segunda-feira, 13 de junho de 2011

Num porto mais alegre e mais seguro,
Tentasse ancoradouro da esperança,
Vivendo tão somente esta lembrança
De um tempo que decerto inda procuro,
Vagando sem saber do quanto escuro
Meu tempo noutro instante agora avança
E sei desta loucura onde a fiança
Cobrada dita o todo que amarguro.
A cada gestação, novo vazio
E o mundo sem sentido ora recrio
Vagando pelos ermos do não ser
No tempo que desnuda esta palavra
Minha alma inutilmente sempre lavra
E nada da colheita aparecer.

2

Se eu pudesse ancorar, teria a paz?
Já nada mais sustenta tal versão
E bebo desde agora, desde então
O corte que jamais me satisfaz
O verso se mostrara mais audaz
O tempo sonegando outra estação
Os dias com certeza moldarão
O quanto se pudera ser tenaz.
Renunciando ao verso que não veio,
O peso do passado segue alheio
Ao quanto de minha alma não se fez
Jogado sobre as pedras, meu saveiro
O sonho quando o tento, derradeiro
E nele se desenha a estupidez.

3

O amor que na verdade, diga encanto
Pudera resumir o quanto quero
E sei quando tentara ser sincero
O verso noutro fato mal garanto,
O mundo em falso enredo eu agiganto
E bebo o que deveras destempero,
Ousando muito mais do quanto espero
Rendido ao quanto trace em belo manto.
Meu sonho se embotando, o pesadelo,
O canto sem poder sequer sabê-lo
Desvelos tão comuns de um trovador
Que enamorando a lua sertaneja
Apenas calmaria ora deseja
E sabe do que possa em tal louvor.

4

Aquele que deveras permitisse
Um dia mais tranquilo em meio a tantos
Que possam transformam em desencantos
Os dias que a palavra não se ouvisse,
Apenas poderia ser tolice
Ousando acreditar em velhos mantos
Os ermos de minha alma, seus espantos,
A sorte se fizera esta crendice.
Negar cada momento que inda venha
E ter nas mãos o todo que convenha
Ao velho sonhador, novo repente,
Um gole de café, um pão de queijo
Somente da morena quero um beijo
Traindo a solidão que se pressente.

5

Seguindo desta forma, torpe e avesso,
O mundo não traria melhor sorte
E sei do quanto possa e num tropeço
O todo se traduz em leda morte,
O quanto da esperança ora mereço,
O vento se desenha bem mais forte
E sei do que pudera em adereço
Ainda quando a noite já nos corte.
Não tive nem pensei em liberdade
Somente o quanto a vida desagrade
O tempo não promete e nem traria
Sequer o que este luto programara
Mantendo bem mais viva cada escara
Gerando dentro da alma esta agonia.



6

Algozes encontrando a cada dia
A face mais cruel, realidade
O tempo não se mostra em liberdade
Enquanto mantém viva a fantasia,
O vento na verdade não traria
O quanto desejara em claridade,
Nem mesmo o quanto quis felicidade
Num verso mais suave viveria.
Sedento beduíno num deserto,
Apenas o que possa a descoberto
Encontro nesta ausência que nos toma
Ainda multiplico meu passado
E vejo que somente este legado
Traduz o que pudera em rude soma.

7

O verso que talvez não traduzisse
O mundo quando muito o desejei
O tanto que se fez na dura grei
Ou mesmo se moldara em tal tolice
A vida se mostrando em tal crendice
Enquanto no vazio eu mergulhei
Dos erros costumeiros escapei
E a noite em sonho rude contradisse.
Presumo cada engano e tão somente
O mundo noutro fato se apresente
Mostrando a velha cena em dor e tédio,
Meu canto sem razão já não ecoa
A sorte que pensara calma e boa
Agora se perdeu, e sem remédio.

8

Servindo como norma ou mesmo ausência
Do tanto quanto tento e nada vejo
Num tempo tão cruel e malfazejo
A sorte se produz na inconsistência
Do temporal do qual já sem ciência
O manto que recobre em azulejo
Traduz sem ter firmeza o que desejo
Traçando a mais sutil impertinência.
Vacante coração em noite fria,
Ausenta de meus olhos, poesia
E nada mais se vendo senão isto
Resumo meu passado num só verso
E neste caminhar agora imerso,
Apenas já cansado, ora desisto.


9


E os erros que não faço, nem aceito,
Apenas o que vejo dita o fim,
E bebo cada gole e sei que vim,
Tramando o que deveras nega o pleito
A sorte desejosa toma o leito
E bebe este cenário sempre assim,
Marcando o quanto resta vivo em mim,
Na solidão da qual não me deleito,
Vagando em lua clara, noite imensa
A sorte noutro tanto busca e pensa
Vencida a tempestade, na bonança;
Porém nova faceta da procela
Aos poucos sem sentido algum revela
A fúria que decerto nos alcança.


10



Pedindo o teu perdão, nada tivesse
Sequer algum momento mais suave
A vida se moldando aonde agrave
Não admitindo ao menos mera prece
O verso que deveras não se esquece
A liberdade feita na alma, esta ave
Que segue sempre além, qual fosse nave
Quando sequer uma ordem obedece,
Presume a claridade da manhã
E sei da própria sorte neste afã
Gerado pelo imenso delirar,
Vestígios do passado? Nem pensar,
Não quero alimentar mais esta cã
Somente noutro instante divagar...

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