07
Erguendo este castelo de ilusões,
Durante tanto tempo fui feliz?
Minha alma sanguinária meretriz,
Vagando pelos sonhos, seus porões...
Vencendo em pensamento os turbilhões,
Apenas foi somente triste atriz,
A vida em realidade já desdiz
No palco, estas falsárias emoções.
Aonde se pensara em tais delírios,
Restando tão somente os meus martírios,
Nas sombras de meus passos, solidão...
Vestindo hipocrisias, quis talvez
Que houvesse pelo menos placidez,
Porém, hoje eu percebo, foi em vão...
Marcos Loures
08
Erguendo antigas taças de cristal
Num brinde inconcebível, desejado.
O corpo em plena sala abandonado,
Numa aquarela amarga e sensual.
O sorriso quarando no varal,
Do cadáver inerme, ensangüentado,
A moça lembra os tempos de noivado
E veste a sua roupa magistral.
Gargalham-se os abutres de plantão,
As bocas rapineiras se inebriam,
Embora recendendo à podridão
Um perfume suave invade a sala,
E as velhas poesias propiciam
O meu féretro numa comum vala...
09
Ergamos nossas taças neste brinde
À toda humanidade que navega,
Embora tantas vezes siga cega
Permite-se um sonhar que se deslinde
Contrato com passado se rescinde,
A dor da realidade já sonega
Apregoado sonho em que se apega
Bem antes que esta história vã se finde.
Assim, podendo crer que uma amizade
Trará a necessária liberdade
A quem deseja ter um novo dia.
Cordeiros de nós mesmos por ofício,
A cada corpo exposto um sacrifício
Em nome da esperança que nos guia...
5910
Era tarde! Não mais eu te veria
Andando pela casa, desfilando
Um último sorriso de alegria...
O tempo foi assim, se transbordando...
Restava simplesmente a fantasia
Jogada pelos cantos, demonstrando
Que fomos mais felizes, algum dia...
Nada mais restaria, nem o brando
Desejo de se estar mais à vontade,
Vestida da ilusão que te roubei.
Pois disso, pelo menos, hoje eu sei,
Agora deste tempo que passei,
Não resta mais sequer a claridade,
Apenas o murmúrio da saudade...]
11
Envolvido nas marcas da paixão.
Bebendo algum licor feito em desejo
Às vezes procurando atracação
Em outras, solitário ainda almejo
O sonho que me desse a direção
Que ao fim da tempestade ora prevejo...
Melancolia é como um passaporte
Que leve à redenção depois de um tanto.
A gente prevenindo qualquer corte,
Espera pela sorte noutro canto.
Se eu tenho a solução que me suporte
Não vivo tão somente em desencanto.
Tomando mais um gole de café
Mantenho ainda viva a antiga fé...
12
Envolves com teus braços, meu pescoço,
Teu corpo se encostando, me provoca
Enquanto com desejo me alvoroço
A língua convidando, amor invoca.
Ao ter em minhas mãos, raro colosso,
Tesouros encontrando em cada toca,
O amor enfurecendo, e sei que posso
Sentir aonde o sonho desemboca.
Tesouros que se dão em bela mina,
Nas sendas mais profanas, a menina
Abrindo o paraíso convidando
À festa desvairada da paixão.
Esfaimado, dos gozos um glutão
Aos poucos em loucuras, se entregando...
Marcos Loures
13
Envoltos pela mesma sensação
Que molda cada verso que fazemos.
Depositando a luz no coração
Usamos na viagem fortes remos.
Paisagem em que se dá transformação
Distância, atemporais, ora rompemos,
Da poesia, tenra profusão,
Na qual, tanto insistimos quanto cremos.
Cremando os nossos medos tão inúteis
Deixando para trás momentos fúteis
Servimos ao Senhor do amor perfeito
Versejas com suprema maravilha,
No amor que é nosso guia, sonho trilha
O encanto que desejo, quero e aceito...
Marcos Loures
14
Envolto pelas teias da paixão
Menina me embalando nesta rede
Carinho modifica a direção
Nos lábios vou matando a minha sede.
Menina que protege e me acalanta
Guiando cada passo, estrela guia
Vontade de ficar contigo é tanta
Que encanta com fervor e alegria.
Magia que se mostra no balanço
Da moça galopando o seu corcel,
Dançando no teu jogo eu não me canso
Alcança com prazer, invado o céu.
Menina que me guia; estrela e chama,
Rolando sideral invade a cama...
Marcos Loures
15
Envolto pelas garras da paixão
Tomado por intensa obscuridade
Procuro em plena treva a claridade
Encontro tão somente a escuridão...
Cevando uma esperança, uma ilusão,
Perdendo pouco a pouco a liberdade
Escravo deste sonho, na verdade
A seca vai negando cada grão...
A luz que eu procurara, de um luar,
Perdida e tão distante de meus olhos,
Recolho em meu jardim tantos abrolhos
E a vida se esvaindo devagar...
Quem sabe, noutros braços, noutro dia,
Perceba em novo amor, uma alforria...
Marcos Loures
16
Envolto nos teus lábios, braços, pernas
Na noite tão gostosa do meu bem,
As horas que vivemos sendo ternas
Anunciando o sol que agora vem
Distante dos momentos em que hibernas
Terás todo o calor que este amor tem
Decerto as emoções que são eternas
São tudo o que queremos e convém.
Em volta desta luz, eu qual falena
Entregue sem defesas num mergulho,
Do amor que a gente faz e que eu me orgulho
Mantendo a poesia mais serena,
Estendo o coração numa ciranda
Deitando a fantasia na varanda...
Marcos Loures
17
Envolto nos seus braços, vou seguindo,
Procuro no teu colo, um acalanto,
Amor feito disforme é sempre lindo,
Rebenta em emoção, inunda em pranto,
Na lábia do menino, vou fluindo,
Entregue sem limites, amo tanto;
A lua que nos banha reluzindo
Expressa em fantasia cada canto.
E nada do que possas me dizer,
Trará além do amor, maior prazer
No céu que se ilumina em florescência
Nos olhos decorados por cobiça
Vontade sem limites vem e atiça,
Roçando os meus instintos, sem clemência
Marcos Loures
18
Erguer a taça nobre em brinde raro
Fazendo deste encanto nosso guia.
Amar é se entregar à tal magia
Tornando o dia-a-dia puro e caro.
Calando o sentimento outrora amaro,
Sentindo a plena paz em harmonia
Ouvindo da esperança a melodia,
Nos braços de quem amas, teu amparo.
Não ter outro desejo senão esse
Do gozo e da alegria, sacra prece
Descanso após as lutas e batalhas.
Beber do mel sagrado de uma entrega
Mirar a luz sublime que não cega
Andar sem temer cortes nem navalhas...
Marcos Loures
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Erguendo-se do mar, já me sorria
Em prata, em pedrarias, vem luzindo.
O verde em teu olhar reproduzindo
As águas deste sonho em fantasia.
A lua se desmancha em raios, fria,
Em gotas de alvo brilho, seduzindo
Em busca de um amor que seja infindo
Além do que bem sabe, assim teria.
A deusa se mostrando, uma Afrodite
Dos mares tropicais, vem nua em pêlo.
Desejo! É tão difícil assim contê-lo,
Ultrapassando todo o meu limite.
A noite num segundo se incendeia
Aos olhos sensuais desta sereia...
5920
Erguendo um brinde à sorte que não veio,
Desfilo meus sorrisos, carnaval.
O bloco da saudade, sem receio,
Refaz na quarta feira, o ritual.
Das cinzas que recebo como herança,
Do velho funeral das ilusões,
Apenas o fantasma da esperança,
Atado nos meus pés, duros grilhões.
Fazendo da alegria, o meu calvário,
Esgueiro-me entre brilhos, paetês,
O público nem vê o velho otário
Que traz nos olhos flores e buquês.
Lembranças dos antigos carnavais,
Resquícios de um amor, restos mortais...
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Erguendo para sempre estas bandeiras
Que mostram o poder de uma amizade,
Quem sabe em mãos mais firmes e certeiras
O mundo se refaça em claridade.
Distante das promessas costumeiras
Sabemos desfrutar da liberdade,
Nas horas mais difíceis, derradeiras,
O que nos salva é ter a lealdade
Que sempre encontraremos numa amiga,
Por mais que erramos, somos perdoados,
Assuntos mais diversos, delicados,
Podemos já contar com quem se liga
À gente por estreitos, firmes laços,
Tocando nossa vida em mansos passos...
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Erguendo o pensamento, cubro espaços
E vejo em antegozo minha sina.
Resplende simplesmente nos teus braços
Tal sorte, que já quero e determina.
Não deixo de falar, rimas patéticas
De tramas que julgara me deslumbram
Não sei se te farei loas caquéticas
Mas sonhos que quisera se vislumbram.
Não peço meu amor que traga idéias
De como poderemos ser felizes,
Não sinto necessárias epopéias
Apenas que mudemos os matizes.
No fundo, meu amor é simplesmente
Desejos que trocamos, de repente...
23
Erguendo o meu olhar, vejo a figura
Que segue nesta pútrida viagem,
Por mais que estas asneiras não ultrajem
De ti não resta nem caricatura.
A dama desfilando a falsa jura
Empesta totalmente a mansa aragem
Cada favor em drágea, uma bobagem
Sorriso da imbecil teima em candura.
E o riso viperino dá seu bote
Irônico fantasma quebra o pote
E mata quem ainda quer sossego.
Tomando algum vermífugo talvez
Liquidasse a banal estupidez
Quem sabe em ti veria algum emprego?
24
Erguendo o meu olhar encontro a serra
Tomando toda a linha do horizonte,
Quem dera se eu tivesse ainda a ponte
Ligando a fantasia à minha terra.
E quando a realidade me desterra,
Secando da esperança toda a fonte,
Não tendo a claridade que desponte,
Inutilmente e tolo o peito berra
Sem eco que me trague uma resposta
Eu vejo uma ilusão já decomposta
Criando enorme abismo intransponível.
A serra gigantesca, a enorme fenda,
O coração patético desvenda
Segredo que mantenha igual tal nível.
25
Envolto em sentimento mais profundo
Que traz em nossas vidas, sedução.
Vagando meu amor solto no mundo
Cenário deste sonho: uma paixão.
Não deixo de pensar um só segundo
Segundo já comanda o coração,
E cada vez que penso me aprofundo
Até chegar ao fundo da emoção.
Monções e tempestades sequer mudam
A rota preferida pelo amor.
Em tudo se mostrando sedutor,
As dores em remédios se transmudam
Assento meu carinho no teu canto
E embrenho meu desejo em tal encanto...
Marcos Loures
26
Envolto em cores raras, envolventes,
Mergulho no oceano de teus sonhos.
Sentidos em delícias quando as sentes
Permitem novos cantos mais risonhos.
Amores, testemunhos de um bom dia
Encetam maravilhas nestas sanhas.
O quanto amor em paz nos propicia
Deixando estas etapas, todas ganhas.
Vertente imaculada, quase seita,
Adorna nossa vida em luz sobeja.
Luzindo mesmo quando a lua deita
Em mágica emoção brilhos poreja
Nos céus de nosso amor, bela tiara
Imagem constelar perene e rara...
Marcos Loures
27
Envolto em braços plenos de ternuras
Eu faço de meu verso o que bem quero,
O quanto coletando em desespero
Demonstra quem viveu somente agruras.
Palavras benfazejas sempre puras
Não servem pra quem sofre de tempero,
Na costumeira forma, este godero
Invadindo o trigal, tolas procuras...
Eu bem te vi tentando ser alguém,
Porém quem um vazio assim retém
Não pode, na verdade ser mais nada,
Senão uma pessoa amargurada
Reflexos tão cinzentos, constatados,
Em versos desconexos, malfadados...
Marcos Loures
28
Envoltas nos cristais, raras Estrelas
Nascidas das vontades, vão se erguendo
Desenham siderais, divinas telas
Emoldurantes nuvens envolvendo
Quem dera se eu pudesse inda contê-las
Porém este cenário se perdendo
Revela as fantasias, que tão belas
Distante dos meus laços. Vão morrendo...
As ânsias e os desejos... Ritos vários.
No canto inebriante dos canários
O som caleidoscópico dos arcanjos
Vagando pelos astros, vãos corcéis,
Saturnina esperança busca anéis
Na harmônica ilusão cítaras, banjos...
Marcos Loures
29
Envolta em tanta luz, na noite mais espessa
Nas fimbrias desta lua, adormece em martírios.
O vento descobrindo impede que se aqueça
Mostra para quem ama e trama os seus delírios
Beleza que não tem quem não mais obedeça
E siga já buscando em procissão de círios
Mulher tão magistral, embora a sorte avessa
Impede que eu consiga a cura dos colírios.
Pudesse eu mitigar a dor da solidão
Ao ter sempre comigo esta beleza rara.
Mas nada conseguindo, apenas me contento
De ter sua amizade. E conter ilusão
De um dia enfim poder, que o tempo nunca pára,
Ter seu amor pra mim. E ser – quem sabe- o vento...
5930
Envergonhado, expresso neste canto
Uma maneira a mais pra te falar,
De toda esta loucura em puro encanto,
Trazendo uma amargura a desnudar
Meu coração, tirando o fino manto
Que tantas vezes pode disfarçar
Agora vai se expondo e neste tanto
Esboça um novo jeito de sonhar
O amor que eu já sentia e nunca quis
Admitir, mas me faz ser mais feliz...
Tomando minha vida, é um tormento
Podendo destruir, eu não espero,
Manter sempre mais forte, o que mais quero;
Uma amizade feita num momento
Marcos Loures
31
Enveredo caminhos tão diversos
Daqueles que busquei sem ter proveito,
Vivendo tolamente e insatisfeito
Sei da inutilidade dos meus versos.
Se na água poluída estão imersos
Sentindo este vazio, rasgo o peito,
Derramo o que apodrece e não aceito
Mais dias entre as trevas, vãos, dispersos.
Queria algum momento feito em paz,
E tudo o que encontrei sendo incapaz
De preencher os meus dias sem sentido
Eu volto cada olhar ao meu começo,
Se eu recebi de Ti mais que mereço,
Perdoe este egoísta e tolo olvido...
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Enveredei por braços, pernas, bocas...
Nas camas das bacantes e vorazes...
Gargalhadas histéricas tão loucas,
De sonhos e penumbras são capazes!
Conheci nas orgias, tantas tocas,
Nas noites sensuais e mais falazes...
Nos delírios carnais, tontos, que enfocas,
Perdido me encontrei nas mãos audazes!
As mulheres, fagulhas sensuais,
Incendiavam todos os meus dias...
Nas festas formidáveis, bacanais,
As pernas misturadas nas orgias!
As horas que passei não voltam mais.
Noites outrora em brasa, são tão frias!!!
33
Enveredar por sendas caprichosas,
Roubando o teu perfume inebriante.
Olores que recendem a mil rosas,
A bela silhueta provocante.
Por mares tão perfeitos, navegados,
Netúnica paisagem, sou tritão
Buscando da sereia, seus agrados,
Tomado pela insânia da paixão.
Aguçando os sentidos, sinto o cheiro,
Da bela criatura inigualável,
Mergulho e sem limites, vou inteiro,
Além do que julgara imaginável.
E assim nas profundezas do oceano,
O amor além de um deus é soberano...
Marcos Loures
34
Envelheço, pressinto já meu fim...
O tempo doloroso sempre passa
Com ele vou perdendo toda graça
Morte se aproximando mais de mim.
Quem sabe se demore, mesmo assim,
Não há nada que pare, se esfumaça
A cada novo dia, e nem disfarça;
As rugas no meu rosto em um festim
Cravando suas marcas implacáveis.
Saudade dos meus tempos memoráveis.
Eu tinha a liberdade como lema.
Agora, que esta noite vem chegando,
O peito tanta mágoa lagrimando,
A morte já domina meu poema...
Marcos Loures
35
Entulho carcomido andando solto,
Lambendo as botas sujas dos burgueses.
Jamais será capaz de um gesto afoito,
O cão obediente ladra às vezes,
A fêmea finge orgasmo em cada coito
Agradecendo a Deus poucos revezes.
Um belo casamento para a filha
Com aquele imbecil, rico de terno,
Mudando sua vida em outra trilha
Deixando já de lado o duro inferno
Um genro traduzido em maravilha
É quina, quadra, bingo, sorte e terno.
Ao ver o cão de guarda ali roncando,
Com gozo sem limites, vai sonhando...
36
Entrelaço teu corpo junto a mim,
Enlaço tuas pernas com as minhas.
Perfumes nas janelas, meu jardim,
Revoam aos milhares, andorinhas...
O dia vai passando... É bom assim...
Há quanto tempo eu quis; mas nunca vinhas...
Agora estás aqui, junto comigo.
Na transparência, bela camisola;
Se é noite ou se é de dia, já nem ligo,
O pensamento livre; sim, decola
Teus seios... tua pele.... meu abrigo.
Desejo em tempestade vem e assola...
E beijo tuas coxas torneadas
As horas em paixão... extasiadas...
37
Entregues às delícias destes ventos
Que trazem tua voz bem junto a mim.
A paz que se permite em sentimentos
Estampa o que mais quero até o fim.
No aroma que se emana do teu ser,
No frêmito indomável da alegria,
Eu quero e necessito me embeber
Da glória que este amor tanto irradia.
A direção que tanto eu persegui,
O rumo procurado há tantos anos.
Eu reconheço agora, encontro em ti,
Calando eternamente os meus enganos.
Meus dedos no teu corpo deslizando,
Um dia mais em perfeição se deslindando...
38
Entregue-se sem medo à fantasia
Que doma um coração demais aflito
Tornando o nosso dia mais bonito,
Permita-se sonhar, clara magia.
Mergulhe sem defesas na alegria
Fazendo da emoção amável rito,
Persistência perfura este granito
Amor nos glorifica em harmonia.
Na força insuperável da amizade
As mãos unidas tramam liberdade
Rompendo com certeza estes grilhões
Terás a maravilha de saber
Que a vida se enternece em teu prazer
Tocando em suavidade os corações.
Marcos Loures
39
Envolto nos carinhos da tigresa
Que sempre me inocula mais veneno,
Quem sabe faz agora e já põe mesa,
Sabendo que este mundo é bem pequeno.
As cores que te prendem me retratam
Em formas mais carnais esse desejo
Se matam não mais sangram nem retratam
O canto de um passado em realejo.
Na rigidez das mãos que me carinham
Os cantos que fizemos deste barro
As noites sem teus seios se avizinham.
Amor que se pretende mais bizarro,
Acendo no teu carro minhas dores,
Jardins que nós plantamos: cadê flores?
5940
Envolto nas delícias de um orgasmo,
Relógio não faz parte do programa,
A cada novo beijo um outro espasmo,
Quem gosta do prazer jamais reclama;
Porém quando me calo e fico pasmo
Tu finges ser a vítima de um drama.
A vida sem amor? Cruel marasmo.
Teu corpo junto ao meu sempre se inflama...
E a gente não quer mais saber de nada,
O templo emoldurado em nosso quarto,
Sabendo que amanhã, querida eu parto
A noite mergulhando na alvorada
Felizes somos nós, deixe os vizinhos.
Os pobres apodrecem nos seus ninhos..
Marcos Loures
41
Envolto em triste treva, tão sombria,
No corte da navalha e do machado,
Um canto quase inerte, amargo brado
Estúpida loucura que se erguia
Das turbas sanguinárias, vaga e fria
A mão que me tocara em triste enfado
Ressurge novamente aqui ao lado
Na nebulosa tarde que surgia.
Minha alma, no passado, era canora,
Em liberdade, encantos, passarinhos.
Que uma gaiola em farpas mostra agora
Qual cicatriz e sombras de outros ninhos
Guardados no suplício aonde aflora
A temerária senda, meus caminhos...
42
Entendo a salvação feita amizade
Que possa em sintonia nos mostrar
O rumo em que se quer felicidade
Toando um sonho bom de se sonhar.
Janelas do meu peito sempre abertas
Permitem que eu entenda toda a luz
Rasgando das tristezas as cobertas
Alerta em paz intensa reproduz
O som que antes ouvira tão somente
Na boca de uma mãe extasiada,
Uma expressão divina que contente
A sorte que se mostra delicada.
Assim nesta corrente interminável
O mundo pode ser bem mais amável...
Marcos Loures
43
Envolto em triste treva, tão sombria,
No corte da navalha e do machado,
Um canto quase inerte, amargo brado
Estúpida loucura que se erguia
Das turbas sanguinárias, vaga e fria
A mão que me tocara em triste enfado
Ressurge novamente aqui ao lado
Na nebulosa tarde que surgia.
Minha alma, no passado, era canora,
Em liberdade, encantos, passarinhos.
Que uma gaiola em farpas mostra agora
Qual cicatriz e sombras de outros ninhos
Guardados no suplício aonde aflora
A temerária senda, meus caminhos...
44
Envolto em tanta lava, sangue e terra
Na doce podridão, maduro fruto,
Trazendo uma batalha, intensa guerra,
Mortalha tão voraz em louco luto.
Nesta alucinação que me transporta
Aos gritos desumanos da saudade,
Destroça esta parede, arromba a porta
E mostra em meio ao caos, a liberdade.
Nos uivos da luxúria e do prazer,
Lascivos; os meus lábios te procuram,
Vontade extasiante de beber
Teus gozos que me salvam e me curam.
Nestes punhais secretos do desejo,
As bocas se lambendo em novo beijo.
45
Entregue ao jogo pleno em sedução,
Assisto o teu olhar em farto brilho.
Moldando em minha vida rumo e trilho,
Fartura de carinhos, a paixão.
No abraço prolongado, a sensação
Da paz que assim redime um andarilho,
Não tendo mais sequer um empecilho
Vogando em liberdade em teu clarão.
Somando nossos corpos, somos um,
Na soma inesgotável de prazeres.
Bendita procissão de raros lumes
Olhando a transparência, invado em zoom
E vejo em ti o quanto inda me queres,
Sem medo, sem rancores ou queixumes...
Marcos Loures
46
Entregue a teu poder de sedução,
Me sinto desarmado e sem defesa.
Tomado pela doce sensação
De ser assim somente tua presa.
Aprendo todo dia esta lição
Das garras delicadas da princesa.
Refém deste desejo e da paixão,
Nesta vontade imensa, firme e tesa...
Que faço se te quero amor demais?
Não quero me soltar mais dos teus laços.
Em toda tentação que a noite traz,
Sem medos ou limites, nem disfarça.
Agora que me encontro nos teus braços,
O caçador virou somente caça...
47
Entregue a sensação de ser amado
Amando tantas vezes sem descanso.
Meu verso se por certo está cansado
Por outras as alturas eu alcanço...
A sorte tão diversa, passos lassos
Pesando sobre as costas de quem segue
Sentindo tal calor nos teus abraços
Depois de tantas quedas se prossegue.
Se o canto que te canto soa fútil,
Amiga, não se esqueça que num dia,
Amor que te pareça mais inútil
Apóia quando em queda, escadaria...
Deitada no meu colo vê se acalma
O furor desmedido de tua alma...
48
Entregue à mansidão nego pudores,
Tampouco quero freios e correntes,
Nem mesmo sentimentos penitentes
Apenas no jardim, perfume e flores.
Deixando para trás os dissabores
Amar enfrenta em paz velhas torrentes
E tudo o que se quer decerto sentes
Colhendo em farto solo estes alvores.
A marca de teus lábios junto aos meus
Impedem que se pense num adeus,
Iremos para sempre, passo a passo.
Amor vai demarcando nossa sanha,
A vida do teu lado sempre ganha
Tomando com carinho cada espaço...
Marcos Loures
49
Entregue a esse amor tão delirante
Que trama uma esperança a cada dia.
Sabendo que te amar é ter constante
Um peito transbordando em alegria.
Eu sei que meu caminho se perdeu
Nas ondas agitadas deste mar,
Que sabem quanto amor, amor me deu,
Em busca de teus cantos, tanto amar!
A febre que me queima e que me cura
É febre que procuro qual remédio,
A febre que em minha alma traz fervura
E salva meu amor do triste tédio...
Difícil caminhar se estou entregue,
Preciso que teu corpo me navegue...
5950
Entregue a belos sonhos sou feliz,
Caminho por distâncias tão extensas,
Cavalgo o meu corcel. Tanto te quis
Quem sabe assim mereça as recompensas.
De ter esta alegria que se diz
Nos olhos e na boca; noites tensas
Sonhando com amor, a cicatriz
Marcada, bem maior do que tu pensas..
Eu sei que esta demora é aflitiva,
Em cada novo dia, mais aumenta,
Vontade de saber da luz altiva
Que mostra qual caminho vou seguir.
Amada, esta paixão tão violenta,
Pronta no meu peito a explodir...
51
Entrego-me ao poder desta amizade
Que sabe conquistar e permanece
Trazendo por princípio tal bondade
Que enquanto nos enreda, nos aquece.
Permita-me falar da lealdade
Que é dom que na verdade não fenece
Trazendo a vida em paz, tranqüilidade,
É fruto que se dá que se oferece
Sem ter qualquer cobrança no futuro,
Não pede e nem deseja, existe e ponto.
Ajuda a suplantar um alto muro,
Nos braços da amizade posso ver,
Um mundo em maravilha sem desconto,
Que existe tão somente por prazer...
Marcos Loures
52
Entrego o pensamento perdendo a alma,
Jogado entre as correntes, nos junquilhos,
Apenas a ilusão inda me acalma
De dias que não sejam andarilhos.
O vento em tempestade, amargo trauma
Ofusca a caminhada e cega os brilhos,
Mas tento no final manter a calma,
Vislumbro tão somente os empecilhos
Empedernido sonho que se fez,
Matando em nascedouro a sensatez
Não dando qualquer chance à esperança
Fagulhas de ilusões riscando o céu,
Fosforescência mostra o negro véu
Da morte que em ironia já me alcança...
Marcos Loures
53
Entrego nos teus braços, lua e mar,
No limiar da vida eu te proponho,
Bem mais do que te amar, eu me entranhar
Em ti, suavemente como um sonho.
Estar dentro de ti cada momento
Num só respiro um passo sempre igual,
Dois corpos vencerão qualquer tormento,
Intento que nos doura, magistral.
Fazer da poesia, a nossa amante,
E ter a cada verso, esta certeza
Do quanto amor imenso e fascinante
Impede qualquer forma de tristeza.
Num ato tresloucado, tu és eu,
Meu mundo no teu mundo se perdeu...
Marcos Loures
54
Entrego em tuas mãos, meu coração
Pois sei que tratarás com tal carinho
Que mesmo que aproxime um furacão,
Contigo, não serei jamais sozinho.
É certo que esta vida traz lição
Mostrando a direção deste caminho.
Abrindo da alegria, o seu portão,
Chegando, calmamente, de mansinho...
Na força tão sutil de uma amizade,
Eu sempre percebi, me fortaleço,
Por isso em cada verso eu te confesso
Que tenho, em minhas mãos, a liberdade
De ter uma esperança bem mais forte,
Fazendo da amizade, rumo e norte...
55
Entregarás o que resta
Eu bem sei do teu disfarce
Quem, desde origem não presta,
Nem precisa mudar face
Novo nome nunca empresta
Valor novo que me embace
Canibais vivendo em festa
Nada mais há que embarace!
De tudo que foi roubado,
Vendido sem compaixões,
Muito pouco foi deixado...
Velha corja de ladrões
Nosso templo violado
Voltarão tais vendilhões?
Marcos Loures
56
Entre viços, estrelas e perfumes,
Meus sonhos tolos, líricos; prossigo.
Viajo em cordilheiras, altos cumes,
Sem medo de aventuras e perigo.
Sem asas que me levem, que me aprumem
Em nuvens delirantes peço abrigo.
Meus olhos destemidos e proféticos,
Abrandam o calor das altas plagas
Os ideais distintos, hipotéticos
Prosseguem incansáveis ledas sagas
Em meio a tempestades olhos céticos,
Abrandam tuas mãos enquanto afagas
Obuses que derramas em meus passos,
Em pedras e em espinhos forjas laços.
57
Entre todas as Divas, a mais bela
Decerto nos altares celebrada,
Por todos sonhadores evocada
Nos céus dos sonhos claros, uma estrela.
Beleza sem igual, somente dela
Clareia uma esperança pela estrada,
Tornando fabulosa a madrugada,
No quanto a fantasia se revela.
Espalha com carinhos, gentileza,
Dourando uma emoção que peregrina
Aos poucos com coragem me alucina
Dizendo da fantástica beleza
Forrando de alegrias nosso chão,
Deitando sobre todos; a ilusão...
Marcos Loures
58
Entre os altares belos dos meus sonhos,
Ergui o meu castelo com carinho.
Tijolos de esperança mais risonhos,
Com beijos e delícias fiz o ninho.
Protegem-me teus olhos, meus faróis,
No pátio, nossa cama, meus folguedos,
Nos holofotes fortes, dois mil sóis,
No cofre, coração, nossos segredos.
Na ponte levadiça do desejo,
No fosso da promessa, teu orvalho,
Das mãos que se procuram, azulejo,
Descubro cada morro, cada talho...
Mesmo que, no castelo, há cicatriz,
Rainha que desnudo... Estou feliz!
Marcos Loures
59
Entregue sem limites ao carinho,
Vagamos, pirilampos pela rua.
Tocados pela argêntea e clara lua,
Irmanados, seguindo este caminho
Que leva à fantasia feita em ninho,
No qual a nossa sanha continua
No encanto de minha alma que flutua
A Deus, neste momento eu me avizinho.
Um pássaro que sabe da gaiola
Da fria solidão que nos assola
Reconhece a janela, num instante.
No amor que prosseguimos sem entrave
A marca destes sonhos já se grave
Promessa de outro tempo; cativante...
Marcos Loures
5960
Entregue às mais temíveis penitências
A vida vai seguindo entediada,
A sorte tantas vezes adiada
Mortalha que prossegue em insolvências
Os olhos vão banhados por demências
Tantas vezes por ti remediada
A dor que não se fez aliviada
Entranha no meu corpo tais ardências.
Gerando um ninho envolto por serpentes
Cravando em minha pele finos dentes
Prevendo ao fim de tudo, uma desgraça.
Deitado sobre um rio caudaloso
O beijo que me dás, tão asqueroso
Destino mais cruel, assim se traça.
Marcos Loures
61
Entregue aos desatinos, penitentes
Carrego em minhas costas esta cruz.
Os olhos se perdendo sempre ausentes
Falena em desespero pede a luz.
Algozes, as correntes que me cortam,
Esfacelando a carne, expondo os ossos
As fantasias tolas já se abortam,
Restando tão somente os meus destroços.
O tempo de sonhar não mais existe
O canto que ora entôo é de agonia.
Seguindo pela rua, amargo e triste
Nublado, em névoas densas, o meu dia.
Mas mesmo nesta estrada tão deserta
Irei sobreviver, esteja certa!
Marcos Loures
62
Entregue ao teu poder de sedução,
Teus olhos são decerto meus faróis,
Amor que sempre traz transformação
Estende em nossa cama, raros sóis.
As horas do teu lado são amenas,
O quanto que em desejos tu traduzes
Fazendo com que eu busque qual falenas
Atrás de claros lumes, belas luzes.
A marca que se entranha em minha pele,
Das garras e dos dentes da pantera
Ao teu prazer meu sonho já compele
Prazer que mil prazeres sempre gera.
Somando nossos passos: infinito.
Amor feito em bonança, em paz, bendito...
Marcos Loures
63
Entranho um sentimento mais voraz
Frementes sensações que se apoderam,
Não deixam mais pensar e nem ponderam,
É muito além do quanto se é capaz.
Porém em tanta insânia satisfaz
E mostra nossos sonhos que se geram
Do amor, suas entranhas. Pois vieram
Do sonho de ser muito além de um cais.
Em júbilo, num êxtase sublime,
Augúrios; benfazeja intemperança
Vulcânica explosão em fonte e chama,
Amor que com delícias me suprime,
Ao ápice contigo já se alcança,
E traz em divindade toda trama...
Marcos Loures
64
Entranho teus desejos no meu corpo,
Um porto onde atracar loucos delírios.
Atiro-me em teus braços, roço a pele
Compele-me a vontade de beber
Sabores, tua boca, sexo, aromas.
Romãs deliciosas dos teus seios,
Nos veios que entreabres penetrando,
Alçando o infinito em tuas pernas,
Cisternas, locas, furnas, fendas, gozo...
Repouso meu tesão nestas lareiras,
Fogueiras que umedecem e me encharcam,
Aplacam quando acendem em fulgores
Impudicos altares onde tramo
Segredos, belos vales que eu entranho...
Marcos Loures
65
Entranho em tua xana, dentes, língua
E sorvo no teu grelo, mil prazeres,
Não vou deixar que a noite venha à mingua,
Adentro ao fogaréu como quiseres
Aprofundando sempre quero mais
Introduzindo os dedos, umidade...
No gozo que se chega, faço o cais
Aonde aporto, louco de vontade.
E sinto em teus orgasmos as tempestas
Que invadem, temporais e furacões,
Vasculho com desejo tuas frestas
E bebo cada gota, aos borbotões.
Depois em calmaria nem descanso,
Ouvindo teu gemido, eu quero e avanço...
66
Entranham com delírio a mesma dança
Meus olhos que te buscam nestes sonhos,
O gozo da alegria já se alcança
Deixando para trás dias tristonhos.
Realce que se mostra em cada verso
Denota todo o bem que eu também quis.
Viver em harmonia este universo
Demonstra o quanto quero ser feliz.
Contendo a cada olhar o teu retrato,
Reluz em nós um brilho inigualável.
A fantasia inunda este regato
Legando ao mar beleza incomparável.
Sentir o teu perfume junto a mim,
Demonstra quão divino este jardim....
67
Entranha por meus olhos, rasga o peito,
Adentra nos momentos mais fortuitos,
Deveras se permite por direito
A conhecer do sonho seus pertuitos.
Satisfazendo torna insatisfeito
Em cortes tão profundos e gratuitos
Amor conhece já qualquer defeito
E vence assim mostrando os seus intuitos.
Vencido pela seta do moleque
Não tendo outra saída sigo assim,
Das dores e prazeres todo o leque
Baderna vão fazendo dentro em mim.
Na lágrima que o tempo nunca seque
Certeza: flor/espinho em meu jardim.
Marcos Loures
68
Entranha o mais gostoso e doce cheiro
Na pele de quem quer e não descansa,
Do jeito que se pensa, verdadeiro
Amor o tempo inteiro é lua mansa.
Do sonho em que navego, gondoleiro
Deixando à solidão sequer lembrança.
Nas praças os coretos fazem festa,
Um suburbano trem faz reboliço
Mergulho todo o tempo que me resta
E quero muito além de apenas isso
Amor sem ter juízo, sempre presta
Gozo compartilhado, o que eu cobiço.
Nas danças e delícias, danações.
Delitos espalhando tentações...
Marcos Loures
69
Entranha no meu peito esta vontade
de ser além de um simples sonhador,
do amor que me trará felicidade
um novo dia, eu quero recompor.
vivendo finalmente esta verdade,
eu vejo o teu olhar a me propor
um gesto com total suavidade,
com toda fantasia e farto ardor.
beijar a tua boca mansamente,
seguir os meus desejos sem pudores,
teus lábios, mensageiros redentores
clamando ao gozo intenso, num repente,
chamando para a glória de poder
viver a plenitude de um prazer...
Marcos Loures
5970
Entranha cada raio em nossa vida,
O desejo mais sincero e sempre intenso
Da sorte e da alegria repartida
Vivendo amor em paz e gozo imenso.
Dançando sobre estrelas e faróis
Arcando com meus erros e pecados.
Inundação divina em arrebóis
Cardumes de prazeres revelados.
Mergulhos em nós mesmos, riso farto,
Viagens por incêndios fogaréus,
Altares catedrais em nosso quarto
Trazendo os mais insanos, belos, céus...
No quanto eu te desejo, assim, demais
Corcéis entre brilhantes e cristais
Marcos Loures
71
Entrando tantas vezes pelo cano
Não aprendi na vida a ser sacana,
Embora guarde em mim o desengano,
Eu sei da podridão da raça humana
Tem gente disfarçada de bacana
Gatuno sem vergonhas, um bichano
Nesta arte de roubar, mas não me engana
Enquanto sacaneia já faz plano
Renova o repertório de trambiques,
Os barcos naufragando nos seus diques
Cambada na verdade é bem astuta
Traíras, não conhecem a amizade,
Sorrisos, quando dão, de falsidade.
Ó turma de pilantra fédaputa!
72
Entrando pela porta de teu quarto,
Na noite tão querida de meu bem,
Teu corpo delicado... Não me aparto
E manso, te chamando, agora... vem.
Depois de tanto amor, deitar bem farto;
Lá fora não existe mais ninguém...
Sentado em tua cama, minha rosa,
Ver toda esta beleza iluminada
À lua que se mostra radiosa,
Nudez de uma rainha de uma fada...
A pele tão sensível, tão gostosa,
A vida se mostrando extasiada...
Depois que o sol chegar recomeçar,
O tempo nunca mais irá passar....
Marcos Loures
73
Entrando nesta mata sem ter mapa
Eu vi os meus remendos pelo chão.
Enquanto a fantasia não escapa
Teimoso vou buscando atracação
E o tempo com certeza em viração
Prefiro guarda-chuva, pois sem capa
Jamais enfrentaria a tempestade,
Anônima figura mostra a bunda
Andando pelas ruas da cidade
Enquanto a poesia já se afunda,
Matando da expressão a liberdade,
Palavra com certeza é nauseabunda.
Melhor esta ignorância feita em créu
Vendida com nobreza de bordel...
Marcos Loures
74
Entrando em conexão, desejos e vontades
Delírios que concebo, encontram seus caminhos.
Na fúria em explosão fartas saciedades
Brindando no teu corpo; insanos, raros vinhos.
Carinho tão profano, imensas tempestades
Adentro em alegria invadem nossos ninhos
As fontes deste sonho em que tais claridades
Nos olhos feitos gozo; em seda, organdi, linhos...
Viajo em tua pele, abraços e prazeres
Sementes do desejo, ardentes madrugadas,
Na festa qual banquete, as taças e os talheres
Chamado em que se escuta a força do querer.
Vagando sem destino, encontro estas estradas
Traçando em tua pele um rumo a percorrer...
Marcos Loures
75
Entrando em cena a atriz, brilha o cenário,
Cabelos longos, negros, enfeitados.
No canto e no teatro, encanto vário
Delírios em desejos provocados.
Tu tens na fortaleza, a tua marca,
Os lírios no teu nome, sol e mel.
O amor que dominando sempre abarca
Os sonhos que te levam para o céu...
Independente, segues tua estrela
Que nada impedirá o forte brilho.
Na voz que fascinando, rara e bela
Florindo este caminho que ora trilho
Na doce fantasia de poder
Em versos, meu amor, te enaltecer...
Marcos Loures
76
Entre nuvens tão negras vejo o sol
Tornando imaginável a esperança.
Palpável fantasia que se alcança
Tomando num instante este arrebol.
O amor tem seus segredos; disso eu sei.
E nada impedirá que eu os desvende,
E enquanto a luz do olhar sublime acende
Vassalo se imagina feito um rei.
Carruagens e lacaios, festas, valsas,
Por mais que estas palavras soem falsas
Eu sei que isto eu senti; quando te vi.
E neste emaranhado de teus braços,
Os gozos que já foram tão escassos
Proliferam delírios junto a ti.
77
Entre meus dedos, passa o tempo todo,
Brincando com a sorte, louco ri.
Permite tanto engano, tonto engodo,
Depois, finge que nunca esteve aqui.
Moleque solitário não dispensa
A gargalhada firme depois disso.
Por mais que tolamente, a recompensa,
Se mostra numa flor, quase sem viço.
O tempo é companheiro predileto
De uma saudade feita em mil lembranças.
Por vezes tão vazio, outras repleto
Matando devagar as esperanças.
Agora que se foi o bonde e o trem,
Amor fora do tempo, sinto, vem...
78
Entre beijos, carinhos, corações.
Nossos passos são mansos e macios...
Vivemos das eternas emoções
Que tramam e nos chamam nossos cios.
São deuses dos amores nossos pais...
Amando sem sequer saber limite.
Nos braços deste amor eu quero mais,
Delícias, te desejo; Nefertite...
Eu quero me salgar na tua praia
Eu quero te encontrar na minha cama.
As ondas vão subindo tua saia,
Acendem de repente minha chama...
É minha, com certeza, uma alma gêmea.
Minha mulher amada, minha fêmea...
79
Entraste em minha vida no momento
Em que, sem ter defesas me encontrava.
Ao mesmo tempo imerso em tanta lava
Não pude segurar o sangramento.
Por vezes quando insano, eu te atormento
Minha alma em vão cativa, tua escrava
Tentando disfarçar, romper a trava
Sonega o que maldiz o sentimento.
Espúrio, vago em versos o infinito
Inútil disfarçar, por isso eu grito
Infecto não consigo a liberdade.
Entraste neste traste que sou eu
No mesmo instante o rumo se perdeu,
Não posso suportar tal claridade...
Marcos Loures
5980
Entraste em minha vida como o sol
Que invade a senda outrora tão escura,
Trazendo claridade ao arrebol
Calor em luz intensa, com brandura.
Ao permitir que o sonho já renasça
No coração outrora tão sombrio,
Tristeza num momento se esfumaça
E um mundo mais sublime; eu fantasio.
Espalhas a esperança verdejante
Que toma este cenário ao mesmo instante
Em que ressurge, enfim, o alvorecer
Amor que em farto brilho me domina,
Dos olhos radiantes da menina
Imagens fascinantes; posso ver...
Marcos Loures
81
Entende por que sou o Zé do Jegue?
Um velho repentista desdentado
Que usando as velhas do passado
Não tendo nem diabo que carregue.
Se às eu pareço meio entregue,
No fundo não prescrevo samba ou fado,
Fazendo do forró meu canto e brado,
Eu não suportarei falso que empregue.
Você bem que podia vir comigo,
Mas sei que represento algum perigo
A quem se faz tão culta, assim solene.
Viola dedilhada num ponteio
Sem mágicas nem técnica eu receio
Que ao te tocar macia, já lhe empene...
Marcos Loures
82
Entenda; a solidão nunca acompanha
Quem sabe da certeza deste amigo.
Por mais que tua dor seja tamanha
Decerto nos meus braços, teu abrigo...
Nunca estará sozinho, com certeza.
A mágoa que perturba já consolo.
Não deixe que te toque tal tristeza
Amiga deite aqui, toma meu colo...
Tanta dificuldade pela vida
Somente uma verdade te liberta.
E saiba, meu amor, minha querida;
Terás o meu apoio, esteja certa...
Não tema que esta vida te magoe
E se te maltratar, amor; perdoe...
83
Então vamos; querida, em carrossel,
Girando neste parque da emoção.
Tiaras são estrelas deste céu
A flor do meu desejo em sedução
Roubando desta flor, fazendo o mel
Que emana em nosso sonho de paixão...
No doce do algodão da paz imensa,
No lúdico prazer de estar contigo.
Que a força deste amor, pra sempre vença
Que encontre em nossos braços seu abrigo.
Tu és, em minha vida, a recompensa
A paz que há tanto tempo, enfim, persigo...
A roda da fortuna me mostrou
A glória deste amor que nos tomou...
84
Então se não me queres quero um meio
De ter ao fim da festa algum consolo,
Quando deste infinito fui ao solo,
Mudando a direção do antigo veio.
O amor que me fez sábio e me faz tolo
Promete a solidão que de permeio
Dizendo com certezas ao que veio
Traduz o que fizeste com vil dolo.
A moça que vestiu falso recato,
Do nó que tantas vezes não desato
A forca como herança, meu brinquedo.
Quisera ser quem sabe um adivinho
Talvez ao perceber estar sozinho
Teria terminado desde cedo...
85
Então prepare bem esta grutinha
Que vou fazer contigo uma festança
Espero que ela esteja molhadinha
Mais firme e mais gostoso o pau avança.
A boca mais sedenta e safadinha
Com força me chupando logo alcança
Vontade de foder tua bundinha
Querida, devagar, a gente amansa
Prometo que coloco com jeitinho,
Do jeito que tu queres, com tesão,
Depois tu vais beber todo o leitinho
E não desperdiçar nenhuma gota.
Encharco com a lava este vulcão,
Na sede que jamais, amada, esgota...
86
Ensinou o poder de uma brandura
Quem fez do amor em paz o seu pendão.
As dores de minha alma vêm a cura
Na força tão sublime do perdão.
Durante tanto tempo em vã procura
Imerso na terrível solidão
Ouvindo essa palavra com ternura
Eu aprendi sem prece ou oração
Que o bem que nos foi dado em plena graça
Destino de quem sabe, logo traça
Mudando em paz e glória o seu caminho.
Num Pai que é nosso irmão, ao mesmo tempo,
Mesmo no mais temível contratempo,
Expõe em suas mãos, manso carinho.
Marcos Loures
87
Entorpecido, insano, noite afora.
Em gozos mais profanos, mil espasmos.
Entornas teus humores, me decora
Nas sensações mais loucas, nos orgasmos...
Em relampejos tantos, chama e fogo,
Nos corpos que se tocam, furacões,
A vida se passando neste jogo
Marcado pelas brasas das paixões...
Tu sabes quanto eu quero o teu prazer,
Fazer amor contigo não me cansa,
O sonho tão gostoso de viver,
Nas nossas doces noites já se alcança.
Tu és minha mulher, fêmea, querida...
A luz que é derradeira em minha vida...
Marcos Loures
88
Entorno uma esperança tão querida,
Caminho entre estas fontes deslumbrantes
E penso em paraísos por instantes,
Minha alma enamorada e distraída...
Há tanto que buscara nesta vida
E nunca percebera interessantes
Momentos sensuais e provocantes,
Na força desta sanha concebida
Açoda-me a alegria, eu alço os céus
E a noite derramando raros véus,
Estende-se em luar, regendo os passos
De um venho caminheiro apaixonado,
E agora que te tenho aqui do lado,
Só quero em minha noite os teus abraços.
Marcos Loures
89
Entornas, nos teus olhos, poesias;
Convite irrecusável para a festa .
Agreste sensação alegorias
Que amor insuperável quer e gesta.
Harmônico desejo em que me guias,
Vencendo a solidão que ainda atesta
O quanto foram vagos velhos dias,
Impregnar-me de ti, o que me resta.
Sentir o teu perfume, tua pele,
Roçando o teu cabelo em minha tez.
Arfante este delírio, insensatez,
Argúcias já permitem que se atrele
Ao corpo um outro corpo que esfaimado
Transita um infinito do teu lado...
5990
Entornando sedução
A morena desfilando,
Parecendo um furacão
No recanto, às vezes brando,
Meu olhar te procurando
Vai seguindo a procissão
Pouco a pouco penetrando
Acelera o coração.
Da morena tão brejeira
Que sorrindo traz a festa,
Meu desejo entra na fresta
E balança esta roseira,
Seu molejo já me atesta,
A morena é brasileira!
91
Entorna sobre nós rara esperança
O brilho em carrossel do amor que trazes,
Não tendo mais palavras sequer frases,
Apenas este amor que agora alcança
Minha alma que guardara na lembrança
Distantes ilusões, longínquas fases
De dias tão doridos quanto audazes
Matando o que restou de uma criança.
Das farpas que trazia em ironia,
A mansidão na voz demonstraria
A força deste amor, claro e preciso.
Mulher maravilhosa, bela e sábia
Trazendo na doçura, tanta lábia,
Sabendo transformar a dor em riso.
Marcos Loures
92
Entoas sinfonias em gemidos
Trazendo pirilampos para a cama.
Tocando em profusão nossos sentidos,
Prazer que a todo tempo se reclama.
Decifro em signos, beijos repartidos,
De senhas e loucuras, farta gama,
Além dos velhos ritos percebidos,
O fogaréu intenso nos inflama.
Senhora tentação nos braços teus,
Desejo se assenhora e não descansa,
Enquanto a vida trama noite mansa,
Os olhos se devoram sem adeus,
Espalhas fulgurantes labaredas,
Nas teias e centelhas, já me enredas...
Marcos Loures
93
Entendo teus reclames, teu queixume,
E até percebo nisso o teu carinho.
A rosa quando exala um bom perfume,
Demonstra quanto vale o seu espinho.
Depois de ter contigo este costume
Dos versos que se mostram tal caminho,
Percebo teu amor neste ciúme,
Reinando tantas vezes, nesse ninho.
Tu és a minha amiga, amada amante
Que sabe cada sonho que possuo,
Futuro nos teus braços eu construo
E traço meu destino em fino trato,
Do amor que se fez sempre triunfante
Vibrando em teu olhar o meu retrato..
94
Entendo sermos feitos deste barro
Estercados por sangue e por vanglória.
Quais meros passageiros desta história,
Capotamos; por vezes cada carro.
E quando em sortilégios eu esbarro,
Refletindo defesas que a memória
Preparo-me pra dor ou pra vitória,
Na tábua da beirada, enfim me agarro.
Mistérios que enfrentamos vida afora,
Entorpecente luz que nos ancora,
Momentos de ilusão e fantasia...
E, quando em desespero, sem saída,
A sorte se mostrando distraída,
O lenitivo vem da poesia...
95
Entendo o verdadeiro amor, querida
Como aquele que traz a liberdade.
Um pássaro encontra uma saída
Seguindo o que trouxer a claridade.
Às vezes na nossa alma uma ermida
Transporta ao pensamento a fria grade.
Porém qualquer batalha a ser vencida
Terá firme suporte na amizade.
A luz que sempre emanas pode dar
O rumo que cansaste de buscar
E mesmo acreditavas não haver.
Romper os elos tolos do passado,
No encanto por Jesus anunciado
Verás a magnitude do prazer...
96
Entendo finalmente o bem de amar,
Na noite que em cruzadas descobrimos
Caminhos geniais que pressentimos
Na força inusitada a nos tomar.
A vida se mostrando devagar,
Tirando do passado velhos limos,
Estrelas percorrendo serras, cimos,
Momento deslumbrante, constelar.
Tiaras de esperanças e prazeres,
Percorrem nossos céus, olhos reviram,
Girando em carrossel, a noite passa...
Encontro em fantasia bens quereres
Os anjos vendo a cena já se atiram
A solidão, vazia, se esfumaça...
Marcos Loures
97
Enquanto tu me negas primavera
Minha alma tantas vezes esquecida
Do nada já prossegue convencida,
Restando tão somente a fria espera.
Um sonho em alegrias. Quem me dera...
Porém recebo em troca a despedida,
Trazendo este abandono à minha vida
Abrindo no meu peito uma cratera...
Olhar segue tristonho, amargo e vago,
De uma esperança eu bebo mais um trago,
E a seca se refaz no meu jardim...
Uma ilusão rondando a minha casa.
Lembrança do que fomos tanto abrasa...
Enchente gotejando dentro em mim...
Marcos Loures
98
Enquanto tu falseias e reluzes
Um falso diamante mavioso.
Os erros que cometo e reproduzes
Premissas dum cardápio belicoso.
Às vezes nos carinhos os obuses,
Um jeito de prazer mais caprichoso,
O quanto tanto queres ou recuses
Ferrenho borbulhar doce e jocoso.
A carga divida que tramamos
Peçonhas entranhadas quando falo,
Bebendo este caminho no gargalo
Vazios infinitos nós somamos
E vemos bem mais perto a solução
Amor que seca o vinho e louva o pão.
Marcos Loures
99
Enquanto trazes paz, suave alento,
A vida descortina um pesadelo.
Queria, amor, por certo nunca tê-lo,
Porém já não me larga. Eu sempre tento
Fugir da solidão, meu pensamento
Envolto em tuas teias, num novelo;
Quem dera finalmente em ti vertê-lo
Assim teria a paz que em vão procuro.
O chão que outrora arei, deveras duro,
Negando em aridez, semeadura.
Felicidade, aonde pode estar?
Desfilo as amarguras bar em bar,
Na embriaguez encontro a minha cura...
Marcos Loures
6000
Enquanto se faz tola profecia
Falando deste tal Apocalipse
Decerto, meu amor, se poderia
Juntar os nossos corpos num eclipse
Fazer a brincadeira mais gostosa
Aquela do crescer, multiplicar,
Eu sei que pode ser maravilhosa
Deixando colocar bem devagar.
Às vezes eu tentei ter a resposta
De uma pergunta simples que ora faço,
A mão do Nosso Deus sempre foi posta
Cobrindo este universo, em todo espaço.
Igreja nos tratando feito boi,
Dizendo: Voltará quem não se foi...
A EXISTÊNCIA DE UM DEUS ONIPRESENTE E ONIPOTENTE É TOTALMENTE INCOERENTE COM A VOLTA DE QUEM ESTÁ PRESENTE.
Marcos Loures
01
Enquanto restar forças no meu peito
Irei lutar, eu juro, pelo amor
Que sei, ser na verdade, meu direito,
Poder que se sempre foi transformador.
Os olhos deste insano trovador
Adentram pensamento. Eu me deleito
Ao mesmo tempo quero ser aceito
Por quem meu verso canta, num louvor.
Não deixe que este sonho morra em vão,
Não quero ter vazio, o coração
Embora saiba ser mera promessa
Palavra que disseste, uma esperança,
Meu sonho, uma ilusão jamais se cansa,
Cismando, tanto amor, já te confessa...
Marcos Loures
02
Enquanto principia-se no sonho,
Deságua na total realidade,
Saveiro da ilusão, quero e componho,
Vislumbre da real felicidade.
Não tendo quem me espere ou que me aguarde
O tempo se transcorre tão medonho,
Envergando-me ao peso que me invade
Do amor que tantas vezes sei tristonho,
Imensidade encontro nos faróis
Roubados destes olhos tão perfeitos,
Envolto tão somente por teus sóis
Que entranham da esperança, dosséis, leitos,
Os lumes inundando os arrebóis
De cores tão diversas, belas, feitos...
Marcos Loures
03
Enquanto os pés mendigos não descansam
O medo se espalhando nos olhares
Daqueles que buscando não alcançam
São frutas que apodrecem nos pomares
Porém uma vingança já se estampa
Nas mãos destes meninos esfaimados,
Ao não temer a sorte feita em campa
Nem mesmo os sangues vários derramados.
Guerrilha que se mostra ressurgida
Baseados nas bocas, cocaínas,
A bala que te encontra, não perdida
Expõe tantas feridas das esquinas.
A fera adolescente que hoje mata
Especular reflexo, só retrata...
Marcos Loures
]
04
Enquanto os meus segredos tu desvendas,
Eu sigo peito aberto e destemido,
Tristezas são decerto simples lendas,
Destino em teu amor; sinto cumprido.
Não quero suportar antigas vendas,
Agora o céu se mostra colorido.
Mosaico multicor, caleidoscópio,
De todos os desejos, eu garanto,
O amor tem seu caminho todo próprio,
Mostrando ser possível raro encanto,
No doce de teus lábios o meu ópio,
Girando o tempo todo em cada canto.
Prazer inesquecível quando alcanço
O sonho em que perceba este remanso.
05
Enquanto os corações felizes cantam
Do céu se espalham raios em cristal,
O quanto os sentimentos já se encantam
Permite a claridade magistral.
Amor que em pura essência traz a graça
Delicadeza extrema em liberdade.
A vida nos teus braços calma passa
Deixando um rastro pleno em liberdade.
Vestido de desejos, em lascívia
Amor se torna audaz e convulsivo,
Manhã que se aproxima, clara e nívea
Trazendo em perfeição um lenitivo
Calando esta geleira, solidão,
Mudando destes ventos, direção.
Marcos Loures
06
Enquanto o teu desejo ele cobiça
Minhas vontades trazem calmaria.
A barca que se mostra em alegria
Nos ventos deste sonho, amor se viça.
Embora em alegria vã, postiça.
O beijo em despedida me dizia
Do gozo que jamais se concebia
Depois de inglória luta e falsa liça.
Não quero o sofrimento do vazio,
E mesmo que não seja o que pensei,
Amor vai dominando a minha grei
E mesmo que insincero, nele eu crio
Um Eldorado tolo e sem proveito.
Na fantasia inútil eu me deleito...
Marcos Loures
07
Enquanto o pensamento não desertas
Não posso prosseguir, eu te asseguro.
As horas vão passando sempre incertas
Proliferando em mim o céu escuro.
Eu juro, até com juros cada dívida
E pago se puder, ao fim do mês.
A noite solitária segue lívida
Vivida a fantasia morre rês.
Restando na parede o vão sorriso
Que um dia retratou felicidade.
Num vai e vem terrível, sem aviso
Eu sinto o cheiro amargo da saudade.
Quem há de condenar quem já sentiu
Amor que se fez muda e não pariu...
Marcos Loures
08
Ensina-me a marchar por sobre as águas,
Vencendo com firmeza cada medo,
Deixando para trás inúteis mágoas,
Saber da caminhada, o seu segredo.
Ensina-me a tornar, suave, o passo,
Na busca pela paz tão procurada,
Ao suplantar assim, ledo cansaço,
Eu sei que ao fim terei esta alvorada
Aonde possa ver a claridade
Do sol que Tu criaste, fonte e vida.
Meu Pai rompendo em fé algema e grade,
Verei depois de tudo, uma saída
Que leve ao Teu Reinado em plenitude,
Terei enfim bem mais que eu pensei, pude.
09
Enredos divinos
Amor nos conduz
Em tais desatinos
Encontro esta luz
Dos olhos, meninos,
Teu corpo seduz
Teus dedos tão finos,
Teu brilho reluz.
Eu quero comigo
A deusa gostosa,
Não temo o perigo,
Espinhos da rosa,
Vivendo contigo.
Mulher tão fogosa...
Marcos Loures
6010
Enredo do meu samba; desafogo,
A gente não se sabe nem por reza,
O amor que tanto quero e se despreza
Não serve pra atear sequer o fogo.
Perdendo de saída a festa e o jogo,
No ensaio demonstraste tal destreza
Causando na verdade uma surpresa,
Que venha mais audaz, agora eu rogo.
Mas trago este monstrengo, uma saudade
Daquela que se fez em desenredo,
Por isso reamar traz tanto medo
Aquém do que tentei, felicidade.
O sonho que morreu sem fantasia,
Requebra e sacoleja, Melancia...
6011
Enquanto uma ilusão resplandecia
Tornando o pensamento maltratado,
O resto que me coube em fantasia
Demonstra insensatez do meu passado.
Quem teve o seu altar numa alegria
Percebe seu caminho desviado
Na sombra do que fora, já trazia
Felicidade morta. Em duro brado
A voz tão solitária não alcança
Deixando quase inóspito em aspecto
Numa tristeza enorme corte e lança
Rolando em minha cama, mais inquieto,
Sozinho sem ninguém, desesperança
Última companheira em mesmo teto...
12
Enquanto uma esperança nos tomou
Amor vencendo em glórias a Razão
Dizendo deste tempo em que singrou
Tocando com firmeza, o coração.
O verso delicado que ensinou
O quanto é necessária esta emoção
Amor em explosão assim criou
No peito de quem quis, revolução.
Um tempo em que sonhar seja possível
No encanto que se mostra senhorio,
Amor entre tempestas invencível
Capaz de nos trazer farta alegria
Enquanto teu amor eu fantasio
Espalhas sobre amor, a fantasia
Marcos Loures
6013
Enquanto tu provocas e incendeias
Entranho em pororocas o teu mar,
Estrelas passeando mesmo alheias
Insistem em tocar e iluminar.
Minando estas defesas, feitas farsas
Abraços e carícias cios, sinas.
As roupas; amarrotas, rota esgarças
Enquanto o jogo inteiro tu dominas.
Vertigens entre estreitos labirintos
Com cócegas às cegas mãos avançam.
No chão, calças, vestidos, botas, cintos,
Nudez em nossa cama, chamas lançam.
Encanto sem perguntas vai cumprido.
E assim sou vencedor, mesmo vencido
14
Espalha em claridade o brado e a voz
A lúcida emoção que se assenhora,
Não tendo mais porque fugir agora
Eu tento um canto novo, mais feroz.
Cortando como faca o medo algoz,
Exclamo em poesia o que me aflora,
Quem sabe, com certeza não tem hora
Mergulha em cachoeira e bebe a foz.
Mortalhas que eu trouxera do passado,
Jogadas na fogueira/inquisição
Os olhos vão seguindo a procissão
Sabendo do que eu quero, mudo o Fado,
Nos pés a liberdade sem correntes,
O amor vivo rangendo os nossos dentes.
Marcos Loures
15
Esmero-me em fazer-te mais feliz,
Querida, jamais tive em minha vida
Amor que tanto quanto o nosso eu quis!
Minha alma tão tristonha e ressentida
Marcada por enorme cicatriz
Prevê que nos teus versos, a saída
De um mundo mais risonho que refiz
Após pensar em dura despedida...
Desditas? Como as tive! Foram várias...
As horas se passavam temerárias
Na solidão cruel que conheci.
Agora enfim percebo um novo dia
Repleto de emoção, de poesia,
Estando sempre assim, perto de ti...
16
Esmero esmeraldina sensação
Dos olhos da mulata que sonhei.
O verde que esperança em coração
Nas turmalinas vertem minha lei...
Das hortelãs e mentas, meu refrão...
Dos peixes que – menti – jamais pesquei
Qualquer piaba vira tubarão.
Com sereia postiça me encantei...
A sensação que nunca me alucina
Se faz em tempestade e é calmaria
A moça embriagada se faz fina,
A lua que brilhou traz pleno dia,
Amor sem ser morfina, me amofina
A pedra que te dei? Bijuteria...
17
Esmeraldinos trilhos desvendados
Tesouros que encontrei em vales belos.
Lançando a minha sorte nestes dados
Roçando a minha pele teus cabelos.
Sabê-los divinais quanto aromáticos
Sedosa sensação entre meus dedos.
Ao vento se libertos, emblemáticos
Afagam e convidam para enredos
Diversos e decerto maviosos
Fogoso este corcel em disparada
Adentra campos ricos, valiosos
Fartura em teu prazer é demonstrada.
Assim somando o quanto com te quero
Do amor que assim me dás, amor eu gero...
18
Esguias criaturas vagam sós,
Mosaicos entre trevas e fulgores.
Renascem de distintos, ermos pós
Exalam os mais pútridos odores.
Encontram em cada esgoto, rio e foz
Caleidoscópio opaco, furta-cores
Nem sombras no caminho, nada após
Senão ledas fumaças e vapores.
Mergulham pareadas num abismo
Rolando sobre pedras se esfacelam,
Nem insólitos pares chegam, velam
Disfarçam-se num frágil mimetismo,
Mostrando suas faces, compleições,
Vislumbro as minhas torpes ilusões....
Marcos Loure
19
Esgueiro-me nos pântanos dos sonhos,
Etéreos sentimentos me guiando,
As pedras entre as trevas desabando,
Os risos que ora escuto são medonhos.
Cadáveres ressurgem e, bisonhos,
Adentram cada sala, quarto, em bando.
O quanto desejei de um mundo brando
Entre escombros, sarcásticos, risonhos.
Perecendo em total putrefação,
Minha alma sem destino, expõe seu cerne,
E enquanto a fantasia tola, inverne,
Não resta nem sequer algum suporte.
Olhando calmamente para a morte,
Bebendo ao meu jazigo, a solidão...
6020
Esgueiro-me entre as pedras que legaste
Como herança soturna, em penitência.
Felicidade outrora fora urgência
Agora, morto o sonho, nem mais haste.
Resgate de ilusões. Frio contraste,
Restando como porto, esta demência
Que crava suas garras. Impotência,
Denota o que hoje sou: inútil traste.
Meus óculos quebrados, riscos, giz.
O terno não me cabe, nem podia,
Exorto o que buscara em poesia,
E tento, inutilmente, ser feliz.
O tempo que agrisalha a fantasia,
Do tanto que busquei, vem e desdiz...
21
Esgueirando entre farsas e falácias,
Perambulando em sonhos, vagabundo,
Diversas peripécias, medo, audácias
Não valem de um amor, nenhum segundo.
Espúrio, o velho canto assonetado
Mumificando os versos de um ignaro.
Contemporânea luz que de bom grado
Condena o meu poema ao desamparo.
A lua se minguou, não voltará.
Os bardos do passado? Sem velório
Enterro preparado desde já,
Apenas um otário merencório
Expressa nas estrofes, sentimento,
E assim o profundo arrependimento..
22
Esgotos que de uma alma sem paragem,
Adentram vilarejos e cidades,
Nas ruas e nos bairros, rompe grades
Sem nada que inda impeça na viagem
Aos poucos profanando esta paisagem
Reflete com certeza realidades
Daqueles cuja carne presa às grades
Pensam ser liberdade uma miragem.
No ágio que se cobra pela vida,
Escárnio em cada gota apodrecida
Ofuscando o futuro. Bolsos cheios.
A fútil gargalhada da pantera
Que inverna, tão venal a primavera
Negando dos famintos, seus anseios...
Marcos Loures
23
Esgotos dentro da alma e nada mais,
Arquétipos demonstram com certeza
Que a podre serventia posta à mesa
Derrama cada gota que sangrais.
Nós somos de nós mesmos os chacais
Cadáveres servidos, sobremesa,
Dos homens frágil homem sendo a presa
Estampa estes covardes rituais.
No riso tão sarcástico, a peçonha;
A face desta fera que, medonha,
Habita dentro em nós, insaciável
E mostra com escárnio o que se espelha
Das almas, como um fogo, uma centelha
Desta ira que, inerente, é implacável...
Marcos Loures
24
Esgotos conheci em farto gozo,
Ferindo minha pele em tanto espinho.
Latejam minhas carnes, mar jocoso
Jogando tempestade em meu caminho.
Sombrios olhos vento furioso
Lambendo minhas pernas, vou sozinho.
Recebo a podridão mais carinhoso
E faço deste aborto sonho e ninho.
Arranco os doces versos, os vomito,
E faço desta angústia senda e rito,
Lanhando meus costados, cego e mudo.
Falando do que sou, não mais resisto,
Eu sinto que em verdade não existo,
Apenas um penedo frio, agudo...
25
Esgoto minhas forças e não tendo
O bem que inutilmente desejei,
No velho coração cada remendo
Destrói a fantasia que sonhei.
Estampas um sorriso no teu rosto
E vejo a crueldade em ironia.
Olhar sem horizontes; vou exposto,
Caminho que busquei: dicotomia...
Nos ombros das montanhas, foge a lua,
As águas se poluem: solidão...
Verdade se mostrando dura e crua,
O amor foi tão somente uma ilusão.
Molambo da esperança; sigo só,
O sonho se reduz em frágil pó...
26
Esgares, garatujas, um bufão
Num sorriso patético convida,
A noite solitária tanto acida
Reflexos desta antiga negação.
Sorumbático andando rente ao chão,
Esperança há tempos esquecida
Minha vontade esvai-se, apodrecida
Jazigo dos amores, ilusão..
Tornei-me, não te disse, um eremita,
E mesmo que perceba uma pepita
Ourives sem talento, sigo só.
Perambulando a esmo, sem destino.
Espúrio sentimento não domino
E como um desvairado volto ao pó...
Marcos Loures
27
Esgarça a necessária liberdade
O tempo que vivemos tão sozinhos,
Distante do poder de uma amizade,
Uma ave não conhece mais seus ninhos.
Procuro pelo amor, felicidade
Que encontro tão somente em teus carinhos.
Amar além de tudo, simplesmente,
Amar sem ter cobranças ou mentiras,
Amar e ter na vida finalmente
O amor que não se esgarça em tantas tiras.
Porém e num momento, de repente,
O não do desamor em mim atiras,
O peito sonhador fica calado,
Seguindo maltrapilho e maltratado.
28
Especular reflexo, só retrata
O olhar em que haveria ingenuidade
De tanto que se fere e se maltrata
Os cães sempre procuram igualdade.
Da súcia que devia legislar
O rosto que se expõe, em podridão
Permite que se veja o mesmo olhar
Daquele que trafica, exploração.
Na luta que de dá nem concha ou mar,
Os erros cometidos são de todos.
Numa omissão difícil de explicar
Criamos pra nós mesmos vários lodos.
Fuzil, ora brinquedo de criança
Expressa, em realidade, uma vingança...
Marcos Loures
29
Espectros que caminham pela noite,
Fantasmas de um noctâmbulo poeta,
Queimando em minhas costas, tal açoite
A morte ainda serve como meta.
Jogado pelos cantos e sarjetas,
Olhando o meu passado sem clemência,
Carrego no meu peito vãs tarjetas,
O risco não passou de penitência.
Ourives que lapida a falsa pedra
O pensamento vaga entre as marés,
Em meio a tais falésias. Peito medra,
E acolhe novamente estas galés
Que impedem o meu passo libertário,
Um rio que transborda no estuário...
6030
Espectros do que fomos me perseguem
E tomam meus anseios cerebrais,
Aos poucos; feramente, eles conseguem,
Eu não me livrarei deles, jamais.
Por mais que outros amores venham, neguem,
Esta presença insana de abissais
Cadáveres de ti que inda me seguem,
Perseguem com tais fúrias canibais.
Esmigalhando o sonho que eu tivera
De ter ao menos restos no jantar,
Sorrindo em ironia, amarga fera
Não deixa que eu prossiga, feito um amo
Do qual não consegui me libertar.
Uma voz sepulcral repete: eu te amo!
31
Esparsos sentimentos tão confusos
Pelos caminhos todos que segui.
Suores e prazeres mais profusos
Encontro tão somente, amor, em ti.
Horários se misturam, vários fusos,
Mas tudo que esperei estava aqui.
Na paz mais desejada sem desdita
Neste carinho manso que me dás.
A lua em nossos olhos, infinita
No mar em calmaria, tanta paz.
Minha alma tão feliz te cerca e grita
Na luz e na alegria, mais capaz.
Aos Céus elevo preces e louvores
Na glória destes dias redentores...
32
Esparramas teu gozo sobre mim,
Na lava que me queima e me sacia.
Eu quero estar contigo até o fim
Mordiscas meus desejos, alegria.
Aguando tuas flores, teu jardim,
Enaltecendo sempre a fantasia
Do mundo que nos mostra em tal festim,
Um gesto de calor e de euforia.
Serenos vão caindo em nossos portos,
Corpos que se buscam, sem fronteiras.
Destinos que julgávamos tão tortos
Molduram em delícias; novos planos
De noites tão fantásticas, ligeiras,
No fogo destes sonhos sobre humanos..
Marcos Loures
33
Espalho no infinito claros versos
E bebo as calmarias que encontrar,
Vagando em liberdade os universos,
Nos braços deste amor faço o meu lar.
Lauréis; não imagino na chegada,
Nem mesmo uma fanfarra nem festejos
Apenas a manhã iluminada
Roubada destes sonhos mais sobejos.
Vagando nos meus céus, estrelas puras,
Reinando sobre os cantos, francos olhos.
Recolho tantas flores, sempre em molhos
Banhado pelos raios das ternuras,
Ferrolhos dos meus medos sem entrave,
Dos cofres eu encontro cada chave...
Marcos Loures
24
Espalho meus restolhos, vou ao léu.
Não tendo outro caminho estou contente,
Minha alma se perdendo num bordel,
Meu mundo vai morrendo delinqüente.
O gosto do fantasma já se sente
No pântano que exponho, doce fel.
Eu te amo e nada disso é tão premente,
Apenas garatujas feitas mel.
Ao respeitar teus peitos, silicone,
Encontro em tuas pernas belo cone
Aonde misturando meus retalhos
Permito nosso amor sem atos falhos,
Em toda servidão em que me lavo,
Prossigo tão somente teu escravo...
35
Espalho eternidade no infinito
Um simples amador decerto audaz,
Rompendo a solidão; frio granito
Apenas no demais se satisfaz.
A pedra que trazia no meu peito
Quebrada pelo riso da mulher
Chegando mansamente, desse jeito
Demonstra o que deseja, o que mais quer.
Mudando de conversa, simplesmente,
Amor assim se empresta em rebuliço,
A lua feita em mel, vem de repente
Prateia a minha sorte em novo viço.
Atiço os sentimentos, rasgo o verbo,
Matando o verso incréu, rude e soberbo.
Marcos Loures
36
Espalho em cada canto o meu sorriso
Onde espero espelhar felicidade.
A morte quando vem não manda aviso
Por isso é bom viver totalidade
Sabendo que no sonho em que matizo
Encontro teu olhar com liberdade
Um novo mundo; então, esquematizo
Aonde encontre em paz, sinceridade.
Amigos; encontrei por toda parte
Amores esquecidos, vento leva,
Aprendo todo dia uma nova arte
Com quem compartilhando cada passo
Acendo fogaréu matando a treva
Voando em plenitude, ganho espaço...
Marcos Loures
37
Escrevo tão somente por não ter
Respostas que procuro, inutilmente.
Às vezes por ofício ou por prazer
Rondando constelar e frágil mente
Que bebe da esperança sem saber
Se um novo amanhecer, lua pressente
Ou morre na alvorada, ou faz viver
Quem tanto se buscou insanamente.
Liberto os meus fantasmas e os recrio,
A mão que acaricia traz o frio
E toda a poesia é quase inútil
Intuitiva voz que não se cala,
Adentra o cobertor, impele à sala
E emana o verso, mesmo falso ou fútil...
38
Escrevo sobre amor
Assim, querida eu penso
Que o mundo vai tão tenso
Tristonho e sofredor
Sem canto sedutor
Aonde recompenso
Amor demais imenso
Que surge tentador.
Não quero mais quebranto
Nem sonhos doloridos,
Amor secando o pranto,
Tocando meus ouvidos
Com belos, ricos cantos,
Pra sempre resolvidos...
39
Escrevo por prazer, querida amiga
E nada me prendendo, sou feliz.
A liberdade é fonte que me abriga
Fazendo da emoção o que mais quis.
Não vejo outro motivo, forte liga
Atando as fantasias, amor diz
Deixando bem distante a vil intriga
O céu eu não desejo sempre gris.
Na dúvida não leia os versos tolos
Que falam tão somente do prazer.
Eu juro que não tenho torpes dolos
Tampouco omitirei a realidade.
Liberto o coração, posso escrever
O que desejo enfim: felicidade!
Marcos Loures
6040
Escrevo o teu nome
Na areia da praia,
No mar logo some,
Minha alma se espraia,
Matando uma fome,
Levanto essa saia
Desejo que assome
Que a sorte não traia.
Depois do teu lado,
Dormir calmamente,
Tão apaixonado,
Coração não mente...
Amor tão safado,
Dominando a gente.
Marcos Loures
041
Escrevo o que eu quiser, problema meu,
Se alguém tem paciência de me ler,
Que tenha ou não, depois algum prazer,
Tampouco se meu verso convenceu.
A vida emociona quem se dá,
Sem medos nem pudores, sem vergonha.
E quando mais uma alma assim se exponha,
O sol virá mais forte e brilhará.
Depois de um certo tempo eu aprendi,
Que tudo que procuro esteve aqui,
Escondido em meu peito pobretão.
Viver sem ter limites, já me orgulho
Da força e destemor deste mergulho
Que fiz às profundezas da paixão...
42
Escrevo nestas linhas, meu amor,
Na carta que te envio quanto eu quero
Viver contigo inteiro, ao teu dispor,
No sentimento raro e mais sincero.
Ansiosamente amada, eu tanto espero
O teu carinho em breve com ardor,
Neste amor que recebo, amor que gero;
Roubando um bom perfume em cada flor...
Amar é desvendar estrelas, céus...
E descobrir debaixo destes véus
De nuvens que nos cobrem, alegrias.
Tomar em doces lábios, tantos méis,
Bradando o nosso amor, mil decibéis,
Declarações febris, tal qual dizias...
Marcos Loures
43
Escrevi teu nome dentro em mim,
Segredos repartidos. Nossa história
Dizendo das tristezas de onde vim
Agora permitindo luz e glória.
O amor que a gente quer, chegando enfim,
Clareia sobre a treva merencória.
Da boca delicada, carmesim,
A sensação que resta: a de vitória.
Felicidade assim se compartilha,
Seguimos com prazer a mesma trilha
Sabendo que teremos melhor sorte
No amor que nos guiando levará
A tudo o que desejo, e desde já,
Nos braços de quem amo, encontro o Norte.
Marcos Loures
44
Escrevi nosso nome num papel.
O vento carregou e jogou fora...
Estrelas são cadentes lá no céu.
A vida não ficou nem se demora...
Nas mãos essa saudade de Noel,
Nas ruas que passeio tempo chora...
A lua que não pinta-se bordel
Momentos que não passam vão embora...
Meu vento se não tenho nada faço,
A porta do passado em pleno dia...
Menina vê se dá o teu regaço
A noite transparente me envolvia...
Vagando por quem fui procuro espaço.
Papel vira barquinho... Fantasia!
Marcos Loures
45
Escravos dos desejos, ambos somos,
Tomados pelas mãos de um deus faminto,
Eu quero desta fruta, doces gomos,
Amor que nos domina? Também sinto...
De ti querida, vivo tão cativo
Sou presa da emoção que nos invade.
Surpresas me tornando mais altivo
De tal bonança após a tempestade...
Eu estarei disposto a ter contigo
Amor que não pensara que existia
Ao lado de quem amo eu vou, prossigo,
Num vício desejado e glorioso,
Que traz tanto querer, santa alegria
Em cada novo encanto, mavioso...
46
Escravos do desejo, da promessa
No vício em que se deu a servidão,
Encontro na alegria a provisão
Que uma alma sem limites já confessa.
A vida procurada vai depressa
Escorre em cada dedo desta mão,
Eu sei que no final, foi tudo em vão,
E a luta interminável recomeça.
Ouvindo o crocitar do velho corvo,
Colecionando dores, sei do estorvo
Causado pela luz de uma verdade.
Chegando à tua casa, de manhã,
A sorte que eu queria é temporã
Deixando o teu desejo na saudade...
47
Escravo que não lavo cicatrizo.
Amarga insanidade faz sermão.
Nos sangues que me compras, não cotizo,
Nas servas que serviram, servidão.
Não me prejulgues nuca marca siso.
Medras essas mentiras mansidão.
No palácio premente, não preciso
Escravo que exorcisa escravidão...
No quanto quebra quadros e quebrantos,
Nos barcos que bateias brancos, bantos.
Reveses e ravinas más rapinas..
Nos aços embaraços e mortalhas...
Os machos que quebraste nas neblinas
As cortes que cortaste nas batalhas...
48
Escravo dos meus sonhos e desejos,
Não vejo mais saída. Estou cativo
E nisso com certeza eu me motivo
Teimando por espaços mais sobejos.
Excelsa maravilha nos arpejos,
Transbordo em pensamento estando vivo
E quando da esperança enfim me privo
Não vejo nada além destes lampejos
Nos quais eu faço o verso que permita
Singra este oceano que me trazes.
E quando os meus anseios são capazes
De lapidar cristais, ouro em pepita,
Repito os mesmos erros torpemente,
Retorno e bebo o nada novamente...
49
Escravo da ilusão; perdi meu rumo,
Cativo da esperança; nada trago
Sequer a solução de um doce afago,
Depois de tanto tempo, eu me acostumo.
Seria muito bom se houvesse prumo,
Mas sei profundidade deste lago
Aonde em fantasia quis ser mago,
E tudo se esvaiu em frágil fumo.
Não posso suportar mais tais calvários,
Riachos morrem margens, estuários,
E nada do que um dia disse foz.
Embora a liberdade custe tanto,
Ao menos não terei mais desencanto
Do insano amor, loquaz, voraz, atroz...
6050
Escorre em minha boca todo o sumo
Roubado desta manga amar Marina
Na boca que procura por teu prumo
No seio tão gostoso da menina.
Assim amar demais eu me acostumo
Depois o que fazer de minha sina,
Fartando do veneno do teu fumo
No vício que me toma e me domina...
Matando minha fome sem receio
Vibrando na cascata cachos pelos.
Nas rosas do mamilo lindo seio
Mergulho e me lambuzo quero o gosto,
Debaixo caracóis belos cabelos,
O beijo começou foi pelo rosto...
51
Escoriados sonhos já morreram
Devastação completa e derradeira.
Ao rasgares esta última bandeira
Catastróficos mares percorreram
As velhas ilusões embalsamadas,
Jogadas pelos cantos desta casa.
Apenas a saudade inda me abrasa
Falando destas águas derramadas
Perdidas na enxurrada de emoções
Na foz inevitável: solidão.
Amar é conceber pleno perdão,
Mesmo no desafio dos tufões
Manter a nau na rota, com firmeza,
Vencendo o temporal e a correnteza...
52
Escória que escoria e nunca escora
Espolia um cadáver ambulante,
A cada novo golpe comemora,
Um cavaleiro em fúria, galopante.
Salteadores cruéis, a qualquer hora,
Não deixam de beber um só instante
O sangue dos anêmicos e agora
Vibrando num sorriso espoliante
Do podre que plantaram colherão,
Destino desta corja é liberdade,
Colhendo o fruto amargo, resta ao povo
Olhar com mais cuidado na eleição.
Abutres descarnando na verdade,
Já pousarão decerto, aqui de novo...
53
Escondida detrás da lua cheia,
Em noite tão bonita e provocante.
Percebo que se oculta uma sereia
Atrás de uma palmeira. Delirante
Não vê que a sombra desce pela areia
Denunciando a deusa num instante,
Parece que ela foge, pois receia
Amor que me tocou. Mas triunfante,
Aproximo-me e beijo, tresloucado,
Sentindo um canto doce sussurrado
Que envolve minha noite em sedução.
E grito, alucinado, de alegria,
Ao perceber também que ela queria
O mesmo que eu pedia, em devoção...
Marcos Loures
54
Esconder as pegadas, abrir trilhas,
E ter que revolver antigos rastros,
Nos olhos da pantera ainda brilhas,
Derrubas sem querer bandeiras, mastros,
Não posso mais abrir as escotilhas,
O barco não teria âncora e lastros.
Partícipe da orgástica loucura
Que um dia desfraldaste, marinheira,
Ao marinar com sonhos a ternura,
Eu não passei sequer pela peneira,
Se o bote preparado não me cura,
Serpente rastejando sorrateira.
Parando pra pensar não fiz mais nada
Senão subir tão trôpego esta escada...
55
Esconde-se; em distantes, negros véus,
Os olhos da pantera tão faminta.
Das cores que eu herdei dos velhos céus,
Aos poucos se perdendo toda a tinta.
Extremas sensações, o tempo cala,
Agora a mansidão fazendo a festa.
O sol ao adentrar o quarto e a sala,
Abrindo no meu peito enorme fresta.
Capachos dos meus sonhos; bolorentos,
Na porta principal de minha casa,
Não quero mais saber dos teus ungüentos,
O tempo de sonhar já foi e atrasa.
O amor que tempestade, um dia fez,
Tocado pela calma lucidez...
Marcos Loures
56
Escombros do que fomos, eu reviro
E vejo que não sobrou quase nada,
A terra demonstrando em cada giro
Quão vão é vasculhar água passada.
De novo; em tuas farpas, eu me firo;
Revendo cada curva desta estrada
Embora no futuro eu sempre miro,
Aprendo com lição que me foi dada.
Os erros cometidos? Nunca mais!
Descuidos num amor serão fatais,
E disso trago enfim, toda a certeza.
A vida não refaz; seguindo em frente,
Não quero prossegui qual penitente,
Já basta de amargura e de tristeza!
Marcos Loures
57
Esfinge que ressurge enquanto medra
Decifra hieroglifos em cifrões,
Tu cevas entre servas, servidões
Um sonho quase gélido, de pedra.
Grisalhas fantasias, sonho indócil,
Senzalas, cadafalsos, falsos guizos.
Falácias entre neves e granizos
O amor se afigurando como um fóssil...
Afável criatura que devora,
Enquanto em teus enigmas eu me perco.
Sem Édipo em vão édito proclamo
Escárnios entre escórias, busco escora
A dor mesmo indolente é meu esterco,
Dos lábios da mulher, sou servo e amo...
Marcos Loures
58
Esféricas imagens, lua e sol,
Ardências e loucuras, gozo pleno.
Miragens tão somente, num farol
Deixando esta impressão de um longo aceno.
Essências e perfumes, mechas, pêlos...
Olhares se entremeiam, tempestades,
Meus lábios, teus abraços e cabelos
Novelos de paixões, insanidades.
Almíscares, jasmins, lavanda e rosas,
Colheitas em jardins imaginários.
As bocas se procuram desejosas,
Os corpos se confundem. Garatujas,
Prazeres que imagino; incendiários,
Nas camas e nas coxas, belas, sujas...
59
Esfacelado, podre, nauseabundo,
Amargas ilusões não trago mais.
No esgoto da existência eu me aprofundo,
Os lábios que pretendo são mortais.
Galgando outro universo num segundo,
Afasto-me deveras do meu cais;
Dos falsos guizos, tolos, eu me inundo,
Porém não poderei vê-los jamais.
O fato é que me féretro trará
Alguma paz que possa redimir,
Não posso e nunca devo me iludir,
Por isso é que desejo desde já
Que a mão deste carrasco duro e forte
Já traga o doce alívio, minha morte...
Marcos Loures
6060
Escuto o teu chamado e te procuro
Em meio a campos, fontes, ilusões.
O fruto da esperança tão maduro
Morreu em forte seca de emoções...
O chão em que plantei, deveras duro,
Não teve nem sequer adubações...
Mas restam os meus olhos te buscando
Nesta procura inútil e desdenhada.
O tempo da colheita vai chegando
E no jardim da vida colhi nada.
O dia que nasceu, amargo e brando
Mostrando cada curva desta estrada
Que leva, simplesmente à tal loucura,
Do amor que; sem remédio, busca a cura...
61
Escuto a tua voz e inebriado
Estendo o coração enquanto passas,
O mundo prazeroso que é criado
Em todos os caminhos vibra em graças
Do amor sou, com certeza, um seu criado.
Procuro por seus rastros; ruas, praças.
Adentro nos palácios da ilusão,
Encontro em teus olhares tal brandura,
E aos poucos nos domínios da paixão,
A vida se transforma e com ternura,
Eu sinto a mais feliz transformação,
Matando em alegrias, a amargura.
Num grito de prazer, escuto a voz
Do amor que impulsionando, mora em nós...
Marcos Loures
62
Escuto a tua voz dentro de mim,
Num eco interminável que me esgota
Amor quando se trama além da cota
Encharca e não dá chances ao jardim.
Amor não é sequer um trampolim;
Aonde uma esperança é mais remota
Amor com poucas gotas tudo lota,
Porém quando demais, pressente o fim.
Eu quero tão somente a vida em paz,
No amor que mansamente satisfaz
Tempero na medida mais exata.
Não quero ser do amor, mero cativo,
Se dele e não por ele, sobrevivo
Excesso de cuidado enjoa e mata...
Marcos Loures
63
Escute esta canção apaixonada
Que tantas vezes trouxe a fantasia,
Agora representa quase nada,
Enquanto o nosso amor adormecia.
Fugindo do clarão de uma alvorada
Eu teimo em desvendar falsa alegria
Que trazes no teu rosto emoldurada,
Oculta na verdade, uma agonia
De quem tentou fazer do sonho algema,
Correntes, vis grilhões loucas galés,
Atadas ferozmente nos meus pés.
Flâmula libertária, meu emblema
Jamais suportaria esta prisão,
Liberto a minha voz nesta canção...
Marcos Loures
64
Escute a voz sublime da paixão
Que toca com carinho os teus ouvidos,
Deixando-se levar pelos sentidos,
Decerto encontrarás gozo, explosão.
O beijo nos alerta em sedução
Enquanto em toques brandos distraídos
Os lábios percorrendo, decididos
Encontram verdadeira tentação.
Na febre que nos toma, num segundo,
Amor tão verdadeiro, assim profundo
Permite que se veja o paraíso
Juntinhos, nós iremos, com certeza
Ao ápice chegar. Farta beleza
Num jogo onde o prazer vem sem aviso...
Marcos Loures
65
Escute a voz macia deste vento
Que chega de mansinho e nos afaga.
Escute a voz do nosso pensamento
Antes que a noite fria venha e traga
O doce burburinho calmo e lento
Da lua soberana amiga e maga...
Olhando o teu olhar enternecido,
Mirando em teus olhos meu reflexo.
Do amor que se sabia adormecido
No canto mais divino e mais complexo
Se fez assim conosco, ressurgido,
Acolhido por nós dois neste amplexo.
Amor que nos conserva e nos completa,
Neste silêncio todo, acerta a seta...
66
Escutava o teu canto, longas noites...
E não tinha sequer as evidências
Lograva tais insanas penitências
Penetrantes, ardentes; feito açoites...
Não queria, mas vinhas... Vis pernoites
A cada instante; mágoas sem clemências,
A cada canto lúbricas demências...
Cantavas, procurando quem te acoites...
Nada mais me restou, zero ambulante
Os meus dedos, crivados por teus dentes
O que me sobra? Andar qual mendicante.
Farrapos que se seguem, de dementes
Sem amanhã; sem nada vou adiante?
Sem ironia, diga-me o que sentes.
67
Escuta o que te diz o coração
Embora muitas vezes rebelado,
Esqueça que existiu a solidão
Espero teu amor sempre ao meu lado...
Esgote tantas dores que te atingem
Não deixe que esta luz cesse seu brilho
Os males que por certo já te afligem
Não sejam em t’a vida um estribilho...
Enquanto tu dormias impassível,
Amor nunca parara de sonhar,
Não pense que esse sonho é impossível,
Aprenda pouco a pouco enfim a amar...
Amor não necessita professor,
Pois ensina-se, amando o que é amor..
68
Esculpe a maravilha erguida em paz,
A mão que tem amor como instrumento
Da divindade emana o seu provento
Um gesto em perfeição, o sonho traz.
Mostrando-se deveras tão audaz
Um escultor se mostra em sentimento.
No mármore tão raro, o pensamento,
Expressa o que deveras satisfaz.
Um Fídias que em amor se esmera e prima
Eleva-se ao fulgor de tal estima
E nisso se permite a perfeição.
Num canto prazeroso, em escultura,
Amor de tantos males nos depura
Trazendo esta beleza em profusão...
Marcos Loures
69
Escrúpulos demais! Que coisa horrenda!
O sexo nos traz glória, esteja certa.
Não quero te dizer amor à venda
Mas gozo é necessário. A porta aberta
Deixando para trás a burra lenda
Aonde se falava em deus asceta
Quem faz o mecanismo da moenda
Permite o arco, a flecha e a deusa meta.
Requebros e meneios, seios fartos,
Dentadas e mordidas, vale tudo.
Vem logo, se preciso até te ajudo
Enchemos de prazer os nossos quartos
Viagens por desejos mais safados.
Matando os imbecis assexuados!
6070
Escrito pelas mãos mais delicadas,
No peito que te espera, loucamente.
Nas luzes que prometes; bem amadas,
Procuro deste amor, nossa semente...
Jurando mansidão, vital ternura,
Amor bem sabe quanto dor me custa.
Querendo rebentar a desventura,
Meu sonho no teu sonho já se ajusta...
Não temo mais invernos nem outonos.
Eterna primavera em pensamento.
Viajo nosso mar, sem abandonos,
Vivendo nosso amor, cada momento...
Não sinto mais de mim, a piedade,
Que sempre me impediu, felicidade...
71
Escrito na minha alma, amor mais verdadeiro;
Trazendo, no seu lume, em claridade, o dia...
No calor deste afago, a dor se derretia.
No mar de calmaria, escorre qual veleiro.
Amor, um lago calmo, embora traiçoeiro.
É vale mais florido, e pleno em poesia.
A fonte da esperança, alma em rebeldia.
Amor, em cada parte, universo inteiro...
No verde esmeraldino, a cor dessa esperança,
Acalentando ao velho, acorda uma criança.
Amor brandura e dor; amansa e depois trama.
Ao manso traz loucura, acalma em destempero.
Do amargo desta vida, amor é um tempero.
Mas, na luz de Lucília: amor, serena chama...
Marcos Loures
72
Escrevo um doce nome em minha agenda,
Palavra carinhosa e sonhadora
Dedico pra mulher que, redentora,
Segredos de minha alma; já desvenda.
Um dia, enfim, quem sabe, em mesma tenda,
Amor que a gente quer e não demora,
Vibrando de alegria desde agora.
A mão em tua mão atada; estenda.
E juntos nós iremos transformar
A bela fantasia em realidade,
E o mundo mais bonito a desvendar
Em cada passo rumo à eternidade,
Podendo, meu amor, deliciar
Quem sabe, ter enfim, felicidade...
Marcos Loures
73
Escarras no mendigo dentro em ti,
Culpado pelos erros que cometes.
O manto tão sagrado que pedi
Asperges com vermífugo em pets;
Na carne exposta o gozo já se ri
E varres os escárnios que repetes.
Se empunhas tantos pulhas, bem te vi
Jogando nos ladrões os teus confetes...
Depois caminhas; livre e sorridente
Como se fosse um nada, o quase ser
Que mostra como um cão meio sem dente
A face que tu teimas em negar.
Talvez seja melhor não se esconder
E em todos os famintos vomitar...
74
Escarpas e falésias do desejo
São urzes, cruzes, pedras, são espinhos.
Se tanto teimo quanto te azulejo
Nos versos que te faço, tão sozinhos...
Nas arcas dos meus sonhos esquecidos
Nas barcas, tantas cracas, incertezas.
Dos tempos mais doridos, mais sofridos,
Sobraram tantos sustos e tristezas...
Mas amo quem me adora, e isso é fato,
Não vejo quaisquer erros em te amar.
Sentido mais direto, mesmo abstrato,
O trato que fizemos renovar.
Nos bares, ares, cumes e luares,
Nos pântanos, charnecas: sempre amares!
75
Escaras e profundas cicatrizes
Em minha alma, faz tempo tatuadas,
Enquanto acaricias, me degradas
Negando tudo aquilo que me dizes.
Percebo depressões, riscos, deslizes,
Cobrindo totalmente tais estradas,
As ilusões fugindo em debandadas.
Ainda querer crer; somos felizes?
Condores ultrapassam cordilheiras,
Voando em liberdade. Ah! Quem me dera!
As dores se tornando costumeiras
Os medos se espalhando no meu chão.
A vida não seria assim tão fera
Se houvesse, pelo menos compaixão...
76
Escancaro essas lápides, meu fim...
O derradeiro leito, vou ao léu,
Sem torturas, fraturas, tão chinfrim.
Essas portas abertas vão ao céu...
Não quero lenços, lágrimas... Cruel
Saber que sofrerás. Nada por mim,
Epitáfios, coroas, mausoléu.
Serei mais uma flor desse jardim...
Por herança, terás meus pesadelos.
Na vida eu só plantei velhos novelos,
Revelas nessas velas com que velas
Um corpo a mais. Pressinto uma viagem,
Amar, aroma, aragem...Que bobagem!
Tuas noites serão muito mais belas!
Marcos Loures
77
Escalo mil montanhas pra te ver,
Após as cordilheiras, manso vales,
A vida ao espalhar terríveis males
Tentando sonegar qualquer prazer,
Permite na esperança ainda crer,
Ouvindo a poesia em que fales
Dos gozos prometidos, não mais cales,
Debruce esta alegria de viver.
Percebendo o final da caminhada,
Sentir tua presença já me alenta.
Por mais que a noite seja violenta
Decerto inda virá uma alvorada
Que, plena de solares emoções,
Inundará os nossos corações...
78
Escadas para os céus dos sentimentos
Variedades tantas, luzes, ritos.
Ao longe ouvindo o canto dos aflitos,
Mistura de alegrias e tormentos.
A velha escadaria leva ao céu,
Esgueiro seus degraus; rumo infinito.
Infinitesimal sonho; explicito,
E volto ao precipício, carrossel.
Estendo os pesadelos na varanda,
A pérola curtida em dor suprema.
Ainda sinto a força desta algema
E tudo num segundo, em vão, desanda.
As mesmas boas novas repetidas,
Espelham o melhor de nossas vidas..
79
Escadas para o céu, convites tantos.
Nas lendas do passado, fartas luzes.
Enquanto os meus olhares reproduzes
Espalhas no arrebol magos encantos.
Alquímicas misturas, risos, prantos,
Ao mesmo tempo frutas, flores e urzes,
De nitroglicerina sonhos, cruzes.
Espalhas sedução em versos, cantos.
Dedilhas fantasias na guitarra,
A fera me cortando, doce agarra,
Ninhadas coletadas de esperanças.
Dos males que em sorrisos tu me afastas,
Negando provisões duras, nefastas,
Recolho Paraísos como heranças...
Marcos Loures
6080
Esboço que se mostra em face escura,
Um arbusto abortado desde o início.
Tomado pela insânia e pelo vício
Do encanto natimorto, a vã procura.
Erijo meus fantasmas da amargura
Revendo em cada passo o precipício,
O amor jamais seria um bem propício,
Algoz que se disfarça na brandura.
Arranco a fantasia e aqui me exponho,
Um velho nauseante, ser bisonho.
Rastejo sobre as pedras, vou sem rumo...
A morte, quem me dera, um beneplácito,
Vagando sem destino em erro tácito
Do nada ao mesmo nada eis meu resumo...
81
Esboço de um crepúsculo, céu e sol
Azulejando doura e me prepara
Para a vindoura lua cara-a-cara.
Trazendo pra ilusão, arpão e anzol.
Numa hibridez padeço pintagol,
Das artes e artimanhas desampara
A carga que me pesa, sem a tara
Não deixa ver mais nada no arrebol;
A broa necessita do fubá.
Amor sem ter amor não vingará,
Morrendo de nascença, um aborteiro.
Na xepa dos meus dias, fim de tarde
A lua que não veio, mordendo, arde,
Fingindo o seu punhal, cortando inteiro...
Marcos Loures
82
És uma deusa, linda deusa maia,
Uma noite virás para os meus braços!
E antes que isso aconteça, quebro os laços
Que impediriam de eu chegar à praia...
Bela deusa, levanto tua saia
E me embrenho feliz por teus espaços!
Não me permita Deus, que nunca eu saia
Do paraíso que encontrei... Meus passos
Titubeio, vencido o medo, sigo...
E cada vez que penso, não consigo
Imaginar-me só, deusa distante...
Meus sonhos virtuais, os meus delírios...
A noite que te trouxe, deu martírios!
Vento frio acordou-me neste instante!
Marcos Loures
83
Escolhendo na escala musical
As notas em que possa te dizer
Do amor que se mostrando sem igual
Faz toda esta alegria reviver.
Não posso me esquecer do sensual
Carinho que fizeste no meu ser.
Beijando calmamente, um bom sinal
De toda esta potência do querer...
Invado o teu jardim, belo canteiro
E colho em rosas brancas, as vontades.
De ser o teu amado derradeiro
Forjando de teus olhos claridades.
Flutuo o meu desejo e por inteiro
Mergulho no teu braço ansiedades...
84
Escassas esperanças, ancas, ócios,
Cansaços entre esparsos sentimentos
Distante dos estúpidos beócios
Já não suportaria mais lamentos,
Sejamos destes sonhos, sempre sócios
Que buscam nos seus pares, os alentos,
Se os dias não teriam luz; remoce-os
Trazendo em tuas mãos os suprimentos.
Escalando o infinito sem receios,
Não quero mais usar velhos rodeios,
Apenas ser só teu e nada além.
Indômito desejo que nos toma,
Multiplicando mais que simples soma,
Divina compleição; ele contém...
85
Escassas emoções a vida traz
A quem não se entregar com atitude
Por isso é que caminho um tanto audaz
Atrás de um sonho claro: juventude.
Amar é se entregar em plena paz
Vestir felicidade que amiúde
O vento em calmaria já nos faz
Capaz de discernir cada atitude.
Nas torrentes melíferas do prazer
Um apiário feito de teus lábios.
Quarando uma alegria posso ver
Dias mais concisos nestes sábios
Desejos que nos tomam – poesia –
Louvando nosso amor com alegria...
Marcos Loures
86
Escarro em tua boca, amarga Diva,
Que um dia se fez minha companheira,
A morte se aproxima e tão ligeira
Liberta esta minha alma antes cativa.
De toda inspiração, a dor me priva,
Jogada da mais alta ribanceira
Por mais que tão teimoso, ainda queira
Que a Musa seja eterna e sempre viva.
Tu zombas dos meus versos, fazes pouco.
Quem fora no passado, insano e louco,
Agora, mesmo tarde, enfim se acorda.
A vida que eu pensara em alegrias,
Morrendo em meio a vagas poesias,
Aperta no pescoço, a fria corda...
87
Escarro em teu cadáver, esperança.
Amargo a cada dia o teu desdém,
Enquanto a brisa calma nunca vem
Mordaça da ilusão em mim descansa.
Martírios entranhando, fria lança,
Apenas a penumbra inda contém
O verso que pensei ser do meu bem,
Matou no nascedouro, a vã criança.
O amor que eu tanto aguardo, figadal,
Esvaindo-se nos dedos insolentes
Da tétrica pantera sensual,
A velha prostituta demoníaca,
Enquanto rosna expõe seus fortes dentes
Fatídica esperança, vil maníaca...
Marcos Loures
88
És aquela que vive em meu amor,
És tudo o que sonhei cada segundo.
Buscando em nosso ninho um bom calor,
Desta paixão imensa eu já me inundo...
Os meus males distantes, no passado,
Fincaram cicatrizes no meu peito.
Mas nada o que dizer, abençoado
Por teu amor divino, satisfeito.
Suaves, delicadas, tuas mãos,
Carícias e desejos estampados.
Quem pensa que meus sonhos foram vãos
Não sabe quão felizes nossos prados.
És aquela que salva-me da dor
Trazendo tanto alento, salvador!
89
Erupções de vulcânica emoção,
Cadafalsos deixados no caminho,
Espreito cada rosa e vendo espinho,
A vida se transborda em comoção.
Acode dissonante da ilusão,
Verdade que não vejo mais, sozinho,
Velejo pelo mar, e esqueço o vinho,
Ainda sinto o gosto deste pão.
Mensagens e marés, ritos, garrafas,
Das mãos dos temporais, quando te safas,
Aguardas o teu cais que inda não veio.
Opalescentes luzes, lusco-fusco,
E tendo tão distante o que ora busco,
Um ato soberano ainda anseio...
Marcos Loures
6090
Erráticos meus lábios vão vagando
Por toda a cercania; intempestivos,
E assim em doces frestas penetrando,
Sentindo os teus sentidos mais festivos.
Em toda uma explosão já se inundando
Em gozos mais gentis, loucos, lascivos,
Eu quero repetir agora e quando
Quiseres ter prazer em fogos vivos.
Num rito que repito e não me canso,
Alcanço em turbilhões êxtase pleno.
Depois ao descansar neste remanso,
Glorificando Amor, um deus errático,
Deixando no teu corpo, tão ameno,
Sinal do bem querer, quase emblemático...
Marcos Loures
91
Erraste, meu amor, de professor.
Eu finjo uma alegria que não tenho,
Apenas a tristeza que contenho,
Disfarço como fosse um mau ator.
Os olhos imbecis de um sonhador,
Mudando num segundo o velho cenho,
Não diz nem a metade do que venho
Falar em versos tolos, de um amor.
Minha alma há tanto tempo apodrecida,
Lutando com disfarces, pela vida
Coberta por um fundo sempre falso.
De todos os meus dias, nada guardo,
Fingindo totalmente, amargo bardo,
Aguardo no final, o cadafalso...
Marcos Loures
92
Erramos pelos ermos irreais,
Das fontes que bebemos, nem sinais,
Os medos se tornaram tempestades,
Os olhos procurando veleidades...
Nos pátios que irrompemos, vendavais,
Misturo teus venenos mais letais
Com as dores que trazem as saudades,
Encruzilhadas crivam as cidades...
Das cruzadas partícipe sem rumo,
Meu cavalo traz selas prateadas,
Minhas naves esperam novo prumo,
As almas me perseguem nas estradas,
Da morte sem sentir bebi o sumo...
As portas eu deixei escancaradas...
93
Ermidas dos encéfalos inglórios,
Estúpidas lições sem ter proveito,
O quanto nada fomos, nunca aceito,
Resíduos dos arcaicos vomitórios.
Os sonhos que são meros suspensórios
Jamais me deixariam satisfeito,
O verso que não fiz, deseja em pleito,
Momentos que não fossem merencórios.
Do cosmos sinto vir a torpe estrela
Que enquanto me maltrata, posso vê-la,
Perdida entre asteróides e sinais.
Atlântida jamais resistiria
À plurifacetária poesia
Que entorna em primitivos embornais...
94
Erijo argênteo altar; luz colossal
Adentra nos beirais, tomando a cena,
Desnuda em minha cama esta morena
Beleza iridescente, sem igual.
Diamantina taça de cristal
Aonde me inebrio em noite plena,
Levitação em gozo já se acena,
Na tenra sensação: ser imortal.
Deste banquete farto eu me extasio
Comendo sem parar, horas a fio,
Até que amanhecer trazendo o sol,
Esboce e recomece nosso afã
Café delicioso da manhã,
Profusa inundação ganha arrebol.
Marcos Loures
95
Eriçam-se em desejos tantos pelos
Da fera que me espreita nessa cama.
Carinhos tão gostosos de sabê-los
No fogo da loucura a vida inflama.
Não quero nessa trama refrigério,
Nem mesmo uma pacata lucidez,
O tempo vai passando e sem critério
Eu bebo tão somente insensatez.
Na tez amorenada desta musa,
O quanto desejei louco prazer.
Levando vorazmente a tua blusa
E sinto o fogaréu reacender.
Amor vem prometendo ventania
Tramando em nós perfeita sincronia...
Marcos Loures
96
Erguido sobre pés que foram feros,
Jamais o nosso amor foi movediço.
Tu és o que eu sonhei e o que mais quero
Em ti o meu sorriso ganha viço.
Atados pelos laços que eu espero,
Amor em nossa vida, bom feitiço.
Meu mundo nos teus braços eu tempero
Uma felicidade imensa já cobiço.
E tramo toda noite em mil delícias
Vibrando em nossos corpos, as carícias
São páginas relidas com prazer
Encontro meu caminho e passo a ter,
Tratando com carinho a quem sempre ama
A vida em plena glória, paz e chama...
97
Ergueu-se, se elevando, alçou o Céu,
De todos os mortais, o grande amigo.
As nuvens recobrindo em belo véu
Mostrando que há um pai, o nosso abrigo.
Estrelas desfilando em carrossel,
O quanto desejei eu já consigo
Deixar o meu passado mais cruel
Seguindo cada passo, vou contigo.
Amigo que se fez grande doutor
Curando o mal que aflige a todos nós,
Tornando verdadeiro, o mago amor
O mundo transformado logo após,
Porém há tanta gente que te nega,
A multidão caminha ainda cega.
Marcos Loures
98
Erguermos a cabeça após a queda
Permite a calmaria de uma estrada,
Amor quando em ternuras se segreda
Invade noite e ganha a madrugada.
A boca da morena desejada,
Carícia que em delícia a gente enreda;
Viola sertaneja apaixonada
A pele delicada, pura seda...
Velho trem atravessa a propriedade
Levando a treva traz a claridade
Dos olhos de quem amo, meus faróis...
Seguindo este cortejo em procissão,
Nos passos compassados da paixão
Vislumbro a maravilha de mil sóis...
Marcos Loures
99
Erguer a taça nobre em brinde raro
Fazendo deste encanto nosso guia.
Amar é se entregar à tal magia
Tornando o dia-a-dia puro e caro.
Calando o sentimento outrora amaro,
Sentindo a plena paz em harmonia
Ouvindo da esperança a melodia,
Nos braços de quem amas, teu amparo.
Não ter outro desejo senão esse
Do gozo e da alegria, sacra prece
Descanso após as lutas e batalhas.
Beber do mel sagrado de uma entrega
Mirar a luz sublime que não cega
Andar sem temer cortes nem navalhas...
Marcos Loures
6100
És tudo que aspirei a vida inteira,
Caminho das estrelas que vaguei...
Decerto te encontrei, ó companheira,
Nos palácios divinos que sonhei...
A minha alma sofria, carpideira,
Em busca dos castelos, quis ser rei;
O templo da agonia, minha beira,
Por quanto tempo, triste, freqüentei...
Em teus olhos, estrelas fosforescem;
Buscando claridade, muitas cegam.
Pobres astros obscuros obedecem
Às ordens dos teus olhos, qual farol.
Aquelas que, infelizes, vãs, te negam
Ofuscam-se no brilho do teu sol!
101
És tão bonita amor de minha vida...
Teus olhos irradiam tanta paz
Tão bom sonhar contigo, enfim, querida...
O canto que prometo noite traz.
E beija minha boca, manso vento,
Deitada do meu lado, assim desnuda,
Procuro por teu colo em pensamento,
A noite sem resposta, fica muda...
Amada como é bom falar teu nome,
Embora tantas vezes sem resposta.
Depois vem alvorada e tudo some,
Apenas no meu peito a mesa posta
Procuro te encontrar em cada verso
Nas ondas deste mar, neste universo...
6102
És musa dos poemas que, hoje faço.
Rainha dos meus sonhos, minha esfinge
Que tanto tempo em minha vida caço
Mal sabe que eu existo, ou sempre finge...
Dedicando os meus versos ao amor
Espero que te encontres amanhã.
O tempo que me fez tão sofredor
Espera o salvador brilho, manhã...
Empresto meu desejo neste canto
Em vão, tantas vezes te procuro...
E nada encontro além do pranto
Inundando meus dias, manto escuro...
Escute meus delírios mais diversos,
Ó minha musa amada, nos meus versos
103
És minha companheira mais fiel!
Toda dor que esta vida sempre dá
Momento tão difícil, mais cruel,
Na lua que jamais retornará,
És a certeza plena que há um céu!
Amiga, onde estiveres, estou lá,
És todo o meu sustento, meu farnel!
Meu sonho, nunca mais, se findará!
Por vezes me encontraste abandonado,
Sozinho, sem promessas de esperança.
A vida parecendo um peso, um fardo...
Rastejo minhas dores, salamandra,
Teus braços me levantam, na aliança
Eterna deste amor, minha Cassandra!
104
És minha áurea manhã, vivo teu brilho.
Respiro enfim teus ares, sou feliz!
A dor, durante tempos, estribilho,
Distante dos sonhos já não diz.
Escassas provisões , perdido o trilho,
O rumo das estrelas sempre quis.
Ao deus do amor sincero já me humilho:
Não deixe retornar um céu tão gris!
Tens a beleza rara de quem ama.
Tens a fortuna imensa na bela aura!
Da vida que persigo, fogo e chama.
Perdido sem teu olhos, vago o mundo.
Perdoe se te canto assim Isaura,
É que de amor, enfim, meu mundo inundo!
Marcos Loures
6105
És mansa e me proteges dos receios
Seria muito bom se fosse assim,
Mas quando me entranhando em teus anseios
Percebo que distante estás de mim.
O quase não valendo mostra enfim
Que tudo não passou de antigos veios
Arcando com meus erros, no jardim
Cevei desesperança em bens alheios..
Rodeios que inda faço me transmitem
Os olhos mais distantes que se omitem
E fadam minha vida ao vago não.
Se o quase inda permite alguma chance,
Ao ver de teus requebros um nuance
Eu deito em outra cama, outro colchão...
6106
]
Esmolei tantas vezes teu carinho!
Meus versos em total monotonia...
Um coração morrendo, pobrezinho,
Espera enfim, nascer de novo, um dia...
Meu velho paletó, recende linho,
A chuva no meu peito, nunca estia...
No meu canto, assum preto fez o ninho,
Calada, adormecida, a poesia!
Cinzentas brumas, mares inconstantes,
Derrotado, procuro por teu colo.
Um dia, fomos lúdicos amantes,
O tempo, tão cruel, tudo desdisse...
Altos céus, mergulhei, caí ao solo.
Tu és vitoriosa, Berenice!
Marcos Loures
6107
Espalha aos quatro ventos, falsidade;
Aquele que não soube desfrutar
De toda força imensa em qualidade,
Que ensina simplesmente o bem de amar.
Vivendo a tão sonhada liberdade,
Encontro a maravilha do luar.
Sem medos enfrentamos vendavais,
Cabeça sempre erguida, peito aberto.
108
Esse vento chorando na janela,
Trazendo, no seu canto, tanta vida...
A noite que julguei estar perdida,
Ressurge linda, forte. Como é bela!
Liberta os prisioneiros, triste cela,
Acalentando as dores. Já carpida,
A juventude morta, não vencida!
O vento pintor faz serena tela!
As tintas que possui, as mais brilhantes;
Acordes que dedilha, dissonantes...
A dor da maravilha d’existir!
Vento, meu companheiro solitário;
Ao dobrar desses sinos, campanário,
O meu consolo,vento é estar aqui!
9
Essa aurora trazendo tanto encanto,
Por detrás das montanhas, vem surgida.
Mostrando tal beleza que me espanto,
Fazendo com que brilhe nossa vida.
O sol irrompe lento e carinhoso,
Nos seus raios aquece sem queimar.
Desse amor que me trazes; orgulhoso,
Encontro mil motivos p’ra ficar.
E quero em nossa cama, teu carinho,
E quero em nossa vida, uma esperança.
Do amor intenso e belo, nosso ninho,
Convite para o dia já me alcança.
Aurora nos guiando qual farol,
E vamos de mãos dadas rumo ao sol!
6110
Esqueço, hipnotizado, a liberdade
E vivo a minha vida sem destaque
O quanto se espalhando a mortandade
Permite que se entenda o contra ataque.
Nos baques que tomei a vida afora,
Mofino e mesmo entendo o que não tenho.
Pensando no vazio, eu vou embora
Sem hora de voltar, nada retenho.
A fêmea em minha cama, moça bela,
Estrela de cinema ou meretriz,
Às vezes num sorriso me revela
O quanto na verdade nada diz
Quisera ser feliz, mas quem me dera,
A fera dá seu bote sem espera...
Marcos Loures
11
Esqueço no caminho, o coração
E sigo pareado com saudades,
Nas farpas que me dás; a decepção
De quem um dia alçou eternidades.
Repetes, na verdade o mesmo não
Do que jamais pensei, felicidades.
Meu verso prosseguindo segue em vão
Vagando por estrelas e cidades.
Vivendo tão somente o mesmo quase,
Espúrias as palavras que disseste.
Não tendo em minha lua qualquer fase
Seguindo a solidão, bebo este gole
E traço o meu caminho rumo à peste
Sem ter sequer um riso que console.
Marcos Loures
12
Esqueço em ti qualquer um sofrimento;
Destas meias verdades inda crio
Dos zeros coletado, desafio,
Vestido de ilusões por um momento.
Nas tantas que pensei, mergulho e tento
Mantendo, se possível honra e brio
Por mais que o meu futuro vá sombrio
Saídas mais diversas, eu invento.
Apego-me aos teus pés e não te solto,
E o mar que continue assim revolto
Problema é de quem segue navegando.
Na parte que me cabe, sempre o fim,
O jogo se perdeu em bar e gim,
E o dia não será mais calmo e brando..
Marcos Loures
13
Esqueço em teu abraço o sofrimento,
Pelejo contra as velhas desventuras
Dos males mais terríveis tu me curas,
Num beijo tão sereno, amor é bento.
Se as portas do passado eu arrebento
E vejo em teu olhar tantas ternuras,
O sol que ora colhi feito em branduras
Ainda brilhará no firmamento.
A bola na caçapa, adeus sinuca,
A língua passeando em tua nuca,
Deixando em polvorosa uma libido.
Nem duque nem visconde, dama ou ás
As cartas sobre a mesa, guerra ou paz,
O jogo sobre a cama decidido...
Marcos Loures
14
Esqueço a solidão, temível fera
Ao ter tua presença aqui, comigo,
O quanto que passara em desabrigo
Na espreita, de tocaia, numa espera.
Aberta no meu peito, uma cratera
Exposta a qualquer forma de perigo,
O sentimento amargo e tão antigo
Durante a vida inteira me tempera.
Porém ao perceber tua atitude
Vencendo assim qualquer vicissitude
Recebo o vento amável que persigo.
Refazes com carinho a juventude,
Desta alegria imensa, faz-se açude.
Atando nossos nós, irei contigo.
15
Esqueci de dizer que inda te quero...
Palavras foram tolas, mas constantes.
Por vezes quando vejo, desespero
Mas nada que não disse por instantes.
Esqueço de falar do que passamos,
Embora não apague mais a chama...
De tudo que bem certo, nós amamos,
Eu sinto que em verdade, amor me chama...
E chama para vermos esta aurora
Que vem depois da noite de prazer
Vivida com amor que não tem hora
Que luta em desespero p´ra nascer.
Esqueço de falar de nosso amor,
Talvez seja por vício ou por temor...
16
Tantas vezes errei e te peço perdão
Por não ter conseguido encontrar solução
Para meus erros, fui muitas vezes cruel
Do doce prometido eu te guardei o fel
E por isso nosso amor foi tão vazio, vão.
Agora imerso em treva aguardo a solidão
Que virá fatalmente, inferno e vida ao léu...
De tudo que sei resta um gosto meio amargo
Assim como se esperança esvaísse. Me embargo
E quase não consigo expressar minha dor.
Me trazias um brilho em forma de alegria,
Mas tolamente fiz com que morresse fria
A noite que trouxe Olga, o símbolo do amor.
17
Esquecer nosso amor? Bem sei, jamais...
Eu amo em cada verso que te faço,
O que fazer se em ti, um sonho a mais
Tomando lentamente todo espaço
Repleta uma existência, louva a paz;
Amarra minha sorte em teu cadarço
Em vívida esperança me compraz.
Tu és toda a leveza do compasso
Que sonho enfim, poder acompanhar
Nas danças pelo céu, ganhando o ar
Com toda uma certeza de viver
Nos braços de um amor celestial,
Além do bem, por certo, além do mal,
Diga-me então, amor como esquecer?
18
Esquece o nosso amor. Tu me disseste,
Mais uma vez, querida, obedeci.
O vento que soprava, sudoeste,
Agora noutros ventos me perdi.
Por mais que uma ilusão já não me reste
Apenas te saber, cuidar de ti...
O que fazer? Manter a mesma veste
Se nada do que quis encontro aqui?
Seguir por outro rumo, obediente,
Beijando tantas bocas que nem sei,
Vivendo ou mais tentando estar contente,
No continente imenso. Uma outra chama,
Quem sabe se depois, seguindo a lei,
Te encontre novamente em minha cama..
19
Esquece a dor de outrora, arrisca o chão,
Trazendo o quanto teve de invernada,
Nos olhos desta lua, uma jangada
Enfrenta a tempestade, o furacão.
A dor que se curando em benzeção
Faz tempo não cruzava a minha estrada,
Porém ao perceber nova jornada,
Atiça bem mais forte o coração,
E vaza em minha pele, qual ferida,
A noite da alegria mal cerzida
Estoura no meu corpo em corte fundo.
Bebendo desta fonte mais salobra,
O tempo vai passando e a vida cobra
Fincando o canivete, num segundo.
6120
Esqueça teu passado, imploro-te querida...
Bem sei que foste brilho em meio a noite escura,
Bem sei que já tiveste o beijo da ternura,
Porém se estás sozinha, a dor da despedida,
A morte de quem foi razão de tua vida
Não pode ser assim uma eterna amargura.
Eu sei, sou imperfeito. Espero ser a cura
Poder cicatrizar essa enorme ferida.
Quando falas de amor nos nossos, bons, momentos;
Recebo desta noite os mansos, doces, ventos...
Eu sou o teu futuro, e nele vou morar.
Eu quero teu amor, esteja disso certa,
Eu quero em nossa casa a porta sempre aberta...
Se queres ser feliz, deixe de comparar...
121
Esquartejado, coração, maldito...
Escória do humanismo, vil demente...
Utópico, repete velho rito,
Amor que não propaga sempre mente...
Esquálido persigo, vou aflito,
Rastejo meus pecados, vil serpente,
Nos guizos das senzalas, o meu grito.
Nos solos destroçado, sou semente...
O monstro varizento da minha alma,
Devora esquartejando essa couraça;
No fundo sou prudente, peço calma,
Mas regozijarei cada segundo,
A vida destruindo a carapaça
Um verme passeando pelo mundo...
Marcos Loures
22
Espúrios sentimentos, morte e gozo,
Verbetes que esqueci de acrescentar,
A fruta apodrecendo o meu pomar,
Destino se mostrando caprichoso.
Quisera ter um verso mais jocoso,
Quem sabe deveria procurar
No meio dos palheiros, o luar,
Porém isto seria doloroso...
O ocaso toma enfim meu horizonte,
Bem antes que este sol não mais desponte
Eu quero ter ao menos a certeza
De que não foi em vão minha existência,
Supero desta forma a penitência
Exposta qual banquete em minha mesa...
23
Espúrios madrigais são madrepérolas.
Ouvidos infestados por espectros
Apóiam pensamentos como férulas
Tornado repugnante alguns aspectos
Que fazem surgir cânceres, as pérolas,
Sangrando estes crustáceos com infectos
Fomentos. Torpes dores nunca quero-as,
Os meus ombros seriam mais ineptos...
Nestas caricaturas, garatujas
Espalhas o teu sêmen como areia
Fecundas estas ostras, pobres, sujas...
Inoculas venenos nas entranhas
No aborto placentário de sereia
Nascemos madrigais, formas tacanhas...
24
Espumas o teu ódio em riso franco
Verdugo dos teus sonhos; infeliz,
Meu passo prosseguindo ledo e manco
Bebendo em tua boca o que mais quis
Gotejas teus venenos, mas estanco
Hemorragia insana e peço bis,
O dia amanhecendo claro e branco
Permite que eu te achaque; meretriz.
Teus méritos e métricas são tolos,
Nas bordas de teu sexo, sarros tantos,
Nos crimes que carregas; teus encantos,
Jogadas as sementes nestes solos,
Decerto brotarão ferocidade,
Gametas que trazemos, igualdade...
Marcos Loures
25
Espreito um passarinho de tocaia
Armando uma arapuca, um alçapão
Tomara que no dia que ela caia
A paz volte de novo ao coração.
Menina sabiá segura a saia
Que o vento vai chegando em supetão;
Se a saia levantar, vista não traia
É bom demais poder ter a visão!
Descendo a cachoeira, fosse um rio
Que te banhasse nua, toda tarde.
Eu te garanto não te dava frio
O fogo da paixão quando nos arde
Não deixa um só momento mais de paz
Porém é saboroso o mel que traz...
26
Espreito o teu sorriso de menina
Sentindo o bom bafejo da esperança,
De todos os meus sonhos, bela mina,
Na fonte desejosa, clara e mansa.
Esta alquimia chega e me domina,
Formata a vida feita em aliança
Sabendo ser só teu, a minha sina,
A perfeição completa enfim alcança.
Transmudo, num segundo o pensamento
E galgo eternidade no momento
Em que me entrego fundo à fantasia.
Sentindo-me tão manso a me roçar,
Em meio ao doce encanto do luar,
O vento da mais pura poesia.
Marcos Loures
27
Espreito de tocaia quando passas,
Desfilas tuas pernas geniais.
Nem percebes mas sempre tu me enlaças
Em teus passos macios, sensuais...
Desfilas as belezas, tantas graças
Vontade de querer-te assim, demais.
Acoito meus desejos, minhas caças,
E sinto não terei amor jamais...
Tu olhas para o nunca, nada sentes...
Os dias se tornando bem mais quentes
E a saia se levanta.. Que calor!
Mas sonhos nada custam, o que fazer?
Somente imaginar em forte ardor.
O dia que não vem, tanto prazer...
Marcos Loures
28
Espreitas, esperanças, me confundo...
Declino de meus erros , meus acertos.
Se quero me concentro, vou ao fundo,
Os medos com certezas, vão despertos...
Nos mares que me deste não me inundo,
Nem vejo teus olhares, meus apertos...
Não sei se te terei, tão vasto mundo....
Nos erros que cometo, vãos, incertos.
Esperas e fornalhas, me acalentas...
Vasculhos teus sensores basculantes..
Os vasos se quebraram um pouco antes.
Temores e tremores não enfrentas...
Os meus sonhos jogados na lixeira
mostrando a tua face verdadeira...
29
Espreitas meu cadáver, disso sei.
Necrófagos mistérios deste amor!
Envolta na promessa, novo alvor;
A morte dolorosa, tua lei,
Na lívida figura me encontrei,
Sem gosto perfumado, morre a flor,
Os olhos que demonstras, de torpor,
No pavor que traduzem, mergulhei!
As larvas generosas companheiras,
Na temperança, amantes mais fiéis.
Nos lábios destas bocas derradeiras,
Um beijo mais soturno e demorado,
Do látego, o castigo, sina e fado.
Na abelha que me pica, doces méis...
Marcos Loures
6130
Espreita esta alvorada a debruçar
Por sobre as flores todas do jardim,
O sol ao ver beleza, vai enfim
Deitar a maravilha sobre o mar.
Em cores tão diversas, decorar
O mundo que guardei dentro de mim,
Na tela que se mostra, sigo assim,
Sentindo o quanto é raro e belo amar.
Quarando uma esperança no varal,
O riso delicado e sensual
Convida e a festa, eu sei, nunca termina.
Na dança que se faz revolução
Eu verto sobre ti, com devoção
E bebo o meu prazer na doce mina.
Marcos Loure
31
Esplêndidos momentos ao teu lado,
Estrela vespertina de minha alma,
Luzindo no meu peito, apaixonado,
Quem fora tempestade já se acalma.
Depois de tanto tempo machucado,
Amor se faz bem brando, vertido em calma.
Eu sei bem o que seja uma tristeza.
Também reconhecer felicidade.
A vida se passando com leveza
Qual manso lago traz tranqüilidade
Augúrios mais risonhos com certeza
Pra sempre me trarão saciedade...
No verso generoso que me dizes
Futuro mostrará sonhos felizes...
32
Espíritos recebo do passado,
Calçando o velho tênis da saudade.
Aonde se dizia iluminado
O céu mostrava, enfim obscuridade.
Eu bebo deste copo de bom grado
Se agrado ou se malogro, falsidade
Espalha o seu cinismo pelo prado,
Refém do que vivemos, sou covarde.
Abarco os velhos ritos, mitos, medos,
E tento descobrir quais os segredos
Que ainda não mostraste para mim.
Reger a mesma orquestra em desafino,
Não tendo mais as rédeas do destino,
Vasculho cada porto, mar sem fim...
Marcos Loures
33
Espírito dormente da floresta,
Não deixe que maltratem suas filhas...
Das verdes esperanças pouco resta.
As matas se transformam parcas ilhas...
De máquinas vorazes, tudo infesta,
Matando tantas belas maravilhas.
A vida se fará mais indigesta
O mundo seguirá por tristes trilhas...
Acorda! Te implorando, meu futuro,
Num triste solilóquio quase pranto...
Não deixe adormecer um mundo escuro,
Nem deixe de viver cada segundo;
Na luta pelo vivo e doce encanto,
Da vida que trará um novo mundo!
34
Espírito alimenta e traz saúde
A quem concebe amor liberto em paz.
Renova num sorriso a juventude,
E toda uma esperança satisfaz.
Por mais que o tempo ingrato sempre mude,
A calmaria em vida já nos traz.
Fazendo da emoção um grande açude
Aonde a seca não virá jamais...
É marca registrada da paixão
As tempestades loucas, as tormentas.
Porém quem sabe amar vê solução
Nas palavras tão doces, serenadas,
Depois das ventanias violentas,
As águas pelo amor são abrandadas...
Marcos Loures
35
Espinhos que coroam nosso canto
Em formas eriçadas tão agudas,
Vermelhos os desejos, verso e pranto,
Não queimam nem precisam mais ajudas...
São formas dolorosas deste fogo
Que espalhas pelos campos destas flores...
Amada não se pode crer no jogo
Que arriscam, mais ariscos, os amores...
O certo é que tremulo sem sentir
As pernas temerosas laceradas,
O canto nos espinhos do porvir
Afoga minhas dores des’peradas...
Enquanto tanto amor manso e cruel
Nos leva loucamente para o céu...
36
Esse silêncio acalma, anestesia,
Prazer bem mais sereno se adivinha...
A vida transcorrendo em harmonia
Deitada nos teus braços, paz aninha...
A brisa sussurrando folhas, matas,
As águas tão pacíficas do rio...
Amor em borbotões plenas cascatas,
Explode nesta noite em louco cio...
Velando por teu sono, meu amor,
Observando a nudez tão maviosa;
Beleza transparente em esplendor,
Que faz brotar amor, perfume e rosa...
Nesses delírios tontos, colibri,
O tempo que sonhava, estava aqui...
37
Esse meu triste amor, merece o fogo!
Se não posso ostentar com certo orgulho,
Amor que não mereces, nem por rogo.
Jogado nessa estrada é como entulho.
Quem sabe nas promessas trace o jogo,
Pois vale quanto pesa, é só barulho.
Talvez encontre aqui, ou lá no Togo
Um mar que não prometa só marulho...
Não cabe em mim verter em esperança,
Se nada significa meu amor...
É verme que passeia e já se cansa,
É lua que não brilha, sem luar...
No fundo antecipando tua dor,
Te peço, nunca mais queira me amar!
Marcos Loures
38
Esse mar se elevando em véu de escumas,
Trazendo a sensação de majestade.
O vento transformando tantas dunas
Reflete em quente areia a claridade...
Nas glórias de saber que te encontrei
Depois desta imprecisa caminhada,
Agora que percebo o que sonhei
Reflexos multicores, minha amada...
Na brônzea maravilha desta tez,
Deitada nesta praia, tão molemente;
Pressinto que chegou a minha vez
De ter as alegrias em torrente.
Meu mundo que em tristezas foi sozinho,
Virou sonho, de amor e de carinho...
39
Esse amor que me toma todo dia
Trazendo uma alegria que é sem par.
Louvando toda a sorte e a fantasia,
Aprendo esta delícia de te amar.
Meu verso te propondo a melodia
Que amor nos ensinou a solfejar
Perfeita nos acordes, na harmonia,
Gostosa de aprender e de cantar.
Tu és a minha graça e redenção,
Tu és o meu sentido e meu rumo.
Vivendo em teu amor esta emoção
A cada novo tempo me ilumino
Ouvindo o teu cantar eu já me aprumo,
E volto no teu colo a ser menino...
6140
Essa tarde caindo me entristece...
As nuvens decorando o entardecer...
Te peço, te implorando numa prece ,
Não me deixes jamais, melhor morrer!
Amada, mulher linda, não confesse
Teus pecados nem diga mais porque...
A noite que aproxima não merece
Essa dor que se emana sem saber...
Capoeiras, sertões, as esperanças...
Trazendo minhas mansas ansiedades...
As forças naturais, nas velhas danças;
As portas se fechando, impropriedades.
Sequer te percebendo, vens, avanças...
A tarde vem caindo, traz saudades!!
41
Essa noite te quero, meu amor,
Em nosso amor vivendo esse momento
De plena juventude e de calor,
Com toda a fantasia e sentimento...
Quero te beijar tão mansamente
Sentindo teu perfume mais gostoso
Rolando nossa cama febrilmente
Roubando uma alegria e todo gozo...
Quero ter teu corpo junto ao meu
Dormindo meu cansaço em teus braços,
Prazer que em teu prazer adormeceu
Formando assim nos dois, os mesmos laços...
Prazer que nos delira no pernoite,
Suave e tentador como essa noite....
42
Essa hora está chegando amigo meu;
Tristeza se aproveita e dá recado.
Meu verso vai sangrando mais ateu
Envolto sem perfume, no pecado.
Nos bares que tomamos mais um trago
Milhares e milhares de saideiras.
A lua tão charmosa faz estrago;
As pernas das mulheres, verdadeiras...
Depois de tanta lua a noite morre
No colo da morena que escolhi.
Cabeça vai girando, estou de porre;
Porém mais um amor, sobrevivi...
Depressa meu amigo, vem ligeiro,
Que o dia vem chegando, sorrateiro...
43
Essa dor que penetra sem sentido,
Nesse momento austero da saudade;
É luz negra, transforma em claridade,
O que nunca pensei ter conseguido...
Quando procuro braços, vou vencido,
Mas persisto, cegando essa verdade,
Não consigo nem quero a liberdade;
Sou pássaro e, de morte, vou ferido...
Não pretendo saber de teus pecados,
Nem quero suplicar por teus recados;
Tanta miséria, fere, marca, insulta...
Tens a discórdia inata, nem percebes...
Meu amor, enfim, nunca mais concebes,
Devorando-me, lenta, a dor oculta...
44
Espero o verso frágil e sonhador
Que fale deste encanto insofismável,
Num tema que se mostra inesgotável
Qual fosse pro poeta o grande amor.
Eu quero após a chuva o bem da flor,
Revigorando o sonho interminável,
Num solo que proponho sempre arável,
Eu quero, se possível, lavrador...
Sorriso de inocência toma os lábios,
Supera em sapiência todos sábios
E molda um novo tempo em que viver
Será bem mais que um fato corriqueiro,
Aonde o amor singelo e verdadeiro
Resuma em perfeição todo o prazer...
45
Espero o teu amor a cada dia,
Com gosto de carinho, pão e mel,
Dançando par em par com a alegria
Flutuo em cada passo, ganho o céu...
No teu beijo, perfeita sintonia
Nos traz proximidade. Carrossel
De desejos divinos, fantasia
Voando em cada noite, num corcel...
Sonhando com teus olhos sedutores,
No bem que reconheço, vem inteiro,
Meus versos exaltando estes amores
Traduzem meu querer por ti, menina,
O amor com seus desejos tão certeiros,
Com setas, me atingindo, me domina...
46
Espero na colheita, amor perfeito,
Valorizando assim o jardineiro
Que tanto se dedica e deste jeito
Aguarda a flor mais bela do canteiro...
Sabendo ser possível nosso sonho,
Não temo mais sequer os vendavais,
O quanto eu te desejo e já proponho
Além do corriqueiro, muito mais.
Amor que não permita terremotos,
Que viva intensamente por si só,
Por mais distante, olhares tão remotos
Não deixe que se perca em fino pó
O amor que nos transforma e nos embala
Tomando toda casa, o quarto, a sala...
47
Espero minha amada que não vem...
Eu creio que talvez jamais virá;
Por certo se perdeu com mais alguém
E nunca mais meu mundo encontrará...
Amada que desfeita num luar
Deitada numa relva tão macia,
Sabendo que talvez possa encontrar
As mãos silenciosas e vazias,
Buscando noutro porto, noutro cais;
Amores que se fazem mais constantes,
Não venha pros meus braços nunca mais,
Quem dera se eu soubesse, enfim, bem antes...
Mas saibas, minha amada, não sou mudo.
E canto nosso amor morto, contudo...
48
Espero meu amor por um mais um dia
Quem sabe me trarás uma outra vida...
Sabendo que minha alma se perdia,
Virás e salvarás da despedida...
Amor que não se jura e se comete,
Que em loucas sinfonias se entrelaça
Amor que não precisa nem promete
Vivendo caçador virando caça.
Amor que não mais temo simples amo,
A quem sempre obedeço e nunca nego.
Pois saibas meu amor que eu sempre te amo,
Amor é manso fado que carrego...
Te quero meu amor, dia após dia
Por dias e por vidas, fantasia...
49
Espero esta menina de tardinha
E vamos ver um filme no cinema.
Depois tomar sorvete na pracinha
A vida já não traz qualquer problema.
Tentei passar a mão nas suas pernas,
A moça fez um ar de preocupada,
Nas carnes tão macias, duras, ternas,
Tão tenras que merecem ser tocadas.
Depois um beijo audaz em seu pescoço,
Tomei foi um tremendo beliscão.
O grito quase causa um alvoroço
Ficando bem marcado um vermelhão
Mas vale bem a pena a marca roxa,
A mão escorregou, parou na coxa...
6150
Espero esta chegada redentora
Dourando minha vida em plena glória
Trazendo uma alegria duradoura
Que nos dê o sabor de uma vitória
Rainha dos meus sonhos, dos meus dias,
Deveras és a paz que eu precisava
No encanto de teu verso me dizias
De todo o sentimento que eu sonhava.
Encontro tanto amor; imensa luz.
Abrindo meus caminhos, me guiando.
Na mão que me norteia e me conduz
A vida, com certeza, se mostrando
Mais bela, harmoniosa e tão feliz.
Amor que na verdade, eu sempre quis...
51
Espero desfrutar de cada beijo
Na boca que se mostra sensual.
Na força ilimitada do desejo,
No poder do carinho sem igual.
Tocando no teu corpo, um relampejo,
Que vai além do céu, percorre astral,
De todo este desejo que prevejo,
Na fúria deste amor, sensacional...
Incide sobre mim teus belos raios,
Um sol que me queimando, me alivia.
Depois de tanto amor, loucos desmaios,
Em cores tão divinas se renova,
Amor que a gente faz com maestria,
Trazendo para a cama, a lua nova...
52
Espero cada canto num segundo,
Que invada meu sorriso como um todo
Amor que me penetra traz meu mundo
Quiçá possa salvar-me deste lodo
Que em vão meu coração se emaranhando
Arrasta meus sentidos rumo ao nada.
O tempo de viver já vai passando
Em busca do sorriso desta amada...
Meus versos não são mais ledo destino
São versos que te faço, sentimento...
Encanto do meu mundo de menino
Tecendo uma esperança em pleno vento...
E canto meu amor com tal certeza
Envolto neste encanto, da beleza...
53
Espero ao fim da tarde uma surpresa
Em forma de carinho ou canivete.
O quanto uma esperança se repete
Não deixa que eu me sinta mera presa.
A lua que se deita e te embeleza
Ao mesmo tempo foge; vã vedete,
Amor que tantas vezes pinta o sete
Seguindo sempre contra a correnteza...
Desprezo o que não veio e nem viria
Jocosa maravilha cega o dia
E deixa o gosto amargo do não ser.
Eu beijo a boca aberta da ilusão
Sabendo deste amor, um vendilhão,
Mentindo toda noite em desprazer.
54
Espero ansiosamente esta presença
Que sei fará meu mundo mais feliz.
Amor que se faz sonho, vida e crença
Além do que pensei. Do que já fiz
Trazendo uma alegria tão imensa
Mudando todo o céu, vivo matiz,
Querida, és minha grande recompensa
Bem mais do que pensara e até já quis.
Janela do meu quarto estando aberta
Assim como o portal do coração.
Deitar-te aqui debaixo da coberta
Que o frio nos convida a namorar.
Vencidos pelo fogo da paixão
Vem logo que eu estou a te esperar...
Marcos Loures
55
Espero amanhecer em fogo brando
Não vejo outra saída. Sigo em frente.
O beijo que se fora tão ardente
Agora aos poucos sinto se esfriando.
As ilusões partiram noutro bando,
Minha alma se tornando mais descrente
É necessário um sonho em que se invente
Além do coração em contrabando.
Baladas não me dizem quase nada
Senão esta partida anunciada
Mudando todo o curso desde agora.
Não tendo mais teu corpo junto a mim,
Procuro inutilmente de onde vim
As mãos que se procuram noite afora.
56
Espero alguma coisa após a queda
Mesmo que seja apenas curativo,
Enquanto mantiver meu sonho vivo,
Eu pago sem temor, mesma moeda.
A porta se arrebenta e não se veda,
O verso que pareça mais altivo,
No fundo se mostrou lento e passivo,
E a boca da morena me embebeda.
Acessos entre crises de ciúme,
De todo grande amor, isso é costume,
E nada mais faria senão isso?
Vencido por promessas enganosas,
As cordas que arrebentas; caprichosas,
Impedem do floral, beleza e viço...
57
Espero alguma chance pra poder
Falar do quanto a gente se perdeu,
O mundo que eu achava todo meu;
Jamais eu poderei reconhecer.
Difícil, na verdade perceber
O quando minha vida esvaeceu;
Das lágrimas que o tempo recolheu
O fim desta viagem; desprazer.
Quem sabe, no final, por sobremesa
O amor, ao conhecer maior grandeza
Permita algum sorriso, mesmo falso.
Iludo-me deveras, pois sei bem,
Que apenas o vazio ainda vem
E as esperanças torpes, eu descalço...
58
Espero a tua voz vinda no vento,
Envolves minha vida em tal magia
Que jamais te tirei do pensamento,
Sequer um só momento, nem um dia...
Coloco nestes versos, sentimento,
E canto o nosso amor com alegria.
As noites doloridas, sofrimento,
Se vestem desse canto em harmonia
E sabem deste amor que não é pouco
Que toma e que transborda mar adentro.
Distante de teus olhos fico louco.
Amada, tua voz é meu abrigo,
Tu és o meu apoio pés e centro
Vivendo em nosso amor, amante, amigo...
59
Espero a tua voz vinda no vento,
Envolves minha vida em tal magia
Que jamais te tirei do pensamento,
Sequer um só momento, nem um dia...
Coloco nestes versos, sentimento,
E canto o nosso amor com alegria.
As noites doloridas, sofrimento,
Se vestem desse canto em harmonia
E sabem deste amor que não é pouco
Que toma e que transborda mar adentro.
Distante de teus olhos fico louco.
Amada, tua voz é meu abrigo,
Tu és o meu apoio pés e centro
Vivendo em nosso amor, amante, amigo...
6160
Esperei por tal fato sem descanso,
Lutei tão bravamente e te venci!
Futuro tão distante, sim, alcanço
Num gesto quase heróico estás aí
Mudando a cada instante, inconseqüente,
Fazendo tempestade em copo d’água
Por mais que a solidão, amor pressente,
Nos olhos da princesa já deságua.
Eternas estas ondas, vão e vêm,
Queria ter alguém junto comigo.
Depois de tanto tempo sem ninguém,
Tristeza se mostrando em desabrigo,
Morta enfim. Destroçada sem perdão!
Livrei-me da quimera: a solidão!
Marcos Loures
61
Esperavas teu príncipe encantado...
A vida te negou tal fantasia.
A noite ludibria o belo dia,
O sonho que vivia, abandonado..
Princesa, não sabias que eu sabia,
Que espelho dos teus sonhos foi quebrado,
Negava à Cinderela essa magia...
Cruel mundo real manda o recado...
Dançavas tuas festas, lindos sonhos...
Pensavas noutros mares, u’a princesa.
Os medos transtornaram-te, medonhos.
A vida veio crua, sem beleza...
Quem brincava, tristezas teve par...
Quem sonhava, jamais pode encontrar!
Marcos Loures
62
Esperas pela noite, nunca vem...
Esperas pelo príncipe, fugiu...
Quem sempre procurou vai também,
O tempo conselheiro, já saiu...
O medo de viver nunca faz bem,
A angústia dos amores, seu buril,
Transforma essa vontade noutro alguém
Tatuada no peito como um til...
Amores e promessas, esperanças...
Menina que cresceu vive cansada...
Quem espera por luzes e por danças,
Sentada vai revendo o velho sonho,
A vida vai passando na calçada,
O tempo que promete foi medonho...
Marcos Loures
63
Esperando este trem que pára agora
Na estação liberdade/consciência
Passando pelas ruas mundo afora
Mostrando que é preciso paciência.
Trazendo especiarias não demora
Mas vale pelo tempo e penitência.
Em bandeiras e sonhos se decora
O trem da liberdade e da ciência.
Ciência de saber que amor é cura
Que a força por mais bruta se faz frágil
Perante a mansidão, calor, ternura.
Mergulho em utopia a claridade
Num sonho de outro sonho bem mais ágil,
Que venha com perfume de amizade...
64
Esperanças sussurro no teu peito
Tentando te tocar no coração.
Achando que talvez traga um efeito
Que faça ser menor a confusão...
Sussurro em teus ouvidos, bem baixinho,
A voz enrouquecida, isso te ouriça,
Percebes como fere o teu espinho,
Passível, lerdo, restas temes liça...
E nada em ti descubro tudo inútil,
E nada mais escuta nada fala,
Parece que te escorre medo fútil
Esqueces e de repente, já se cala...
Que temes quando toco o coração?
Fazer de tanta luta maldição?
65
Esperanças plantadas no pomar
Das ilusões do amor que não tem fim.
O tempo vai passando devagar,
Nublando a solidão dentro de mim.
Espero que a manhã irá mostrar
O sol que imaginei- amar enfim,
Brilhando nesta flor que vai brotar,
E perfumar enfim, nosso jardim...
Insisto em te querer, amor arisco
Que foge entre os meus dedos, se esvaindo,
Valendo a pena sempre correr risco
De uma tristeza imensa feita em não,
Quem sabe colherei um fruto lindo
Depois de ter regado a plantação...
66
Esperanças conjugar
Os verbos desta canção
Que permitem cravejar
Com amores e perdão
O brilho deste luar
Maltratando o coração
De quem quisesse sonhar
Anunciando o verão
Nas matas tantas promessas
Das flores em profusão
Tentando ser às avessas
Do que fora escravidão
Nestas luzes que professas
Profetizas compaixão!
67
Esperança vem quieta e sorrateira...
Batendo nas janelas dos hipócritas,
A noite que parece derradeira,
Recebe tais mensagens vis, apócrifas..
Os olhos do mendigo se iluminam,
A noite monstruosa, adormecida...
Refaz podres entranhas desatinam,
Matando feramente, toda a vida...
Nas vozes das perfídias escrotais,
Crocitam essas gralhas venenosas...
Os bicos mais lascivos, imorais,
Apontam para os olhos dos mendigos...
Devoram os jardins, quebram as rosas,
Ameaçam retornos e perigos...
Marcos Loures
68
Espinhos maculando a bela flor,
Amor que tanto eu quis e não desvendo,
O templo das loucuras, meu andor,
Altar aonde o tempo é um adendo
Somente e nada mais, posso compor
Um verso enamorado; mas pretendo
Viver cada momento com vigor,
Dos erros, fantasias, já sabendo.
Matar os meus desejos. Quem me dera...
Seria ao menos muito mais feliz.
Um velho apagador destrói tal giz
Na lousa desta vida em longa espera.
Porém meu coração sonega a aragem
E esconde-se nos ermos da paisagem...
69
Espetáculo em forma de poema,
Raríssima beleza, esteja certa.
Tu tens muito talento. Rompa a algema
Que às vezes torna a vida mais deserta
Dos astros, um sublime diadema,
Um manto que servindo de coberta
Encontra nos teus versos, rara gema
Que em cores tão diversas nos desperta
Ourives da palavra, cada amiga,
Polindo em poesia uma pepita,
Tesouro de sobeja claridade
Não desanime nunca, e sim prossiga,
Ninguém jamais um sonho delimita
Entregue-se, sem medo à liberdade!
Marcos Loures
6170
Espero teu calor na minha tarde
Depois de tantos sonhos esquecidos.
Amor que tanto queima e que já me arde
Esquece dos desejos mal vividos...
Eu quero essa nudez que me prometes
Nas minhas caminhadas pela vida,
Palavras tão macias que repetes
Transbordam meu desejo enfim, querida...
Eu quero navegar pelos teus portos
Vivendo a fantasia deste cais.
Por rumos que pensara fossem tortos
Encontro essa ventura e tenho paz...
A paz que celebramos, nossa cama,
Queimando e descobrindo cada chama....
71
Espero ter teu corpo nessa noite
Envolto na magia sedutora
Que trama em quimeras, meu açoite,
Fazendo desta noite redentora...
Nas luzes transparências e desejos...
Orelhas e segredos, na libido
Os dentes sussurrando mansos beijos
Mergulhos no oceano descabido.
As rotas percorrendo, matas, grutas,
As mãos são mensageiras do prazer.
De tanto que desfruto e tu desfrutas
A vida não se cansa de nascer...
Amor eu te desejo em noite escura,
Derrame de ventura e de ternura...
72
Espero que tu venhas
Trazendo tanto amor,
Acendes, nestas lenhas
Por certo, o meu calor
Na sorte em que te embrenhas
Um sonho tentador
Só quero que tu tenhas
Carinhos a propor.
Vencendo a solidão
Que faz-se em noite fria
Encontro a solução
O bem que mais queria,
Refestela-se a paixão
Em nossa poesia...
Marcos Loures
73
Espero que tu tenhas um bom dia
Assim como um bom dia também quero.
Que seja um dia pleno de alegria
Assim como o meu, também, espero...
Que a vida te sorria e não deboche,
Que os rios que percorres sejam mansos.
Amor não seja só um simples broche
Que te barco aporte nos remansos...
Que nada mais te traga sofrimento
E a vida te inundando de esperanças.
Que o fogo da saudade e do tormento
Não trague tua vida nas lembranças...
Que o sol que te sorria não te queime.
Persevere no amor. Ah! Nisso teime!
74
Espero que te encontre todo dia
Envolta nessa luz que me fascina
Sabendo que trarei a poesia
Que nasce do meu peito e me domina...
Não quero mais viver sem ter-te ao lado,
Em cada novo canto que dedico,
Percebo que viver apaixonado
Me deixa cada vez muito mais rico
Da beleza que incrusta-se no sonho,
Da alegria que insere-se em meu rosto,
Viver da fantasia que proponho
Em tudo o coração vai mais exposto.
Permita que eu desfrute assim, querida
Bem mais que simples dia em tua vida...
74
Espero que perdoes; minha amada,
Os erros que cometo todo dia,
Avesso aos teus conselhos eu queria
Seguir em liberdade, a minha estrada.
Porteira da ilusão arreganhada
O vento nos convida à fantasia,
Tentando conhecer nova alegria,
Depois de caminhar, não restou nada
Senão a frialdade de uma noite,
Aonde a tempestade como açoite
Açoda o pensamento, mata a sorte
Beber de uma emoção diversa e santa
A vida ludibria e desencanta,
Prepara uma navalha que me corte...
75
Espero que me entendas e me aceites,
Sou ermo e nisso tramo a minha sina,
Caprinas emoções, pútridos leites
A mão que cumprimenta e assassina.
Arrasto os meus fantasmas pela casa,
Demônios que recrio do passado,
Grassando o meu espectro alma defasa
E volta ao que pensei abandonado.
Nas teias que me servem como abrigo,
Tecendo imensidão recrio abismos,
De outras vozes melíferas consigo
Conter os meus instintos, fartos sismos.
A par destes engodos e verdades,
Arrancando os meus olhos, claridades...
76
Espero que depois da chuva venhas
Trazendo o sol sublime da esperança.
Tu sabes de meu peito velhas senhas
Quem sabe tem juízo e sempre alcança;
Enquanto nos sofreres tu te embrenhas
Relembras dos momentos de criança
Aonde os corações queimando lenhas
Vibraram fantasias em pujança.
Amiga quando estavas tão perdida
Vagando qual cometa em ilusões
Tocada pelo vento das paixões
Buscando como louca uma saída,
Sentia que inda um dia fosse ter,
Depois da tempestade, o teu prazer...
Marcos Loures
77
Espero pelas duras noites, ânsias,
Procuro por qualquer forma de vê-las,
As horas que confundo são ganâncias
As noites que prometo sem estrelas!
Quem dera se meu barco em alvas velas
Seguisse sem saber das discrepâncias,
Vestindo as poesias e ao contê-las
Vagasse pelos céus, suas estâncias...
Quem tenta no infinito o seu reflexo,
É côncavo distante do convexo
Espelho distorcendo a sua imagem.
Vagão sem conhecer locomotiva
Minha alma libertária, assim cativa
Insone em vão procura uma paragem...
78
Espero pela estrela que não veio,
Sequer mandou recado, se mandou.
Juntando cada parte que sobrou
Depois de certo tempo, eu ando cheio.
A moça que escondeu umbigo e seio,
Fazendo esta promessa me deixou,
O parto dolorido tatuou
No corpo de quem segue cada anseio.
Metade dói demais, outra alivia,
Escrevo esta missiva em poesia
Falando deste tudo que foi nada.
Mas venha que eu te quero, não duvide.
Enquanto a lua imensa nos convide
Eu quero estar mulher enluarada...
Marcos Loures
79
Esperança é areia movediça
Infeliz de quem dança em suas cordas...
Muitas vezes parece que enfeitiça
A gente sem querer, treme nas bordas...
Quantas vezes me perco na cobiça
Outras tantas padeço noutras hordas.
Caniço que procura ser cortiça,
Nem percebes nas horas que me acordas...
Esperança moleca bem traquinas
Esbarrou e quebrou vaso chinês
Nas saias que levantas, desatinas.
No final aluguel no fim do mês.
Siderurgicamente sem bobinas,
Afinal, viciado sou freguês.
Marcos Loures
6180
Esperança adormecida
Esquecida noutro canto
Pobre semente da vida
Tentam roubar teu encanto
De novo pedem guarida
Os que trazem desencanto
A manhã se vai perdida
De novo raiará pranto...
Nos olhos da sertaneja
Todo verde amarelou
O sonho, doce peleja,
No pesadelo voltou
A mansa boca que beija...
Escarradeira virou!
Marcos Loures
81
Esperado poder ter os teus braços
Toda noite aguardando tua volta.
Deixaste por aqui tão fortes laços,
Mas agora, me explica como solta.
De noite, quando chegas no meu sonho,
A minha vida, em festa, se resume...
Fazendo o meu viver bem mais risonho,
Encharcando a minha alma de perfume...
De dia minha dor se torna imensa.
Não tenho nem os sonhos que aliviam...
Pergunto se acordar, então, compensa.
Sem sonhos, os meus dias se esvaziam...
Se não houvesse nunca mais o dia,
Minha vida seria plena de alegria!
82
Espera por teu ninho, no final,
Esta ave que tentara, passarinho
Voar em liberdade. O desalinho
Tornou-se em solidão, quase fatal.
Quem tem uma morada, bem ou mal,
Já sabe: não irá seguir sozinho,
E quando noutro tanto eu já me aninho
Concebo ser suave o corte e o sal.
Embaralhando os corpo eu me aqueço,
Virando a minha vida, frente e avesso
Sem tétricas loucuras, desvarios,
Assento esta poeira e sigo manso,
Bebendo a poesia em teu remanso
Seguindo sem cascatas nossos rios...
Marcos Loures
83
Espera florescer o seu jardim,
Aquele que se fez em esperança,
Por mais que a vida negue sempre o sim,
O eterno Paraíso, o sonho alcança.
Quem traz esta vontade como herança
Já sabe do que digo, e quer enfim,
Vencer a tempestade em temperança,
Bonança usufruindo, um dia clean.
Pesando em minhas costas, fantasia,
Que o tempo mesmo insano busca e cria,
Mesmo que a vida teime em ser algoz,
E quando a noite traz a solidão,
Abrindo as velhas portas do porão
Eu tento me lembrar sempre de nós.
84
Espelhos refletindo olhares tantos
Eu me perco em mim mesmo e nada sou.
O corpo abandonando em blues e soul
Esfacelando as rezas feitas cantos.
Vomito sobre os líricos encantos
De quem se fez estúpido e cruzou
Cobrindo em naus insanas, cegos mantos
Bebendo do que pensa e não restou.
Aborto do que fui e não sonhara
Carcaças entre luvas de pelica
O nada que em verdade tipifica
A merda em que meu passo contestara
Expõe em mil olhares meus espelhos,
Enrugadas manhãs de versos velhos...
85
Espelhos de nós mesmos, ambos: luz.
Sem termos, vamos sempre sem temores.
Acendes o que cedo me seduz
Semeias as vontades e os fulgores.
E quando a noite chega amor abduz
Das cenas mais picantes, dois atores
Cenário que tão raro reproduz
O que desejam tanto estes autores.
Não quero em nosso caso algum recato,
Banquete que se faz no mesmo prato
Unindo nossas fomes nos saciam.
Metades quando unidas da maçã
Ardentes emoções, profano afã
Que satisfazem quando enfim viciam...
Marcos Loures
86
Espelho onde retocas maquiagem...
Nunca mente, mas finges não ouvir.
A noite transtornando tua imagem,
Madrugada teimosa não quer vir...
Espelho refletindo essa visagem,
O tempo vil mendigo vem pedir,
Nem espera resposta, por passagem.
Belas flores murchando... Vais sair...
O espelho respingando tanta mágoa,
As rugas mapearam o teu rosto.
As lágrimas descendo, dão um beijo...
A tristeza transforma-se nessa água
Que borra a maquiagem... No desgosto...
Mas, minha amada, como te desejo!!!!
87
Espelho na sarjeta o que há em mim,
Estendo as minhas mãos para o diabo,
O sonho em que tropeço mostra o rabo
Bebendo com fartura todo o gim.
Nas vísceras expostas no jardim,
Dormindo enquanto ronco eu sempre babo
Aos poucos fantasias eu desabo
E mostro de onde venho e porque vim.
Na lepra que carrego dentro da alma,
Tubérculos crescendo a cada dia.
Mentira toma a forma em poesia
Nem mesmo o velho logro mais me acalma.
Somando o que ganhei fiquei de menos
Sem mares, sem marés, ares amenos...
88
Espelha o nosso amor, plena alegria.
Há tanto que desejo esta verdade.
A noite em que mergulho, outrora fria,
Inexpressiva fonte de saudade
Agora modifica tal enredo
E deixa que se veja um novo sol.
Amor ao perceber este segredo
Acende em nossa vida o seu farol.
Ancoro meu navio neste porto,
Fomento uma ilusão que não mais cessa.
O mar que outrora fora ledo e morto
Encharca a minha vida na promessa
Da enorme fantasia que alimenta
Acalmando a amargura, violenta...
Marcos Loures
89
Especular reflexo, só retrata
O olhar em que haveria ingenuidade
De tanto que se fere e se maltrata
Os cães sempre procuram igualdade.
Da súcia que devia legislar
O rosto que se expõe, em podridão
Permite que se veja o mesmo olhar
Daquele que trafica, exploração.
Na luta que de dá nem concha ou mar,
Os erros cometidos são de todos.
Numa omissão difícil de explicar
Criamos pra nós mesmos vários lodos.
Fuzil, ora brinquedo de criança
Expressa, em realidade, uma vingança...
Marcos Loures
6190
Espectros que caminham pela noite,
Fantasmas de um noctâmbulo poeta,
Queimando em minhas costas, tal açoite
A morte ainda serve como meta.
Jogado pelos cantos e sarjetas,
Olhando o meu passado sem clemência,
Carrego no meu peito vãs tarjetas,
O risco não passou de penitência.
Ourives que lapida a falsa pedra
O pensamento vaga entre as marés,
Em meio a tais falésias. Peito medra,
E acolhe novamente estas galés
Que impedem o meu passo libertário,
Um rio que transborda no estuário...
91
Espectros do que fomos me perseguem
E tomam meus anseios cerebrais,
Aos poucos; feramente, eles conseguem,
Eu não me livrarei deles, jamais.
Por mais que outros amores venham, neguem,
Esta presença insana de abissais
Cadáveres de ti que inda me seguem,
Perseguem com tais fúrias canibais.
Esmigalhando o sonho que eu tivera
De ter ao menos restos no jantar,
Sorrindo em ironia, amarga fera
Não deixa que eu prossiga, feito um amo
Do qual não consegui me libertar.
Uma voz sepulcral repete: eu te amo!
92
Esparsos sentimentos tão confusos
Pelos caminhos todos que segui.
Suores e prazeres mais profusos
Encontro tão somente, amor, em ti.
Horários se misturam, vários fusos,
Mas tudo que esperei estava aqui.
Na paz mais desejada sem desdita
Neste carinho manso que me dás.
A lua em nossos olhos, infinita
No mar em calmaria, tanta paz.
Minha alma tão feliz te cerca e grita
Na luz e na alegria, mais capaz.
Aos Céus elevo preces e louvores
Na glória destes dias redentores...
93
Esparramas teu gozo sobre mim,
Na lava que me queima e me sacia.
Eu quero estar contigo até o fim
Mordiscas meus desejos, alegria.
Aguando tuas flores, teu jardim,
Enaltecendo sempre a fantasia
Do mundo que nos mostra em tal festim,
Um gesto de calor e de euforia.
Serenos vão caindo em nossos portos,
Corpos que se buscam, sem fronteiras.
Destinos que julgávamos tão tortos
Molduram em delícias; novos planos
De noites tão fantásticas, ligeiras,
No fogo destes sonhos sobre humanos..
Marcos Loures
94
Espalho no infinito claros versos
E bebo as calmarias que encontrar,
Vagando em liberdade os universos,
Nos braços deste amor faço o meu lar.
Lauréis; não imagino na chegada,
Nem mesmo uma fanfarra nem festejos
Apenas a manhã iluminada
Roubada destes sonhos mais sobejos.
Vagando nos meus céus, estrelas puras,
Reinando sobre os cantos, francos olhos.
Recolho tantas flores, sempre em molhos
Banhado pelos raios das ternuras,
Ferrolhos dos meus medos sem entrave,
Dos cofres eu encontro cada chave...
Marcos Loures
95
Espalho meus restolhos, vou ao léu.
Não tendo outro caminho estou contente,
Minha alma se perdendo num bordel,
Meu mundo vai morrendo delinqüente.
O gosto do fantasma já se sente
No pântano que exponho, doce fel.
Eu te amo e nada disso é tão premente,
Apenas garatujas feitas mel.
Ao respeitar teus peitos, silicone,
Encontro em tuas pernas belo cone
Aonde misturando meus retalhos
Permito nosso amor sem atos falhos,
Em toda servidão em que me lavo,
Prossigo tão somente teu escravo...
96
Espalho eternidade no infinito
Um simples amador decerto audaz,
Rompendo a solidão; frio granito
Apenas no demais se satisfaz.
A pedra que trazia no meu peito
Quebrada pelo riso da mulher
Chegando mansamente, desse jeito
Demonstra o que deseja, o que mais quer.
Mudando de conversa, simplesmente,
Amor assim se empresta em rebuliço,
A lua feita em mel, vem de repente
Prateia a minha sorte em novo viço.
Atiço os sentimentos, rasgo o verbo,
Matando o verso incréu, rude e soberbo.
Marcos Loures
97
Espalho em cada canto o meu sorriso
Onde espero espelhar felicidade.
A morte quando vem não manda aviso
Por isso é bom viver totalidade
Sabendo que no sonho em que matizo
Encontro teu olhar com liberdade
Um novo mundo; então, esquematizo
Aonde encontre em paz, sinceridade.
Amigos; encontrei por toda parte
Amores esquecidos, vento leva,
Aprendo todo dia uma nova arte
Com quem compartilhando cada passo
Acendo fogaréu matando a treva
Voando em plenitude, ganho espaço...
Marcos Loures
98
Espalhe em teu caminho um diamante
E faça deste sol teu companheiro.
O brilho que se mostra num instante
Permite que se aqueça o mundo inteiro.
Assim ao perceber quanta beleza
Espelha-se em teu rosto tu verás,
A força natural da correnteza
Trazendo para todos nós, a paz.
E nela uma verdade imorredoura
A mais sublime glória se pressente
Na luz que nos suprime enquanto doura
Mostrando quanto amor se faz urgente
Sabendo do poder da fantasia.
Eu bebo desta fonte noite e dia
Marcos Loures
99
Espalhas tanto brilho sobre quem
Sabe desfrutar cada momento,
O tempo que se mostra em bom intento
Com plena claridade, sei que vem.
Tua presença em lumes sempre tem
O poder de acalmar o forte vento
O amor quando demais, em sentimento,
Expressa a maravilha deste bem.
Bendigo o sol imenso em teu olhar
Aonde a fantasia faz brilhar
O amor que inebriando faz feliz
Aquele que se deu em farta luz,
Encanto que esta imagem reproduz,
Clareia o céu outrora negro, gris...
Marcos Loures
6200
Espalhas sobre nós; vital ternura,
Um canto em que alegria se demora,
Refaz com harmonia cada aurora,
Promessa benfazeja de brandura.
Trazendo para todos a ventura
De sermos mais felizes vida a fora,
Quem em tanta beleza se decora,
Não deixa mais a noite ser escura.
Entornas teus carinhos claramente
Deixando toda a gente tão contente
Um vento que nos toca. É necessário
Dizer do quanto quero bem a ti;
Estrela que, brilhante eu conheci,
Desejo-te um feliz aniversário.
201
Espalhas pelos campos com fartura
O aroma inebriante do desejo.
Entornas com delírios a ternura
Trazendo o paraíso que ora almejo.
Teus olhos encharcando de brandura
O rumo que em meus sonhos sempre vejo
Deixando bem distante uma amargura,
Amor é muito além de um relampejo
É tudo o que busquei, disso estou certo,
Oásis que vislumbro no deserto
Dos dias que passei em descaminho.
Agora que te encontro, nada temo,
Imerso em sentimento tão supremo,
Jamais eu seguirei, amor, sozinho...
Marcos Loures
202
Espalhas pelos ares o teu canto,
Guitarras entre as estrelas, noite plena.
Do vento que assobia, raro encanto
A lua delicada chega à cena.
E o verso de um poeta, como manto,
Beirais, janelas, luzes, sonho acena
Dourando de esperanças cada canto
Enquanto um passageiro, amor serena.
Pirilampos e grilos, violões...
Alvíssaras em brilhos, amplidões
Certezas de momento inesquecível.
Imerso em fantasias, noite passa,
Roubando do cenário toda a graça
Inolvidável sonho em lua incrível...
03
Espalhas gozos tantos sobre mim,
Fartura de prazeres sem cansaço,
Desenhos sobre ti, desejo e traço
No afã deste querer, amor sem fim.
Tenazes que me prendem, sigo assim
Colando meu calor em teu abraço
Voracidade insana, cada passo
Tomando cada gota, vinho e gim.
Os dedos que tu cravas feito garras
No balanceio louco, tais amarras
Unindo untadas peles e salivas.
Explodem dentro em ti, divinos jorros,
Percorro os vales teus, os belos morros,
E eclodem com tesão, minhas ogivas...
04
Espalhando tal luz em cada canto,
O dia traz perfeito e raro sol,
Mostrando tão real e farto encanto
Contagiando tudo em arrebol.
Amor chega cobrindo com seu manto,
Tramando em noite escura este farol
Nos braços deste amor que eu quero tanto,
A vida não será mais um atol
Distante desta praia inalcançável,
Morrendo logo a areia assim desponta,
Amar não é somente um faz de conta,
Permite irmos além do imaginável.
No sonho em que se faz amor imenso,
Feliz, a cada dia mais eu penso...
Marcos Loures
05
am pela casa, as alegrias,
Sorrisos de bonança e de fartura.
Do quanto tanto queres, sei que crias
Um canto magistral rico em ternura.
Das rotas deste sonho, tantas vias
Encontram nos teus braços, paz e cura.
Nas somas de dois corpos que se buscam,
O amor mostra perene decisão,
Por mais que as horas outras nos ofuscam,
Amor já se promete na fusão.
Palavras que prefira não rebuscam
O quanto é necessária esta emoção.
Remoça enquanto nela eu me eternizo,
Negando a ventania e o vão granizo.
06
Espalha sobre nós bela manhã
O sol que se irradia em amizade,
A vida se permite ao novo afã
Tocada pela vida em claridade.
Deixando para trás a dor malsã
Vivendo enfim a vera liberdade,
Sabendo do sabor de uma maçã
Amor se espalhará na humanidade.
Amigo, tantas vezes vi teu rosto
Em faces tão diversas, vai exposto
No irmão que perambula pelas ruas.
O pai que se mostrou a todos nós
Ao homem deu a força e deu a voz,
Porém sem ser ouvido, continuas...
Marcos Loures
07
Espalha sobre a cama, em nós, rocio
Pulsando bem mais forte o coração,
A cada novo dia me vicio
E principio assim, revolução.
Que a vida seja sempre em harmonia,
Sem desencontros, perdas ou discórdias.
Nos sonhos e desejos sintonia
Amor se faz em loas monocórdias.
Concórdia dominando nossos cantos
Recantos percorridos e sabidos
Toando melodias, bons encantos
Vontades e prazeres concebidos
Libidos embebidas num só gozo,
Amor que se faz denso e prazeroso...
08
Esperança se esfuma a cada dia,
Nas névoas que recobrem o meu céu.
O amor trazendo dores no farnel,
Provoca tão somente esta sangria.
Há tempos que eu pensava que podia,
A vida num eterno carrossel,
Levando uma alegria trouxe o fel,
E a noite renascendo amarga e fria.
Criança que sonhou com seu brinquedo,
Um resto de ilusão inda concedo
E nada recebendo, sigo em frente...
Fazendo dos teus olhos meu altar,
Minha alma se cansado de esperar,
Chorando sem consolo, amargamente...
Marcos Loures
09
Esperança perdida, triste sina
Deste amor que se foi e não mais volta;
Vai turvando a minha alma cristalina,
Inundando meu peito de revolta...
Quem me dera saber de uma saída,
Quem me dera encontrar um novo bem.
Esperança que tinha, já perdida,
Nosso quarto me diz: não tens ninguém...
Mas verei, com certeza, amanhecer,
Depois da terrível tempestade.
Meu amor em desejo converter,
E viver novamente, mesmo tarde...
Esperança, te encontro no sorriso,
Menina primavera, paraíso...
6210
Esperança perdida? Nunca mais!
Agora não consigo mais deixar
De crer que poderei deixar pr’a traz
Quimeras que vieram par em par.
Eu vejo destroçadas as tristezas
E sinto tanto bem por ser assim,
A vida se envolvendo nas certezas
Da paz que retornou, até que enfim!
Amiga, como é bom saber que vivo
Nos braços da esperança mais feliz:
Da liberdade inteira de um cativo
Que foi por tanto amor, um aprendiz.
Amiga; não mais choro uma saudade;
Agora eu encontrei felicidade!
6211
Esperança não pode ser atriz,
Nem pode desfilar qual fosse puta.
Nos olhos do meu povo, a meretriz,
Não pode se esquecer de tanta luta...
Esperança não pode ser vendida,
Nem pode ser deixada sob a mesa.
Reflete tantas vezes, nossa vida,
Não pode ser envolta por tristeza...
Esperança acordando molemente,
É melhor que matar nosso futuro...
A vida se aproxima mansamente,
Esse chão que percorre é muito duro...
Esperança levanta calmamente,
Nosso céu inda está, por certo, escuro...
12
Estrelas em tiaras e colares
Adentram na janela dos meus sonhos,
A luz ao penetrar raros altares
Expressa nossos dias mais risonhos.
Medonhos os caminhos que eu vencera
Em noites solitárias, tão vazias.
O quanto apascentara rudes feras
Seguindo estas pegadas mais sombrias
A pérfida esperança me traindo
Deixando em seu lugar apenas nada,
Ao ver o teu sorriso já se abrindo
A vida proporciona uma guinada.
Negando desde então tal virulência
Meu barco vai seguindo com fluência...
13
Estrelas e quasares, companheiros...
Nas galácticas plagas te perdi...
Os sonhos dos amores são viveiros,
Essencialmente tudo estava aqui.
Olhos, mares, etéreo... Teu perfume...
Até nosso desejo, anfitrião
Desta festa. Mas trágico ciúme,
Me trouxe, no final, a solidão!
As perspectivas loucas, ser feliz,
Desfeitas nesta curva do caminho...
A vida não merece ser atriz,
No palco da saudade destruída...
Amor que se destrói, sem rosmaninho,
Carrega em sua morte, a própria vida!
Marcos Loure
14
Estrelas do infinito, siderais,
Divindades noturnas, constelares...
Nos espaços distantes, ancestrais,
Amalgamam-se, formam seus altares...
Nas galas tantos ermos divinais,
Satélites brilhosos, os luares,
Angústias e presságios dos mortais...
Nos campos, mares, ruas, trilhas, bares...
As dores passageiras inconstantes,
Tramando nas tocaias inauditas.
Desfilam velhas mágoas dos amantes...
Distantes, as estrelas fingem ternas,
Conhecem todas dores e desditas.
Mas sabem que isso passa, são eternas!
Marcos Loures
15
Estrelas deslumbrantes, leves plumas,
Desfilam pelo etéreo em liberdade,
Nas nebulosas mágicas espumas
Serenas expressões de claridade.
Nos versos delicados, tu perfumas
Os astros que clareiam a cidade.
Brancuras esvaecem-se em neblinas
Em plúmbeas ilusões, em duras fases
Distantes de emoções alabastrinas
Na angústia do vazio quando fazes
Dos sonhos pesadelos, me alucinas.
Matando as esperanças mais vivazes.
Que faço se metade em dor destrói
Enquanto outra metade, amor constrói?
Marcos Loures
16
Estrelas brancas brilham no teu céu
Durante tantas noites, forte lume...
Aos poucos nos espaços, um pincel,
Forjando mais beleza que o costume...
Nos olhos de quem amo, transformadas,
Estrelas cristalinas, diamantes...
Deitadas no meu colo, abandonadas,
Formando paisagens deslumbrantes.
Nas lágrimas que escorrem, ledos medos,
Que sabem como é frágil todo amor...
Embora com cuidados, sem segredos,
Estrela vai perdendo brilho e cor.
Mas sonho com futuro tão incerto,
Estrela quero estar, de ti, bem perto!
17
Estrelas belas em umbrais marcados
Por raios fulgurantes de esperança
Os olhos de quem amo, destroçados
Na noite que não serve de aliança,
Parece que no fim estão fadados
A ter somente um sonho de criança
Em ânsias e vergonhas, demarcados,
Somente me restando uma lembrança
De um dia que se foi pra não voltar
De um beijo outrora dado quase em vão,
Olhando para estrelas vejo o chão
Aonde se espalhou triste luar,
Apenas nos acordes da paixão
Ainda uma esperança vai brilhar...
18
Estrela solitária que me guia,
Encantos que trouxeste para mim,
Às vezes em tristeza ou alegria,
Tu és o meu princípio, meio e fim.
Sobre as constelações supremacia
Tornando a minha vida bem mais clean
Enquanto rola a bola, maestria
Clarão que sempre espalhas, nele eu vim
Falar de meu amor que nunca cessa,
E a cada novo dia recomeça,
E mesmo na derrota, vencedor,
Tu és o mais sublime redentor,
Na história que se faz a cada jogo,
Um glorioso encanto: BOTAFOGO!
Marcos Loures
19
Estrela solitária do meu sonho
Maravilhosamente toma a cena.
Além do que desejo e até proponho
A sorte de viver se mostra plena.
Enquanto o meu caminho for risonho
A vida com certeza, mais amena,
Um verso benfazejo, enfim, componho,
Na voz desta emoção que assim se acena
Serena sensação de ser feliz,
Nem mesmo a poesia me desdiz
Correndo sempre solta, sem embargos.
Estrela reluzente que me guia,
Tomando a minha noite em alegria,
Adocicando dias tão amargos...
Marcos Loures
6220
Estrela sensual não mais evite
O brilho desta deusa em perfeição,
Saudade vem batendo no portão,
Sem nada que a impeça ou delimite.
Por mais que uma ilusão ainda grite
Entendo nosso amor qual provisão.
A estrela que mergulha em sedução
Não sabe e nem pretende algum limite.
Eu caço cada rastro feito em luz
Deixado em minha cama. Reproduz
A poesia imensa que trouxeste.
Rolando pelos astros, fantasia
A boca que eu beijara e bem queria
De todo este lirismo me reveste...
Marcos Loures
221
Estrela radiosa, doce encanto,
Cantar-te em serenata a noite inteira
Na sedução completa em que eu me encanto
Sentir tua magia, feiticeira.
Seguir os rastros todos desta estrela
Em brilhos maviosos, lume raro.
Procuro, a todo instante, poder vê-la
Pois ela é meu caminho, um anteparo.
Tu és a bela estrela luminosa
Que faz de minha vida, um bom jardim.
Perfumas delicada, minha rosa,
Refletes todo brilho dentro em mim.
E vamos, noite afora sem temores,
Entregue aos braços livres dos amores...
Marcos Loures
222
Estrela radiante e solitária
Brilhando no meu céu, sempre me guia
Toando com magia a fantasia
Que tenho dentro em, tão necessária
Meu corpo no teu corpo, um estuário
No qual derramo, farto, o meu prazer.
A pele que recobre, vestuário
O risco tão gostoso de correr.
Ariscos nossos lábios sabem tudo,
Confundem nossas pernas, reboliço.
Num sonho enamorado eu me transmudo
Deitando sobre ti, com fome e viço
Cavalgas noite afora o teu corcel
Levita enquanto levas para o céu.
Marcos Loures
23
Estrela radiante do recanto
Amiga verdadeira, estou feliz!
Por isso na verdade, este meu canto
Com tanto sentimento já te diz
De toda uma harmonia em teu encanto.
Deslindo este cantar meu, aprendiz
De sonhador, debaixo do teu manto
Que nos irradiando sempre eu quis.
Se faço minhas mal traçadas linhas
Eu devo muito ao teu apoio, amiga.
Os versos que tu cantas, avezinhas
Que ganham liberdade em belo trilho.
Nesta minha homenagem a cantiga
Ao milésimo forte e belo filho!
À QUERIDA HELENA PELO MILÉSIMO FILHO
Obrigado Maysa pela lembrança!
24
Estrela que surgiu, rara e brilhante,
Extrema fantasia em noite clara.
O tempo de viver ser teu amante
A cada verso amor, já se declara
Aclara meus caminhos, redentora,
Louvando estas pegadas que tu deixas
Vencendo as tempestades desde agora
Não tenho mais rancores sequer queixas.
Mergulho em cada fonte, sem temores,
Adentro cada senda, bebo a fonte.
Matizes tão diversos, raras flores
O sol vem me mostrar belo horizonte
Teu corpo, cais profano e delicado,
Sem medo sem juízo e sem pecado...
Marcos Loures
25
Estrela que se perde já não guia
E deixa minha estrada em puro espinho,
Na curva mais fechada do caminho,
A vida se perdendo tão vazia.
Nos rastros do cometa eu percebia
O quanto é delicado não ter ninho,
Da dor que sempre chega eu me avizinho
E faço dela o mote e a poesia.
Toando no meu peito uma guitarra
Cortando a minha carne, a cimitarra
Penetra bem mais fundo amor em vão.
Cansado da batalha prometida,
Eu sigo o que restou de minha vida
Vencido por tão dura sensação.
Marcos Loures
26
Estrela que me trouxe esta menina
Que nina em cada verso me acalanta
Poeira que levanta logo assenta
E deita em minha cama, me alucina...
Vem logo que esta fome se faz tanta
E nada nos segura ou determina
Vem ser a minha deusa, minha santa
Joguemos nossa sorte em mesma sina.
Farreie que uma noite não é nada
Amor que a gente faz traz alvorada
E vale sempre a pena, a brincadeira
Rodando qual piorra ou carrossel
A vida me embriaga, pinga e mel,
Bagunça o meu coreto a noite inteira...
Marcos Loures
27
Estrela que me leva ao paraíso
Fulgura em minha vida eternamente.
Perdendo num segundo todo o siso
O amor nos transportando na torrente.
Vencendo com ternura o cataclismo,
Anui com a total felicidade,
Por mais que a vida trague algum abismo
Nos passos deste amor, a liberdade.
Conecta nossos fios, tais quereres,
Fazendo de dois corpos, um só ser.
Sabendo que hoje quero o que tu queres,
Encontro mais motivos pra viver.
O perfume suave em tua pele
À louca fantasia me compele...
Marcos Loures
28
Estrela que me guia, o teu olhar
Esplêndido farol em noite escura,
Minha alma qual falena te procura,
Vencendo esta distância, devagar...
Eterno sonhador a te buscar,
Sabendo a recompensa da ternura,
Das dores e dos medos, minha cura,
Na mágica candura do luar...
Cenário inesquecível no horizonte,
Enquanto a maravilha assim desponte
Eu sigo cada rastro e vou sedento
Qual fora simplesmente um perdigueiro
Seguindo de uma deusa, passo e cheiro,
Encontro nos teus olhos, tanto alento...
29
Estrela que me guia rumo ao sol,
Deixando na sarjeta uma esperança
Que fez desta aliança um girassol
Jogado pelos cantos. Da criança
Que um dia destruiu cada lençol
Apenas a vontade inda me alcança,
Naufrágios não encontram mais atol
Eu sinto-me resíduo de lembrança
À toa. À tona conchas e cascalhos,
No vértice da vida eu me perdi.
Os atos da velhice, meio falhos
Em cada nova ruga que aparento,
Tampouco uma amizade eu conheci,
E assim no cais do porto, eu me arrebento...
6230
Estrela que irradia em vários planos
Brilhando no além mar em lume intenso.
Entregue aos bons delírios mais profanos,
Vivendo um mundo claro, assim imenso.
Nascido em albanês carinho exato,
Estrela vai se dando sem limites.
A cada novo gole, outro retrato
Além do que permitem os palpites.
Vou aqui admirando este cenário
Expondo em rara luz viva e magnífica
Prazer faz do teu corpo um estuário
Na albância expressão ilimitada.
Vibrando em forma vária inesepecífica
Bebendo do prazer cada golada.
Marcos Loures
31
Estrela que ilumina tristes breus;
Apátrida emoção que enquanto fere
Mergulha neste encanto – os olhos teus,
Que o sonho em tanta gula já se adere.
As sendas de beleza mais sobejas,
Ao florescer em paz nosso jardim
Decifram o que em cores tu desejas,
Revendo cada passo, início e fim...
Impertinente trama tão nefasta,
A solidão se esgueira entre os penedos.
A fonte delirante enfim se abasta
Ao traduzir dos sonhos, os segredos.
Às vezes arredio outras nem tanto,
Entrego-me ao furor do mago encanto...
Marcos Loures
32
Estrela que ilumina trazendo ouro
E faz dos meus acordes, desafino.
Se eu fui e teimo ter velho menino
O fim da vida vira ancoradouro.
O quanto nosso amor causando estouro
Foi mezzo carinhoso e cristalino,
O resto se perdeu em desatino,
Cristão tomando coça encara o mouro.
No muro em que se dá lamentações
Escuro o meu caminho, e sem trovões
A tempestade brinca de ser minha,
Se a moça não remoça a fantasia,
O que fazer então da poesia
Que morre assim distante e tão sozinha?
33
Estrela que guiando embarcações
Espalha sobre nós a claridade
Que aos poucos, dominante nos invade
E vence os temporais e os furacões.
Mitiga o sofrimento, nas paixões
Expressa a mais completa liberdade,
Abraça com vigor, felicidade,
Fertilidade traz para os sertões.
Sou, por acaso, disso meritório?
Beligerante, outrora, um pacifista
Que sente em tuas mãos o ancoradouro,
Vicejas um caminho belo e flóreo.
Por mais que a solidão ronde ou insista
Nos raios deste sol- feliz- me douro.
34
Estrela que busquei em pleno céu
Cantando nos meus versos este sonho.
Montado em fantasia, meu corcel,
Querendo uma alegria, vou risonho...
Mas nada do que quis foi verdadeiro,
Apenas esperança. Mas.... Quem sabe?
Mergulho no teu mundo e vou inteiro,
Talvez este vazio já se acabe...
Mas não. Eu não sou triste, canto até.
Me sinto bem contente por te amar,
Amanhã serás minha, eu tenho fé.
Não me canso e nem sofro a te esperar...
Pois sei que nosso rumo foi traçado,
Por um deus que é também enamorado....
35
Estrela prateada toma o céu
Derrama fascinantes raios sobre
O verde esmeraldino que recobre
Na linha do horizonte, imenso véu,
O velho cavaleiro e seu corcel,
Vestindo uma esperança frágil, nobre
Usando na armadura prata e cobre
Caminha, um andarilho vaga ao léu.
E ao ver argêntea estrela se enamora,
Porém mal surge o dia e vai embora
Deixando o cavaleiro abandonado...
E quando uma saudade vem mais forte,
Olhando para os céus, procura ao norte
O beijo deste encanto enluarado...
36
Estrela matutina que me guia,
Tocando o coração deste poeta,
A vida não seria tão completa
Não fosse esta sublime poesia
Que a mente enamorada, quer e cria,
Tornando-se o caminho, sina e meta,
Tu és a fantasia predileta
Na tua alma sincera, uma alquimia
Permite que eu deseje a panacéia,
Que possa me curar dos vários males,
Anseio a cada dia que me embales
Sem ter nem testemunha nem platéia,
Apenas tão somente a sensação
Do manso soletrar de um coração...
36
Estrela fugidia, eu te procuro
No céu imenso em noite deslumbrante.
Porém somente encontro treva, escuro
Quem dera se tu fosses minha amante.
O dia com certeza neste instante
Teria um sol mais forte. Amor te juro
Que sempre te busquei; sou navegante
Do mar em que te escondes; belo e puro.
Tantas vezes vasculho o meu jardim
Pensando em cada flor que ali brotou.
Canteiro de esperanças guardo em mim,
O tempo vai passando e sem resposta,
Minha alma em solidão, ferida exposta,
Mostrando claramente quem eu sou...
Marcos Loures
37
Estrela eternamente reluzindo
Tomando a minha estrada, muda a sina
Tornando o meu caminho claro e lindo,
Pacífica expressão que me domina.
Eu tenho tanta coisa por falar
E nada que eu disser será capaz
De um dia traduzir e demonstrar
Quanto é maravilhoso amor em paz.
Eu tenho dentro da alma cicatrizes
De tempos doloridos que eu passei
Agora se há momentos tão felizes
Na certa tantas vezes relutei
Mas pude conceber farta alegria
No gozo que em amor se traduzia...
Marcos Loures
38
Estrela dos meus sonhos mais bonitos,
Rainha deste céu que me ilumina.
Eu clamo por teu nome aos infinitos,
Tua alma generosa, perla fina...
Cintilas no meu céu, imenso brilho,
Sonatas ao luar, mil madrigais,
Meu peito que, antes, era maltrapilho,
Agora navegante dos astrais...
Aromas delicados, tua boca,
Na seda, em tua pele, a me perder...
Minha alma na tua alma já se enfoca
Reflete esta beleza do teu ser.
Tu és amante amada. Amor, querida...
Por certo és a mulher da minha vida!
39
Estrela dos desejos paira solta
Em meio a tantas cores, brilho, encanto.
Falando deste amor que quero tanto
Minha alma de tua alma busca escolta.
Por mais que a vida siga tão revolta
Contigo não terei tristeza ou pranto.
Ao mesmo tempo insano me agiganto
E a vida recomeça, vai e volta
Levando como uma onda para ti
Os braços deste eterno sonhador.
Que vive a cada instante tanto amor
Constante sensação que eu percebi
Vibrando em mais perfeita sincronia
Dourando imensa noite em raro dia...
Marcos Loures
6240
Estrelas que espalhaste no meu peito,
Sementes de um amor que tanto quis.
Nas tramas deste encanto eu me deleito
E sinto, finalmente, sou feliz.
Olhando para os céus quando me deito
Encontro em cada lume a cicatriz
Do amor que tão sublime é meu direito,
Depois do que passei em céu tão gris.
Refletes os teus brilhos na retina
Cansada deste velho sonhador,
O corpo delicado da menina
Produz nos meus olhares, maremotos.
Vencido pela força deste amor,
Os medos vão ficando mais remotos...
41
Estrelas que bebemos já perdidas
Encruzilhadas tantas; encontramos,
Esgotos demonstrando que as saídas
Distantes das que – loucos – desejamos.
Nos lodos enfrentados, nossas vidas
Envergam com os pesos destes ramos,
As perdas na verdade mal carpidas
Realçam o vazio que deixamos.
Mas amo cada fonte em sangradouro,
Tomando meus estúpidos venenos
Talvez inda me reste o teu tesouro,
Ancoradouro insano e insatisfeito,
Aguando com desejos mais serenos
Salvando de uma seca o velho peito...
Marcos Loures
42
Estrelas percorridas nos espaços
Montado em meu cavalo, abertas asas...
O vento carregando versos, passos,
Nos olhos da mulher amada, brasas...
No brilho das estrelas pratas, aços
Fazendo constelares nossas casas...
O vento da mudança vem soprando
Por sobre essas queimadas da ilusão.
O monte dos meus sonhos escalando
Sem medo de vingança ou traição;
O sonho não pergunta como e quando
Apenas vai singrando na amplidão...
E sou o que queria além da vida,
Numa alegria o pórtico, a saída...
43
Estrelas multiplicam farto brilho
Espalham sobre a Terra diademas
Nos olhos sonhadores, seus emblemas
Vencendo qualquer forma de empecilho.
Atalho meus caminhos, sigo o trilho
Deixando bem distantes os problemas,
Querida, não há nada que tu temas
Nas sendas deste amor que eu engatilho.
A solidão que fora duro algoz,
Ao ter a percepção dos nossos nós
Aos poucos se apascenta e vira brisa.
Varrida para sempre dos caminhos,
Vencida pela força dos carinhos,
Numa esperança viva, ela agoniza.
Marcos Loures
44
Estrelas fugidias, vão em levas,
Levadas pela dor seguem sem rumo,
Não tendo perspectivas de um aprumo
Tristezas dos meus olhos fazem cevas.
Do nada que trouxeste; tudo levas,
Roubando gota a gota todo o sumo,
Os erros que cometo, sempre assumo,
Ficando como brinde só as trevas;
O peito amarrotado pelos cantos,
Não ouço nem sequer antigos cantos,
Apenas sou um resto e nada mais,
O barco que me trouxe naufragado,
Mostrando o quanto inútil meu passado,
Jogado pela vida sem um cais...
Marcos Loures
45
“Estrelas explodindo no teu rosto”,
Marcado pelo beijo que te dei.
No fundo bem saídas do desgosto
Que forma em meu passado regra e lei.
O tempo se renova e noutro agosto
A prova de que sempre te esperei
Morrendo sem sentido quase imposto
O gosto que a mim mesmo eu me entreguei...
Estrelas são vazias, vão libertas
Incertas mariposas voam breve.
As portas do futuro estão abertas
E quero povoar com esperança.
Nas asas das estrelas, vida leve
Nas bocas que vierem, nova dança!
46
Estrelas espiando belas flores
Extremas sensações vão prometendo,
Estando par a par aonde fores
Estranhas emoções se convertendo
Entranho as ilusões destes amores
Estradas dos meus sonhos percorrendo;
Encontro em tuas mãos o meu destino,
Depois de me perder por tantos anos.
Cavalgo em noite clara e me alucino
Tramando em liberdade; novos planos,
O velho retornando a ser menino
Esquece em devaneios, desenganos...
Na boca sensual da namorada
A fonte insaciável desvendada...
Marcos Loures
47
Estivas nestes portos mais ausentes,
Resinas formam forros de esperança.
Atrelando os meus víveres na lança
Que vence estas milhas eferentes.
Postigos e porteiras, solos quentes,
Não tendo mais sequer sonho e pujança.
A folha em vendaval já não balança
E o quarto se moldando entre dormentes.
Sem píncaros nem vales, nada valho,
Avais das velharias tão velhacas.
Navios em corais, pedras e cracas
Jazigo me servindo de agasalho,
Em meio às tempestades vis, velhacas,
Do canto sem descanso, nem mais macas...
48
Estes restos de sangue expondo em minhas mãos
O crime que inda teimo em negar a mim mesmo.
Nossos dias talvez tivessem sido vãos
O teu olhar dizia um pensamento a esmo.
Era feliz, porém. Pelo menos pensei.
Nada impediria a tua fuga. O medo
Que muitas vezes cega, eu reconheço, usei
Para impedir, querida, o teu fatal degredo,
Pois não resistiria; eu sei, à tua ausência.
As marcas no teu corpo após noite em tortura
Denunciavam minha imensa e vil demência;
Garrafas de aguardente em tragos de ternura...
Eu não te mataria, embora te matasse
O Amor faca e navalha, explode em outra face..
Marcos Loures
49
Estendo; em nosso quarto, mil estrelas
Roubadas de teus olhos- fantasia
Na divina emoção de poder tê-las
Encanto sem igual, ilusão cria.
Fantástica emoção em raras telas,
O amor emoldurando esta alegria,
Do quanto eu te desejo e me revelas,
Guardada em meu olhar, fotografia.
Entregue a tal cenário eu adormeço
E sonho maravilhas multicores.
O céu antes grisalho se azuleja
Em versos e sorrisos agradeço
Ao deus que se fez guia dos amores,
Traçando essa beleza tão sobeja...
Marcos Loures
6250
Estendo os braços, te procuro amada
E sinto que fugiste. Para onde?
Procuro nas esquinas. Cadê? Nada...
Apenas o silêncio me responde...
De tudo o que queria, sei que o vento
Levou para distante dos meus braços...
Quem sabe a solidão com seu tormento
Já queira decretar; comigo, os laços...
Daquela primavera prometida
Não resta nem a flor que eu mais queria...
Meus versos se perdendo calam vida,
Aos poucos vou matar a poesia...
Somente uma saudade me acompanha
Desde o princípio ao fim, toda essa sanha...
51
Estendo no varal farta alegria
Sem alfa nem tampouco ômega ou pi.
Somando o que ganhei com o devia
Refaço toda a conta e sei perdi.
Decido a minha sorte, jogo os dados,
Rolando no tapete dos meus sonhos.
Os dias justamente estão fadados
A serem ou melhores ou medonhos.
No norte baseado nestas lendas,
O corte se entranhando em minha pele
Se a sela não serviu quero contendas
O quanto deste sonho não se vele.
Revelo ao fim da festa por que vim,
Bebendo de teu corpo, meio e fim.
Marcos Loures
52
Estendo a minha mão a te alcançar
E sinto o teu perfume em cada verso,
O mundo tão cruel e mais perverso,
Às vezes vem depressa me negar
O sonho que se fez bem devagar
Distante de um futuro mais disperso
Mostrando em ti um rumo enfim diverso,
Trazendo uma esperança em seu lugar.
Sentir a tua pele delicada,
Beijando a tua boca mansamente,
Envolta nos meus braços, minha amada
Eu sinto a maciez de cada seio,
E invadindo a tua alma, corpo e mente,
Encontro este prazer ao qual anseio...
Marcos Loures
53
Estendes teu sorriso sobre mim
Deitando toda a luz que não mais cessa
Florindo em esperança o meu jardim
Amor além de tudo, uma promessa.
No teu perfume, um rastro de jasmim,
Na estrela que espalhaste amor tropeça
Dizendo tão somente por que vim
Em plena fantasia se confessa.
Amor que quem conhece logo inveja
Trazendo o mais quero e se deseja
Mudando a direção de cada vento.
Não posso me calar e assim me exalto,
Vencendo nos caminhos um ressalto
Assalta-me com paz, o sentimento...
Marcos Loures
54
Estende a fome em vastas plantações
Dizendo ao lavrador que é necessário
Cuidar com mais carinho, adubações,
Senão o dia morre solitário.
Tocando mais profundo, corações
O amor deve ser sempre solidário.
E quando nos envolve, mansamente,
Permite que se encontre a plena paz.
Nos braços deste amor tão envolvente
Eu me sinto, decerto mais capaz.
O barco vai descendo calmamente
Deixando as corredeiras para trás.
Porém se o amor se vai, restando o pó.
Acordo e nada vejo, sigo só.
Marcos Loures
55
Estenda a tua mão, venha comigo
Que a lua nos convida a passear,
Se a dor se aproximar; amor, nem ligo
Encontro lenitivo no luar.
Encantos, alegrias, que eu persigo
Vagando tão sozinho bar em bar,
Vivendo esta alegria, vou contigo,
Sentindo que esta sorte irá mudar.
É muito mais, garanto, que algum sonho,
Minha esperança inteira nisso ponho
Podendo conceber felicidade.
O amor que nos tomou quase de assalto,
Permite que hoje eu grite assim, bem alto,
Falando desta luz que nos invade!
56
Esteio de meus sonhos, sentimentos,
Tu és a cristalina redenção,
Outrora condenado à rejeição
Em ti fartos fascínios; sei aos centos.
Tocada pela força destes ventos,
Desliza em pleno mar a embarcação,
Buscando no teu porto, atracação,
Impetuosamente e sem alentos
Já não suporto mais o lento passo,
Imprimo com vigor, velocidade,
Sabendo que há em ti felicidade,
Bem mais que pensei; simples andaço.
Enquanto nos teus pés eu me embaraço,
Caindo nos teus braços: claridade!
57
Este velho timoneiro
Mergulhando no teu mar,
De um amor mais verdadeiro
Quer, decerto, desfrutar.
Coração deste mineiro
Já começa a disparar
Quando vê o teu brejeiro
Rosto envolto no luar.
Se não posso ser poeta,
Repentista, ao menos sou,
Meu amor só se completa
Nos teu colo encantador,
Decifrando o que hoje sou,
Um escravo deste amor!
Marcos Loures
58
Este mar tão distante...Belo... Etéreo...
Na espuma trovejante destas vagas,
Tormento me destrói mais deletério...
Nas mais medonhas, tristes, sujas plagas,
Respiro a solidão, vago e funéreo...
Meus olhares marinhos... Tudo alagas,
Já tens silenciar dos cemitérios.
As mãos que me trucidas, mansas, magas...
Entretanto eu bem sei que tu és pura...
Amante que me morde, voraz, arde...
Na garras penetrantes, má, loucura...
Nas pedras das saudades, mar esfuma...
De tanto que sonhei, hoje é bem tarde...
Naufrago minha vida em tua espuma...
59
Estrela deslizando neste céu
Formando este desenho mais bonito,
Quem dera se eu pudesse ser corcel,
Voar sobre essa tela, no infinito...
Brilhando qual vaga-lume sem destino
Trafega rabiscando, forma e luz,
Traçando sobre mágico alcaçuz
O vôo de meu sonho em desatino...
Do pisca-pisca sinto mil matizes
E faço assim milhares de desejos...
Quem dera se meus sonhos mais felizes
Viessem de repente nos lampejos
Do pirilampo sonho que me invade,
Procuro uma resposta, mas quem há-de
6260
Estrela derradeira leve os sonhos,
Transporte junto deles meu carinho.
Tocando tua pele de mansinho
Momentos delicados e risonhos.
Por onde fores, junto a ti terás
O vento tão suave, leve brisa
Dizendo deste encanto feito em paz
Do amor que tanto quero, já te avisa.
Qual pássaro liberto, esta esperança
Alçando uma amplidão deseja e quer
Contigo, cada gozo que se alcança
Delírios no teu corpo de mulher.
Vontade de sentir em convulsões
As ondas infinitas das paixões....
Marcos Loures
61
Estrela avermelhada clareou
Mudando este cenário num instante.
Fulgindo soberana e fascinante
A todos com certeza, iluminou.
Seguindo cada rastro agora eu vou
Deste astro encantador e deslumbrante,
Avermelhados tons de um diamante
Que o sonho mais sublime lapidou.
Da História, tal estrela muda a rota,
Nas rubras maravilhas que ela espalha,
Vencendo em calmaria uma batalha,
O amor em cada ponta surge, brota
E dele multiplicam-se aos milhares
Delícias ofuscando mil luares...
Marcos Loures
62
Estreita dia-a-dia nossos laços
A luz em tanta força concebida
Refúgios encontrando nos teus braços,
Buscando a mocidade já perdida,
Refaço a juventude nos regaços
Da deusa que julgara então perdida.
Seguir da bela estrela lumes, traços,
Permitirá decerto uma saída
Do labirinto feito pelas trevas,
Rendido à maravilha destas cevas
Eu sinto-me decerto mais capaz
De ter como enfrentar duras tempestas
Prevendo no final delícia em festas
Vencendo a solidão, vil capataz...
Marcos Loures
63
Estranha juventude sem o fio
Da meada sonhada e verdadeira,
Que mostra bem distante do vazio,
A fruta que se faz tão corriqueira,
Mas morre tanto em sede, num estio,
Quanto afogada em falsa corredeira,
Deixando a sensação de ser sombrio
A quem sempre desdenha a companheira.
Palavras que denotam desventura
São sempre repetidas, já me cansam.
Se toda a solução que se procura
Encontra-se em total facilidade,
E logo que se saiba cedo alcançam
Aqueles que conhecem a amizade...
64
Estranha claridade resplandece
Invade de belezas, minha casa...
Não há pecado algum que se confesse,
A luz que se propaga, mansa, abrasa.
O breu do meu passado já se esquece
Em meio a tanto lume, tanta brasa...
A negra escuridão, clara, fenece.
O pensamento livre criando asa...
Que estranha claridade enfim chegou?
Procuro ver sentido em tal delírio.
Meus olhos alumbrados, bom colírio...
Mas essa claridade, nunca estampo;
Dormindo ao mesmo tempo que acordou:
É brilho mais fugaz dum pirilampo!
Marcos Loures
65
Estradas que percorro no trabalho
Qual fossem tempestades, complicadas.
Em curvas, pedregulhos, me atrapalho
Assusto-me com chuvas e guinadas.
No barro me atolando, sem saída,
Procuro a solução destes problemas,
Ao voltar para a casa, a despedida,
Refletem nos teus olhos, meus emblemas.
Eu sou um pobre ser apaixonado
Que vive para amar quem bem me quer,
Querendo retornar para o teu lado,
Revivo teus desejos de mulher.
E rezo pela volta num instante,
Lembrando de teus olhos, minha amante...
66
Estradas poeirentas do sertão,
Nas margens desse rio em que me lavo
A rosa que me deste inda em botão,
Aquela que brigou com pobre cravo...
Vermelha representa uma paixão,
Amor que sempre soube foi bem bravo.
No vento, esparramar boca-leão...
Amor com solidão, nunca alinhavo...
Estradas poeirentas, nunca chove...
Amor que não confesso, se remove.
A dor de não saber onde é que estás.
O brilho de teus olhos, meu farol..
Estradas poeirentas sob o sol,
A vida me carrega e vou atrás!
Marcos Loures
67
Estradas bifurcadas geram medos...
Os erros que passamos nos ensinam,
Aprendemos saber destes segredos,
Futuros joviais se descortinam...
A volta perigosa é um martírio,
As gralhas devoraram a nação...
Nossos pobres herdaram só o lírio,
Multiplicam, enfim, o peixe e pão!
As urzes não impedem caminhada,
Devemos ter em mente uma certeza.
Prá frente é que se segue nessa estrada.
O retorno traduz dor e tristeza...
Um caminho na estrada bifurcada,
Promete ser repleto de beleza...
Marcos Loures
68
Estrada tão florida em que passeio
Depois de conhecer teu colo amado,
Beijando calmamente sem receio,
Encontro-me por fim, extasiado.
Nesta delícia imensa em cada seio,
Não quero mais lembrar do meu passado.
Qual rio que percorre novo veio,
Qual mar que vai, enfim, iluminado...
Dourando meu desejo no teu colo,
Queimando neste ardor que nunca cessa
Vertendo nosso amor em pleno solo,
Além do que pensara conseguir,
Amar e ser feliz, não é promessa,
Prazer que é tão gostoso de sentir....
69
Estrada mais suave e mesmo bela
Depois de cada curva do caminho
Vontade de seguir e não retê-la,
Mas temo prosseguir em vão, sozinho.
A mão que maltratada já revela
A dor de não ter sonhos ou carinho
Destino cavalgando, trama a sela
E sela o grande amor onde me aninho.
Mergulho o quase fui no nada tenho
E somo estes vazios, chego a ti.
Apenas os segredos que retenho
Ainda vão mostrando que perdi
Meu rumo nos teus braços, lua amarga,
Minha alma nada fala, a voz se embarga..
Marcos Loures
6270
Estrada empoeirada, tão distante,
Seguindo sempre a esmo, sem chegada.
O rumo que procuro: sempre adiante,
Para onde irei? No fundo eu não sei nada
Num futuro sonhei por um instante
Mas a vida mostrou como era errada
E cega essa visão toda embaçada.
Percebi, sei que tarde: ela é mutante...
Não quero mais ninguém à minha espera,
Nem pai, nem mãe, amores, sina ou fado...
As curvas dessa estrada, torpe fera...
Sem ter ninguém nem nada, des’perado...
Coração abrindo uma cratera
Sem teu amor? Morrer- rumo traçado..
Marcos Loures
71
Estrada cujo norte às vezes nós perdemos
Trazendo algum lugar por onde não passei,
Um mundo bem diverso, ao qual não alcancei
Mostra-nos, minha amiga; o quanto não sabemos.
Nas curvas do caminho, o pouco que inda sei
Permite que se tente em busca de outros remos,
Mas mesmo assim; perceba o quase nada temos.
Fazenda da amizade a nossa norma e lei
Quem sabe, companheira, o dia virá manso.
No quanto que desejo o quanto não alcanço.
O quanto que pretendo, ouvindo o mesmo não.
Porém conto contigo, amiga verdadeira,
No braço que se estende; o rumo e a direção.
Deixando para trás a sorte trapaceira...
72
Estou te procurando a vida inteira
Em tantas desventuras que encontrei
Na busca da emoção mais verdadeira
Mudando em alegria o que passei.
Encontros, desencontros; nada sei
Apenas te dizer da derradeira
Esperança que um dia eu cultivei,
Entregando-me assim a quem me queira.
Recebo em teu carinho, um vento manso,
Promessas de um encanto sem ter fim.
O tanto que sonhei agora alcanço
E vejo a vida em olhos benfazejos
O amor que se irradia dentro em mim
Alcança a plenitude dos desejos...
73
Estou sempre contigo em pensamento
Morena desejada e tão sublime
Por mais que noutros campos eu estime
Em ti encontro paz e sentimento.
Eu teimo em cada gesto demonstrar
Que tenho mais amor do que tu pensas,
Quem dera se pudesse naufragar
Meu corpo nos teus braços. Noites densas
De tantas alegrias desfraldadas,
Palavras e sentidos que trocados
Andando pela vida de mãos dadas.
Quem sabe um dia enfim tu acredites
E venha ter comigo, mesmos fados
Amor que brilhará sem ter limites....
Marcos Loures
74
Estou jogado,um canto e nada tenho...
Sequer o brilho falso, teu sorriso...
Não me resta sequer último aviso,
Amputa-me cortante , fatal lenho...
Não me bastou meu tolo, rude empenho,
Me sobram sombras, quedo-me sem piso...
Pouco a pouco perdendo todo o siso,
Do pouco que restou de luzes, venho...
Solitário, recebo tal bafejo,
A fera contumaz, me traz desejo.
O desejo final, única sorte...
Abandonado, vesgo de esperanças,
Os meus repastos, fétidas lembranças...
Quem dera adormecer, teus braços, Morte!
75
Estou ficando velho! Uma tolice
Qualquer já me maltrata, o que fazer?
Não posso suportar disse-me-disse
Há tempos já não sinto mais prazer.
Sonhava desde minha meninice
Com quem talvez pudesse sempre ter
O gozo que esta idade, assim, desdisse
Nos braços da morena me perder...
A vida se tornando muito amarga,
A voz que de teimosa já se embarga
Nem mesmo um novo amor vem e consagra.
Que faço se esse troço nunca sobe
No Rio de Janeiro ou em Nairobi,
- Tu tens para vender algum Viagra?
76
Estou ficando velho e tão ranheta,
Já não suporto mais falar do amor,
Que com a idade perde o seu vigor,
E a vida passa, rápido cometa.
Quem sabe noutro tempo se completa,
Mas isso é um mistério a se propor.
Importa-me saber se aonde eu for
Serei algum arqueiro, ou arco ou seta.
Ao recolher as urzes, percebi
Que nada que eu buscara encontro em ti,
Espinho disfarçado em bela rosa.
Os cardos que eu colhi, coleciono,
Legado deste amor, puro abandono,
Uma alma a desfilar velha andrajosa...
Marcos Loures
77
Estou feliz, não nego e nem mereço...
Sorrio calmamente, rio e mar...
Amar, armando o sonho onde tropeço
Nas nuvens que choveram sem parar...
Também deste mormaço que trazia
O dia se iludia e nada vinha...
Fuligem na minha alma se escondia,
Farta dessa vida tão sozinha.
Certezas dos amores ledos erros,
Enganos e verdades confundidos...
Montanhas de desgostos, meus aterros,
Versifico meus medos escondidos...
Embora ser feliz não seja um ópio,
Felicidade: amor; mesmo que próprio...
78
Estou em desatino em louco desengano,
Se por tão longo tempo, amor em mim durara,
A vida desditosa, a morte me prepara.
Amor um sentimento enorme e soberano!
Por tantas vezes tive a certeza deste plano
Que a sorte preparou, delicadeza rara,
De ter essa mulher que nunca me enganara
Em toda eternidade; amor total, me ufano!
Destino traiçoeiro inocula o veneno
Da serpe solidão! Amor foi tão pequeno;
Sem base, sem raízes, que logo se acabou...
Adeus já me permite um vago sentimento,
Quem fora minha sina, espalha-se no vento...
Não foste qual Raíza, o mundo desabou!
Marcos Loures
79
Estou em cada verso que te faço,
No vento que te toca mansamente,
Aos poucos ocupando cada espaço,
Até chegar a ti, completamente.
Estou no teu sorriso, teu abraço,
Estou na tua boca, sou premente,
Vivendo nosso amor, tu és o laço
Que está na minha vida, totalmente.
Tu és meu sonho bom e preferido,
O canto que pretendo em liberdade,
Meu mundo no teu mundo decidido,
Trazendo todo gesto mais preciso,
Colhemos nosso amor/felicidade.
Portando para a vida, o paraíso...
6280
Estou com o meu pé beirando a cova,
Pois isto me permite ser sincero,
Se eu tenho desde sempre o que mais quero,
Eu não suportarei do tosco, a sova.
Palavra sem ter freio já desova
O corpo do imbecil cadáver fero
E quando nos seus ódios me tempero,
Eu nunca me porei, de novo à prova.
Sou poeta. Isso basta para mim,
Milhares de roseiras no jardim
Floriram e depois até murcharam,
Mas me lembro do aroma delicado
Que pela cercania e em cada prado,
Durante tantos anos espalharam...
81
Estou a te esperar faz tanto tempo
Que nada impedirá de ser feliz
Nem tempestade, medo ou contratempo
Tampouco uma ferida em cicatriz.
Amar não é, querida, passatempo
É tudo o que sonhei e sempre quis...
Estar contigo agora, a vida inteira,
Ouvindo uma canção mais otimista,
A sorte e a fantasia companheira,
Querida, por favor, jamais desista.
Contigo noite e dia, sempre estou,
Por vezes te pareço mais distante...
Não foi um outro amor que me enlevou
Apenas teu olhar estonteante...
82
Estiveste ao meu lado nesta noite
Sentindo o teu respiro, adormeci,
A proteção divina nos acoite
Na luta que expressamos, por aqui.
Meus veros sentimentos, liberdade,
A voz não se cansou de repetir.
O que esta vida em gestos de amizade
A cada novo tempo vai pedir.
Nos olhos marginais, nossa bandeira,
Nos campos, nas estradas, nas vielas.
Na luta que se faz mais verdadeira,
Em todos os cortiços e favelas.
A luz de um novo tempo vai brilhar
Somente quando a fome se aplacar...
83
Estás presente, amada, em cada verso
Que faço num momento de alegria,
O mundo sei que outrora foi perverso,
Porém um nosso sonho nasceria,
Riscando num momento este universo,
Fazendo deste amor em parceria,
O canto em alvorada que bendigo,
Amor que há tantos anos eu persigo.
Chegando de mansinho junto a ti,
Recebo o doce vento da esperança,
Não quero mais saber do que perdi
Se um novo alvorecer amor alcança.
Depois que em alegria eu conheci
Alguém que me convida para a dança...
Marcos Loures
84
Estás mais atrevida. Até que enfim!
Fechada em copas? Penso, nunca mais
A rosa mais bonita do jardim,
Perfumes, mesmo espinhos, sensuais.
As pernas da morena torneadas,
Desejos que caminham semi nus.
Nas blusas com malícia decotadas,
Os olhos com prazer, querida, eu pus
E ao ver nos teus requebros, a vontade
De ser além de um simples namorico,
Rompendo dos pudores qualquer grade,
Querida desde agora quero e fico.
A noite pode ser uma criança,
Porém; na nossa cama: só festança!
Marcos Loures
85
Estás em minhas mãos como uma oferenda
Ao deus que se fez lúbrico e voraz.
Segredo deste encanto se desvenda
Num toque em sedução, suave, audaz.
Percorro insanamente cada senda,
A fonte dos desejos, amor traz
Recolho com prazer divina prenda
E encontro finalmente, amor em paz.
Decifro os teus enigmas te moldando
Com fogo ao mesmo tempo claro e brando
Chegando à perfeição de uma escultura
Forjada em poesia e sedução.
Lavrando com ternura cada grão
O amor tais maravilhas emoldura...
86
Estás dentro do peito de quem ama
Estrela radiante que me guia
Fazendo desta vida, fantasia
Avivas com carinho; intensa chama.
A vida sem ter, temível drama,
Loucura transtornando, uma agonia.
Viver eternidade a cada dia
Raiando a poesia, nossa trama.
Estar junto contigo é ser feliz.
Roubando do luar, claro matiz
Argênteo labirinto da esperança.
Traduzes a alegria em que se diz
Beijando tua boca, eu bem que quis
Forjar em tuas mãos, nossa aliança...
Marcos Loures
87
Estás dentro de mim há tantos anos
Embora não soubesse aonde estavas
As almas que das almas são escravas
Imersas nos naufrágios soberanos.
Por mais que talvez sejam só enganos
Ao solidificar bravias lavas
O solo bem mais fértil demonstravas
Tramando desde sempre os mesmos planos.
No inconsciente estás desde o começo
És ópio que domina o meu sensório.
Além do que pensei ser ilusório
Encontro em ti dos sonhos o endereço
Revendo cada fato inconsciente
Revivo o que não tive, de repente...
Marcos Loures
88
Estás aqui no peito bem guardada,
Aninho meu amor sempre a teu lado,
As mãos que sempre acenam são de fada,
Meu coração por ti, apaixonado...
Estrela languescente cravejada
De puro diamante, és o meu fado.
Te canto na manhã ensolarada,
Teu brilho que é por Deus direcionado
Atinge o coração desse mineiro,
Entranhado na dor da solidão.
Com olhos e perícia, garimpeiro
Que encontra esta pepita bela e rara.
Meu verso transbordando em emoção,
Catar teu nome, amada nunca pára...
89
Estarei sempre aqui querida amiga,
Em cada novo tempo que virá,
A sorte de teimosa já periga
Mas sei que novo sol assim virá
Trazendo uma manhã que nos abriga
E o canto que por certo espalhará
A força da ternura tão antiga
Que nem a morte em vida calará.
Não temos outro mote senão vida
Em toda plenitude, companheira,
Por mais que seja dura esta saída,
Por mais que não nos deixem quase nada,
Se temos nossa luta verdadeira,
A vida há de ser nossa camarada...
290
Estar sempre em teu sonho... Uma delícia
Que mostra quanto é bom estar contigo.
Em teu rosto tão calmo, uma carícia
Calada num sorriso; mal consigo
Conter minha vontade e com perícia
Eu beijo com ternura e assim prossigo...
Teus lábios se mexendo com malícia
Os braços tu me estendes... Nada digo.
Apenas me deitando do teu lado,
E nós recomeçamos nosso jogo.
Aos poucos no caminho vislumbrado
Acendo meu desejo ardente em fogo.
Depois, enamorado, então te abraço...
E sonho colorido, nem disfarço...
Marcos Loures
91
Estar sempre a teu lado, companheira,
Vibrando nos meus versos tal ventura
Que possa te lembrar a vida inteira
Que tudo se começa com ternura...
Não queiras que estas águas peregrinas
Movendo tais moinhos da saudade,
Te tragam tantos sonhos de meninas
Que dormem no teu peito, em liberdade...
Crianças na verdade são libertas
O vento tão medonho não soprou
Mantenha as esperanças sempre alertas,
Perceba que o futuro já chegou.
E veja como a vida tanto brilha,
Se leres da amizade, esta cartilha...
92
Estar junto contigo sem temores,
Fazendo do prazer nossa morada,
Uma alma se encontrando desarmada
Entrega-se sem mágoas ou pudores.
Vibrando com divinos estertores,
A deusa delicada desbravada,
Na loca com firmeza penetrada
Os fluidos maviosos, redentores.
Não respeitando mais qualquer fronteira,
Comendo esta maçã que quero inteira,
Até que o gozo venha e satisfaça
Roçando a tua pele com a minha,
Sentir que insano orgasmo se avizinha
Gritando feito louco em plena praça...
93
Estar contigo, creias é ter mais perto
Dos olhos sonhadores de um poeta
O rumo que talvez pareça incerto
Porém em cada estrela se completa.
Quem tem o coração audaz, liberto,
Concebe da esperança rumo e meta,
Seguindo sem destino, não desperto
Do sonho transformado a cada seta.
Mergulhos em mim mesmo dizem nada,
Varrendo assim o pó, curvas esqueço.
E mesmo que inda tenha algum tropeço
Eu bebo, tresloucado, a madrugada.
Rasgando em cada verso a vil mortalha,
Minha alma pelo espaço já se espalha...
Marcos Loures
94
Estar aqui contigo
Vivendo esta alegria
Amor no qual me abrigo
Desejo em que se cria
Um sentimento amigo
Trazendo com magia
O mundo que persigo
Verdade e fantasia
Teus beijos são promessas
De dias benfazejos
No sonho em que confessas
Além de relampejos
Vontade de se dar
Entregas ao luar...
Marcos Loures
95
Estando do meu lado, a vida inteira,
Não há o que temer, eu te garanto.
Vencer uma tristeza corriqueira
Calar com alegria qualquer pranto
Mostrar quanta esperança sobrevive
Depois da mais temida tempestade.
Colher experiências de onde estive
Cevar a fortaleza da amizade.
Criar e respeitar diverso espaço
Saber quanto é possível ser feliz
Sem ter a força estúpida do laço,
No amor a escravidão se contradiz.
Assim, no amor que faz seu jubileu
Felicidade enfim se conheceu...
96
Estando assim contigo
Não há constrangimento,
Percebo, meu amigo,
A maciez do vento,
Afastando o perigo,
Tomando o pensamento.
Sorrir até consigo,
Ao menos, num momento...
Em total confiança
Amizade se faz,
Mesmo se a dor avança
Garante nossa paz,
Decerto uma esperança
Amizade nos traz...
97
Estampo este sorriso em ironia,
Sarcásticos tormentos que eu exponho,
Medonhas fantasias, sou tristonho
Enquanto forjo alegre, a poesia...
Apenas tua sombra inda me guia,
E tento disfarçar em torpe sonho,
O verso em calmaria que componho,
Somente uma expressão, alegoria...
Pesando em minhas costas velha cruz,
Nos corpos que se deram, frágeis, nus
Intensa rebeldia da esperança.
Permita-me dizer em mansa voz
Calando a tempestade amarga, atroz
Vestindo-me de falsa temperança...
Marcos Loures
98
Estampam perfeição de raras trilhas,
Palavras proferidas, tão serenas.
Distante dos teus braços, léguas, milhas,
Eu vejo no horizonte raras cenas.
Caminho para a sorte, em noites; abres
Tocando em maestria esta canção.
Cansado das feridas, velhos sabres,
Aberto está decerto o coração.
Ouvindo esta sonata benfazeja
Estendo os meus olhares para ti.
Permites que eu vislumbre e mesmo veja
Um eldorado em glória feito aqui.
Do tanto que eu te quero, já repito
Amor quebrando o medo, vil granito...
99
Estampa luzes tais, iridescentes
Deixando para trás noites escuras,
Os dias sem te ter vão penitentes,
As horas já não passam; tristes, duras,
Teus braços como raios envolventes
Garantem caminhadas mais seguras,
Teus olhos que me guiam, reluzentes,
Banhando cada passo com ternuras.
Carícias se derramam como lavas,
Minha alma ganha espaço e vai sem travas
Encanto em alegria se pressente.
Não quero estar distante de teus passos
Amor tomando assim tantos espaços
Invade o coração de toda gente...
Marcos Loures
6300
Esta ilusão deveras quase morta
Trafega nos meus olhos capotando
O sonho em que meu canto já se aborta
O vento num segundo vai mudando
O quanto em esperança amor aporta
Não deixa mais sequer vir deslumbrando
Um mundo em que a alegria anunciando
Arromba com destreza cada porta.
Uma tristeza imensa trama a sina
De um pobre trovador em noite fria.
Remendos do que fora poesia
Estendem seus vigores. Alucina
A voz de um menestrel enamorado,
Trazendo os meus escombros do passado.
Marcos Loures
01
Esta hora em que vivemos; tão macabra,
Demonstra o fim da festa. E de ressaca,
Amor arromba a porta e o pé de cabra
Demonstra a violência em que me ataca.
Por mais que a gente finge que não abra,
Assim sem respeitar sinal ou placa
Não quer nem mais tentar Abracadabra
Cravando no meu peito a fria estaca.
No lusco fusco vejo este invasor
Fingindo-se de sonso e sem convite
Invade como a tal Tropa de Elite
Causando sem pensar total furor
Fuçando sem limites o meu peito,
Até que vai embora, satisfeito.
02
Esta flor caprichosa que nasceu
Num dia de ilusão, o mais perfeito,
Do amor que tanto tempo foi só meu,
Agora se esvaindo insatisfeito,
Se todo este perfume se perdeu
Que faço deste amor dentro do peito?
Quem sabe voltará num dia incerto,
E teu olor virá me socorrer.
Oásis que encontrei em meu deserto,
Talvez seja essa fonte de prazer
Que faz com que este mundo esteja aberto
À fonte que emanou meu bem querer..
Assim quando vieres, flor tão pura,
Termine toda a dor desta tortura...
Marcos Loures
03
Esta emoção guardada a sete chaves,
Não deixa que esta vida destrua.
Um forte combustível para as naves
Revestem a nossa alma enquanto nua.
Na força que incontida nunca pára,
Apoio para as curvas mais fechadas.
Na queda que ameaça nos ampara
Mantém o nosso rumo nas estradas...
Essa emoção que é boa enquanto santa,
Resiste a mais cruel das tempestades.
Nas horas mais difíceis se agiganta
Encara sem temor, dificuldades...
É luz que tanto guia, é claridade.
No cofre do meu peito, uma amizade!
04
Esta dor inerente que carrego
E mesmo, num sorriso, não disfarço,
Amarra da existência, o seu cadarço
Navego sem destino, em rumo cego.
Por mais que às vezes mostre algum apego
Esfacelado sigo, e até me esgarço
Tentando algum motivo, mesmo esparso
Porém ser gauche assim, isto não nego.
Um fardo tão pesado, meu farnel,
Impede que eu perceba quaisquer luzes,
Nas costas demarcadas velhas cruzes
Sangrantes esparramam sal e fel,
Amordaçando tontas fantasias
Iludo-me com falsas poesias...
05
Esta aragem batendo no meu rosto
No soprar tão macio deste vento,
Deixando um sentimento mais exposto
Em detrimento deste sofrimento.
As rugas que surgiram em minha face
São marcas dos amores que perdi.
As cicatrizes vivas sem disfarce
Lanhadas, navalhadas que senti.
Esta brisa promete uma esperança
Que possa renovar-me a cada dia.
Um grito em liberdade já me alcança
E inunda de alegria a poesia...
Como é bela essa luz que me trouxeste,
É flor que brota em peito tão agreste...
06
Esses ventos tão mansos que te tocam
Bem sei que te amornam calmamente.
Amores tão suaves te retocam
E formam um macio em tua mente...
Querida tão serena quanto a lua,
Depois de toda a noite morna e lenta
Ao ver tua beleza toda nua,
O coração se atiça e não agüenta
Rebentas nesse toque, quando atiço,
Fulguras nessa cama com ardor,
Esquece de qualquer um compromisso
E ferves como brasa em tal calor...
És fêmea que me morde e ganha o jogo
Da chama que incendeio no teu fogo...
07
Essencialmente, eu vago estrelas párias,
Estrídulos ouvindo do que fui,
Escravo do que passando que não flui
E morre entre as espadas, riscas várias.
As vidas mesmo sendo temporárias,
Castelo de esperança logo rui,
Do quanto ainda quero, alma se imbui,
Porém as ilusões são adversárias.
Se o meu verso obsoleto e démodé
Trouxesse o corcel baio que não veio,
A sorte se moldando sem receio
Talvez inda tivesse o bem que crê
Num tempo divisor, hoje e futuro,
Diverso do que tento e em vão procuro...
08
Essencialmente, eu quero o teu amor,
Embora saiba ser somente um mito,
O amor no qual deveras acredito
É mais do que um desejo. É um louvor.
Um sonho em perfeição; quero compor,
E quando o teu olhar com calma fito,
Percebo o quanto há tempos foi escrito
A intensa sensação de glória e dor.
Não vejo mais saída; pois sou teu,
Força desta emoção me convenceu
Que nada mais seria se não fosse
Vassalo deste raro encantamento
Que toma a minha vida num momento
E torna o dia-a-dia bem mais doce...
09
Essencialmente louco esperei o final
Se no meu mundo abstrato, espero pelo abismo,
Sorriso da medusa é belo pois fatal...
Meus dentes latejando explodem neste trismo.
Restituo o perdão, traduzo-me boçal,
Neste universo tenso ansioso exorcismo...
Ausculto cada estrela, esfera crucial,
Vitória não permite um laivo de ufanismo...
Mergulho meu desejo em procelas medonhas...
Um louco, extraviado, aguarda novo rumo...
Na cama que durmo, a tristeza traz fronhas,
Noturna, minha chama, incendeia o pavio,
Por mais que sempre tente, imbecil, não me aprumo,
Morro estupidamente; imerso, vago e frio...
Marcos Loures
6310
Essência maviosa, intensa e bela
De todas as ardentes seduções.
Vivendo nosso amor na nossa estrela,
Sorvendo todas nossas emoções...
Ouvindo esse rugir do forte vento,
Que vem lá das montanhas, cordilheiras;
Amor que não me larga o pensamento,
Trazendo as emoções mais verdadeiras...
Invade todo o sonho, brados imensos...
Inunda todo o mundo, causa espanto.
Deixando meus sentidos todos tensos,
Escuto mansamente o largo canto.
E deste canto emana minha paz.
Amor que me faz tanto e tanto audaz...
11
Este gosto maligno invade minha boca,
O manto cristalino esvai-se na fumaça...
Um corpo ensangüentado e roído por traça
Abandonado a esmo, a lua não retoca
E deixa à própria sorte, abrindo a dura toca
Onde se esconde a dor que, fera já me abraça.
O gosto amaro, fel, um copo de cachaça
E a noite vai passando impávida e tão louca...
Nos segredos que guardo amores não vividos...
Esperança abandona os sonhos esquecidos
Na mesa deste bar. Cicatriz que lateja
Dos tempos que pensei nos assentos divinos
De tal felicidade. Amores assassinos,
Uma alma enlouquecida espreita e já deseja!
12
Este beijo pedido que perdi
Na boca que queria, mas não tive
Sequer a sobremesa que pedi,
Na cama preguiçosa onde eu estive.
Não vive mais sequer esta esperança
Da trança da menina que não veio.
Apenas me restando uma lembrança
Da leve transparência. Um belo seio.
Beleza peregrina não voltou,
O beijo não passou duma ilusão.
O tempo de viver não mais restou
Percebo que foi alucinação.
Depois da tempestade sei das chuvas,
Apenas eram verdes essas uvas...
13
Estavas tão faceira em tuas chitas,
Vagando quase nua pelos sonhos
Que outrora se mostravam mais risonhos
Enquanto os teus encantos; arrebitas.
Das prendas mais gostosas e catitas;
Momentos sensuais; porém medonhos,
Motivos que complexos e bisonhos
Palavras sussurradas e mal ditas.
Fenomenal sereia sertaneja,
Que tudo o quanto eu quero mais deseja
Sabendo descobrir meu ponto fraco,
De tarde sem pudor e sem vacilo,
Ao ver que uma barata invade o silo,
Impede o seu asilo em teu buraco...
14
De tanto esperar por tua volta,
As flores do meu jardim desfaleceram.
O brilho desapareceu do meu olhar.
Os pássaros de tristeza emudeceram.
Foram dias de angústia,
Sem saber se um dia voltarias.
Pra dar nova vida ao recanto.
Trazendo pra meu ego, alegria...
Agradeço a Deus por teu regresso.
Que digam amém todos os anjos.
Que te conserve sempre inspirado,
Fazendo de palavras encantos.
Saiba que estou do teu lado.
Teus poemas admirando.
15
Estás presente, amada, em cada verso
Que faço num momento de alegria,
O mundo sei que outrora foi perverso,
Porém um nosso sonho nasceria,
Riscando num momento este universo,
Fazendo deste amor em parceria,
O canto em alvorada que bendigo,
Amor que há tantos anos eu persigo.
Chegando de mansinho junto a ti,
Recebo o doce vento da esperança,
Não quero mais saber do que perdi
Se um novo alvorecer amor alcança.
Depois que em alegria eu conheci
Alguém que me convida para a dança,
Marcos Loures
6316
Estás sempre escondida no meu peito
E vives nos disfarces das promessas,
Vivendo sem sequer saber direito
O mundo vai rodando nas avessas...
Procuro por teu rosto, nada vejo...
Decerto estás fugida, nos meus sonhos...
E sempre que distraio, te desejo.
Não quero sofrimentos mais bisonhos...
Vou vivendo, esperando te encontrar,
Quem sabe te encontrei e estás aqui,
Nas ruas, nessas praias, no luar...
Em todos os momentos que vivi...
De ti, saiba, jamais vou me esquecer
Ainda que não possa, mais te ver.
6317
6317
Eu bebo desta fonte inesgotável
A mesma que sacia um trovador,
Usando da palavra mais amável
Cantando nos meus versos um amor,
Água muitas vezes não potável,
Na qual a fantasia faz louvor
No mundo muito além do imaginável
A senda que em delírios, vou compor.
Se eu, bêbado de luz, sigo o cometa
Que passa no meu céu imaginário,
Mutante sentimento, audaz e vário
Lançado ao infinito, como seta,
Um velho passageiro da esperança,
Fazendo das palavras, minha lança.
Marcos Loures
18
Eu bebo cada gota até o fim
Das águas em que banhas tua pele,
Entornas teus prazeres sobre mim
E ao jogo mais voraz, amor compele
Atrelo dentro em ti o fogo intenso
Pintando a tela rara em tal moldura,
No quanto sou feliz contigo eu penso
Refazendo, sutil, louca procura.
No embalo deste jogo em ziguezague
Fronteiras não mais vejo e nem as quero.
Que a chama deste amor jamais se apague,
É nela que decerto eu me tempero
E faço destas águas o meu mar,
Bebendo a noite inteira sem parar...
Marcos Loures
19
Eu bebo a tempestade
Encaro o sofrimento
Não fujo da verdade,
Engulo fogo e vento,
Porém sem liberdade
Morrendo o sentimento,
Dependo da amizade,
Que bordas num momento.
Nas bordas deste mar,
Nos campo descoberto,
Às vezes quis amar,
Meu peito estando aberto,
Mas nada pude achar,
Amor se fez deserto...
6320
Eu bebo a fantasia, novamente
E vivo desta forma, satisfeito.
Um trovador que canta simplesmente
Amor que não se cala e deste jeito
Caminha pela vida mais contente
Abrindo em cada verso, o velho peito,
Cansado de saber-se penitente,
Percebe no carinho, um grande feito
E ganha a liberdade na esperança
De um dia, novamente ser criança.
Beleza que sem par tu me revelas
Mudando todo o rumo dessa senda
A vida emocionando já desvenda
Destino que em ternura agora selas...
Marcos Loures
21
Eu ando, meu amor , à flor da pele,
Tristonho sem motivos aparentes.
Sorriso enviesado me repele,
Andando com a faca entre meus dentes.
Pavores e temores do vazio.
Saudades do que nunca percebera.
Tomado em sensação de imenso frio,
Matando num inverno a primavera.
Estou com os meus nervos combalidos,
Os olhos mais vermelhos anunciam
Hiperestesiados, os sentidos;
Assim nova paixão já denunciam...
Eu ando à flor da pele; por favor,
Não negue minha cura: o teu amor!
22
Eu ando procurando meus disfarces,
Em meio a tantas vidas que passei.
Milhares, diferentes, tantas faces.
Fugindo, procurado, sem ter lei.
Não pude nem queria que me amasses,
Somente teu sofrer; amor, busquei
Seria tua herança, meus enlaces,
Sofrimento, matéria em que sou rei!
Nos túmulos cativos que carrego,
Correntes me ataram pela mão.
Em meio a tanta luz, seguindo cego,
Nos fúnebres delírios do perdão,
Não posso nem desejo, tudo nego,
Seria tão somente uma ilusão.
23
Eu ando meio triste, amargurado,
Falando com paredes, quase insano,
De todo este caminho desejado
Apenas recolhi mais desengano.
Na festa dos sentidos, maltratado.
Amor que se escondeu sob este pano,
Enfim silencioso, até velado,
O amor que fora outrora soberano
Parece que não teve um bom final.
Decerto esta morena magistral
Olhando para os lados percebeu
Que havia algo de podre se espalhando
No reino que caindo e desabando
Sem forças pra lutar, de amor morreu...
Marcos Loures
24
Eu ando a mendigar pelas estradas
Buscando por amparo e nada vem...
Ninguém a me sorrir, noites geladas,
Anseio por carinhos mas, ninguém!
As rosas se morreram, desfolhadas,
Os cálices de vinho, quero alguém!
As ondas se passaram, naufragadas
Distantes dos meus sonhos. Perco o trem...
Não tenho mais saída, sou revés.
Rastejo pelo mundo, quebro os pés.
A morte, redentora, não se tarda!
Uma esperança frágil inda resta,
Quem sabe voltarei de novo à festa
Da vida, nas mãos santas de Bernarda!
Marcos Loures
25
Eu ando à flor da pele, mas sincero.
Lanterna que perdi, noites e trevas,
Minha alegria, amada sei que levas
Deixando muito mais que, tolo, espero.
Sabujo de emoções, mal sobrevivo,
E morro a cada dia, mais banal.
O beijo da esperança foi fatal,
Mantenho o coração frágil e altivo.
A forca talvez fosse a solução,
Dos sonhos do passado, este dissídio
Num transe feito em luta e suicídio
Mostrasse finalmente a floração
Deste canteiro inútil em que cevei
O amor que futilmente eu esperei...
Marcos Loures
26
Eu ando à flor da pele ultimamente
Tomado pela imensa solidão,
O amor já sonegou a solução
E o fogo do desejo queima, ardente.
Lembrando do teu corpo, minha mente
Vencida pela insânia em sedução
Procura nos lençóis sobre o colchão
E nada de te ter, infelizmente...
Saudade do prazer que desfrutávamos
Enquanto loucamente nos amávamos
Sem freio, sem medida e sem pudor.
Agora a noite passa tão sozinha,
A moça que julguei fosse só minha
Esconde sob a saia, a bela flor...
27
Eu amo-te de forma, assim, tamanha
Que nada neste mundo se compara.
A gente tanto perde quanto ganha,
Mas encontrei em ti mulher tão rara
Que sempre meu desejo já se assanha
Me entrego em tuas mãos e a vida pára
Desvia para ti toda essa sanha,
Pois sabe que teu colo sempre ampara
O sonho mais bonito que já tive
No canto magistral de fino amor.
Desculpe se jamais eu me contive
E sempre declarei o meu desejo
De ter teu rosto lindo e sedutor,
Marcado em minha vida por um beijo...
Marcos Loures
28
Eu amo você, sabe bem disso,
Porém são tantas coisas que magoam...
Palavras escolhidas, compromisso...
As aves sem gaiola sempre voam...
Mas tenho tanto amor que não se acaba...
Meu sonho tem as asas que preciso...
Embora tanta coisa, assim, desaba,
Não canso de buscar o paraíso...
Entendo tanto medo assim da vida,
Entendo a solidão, é camarada...
Mas saiba que busquei em si querida,
O cheiro da manhã toda orvalhada...
Senti tantas promessas em você,
Diga-me, por favor, amor cadê?
29
Eu canto uma esperança de te ver,
Refém deste desejo, vou ao léu
E vejo em cada estrela em belo céu,
A luz que me dirá aonde ter
Delícia feita em cana, em doce e mel,
Gostoso de provar e de reter
Nos lábios e depois ao te sorver;
Voar imaginário, ser corcel...
Vivendo esta ilusão que não termina
Nem mesmo quando o sol nos ilumina,
Eu sigo noite e dia nesta busca.
Mas sei que tu virás. Isso não tarda,
Apenas a distância nos retarda,
Porém eu te garanto, não ofusca...
6330
Eu canto simplesmente por prazer.
Desafinada a voz, resta a palavra.
Embora tanta coisa por dizer,
Um lavrador escolhe sua lavra.
Poderia dizer da dor terrível,
Da solidão, do medo e da saudade.
Do mundo que derrama mal incrível
De todas as agruras, na verdade...
Poderia falar deste vazio
Que toma todo peito vem em quando.
Da seca, da miséria ou mesmo o frio,
Que queima; que tortura e vai matando.
Em meio a tanto mal e tanta dor,
Recheio esses meus versos com amor
31
Eu canto sem querer saber se agrado,
Apenas por prazer e nada mais.
Os versos mesmo quando são banais
Traduzem de minha alma, o seu recado.
O quanto neste mundo malfadado
Eu bebo sem temer estes boçais
Tampouco estes pernósticos chacais,
Que vivem devorando o meu gramado.
Não uso mais arreios, nem chibatas,
Com toda imprecisão nas porcas patas
Somente vão fazendo o meu sucesso.
Aos críticos eu dou esta banana,
Palavra de ciúme não empana
O brilho que imodesto, aqui confesso...
32
Eu canto o nosso amor por sob as fráguas
Da lua que se encanta e se abandona;
Ouvindo, ao fundo, o ritmo destas águas
Que correm devagar, amor à tona.
Embora estejas perto, não me escutas
Ou finges que não ouves meu cantar,
As chances deste amor são diminutas
Mas tenho um aliado: este luar;
Que entrando no teu quarto já te banha
E beija-te nas coxas, boca e seios,
Vontade de te ter já é tamanha
Que perco meu juízo e meus receios,
Mergulho no luar, invado o quarto,
Depois deito ao teu lado... Morto... Farto...
33
Eu canto meu espanto e meu afago
No campo das estrelas e de Marte
Depois deste terceiro ou quarto trago
A mão tremula em sonhos a minha arte.
De ser um aprendiz a cada dia
E nunca ser feliz por um segundo.
Mas tendo como amiga a poesia,
Enfrento todos males deste mundo...
Não sinto mais o frio nem calor,
A morte não me traz nem mesmo treva
A sorte de viver um grande amor,
O tempo, sem juízo, logo leva...
Mascote de mim mesmo, sem ser dono,
Na cama irei dormir pleno
34
Eu canto esta cantiga
Abrindo o coração,
Ternura que se abriga
Nos braços da paixão,
Que tudo assim prossiga,
Sem medo ou compaixão,
Atados; forte liga,
Ensinando a lição
De amar eternamente
E ser feliz por isso,
A vida novamente,
Mostrando o compromisso
Carinho que não mente
Trazendo um bom feitiço..
35
Eu canto esta amizade como fonte
De toda inspiração destes meus versos,
Abrindo com certeza, um horizonte
Em meio a tantos males tão adversos.
Amigo é companheiro que se conte
Pra atravessar milhares de universos,
Mesmo que a dor, no fundo já desponte
Amigo nunca deixa-nos dispersos...
Não quero construir uma parede
Que nos separe; irmãos, em nossas vidas,
De estar bem perto a ti, eu tenho sede.
Não quero a solidão. Fraternidade!
Eu quero as nossas almas reunidas
Na ponte construída: Uma amizade!
36
Eu canto e não me canso de cantar
Lavando o pensamento em notas vivas.
Enquanto da esperança tu me privas
Eu teimo em perceber luz e luar.
O quanto que te amei, não vou negar,
Nos olhos de quem ama; mil ogivas
Estrelas tão distantes viram Divas
Riscando frágeis trilhos sobre o mar.
Esqueço no tinteiro da ilusão
As cores com que douro o sentimento,
Buscando em cada sonho o meu provento,
Perdendo totalmente a direção
Não vejo outra saída senão esta,
Usando toda a força que inda resta...
37
Eu canto como canta uma cigarra,
Sobrevivente desta luta inglória
Trazendo no meu verso a minha história
Na qual a minha voz teima e se agarra.
Vencendo os descaminhos, vou na marra,
Não trago os dissabores na memória,
Por mais que a noite seja merencória
E a lua vai minguante, cimitarra,
Eu creio no final na lua cheia,
Que prata neste céu tudo incendeia
No belo plenilúnio em perfeição.
Fazer do amor o mote preferido,
E mesmo que me sinta preterido
Não vejo outro caminho ou solução...
38
Eu canto a meus amigos com certeza,
São tantos os momentos delicados
Em plena fantasia ou na tristeza
Por mais que tão difíceis os meus fados...
Amigos com certeza não dispenso,
A vida necessita deste abraço
Em todos os caminhos, sempre penso
Amigos, vão vencendo esse cansaço
Cansaço de viver tanta amargura
No vinho que embriaga, uma paixão...
Quem tem amigo sabe da ventura
Que bem que ele nos faz ao coração!
Portanto eu nunca temo mais perigos
Certeza de que tenho meus amigos!
39
Eu cantarei a festa dos meus sonhos
Nos braços das amantes que não tive...
No fundo percebi que são medonhos
O mar em desamor aonde estive.
Mansão dos pesadelos mais tristonhos
Pátio da solidão, que é onde vive
O que sobrou de amores tão bisonhos.
Eu cantarei a festa que me prive
Dos prantos que são bússolas errantes...
Meus olhos já não vibram verdejantes,
Decanto tantas flores e peçonhas...
Imóvel o meu barco não percorre
Mares onde sangrei... A vida escorre
Pelos meus dedos frágeis... Onde sonhas...
6340
Eu busco, n’aguardente tal resposta,
Que possa permitir sobrevivência...
A mesa da taberna está disposta,
Teus olhos, no luar, coincidência...
na ronda este casal, no amor aposta
depois de certo tempo – penitência...
já doem com certeza antiga crosta
Que trago sem pensar em providência.
Bem sei que se pudesse ser teu dono,
Não mais prosseguiria solitário,
Calado eu vou seguindo no abandono,
A tristeza fazendo aniversário...
porém em cada gole de cachaça
A alegria desanda e a vida passa...
41
Eu busco teu olhar por essas ruas
Não ouço tua voz e vou sozinho...
Às vezes penso, amor; que já flutuas;
E te procuro só, perco o carinho...
Eu busco o teu sorriso nesta estrada,
Não vejo nem o brilho desta boca.
Eu procuro o teu rosto, encontro nada...
Vontade de encontrar, angústia louca.
Só restam os meus versos... Neles sim,
Eu te encontro e te sinto do meu lado...
E percebo que moras dentro em mim,
Num cofre pelo amor trancafiado...
E sinto o teu carinho... Liberdade...
E posso enfim sentir: Felicidade!
42
Eu busco a tua imagem dentro em mim,
Reflexos deste sonho que nos toma,
Teu corpo, em minha pele, bela soma,
Dourando com carícias o jardim.
Do mundo tão amargo de onde vim,
O vento da saudade não se assoma,
Do fruto da esperança que se coma
Dizendo deste amor que eu vejo, enfim.
Meus olhos te procuram no infinito
E encontram nas estrelas, no luar,
O gozo deste amor, perfeito rito
Que um dia pude em paz, imaginar,
Tu és a companheira que eu queria,
Constelação suprema que me guia...
Marcos Loures
43
Eu bem sei que me odeias. Tenho pena,
Pois pensava que fosses mais gentil.
De tudo o que vivemos; nada viu,
Nem sombra de saudade ainda acena.
Tua alma é tão vazia e tão pequena
Guardando um sentimento tolo, vil.
Matando toda a cor de um belo abril
Artista que destrói a tela, a cena.
Nas cores e nas folhas espalhadas,
Outono onde tu foste a minha luz.
Nas folhas dos cadernos arrancadas
Depois de tanto lume, tanta briga.
Sereno sentimento vira cruz.
Um coração menor; quanto ódio abriga!
44
Eu bem sei que jamais tu mentirias,
Verdade é aliada e companheira...
O medo destas noites, longas, frias,
Por certo perseguiu-te a vida inteira...
Nas mãos tão carinhosas, ventanias,
Orgulho te servindo de bandeira...
Na chama das mentiras não te ardias,
Na vida, sempre foste verdadeira!
Não há um ser humano que cobice,
Nem queres os engodos da riqueza.
Sem reino tu és mais que uma princesa,
És dona da verdade, cara Alice.
Embora tantas dores isto traga.
Um Deus tão benfazejo já te afaga!
45
Etéreos viajantes pelo espaço,
Flutuam nossos versos, ganham vida
Sentindo este calor do teu abraço,
Minha alma te buscando, decidida.
Na cama; mil estrelas... Não disfarço
E caço esta presença mais querida.
Do amor que se envereda, cerra o laço
E toma tua mão tão distraída...
Perfumes e desejos que se exalam
Do canto que fazemos sem ter tréguas.
As vozes, pensamentos, se acasalam
E formam novo ser, qual fora um filho,
Distante deste mundo tantas léguas,
Fecunda-se e se entranha brilho a brilho...
46
Etérea poesia que te faço
Nem penso mais pedir tua atenção
Não posso nem concebo mal disfarço
Tomado por sublime sensação.
Eu sinto teus vapores delicados
Delícias de perfumes naturais.
Vagando sem ter rumo por teus prados
Transporto meu amor para o teu cais.
Desejos fervilhando me alucinam,
E rodam me queimando nesta ardência
Aos poucos, totalmente, me dominam.
Não deixam nem sequer pobre clemência...
E vivo em transparências tais enredos,
De camas, pernas, coxas, de segredos...
47
Esvaio em podridão, nas fétidas aragens
Dissolvido o meu sonho, apenas resta o vago.
Cadáver da ilusão, o tapa feito afago
Entranho uma pantera atroz. Libidinagens...
Degraus da escadaria expondo as paisagens
Confusas, sensuais, um gole falso, eu trago
E bêbado desnudo, ultrajes deste mago
Amor que num escárnio inunda rios, margens...
Agarro o meu espectro e nele reproduzo
O olhar de quem se foi, estúpido ou obtuso,
Sepulcro aonde jazo, e disso inda me orgulho.
Da velha fantasia em forma de oratório,
Carpideira ilusão aguarda o seu velório,
E do alto do edifício, em paz salto e mergulho...
48
Estúpidos profetas da esperança.
Não vêm que do nada, o nada vem.
Enquanto esgoto da alma segue, avança
Jamais esperarei do homem, um bem.
Agreste coração deixa em herança
O escárnio e a falsidade. Eu sei que tem
Apenas o vazio que me alcança.
Espero que eu não seja outro também
Que esconde a podridão sob o sorriso
E vende uma ilusão como verdade.
Ao denegrir em gozo, a mocidade
Abismos se criando, sem aviso.
Nas carnes das meninas e meninos,
Na venda e compra, espelhos cristalinos...
Marcos Loures
49
Estúpidos cristãos que se venderam
Ao velho Constantino em frio ardil,
Os semideuses novos conceberam,
De um modo sem escrúpulos e vil.
O próprio aniversário de Jesus,
Trocado tão somente pelo gozo,
Daquele que vestindo falsa cruz,
Tornou o Teu Natal tão pegajoso.
Já não bastara a Ti, o sofrimento,
Seria necessária esta vendeta,
Igreja propagando a cada vento
A morte dos que sabem da falseta.
Profetas do passado, Apocalipse,
Fazendo no Teu Sol, fútil eclipse.
6350
Estúpido canalha que me corta,
Aprofundando a adaga vai impune.
A sorte que quisera; jaze morta
Ao mesmo tempo em que um amor desune.
Felicidade em ti foge e se aborta,
Ao mesmo tempo ri depois me pune.
Arromba sem pedir, adentra a porta
E pensa que inda sou à dor imune.
Mendigas por carinhos, ironias...
Esbalda-se nos sonhos que tu crias,
Depois em gargalhada escapa, farto.
Entrega-se ao menor sinal de amor,
Para escapar algoz, vil traidor.
Deixando como herança, amargo infarto...
51
Estudos que comprovam publicados
Lançados sem sequer contestação
Assuntos tão sutis e delicados,
Merecem toda consideração.
Estatísticas mostram novos dados,
Que vão fazer total revolução.
A virgindade traz maus resultados
Causando essas doenças sem perdão.
Por isso minha amiga e companheira
Farei a boa ação que salvará
Você da noite fria e derradeira,
De uma doença dura de amargar,
Pressinto que este dia chegará,
Por isso venha logo vacinar...
52
Estrídulos que ouvira em noite imensa,
Resíduos do que fomos e não trago.
Espinhos matam gomos, num afago
Na gênese, ansiada recompensa.
Não tendo quem conheça e me convença
Eu vivo o que perdi, e nisso alago
Os olhos. Destroçando cada bago
Trigal de sonhos morre. Vida tensa.
Atento aos pênseis passos, eu tropeço
E vigorosamente não impeço
O passo que transcende à corda bamba.
Enquanto a poesia não descamba
Eu fujo desta tumba que me aguarda,
Usando uma mortalha como farda...
Marcos Loures
53
Estrelas tão diversas, multicores,
Espalhas ao andares pelas ruas
Deixando tantas marcas que são tuas
Prenúncios benfazejos dos amores
Que seguem cada passo aonde fores
Nos rastros onde sempre continuas
Pegadas que não deixas, pois flutuas
Apenas recendendo a raras flores.
A vida embora às vezes tão sombria
Marcada por ausências, por adeus
Ao ter em maravilha aromas teus
Encanta-se e permite esta magia
De um sonho transbordando amor em mim,
Na mágica ilusão de teu jardim...
Marcos Loures
54
Estrelas se esparramam pelo chão
Acompanham teus passos na calçada,
Ao ver a estrela guia, com emoção,
Vislumbro a minha vida iluminada.
Nos olhos, a completa perfeição,
A boca em carmesim, adocicada,
No corpo, a maravilha em tentação
Brilhante, deslumbrando toda a estrada
Amor abençoado te acompanha,
Com olhos desejosos e sutis.
A lua que surgindo na montanha
Faz loas em luares para ti,
Poder estar contigo é ser feliz,
É muito mais que, um dia, eu mereci...
Marcos Loures
55
Estrelas refulgentes, brilho esparso;
Rondando minha noite em falsos brilhos.
Meus olhos são eternos andarilhos.
No fundo, solitário, mal disfarço.
Enquanto pouco a pouco eu já me esgarço,
Nas mãos de quem adoro, estes gatilhos
Retornam vez em quando. Os estribilhos
São chuvas de verão no outono, em março
Fechando enfim meu ciclo de esperanças.
Resguardo alguns momentos, as lembranças
Se fazem mais cruéis pra quem não cabe
Nem mesmo nos seus sonhos. Velho traste!
Agora, eu já nem sei se tu notaste:
Quem cala não diz nada ou nada sabe?
56
Estrelas que rodeiam essa lua
Que transformada em mágico brinquedo
Porém tão enganosa bela e nua
Pretende ser tocada por um dedo.
Rabiscada na folha de papel,
Em grafite, parece um doce seio,
Brilhando em gigantesco e belo céu.
Tramando nova vida sem receio...
Porém o que eu pensava já não era,
Em verdade era simples fantasia,
São luzes que me enganam da quimera
Jamais o belo que eu queria...
Amor, depois senti com emoção,
Guardados, esperando lábios, mão...
57
Estrelas que mergulham no horizonte
Mostrando qual caminho vou seguir
Indica no mergulho rara fonte
Aonde meu amor, usufruir.
Encontro senda bela e tão florida
Marcada por milhões de rosas, lírios.
Estrada perfumada assim, querida,
Trazendo em minha vida, mil delírios...
Agora que caminho do teu lado
Percebo quanto é bom saber das flores.
Vivemos neste amor, um lindo prado
Tomado por estrelas, flor, amores...
Estrada que passamos, sem aviso,
Levava com certeza ao paraíso...
Marcos Loures
58
Estrelas que esparramas pelas ruas,
Deixando nos teus rastros, deidade
Nos sonhos mais bonitos continuas
A transformar amor em realidade.
Percebo: não caminhas; já flutuas
Aladas emoções, felicidade.
Embora na inconstância quais as luas,
Transmites a total sinceridade.
Na fuga de andorinhas migratórias
As horas vão passando em fluidez
Distante de teus braços, merencórias
Legando a quem te adora, insensatez.
As sendas em que passas, belas, flóreas
Dourando minha vida em tua tez...
59
Eu amo tuas luzes que sei raras,
Nos astros que caminhas, sem destino...
As noites em teus olhos, sempre claras,
No brilho libertário e cristalino...
A pele que palpita cicatrizes
Marcada pelos ventos que vieram,
Os tempos que pensamos mais felizes,
Guardados, escondidos, desesperam...
Amada como é bom te ver aqui,
Desnuda com teu fel, plena fervura...
Depois dessa ventura que perdi,
As luzes se escondendo em noite escura.
Recorro a triste chama da saudade,
Buscando em nossos restos, claridade...
6360
Eu amo meu amor tão simplesmente
Que nada mais importa nem por que.
Sabendo que viver sem ter amor
Não cabe e nem pergunto mais cadê
Amor não se conjuga, se completa,
Se faz e se desfaz e nem se importa.
Falar de tanto amor se for poeta
Ao mesmo tempo fecha e abre a porta.
Amor é fonte amada em si se esgota
Se cabem mil mistérios, um milhão...
Amor p’ra ser amor não sabe cota
Invade cada canto, mar, grotão...
Amor é quase morte, no prazer.
No entanto quase mata e faz viver...
61
Eu amo meu amor completamente,
Em atos e palavras, cada dia...
Vertendo nesse amor, o corpo, a mente,
Invade mansamente a poesia...
Amor que não se mede e se procura
Em atos e desejos delirantes.
Vibrando totalmente de ternura,
Amor que se tortura nos rompantes...
Amantes deste amor quase sincero,
Dormimos abraçados, sonhos vários,
Nos braços que mergulho sempre espero
O canto em liberdade dos canários...
Amor que plenamente não me ilude,
Porém vivo esse amor em plenitude...
62
Eu amo a tua pele, seios, boca,
Delírios que sabemos desfrutar,
No gozo que me dás, sabes sem par,
Derramo este rocio em cada toca.
E enquanto flui, a chama desemboca
Transforma o corpo nu em belo altar,
À luz e à claridade do luar
Desvendo os teus segredos; a alma invoca
Convida para a festa de nós dois
Sem ter preocupação com o depois,
Rolando sobre as sedas dos lençóis
As nossas madrugadas são assim,
O amor vem invadindo tudo em mim
Deixando como rastro, imensos sóis.
63
Eu agradeço ao Pai tanta amizade
Que é feita em proteção e em laço forte.
Alçando mais depressa a liberdade
Encontro em minha sina, um novo norte
Na luta em alcançar felicidade,
Nos braços do Senhor, santo suporte,
Mostrando com justiça e caridade
A cura para a dor de antigo corte.
Senhor, meu Pai querido, meu Irmão
Em Tuas mãos a vida já prospera
Matando uma tristeza feita fera
Abrindo os meus caminho, protegendo,
Louvando amor profundo e no perdão
A vida, um bem sagrado, enaltecendo...
64
Eu agradeço amor por esta sorte
Que trouxe uma sem fim felicidade,
Quem fora simplesmente sangue e corte,
Agora se permite a imensidade.
Ganhando o paraíso, eu conheci
Das terras planaltinas, a princesa
Que se entregou ao manso colibri
Enchendo de alegria, a natureza,
Nas danças, nas andanças sem sentido,
Nos sonhos mais bonitos um castelo
Em pleno coração do reino erguido,
Imenso e gigantesco, calmo e belo,
Para homenagear a sensual
Princesa, este caboclo Taj Mahal...
65
Eu agradeço a ti, minha querida
Notícias que tu trazes para mim.
Não há, tomara Deus, risco de vida,
Decerto acabará tão bem no fim.
A prece que ora faço com fervor
Terá bons resultados, nisso eu creio.
Poeta que espalhando tanto amor
Não traz dentro do peito algum receio.
Voar qual passarinho solto ao vento,
Além de simplesmente poesia,
Já basta para o nosso pensamento
Que a todo instante um sonho sempre cria.
Mantenha, por favor sempre contato,
Eu agradeço e rezo, aqui, de fato...
Marcos Loures
66
Eu agradeço a ti amigo Bento
Saber da falsidade em que foi feito
O Reino que deixaram num momento
De amor e de pureza. Contrafeito
Percebo que não tenho mais direito
De estar neste covil. Isso eu lamento,
Trazendo na verdade sofrimento
A quem sabe da serpe e do seu jeito.
Eu te agradeço amigo, pois me ensinaste
Que a porta escancarada é para os pios.
Para os doentes sempre está fechada.
Um imbecil pensando que houve uma Haste
Que veio para os pobres, pros vadios,
Percebe que não vale mesmo nada...
67
Eu agradeço a Deus por ter me dado
O sol que emoldurando cada dia
Tornando todo ser iluminado
Derrama sobre todos poesia...
Recebo o teu carinho de bom grado
E nele encontro fontes de alegria,
No amor que deve ser ilimitado
O amor que reproduz e se recria.
Não temo as injustiças nem castigo
Sabendo que em MEU PAI encontro abrigo
Durante o vendaval, dura tempesta.
Trazendo o coração assim exposto,
O vento que batendo no meu rosto,
Convida para a vida em plena festa...
Marcos Loures
68
Eu admito meus erros, mas não posso
Suportar tão calado os destemperos,
Teus brados sem limites, duros, feros
Transtornam e provocam alvoroço.
Cansado deste jeito, até o pescoço
Procuro noutros colos, os temperos
Aonde se demonstre com esmeros
A carne mais suave sem ter osso.
Não quero o sofrimento como mote,
Quebraste sem juízo, o velho pote
E todo o mel do amor já se perdeu.
Não vejo outro caminho para nós,
O amor não pode ser o nosso algoz,
Eu quero ser contigo e não ser teu...
Marcos Loures
69
Eu adivinho os seios mais perfeitos
Debaixo desta blusa em que me ostentas
Com olhos delicados, satisfeitos
Causando as sensações mais violentas.
Do jeito que desfilas e me atentas
Deliciosamente tais confeitos,
Eu penso mais depressa nos meus pleitos,
Vontades e delírios que fomentas...
E fico aqui babando sem poder
Usufruir de tais especiarias,
As noites continuam tão vazias,
E a cada novo dia passo a ver
Seios que bem sei não serão meus,
Delírios nestes seios belos... teus...
Marcos Loures
6370
Eu acordo abraçando o travesseiro
Relembro do cenário deste sonho.
Apenas o recado no cinzeiro
Jogado sobre o nada recomponho.
Num truque assim banal, a vida passa,
Nas cordas trapezistas, palcos, risos.
Expressam o final desta trapaça
No encanto de palhaços, falsos guizos.
Avisos de espetáculos vindouros,
Salões de festa, danças, refletores,
Os sonhos do quem dera duradouros
Momentos sem finesse em dissabores.
Olhar enamorado sobressalta
Deitando sobre as luzes da ribalta.
71
Eu acertei; amor, na Mega-Sena!
Agora vou viver o que eu quiser
Trocando de automóvel, de mulher,
A sorte se mostrou, enfim, mais plena.
Viver no Paraíso. Pra quê pena?
Eu topo, agora tudo o que vier,
Comprar um palacete. Qual? Qualquer!
Coluna social, fortuna acena.
Trocar de dentadura, ter jatinho,
No lugar da cachaça, uísque e vinho.
Esqui em Bariloche. Como um rei...
Farei o que eu quiser da minha vida...
Seis horas da matina... Ah. Querida.
Despertador avisa: eu acordei!
Marcos Loures
72
Eu acabei com tudo! Não te quero...
Meus olhos lacrimosos nada falam...
O tempo que perdi, jamais espero,
As dores que vivi, jamais se calam!
Nos sonhos que passei, amor tão fero
As flores que plantei, já não exalam
Perfumes... Quem me dera fosse vero
Amor. Mas, maltratando, nos embalam...
Foste força feroz, fera deixaste...
Nas feridas profundas, cicatrizes...
Se nas plagas distantes me cobriste;
Nessa valas abertas, já cuspiste...
Mascaste o coração... Fomos felizes.
A morte, recompensa que pagaste!
Marcos Loures
73
Eternizar em paz o sentimento
Que rege o pensamento e toma a vida.
Olvido qualquer tipo de lamento
Sabendo da vitória a ser cumprida.
O amor gerando amor como rebento
Ajuda a suplantar a dura lida.
Tentando ser feliz, todo momento
Expressa dos temores, a saída...
Contigo nada temo, saiba disso,
Carrego uma esperança no meu peito
Dizendo deste encanto: amor sincero.
O olhar anteriormente tão mortiço,
Brilhando noutro olhar, vai satisfeito
Trazendo, na verdade o que mais quero...
Marcos Loures
74
Eternidade! Sonho dos mortais
Escombro sem sentido, sentimentos...
As regiões profundas, abissais,
Demonstram minhas ânsias e tormentos...
As sombras dos amores, espectrais,
Vagando por meus loucos pensamentos.
Abrindo seus caminhos, meus portais,
Espraiam-se na fúrias destes ventos!
Quem me dera encontrar a compaixão
De quem fora imortal pressentimento...
Fantásticos meandros da paixão,
Devorando, ignorando resistência,
Amor em desespero bate lento...
És minha razão, Edna, de existência!
75
Eternidade em sonhos, que prevejo,
Qual mãe que se remete ao filho amado,
Depois de tanto tempo ainda vejo,
O teu sorriso feito um Eldorado.
Marcando cada fase desta vida,
A companheira sempre está comigo,
Revendo o que se fez noite querida,
Eu tenho todo amor que inda persigo.
Vasculho pelos céus, constelações,
Na prata desta lua, eu te encontrei,
Deitado sob as tramas das paixões,
Alucinadamente me fiz rei.
Da dura tempestade, insana fúria,
O fogo do prazer, santa luxúria...
Marcos Loures
76
Eternamente estar apaixonado
Por quem já dominando os meus sentidos,
Em meio a tantos risos e gemidos
Espalha este prazer iluminado.
Deixando estes espinhos no passado,
Meus olhos vão buscando, convencidos,
O brilho de teus olhos percebidos
Num templo ao deus do amor glorificado.
Quem dera se eu pudesse... quem me dera.
O amor que nos domina e nos tempera
Fazendo da alegria, o nosso tema
A lua se derrama sobre ti
Argêntea fantasia em que me vi,
Rompendo das tristezas cada algema...
Marcos Loures
77
Eterna sensação de riso e festa
Toando em nossos sonhos traz a lua
Que adentra soberana em cada fresta
E encontra a minha estrela bela e nua.
E nisso a poesia quer e atesta
Encanto sem limites continua,
Eufórica emoção amores gesta
Nos palcos da ilusão, a glória atua
E molda com serena precisão,
Formando um novo templo a cada dia,
Envolto pelas teias da paixão
A gente bebe além, e quer bem mais,
Ardências desejosas, amor cria
Nas tramas tão suaves, sensuais...
Marcos Loures
6378
Eterna sensação de estar vazio,
Vertendo dos meus olhos em cascata
O tempo que busquei não fantasio
Apenas este nada me arrebata.
Ao verso que em loucuras quero e crio
A morte se aproxima e me arremata
O vento em que distante principio
O incêndio que assolando, toma a mata
No quase em que mostrei a minha face
Desnuda, sem querer que algo me embace
Eu vejo simplesmente o que não fui
O tempo se escorrendo de mansinho,
Permite que eu me veja mais sozinho,
Enquanto uma ilusão, depressa, rui..
Marcos Loures
6379
Eu fico assim, parado, abestalhado,
Quando essa moça passa por aqui,
Meu coração batendo maltratado,
Se perde nesse jambo-sapoti...
Morena como eu quero o teu querer,
Te levo para casa e dou carinho,
Eu juro que não vai se arrepender,
Te dou o meu regaço, o meu cantinho...
Toco viola, amor, a noite inteira,
Cantando tanta musga só pro ocê,
Faço batata-doce na fogueira,
Depois, nós dois juntim, ocê vai ver!
É fogo se espalhando no paiol,
Quentura mais maió? Nem a do sol!
6380
Eu fico aqui penando pelos cantos
Sabendo que quem vai não quer voltar.
Não quero derramar mais os meus prantos,
Preciso tão somente descansar.
Tomado pela força dos quebrantos
A vida vai passando devagar,
Em meio às ilusões e desencantos
Não tenho quase nada pra provar.
Somente o que se deu e não me quis,
Embora mesmo assim, seja feliz
E nada impressionando desde agora
Permito que se faça um novo teste,
Que mostre esta verdade e que me ateste
O medo que eu trazia? Joguei fora...
Marcos Loures
81
Eu fico a suspirar quando não vejo
Aquela que desejo mais que tudo,
Amor, tanta saudade deste beijo
Que deixa o coração dum homem mudo.
Não sou um passarinho na gaiola
Que canta tão distante do seu bem,
Meu peito no seu peito quando cola,
Nunca mais vai dar bola pr’outro alguém.
Minha alma na sua alma se consola,
Depressa meu amor que a chuva vem,
No barro da paixão, amor se atola,
Não penso, amor te juro, em mais ninguém.
Depressa vem pra casa, vem ligeiro,
Deixa eu te carinhar, te dar um cheiro!
82
Eu canto meu espanto e meu afago
No campo das estrelas e de Marte
Depois deste terceiro ou quarto trago
A mão tremula em sonhos a minha arte.
De ser um aprendiz a cada dia
E nunca ser feliz por um segundo.
Mas tendo como amiga a poesia,
Enfrento todos males deste mundo...
Não sinto mais o frio nem calor,
A morte não me traz nem mesmo treva
A sorte de viver um grande amor,
O tempo, sem juízo, logo leva...
Mascote de mim mesmo, sem ser dono,
Na cama irei dormir pleno abandono
83
Eu canto esta cantiga
Abrindo o coração,
Ternura que se abriga
Nos braços da paixão,
Que tudo assim prossiga,
Sem medo ou compaixão,
Atados; forte liga,
Ensinando a lição
De amar eternamente
E ser feliz por isso,
A vida novamente,
Mostrando o compromisso
Carinho que não mente
Trazendo um bom feitiço..
84
Eu canto esta amizade como fonte
De toda inspiração destes meus versos,
Abrindo com certeza, um horizonte
Em meio a tantos males tão adversos.
Amigo é companheiro que se conte
Pra atravessar milhares de universos,
Mesmo que a dor, no fundo já desponte
Amigo nunca deixa-nos dispersos...
Não quero construir uma parede
Que nos separe; irmãos, em nossas vidas,
De estar bem perto a ti, eu tenho sede.
Não quero a solidão. Fraternidade!
Eu quero as nossas almas reunidas
Na ponte construída: Uma amizade!
85
Eu canto e não me canso de cantar
Lavando o pensamento em notas vivas.
Enquanto da esperança tu me privas
Eu teimo em perceber luz e luar.
O quanto que te amei, não vou negar,
Nos olhos de quem ama; mil ogivas
Estrelas tão distantes viram Divas
Riscando frágeis trilhos sobre o mar.
Esqueço no tinteiro da ilusão
As cores com que douro o sentimento,
Buscando em cada sonho o meu provento,
Perdendo totalmente a direção
Não vejo outra saída senão esta,
Usando toda a força que inda resta...
86
Eu canto como canta uma cigarra,
Sobrevivente desta luta inglória
Trazendo no meu verso a minha história
Na qual a minha voz teima e se agarra.
Vencendo os descaminhos, vou na marra,
Não trago os dissabores na memória,
Por mais que a noite seja merencória
E a lua vai minguante, cimitarra,
Eu creio no final na lua cheia,
Que prata neste céu tudo incendeia
No belo plenilúnio em perfeição.
Fazer do amor o mote preferido,
E mesmo que me sinta preterido
Não vejo outro caminho ou solução...
87
Eu canto a meus amigos com certeza,
São tantos os momentos delicados
Em plena fantasia ou na tristeza
Por mais que tão difíceis os meus fados...
Amigos com certeza não dispenso,
A vida necessita deste abraço
Em todos os caminhos, sempre penso
Amigos, vão vencendo esse cansaço
Cansaço de viver tanta amargura
No vinho que embriaga, uma paixão...
Quem tem amigo sabe da ventura
Que bem que ele nos faz ao coração!
Portanto eu nunca temo mais perigos
Certeza de que tenho meus amigos!
88
Eu cantarei a festa dos meus sonhos
Nos braços das amantes que não tive...
No fundo percebi que são medonhos
O mar em desamor aonde estive.
Mansão dos pesadelos mais tristonhos
Pátio da solidão, que é onde vive
O que sobrou de amores tão bisonhos.
Eu cantarei a festa que me prive
Dos prantos que são bússolas errantes...
Meus olhos já não vibram verdejantes,
Decanto tantas flores e peçonhas...
Imóvel o meu barco não percorre
Mares onde sangrei... A vida escorre
Pelos meus dedos frágeis... Onde sonhas...
89
Eu busco, n’aguardente tal resposta,
Que possa permitir sobrevivência...
A mesa da taberna está disposta,
Teus olhos, no luar, coincidência...
na ronda este casal, no amor aposta
depois de certo tempo – penitência...
já doem com certeza antiga crosta
Que trago sem pensar em providência.
Bem sei que se pudesse ser teu dono,
Não mais prosseguiria solitário,
Calado eu vou seguindo no abandono,
A tristeza fazendo aniversário...
porém em cada gole de cachaça
A alegria desanda e a vida passa...
6390
Eu busco teu olhar por essas ruas
Não ouço tua voz e vou sozinho...
Às vezes penso, amor; que já flutuas;
E te procuro só, perco o carinho...
Eu busco o teu sorriso nesta estrada,
Não vejo nem o brilho desta boca.
Eu procuro o teu rosto, encontro nada...
Vontade de encontrar, angústia louca.
Só restam os meus versos... Neles sim,
Eu te encontro e te sinto do meu lado...
E percebo que moras dentro em mim,
Num cofre pelo amor trancafiado...
E sinto o teu carinho... Liberdade...
E posso enfim sentir: Felicidade!
91
Eu busco a tua imagem dentro em mim,
Reflexos deste sonho que nos toma,
Teu corpo, em minha pele, bela soma,
Dourando com carícias o jardim.
Do mundo tão amargo de onde vim,
O vento da saudade não se assoma,
Do fruto da esperança que se coma
Dizendo deste amor que eu vejo, enfim.
Meus olhos te procuram no infinito
E encontram nas estrelas, no luar,
O gozo deste amor, perfeito rito
Que um dia pude em paz, imaginar,
Tu és a companheira que eu queria,
Constelação suprema que me guia...
Marcos Loures
92
Eu bem sei que me odeias. Tenho pena,
Pois pensava que fosses mais gentil.
De tudo o que vivemos; nada viu,
Nem sombra de saudade ainda acena.
Tua alma é tão vazia e tão pequena
Guardando um sentimento tolo, vil.
Matando toda a cor de um belo abril
Artista que destrói a tela, a cena.
Nas cores e nas folhas espalhadas,
Outono onde tu foste a minha luz.
Nas folhas dos cadernos arrancadas
Depois de tanto lume, tanta briga.
Sereno sentimento vira cruz.
Um coração menor; quanto ódio abriga!
93
Eu bem sei que jamais tu mentirias,
Verdade é aliada e companheira...
O medo destas noites, longas, frias,
Por certo perseguiu-te a vida inteira...
Nas mãos tão carinhosas, ventanias,
Orgulho te servindo de bandeira...
Na chama das mentiras não te ardias,
Na vida, sempre foste verdadeira!
Não há um ser humano que cobice,
Nem queres os engodos da riqueza.
Sem reino tu és mais que uma princesa,
És dona da verdade, cara Alice.
Embora tantas dores isto traga.
Um Deus tão benfazejo já te afaga!
94
Eu bem sei quanto vales, meu amor...
Uma noitada, um bar, cetins e rendas,
Das noites tão baratas, sem valor...
Dormindo em vários quartos, ruas, tendas
Porém, vaidoso, penso sedutor,
Te trago novamente tantas prendas,
E tenho o teu prazer...Um sonhador
Que em risos e mentiras já desvendas...
Meias verdades, camas e desejos.
O sol quando renasce já te expõe
E a dura solidão me recompõe.
Marcada a minha boca pelos beijos,
Mergulho no vazio desta vida,
Mas amo-te demais assim, querida....
95
Eu bem que mostrei, linda essa janela,
Nos olhos tristes guardas um segredo
A lua que roubei será só dela,
O barco naufragou, perdi meu medo,
Nas mortes que te dei, só peço a vela,
No mundo sem destino, meu degredo.
O sino que batendo me interpela,
Não quero que me diga: ainda é cedo.
Eu bem que mostrei, vastas amplidões
Secreto plano: amores sem cifrão,
Não peço nem espero soluções
Apenas me sobrou meu violão.
Amores encomendo mil poções.
O resto que me deste vai ao chão!
96
Eu beijo o teu retrato, falso quadro
Que um dia fez da vida apenas isso.
Num vício que sonega todo viço,
A vida foi perdendo o seu esquadro.
Um barco que se entrega à tempestade
Levado pelas ondas ao vazio.
Fugindo sem saber do desafio
Ancora noutro cais. Iniqüidade...
Quem dera, mas talvez melhor ser nada.
A morte tanta vez anunciada
Guardada como trunfo nos meus bolsos.
A casa que se perde sem embolsos,
Exprime o que sobrou desta ilusão,
Condena o sentimento à implosão...
97
Eu beijo intensamente, o corpo em brasa,
Tentando desfrutar de cada ponto
Tal qual se fosse assim a minha casa,
Depois de tanto amor, ficando tonto,
Deitando sobre ti, na cama ou solo,
Fazendo deste ardor, nosso estribilho,
Beijando mansamente seio e colo,
Voraz, o bom caminho, eu vou e trilho...
Deixando sem defesas, adivinho
Vontades insensatas, generosas,
E sorvo devagar, bebo este vinho
Derramado de ti quando tu gozas...
E vamos como dois adolescentes
No amor que nos invade quais dementes....
98
Eu beijo cada beijo que desejo
No ensejo de ser teu amor sobejo
Enquanto em poesia eu sempre vejo
O gozo que em teus olhos antevejo.
Seguindo nossa vida sem ter pejo,
No verso que me trazes, o trovejo
Do sonho que em loucuras relampejo,
Destino do teu lado, assim, tracejo.
Delírios incontidos, se eu prevejo,
Permitem que se mostre num latejo
O beijo que me deste. Assim almejo
Além de um simples canto em realejo,
Falando de um passado sem traquejo,
Dizendo deste beijo, meu desejo...
Marcos Loures
99
Eu bebo toda angústia em perdição
No quanto que me negas, envenenas.
Amor se decifrando em turbilhão,
Carícias e mentiras todas plenas.
Apenas o que sonho e não traduzo
Encontro nos teus olhos, mil néons,
Olhares que distantes reproduzo
Momentos tão diversos, vários tons.
Revelas em teus lábios primaveras,
Porém depois de tudo, colho invernos.
Refém dos desenganos mansas feras
Modelos diferentes, mesmos ternos.
Remendos que provocam mil presságios
Vagando em tempestades, sei naufrágios..
6400
Eu bebo em tua boca o farto mel
Que há tanto desejei e não sabia.
Deveras meu passado em agonia
Cobria com terrível, denso véu...
Porém o amor cumprindo o seu papel,
Transborda em sentimento e fantasia,
Contendo feramente esta sangria,
Deixando vislumbrar sublime céu.
Restando ser feliz a quem pensara
Ser a felicidade ausente ou rara,
Numa alma solitária amarga e triste
Um velho timoneiro vê seu cais,
Nos braços tão morenos, sensuais,
Podendo acreditar que Deus existe!
401
Eu bebo desta fonte noite e dia-
Insânia com carinhos misturada
Ferrolho que emoção decerto abria
Imagem que restou; imaculada.
O verso em que desenho o meu futuro
Esbarra numa métrica infeliz.
O chão vai se moldando árido e duro
Residual desejo que ontem quis
As cinzas do cigarro se espalhando
Nos céus que imaginara serem nossos.
Migalhas do que eu quero vão tomando
O quanto são profundos velhos poços
A lua que se fora enamorada
Dormita em noite vã, fria e nublada...
Marcos Loures
]
402
Eu deixarei em paz, tenha certeza
Não vejo para o caso, solução,
Quem sabe discernir o que mais preza
Prefere ao falso sonho, a solidão.
O prato que esqueceste sobre a mesa,
Expondo esta terrível refeição
Aonde devoraste com presteza
O que restou de um traste/coração.
Apague da memória, o nosso caso,
Condeno-me aos escombros e ao ocaso
E faço uma bandeira deste canto
Jogado pelos cantos, morre amor,
Que um dia imaginar ser senhor
E agora tão somente, desencanto...
03
Eu datilografei minha emoção
Deixando o que sentia no papel.
Depois de terminada este edição
Palavras que eu usei, foram ao léu.
Num barco de papel ou avião
Servindo de brinquedo- isto é cruel,
Amor perdeu o prumo e a direção,
Quem sabe na fogueira alçou o céu?
Ou mesmo se perdendo pelo ralo,
Desceu pelos esgotos da cidade,
Amor já foi embora e num estalo
Parece que deixou, talvez saudade,
Quem sabe se eu salvasse num arquivo,
Amor inda estivesse, ao menos, vivo...
04
Eu dançarei contigo a dança boa
Que deixa a gente louca de vontade
De ter neste dançar privacidade
E a noite inteira vibra e passa à toa.
Chovendo devagar traz em garoa
A festa que se diz felicidade
Vibrando de loucura na verdade
Minha alma nesta dança logo voa
E vai buscar no mar a correnteza
Um xote diferente, qual xaxado,
De noite em nossa festa uma certeza
Na dança feita em riso, sem pecado.
Contigo, toda dança é uma beleza.
Depois deixando o corpo lambuzado
Marcos Loures
05
Eu creio que fiquei, amor no lucro,
Depois de me perder no Paraíso,
O vento veio vindo e sem aviso
Indômito cavalo, meio xucro.
Dos sonhos, realidade é um sepulcro
Jazendo o meu desejo que impreciso,
Deixou em polvorosa qualquer siso,
Jogado pelo espaço, amor é fulcro.
Bifurco meu caminho e nada vejo
Senão o que sobrou do velho engodo,
Pedaço que tentou ser quase todo
Quasar que se perdeu em meu desejo.
Vestígios do que fomos, sem litígio,
No olhar a luz não vence este pterígio...
Marcos Loures
06
Eu creio neste amor que é tão imenso
Que traz revolução, muda os costumes.
Amor que na verdade é tão intenso
Regado a tantas flores e perfumes.
No teu amor, o meu já recompenso,
Deixando bem distantes meus queixumes,
Eu creio neste amor que é tão divino,
Que é feito da esperança e da alegria.
Nele o meu futuro descortino,
Abrindo uma janela à fantasia.
Meu sonho que carrego qual menino
Num mundo que é mais pleno em harmonia...
Procuro finalmente a liberdade
No amor que se supera na amizade...
07
Eu concordo: estou velho e até banguela,
A gente deve ser mais moderninho,
Falar do sentimento bem baixinho,
Fingir que o barco segue sem ter vela.
Na cama de um motel, amor congela,
No coxão da morena, um bom caminho,
Que danem-se palavras de carinho,
Trepou, gozou, calou. Senão já mela.
Chamar a periguete de querida,
É coisa de babaca ou de imbecil.
Potranca, com certeza uma saída,
“Vem” logo, o garanhão te espera aqui.
Prefiro algum cortejo mais sutil,
Romântico sem flores, me perdi...
08
]
Eu com certeza; amada, faço jus
Dos teus carinhos, gozos e promessas,
E sei que muitas vezes já tropeças
Deixando velhos sonhos, todos nus.
Amor que na verdade nos induz
Às vezes nos pregando muitas peças
Enquanto a caminhada, recomeças
Estende em cada trilha treva e luz.
Na soma do que somos e queremos,
Recolho os mais sublimes dividendos
Além de perceber os meus remendos
Em fartas emoções sobrevivemos
Rompendo tal corrente atada aos pés,
Remando contra a fúria das marés
Marcos Loures
09
Eu chego bem depressa quando chamas
Voando sem parar, mil oceanos,
Deixando para trás os desenganos
Enredo meu destino em tuas tramas.
Fogueira que se mostra em vivas chamas
Refaz a minha vida em novos planos
Momentos que sabemos, soberanos,
Em versos mais bonitos, logo clamas
E vou sempre correndo, apaixonado,
Querendo estar contigo do meu lado
Deixando as cicatrizes para trás.
Amor que faz amor e a sorte traz,
E cada vez que escuto a tua voz
Meu mundo já te alcança, tão veloz...
Marcos Loures
6410
Eu carreguei as brumas das saudades
Por toda a imensidão da minha vida.
Um resto de canção, poucas verdades,
Sem ter parada, caço a despedida.
Tua presença espanta essas neblinas
Causando o sol inteiro do meu jeito.
As gramas se refazem nas esquinas
Do tempo que se dá por satisfeito.
Não faço mais perguntas, sigo sendo,
O quanto nunca fui nem bem queria.
Deixei o purgatório mal me rendo
Desconheço-me ao ver a luz do dia.
Refletida nos olhos cor de mel,
Abertos dois luzeiros para o Céu...
11
Eu carrego comigo uma certeza amarga:
Por vezes esquecida em momentos de amor!
A mão mais carinhosa, aberta num louvor,
Nossos caminhos vis, por vezes ela alarga.
No momento seguinte uma voz já se embarga
Imersa totalmente em pálido torpor,
Quem fora mais risonho afoga-se na dor...
Neste peito sofrido a marca de uma adaga
Que penetrantemente, esmaga o coração.
E nos traz, quase sempre, a triste solidão!
Quem fora feito amor, esvai-se no tormento...
Nos gumes desta faca, a cicatriz medonha.
Em lágrimas termina a promessa risonha...
A dor sempre acompanha um grande sentimento!
Marcos Loures
12
Eu canto uma esperança de te ver,
Refém deste desejo, vou ao léu
E vejo em cada estrela em belo céu,
A luz que me dirá aonde ter
Delícia feita em cana, em doce e mel,
Gostoso de provar e de reter
Nos lábios e depois ao te sorver;
Voar imaginário, ser corcel...
Vivendo esta ilusão que não termina
Nem mesmo quando o sol nos ilumina,
Eu sigo noite e dia nesta busca.
Mas sei que tu virás. Isso não tarda,
Apenas a distância nos retarda,
Porém eu te garanto, não ofusca...
6413
Eu canto simplesmente por prazer.
Desafinada a voz, resta a palavra.
Embora tanta coisa por dizer,
Um lavrador escolhe sua lavra.
Poderia dizer da dor terrível,
Da solidão, do medo e da saudade.
Do mundo que derrama mal incrível
De todas as agruras, na verdade...
Poderia falar deste vazio
Que toma todo peito vem em quando.
Da seca, da miséria ou mesmo o frio,
Que queima; que tortura e vai matando.
Em meio a tanto mal e tanta dor,
Recheio esses meus versos com amor
14
Eu canto sem querer saber se agrado,
Apenas por prazer e nada mais.
Os versos mesmo quando são banais
Traduzem de minha alma, o seu recado.
O quanto neste mundo malfadado
Eu bebo sem temer estes boçais
Tampouco estes pernósticos chacais,
Que vivem devorando o meu gramado.
Não uso mais arreios, nem chibatas,
Com toda imprecisão nas porcas patas
Somente vão fazendo o meu sucesso.
Aos críticos eu dou esta banana,
Palavra de ciúme não empana
O brilho que imodesto, aqui confesso...
6415
Eu canto o nosso amor por sob as fráguas
Da lua que se encanta e se abandona;
Ouvindo, ao fundo, o ritmo destas águas
Que correm devagar, amor à tona.
Embora estejas perto, não me escutas
Ou finges que não ouves meu cantar,
As chances deste amor são diminutas
Mas tenho um aliado: este luar;
Que entrando no teu quarto já te banha
E beija-te nas coxas, boca e seios,
Vontade de te ter já é tamanha
Que perco meu juízo e meus receios,
Mergulho no luar, invado o quarto,
Depois deito ao teu lado... Morto... Farto...
16
Eu quero essa ventura de viver
Trazendo uma esperança que se espalha
Por versos vaporosos vou saber
De toda a poesia que me valha.
Eu quero uma ilusão que irei bebendo
Tragando uma volúpia adormecida
Meu corpo no teu corpo se escondendo,
Na vida que progride noutra vida.
Eu sinto teu suspiro extasiado,
Na morenice bela e tão brejeira.
Pois saiba que por ti, vou encantado,
O sonho que pensei a vida inteira.
Eu amo teu amor em meu amor,
Serei o teu destino, p’onde for!
17
Eu quero essa penugem, passarinho,
Saindo da garganta no meu canto,
Vivendo neste peito, faz seu ninho,
Trazendo para os sonhos, seu encanto...
Quero essa sensação de liberdade
Que veio nestes ventos, devagar...
Eu quero o gosto amargo da saudade,
Que invade e não se cansa de adoçar...
Eu quero essa menina, minha amada;
Nas danças, nas promessas e nos gestos.
Fazendo minha vida iluminada,
Brilhando nos meus sonhos tão modestos...
Eu quero o teu amor, tanta ventura,
Nos teus braços querida, u’a ternura...
18
Eu quero essa morena, alumbramento.
Divina, escultural, tua presença.
Loucuras sempre fazem do momento,
A vida sem demora, recompensa!
Na morna tarde sempre te desejo
Amorno o meu sorriso te esperando.
Agora que prossegue o nosso beijo,
Em tantas alegrias mergulhando...
Sementes que se espalham vão brotar
Das flores granarão outras sementes.
A vida noutra vida começar,
Assim como fizemos tão contentes...
Não meço mais palavras pra dizer
Que alumbro minha vida em teu prazer!
19
Eu quero enveredar por tuas sendas,
Ir explorando toda esta floresta
Tirando toda roupa, rasgo as vendas,
Tua nudez completa é o que me resta
Só peço que teu fogo em mim acendas,
Nesta ânsia desejosa que se empresta
Ao nosso grande amor, em tantas lendas
No fim sinto o torpor de dança e festa.
E macular teu corpo em cicatriz
Das marcas deleitosas da luxúria,
Que faz de cada tempo mais feliz
Numa velocidade louca, alucinante,
Tornando toda insânia em mansa fúria
Numa sensualidade estonteante...
20
Eu quero engravidar-te de poesia
Em noites sedutoras e fogosas,
Abrindo o belo cofre da alegria
Aonde tuas fontes mais gostosas
Encharcam de umidade e fantasia
No instante em que percebo que tu gozas.
Enlace de desejo em sintonia
Nas curvas e nas frases caprichosas...
Contigo numa uníssona explosão
Sentir o derramar de doce lava,
Momentos de total inspiração
Sorvidos gota a gota, intermináveis...
Na festa em que faminto, te encontrava,
Prazeres sem ter fim, inumeráveis...
Marcos Loures
21
Eu quero empapuçar-me deste amor
E todo lambuzado te beber
No gole generoso em tal ardor
Que morra fielmente ao teu prazer.
Na pele tatuada, ao teu dispor,
Aprofundar vontade, gozo e ser.
Recebo deste amor proposta e senha
Nos cofres esquecidos no porão
Que a noite em teu perfume sempre tenha
O cheiro do armistício e da paixão.
Ardendo brasa e chama, fogo e lenha
Na cama que é disfarce da emoção.
Eu quero no teu mel me embriagar,
Antes que uma ressaca vá chegar...
22
Eu quero em teu desejo mergulhar
Sorvendo tua boca junto à minha.
O vento que te trouxe vai mostrar
A fome que me cerca e se avizinha...
Aos poucos, sentimento desnudar
E ter toda a certeza que se tinha
Da vontade enorme de te amar,
Sem medos nem segredos... À noitinha...
Beber de tua boca inebriante
Rasgar as nossas vestes ser teu homem.
E te trazer prazer forte e vibrante.
A resposta eu bem sei que continua
Na fome com que os corpos se consomem
Na sede de te ter, deitada e nua...
23
Eu quero em teu amor, qual doce brinco,
O gosto carinhoso de teu toque.
Amor por quem lutei com tanto afinco,
Perdendo todo o rumo neste enfoque.
Não deixe esmaecer o sentimento,
Por mais voraz, intenso, não sossega.
O fogo que nos queima, mesmo lento,
Incêndio em minha alma, nunca nega.
Eu quero seu perfume e seu matiz,
Eu quero desse amor sua um só concerto.
Nos versos que te canto, ser feliz,
Saber que quem desejo, está por perto.
Não quero a desventura de saber,
Que em meio a tanto amor, vou me perder
24
Eu quero em teu amor a sensação
Ditosa de ser mar e de ser rumo.
Navego tanto em tua direção,
Que várias vezes, sinto, perco o prumo.
Se vamos prosseguir nessa viagem,
Buscando, num futuro, ser feliz;
Saibamos enfrentar uma estiagem,
Assim como a tristeza, por um triz.
Atormentados, somos, pelo medo,
Que torpe, nos inflama e traz lembranças…
Se vamos nos lançar por nosso enredo,
Reavivamos sempre as esperanças...
As mágoas que carregas e carrego,
Diários do passado, que te entrego...
25
Eu quero em teu amor a eternidade
Sutil em cada verso e cada beijo,
Trazendo para nós, felicidade
Vivemos sob essa égide: desejo.
Amar e ser feliz, isso eu prevejo.
Calar dentro de ti cada vontade.
Futuro mavioso; assim tracejo,
Pois saiba que eu te quero de verdade!
Tu és força bendita que recebo,
No rumo mais certeiro, vida plena.
Contigo a cada dia enfim concebo
Uma alvorada bela e mais serena.
Por isso o teu amor revitaliza
E traz a mansidão doce da brisa...
Marcos Loures
26
Eu quero em nosso caso, amor perfeito
Sem ter o que tirar nem mesmo pôr
Que traga todo o gozo que é direito
De quem se fez em vida um sonhador.
A mansidão distante da rotina,
O gesto benfazejo da amizade
O fogo por detrás desta cortina,
O sexo feito em plena liberdade.
O riso mais safado e mais moleque,
Um canto de alegria que não cessa
Abrindo no horizonte todo o leque
Vivendo muito além de uma promessa.
Amor sem preconceitos ou limite,
Permite que num Deus eu acredite.
27
Eu quero em nosso amor, cumplicidade;
Que traga uma alegria sem igual.
Também que se permita, na verdade
Ser algo mais que um sonho sensual...
Amor que nunca cede às desventuras
Nem mesmo quando a dor bater mais forte.
Entregue em mil carinhos e ternuras,
Maior que a solidão. Do amor, a morte...
Amor que seja imenso no prazer
Na entrega tão voraz quando alucina,
Em versos; meu amor; venho dizer
Que o sentimento assoma e me domina...
Contigo quero estar, cada momento,
Mesmo que venha a dor. O sofrimento...
28
Eu quero em cada verso te falar
Que estou contigo para o que vier.
Do jeito e da maneira que quiser
O coração de quem só sabe amar.
Revejo nos teus olhos um luar
Da deusa que encarnada em ti, mulher;
Que sabe conquistar, em nosso affaire
Um sonho tão gostoso de provar...
Teu passo em direção aos meus caminhos,
Em farta sedução me conquistou,
Agora assim, contigo eu sempre vou,
Na busca interminável por carinhos,
Só quero o teu querer e nada mais,
Chegar devagarzinho, mas audaz...
Marcos Loures
29
Eu quero é ser feliz e nada mais,
Poder usufruir de cada riso,
Sabendo quanto é doce ser preciso
Tocando teus desejos sensuais.
O vento da alegria em temporais,
A chuva da esperança, um Paraíso,
O quanto não maltrato ou traumatizo
Permite que te cante amor demais.
Bucólicas manhãs, noites serenas,
Só quero estar contigo, e nisso apenas
Ter todo este carinho que prometes.
Seguindo cada rastro de teu sol,
Espalhas fantasia no arrebol
Enquanto nos meus braços te arremetes...
Marcos Loures
6430
Eu quero e nunca nego
Carinho de quem amo,
Meu canto descarrego
No pranto em que te chamo.
No mar em que navego
Um sonho não difamo,
Apenas como um cego
Tateio, assim eu tramo
Um resto de esperança
Que chega devagar,
Laçando em aliança
Sem nunca mais parar,
Amor que já me alcança
É luz a me guiar...
31
Eu quero e necessito de um momento
Que seja todo nosso, com certeza
Sem nada que me impeça o sentimento
Eu deixo-me levar pela beleza
Dos olhos da mulher que sem lamento
Transporta em galhardia, com firmeza
Sabor deste delírio solto ao vento,
Seguindo em alegria, a correnteza.
Retorne para os braços de quem sabe
O quanto nosso amor é necessário.
A solidão, um barco temerário
Agora em nossa vida já não cabe,
Vem logo que te espero, por favor,
Em ti eu já traduzo todo o amor...
Marcos Loures
32
Eu quero dividir cada sorriso
Com quem eu desejei a vida inteira,
O amor que veio manso e sem aviso
Desfralda da alegria esta bandeira.
Enquanto nos teus olhos me matizo,
Sentindo esta presença lisonjeira
Deixando no passado dor, granizo,
Tua presença é santa, milagreira.
Eu trago na algibeira uma tristeza
Herança do que tive noutros dias.
Porém ao perceber quando me vias
Nos olhos estampada uma leveza.
Da carga tão pesada me desfiz
E finalmente, agora, eu sou feliz...
33
Eu quero desvendar teu poço escuro,
Roubar desta umidade; fonte e mel,
No gosto mais suave e, sei, tão puro,
Atento ao teu desejo viajo ao céu...
Por vezes, o meu passo é inseguro,
Por outras, me tonteio em carrossel;
As mãos tão delicadas que seguro,
Desnudam-me e retiram o teu véu...
E vivo agonizante nos teus braços,
Gemidos, alaridos suspirosos,
Numa paixão vadia, nossos passos,
Maravilhosamente te desnudo,
Abrimos os caminhos mais gostosos,
E mergulhamos livres... Sim... com tudo...
34
Eu quero desvendar cada segredo
que um dia eu encontrei no corpo teu.
Fazer em tua pele o meu degredo
deitando tanto amor que é teu e meu
meu mundo nos teus braços se perdeu,
e a vida percebendo desde cedo,
buscando me entranhar em nosso enredo
que em loucuras de amor se converteu..
sacio meus desejos, belas fontes,
sorvendo de teus lábios as vontades
em meio a doces méis, suor e sal.
Passeio por montanhas, vales, montes
e vejo em teu olhar felicidades,
num riso mais gostoso e sensual...
Marcos Loures
35
Eu quero desfrutar
Do amor que a vida traz
Nos braços me entregar
Saber amar em paz,
No corpo a navegar,
Amor que satisfaz
Beijando sem parar,
De tudo ser capaz.
Na chama, mil anseios,
Em fogos de artifício,
Tocando nos teus seios,
Amar é nosso ofício,
Teu corpo, teus enleios,
Por certo, amado vício...
Marcos Loures
36
Eu quero desfrutar desta loucura
Que é feita nos desejos mais insanos,
Tramando meus anseios tão profanos,
Aprofundo meu corpo na procura
Das sendas delicadas, na tortura
Distante dos meus erros, meus enganos,
Decoro o teu perfume, faço planos
E venho derramar-te esta ternura...
Renovo as sensações, lubricidade,
E invado estes portões, tanta vontade,
Batendo corações, taquicardia,
Envolto nas paixões, já bendizia
As santas tentações, que me dizia
O corpo, ebulições, felicidade...
Marcos Loures
37
Eu quero desde sempre e mesmo agora
Jogado neste palco sem platéia
O tempo sem ter vento revigora
A marca da pantera, vil atéia.
Nesta alcatéia a teia feita em ostra
Promete perolar o meu caminho.
O quanto de demonstra quando mostra
Nudez ensandecendo cama e ninho.
Glorificando o templo em que adormeço,
Mormaços são bem vindos, vidros quebram
O quanto que se fez no recomeço,
Quadris sobre lençóis belos requebram.
Em ébrias fantasias, cios crias,
Causando em reboliço, as alegrias...
Marcos Loures
38
Eu quero descobrir para onde vai
O amor quando termina, de repente.
Enquanto a poesia me distrai
Extraio do meu peito e vou descrente.
Se está em Nova Iorque ou em Xangai
No fundo o que me resta é ter somente
A cicatriz banal que ora me trai
Precisa que se trate, e isto é urgente.
Jogado nos baús de uma saudade
Eu tranco à chave e guardo os seus segredos
Mudando novamente estes enredos
Trancafiando o sonho atrás da grade
Eu vejo o renascer em outra moça,
E a chuva nunca pára. Forma poça...
Marcos Loures
39
Eu quero decifrar teu corpo inteiro,
Sem tréguas namorar, é tão gostoso.
Brincando devagar, sentir teu cheiro,
Depois usufruir, divino gozo.
Deixa-se ser amigo e companheiro,
No jogo que fazemos, prazeroso,
Delírio que nos toma, verdadeiro,
Teu jeito de amar: maravilhoso!
Querida quero ser o teu brinquedo,
Teu bicho preferido, teu enfeite,
Deitando nosso amor, sem ter mais medo,
Permitindo assim o teu deleite.
Te desvendar inteira sem segredo,
Ter peço, com que carinho, que me aceite...
40
Eu quero crer num sonho sem temores
Refeito do vazio de onde eu vim,
Bebendo em cada boca meus amores
Que guardo, bem retintos, dentro em mim.
Se enfoco sem sentido meus temores,
Talvez toda essa culpa venha enfim
Dos holofotes, fortes refletores
Que vejo do princípio até o fim.
Morrer nesta paixão que me moveu
Do futuro impossível que não veio,
De toda uma esperança que perdeu
Quem fora companheira e mais não quis.
Rever uma alegria, aberto o seio
Por onde mergulhando, fui feliz...
41
Eu quero com urgência imenso amor
Que não deixe jamais de estar presente,
Não sei inda é preciso que se invente,
E venho a cada verso te propor.
Não vou dizer que sou um corruptor,
Porém quem sabe assim, consiga a gente
Atar em nossos sonhos a corrente
Que possa nos prender com tal vigor.
A viga que sustente cada passo
Vencendo a tempestade sem cansaço
Num traço delicado e mais sutil.
Abraços e carícias, beijos tantos,
Ao entranhar desejos entre encantos
Porém ela, distante, nem me ouviu...
Marcos Loures
42
Eu quero cada vez mais forte, intenso,
Amor que se faz belo e resistente.
Fazendo nosso mundo mais contente
E o dia se acalmando, menos tenso...
Eu quero nosso amor que não termina
Jamais derrama lágrimas de dor.
Da pura fantasia, doce mina
Trazendo para a vida o resplendor
De um sol que vai nascendo bem mais forte,
Da lua que se entrega sem limites.
Eu peço que tu venhas e acredites
Na mansa sensação que nos comporte
De um mundo mais alegre e mais feliz
Vivendo da maneira que se quis..
43
Eu quero cada estrela
Que o céu puder me dar,
Vagando no luar,
Poder já recebê-la
Na cama que revela
Momentos de encontrar
Num toque me encantar
Somente por revê-la
Mulher que assim se fez
Estrela em poesia,
Por certo, amor e guia,
Tomando a sensatez
Com força e com magia,
Amor, sabedoria...
Marcos Loures
44
Eu quero cada beijo prometido,
Também cada carinho que me ofertas
Desejo que tão forte me despertas
Precisa ser depressa resolvido.
No fogo da paixão ser consumido
Deitar amor debaixo das cobertas
Nas portas da emoção que sempre abertas
Encharcam de suor cada tecido.
Nas rendas e nas sedas tão macias,
Fazer em nossa cama este banquete
De um jeito tão gostoso que vicias,
Jamais tu falarás em solidão.
Do amor que sempre quer e já repete
Aquele que se entrega à sedução...
45
Eu quero esta canção de mocidade
Que possa renascer a cada dia,
Enquanto a solidão feroz invade,
O vento do passado ressurgia
Trazendo o suave aroma, liberdade,
Que é feita com sublime maestria
Rompendo da ilusão fronteira e grade
Moldando o nosso passo com magia.
Alquímica mistura de nós dois,
É tudo o que queremos, eu sei, pois
O tempo não retorna, mas coleta
O que nós cultivamos pela estrada,
Que quando com carinhos adubada
Nas cevas mais felizes, se completa...
Marcos Loures
46
Eu quero esta cachaça que me traz
A boca mais gostosa da sacana,
Eu sinto esta loucura que se emana
Deixando a minha vida mais em paz.
Eu fico, de repente, mais audaz,
Neste produto mago de uma cana,
À noite me tomando de campana,
Tornado em nossa cama mais voraz.
Eu quero o teu prazer, e o meu também,
Depois na nossa veia, a tal glicose,
Contigo, minha amada a noite vem
E quer que em seu caminho sempre goze,
No tempo anunciado por meu bem,
Depressa antes que chegue uma cirrose...
47
Eu quero esta alegria de poder
Chamar teu nome sempre que puder,
Na fantasia enorme de saber
Que além de minha amiga é a mulher
Que sempre desejei estar aqui
Compartilhando o sonho mais risonho
Depois de tanto tempo que perdi,
Depois do vendaval forte e medonho
Da solidão dorida que enfrentei
Por vezes, esquecido em algum canto,
E, sinto que depois que te encontrei
Cessaram-se: tristeza, dor e pranto.
No labirinto extenso desta vida,
No nosso amor intenso, uma saída...
48
Eu quero esse querer que nunca cobra
Que quer só por querer o querer bem,
Que sabe que querer sempre desdobra
No amor desta querência por alguém...
Eu quero um querer que nos complete
Sem farsas sem mentiras ou promessas.
Querer que sempre venha e não delete
Assim tão mansamente, sem ter pressas...
Eu quero o paraíso do querer
Que é feito todo dia, a todo instante,
Sabendo que te quero e vou viver
Intensamente amor amado, amante...
Eu quero o teu querer sem ter horário,
Luar que não tem fase ou calendário.
49
Eu quero esse mergulho no teu mar,
Nas delicadas ondas que decoram
Trazendo essa vontade de encontrar
Nas ânsias que me marcam e devoram.
Eu quero esse teu brilho mais errante,
Constantes os desejos mais audazes.
Fazendo nosso amor mais delirante,
Sabendo a que limite são capazes
Nossos momentos livres e sedentos.
Nossas vontades tantas e possíveis.
Não vejo em nossa vida sofrimentos,
Vivemos os momentos mais incríveis...
Eu quero tantas horas radiantes,
Bebendo o nosso vinho, o dos amantes...
6450
Eu quero esse mergulho bem profundo
Nas águas deste sonho, sem temores.
Vivendo o sentimento, num segundo,
Teus olhos são dois belos refletores
Que lançam tuas luzes pelo mundo,
Só sigo estes teus rastros sedutores...
Da paz deste carinho já me inundo
Sorvendo teu amor sem ter amores...
Querida, não me deixe mais, te peço,
Tu és a glória infinda de viver.
Eu amo bem além e te confesso,
Não tenho mais vontade se fugir
Deitando do teu lado meus prazeres,
Amar-te sem limites.... Vim pedir...
51
Eu quero esse cantar em liberdade
Rompendo os meus grilhões, soltando a voz.
Sempre louvando a solidariedade
Criando uma corrente em vários nós.
Eu quero que o futuro traga à vida
Todo o valor que sei, a vida tem.
Não haja mais infância desvalida
Nem a velhice triste, sem ninguém.
Que em toda terra espalhe uma esperança
De um povo mais unido e mais feliz,
A noite tão vazia já se cansa
De ter somente o não; como raiz.
Que o AMOR seja infinito e sempre eterno
Que surja o belo estio após o inverno!
52
Eu quero a sedução destes teus olhos,
Eu quero esta beleza feita flor
Que traz tanta alegria, tantos molhos,
E faz brotar assim, meu grande amor...
Eu quero neste orvalho matinal,
Matar a minha sede e meu desejo.
Levando a fantasia no embornal.
Deitando em meu amor, um doce beijo...
Sonhando com amor, distante mundo,
Carinhos que preciso quando afagas.
Deste dilúvio, tonto, já me inundo,
Buscando teu amor, infindas plagas...
Eu quero ser acaso sem ocaso,
De tanto amor que tenho, até me caso
53
Eu quero a placidez de um claro lago,
Cercado por distante proteção,
E mesmo num inverno, o teu afago
Permite a mais completa mansidão.
No verde que circunda as calmas águas
A vida se refaz, em primavera,
Acalentando, impede que tais mágoas
Adentrem este lago, afasta a fera.
Azul de brigadeiro toma o céu,
Mudando a paisagem, tranqüiliza,
Minha alma como o lago, se matiza
Neste azulejo raro, imenso véu,
Tomando a minha vida em claridade,
Nos laços bem mais firmes da amizade...
54
Eu quero a maciez de tua pele
Colada no meu rosto, valsa e sexo.
Como uma maripose se compele
À luz num sentimento mais complexo,
Eu sinto-me atraído a cada dia
Bem mais intensamente que pensara
Que alguém, na minha vida, poderia;
Num tropismo com força assim tão rara...
Tu és a minha deusa e minha escrava
Sou teu mestre e também sou teu cativo,
Minha alma se batiza enquanto lava
Teu corpo, divindade por quem vivo...
Assim, num hedonismo encantador,
Renasço, vivo e morro em teu amor!
55
Eu quero a maciez de teu carinho
Com doce e com total suavidade,
Nas ruas e nas sendas, no caminho
Que leve desta vida uma saudade...
Sabendo que te quero por querer,
Não temo nem calor nem mesmo frio.
Em todos os passeios posso ver,
Amor que se escondendo, vai macio...
As bocas que se tocam, mansamente,
Provocam nos luares, os ciúmes...
Eu quero teu amor tão docemente,
Apenas não escutes meus queixumes...
São trevas que me impedem de saber,
Deixando a madrugada se acender...
56
Eu quero a liberdade de viver
Deitado toda noite do teu lado.
Amor que tanto tenho me faz crer
Que um dia posso ser teu namorado...
Requento teu café, preparo a mesa,
Esquento meu amor neste fogão,
Depois desta fartura, a sobremesa,
Empaturrando assim, meu coração...
Levanta minha amada, vem comigo;
Manhã ensolarada traz promessa.
Vivendo plenamente, nosso abrigo;
Quem sabe faz agora, vamos nessa...
Porém te vendo assim calma, deitada...
Eu digo: Adeus manhã ensolarada!
57
Eu quero a fantasia que prediga
O tempo de viver e de sonhar.
Quem sabe decifrar jamais se obriga
Ao vento que só pode atormentar.
Benesses da presença mais amiga
Tomando este cenário devagar,
Não quero e não suporto mais intriga,
Apenas necessito o caminhar...
Benéfica manhã que mostrará
O quanto desejando desde já
Poderia quem sabe ser suprema.
Rompendo do que fui qualquer algema
Trazendo para o peito imensa festa
Que apara com ternuras tal aresta...
Marcos Loures
58
Eu quero a bucetinha mais gostosa
Roçando em minha boca, bem safada.
Mulher em fantasia, a mais gostosa,
Deitando seu prazer, arrepiada.
A puta que é sacana e refinada,
Delírio provocante. Caprichosa,
A fonte dos desejos, desnuda
A deusa vagabunda e melindrosa.
Vencer os seus pudores, ser tão teu,
Enquanto a noite passa, no apogeu
Chegar sem ter limites nem paragem.
Dois corpos sem pecados, dois pagãos
As tocas descobertas, dedos, mãos,
Na louca e desmedida sacanagem.
59
Eu queria ser livre eternamente,
Livre do tédio dessa longa espera.
Livre para tentar saber de outra era
Livre como a criança que não mente,
Apenas sonha. Quero simples mente,
Sem as perguntas tantas, vida impera
Sobre essas vastidões, dúvida fera,
Eu quero a liberdade, simplesmente...
No marfim dessa lua que me cobre,
Não queria jamais ser o que sobre,
Nem perceber vergonha em tantos medos.
Queria conhecer os teus segredos
Penetrar mais fundo em teus enredos
Ao olhar o teu rosto amor se encobre...
60
Eu que sonhara amar em noite plena
Deveras esqueci deste meu sonho.
Por mais que a noite clara já se acena,
Eu trago na minha alma um mar medonho.
Quem teve uma esperança mais amena,
De um dia reviver canto risonho,
Nos braços da saudade, amor eu ponho,
E o vento da paixão inda envenena.
Ao entoar meu canto em verso triste,
Percebo que este amor inda resiste
Deixando o coração em desalinho...
Querida, se soubesses quanto eu quero,
Um sentimento vivo e mais sincero,
Juro: não me deixava mais sozinho...
Marcos Loures
61
Eu quando bem te vi sem direção
Andando pelas ruas sem destino,
Sentindo bater forte o coração,
O velho colibri doma o menino.
E sinto novamente esta aflição
Do amor que na verdade não domino,
Fazendo-me meu vinho, sendo o pão
Moleque sem juízo e tão ladino.
Receba cada flor que hoje te oferto,
O amor sinto rondando aqui por perto,
Deixando este deserto para trás.
Não canso de chamar pelo teu nome,
Contigo o sofrimento logo some,
E a noite se transcorre plena em paz...
62
Eu pus meu amor num barco
De papel que se levou
Na corredeira fez arco
Pouco depois naufragou...
Não me esqueço quanto dói
A saudade, minha amada.
Outro barco se constrói
Depois vem outra enxurrada...
Eu só peço a Deus do céu
Que não deixe mais sofrer
Tanto barco de papel
Tanto amor que vai morrer.
Naufragando o coração;
Qual será a solução?
63
Eu pude constatar o quanto é vário
E multifacetário o sentimento
Do coração, senil celibatário
Exposto novamente ao forte vento
Resiste qual um velho dromedário
Errôneo caminheiro, num lamento,
Tornado quase um jovem temerário
Bebendo a mocidade em vão momento.
Risível garatuja; sei que sou,
Colhendo tão somente o que restou
Escombros andarilhos vão sem rumo.
Os dedos engelhados, olhos baços,
Um bufão ressurge dos cansaços
E trôpego, procura ainda o prumo...
64
Eu preparo a canção se for bonita
Pra moça que desfila em meu carinho.
Refeito da surpresa de pepita
Chegança em minha vida de mansinho.
No fundo tanto vejo que acredita
O marco que se fez assim sozinho
Rasgando este vestido, velha chita,
A moça só desfila em puro linho.
No limo que não veio, tecla gasta,
Cheguei quase sem tempo de beber.
A mão que esbofeteia logo afasta
Mas deixa qualquer rastro de prazer.
Meu sabiá morreu em tanto agouro,
Nas penas deste amor apenas couro.
65
Eu preciso encontrar um certo alguém
Que seja simplesmente como tu.
A deusa tão perfeita deste bem,
Toda a delicadeza em corpo nu.
Alguém que seja assim, um sonho vivo,
De um dia bem melhor que irá chegar,
Há tanto sem amor, eu sobrevivo,
Que espero enfim, de novo, me entregar.
Desejo-te demais, além de tudo,
Tu és meu raro sonho, ser feliz.
Quem veio em versos tristes, vai, contudo,
Viver contigo amor que sempre quis.
Eu posso até quem sabe, amar enfim,
Mas jamais outro amor, tão belo assim...
Marcos Loures
66
Eu posso te dizer que sou feliz
Sabendo do carinho que tu tens.
Quem fora do amor, um aprendiz
Reconhece e deseja fartos bens.
Nas bênçãos mais sublimes adivinho
Um Éden tantas vezes procurado.
Bebendo da amizade o doce vinho,
Encontro o meu caminho iluminado;
Não ando mais sozinho, disso eu sei,
Toando em harmonia, um belo canto.
Fazendo da alegria a nossa lei
Percebo num momento o raro encanto
Trazido pelas mãos tão camaradas,
Em noites mais perfeitas, estreladas...
Marcos Loures
67
Eu posso finalmente ser feliz
Sabendo que tu queres meu desejo
O quanto deste amor já se prediz
Permite que se encante neste ensejo.
Do beijo, na verdade, eu quero bis
A glória deste sonho, eu sempre vejo
Rondando minha noite outrora gris
Agora iluminada com traquejo.
Um colibri que pousa numa flor,
Reflete esta vontade insofismável.
Dizendo com clareza farto amor.
Estrelas espalhando em minha vida,
Prometem um momento inenarrável
Trazendo uma alegria já perdida...
Marcos Loures
68
Eu posso enfim dizer que tenho alguém
E nada mais eu temo em minha vida,
Sabendo que encontrei o grande bem,
De tantos labirintos, a saída.
Por mais a noite escura eu sei que vem
Não vejo mais a sorte assim perdida,
A mão que acaricia sempre tem
A força de acolher a alma perdida.
Àquele que morreu por todos nós,
Senhor de cada passo, mensageiro,
De todo amor que seja companheiro
Matando com certeza a dor atroz,
Eu posso assim dizer do grande amigo,
Andando o tempo inteiro aqui, comigo.
Marcos Loures
69
Eu ponho na tigela sonho e gozo,
Misturo jurubeba com cachaça,
Mulher em qualquer canto eu sei quem caça
Porém jamais serei assim formoso,
Um moço em alvoroço é caprichoso,
A moça com vontade dá e passa
Depois não vou fazer lenda e chalaça
O dedo pede a lua, verrugoso.
Geléia de maçã com jerimum,
Não vejo na verdade bem algum
Em ter mais que a delícia do desejo
Que sendo saciada, sempre esgota,
Do doce quero até uma compota
Morena, nos quadris, farto molejo...
6470
Eu perco-me de mim no nosso amor,
Que invade e que me toma por inteiro.
Meu rumo no teu rumo. Seguidor
De cada passo teu. Vou verdadeiro
Vestido de teu corpo, tua pele,
Sabendo o quanto quero ser só teu,
Na luz que nos acende se revele
O quanto nesse amor, amor se deu.
Não sei mais do meu rumo, mas nem quero,
Apenas sinto sempre esta vontade.
De nunca mais ter canto amargo e fero,
Vivendo do teu lado, sem saudade
Do que já fui e sei que não restou,
Entregando aos teus braços o que sou.
Marcos Loures
71
Eu penso ter cumprido as penitências
Expondo esta carcaça do que fui,
Buscando tão somente tais clemências
O tempo de viver, vazio flui.
Na mística esperança abandonada,
Os dados com certeza mal lançados
Não deixam que se veja quase nada
Senão os olhos vagos, destroçados.
Colibris seguindo sem as flores,
As flores sem sequer um colibri,
Mergulho nos mosaicos multicores
Do nada que me deste, eu me perdi.
Quem dera se colhesse alguma sorte
Mudando em transparência, opaco norte...
Marcos Loures
72
Eu pensei te dizer num belo adeus,
As coisas que traguei contra a vontade,
De nada restaria tal verdade,
Se não pudesse, ao menos, ver os breus
Que me trarão certezas, meu bom Deus,
Das dores te cobrirem de saudade!
As portas que fechaste, crueldade,
Te trarão, por lembranças, sonhos meus...
Receba essa missiva como um míssil;
Não queira nem saber como é difícil,
A quem comeu, cuspir no próprio prato...
As mãos que já lambi, num cego afeto,
Mordendo vou mentindo, perco o teto.
A sede inda procura teu regato...
Marcos Loures
73
Eu pego na peteca da moleca
E taco fogo, amor, no quarteirão.
O fogo que me queima e te sapeca
Aumenta num momento a tentação.
Quem pensa que na fome a gente peca
Não sabe do poder da sedução
Que tem quem me jogou esta peteca
Sapecando menina, o coração.
Brincando toda noite – cabra cega
A mão que te apalpou foi bem certeira,
Sem medo e sem juízo, o seio pega
Depois já sai rolando nesta esteira
Vem logo, por favor vê se sossega
Que eu quero é só me arder na brincadeira...
Marcos Loures
74
Eu peço tua ajuda, minha amada,
Suavize esta mão que pesa tanto.
De várias cicatrizes, tão marcada,
Que sei, se olhares bem trará espanto.
Quem sabe em teu carinho amaciada,
Consiga te trazer algum encanto.
Não trago flores, risos...trago o nada.
Remendos de magias e quebranto.
Não fira nosso amor, pois ferirás
Não a mim, calejado pela vida.
No corte tão profundo que farás
Trarás somente o resto que perdi.
Porém na pele frágil, m’a querida
Tu ferirás somente mesmo a ti...
75
Eu peço tanto a Deus que me ilumine
E deixe que eu prossiga minha luta
Nascida desse amor que sei sublime
E nega por si só a força bruta...
Eu peço tanto a Deus que me dê paz,
Para que eu possa crer no ser humano.
Que eu seja, nessa vida, forte, audaz,
Pretendendo evitar um ledo engano...
Eu peço tanto a Deus por liberdade
Que o povo mais sofrido, possa ter,
O sonho de viver felicidade
E tenha, todo dia o que comer...
Embora tanto tempo mais ateus
Nas preces que dedico, eu peço a Deus!
76
Eu peço mais um gole e nada mais,
Não vejo outro caminho senão esse
Sem ter a fantasia que comesse
Eu lambo os teus sonetos imortais.
Macacos não me mordam; quero paz,
Escrevo as baboseiras que quiser
Se eu tenho muita queda por mulher,
Amigo: vá procurar teu rapaz...
Capaz de chover forte, até granizo,
Se eu trouxe ou se não trouxe o guarda-chuva
Escondo-me no quarto da viúva
Dinheiro do motel; economizo.
E que se dane enfim a poesia,
Safada e sem vergonha; uma vadia...
77
Eu peço encarecido à luz solar
Que não desfaça o sonho desta dança
Que sabes muito bem nos faz sonhar
Com gosto e com magia sempre alcança
Os lumes verdadeiros corre o mar
E traz neste seu canto uma esperança
Divina de poder enfim amar,
Com toda uma alegria que não cansa.
Não deixe este poeta solitário
Que vive por teu brilho em seu caminho.
Por mais que o sonho te pareça vário.
No fundo tu bem sabes quanto a quero.
Em teus raios de luz, em teu carinho,
O bem de toda a vida sempre espero...
78
Eu peço a luz do dia que te roube
E leve para mim, amor imenso.
De tudo que na vida não me coube
Vital felicidade, sempre penso.
Ao ver tua beleza, assim, infinda;
O sol em desvario quis levar.
Em raios na manhã o sol deslinda
A forma de poder se enamorar.
Não deixe que este deus, de mim te leve;
Não deixe que estas luzes te seduzam.
Amor por ser sincero nunca é breve,
Que os nossos sonhos sempre nos conduzam.
Minha amada, agasalha-me em teu seio;
Impeça que se viva em tal receio...
79
Eu passei pela vida, tão somente,
Esculpindo o que pensara liberdade.
A vida sonegando esta semente,
Cevando ervas daninhas. Fria grade.
A cada novo tempo que degrade
O que restou dos sonhos, se pressente
A faca que se afia na inverdade
No corte mais profundo que atormente.
Levado pelas águas, quis a foz,
O amor que não chegou, pobre de nós,
Calando a minha voz trouxe o vazio.
Porém um coração cego e vazio,
Ainda teima, vaga pelo mundo,
Qual pária, sem destino, vagabundo...
80
Eu ouço alguém batendo em minha porta,
Mas quem será que nessa madrugada;
Bate assim, procurando pelo nada...
Minha esperança há muito está tão morta...
Batendo, fortemente, quem se importa,
Uma vida vazia, abandonada...
Esquecida num canto, assim jogada...
Quem irá se importar? O frio corta,
E na porta sinais duma existência,
Lutando mais feroz, a persistência
Com que bate, trará um novo alento...
A quem ,abandonado, não tem paz;
Quem será? Ao abrir, sofrer não mais...
Porém, ninguém batia, só o vento...
81
Eu quero beber toda esta aguardente
Guardada no teu corpo, com furor.
A noite se passando sempre ardente
Em fogos delirantes tanto ardor.
Em toda fenda e toca um porto quente
Aonde desembarco e quero por
Profana sensação, demais urgente,
Em lânguida vontade a se compor...
Jograis desenvolvidos nos lençóis
Folguedos entre sedas e cetim,
Jornadas de querência e muito mais
Trazendo para o jogo em raros sóis
Todo o desejo vivo dentro em mim,
Total lubricidade que ofertais...
Marcos Loures
82
Eu quero amor canalha da princesa
Domínio da total inconsciência.
Comendo e me fartando nesta mesa
Mandando para a merda uma decência;
Amor que já não tendo coerência
Expõe qualquer vontade sem defesa
E crava com desejo em eloqüência
Mudando ao bel prazer velha tristeza.
Sem ter a falsidade como lema
Amor já se entregando sem problema
Faz festa e se permite mais safado.
Não quero mais censura nem juízo,
Abrindo devagar o paraíso
Na delícia sublime de um pecado.
83
Eu quero amar liberto das amarras
Sem farras sem ter tramas sem entranhas...
Amar tão livremente sem ter garras,
Apenas nossas noites pouco estranhas...
Amar com gosto leve da maçã
Com cheiro dessa terra já molhada,
Sem medo se terá um amanhã.
Apenas ser amado, minha amada...
Eu quero amor que traga a fantasia
Suave desse canto sem promessa.
No riso se estampando uma alegria
De ser assim somente sem ter pressa...
Eu quero um grande amor que me acompanhe
Que sempre esteja aqui, nem perca ou ganhe...
84
Eu quero amanhecer junto contigo,
Depois de tantos sonhos em conjunto.
Sabendo que vivemos em perigo,
Amor que desfrutamos; mesmo assunto...
É muito bom saber o teu sabor,
Nos sabres e nas tocas, a guerrilha...
Vertendo nas entranhas, tanto amor.
Fazendo em cada sonho, maravilha...
Não deixe que esta noite determine
A seca que devora e que destrói...
Permita assim que sempre se alucine
A vida que carinha e tanto dói.
O vento que bateu tão molemente,
Precisa de carinhos, novamente...
85
Eu quero além do mar de uma amizade,
Estar ao lado teu a cada dia.
Compartilhar assim felicidade
Mostrando ao mundo inteiro esta alegria
De ter a moça bela que sonhara
Há tempos do meu lado, companheira
A jóia mais gentil, perla tão rara
Trazendo uma harmonia verdadeira
Fazendo de meu canto, uma oração
À luz desta amizade dedicada,
Palavra que demonstra esta emoção
A cada novo dia demonstrada.
Amada amiga, venha neste instante
Seguir por esta estrada deslumbrante!
86
Eu quero a tua boca em meu caralho
Lambendo devagar a cabecinha,
Depois irei chupar tua xaninha
Enfiando meus dedos no teu talho.
Na cama em que te fodo e até me espalho
Te quero bem safada e gostosinha
A dona dos meus sonhos, bem putinha
Fazendo do meu corpo um agasalho.
Empinando este rabo, uma potranca
Espera com desejo o garanhão
Seguro bem mais forte com tesão
Requebras engolindo o pau, cada anca
Presa em minhas mãos, enfio fundo
Com meu leite, a xoxota, agora inundo...
Marcos Loures
87
Eu quero a sensação da liberdade
Do vôo deste canto que te fiz.
Bem sabes navegar eternidade
Por mundos que procuras, mais feliz...
Amor-hemorragia, nunca estanco;
Não deixa de sangrar por cada poro.
Em toda esta esperança me alavanca,
Num sonho em fantasia me evaporo.
E sinto teus desejos satisfeitos
Nos gozos mais profanos e benditos.
Lençóis e travesseiros vão desfeitos
Nos toques mais profundos e bonitos.
Amada, delirantes nossos vícios,
Mergulhos neste mar, nos precipícios
88
Eu não quero sentir mais solidão;
Cansado de bater na tua porta
Bem sei que raramente isso te importa
Mas, quem sabe, talvez hoje, isso não.
O meu peito em total ebulição
Ao quarto de meu bem, já me transporta,
Enquanto a fantasia vem e aporta
Encontro o que sonhei: atracação.
Realizando enfim o meu desejo,
O corpo num mergulho esquece o pejo
E vaga por teus portos e fronteiras.
Alheio aos desencantos do passado,
Futuro em claridade anunciado,
As nuvens se dispersam tão ligeiras...
89
Eu não quero mais palpite
Nem suporto algum otário
Que não sabe do limite,
Pois não ganho nem salário
Se o lacaio me permite,
Nunca tive um adversário,
Por mais que este porco grite
O meu verso é um corsário
Arrebentando o navio
Destroçando o seu paiol,
Acendendo o meu pavio
O teu rabo se incendeia
Se eu jamais fui girassol,
Não suporto mulher feia...
6490
Eu não quero estas juras que fizeste
Amor quando é sincero não quer juras,
De tanto sentimento se reveste
Não digo que por isso tu perjuras.
Apenas não precisa ajoelhar-se,
Eu sei quanto te quero e quanto queres,
Não cabe em nosso caso algum disfarce
Conheço este banquete e seus talheres...
Não faço nem promessas, sei que te amo,
E basta pra que eu seja mais feliz,
Bem sabes que teu nome sempre chamo,
Por isso, meu amor, sempre te quis...
Tu és toda a certeza de uma paz,
Te amo e simplesmente, quero mais...
91
Eu não quero esquecer o que senti.
Guardado no meu peito, um relicário,
Amor, eu sei o quanto é necessário,
Por isso é que hoje escrevo para ti.
O resto da canção, ouvido aqui
Falando ao coração tão solitário
Dizendo ser decerto temerário
Viver a relembrar o que perdi.
Mas danem-se os arautos da tristeza,
Saudade quando põe e tira a mesa
Permite pelo menos que se sinta
E ainda se perceba a antiga tinta
Que um dia matizou nosso passado,
Sabor mesmo que seja requentado...
Marcos Loures
92
Eu não quero a contemporaneidade
Das velhas novidades num museu.
Se até o modernismo já morreu,
A discussão virou banalidade.
Ninguém pode ser dono da verdade,
Eu sei que não és tu, nem tampouco eu,
Cultura desconhece o apogeu
Na escuridão de um mar: boçalidade.
A moça surfistinha faz sucesso,
A poesia viva no Congresso
Assume a presidência, está de Fogo.
Não quero discutir alho ou bugalho,
Pensar sobre o vazio dá trabalho,
Amigo, caio fora deste jogo...
93
Eu não que dinheiro que me atente
Nem mesmo uma riqueza sem proveito,
Vivendo por viver vou, de repente
Singrando cada porto no teu leito.
E espero ser decerto, sempre aceito,
Deixando o dia-a-dia mais contente,
Estrelas que vislumbro quando deito
Num brilho fascinante e tão freqüente...
Na sala de jantar, canteiro e quarto,
Até que extasiado, pleno e farto,
Adormecendo após mil devaneios
Sabendo desfrutar de cada gole,
Enquanto a poesia chega e bole,
Meus dedos vão roçando belos seios...
Marcos Loures
94
Eu não lamentarei a minha sorte,
Por ela procurei o tempo todo,
E enquanto mergulhei fundo no lodo,
Preparava seu bote a doce morte.
Fazendo poesia por esporte,
Na lua que minguou; passando o rodo,
Não posso me queixar mais deste engodo,
Pois sempre adivinhei tamanho e porte.
Coloque esta viola então no saco,
Contente-se em comer somente um naco
E deixe em paz quem sempre foi simplório.
Convite preparado, meu amigo,
Pode vir. Não existe um só perigo,
Espero te encontrar no meu velório...
95
Eu não irei jogar minha toalha,
Teimoso, não me canso de tentar,
Buscar no céu escuro, este luar,
No amor jamais um campo de batalha.
Enquanto farta luz, meu sonho espalha,
Chegando mansamente, devagar,
Encontro o que pensei poder tocar,
O que sinto não foi fogo de palha...
Bendita seja a sorte que nos guia,
Causando um maremoto em calmaria,
Fulguras sem ser fátua nem fugaz.
Acendes o pavio e me incendeias,
Prazeres que revelas são candeias
E à noite vens sedenta e tão voraz...
Marcos Loures
96
Eu não irei fazer o que tu pensas,
Tenha a certeza disso, companheira.
Não traria sequer as recompensas,
Pois não seria sempre verdadeira
Atitude que quero mais sincera.
O fato de ser teu não significa
Que possamos viver sem ter espera,
Mesmo a dor, muitas vezes, edifica...
Eu quero, o que tu fazes, meu amor.
Adoro cada gesto mais audaz,
Mergulho no teu mundo sem temor,
Encontro tanta guerra em santa paz.
Eu amo o que tu pensas, cada gesto,
Mesmo aquele que, sabes, eu contesto...
97
Eu não desejo o mal a ti, mulher;
Embora maltratasse quem te adora.
Porém, meu amor haja o que houver
Te quero, sem ter medo e sem ter hora.
Eu sei que irás sofrer; mas o que faço?
Trouxeste tantos males para mim.
Vencida pelo amor e por cansaço,
Adormeceste calma... Mas assim
Como fizeste, sinto que terás
As dores que outras vezes me causaste.
Por mais que te desejo amor e paz,
Não posso me ocultar deste desgaste.
E mesmo que eu te cubra em ouro e cobre
Eu não posso impedir que a vida cobre...
98
Eu não consigo crer na liberdade
Vendida nas Igrejas e nos bares,
Matando Jesus Cristo em seus altares
Pastores sonegando uma verdade.
Mantendo vergonhosa e dura grade,
Quilombos de esperança, novos mares,
As luzes invadindo ledos lares,
E o fim salgando o porto. Falsidade...
Servindo aos mais terríveis despropósitos,
Os bolsos com certeza são depósitos
Aonde se profana o Deus menino.
Cadáveres deixados no caminho,
A rosa sonegada em prol do espinho,
Gerando dia a dia, o desatino...
Marcos Loures
99
Eu não conhecerei mais liberdade
Na morte que não quero carregar,
Martírios vão distantes do meu mar
Se a gente renovasse a mocidade...
Mas vendo tão somente o que em verdade
Não posso e nem consigo desfrutar
Eu bebo toda noite este luar
Sabendo em cada raio, falsidade.
Quem dera a vida fosse em paz, harmônica
Porém a solidão se faz atômica
E deixa o coração em sobressalto.
Tomando a minha vida já de assalto,
Interagindo sempre com vazio
Invento um novo dia sem fastio...
Marcos Loures
6500
Eu não carrego a sombra que já fui
Nem lembro de esperanças lá deixadas.
Os olhos renasceram, vida flui
Nem deixa nos caminhos; mais pegadas.
A noite agora é quente e tão febril
Em beijos e carinhos que se trocam,
Amor que é delicado e assim sutil
Humores e desejos que se tocam.
Versejo sobre chamas que incendeio
E faço tantos versos benfazejos
A lua que reflete no teu seio
Espelha nos meus olhos, os desejos.
Sugando nas aréolas meus prazeres
Fulgores que terás quando quiseres...
01
Eu não abusarei mais da bebida,
Cachaça com limão, conhaque e vinho,
De limão, de laranja, uma batida
Depois quando reparo; estou sozinho.
De todas; a cerveja é preferida,
Bebendo num boteco ou num barzinho,
Birita é muito bom e ajuda a vida
De um pobre trovador. Beba um pouquinho...
Verás um jacaré que sob a cama,
Abrindo uma bocarra não reclama,
Diferente da praga desta cobra,
A mãe desta infeliz que me suporta,
Porém eu vou fechar a minha porta
Pra sogra e pro portuga que me cobra...
502
Eu nada te ofereço senão isto:
A sensação profana de um prazer
Que existe no meu corpo e não desisto
Enquanto não puder te conhecer
Inteira já desnuda em minha cama,
Fluindo no teu corpo meus anseios,
Acesas as loucuras nossas chamas,
As mãos deliciadas nos teus seios.
O gosto de teus lábios sobre mim,
Até que nossos mares inundados,
Bebendo cada gota até no fim.
Depois quando estivermos mais cansados,
Sorrindo neste arfar delicioso,
Adormecer meu mundo em cada gozo..
3
Eu nada mais teria dessa infância,
Não fosse teu sorriso, mãe querida...
As dores que trouxeram repugnância,
Por certo amenizadas, tua vida...
Perdida no passado a velha estância;
Meus sonhos pueris, sem ter ferida...
Só para ti terei grande importância!
És o resquício vivo da perdida
Felicidade audaz, da liberdade!
Minha alma virginal, tanta saudade...
As dores violentaram a minha alma.
Caminho carregando triste peso.
Quem me dera escapasse assim, ileso.
Mas a tua presença sempre acalma!
4
Eu nada mais pretendo senão ter
A mansidão de um lago em minhas mãos...
Depois de tantas vezes me perder
Em sonhos que se foram, quase vãos...
Eu sei que tu virás mulher amada,
Na boca desta noite que aproxima.
O canto mais sutil não diz mais nada
Talvez amor e dor sejam só rima.
Do outono que atravesso, essa lição:
Não deixe mais o medo te embalar;
Entregue-se corpo, alma e coração.
E vamos rumo ao sol comemorar
O retorno divinal da primavera
Matando a solidão, amarga fera!
5
Eu mudo totalmente a minha história
E caço todo rastro benfazejo.
A dor já não habita esta memória
Agora ser feliz é o que eu almejo
Não quero mais a lua merencória
Tocado pelo vento do desejo,
Encontro em teu abraço minha glória
Futuro bem suave, enfim prevejo.
Quem teve esta amizade como norte
Cicatrizando em paz um fundo corte,
Já segue o mundo feito em esperança.
O canto que me trazes; cara amiga,
Permite imaginar que assim prossiga,
Certeza de viver divina dança.
Marcos Loures
6
EU ME RENDO À PERFEIÇÃO
DOS TEUS VERSOS MEU AMIGO,
DEIXEMOS DE CONFUSÃO
SÓ A PAZ, ENFIM PERSIGO,
MAS CHEGANDO A CONCLUSÃO
EU REPITO O QUE TE DIGO,
VERSEJAR COM EMOÇÃO
PRESERVA CONTRA O PERIGO
E DOS ERROS QUE COMETO,
SIGO CÔNSCIO, TE GARANTO
NA VERDADE EU ME ARREMETO
PORÉM VENHO TE PEDIR,
INSISTO E VOU REPETIR
SÓ NÃO MALTRATE O SONETO!
7
Eu nunca poderia decifrar
Sinais que tu deixaste por aí.
Se tantas vezes louco eu abstrai
Detalhes que não posso mais calar
Apêndice somente, ou mero par,
Por tanto que eu quero, distraí,
O peito sem juízo, quando abri
Matei o que restou. Foi devagar.
Metade do que fomos jogo fora
Porém da outra metade eu me alimento.
Eu quero uma resposta sem demora,
Mas temo o resultado da conversa,
Quem dera se tivesse outro momento
Minha alma não seria tão dispersa...
8
Eu nunca mais terei contentamento
Se não tiver teu corpo contra o meu,
Numa explosão de imenso sentimento
Que forma, num instante, luz no breu.
Um sentimento assim, que me entontece
E me faz perder senso e ser audaz,
Numa emoção que sempre vem e cresce
Em forma de esperança mais tenaz.
Eu nunca mais terei uma alegria
Que não surja do amor que hoje me cura
Em toda uma beleza em sintonia
Depois de meio século em procura.
Eu nunca mais verei u’a solução
Distante do sangrar de um coração...
9
Eu nunca irei contigo em teu caminho,
Arrasto essas correntes do passado.
Fantasma que nasceu, viveu sozinho,
Por certo irá morrer mais isolado...
Amiga teu amor eu não mereço,
Meus passos são doridos pra quem sonha...
Preparo tanta dor, tanto tropeço,
A lua, em vinho tinto, tão medonha...
Quem sabe, encontrarás felicidade,
Nos braços que dominas, não os meus...
Talvez envolta em laivos de saudade,
Descubra que meus olhos são ateus...
Farei a caminhada em dor mais forte;
Rumando sem ter pressa, para a morte...
6510
Eu nunca deixarei de te querer
Embora tantas vezes não é fácil.
Tu tens a maravilha, sendo um ser
Que ensina-me a saber o que é ser grácil.
Não quero me apartar dos teus sentidos
Amor é sentinela vigilante;
Não deixa que os soldados combalidos
Guerreiem nem bem antes nem durante.
Eu falo destas ondas que refazem
Escumas nas areias da ilusão,
Levando uma saudade sempre trazem
As fases que se esperam da emoção.
Tão cedo o negro manto da saudade
Não venha p’ra ofuscar a claridade...
11
Eu nunca deixarei de sempre amar
Crisálida se faz em borboleta
Levando em suas asas o luar
Mantendo a claridade como meta
Completamente solta vai liberta
Buscando sempre a luz da estrela guia,
Do quanto a vida; às vezes, nos alerta
Ao mesmo tempo foge enquanto cria
Atravessando a noite encontro o lume
E dele tantas vezes sobrevivo.
No vício extasiante de costume
Decerto deste algoz, vivo cativo.
No quanto que inebria a claridade
Esqueço; hipnotizado, a liberdade...
Marcos Loures
12
Eu num sussugo mais dispois que vi
A moça mais férmosa do lugá,
O sór di minhã cedo vem briá
Dizêno desse sonho que eu vivi.
Beleza sem iguár incontro aqui
Fazeno o coração se apaxoná
Sorrino só pru móde provocá,
Brejera essa cabocla. Vem praqui.
Fazê tanta bestage, vem comigo,
Li juro meu amô, num tem pirigo,
Dispois num vô vazá no capinado,
A gente necessita de carim,
Num dexa esse caboco aqui sozim,
Vem logo de mansim, vem pru meu lado!
Marcos Loures
13
Eu não vou te deixar no caminho,
Sem estrelas, sem sol, e sem lua.
Se não posso conter-te em meu ninho,
Nossa vida, porém, continua.
Quero um sonho espelhando alegria,
Se puderes, amor, te agradeço.
Minha vida em total fantasia,
É somente o que peço e mereço.
Mas se queres seguir tua estrada
Noutros braços, amor, vá em paz.
Reconheço meus erros, amada,
Não irei te seguir, tanto faz...
Abandono meu bem, eu supero,
Te garanto que, a mim mesmo, eu quero!
14
Eu não teria nunca piedade
Também não a desejo pra ninguém.
O calo quando aperta de verdade,
Descarrilando o velho e antigo trem
Faz tempo que eu caminho em liberdade,
Esta estrada; conheço muito bem,
Meu ídolo já foi Marques de Sade,
Mas quero descansar. Se a noite vem
Trazendo a tempestade , quero paz,
Em plena ventania bebo a brisa,
Só desse jeito o amor te satisfaz
Então, eu não irei mudar teu norte,
Em outros sóis teu corpo se matiza,
Só posso desejar-te: boa sorte!
Marcos Loures
15
Eu não tenho medo: sei que noite vem...
Amar não tem segredo, sinto que virás.
Tramar um novo enredo, te quero, meu bem...
Nunca é tarde ou cedo, te quero demais...
Amor que quero tanto. Saiba que te adoro,
Não temo mais pranto, vivendo esse amor.
Em teu manso encanto, cores que decoro,
Versos que te canto, perfumes de flor...
Ondas de ternura recebo em teu braço.
Tanto amor me cura da dor que trazia
Sentindo a brandura, nosso firme laço;
Lume em noite escura, vem no novo dia...
Tanto amor eu sinto que jamais acabe
Nas cores que pinto, tanto amor se sabe!
16
Eu não te amo qual pérola, esmeralda,
Tampouco por ser fogo, ardente chama,
Se às vezes a leda alma te reclama,
O sonho de te ter não se desfralda,
Aguardo-te somente em cada curva,
Não vejo uma esperança como guia,
Ascendo num momento à fantasia
E a vista vai quedando, quase turva.
Não te amo por saber de tua história,
Nem mesmo por seguir um doce instinto,
Se camaleônico, eu me tinto
Persisto neste amor, mesmo que a glória
De amar-te seja só por ter amor
Ao belo amor que amor já vem propor...
17
Eu não te amo do modo mais sereno
Que poderia apenas dar em nada.
Amo tuas vontades, teu veneno,
E a forma de quereres ser amada.
Da mansa sensação deste perigo
Que a noite vem trazendo e te inebria...
Dessa doce emoção, sou teu amigo,
E cobertor na noite dura e fria...
E quando tu me lambes; já me mordes.
A tua garra afias nos carinhos...
Desejo em madrugada quer que acordes
E rasgas com teus dentes, sangras, vinhos...
Bem sei de qualquer lua, santa e pura,
Profana e sensual, doce loucura...
18
Eu não suporto um lacre nem algemas,
Se vou ou permaneço, problema meu.
Às vezes um cristão, noutras ateu,
Os olhos vêm e vão, velhos dilemas.
Mas quando tu vieres, nada temas.
A boca desdentada não mordeu,
O rumo que eu buscara se perdeu
Vontades se mandaram. Piracemas...
Cachaça com limão diz solidão
Prefiro uma pinguinha ao doce vinho.
Bastando a lua cheia e um violão
O resto a gente leva de mansinho.
Das cordas e dos sonhos, a canção
Espalha aos quatro cantos, o carinho...
Marcos Loures
19
Eu não suporto mais tanto desdém,
Herdeiro do vazio, pleno em dor,
Dos sonhos um eterno lavrador
Procuro por teus braços, nada vem...
Pergunto por teus passos, mas ninguém...
Ausência de ternura mata a flor,
A noite se aproxima e no sol-pôr
A nuvem que rondava está também
Em trevas vão passando as minhas horas,
Os dias em verdade são iguais,
Anseio pela porta que, fechada
Responde que não vens, em tais demoras
Distâncias se tornando siderais,
Traduzem o que eu sou, decerto o nada!
6520
Eu não suportarei mais tua birra,
Em mimos eu falhei, e reconheço.
Se eu trouxe para ti incenso e mirra
Bem na hora do tesouro, o meu tropeço.
A nossa desavença amor acirra,
Nas tramas de meus erros, descabeço,
Sobrando algum pastel queria esfirra,
Porém nem os farelos eu mereço.
A chapa se esquentou, vou dar o fora,
A boca me beijou, mas não quer mais.
Quem teve um pesadelo, sem demora
Não quer sequer dormir, fico acordado.
Podem ser os incômodos mensais,
Porém não vou ficar mais ao teu lado...
Marcos Loures
21
Eu não serei apenas o que queres
Tampouco o que sonhaste para ti.
Cada ser tem os próprios caracteres,
Também não busco em ti o que perdi.
Na mesa dessa vida mil talheres
Vivo banquete imenso encontro aqui,
Mas não serei apenas o que feres,
Nem sob os teus olhares me escondi.
Sou livre e quero ter tal liberdade
Que jogue meu futuro contra o teu,
Em ti, meu grande amor, felicidade
É mais do que pensara e procurei,
Embora, tanta coisa aconteceu
O amor da minha vida eu encontrei...
22
Eu não sei se este amor é turbilhão
Que sempre arrastará para o oceano...
Pecando, não salvarei meu coração,
Mas jamais esqueci todo esse engano...
A corda que arrebenta, um violão,
Me arrastando ronronas, meu bichano,
Não posso te negar o meu perdão...
É mais que valentia, é sobre-humano...
É mais forte que tudo que pensei,
Nada me impedirá de ser feliz...
Nas estradas que deste, foste lei.
No mundo que me leva, um aprendiz,
Se nada mais perdi é porque sei,
Que viver ao teu lado é por um triz...
23
Eu não quero sequer medo de morte,
A sorte de viver não mais me encanta.
Me encanta simplesmente minha sorte
O canto que trouxeste, me agiganta!
Garganta milagrosa, canto forte,
A força do teu mundo, na garganta.
Um forte sentimento me levanta,
Levantes que trouxeste, grande porte...
Comportas tantas portas e saídas
Sorvidas minhas sortes já confortas.
Compostas de respostas divididas,
As vidas que divides, vão ao norte.
Norteio meu amor por tuas portas,
Conforta-me não ter medo de morte!
Marcos Loures
24
Eu me afogo no mar dos olhos teus,
Na viva sensação de ser feliz.
Porém todo o temor de um ledo adeus
Turvando lentamente este matiz.
Do azul tão cristalino, negros breus,
Trazendo a minha sorte por um triz.
Teus olhos serão sempre assim tão meus?
E nada nem ninguém vem e prediz.
Doçura dos venenos mais fatais,
A cura e a doença compartilham
As cores dos teus olhos... Nada mais
Traduz o que pressinto mas não quero.
Destinos bem diversos olhos trilham,
O que jamais virá ou o que espero?
25
Eu louvo o nosso amor em cantoria
E faço os versos todos em repente.
O amor ao transbordar tanta euforia
Percebe e me concede estar contente.
Amor nunca se aprende num colégio,
É força que, inerente, já nos doma.
Amar não poder ser um sacrilégio
Em desamor se faz uma redoma
Que impede qualquer vento, qualquer brilho,
Matando uma esperança no marasmo.
Permita-me seguir teu passo e trilho,
Certeza de vibrarmos num orgasmo
A glória deste encanto que sem fim,
Apoderou-se inteiro, já de mim...
26
Eu louvo em cada verso uma amizade
Que vem sem ter cobranças ou descontos.
Num justo sentimento, a claridade
Atinge nossa vida em tantos pontos.
Caminhos que se mostram na verdade
Não são definitivos nem vão prontos
Porém ao definir prioridade
Não devemos vagar ermos e tontos.
Ao lado de quem posso confiar
O passo vai mais forte e mais preciso.
Às vezes tão depressa ou devagar
Mas sempre na constância necessária,
Apoio não somente é dar aviso
Compartilhar a curva temerária...
27
Eu levo esta mortalha sem sentido.
O raso de meus olhos pede espaço,
O pranto deste parto mal vivido,
Trazendo ao fim de tudo, este cansaço.
A morte eu quero minha e não divido,
Apenas bancarrota firma o laço,
O barco se abarrota e vai sorvido
Caindo mansamente em teu regaço.
Vestido de esperança, mato a brisa,
Se eu quero a ventania, não confesso.
A boca que devoro me hipnotiza.
Nascido pra fiascos, não resisto.
Delícia em morbidez assim professo,
No amor que tu me tinhas, sou Mefisto...
28
Dois adolescentes alemães que faziam sexo pela primeira vez foram interrompidos por um incêndio causado pelas velas colocadas sobre a cama, no sótão da casa dos pais da menina.
Quando os lençóis começaram a pegar fogo, o casal foi forçando a fugir pelados, informou o jornal alemão 'Bild' nesta sexta-feira (17).
A garota queria criar um clima romântico para a ocasião. Mas, quando o quarto foi tomado pelo fogo, eles fugiram desesperados.
O casal, ambos de 18 anos, foi fotografado sem roupa entre os destroços do sótão.
Um ursinho de pelúcia chamuscado sobreviveu, mas o fogo destruiu todo o andar superior da casa, causando um prejuízo no valor de 100 mil euros.
Fonte G1 PORTAL DA GLOBO.COM
Eu lembro-me de nós adolescentes
Na chama da paixão inesgotável.
Dos lábios em furor, beijos tão quentes
Vontade de te ter, incontrolável...
Nossa primeira vez? Inesquecível.
Deitados já desnudos, maravilhas
No fogo do desejo, coisa incrível.
Iria descobrir divinas trilhas,
Levaste teu ursinho predileto,
Eu disse que seríamos fogosos
Serviço prometido? Sim, completo.
Os jovens sempre são voluptuosos...
Amor literalmente incendiado...
Porém em tanto ardor, fui chamuscado...
29
Eu lembro quando à noite nós vagávamos
Em festas, fantasias, tão profanas
Nos bares e em orgias demonstrávamos
Desejos e paixões, decerto insanas...
Bacantes na procura de prazer,
Sodômicos, gomórricos, vadios.
Luxúrias e loucuras... posso ver,
Eu não desperdicei nenhum dos cios
Porém o tempo mostra em suas garras
O quanto é necessário ser feliz.
Maturidade mata as velhas farras
E deixa tão somente uma saudade
De tudo o que vivi e do que fiz
Amei até demais, eis a verdade...
6530
Eu lembro das crianças que nós fomos,
Correndo nos quintais de uma esperança.
O vento que me toca, das lembranças,
Traz frutas, artimanhas, jogos, gomos.
Destes pomares – passado – caem pomos
Que juntos se demonstram alianças
Marcados por saudade e temperanças,
Refaço na memória o que nós somos.
A vida se passou mais desastrosa
Assim nos afastando, caro amigo.
Por vezes maltrapilha e dolorosa,
A sorte se banhando em vil perigo,
Porém resta a certeza, caprichosa,
De que sempre estarei junto contigo.
31
Eu leio no teu corpo estes sinais
Que assim traduzo em gozo delicado,
Percebes que te quero e sempre mais,
Debruço sobre ti, meu verso amado.
A noite transcorrendo em plena paz,
Esgueira em nossa cama, um bem traçado
Caminho que por certo satisfaz
Um sonho cem por cento iluminado...
Escrevo no teu corpo, com meus lábios,
Que sabem decifrar, por serem sábios
Vontades e desejos, desafios....
As curvas mais gostosas eu decoro,
Em alguns pontos, tanto me demoro
E exploro a noite inteira, doces cios...
32
Eu juro te amarei por toda a vida
Até por outras vidas se tiver.
A tua imagem sempre tão querida,
Mostrando esta beleza que é mulher.
O meu empedernido coração
Ao ver o teu encanto amoleceu,
Trazendo para a vida uma emoção,
O meu amor é todo, todo teu...
Enquanto respirar serás meu ar,
O sangue que me corre pelas veias.
Não deixo meu amor de te adorar,
As luas, nossas noites, sempre cheias...
Tu és o lenitivo para a dor,
Tu és o meu amor, encantador...
33
Eu juro que perjuro e te esconjuro
Seguro meu amigo, morre velho,
Telhado se é de vidro, não entelho
Nem mesmo irei pagar tão alto juro.
Se a fêmea se mostrou rebolativa
A moça tanajura tem seu charme,
Acenda dos enganos este alarme
E terás tua alma salva, sempre viva...
Um chute na canela do lirismo,
Um ato sem igual, puro heroísmo,
Serei piromaníaco querida,
Batendo no idiota e no servil,
Mandando para a puta que pariu
A velha carcomida e distraída...
34
Eu juro que não tenho documentos
Sequer assinaturas. Desconheço
Se trago alguma forma de endereço
Jogando meu destino pelos ventos.
Depois noutros sertões assentamentos
O fim não justifica o recomeço,
Não uso mais enfeite ou adereço
A alegoria morta sem alentos.
Retiro o que escrevi sobre meus erros,
Às vezes informais trazem desterros
Por onde caminhou minha alma amarga.
A base destruída de uma estátua,
A vida não seria assim tão fátua,
Porém a tua garra não me larga...
35
Eu juro eu não entendo a vaidade
Que mostras ao andar tão empinada.
Qual fosse derramar a claridade,
Rainha do boteco e da calçada.
Não vês que desse jeito, causas riso,
Pois pensas ser rainha e soberana,
Querida, ouça-me bem, pois é preciso,
E falo como quem, nunca te engana.
Mulher é na verdade, tão comum,
Embora artigo bom, isso eu não nego,
Não quero te ofender de modo algum,
Mas olha, pode ver.,.. eu não sou cego.
Tu tens que ser mais que isso, muito além,
Até pobre, querida, mulher tem!
36
Eu já fiz minha varanda
Olhando pra lua cheia
Meu amor, louca ciranda
Que decerto me incendeia
Coração quando desanda
Morre na praia, na areia,
Mas, pesado, anda de banda,
Isso é culpa da sereia
Que na varanda surgiu,
Como a lua iluminando,
Roseiral então se abriu,
Tanto amor chegando em bando
Já não sei o que fazer
Da sereia tão bonita
Que matando de prazer,
Todo amor já ressuscita...
37
Eu guardo o teu retrato nos meus olhos,
Imagem que não sai mais da retina,
Enquanto a minha vida desatina,
Colhendo em meus canteiros, os abrolhos
Eu vejo uma esperança de poder
Voltar a ter um sonho novamente,
Teu rosto permanece em minha mente
Qual fosse um belo e raro amanhecer.
Saber que tu virás mal surja o dia
Dourando o céu em clara fantasia,
Numa expressão suave que me acalma
Permite que eu conceba uma esperança
No teu olhar eu tenho esta fiança
Apascentando enfim uma triste alma...
Marcos Loures
38
Eu guardo cada dia na memória,
E todos os momentos, bons ou maus,
Saveiros da lembrança, velhas naus
Estrada magistral ou merencória.
Histórias que vivemos; meu legado,
Herança que carrego aqui comigo,
Às vezes meu relento, outras abrigo,
Mel com amargor bem temperado,
Extremos que se tocam e misturam
Delícias com terrores, fogo e gelo.
No emaranhado intenso, este novelo;
As dores e os prazeres se depuram,
Ternuras e rancores, sede e pote,
E este arrepio intenso em meu cangote...
39
Eu gosto que me enrosco de um carinho,
E sei que isso talvez seja possível,
Cenário que tu moldas de mansinho
Depois de certo tempo fica incrível.
Nas mãos de um alquimista algum cadinho
Acende da esperança este fusível,
Se eu tento e me arrebento me avizinho
Fazendo do teu fogo, um combustível.
Não quero ser bisonho nem tacanho,
O jogo na verdade não foi ganho,
Apenas um momento de ilusão.
A bola busca a rede e faz o gol,
O amor que em rara chama me ofuscou
Adoça o meu amargo coração...
Marcos Loures
6540
Eu gosto que me enrosco de teu jogo
Fazendo nossa noite mais gostosa,
Tocando minha pele com teu fogo
A vida passa a ser maravilhosa,
Amada, aqui te espero, venha logo
Eu quero tua boca tão formosa,
Aconchegado em ti de amor me afogo
E a noite vai passando luminosa.
Sentir este alvoroço, um arrepio
Beijar em teu pescoço, ser teu par,
No amor em que remoço, me sacio
Teu corpo é um colosso, é divinal.
Desejo teu endosso sem parar.
No mel em que me adoço, sensual,
41
Eu gosto quando falas deste amor
Que sinto não virá no trem das sete.
Ficando na estação do Redentor
Que se ata, se desata e não remete...
Amiga seu amor não terminou,
Nem termina se nunca teve fim.
Talvez possa até ser não começou,
Seu rio não deságua mais em mim.
Mas quero teu carinho bem cuidado,
Com gosto generoso de paixão;
Delícia de saber deste pecado,
Pacato; vou levando essa emoção.
Mas quero teu sonhar, sou teu amigo,
Em mansa tempestade, o teu abrigo...
42
Eu gosto do que gostas a me fartar
E como, lambo os beiços, faço a festa
Mas quando a noite chega e desembesta
Eu não sou besta e bebo o teu luar.
Há tempos não freqüento nenhum bar,
Tampouco taco fogo na floresta,
A minha vida é fútil, mas honesta
Sou peixe fora d’água. Cadê mar?
Uma cigana lendo a minha mão,
Adivinhou a sina de poeta,
Tendo a felicidade como meta
Não vejo pro meu caso, salvação.
Saudade dos tremoços, do conhaque?
Realidade fria dando um baque...
43
Eu gosto do perfume da xaninha,
Perdoe-me quem deveras me critica
Enquanto eu a percebo molhadinha
A seta latejante já se estica.
Aberto, este caminho, a minha pica
Decerto vai ficando assanhadinha
Vontade que se tem e não se explica,
Bulir com a fogosa bucetinha...
Desenho no teu corpo, um belo gráfico
E embora te pareça pornográfico,
Meu verso é na verdade, intuitivo.
Gostosa sensação, não é pecado,
De um jeito mais sacana e tão safado,
Meu corpo da xereca? Vai cativo...
Marcos Loures
44
Eu gosto do perfume da mulher
Que veste uma esperança e vai à luta,
E quando o bicho pega, bem astuta
Encara com ternura o que vier.
Sabendo desde sempre o que mais quer,
Por uma coisa boba já se enluta
Depois levanta os olhos e sorri,
Sem temer tempestades ou acasos,
Na força que demonstra; eu percebi,
As flores valorando belos vasos,
Delicadeza planta lá e aqui
E na hora agá respeita metas, prazos.
Eu gosto do balanço dos quadris,
Da deusa disfarçada nesta atriz...
45
Eu gosto de você assim safada
Aberta arreganhada, bem vadia,
Ó puta dos meus sonhos não sou nada
Sem ter a tua boca que me guia
Chupando o meu caralho com vontade,
Depois abrindo as pernas, na xaninha,
Entrando enquanto rasgo com vontade
O dedo enfiando na bundinha.
Não deixo um orifício então vazio
Na boca, na buceta e no cuzinho,
Sou puto como queres, bem vadio
Maltrato enquanto fodo, com carinho.
Depois sentir teu gozo sobre mim,
Enquanto a porra bebes, tudo assim...
46
Eu gosto de gostar do teu querer,
E dele uma bandeira que carrego,
Saudade deste amor a se verter
Nos mares que em loucuras eu navego.
Na entrega de dois corpos, passo a ver
Maravilhoso sonho em que me apego,
Num tempo mais airoso quero crer
No amor que com certeza, jamais nego.
Ser teu é tudo aquilo que desejo
Persiste na alvorada a lua mansa
Que enquanto o sol mais forte nos alcança
Prateia este dourado, e neste ensejo
Mergulha em nosso mar, felicidade,
Valendo assim, a pena, esta saudade...
Marcos Loures
47
Eu gosto de brincar de pique esconde,
Mantendo o mesmo pique a noite inteira
Fazendo piquenique numa esteira,
Rebola bem safada. Eu entro aonde?
Na frente uma delícia molhadinha,
Atrás vou devagar. (Amor, prometa)
Fuder o teu cuzinho, ou na buceta
Te quero arreganhada e bem putinha.
Escondo o meu caralho onde quiseres
Do jeito mais gostoso que puder.
Adoro ser teu homem. Vem, mulher
Só peço que o teu rabo me liberes,
Conosco nem demônio ainda pode,
Cabelo além de barba e de bigode...
Marcos Loures
48
Eu gostava do mar, isso nunca escondi.
Mar, praia, areia, sonho! As ondas e sereias.
Amando sobre a onda, o sol tramando teias...
No Rio de Janeiro, em Santos ou aqui.
Praias, ondas, marés... Nas conchas, belo canto,
Na pele, puro bronze, o tempo não tem pressa...
Porém a tempestade, explode mais depressa.
As ondas em procela, o mundo em desencanto...
Meu verso, enamorado, esgota-se na lama.
O sol que fora amigo, explode em dura chama...
O tempo transtornado, um resto de esperança
Adormecida luta, embalde, se destrói.
A craca em meu navio, o casco já corrói.
É morte, sem ter Lígia, a negra noite avança!
Marcos Loures
49
Eu fumo o meu cigarro
Ninguém pode falar,
Se a vida tira um sarro
Esqueço do luar
Não quero ser escarro
Nem mesmo me entregar,
Às pedras eu me agarro,
E teimo em mergulhar
No vago que encontrando
Em meio às aves, bando
Voando em contrabando
Não sendo amargo ou brando,
Enquanto não me abrando,
O teto desabando...
Marcos Loures
6550
Eu fiz este versinho pra você
Com todo o meu carinho e amizade.
Fazendo esse carinho sei por que,
Eu quero só prazer, felicidade...
Eu sinto que você gosta de mim,
Da mesma forma eu quero o seu amor,
Vem logo, moreninha, vem assim,
Não deixe mais um peito sofredor.
Vou indo caminhando pela rua,
O vento levantando a sua saia,
Eu fico imaginando você nua,
Gostoso esse tomara que já caia...
No verso que cantei com sentimento,
Morena não me sai
51
Eu fico embasbacado quando leio
Poemas que me falem de um amor
Que um dia em liberdade, qual condor
Fugiu pras cordilheiras, pr’outro veio.
Tu pensas só por isso que te odeio,
Quando em verdade sou adorador
Dos sonhos que tu vens sempre compor
E sei que saltam vivos do teu seio.
Eu sinto que se chega enfim, minha hora,
Abóio uma esperança pelos campos,
Os sóis se transformando em pirilampos
Apenas lusco-fusco me decora.
A gente sem ter planos de futuro,
Andando como um cego em céu escuro...
Marcos Loures
52
Eu me queimo no fogo da paixão
Buscando tua sombra pelas ruas.
Vagando nada encontro. Solução?
Deixar teu nome entregue às loucas luas...
Olhando para as luzes da cidade
Apenas os anúncios, néons mudos.
Rasgando escuridão vã claridade
Os gritos e as buzinas tons agudos...
As janelas são pontos luminosos
Em qual delas se esconde esta mulher?
Os sonhos vão famintos andrajosos
Apelo para o santo que vier.
Um anjo exterminado sorridente
Abrindo suas asas; ri... Demente...
53
Eu me ofereço amor em sacrifício.
As carnes, olhos, pêlos, dentes risos...
Fazendo do prazer teu santo ofício,
Esbarro nos desejos, paraísos...
Chegando em teus beirais, no precipício,
Eu mergulho meus lábios tão precisos
E volto novamente em doce vício
Perdemos nossos medos, nossos sisos...
No altar em devoção, corredeiras...
Misturas dos humores, cachoeiras...
Seguimos noite adentro, dentro e fora.
Bocas em turbilhão, em ondas, rios
Em sacrifício, amor, não vou embora,
Louvores tão profanos e vadios.
54
Eu me lembro de tua casa, amor,
Numa esquina de flores recoberta.
A porta desta sala sempre aberta
O vento me trazia sem pudor.
Sem medo de encontrar sequer a dor
O peito escancarado, a mente alerta
A lua me trazia até coberta
Pelas nuvens distantes, sem calor.
Me lembrando da casa, o sofrimento
Ausência de quem trouxe o manso vento
E partiu, infinita madrugada...
Agora não carrego mais meu sonho,
De tudo que vivi restou medonho
Lamento que te canto e depois, nada...
Marcos Loures
6555
Eu me esquecera sempre do detalhe
De tuas mãos regando meus desejos...
O tempo se passando sem entalhe
A natureza ardida dos teus beijos.
Azedos os sorriso que me davas.
Em mel retribuía sem sarcasmos,
Nos olhos eu fingia tantas travas
Levando nossa vida nos marasmos...
Agora que já perco o fino traço
E deixo que as abelhas vertam mel,
Esqueço finalmente teu abraço
E parto sem ter asas para o céu.
Eu sei que solidão irá chegar,
Ao menos estou livre para amar!
6556
Eu me entrego ao teu amor
E por isso sou feliz,
Cada verso que eu compor
Já dirá o que este diz
Ao colher a bela flor,
Coração de um aprendiz
Vai fazendo este louvor
Por ter tudo o que mais quis.
Eu cevei uma esperança
No canteiro da ilusão,
Ao colher tanta festança
Nos acordes da paixão,
Infinito já se alcança
Pego estrelas com a mão...
Marcos Loures
6557
Eu me aninho nos braços desta moça
Que expressa com carinhos, o desejo
Enquanto o dia-a-dia já faz troça
Teu verso já me encanta em cada ensejo.
Abençoado o sonho em que prevejo
Lugar maravilhoso que se esboça
Trazendo a perfeição que agora almejo,
Que em tua poesia me remoça.
Não quero e nem suporto mais litígios,
Da solidão dispenso até vestígios
Alçando uma utopia: ser contigo.
Um beijo tão somente o que preciso,
Terás o sentimento mais conciso
Que a cada nova estrofe, busco e digo...
Marcos Loures
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