdade ainda temo,
Depois deste passeio noite afora,
Restando tão somente ainda e agora
Lembrança desenhada neste remo.

418

Aruaru domina este sarampo
E traz este poder de cura e sorte,
Ou mesmo que inda venha a dura morte
No brilho redimindo em claro campo,
Aonde o coração em paz acampo,
E sei do que pudera e me conforte
Ousando num momento ser mais forte,
E ver em noite escura um pirilampo.
Também quando a rubéola desce e toma
Pintando todo o corpo da criança
Aruaru então domina e avança
E nisto a sensação da fúria doma,
E mostra a redenção em mansa cura,
Vencendo esta moléstia que tortura.

419


Desfeita neste molho carne ou peixe
Arubé dando o tom que necessito
E quanto mais se sente este infinito
Sabor onde mais nada teime ou queixe,
Ainda que se veja noutro feixe
A luz transformará num tom bonito
O tanto quanto o quero ou acredito
Sem ter sequer sinal que ora desleixe.
Recordo do Pará, e vejo além
O todo que esta vida me convém
Quando arubé fizeste com carinho,
Marcando para sempre o sonhador,
Um tempo após o templo em medo e dor,
Ainda vez em quando em ti me aninho.

420


Encontro assombrações por onde eu passo
E trago estas lembranças bem mais vivas
As almas de outras almas são cativas
Futuro sem proveito eu mesmo traço,
Depois de certo instante este cansaço,
Do qual a sorte tanto agora privas
Moldando as esperanças, lenitivas,
Tentando no futuro um novo espaço,
Da mula sem cabeça, lobisomem
As horas mais atrozes, surgem, somem
Retornam e dominam cada sonho,
O velho coração de um sertanejo
Ainda que deveras; quando almejo
A sorte noutro passo a decomponho.


421

Ouvindo em atabaques o chamado
Dos Orixás a quem se fez ausente,
O coração deveras já descrente
O tempo noutro passo desviado,
Porém a cada instante se me evado,
A sorte se tornando imprevidente
O tanto de saudade que se sente
E o dia noutro tom vai desolado,
Voltando pro terreiro, sei que um dia
O todo desenhado enfim teria
Nas mãos de um sonhador, filho de santo,
E quando em atabaques se repetem
Os cantos que deveras já refletem
O todo onde decerto além garanto.


422

Tocando este atapu o jangadeiro
Chamando o companheiro ou num mercado
Vendendo o seu produto, este pescado
Mostrando o quanto pôde em verdadeiro
Clamar o quanto queira e sei ligeiro
Trazendo num cenário demarcado
O todo noutro ponto desenhado
E traça este sentido corriqueiro,
Um búzio que chamando em plena pesca
Enquanto a sorte apenas se refresca
O todo se anuncia em melhor dita,
Assim como se fosse algum sinal
Traçando muito mais que um ritual
Enquanto a pescaria em paz agita.


423


Preparando ataré, tal condimento
Trazendo o paladar já demarcado,
O gosto sempre bem apimentado
Aonde com vigor eu me alimento
E quando esta delícia traz provento
Mudando este momento e saciado,
Encontro o meu caminho desejado,
E sinto o que deveras sempre tento,
A vida também é decerto assim,
Ousando num tempero trago em mim,
A noite apimentada num repasto,
Porém tem a medida sempre exata,
Senão este delírio nos maltrata
E dessa maravilha além me afasto.

424

Nas mãos deste menino a atiradeira,
A bela pontaria se traduz
Tramando com certeza o que produz
Gerando da caçada a verdadeira,
Vontade que se mostra quando queira
E nisto se aproxima a imensa luz,
Deixando no passado o quanto pus
Do sonho desta sorte aventureira,
Menino mira bem no passarinho,
E o tempo volta bem devagarzinho
Tocando o que jamais irá repetiria,
O mundo agora mostra mais diverso
Cenário aonde o tempo ora disperso
Mudando a direção e a pontaria.

425

Escrevo em tal atô as orações
E rendo a Maomé o meu respeito,
E quando me inclinando sempre aceito
Os dias entre tantas direções,
E sendo de tal forma o que me expões
Expresso este caminho e me deleito
Ousando na esperança como um pleito
Abramos para Alá os corações,
Assim sendo malê de nascimento
Atô descreve além e represento
O amor que me trouxera em paz e sorte,
Depois de tantos anos, solidão,
Agora percebendo esta emoção
Aonde a própria vida nos conforte.

426

Aturiá ligando os nossos rios
E tramas como fossem uma só,
Do todo desejado sem ter dó,
Os passos são deveras desafios,
E mesmo ao penetrar em desvarios
Passado se deixando como o pó
A vida destroçando com tal mó
Presume dias vagos e sombrios,
Mas sei que tento enfim onde encontrar
Canal que nos permita o mesmo rumo,
Assim ao te sentir, amor, aprumo
E posso nos teus braços aportar,
Aturiá traduz nossos caminhos
E neles não iremos mais sozinhos.


427


Prendendo este auaiú no tornozelo
A dança que invadisse o tempo além
Traduz o quanto em glória sempre vem,
Viceja dentro da alma com raro zelo,
Ainda no passado algum desvelo,
A vida se transforma e sei de alguém
Que vença com ternura este desdém
No olhar que em emoção eu posso vê-lo.
Depois de certos dias, nova festa
O coração feliz agora atesta
Nos guizos e chocalhos a alegria
Auaiú mantendo bem ritmado
O som que tantas vezes desejado
Apenas farta luz já me traria.

428

Num auto descrevendo a nossa história
E nisto se presume outro final,
Mas sei do quanto possa e sou venal
Vivendo a realidade merencória,
A sorte que pudera na vitória
Agora se desenha muito mal,
A peça se prepara em ritual
Marcando com temor a luta inglória.
Negando qualquer sorte a quem pudesse,
E nisto sem saber da menor messe,
A vida já padece e traz em mim
Apenas incerteza e nada mais,
Deste auto em momentos divinais,
Apenas melancólico este fim.

429

Usando no preparo deste prato
Milhares de aviús; sinta o sabor
Que sendo de tal forma encantador
Do Tocantins um raro e bom retrato,
E quando assim decerto eu já resgato
O quanto desta terra em tal valor,
Ousando acreditar no bem do amor
Trazendo em mansidão divino trato,
Dos aviús delícias adivinho
E sei do quanto fora tão sozinho
Um coração sem nada e sem ninguém
Agora ao recordar cada momento
Esta esperança em glória hoje eu fomento
E outro cenário à mente cedo vem.

430

No Velho Chico tenta o pescador
Trazer para Avó-d’água algum agrado
Certeza que terá de um bom pescado,
Num dia mais audaz e redentor,
Assim se desenhando em claro amor,
O tempo quanto em tempo além invado,
Gerando dos enganos do passado,
O tanto em novo mundo em tal valor.
Adentro o rio e traço a direção
Dos dias que deveras mudarão
A sina de quem tanto ora porfia,
E sei da melhor sorte no futuro
Enquanto na avó- d’água eu asseguro
A sorte que se ceva dia a dia.

431

Misturas sanguinárias, sacrifícios
Axés entre diversos ritos; vejo
E sei do quanto possa em tal ensejo
Ousar contra diversos precipícios
A vida se desenha em seus ofícios
E sei do quanto queira ou mais desejo
No sangue misturado enfim prevejo
Os dias mais felizes tais indícios
Gerando dentro em nós a liberdade
E sinto o quanto possa e nos agrade
Marcando a cada tempo em novo dia,
E nisto a sorte imensa nos provê
E o tempo desenhando o seu por que
Espalha toda a sorte que queria.

432

Relembro deste fúnebre axexê
E nele as preces tantas, orações,
Os dias em diversas direções,
O quanto na verdade inda se vê
No olhar que tanto pode e sempre crê
Trazendo as mais diversas emoções
E nelas outras tantas tu me expões,
E a vida se apresenta em seu por que.
No som deste atabaque, danças, cantos,
Momentos onde venço estes quebrantos
Abrindo a porta a quem não mais se visse
E quando se anuncia a glória imensa
No quanto se desenha e sempre pensa
A vida ultrapassando uma mesmice.


433

Que Axoquê dominando todo o mundo,
Reinando sobre a Terra nos permita
Ousando muito além de qualquer dita
Aonde com certeza eu me aprofundo
Dos sonhos onde em paz ora me inundo
Da sorte que outro rumo necessita
No amor que tantas vezes acredita
Pousando neste tempo mais profundo,
Ascendo em suas mãos à maravilha
Enquanto o coração em paz já trilha
Ousando ser feliz ou mesmo até
Vencer os tão diversos sofrimentos
E neles encontrar os meus alentos
Reinando sobre nós todos, a fé.






434

Procuro esta Axuí, meu Eldorado
E tento imaginar como seria
O mundo desenhado em pedraria
E neste bom cenário, lapidado,
Enquanto em pensamento agora invado
Trazendo para o peito a fantasia,
E sei do quanto possa ou tentaria
Moldar este universo assim dourado,
E desta maravilha adivinhando
O tanto que pudera e desde quando
Ao adentrar riqueza sem igual,
Meu passo se aproxima do infinito
E sei deste cenário e me permito
Um sonho em tom diverso, magistral.


435

À mãe Axum, rainha destas águas
Dos rios onde descem corredeiras,
Paisagens entre tantas que tu queiras
E nelas esperanças já deságuas,
Deixando para trás antigas mágoas
As horas mais sensíveis, verdadeiras
Abençoando as sortes derradeiras,
No olhar enamorado, belas fráguas,
Que Axum, pois nos proteja das desgraças
E quando o teu caminho em paz já traças
Presume-se esta paz que agora sinto,
Depois de tanto tempo em vã procura
A vida com certeza não tortura,
E o medo se perdendo, quase extinto.

436

Quando babalaô; trouxera ao meu caminho
Certeza de outro dia mais feliz
O velho coração não contradiz
Nem mesmo eu me sentira tão sozinho,
E quando neste encanto hoje me alinho
Vivendo com certeza o quanto eu quis,
Supero do passado a cicatriz,
Do olhar do pai-de-santo eu me avizinho,
De todos os poderes relativos
Ainda se mantendo sempre vivos
Os dias se anunciam mais audazes,
E neste caminhar já nada atrasa
O passo que permite em fogo e Brasa,
O tanto quanto queres e me trazes.

437


Um babalorixá no seu feitiço
Domina com vigor todo o terreiro
E vejo no sentido derradeiro
O quanto a cada instante bem mais viço,
Aonde fora outrora mais mortiço
Desenho este momento onde me inteiro
Do sonho sem temor e verdadeiro
Trazendo cada passo que cobiço,
Assim sem mais saber de qualquer medo,
Enfrento cada instante e me concedo
Vencendo as armadilhas, dia a dia,
De todas artimanhas que conheço
Garanto não terei qualquer tropeço
Enquanto o catimbó me protegia.

438

Babau é com certeza o mamulengo
Também fantoche solto no sertão
Ousando a cada passo e direção
Usando para tanto o mesmo dengo,

Arengas e disfarces vejo além
E sinto esta presença mais feliz
Aonde o que eu trouxera inda me diz
Do tanto que decerto ainda vem,

Lembranças de um momento em minha vida
E nele este menino em liberdade
Ao conhecer enfim felicidade
Encontra a sua sorte permitida,

Vencendo sem temor o quanto existe,
Jamais se desenhara amargo ou triste.

439


No Babassuê lá no Pará
Terreiro tão diverso de terreiros
Cenários muito além dos corriqueiros
Trazendo com firmeza este Orixá.
Eternamente em nós já mostrará
Os dias entre tantos, verdadeiros
Momentos onde sinto os mensageiros
Mostrando o que deveras visse lá.
Unindo enfim as crenças e culturas
Dos índios e dos negros em misturas
Reforça o tom maior do ecumenismo,
Louvado seja o santo e no pajé
A vida desenhando a mesma fé
Assim passando ao largo de um abismo.

440

Da bacabada tomo mais um gole,
E sei desta vontade que nos toca,
Enquanto o pensamento já provoca
E o tempo noutro prazo sempre bole,

A vida não seria nunca mole
E o próprio caminhar não mais aloca
A sorte ultrapassando qualquer roca,
E o sonho sem temor a vida engole,

Assim se poderia imaginar
Ainda o que pudera num lugar
Diverso do que trouxe uma agonia,

E sendo o coração já tão mutável
O sonho se demonstra mais arável
Ousando muito mais do que eu podia.

441


Deste bacaraí a refeição
Garante a carne sempre mais macia
E nisto com certeza se veria
O mundo numa nova direção,
E sinto a mais suave precisão
Do quanto tantas vezes poderia
Traçar com tanta luz em harmonia
Os dias que decerto me trarão
Vencendo o que se fez tanto cruel,
O tempo se aproxima e traz no véu
Beleza sem igual e nos conforta,
Depois de tanto tempo em sofrimento,
A vida se mostrando e sei que tento
Abrir desta esperança agora a porta.

442


Um bacurau vagando em noite escura
Caçando e desenhando assim a sorte
De quem ao ver noctívago este aporte
Apenas nesta treva se assegura,
Rondando enquanto a vida se procura
Ao recolher um canto que conforte
Trazendo no seu bico sempre a morte,
Noturno caçador, trás a ventura
De quem se poderia muito além
Do quanto se percebe e já contém
Vencendo os inimigos naturais
E destes seres quando se alimenta
A vida se parece sem tormenta,
E os bacuraus expressam rituais.

443


Fazer do bacuri algum refresco
Na tarde ensolarada da floresta,
O quanto em tal delícia a vida empresta
O mundo em tons suaves, gigantesco,
Outrora um sonho vago e até dantesco
E agora com certeza o que nos resta
Demonstra muito além de mera festa
Decifra na verdade este arabesco,
E quando saciando esta vontade
Bebendo deste tanto que me agrade,
Ousando ser feliz, ou quase até,
Desenhos de momentos divergentes
E nesta maravilha tu te sentes
Traçando ao teu olhar, delírio e fé.


444


No baianá dancei a noite inteira
E a festa ultrapassando algum limite
Aonde o que não possa se permite
E toda a solidão enfim se esgueira
E no maracatu a derradeira
Vontade se anuncia e necessite
Apenas o que quero e se acredita
Marcando com festejo esta bandeira,
Assim o tempo todo mostrará
A noite num alento, baianá
Fazendo mais feliz o sertanejo,
Assim matando a fome de te ter,
O quanto no final eu pude ver
Traduz o que deveras mais desejo.

445


O Baiani usando o seu filá
Na festa em que se traz tal entidade,
Assim a cada instante o que se agrade
Traduz o seu desejo de Orixá,
E vejo o que pudesse e mostrará
Além do que se entrega em liberdade
Cenário com certeza em igualdade
Tramando outro momento desde já,
Assim neste domingo tem festejo
E toda esta verdade onde desejo
O tempo dominando em cada gozo,
O dia se anuncia majestoso
Traçando este cenário em alegria
Na festa aonde em paz tudo seguia.


446


A noite se esparrama num baião
E o toque da sanfona nos convida
Morena meu amor, a minha vida
Contigo passa a ter a direção
E os dias entre tantos que virão,
A sorte neste encanto decidida,
Ainda que se fez entontecida,
O tempo se escoando no bailão,
Forró se desenhando a noite inteira
No bate-coxa sinto a verdadeira
Razão para viver e pra sonhar,
Depois deste momento em alegria
Tal sorte noutro rumo mostraria
O todo que desejo imaginar.

447

No Piauí dançando o mesmo baio
Que há tanto conhecera no passado,
Um tempo mais feliz e demonstrado
Aonde na verdade não me traio,
E sei do quanto possa e me distraio
Mantendo esta morena sempre ao lado,
Assim vou desenhando no bailado
Enquanto no querer de peito eu caio,
Vestindo esta ilusão, não mais sossego
O mundo pode ser diverso e cego,
Mas quando neste instante em dança vou,
O tanto em luz imensa se anuncia
E traço com perfeita sintonia
O quanto cada passo demarcou.


448

Baíra ao dominar parintintins
Uma entidade sempre zombadora
Deveras neste mundo sempre fora
Aquela que deitasse nos jardins,
Momentos mais sublimes ou afins
Traçando imagem rara e redentora
Ao mesmo tempo clara e sedutora
Inícios trazem meios, vou aos fins.
Ensinando a caçar trazendo o visgo
E o peixe que deveras hoje eu fisgo
Usando do sangab em artimanha
Roubando o fogaréu de um urubu
Transforma num pajé um cururu
E traz esta partida sempre ganha.


449


Usando nos quadris, balangandãs
Marcando em sua dança o ritmo então
Além do que se fez decoração
Tramando com firmeza em seus afãs,
Assim ao penetrar neste terreiro
O samba traz sentido a quem o dança
E quando com certeza o tempo avança
Encontro o que eu queria vou inteiro
Usando da alegria em tom maior
Sabendo o que inda possa me trazer
No olhar fantasiado de prazer
O brilho se esparrama e do suor,
Somente nos berloques, nos enfeites
Trazendo ao meu olhar raros deleites.

450

Guardando no Balê antes desta ida
Uma alma se concebe muito bem,
E quando este destino atroz já vem
Desejo a quem se foi bela partida,
E a história noutra face resumida
O todo se anuncia e quanto tem
Do sonho emoldurado onde também
A história sem temor ora decida,
Trancando neste canto sem poder
Ao menos retornar ou poder ver
O espírito aguardando o sacramento,
Assim sem ter sinal de algum tormento
O dia se anuncia a se perder
E novo caminhar além fomento.

451

Dançando este bambá em noite extensa
A sorte desenhada noutro instante
E quando a minha vida se garante
Pousando nesta bela recompensa
O coração deveras sempre pensa
Na negra maravilha em diamante
E o tempo se desenha deslumbrante
Esta angolana traz a vida intensa,
E bebo desta boca em doce ardil
E o quanto se deseja e assim previu
Marcando com um toque sensual,
Assim deste bambá inda trazendo
O olhar além do quanto em dividendo
Trouxera este prazer consensual.

452

No bambaê um passo em umbigada,
Grassando enquanto posso e a perna deixa
A vida não traria qualquer queixa
E assim até raiar de uma alvorada,

Da dança preferida, nossa sorte
Traduz em harmonia o que se quer,
E tendo nos meus braços a mulher
Que tanto me console e me conforte,

A lida vale todo instante e sinto
O quanto posso agora ser feliz,
Vivendo tudo aquilo que mais quis,
O tempo noutro tanto não extinto,

Assim a noite inteira, uma promessa
E o sonho noutro sonho recomeça.


453

Neste bambaquerê, no Rio Grande
A festa deslizando a noite inteira
E a guapa companhia, a verdadeira
Mulher que me deslumbra e assim demande

Bem mais do que somente sendo guapa
A prenda delicada nas coxilhas
Trazendo nos seus braços a armadilha
Da qual humano algum no fim escapa,

Guardando na guaiaca esta esperança
Do amargo mais um trago e a sensação
Do amor que enfim tomando a direção
Enfrenta o minuano e sempre avança,

Gaudério apaixonado segue em frente
E o sonho sem igual já se apresente.


454

Criança que cresceu nos potiguares
Anseios entre praias e belezas
Agora ao perceber as correntezas
E nelas outros tantos que notares,

Mergulho no passado e seus altares
Sentindo bem mais forte as naturezas
E nelas envolvendo em tais certezas
Os tantos que deveras demonstrares,

No bambelô um dia à beira amar,
Morena me ensinando o bem de amar,
E o tempo se anuncia em nova etapa,

A lua se desenha em raro céu,
Além deste cenário eu tiro o véu
E aprendo a decorar do amor, o mapa.

455

Trazendo no meu peito esta bandeira
E dela vou traçando cada passo,
E assim neste momento sempre faço
A vida que se dera por inteira,
E na palavra mansa e derradeira
O todo se transforma e ocupa espaço
Enquanto no passado fora escasso,
Agora o tempo traz o que se queira,
Vencer os desacordos dia a dia,
Tentando muito além do que podia,
Traçando com ventura o que se quer,
Aumento a cada dia esta vontade
E o peito já se abrindo agora brade
Buscando a cada instante esta mulher.

456


Levado no bangüê seguindo além
Do quanto poderia em melhor sorte,
Tocado neste instante pela morte
Apenas o vazio eu sei que vem,
Depois do que pudesse ser alguém
Já nada na verdade me conforte,
Presumo no final e assim sem norte
Condeno-me ao temor noutro desdém,
E o luto se espalhando sem ter nada
Que possa ainda ao menos lamentar
Do quanto poderia se mostrar
Somente esta verdade desgraçada
De quem amou demais e não sabia,
Que a sorte desenhasse esta agonia.

457


Tomar banho de cheiro e te encontrar
Morena mais bonita do sertão,
E neste caminhar em direção
Ao todo que pudera desenhar,
Ainda se aproxima este luar
Tramando os raios tantos da paixão,
E sinto que deveras se verão
Apenas o que teimo em desejar,
Sentir o teu perfume junto ao meu
Amor quando demais nos envolveu
Tornando num só corpo o claro instante
E assim desta efusão virá tal sorte
Que tanto nos domine e nos conforte
Enquanto este cenário em paz garante.

458


Dos bantos as heranças que trazemos
Além do que se mostre em tais folguedos
Deveras penetrando em tais segredos
Dos deuses, dos amores, dores, demos,
E assim a cada dia que vivemos
Estamos entranhados nos enredos
E neles outros tantos mesmo os ledos
Trazendo muito mais que merecemos,
Assim a cada dia se percebe
Uníssona emoção domando a sebe
Unindo nossos passos rumo ao quanto
Pudera ser diverso e ser tão uno
Destarte cada sonho que reúno
Tramando este inerente encanto banto.

459


No Moçambique danço este banzé
Bailado que se traça desde quando
O povo nos mistérios entranhando
Ousando acreditar e ter a fé,
E nela se desenha por quem é
Fortuna sem igual já nos tocando
E assim passo após passo emaranhando
Caminho mansamente pé-pós-pé.
E vejo no final o sincretismo
E nele retirando o velho abismo
Traçando destes vários um caminho,
Do amor e da virtude e da esperança
Aonde com firmeza em paz se avança
Trazendo este momento onde me aninho.

460


Ouvindo o bapo em meio à cantoria
Deste Araguaia trago uma saudade
E quando este momento agora invade
A sorte se transforma e tomaria
Certeza sem igual em alegria
Mostrando na total diversidade
Beleza incomparável, e a liberdade
Seria muito além da fantasia,
Revejo num instante; estes bororos
E como se inda ouvisse velhos coros
Toando em harmonia verso e luz,
Ainda em emoções tomado vejo,
O olhar se penetrando em tal desejo
Que ao tanto quanto queira nos conduz.

461


Comer no Paraná um barreado,
E ter esta delícia sempre à vista
O quanto desta moça me conquista
Deixando o coração mais destroçado,
Vivendo o que pudera e tendo ao lado
O todo que deveras já se avista
Não quero ser somente outro turista
E sim nos braços dela, emaranhado,
Ousando ser feliz a cada instante
A bela caiçara me garante
Momento sem igual: felicidade,
E bebo desta sorte radiante,
E sei que com certeza doravante
Eu viverei a intensa claridade.

462

Bela barriga-verde, catarina,
A moça mais bonita que já vi,
Por isso novamente estou aqui
Buscando esta beleza que fascina,
E sinto no poder desta menina
Deveras muito mais que mereci,
Encontro o privilégio junto a ti,
Que tem nesta íris luz esmeraldina,
Ternura a cada instante, novo rumo,
E quando na verdade me acostumo
Bebendo a claridade em rara fonte,
Assim este mineiro coração
Encontra no final a direção
Aonde este desejo agora aponte.

463


Tocando com bastão-de-ritmo em festa
Caua-cauá convida para a dança
E assim ao desenhar o quanto avança
O velho coração em luz se empresta,
E o todo que em verdade agora resta
Domina com firmeza e confiança
E quando a maravilha em som alcança
Ecoa muito além, nesta floresta,
Assim a noite inteira e sei da sorte
Que tanto nos ensina e nos conforte,
Vencendo os dissabores do passado,
Aonde pude até me imaginar
Deixando todo o sonho a navegar
Enquanto em passo firme além invado.


464

Do samba que se fez antigamente
A sorte já mudara a direção
A dança deste tempo, escravidão,
Agora não se vê, e se desmente
Bate-baú jamais eu pude ver
E nisto se mostrara noutra face
O sonho da morena que sambasse
Da vida desenhada em tal prazer,
Assim quando da lua um raio vem,
Tocando o coração neste terreiro,
Sambista que se mostra verdadeiro
Sabendo o que decerto diz de alguém
Revela o quanto foi e não ficara,
Na dança cada vez ausente ou rara.

465


Ouvindo um bate-caixa, um jongo antigo
Lembrando do começo de algum samba
Aonde se pudera ser mais bamba
Usando da alegria como abrigo,
Assim no privilégio para quem
Depois de tanto tempo em longa espera
Aos poucos retornando à primavera
Entende de onde o canto veio e vem,
Vagando pelos astros do passado,
Uma esperança dita algum futuro
Podendo vislumbrar o que procuro
O sonho noutro sonho bem tramado,
Eternizando o som aonde escuto
Batuque refinado ou mesmo bruto.

466

Usando este batoque eu garantia
Maturidade e assim a evolução
Na tribo demonstrando opinião
Que sempre se aumentava dia a dia,
Ousando numa luta em companhia
Dos meus ao aprender esta lição
Dos dias mais audazes se verão
Além do que pensara em fantasia,
Ainda que outra tribo nos provoque
Mostrando em minha face este batoque
Já nada mais temera, sigo em frente,
E quando se anuncia esta verdade,
Abrindo este cenário em claridade,
Não há mais nada enfim que eu não enfrente.

467


Dançar batucajé, chamando além
As divindades todas, num só toque
E nisto a fortaleza se provoque
Vencendo qualquer mal que ainda vem,
E disso já sabendo muito bem
Sem nada que decerto me desloque
Nem mesmo necessita de retoque
Aquele que conhece o quanto tem,
Depois de noite intensa em homenagem
Aos Orixás que trazem na viagem
Poder para vencer qualquer perigo,
Ousando sem temor seguindo agora
A força que deveras nos ancora,
Num mundo bem melhor, hoje eu prossigo.


468

Um bazulaque mata esta vontade
E como até cansar e quero mais,
Momentos delicados, magistrais
Até chegar enfim saciedade,
E neste amendoim que tanto agrade
Desejos entre todos os mortais
Cabendo com delírio em dias tais
Ousando muito além na liberdade,
Assim se apresentando ao paladar
Delírio que começa a dominar
Deixando para trás qualquer tormento,
Da rapadura o doce que se faz,
Esta amargura fica para trás
E esta doçura em nós hoje eu fomento.


469


Bebendo fumo trago e quero mais,
Apresentando assim nova viagem,
Aonde se pudera em decolagem
Vencer outros momentos desiguais,
Por certo com certeza magistrais
Caminhos permitindo uma ancoragem
Ousando em desvendar tal paisagem
Vagando por espaços siderais,
Transido de vontade e de tesão
O corpo se entornando em direção
Sublime sem sequer saber de nada,
Depois de certo tempo a fome intensa
Prazer gera prazer em recompensa
A sorte noutra face desenhada.

470

Um velho bedegueba este safado,
Que tanto se fez mau e traz no olhar
O pânico de sempre dominar
Aquele que se põe mesmo ao seu lado,
O ser tão desprezível desgraçado
A todos procurando torturar
A cada novo passo a maltratar
Deixando quem o vê já demarcado,
Um gado ou nova rês para o sujeito
Decerto este cenário eu não aceito
E sigo meu caminho em liberdade,
O traste dominando a velha gleba
Pilantra este sujeito bedegueba
A cada novo passo se degrade!

471


Um beija flor trazendo uma visita
Anunciando assim o que virá
O colibri decerto mostrará
O quanto deste todo se acredita
E a vida se desenha nesta dita
Moldando o que concebe aqui ou lá
Destarte se anuncia desde já
A sorte mais atroz, ou mais bonita,
Quem sabe na verdade o cutelinho
Já vendo-me decerto tão sozinho
Trouxesse uma morena para mim,
Assim a solidão, má companheira
Vagando pela casa não me queira
E eu possa ser feliz, até que enfim...



472


Prepara este beiju com tal carinho
Que nada mais sustenta quem se dera
Além do que pudesse e noutra esfera
Procura a mansidão do antigo ninho,
E quando dos teus braços me avizinho
Revivo dentro da alma a primavera,
E mesmo esta esperança hoje tempera,
E não serei jamais triste e sozinho,
Morena venha logo e dê um cheiro
No amor que se mostrasse verdadeiro
Sacio a minha fome e não me canso,
E quando neste beijo mais audaz,
Beiju também trazendo, satisfaz,
Tornando o coração deveras manso.

473

Um beiradeiro rancho onde eu morava
Trazendo noite e dia diferenças
E nelas entre tantas desavenças
A sorte se mostrara em luz e lava,
Cerzindo esta emoção, e dela escrava
Enquanto no futuro tanto pensas,
As horas se prometem recompensas
Ou mesmo outra verdade desnudava,
Agora que mudei para a cidade,
Eu tenho destes tempos mais saudade,
A vida silencia e é sempre igual,
Do beiradeiro rancho do passado,
O tempo num vazio demonstrado,
Trazendo ao dia a dia um ritual.

474

Na festa de Beji, a criançada
Comendo tanto doce em seu folguedo
Aos gêmeos o que tanto ora concedo
Traduz a minha sorte desenhada,
A vida noutra senda iluminada,
Mantendo do passado o mesmo enredo,
E nele se aproxima o outrora ledo
Cenário que dizia quase nada,
As ruas entre festas e crianças
Tramando nos meus olhos as lembranças
De tempos que se foram. Nunca mais.
Agora noutros ritos bem diversos,
A solidão tomando tantos versos
Aonde se quisessem divinais.

475


Ouvindo estes benditos, cantoria
Acompanhando sempre a procissão
Trazendo nos meus olhos desde então
O quanto em cada sonho mais queria,
Ousando perceber nesta harmonia
Os dias quando em paz, na sensação
De tempos mais felizes que virão,
Tocando com beleza a fantasia,
E no “Queremos Deus” esta verdade
Tomando cada rua da cidade,
Trazendo uma emoção a quem se dera,
Tramando com firmeza cada passo,
Destino em liberdade quero e traço,
Na cantoria em paz, sempre sincera.

476

Tocando berimbau na capoeira
A noite se passando nesta roda,
O quanto da esperança traz e açoda
Quem tanto na verdade bem mais queira,
A sorte se desenha mais audaz,
Na dança ou nesta luta que ancestral
Traduz neste ritmado berimbau
O todo que este sonho sempre traz,
Um mestre e seus alunos, lua mansa,
A vida noutro passo se transporta
Abrindo com certeza qualquer porta,
Além do que se busca sempre alcança
Um toque tão diverso traz à festa
Marcando o quanto em brilho o ritmo empresta.

477


Bernúncia preparando o seu jantar
Trazendo desta festa outro passante,
E assim o boi que mostra-se um gigante
Não cansa e nem pudera descansar,
Comendo com certeza devagar
Banquete a cada dia ele garante,
Por isso quando o passo se adiante
Permite alguém deveras escapar,
Senão resta comida deste boi
Que tanto no passado e agora foi
Em Santa Catarina é seu reinado,
Não importando mais qualquer pronúncia
Ao ver esta figura da Bernúncia
Melhor é então vazar no capinado.

478


Ao cozinhar a caça numa cova
Prepara em biaribu esta fornada,
Assim depois de ser bem temperada
Delícia sem igual a gente prova,
E traz esta vontade que comprova
A carne desta forma desejada,
Sabendo que deveras nos agrada
A sorte a cada tempo se renova,
Cobrir com folhas verdes caça e peixe
Por um certo momento ali o deixe
Assando até que possa devorar,
Tomando uma golada de aguardente
Não há quem mais resista, ou mesmo tente,
Ao menos queira um pouco. Pra provar...

479


A biatatá crescendo em noite clara
Gigante criatura assustadora,
Ainda que deveras sempre fora
A cada novo tempo se declara,
E ninguém na verdade se prepara
Ao ver esta mulher aterradora
Do mar a mais temida moradora
Que aos olhos de quem teme se escancara
Além do que apareça aqui ou lá
Eu lembro quando vi a biatatá
Daquela que se foi e não voltou,
A maldição persegue toda noite
E tanto me maltrata quanto açoite
E nela o meu futuro não vingou.

480


Bicho do Mato toma a direção
E nada mais permite qualquer caça
E quando se imagina esta fumaça
Apenas outro tom, imprevisão,
A queda se mostrando desde então
O mundo noutra face já se traça
Deste infeliz a vida perde a graça
E nada mais resolve a solidão,
Por isso é que evitando caça nova
Ou mesmo fêmea grávida se prova
A falta de maldade de quem traz
Nas mãos esta espingarda, ou a garrucha
E sentindo o que tanto agora puxa
Melhor seguir então em plena paz.


481


Tomando nesta binga uma água fresca
Em dia ensolarado me alivia
Assim como beber da poesia
Em noite mais atroz mesmo dantesca,
E quando se aproxima desta mesa
A sorte traduzindo outro momento
Aonde com certeza em paz em alento
E vejo minha sorte em ti já presa,
E sei do quanto eu possa desvendar
Mistérios deste tanto que te anseio
E enquanto me aproximo e neste veio
Apreendo cada raio de um luar,
Matando a minha sede junto a ti,
A plenitude em nós eu conheci.

482


O ser feliz traduz em boa-mão
Ousando a cada passo um pouco mais,
Momentos onde possam magistrais
Caminhos em sentido e direção
Vivendo o quanto sonho e desde então
A vida se transforma em seus cristais
Desenha toda a sorte e tu me atrais
E novos dias; sinto que virão,
Trazendo tanta paz a quem procura
Vencer os seus momentos de amargura
Tramando a liberdade a cada instante,
Destarte ser feliz o que me basta,
E sendo esta brandura em alma casta,
A sorte deslumbrante se garante.

483


Comendo este bobó maravilhoso,
O tempo me trazendo novamente
O quanto se deseja e mesmo tente
Num dia sem igual, tão majestoso,
O tanto que se fora melindroso
O passo noutro fato e claramente
Traduz o que trouxera em minha mente
Vivendo com astúcia em antegozo,
Assim ao penetrar o paraíso
O passo pelo qual tento e matizo
Certeza que viria noutro enredo,
Apenas a verdade nos redime,
Desta realidade tão sublime
Um novo amanhecer eu me concedo.

484


É hora de faze boca-de-pito,
Acender um de palha após a janta
Vontade que decerto se garanta
Além do que preciso e necessito,
O amor quando se fez deste infinito
Imagem sem igual da minha santa
E nisto toda a paz já se levanta
Tornando este momento mais bonito,
Fumando mansamente no terreiro
Amor sendo demais e verdadeiro
Deste candeeiro vejo o teu olhar
Traçando neste céu raro luar,
E lembro deste amor, meu derradeiro,
Viola da esperança a pontear.

485

Ainda num bochinche eu conheci
Cabocla mais bonita do sertão
E lá deixei de vez o coração
E nunca mais então livrei de ti,
O olhar enamorado, eu percebi,
Tomando do batuque a direção,
E os dias com certeza me trarão
O todo que encontrei meu bem, ali,
A noite se aproxima novamente
Saudade de te ver meu peito sente,
E o quanto poderia ser feliz,
Porém morena foi e não voltara
A cena que pensara ser mais clara,
Agora a cada instante contradiz.

486


Usando este bodoque na caçada
Já nada mais traria para casa,
A sorte com certeza se defasa
E o tempo nega ao sonho uma alvorada,
A luta sem sentido a ser travada
O fogaréu agora em mera brasa
O passo se cansando hoje se atrasa
Seguindo para além a velha estrada,
Crivando de ilusão meu peito antigo
E quando no final me desabrigo
Apenas o vazio toma a cena,
E quando vejo a caça bem mais perto,
Deveras sem saber eu mal desperto
E o erro uma cegueira já condena.

487

No boi-bumbá a festa que trouxera
Amor desta morena para mim,
O quanto se imagina até o fim,
A sorte desta vez foi mais sincera,
E quando noutro rumo se tempera
O mundo que pensei ser tão ruim,
Mãe Catirina agora diz que enfim
O coração de um homem não espera
E Pai Francisco vendo a mesma cena
Aos poucos pacifica e me serena,
Morena sendo minha companheira,
O boi ano que vem voltando traz
No olhar desta donzela o amor em paz
Paixão da minha vida, a verdadeira.

488


No boi-de-fita sendo o vencedor
Já nada mais traria sem sentido
O passo neste rumo decidido
Trazendo num olhar farto louvor,
E seja da maneira como for,
Deveras com certeza não duvido
E a cada novo passo, resumido
O tanto que se mostra em claro amor,
Correndo este vaqueiro sertanejo
O olhar mais delicado que eu desejo,
Expressa esta emoção que glorifica
Vencer com precisão este torneio
E nada mais decerto hoje eu receio
Amor que em tanta luz sempre edifica.

489


O Boitatá protege contra o fogo
O mato aonde mora, na floresta
E quando na verdade a vida empresta
Garante o que se mostra e já sem rogo,

Destarte ao produzir esta defesa
Supera o que pudesse noutro passo,
Assim eu me permito enquanto traço
Vencendo cada sorte com firmeza

Qual fosse atemporal ecologista
Serpente dominando o imaginário
Não deixa que este tolo incendiário
Destrua tudo aquilo que se avista

E trama muito além do que vier,
Vencendo outro momento e o que puder.

490


O Boi Vaquim voando em liberdade
Nos pampas dominando o Rio Grande
Ainda que outro passo se demande
O todo noutra face sempre agrade,
E vejo com certeza muito além
Do quanto poderia num instante
Assim tal privilégio se garante
A quem esta certeza agora tem
De um mundo em fogaréu e pelas guampas
Nos olhos diamantes nada mais,
Vislumbro entre momentos magistrais
Ousando muito além e nestes pampas
Trazendo esta certeza a cada olhar,
E nisto esta beleza a se mostrar.

491


Bolaro chupa o cérebro de quem
Em curiosidade o perseguisse
E assim se demonstrando o quanto visse
Moldando o que em certeza sempre vem,
Domina o que traduz e sabe bem,
Tocando com firmeza uma mesmice
E nisto outro momento se previsse
Vagando entre o que tenta e sei que tem,
Assustando os tucanos, nesta aldeia
E nisto cada passo se alardeia
Com seus pés virados para trás
Adentram com seus tortos ledos pés
Invadem noutro rumo igarapés
Tornando este momento mais mordaz.

492

Usando as boleadeiras na caçada
Gaucho não se deixa desistir
E sabe que em verdade o que há de vir
Garante este arrimar noutra laçada,
Destarte o que pudera ser o nada,
Agora se desenha no porvir
E nisto vem a caça garantir
Além do quanto fosse imaginada,
Nos pampas perseguindo as grandes emas,
Deveras com certeza nada temas
Que a sorte do teu lado já caminha,
E sendo então a presa preferida
A sorte desenhando a prevenida
Vontade aonde a caça fosse minha.

493

Morena quando dança o bole-bole
Domina toda a cena e com certeza
Trazendo neste passo uma leveza
O olhar de toda turma, a moça engole,
E quanto mais pudesse neste mole
Bambolear de um corpo em tal beleza
Reinando sobre toda esta nobreza
Aonde com firmeza sempre assole,
Morena neste samba dominando
O dia mais suave e mesmo brando
Gerando o que pudesse ser assim,
Domina o coração de um sonhador
Traçando muito além de um manso amor
Mostrando muito mais que existe em mim.

494

O bombo vai batendo com firmeza
E rege toda a sorte desta banda,
Assim ao se mostrar o quanto manda
Domina toda a sorte em correnteza,
O passo se marcando com beleza
A vida noutro instante não debanda
E marca cada marcha e não desanda
Traçando cada toque com destreza,
Trazendo em harmonia o que pudera
Marcando com seu ritmo o dia a dia
Tramando muito além nesta harmonia
E nisto apaziguando a sorte fera
Tramando com suprema galhardia
O quanto neste rumo se queria.

495


Tocando este borá em ritmo forte
Um som que se permite bem mais grave
Certeza que deveras não agrave
E nisto noutro passo nos suporte,
Marcando o que pudera e nos conforte
Assim voando livre como uma ave
O coração supera algum entrave
E rege no infinito o novo norte,
E quando neste instante este borá
Traduz o que decerto moverá
O velho coração do sonhador,
Ousando neste instante ou mesmo além
Sabendo o quanto possa e mesmo tem,
Marcando com seu ritmo o grande amor.

496


A borboleta traz dos mortos a alma
Ou dita um infortúnio para quem
Sabendo desde quando além já vem
Tramando com certeza o velho trauma,
E assim no seu voar, tanta mandinga
Feitiço se apresenta bem mais forte
E nada que deveras nos conforte
Enquanto a bruxa toma e assim se vinga,
Voando pela noite esta falena
Ao quanto sem um pouso algum descanso
Tramando muito além do que eu alcanço
À morte com certeza nos condena,
Porém em claridade traz fortuna
Felicidade além que enfim nos una.


497

Quebrando em minhas costas a borduna
A vida não traria mais encanto
E quando na verdade isso eu garanto
A sorte com certeza nos desuna,
E quando com tristeza sempre puna
Quem teve noutro passo apenas pranto,
Assim ao se mostrar em velho canto
Trazendo o velho jogo em fogo e iúna.
O capoeira tenta e não consegue
A vida de tal forma vã prossegue
Regendo com temor o dia a dia,
E assim do quanto pude no passado
Apenas num momento desolado
Tomado por terror, leda agonia.

498


Ouvindo este buré em som suave
A flauta invade a casa e traz o alento
A quem se poderia em sofrimento
Enquanto o dia a dia sempre entrave,
Num libertário som qual fosse uma ave,
Tocando com beleza o pensamento
E quando uma saída eu busco e tento
Sem nada que deveras tanto agrave,
Marcando em mansidão cada segundo
Ao som deste instrumento eu me aprofundo
E sinto no final a redenção,
Meus sonhos entre iguais hoje eu garanto
E como fosse assim um acalanto
Encanto desenhando esta canção.

499

Guardando na botija o quanto eu quis
Trazendo mais um gole da aguardente
E quanto mais feliz a gente tente
Maior será no fundo a cicatriz
O tempo se desenha e mesmo gris
Cenário se mostrasse e já freqüente
O passo com certeza num repente
Permite o que a verdade não desdiz,
Na boca da botija, assim no flagra
A vida com certeza não consagra
Quem quis a direção bem mais diversa,
Ousando num momento aonde eu pude
Viver cada cenário mesmo o rude,
A sorte no final já desconversa.

500

O boto se transforma em moço belo
E toma já de assalto esta palhoça
Bem antes que esta moça sinta e possa
Arrasta essa princesa pro castelo
E quando na verdade o que revelo
Tramando o quanto quer e nisso apossa
Da sorte tão diversa que se endossa
E assim cada destino além eu selo,
E a moça engravidada pelo sonho,
Ainda que decerto em paz; componho
Cenário sem igual, supremo e raro,
Do amor que inebriando esta donzela
Aos poucos noutra face se revela
E neste grande amor outro preparo.

501

O bicho bradador de noite ataca
E vive se escondendo em matagal,
Mas quando solta o grito, isto é fatal
Pior do que peixeira, adaga e faca.
O cidadão que foge logo empaca,
Aí não tem mais jeito, é seu final,
Um animal terrivelmente mau
Não respeitando bala nem estaca,
Se ourives numa noite este berrado,
Melhor que estejas logo preparado
Ninguém escapará deste demônio,
Ainda que se esconda ele te encontra,
Nem adianta então se lutar contra,
Tá armado com certeza o pandemônio.


502


Levando neste breve uma oração
Pedindo com fervor esta ventura
De mesmo em noite brava, quieta e escura
Receber do meu santo a proteção,
Cosida e bem guardada desde então,
Não deixa que se impere uma amargura,
A vida sendo só por si tão dura,
Encontra neste breve a mansidão.
Proteja-nos das pedras do caminho,
Retire cada arbusto mais daninho,
E sem espinhos sigo calmamente,
No quanto ser feliz é necessário,
Ao ter em minhas mãos o breviário
Minha alma protegida, enfim se sente.

503


Buopé, o forte herói dos tarianas
Chefe guerreiro nunca derrotado,
E pelo povo inteiro consagrado
Em meio às tempestades desumanas,
E quando ao se entregar, cada batalha,
Poupando os seus vencidos segue em frente
E nisto este detalhe se apresente
Enquanto para além a fama espalha.
Ao ter Jurupari como seu guia,
Buopé disseminando a sua crença
Aonde a cada instante se convença
Do quanto este deus tanto bem queria,
E assim filhos do sangue do Trovão,
Tarianas construíram uma nação.


504

Na dança da Burrinha no janeiro
Reúne pra dançar neste cortejo
De Reis, enquanto ali decerto eu vejo
Momento mais diverso e aventureiro,
Usando este ganzá, outro pandeiro,
Tocando com vontade e com desejo,
O povo se aproxima e benfazejo
Em volta da burrinha o tempo inteiro,
Balaio na cintura e mascarada,
Nas chulas cada música cantada
Traduz esta teimosa beberrona
Usando o seu selim que é de veludo,
Colcha de tafetá, mas não me iludo,
Porém da festa inteira ela é a dona.

505

Correndo nos festejos, busca-pé
Nas festas e quadrilhas, um inferno,
O povo desandando em pleno inverno
Invés de se mostrar somente a fé,
E quando se acendendo em seu pavio,
Dispara sem sentido ou direção
Um pega-pra-capar se vendo então
‘Quentando o que pudera estar mais frio,
Assim como se fosse alguma guerra
O fogo se cruzando aqui e lá,
E quem está na frente correrá
Senão, tenha certeza ele se ferra,
Melhor então fugir, eis o ditado:
Quando apertar vazar no capinado.

506

Nos búzios se adivinha o seu futuro
E ali toda a resposta que quiseres,
Usados pelos homens e mulheres,
Traz sempre a solução, isso asseguro,
Depois de tanto passo em tempo escuro,
Banquetes que se esquecem dos talheres,
Ou mesmo outro caminho se os preferes,
É necessário ver com mais apuro,
E quando nestes búzios vejo a sorte,
Que tanto me maltrate ou me conforte,
Apenas posso ter bem mais cuidado,
O fato de saber o que virá
É faca de dois gumes; desde já
O certo pode ser o rumo errado.

507


Caamanha, a mãe do mato, o Curupira
Tomando sempre conta com cuidado
A cada novo tempo, outro legado,
Enquanto a Terra roda, imensa e gira,
Das matas e florestas quando eu vira
O rumo noutro passo desenhado,
Mudando com certeza o passo e o fado,
Verdade sobrepõe qualquer mentira,
Assim na proteção da mãe do mato,
O quanto ainda venço em desacato
Permite que se veja algum futuro,
Mas quando a mão deste homem tão gulosa
Destrói esta floresta majestosa,
Somente o dissabor eu asseguro.

508


No caapi misturado o caxiri
Levando para além do que se vê
O quanto na verdade tem por que
Num tempo que deveras não vivi,
Alucinadamente estou aqui
E também noutro canto e ninguém crê
No quanto poderia e se revê
Vivendo o que não sei nem conheci.
Numa alucinação em ritual,
Momento que garanto sem igual,
Aonde o pensamento rege a vida,
Resplandecente sol à meia noite,
A sorte se anuncia aonde acoite,
A cena de outra cena desprovida.

509

Ouvindo o cabaçal tocando em festas,
As marchas, os galopes e modinhas,
As noites que pensava fossem minhas
No fundo noutro rumo tu as gestas,
Assim ao adentrar casas e frestas,
As sortes onde houvesse mais daninhas
Mudando em fantasia e te aninhas
Enquanto em alegrias tu te emprestas.
Assim no cabaçal a vida trama
Bem mais do que pudera em mera chama,
Às vezes nos unindo um pouco além,
Assim da maravilha feita em glória
Transforma num instante cada história
E tanto nasce e morre um querer bem…

510


Menino que se banha nalgum rio
E desobedecendo, é bom cuidar
O Cabeça-de-Cuia vai pegar,
E aí a vida resta por um fio,
Não adianta nenhum desafio
Que a sorte traiçoeira sem poupar
Presume o quanto pude desejar,
Marcando o dia a dia em desvario,
Moleque sem juízo e sem cuidado,
O tempo noutro tempo desenhado,
Nos rios do sertão, minha piscina
O sol ao meio dia inteiro e pleno,
Sem medo do qualquer monstro ou veneno
Vontade do mergulho me domina.

511

Caboclo-d’água manda neste rio
O Velho Chico espanta o pescador,
E neste destruir, com tanto horror
A pescaria vira um desafio,
Derrubando barreiras, por um fio
A vida se tornando e sem pudor
O quanto poderia, sonhador
Agora se condena ao desvario,
Morando nas profundas ribanceiras
Ainda que deveras tu não queiras
Melhor se prevenir, tenha a certeza,
Do que depois perder a direção,
Ou mesmo deste bicho comelão
Virar noutro momento sobremesa.

512


Os Caboclinhos neste carnaval
Descendo pelas ruas do Nordeste
De forma mais bizarra a turma veste
Fazendo do desfile um ritual,

Ao simularem guerras do passado,
O rosto já pintado em açafrão
Tomando cada qual a direção,
Cenário deste jeito sendo armado,

Penachos na cabeça, e no tambor
O ritmo traz a marca deste povo,
No carnaval desfila então de novo,
Transforma este festejo num louvor

Lembrando dos antigos ancestrais
É tradição que, enfim morre jamais.

513


A Cabra-Cabriola ataca quem
Ao desobedecer foge pro mato,
Menino que se fez decerto ingrato
Devora num instante, quando vem,
Assim botando fogo pelas ventas
Ninguém segura mais este papão,
Melhor é sossegar, preste atenção
Co’a força deste bicho; não agüentas
E sendo de tal forma mais gulosa
Não deixa que se veja nem o rastro,
E quando pelos cantos eu me alastro
A sorte pode ser mais caprichosa,
Invade sempre à noite e sempre tente
Comer quem nunca foi obediente...

514


Brincar de Cabra-Cega; ser criança
E voltar a pensar felicidade,
Depois do quanto perco e se degrade
Velhice sempre teima e nos alcança
Deixando demarcado na lembrança
Qual fora assim suprema claridade,
Aonde se queria a liberdade,
O passo sem proveito, além se cansa,
E assim agora vejo outro momento
E neste desenhar nada mais tento,
O mundo transformado inda que eu teime,
Invés da Cabra-Cega, a meninada
Agora vive sempre alvoroçada
Tentando só brincar no vídeo-game.

515

A Cachorrinha d’Água traz a sorte
A quem ao encontrá-la sob o sol
No Rio São Francisco ou no arrebol,
Trazendo o quanto possa e nos conforte,
Mudando pra riqueza nosso norte,
Ousando ser talvez como um farol
Guiando o seu caminho sempre em prol
Do quanto poderia e nos comporte,
Uma estrela dourada trás na testa
E nisto se garante o que se atesta
Em cada novo tempo, afortunado,
Depois de conhecer a Cachorrinha
Bonança do teu lado já se aninha
E vejo o mundo todo transformado.

516

E quando em cacorê sempre explodia
Jamais deixando nada no lugar
Assim ao mais diverso caminhar,
A vida se mostrasse em agonia,
O todo que deveras tomaria,
O canto sem saber de algum luar,
O tempo noutro tempo a desenhar
Além do que se fez em fantasia,
Na fúria incontrolável nada resta,
O quanto se deseja nega a festa
E apenas se percebe o que inda sobra,
Assim é que decerto a gente vê
Uma explosão, tomando em cacorê,
Pior do que mil botes de uma cobra.


517


Caguira se mostrara este infeliz
Que um dia transformado em melhor sorte
Decerto ainda vendo se suporte
Nem tudo que inda fala já desdiz,
Porém não tendo tudo o quanto quis
A vida vai mudando cada norte,
E quando se aproxima um novo corte
Aumenta com certeza a cicatriz,
Assim este Caguira que sou eu
Há muito seu caminho já perdeu
E busca algum momento feito em paz,
A noite se anuncia tão diversa,
Meu passo noutro rumo enfim se versa,
Quem sabe uma esperança ao fim me traz?


518


A festa se transcorre e os caiapós
Trazendo esta alegria no Divino
Enquanto noutro passo me fascino
A vida se desenha logo após,
Dos sonhos mais felizes ouço a voz
Natividade e Reis, este menino
Voltando ao seu caminho, em seu destino
Atando co’o passado os firmes nós,
Assim ao relembrar cada momento
Aonde novamente reinvento
O quanto fui feliz, e se soubesse
Ainda não traria esta incerteza
Da vida que seguindo a correnteza,
Buscando qualquer paz, em sonho e prece.

519

Soprado pelo tal de Cainamé
O corpo definhando até o fim,
O quanto inda restara vivo em mim,
Já não consegue mais ficar em pé,
Ainda que anuncie imensa fé
O tempo destruindo sempre assim,
A seca toma conta do jardim,
Meu passo se entranhando em tal galé,
Depois de certo tempo busco a morte,
Pois ela com certeza até conforte
Quem tanto já sofrera vida afora,
O todo se esvaindo pouco a pouco,
O que inda resta deixa o cabra louco
E a sina sem perdão sempre apavora.

520

Um Caipora ataca o caçador
Matando quem adentra a densa mata
E quando na verdade a caça mata,
Transforma a sua vida em sem valor,
O pé sendo normal e enganador,
O laço que incerteza tétrica ata
Tornando o que decerto ora maltrata
Das caças o mais forte protetor.
Nas sextas-feiras usa da artimanha
E vendo esta partida agora ganha
Já não comportaria outra verdade,
Assim enquanto resta algum juízo
Fugindo do que possa em prejuízo,
Melhor deixar a caça em liberdade.

521


Uma Caiporinha neste Bumba
Acompanhando o Boi, fazendo em dança
O quanto um Caipora sempre alcança
No passo do pandeiro e do zabumba,

Assim esta figura caprichosa,
Montada em porco-espinho, um ser medonho,
Aonde na verdade assim componho
A vida se mostrando dolorosa,

Servindo para o Boi de companhia
Qual fosse um guardião deste bumbado,
O tempo noutro tempo desenhado
E a sorte renovada se veria,

O mundo vem trazendo em artimanha
Enquanto uma incerteza for tamanha.


522


Tocando o seu çairé, povo tapuia
Nas festas dos cristãos em sincretismo,
Enquanto na verdade teimo e cismo,
A vida se desenha noutra cuia,

E quantas vezes traço em dança e festa
O todo que se faz bem diferente
No olhar mais penetrado é que se sente
O quanto deste tanto sempre atesta,

Viceja dentro da alma esta esperança
De um deus comum a todos no futuro,
E assim no dia a dia eu me asseguro
Da direção por onde o passo avança,

Usando do çairé qual forte liga,
Que o mundo em harmonia e paz, consiga.

523

Caindo neste Santo, um Orixá
Não tendo além do quanto no torpor
Pudesse desenhar e sem ter dor,
Vivendo o que deveras me trará,
Meu passo se mudando desde já
Dos cantos e louvores, refletor,
E tendo com certeza e sem temor
O quanto neste instante se verá,
Em transe nada mais eu temeria,
Ousando contra o medo ou agonia,
Marcando com firmeza cada instante,
E no Cair do Santo me apresento,
Liberto o que me traz o pensamento,
Num ato assustador, mas deslumbrante.

524

Usando esta cajila me protejo
E sei que a pescaria será boa,
Tambatajá trazendo na canoa,
Terei o quanto possa num desejo,
E sendo de tal forma benfazejo
Meu mundo noutro rumo sempre voa,
A voz de um pescador além ecoa,
E nisto outro cenário hoje prevejo,
Mudando a direção com o amuleto
Fartura no pescado eu já prometo
E assim a minha vida vai tranqüila
Também na própria caça necessito
Do talismã que sei ter infinito
Poder que se percebe na cajila.

525



Dançando este calango nas Gerais
Calango tango, trago na lembrança
E o tempo que se avança e já se cansa
Ainda do passado quer bem mais,
Ouvindo os cantos tantos, sem iguais
Vivendo o quanto resta em esperança
Marcando com firmeza a velha dança,
E dela seus encantos rituais,
E quando este calango, o da lacraia
Levanta da morena a sua saia,
Eu vejo muito bem olhar moleque
As coxas da mulher do Zé Maria
E nisto corre solta a fantasia,
Ao menos no pensar eu sei que peque.

526


Fugindo pro Quilombo, um calhambola
Depois desta tortura dia a dia,
Encontra quem talvez, libertaria
Trazendo o que tivera em sua Angola,
A vida sem perdão, ao negro esfola,
E mata quando vê na rebeldia
O grito mais audaz de uma alforria,
Porém o pensamento além decola,
E assim quando se encontra no Quilombo,
Açoite não tocando mais o lombo,
Sorri e se encontrando em liberdade,
O calhambola sente o novo vento
E mostra com vigor o sentimento
Enquanto a paz suave chega e invade.

527


Estou de calundu, deixe-me quieto
Saudade de quem foi e não voltando
Deixou este cenário mais infando
Aonde fora um dia o predileto,
E quando no final não me completo
O coração saudoso vai pesando
O tempo do passado me tomando,
E nada vejo aqui, de mais concreto,
Apenas a lembrança dolorida
Que toma com certeza minha vida
E deixa o sentimento vir à tona,
É como se me visses todo nu,
Uma alma se penetra em calundu
Somente no vazio, se abandona.

528


Calunga nestas mãos de uma menina,
Boneca das de pano do passado,
Também sujeito nobre e respeitado
Lambaio que auxilia e assim atina,
Só sei dizer do quanto deste tempo
Aonde se pensara mais diverso
O mundo transformado onde disperso
Ousando no final em contratempo,
A vida nos ensina e nos permite
Viver o que vier, e não me cansa
De ter em minhas mãos esta esperança
E dela não se vendo algum limite
Destarte com a sorte se comunga,
Menina traz no peito esta calunga.

529


Dançar camaleão num miudinho,
Amarra meu benzinho, para mim,
E quando se aproxima sei que enfim,
No sonho deste sonho eu me avizinho,
Um potiguar e belo este carinho
Que a vida traduziu e sendo assim,
Amor que tanto quis e não tem fim,
Fazendo da esperança um claro ninho,
Camaleão virando gente agora,
Rezando missa, diz Nossa Senhora
E também segue além do Presidente
Depois de tanta coisa que se vê
Não tenho nem sequer sei mais o que
Camaleão decerto agora invente.

530


Mocoin muã domina inteiro o céu
Estrelas tão brilhantes no sertão,
Assim ao revelar a direção
O mundo se cobrindo neste véu.
Meu passo se desenha em carrossel
E sabe destes sonhos que virão
Ousando na esperança desde então
Sabendo ser a sorte mais cruel,
Os Camarões eu vejo já daqui
Estrelas que deveras concebi
Lembrando de outro tempo mais distante
E quando num minuto tudo muda,
A sorte se permita em clara ajuda
E um novo desenhar em paz, garante.

531


Se Cambaranguangê, Xangô, meu pai
Domina as cachoeiras, o Orixá
No justo caminhar me mostrará
Momento pelo qual a vida vai,
E gera com justiça o que não trai
Nem mesmo outro cenário mudará
O todo que se vendo desde já
Dos olhos a lembrança nunca sai,
Na linha do Caboclo, esta entidade,
No justo decidir se não agrade
Jamais se arrependendo segue além,
E o mundo em suas mãos sendo cuidado,
Em cada cachoeira, em cada brado,
Seu rito em concordância sempre vem.

532


Neste terreiro fui mero Cambono,
E agora me elevando devagar,
Um dia talvez possa demonstrar
Bem mais do que decerto hoje eu abono,
Legado no passado ao abandono
Aprendo com firmeza caminhar
E nada mais consegue segurar
Nem mesmo me entregando à fome e sono.
Um velho coração sofrido e só
Sonhando ser Cambono, mas de Ebó
Adiantando além o meu saber,
Depois de tanto tempo nada sendo,
Talvez apenas fosse algum remendo,
Trazendo no momento um novo ser.

533

Acende este candeeiro em noite escura
E traga a claridade para quem
Sabendo que esta vida nada tem
Senão a sorte atroz que me amargura,
Depois de tanto tempo na procura
Somente desejando ter um bem,
Vislumbro após o tanto e nada vem
Nem mesmo quem me desse mais ternura,
Brindando a minha sorte com meu sonho,
Apenas mais um verso que eu componho
Um coração deveras solitário,
E quando se ilumina toda a noite,
Saudade me maltrata feito açoite,
Lembrança de outro tempo, imaginário?

534


Usando um candiru na burundanga
O velho mandigueiro me ensinava
Que assim quando deveras desejava
O bicho se alvoroça e rasga a tanga,
E quem deveras goza e já se manga
A espécie miudinha fica brava
E por qualquer buraco penetrava
Entrando com firmeza na puçanga.
Destrói também assim um inimigo,
E mesmo pequenino é um perigo
Encaiporando quem se desejar,
Este bagrinho mesmo tão pequeno
No fundo é bem pior do que veneno,
Matando ou maltratando devagar.

535


Tocando o candongueiro noite afora
Batendo este atabaque sem parar,
O tempo se aproxima devagar
E toda sensação assim se aflora,
E neste batucar além demora
A vida toma sempre o seu lugar
No tanto que aprendera a trabalhar
Sem ter sequer sossego e já sem hora,
Ouvindo com firmeza este instrumento
Ainda quando um tempo novo invento
Recordo dos terreiros do passado,
E bebo mais um gole de cachaça
No pito que deveras sempre se acha,
Eu vejo o meu caminho já traçado.


536


Canhoto conquistando a moça bela
Tortura o coração de quem ataca,
E quando se percebe ali se estaca
Marcando para sempre esta donzela,

O pé de pato, o bicho então revela
E nisto outro momento onde se empaca,
Vagando penetrando nada aplaca
A vida que desenha em medo e cela,
Ao ver a cruz implode e assim de chofre
Deixando um forte cheiro, ali, de enxofre
Na nuvem azulada aonde some,
Diabo sem saber de algum perdão,
Cuidado com a sua tentação
Na moça mais bonita mata a fome.


537


Voando para além a caninana
Quando encolerizada nada cessa
A fúria que decerto recomeça
E sei quando em verdade assim se dana,
A cobra sem veneno? Mas engana
Quem pensa ter ali qualquer promessa,
E quando sem temor algum se expressa,
A criatura vil é desumana,
Marcando com terror quem se aproxima,
Mudando em tempestade todo o clima,
Vencendo quem puder, com fúria atroz,
Assim da caninana esta distância
Garante com certeza e quando alcance-a
Melhor seguir o mundo noutra foz.

538


Prepara um canjerê, faz o favor
Enfeitiçando a louca que se visse
Ousando noutro passo em tal tolice
Ao maltratar deveras meu amor,
Não deixe nem as sobras, meu senhor
Que tanto quanto possa se desdisse
O mundo que deveras mais pedisse
Apenas um cenário em vão louvor.
Fazendo este despacho, feiticeiro
Protege o coração do aventureiro
Que um dia ser feliz tanto queria,
Porém a vida traça esta surpresa
E invés do que pudesse sou a presa
Da vida desenhada em agonia.

539


No Canzuá de Quimbe o meu descanso
Depois de tanto tempo na batalha,
A vida traz no fio da navalha
O que decerto dita algum remanso,
E quando neste passo além avanço
A sorte noutro tom agora espalha
E sei do quanto a luta sempre falha
Deixando para trás um dia manso,
E não precisa mais sequer o luto,
Enquanto na verdade inda reluto,
No fundo sei que assim será melhor,
Cansado de viver inutilmente
Meu passo com firmeza agora enfrente
Caminho que já sei até de cor.


540


Um Cão tomando parte do cenário,
Satânica figura, este demônio,
Fazendo desta vida um pandemônio
Deixando o coração mais solitário,
Dos sonhos mais audazes um corsário
Domina os meus temores de campônio
E leva de uma vez meu patrimônio,
O bicho, este capeta salafrário.
Meu tempo noutro tempo já perdido,
Meu mundo no vazio resumido,
Apenas perseguido pelo Demo,
O quanto poderia ser feliz
Satã eu sei agora nunca quis,
Mas nem por isso ainda o bicho eu temo.

541


Na antiga Capelinha de Melão
Festejo neste palco iluminado
Falando com ternura do passado
Homenageia agora São João,
Pastoras e ciganas, emoção
Falando deste dia consagrado,
E neste caminhar já demonstrado
Momentos mais suaves se verão,
Cordões eu sei de azuis e de encarnados
Os sonhos entre tantos desenhados
Moldando com certeza esta alegria,
E assim já no final recolhe a esmola
E o pensamente além sempre decola
Trazendo o que este encanto me dizia.

542

O Capelobo ataca acampamentos
Matando cão e gato, se filhote
No quanto se prepara novo bote
Trazendo para todos os tormentos
Pulando na carótida, em momentos
Não encontrando quem venha e o derrote
A não ser que em tiros bem atentos
No umbigo destes bichos violentos
Acerte e no final a morte anote.
Assim um lobisomem brasileiro,
Marcando com terror cada terreiro
Espalha na Amazônia este terror,
Já nada tem sequer mesmo de bobo,
Cuidado se tu vires Capelobo,
Promessa de tortura e imensa dor.

543

De co-pixaba, ou seja da lavoura
Surgindo um povo forte que confia
No quanto este trabalho poderia
E nisto uma esperança que inda doura,

A sorte caprichosa no roçado
Tramando a cada dia um novo passo,
E neste desenhar diverso eu traço
O quanto ainda tenho sempre ao lado,

Do imenso litoral à grande serra
Apresentando enfim futuro nobre
A cada novo dia se descobre
Riqueza que em seu solo a sorte encerra,

Porém o que decerto não se acaba
O orgulho de dizer: Sou capixaba!

544

Na capoeira vejo o quanto pude
Vencer e ser vencido na batalha
Ainda que não use mais navalha,
A luta sendo dança em atitude
Traduz o que em passado fora rude
E agora pelo mundo em paz se espalha
Não permitindo mesmo qualquer falha,
No fundo se transcende em plenitude.
Assim ao se mostrar rara destreza
E disso se desenha tal beleza
Que possa transformar cada momento,
Ao ver a sutileza em movimento,
Transcende ao que pudesse em tal nobreza
O quanto mais anseio, quero e tento.

545

Deste carajuru avermelhado
O corpo desta tribo se desenha
E sei do quanto possa e já se empenha
Enquanto noutro instante ainda brado,
O povo com certeza alvoroçado
Usando desta folha sempre venha
Trazer o que decerto sei que tenha
Poder de transformar destino e fado,
E quem ao se pintar nada temendo,
A vida se transforma e sem remendo
Percebe a maravilha dia a dia,
Impede qualquer bote e de tocaia
Ainda quando a sorte volte e traia,
Com toda a sua fé já resistia.

546


Temendo a Cariapemba, logo fujo
Sabendo que incorpora quando ataca,
Demônio que decerto não se aplaca
Num jogo com certeza bem mais sujo,

Domina quem invade e em tal momento
O mundo se transforma de repente
Não tendo quem resista se apresente
E quando se aproxima me atormento,

Um Satanás, demônio lá de Angola
Num banto ritual, nada o contém,
E sei que quando toma certo alguém
Desta alma se apodera e assim a esfola,

Da Cariapemba vejo este terror,
Trazendo a insensatez, o medo e a dor.



547

Dançando o carimbó lá no Pará
Em plena Marajó ouço o atabaque
E sei do quanto possa neste baque
Trazer o que deveras sei de lá,

A sorte de tal modo moldará
Deixando para trás um terno e o fraque
Ainda que decerto ali se ataque
O mundo com certeza mudará,

E assim ao se dançar se requebrando
A moça a cada passo vai rodando
Jogando a sua saia no parceiro,

Porém se não cobrir o cidadão,
Trocada assim por outra desde então
No ritmo que ora dita o batuqueiro.

548

Morei num caritó a vida inteira
Tentando melhor sorte que não vinha,
Sabendo que fortuna não é minha
Felicidade ao longe hoje se esgueira
Assim ao pressentir outra rasteira
Da lida tão cumprida quão daninha
O pouco que restara ou mesmo tinha
Marcando a minha história, derradeira,
Do caritó jamais eu sairia
E assim ao desenhar meu dia a dia,
Nem mesmo uma saudade inda carrego,
Destino traz desdita e sempre mente
Ainda que buscasse ser contente
Não sei mais me livrar deste nó cego.


549


O Carneiro-Encantado na Passagem
Fronteira Maranhão e Piauí
Expressa este gigante que eu já vi
Qual fosse na verdade uma miragem,
Trazendo uma estrela em sua testa
Resquício de um momento temerário
Enquanto ali mataram missionário
A história assim traduz, nada a contesta.
Mostrando uma riqueza tão enorme
A quem passara perto, no final,
Ao ver este desenho magistral
Embora na verdade não conforme
Ao procurar ajuda, quando volta
Sem nada que se vê causa revolta.

550

As carpideiras choram no velório
Trazendo esta emoção tão dolorida
E neste desenhar a ausente vida
Encontra o seu futuro mesmo inglório,
Cenário tantas vezes merencório
A luta sem sentido ou desprovida
Há tanto se desenha em presumida
Certeza recobrindo em envoltório
Diverso do que tanto se podia,
Marcando com terror em agonia
A cena já por si desconcertante,
E assim enquanto carpi a noite inteira,
Expressa esta certeza, a carpideira
E o sofrimento alheio ela garante.

552


Carreiro de Santiago vendo além,
Tornando nosso céu em leite branco,
Olhando para trás deste barranco
Cenário fabuloso eu sei que vem,
E nisto se produz o quanto tem
Moldando este momento aonde franco
O mundo se anuncia em cada flanco
E toda esta beleza nos convém.
Assim ao me sentir extasiado
Percebo do Carreiro o quanto invado
Tocando o pensamento de quem sonha,
Vislumbro a imensidade deste céu
Coberto pelo níveo, e imenso véu,
Na noite bem mais clara e assim risonha.

553

O vento sul traduz da seca a carta
Mensagem que trará tal sofrimento
E nisto a cada instante mais lamento
A mesa que em passado fora farta,
Agora qualquer sorte se descarta
E busco ao enfrentar tão duro vento
Outro momento até, sonhando invento,
E assim num novo instante além já parta.
No mês de março, um céu tão azulado
Traduz a morte inteira do roçado
E nada de esperança. São José
Trazendo pro sertão este castigo,
A vida se condena e assim prossigo
Usando da esperança em força e fé.

554


Pedindo aos Caruanas uma ajuda
Pajé necessitando para a cura
De quem a sorte foge e não procura
Tornando esta esperança mais miúda,
E assim enquanto ali chegando acuda
E impede a noite amarga e mais escura,
Porquanto a vida trace em tal tortura
A dor que se fizera então aguda.
Depois de certo tempo, em desespero
Pousando em confiança este tempero
Que traz a quem porfia novo rumo,
Vencendo os dissabores, dia a dia,
Meu mundo no final se mostraria
Bem mais do que num verso só, resumo.

555

Qual um bicho-de-pau o Caroara
Surgindo nos quintais e capoeiras
Atravessando trilhas ou onde queiras
E nada neste mundo o desmascara,
Assim quando se vê já se prepara
E atacando mulheres nas ribeiras,
Então se menstruadas, derradeiras
Passagens pelos vãos desta seara.
Flechadas atingindo quando cismo
Trazendo para a moça o reumatismo.
Aos homens não atacam, simplesmente
Enquanto se aproxima na tocaia
Num outro desenhar deveras traia
E nisto tanta dor sempre atormente.

556


Um caruru que é feito pros Beiji
Na festa consagrada aos dois irmãos
Os dias entre tantos sins e nãos
Marcando o quanto quero e mesmo vi,
Assim ao perceber estou aqui
E vejo a luz entrando pelos vãos,
Das esperanças são além de grãos
Tramando o que decerto eu já vivi,
E Cosme e Damião trazendo a sorte
A quem tanto desejo ora comporte
E diga destes dias cristalinos,
Trazendo ao coração farta alegria
E nisto tanta fé já se teria
No caruru que é feito pros meninos.

557

Ouvindo este ganzá, velha casaca,
Relembro deste congo capixaba
E o quanto deste encanto não se acaba
E trama em reco-reco o quanto emplaca,
Assim ao perceber como uma estaca
Abrindo este cilindro assim se gaba
Do quanto se desenha e não desaba
Marcando em consonância enquanto ataca
No ritmo do congado em ressonância
O todo se mostrara em abundância
Gerando a maravilha em som mais belo,
Destarte num batuque sem igual,
Penetra noite adentro o ritual,
E nele; a negritude em mim; revelo.

558


Metendo esta catana noite afora,
Falando tanto mal de quem se ausenta
A vida se mostrasse violenta
Enquanto a fúria imensa nos devora,
Mas quanto mais o todo me apavora
Verdade noutra face se apresenta
E sei desta presença que ciumenta
Falando sem sentido nada ancora.
E cobras e lagartos desfiando
Quem tanto se mostrara desde quando
O tempo não trouxesse algum alento,
E vendo a mesma face assim tirana,
Quem sempre mete enfim sua catana
Distância deste ser vazio; eu tento.


559

Dançar cateretê lá nas Gerais
Trazendo uma lembrança do passado
No tempo com certeza mais ritmado
A vida se traduz e quero mais,
Os passos são deveras divinais
E quando neste instante tento e brado,
Os sonhos de outras eras eu invado
E sei não morrerão nunca, jamais.
A noite se anuncia e uma cachaça
De mão em mão deveras sei que passa
E aumenta animação do povaréu
E quando a gente enfim assim se vê
Dançando neste tom cateretê
Anuncia o caminho para o céu.

560

Fizesse um catimbó para quem amo
Ao defumar assim seus assistentes
O mestre se transforma inda que tentes
Comanda algum espírito é seu amo.
E neste desenhar eu peço e clamo
Sabendo o que decerto já não sentes
E sinto os dias duros e inclementes
Cada momento atroz que cismo e tramo,
Assim ao se mostrar ausente e só
Apelo para o mestre em catimbó,
Tentando me vingar de quem partiu,
O coração decerto malogrado
O tempo se desenha desgraçado
E o mundo se apresenta amargo e vil.

561

Dançando o Catopé em Montes Claros
Congado sem enredo, ritual
Aonde se desenha bem ou mal
Momentos entre tantos hoje raros,
Assim quando se ouvindo esta batida
Trazendo lá dos tempos do passado
Um dia noutro dia demonstrado
Ao renovar preserva a própria vida,
Acompanhando assim a evolução
O catopé transcende em tempo e espaço
E nele outro momento agora eu traço
Ousando mesmo rumo e direção,
Das sombras do que fora inda resiste,
E o canto em louvação inda persiste.


562


A cavalhada traz a marca forte
Da ibérica presença no país
E quanto mais distante o tempo diz,
Ainda com firmeza se comporte,
E trama noutro instante o que suporte
E gera muito além da cicatriz
Deixando demonstrado o quanto quis
Ousando com grandeza neste norte.
Assim desta batalha entre cristãos
E mouros na península de outrora
A cada ano deveras comemora
Eternizando ali antigos grãos,
Lendária e mesmo até se renovando,
Transcende ao próprio tempo, atroz ou brando.

563


Cavalo de três pés e sem cabeça
Correndo ou já voando pelo espaço
Quem pisa por azar num mero passo,
Da sorte em sua vida, pois se esqueça
E quando outro momento em paz mereça
A vida não descansa e no cansaço
Prenunciando o azar em cada traço
Até que na verdade se enlouqueça,
Uma transformação deste saci
Que há tanto noutro tempo eu conheci,
Cavalo se desenha com três pés
Na pata dianteira, e de tal forma
Demônio sem igual tudo transforma
Trazendo sempre a sorte de viés.

564


No São Francisco encontra este cavalo
Que ao perseguir sem paz embarcações
Trazendo o quanto possa em direções
Diversas da que tento e não me calo,
Depois de certo tempo me avassalo
E sei do quanto em nada já me expões
Marcando com temor as expressões
Moldando em mau-olhado em rude embalo,
Usando uma carranca em proteção
Igual ao tal cavalo em previsão
De encontro com tal fera neste rio,
Assim ao conseguir domar o bicho,
A vida noutro instante muda o nicho
E um novo navegar; quero e desfio.

565


No cavalo de santo, um Orixá
Descendo então à Terra comunica
E tanto quanto pode agora explica
O todo que puder se saberá,
Usar filha de santo e desde já
Traçando o que deveras não complica
A sorte se anuncia bem mais rica
E assim todo o futuro mudará?
Só sei que quando sobe na cabeça
Cavalo ao seu senhor sempre obedeça
E traga uma resposta a quem pergunta,
Destarte ao se mostrar em plenitude
Transcende ao que pudesse e não se ilude,
Uma alma noutro corpo enfim se ajunta.


566


Cavalo sem cabeça no sertão
É padre que mexendo com mulher
Fazendo na verdade o que quiser
Tornando no final a assombração,
Já sabe que não tendo mais perdão
Nem um momento em paz, nenhum sequer
Assusta qualquer gente que vier,
Ou encontrar na sua direção,
Quebrando o celibato, eis o castigo
E nisto se condena ao desabrigo
E nada mais consegue em sua vida,
Senão em disparada noite afora
A cada ser que encontra ele apavora,
Embora tem sua alma mais sofrida.

567


Dançando o caxambu em noite clara,
A sorte se mudando já de face
E trama o que pudesse e sempre grasse
Ousando no que quer, pensa e declara,
Assim outro momento se prepara
E nele este caminho mal notasse
Quem tanto no final se contentasse,
Com sorte mesmo sendo pouca e rara,
Mas sei que nesta dança não me canso
E quando no final o peito manso
Agita na procura de outro canto,
Batendo o caxambu, grande tambor
A dança se fazendo de louvor
O mau que inda vier, decerto espanto.

568

Usando o caxixi na capoeira
A percussão se unindo ao berimbau
A noite se passando em ritual
Aonde esta esperança sempre eu queira,
Ousando no meu verso por bandeira
Vestindo este momento nunca igual,
O tanto que pudera bem ou mal,
Traduz o que mais quis a vida inteira,
Assim ao se mostrar o caxixi
Lembrando do que tive e já perdi,
Um mestre capoeira não se cansa,
E quando vem chegando amanhecer
Maior tenha a certeza o meu prazer
Que é feito deste sol, rara esperança.

569


Ceuci que engravidara em virgindade
No sumo da cucura, foi tocada,
E desta sorte assim já desenhada
O todo noutra face traz verdade,
Jurupari seu filho em divindade
Trazendo este segredo, alma velada,
E nisto noutro instante revelada,
Embora se transforme em claridade,
E não podendo ver filho guerreiro,
Ceuci se disfarçando e descoberta,
Pelo seu filho morta em hora incerta
E agora neste céu como um luzeiro
Jurupari podendo sempre vê-la
Já transformada além em bela estrela.

570


Na procissão por sobre esta charola
A imagem se carrega em belo andor,
E nisto se demonstra o quanto amor
Não precisando ser sequer carola,
E vendo a maravilha onde se assola
Presença deste sonho redentor,
E nele se louvando com vigor,
Uma alma caprichosa se descola
Alçando o Paraíso num segundo
Retorna em luz suprema e adentra o mundo
Trazendo este reinado agora em paz,
E deste desenhar em rara sorte,
O quanto se aproxima e nos conforte,
Certeza do infinito já nos traz.

571


Trazendo neste palco uma Chegança
Num auto de Natal, já proibido,
Aonde se aumentasse esta libido
E quando em noite audaz, a dança avança,
No quadro se desenha em tal pujança
E nada mais pusesse, e se esquecido
Ainda na verdade e não duvido,
Seu eco com firmeza além se lança,
Um rito popular e sem ter freio,
Ao quanto se deseja sempre veio
Ousando muito além do que se pensa,
Assim neste cenário sensual
A vida se anuncia e no Natal
Uma expressão diversa e mesmo tensa.

572


Cuidado meninada que o Chibamba
Avança sobre quem é mais chorão,
Melhor é se calar e desde então
Do que viver em corda sempre bamba,
Envolto em bananeiras, suas folhas,
Roncando como um porco o monstro vem
E não respeita nada nem ninguém,
Por isso bem mais cedo te recolhas,
Obedecendo sempre e sendo assim,
Pode ficar tranqüilo, pequenino
Que além do seu caminho e seu destino,
O bicho vai atrás de um novo fim
Menino que se faz mais sossegado,
Tá sempre protegido e bem cuidado.

573


Tomando deste amargo chimarrão
Gaudério se mostrando nas coxilhas
E quando neste rumo também trilhas
Vislumbra neste céu a imensidão
Do pampa aonde vês a direção
E segues as diversas maravilhas,
Marcando com vigor onde palmilhas
Deixando em cada estância o coração.
E na guaiaca trago esta lembrança
Da prenda que distante mesmo alcança,
Tornando o meu viver iluminado,
O minuano roça a minha pele,
Saudade desta china me compele,
Vontade de ficar sempre ao seu lado.

574


Dançando Chimarrita no Fandango,
A vida se transforma e bem melhor,
Enquanto a face se enche de suor
É como se pudesse nalgum tango
Ousar e ter nas mãos o quanto quero,
No olhar desta morena, bela prenda
E quanto mais deveras se desvenda
Amor se demonstrara mais sincero,
Assim sem mais pensar noutro acalanto
Bebendo da esperança em verde olhar
Aonde inda pudesse mergulhar
O muito que deveras mais garanto,
A vida se tornando assim bonita
No ritmo sem igual da chimarrita.

575


Usando um chiripá não sinto o frio
E enfrento o que vier, sem ter mais medo,
O quanto neste passo eu me concedo
Deixando para trás um desafio,
Adentra o coração avança o rio,
Sabendo desde já cada segredo
E mesmo que estivesse ausente ou ledo,
Meu mundo não será jamais sombrio,
Do Mato Grosso ou terras paraguaias
Sem nada que deveras inda atraias
Presumo algum instante em calmaria,
Porém se isto mudar e de repente,
Da luta não verás ninguém ausente
Até o demo mesmo enfrentaria.

576


Ouvindo um bandolim, neste chorinho
Um cavaquinho, a flauta e o violão
Tocando com delírio o coração
Vencendo qualquer pedra no caminho
Quem fora neste mundo tão sozinho
No regional encontra a dimensão
Do amor que se pensara e desde então
Fizera do meu peito um manso ninho,
A vida se transforma e sem lamento
Lembrando do que foi e de quem é
Recordo desde Ernesto Nazareth
E assim um novo tempo ainda tento
No ritmo bem marcado em noite mansa,
Aonde esta emoção além avança.


577

A mãe que traduziste já por Ci,
Domina toda a tribo e de tal arte
Enquanto com certeza se comparte
Amor que na verdade igual não vi,
Podendo ser Iaci; Coaraci
Seu nome se espalhando em toda parte,
O quanto com ternura; enfim reparte
Um sentimento imenso que vivi,
E neste dia a dia desenhado,
Nas mãos desta mulher o nosso fado,
E o tempo se desenha após o tanto
Que viva ou que permita nova luz,
Enquanto para além já nos conduz,
Um dia mais sublime eu adianto.


578

Andrômedas diversas no Brasil
Imersas nestas águas mais profundas
E nisto se desenham oriundas
Do quanto poderia ser mais vil,
Assim o quanto tenta e já se viu
Enquanto em pensamentos aprofundas
Percebes que em verdade sempre inundas
Enquanto com certeza isto partiu,
Maiandéua- Pará, no Pindaré
Em Sapucaia-Oroca também é
Cidade que estas águas engoliram
Em povos tão diversos, na verdade
Nem sombra já se vê sequer cidade
Que os deuses castigando ora interfiram.

579


Dançando uma ciranda volto atrás
No tempo onde feliz já não sabia
Da dor que nos transforma em agonia
E nisto outro momento vivo em paz,
E quando esta vontade satisfaz
Marcando com ternura o dia a dia,
No quanto tanto quero e poderia
Vivendo o que se molde e a luz já traz.
A lua desenhando na varanda
O coração decerto anda de banda
Pesando deste amor que não acaba,
E quando esta vontade assim desaba
O tempo se anuncia em claridade
E o passo noutro encanto sempre agrade.

580



O Círio desfilando por Belém
A festa que se fez tradicional
E nisto outro momento sem igual
A vida com beleza e paz já vem,
Traduz o que pudera e sei tão bem
Vivendo cada instante magistral
Alçando muito mais que o sideral
Espaço aonde o todo ora convém,
Assim ao se mostrar em festa imensa
O todo se desenha e já compensa
O quanto se aguardara pelo Círio,
A multidão se entrega a tal delírio
E sendo este cenário fabuloso,
Inesquecível sonho, majestoso.

581

Princesa transformada na serpente
Na espera de que venha um salvador
A quem dedicaria o seu amor,
Mudando o quanto quero e assim se sente
Ainda que deveras se apresente
Num passo quando se ouve algum rumor
Tramando o quanto eu busco sem temor
Embora quase nada além se tente.
Vagando pela noite, escuridão
Momentos mais diversos se verão
Num átimo um mergulho sem sentido
E o quanto mais pudera noutro instante
Apenas o vazio não garante
O amor que a cada passo mais olvido.

582


A Cobra-Grande invade os grandes rios,
Boiúna em seu poder nada temia
A vida na verdade em agonia,
Vencendo os mais diversos desafios,
E quando se mostrassem desvarios
O tanto quanto quero e poderia,
A luta se transforma a cada dia,
Trazendo para os passos ledos fios,
Meu mundo dissipando num segundo
Enquanto nestes rastros me aprofundo
Imaginando a sorte que virá
Serpente gigantesca destroçando
O todo noutro instante desenhando
O fim que se aproxima e desde já.

583

Cobra-Maria; eu vejo num instante
E protegida mesmo por Iara
Aos poucos outra cena se prepara
E o todo num instante se garante,
Assim o que viesse doravante
Em noite mesmo escura ou bem mais clara
Apenas a verdade se declara
Na imagem deste ser; grande; gigante.
Da filha do Pajé que em maldição
Ao lado de José o seu irmão,
Perdendo logo os dois no nascimento,
E quando por Iara protegida,
Devendo para a deusa a própria vida
A todos representa este tormento.

584

Dançando o velho coco nordestino,
Nas noites de forró, num sapateio,
Eu sei o quanto quero e já rodeio
Ousando noutro passo onde fascino,
E quando neste fato eu desatino
Apenas aproveito o claro veio,
E sei dessa festança sem receio
Num dia mais sublime e até divino,
No ritmo deste coco eu não me canso
E o coração não sendo jamais manso
Procura uma cabocla que acompanha
Na dança muito bem acompanhado,
Trazendo o coração iluminado
Enquanto este cenário a noite assanha.

585


Dar Comida à Cabeça, eu te garanto
Satisfazendo quem no candomblé
Pudesse ser um auto em pura fé
E nisto na verdade não me espanto,
O mundo se desenha e neste tanto,
A vida por saber e ser quem é
Preconizando a cura e trama até
O passo aonde além eu me adianto,
Consultando os oubis tens a resposta
E nesta nova face sendo exposta
O que virá deveras no futuro,
Matando as aves; cerimonial
Banquete se anuncia e o bem ou mal
A cada novo instante eu me asseguro.

586


Companheiro do Fundo de algum rio,
Auxiliando às vezes os pajés
Mostrando frente a frente ou de viés
O quanto na verdade desafio,
E assim se permitindo por um fio,
Levando para além quaisquer revés
Fixando com firmeza assim seus pés
Gerando na presença luz e estio.
Destarte se anuncia outro caminho
Podendo com certeza ser daninho
Mudando passo a passo até o fim,
Propondo noutro enredo o que viria,
Bebendo o que pudesse em fantasia
O mundo se anuncia dentro em mim.

587

Os reis do congo em tal coroação
Ousando num cenário mais audaz,
O tempo que se foi a vida traz
E nele se desenha em devoção
Assim ao se mostrar esta união
O todo que em verdade satisfaz
Mostrando este cenário mais sagaz
Num rito feito em paz e em emoção
E na congada vejo a festa imensa
E nela esta verdade se compensa
Deixando eternizado este momento,
Os préstitos reais, as embaixadas,
Histórias pelo tempo desenhadas e
Cerzidas no que tanto louvo e tento.

588


A consoada traz em refeição
Depois de algum jejum mais prolongado
Um prato com certeza abençoado
Usado nesta mesa de um cristão
E nisto se mostrando a louvação
Enquanto na verdade enfim agrado
E neste desenhar mais alto eu brado
Moldando os dias claros que virão,
Dos ágapes talvez reminiscência
E neste conhecer rara ciência
Presume em lauta ceia após o ofício
E assim se desenhando o dia a dia,
O todo com certeza; moldaria
Depois do que já fora um sacrifício.

589

A festa no coreto, este dobrado
Tocando o coração de uma cidade,
O tempo traduzisse na saudade
Deixando o que se quer além, de lado,
O mundo quando além desejo e invado
E traz o que deveras tanto agrade,
Marcando com total felicidade
O sonho noutro sonho desenhado,
A banda desfilara pela rua
E agora no coreto sob a lua
Convida todo o povo pra dançar
E assim a vida passa calmamente
O todo noutro rumo se apresente,
De tudo só restando este luar...

590


Desta Coroacanga em noite imensa
Os rastros como fogo em pleno céu
E o mundo se desenha, claro véu
Aonde o meu momento atroz convença
E assim ao desenhar o que se pensa
O todo num intenso carrossel
Desenha a cada instante outro papel
E o vago se anuncia em sorte tensa,
Depois de certo tempo em fogo e frágua
Meu passo nesta mágoa já deságua
Falando de um passado doloroso,
Coroacanga dita o dia a dia
E nisto noutra sorte não veria
Um tanto que se mostre pavoroso.

591



Fechando o corpo contra algum feitiço
Já nada me faria tanto mal,
O mundo se desenha e nem sinal
Do quanto poderia ser mortiço,
E assim enquanto sonho e já cobiço
Vencer o que pudera em algum grau
Diverso do que eu veja em sideral
Momento aonde tanto possa e viço.
Não temo nem sequer o que se trame
E nisto nem a dor nem mesmo o enxame
Dos medos e dos passos mais ferozes,
Assim entre momentos tão atrozes
Ao superar deveras meus algozes
A vida renovando algum ditame.


592


O Corpo-Seco tanto fez maldade
Que nem no próprio inferno foi aceito,
Fazendo no vazio o turvo pleito
E nisto a cada passo se degrade,
Um vômito da terra, na verdade,
O corpo sem sentido e tão mal feito
Mirrado este fantasma vai sem jeito
E neste caminhar só desagrade,
Nem mesmo a podridão atacaria
E assim ao se mostrar em agonia
Apenas se tornando ressequido
O quanto se pudera e não duvido
Jogado sob a terra ou mesmo além
Somente este vazio ele contém.

593


Na procissão sagrada, o Corpus Christi
Solene maravilha se desenha
No chão onde deveras sempre tenha
O quanto a cada tempo mais resiste,
O mundo mesmo atroz, feroz e triste,
Uma esperança viva já retenha
Tramando o quanto possa e assim se empenha
Enquanto esta emoção viva persiste.
Há tanto se mostrando de tal forma
E nisto nem o tempo mais transforma
O todo que se mostre mesmo além,
Usando estes tapetes magistrais
Anunciando assim e muito mais,
Uma emoção superna eu sei que tem.

594


Dançando a corriola o mestre impõe
Um verso diferente e sendo assim
Pagando qualquer prenda até o fim,
E nisto outro cenário se compõe.
E quando com certeza se repõe
O quanto se perdera dentro em mim,
Olhando este momento sei que enfim,
O tanto quanto eu quis já se propõe
Pagando qualquer prenda no final,
Até que terminando o ritual
O vencedor se sabe, o que restara.
E assim nesta festança a noite passa
A dança se permite em tanta graça
Tornando a vida assim menos amara.

595

No frevo um dançarino em corta-jaca
Não pára nem sossega um só momento
E quando acompanhar ainda; eu tento
O pé já noutro instante assim empaca
Vencendo algum temor enquanto aplaca
A vida não trouxera mais tormento
E quando o coração aberto ao vento
Nem mesmo a solidão feroz ataca,
Dançando nesta noite o quanto atrevo
Tentando imaginar que fosse frevo
Pudesse resistir um pouco mais,
Inveja de quem sabe e desta arte
O todo que quiser mesmo reparte,
Porém não acompanho isso jamais.

596

A Cotaluna sendo uma sereia
Que ataca a Paraíba em João Pessoa
Embora não cantasse sempre ecoa
Vontade que deveras tanto anseia,
Mulher tão desejada em lua cheia,
Reflete o que pudesse e deixa à toa
O coração naufraga qual canoa,
E a deusa divinal tudo rodeia,
Depois deste momento sensual,
Num salto sem igual descomunal
Devora por completo o sonhador,
A predadora sendo majestosa
Ao mesmo tempo atroz e caprichosa
Disseminando sonho, medo e dor.

597


Um homem que em couvade após o parto
Qual fosse algum resguardo feminino
Traduz diversidade do destino,
E neste desenhar deveras farto,
O quanto deste todo já reparto,
Marcando o que pudera e me alucino
Bebendo o que pareça desatino,
E assim quando tentasse além eu parto,
Vagando em pensamento ou mesmo até
Trazendo o que se fez em sonho e fé
Mudando a direção da ventania,
E assim quando a criança enfim nascendo
O pai nesta couvade se envolvendo
Este resguardo em paz garantiria.

598


O Cramondongue segue em disparada
Carro de boi puxado no vazio,
E mostra o quanto trama em desvario
Na frente não se vendo mesmo nada,
Podendo ter decerto; imaginada
O quanto a cada instante desafio
E venço o que se fez duro e sombrio
Tramando este irromper na madrugada,
Assim sem ter carreiro nem um guia
O todo neste instante se veria
Sem nada que inda possa se mostrar,
Somente este cenário em tom atroz,
Em disparada segue mais veloz,
Porém nem mesmo o sonho irá guiar.

599


O Cresce-Míngua assombra o mundo inteiro
Crescendo num momento é gigantesco,
Depois noutro cenário este dantesco
Demonstra na verdade outro luzeiro,
Assim além do quanto é corriqueiro
O mundo sendo sempre pitoresco
Traduz o quanto segue em arabesco,
Marcando com temor, o derradeiro.
Momentos tão diversos deste ser,
Que às vezes diminui ou se faz ver
Num crescimento imenso, sem igual,
Ataca quem surgisse em sua frente
Um monstro tão terrível se apresente
Cenário assustador, duro e venal.

600

A Cuca quando ataca, esse papão
Devora o que surgisse e pressentisse
Ainda que se veja e sem mesmice
O dia se mostrando em direção
Diversa a que se mostre desde então
Terrível, gigantesca gulodice
A Cuca que ao pegar se permitisse
Tramar com fúria intensa a refeição.
Assim se desenhando mais voraz
Jamais a Cuca eu sei se satisfaz
E quer sempre comer um pouco além,
Insaciável monstro na verdade
Enquanto nunca viu saciedade,
Ataca e assim de novo após já vem.

601


A Cumacanga enquanto em lua cheia
Ataca quem deveras encontrar
Cabeça se desenha num lutar
Enquanto segue além e devaneia,
Destarte enquanto o todo ainda anseia
Qual lobisomem fêmea a divagar
Não sabe num instante sossegar
Devora quem vier, quando incendeia
Voando pelos ares, sexta feira
Cabeça iluminada em fogaréu
Vagando muito além em pleno céu,
Ainda que deveras não se queira
Ao vê-la assustadora num instante
Apenas o temor já se garante.

602

Cupendiepe que os jês sempre souberam
São índios que com asas vão além
E neste desenhar o quanto têm
Traçando muito mais do quanto esperam,
E quando noutra cena destemperam
Morando na caverna de onde vêm
Matando se atacados, pois ninguém
Ainda com certeza os superaram.
Porém um dia quando reunidos
Os jês entre outras tribos, presumidos
Momentos de uma glória inusitada
Ousaram invadir esta caverna
E quando no final assim se externa
Uma arma em semi-lua capturada.

603


O curador de cobra, um curandeiro
Imune a tal veneno perigoso,
Ousando num momento caprichoso
Traçando um rumo sempre alvissareiro,
E quando se mostrando por inteiro
O dia se trouxera majestoso,
E sinto este cenário em antegozo,
Tramando a cada instante este luzeiro,
Vencer esta serpente e assim fascina
Deixando para trás o quanto atina
Marcando num cenário sem igual
Depois de tanto tempo em investidas
Como se inda tivesse cem mil vidas
Repete sempre o mesmo ritual.

604


Um Curador de Rasto no seu canto
Tirando estas bicheiras do animal,
Sem mesmo até tocá-lo em ritual
Diverso do que mostre e assim garanto,
Enquanto na verdade em raro encanto
Transforma o que pudera num sinal,
Limpando toda a pele e bem ou mal
Deveras com certeza não me espanto,
Dos bernes e das chagas nada resta,
Imagem que talvez fosse funesta
Agora num momento mais feliz,
Expressa o quanto quero e desejava
A vida se mostrando onde se lava,
Trazendo no final o quanto eu quis.

605

Do milho verde fazes o curau
E deste delicado paladar
Uma iguaria boa de provar,
Mistura-se com a colher de pau,
Colhendo todo o milho no quintal
E nisto é necessário então ralar
E colocando logo a cozinhar
Num doce com certeza sem igual,
Assim nesta colheita garantido
Tocando o paladar, cada sentido
Aroma tão suave se traduz,
E nisto o milho verde transformado,
Neste curau deveras desejado,
Deliciosamente nos seduz.

606

Destes curinqueãs tão gigantescos
Ornados com dourados complementos,
Enquanto se tocando os sentimentos
Moldando estes cenários pitorescos
Assim ao se mostrarem face a face
Gigante se aproxima e dominando
Tornando este cenário mais infando
Mudando o que deveras transformasse,
Nesta Amazônia vejo nas manhãs
Tomando com certeza o quanto é forte,
E nisto nada mais tente ou comporte
Trazendo no final curinqueãs
O dia a dia mostra outro cenário
Além do que pudesse; imaginário.

607

O Curupira traz ruivos cabelos
E os pés sempre invertidos, tal demônio
Causando quando ataca um pandemônio
Gerando com certeza pesadelos,
E os dias quando tento inda revê-los
Ainda que se veja o patrimônio
Quando invadisse a mata algum campônio
Os dias em terríveis passos, zelos,
O caçador passando a virar caça
O Curupira ao fim destrói e traça
Matando e devorando sem perdão,
Um Gênio da Floresta, um Satanás?
Melhor então deixá-lo sempre em paz,
Sabendo dos revides que virão.

608

Fazer na cutilada este festejo
Dois pífanos, zabumba e no tambor
O quanto se mostrara em tal valor
Vivendo o que pudera sem desejo,
E quando se tentara em benfazejo
Caminho desenhando num louvor
E assim neste cenário redentor,
O mundo se desenha em azulejo,
Ouvindo nesta Igreja a cutilada
Imagem com beleza desenhada
Em harmonia e sons tão divinais,
Quem ouve com certeza alguma vez
Depois que este momento em paz se fez
Deseja na verdade sempre mais.

609

O Dã uma serpente consagrada
Que habita este africano Daomé
Trazendo com firmeza sempre a fé
E nisto a cada instante desenhada,
Pelos jejes aqui fora importada
E sei que num momento ou noutro até
Louvada num cenário em candomblé
E sempre quando vem decerto agrada,
Também noutros terreiros e Xangôs
Enquanto esta certeza se propôs
Gerando novo rito no país,
Do sincretismo mais um simbolismo
E nisto se supera algum abismo
E nada neste ponto contradiz.

610


A moça em Dabaru sacrificada
E condenada à morte: esmagamento,
Mas quando se desenha outro momento
A sorte com certeza consagrada,
Assim invés de morta era adorada
E neste caminhar encontra alento
E reina dominando o pensamento
Abrindo com firmeza nova estrada,
E sendo venerada, esta mulher
Fazendo deste todo o que quiser
Na sorte mais audaz e soberana,
Sobrevivendo assim, na sua vida
É como se ela fosse protegida
A preferida mesmo de Tupana.

611

Neste dabucuri selando a paz
Entre estas tribos vejo um bom futuro
E quando isto acontece eu asseguro
O todo que pudesse em passo audaz,
E nisto toda a gente satisfaz,
Trazendo luz; aonde fora escuro
Ultrapassando além este alto muro
Negando o que inda fosse tão mordaz,
Banquete com sublime ritual
Transforma mesmo um povo desigual
Numa irmandade além do próprio tempo,
Unindo então dois povos, com certeza
Num gesto de vigor e de nobreza
Vencendo o que viria em contratempo.

612


Dadá o protetor dos vegetais
De Iemanjá por ter sido o primogênito
Trazendo este poder mesmo congênito
Transporta este poder em rituais
Ao não se ver no espelho refletida
A imagem de quem tanto quis além,
A morte na verdade é o que inda vem
Levando para sempre a leda vida,
Dadá este Orixá superior
Protege a Natureza e o recém nato
A cada novo tempo mais constato
Sem dúvida nenhuma o seu valor,
Coberto pelos búzios se afigura
Suprema e soberana criatura.


613


A Dama de Branco à noite passeando
Pelas estradas, além dos cavaleiros
Escondendo tesouros verdadeiros
E nisto se aproxima desde quando,
Porém num novo instante some após
E dela não se vê sequer mais rastro,
E quando no seu passo eu já me alastro,
Num casarão imenso vejo a foz,
E nada que anuncie esta presença
Da Dama soberana e tão bonita,
A vida se consiste na desdita
E nada mais no mundo hoje convença
Ser alucinação o que se vira,
Tampouco poderia ser mentira.

614

A deusa Dandalunda ou Janaína
Reinando sobre as águas, Iemanjá
Sabendo com certeza o que virá
E nisto em cada passo nos fascina
Beleza que deveras já domina
E todo este momento moldará
Trazendo o que se queira aqui e lá
Rainha dentre tantas, cristalina.
A Mãe Dandá trazendo em tal cenário
Além do que pudera imaginário
Gerando o quanto vejo e assim revelo,
Num ato consonante e magistral
Domina todo espaço sideral,
momento inesquecível, raro e belo.

615


Ao defumar a casa, o mau-olhado
Já se afastando mostra nova face,
E quanto mais decerto se mostrasse
Desenho noutro instante imaginado,
E sendo de tal forma consagrado
Ousando superar qualquer impasse,
Assim a realidade em paz se grasse,
Num ato com firmeza desejado,
E quando se fizer defumação
A vida se traçando em direção
Diversa da que tanto conhecia,
O mundo se aproxima em sintonia
E dias bem mais claros se verão
E neles outro tom em harmonia.

616


Deixar na encruzilhada este deixado
Em oferenda ao santo protetor,
E nisto se desenha redentor
O quanto noutro dia imaginado,
Assim a cada instante enfim me evado
E bebo deste sonho em tal valor,
Marcando cada dia em paz e amor,
Num átimo decerto o desejado.
Assim ao se sentir com tal certeza
O mundo que virá trará beleza,
E toda a sorte sempre mais querida
Mudando a direção desta passada,
A sorte se mostrara iluminada
Trazendo outro sentido para a vida.

617


Xangô usando agora este demanche
Apresentando enfim em cada passo,
O todo que deveras sempre traço
E nisto com certeza não mais manche
A vida se demonstra noutro instante
E gera o que pudera ser além
E o todo quando agora em paz já vem
Futuro sem igual quer e garante,
Qual fosse uma muleta simplesmente
Demanche não traduz algum suporte,
Apenas o que possa e já conforte
Quem caminhar mais longe sempre tente,
E assim ao apoiar este Orixá
Alguma serventia mostrará.

618


Fizesse algum despacho, algum ebó
Trazendo este feitiço a cada olhar,
A vida se pudesse desenhar
E superar do todo qualquer pó,
Muamba, mandigueiro sabe bem
O feiticeiro traz no mesmo instante
O quanto sem limites se adiante
E sabe o que decerto sempre vem,
Assim ao se mostrar neste cenário
A um tempo muito mais do que se quis
Moldando o quanto pude ser feliz,
Até que seja só no imaginário,
Fazendo este despacho busco a sorte,
Deixando para trás tortura e morte.

619


No dia de São Nunca acerto as contas
E tendo esta certeza cobre o juro
E mesmo quando assim eu asseguro
As sortes do passado tu remontas
Verás que também trago sempre prontas
As outras promissórias, e no escuro
Assino sem saber, confio e juro
Ainda que decerto eu sei que aprontas,
No dia demarcado na folhinha
Trinta de fevereiro? Pode ser...
É só chegar que a sorte se avizinha
E todo o pagamento enfim vais ver,
Palavra que se empenha, sendo a minha,
Certeza de que irás, pois receber...

620

Diabo este chifrudo fedorento
Domina algum cenário o rei do mau,
E quando se mostrasse em ritual
Já nem suporto mais tampouco agüento,
Presença deste ser mais agourento
E sei o quanto possa ser venal,
Vagando sem descanso pelo astral
Levado aonde quer e pelo vento.
No fundo este capeta se anuncia
E traz outro capeta em companhia
O Belzebu, também o Satanás,
Cornudo e assim rabudo esse sujeito
Decerto não se cansa e não tem jeito,
Não deixa mais ninguém viver em paz.

621

Quando o capeta der algum dinheiro
É sempre bom benzê-lo mais depressa
Senão este tumulto recomeça
Além do que pensara costumeiro,
Sabendo que este bicho é tão ligeiro,
É necessário sim ter muita pressa,
Ou mesmo em folha seca isso se apressa
Não deixa nem o rastro sequer cheiro,
Deveras na verdade este demônio
Investe contra o próprio patrimônio
Tentando assim comprar uma alma a mais,
E mesmo até decerto sendo audaz,
O olhar feito em cinismo Satanás,
Expressa o quanto anseia em dias tais.

622


A Festa do Divino, secular
Trazendo na Bandeira este sinal
De um dia com certeza sem igual
E nisto em procissão a desfilar,
Tramando com firmeza algum lugar
E neste bom cenário o triunfal
Caminho se aproxima magistral
E passa a cada instante a dominar,
Devotos acompanham a Bandeira
E quanto mais se mostra o quanto queira
Traduz a fé de um povo, assim cristão,
Enquanto espera a volta de Jesus
Marcando cada olhar, intensa luz
Desenha com firmeza a direção.

623

Doú, terceiro filho gemelar
Enquanto que Abalá seria o quarto,
Trazendo com certeza neste parto,
O todo ou muito além se imaginar,
Tomando com certeza o seu lugar
Assim neste momento já comparto
E sigo este caminho mesmo farto,
Tentando novamente até sonhar,
Deveras se mostrando logo após
O quanto se aproxima assim de nós
Reinando sobre tudo, gêmeos vejo,
E neste caminhar em tom diverso
Ousando muito além deste universo
O todo que inda quero a cada ensejo.

624

Dué ao dominar os tarianas
Matando numa seca toda a vida
A sorte desta forma destruída
Sem mais saber até de almas humanas

Tupana num instante volta à Terra
Dué vê-se obrigado a desfazer
Trazendo nova vida a cada ser
E neste desenhar a sorte encerra,

Marcando com enchente após estio,
A vida assim voltando num instante
Deveras noutra face se garante
Inundação tomando inteiro o rio,

Assim depois do acontecido,
Dué jamais foi visto ou esquecido.

625


O Dunga comandando o povaréu
Senhor de todo mundo que o conhece,
Ainda que tramasse noutra prece
Chegando até mais perto deste Céu
Ousando muito além em claro véu,
Transforma o quanto quer e assim comece
Enquanto todo o ser sempre o obedece
Sabendo ser deveras mais cruel,
Ninguém vai discutir o seu poder,
E nisto com certeza eu posso ver
No olhar do manda chuva do pedaço
O quanto poderia e mesmo quer,
Vencendo com firmeza o que vier,
E assim a cada instante um novo traço.

626


Fazendo deste ebó minha defesa
Pousando num trabalho, num despacho,
E quando outro caminho encontro e acho
Já sem saber sequer de uma surpresa,
A vida se mostrara sendo presa
E neste desenhar, noutro riacho
Acende da esperança cada facho
E nisto alguma sorte segue ilesa.
Depois de certo tempo se anuncia
O quanto se mostrara; alegoria
E a sorte desenhando novo passo,
Ainda que se mostre desigual,
O ritmo que pudesse sensual,
Enquanto o meu caminho eu mesmo traço.

627


As ebômins que são filhas de santo
E com mais de sete anos de terreiro
Dominando iaôs, num verdadeiro
Cenário aonde o passo além garanto,
Assim quando deveras me adianto,
E sinto este momento derradeiro,
O quanto poderia aventureiro
No fato mais sutil jamais me espanto,
Antiguidade sim define o posto
E tendo aqui deveras mais exposto
Num fato onde traduz realidade,
Depois de certo tempo, esta verdade
Traduz o quanto fora a mais proposto
E nada com certeza isto degrade.

628


Destas filhas de santo vejo a dança
E nela de repente para trás
Aquela que se mostre mais audaz,
Dobrando os seus joelhos, pois avança
Assim ao demonstrar tanta pujança
Enquanto cada passo a satisfaz
O todo desejado agora traz
O que permite ao fim uma mudança,
O corpo se dobrando totalmente
No Ecu que doravante se apresente
Um claro ritual deste terreiro,
Mostrando o quanto possa então o ogã
Mudando este cenário; onde este afã
Pudesse se mostrar e por inteiro.

629

E quando em efifá feitiços fazes
Tentando aprisionar o teu amor,
E nisto se mostrando o seu valor
Em passos com certeza mais audazes,
Assim momentos nobres e tenazes
Traçando cada passo redentor,
Vibrando em consonância molda a cor
E nisto se anunciam novas fases.
E sem sequer saber de outro momento,
Ainda na verdade eu busco e tento
Vencer o que inda possa e sendo assim,
Aos poucos se desenha outra verdade
E nela farta luz em claridade
Ditando o pleno amor dentro de mim.


630

A cor que se escolhesse pra pintar
Desta iauô fazendo uma cabeça
Pelo babalaô já se obedeça
A cor que inda pudesse adivinhar,
E neste Efum tentasse desenhar
O quanto na verdade sempre teça
E desta forma vejo o que mereça
Ou mesmo poderia imaginar,
Depois de uma lavagem se desenha
Na cor que tantas vezes já se empenha
Invés das cicatrizes do passado,
Assim neste momento tão sonhado
Um novo caminhar; enfim garanto
A mais nova no Efum, filha de santo.

631


Num culto aos mortos, fosse este egungum
E nele se traçando o quanto vem
O tempo desenhando o mesmo bem
E dele já se vendo sempre algum
Sinal onde se possa perceber
Esta alma que vagasse no terreiro,
Mostrando este cenário derradeiro
E nisto se aproxima algum querer,
Tramando em candomblé cada festejo
E neste fato trama a melhor sorte
Do quanto se aproxima e assim comporte
Bem mais do que eu pudesse e até desejo,
Invocações diversas a quem fora,
Uma alma ressurgindo redentora.

632

Uma Équédi que ajude sendo serva
Daquela que se fez filha-de-santo
Deveras na verdade eu adianto
O quanto em tradição já se conserva,
No vestuário e até na devoção
Aos Orixás marcando em concordância
Gerando o que pudera nesta instância
Tramando com firmeza a direção
E assim neste momento se percebe
A serviçal deveras subalterna
E neste desenhar a luz eterna
Domina com certeza qualquer sebe,
Cuidando com carinho de quem traça
Além de meramente uma fumaça.

633

Um Eledá protege os feiticeiros
Qual fosse na verdade anjo-da-guarda
E sempre que pudesse já resguarda
Preserva dos perigos corriqueiros,
Momentos entre tantos, verdadeiros
Enquanto esta certeza ora se guarda
E traça com firmeza o quanto aguarda
Diversos elementos, nos terreiros,
Assim ao se mostrar este Eledá
O todo com certeza; mostrará
Na possibilidade mais real,
Usando em proteção tal salvador,
Moldando com beleza além da dor
Um passo bem mais firme e sem igual.

634


Eleubá, complementando Exu
O deus do mal conforme algum Satã
Tornando assim a vida bem malsã
Desgraça se mostrando sempre a nu,

E assim se desenhando este demônio
Que tanto dominasse algum terreiro,
Deveras Orixá mais mandigueiro
Gerando a cada instante um pandemônio,

E nisso se aproxima sempre o mal,
Tocando com temor cada momento,
E quando no final nem mesmo agüento
Ao ver este temível ritual,

Exu domina quando além persiste
Deixando o dia a dia bem mais triste.


635


Vidente que traduz em Eluô
Domina com certeza este cenário,
E muito além de um ser imaginário
Num alto grau se vê babalaô
Entre os jeje-nagôs se anunciando
E nisto se desenha muito além
Do quanto na verdade já convém
Um ser decerto e desde quando
Tomasse esta importância no terreiro
Supremo algum vidente sem igual
Eluô dominando o ritual
Decerto um alto grau de feiticeiro
Adivinhando com sabedoria,
O todo ou muito mais que poderia.

637


Um emapu levando este cigarro
Nas festas que deveras tu já vês
No cerimonial dos Uaupês
Enquanto com certeza não desgarro,
Traçando esta forquilha que esculpida
Fincando então no chão quando descansa
E assim noutro momento em temperança
Regendo o que pudera em torno à vida
Ao mesmo tempo os velhos, tradições
E lendas desta tribo vão contando
E nisto desenhando e se mostrando
As mais diversas várias emoções,
E no emapu descansa então o fumo,
Que a cada novo instante assim consumo.

638


Na Embanda outros terreiros são submissos
E nelas o Quimbanda, o curandeiro
O médico que mostra por inteiro
Assim os mais diversos compromissos,
Remédios naturais, ou as milongas
Porém quando se ousando na magia
Má-umbanda desenha o que seria
Diverso dos remédios, onde alongas
A cura noutra face desenhada,
Diversa da que traz os feiticeiros,
Muloji, são tais seres costumeiros
E não sendo Quimbandas, escalada,
Um curandeiro enquanto a medicina
Trazendo outro caminho, noutra sina.

639

Encanteria, como pajelança
Nas terras dos sertões do Piauí
Trazendo o que decerto eu conheci
E o tempo noutro tanto já se avança
A vida que eu quisera bem mais mansa,
Traduz o quanto possa e percebi,
Depois deste momento sei que aqui
A vida se desenha em temperança,
Um pai-de-santo traça num instante
Doutrina onde pudesse então curar,
E nisto se apresenta e se garante
O quanto pude mesmo imaginar
Até que se tentasse garantir,
A sorte que se vê noutro porvir.

640


Encomendando as almas no passado
Um ritual antigo onde saíam
Os homens que deveras se vestiam
Num ato noutro fato anunciado,
Marcando cada tempo desejado
E nisto novos dias se trariam,
Cerzindo o que deveras poderiam,
Mudando este formato delicado.
Assim ao se mostrar quanto obedece
O coração deveras numa prece,
Em procissão noturna, velas; vejo
E na quaresma então melhor ensejo
E neste ritual assim se tece
O quanto se viceja em tal desejo.


641

Nestas encruzilhadas de uma vida
Quando se encontrarão vários caminhos
Em passos prazerosos ou daninhos
A sorte se percebe ou vai perdida,
Talvez a solução noutra saída
Ou mesmo um turbilhão, tantos espinhos
Trabalhos e feitiços mais mesquinhos
Ou luta desejada e além querida,
Dos povos europeus, origem tem
Os rituais que trazem tal presença
Invés da voz mais forte que se pensa,
Querendo maltratar/louvar alguém
Na encruzilhada eu vejo estes sinais
E neles variados rituais.



642


Endilogum, em búzios mostra a sorte
Feitiço de OIokum lendo o futuro
Pelo babalaô eu me asseguro
Do tempo que maltrate ou já conforte,
Os guias me mostrando qual o norte
Um passo não se dando mais no escuro,
Ultrapassando além de qualquer muro,
A própria solução se faz aporte,
E quando me entregando ao que virá
A vida modifica desde já
E num Endilogum lançado vejo
O quanto poderia e mudará,
A cada novo passo, noutro ensejo
Mais forte que qualquer novo desejo.


643

Usando dos ensalmos, rezador
Curando qualquer mal que inda vier,
Moléstia de menino e de mulher,
Maleita no caboclo, sim senhor,
Poder desta oração tem tal vigor,
E nela não se vendo outra qualquer
Que possa nos trazer o que se quer,
Nem tendo esse poder mais curador,
No Ensalmo que se faz com precisão,
A sorte muda até de direção
E o sofrimento enfim já se alivia,
Promessa que se faz o curandeiro,
Um bravo rezador, e por inteiro
O corpo se limpando em alegria.

644


Fazer do Envultamento uma vingança
Usando do boneco em tal tortura
Causando no rival tanta amargura
Enquanto este cenário assim avança,
Marcando com terror, temor e lança
Ainda que pudesse e sem brandura
A pele com furor já se perfura,
E nisto com tal fúria não se cansa,
E deste ritual universal
A sorte se desenha em farto mal,
Trazendo neste olhar cada momento
Aonde prenuncia em ar feroz
Tanto ódio demonstrado pelo algoz
Causando a quem vitima o sofrimento.

645

Erê que acompanhou filha de santo
Suavizando assim obrigações
Das feitas em diversas dimensões,
Diminuído o peso deste encanto,
É filho de Xangô, mas, entretanto
Um Orixá sem grandes expressões,
E encontra em seus caminhos, direções
Que levam para infância, e sem espanto.
Fazendo estripulias quais crianças
Falando uma linguagem infantil,
De quem nunca cresceu e jamais viu,
Aonde com firmeza além alcanças
Erê não conhecendo o ser maduro,
Mantendo o coração, suave e puro.

646

Uma esperança voa em liberdade
Trazendo um bom presságio onde pousar
E nisto posso mesmo assegurar,
Aonde com seu verde belo invade,
O tempo se desenha em realidade
E sei do quanto pude imaginar,
Momento mais feliz e me entregar
Sem medo a mais completa claridade,
Depois do sofrimento costumeiro
De quem se deu decerto mais inteiro
Ao ver uma esperança tive a sorte
Que tanto me edifica e me conforta
Abrindo dos mistérios cada porta
Na vida se moldando um novo aporte.

647


Lançando algum eté, a vida segue
E mesmo que esta praga pegue; eu sinto
Caminho mais aberto e sigo instinto
Enquanto o dia a dia além prossegue,
Sem nada que deveras inda negue,
Dos sonhos mais audazes eu me pinto,
E vejo a solução enquanto minto
Marcando o que deveras me sossegue,
Pois venha então eté que nem mais ligo,
Encontro na verdade o meu abrigo
Vencendo os dissabores, dia a dia,
E quanto mais se vendo outro cenário,
O tempo segue além do imaginário
E toda a sorte imensa se faria.


648

No cemitério eu pego alguma terra
E dela vou fazer o meu feitiço,
Etu que eu te garanto é mais mortiço,
Mistérios que esta vida em si encerra,
Depois de cada passo, a vida berra
E traz o que pudera noutro viço,
E quando algum momento inda cobiço
Verdade se anuncia e jamais erra,
E deste Etu que fiz, pode saber
Ninguém escapará de tal poder
Curando qualquer dor ou mesmo o mal,
Verás este trabalho com carinho,
E nisto não serás jamais sozinho,
Num mundo mais risonho e sem igual.

649


A tempestade eu vejo no horizonte
Aproximando forte e vigorosa,
Pedra de Santa Bárbara se apronte
E vença a chuva intensa e caprichosa,
Unindo com a Santa a imensa ponte
Fazendo no Etu-tu; a poderosa
Prece que nos permita e o sol desponte
Aplaca a ventania belicosa;
Assim se protegia a minha avó
E o tempo se mostrando quase um só
Também a minha filha saberá
Dos segredos de Deus e seus mistérios
A dádiva divina entre critérios
E a vida a cada instante; a paz trará.


650


Entoa uma Excelência a quem se fora,
Velando uma alma a mais que segue além,
E nisto num momento, outro também
A vida segue em luz renovadora,
E assim quando se pensa sonhadora,
Apenas outro passo que já vem
Mudando a direção de novo alguém
E ao fim será bem mais reveladora.
Uma Excelência abrindo estes caminhos
E tira a cada instante os mais daninhos
Momentos que pudesse imaginar,
Assim ao se mostrar bem mais sincero
Falando do futuro que inda espero
Uma alma para Deus a encomendar.

651

Exu, feito diabo e gozador
Atrapalhando sempre algum trabalho
Corrupto salafrário neste atalho
Produz o mal do modo que ele for,
Assim ao se mostrar quase político
Demônio se mistura num Ebó
E sem ter qualquer pena, ou mesmo dó
Aético e safado, sempre lítico

Destrói qualquer feitiço se pro bem,
Mas quando num agrado silencia,
Deixando então correr o dia a dia,
Aceitando deveras o que vem,

Diverso do Capeta é corruptível
Congresso Nacional tem mesmo nível.

652


As Fadas anunciam sortes várias
E domam cada passo que se faz,
Num ato mais sereno ou tão mordaz,
Ora definitivas, temporárias,
Assim ao se mostrar em tal fadário
O mundo se traduz inconsistente,
E quando um novo passo ainda eu tente
O tempo se anuncia qual corsário,
E vejo este momento movediço
Morrendo noutro instante mais diverso,
E tento acreditar e estar imerso,
Sabendo que ao final não mais me viço,
O quando corrediça é nossa vida,
Das Fadas cada história é conhecida.

653

Famaliá guardado com cuidado
Numa garrafa, vejo o diabinho,
E sei que controlando o tal mesquinho
O mundo será sempre em meu agrado,
E quando a cada instante teimo e brado,
Retira dos cenários um espinho,
E o mundo; aonde eu sigo e me avizinho
Terá com mais firmeza um nobre Fado,
Destino com certeza mudará
Quando enfim tiver Famaliá
Criado com cuidado e preso ali,
Trará dinheiro e sorte em tal fortuna,
Que mesmo quando o tempo vão nos puna
Ao menos um prazer raro eu senti.

654

Dançando este fandango, o marinheiro
Trazendo das viagens emoções
Diversas entre tantas direções
Também traz a riqueza e mais dinheiro,
O mundo se mostrando companheiro
E nele vejo novas estações
E quando cada passo me propões
Presumo o quanto possa ser inteiro,
Vencer os dissabores, prosseguir
Ousando no que tanto possa vir,
Encontro os meus anseios satisfeitos,
E de tal forma sigo o meu caminho
Sem medo do que surja, até daninho,
Cumprindo com firmeza tantos pleitos.

655


De uma feitiçaria se bem feita
Deveras não escapas, com certeza
Podendo caçador ou mesmo a presa,
A luta não descansa e não se aceita,
Vencendo o que viria e se deleita,
Correndo contra toda a correnteza
Sabendo desta luta sem defesa
A conta que se paga, enfim se ajeita,
E quando do quebranto se fizer
Bem mais do que momento onde qualquer
Sinal já te traria outro detalhe,
Ainda que tentando em vão batalhe
Serviço se bem feito se completa
De uma maneira audaz, ou já discreta.

656


Às vezes se fazendo o santo em pé
Invés de se guardar em ritual,
Raspando a cabeleira, em pontual
Desenho que se faz, mesmo com fé,
Não tendo mãe de santo e sequer pai,
O tanto que se possa não importa
É como se adentrasse pela porta
Aonde normalmente o povo sai,
Nesta improvisação se demonstrando
A flexibilidade do terreiro,
Um fato mais comum e corriqueiro
Num ato mais suave e bem mais brando,
O santo feito-em-pé denigre a crença
Criando no final mais desavença.

657

A ferradura traz decerto a sorte
Abrindo estes caminhos com certeza,
Porém só se encontrada de surpresa
Nas ruas ou calçada aonde aporte,
Mudando o dia a dia, traz num norte
Bem mais do que eu queria em tal firmeza
Grassando muito além da correnteza
Gestando o que deveras nos conforte,
É tradição antiga, meu senhor
E nisto se mostrando o seu valor,
Criando uma esperança salutar,
Que possa todo o rumo num alento
Trazer neste segundo o que mais tento,
E meu caminho todo em paz moldar.

658


A figa que carrego junto a mim
Trazendo a boa sorte que eu queria,
E assim mostrando o quanto em alegria
A sorte diz do bem que vejo enfim,
Além do que pudera no jardim
Dos sonhos em diversa fantasia,
A dita de tal forma se irradia
Brilhando muito além, brilho sem fim,
Vencendo os descaminhos posso além
Viver o quanto tento e me convém
Tramando o que pudesse ser diverso,
Na figa que trouxera em amuleto,
O quanto mais desejo e já prometo
Traçando com firmeza este universo.

659


Quem cuida de algum culto ao Orixá
Sacerdotisa mesmo do terreiro,
Cavalo para espírito, ligeiro
Aonde todo o mundo mudará,
Expressa o quanto possa e me trará
O todo desenhado e mais certeiro,
Num passo com denodo e verdadeiro,
Filha de santo além nos guiará,
E sei desta importância que ela tem,
Futura mãe de santo? Pode ser,
Ao demonstrar então tanto poder,
Vivendo o que pudera e muito além,
Do cerimonial cuidado em paz,
Regendo tudo em volta, a base traz.

660

O Caipora-fêmea, a Flor-do-Mato
Protege toda a caça, e quando irada
Não deixa que se cace então mais nada,
E nisto a cada instante mais constato
Poder que ultrapassando um mero fato
Expressa a realidade demonstrada
Na sorte tantas vezes desenhada
Tramando noutro passo um desacato,
Gostando de brincar de esconde-esconde
Qualquer provocação ela responde
E o caçador se dana num instante,
Ainda com certeza se mostrasse
Vencendo qualquer medo e sem impasse,
Ao quanto poderia se adiante.

661


Fogo do Tartaruga, assombração
Que surge como tocha em noite escura,
Aumenta e diminui esta figura
Até que no final restando o não,
No Ceará é mito ou tradição?
O povo que conhece sabe e jura
Que quando ela surgindo configura
Castigo ou mesmo até a provação,
Alguns pensam já ser o fátuo-fogo,
E não precisa mais se prece ou rogo,
Que logo se acabando assim sozinha
Eu posso assegurar, tenho certeza
Da forma que isso for não é surpresa
Nem coisa benfazeja e nem daninha.

662


Folias que se vendo em várias datas
Traduzem tradição cristã mostrando
Um tempo aonde o mundo fora brando
E neste caminhar tanto arrebatas,
Nas casas entre festas já constatas
O tempo noutro tempo transformando
E agora nova face vai tomando,
Mas sempre renascendo e assim resgatas.
Passado confundindo com presente,
Nos Reis e no Divino se apresente
E da Ressurreição ao Pentecostes
Percorrendo estas ruas, logo notes
Um ritual há tempos consagrado
Que quando vejo aqui sempre me agrado.

663


O Gade entre os ciganos representa
Esta união num rito mais sagrado,
E quando o casamento assim selado
Supera qualquer medo ou vã tormenta,
A sorte de tal forma se apresenta
E neste caminhar além invado
O mundo desenhado e anunciado
Na vida com certeza onde se assenta,
O amor que nada impeça e nada tolha
Levando como pluma, como folha
O vento suavemente em brisa mansa,
E quando a mansidão agora invade
Relembro cada cena deste Gade,
Mantendo o meu olhar em esperança.


664


Galope desenhado à beira-mar
Num ritmo demarcado em som e dança
E nisto se transforma enquanto alcança
Tramando cada passo em seu lugar,
Podendo na verdade desejar
O quanto se anuncia em temperança
A vida se promete em tal fiança
Tocando a noite inteira sem cansar,
Ousando no martelo agalopado,
O mundo noutro mundo desenhado
Desejos sem igual, e a vida passa
Marcando em consonância o que viesse
Galope se transforma quase em prece
Cantado pelo povo, pela massa.


665

Tocando este gambá em couro cru,
Dançando algum forró em noite imensa,
O coração não cansa e se compensa
No corpo da morena, agora nu,
Depois de tanto tempo procurando
Aquela que me desse seu amor,
Vislumbro neste instante redentor
O dia mais suave em contrabando,
E quando ouvisse ainda algum gambá
Saudades deste encanto que pudera
Apascentar vontade, audaz e fera
Trazendo o quanto possa e mostrará
Felicidade intensa, dia a dia,
E o mundo noutra face se faria.


666

Que Ganga-Zumba sempre nos proteja
De todos os tormentos desta vida,
A sorte de tal forma concebida
Promessa de uma história benfazeja,
Assim a cada passo que se veja
A noite em tanta paz já construída,
Marcando com ternura a tão sofrida
E amarga e sem sentido, vã peleja,
E tendo em Ganga-Zumba um aliado,
Meu mundo com firmeza desenhado
Já nada mais temesse vida afora,
E quando a sensação de paz domina,
A mente se mostrando cristalina
Nem mesmo o temerário me apavora.

667

O som deste ganzá adentra a casa
Convida para a festa, mas sei bem
Que quem eu tanto quero já não vem
E assim nem este som em vão me abrasa,
Meu passo a cada instante sempre atrasa
Sabendo o que pudesse e me convém,
Apenas a saudade deste alguém
Tocando o coração e criando asa.
Pudesse ser feliz, ah quem me dera
A vida se mostrasse mais sincera,
Porém neste momento tão sozinho,
Ganzá me convidando, porém sigo
Meu sonho se condena ao desabrigo
Ausente dos meus olhos novo ninho.

668

Fazendo a garrafada, o curandeiro
Trazendo logo a cura pra quem busca
A vida se mostrara bem mais brusca,
Porém o tiro segue mais certeiro
Das ervas misturadas, melhor sorte
Aliviando sempre o sofrimento,
E quando este cenário em paz eu tento
Ao menos qualquer coisa me conforte,
Usando destas mágicas, seguindo
O tempo se anuncia mais tranqüilo
E quando neste todo eu já desfilo
O quanto poderia ser infindo,
Da imensa tradição de nosso povo,
Depois de certo tempo, eu estou novo.

669


Os Goiazis, miúdos quais pigmeus
Morando na Amazônia de outras eras
Enfrentam com vigor diversas feras,
E trazem nos olhares mais que breus,
Sem medo do futuro e sem adeus,
Anões já não temiam mais quimeras,
E tendo mais pequeninas as taperas
Rendendo nobre prece pra seu Deus,
O tempo destruindo esta visão,
Restando na verdade a tradição
De um povo que perdido além da vida,
Já nada mais restando, nem a sombra
Apenas a figura que inda assombra
Da civilização que eu sei perdida.

670


Gorjala quando ataca; esfomeado
Não deixa sobrar nada no caminho,
Devora qualquer ser este daninho,
Matando com terror o desgraçado,
Assim ao se pensar, decerto evado
E sigo para além e se sozinho
Sabendo do gigante mais mesquinho
Eu sigo com firmeza e mais cuidado,
O Polifemo traz com tanta fúria
A luta se desenha em tal incúria
E nada nem ninguém sobrevivia
Ao monstro gigantesco e não se cala
Quem tanto se mostrara em agonia
Ao encarar de frente este Gorjala.

671


Zé-Capiongo o vulgo Gritador
No São Francisco mostra sem senão
O quanto pode mesmo a assombração
Aboiando o vazio, o sofredor,
E assim a qualquer hora que inda for,
Não tendo nem sentido ou direção
Vaqueiro já perdido no sertão,
Conforme enfim sentisse imensa dor,
Na sexta feira ouve-se o cavalo,
Também o seu cachorro em noite escura,
E quando escuto além eu já me calo,
A solidão deveras o tortura,
E nisto eternamente este vassalo,
Amenizar castigo enfim procura.

672

Guajara numa noite em pleno inverno
Ataca ao imitar vozes e caça
E perturbando quem deveras passa,
Fazendo do cenário algum inferno,
E quando nestas matas eu me interno
O tempo se esvaindo se esfumaça
E sei que tão somente esta desgraça
O bicho sem respeito, ledo e eterno,
Açoitando os cachorros, prega peças
E mesmo que deveras recomeças
O traste não sossega e volta à cena,
Assim na noite escura e sei mais fria
O quanto este fantasma poderia,
Já nada mais decerto inda serena.

673


Os guararás marcando a nossa dança.
Espécie de chocalho, na cabaça
O quanto neste ritmo já se traça
Enquanto a vida segue além, avança,
Assim trazendo viva esta lembrança
De um tempo mais feliz, em mesma praça
A sorte se traduz como fumaça
Que além do seu caminho nada alcança,
E tento em diversão seguir a vida,
Há tanto noutra face mais sofrida
E sem sentido mesmo vez em quando,
Porém na dança feita com cuidado,
Meu mundo noutro termo desenhado,
Aos poucos com certeza se mudando.

674


Gu-Ê-Crig um tremendo zombeteiro
Apronta sem limites, sem juízo
Causando a toda tribo prejuízo
Num ato tão safado e corriqueiro,
Assim ao se mostrar além e inteiro,
Chegando sem sequer qualquer aviso,
No quanto poderia este impreciso
Transforma o tempo todo, um feiticeiro,
Jamais sossegaria, pois o facho
E quando no caminho então eu acho
As marcas deste ser tão indecente,
Depressa me esgueirando desta trilha
Senão ali na frente uma armadilha
É tudo o que este olhar inda pressente.

675


O Gunucô fantasma da floresta
Consulta e mesmo cura qualquer mal,
Um santo muito além do habitual
Não traz na sua mão trama funesta,
E quando a tal cenário inda se empresta
Ousando num momento em ritual,
Embora esta presença é anual,
Se é convocado ao todo já se presta,
Assim o Gunucô abençoando
Quem tanto procurara desde quando
Algum tormento teve em seu caminho
Amenizando a dor e o sofrimento,
Trazendo para tantos um alento
Bendita divindade molda o ninho.

676


Iabaim; a mãe das bexiguentas
Varíolas que mataram tanta gente
E quando nesta cena se apresente
Ainda que deveras, mesmo tentas
Vencer as tempestades e tormentas
Aonde cada fato se incremente,
E nisto o corpo traz o penitente
Momento entre tais cenas turbulentas,
Assim ao perceber o fim de tudo,
Ao quanto me pudera não me iludo
E sigo este caminho, e dentro em mim,
A proteção divina procurando
E nisto noutro tempo desenhando
Vencendo com firmeza esta Iabaim.

677

Famosa feiticeira do Recife,
Iaiá de Ouro trazia em clientela
A sorte mais ousada onde se atrela
E nisto desenhara o seu cacife,
Enriquecendo logo, a feiticeira,
Também foi curandeira e num trabalho
Enquanto noutro ponto traz o atalho,
Aonde já se mostra o que se queira,
Dominava com pulso bem mais forte,
Gerando após o tanto outro caminho
Vencendo qualquer rumo mais mesquinho
Potente em alto crédito no Norte,
A tradição deixando como herança
Seu nome os dias de hoje ainda alcança.

678

Dominando as tempestas, Iansã
Reinando sexta-feira, esta Orixá
Também é conhecida como Oiá
É poderosa deusa em seu afã,
Na briga que causara, por amor,
Ogum ao enfrentar Xangô já via
O seu caminho em dor e em agonia
Entregue sem defesa ao vencedor,
Assim ao se embalar nesta coroa
De esposas que Xangô trouxera além,
A cada ventania sempre vem,
No raio que decerto além ecoa,
Vermelho e branco são as suas cores,
E mostra aos Orixás poder de amores.

679


Uma Iaô servindo no terreiro,
Filha de santo nova e no começo
Da vida que se mostra e sem tropeço
Presume no futuro alvissareiro,
Ajuda nos trabalhos, verdadeiro
Caminho para além quando obedeço
Traçando o que deveras tanto teço
E nisto traz à vida o seu luzeiro,
Assim sacerdotisa, esta noviça
Demonstra no futuro o quanto viça
Em esperança a clara hierarquia,
Dos Orixás também é protegida,
E nisto o quanto veja e não duvida,
Um rumo mais audaz demonstraria.

680


Da virgem que parira Iapinari,
Que nascendo em cegueira foi curado
Ao ter nos olhos sumo ora esfregado
Dos olhos de um cancão, história ouvi,
Ao contar o segredo a quem amara,
De novo Iapanari ficara cego,
E nisto noutro instante onde me apego,
A sorte sem proveito se escancara,
Transformado em rochedo num instante
E quem neste cortejo se adiante
Encontra em resultado o que se vira
Também já se encantando desde o fato,
Aonde a vida traça outro retrato
E neste caminhar o tempo gira.

682

Iara esta mãe-d’água nos permita
Vencer os desacordes dia a dia,
E quando se percebe o que viria
A sorte se desenha mais bonita,
A cada novo instante assim palpita
Tramando muito além da fantasia
Além do que inda mesmo eu poderia
A vida neste encanto precipita,
Assim esta Iemanjá que acaboclada
Transmite esta potência e nos traduz
A imensa e mais diversa fonte em luz,
Presume esta beleza desenhada
Num ato soberano em divindade,
O amor em consonância nos invade.

683


Iemanjá, a deusa que domina
Os mares, águas traz em força plena
O quanto tantas vezes nos serena
Nos braços desta amada Janaína,
E quando mais de perto, nos fascina,
E traz a sorte imensa e mais amena,
Protege o pescador em vida plena,
E assim cada momento determina,
Rainha soberana esta Orixá,
Gerando o deslumbrante; Iemanjá
Ditando o seu caminho verdadeiro,
Renova-se e traduz a liberdade,
Comemorando sempre a divindade
A cada novo dois de fevereiro.

684


Ifá, um Orixá que vislumbrando
Adivinhando mesmo o que inda vem,
Vencendo qualquer medo traz o bem
E nisto se mostrasse bem mais brando,
Olhando com o Ifá, o feiticeiro
Sabendo do futuro que virá
Nas mãos e nos caminhos do Orixá
O dia a dia molda o verdadeiro
Momento onde seguisse com firmeza
Traçando noutra face o que pudesse
E tendo muito mais que alguma prece
Traduz o quanto possa com certeza.
Trazendo este futuro para nós,
Unindo passo a passo em firmes nós.

685

Batendo neste ingono, em candomblé
Trazendo em percussão já demarcado
Desenho deste toque que ritmado
Permite traduzir a imensa fé,
E assim o que pudesse ser quem é
No som deste tambor, o consagrado
Aos santos, orixás trazendo ao lado,
Bem próximo ao quero ou mesmo até.
Que toda a sorte sempre nos proteja
E quando a vida trace benfazeja
A luta não se cansa e não termina,
Ouvindo cada toque ora me adono,
Dos sonhos que pudessem neste ingono
Traçar a vida clara e cristalina.

686


Ipupiara mora em cada fonte
Homem-marinho trás a imprecisão
E o pescador sem rumo desde então
Ainda na verdade desaponte,
E quando se anuncia no horizonte
Mudando com certeza a direção
Enlouquecendo enfim a embarcação
Um Gênio na total profanação,
Assim a cada instante desampara
E nisto se mostrasse Ipupiara
Um monstro, este fantasma que em verdade
Atrapalhando enfim a pescaria,
A cada novo instante mostraria
Além do que deveras se degrade.

687


O fícus, conhecido Iroco dita:
Ao ser cortado a seiva se transforma
Em sangue e na verdade nesta forma
A morte se aproxima atroz, maldita.
A sina se desenha e necessita
Além do que pudera noutra norma
Enquanto a realidade se deforma
Criando outra incerteza em voz aflita,
Assim da gameleira se afastando
Senão este momento mais nefando
Trará em desventura o seu final,
Marcando em tom mordaz o que viria
Se ao se mostrar além em ousadia
Encontraria ali golpe fatal.

688


Quando no iruqueré, a mosca afasta
Qual fosse deste boi um rabo vivo,
Mostrando o quanto possa e não me privo
Da vida que deveras sinto gasta,
Supera a sensação dura e nefasta
E traz alívio mesmo em lenitivo
Deixando no passado em novo crivo
Nesta perturbação já dando um basta.
Também significando realeza,
Iruqueré remonta ao velho Egito,
E neste desenhar eu acredito
Tramando este caminho sem surpresa
Um leque original, eis a verdade,
Vencendo o que deveras desagrade.

689



Este Isquelê surgindo, aparição
Que numa encruzilhada enfim surgia
Gerando no final esta agonia
Mudando a cada instante a direção,
Assim os dias novos que virão
Traçando muito mais que assim queria,
Vestindo o que decerto mudaria
Tramando muito além a assombração,
Assusta quem encontra no caminho
Um viajante surge e vai sozinho
E quando no final apenas vê
Invés do que pensara em tom macio
Causando na verdade um desvario
Marcado na visão deste Isquelê.

690


Apenas o Amuxã pudesse usar
Açoite todo branco, um amuleto
E quando num momento eu me acometo
Da fonte que jamais irá secar,
O mundo se aproxima e devagar
A cada novo instante mais prometo,
E vivo o quanto possa neste gueto,
Ousando noutro passo caminhar.
E assim tendo nas mãos o seu Ixã
Domina com certeza este Amuxã
Um sagrado instrumento de Egungum,
Assim ao se mostrar realidade,
O tempo quando além tomando invade,
Dos rastros que eu seguira, mais nenhum.

691

Iyalorixá governa este terreiro,
A mãe de santo mostra o seu poder,
E traz a cada novo alvorecer
Momento mais sublime em seu luzeiro,
Assim se desenhando por inteiro
O quanto deste todo eu posso ver,
Marcando cada instante a renascer,
Desenha o que se mostra verdadeiro,
Escolhida entra as filhas, governando
O candomblé inteiro desde quando
Ao ser a preferida, reina agora,
E quando se ascendesse em tal reinado,
O passo com firmeza desenhado,
A voz que dominando hoje vigora.

692


Jaci, a mãe dos frutos, bela lua
Deitando nos seus raios os clarões
Em festas e diversas louvações
A tribo homenageia e assim cultua
Do reino vegetal enquanto atua
Presume novos ritos, direções,
E quando neste fato tu compões
Uma alma que serena além flutua,
E vendo a maravilha desde aqui
Na luz deste luar Bela Jaci
Tomando a noite inteira em claridade
E quanto mais me entrego sonhador,
Os sopros do que fosse um raro amor
Traduzem este encanto que ora invade.

693


Jacurutu gigante assustador
Matando quem deveras se aproxima
Devora o ser humano e traz por cima
O olhar com tanta fúria aterrador,
Disseminando enfim a imensa dor,
E nisto o quanto nega e segue acima
Marcando com terror e assim suprima
Um furioso ser, devorador.
Porém assassinado na batalha
Aonde o Yurará-Ramonha o vence,
A cada novo instante e no non-sense
Figura antropomórfica se espalha
Os Muras que eram netos do gigante
Vingando a sua morte, noutro instante.

694

Jejes, povo que vem de Daomé
Escravizado trouxe para nós
Uma influência enorme, e em forte voz
Moldando também eles nossa fé,
Assim e também vejo por que é
Num mundo tão diverso e sempre atroz,
Modificando rumo e mesmo a foz,
Cenário demarcado e sempre e até.
Embora absorvidos pelos bantos
Ainda se percebe algum sinal
Do povo num ou outro ritual
E nestes dias vejo os seus encantos,
Magias e dispersas cenas quando
Um novo amanhecer se desenhando.


695


À noite o Galafoice ataca e traz
Nos olhos fogaréu e nada o cessa,
Mostrando muito mais do que promessa
Num mundo sempre atroz e mais mordaz,
Não deixa uma criança mais em paz,
E quando a noite surge e recomeça
Pregando com certeza alguma peça
Na fúria deste ser duro e voraz,
Agarrando os meninos sem defesa
Trazendo neste instante sempre presa
A pobre criatura, uma criança
Assim ao se mostrar um mostro rude,
Enquanto cada sonho desilude
Em fogo sempre vivo, além avança.


696


Joaquim Nagô ajude neste instante
A resolver quaisquer problemas quando
O dia noutro dia anunciando
Apenas outro fato ele garante,
Assim o que se vira doravante
No todo sempre vou adivinhando,
Resolve algum engano, e demonstrado
A solução que tanto ora adiante,
Um protetor da casa Joaquim
Um mártir do passado condenado
Sem ter na vida nunca; pois roubado
E sempre nos ajuda, mesmo assim.

697


Na sexta-feira santa a malhação
Daquele que traiu a Jesus Cristo,
E Judas num momento sendo visto
Apanha e se condena: expiação,
Assim se vendo ali esta vingança
Marcando com pancada e mais pancada
Até que seja enfim esfacelada
Figura que à tortura assim se lança,
Olho por olho dita o povaréu
E nisto se esquecendo o que Jesus
Pregara mesmo estando numa cruz,
Perdão? Não, novo rito mais cruel.
A humanidade mostra e já não mudas,
Malhando a cada tempo um novo Judas.

698


Ahasverus seguindo sem descanso
Após a morte em ledo sacrifício
O sapateiro, antigo em seu ofício
Tratara com desprezo o Deus tão manso,
E quando a cada dia mais avanço
Olhando para trás o precipício
Marcando cada tempo com seu vício
Enquanto no vazio o olhar eu lanço,
Errante desde então este judeu,
Deveras noutro tanto se perdeu,
E nunca mais terá sequer a paz,
Maldito pelos séculos afora
A sorte desengana e desancora,
Tornando o seu futuro mais mordaz.

699


Bebendo uma jurema, num feitiço
Assim se demonstrando este caminho
Aonde se desenha em tom mesquinho
O quanto mais desejo e mais cobiço,
E neste território movediço
Enquanto no final eu já me aninho
Um mundo sem igual em flor e espinho
Trouxera para a vida vário viço,
E quando num momento mais diverso
O rumo se mostrara e assim disperso
Caminho variado em novo tom,
Quebrantos entre tantas vãs magias
E nelas outras mais me mostrarias,
Da sorte que desdenha em turvo dom.

700


A Juriti-Pepena na touceira
Formada por tajás sendo invisível
Traduz o que pudera ser incrível,
Imagem de uma amarga mensageira
Trazendo uma noticia que eu não queira
Transcende ao que pudesse noutro nível
E o tanto quanto diz, sempre terrível
Expressa no final atroz bandeira,
Se não for ajudado o que vitima,
Aos poucos noutro rumo por legado
Decerto ao ficar, pois aleijado
Mudando com certeza todo o clima,
Por isso neste instante em tom atroz,
Somente um feiticeiro muda a foz.

701

Kerpimanha origem, mãe do sonho,
Descendo lá do céu, enquanto engana
Mandada neste instante por Tupana
Traçando na verdade o que componho,
Moldando um mundo atroz ou mais risonho
A velha ao mesmo tempo reina e dana,
Tramando em noite intensa ou mais profana
Cenário muitas vezes mais bisonho,
Às vezes traz recados, outras não,
Desenha o que traduz em dimensão
Diversa o que em verdade já nos traz,
Destarte caminheira do futuro,
Ou mesmo do passado onde asseguro
O quanto poderia em guerra ou paz.

702


Kilaino este duende tão terrível
Em formas tão diversas se apresenta
E nesta multiface violenta
Traduz o que pudera ser incrível,
Assim o que deveras trama um nível
Diverso do que a vida mesmo tenta,
Gerando o quanto pude e nos sustenta
Num sonho sedutor ou mais terrível,
E quando se concebe esta figura
Assustadora face se assegura
E dela nada mais já se desprende
Somente esta ilusão em rude passo,
Marcante delirar hoje eu desfaço
Na face mais atroz deste duende.

703


O Labatut ao atacar com fome
Nas noites quando a lua se desenha,
Matando o que resolva e não contenha
Uma esperança tão somente some,
Não tendo nada e nem ninguém que dome
Fera cruel ao se mostrar já venha
A cada passo sem sentido tenha
Apenas fúria e em destemor consome,
Vencendo além o que jamais se dá
Tomando ora de assalto o Ceará
Trazendo enfim o que pudera ser
Além do farto e sórdido prazer
Não respeitando alguma sorte quando
O mundo noutro caminhar se aposta
E gera além o que se atesta; exposta
Vontade noutro instante se tornando.

704


No morro do Grongozo este mistério
Que tanto surge num momento em lago
Diverso mesmo que ao sonhar divago,
E traça além deste cenário etéreo.
O dia mostra o que em certeza visse
Tanta riqueza ali se esconderia
E quando vejo esta laguna fria,
Que tanto surge além de uma crendice,
Seguindo assim um mais audaz cenário
O tempo ronda em vaga insensatez
Depois de tudo o que talvez se fez
Tramando enfim um caminhar tão vário
Permita ao menos encontrar a paz
Que imaginária solução me traz.

705

No catimbó se traduzindo a linha
No quanto segue em tal encosto a vida,
A sorte traça e nem sequer duvida
De quem nos sonhos ao cerzir se aninha,
Seguindo sempre onde este mestre alinha
E nisto vejo o que encantou a lida,
Marcando além o que jamais divida
A sorte trama o que sorte vinha.
Aproximando do ideal de ter
Nos olhos sempre o não diverso crer
Traçando o rumo num momento em paz,
Do todo quanto poderia aquém
O todo vejo e na certeza tem
Um mundo calmo que a alegria traz.

706

A livusia transtornando além
Do quanto rege em temerário sonho
Somente assim ao transcender componho
Sabendo desde sempre o que ora vem,
A ventania ao se espalhar contém
Um passo claro e reproduz medonho
O tempo aonde o que vier reponho,
Vencendo a sorte e no final não tem,
Sequer o rumo enquanto luta traz
Tivesse após este cenário; a paz
Regendo enganos onde eu fiz meu passo,
Expressamente o que deveras traço,
Audácias dita e num momento atroz,
Da livusia a tempestade é voz.

707


O lobisomem dominando a cena
Em plena sexta-feira, a lua cheia,
E quando a sorte mais audaz rodeia,
A vida segue e nada além serena.
Ainda tendo o que bem sei condena
Olhar sem rumo em fogaréu ateia
Este tormento quando a sorte alheia
Expressa o caos ao dominar a dita,
Um lugar manso aonde a luz permita
Amenamente caminhar em paz,
Mas vejo sempre este final mordaz
Gestando enfim o que puder e fita
Presença tão maldita quão voraz.


708


Lucas da Feira ao assombrar o mundo,
Depois da fuga anunciada outrora
O quanto rege e sem pudor deflora
Ao transformar este momento imundo,
O tempo dita o que talvez no fundo
Traduz somente o que afinal devora
E gera o sonho sem sentido e agora
Produz a morte em tão cruel segundo.
Durante o tempo em que se fez o chefe
Desta quadrilha e nada além se blefe
Ousando atroz após o tudo ou nada,
Selando em dor o que puder e trace
A vida enquanto desenhada em face
Diversamente sem futuro; invada.


709


A Macará cobra gigante leva
No dorso a tribo por sertão afora,
E quando vejo o que demais demora
Deixando a sorte onde se fez a treva,
Uma alma ronda o que perdura em ceva
Gerando enfim o quanto quer e agora,
A lua clara no final decora
O céu sublime onde se fez longeva
A sorte intensa de quem não pudera
Apenas ver neste momento a fera
Diversamente ao caminhar exposto,
E quando vejo outro cenário posto
Trazendo o quanto se puder virá
Desfilando no fim a Macará.

710

A mãe da seringueira protegendo
A cada novo dia esta seringa
E quando a tempestade atroz se vinga,
O tempo noutro tanto se trazendo,
Ainda quando vejo algum remendo,
A luta se mostrara e não se extinga
Tecendo o que pudesse e já respinga
Tramando mais atroz quando desvendo,
Assim ao destruir a seringueira
Apenas o que resta não se queira,
A sorte traz desdita a quem o faz,
O leite se permite e não traz drama
Mantendo sempre acesa a clara chama,
Senão já não terás momento em paz.

711

A Maiuá regendo todo o mal
Trazendo tanto horror e medo a quem
Sabendo desta vida o quanto tem
Regendo sem sentido o vago astral,
Ainda que pudesse em desigual
Cenário o crescimento já detém
Tramando com temor, raro desdém
Mudando este caminho em vão sinal,
Assim ao se perder a geração
Somente em desafeto se verão
Os dias que pudessem ser melhores,
Porém na Maiuá se desolando
O mundo se mostrara mais infando
Sem mesmo qualquer sonho aonde aflores.

712

Um Pedro Malasartes traz em artes
Diversas fantasias e bem mais
Dos atos que julgara magistrais
E nisto cada face já compartes

Diversos caminhares, os encartes
Moldando dias claros desiguais
E nisto enredos vários, tantos cais
E neles o que possas não descartes,
Vagando entre cenários mais diversos,
E vejo ou mesmo tento noutros versos
A face que tu vês agora ilude
E Pedro se mostrando em atitude
Dispersa e ao mesmo tempo sem sentido,
O quanto se distrai, tanto o duvido.


713


Malembes se pedindo a quem proteja
Meus passos entre tantos poderiam
Traçar outros momentos e viriam
Vencer o quanto quero e se deseja,
Ainda que pudesse em benfazeja
Vontade entre tantas que trariam
Apenas o que tentam, fantasiam
As vidas onde a sorte é mais sobeja;
Tentando novo rumo entre os diversos
Abençoados sejam sempre os versos
De quem malembes pede à divindade
E quando cada instante se revela
Diverso colorir em mesma tela
Aonde o quanto venha sempre agrade.

714


Mandingas que trouxessem dura sorte
Feitiços; maus-olhados entre enganos
E nisto novos passos noutros planos
Ainda o que restara não conforte,
Vadio coração procura um norte,
E guarda sem destinos tantos danos,
Os medos se desenham desumanos
Assim cada momento não suporte.
Sem rumo e procurando além a paz
Apenas este aspecto tão mordaz
Anunciando o fim em tempestade,
A queda desencanta quem buscava
Porquanto se traduz em fúria e lava,
O todo que deveras desagrade.

715

Tentando na mandraca a melhor hora
Vencendo os dissabores corriqueiros
E busco em meio às trevas os luzeiros
Aonde o quanto trace dite e ancora
A luta não redime e nos devora,
Matando como fossem espinheiros
Ousando noutros rumos, derradeiros,
O peito se transcende a cada aurora.
Vagando entre cenários discrepantes
E nada com certeza enfim garantes
Somente a tentativa na mandraca
O passo sem apoio ora se empaca
Fortuna se moldando num revés
E a vida se desenha de viés.

716

Da virgem que entre os índios concebera
Surgindo esta menina tão bonita,
A vida se transforma e desta dita
A luta noutro prumo percebera,
Além do quanto possa; a leda cera
Em pouco tempo morta, necessita
Da sorte tanta vez audaz e altiva,
Assim ditando o quanto percebi
Na história que traduz e desemboca
Na morte mais precoce de Mani,
Ao ter a sepultura assim regada,
Surgindo como fosse de algum nada,
Um pé desta bendita mandioca.

717

Mão-de-cabelo ataca a criançada
Que em enurese noites tantas passam,
E assim entre tormentos ultrapassam
A idade onde a sorte é transformada,
Esguia criatura que do nada
Destroem e deveras já desfaçam
E neste delirar decerto traçam
A sorte noutro rumo desenhada,
Assim enquanto segue enurese
Noturna, tanto quanto isto despreze
Marcando cada instante em tal terror,
Gerando assim o medo e em roupa branca
O quanto deste ser atroz desanca
No pânico transita e traz temor.

718


Mãozinha-Preta solta em pleno céu,
Trazendo sorte a quem tanto a procura,
E nisto se aproxima e traz a cura,
Tornando o dia a dia em novo véu,
Aonde se tocara em medo e fel
Já não se percebera esta amargura,
Apenas o que tanto se assegura
Matando este passado mais cruel,
Assim se desenhando desde quando
O mundo se percebe revelando
O quanto se anuncia a cada infausto,
Ajuda quem dos males se acometa
Justiça na verdade assim prometa.


719


Mapinguari ataca quem surgisse
E mata num instante e assim devora
Não deixa enquanto ronda ou apavora,
Tramando o que decerto não se visse,
O quanto que isto é fato ou é crendice
Não vejo nem desvendo sem ter hora
O prazo se dilata e desancora
A sorte no vazio onde a previsse,
Qual fosse hirsuto e forte, nele somem
Detalhes do terror em lobisomem
E nisto temerário ser eu vi,
E quando procura explicação
Meus olhos simplesmente já verão
Traçando o quanto é vil: Mapinguari.

720

Ao ver Marajigoana, a própria morte,
Percebo e assim presumo um ledo fim,
Marcando o que inda resta vivo em mim
Sem nada que decerto me conforte,
A vida permanece sem suporte
Desenho desdenhoso dita assim
O tanto que eu tentara e sei enfim,
Cenário onde meu mundo não comporte,
Vagando entre caminhos divergentes
Sabendo o quanto em medo tu já sentes
Os ermos de tua alma sem porvir,
A morte inexorável se aproxima
E traça com terror o amargo clima
E nela todo o caos a me invadir.

721

O Martim Pescador que na Bahia
Um Orixá levando p’ra entidade
Desejos desta inteira humanidade
E nisto noutro rumo moldaria,
O tanto quanto possa e se queria
Marcando o que pudera e já me agrade
Ou mesmo me causando ansiedade
Tramando outra verdade mais certeira
Augustos os caminhos que preparo,
Vagando sem sentido em mundo amaro,
Clareia dentro da alma outro caminho,
E quando noutro passo em paz me alinho,
Tecendo a solução ou me avisando
De um mundo mais atroz ou mesmo brando.

722


A Matintapereira em noite agoura
E traz ao quanto possa mais amargo
Caminho enquanto o rumo em paz embargo
E a sorte não seria duradoura,
Enquanto no vazio se demora
Ausente de esperança eu sigo alheio
E quando me presumo em devaneio
Fortuna quando atroz sempre apavora,
Reveses se desenham passo a passo
E quanto se vislumbra a noite rude,
Viceja dentro da alma o quanto ilude
E traça sem sentido o mundo escasso,
Um ato sem proveito em leda chama,
A rota desejada não se trama.

723



Serpente gigantesca, o minhocão
Habita o São Francisco e destruindo
O quanto se imagina e neste infindo
Cenário só se vê desolação,
E tanta mais cruel destruição
Destarte num momento não me blindo
E vejo todo o tempo ao nada se indo,
E nele outros tormentos se verão.
Porém em multiforme face traça
Podendo ser uma ave, ou mesmo um peixe
Apenas na verdade não se deixe
Levar por vaga sorte leda e escassa,
E quando se aproxima esta desgraça
Não resta nem sequer a quem se queixe.

724


Neste Muiraquitã a sorte eu lanço
E vago contra a fúria sem temores
Sabendo na verdade aonde fores
O quanto se transforma num remanso,
Assim imunidade; pois alcanço
Deixando para trás tantos horrores
Vencendo e matizando em novas cores
O tanto que aproxima atroz ou manso,
A vida neste belo talismã
Marcando com vigor toda manhã
Gerando este maná, e sigo além,
De tal maneiro vejo o meu futuro
E no Muiraquitã eu me asseguro,
Tramando o quanto em sorte me convém.

725


A Mula-sem-Cabeça, no sertão
Incendiando tudo o quanto toca
Mulher de padre trama em dura loca
Os ermos entre tantos que a virão,
Assim ao se mostrar a assombração
Cenário turbulento já provoca
E quando se aproxima em noite foca
A fúria nesta vaga direção,
Audaciosamente no caminho,
Enquanto desta fera me avizinho,
Melhor sair correndo e não ficar,
No quanto em maldição tudo destroça
Não deixa sequer sorte nesta roça
E toma da esperança, o seu lugar.

726


Mulher de Duas Cores assustando
Quem possa no caminho se encontrar
Silenciosamente a desenhar
Cenário tanto sórdido ou infando,
Apenas sem sentido caminhando
Não deixa sequer rastro no lugar
E molda com terrível desfilar
O mundo sem por que nem mesmo quando,
E o prazo determina o fim de tudo
E quantas vezes sigo e desiludo
Cerzindo no vazio o que viria,
Um passo sem saber de direção,
Tocando por cruel assombração
Gerando dentro da alma esta agonia.


727


Negrinho do Pastoreio nos proteja
E a sorte se transforme noutro passo,
E quando noutro rumo tento escasso
Vagando pelo quanto além troveja,
Ainda quando a vida é malfazeja
Cenário mais audaz diverso traço
E bebo cada instante e sei do espaço
Aonde outro cenário se deseja.
Atravessando além das cercanias,
Trazendo o que perdido não se vira,
E quando neste instante em nova pira,
Traduz o que deveras saberias
Vibrando a cada trama que viria,
Moldando com ternura um novo dia.

728

Num-Si-Pode ataca em madrugada
Trazendo uma mortalha toda branca
E quando a realidade assim desanca
Não resta do passado quase nada,
Traçando o quanto em luta malfadada
A sorte noutro rumo nos espanca,
Desdita em tal afronta; atroz e franca
Num tempo que se fez noutro caminho,
E quando da mortalha eu me avizinho
Pavor imenso eu sinto e nada vem,
Somente o caminhar noutro momento
E sei do quanto possa o sofrimento,
Ausentas quando sigo mais além.


729


Obá, de Janaína e de Orungã
A filha incestuosa, noutro instante
Ao quanto noutro passo não garante
A vida que se visse tão malsã,
Vestindo dentro da alma outro amanhã
A luta se aproxima e tanto espante,
Marcando cada engano doravante,
Este Orixá tocasse em cena vã,
Mudando muito além de uma centelha
Ao ter já decepado sua orelha
Iansã que de Xangô tinha ciúmes
Ousando noutros erros vis ardumes,
A vida não traria esta centelha
E o quanto se moldasse e mostrará
Gerando desta orelha enfim Obá.


730


Obag, são de Xangô auxiliares
Em divisão igual, mas em verdade,
Se vendo o quanto possa e mais agrade
Os que decerto em Bem cedo notares,
Os maus inferiores nos altares
E tanto quanto possa a claridade,
Vestindo no final a liberdade
Dominam de Orixás filhas de santo
E quando neste caso o rito banto
Traduz um ser maior, Obag eu vejo
E neste desfilar ou mesmo além
A vida com certeza sempre vem
E nisto este cenário mais sobejo.

731

Obatalá, que é o Céu, o firmamento
O sucessor direto de Olorum,
Quando com Odudua trouxe algum
Barro amassado fez um raro invento,
O ser humano feito de tal forma
No quanto se presume ou mesmo além
O tanto quanto possa traz e vem
Mudando este cenário e nos informa,
Hermafroditas deuses poderosos
Tramando nos cenários majestosos
A vida que presume em perfeição.
Assim ao renovar cada estação,
São da reprodução, pois protetores
Andróginas figuras multicores.

732


Das guerras e dos ferros o Orixá
Um filho de Iemanjá, Ogum guerreiro
Ao ter visto Iansã, se deu inteiro,
Porém a própria história mudará,
Na guerra com Xangô, cedo virá
O mundo noutro fato, num luzeiro,
Perdendo neste nada corriqueiro
Caminho o que pudesse desde já,
Assim ao se mostrar vitorioso
Xangô, das cachoeiras, protetor,
Trouxera na verdade o majestoso
Cenário feito em guerra amor e dor,
Trazendo três esposas doravante
O rumo de Iansã lá se garante.

733


Oiá, mulher-irmã de Xangô traz
Deidade que se fez deusa do Rio,
Do Níger noutro passo onde desfio
Não trama com certeza a menor paz,
Trazendo sobre si a tempestade
Nas brigas com Xangô qual turbilhão
Tramando cada luta desde então
Enquanto o dia a dia atroz já brade,
Traçando noutro canto esta tormenta
A vida não teria esta certeza
Gerando a cada instante outra incerteza
Aonde a sorte rude se alimenta,
E vejo retratada em sua face,
Destino que terrível ali grasse.

734


Okê, uma montanha, um Orixá
Traçando em natureza mais diversa
O quanto do sentido já se versa
Mudando o quanto pude e poderá,
A luta se anuncia e moldará
A sorte que este tempo desconversa,
E quando se veria além e imersa
Moldando o que deveras se fará,
O mundo se aproxima e já se vê
Teogonia expressa em deus Okê,
Aonde Obatalá, pois habitava
E deste monte agora uma entidade,
O quanto mais diverso ainda brade
A sorte noutro instante não se trava.

735


Olorum, dos deuses o maior,
O poderoso Pai este Orixá
Reinando sobre o quanto se verá
Num mundo feito em lágrimas, suor,
Reinando sobre tudo nos trazendo
Além do que se visse num momento
O todo quanto posso ou alimento
Ousando neste mundo atroz e horrendo,
Qual fosse Jeová, pois Olorum
Suprema divindade traz além
O quanto deste passo ainda vem,
Caminho para o Eterno, este incomum
Traçado tão diverso do vulgar,
O quanto neste passo irá moldar.

736


Obaluaiê, mostra a fúria plena
Trazendo em suas mãos a bexigosa
Varíola tantas vezes já nos glosa
Marcando para sempre o que condena,
E a sorte se desenha e me envenena
Negando qualquer dita majestosa,
A luta nos deixando em polvorosa
E nada mais deveras me serena,
E sei quando Omulu transcende e traça
O quanto poderia na devassa
Deixando para sempre este sinal,
Assim se trama a queda num instante
E o quanto se pudera doravante
Traduz este momento desigual.

737

Onça Borges ataca em violenta
Loucura transformada em tempestade
Assim esta diversa majestade
Transborda nesta forma mais sangrenta,
Depois do quanto teima e não se tenta
A cada novo instante sempre brade,
Trazendo na mortalha esta verdade
Gerando após o vago; outra tormenta,
Matando o gado enquanto traz na sorte
O quanto com firmeza; não comporte,
Vislumbro em tal momento o quanto traz
No olhar este momento em dor e tédio,
A fúria que a domina sem remédio,
Num ato tão ferino quão audaz.

738


Onça Cabocla devorando quem
Pudesse pela frente inda encontrar
Na sorte ou no terror onde moldar,
Apenas o cenário nada tem,
A luta se aproxima e sigo aquém
Do quanto poderia emoldurar
O passo noutro rumo a demarcar
A leda persistência que assim vem,
Não deixa sobrar nada, esta felina,
Transforma-se em pessoa e nisto engana,
E quando se mostrasse soberana
A vida sem remédio desatina,
A sorte nega o sonho e mostra o quanto
Somente traduzisse em desencanto.

739


Os Orixás unindo à divindade
Suprema, este devoto frágil ser,
Ao quanto se permite perceber
Ao todo quanto trama além invade,
Assim ao perceber tal qualidade
O tanto que pudera se faz ver
Gerando muito além o conhecer
Mostrando este caminho em liberdade,
E quando um Orixá traz esta estrada
Aberta noutro instante e desenhada
Assim se percebendo desde já
O tanto quanto quis e não podia,
E o mundo se transforma e enfim se alia
Nas mãos do portador, este Orixá.

740


Orixanim que a medicina guia
Este Orixá permite o quanto cura,
E nisto com certeza se afigura,
O tempo noutro rumo poderia,
E quando esta verdade se traria,
Marcando cada passo com brandura,
Embora a sorte trace tal tortura,
Enquanto Orixanim nos alivia,
Reinando sobre todas as mezinhas
Ainda o que trarias e avizinhas
Trazendo a todo instante um novo passo,
Vencendo os mais atrozes sofrimentos
Reinando sobre o quanto traz alentos
E nisto outro momento em paz eu traço.

741


Orixá-Agô, um filho de Iemanjá
Domina a agricultura e no cultivo
Gerando o que pudera trazer vivo,
Num ato que decerto moldará
E assim ao se trazer neste Orixá
O mundo muito além de um lenitivo,
Vencendo o quanto fora e não me privo,
Do sonho que deveras cevará,
Aprendo com a ceva noutro instante
O quando mais desejo e se garante
Trazendo noutro espaço um dia em paz,
E o canto em conseqüência se moldasse,
Marcando o que se quer em nova face,
Desenho que se molda mais tenaz.

742


Orô aparecendo assombração
Trazendo a todo instante sons plangentes
E nisto tantas vezes tu pressentes
O mundo numa nova dimensão,
E assim ao desenhar outra estação
Marcando a cada instante o que inda sentes
E gera noutro passo novos entes
Tramando outro sentido e direção,
Apenas se aproxima do final
Regendo o quanto pude e nem sinal
Da sorte que mudasse a cada dia,
Restando o quanto vejo e nada segue
A luta sem saber não mais se negue
Matando com temor o que traria.

743

No dia oblacional de um Orixá
No Ossém ao saciar a sua fome,
Ainda quando muito nada dome,
A sorte que se faz e se fará,
Arcando com o quanto proverá
E nisto outro momento se consome,
E nada que deveras tente e tome,
Marcando a cada instante o que virá,
Num ritual diverso se presume,
O quanto noutro instante este costume
Traduz necessidades costumeiras,
E assim ao se mostrar um quase humano,
A divindade em ar mais soberano
Transporta o quanto vês e mesmo queiras.

744


Ossonhe como fosse o Caipora
Que tendo qual saci única perna
Enquanto a cada instante além se externa
Regendo o quanto possa e me apavora,
A luta se transforma e desancora
Aonde se pudesse ser mais terna,
A sorte que buscara ter na eterna
Noção que tantas vezes atroz aflora,
Montado num tapir, os pirilampos
Guiando pela noite em ledos campos,
Trazendo com certeza esta má sorte,
E assim neste cenário em sincretismo,
O passo noutro rumo quando eu cismo,
Apenas o que possa nos conforte.

745


Andrógino Orixá, eis Oxalá
Um culto que equivale o mesmo a Cristo
Trazido no Bonfim o que ora insisto
Deveras noutra face mostrará,
Nosso Senhor decerto moldará
O quanto poderia e assim persisto,
Marcando o que pudera enquanto insisto
Mudando o que tentasse e desde já,
Por ser tão popular, tal entidade,
Representando a máxima deidade
Transcende ao que pudera ser expresso,
E quando em plenitude hoje eu professo
A fé neste que reina em absoluto
Entrego o coração e não reluto.

746

Oxossi o deus da caça traça além
Do quanto se traduz diversidade
E neste delirar o quanto invade
Transcende ao que pudera e me convém,
A vida se desenha e sem desdém
Buscando o quanto tente e nos agrade
Levando ao caçador saciedade
E nisto se aproxima em raro bem,
Apenas desenhando em proteção
Garante os dias raros que verão
A sorte desenhada em luz intensa,
A cada novo passo se presume,
Trazendo com bravura o que resume,
O quanto na verdade nos compensa.

747

Reinando sobre as fontes, sobre os rios
Oxum que é de Xangô a preferida
E nisto se percebe resumida
A sorte que vencera desafios
E vejo noutro passos os vazios
E nesta caminhada encontro a vida,
Da cachoeira dita a luz erguida
Na consonância em versos, sonhos, cios,
E assim neste momento sem igual,
A luta que pensara triunfal
Traduz esta irmandade, em Orixás,
Vencendo o descaminho costumeiro
Nos olhos que de Ogum foram luzeiros
Um mundo renovado enfim se traz.

748


Oxum-Maré trazendo então esta água
Da terra p’ra Xangô em seu altar
Aonde se desenha a divagar
Tramando aonde o todo ora deságua,
Invisto o sentimento e busco a paz
Tramando o quanto pude ao ver Nanã
Nas chuvas soberana e neste afã
A sorte se desenha mais capaz,
Oxumaré traduz esta verdade
E assim este momento nada traça
Sequer o quanto trama em sorte escassa
E nisto outro caminho sempre agrade,
Vencendo cada engodo sei quem é
Este Orixá expressa em leda fé.


749

Um monstro tão hirsuto, assombração
O Pai-do-Mato ataca e devorando
Aquele que vagasse se mostrando
Nas matas mais fechadas do sertão,
Enquanto este caminho ele faz vão
A todos que encontrasse desde quando,
O gigantesco ser já demarcando
Os dias sem saber de mansidão,
Resistem ao balaço e à facada
Porém perto do umbigo, o ponto fraco,
Ali a sorte pode ser mudada.
E o fim da história traz outra figura,
E quando neste ponto enfim ataco
A morte do demônio se assegura.

750

Domínio sobre as artes do curar,
Usando de mezinhas, cirurgias
Em fôlegos a mais tu já verias
O quanto ainda possa nos mostrar,
Assim ao se sentir farto tramar
Nas maravilhas tantas, saberias
No meio de certezas em magias
Pajé vencendo o mal, a nos rondar.

Usando assim as ervas, infusões
Extratos de animais e vegetais,
Massagens entre tantos rituais,
Além das mais diversas orações,
Por mais que isto pareça um rudimento
Trazia algum fiel conhecimento...

751


Usando encantamentos e magias
Ao lado das mezinhas mais diversas
Em orações, destinos e conversas
A pajelança traz o que querias,
Rendido entre dispersas sintonias
Enquanto noutro rumo além tu versas
As horas quando vejo estão imersas
Nas mais complexas sendas, sincronias.
Assim nesta mistura mais eclética
A vida se desenha em nova estética
Regida por momentos variados,
A cura se fazendo de tal forma,
Holístico cenário se transforma,
Moldando encantos novos, reformados.

752


O Papa-Figo ataca a criançada
E devorando o fígado em maleita
O quanto se aproxima e se deleita
Da carne desta forma separada,
A sorte se desenha anunciada
E entoa o que deveras não aceita
E nada neste mundo noutra espreita
Senão a mesma dita desenhada,
Matando assim infantes em remédio,
Trazendo a própria morte neste assédio
Diverso e sem sentido, e sem razão,
Depois de nova caça, o Papa-Figo
Levando a quem encontra o desabrigo,
Marcando cada morte sempre em vão.


753


Usando um patuá que me defenda
Das tantas, variadas armadilhas
E quanto noutro instante assim tu trilhas
O encanto superando qualquer senda,
Porém no patuá já se desvenda
Mistérios entre tantos quando brilhas
E vences sem temor enquanto pilhas
Marcando este cenário além da lenda,
Assim na proteção, trazendo aqui
Em oração, em preces, rituais
Diversos que protejam muito mais
De todo mal que agora eu conheci
A vida com certeza mudará
Guardada no poder do patuá.


754


Pé-de-Garrafa; um ser misterioso
Que ataca quem se vendo pela frente
E neste desenhar o que apresente
Transforma noutro rumo, o caprichoso
Cenário mais audaz e pedregoso
Aonde se quisera estar contente
No tanto quanto a vida sempre mente,
O preço se anuncia fabuloso.
Assim ao perceber esta mistura
Humana com diversa criatura
Unípede caminha enquanto safas
Deixando tão somente um mero rastro
E nele com certeza se me alastro
Encontrarei pegadas, de garrafas.

755


Armando este Peji dedico ao santo
E trago do Orixá esta lembrança
Marcando quando o tempo além avança
Gerando muito além do quanto espanto,
Assim ao transformar noutro quebranto
Tramando com certeza e confiança
No santuário além o sonho alcança
E nisto contornando o velho pranto,
Proteja-nos Senhor, meu Orixá
E o todo noutro rumo se fará
Trazendo para nós prosperidade,
E quando neste mundo me perdi,
Voltando noutro instante ao Teu Peji,
Encontro em mansidão esta Entidade.

756


Um Pescador tomado por encanto,
Depois de tanto tempo agora a sombra
Que reina nestes rios quando assombra,
Trazendo tão somente algum espanto,
Silenciosamente vai embora
E some numa curva ou na fumaça
Quando instantaneamente além já passa,
A fonte se secando nada aflora,
Somente este vazio após o nada,
A sorte noutro tom já se anuncia,
Refaz este mistério noutro dia,
Ainda quando é sexta enluarada,
Apresentando a cena em várias partes,
Enquanto se anuncia, além tu partes.

757



Um fogaréu seguindo no caminho
De quem atravessasse a velha estrada,
Na sorte de tal forma anunciada
O mundo se desenha mais mesquinho
E quando no final me desalinho
Marcando a minha luta em sol e enxada
Depois de tanto tempo desenhada,
Agora me percebo mais sozinho.
É quando se percebe este Pilão
Incendiado em minha direção,
E fujo da terrível insensatez,
E quando no final tudo desfez,
O quanto agora em nada sei que vês
Explica no final a assombração.

758

Pinto-Piroca em plena selva traça
Com passos e piados seu caminho,
Um gigantesco ser que já sem ninho
Apenas noutro rumo além, pois passa,
E mostra este destino que ultrapassa
O quanto poderia e me avizinho,
Do canto sem igual, mesmo mesquinho,
E nisto se perdendo na fumaça.
E quando noutro rumo desemboca
Eu vejo que este ser: Pinto-Piroca
Ao tendo já sem pêlo o seu pescoço,
Apenas a visagem que ora assusta,
Imagem tantas vezes mais robusta,
Causando assim distúrbio em alvoroço.

759


A Pisadeira em forma de mulher
Um monstro que devora e que maltrata
Assim este cenário já retrata
O quando poderia e ninguém quer,
Assume esta figura e se vier,
Aos poucos todo medo se constata,
Grassando sem limites tal ingrata
A sorte não produz um bem sequer,
Qual fosse um pesadelo ataca quem
Envolto no silêncio quando vem
O sono se entregando sem defesas,
Ousando neste instante de tal forma,
O quanto logo toca já deforma
Devora sem piedade as suas presas.

760

O Poronominare herói das matas
Traduz uma epopéia sem igual,
Um ser tanto diverso e magistral
Que a cada novo tempo enfim constatas,
Assim quando este encanto além resgatas
Marcando com seu claro ritual
Gerando outro momento bem ou mal,
E nada do que possa em paz, retratas,
A senda deste ser diverso e forte,
Audaciosamente corre o Norte
E traça outro momento onde é diverso,
Em honra deste incrível lutador,
Eu faço com carinho e com louvor,
Transito na emoção a cada verso.

761


Da Princesa Encantada, que na gruta
Aonde se escondera traz riquezas
E nelas outras tantas, vãs surpresas
Na força que se fez atroz e bruta,
O quanto desta cena se permuta
E gera noutro passos, correntezas,
As horas caprichosas seguem presas,
Na imensa e indecorosa, rude luta,
Princesa transformada na serpente
Só desencantando quando sente
O sacrifício dado por alguém,
Marcando com a morte este momento,
E quando no final em sacramento,
Há tanto neste encanto e ninguém vem.

762

Quibungo fosse um ogre no sertão
Devora com a fenda no costado,
Aonde se arremete o desgraçado
Que se encontrara além com o papão,
Assim ao se mostrar este gigante
No quanto repelente e mais feroz,
No olhar sem piedade deste algoz
Escapatória nunca se garante.
Mas sendo vulnerável; faca e bala
Esta estrutura imensa fragiliza
E quando se atacando vem e avisa
Da sorte que decerto o bicho abala,
Espalha-se deveras na Bahia
E trama em mais terror o dia a dia.

763

Quitã que nos proteja este amuleto,
E mostre a mais suave direção
E quando se percebe desde então
O rumo predileto onde arremeto
Meu passo se mostrando além do gueto
Causando dentro em nós transformação
E nisto se anuncia a gratidão
Marcando o quanto quero e comprometo,
A vida se transforma e a boa sorte
Na proteção divina do quitã
O quanto com certeza; já conforte
Quem teve no passado esta malsã
Verdade sem ter paz e sem um norte,
Mudando este caminho, outra manhã.

764


Rudá; o deus do amor entre os tupis,
Teogonia dita a divindade
Que garantindo assim enquanto agrade
Fazendo qual Cupido o que bem quis,
Por vezes ou feliz, mesmo infeliz
Levando para além tranqüilidade
Marcando com ternura outra verdade,
Deixando demarcada a cicatriz,
Assim ao se encontrar em nova senda,
O amor se transformando não se emenda
E gera novo fato a cada instante
Nos ritos que se fazem à Rudá
O mundo noutro tom nos guiará
Gerando este cenário deslumbrante.


765


Do Saci-Pererê as artimanhas
Diversas do negrinho onde se vendo
Demarca cada instante noutro adendo
E nisto tendo as sortes mais estranhas,
E quando se transformam em tamanhas
E quantas vezes vejo do remendo
O dia noutro dia refazendo
Paisagens muito além em novas sanhas.
Usando a carapuça avermelhada,
Na perna que restara, está apoiada
A imagem deste arteiro sedutor,
Aos poucos noutro rumo; desenhada
A sorte tantas vezes maltratada
Traduz um mundo sempre multicor.

766

Riqueza neste mundo; sem igual
Nesta furna encantada se desvenda
E assim o quanto possa além da lenda
Traduz a Salamanca do Jarau.
Teiniaguá protege a sua entrada,
E nada mais se encontra noutra face
O quanto na verdade, além se grasse
Marcando noutro instante desenhada,
O tempo se acredita na verdade,
E o manto se aproxima do que possa,
A sorte a cada instante além se apossa
Gerando o que pudera e assim invade,
Fortuna imaginária? O sonho banca
O quanto se traduz na Salamanca.

767


Sumé quando ensinou a agricultura
Além de regras várias de moral,
Andando sobre as águas, magistral
Em força e plenitude se afigura,
Também já se permite e se assegura
O rio que se abrira e pelo qual
Transcende ao mais diverso ritual,
Aonde nossa sorte configura,
Bem antes do contato com os brancos
Trazendo estes momentos claros, francos,
Moldando num instante o quanto traça
A vida se repete? Ou mesmo quando
O mundo noutro tom já se mostrando
Diversa sensação, mesma fumaça?

768


Um talismã protege contra os passos
Diversos do que possa ou mesmo veja
A sorte se traduz em benfazeja
Clareira entre dias mais escassos,
E assim mesmo que desenhe noutros laços
Os sonhos que pudera e se deseja
E mesmo quando a vida sempre seja
Motivo dos enganos, dias lassos.
Vencendo os dissabores que veria
O quanto se transforma em tal magia
E neste desenhar o quanto resta
Presume outro momento mais seguro,
No talismã decerto o que procuro,
Deixando para trás cena funesta.

769


O Filho de Sumé, Tamandaré
Enfrentando um dilúvio sobre a Terra
Aonde este caminho se descerra
Remete ao patriarca, o bom Noé,
Assim ao desenhar diversa fé
A vida noutra face além encerra
Verdades tão diversas quando cerra
Além das variantes segue até;
Assim ao se mostrar o que virá
Tamandaré se fez Tupinambá
E a sina se transforma noutro instante,
E vendo este momento em concordância
A sina se traduz em mesma estância
Instância tão diversa se garante.

770



Tapiora esta felina que morava
Nas águas e nas terras atacando
Quem segue neste rio navegando
Imagem de terror atroz e brava,
A sorte se desenha e quando agrava
O tanto se traduz e mesmo quando,
O todo se aproxima e transformando,
A luta se aproxima enquanto trava
A vida não permite escapatória
E quando outra verdade merencória
Expressam um tormento em agonia,
Assim esta onça anfíbia, perigosa
Embora se acredite fabulosa,
Destrói já devorando quem veria.

771


Quando o Teiniaguá raro lagarto
Que traz no crânio a pedra preciosa
O quanto deste fato a vida goza
E nisto outro momento hoje comparto,
Assim o quanto pude e além eu parto,
A vida se traduz, pois majestosa,
E neste caminhar é caprichosa
Vagando pelo quanto nada aparto,
Carbúnculo guardando esta riqueza
E nisto outra verdade segue ilesa
Marcando esta fortuna a cada passo,
Depois de certo tempo se anuncia
Gerando o que transforma noutro dia,
Um mundo noutro enredo agora eu traço.

772



Tupã que se traduza por trovão
Depois associado ao soberano
Dos deuses entre cada novo plano
Marcando algum sentido e direção,
Assim no novo tempo se verão
Ao superar deveras noutro engano,
O mundo se desenha em novo dano,
E assim outro cenário em geração.
Assim sob influência dos cristãos
Gerado na verdade novos grãos
E nisto se aumentando o seu poder,
Diversa da real teogonia
Tupã noutro momento posso ver
Qual fosse o que em verdade fantasia.

773


Num acalanto dita esta verdade
E quando noutro passo se desenha
Tutu; bicho papão trazendo ordenha
E nisto todo rumo se degrade,
Assim o quanto possa e tanto invade
E nisto outro cenário sempre venha
E gere o que pudesse e mesmo tenha
Trazendo o que vivera, algema e grade,
Do tutu-marambá, tutu do mato
Tutu-zambeta, pegam criancinhas
E neste mesmo instante quando vinhas
Traçando o que deveras já constato
Fazendo uma criança adormecer,
No quanto possa além do que quer ver.

774


Ualri quando traiu Jurupari
Revelando segredos consagrados
Trazendo nos seus passos mais malvados
Moldando o que em verdade eu percebi
O quanto se mostrara e mesmo vi,
Em dias noutros passos afetados,
Vingando-se deveras noutros fados,
Destroça o quanto encontra ainda aqui.
Ao ser queimado vivo por vingança
Surgiram as serpentes e os insetos
E neles os venenos, desafetos,
Tramando o que em verdade além se lança
Gerando a tempestade sem final
Mudando deste mundo o ritual.

775


Urué, que se unindo a Satanás
Tomando e derrubando este cavalo
Não sofre e nem se vendo algum abalo,
Gerando no que possa e mesmo traz,
A vida se mostrara mais mordaz,
E neste caminhar sendo vassalo,
O tanto quanto tente e não me calo,
Porém este cenário é mais mordaz.
Um tanto quanto audaz e falastrão
Enquanto que o capeta o quis levar,
Após noutro momento ele escapar
Embora esteja louco, mas vivendo,
Do quanto se vislumbra sempre horrendo
Marcando no vazio a direção.

776

Vaqueiro misterioso, um cavaleiro
Que se mostrara sempre um invencível
O tempo se transforma e noutro nível
Transforma o que puder noutro luzeiro,
E quando deste todo em vão me inteiro,
Assim o que tivesse ser incrível
Marcando o quanto possa em implausível
Trazendo o desencanto derradeiro,
E quando em bebedeira ou comilança
Ninguém que se conheça enfim o alcança
E trama este cenário em discrepância,
Tomando sem defesa outro momento,
Vaqueiro em rapidez, como um tormento
Domina com firmeza cada estância.

777




Venerando, um escravo belo e forte
A sua dona estando apaixonada,
Armando; repelida, uma cilada
Traduz o quanto possa e não comporte,
Assim já condenado então à morte,
Sabendo ser a sorte injustiçada
A luta noutra face desenhada
Negando da esperança algum aporte.
Sua alma protegendo quem deveras
Numa injustiça entregue para as feras
Marcasse a sua vida em tal contraste,
E sendo de tal forma sempre justa,
O quanto se apresenta e em paz ajusta
Transcende à própria vida que cevaste.

778

Xangô, dos orixás, prestigiado
Mostrando a mais diversa caminhada,
Reinando sobre, chuva e trovoada
Nos raios e coriscos, imaginado,
Assim ao se mostrar o quanto invado
A sorte de tal forma desenhada,
Marcando o que pudera e faz do nada,
O quanto poderia elaborado,
Das três esposas leva esta coroa
O pensamento além já sobrevoa
Domina com firmeza as cachoeiras,
E assim ao se mostrar esta entidade,
Cenário feito em sonho e tempestade
Toando as horas claras, verdadeiras.

779


Zambi se espalhando Congo/Angola
Uma entidade, um deus que traz poder
Maior do que pudesse mesmo crer,
E nisto cada passo além decola,
Marcando quanto segue e assim assola
Cenário transformando o que há de ver
Olorum feito em Zambi dominando
Cenário mais complexo e variado,
Assim o seu caminho foi traçado
E nisto se aproxima desde quando
O mundo dia a dia, conquistado
Em novo rumo segue transformando.

780


Zumbi, uma entidade do quimbundo
Nzumbi, duende espectro que agressivo
Trazendo num instante o quanto vivo
Marcando outro momento onde me inundo.
A sorte desenhando o que aprofundo,
E vejo na verdade o ser cativo
E nisto outro cenário onde me privo,
E tanto quanto possa num segundo.
Agride quem não der o que ele peça
Pregando a quem caminha vária peça
E trama e sortilégio o que pudera,
Assim, mesmo pequeno este fantoche,
Tramando o quanto quer e já deboche,
Expressa outra passagem, imensa e fera.

Nenhum comentário: