quinta-feira, 21 de outubro de 2010

60


Deitando meu amor em mansa rede
Não quero mais problemas nem rancores,
A boca que se entrega em tanta sede
Procura nos teus lábios sedutores

A fonte inesgotável de prazer,
Fazendo de teu corpo porto e cais.
À noite lado a lado eu posso ver
Momentos fabulosos, magistrais.

Estampas num sorriso o que tu queres,
Recíprocas vontades, disso eu sei.
Festança no banquete em mil talheres
Durante a vida inteira, amor; busquei,

Do amor que feito luz em nós incide
Já tenha uma certeza, não duvide.


61

Deitando junto a ti carinhos tantos,
Vontade de ficar sempre ao teu lado,
O olhar há tanto tempo enamorado
Vislumbre sem igual, fartos encantos.

O amor que emoldurando belos cantos
Permite acreditar que, do passado
Futuro fabuloso anunciado
Vencendo com ternura vis quebrantos.

E a gente não consegue disfarçar
O quanto nosso amor já nos faz bem,
E quando o amanhecer sublime vem

Tocados pela intensa luz solar,
Sentimos quanto é bom poder dizer
Do amor que nos mantêm em seu poder...


62


Deitando esta vontade, claramente
Escrevo no teu corpo meus prazeres.
Sentindo todo o fogo num repente,
Esqueço os meus problemas e afazeres.

Amor que não se aprende no colégio,
De fato é nosso prumo, nossa meta.
Amar é com certeza um privilégio,
Quem dera se eu pudesse ser poeta,

Cantar o nosso amor que não tem fim,
Razão de minha vida. Determina
O rumo que encontrei, melhor pra mim
Na fome insaciável que alucina.

Vibrando de prazer e de loucura,
Amor, o meu destino, já moldura...
Marcos Loures


63

Deitando em teu leito
Amor mais voraz
Estar satisfeito
Mas querendo mais.

Mansinho, com jeito,
Amor que me traz,
Carinho perfeito,
Corajoso, audaz.

Carícias e beijos,
Vulcão, relampejos
Querendo te ter,

Demais, teu prazer,
No gozo, sedento,
Amor violento.
Marcos Loures



64


Deitando em nossa cama maravilhas
Esqueço dividendo e crediário
Amor em loucas sanhas, riscos, trilhas,
No fogo que se mostra um bem diário.

Balões rondando a noite, em tal festança,
Quadrilhas dançarinas, claras francas,
O quanto nós trançamos nossa dança
Depois de certo tempo me desancas.

Tomando em tua boca o meu quentão
Salvo conduto encontro em tuas pernas,
No jogo que se faz ebulição
As horas sem limites são eternas.

Asperges fantasias nos meus olhos
Encontro as alegrias, colho em molhos...
Marcos Loures



65


Deitando sobre a relva da esperança
Amor tanto nos salva quanto embuste.
Por mais que a gente queria até deguste
Cupido faz a mira e joga a lança.

Enquanto a poesia nos alcança
O amor além de tudo o que mais custe
Fazendo em nossa vida tal ajuste
Motivo mais sublime sem pujança.

Preparando o seu bote não nos deixa
Vencendo em alegrias qualquer queixa
Madeixas da ilusão nos recobrindo.

Abrindo o coração sempre contigo,
Não tendo sequer tempo pro perigo
Eu vejo um novo dia audaz e lindo...
Marcos Loures


66



Deitando sob estrelas, lua mansa,
Amor já determina a caminhada
Enquanto a fantasia aqui se alcança
A boca desejando ser beijada.

Além do que pensara uma esperança
Imagem desta Deusa desfraldada
A Musa dos meus sonhos, na lembrança
Adentra em emoção a madrugada.

E vejo o amanhecer tão deslumbrante
Do lado de quem sempre desejei.
Que tudo seja sempre fascinante

Diante deste corpo magistral
O amor nos ensinando traz em lei
Encanto com certeza, sem igual...
Marcos Loures


67



Deitando nos teus braços meu remanso
Cabocla sertaneja, um gozo, um riso.
De tudo o que eu mais quero eu afianço
Está neste teu corpo mais preciso.

Ventando sobre nós a mansidão
O campo se promete em verde intenso.
Vencendo toda angústia e solidão
No quanto eu sou feliz agora, eu penso.

Fumando o meu cigarro, o peito aberto,
Alertas entre espreitas e tocaias,
Do rumo que pensara ser incerto
Encontro finalmente mar e praias

Deitando o nosso amor em lua cheia
Castelos construídos são de areia...



68


Deitando no teu colo com ternura,
Sentindo a luz chegar à minha vida,
O vento da esperança me murmura
Palavra tão macia e decidida.

Clarão que iluminando a noite escura,
Demonstra a sorte plena e mais querida
Vencendo a caminhada amarga e dura
A cada nova etapa já vencida

De quem tendo o seu mundo desbravado
Tem o canto ao amor já consagrado
Em versos e palavras redentoras.

Sabendo do final de cada história
Ao pressupor assim farta vitória
Encontra na amizade tais escoras.
Marcos Loures



69

Deitando neste chão, te peço colo,
Embora nada mais tão obsoleto
Fingir que tão sozinho já me enrolo,
Não passo, sem te ter, simples inseto.

Mas vejo nos teus olhos a promessa
De termos espalhados nosso sonhos.
De tudo que carrego, uma remessa,
Levando por caminhos mais risonhos...

Acordo sem teus braços e me queixo
De amor que não possuo mas desejo.
Rolando nestas águas, triste seixo,
Espera ansiosamente por um beijo.

Que tanto prometeste mas negaste,
Amor para crescer pedindo uma haste



70



Deitando meu prazer em teu prazer
Vibrando de emoção e de alegria
Sabendo o quanto é bom poder viver
Amor que nos fartando a cada dia

Permite sempre um novo amanhecer
No gozo da perfeita sintonia.
Querida é necessário te dizer
Do amor que há tanto tempo eu bem queria.

Sacio meus desejos e vontades,
Enquanto te aconchegas junto a mim.
Nos olhos de quem amo, claridades

Que trazes com sorrisos. Sendo assim
Que Deus sempre te faça a companheira
Que um dia imaginei; a derradeira...
Marcos Loures



71


Deitado nos teus braços, tão serenos,
A noite vai passando calmamente.
Distante dos perigos, dos venenos,
Meu barco singra o mar e assim pressente

Os cais que tanto quis, bem mais amenos
Vivendo em calmaria, de repente,
Sabendo: ser feliz se faz urgente,
Percebe deste amor, os seus acenos..

E vai sem ter nem dúvidas nem medos,
Na busca pelo sonho mais audaz
De ter na vida inteira a plena paz.

Sabendo conhecer os meus segredos,
Afasta para longe, a tempestade,
Amor a traduzir felicidade !
Marcos Loures


72




Deitado no teu colo, olhos fechados,
Querendo teu amor e proteção...
De tantos os caminhos machucados,
De tanta e tão profunda decepção...

Eu peço teu abraço e teu consolo,
Eu quero tua boca tão macia.
Na doce mansidão, gostoso colo.
Tem tudo o que procuro; a fantasia.

Amiga derradeira; tão querida...
Teus braços acalantam meu cansaço.
Durante boa parte em minha vida,
Nossa amizade foi de intenso laço...

Te quero tão eterna, todo dia.
Amiga e tão amada poesia!



73

Deitado no colchão, macias plumas
Espumas e sensíveis sedas, rendas...
Meus versos em delírios tudo esfumas
Nos risos e nos gozos, oferendas...

De tantos espetáculos vestígios
Deixados nesta cama sem cuidado...
Amores que se foram já prodígios
Aos poucos vai ficando mais calado.

Mas sinto teu amor, sempre singelo
Em torno dos meus sonhos, seus contornos.
Refletem nosso caso, vivo e belo,
Mas órfão, precisando mais adornos...

E sinto que também pensas assim,
Queremos novas danças, mais festim...



74

Deitado neste leito perfumado,
De rosas, alecrim; logo reclinas.
Me sinto em teu aroma, apaixonado,
Essências maviosas, tão divinas...

Soltando teus cabelos, bela crina;
Descubro na nudez, os teus mistérios...
A boca tão fremente; desatina;
Esquece de cumprir quaisquer critérios....

Eu pouso em tua boca um longo beijo,
Suspiros de ventura e de prazer.
Sonhando com teus lábios eu versejo
E tenho tanta coisa por dizer...

Falar de meu amor, tão deslumbrante,
Embarco neste sonho delirante!



75


Deitado em teu regaço tão macio
Ouvindo esta canção que me acalanta,
As águas vão descendo pelo rio,
Aguando em suas margens, cada planta,

Assim como este sol que esquenta o frio
Assim como a saudade não me espanta,
Meu coração batendo tão vadio,
Sentindo o teu carinho já se encanta

E se acomoda manso no teu colo,
Sentindo tuas mãos nos meus cabelos,
Os sonhos mais bonitos vou vivê-los

Fechando os meus olhos, me consolo...
E sinto que sou forte, teu guerreiro,
Teu par, amante, eterno companheiro...


76


Deitado em minha cama um baby doll,
Envolve tuas formas generosas.
No bronze que ganhaste sol a sol,
As carnes se mostrando belicosas,

Cantigas e mandingas de arrebol,
Soando em tua boca; maviosas
Repito cata-vento e girassol
E bebo de teu corpo, água de rosas.

Abrindo este botão da camisola,
Eu abro o teu botão rosa vermelha.
Recebo o teu perfume em que se embola

Os cernes desta noite em poesia.
Acendes com teus lábios a centelha
Da lua que se entrega mais vadia...



77

Deitando em minha cama, mansamente,
Trazendo toda a dor duma ilusão;
Que viera e se fora, totalmente,
Deixando em arremedo, o coração...

Deitando em minha cama, doce momento;
Numa explosão de sonhos e desejos...
A vida que se foi, duro tormento,
Ressurge em tal loucura, nossos beijos...

Deitando nos meus sonhos, abandonos...
Trocamos nos olhares, nossas vidas.
Até que a madrugada traga os sonos,
Recuperamos luas esquecidas,

Amores esquecidos, maltratados...
E num milagre de amor; ressuscitados!


78


Deitando do teu lado, eu me recolho
E tramo mil vontades de prazer.
Na janela trancada com ferrolho
O vento vem sedento receber

Perfume que tu trazes, cada molho,
Vagando a noite inteira a nos dizer
Que a sorte nos mirando com seu olho
Garante sempre amor e bem querer...

Querida assim percebo e mal disfarço,
Ciúmes te garanto que ocultei
Em sentimento vago e tão esparso

Abraço fortemente enquanto entrego
Meu mundo nos teus laços, pois achei
Em ti, amor no qual enfim sossego...


79

Deitando calmamente sob o monte,
Sentindo o vento calmo da promessa,
O sol brilhando intenso no horizonte,
Beleza de um momento se confessa.

Fazendo com o Céu, perfeita ponte,
Não vejo mais motivo que me impeça
De ser o que sonhara e que desponte
Um dia soberano. Vamos nessa!

Sorrindo em alegria, vago o tempo
Tragando cada gota de esperança.
Um novo paraíso já se alcança

Depois das cordilheiras- contratempo.
E um canto em acalanto vai tomando
A noite em que sonhei, te namorando...


80


Deitando calmamente no teu colo,
Depois desta batalha sem ter fim.
Forjando nova vida deste solo,
Plantando tanta luz de amor em mim..

Granulo uma esperança formidável
Nos versos irmanados, tu e eu.
Ouvindo teu carinho, tão amável,
O medo de morrer, enfim, morreu...

E quero ser semente que engravida
A vida sem temores que propomos;
Tristeza nada faz, morre esquecida,
E como da alegria, tantos gomos.

E quero lambuzar-me neste sumo
Perder, no teu quintal, meu senso e rumo...


81

Deitando a solidão em minha cama
Esconde logo a lua que inda teima,
Do amor que fora um dia guloseima
Vivendo em descaminho, perco a trama.

Apenas a saudade vem e chama
Tristeza no meu peito sempre queima
Trazendo para o olhar a velha teima,
Que cisma em maltratar enquanto inflama.

De todos os duendes, gnomos, fadas
Que um dia povoaram os meus sonhos,
O vento traz em outras baforadas

O rosto tão somente de ninguém;
Em meio a versos tristes e medonhos,
Agora tão vazia a noite vem.
Marcos Loures


82



Deitados nesta rede ou numa esteira,
A tarde desfilando seus azuis
Distante o rádio toca um velho blues,
A noite se anuncia alvissareira.

Dois corpos que se tocam com carícias
Detalhes descobertos pouco a pouco,
O gozo prometido, manso ou louco,
Entregues sem temor, fartas delícias.

Realces de sobeja precisão,
Amor anunciando inundação
Sem margens que limitem correntezas.

Nas doces corredeiras, mil cascatas,
Embrenho sem pudores tuas matas
E encontro estas fantásticas belezas..



83




Deitado sobre as pedras; vejo a lua
Eterna soberana, no horizonte,
Derrama suas luzes pelo monte
E como deusa impávida flutua.

A lenda das sereias se cultua
Na areia prateada, bela fonte
De todos os desejos. Nesta ponte
Presente com passado continua...

E as ondas, o marulho... Céu e mar.
Certeza de dormir e de sonhar,
As conchas são colares perolados

E a moça se debruça sobre mim,
Andrômeda, mergulho e vejo enfim
Tesouros por Netuno abençoados...



84


Deitado sobre a areia nessa praia,
Roubando cheia lua, o seu luar.
O vento mansamente, tudo espraia,
Deixando meu amor me navegar...

Presença carinhosa destas ondas,
O canto deste mar; traz a sereia,
Mil luas todas plenas tão redondas,
Brindando tanta prata nessa areia...

Eu sinto teus desejos aflorados,
Nos beijos que pedi; doce umidade,
Amores reproduzem; delicados,
O que sempre pedi: felicidade...

Eu quero me integrar nesta paisagem,
Mirando em teu olhar, bela visagem...


85



Deitada no divã em sua alcova
Espera com frescor, alegremente.
A vida que na vida se renova
Revolta, transtornando tolamente...

Pertence aos teus encantos branca lua.
Divina em placidez angelical,
Espelha essa beleza quase nua
Caminha em minha cama, sensual...

Amada nos vergéis por onde passas,
Espalhas tantos brilhos delirantes,
Mal vejo os teus passos, pois disfarças,
Em meio a tantas sendas verdejantes...

Amada nas estradas e cascatas,
Despontam tuas luzes, serenatas...


86


Deitada nesta sala, adormecida
Te vejo ressonar, tão calmamente...
Amada que se fez bem mais querida
E deita em minha cama, minha amante...

Ao ver sua nudez, já descortino
Futuro tão tranqüilo que preciso...
Amor que me invadiu desde menino,
Agora reconheço em paraíso...

Eu quero te tocar cada segundo
Sabendo que não tenho mais tormento
Em cada nova senda me aprofundo
Da boca irei sorver o meu provento...

Amando quem sonhara em juventude,
Assim amar demais; mais do que pude...



87

Deitada nesta cama me provocas
Com teus doces sorrisos sensuais
Qual fera que procura em tantas tocas
Nas suas explosões mais animais...

Derramo meus anseios nos teus seios
Sem medo nem receios do que espero.
Os olhos se permeiam, devaneios,
Em todos os sentidos me tempero.

Eu quero o turbilhão dos teus perfumes
Que encharcam meu desejo, te beber.
Nas horas mais dolentes sem queixumes
O teu orvalho em brasa vou sorver.

Invado tuas matas, arvoredo,
Esqueço o que passei, e me enveredo...


88

Deitada na verdura do arvoredo,
Desnuda sob o sol, desfalecida...
Espera por carinho desde cedo,
Aguarda uma esperança adormecida.

Eu sinto que tu queres tanto amor
Que não posso te dar, nem receber.
Teus braços que sei plenos de calor,
Abraçam essa vontade de viver...

Mas amo teu amor e teu desejo,
Desejo teu amor bem junto ao meu.
Meus lábios aguardando por teu beijo,
Teu beijo que em lábios se perdeu...

E chamo calmamente por teu nome,
Entre as estrelas, nua, a lua some...


89


Deitada na minha cama,
Em tremendo reboliço
Acendendo logo a chama
Meu amor florindo em viço,

Recomeça logo a trama,
Que é feita em louco feitiço,
Moreninha, amor te chama,
Vem comigo que eu te atiço.

E te atirando pro leito,
Em cetins, nosso dossel,
Meu amor tão satisfeito

É caminho para o céu,
Mas venha de qualquer jeito
Desde que entorne teu mel...


90


Deitada entre meus braços adormeces,
Adornas minha casa, bela dama.
Tecendo no teu corpo raras preces,
Acende neste outono a nossa chama.

Vasculho por segredos, tua pele,
Encontro as mais suaves maravilhas.
A cada novo ponto que revele
O quanto são divinas tuas trilhas

Percebo que não tenho mais saída,
Sou teu e nada além. Vivo feliz.
Em tuas mãos entrego a minha vida.
Prazeres que se buscam, peço bis.

E assim amor se faz devagarinho,
Suavemente e manso, com carinho...
Marcos Loures


91



Deitada, quase nua, toda exposta...
Nessa janela aberta tantos sonhos...
Distraída, merece toda aposta
Dos corações vibrantes, tão risonhos...

Eu sonho com seu corpo transparente.
Maldades da janela, meu desejo...
Quem dera ser vizinho, até parente,
Desta beleza toda que hoje vejo...

Menina não maltrate tanto assim...
Deitada nesta cama ...Que tortura!
Transborda quase tudo, que há em mim.
Nos sonhos desta moça, u’a aventura...

Daria; na verdade, todo um mundo..
Entrar naquele quarto, um só segundo!


92
Deitada sob a lua, nua em pelo,
Coberta pelos raios desta lua,
Ao vê-la não resisto ao teu apelo
E a saga de querer-te continua...

Te beijo, delicado e desejoso,
Meus lábios percorrendo teus caminhos
Até te conhecer, voluptuoso
Sorvendo cada toque, mil carinhos...

Na areia, sob a lua, sob o sol,
Coberta por meu corpo, alas abertas,
Eu sou teu mensageiro, o teu lençol

E trago mil prazeres, não se espante.
As nossas peles nuas, descobertas,
Entornam-se em delírios, neste instante...
Marcos Loures


93


Deitada num dossel, és virginal,
A deusa dos amores te deu luz!
Montado em meu corcel, no longo astral,
Caminho transtornado. Me seduz

O lume que emanaste neste umbral
Do castelo dos sonhos. Andaluz
Cavalo a me levar, na sideral
Trilha, o teu brilho sempre me conduz!

A vida, sem demora me deu vez,
O campo das estrelas no infinito...
A morte de meu mundo se desfez,

O tempo sem querer me deu seu rito.
Emocionado solto um berro, um grito,
Envolto em tal pureza, minha Agnes...



94


Deitada no jardim, qual flor mais bela,
O sol vai bronzeando tua pele.
Olhando-te o desejo me compele
Nesta nudez divina que revela

Um quadro magistral em rica tela,
Quem dera se meu corpo ao teu se atrele
E o tempo por momentos se congele
No amor que assim cavalga, sem ter sela.

Não vês minha chegada, nem percebes
Que estou perto de ti, tão distraída...
Num beijo delicado, sigo as sebes

E toco tua carne, assim querida.
Com um sorriso manso me recebes
E toda a resistência está vencida...


95


Deitada no divã enlanguescida
O vento ter assoprando, delicado...
Percebo esta delícia em minha vida
E me sento; sereno, do teu lado..

Sentindo as vibrações que logo emanas
Roçando o teu cabelo com meus lábios...
Depois de minha ausência por semanas,
Meus dedos te vasculham; são bem sábios...

E quando, ao perceber que te entregaste
Aos meus carinhos; beijo tua boca,
Percebo que também o desejaste
E a tarde terminando, nua e louca...

Mulher por quem sofri, amei; um dia,
Amante, deusa e musa: poesia!


96




Dei um chute no saco de Cupido!
Cansado desta peste que não pára.
É seta que me fere e desampara,
Inda se ri, safado pervertido!

Não quero mais um beijo deslambido
De quem com ironia me escancara
Sorriso com sarcasmo e se faz cara,
Num gesto em desamor envilecido.

Fazendo que não quer o que deseja
Mostrando sob a saia um cadeado.
No beijo que pensei tivesse dado,

Um dardo sem juízo já me alveja
E vendo o resultado desta farsa
Percebo no moleque, o teu comparsa.


97


Defesa de mineiro é o come quieto,
Porém nós somos mais que algum objeto,
O fato mais real e até concreto
É que não trago aqui mais desafeto.

Se às vezes eu sou franco e até direto,
No quase cometido me arremeto,
E faço das palavras de um soneto
As cinzas que sobraram do meu teto.

Jamais suportaria algum decreto,
Que trague desde sempre corte ou veto,
Prefiro ter morrido quando feto.

Caminho pelas ruas, vou discreto
Buscando o meu futuro mais dileto
Nas mãos do velho engano, o predileto...


98




Deitada em sua cama, tanto sonha;
Carinhos prometidos, delicados...
A noite se deseja mais risonha,
Trazendo seus amores ansiados...

Na seda dos lençóis, perfumes, rendas,
O gosto deste amor que sempre quis.
Sonhando um beduíno, oásis, tendas.
Percebe que não custa ser feliz...

Detrás de uma cortina, a clara lua,
Vem invadindo o quarto, mansamente...
Beijando sua pele quase nua
Roçando a camisola transparente.

Olhando extasiada para o céu,
Sonhando com amor do seu corcel!


99



Deitada em solidão no apartamento
Espera quem se fora há tanto tempo,
Depois de tão cruel apartamento
O dia vai passando em contratempo.

Não tendo mais palavras pra dizer,
Esquecida num canto desta casa,
Apenas encontrando algum prazer
No jogo de esconder a dura brasa.

A moça se permite em mil delírios
Pensando no que fora e não voltou,
Amores na verdade são martírios
Há dias que, percebo, ela notou.

Em nome da amizade, eu te garanto,
Ajudo a dirimir teu triste pranto...


4600

Deitada em meio a sedas e cetim
Espera ansiosamente pela lua
Que sobe pela escada plena e nua,
E lambe sua boca. Sempre a fim

De todo este prazer que chega enfim
Depois de tanto tempo em vaga rua,
Matando o seu desejo, ela flutua
E entrega-se com fúria. É bom assim.

Saber da companheira mais fogosa,
Fomentos de loucuras e vontade
Sorvendo com delírio em claridade,

A lua junto dela, maviosa,
Lábios abertos mãos em liberdade,
Num ato de loucura, a moça goza...



1


Deitada do meu lado, uma princesa,
Desnuda em noite imensa. Tanto amor.
Desfila nos lençóis rara beleza,
Na tela diamantina a se compor.

Emana em tal meiguice, a bela flor,
Redoma de ternura que indefesa
Entrega-se em loucura até torpor
Deixar a sua marca em realeza.

Sonhando com corcéis, galopes soltos,
Cabelos desgrenhados e revoltos,
Castelos, cavaleiros e vassalos.

Percebo em sua face, uma ilusão,
Que é feita de esperança e tentação,
Em êxtases divinos, duros falos...


2


Deitada ali, debaixo dos portais,
A gata borralheira pós moderna,
Depois da noite inteira em bacanais
Parece que desmaia ou mesmo hiberna.

Nos lábios delicados, sensuais,
A sensação de ser quase que eterna.
Não tendo mais sapatos nem cristais
Do príncipe se esquece em noite terna.

Morando na casinha de sopapo
Deixando o principesco pega o sapo
O moço na verdade, descobriu

Um cabra afrescalhado, mas gentil.
Um gentleman perfeito, um cavalheiro
Gostava, nas coxias, do cocheiro...


3


Decomposição leva essa tristeza,
A podridão enfim, me desagrega...
Na força mais vital da natureza
Meu corpo tumular em plena entrega...

Os vermes profanantes, com certeza,
A pele do meu rosto desapega.
A terra me cobrindo, na frieza,
E tudo que aprendi, a morte nega...

Escuridão envolta, meu destino...
O cheiro me profana toda carne,
Centímetro a centímetro, o descarne...

As profusões do podre em desatino,
Os ossos se transformam, caçam ônix,
Minha esperança morta, pede fênix!
Marcos Loures


4


Declino minha fronte sobre ti
E deito meu prazer em nossa cama.
De tanto desejei, me convenci
Que não posso ficar sem essa trama
Do jogo de um amor que encontro aqui,
E em louca sedução, o peito inflama.

Desenhas cicatrizes em minha alma,
Tatuas tuas garras sobre mim.
No turbilhão de beijos tudo acalma
E a porta das volúpias se abre assim
Trazendo tempestade em plena calma,
Aguando com promessas tal jardim

Canteiro em framboesas, luas, luz.
Que em laços de ternura reproduz...
Marcos Loures


5


Declaro-me perdido. Nada além.
Somente um vagabundo sem destino.
Ouvindo tua voz eu me alucino,
Procuro, não encontro mais ninguém.

A noite solitária sempre vem,
E nela tal quietude que abomino.
Preciso deste sonho aonde tem
Os restos nos escombros, de um menino.

É madrugada e insone, sigo só,
Daquilo que pensei, restando o pó,
Quem dera renascesse uma esperança.

Porém quando tu falas mansamente,
A vida se refaz e novamente,
Vontade de viver, meu peito alcança...
Marcos Loures


6

Declaro quanto é bom seguir te amando,
Não tendo mais limites, vou ao fundo.
Um novo amanhecer se anunciado,
Tomando num instante, todo o mundo.

Felicidade encontro desde quando
Um coração outrora vagabundo,
Aos poucos sem juízo se entregando
Chegou ao mar imenso e mais profundo

Dos lábios desta deusa sem igual,
Carinho tão preciso e sensual,
Forrando nossa cama de ternura.

Singrando esta delícia de oceano,
Encontro o teu delírio soberano
Na boca abençoada, louca e pura...
Marcos Loures

7




Declaração de amor que faço a ti, ó bela.
Permite que se entenda a luz desta manhã
Que ao coração amante, em lumes se revela,
Mostrando à vida em sonho, a força de um Titã.

As vidas prosseguindo em senda paralela
No gozo mais fecundo, o nosso louco afã
Tua beleza expressa a graça da gazela,
Joguemos nesta noite o logro da maçã.

Fazendo para ti, meus versos em soneto,
Queimando em tentação, centelhas num graveto
Incendiando a casa um fogo sem igual.

No passo que persigo, encontro os teus sinais
Pegadas que encontrei, caminhos magistrais
No corpo desta fera, a bela sensual...

SONETO FEITO SOBRE A MÚSICA A BELA E A FERA DE CHICO BUARQUE DE HOLLANDA



8

Decifro teus desejos, tuas deixas
E sigo em noite insana. Madrugada
Em meio a tempestades, velhas queixas,
Já deixam perceber uma alvorada

Além do quanto queres, mas não deixas.
Ao ter em sol imenso nossa estada,
Rainha se desnuda invoca as gueixas
E molda uma vontade disfarçada.

Nos seixos espalhados, mesmo rio,
Encontro em cachoeiras, desafio
E sigo peneirando o bem da vida.

E tendo esta nudez maravilhosa,
Ao perceber perfumes desta rosa
Entorno uma esperança tão querida.
Marcos Loures


9

Decifro os teus sinais e galgo luzes
Entrando nos estratos mais distantes.
No encanto que entretanto reproduzes
Engendro sentimentos fascinantes.

Na mão das ilusões, frágeis obuses
Crivando em dores tantas, mas constantes,
Os ermos que se mostram por instantes
A par desta loucura me conduzes.

Não posso permitir que a voz se canse
Lançando minhas mãos neste vazio.
O quanto se mostrou em desafio

Sonhando com estrela em que se lance
Meus olhos numa hedônica harmonia,
Fartando-se de sons e poesia...
Marcos Loures



10



Decifro os teus enigmas e sinais,
Mergulho nestas curvas sensuais
E bebo do prazer proporcionado
Pelo sonho em loucura emoldurado.

Percorro este infinito e de bom grado
Sorris quando em teu corpo sigo atado,
Causando as explosões fenomenais
Querendo o tempo todo e muito mais.

Desnuda sobre a cama, seus lençóis,
Derramando, magnífica, mil sóis,
Estrela divinal, ninfa e rainha.

Do encanto mais real, protagonista,
O Céu enfim permite que se assista
Orgástico esplendor; que se adivinha...


11


Dedilho, no piano os sentimentos,
Fazendo dos acordes, a emoção
Que vibra em cada nota da canção
Revejo desde então nossos momentos.

Imagens que percorrem pensamentos,
Momentos dissonantes, ilusão...
Diversos os meandros da paixão,
Enquanto nos maltratam são ungüentos.

Amanhecer ao lado de quem amo,
Delícias sem igual, raros matizes.
Lembrando como fomos tão felizes

Abrindo os meus umbrais eu te reclamo
E vejo numa estrela o teu reflexo,
E busco em plena insânia qualquer nexo...
Marcos Loures


12


Dedilhas no piano da emoção
A mais sublime música – esperança.
O coração feliz, contigo dança
Unidos pela mesma vibração.

O amor que se faz pleno diz perdão,
E o paraíso em vida logo alcança,
Tornando a nossa história bem mais mansa,
Revigorado à luz da sedução

De corpos que se tocam e se buscam,
Sem luzes que os impeçam ou ofuscam
Na dura caminhada pela vida.

Seguramos as rédeas com carinho,
Enquanto nas saudades eu me aninho,
Encontro no teu passo, uma saída...
Marcos Loures


13



Dedilhas com suprema maestria
As cordas do meu pobre coração,
Usando o diapasão da poesia
Expresso na beleza da canção,

Por vezes a minha alma é tão vadia,
Uma andarilha solta na amplidão,
Mas quando ouço a divina melodia
Tocada com talento e precisão

Eu volto o meu olhar emocionado,
E o peito se entregando de bom grado
Explode num momento de alegria,

Quem tantas vezes busca ser ritmado
Ouvindo o teu cantar, maravilhado,
Dispara em sem igual taquicardia...


14

Dedico minhas noites à minha alma
O beco que te dei não tem saída.
A boca que me beija não me acalma
Resumindo a má sorte em nossa vida.

Por vezes encontrava outra remessa
De risos e de gozos mentirosos,
O amor quando demais logo tropeça
E os passos continuam temerosos.

Servis os corações morrem cativos,
Serenas as manhãs que não virão.
A vida multiplica velhos crivos
E mostra no final a negação.

Serpentes que cevaste com desprezo,
Deixando amor estúpido, indefeso...
Marcos Loures


15

Dedico estes versos, cara amiga,
A quem sempre foi luz em meu caminho.
Permita que eu, a todos, sempre diga
Quanta emoção repleta de carinho!

Poética essa estrada que me abriu
A porta para ser bem mais feliz.
Tu na verdade és mais de cem, de mil
Estrelas neste céu de um aprendiz.

Kalhleen toda a certeza de amizade
Se encontra nos teus braços, companheira,
Meus versos vão tomando a liberdade
De poder te cantar a vida inteira.

Meu peito se ilumina mais depressa
Se alguém chama teu nome: Kathleen Lessa!

Para a grande amiga e poetisa, minha amada
Kathleen Lessa


16


Dedico este meu canto à grande amiga
Exemplo de coragem, lucidez.
Por vezes quando a vida se periga
Teu canto me ilumina: sensatez!

És carinhosa sempre, nunca nego,
Afagos, elogios, alegria!
Não sabes mas nas cores que carrego
Meu canto com ternura e fantasia

A Lua tão suprema sempre brilha
Esta certeza imensa e de amor plena
De ter nesse recanto a maravilha
Do canto que me encanta, amiga Helena.

Desculpe se não tenho a claridade
Que tens, mas me ilumina esta amizade!

Para HLuna, grande poetisa e amiga.


17



Decretar a falência dos meus sonhos,
Remete-me ao princípio desairoso.
Enquanto a solidão traz o seu gozo,
Os dias sem remédio, são medonhos.

E quando olhar os mares mais risonhos,
Verei o amanhecer maravilhoso
Que um dia se mostrou tempestuoso
E agora mata os ritos enfadonhos.

Mereço ter alguma serventia?
A noite novamente já se esfria,
Vadia, a lua foge entre meus dedos.

Raiar outra esperança? Ah, quem me dera.
O fim do que pensei ser primavera
Acende sem perdão antigos medos...



18


Decifro neste amor tantos segredos
Guardados dentro da alma sonhadora.
Vencendo em alegria velhos medos,
Encontra a solução que é redentora.

O mar quando se quebra nos penedos
Na fúria dos marulhos já se ancora
Retorna novamente e sem demora
Expressa das paixões os seus enredos

Assim, tempestuoso, porém belo,
O amor ensandecido, eu te revelo
Vivenciado à luz do dia-a-dia.

Dos céus avermelhados da emoção,
Tocando com delírio em explosão
A força insuperável irradia.

19

Decifro em teus olhares, fogo e neve,
Ebúrneas maravilhas, claros dentes,
Minha alma a te buscar num gesto breve
Traduz a fantasia que pressentes.

Enquanto a poesia já se atreve
O gozo se anuncia em mãos clementes.
A vida se tornando bem mais leve,
Em lúbricos prazeres tão freqüentes.

À sombra de teus passos eu prossigo
Vivenciando a sorte de saber
Que após a tempestade tenho abrigo.

Etéreas sensações em manso afago,
Vertentes tão sobejas do prazer
Derramam suas águas em teu lago...
Marcos Loures



20

Decifro em meus desejos a mulher
Que traçou meu destino, a minha vida.
As ilusões que trago, o que vier;
Mostrando a mocidade, vã, perdida.

Desabam tempestades em qualquer
Uma destas palavras: despedida.
Na pérfida manhã, o teu mister,
Trazer na boca o beijo de partida...

Quem teve o seu destino em frios braços,
Colando sonhos gêmeos siameses,
Estreitam-se demais os nossos passos,

No nó que desataste, veio o frio,
Amor que disfarçaste, tantos meses,
Termina em solidão, neste vazio...



21


Decifrar os segredos da existência
Enigmas que o amor vem nos propor,
É conduzir em paz, com paciência
Fazendo da alegria, o seu louvor.

Por mais que seja dura a penitência,
Terás em plenitude o teu amor
Se a cada temporal sem inclemência
Usar a mansidão de um beija-flor.

Não temas quando amor chegar, pois nele
Verás a calma face de um bom Deus
Deixando que Ele venha e se revele

Na luz que se irradia em cada ser.
Terás a magnificência de verter
Em rara claridade, trevas, breus...
Marcos Loure


22


Decide se tu queres, mas me deixes
Ao menos uma chance de poder
Beijar a tua boca. Não se queixes
Se em ti eu percebi o meu prazer.

Por mais que tantas vezes tu desleixes
Do sonho que não quer adormecer,
Amor ensandecido traz em feixes
Fartura de alegria em bem querer.

Falar quanto eu te quero, um pleonasmo,
Mas digo com total entusiasmo
Da força que domina o pensamento.

Distante dos rancores e dos ódios
Vencendo e se elevando a tantos pódios
Da glória que virá, pressentimento...
Marcos Loures


23


Decerto, o meu amor já saberia
Quem tanto desejei em luz tamanha,
Vibrando certamente de alegria,
A sorte- ser feliz, amor, nos banha,

E o canto da promessa me dizia,
Do encanto que se molda em nossa entranha,
A vida sem amor e poesia
Decerto, sem motivos, vai estranha

Vivendo neste amor, perfeita glória,
O medo transformado na vitória
A cada novo tempo; conquistada.

Com ar de quem venceu dura batalha
Escapando do fio da navalha
Recebo cada beijo teu; amada.
Marcos Loures


24


Decerto uma esperança há tempos me domina
De ter o teu carinho e ser somente teu.
Amor que se faz fonte, alvissareira mina,
Permite recobrar o que o tempo perdeu.

Não deixe que este sonho, o que mais alucina,
Se perca nesta estrada, em treva e negro breu.
Eu quero estar contigo, amada amante e sina
Na dança que eterniza o mundo teu e meu.

Vem logo que esta noite a lua se faz cheia
Amar sob o luar, na praia em plena areia
Fazendo deste sonho, a realidade pura.

Amando sem parar, o tempo já não pára,
Eterna mocidade, a vida assim prepara
A quem se deu inteiro aos braços da ternura...


25



Decerto tu não sabes, ser boçal
A imensa maravilha de poder
Sentir a raridade de se ter
Beleza deslumbrante e sem igual

Do sol incandescente sobre o mar.
Aqui, nestes grotões abandonados,
Nas rústicas paragens, demonstrados
O inferno que o poeta quis pintar.

Jamais irás sentir o nobre vento
Nem mesmo ouvir à noite tal marulho,
No solo feito em pós e pedregulho

Quem pode ter gentil, o sentimento,
Entendo então a tua estupidez
Formada em ignorâncias, e aridez...
Marcos Loures


26

Decerto todo medo eu vencerei
Meus dias dos teus passos, girassóis,
Amor que tantas vezes procurei
Encontro nos teus olhos, meus faróis,

Na noite em que em teus braços mergulhei
Incríveis sensações de raros sóis,
De todo este prazer que eu desfrutei
Rolando meus desejos nos lençóis

Tocando a bela deusa, toda nua,
Deitando nosso amor sob esta lua
Minha alma se sentindo bem mais pura.

Eu quero amanhecer sempre ao teu lado
Vivendo sem juízo e sem pecado
O tempo, das tristezas, se depura.



27


Decerto se fazendo nossa lei
O vento da paixão já nos conduz,
Depois das noites frias que passei,
Procura quase insana pela luz,

Falena que se perde, eu encontrei
Caminho que ilumina e reproduz
Beleza deste amor em que sonhei
Tivesse a divindade em que propus

A vida, num momento mais audaz,
Somente amor perfeito satisfaz
Tal sentimento eu sei, jamais se mede.

No brilho dos teus olhos, teu sorriso
Amor se demonstrando em claro aviso,
Um sonho mavioso nos concede.
Marcos Loures



28


Decerto se Camões lesse teus versos
Teria uma alegria de saber
Que mesmo em tão distantes universos
Eternizando o sonho, com prazer

Revelas velas raras, sons diversos
Dons inigualáveis; posso ver
Na mão de quem reúne tons dispersos
Nesta aquarela tece um bom viver.

O vate com certeza beberia
Com tal sofreguidão a poesia
E bêbado de luz, querido amigo

Vencendo os dissabores e procelas
No encanto de sublimes, belas telas
Sua alma encontraria, enfim, abrigo...



29





Decerto que vagina é nome feio,
Prefiro um apelido mais safado.
Caminho bem melhor? Sempre o do meio,
Ensinamento certo e bem guardado.

Vulva também não soa muito bem,
Assim tal qual a válvula de escape.
Clitóris? Palavrinha que não tem
Sonoridade boa. O sol se tape

Com todas as peneiras que puder,
Merece com certeza muito mais,
Maravilhosa Diva: uma mulher.
Por isso meu amor, bem mais me apraz

Chamar de xana, xota ou bocetinha,
Mais fácil para alguém quando acarinha...



30


Decifro os teus desejos e vontades,
Penetro mansamente tuas tocas,
Enquanto com tesão tu já me tocas
Promessas de loucuras, variedades.

No teu corpo fazendo tais viagens,
Vagando pelas sendas mais perfeitas,
No leito feito em chama tu deleitas,
Delírios em divinas sacanagens.

Até que o gozo venha e enfim te banhe
Do leite que se emana do prazer.
A fúria sem limites nos entranhe
Revelação orgástica em teu ser.

E assim extasiado, eu descanso
No teu colo; fantástico remanso...



31


Decifro no teu corpo tais segredos
Que fazem minha vida prosseguir
No sonho mais gostoso meus enredos
Sabendo desde agora do porvir.

Enquanto disfarçamos velhos medos,
O tempo de chegar e de partir,
O vento que invadindo os arvoredos
Responde que ninguém vai impedir

Que a gente continue nossa estrada
Na busca desta tal felicidade,
A lavra que em carinhos é cevada

Permite uma colheita sem igual,
No amor que mansamente nos invade,
A vida se prevê em bom final.
Marcos Loures


32


Debutante perdida no passado.
A vida transformou essa menina.
O sonho que vivia, abandonado...
O tempo já dobrou a velha esquina!

Vestidos, valsas, danças... O lado
Cruel da vida, cedo descortina.
Primeiro amor, primeiro beijo dado.
A vida veloz, rápida, rapina;

Não deixa tempo para um sonho tolo...
A festa, a dança, noites belas, bolo...
Nada mais restará, pois nada atina.

Os tempos mudam, tudo se transforma...
Nos shoppings, patins, games se conforma.
Acaso mudou a alma feminina?


33

Debruço uma esperança na janela
E dela faço um campo de batalha,
Enquanto o mesmo não já se revela
Apenas fantasia me agasalha.

Confio neste fio de navalha
Enquanto o barco perde rumo e vela,
Cavalo da alegria não se sela
Trazendo no seu lombo, uma mortalha.

No intento que se disse liberdade,
Se eu tento muitas vezes não consigo,
Refém desta ilusão: felicidade

Meu passo vacilante; inda prossigo,
Postergo o meu sorriso, cabisbaixo,
Desfecho vai descendo, vida abaixo...
Marcos Loures


34

Decerto que o vermelho te cai bem,
Contrasta com a pele amorenada.
Se bem que na verdade, com ou sem
Prefiro te encontrar já desnudada

Aberta pros carinhos mais audazes
E toda molhadinha, sorridente.
Na sede com que venho e que me trazes
A noite aí será- garanto- quente.

Eu quero desfrutar desta delícia
De ter tua nudez em minha boca.
Num toque mais sutil e com malícia
Só quero que tu venhas, fera louca

E vamos sem ter tempo de para
A madrugada inteira, nos amar...
Marcos Loures



35


Decerto nesta vida é um gigante
Aquele que se deixa transportar
No mar de amor intenso e deslumbrante
Fazendo todo o bem frutificar,

Eu sou desta esperança um velho amante
E sinto que esta glória vai moldar
Um novo amanhecer a cada instante
Mantendo nos meus olhos teu luar.

Revestido de estrelas, belo manto
Sagrando cada verso ao pleno amor,
Pressinto ao fim de tudo tal encanto

Que possa ser meu guia vida afora,
Teu corpo tão divino encantador
Em rios de prazer à noite aflora.
Marcos Loures



36


Decerto irá brilhar mais plenamente
O olhar de quem se deu e não fugiu,
O amor que a gente sente tão sutil
Tomando a nossa vida num repente.

Querendo em mansidão estar contente
Amor, a fantasia permitiu
Carinho prometido descobriu
Caminho para os céus, iridescente.

Não quero uma emoção que seja afoita
Enquanto no teu braço amor pernoita
A vida se promete em luz suprema.

Rompendo estas amarras que trazia
Eu vejo o renascer de um belo dia
Quebrando o que se fez outrora algema...
Marcos Loures



37



Decerto eu não me esquecerei de ti
Pois vives nos meus sonhos e palavras.
Não posso me esconder se estou aí,
Arando nosso amor em belas lavras.

Em cada verso teu um novo encanto,
No maremoto imenso da paixão
Amor que a gente faz, um celacanto
Tornado em nossa vida, turbilhão.

Espero que tu durmas e descanses
Que a noite sem te ter será dorida.
Eu lembrarei de todas as nuances
E assim a noite vai ser consumida

Em todas as lembranças que puder
Do cheiro meio flor, plena mulher...
Marcos Loures



38


Decerto em harmonia, amor perfeito
Não deixa que se pense em outro rumo.
Vivendo o nosso amor eu sempre assumo
Delícia que se mostra a cada pleito.

Colhendo cada fruto, satisfeito
Ganhando no caminho meta e prumo.
Saudade se esvaindo em frágil fumo
Afasta-se pra sempre do meu peito.

Eu tenho esta certeza dentro em mim
Da flor que perfumando o meu jardim
Expressa a qualidade do cultivo.

Meu verso se tomando de emoção
Cuidando com carinho, a plantação
Deixando o jardineiro assim, cativo...
Marcos Loures



39


Decerto de gostoso já vicia
O grande amor que entranha as nossas vidas.
No quanto teu carinho protegia
As horas não se foram distraídas.

Na beleza infindável de teus olhos,
O sonho se mostrando sempre bom,
O trigo separado dos abrolhos
Estende em harmonia um novo tom

Este anjo que tu és já me permite
Viver a sensação do manso sono,
Amor que na verdade é sem limite
Cativa e não concebe um abandono.

Deitando meu carinho em tua guarda,
Felicidade imensa já se aguarda...


40


Decerto companheiro a voz do povo
Na grita que se mostra assim geral,
Repete o velho mote que, de novo,
Representa a verdade tal e qual.

O sangue do operário ou lavrador
Sustenta esta cambada de safado.
E quando algum juiz mostra valor
É logo, desde então amordaçado.

Eu peço aqui perdão por esta herança
Que a gente inda não soube destruir.
Restando tão somente uma esperança
Que possa iluminar nosso porvir.

Botando salafrários na cadeia,
O Banco se esvazia e ela vai cheia...
Marcos Loures


41


Debaixo dessa blusa, fantasias...
Delícias da nudez desta mulher...
Quebrantos e malícias, melodias.
A lua que me invade também quer...

Carinhos percorrendo poesias,
Neste prato meter minha colher
E desfiar rosários tantos dias
Quanto à dona da blusa me quiser...

Meus dedos são expertos navegantes,
Desbravam cada canto desta mata...
Teus seios são portentos elegantes,

Encontro meu tesouro e minha prata...
Nas pernas já me ocultas diamantes,
Escorrem teu prazer, doce, em cascata..
Marcos Loures



42


Debaixo da jaqueira, ele pensava
Como a vida se faz em perfeição.
Se ao invés de britânico, bretão
Conforme ele sabia e constatava

O gênio que sentado descansava
Fazendo a sua sesta sobre o chão,
Morasse no Brasil, no meu sertão,
Teria a sorte amarga, fria, brava

Talvez seria; enfim caricatura,
Do crânio destroçado, com fratura,
E a sua descoberta, um novo tom.

No lugar da maçã fosse jaqueira
A história não seria verdadeira,
Tampouco genial, Isaac Newton...



43


Debaixo da janela, o seresteiro,
Invoca; enamorado, a bela lua,
Sua alma perde os lastros e flutua
Tendo no violão seu mensageiro,

O sonho perseguindo este luzeiro
Imaginando a deusa seminua
Que em doce transparência continua
Ouvindo a mansa voz do seresteiro.

Retrato abandonado na gaveta
Do tolo imaginário de um poeta
Teimoso que esqueceu de olhar em torno,

O quanto deste encanto ainda resta,
Romântico soneto? A luz funesta
Impede sem perguntas, tal retorno...


44


De uma paixão intensa e verdadeira
Sobrando quase nada faz pensar,
Por mais que seja imenso o grande mar
Jamais teve a doçura da ribeira.

Viola; minha antiga companheira,
Clamando da varanda este luar,
A noite que passando devagar
Encontra em cada luz a mensageira

Que trama uma ventura sem fronteiras,
Dos sonhos mais comuns, simplicidade,
Palavras correm soltas, estradeiras

Levadas pelo vento até chegar
A quem eu dediquei a claridade
Que um dia, tão distante fui buscar...



45


De uma amargura imensa, bem curtida,
A pele que desnudo frente a ti,
Imagem de minha alma já vencida,
Jogada num esgoto, onde perdi

A sorte de saber da dolorida
Estrada que por vezes não segui.
O bem que me negaste, a própria vida,
Encontro mais alhures do que aqui.

Porejo um sujo sangue quase anêmico,
Que sei nunca terá nem serventia.
Meu verso se faz tolo e verte em lama

Mostrando que este efeito, sendo cênico,
Qualquer significado não valia,
Apenas fogo fátuo, sem ter chama...


46


De um túmulo soturno assim surgia
Alvíssima beleza deslumbrante.
Alquímica mortalha que em magia
Num átimo se mostra aqui, diante

Dos olhos de quem nunca mais veria
O dia renascer irradiante.
O beijo sacrossanto que daria
Sugando toda a vida num instante.

Noctâmbula insensata embriaguez
Levara-me a seus braços, turva senda.
Paisagem maviosa enquanto horrenda.

Levando em avalanche a lucidez.
Debruço-me num ato de loucura
E bebo todo o sangue com ternura...



47

Debruço sobre ti minhas vontades,
Arrancando os espinhos, sobra a flor.
Vereda mais tranqüila vou compor,
À sombra dos desejos, liberdades.

Encampo tais promessas que te faço,
Alheio-me dos traumas que passei.
Da antiga divisão, talvez serei
Um único caminho, o mesmo traço.

Plastificando o sonho, não me entendes
Se eu tento navegar mares diversos.
Pensares tão absortos vão dispersos

Enquanto o fogaréu queres e acendes.
Espalho pelos campos as sementes,
As polinizações são sempre urgentes...
Marcos Loures



48


Debruças poesias na janela
Enquanto eu passo, um simples sonhador,
Deveras imagino aquela estrela
Deitada no meu leito em louco amor.

Quem dera se eu pudesse ser só dela
Caminho de esperanças, vencedor.
A vida num momento se revela
Ao espalhares sonho intenso em flor.

Farturas de prazeres, seios, risos,
Vertentes de ilusão, divinos guizos
Numa explosão de festas e granizos

Teus lábios tão vorazes e precisos,
Mostrando o mais perfeito dos sorrisos
Convite para o mundo em paraísos.


49

Debruças à janela e tentas ver
A imagem do que outrora fez-se encanto.
Distante ainda ouvindo o suave canto
Que um dia te inundara de prazer...

Talvez um simples sonho. Queres crer
Que a mão que te servira como um manto,
Ausente de qualquer fuga ou quebranto
Virá, na madrugada te envolver...

- A lágrima que escorre já revela
O tom em que um artista pinta a tela
Bebendo desta fonte intermitente

Mas choras quando embalde surge o dia,
Quem fora rouxinol é cotovia,
A cena se repete eternamente...
Marcos Loures



50

Debaixo dos umbrais, um cão vadio
Ladrando para a lua tão distante,
Olhando a claridade fascinante,
Encontra tão somente a dor e o frio...

O copo da esperança vai vazio,
O fel da realidade transbordante,
O sonho, este cruel e vil farsante
Que em noites solitárias, quero e crio

Perambulando insones madrugadas,
Tentando vislumbrar deusas e fadas
Aonde se percebe este negrume...

O fardo de viver, pesando tanto,
Das trevas, desamor, trazendo o manto,
Uso pra me esconder, falso perfume...
Marcos Loures



51

Debaixo dos lençóis, me declaraste
Amor que sem limites, nos tomou.
E quando suavemente, me tocaste
A vida em alegria se inundou.

Do teu amor, bem sei que não falaste,
O teu carinho imenso já falou,
Estrelas, nesta cama transbordaste,
O meu caminho todo, iluminou...

A linha que escreveste com teus lábios,
Jamais vai se apagar dentro de mim...
Desejos se procuram, são bem sábios..

Palavras... Não precisas nem dizer,
Pois tudo o que sonhei, trouxeste sim,
No idioma universal, tanto prazer...
Marcos Loures



52

Debaixo do luar, pássaro canta
E encanta quem escuta o belo trino,
Amar foi um descuido do destino?
Ternura que procuro em força tanta.

Estrelas nos tomando, clara manta
Professo em tal torpor um desatino
E ao mesmo tempo em que já me alucino
A força deste encanto me agiganta.

Arestas aparadas, sigo em frente,
Já não em desespero nem descrente
Sargaços não impedem que eu aporte

Nos braços calorosos da mulher
Que tanto desejei e bem me quer,
Tornando alvissareira minha sorte...
Marcos Loures


53


Debaixo do chuveiro quando canta
Parece um passaredo em rebeldia
Transforma qualquer nota em poesia
E a todos que a escutam, ela encanta

Vontade de sonhar, agora é tanta
E ao espalhar em volta, fantasia
Um mundo tão diverso ela assim cria
Na força insuperável da garganta.

Ouvindo a sua voz, a natureza
Deslinda-se em magias e em beleza
Trazendo a todo mundo imensa paz.

A melodia expressa tanto amor
Nos cânticos de glória e de louvor
Uma alegria intensa ela nos traz...
Marcos Loures



54


De um jeito inebriante e tão macio
A voz de uma pessoa cativante
Entorna a poesia e num instante
Invade o coração deste bugio.

E quando esta presença; fantasio,
Minha alma num falsete dissonante
Do som maravilhoso, discrepante
Ainda tatuada pelo frio

Espera um novo tempo mais feliz,
Viver é desfrutar do que se quis
E um dia cultivei com tolos versos.

Depois de tanto tempo em solidão,
Plangência dominando o violão,
Espanto-me em acordes tão diversos...


55

De um falso diamante roubo o brilho
E dou a quem se fez tão verdadeira,
Não quero o gozo de qualquer maneira,
Por mais que eu te pareça maltrapilho.

Os erros cometidos eu empilho,
Descrevo a cada verso uma ladeira
Aonde tropecei a vida inteira,
Jamais aprenderia um novo trilho.

Repare nesta lua; como é bela,
Porém a cada mês ela revela
O quão constante em fases semanais.

Assim também o amor que eu trago em mim,
Retorno ao desvario de onde eu vim
Qual barco que se ancora em podre cais...



56


De um erro cometido, arrependido,
Por mais que ainda sonhe com perdão
O passo desde agora combalido,
Não sabe decifrar a direção.

Outrora com vigor e decidido
Vencera com furor uma amplidão,
Habito esta masmorra e quando agrido,
Reflito o que hoje sou: um simples não!

Nos olhos dos meus filhos a esperança
Que um dia pensei ser a minha herança
Aos poucos se transformam. Vão disfarce

Jogado pelos cantos. Quanto é falso
O passo que fugindo ao cadafalso
Se perde num cruel e vivo esgarce...
Marcos Loures



57


De um amor, o mensageiro
Escondido atrás da sorte
Vem chegando sorrateiro
Com palavra que conforte

Quem me dera se consorte
De teus sonhos por inteiro
Eu teria em bem suporte
Seria amor verdadeiro.

Mas se deito esta esperança
Nos jardins da bela dama,
O meu tempo sem andança

Nos teus rastros bebe trama
Quando o fogo nos alcança
Da ilusão eu verto chama....
Marcos Loures



58



De um amor que em amor tanto se deu
Fermento de emoções e de vontades,
Almejo ser completamente teu
Sabendo que estes sonhos são verdades.

O vento realçando as liberdades
Permite te dizer o que ocorreu
Manhãs antecipando quentes tardes
Depois, a noite invade em negro breu.

Bem sei que quando a lua se apresenta
A negritude logo se apascenta
E traz no lusco fusco, maravilhas.

Eu quero e necessito mesmo crer,
Que a luz persistirá no amanhecer,
Dourando eternamente nossas trilhas...
Marcos Loures



59




De tudo que tivemos mal sobrou
A foto sobre a mesa no escritório.
O coração sofrido e merencório
Vagando em noite fria, assim eu vou...

Que faço se em verdade nada sou
Distante deste amor que sendo inglório
Sem ter jamais um brilho que decore-o
Morrendo, com certeza me matou.

Lavrando em aridez nada colhi,
Não sendo este caminho o que escolhi,
A sorte nunca tive, nem a vi.

Quem sabe noutra vida, eu volte a ti
Mostrando o meu olhar lacrimejante
Talvez volte a sorrir no mesmo instante..



60


De tudo que sonhei na minha dura vida,
Achei felicidade em momentos atrozes.
O sorriso que dei nas mãos dos meus algozes;
A lua que ilumina em noite vã, perdida;

A hora em que me encontro, em plena despedida.
A mansidão que tenho, em garras mais ferozes.
Veneno que me cura em tão suaves doses.
A mão que me maltrata, a que é oferecida.

Aprendo com o não, me ensina mais que o sim...
E com isso o perdão, é meio e também fim;
A dor que compartilho ensina-me a viver.

Entendo o sofrimento assim como a alegria.
A noite tenebrosa aguarda um belo dia.
Ser bom, quase feliz, da dor tirar prazer!
Marcos Loures



61


De tudo que juntei, grãos abortados,
Os dias nunca foram mais felizes,
Deslizes escancaram cicatrizes
E os olhos tantas vezes embotados.

Recados do passado chegam tarde,
E o quase ainda dita este cenário,
A velha fantasia queimando arde
O canto do pardal doma o canário.

Estrela debutando na janela
O verso desembesta e me revela
A sela sem cavalos quer galope.

Receios são recheios dos meus versos,
Encantos se perderam, pois dispersos,
Garrafa da ilusão em fel se entope...



62


De tudo que aprendi na minha vida
Em várias estações onde passei
Somente pouca coisa foi retida
Das muitas emoções que eu enfrentei.

Buscando a cada dia ser feliz,
Ouvindo algumas vezes a razão,
Contudo percebi ser aprendiz,
Meus versos sempre cantam emoção.

Meus erros repetidos num momento,
Os sonhos abortados ou calados,
A própria solidão, o sofrimento,
Os medos, os segredos desprezados...

O melhor, com carinho e humildade,
É ter, com certeza, uma amizade...



63

De tudo o que tivemos; riso e pranto,
Apenas nosso amor permaneceu
Vencendo em calmaria o desencanto
É luz irradiando sobre o breu.

Não temo mais inveja nem quebranto
Pois vendo o sentimento meu e teu
Espalho uma alegria em cada canto,
No quanto farto amor se concebeu.

Contigo companheira e aliada
Eu sei que nada pode nos ferir.
Enquanto a fantasia nos gerir.

O sol ao nos trazer bela alvorada
Derrama sobre nós a claridade,
Dizendo deste amor que é de verdade.
Marcos Loures



64

De tudo o que sonhara nesta vida.
Andava assim, beirando o precipício
Achando minha sorte já perdida.
Mas quando te adorar tornou-se um vício
Achei no fim do túnel, a saída..
fazendo da alegria o nosso ofício

Se flores esparramas pelo chão
Aromas são teus rastros, minha sina,
Saber do bem da vida, vinho e pão
É ter-te nos meus braços; diamantina,
Perfazes a beleza e a solução
Tão cedo o teu amor já me domina

E mostra que contigo aqui, bem perto,
Não temo mais os cardos do deserto...



65


De um tempo em que pensara ser pequeno
Vivendo a dor cruel da solidão,
Percebo nos teus braços, vento ameno
Trazendo uma alegria em profusão.
De amores e carinhos ando pleno
Forjando no meu céu imensidão...

Tu mostras quão possível ser feliz,
Tomando a minha vida em alegria.
Meu céu, caleidoscópico matiz
Agora se moldando em harmonia,
Azulejando a vida, amor que quis
Farturas de prazer e fantasia.

Vontade de gritar em alto brado,
Eu estou, finalmente, apaixonado!



66


De um sonho mais feliz e venturoso
Deixaste tão somente este vazio,
Movido por talvez um presunçoso
Desejo que em loucuras eu recrio...

O dia vai nascendo nebuloso,
Lá fora tão somente o eterno frio,
Caminho pelas trevas e andrajoso
Persisto, um andarilho vão, vadio.

O tempo consumindo a fantasia,
Legando ao meu destino desatino.
Quem dera se eu pudesse... a dor sacia

E em pleno desvario sigo só.
Se o gozo da ilusão cedo extermino,
Não resta do que fomos nem o pó...
Marcos Loures



67

De um raro amanhecer eu me afianço
Num canto que se mostre mais singelo
Eu quero no teu colo o meu remanso,
Fazendo desta noite um sonho belo,

Contigo um infinito logo alcanço
E todo o meu prazer já te revelo
Falando deste amor, não me canso,
Meu corpo no teu corpo assim atrelo

E bêbado de luz, vou caminhando
Seguido a cada noite te buscando
Colhendo no canteiro a bela flor

Quem dera um beija-flor pudesse ser
Bebendo em tua boca este prazer
Tocado pelo vento deste amor
Marcos Loures



68








De tua boca, ouvir o belo canto
Que pode transformar a minha sina,
A vida tantas vezes me destina
Apenas, tão somente o desencanto,

Não quero mais saber do antigo pranto
Rolando de meus olhos, fria mina,
Tampouco a solidão, esta assassina
Cobrindo-me deveras com seu manto.

Eu quero uma magia tão simplória
Modificando toda a minha história
Tragando os dissabores que inda trago,

Numa explosão fantástica e silente,
Dizendo deste afeto que se sente
Na simples sensação de um manso afago...



69


De todos sóis que procurei na vida,
Rolando o pensamento pelos astros,
Mudando a minha história, a despedida
Não deixou nos meus céus, caminhos, rastros.

Aguardo por talvez mão estendida
Ao menos que me dê apoio e lastros.
Mas sendo tão difícil a saída
Bandeiras dos meus sonhos buscam mastros.

Dormentes emoções não representam
Sequer algum resquício de alegria.
As dores e tristezas se apresentam

Fazendo do meu peito espinho e cardo.
Quem teve noutro tempo, a fantasia
Percebe quando o amor se torna um fardo...
Marcos Loures



70


De tudo o que restou somente um naco
Daquilo que pensei outrora ter
Talvez inda me desse algum prazer,
Não estaria assim, cansado e fraco.

Nas festas que sonhei; louvor a Baco,
O corpo se entregando sem saber
Que pouco a pouco iria apodrecer
E agora em cais tão frágil, o barco atraco.

Só sei que não sobrou nem esperança,
A antiga fantasia já me cansa
E o gosto pela vida se esvaindo...

Não pude resistir, e aos poucos parto,
De todo o sofrimento, eu estou farto,
A morte; finalmente, descobrindo...



71


De tudo o que mais sinto; o que eu queria
É ter o teu sorriso aqui comigo,
O resto na verdade, nem mais ligo,
Apenas eu desejo uma alforria

Libertação se faz a cada dia
Cevando a poesia joio e trigo
Misturas que demonstram que o perigo
Às vezes bem mais perto que podia.

Persisto com meu passo, sem descanso,
Não me importando, juro, se eu alcanço
Ou perco a flor, matando o seu perfume,

Porém ao pôr meu peito mais exposto
O esgar que se demonstra no meu rosto
Permite que meu passo, enfim se aprume.
Marcos Loures



72

De tuas mãos divinas, tal carinho,
Que sinto, calmamente, me enlevar;
Arando o coração, preparam ninho,
Onde esperança, intensa, vai morar.

Eu quero cada fruto, cada flor,
Produto do cultivo, plantação.
Recebo em tuas mãos, o pleno amor,
Que faz no bem querer, adubação.

Decerto nas delícias do pomar,
As frutas delicadas, nossos filhos.
É vida que, insistindo, faz brotar,
Nossos caminhos, unos, nossos trilhos.

E já peço, em mãos postas, numa prece,
Essa beleza do amor que amadurece...



73


De tua carne livre e desejosa,
O gosto mais profano e impudente
Por tanto que te quis voluptuosa
Na cama que sonhei mais indecente.

Teus seios tão macios e famintos,
Teus olhos tão sedentos e vorazes.
Vulcões que já julgara; assim, extintos,
Nas bocas e nas mãos bem mais audazes.

Cevado pelo beijo que prometes
E tramas toda noite em nossa cama.
Ao solo deste amor já me arremetes
Minha alma cravejada não reclama.

E quero neste jogo me perder,
Vencido pelo amor, ganho o prazer...



74


"De todas as maneiras vou te amar!"
Por todos os meus mares e campina...
Nas ondas que se vão, neste luar...
Coração que se entrega, descortina

A vida que jamais pode esperar...
Um bolero orquestrado, a louça fina...
O tempo amaciando sem sangrar...
Meu coração descrente hoje imagina...

De todas as maneiras... Tão distante...
Quando partiu, deixou vazio o peito...
Tempestade rugindo, delirante...

Quem partiu só saudade me deixou...
Nem a força, seguir para adiante...
Quem me dera esperanças, as levou!



75

De todas as maneiras hei de amar,
Em gozo, fogo fátuo, loucamente,
Aos poucos bem mansinho devorar
Juntar teu corpo ao meu tão vorazmente.

Fazendo-te feliz, ao me dourar
Do sol em que irradias, mais ardente,
Na tesa sensação de te adentrar
Na fúria que se molda amor urgente.

Teus seios, pernas, boca, corpo imerso
Em louca fantasia, uma fornalha,
Cabendo dentro em ti meu universo

Que explode em alegria e gozo intenso,
Amor que não permite qualquer falha,
E nunca se perdeu, jamais disperso...



76


De toda uma tristeza, sofrimento.
Meu riso se espalhando em alegria.
O fim de tanta dor e do tormento
Invadindo o meu mundo todo dia.

Me sinto mais liberto e mais cativo
No amor que sepultou essa tristeza.
Sentindo finalmente que estou vivo.
Entrego o coração, tenho certeza!

A dor que se desmancha em pleno abismo,
Saltando sem sequer olhar pra trás.
Trazendo em nosso amor tal otimismo
Mostrando: ser feliz, eu sou capaz!

Fazendo deste sonho pleno mel,
Nos braços de quem amo, vou ao céu!



77



De toda uma alegria, nada resta
Somente a solidão, triste quimera.
A dor que a tanto amor, o fim empresta,
Demonstra como a vida só, é fera...

Amor quando se acaba, solto ao vento,
Dos olhos, tanta dor, lacrimejando...
O sonho de viver, pressentimento,
Aos poucos, como tudo, se acabando...

Quem fora companheira, leva a vida...
E deixa, em seu lugar, este vazio.
Sabendo deste fim, minha querida,
Não deixe que vivamos neste frio...

Por isso, minha amada, fica comigo,
De certo irei dormir, findo o perigo...



78


De toda loucura
Que a gente quiser
Amor traz a cura
De um modo qualquer

Enquanto ternura
Delícias, mulher
À noite se apura
O que se disser

Total transparência
De rendas, cetim,
Amor sem decência

Sem medos, enfim,
Pontua em demência
Desejos em mim...


79



De toda esta loucura, o peito apraza
Alcança, num momento a cordilheira
Dos sonhos ideais calor e brasa,
Tomando a minha vida, por inteira.

Servindo a quem se fez o servidor,
Amando além de tudo, com firmeza.
O passo lado a lado, alentador,
Toda a beleza em vida já represa.

Acima do que pude perceber,
Alçando em liberdade, mais profundo,
Recebo em tuas mãos farto prazer,
Meus olhos nos teus olhos; aprofundo.

Inundas com carinhos, minha vida,
Encontro a redenção antes perdida...
Marcos Loures



80


De todos sentimentos, assenhoras,
Dominas cada frase que eu disser
A sílfide que, em forma de mulher
Chegou à minha vida sem ter horas.

A cada verso teu me revigoras
Do jeito e da maneira que vier
Eu quero a maravilha de poder
Saber o quanto em fogo me devoras.

Coração taquicárdico te espera
Eternizando em flor a primavera
A solidão malévola se espanta

Ao ver essa beleza sem igual,
Encanto feito amor, sensacional
Alavancando a vida, me agiganta..



81


De todos os momentos que sentira
Perdera todo o senso, sem saber
Que a mão que acaricia enquanto atira
Às vezes causa dor, outras prazer.

Embora a sede louca já prefira
O corte feito em gozo por saber
Que a carne que se expõe no amor que gira
Em carrossel transmuda o bem querer.

Mas nada mais me resta, risco e rastro,
Arisco busco o canto em que me ofusco,
Somente adormecendo em lusco-fusco

O brilho de teus olhos, mágico astro.
De todos os momentos, rostos e entes,
No amor que me demites e em que mentes..
Marcos Loures



82

De todos os momentos que passei
Durante a minha vida já te digo
O quanto na verdade eu procurei
Amor que se fez calmo enquanto amigo.

Felicidade imensa é nossa lei
Não temo nem a dor sequer perigo,
De tudo o que mais quero, eu encontrei
Vivendo dia-a-dia, estar contigo.

Não temo nem tristeza ou solidão
Pois tenho em nosso amor tal emoção
Que traz amanhecer em paraíso.

Vencendo todas pedras do caminho,
Jamais me sentirei assim sozinho
Encontro em teu abraço o que eu preciso.



83

De todos os meus dias, terremoto
Mudando vez em quando o velho rumo.
Pecado cometido; logo assumo
E de ilusões, o peito agora eu loto.

O sonho se mostrara então, remoto,
Negando da alegria o santo sumo,
Nas mãos amareladas pelo fumo
O medo deste amor, decerto esgoto.

E faço do meu verso, uma arma a mais
Querendo bem aqui os magistrais
Delírios deste amor que eu bem queria.

Do quanto que não tive e o que passei
No muito da esperança eu decorei
O passo que se mostra a cada dia.
Marcos Loures


84

De todo sonho, o bem que eu te propus
Ferrenhas emoções vão me inundando,
Não tendo mais sentido quanto e quando
Eu sigo os rastros teus e chego à luz.

Fartura que ao divino amor conduz
Faturas de esperanças vêm cobrando,
Fraturam estruturas, desabando
O canto mais audaz se reproduz.

Acácias espalhadas na alameda
Dos sonhos, um divino bulevar
Almíscares invadem, ganham o ar

Permitem que alegria então se ceda
Mostrando em tons sutis tal maravilha.
Minha alma que antes fora uma andarilha.
Marcos Loures



85





De todo o que passei; cada tormento
Deixando a mais profunda cicatriz
Não tendo em meus caminhos mais alento,
Vagando quase sombra, um infeliz.

Atrizes que se foram, palco estúpido.
Num último momento, mau cenário,
Olhar que me devora, atroz e cúpido,
Estende o seu sorriso temerário

No crocitar terrível, na rapina,
O bico que penetra no meu cerne,
Quem dera se minha alma em leve crina
Alçasse uma esperança que me hiberne.

Talvez inda restasse uma ilusão,
A noite se esgarçando em podridão...



86


De todo este lirismo me reveste
Palavra que me dizes, mansamente,
Além do que este vento em paz pressente
Amor não necessita qualquer teste.

Verdade que se quer e cedo ateste
Na chama tantas vezes inclemente
O tempo de viver tão plenamente
Em toda a fantasia que inda reste.

As rugas vão tomando a minha tez
São marcas de um amor que se desfez
Intensa sensação que não termina...

Afinal, quero o nosso amor de volta,
O peito se transtorna e se revolta
Distante do que outrora fora sina.
Marcos Loures


87


De todas as mulheres que eu já tive
Tu tens a maravilha de saber
Conciliar ternura com prazer,
Em ti, minha alegria sobrevive.

Magia que contes de ser assim,
A doce feiticeira que domina,
Eu quero o teu sorriso de menina
No corpo da mulher, amor sem fim…

Prendeste com carinho, o coração
De um tolo seresteiro que pensara
Que a vida fosse amarga, fria amara

E quando se entregou sem direção
Bebeu da fantasia deste encanto,
E sabe que te adora, tanto, tanto...

Marcos Loures


88


De ter a solução para os problemas,
Percebo o quanto é bom viver liberto,
Ao lado de quem ama nunca temas,
O rumo que encontraste é o mais certo.

Por isso meu amigo em raras gemas
A vida nascerá neste deserto,
O peito quando aberto, traz emblemas
De luzes e de sonhos bons, coberto.

A força da amizade se mostrando
A cada novo dia já faz crer
No amor que em claridade se entornando

Um sonho quando feito em liberdade
Permite vislumbrar pleno prazer,
Vivendo a força incrível da amizade.
Marcos Loures



89


De tantos companheiros de desdita
Nos velhos botequins e nos bordéis,
Nas tramas mais diversas, carrosséis,
A vida desfilando vã, maldita...

No quanto a mocidade inda acredita
Destoam realidades, méis e féis,
Findando nos escombros dos motéis
Fiando a sorte intensa, mas finita.

Lavrando com ternura um bom canteiro,
Arando com palavras mais gentis,
Um mundo tão cruel ou lisonjeiro,

Num átimo, um mergulho tão diverso,
Mutável recriando este matiz
No iridescente prisma feito em verso...



90


De tanto te cantar fiquei afônico,
Mas nem me deste bola, estou no sal.
O amor que ofereci morrendo, agônico,
Sonhara com espaço sideral.

Tentando ser da vida como um tônico,
Vencendo sem temores todo o mal
Às vezes comportado outras hedônico,
No fundo, amor sagrado e sensual.

Depois de certo tempo, nem ouvias,
Matando em nascedouro as fantasias
Deixando para lá quem te quis bem.

Fazendo-se de mouca, agora eu mudo,
Seguindo o meu caminho surdo e mudo
Não me queres? Não quero a ti também!
Marcos Loures



91


De tanto ser tão tonto tento um tento
Que nada... Amor balança, mas não cai.
Um novo Paraíso até que invento,
Porém a solidão não se distrai.

O olhar que já guardei no pensamento,
Teimoso deste jeito, nunca sai.
Repito, toda vez, este lamento,
Agora, deste jeito, eu penso vai...

Eu sei que sou ingênuo, disso eu sei.
Quem fez das ilusões a sua lei
Demora, cai a ficha, volta ao zero.

Ao menos um sorriso de um amigo.
Eu tento, me arrebento e não consigo,
Porém, oligofrênico, eu espero...
Marcos Loures



92


De tanto sentimento que despertas
Mal sabe quanto quero teu amor.
As horas que vivemos, tão alertas.
Em tantos desafios, teu calor...

Amor fazendo leis que desconcertam
Em várias incertezas já se apóia.
Nas dores que depressa não consertam
Acalmam-se no amor, santa tipóia...

Trazendo nas premissas tanta sorte
Que as leis que amor criou tramam razões
Que se formam das noites brilho forte,
Razões que sempre tramam corações.

Amor se não se cuida se padece
Razões que na verdade amor conhece...



93




De toda essa vontade de te ter
Tão pouco me restou, só a saudade.
Que cisma a cada instante renascer
E destruir qualquer felicidade...

Fomos tão eternos, mas morremos,
Da triste solidão, que vivo agora.
Talvez, noutros braços, buscaremos
O brilho e o prazer que a vida implora...

Vazio, um sentimento me domina,
O canto que cantava se perdeu...
A lágrima caindo, cristalina,
Em rubra solidão se converteu...

Porém num grito amargo te reclamo.
E saibas meu amor, eu inda te amo!


94


De toda a sorte e glória, um doce aviso
Chegando calmamente à nossa casa.
O vento da esperança é mais preciso
Mantendo sempre acesa cada chama.

Partilhas que se fazem são promessas
De um tempo em que virá tanta fartura.
No quanto que tu sabes e professas
A cada novo dia, com candura.

Uma amizade mostra quanto é belo
O caminhar sem medo ou aflição.
Expia com carinhos tal flagelo
Que causa a mais cruel arribação

Dos sonhos e dos risos mais gentis,
Mostrando que é possível ser feliz.
Marcos Loures



95

De tocaia, espreitando, a mesma fera
Que há tempos não permite mais que eu ria.
Nas garras e nos dentes da pantera
A morte da esperança e da alegria.

Seria tão somente um pesadelo
Não fora o gargalhar da besta infame.
No quanto a nada ter, eu me enovelo
Mentiras, vis ardis que a sorte trame.

O quanto desejei e nada veio,
Apenas a vontade de morrer.
A solidão chegando sem receio,
A vida vai passando sem prazer.

O tempo de sonhar? Pra sempre ausente,
O fim em solidão já se pressente...
Marcos Loures



96


De ti eu sou somente um helianto
Envolto pelos brilhos que me emanas,
Tua dolência em forma de um encanto
Em rara formosura traz-me ganas

De acompanhar-te sempre, em cada canto.
No amor que nos tomou, do qual ufanas.
Distante da má sorte e do quebranto,
Na sede e na vontade que me emanas.

Sentir teu corpo quente, em harmonias,
As mãos que me percorrem, mais macias,
O fogo de uma estrela bela, acesa...

Opulências divinas, rumos vastos,
Desejos e prazeres nada castos,
Tu és a plenitude da beleza...



97



De ti ando cativo ultimamente,
Pior; eu não desejo a liberdade
Tomando já de assalto o corpo e a mente
Amor vem e traduz felicidade.

Decerto eu te pareço algum demente,
Porém a cada verso uma verdade,
Distância se tornando penitente
Tocado pela insânia da saudade

Eu venho, num soneto reclamar
O quanto estás agora tão distante.
Quem dera se eu pudesse levitar

Chegando junto a ti, no mesmo instante
Dizendo claramente num lampejo
O quanto que te eu quero e te desejo...
Marcos Loures



98


De ter um sonho calmo, manso em paz
Eu sinto-me capaz desde que vi
O lume que esperança sempre traz
Tocado pelo brilho que há em ti.

Carinho que decerto satisfaz,
Encontro com certeza bem aqui,
Vencendo a tempestade mais voraz
Nos braços da amizade, enfim venci.

Agora nada temo, minha amiga,
Contendo o teu sorriso dentro em mim,
Lutando sem temores chego ao fim.

E tendo esta alegria que me abriga
Eu venço os temporais e vendavais,
Meu rio desemboca no teu cais...


99


De ter o teu amor só para mim
Apenas foi um sonho e nada mais.
Se a gente não enfrenta os vendavais
O barco não terá seu cais no fim.

Na cama estes lençóis, puro cetim,
Retratos muitas vezes sensuais
No fundo sem amor, ficam banais,
Inútil feito a lua sem o gim.

E caço os teus pedaços pela cama,
Rastreio cada passo que tu destes,
Em vão a poesia te reclama,

E tendo este vazio como herança,
Os dias passarão bem mais agrestes,
Mortalhas que revestem a esperança...


4700



De tanto que sonhei, a me fartar,
Buscar saciedade aonde é vão.
A vida que me salga, imenso mar,
Expressa o desengano, a decepção...

A angústia, esta cruel embarcação
Fazendo cada sonho naufragar,
Moldando numa inútil floração
Jardim que eu nunca soube cultivar...

Se acaso inda tivesse uma esperança...
O tempo se esvaindo, nada tenho.
O amor que não bebi e não contenho,

O frio que em tormentas já me alcança,
Agarro este cometa, inutilmente,
Não voltará, decerto, novamente..



4701


De tanto que tramei em solidão
O verso vai saindo qual espirro,
Falar de poesia e de perdão
Só serve quando, amor, eu já me embirro...

Teimoso como um asno que se empaca
Não deixo mais chegar a ventania...
Nos gumes que conheço dessa faca
Sentidos que se perdem, poesia...

Vagando nas vacantes cercanias,
Cerrando tais fileiras com a sorte,
Encaro assim, portanto as alegrias,
Como um belo prenúncio para a morte...

No fundo faço versos por fazer,
Buscando um bom motivo pra viver!

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