domingo, 3 de julho de 2011

1

Noite chega outra vez e a solidão
Se aproximando do meu quarto e sem neons
Momentos dissonantes, sem batons,
E beijos que trouxessem dimensão
Ao quanto poderia e sei que não,
A vida se perdera e destes tons
Misturam-se esperanças, vários sons,
A um tempo numa enorme confusão
Enquanto silencio e nada mais,
As ânsias entre tantas tão iguais
Os medos enredados no que pude
Viver o quanto resta em atitude,
Tentando pelo menos esta paz
Que a noite na verdade já desfaz.

2


Os raios deste sol no amanhecer
Adentram as ventanas da esperança
E o quanto sem sentido a vida avança
Presume o que seria algum prazer,
Mas nada se traduz no quanto ao ver
Tramasse qualquer passo em confiança
A sórdida ilusão agora alcança
Cansado coração a se perder.
Não me importasse o sol sequer a bruma,
Minha alma em grises tons já se acostuma
E sorve a paisagem, mais tranquila,
Porém a ausência tua refletindo,
Enquanto dizem: “tempo belo, lindo...”
O herético horizonte além desfila...



3

A vida se refaz? Farsa temível,
O tempo não seria tão igual
Tampouco outro momento colossal
Encontraria a paz em vário nível,
O mundo que eu sonhara, invencível,
O canto noutro ritmo, sensual,
A sorte com certeza magistral,
E o templo da esperança, indestrutível.
Mas quando pelo tempo carcomido,
Em cãs, já decomposto nada trago,
Somente as mesmas marcas do que um dia,
Matando lentamente em decidido
Caminho pelo qual a cada estrago,
A morte sem remédios; soerguia.


4

Reveses dominando o meu caminho
E o canto se presume noutro enredo,
Vagando sem sentido algum, procedo,
Enquanto no vazio ora me aninho,
Bebendo deste sonho, raro vinho,
O manto noutro tom dita o degredo
E quando de tal forma ora procedo,
Avinagrando o verso, mais daninho,
Consumo esta acidez e não percebo
O tanto que pudera quando bebo
A morte sem sentir o que traria,
Apenas vicejando o meu anseio
Singrando no oceano, devaneio,
Usando como uma arma, a fantasia.


5

A vida sem trazer o que a fortuna
Há tanto oraculasse o coração
Não vejo algum sinal e desde então,
A luta noutro tempo nos desuna,
Adentro imenso mar em minha escuna
E perco num instante a direção
Deixando para trás leme e timão,
Quando à deriva o sonho me importuna.
Aporto na expressão mais dolorida,
Redimensionando a minha vida
Jogada sobre as rocas e penedos,
Os dias se perdendo sem motivo,
Apenas e somente sobrevivo,
Vivendo em dissabor, momentos ledos.

6


O quanto se fizera mais cruel
Destino que traduz e me entranhasse
Levando na incerteza deste impasse
Ao mundo, este terrível carrossel,
Vagando de tal forma, sol e fel,
Anseio por talvez um desenlace
Que um sonho mais gentil proporcionasse
Cobrindo a nossa vida em claro véu,
Porém do azulejado céu somente
A bruma que invadisse tão grisalha
Fazendo como um campo de batalha
O tanto que restasse, tolamente,
E o vento quando além meu canto espalha,
Ultrapassando o sonho, na tangente.

7

Talvez quisesse a vida de tal forma
Que nada impediria novo passo
Enquanto o que tentasse e já desfaço
Moldasse como fosse uma reforma
O tanto neste enredo se transforma
E vejo o caminhar diverso e lasso,
Tentando acreditar no firme laço
Que possa traduzir o que conforma,
Minha alma se liberta e num instante
Tentara acreditar no quanto venha
Sentindo esta expressão mesmo ferrenha
De um mundo aonde o nada se garante,
Vestir esta ilusão e abandonar
O barco que começa a naufragar...



8

Quem dera se inda houvesse em alvoradas
A mesma sensação que esperançasse
O tempo crisalida, mas a face,
Expressa as velhas cãs já desenhadas,

E os erros se acumulam nas estadas
Enquanto o meu caminho mal notasse
Vivendo sem saber do quanto trace
As horas entre rodas degradadas,

Não quero apresentar qualquer escusa,
A vida se mostrara tão confusa
E o marco se perdera no caminho

Aonde quis a glória nada veio,
Somente o mesmo passo, mesmo alheio,
Que molde o rude palco onde me alinho.



9

Perder-me sem saber das despedidas
Que tanto poderiam me trazer
Ainda algum alento, eu posso ver,
Distantes dos olhares as saídas,
E vendo de tal forma tais feridas
Tentando descobrir no próprio ser
A solução que trague algum prazer
Enquanto uma esperança enfim acidas,
O rumo se traduz em farsa e medo,
E quando se disfarça e mal concedo
Um dia sem sentido ou sem proveito,
Apresentando apenas o vazio,
Enquanto o meu anseio eu desafio,
Nas tramas da ilusão, tolo, eu me deito.
10

Saudades que inda tenho de outras eras
Aonde o tempo fosse mais suave,
E quando uma ilusão se fez a nave
Girando além do espaço que ainda esperas,
Tramando nos olhares primaveras,
Não vendo no caminho algum entrave,
Vivendo a sensação do que se lave
Esta alma sem temores, sem tais feras.
O tempo modifica qualquer sorte,
E o tanto que pudera e não comporte
Explode num momento mais sutil,
E o verso se anuncia em tal compasso
Que tudo num instante se o refaço
Revive dentro da alma algum vinil...

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