Carta escrita nos porões da ditadura
Deste porão escuro e bem frio
Onde sozinho eu durmo, pelo chão,
Eu vou sofrendo longo e triste estio,
E torturado sou, sem ter razão!
E prisioneiro vivo no vazio
Nesse regime duro de exceção
Na solidão que vivo, silencio,
Sem entregar parceiro e delação!
E prisioneiro eu sou porque lutei
Contra injustiça e tanta aberração,
Sonhei demais viver sem ditadura!
E morro aqui porque muito sonhei
Com um país bem justo, sem porão,
Sem calabouços podres, sem tortura!
Edir Pina de Barros
A sórdida expressão de um pau-de-arara
Marcada na lembrança que, sangrenta,
Traduz o que deveras representa
O solo quando incúria e fúria arara.
Assim a própria vida se prepara
Ao renascer após qualquer tormenta,
E o peito já desnudo agora enfrenta
A podridão que em mortes adubara.
Liberdade, qual bela e rara flor,
Nascida sobre os corpos de milhões,
Cevada em masmorras e porões,
E todo novo sonho, agricultor,
Que possa permitir aos que virão
Deste horizonte límpido, a expressão.
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