sábado, 21 de abril de 2018

NÃO PODEMOS DESCANSAR

NÃO PODEMOS DESCANSAR



No amor divino e difícil do homem pelo homem, do perdão às ofensas e injúrias, da mansidão ao enfrentar as feras incontidas.
Nesse clamor diário pela justiça, embaçada e ofuscada pelos poderosos, tratantes e facínoras.
Nossa luta nunca deve descansar, nem pode, pois é nosso ar, nosso rumo e prumo, nossa atitude perante a vida, nunca pode ser contida ,nem pode esperar; ela é coerentemente combativa e ativa; hiperativa mesmo, pois traduzirá por onde irá o amanhecer.
Nos nossos ídolos e heróis imolados e estrangulados pelas bestas feras do passado, do presente e que virão; pelo intransigente amor ao homem, devemos nos preparar para a batalha.
Para meus filhos, em cujos trilhos haverá mais brilho, mais atino, melhor destino...
Meninos que crescem com a espera do dia seguinte, nada mais que o perdão pelos nossos erros e pelas mazelas que tentamos mitigar.
Dói a luz da dor aos olhos que teimam em não enxergar, mas logo passa, a vida recomeça e a mão volta a maltratar os que não tem pés, nem pernas livres; atados que são na corrente eterna da escravizadora injustiça.
O sacrifício de milhares de crianças nos guetos e favelas, somente passam e não alcançam; a dor dos homens é o mote das “caridades” aos domingos, nas preces fingidas de quem não conhece e, pior, teme o cheiro pútrido das vielas infestadas dos cadáveres insepultos dos números das estatísticas, da dor física e da malidição dos flagelados.
Não digo que sejam abutres, nem isso são, somente representam o acaso, o sem querer, o nada ver e, se ver, nada fazer, passar de viés, através da ponte que criam sobre os mortos-vivos.
O mar de mártires diários, nos campos famintos nordestinos e mineiros, nos vales dos vários Jequitinhonhas, nos agrestes e sertões, nada representam senão um olhar de banda, por cima de tudo, inatingível.
É cabível outra sina? É possível outro tema? Quando a saga dos sem sangue, anêmicos, devorados por dentro e por fora pelos parasitas inconsequentes e vorazes, percorre as ruas, as janelas se fecham, o corpo estremece e o coração teme, tremem os velhos e meninos bem vestidos, os cães ladram e mordem, arrancam e devoram aquela carne em decomposição em plena vida.
Devemos lutar pelos inválidos e desvalidos, apáticos e agônicos, na sinfonia do planeta terra, da terra brasilis, do umbigo humano, eterno cordão que nos ata à Terra, mãe genereosa, filhos ingratos e agressivos, filhos ambiciosos, mesmo que cientes, inconsequentes na volúpia devoradora, devastadora, destruidora de tudo.
Mudo não fico, me inundo de brios, meus fios acendo, ascendo a Marte, a São Jorge, a Ogum, na luta diária, com a mansidão de um Betinho, com o carinho de Irmã Dulce, mas também com a fúria de um Guevara, varas e carícias à mercê de minha batalha.
Vamos, irmãos, não deixemos cair no olvido, o telhado de zinco, o barraco de sapé, o bicho de pé e as lombrigas das almas.
Vamos em rumo ao SOCIALISMO, nosso canto e rito, nosso sonho bendito, nosso porvir e visão.
Nosso alento e alimento, nosso rumo e cimento, nossa consagração.
Sangrando as mãos, se preciso, num ato conciso e fortemente cristão.
Nosso chão e teto, escada e cometa, nossa promessa de dádiva, de vida , na profecia bendita, desse mar de agora, mar de podres injustiças, com o nosso começo, sem tropeço, sem medos, virar um sertão; e o sertão da miséria, da fome que impera, com a nossa luta, nossa batalha, num momento de glória, virar um maravilhoso mar de amor, de louvor à vida, na multiplicação dos pães, no sangue revivido, compartilhado, numa cadência maviosa, de piedade e justiça, de caridade sem cobiça, do homem irão do homem.
Não vamos perder esse momento, onde o início de tudo isso se torna nossa luz.
Obrigado Jesus, por ter me dado esses dias, onde vislumbro alegrias ao povo sofrido, onde o grito contido, possa se transformar numa canção de amor e fé.
Teu Evangelho, pro velho, pro menino, pros pobres miseráveis, pros sem esperança, pros que não tinham teto, comida ou afeto; para quem, de concreto, a vida só deu os pés cansados e descalços, as mãos calejadas e vazias; os olhos opacos e sem rumo, esse teu Evangelho começa a ser transformado, devagar, mas constantemente, no vagar das olas , nos cadernos e livros, no renascer dos brilhos dos filhos e nos fios da energeziante e contagiante glória dos nossos rebentos; arrebatando e arrebentando as correntes.
No cheiro gostoso da boca que come, dos antes dementes, que agora pressentem o final dessa estrada que, se um dia não em deu em nada, cada vez mais traduz alegria.
Tenho comigo, os gritos da morte, as crianças esquálidas e invalidadas pelas cordilheiras desabadas, flores rasteiras, condenadas ao nada.
Nos hospitais e necrotérios, tenho ainda vívido esse grito, o aflito desespero da fome.
Se houver entre nós, alguma dignidade, e creio que esse é o nosso maior legado, NÃO PODEMOS DESCANSAR NUNCA DESSA BATALHA.
ELA É O OXIGÊNIO QUE CIRCULA PELOS NOSSOS VASOS SANGUÍNEOS.
É O QUE NOS PERMITE DIZERMOS QUE SOMOS CAPAZES DE NOS CONSIDERARMOS, REALMENTE HOMENS.
Por fim, sem delongas, ponho meus olhos na primavera, e nela espelho o reflexo dos sonhos, amanhã, os frutos benditos do SOCIALISMO.
Que Deus nos ilumine e nos dê forças para a LUTA.



MARCOS LOURES

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