domingo, 3 de julho de 2011

41

Ousasse acreditar em tais mentiras
E nada mais seria além do caos
Os olhos procurando outros degraus
E a vida noutro fato se retira,
E sei do quanto possa ou interfira
Gerando novos rumos, velhas naus,
Anseio por momentos mesmo maus,
E neles o que tento tanto gira,
O corte se anuncia e nada vejo
Somente a solidão a cada ensejo
Marcada pelas tantas ironias,
E quando no final restasse apenas
As horas onde agora me condenas,
Outros motivos; logo encontrarias.

42

Nas tantas ilusões que a vida traz
Pretendo pelo menos navegar
E crendo na expressão do imenso mar,
Pudera ter um fim somente em paz.
Não quero nem tentasse ser mordaz,
O medo noutro tom a demonstrar
O verso sem sentido a desvendar
O todo que tentara e não compraz,
A luta noutro enredo se desfia,
E gera a solidão, dura e sombria,
Que tanto me arremete ao fim, ocaso,
No pendular anseio que presumo,
Meu sonho se reduz ao tosco sumo,
E mesmo assim da vida ora me aprazo.

43

São versos entre rumos mais dispersos
E neles o que um dia trouxe em paz,
A sórdida presença contumaz
E nela outros caminhos e universos.
Regera com certeza novos versos,
E sei do quanto possa ser capaz,
Matando a cada dia o que não traz
Sequer o que se quer; sonhos diversos,
No afã do trovador que em lua imensa
Procura com certeza enquanto pensa
Nas tramas mais suaves, na esperança,
O manto se refaz a cada instante
E bebo do que possa e se garante
No todo quando a vida em vão se lança...


44


Apresentando apenas o vazio
Que possa ser além de meramente
O tanto quanto a vida se desmente
Expressa a dimensão que inda recrio,
O vértice gerado após o estio,
A senda dominando sonho e mente,
No cântico sublime, num repente,
O medo noutro todo gera o frio,
E o canto mais sutil não nos reprime
Vagando neste todo onde é sublime
O desafio feito em concordância,
Não meço mais palavras e se passa
A vida como fosse uma trapaça
Mantendo da esperança esta distância.

45

O vento que trouxera em plenitude
O nome de quem ame e mais queria
Ousar na mesma face em rebeldia
Enquanto o descaminho tanto ilude,
Meu passo sem saber mesmo o que pude
Expressa a solidão que não viria,
Tentando alimentar com fantasia
O todo noutra face em magnitude,
Ousadamente bebo o meu futuro
E quando na verdade configuro,
Espástico momento que inflexível
Não deixa que se veja no amanhã
A farsa quando traça em ledo afã
O todo que se molda no desnível.

46

Nascendo dentro da alma esta incerteza
Que possa transcender em luz e glória
A vida se desenha além da escória,
Marcando cada passo com surpresa,
E quando se mostrasse mais ilesa,
Vencendo o que inda reste na memória
Talvez seja dispersa e merencória
A luta contra a fúria em correnteza,
Não quero e nem tentasse divisar
Momento mais sublime a se notar,
Vestígios de uma vida sem remédio,
Toando no vazio a voz do vento,
E vendo o que deveras ora invento,
Acrescentando ao fim o imenso tédio.

47

Levado por acaso aonde o nada
Desprende com terror o que não vira
Na vaga sensação desta mentira
A luta noutra face anunciada,
Ao menos mergulhasse na alvorada
E tento cada fato onde se atira
A noite desdenhada em corte e tira,
Palavra pelos sonhos, degradada,
Anseio outro momento e sei do quanto
O marco mais cruel em desencanto
Gerasse o fim de tudo, tão somente,
Não quero ter apenas o que um dia
Gerisse sem saber esta agonia,
Matando em nascedouro outra semente.

48

Não mais representasse algum sinal
De sorte ou de temor enquanto venha
Translúcida expressão mesmo ferrenha,
Gerasse noutro instante o bem e o mal,
O amor que tanto quis consensual,
No tempo ou noutro engano não convenha,
E sei do quanto pude e desta lenha,
O fogo se transforma além-frugal,
O canto se espalhando, o tom cigano,
O verso noutro encanto, soberano,
E sei do meu momento sob a lua
Que assiste com certeza a imensa frágua
Deixando para trás a dura mágoa
Enquanto uma esperança em paz cultua.

49

Apoias os meus passos, noutra ideia,
Diversa da que tive e se mostrara
Na farsa mais dorida em vã seara
Deixando para trás tal panaceia,
E a lenda no que possa sem plateia
Marcando com terror a noite rara
A vida se traduz e desprepara
Quem tanto quis além da farsa ateia.
Comparsas no passado e no futuro
O medo na verdade configuro
E bebo em fortes goles a aguardente
Que posa me trazer um falso mundo,
E neste delirar eu me aprofundo
Enquanto o sonho além sempre apresente.

50

Acolho com ternura o que viria
Do cálice mais tosco, esta ilusão,
Vencida pela mesma dimensão
Do quanto trago rude fantasia,
A morte a cada instante moldaria
A torpe e mais dorida sensação
Do encanto sem recato, em previsão,
Que possa traduzir farta agonia,
O medo sem sentido e sem proveito,
Não faz com que meu passo seja aceito,
E imerso nos meus versos sigo só,
O tempo se anuncia sem que eu veja
O quanto a vida traga de bandeja
Traçando na cabeça um tenso nó.

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