segunda-feira, 29 de agosto de 2011

29/08/2011

Numa sorte diversa da que tive
No momento mais duro e mais atroz
A certeza se mostra em firme voz
E traduz o que nunca em paz retive,
Esperando talvez o que não vive
Nesta sombra ou mesmo logo após,
A verdade rompendo laços, nós
E o mergulho; deveras, mal contive.
Aguardando a saída que não vem
Ou talvez espreitando um raro bem
Quando a dita se mostra caprichosa
Nos jardins onde quis a primavera,
Tanta angústia no fim já destempera
E a saudade decerto se antegoza.

2

Resumindo num verso minha lida
Traduzindo em palavras o que sinto,
Meu caminho diverso e mais distinto
Expressando o que tanto se duvida,
Já não vejo talvez qualquer saída
O meu tempo se mostra quase extinto
E se possa tramar o que desminto
Outra senda se molda em dura vida.
Na acidez da importância mais audaz
De quem tenta e percorre sempre atrás
Da verdade que nunca reconheça,
Ou sincera versão da própria morte,
O que tento e jamais, pois nos conforte
Nem a paz que se queira agora teça.

3

Redimindo o que pude noutras eras
E jamais deveria acreditar
Nas estâncias diversas de um luar
Onde tudo decerto ainda esperas,
O caminho se faz e dentre as feras
Não concebo sequer o que notar
A verdade se espalha devagar
Ao final com certeza destemperas.
Resumindo esta história em medo e dor,
Ao momento se banha em redentor
Delirar que procuro não conter,
A certeza de um passo mesmo rude,
Transformando no quanto já não pude
Renegando, porém, algum prazer.

4

Quando vejo a saudade se aproxima
E retoma o que outrora fora sonho
Já não posso e deveras decomponho
Mesmo quanto da vida não se estima,
Ouso até perceber o velho clima
Que moldara um caminho mais bisonho
E se possa vencer o que proponho,
Na verdade a palavra não suprima,
O meu canto se mostra num instante
Em que a vida decerto ora garante
O tormento de ser apenas só,
Quando tento fugir na poesia
O refúgio talvez; não me traria
Senão a mesma história em lama e pó.

5

Esperasse quem sabe, alguma luz
E o meu mundo jamais se fez presente
No cenário apenas se apresente
O que tanto decerto reproduz
A paragem diversa desta cruz
O momento que busque finalmente
Vaga sombra tocando plenamente
O meu canto no fim, nada conduz.
Sendo assim a verdade se apresenta
Na face mais audaz e sei sangrenta,
Resumo de uma vida sem proveito,
E quando não se possa mais sonhar,
Nem mesmo tendo além raro luar,
Sozinho; novamente, ali me deito.

Um comentário:

Anônimo disse...

MAGNÍFICOS VERSOS, IMAGENS POÉTICAS DESLUMBRANTES E RETÓRICA PRECISA E APAIXONANTE! PARABEN S GRANDE POETA!