1
Ao ver tantas desgraças que acontecem
Percebo quanto o amor foi esquecido.
Bocas que se maldizem sempre tecem
Desculpas para ofensas. Esquecido
O povo que será dono do céu,
Tão maltratado morre em cada esquina.
Usando de artimanhas como um véu,
A mão que é tão voraz, já discrimina.
O triste, meu querido carpinteiro,
É vermos em Teu nome tanta farsa,
Quem tinha que ensinar ao mundo inteiro,
Odiando, simplesmente se disfarça
E grita contra irmãos, discriminando,
No desamor imenso, vão matando...
2
Ao ver teu nome escrito nas estrelas
Formando constelar conformação
Eu tive já por certo uma impressão
Que um dia eu poderia recebê-las
Ou mesmo até quem sabe enfim cabê-las,
Guardadas toda noite no colchão.
Assim eu me entornando de paixão
Teria a claridade destas velas.
São belas, com certeza, mas não creio
Que possam vir comigo. Tão distantes.
Dois corpos que se fazem como amantes
Não podem com certeza ter receio.
O amor na cobertura ou no recheio
Promete doces, raros, fascinantes...
3
Ao ver teus seios nus o meu desejo
Aumenta pouco a pouco, mil delírios...
Tal avidez me toma quando vejo
Alabastrinos campos, alvos lírios...
Andando pelo quarto, sigo os passos,
Meus olhos vão sedentos o tempo passa.
Sorrindo tão matreira. Estendo os braços,
Mas perco tua imagem na fumaça...
Afago os teus cabelos, num momento,
Percebo que este sonho, uma utopia.
Que não me larga mais o pensamento,
Povoa minha vida em fantasia.
Sentindo já teu hálito, querida,
Tu tomas totalmente a minha vida...
4
Ao ver tua atitude
Negaceando a sorte
Aonde se comporte
O todo que se mude
A vida não me ilude
E sei do mesmo norte
Ainda quando é forte
O tanto quanto pude.
Vestindo a melhor lua
A sorte continua
Pousando noutro encanto
Vestígios de outras eras
E nelas tu temperas
O amor em raro canto.
5
Ao ver tua atitude, companheiro,
Não posso me furtar ao comentário.
Decerto não se sabe por inteiro,
Por isso, eu não serei, assim sectário.
Mas nada justifica uma atitude
Insana, sem qualquer explicação.
Espero que tu penses, logo mude,
Agindo com mais lógica, atenção.
Feriste que jamais te fez o mal,
Palavras; feito faca, sempre cortam.
Agiste como fora um animal,
Será que tantas coisas nunca importam?
Desculpe se te falo essa verdade,
No jumento, menor bestialidade...
6
Ao ver tua beleza sem igual,
qual pedra preciosa, meu rubi,
num rubro mavioso e sensual,
percebo como é bom te ter aqui,
por vezes um amor fenomenal,
mostrando esta alegria que vivi,
teu corpo sedutor, sensacional,
mais belo neste mundo, eu nunca vi.
Vem logo que te espero, não demora,
eu quero te beijar, querida, agora
e ter tua nudez em minha cama,
rolando a noite inteira em tanta fúria,
imersos na lascívia e na luxúria,
rubro rubi, vermelha: intensa chama!
7
Ao ver tua chegada no portão,
Percebo toda a sorte que recebo,
E tenho a maravilha que percebo
Ter sua origem sempre na paixão.
Mais forte vai batendo o coração
No amor que imaginei e que concebo
Marcado por desejo e sedução.
Eu sinto-me querida qual um Phebo
Que encontra uma Afrodite em sua cama,
Vivendo esta loucura que me inflama
Sou um homem feliz, isto eu não nego.
Não tema a solidão, triste quimera,
De novo revivendo em primavera
Num mundo mavioso assim me entrego...
8
Ao ver tua nudez
A diva mais perfeita
Minha alma se deleita
Enquanto em sonho vês
A louca insensatez
Na tez onde se deita
A vida quando aceita
Marcando a placidez.
Ousando muito além
Do quanto a vida tem
E gera a sorte em nós
Vencido pelo vento
O canto aonde eu tento
Desaba em velha foz.
9
Ao ver tua nudez adivinhada,
Desejos incontidos... mil vontades,
A silhueta bela desnudada,
Coração disparando em ansiedades.
Beleza sem igual já desfraldada,
A noite se esfumaça, veleidades,
A lua se derrama na calçada
E adentra em nosso quarto. Claridades.
Percebo em cada véu que vais tirando
A chama do desejo me tomando
Vibrando com loucuras, sempre e mais.
Antes que caia, amor, último véu,
Num salto mergulhando neste céu
Invado com prazer, divino cais...
10
Ao ver tua sobeja
Vontade a se traçar
Ousando a divagar
No quanto se deseja
A sorte que assim seja
Permita o navegar
E trame no luar
Somente o que se veja.
Invisto cada canto
Aonde em paz garanto
O todo enquanto eu pude
Vencer os dissabores
E nisto aonde fores
Trarás a juventude.
11
Ao ver tua nudez sensacional
Rolando em minha cama, convidando,
Chamando para o belo ritual
O fogo vem depressa me tomando.
E na lareira acesa, tantos sóis,
Avanço prazerosas sensações
Por sobre a maravilha nos lençóis
Coberta por teu corpo – tentações.
E seduzido embarco na loucura,
Nada mais me segura, vou inteiro.
Tomado por desejos e ternura
Querendo do prazer o gosto e o cheiro.
E assim em cavalgada, sonho intrépido,
O dia vai passando quente, lépido...
12
Ao viver nosso sonho
Em meio aos vendavais
Pudesse ter a mais
O quanto enfim proponho
E vejo onde me ponho
Tentando entre cristais
Os dias magistrais
E nisto vou risonho
Alçando o quanto possa
Da vida além da fossa
Endosso cada verso
Marcando em rara rima
O quanto dita o clima
E nisto eu me disperso
13
Ao ver um beija flor, nesta manhã,
Lembrei de tua boca junto à minha.
Delícias que vivi em doce afã
Nas asas dessa simples avezinha.
O grande amor, pensei que a gente tinha,
Mas nada disso teve um amanhã.
Morrendo qual a flor que, tão sozinha,
Perfuma simplesmente em vida vã.
Na boca deste pobre passarinho,
O beijo que tentei e não me deste.
Morrendo em tanta sede de carinho;
Relembro nosso amor que já perdi.
A solidão em penas que me veste
Nas penas do destino/colibri...
14
Ao ver uma criança abandonada
Nas ruas das metrópoles, faminta.
Imagem que devia ser mostrada
São cores tão reais que a vida pinta.
Ali, talvez encontre explicação,
Para essa violência que nos toma,
Amar é sempre multiplicação
Não é somente simples como a soma.
Nos braços da criança que se estendem
Pedindo, não futuro, mas presente;
Nos corpos das meninas que se vendem,
Percebo que amizade vai ausente...
No rosto da menina; sempre insisto,
A lágrima chagásica de Cristo...
15
Ao ver você correndo pela casa,
Relembro de meus tempos de criança.
Desenho redivivo na lembrança
Qual fogo que, distante ainda abrasa.
Brincando de carrinho, fantasias
Que o tempo descorou em falsas telas,
Barquinho de papel nas frágeis velas
Descendo na enxurrada, belos dias...
E mesmo quando embirra está feliz.
Depois de perceber cada vitória.
A lágrima no rosto, nunca diz
Da luta já vencida sem vanglória
Percorro em ilusão o velho trilho
Marcado pelos passos de meu filho....
16
Ao ver-te em tua cama, nua e bela,
Meus lábios ansiando te tocar.
Percebo qual voyeur numa janela
Divina expectativa de chegar
E ter nesta nudez que se revela,
A plenitude em gozo, a devorar,
Quem dera se eu pudesse convertê-la,
E tê-la do meu lado a desfrutar
De todas as delícias prometidas,
Sentindo-te em orgástica doçura.
Sorvendo cada gota de teu gozo.
Assim em tuas coxas, distraídas,
As mãos e os lábios plenos de ternura,
Entregues ao prazer maravilhoso...
17
Ao vislumbrar a deusa, agora nua
Meu verso se tornando imperecível
Lembrando de teus olhos vejo a lua
E nela esta beleza inesquecível.
Deitando cada raio sobre a rua,
Na chama que me invade em luz incrível.
O pensamento alcança e assim flutua,
Felicidade, agora, enfim, possível.
Saber do nosso amor, estar liberto,
Sentir o paraíso bem mais perto
Meus sonhos em delírios bons, imersos,
Sentidos tão profanos consagrando
O amor que segue sempre iluminando
Momentos maviosos e diversos...
18
Ao viver o nosso amor
Encontrei felicidade
O meu mundo a recompor
Com total tranqüilidade
Neste sonho encantador
Vou amando de verdade
Com certeza sou feliz
Neste amor que eu sempre quis.
Encontrando a poesia
Nos teus olhos, minha amada,
Sigo ao rumo da alegria
Nesta senda iluminada
Cada verso propicia
A mais bela caminhada.
19
Ao “receber as flores que te dou”
Percebo o teu semblante mais feliz,
O vento da paixão que nos tocou
A cada dia mostra o que se diz
No verso que encantado nos sobrou
Dizendo deste amor, qual aprendiz
Apenas num momento soçobrou,
Mas isso não causou nem cicatriz...
Assim, dois companheiros que se adoram,
E formam irmandade inesquecível,
Meus dias nos teus sonhos se decoram,
Amor que nos uniu, ninguém separa,
E mesmo num buquê tão perecível
Percebo esta alegria, viva e rara...
20
Aonde a minha sorte já se abriga
Encontro todo o bem que desejara.
A mão que com firmeza me antepara
De toda a recompensa desobriga.
Companheirismo assim querida amiga
Uma luz valiosa por ser rara,
Curando quando a vida faz escara
Permite que meu passo em paz prossiga.
E quando em melancólica tristeza
Expressa o seu valor e traz leveza
A quem só carregara amarga cruz.
Sabendo perdoar a quem maltrata,
Amiga verdadeira não desata
O laço em que se deu meu Bom Jesus...
21
Aonde algum sentido foi composto
Em tréguas e carícias lisonjeiras,
O sonho do poeta decomposto,
Arranca as brancas flores, laranjeiras.
Jazigo da esperança; sigo exposto,
Preparo meus mergulhos, ribanceiras,
Qual rei que tolamente foi deposto,
Minha alma segue a sina das bicheiras.
Ectoplasmas das tolas ilusões
Rondando esta charneca/coração,
Apenas uma estúpida canção.
Escombros escondidos nos porões
E os corpos decompostos nesta adega,
Que uma alma sem pudores te sonega...
22
Aonde e com que força desfrutar
As meras conseqüências do que fomos,
Se o aval em eloqüência diz do mar,
Compêndios destilando em vários tomos
Atingindo os estromas da esperança,
Alheio ao caminhar dos velhos tontos,
Os dias que inda guardo na lembrança
Marcados como mágicos em pontos
Diversos desta longa caminhada,
Sangrada por espinhos, pedregulhos.
Depois desta ilusão ser destroçada
Encontro tão somente vãos entulhos
E deles soerguendo os meus castelos,
Que um dia, sem modéstia, foram belos...
23
Aonde em tempestade eu já me asilo,
Percebo a plena glória do viver,
Tocado pela força do querer,
A vida se mantendo em nobre estilo.
No corpo da mulher faço o meu silo,
Nas matas ciliares do prazer
Inundação gostosa de se ter
Deixando o caminhar bem mais tranqüilo.
Amor em tatuagem demarcada
Já sente esta manhã prenunciada
Em raios tão sublimes e felizes.
Legando ao meu passado o sofrimento,
Agora do teu lado novo intento
Calando para sempre os meus deslizes.
24
Aonde encontrarei suaves rastros
Daquela que deixei em noite escura,
Olhar desta mulher, divinos astros
Ajudam com certeza na procura.
O barco que se perde, vai sem lastros
Distante deste cais trama amargura
Bandeira que se perde sem os mastros
Assim é meu amor sem a ternura
De quem eu desejei por toda a vida,
Depois dos sofrimentos que eu passei,
Imagem com certeza, a mais querida
Dourando em alegrias o arrebol
Tornando mais bonita a minha grei
Estrada iluminada sob o sol.
25
Aonde encontras mel nos versos meus?
Colméia da esperança, o tempo leva.
Amor um falso archote teima em breus,
Ao fim da caminhada resta a treva...
Sombrios os meus olhos buscam luzes,
De falsas pedrarias, minhas minas.
Espalho um rastro tolo feito em cruzes,
As minhas poesias? São ladinas...
Mascaro com sorrisos minha dor
Inerente vergasta que me corta.
Na mítica expressão quase um louvor,
Que a fria realidade cedo aborta...
Meus versos são tão doces quanto pensas?
Olhaste sem notar minhas despensas...
26
Aonde eu esperava algum alento,
Somente a mesma falsa sensação
De um gozo sem porque e sem razão.
Não valendo sequer pelo momento.
Prazer só por prazer? Sobra o lamento
Do tempo que perdi sem direção.
Retorno novamente ao mesmo não.
Sem forças pra lutar, entregue ao vento.
À parte da verdade, tu sorris.
Jamais irei querer saber de bis,
Abismos que não quero mais transpor.
Por mais que tu me digas que é tolice,
Cansado do marasmo e da mesmice,
Canteiro sem cuidados mata a flor...
27
Aonde inda haveria primavera
Depois de invernos tantos que coleto,
A mão que decifrasse algum soneto
Moldando a solidão, vaga quimera.
Enquanto a farsa amarga vive a espera,
O gosto que não fosse o predileto,
Apenas não serei frágil inseto,
A pele que perdi se regenera.
Viria finalmente me salvar,
Mas nada mais teria por resgate.
A mão que acaricie; não me mate,
Tampouco tenha força pra sangrar,
O peso do passado em minhas costas:
Verdades esquecidas, ora expostas...
28
Aonde nossas sortes já se trançam
Palavras se misturam como as pernas,
As noites maviosas que se avançam
Decerto tão divinas quanto eternas.
Às vezes me parece quando hibernas
Que nada mais tu sentes. Olhos cansam,
Mas logo com carícias doces, ternas,
Os teus desejos chegam e me alcançam.
És minha, tanto afirmo quando nego.
Vagando vou sem rumo, e quedo cego,
Mas tenho esta esperança de um verão
Que traga o teu amor com atitude,
Se queres ou não queres, vem e ajude
Preciso que respondas sim ou não...
29
Aonde procuramos, sem critério
Jamais encontraremos senão dores.
Canteiro que se perde sem as flores,
Derruba qualquer reino, mata o império.
Do amor reconhecer cada mistério
Num mister delicado. Tais sabores
Misturam-se deveras com temores
Volvendo à voz antigo voluptério
Ourives que conhece e que lapida
Com toda a precisão, a nossa vida
Assegurando um dia mais sereno.
Açoda-se em procela embarcação,
Porém ao persistir na direção
O cais se mostrará por certo, ameno
30
Aonde te buscar, se jamais eu te vi?
Através de uma porta, ouvia a tua voz
Aos poucos se afastando. Um grasnido feroz
Dizia que talvez temesse até a ti.
Vasculho sob a mesa, além, lá ou aqui
E um eco repetia o grito feito algoz.
No silêncio cortante; o nada chega, após...
Difícil conceber. Se não tive, perdi?
Eu sei que já te amei; e isso não mais importa
Etérea criatura, um anjo ou um demônio...
Uma mera ilusão causada por hormônio
Espectro de mim mesmo? O vento ainda corta
E repetindo o som de passos nesta escada
Enlouquecendo. Vão, eu busco, e encontro o nada...
31
Aonde tu buscaste a liberdade
Eu sei que na verdade nada tinha,
Um dia até pensei que fosses minha
Porém só encontrei a falsidade.
Jamais fui bom de grana, pobretão
Sem ter casa bonita nem riqueza,
Que vale ter amor se nesta mesa
Havia só ki-suco, arroz feijão.
Querias um carrão em tua porta,
Comprei uma Brasília setenta oito,
No café da manhã pão ou biscoito.
Assim a fantasia não suporta.
Fugiste com um cara velho e rico,
Deixando como herança este penico...
32
Aonde tu quiseres
Contigo eu estarei,
Tu és entre as mulheres
A que eu sempre esperei
Do jeito que preferes,
Amar é nossa lei,
Teu corpo, mil talheres,
Banquete que sonhei.
Vem logo, meu desejo,
Que a vida já nos chama,
Poder te dar um beijo,
Acendo fogo e chama,
Futuro que prevejo,
Em nossa rara trama...
33
Aos braços deste amor que me queria
Que fazem do meu corpo o seu joguete,
Não quero nesta vida mais confete
Apenas destruir esta agonia.
A noite vai passando em mão vazia
E o tempo ao qual amor já me arremete
Fazendo o que bem quer logo promete
Manhã que tão distante não viria.
Aborto de ilusões, a noite vaga,
A boca que me morde enquanto afaga,
Uma draga pedindo que eu me afaste,
Mas mesmo com sarcasmos, sigo rindo
Nem mesmo a tempestade prosseguindo
Não rompe da alegria esta dura haste.
34
Aos braços deste sonho já se atira
O bem que tantas vezes fora fonte
Ouvindo a perfeição expressa em lira,
Eu sinto o sol tocando a minha fronte
E pronto para encantos meteóricos
Aberto o coração eu continuo.
Meus versos prosseguindo agora eufóricos
Procuram com delícias nosso duo.
Entregue a tais delírios, nada temo
Sequer o vendaval que, sei, virá;
Meu barco necessita de teu remo,
E quero navegar, contigo, já.
Quem sabe deste amor que não tem hora,
No encanto deste canto, revigora...
35
Aos céus vai penetrando e logo invade
Tomando cada rua e cada beco,
Arrebenta as represas e ganha eco
Espalha-se depressa na cidade.
Toando em explosão, felicidade,
Alaga um coração outrora seco,
E neste emaranhado, eu quero e peco
Bebendo até total saciedade.
No intenso fogaréu, uma esperança
Avança e não se cansa desta andança
Que trama um gosto raro; adentra o mar
Derrama no infinito tanta luz,
E o sol que farto brilho reproduz,
Espreita esta alvorada a debruçar.
36
Aos ermos, tempestade me levara
Sem sequer me mostrar qual paradeiro,
Jogado sempre a esmo, não achara
Mais rumo neste sonho derradeiro.
De ver em cada pedra, a jóia rara.
Ocaso que no acaso foi inteiro.
Apenas ledo instinto me guiara,
E o sonho, qual cigano, bandoleiro.
Aspergindo meus sonhos bar em bar,
Diluências destas luzes multicores
De um caleidoscópio, o meu amar,
Em gozos tão diversos, tais mosaicos
Por vezes sei que são mesmo prosaicos,
Mas saiba que são teus os meus amores..
37
Aos olhos de José, a pecadora,
Menina que traindo se fez má.
Futuro, noutros tempos, mostrará
Imagem que será, pois, redentora.
Daquela gravidez, virá o cordeiro,
Que a todos nos trará este caminho,
Tesouro sem igual e verdadeiro,
Feito na plenitude do carinho.
Assim a humanidade em novo tempo,
Sabendo desafio e contratempo
Verá cumprida, enfim, a profecia
Do reino de Judá escravizado,
Quem nos libertará, eternizado,
Renova-se a esperança a cada dia...
38
Aos olhos tão distantes do luar
Deitando sobre a relva, enlanguescido.
Converso com estrelas e ganho ar
Voando sobre o sonho, decidido...
Talvez a minha sina; hei de encontrar
Nas ilusões do beijo prometido,
Nas gotas do sereno... Flutuar
Por sobre todo o mundo... Convencido
Do bem que um amor nos traz; pura alegria
Rompendo a madrugada em belo sonho.
Viver da mocidade, a fantasia
Que mostra num sorriso benfazejo
Um paraíso imenso e tão risonho
Que é feito de emoção e de desejo...
39
Aos pés da Santa Cruz louvando a vida,
Fazendo dos meus versos a oração
Que possa demonstrar uma saída,
Cordeiro irá vencer fero leão?
Nas mãos dos poderosos, a vergasta
Erguida a cada instante, tantas chagas,
Imagem que inda guardo, sacra e casta,
Enquanto me escravizas, vens e afagas
Uma ardilosa fêmea que conquista,
E, aos poucos me domina e me destrói.
Nos olhos invulgares desta artista
A mansa tempestade que corrói.
Aos meus pés encontro em precipícios
Altar que se ergue em podres sacrifícios...
40
Aos pés da Santa Cruz o caminheiro
Depondo suas preces busca a paz.
O amor como um terrível companheiro
Dor e felicidade, medo traz.
De todos os pendores, mensageiro,
Ao mesmo tempo é manso enquanto audaz
Terríveis ilusões, bem corriqueiro
Tramando as amarguras e os manás.
E triste por não ter a companhia
Que há tanto desejei e nada vinha,
Pensando que a emoção fosse tão minha
A noite desabando assim vazia,
Mortalhas disfarçadas de esperança
Enquanto a morte em vida já me alcança.
41
Aos pobres esquecidos nas senzalas
Modernas dos prostíbulos e guetos.
Tapetes e molduras ganham salas,
Retratam mamelucos, brancos, pretos
Mostrando em cada face o mesmo medo,
E as marcas das chibatas da injustiça.
Nos quadros mal se esconde este segredo
Que é feito de suor, e de cobiça.
Sugados pelas bocas mais vorazes,
Rasgados, maltrapilhos, fedorentos,
Vertidos nestas telas são capazes
De ter quase um sorriso sem lamentos...
Na sala dos ricaços, estampados,
Em quadros, valem muito... tristes fados...
42
Aos poucos cego amor vai me tomando
Minha alma neste instante tão inquieta
De luzes e de trevas se banhando,
Respalda toda a dor deste planeta
Por rumos mais diversos me guiando,
A sorte em pleno azar, logo arquiteta.
Do templo em calmaria se fez lava,
Meu dia a dia torna-se medroso,
Aonde louco amor se emaranhava,
Os frutos das tristezas e do gozo,
Por vezes alma insana inda lutava
Temendo por futuro tenebroso.
Porém amor ditoso em tal batalha,
Avança e em duro corte me retalha...
43
Aos poucos desnudando essa pantera
Que existe na mulher que desejei,
Da flor que despetalo; a primavera,
Se entorna na nudez que eu ansiei.
Liberta adormecida e louca fera
Que quer nesse prazer sulcar a lei
Amando sem limites, vem à vera
Sugando cada gota, me faz rei...
As pernas se procuram no tapete
Estendido na sala de jantar,
Sedento... Esta vontade de beber-te
Aumenta cada vez e muito mais...
Devoro enquanto deixo devorar
Amar e ter prazer nunca é demais!
44
Aos poucos lenta chama nos abrasa,
E o fogaréu se torna inevitável.
A vida feita agora não defasa
Permite que se mostre interminável.
Distante de Saigon, Bagdá ou Gaza
O dia vai passando mais amável,
A paz anda rondando a nossa casa,
O sonho se tornando inigualável.
Apenas quero ter o que não tive
Andar pelos lugares onde estive
Num tempo em que o amor se fez venal.
Erijo um monumento no meu peito,
Tramando um novo dia de outro jeito
Felicidade sendo natural...
45
Aos poucos percebendo que amizade
É feita em laços firmes, poderosos,
Deixando perceber que a liberdade
Tem seus caminhos ricos e formosos,
Não posso discutir amenidades,
Apenas sentir braços poderosos
De quem se faz na vida em irmandades
Forrando sonhos, belos, maviosos...
Assim, amiga, vejo mais dourada
A estrada que nos leva ao infinito,
Se cada dia vibra em alvorada,
A força da amizade, em belo rito,
Permite retirar destes caminhos,
As pedras, urzes, trevas, os espinhos...
46
Aos poucos se soltando nos meus braços,
Deitada em minha cama, sem receios...
Abrindo lentamente teus espaços
Extravasando todos meus anseios...
A vida já nos trouxe em fortes laços
E deu-nos, à vontade, muitos meios;
Amor vem penetrando cortes,aços,
Descanso meu carinho nos teus seios..
Tu és encanto e paz, razão de vida,
Bailando no teu corpo meus desejos...
Sentindo-te feliz, tão atrevida,
A chama que surgiu se fez vulcão
Tomando nosso céu em relampejos
Incêndio mavioso da paixão...
47
Aos poucos te conheço e reconheço
Acertos e vantagens em te ter.
Se queres tanto amor, eu te obedeço,
E busco meu amor satisfazer.
Verdade, por pior que sempre doa,
Trazendo lealdade, sempre traz;
Firmeza no que pensas da pessoa
Que sempre verdadeira, amor te faz.
Não posso conviver com tais disfarces
Que, fáceis, muitas vezes nos destroem,
Nos beijos mentirosos, noutras faces,
Não fazem quase nada e nos destroem.
Não deixo me enganar, experiência,
Por tramas que me roubam consciência...
48
Aos poucos vai florindo este caminho
Em rosas, dálias, lírios e jasmim.
Trazendo para a vida este jardim
Aonde refazemos nosso ninho.
Meu sonho adormecera tão sozinho,
Guardado bem recôndito e no fim
Ao receber de ti tanto carinho,
O mundo renasceu, sorriu pra mim...
Num átimo percorro belas sendas,
Enlaço uma esperança a cada dia,
Vivendo o nosso amor em poesia,
Segredos bem guardados tu desvendas,
Que paire sobre nós viva esperança,
No sonho em que se canta, em que se dança...
49
Aos poucos vem raiando uma emoção
Que em lutas desiguais nos apascenta
Causando o mais temível turbilhão,
A força redentora e violenta.
Amor em terremotos nos invade
Na extrema convulsão nos tranqüiliza
Além deste desejo e da vontade
Em plena tempestade trama a brisa.
No fogaréu insano em que me perco
A sorte se mostrando movediça
Amor é da esperança um fino esterco
Santificando a fúria da cobiça.
Ao mesmo instante; cobra enquanto apena
É prenda que se faz, voraz e amena...
50
Aos raios do luar iluminada
Deitando em minha cama teus pudores,
Ancora meus desejos, madrugada,
Nos olhos a boiar, encantadores.
Desfilas seminuas transparências,
Na camisola bela de organdi,
Sorrindo disfarçando as inclemências
Do fogo que percebo arder em ti.
Quem teve tantas vezes pudicícia
Cedendo a tais volúpias enlanguesce
Entrega-se na insânia com malícia
E a fome de te ter aumenta, cresce;
E tudo o que mais quero, tez morena
Que entregue na alva lua, já me acena...
51
Aos ventos e tempestas da saudade
Proponho uma bonança, tolamente.
O amor jamais seria tão urgente
Se houvesse pelo menos liberdade.
E quando a fantasia não invade
O peso do passado cruelmente
É tudo o que em verdade inda se sente
Espalhando os pedaços na cidade.
Quem sabe alguma chance merecesse
Quem fez das tripas todo o coração,
Nas mãos ainda trago o meu formão
Nos olhos sensação de uma quermesse
Que possa traduzir em prece e reza
O quanto o amor que tento me despreza...
52
Na pacificadora sensação
Que toma nosso peito, sem cobranças
Forjada pelas tréguas, alianças
Formando em dois soldados, batalhão.
Dela mesma se faz renovação
E no cantil, somente as esperanças
Nas velas desfraldadas, confianças,
No mar tempestuoso da paixão...
E somos companheiros de viagem,
Nas estações, nos cais, em vários portos
Por mais que sejam duros, sejam tortos
Os caminhos; seguimos. Numa aragem
Serena e mais sensata. Mas com ardor
De quem sabe regar, canteiro e flor...
53
Apagam o que sobra desta chama,
Os ventos sem juízos da saudade.
Procuro quem me fale, mas quem há-de
Se o tempo sacripanta não reclama.
Parceiros desse jogo, céu e lama,
Ao mesmo tempo treva e claridade,
Vem logo que esta noite tudo inflama
Depois só restará diversidade.
Perversos os caminhos deste amor.
Friável, mas perfeito em suas rimas.
Marasmo destruindo tais estimas
Impedem que se eleve o nosso andor.
Carcaças do que fomos? Esquecidas.
O vento renovando nossas vidas...
54
Apagando as estrelas de neon,
Em meio à confusão: carros, buzinas,
A lua se reflete nas meninas
E o romantismo ainda dita o tom.
Taça de cristal, caixa de bombom,
Umedecendo assim tantas vaginas,
As horas vão passando mais ladinas,
Por mais que alucinante seja o som
Sirenes e sirenas, coxas, pernas,
As ânsias do passado são eternas
E atendem aos delírios dos meninos.
Depois de certo tempo, a mesma ronda,
Se a lua toma o céu, gorda e redonda,
Convites sensuais aos desatinos...
55
Apagas, num segundo a negra chama
Que outrora consumia os meus anseios.
Vertendo a fantasia em belos seios
O amor em plenitude já nos chama..
Adorna a noite escura de quem ama
Os lumes mais sublimes. Sem receios
Percorro esta esperança em mansos veios,
Fartando-se do gozo noutra trama.
Jamais esqueceremos tanto enlevo,
Por isso é que em meus versos sempre devo
Louvar o nosso amor que é puro e santo.
Alçando o Paraíso nos teus braços,
Unindo bem mais fortes nossos laços
Teremos da poesia o pleno encanto...
56
Apago o meu cigarro, bebo um trago,
A bebida se torna tão amarga,
Se a voz neste momento já se embarga
Esqueço a placidez, fujo do lago.
Do vento, o temporal que se aproxima,
Balança o meu telhado de sapê;
O amor quando se esquece de você
Encontra a solidão, perfeita rima.
Cadenciando o passo, sei do abismo,
E mesmo sem destino, ainda cismo,
Vencido pelo infausto de saber
Que nada adiantou ter tantos sonhos
Se os dias que virão serão medonhos,
Ao menos pude ter algum prazer...
57
Apaixonadamente em loucos beijos
Dois corpos se conjugam plenamente
Nesta união perfeita de desejos
Semeio na lavoura uma semente
Que brota toda noite e de repente
Refaz nossas viagens, relampejos,
Amor que extasiado já pressente
Fartura na colheita sem ter pejos.
Anseio teus carinhos, boca e pernas,
Cobrimos de prazer, a noite intensa
Mostrando estas vontades doces, ternas
Neste infinito sonho eu sou feliz.
Ternura desejosa e tão imensa
Além do que este beijo já nos diz...
58
Apaixonadamente eu sempre penso
No quanto eu poderia te dizer
Outrora solitário em mar imenso
Vazios já cansei de percorrer.
O verso que se fez enamorado
Deitando uma esperança no meu peito
Carpindo o quanto fora desgraçado
Morrendo pouco a pouco, insatisfeito.
Das rimas que encontrei: amor e dor,
A solidão rimando com paixão
Cenário que se mostra alentador
Nos olhos da mulher em sedução
Um canto mais ameno me dizia
O quanto eu quero ser a poesia.
59
Apaixonadamente me perdi
Nos braços mais gostosos deste mundo.
Pois sempre desejei estar aqui
Nesta casa, contigo, num segundo...
Estrela incandescente, Deus me deu
Trazendo uma alegria sem igual
Acendes o luar no olhar que é meu
Fazendo a poesia natural.
Amando teus cabelos, tua boca.
Sorrisos que em minha alma já descansam.
As ânsias de te amar na vida louca,
O paraíso pleno sempre alcançam...
Pois sabem que encontraram o luar,
Ansiosamente vivem para amar...
60
Apaixonadamente me entreguei
De corpo e de alma, cego e destemido.
Amar passou a ser a minha lei
Meu rumo, nesta estrada, decidido.
Ao ver tua partida; percebi
Que tudo o que eu sonhara se perdera.
Matando sem perdão, a primavera,
Levando todo amor, longe daqui.
Viver sem ter quem amo. Triste sina.
A vida se repete novamente.
Como posso esquecer se em minha mente
Tua lembrança vem e me domina.
Escute este lamento em poesia
Deixaste de presente uma agonia...
61
Apaixonado eu sigo por você,
A cada novo dia, mais feliz.
O meu olhar procura e sempre lê
Palavras que meu peito agora diz,
Do amor no qual meu verso vive e crê
Inspiração jorrando em chafariz
Num palacete ou casa de sapê
Amor já faz de tudo o que bem quis
Sabendo que sou seu, amada prenda
Segredos desta vida, amor desvenda
E todas as tristezas; ameniza.
O quanto que eu desejo o seu carinho,
Na calmaria expressa em nosso ninho
A sua voz escuto nesta brisa.
62
Apascentando assim, temível fera,
Eu sigo a caminhada vida afora.
Já tendo a sorte imensa que se espera
No quanto uma amizade se assenhora.
Encantos sem igual, eu te garanto,
Nos olhos desta eterna companheira,
Secando em calmaria qualquer pranto
Demonstra a solução mais verdadeira.
Miramos o destino que virá
Com olhos de bonança e mansidão
Eu quero o teu querer e desde já
Percebo desde o solo esta amplidão
Erguendo sobre nuvens, tantas, gris,
Eu posso te dizer que sou feliz...
Marcos Loures
63
Apascentará mares violentos,
A mão de quem professa uma amizade.
Afugentando assim, a crueldade,
Os dias serão mansos, sem tormentos.
A par da violência e seus intentos,
Derramas sobre nós suavidade,
E nisso posso ver tranqüilidade
Tomando com firmeza os sentimentos.
Poderes que se encontram raramente,
A vida muitas vezes os sonega,
A quem em amizade alma se apega
Ajuda a ultrapassar qualquer torrente.
Por mais que a vida mostre-se indolente
Prossigo junto a ti, em mansa entrega...
64
Apátrida esperança de um futuro
Aonde esta justiça sobreviva.
Por mais que o chão se mostre estéril, duro,
Do sonho, a fantasia não nos priva.
Eu vejo em teu olhar, mesmo que escuro,
O verde que se espalha em voz ativa
Mudando a direção, saltando o muro
Deixando para trás a alma cativa.
Argúcias necessárias, disso eu sei,
Fazendo da alegria a nova lei,
Mortalhas esquecidas no passado.
Beber desta água mansa e tão serena,
No lume que se mostra e que se acena
Caminho entre ilusões, iluminado...
65
Apeio uma esperança vira-lata
E teimo nos corcéis das ilusões.
Passado que não vi não desbarata
A vida se compõe de dor, cifrões.
Ferroa esta saudade que maltrata,
E tenta ser pavio de vulcões
Descarto as minha dívidas na carta
Jogada sobre as mesas e balcões...
Aparto-me dos sonhos quando tento
E nada me contenta, nem vitória
Amigos usufrutos da vanglória
O beijo que mordeste toma assento
Sem gládio sem tortura, me afiguro
No chão que nunca plantas, frio e duro...
66
Apenas a saudade, amarga, vem
Moldura que não deixa prosseguir
A tela que se pinta pede alguém
O medo não se esquece de impedir.
Arrasa minha casa queima tudo
Saudade da mulher que nunca veio
Olhando o seu retrato eu já me iludo
Beijando sua face eu sonho seio.
Não sei o que se mostra no sorriso,
Vontade de voltar ou de negação.
A noite vem chegando e sem aviso
Transforma todo amor em devoção
Pesando em minhas costas como cruz
Saudade num vazio se traduz...
67
Apenas a tristeza decorando
O olhar de quem pensara estar em paz.
O vento da ilusão já não me traz
Sequer o que sonhei, imaginando.
Alheio aos teus caminhos vou buscando
Apenas o que ainda satisfaz
Um passo tresloucado até, audaz
A senda da esperança desbravando.
Metade do que sou, eu já perdi
Transtorno que encontrei somente em ti,
Causando este soneto em vil lamúria.
Quem pensa ser amor alguma injúria
Não sabe desta fúria que me toma,
A solidão é o nada numa soma...
68
Apenas amizade sabe e diz
Do jogo que se faz mais envolvente
A vida se permite ao aprendiz
Mostrando o que se quer, após, da gente.
A par destes caminhos, sigo ereto
Bebendo em cada fonte água mais pura.
Amor já não suporta qualquer veto,
É feito em perfeição quando em ternura.
Aprendo a cada dia mais um pouco,
É necessário sempre estar atento.
A solidão de um brado quase rouco
Condena uma esperança ao sofrimento.
Por isso, minha amiga, amada amante
Espalhe em teu caminho, diamante...
69
Apenas embalagem, nada além,
Por dentro este vazio inconfundível
O cérebro demonstra tal desnível
Indecifrável oco, o que contém.
Parecendo impossível crer que alguém
Que faz da incompetência combustível
Sabendo ser o tempo este invencível
Feroz e intransponível; inda tem
Desplante de tentar ludibriar
Ao disfarçar as marcas no seu rosto,
Porém neste cenário assim exposto
Não consegue; decerto, me enganar
Negar a realidade; um disparate
A vida sempre dá seu xeque-mate.
70
Apenas encontrei a decepção
Aonde imaginara ver o brilho
De um novo amanhecer, novo estribilho
Mudando a velha e tétrica canção.
Mascando esta terrível sensação
Do tempo se perdendo eu já me pilho
Sonhando com amor sem empecilho.
Acordo e vejo sempre o mesmo não.
O tempo foi em vão, disso eu bem sei,
Estrelas e cometas naveguei
Até ver o meu sonho naufragar.
Mentiras que criei, tais fantasias,
Nos encantos frugais que me trazias
Promessas que cansei já de escutar.
71
Apenas esperança se confessa
A quem já perdeu tudo e não sabia
Da noite que se mostra amarga e fria
Negando ao coração qualquer promessa.
O passo solitário que se engessa
Jamais permitirá um novo dia
A quem se deu sem trégua à fantasia
E aos braços da ilusão, já se arremessa.
Conversas entre mesas, botequins
Deixando bem distante os querubins,
Arcanjos e entidades protetoras.
Da trama sem qualquer clarividência
Amor vai se tornando penitência.
De todos sentimentos, assenhoras.
72
Apenas essa fonte em meu delírio
Transtorna totalmente o pensamento,
Jamais coletaria algum martírio
No que seria tétrico excremento.
Qual vírus o teu corpo eu parasito,
Tentando decifrar o paradeiro
Herméticos vogares, quando os fito,
Percebo a vida como um picadeiro.
Agônica expressão que em poesia,
Vestindo a farda estúpida da sorte,
A mão, se necessário, abriga e cria
Espectros que traduzem farpa e morte.
Avesso aos raios prata desta lua,
O meu féretro, em vida, continua...
73
Apenas esse vento na janela
Falando de quem foi e não voltou.
Imagem do passado me assombrou
E a eterna solidão já se revela.
A sombra que persigo, sendo dela,
Durante tanto tempo me tomou,
E agora que nem sei mais quem eu sou
A velha embarcação destroça a vela.
Abandonadas flores no jardim,
Traduzem o que sinto dentro em mim.
A falsa sensação de calmaria
Bonança que jamais eu conheci
Levaste há tantos anos e daqui
Até a lua cheia está sombria...
74
Apenas este gosto meio amargo
Que trago no meu peito, quase triste.
Na voz que vacilante, sempre embargo,
Lembrança da mulher que inda resiste
As névoas e as brumas da saudade,
Embotam a visão, penso que caio,
Mas logo vem à tona uma verdade
E da realidade, eu já me traio
E volto a te abraçar, neste momento,
Com as ânsias de um amor mal resolvido.
Queria te exilar do pensamento,
Encarcerar-te sempre num olvido...
Mas como, se de noite inda reclamo,
E digo aqui, sozinho: Eu inda te amo!
75
Apenas ilusão não vai embora
E o resto que se dane! Nada além
De um resto de esperança que se aflora
Trazendo desde sempre o velho bem.
Enquanto a poesia se demora,
O vento da alegria nunca vem.
Eu quero, desejando a vida afora,
O quanto eu sei que teimo, mas não tem.
A par da estupidez de ser assim,
Vencido pelos restos que há em mim,
Não tenho outro caminho senão crer
No beijo da serpente que iludindo,
Dizia de um momento bem mais lindo,
Tramando no final, o apodrecer...
76
Apenas ilusões, o que encontraram
Aqueles que se deram sem limites,
Por mais que teus caminhos delimites
Os olhos tão tristonhos se tocaram.
Enquanto os meus propósitos te amparam
Diversas as palavras e os palpites
Negando o que não sei mais que acredites,
Palavras que os ouvidos decoraram...
Careces de sonhar? Fazer o que?
Se a vida em teu olhar já não mais crê
E segue sem saber do que precisas.
Janela do teu quarto está fechada,
Um pássaro partindo em revoada
Esquece vendavais, prefere as brisas...
77
Apenas já repito um velho rito,
Prometo o que não posso mais cumprir.
Não quero e não pretendo ser teu mito,
Nem vômito, num frêmito fingir.
Da poça nego a lama, escondo o barro,
Da moça em minha cama, quero o gozo.
Tuberculosamente quando escarro
O tempo vai rondado, caprichoso.
Raiz de tantos erros no passado,
Aflora em mais cruel sofreguidão.
Prefiro que prossiga assim velado,
A ter que perpetrar a negação.
Se vão inda caminho e sei das senhas.
Eu quero mesmo assim, que logo venhas.
78
Apenas me restando a fantasia
Proporcionando um dia mais feliz,
O quanto uma emoção nos desafia
Traduz o que esperança não desdiz.
Ao desabrigo a sorte conduzia
Quem tantas vezes fora um aprendiz;
Porém ao perceber novo matiz
Ansiosamente aguarda o claro dia
Que possa permitir um sol intenso,
De um sonho mais incrível me convenço
Desejo que se faz consensual.
Perfaço nessa noite uma jornada
Que mostre cada cena desbravada
Do corpo mais perfeito e sensual.
79
Apenas na amizade uma alegria
E nada além de um barco naufragando
O jeito é caminhar em fogo brando
Quem sabe talvez tenha serventia?
Minha alma sem pudores não paria
Sequer o quase tanto, vou levando
O tempo como um velho navegando
Durante um breve instante, quem diria...
Será que esta serpente quer maçã?
Sem ter noção do bote, na manhã
Desdenha em ironia, com sarcasmo
Presentes que talvez não tenha mais,
Mentiras que me contas, sempre iguais
Condenam nosso caso ao vão marasmo...
80
Apenas neste amor vê floração
Jardim que tantas vezes cultivei.
E mesmo que encontrar a negação,
Amor se faz desejo, regra e lei.
A par destes momentos ao teu lado,
Não quero outra alegria em minha vida,
Seguindo o meu caminho enamorado,
A dor de uma saudade vai perdida.
Gostando simplesmente de poder
Dizer o quanto eu quero e não me canso,
Coleto a cada dia, o bel prazer
Na fonte que se mostra num remanso.
Jogando a solidão em mar profundo,
Não deixo de te amar um só segundo
81
Apenas o que um dia quis além
Do quanto nada foste e imaginaste.
Não te vejo somente como um traste.
Tampouco te imagino este ninguém
Que vaga sem destino e busca quem
Talvez possa servir de apoio ou de haste.
O tempo nos condena a tal desgaste
E o fim, inevitável, sempre vem.
Padeces entre luzes quase opacas
A morte aos poucos mostra que as estacas
Aproximam-se. Pensas noutros dias
Que agora tão distantes nada dizem.
Inúteis fantasias que eternizem
Perdidas em verdades tão sombrias...
82
Apenas o que vejo: o céu escuro
Tomando todo o palco, amanhecer.
Sumindo pelas ruas, eu te juro
Que um dia ainda tento te esquecer.
A noite vai passando, eu na espera,
A moça diz que um dia vai voltar,
Quem sabe ela trazendo a primavera
De novo eu possa enfim recomeçar.
Faz tempo que saiu pra dar plantão,
Depois do carnaval, Vila Isabel
Pensei que ela voltasse, foi em vão,
Decerto noutra tenda faz seu mel.
Restando este vazio, e tanto anseio,
Aguardo um telegrama, carta, e-mail.
83
Apenas os desertos espalhou
Os olhos de quem marca a primavera
Na seca que decerto nos tomou,
O gesto incoercível desta fera.
Caminha sutilmente e de tocaia
Espreita cada passo que se dá.
Armadilha na qual a sorte traia
Tocando a minha vida desde já
Jazendo pouco a pouco, uma esperança
Expressa em ironias, cada lavra.
A maldição mais sórdida me alcança
Avinagrando assim, minha palavra.
Sou menos do que pude imaginar,
Mortalha abandonada em preamar...
84
Apenas o vazio que perturba
O sono deste velho sonhador.
Dos pesadelos tantos, triste turba
Momento em solidão traduz em dor.
Olhando para os erros cometidos,
Não resta nem saudades do que fui.
Em todos estes sonhos destruídos
A mágoa que sentia ainda influi.
Nas linhas desta mão, ledo futuro,
A sorte desengana, sigo só.
Bebendo em cada bar, logo procuro
Um jeito de encarar a minha face.
Não quero e nem preciso mais de dó.
Apenas uma amiga que me abrace...
85
Apenas os desertos espalhou
Os olhos de quem marca a primavera
Na seca que decerto nos tomou,
O gesto incoercível desta fera.
Caminha sutilmente e de tocaia
Espreita cada passo que se dá.
Armadilha na qual a sorte traia
Tocando a minha vida desde já
Jazendo pouco a pouco, uma esperança
Expressa em ironias, cada lavra.
A maldição mais sórdida me alcança
Avinagrando assim, minha palavra.
Sou menos do que pude imaginar,
Mortalha abandonada em preamar...
86
Apenas por tributo quero o riso
De quem jamais esqueço, tolamente.
Mas quando tudo muda num repente
Inferno desbancando o Paraíso.
Não vejo solução, e ter juízo
É ficar bem distante da serpente,
Das dores e tristezas, tosco agente
Arcando com a perda e o prejuízo.
Sem luvas de pelica; o bofetão,
Não peço mais carinho nem perdão,
Enfiando a viola neste saco.
Labutas enfrentadas, diuturnas,
Enquanto noutras sendas tu te enfurnas
Feito um panaca aqui ainda empaco...
87
Apenas recomeçam sempre avançam
Os jogos que fazemos gozo e sonho.
Enquanto as nossas pernas já se trançam
O verso mais gostoso, enfim, componho.
Se eu ponho os meus saveiros no teu mar,
Mergulho o meu prazer em mansas águas.
Enquanto este desejo dominar
Em mim com fartas ondas tu deságuas...
As mágoas esquecidas, peito aberto,
Armando um temporal e inundação,
Deixando em polvorosa o vil deserto,
Nos poros, os suores, explosão...
E bêbado da orgástica aguardente,
Como um replay eu jogo novamente...
88
Apenas reconheço o teu semblante
Que está em cada cena que vivi.
Falar de nosso amor tão delirante
É mais do que pensara. Estou em ti.
Em todos os momentos, cada instante
Estás comigo, amada, bem aqui...
Flutuo em cada verso que te faço
E chego ao Alentejo, meu amor;
Persigo-te querida passo a passo,
Eu quero estar contigo aonde for.
Na praia, na montanha, céu, espaço...
Saudade de te ter; prazer... torpor...
Ao belo Porto chegando o meu barco,
Reflete em tanto mar, teu rosto, um marco...
89
Apenas são diversos, os perigos,
Porém a tempestade não se cansa,
Depois de toda a seca já me alcança
Trazendo novamente os desabrigos
Os olhos sonhadores perdem visgos
E soltos vão bebendo da lembrança,
Fazendo do sorriso uma fiança
Vendendo as ilusões, caros artigos.
Mortalhas espalhadas pelo chão,
Vendidas as crianças do sertão,
Aguando uma alegria sertaneja.
Partindo do vazio para o nada,
Espalho meus olhares na calçada,
Liberdade é tudo o que almeja...
90
Apenas solidão cruel me alcança,
Mas vejo depois disso, a claridade
Da noite que aparece em nova dança
Trazendo para a vida, a novidade.
A paz me dominando, agora trança
Os planos mais felizes da amizade,
Janela que entreabri em noite mansa,
Aguarda finalmente a liberdade.
Meus olhos vão em busca dos olhares
De quem por tantas vezes veio aqui,
Estando junto a mim em outros bares
Caçando algum motivo pra viver,
Meu mundo se aproxima então de ti,
Amiga, vislumbrando o teu poder.
91
Apenas solidão serve de guia
A quem por tantas vezes quis liberto
Tocado pela doce fantasia,
O peito escancarado segue aberto.
O passo que se mostra a cada dia,
Seguindo em rumo insano este deserto,
Jogado sempre às traças, ventania
Levando por caminho mais incerto.
Caçando o que não tive, vou sozinho
Fazendo da amargura o doce vinho,
Farsantes sensações vão adentrando
Perfaço este infinito em um momento,
Marcado pela cruz, o sentimento
Aos poucos, meu castelo desabando...
92
Apenas solidão vem e deplora
O quanto me perdi do antigo bando,
A vida num momento desabando
Quem sabe da verdade se assenhora.
Vagando simplesmente mundo afora,
Contra esta correnteza vou remando
Não sei e nem pergunto desde quando
A dor promete cura e revigora.
Tocado pelo bom desta aguardente
Às vezes eu me sinto inconseqüente,
Mas guardo uma esperança em minha vida,
De um dia poder ter tudo o que quero,
A bem de uma verdade enfim tempero
Conversa sempre assim mal resolvida.
93
Apenas solidão, permito que me abrace
Entranha cada garra e rasga mais profundo.
O quanto que já fui; outrora, vagabundo
Prevê depois de tudo, o triste desenlace
Uma agonia intensa expõe em sua face
O rosto que se mostra agora nauseabundo,
Molambo maltrapilho, o coração imundo
Esgota qualquer chance e causa neste impasse
Certeza em que trafego o medo como guia,
Matando pouco a pouco, a leda fantasia.
Nas farpas eu me corto, e nisso vejo a glória
De ser um quase nada, um resto perambula
Nadando no vazio, a morte que me oscula
Talvez seja em verdade, a única vitória.
94
Apenas sou um resto e nada mais,
Rastejo e serpenteio os meus sentidos,
Carpindo os meus desejos esquecidos,
Morrendo sem saber sequer do cais.
Profanas, as vontades mais carnais
Na pele, os meus terrores tão curtidos
Prenunciando o fim, gozos sortidos
Enfurnam-se nas noites abissais.
Extraio de meus olhos, suas cores,
Apreendo tão somente os vir rancores,
A solidão resulta-se do extrato.
Procuro minha face em cada espelho,
Encontrando o perfil, amargo e velho,
Não tendo por resposta um só retrato.
95
Apenas tão somente esta saudade
Vagalumeia sempre junto a mim,
Por mais que na janela exista a grade,
E inda resista até que chegue o fim,
Não posso mais lutar contra a verdade,
Resquícios que carrego de onde eu vim
Impedem toda a paz, tranqüilidade
Não deixam sobrar quase nada, enfim.
As nuvens de falena neste lume
Retornam toda noite no meu quarto,
Da cena repetida, embora farto,
Ainda me embebendo o teu perfume
Crocitando estes corvos ancestrais
Ao mesmo instante dizem: nunca mais!
96
Apenas tão somente, esta saudade
A força corrosiva que não cessa,
No quanto amor em paz já se confessa,
Ao mesmo tempo trai tranqüilidade.
Olhar que me acompanha, na verdade
Mesmo que ausente sempre recomeça
Entranha em minha pele e já se engessa
Ao transtornar renega a liberdade.
Na comoção extrema que me traz,
Negando a cada instante a minha paz,
Sonega esta presença tão distante.
O quanto que sonhei e não te vi,
No espectro que aqui ronda; eu me perdi,
Seguindo esta miragem deslumbrante...
97
Apenas te proponho uma amizade.
Eu sei que é muito pouco ou quase nada,
Riqueza significa a claridade
Que sonhas toda noite ou madrugada.
Um velho sertanejo me dizia
Cantando uma toada bem antiga,
Nos braços da amizade uma alegria
Da vida a fortaleza, bela viga.
Olhando a lua mansa no sertão
Relembro num momento de Catulo,
As aves vão voando arribação,
Uma esperança morre no casulo.
Mas tendo aqui comigo a companheira
A chuva dentro da alma vem ligeira...
98
Apenas um amor pode acalmar
O coração que faz por merecer,
A sorte de ser pleno e de viver
A fantasia intensa de sonhar.
Durante a tempestade navegar
Sabendo que terei total prazer,
De um dia em alegrias conhecer
O quão maravilhoso é se entregar.
Amar e ser feliz. Tudo o que eu quero.
Poder sentir o amor forte e sincero
Daquela que se entrega sem pudores.
Na luz de teu olhar esta certeza
De um dia usufruir farta beleza
Do céu que se permite em raras cores...
99
Apenas um enfeite nesta casa,
Um zero que se põe, ali, na esquerda.
Relógio com certeza não se atrasa,
Acumulando débitos e perda.
Decerto isto é comum, a vida passa,
E nada do que fomos voltará;
O resto da esperança não se enlaça,
Defunto em plena vida, desde já.
Apodrecendo vivo na masmorra,
Por mais que eu tente, nunca fui feliz
Sem ter nem poesia que socorra.
O coração teimoso se desdiz.
Dedilho uma canção neste piano,
Desafinado. Resta o desengano...
3100
Apenas um escombro e nada mais,
Houvesse alguma chance, eu lutaria.
Talvez pudesse ter uma alegria
E o barco encontraria um manso cais.
As esperanças? Guardo-as nos bornais,
Embora saiba ser só fantasia
O que uma alma salobra ainda cria,
Distante dos portais e dos umbrais...
Quem sabe, finalmente, alguma escora,
De tanto que alegria se demora
O tempo de viver vai se escoando
E nada do que outrora imaginara
Enquanto a realidade desampara,
As ilusões fugindo; vão em bando...
1
Apenas um resquício, o que sobrou
Do dia em luz mais frágil e tão tacanha.
O sol que por momentos me enganou
Esconde-se detrás desta montanha.
Ambição de nudez em carnaval
O preço que se paga vale a pena?
Farol que se disfarça em sensual
Segredo repetindo a velha cena.
Molambos que coleto enquanto peno
Apenas fingimentos e lençóis.
O resto serpenteia o seu veneno,
Deixando quase nada, mesmo após.
Apostas que perdi, a vida mente
Enquanto luz me banha corpo e mente...
2
Apenas uma fístula e não mais.
Postulo o que jamais perceberia
Não fossem os anseios de alegria,
De tantas serventias, nave e cais.
Por mais que tantas vezes ancestrais
Idílios em tramóias, alquimia,
Desértico momento que se cria
Em cardos, percevejos, nem notais.
Desejos e destinos boca e sexo,
Fagulhas que não fazem fogaréus,
Embora sem destino, rasgo os véus
E busco no vazio qualquer nexo
Enquanto tua língua me percorre,
Até que o farto líquido socorre...
3
Apenas uma noite e nada mais,
É tudo o que eu desejo. Pelo menos.
Dos gozos tão supremos, assim plenos
Estrada que em delírios decorais.
Dos sonhos, arabescos em vitrais,
Momentos tresloucados e serenos,
Teus lábios com certeza tão amenos,
Vontade que em ternura decifrais.
Vencendo os velhos pejos e pudores,
Entre viagens mansas e suores
A noite de meu bem tanto aguardada.
Se tu vieres nua e mais audaz
De toda insânia; juro, sou capaz
De crer no sol dourando a madrugada.
4
Aperte os cintos! Vamos decolar
Em rumo da total felicidade,
O pássaro de luz bebe o luar
E vive a mais perfeita claridade.
O templo dos prazeres vai mostrar
Que a vida merecendo liberdade
Expressa esta alegria que sem par,
Aos poucos com delírio nos invade.
Entregue a tais propósitos, querida,
A gente modifica a nossa vida
E traz um Eldorado em fantasia.
Por isso, venha logo e não se esqueça
Que amor só se entregou a quem mereça
Saber de seu poder, sua magia...
5
Apesar de todo podre mundo fero
Que enquanto nos corrói, não deixa nada.
Seguindo com firmeza a minha estrada,
Encontro a paz suprema que ora espero.
Enquanto perceber tudo o que eu quero
No brilho sem igual de uma alvorada,
Uma esperança audaz decerto brada
Trazendo à fantasia um raro esmero.
Assim, vencendo os medos, vou em frente,
Por mais que a dor insista e ainda tente,
Eu tenho um lenitivo na esperança.
Serpente que pulula nesta senda
Aonde à fantasia o amor arrenda,
Na mansa servidão, a paz alcança...
6
Apesar dos pesares, mais felizes
Corremos para o mar, buscando a foz
Deixando no passado estes deslizes
Amor que é tantas vezes qual algoz.
Em nós a profusão de lua, estrela
Estende na varanda um farto brilho.
Delírios de poder; sempre, sabê-la
Na prata que emoldura nosso trilho
Um andarilho vaga em noite imensa
Em buscas sem limites vago insano.
Na boca da mulher, a recompensa
O tempo se promete sem engano
E assim, ao adentrar salgado mar,
Eu vejo o mel da vida se espalhar...
7
Aplacará em paz estes tormentos,
A força deste amor que nos domina,
Toando em alegria os pensamentos
Já sabem, reconhecem, cada mina
Os dias sem amor são sonolentos,
A glória de sonhar se determina
Realizando em todos os momentos
O que uma fantasia vaticina.
Eu tenho esta certeza inabalável
De ter esta emoção irrefutável
Trazida pelos braços em ternura.
O quanto eu te desejo e tu me queres
Nos gozos que te dou e me transferes
A vida sonegando uma amargura...
8
Aplaudes, tão irônica esta cena
Aonde me desnudo em tua frente
Amarga realidade surge plena,
Sem ter sequer um brilho que a contente.
Arrasto em cada verso esta corrente,
Negando em voz sombria, a noite amena.
Nas mãos como um flagelo, o penitente
Arranca os tristes olhos, se envenena...
Auto-retrato feito com minúcias
Qual pária que emergindo de outras súcias
Expressa na nudez, os seus sentidos.
E quero que me vejas face a face.
Porém por mais que a vida, tola, embace
Eu não darei um tiro em meus ouvidos...
9
Aplausos aos estúpidos canalhas
Que fazem dos seus sonhos dura lei
Na qual por tantas vezes escarrei
Comendo a fantasia, podres gralhas.
No peito a falsidade de medalhas
Nas guerras contra os frágeis, observei
Pisar sobre os farrapos fazem rei
Aquele que se esconde sob navalhas.
Vencer o frágil povo sem defesa
Não traz a galhardia pra ninguém,
Sugando este cadáver, sobremesa
Na fétida manhã ocidental,
Da história esta gentalha perde o trem
Mostrando o seu sorriso, mais boçal.
10
Apocalíptica visão do fim
Aproximando-se feroz demônio.
Mundo resume-se, navego enfim.
Desde o primeiro virtual mecônio.
Em trevas frias más e desumanas,
Reflexos desta podre solidão
Nas hóstias as vontades mais mundanas,
Revelando total escravidão.
Me lassas, danças resumindo, riso
Me cremas farsas, resplendor e canto...
Partícipe voraz me negas friso,
Destróis todos os lastros, satisfeito
Terremotos marinhos, celacanto,
Minha morte esperando-me no leito..
11
Apoderou-se inteiro, já de mim
O sentimento nobre e soberano,
Tomando em redenção o meu jardim,
Professa um canto ameno sem engano.
Celebro a cada noite em harmonia
Bebendo desta fonte cristalina.
Concebo fielmente tal magia
Que emana deste amor e nos domina.
Carrego nos meus lábios a lembrança
De cada beijo dado em noite clara,
A vida se fazendo em temperança
A quem andara só, decerto ampara.
Secando cada lágrima, um sorriso
De toda a sorte e glória, um doce aviso...
12
Aprisionados, loucos e desnudos,
Na embriaguez insana, pele em pele.
Momentos delicados, mais agudos,
Insaciado amor sempre compele.
E juntos caminhamos sem repulsa
Estradas extremadas pernas, seios...
Vontade sem limites, cedo pulsa
E nada nos detém, não temos freios...
Tomado por insânia em frenesi,
Requebros e meneios, teus quadris.
Recebo este calor que vem de ti,
Em teu gozo, querida, sou feliz...
Estamos lado a lado, a vida inteira,
Paixão que nos decora, verdadeira...
13
Apodrecendo em vida, as larvas companheiras,
Amigas mais fiéis, bocas que me tocam.
As luzes do meu quarto, ao tremularem focam
Imagens do passado. Estrelas, nuvens, beiras...
A perna decomposta exposta à tais bicheiras
Enquanto as emoções diversas se deslocam,
Crisálidas do sonho, as moscas já se alocam
E mergulham no esgoto as línguas derradeiras...
Encontro no cigarro, um contumaz abrigo,
Vejo nas espirais reflexos do que fomos
E o tempo carregou. Estúpido, os persigo.
Esvaem-se no fumo, e no bafejamento
Da fera solidão, a carne em podres gomos
Decepando-se traz enfim algum alento...
14
Apóia cada passo, dourada haste
Que ergueste com cuidado em noite mansa.
Do quanto tanto amor tu me entregaste
A sorte desejada já se alcança.
Amor que se assenhora dos meus versos,
Forrando a minha vida em calmaria.
Legando à solidão vento reverso,
Expressa tão somente poesia...
Talvez possas pensar ser pleonasmo,
Falar do amor da forma que eu bendigo
Embora repetido, sem marasmo
Telúrica expressão; sempre persigo.
Atrelado no amor vou a reboque
Usando cada verso qual bodoque...
15
Apoio mais seguro num tropeço,
Percebo em tuas mãos quentes, macias,
As flores, com ternura eu ofereço,
Fazendo benfazejos nossos dias.
Futuro feito em paz; deveras teço
Dourando as minhas horas, alegrias.
No amor abençoado enceto os laços
Forjando o quanto quero ser feliz.
Seguindo os teus caminhos, nossos passos,
Eu vejo que terei o que prediz
Os sonhos mais sutis, sem embaraços,
Sem ao menos deixar vil cicatriz.
Alçando ao infinito em cada verso,
Não quero o caminhar, ledo e disperso...
16
Apontam outros mastros desde agora,
Caminham em trieieros, são as pistas,
Deixadas por quem veio lá de outrora
Ardente fogo, temo, não resistas...
A chama que os ouvidos tanto viram
E sempre se atraíram pelo lume.
Tantos resguardos foram e sentiram
No teu oculto vulto bem sei miro-me
Nestes segredos tantos meus abraços
Sem vistas entre nossas vãs paredes.
Sem trancas me despindo nos teus braços
Me entrego, minha amada em nossas sedes.
No fogo que devora nosso amor,
Na cama onde estou a teu dispor...
17
Aportas no meu cais em beijo e riso,
Fazendo sempre mais do que eu pensara,
Eu agradeço enfim, a jóia rara
Que traz em boca e corpo o paraíso...
No toque mais sutil e mais preciso,
Nudez maravilhosa se escancara,
Adoça a solidão, peito dispara
E pára a tempestade que em granizo
Caíra a noite inteira, sem parar.
Agora que percebo neste altar
A marca da cigana sedução,
Em luas argentinas sobre a mata,
Reflexo de desejo já desata
E trama em nosso caso, uma explosão...
18
Aporto neste cais cada desejo,
Avanço por limites mais audazes,
Usando sutileza, assim prevejo
Momentos de loucura, tão vorazes.
Nas pernas que em prendem, já latejo
Agradecendo a força das tenazes
Na festa que se faz em louco ensejo
O quanto satisfeita satisfazes.
E o gozo mais profano se revela
Na intensa maravilha que singela
Um lago em placidez bebendo a lava
Assim na ardência feita em calmaria
O sonho mais feliz usufruía
Amor que uma amizade sustentava.
19
Aporto o meu desejo no teu cais
E encontro o que buscara a vida inteira,
Depois destes mergulhos abissais
Agora tenho em ti a companheira
Que mostra ser possível noutro passo
Vivenciar o fogo das paixões.
O quanto te desejo, amor eu traço
Espaços infinitos, tentações.
Perceba quanto o sol já nos aquece
E mesmo num mormaço nos suprime,
Amor que quando vem rejuvenesce
No encanto que quem ama não reprime
Estende sobre nós e em vento bom,
Garante ao manso dia o raro dom.
20
Após a luta intensa; um aconchego
Que encontro nos teus braços, mostra a paz
Que em nome deste amor, enfim, carrego
Mostrando quanto amor se faz capaz.
Num mundo mais sincero em que navego
A vida em esperança, amor me traz.
Eu quero o teu desejo e tua sina,
Eu quero a maciez de teus cabelos.
Bebendo meu amor em ti, menina
Meus braços nos teu corpo são novelos.
Eu quero ser eterno namorado
Desta morena bela e sedutora,
Estar o tempo inteiro do teu lado,
Num vôo sem cansaço, a vida afora..
21
Após a noite feita em fantasias
Rondando mil estrelas, perfumando
O mundo em maravilhas, alegrias
O sol já vem nascendo e nos mostrando
Que a vida se refaz em novos dias,
O céu tão depressa azulejando
Do jeito que sonhavas e querias
Amores e promessas nos guiando.
Juntinhos; caminhamos pela vida
Sabendo de que sempre vale a pena
A sensação que é mágica, sentida
Bebendo desta luz; estrelas, somos.
A eternidade em lumes nos acena
Comemos da esperança doces gomos.
22
Após a tempestade, uma bonança
E à Terra assim desnuda aporta o sonho
Depois de um pesadelo tão medonho,
Refeita a humanidade na aliança
Do Pai que demonstrando a Sua lança
Expressa um novo tempo mais risonho,
Sorriso sobrevindo ao tão tristonho
Caminho onde morrera uma esperança.
Nas mãos de uma família, a redenção,
Promessa de total transformação
Ungida pelas mãos do Bom Javé.
Colheita agora farta, prometida,
Mudando a direção de cada vida
Surgida após a vida de Noé.
23
Após as dores tantas que passei,
Os medos que invadiram minha vida,
Agora que, feliz, eu te encontrei,
Do labirinto, encontro uma saída,
No mar de tanto amor, eu mergulhei
Deixando a dor distante e já vencida.
Entôo uma esperança, ser teu rei
Vertendo esta emoção tão desmedida.
Eu quero que tu saibas deste encanto
Da noite constelada em claro manto
Na transfusão de estrelas pro meu quarto.
As luzes entornando maravilhas,
Do quanto te desejo e não me farto,
Percorro as mansas tramas, nossas trilhas.
24
Após o banho, nua, tu desfilas
Tua sensualidade pela casa.
Mil olhos acompanham, fazem filas,
Distantes, na janela, o fogo abrasa.
Eu sonho com teu corpo junto ao meu
Entregue numa lúbrica avidez.
Nas curvas deslumbrantes se perdeu
Meu corpo com divina insensatez...
Não percebes ou finges quanto encanto
Emanas nos teus passos, descuidados.
Adentro em pensamento todo canto
Os que vejo e os que são adivinhados
Ao ver tão bela cena eu me perturbo,
Sozinho, sem remédios, me masturbo..
25
Após um cansativo e longo dia
Procuro descansar meu corpo lasso
Deitando no teu colo, teu regaço,
No fogo do desejo e da alegria.
O canto que distante não ouvia
De pássaros canoros. No teu braço
Se mostra divinal, cura o cansaço.
Refaz meu mundo inteiro em tal magia.
A força que me trazes, vivifica
Uma esperança a mais de ser feliz.
A sorte se demonstra rara e rica
Em cada novo toque uma certeza:
És tudo o que desejo, amor que eu quis,
Um verso mais perfeito da beleza...
26
Aposto que não gostas de ninguém!
Apenas sou remendo e nada mais,
Se a gente inda enfrentasse os vendavais...
Apenas frágil laço nos contém.
Seria prazeroso ter alguém
Que um dia me mostrasse um novo cais.
Meu canto sem talento, de pardais,
Procura qual radar quem queira bem
Um péssimo poeta, um vagabundo
Que mostra os poucos dentes para o mundo,
Deixando o seu traseiro descoberto.
Menina, vê se toma algum juízo,
Meu passo sendo trôpego e impreciso
Conduz somente aos ermos de um deserto...
27
Apraz-me te saber assim tão forte,
Amigo tantas vezes partilhamos
Fazendo com vigor o nosso norte,
Mostrando enfim poder o que sonhamos.
Ao passado tu queres que eu reporte
Lembrando dos caminhos onde andamos.
Guardado na memória qual recorte
De tudo o que vivemos nos lembramos.
Nossa amizade sempre foi completa
E encarniçadas lutas e batalhas
Contaram com teu braço e sem ter falhas
A vida era, decerto, mais dileta.
Depois de tantos anos, eis aqui.
E saiba que jamais eu te esqueci.
28
Aprazo em noite clara o sentimento
Que molda a plenitude, num momento.
Trazendo um canto alegre e solidário.
Querida, minha amiga e companheira
A Terra se vestindo em glória, inteira
Festeja assim o teu aniversário.
Quem tem uma alegria por bandeira
Percebe este festejo necessário
E sabe desfrutar de tal carinho,
Seguindo calmamente encontra o ninho
Nos braços de quem sabe ser feliz.
Já tendo como guia uma esperança
Encontro em ti decerto esta aliança
O bem que desejei e sempre quis.
29
Aprendi respeitar o ser humano,
Mesmo que decepcione, pois quem erra
Merece ter perdão. Fugir da guerra
Que mesmo com justiça, é sempre engano,
Fazendo da alegria um altiplano
Alçando em fantasia a bela serra,
Reinando sobre os mares, Inglaterra,
Mudando cada sina em alto plano.
Não quero mais servis caricaturas,
Nem mesmo quem desdenha as criaturas
Encontra ao sofrimento, lenitivo.
O lobo que devora este Cordeiro,
Matilha que se espalha, mundo inteiro,
Mantendo este delírio corrosivo...
30
Aprendo a traduzir felicidade
Entregue a tal magia deslumbrante
Outrora recebera da saudade
Um gosto em azedume, nauseante
Herdando dos amores, o lirismo,
Mortalhas esquecidas sem bravatas,
Saltando sobre imenso e grave abismo
Os sonhos mais felizes tu resgatas
Criando em raro encanto um verso breve,
Destinos que se tocam; sinas, fados,
Saudades para longe, o vento leve
Deixando no lugar serenos prados.
Acendo novamente esta fogueira
Na flama que se entorna, verdadeira.
31
Aprendo com o velho caminheiro
Que sabe decifrar sutis sinais
Do amor guardando estrelas nos bornais,
Colhendo em cada flor, sublime cheiro.
Dos sonhos perolados, garimpeiro,
Lutando, não desiste e quer bem mais
Que meros devaneios sensuais,
Ao dar-se intensamente, por inteiro.
Nas mãos de um lavrador, rara colheita
Usando da alegria como esterco
De belas fantasias eu me acerco
Olhando a lua quando ela se deita
Por sobre estas montanhas no horizonte,
Percebo em cada ciclo eterna fonte...
32
Aprendo com teus versos, liberdade,
Um dom que se pensava tão distante.
A vida traduziu tranqüilidade
Nos braços deste encanto fascinante.
Entre bares, calçadas, na cidade,
Calada a madrugada de um amante
Sem ter qualquer sarjeta que me enfade
Teu canto tem a força de um gigante.
No reino da sublime poesia,
Jamais eu andaria ausente e só,
Pois tendo a companhia de Jacó
Permito-me saber desta alegria
Que adestra o coração de um sonhador
E nisso já distingo espinho e flor...
33
Apressa o coração saber que existe
Um raio de luar após a serra,
E quando a fantasia ali se encerra
O sonho persistente não desiste.
Usando da emoção, meu peito em riste,
Não quero a solidão que vaga a Terra,
Tampouco esta amargura que desterra
Quem cede aos vãos temores e vai triste.
Tu tens lugar cativo e sabes disto,
Por isso é que decerto não desisto
E sigo cada passo que tu dás
Na busca desta tal felicidade,
Atemporal, tu rompes qualquer grade
E bebes do infinito feito em paz...
34
Aqueces com teu corpo, a minha noite.
Num jogo que; sem jugo, compartilha,
Seguindo sem perguntas, mesma trilha,
Saber cada delícia do pernoite...
Sarjetas que ainda trago na minha alma,
Heréticos desejos do passado,
Perdoe se hoje sigo tão calado,
Sequer a fantasia já me acalma.
Os olhos marejados lacrimejam,
A pútrida expressão do que vivi,
Escombro dos meus sonhos; eis aqui
Em meio a tempestades que porejam,
O verme que, teimando cisma e resta,
Tentando insanamente riso e festa...
35
Aquecida ao calor deste verão,
Felicidade faz-se sem cobiça
Abrindo mansamente o coração,
Não planeja nem guerra sequer liça.
Amor, se verdadeiro rega o chão,
Não traz notícia falsa em dor postiça.
Exorciza tristeza e solidão.
Não precisa de padre e nem de missa
Amor sem ter mentiras nunca jura,
Seus gestos traduzindo uma certeza.
É feito de delícia e de ternura,
Não carece de sonhos temerários,
Resiste a qualquer baque em correnteza,
Navio que não teme mais corsários...
36
Aquela por quem meu ninho
Se cobriu em flores tantas,
Espalhando no caminho
Rosas puras, belas, santas.
Quando em luzes me agigantas
Já não sinto-me sozinho,
Dos teus braços faço mantas
Desta boca, bebo o vinho
Que inebria e que me farta.
Nesta manga última carta,
O meu trunfo derradeiro.
Dados lanço sobre a mesa,
E o amor com tal destreza
Vence o jogo. Vou inteiro...
37
Aquela por quem tenho rara estima
E neste dia está bem mais contente,
Por ter tanta amizade já se prima,
Tocando o coração de toda a gente.
Amor com amizade traz a rima
Que muda o meu caminho de repente,
O sol quando da lua se aproxima
Clareia a terra inteira, totalmente.
No teu aniversário, minha amiga
Mergulho nas palavras pra dizer
Do quanto é necessário ter prazer
Aonde uma esperança assim se abriga
E mostra num sorriso, esta saída
Na glória imaginada e tão querida.
38
Aquela que se foi e não me quis
Não teve mais saudades nem saídas
Entrave do que tanto tempo em bis
Esbarra nas estrelas, distraídas
Colide contra os prédios e lambris
Colando cada parte em novas bridas,
Na boca dos anzóis os lambaris
Estendem tuas farsas nas mordidas
Ardentes temporais vogando soltos,
Em mares que não foram mais revoltos
Assuntos diferentes se professam.
Os erros cometidos no passado
Apenas cada fato revogado
Nos ermos de teus braços se confessam...
39
Aquele amor que sonho, sei, virá
Trazendo um manso beijo, tenso e puro
Aos poucos, meu destino mudará
Remédio que entorpece onde me curo..
Da moça, da menina que me anseia
O gosto desta flor, perfume e cor;
Invade o coração, penetra, ateia
Neste fogão de lenha, imenso ardor,
E vai queimando lento, devagar,
Seu nome em minha boca, quase explode,
Um dia com certeza, vai chegar,
No templo deste amor, altar, pagode,
Que a chama deste amor já se revele,
Neste ar, no mar, no céu, nossa alma e pele...
40
Aquele cujos passos vão guiados
Pela amizade imensa que se sente,
Tem olhos nos espaços assentados,
E toda a glória o faz ser mais contente,
Seus dias com certeza são honrados,
E a voz do coração tão envolvente.
Expressa o que deseja em altos brados
Vivendo amor de forma previdente;
Não sabe de outro dia mais horrendo,
As flamas da alegria, recebendo
Mudando o seu caminho de repente.
A vida se transforma ao mesmo instante
Em que sinto o reflexo deslumbrante
No olhar de brilho farto, reluzente.
41
Aquele jardineiro que cuidava
Com toda uma alegria desta flor,
Um dia, adoecido não pensava
Senão como era belo tanto amor.
Ardendo numa febre tão insana
Sonhava com perfume inesquecível.
Porém toda a certeza que se emana
Não conta com fator imprevisível...
A flor não percebera que o jardim
Por mais que parecia estar cuidado
Não tinha mais o cheiro dele enfim,
Daquele jardineiro adoentado...
Não sofra assim, dizia o velho cardo,
À jovem bela flor lá do cerrado...
42
Aquele que deseja amor profundo
E perde a direção, capota o sonho,
Deixando um rastro amargo e tão bisonho
Morrendo sem saber cada segundo...
O coração eterno vagabundo,
Aonde a fantasia quero e ponho,
Além da cordilheira que eu suponho
Nos mares tão distantes me aprofundo.
E vejo no mergulho a solidez
De quem ao desejar amor se fez
Bem mais do que um vadio sonhador.
Fazendo do meu verso o mensageiro
Clamando com vigor ao mundo inteiro
O quanto é necessário e bom o amor!
43
Aquele que dirá do tempo em rito,
A cargo da esperança segue em frente,
Por vezes dos teus olhos necessito,
Enquanto esta saudade mata a gente.
O amor que com carinhos é bonito
Farturas entre sonhos já pressente,
No corpo de quem amo, quando habito
Eu vibro de emoções e vou contente.
Ausente tanto tempo, esta saudade,
Derrama no meu peito enquanto invade
Buscando nos teus lábios o bom dia.
Da seca agora tenho inundação
Arando com vontade nosso chão,
Tornando realidade uma utopia...
44
Aquele que em ternuras ensinou
Que a vida deve ser bem mais suave,
Usando o coração divina nave
Amor, intensa glória nos legou.
Aos doentes, no amor apascentou
Tirando do caminho algum entrave,
Fazendo da amizade única chave
Segredos são tão simples, nos mostrou.
Amar quem nos ofende e nos maltrata
Usando do perdão que é sublime arma
Que o peito dos ferozes já desarma,
E as tramas mais temíveis desbarata,
Eu faço este poema em oração,
Louvando o terno AMOR feito em PERDÃO...
45
Aquele que escapar do mau amor
Embrenha seu futuro em plena sorte,
Fugindo deste inferno, sem calor
Aguarda bem mais calmo, a sua morte...
Amor que me parece ter dois gumes,
Cortante ao mesmo tempo, caricia.
Das luas em que rouba tantos lumes,
Amor que tanto apruma já vicia.
Herméticos meus versos pueris
Talvez de amor não façam suas tendas
Amando com palavras mais gentis,
Tampando a claridade, negras vendas.
Agora, num minuto já te digo,
Amor quando é demais, sou teu amigo...
46
Aquele que jamais; ontem dizia
Canção que te alentasse, vã, profana,
Enquanto a noite chega soberana
Mergulho o meu olhar num frágil dia.
A mão que se revela em falsa guia
Ao mesmo tempo molda e desengana,
A força insuperável feita em grana,
Granando tal aborto, vil sangria.
Dos séculos e séculos, milênios
A morte desatina em vãos convênios
E muda a minha sorte ao mesmo instante
Em que rondando a casa, alerta, astuta
Ambígua e de tocaia, a voz escuta
E dá sobre o meu corpo este rasante...
47
Àquele que nos fez, sublime Pai
Eu ofereço amor pleno e sincero.
A vida muitas vezes já nos trai
E mostra um sentimento amargo e fero.
Aos olhos de Oxalá ou de Adonai
Felicidade imensa, o que mais quero.
E a dor que nos maltrata já se esvai
Nos braços de quem amo e que venero...
Nós somos passageiros desta Terra,
Planeta abençoado e destruído.
O mundo sempre foi mal repartido
Porém amorizade já descerra
Cobrindo nossa casa de esperança
No choro tão bendito da criança...
48
Aquele que somente se perder
Nas asas deste amor mais envolvente
Verá que encontrará no mesmo ser
A boca que mordendo, sangra e mente.
Não mais que certas coisas na lembrança
Guardei do que desprezo; me deixaste
O vento que trazia essa mudança,
Se avança rebentando uma fina haste.
Isento dos percursos da paixão
Escrevo meu futuro em teu passado.
Não presto mais a mínima atenção
Ao gosto que roubamos do pecado.
Sorvendo cada gota do teu gozo,
A mando deste amor tão desditoso...
49
Aqueles que se jactam de amadores
Sentimentos ferozes, traiçoeiros,
Perdendo o seu caminho timoneiros
Dos sonhos quase sempre sofredores
Não vêm que a vida forja encantadores
Caminhos mais reais e verdadeiros
Deixando com certeza; lisonjeiros
Momentos mais amigos onde fores.
Passos direcionados, na verdade
Ao máximo fulgor/ felicidade,
São dados por quem ama e sabe ter
Nas mãos toda a certeza necessária
Deixando para trás a temerária
Ausência de alegria e de prazer...
50
Aquém de todo sonho que tivera
Espreito uma verdade insofismável.
Amor perfeito eu sei inencontrável,
É como regressar à primavera.
Sabendo que terei esta quimera,
A fonte de esperança, inesgotável,
Aos poucos se tornando dispensável,
Mostrando em suas garras, louca fera.
Eu quis amar demais e me perdi,
Eu quis felicidade e nada tive.
Um louco coração que sobrevive
Ainda busca amor, deseja a ti.
Será que inda terá, pois, solução,
Quem quer em todo amor, a perfeição...
51
“Aqui jaz quem não jazera
Se jazessse a medicina”
Tanto amor que não nascera
Se não fosse essa menina.
Na pele branca de cera
Tanta coisa descortina.
Procurei a vida inteira
Essa beleza assassina...
Foste brilho das estrelas,
Vives solta neste céu
Onde posso recebê-las?
Quero tirar o teu véu...
De tal brilho virei presa.
Escravo dessa beleza!
52
Aquilo que vivemos restará
Guardado na memória, nas lembranças
Que cortam e maltratam como lanças
Na dor que, fatalmente marcará.
Eu sei que no futuro não terás
Daquilo que sonhei, recordação;
Porém hei de saber não foi em vão;
Ao olhar com saudades para trás
Terei a tua imagem radiante,
E assim renascerei no mesmo instante
E uma lágrima descendo no meu rosto
Salgando mansamente o meu sorriso,
Então, neste momento, mais preciso,
Cadáver da ilusão, de novo exposto...
53
Ar intelectual? Tanta besteira...
Matar as emoções é ser poeta?
Perdoe uma alma frágil e incompleta
Que vê a rosa aberta e nunca cheira...
Não quero botar fogo na bandeira
Que fez de tanta gente, a predileta,
Tola imortalidade é tosca meta
Eu quero a poesia verdadeira!
Falando do luar e da beleza,
Deixando-me levar por correnteza
Que entregue-me em teus braços tão somente...
O fato é que preciso deste verso
Que mostre no infinito do universo
A força de um amor, grão e semente...
54
Aragens e frescor de primavera
Nas flores, nas abelhas, borboleta.
Libélulas voando. Quem me dera
Poder seguir seus passos, ser poeta...
Falar da imensidão do sentimento
Que sinto sem segredos por você,
Na doce poesia deste vento
Amor que tudo sabe e tudo vê.
Fluir tão mansamente como um rio
Que desce por cascatas, mais ligeiro.
Vivendo a fantasia que recrio
Do sonho deste amor mais verdadeiro.
Na música que canta um passarinho,
No colo da mulher fazer meu ninho...
55
Aramos os canteiros, colho flores;
Fazendo então o mais belo buquê
Decoro nossa vida nestas cores,
Perfeita sintonia é o que se vê;
Albores divinais, perfeito lume,
No cimo dos meus olhos, monte e sol
A mão que na colheita tem perfume
Encontra a magnitude do arrebol.
Embosco teus desejos, de tocaia,
Aguardo a ventania que virá,
Levanta num segundo a tua saia,
Belezas sem igual encontro cá.
Colírio pros meus olhos, eu garanto,
Jardim que se floresce em teu encanto.
56
Aranha conquistando o seu parceiro,
Fatalidade; estúpida quimera,
Entregue aos desvarios de uma fera
Que come sem ter pena o companheiro,
Um fato entre os humanos, costumeiro,
A seca quando toma a primavera
Sujeito não permite alguma espera
E pros braços desta outra vai ligeiro.
Depois vem a pancada e o machadão,
É sangue se espalhando no colchão
E o riso embasbacado do defunto.
Rainha se livrando do zangão
Aguarda o renovar de uma estação
Novo acasalamento e o velho assunto...
57
Aranha preparando a sua teia
Uma armadilha marca a triste sina
Daquele que não vendo se alucina
E mata em noite escura a lua cheia.
No quarto a solidão que te incendeia
Às vezes o futuro descortina,
Não vês quanto eu desejo-te, menina,
O amor vai estourando cada veia.
Mas deixe isto pra lá, sejas feliz
Enquanto a poesia for teu alvo,
O coração tão velho, amargo e calvo
Batuca por quem nunca, eu sei, me quis.
Faz parte dos meus dias a esperança.
Quem luta sem ter armas nunca alcança....
58
Aranhas e moleques, bocas, becos.
O gado vai passando na porteira
Eterna sensação do que se queira
E muitas vezes morre em repetecos.
Depois no bate papo traz botecos
Numa impressão de eterna domingueira
Na casa que se fez sótão soleira,
A juventude segue sem ter ecos.
Amizade moldada na cachaça,
Nas velhas discussões, sentido algum,
O rumo tantas vezes foi nenhum,
Conversa que afiada, é só chalaça.
O tempo ruminando feito boi,
E tudo o que eu sonhei, depressa foi...
59
Arcádias que carrego, mineirices.
Tolices entre vasos que quebrei.
Matando uma princesa, não fui rei,
Jamais me encantarei com falsas misses.
Os amores eternos são crendices,
Quem disse que contigo não sonhei.
Servindo ao que pretendo, mergulhei
Nos vastos que deixaste e não cobices.
Apátrida emoção, amor é todo,
No quanto ainda fora algum engodo,
Rolando sobre as pedras, sigo inteiro.
Quem vê cada faceta desta cena,
Não sabe que ilusão se concatena
E mostra o alagamento no ribeiro...
60
Arcanas fantasias? Não suporto,
Seria muito bom ser mais feliz,
Quaresma de minha alma isso desdiz,
Singrar inutilmente sem um porto.
Estando há tanto tempo quase morto,
Não quero ser de novo um aprendiz,
E quando em teus brilhantes eu me corto,
A sorte vai mudando o seu matiz.
Acaso nada tendo senão isso,
A vida não premia o compromisso
E deixa ao deus-dará tal vaga-lume.
Catando cada vento que não vem,
Queria ter quem sabe um novo bem,
Porém a solidão virou costume...
61
Arcando com meu sonho mais constante
Vagando pelo corpo ensandecido
Bebendo desta fonte deslumbrante
Meu passo sempre ereto e decidido.
Amor em louca entrega num instante
Ao fogo do desejo recendido
Vertente das vontades, triunfante
O vencedor por ele foi vencido.
Delícias neste karma desejado,
Alvíssaras, augúrios e festejos.
No poderoso rei, um delicado
Momento em que decerto vou entregue,
Na calmaria intensa relampejos,
Na luz que se deseja, sempre cegue..
62
Arcando com meus erros e vitórias
Jamais me arrependendo, sigo em frente.
Lauréis entre derrotas tão inglórias
Depois de tudo, em ti, ando contente.
Aprendo a cada dia em novo enfoque
Olhar com mansidão este horizonte.
Por mais que tão distante eu nunca toque
A lua tão sublime enfeita o monte.
Porém quanto é possível perceber
A magnitude plena deste amor.
No dar sem procurar nem receber
Felicidade expressa o seu valor.
Assim amar além e sem fronteira
Uma emoção maior, pois verdadeira...
63
Arcando com os desejos mais profanos,
Encontro nossos corpos bem unidos.
Os cantos que me encantam, nossos planos,
Adentram noite inteira em mil gemidos.
Assaz feliz me fazes, saiba disso.
Sou teu e neste sonho eu me entreguei.
Amor quando demais não perde o viço,
Amar é na verdade, a nossa lei.
Somando nossos corpos, peles, vícios,
Salivas e sussurros noite afora,
Amar não tem momentos mais propícios,
Preciso de teu corpo, justo agora.
Inundações atlânticas rebentas,
Paixões que nos dominam, violentas...
64
Arcos e marcos, passos nesta escada.
Abrindo uma janela ao paraíso.
Vertendo em mil gemidos, nossa estrada
Perdendo em teus caminhos meu juízo.
Nas cores de teu corpo eu me matizo,
E quero tua pele transformada
No altar em que percebo sem aviso
A fonte do desejo iluminada.
Oráculos perfeitos, peitos, lábios,
Meus dedos com certeza vão bem sábios
Até que ao encontrarem teus regatos
Molhados nos rocios dos prazeres,
Fazendo de teu corpo, em mil talheres,
Banquetes divinais em finos pratos...
65
Ardendo um corpo em febre, latejando
As dores recebidas, desafetos.
Matando as esperanças feitas fetos
As facas dos canalhas dardejando.
O medo de viver vai se espalhando
Marcado pelos fatos mais concretos.
A vida permitindo sempre os vetos
Daqueles que decerto vão roubando
Os sonhos desta frágil multidão
Vendida nos palácios, nas Igrejas,
As carnes sem valor e malfazejas
Não sabem discernir a claridade
No aborto que se faz em profusão.
Talvez só reste um rumo: uma amizade.
66
Ardente sentimento diz do sol
Que toma nossa vida e nos faz crer
Quão belo e mavioso amanhecer
Tomando em fantasia este arrebol.
Não quero ser somente um triste atol
Que estando solitário, do sofrer
Não pode uma esperança conceber
De todas as belezas, girassol.
Assíduas emoções que se prometem
Enquanto tais loucuras se cometem
Fornalhas das perfeitas emoções.
O amor que nos domina traduzindo
Um dia tão fantástico surgindo
No fogo que não cessa, o das paixões...
67
Ardente; a nossa busca não se encerra
Somente num prazer tão corriqueiro,
A fúria dos desejos paz e guerra
Misturas deste insano feiticeiro:
O amor que vai cevando em fria terra
Sementes nesta espécie de viveiro.
O olhar extasiado já se cerra
Pensando neste amor mais verdadeiro.
Silêncio, não se escuta nesta noite,
O gozo tão fantástico, um açoite
Cortando nossas carnes, nos lambendo.
Salivas e suores; compartilhas,
Seguindo estes caminhos, belas trilhas,
Até que o sol ressurja, amanhecendo...
68
Ardentes maravilhas que descubro
No corpo da divina criatura,
O matiz de um desejo é sempre rubro,
Assim como os lençóis de seda pura.
Tirando a camisola, de mansinho,
Os seios pontiagudos pedem lábios,
E envoltos pelas tramas do carinho
Sabemos ser decerto bem mais sábios.
As chamas enrubescem nossa cama,
As tramas deixam drama para trás;
Vermelhas maravilhas entre as pernas.
A moça tão gulosa que me chama
Querendo todo o gozo que o amor traz,
Conhece estas carícias tenras, ternas...
69
Ardentes sensações que nos provocam,
Espero logo ali, tão mudo, inquieto.
Sabendo que somente me completo
Nos olhos mais divinos que me tocam.
Carinhos e detalhes que retocam
Um sentimento enorme e predileto.
Marcando cada noite com afeto,
Meus braços para os teus já se deslocam.
Numa exclusividade que não nego,
Amor sendo sensível, faz a festa.
Uma alegria imensa que se empresta,
Num sonho tão antigo que carrego.
Abrir de uma esperança mais que fresta
No colo de quem amo assim me entrego...
70
Ardis nos quais preparas cada bote,
O mel em tua boca diz ferrão.
A lua se enredando em solidão,
Permite que este sonho se desbote.
Ao ver tanta beleza em teu decote,
Meus olhos se encantando. Mas em vão,
Apenas em teus sóis a negação,
Apagas do caminho cada archote.
E sigo pela noite tão sombria,
Noctâmbulo fantasma da agonia
Amordaçando um sonho a cada esquina.
Embora tantas vezes eu quis crer
Que a vida seguiria em teu prazer,
Porém tanto vazio me alucina.
71
Ardores insensatos, mil segredos,
Apaixonadamente estamos juntos.
Percorrendo o teu corpo, vão meus dedos,
Decifro teus abismos mais profundos.
E crio um mundo louco onde o prazer
Se torna um aliado inseparável.
Em tantas alegrias converter
Amor que a gente faz, insuperável...
Paixão! Desejo! Sonhos... Vibrações...
Materiais que formam nosso canto.
Renovam-se loucuras, sensações,
Vasculho teus caminhos, cada canto.
Verter cada momento de emoção,
No toque mais veloz do coração...
72
Areias escaldantes do deserto.
As brancas testemunhas deste ocaso.
Amor que traduzimos por incerto,
Morrendo na tardinha, findo o prazo...
Um pobre beduíno, céu aberto,
Espera pelo oásis, ao acaso.
A miragem do amor, sem nada certo,
Olhar pleno e distante, morto e raso...
Areias escaldantes desta praia
Delícias de morenas e sereias...
O sol enamorado já desmaia,
Casais semi-desnudos se acasalam,
Desfilam seus hormônios nas areias...
Camelo e beduíno, nada falam...
73
Areias que em tufões sendo tocadas,
Vibrando em tempestades, se perturbam,
Nas dunas de teu corpo, derramadas
Marés que num momento nos conturbam,
Eu sinto nosso amor nos areais
Que em força sem limites não sossegam
E movediça senda quer bem mais
Que simples dedos mansos que navegam.
Num misto de loucura e sanidade
A sede de poder ser teu se instala
E a carne sequiosa então me fala
Da doce sensação, voracidade,
Prostrando meus desejos em teus braços,
Areias e procelas, sem cansaços...
74
Arengas e discórdias, cordas frouxas,
Governador careca, este fascista
Relembra-me a canção: “Pobre paulista”
Misturas que se fazem: velhas trouxas.
Culpados são vermelhos camaradas.
No fundo a burguesia sempre fede,
E enquanto à bala, a força vem e impede
Bem mais de mil pessoas infiltradas.
Outrora um comunista, agora expõe
A face que o Poder já decompõe
Cuspindo sobre o prato que comeu.
Descendo a serra, chego à conclusão
Que o galo, papo cheio, esquece o grão
Arrota o caviar que o elegeu...
75
Arenosos caminhos deste amor
Que se perdem desertos e desterros,
Vencendo duras urzes do rancor
Subindo por montanhas e por cerros.
As pedras da saudade nos maltratam
Espinhos-solidão nos ferem fundo.
As lágrimas nos mostram e retratam
O corte que percebo ser profundo...
Em meio a tantas vespas dos ciúmes
Nas pragas mais terríveis, tanta inveja,
Nos sobram poucas horas em perfumes
Mas nada faz; enfim, que amor reveja.
Vencendo as desvalidas, más quimeras;
Podemos conhecer as primaveras...
76
Ares de muares são luares
Que atares entre frases indecentes
Se os versos são versões incoerentes
Eu colho cada abrolho em meus pomares.
No molho furando olho risco bares
Calandras são meandros destas gentes
Assando meus temores em teus dentes
Pescando desde quando calabares.
As cáries vão roubando cada esmalte
Destilo teu amor em puro malte
E cevo da cevada a solução.
Se eu vejo o teu retrato na parede
Cerveja vai matando a minha sede
Depois não vem pedir explicação...
77
Argênteas doçuras, branca neve,
Nestas trevas noturnas, um oásis...
Aos poucos com carinho leve e breve
Mudando sua face em tantas fases.
Dessas névoas, coberta, fino véu...
Vagando solitária num deserto.
Rainha maviosa do meu céu.
Em seus braços futuro vai incerto...
Eu amo suas rendas, seu cetim.
Em brancas, alvas luzes, me inundando.
O bom de todo amor que existe em mim,
Nas horas mais tardias, transmudando.
Beleza que me encanta, toda nua...
Deitada em minha cama, amada lua...
78
Argutas seduções do verso fácil,
Da rima sempre pobre e sem primor,
Por mais que um mundo nobre, farto e grácil,
Tentara; inutilmente, recompor.
Sou ácido, meu canto é de aridez,
Na seca permanente, me atrofio,
E enquanto a fantasia se desfez
Perdi do meu destino, cada fio.
Apago os meus sonetos. Os renego.
São tolas expressões de um sentimento
Que um dia, ao caminhante amargo e cego,
Serviram pelo menos como alento.
Vomito sobre cada poesia
Que uma alma transtornada, aqui desfia
79
Armando nos beirais, um alçapão,
Ascendo à força estúpida do sonho.
Aonde, caricato, ainda ponho
O pássaro senil de uma ilusão.
Verificando os erros do passado,
Aleijo o que talvez fosse esperança.
A louca servidão serve de herança
A bola foi além deste alambrado.
Cercárias que carrego, cercanias,
Acerca do que a cerca não impede.
Nas mãos, as velhas flores já murchando.
Delírios se transformam em manias,
Sem crédito e sem sonho que me vede
O que restou de mim, fugindo em bando...
80
Armarinho divino, pois que seja,
Eu vendo qualquer cura ou um milagre
Se a empresa do fiel foi pro vinagre,
Ou se tua ferida inda lateja
Terá aqui por certo, o que deseja,
Desde que este Pastor, com grana sagre.
Se não tiver dinheiro. Ele fica agre,
E assim ninguém terá o que se almeja.
Só dez por cento, além destas ofertas
Que servem para a glória do Senhor.
As portas estarão, garanto abertas
Para aqueles que cumpram seu dever,
Sabendo que ao dinheiro tinha horror,
Eu faço um sacrifício: receber!
81
Aroma sem igual eu percebi
Além do que cultivo na lembrança
Chegando de mansinho junto a ti,
Recebo o doce vento da esperança,
Não quero mais saber do que perdi
Se um novo alvorecer amor alcança.
Depois que em alegria eu conheci
Alguém que me convida para a dança,
Não nego que encontrei felicidade,
Vivendo o nosso amor, que é de verdade...
Eu tenho esta alegria que eu almejo.
Não deixe que isso acabe minha amada,
A vida sem te ter, resume em nada
Eu quero o teu amor tão benfazejo.
82
Arpejos dissonantes e lascivos,
Carnívoras vontades luz sanguínea,
Tentáculos mordazes, decisivos
Decifro de teu corpo cada alínea
Convulsos e frenéticos espasmos
Numa expressão por vezes violenta
Serpenteando nua, seus orgasmos
A noite em explosões já se apascenta
Flameja-se esta insana atracação
Os mucos misturados entorpecem.
Letárgico opiáceo da paixão
Esculturando as cenas que se tecem
Enlanguescentes raios emolduram
Vorazes explosões que se procuram..
83
Arquitetara outrora, uma saída
Que pudesse fazer do labirinto
Somente algum vulcão há muito extinto,
Mudando a direção de minha vida.
Minha alma, sem destino, distraída,
Sabendo que deveras tanto minto,
Vestindo a carapuça em que ora pinto
Forjou a alegoria, vã, fingida.
Dos altos edifícios, sou o térreo,
O amor que antes julgara quase férreo
Esvai-se qual papel numa enxurrada.
Notícias do que fui? Já não as tenho,
Sementes que encontrei no mar que embrenho,
Morreram sem deixar qualquer florada...
84
Arranco as emoções, liberto o peito
Fazendo dos meus versos, lenitivo,
Nas tramas mais fantásticas meu pleito
Mantendo o sentimento ainda vivo.
Se tudo o que pedi tivesse aceito
O desgrenhado amor, porém altivo
Derrama a solidão sobre o meu leito,
De todos os desejos já me privo
E sigo em falsos risos, tropeçando,
Não tendo uma esperança uma alma à toa,
Apenas fantasia ainda ecoa,
Na busca insaciável desde quando
O vento que julgara manso e brando
Afunda a cada dia, esta canoa...
85
Arranco as velhas flores desbotadas
Deixadas por acaso em meu jardim...
Limpando o que pior existe em mim
As hordas em penúrias disfarçadas.
As farpas entre beijos demonstradas,
Não servem para nada, e sigo assim,
Rolando como as pedras vou ao fim
Das fúnebres e estúpidas estradas...
Relendo o que escrevi sobre este caso
Entendo cada vez o nosso ocaso,
E sei que a ocasião faz o bandido.
Semente apodrecida da esperança
Brotando num momento de vingança
Restando o coração, já desvalido....
86
Arranco com vontade o coração
Um simples adereço sem valor.
Não quero teu olhar de compaixão
Melhor matar o velho trovador.
Rasgando com vontade e sem perdão,
Meus olhos vomitando num louvor
Incandescências tolas, erupção
Num último soneto, ingênuo amor.
A fome de viver e ser feliz
Morrendo neste palco, pobre atriz
As mãos impiedosas e venais
Vibrando um golpe duro ao qual me presto,
Eviscerado e cego sigo resto,
Desfigurantes brilhos sensuais...
87
Arranco do meu peito o sentimento
E deixo para trás esta emoção.
O vento transformado em furacão
Levando para longe o pensamento
Encontra o teu retrato e num momento
Ainda roça leve, o coração
Verso como uma espécie de oração
Reflete o que se fez duro tormento.
Meus dias vãos passando mais dispersos
Dizendo de outros tempos tão perversos,
Tornando este cenário, então nublado
Quem dera se tivesse uma ternura,
A senda do viver sem amargura
Traria um novo tempo. Abençoado...
88
Arranco esta emoção e esmago o velho peito,
Matando o que restou de um louco sentimento.
Quem tanto se entregou, agora vai sem jeito
Depois da tempestade apenas manso vento
Tomando qual posseiro, inteiro o pensamento.
Qual fosse um viajante a cada curva espreito,
Aguardo, tocaiando, um novo e bom momento
Aonde em salto livre, invada o parapeito
E sinto, finalmente, o gozo libertário
Que faz do amor sereno apenas ilusão.
Não quero esta palavra algoz de um coração.
Arrancando de mim o cruel adversário
Meu verso se faz forte e até mesmo mais duro
Ao despolinizar, tornando-me, enfim, puro...
89
Arranco minha pele esmago os olhos,
E mostro uma nudez mal disfarçada.
Andando por caminhos com antolhos,
Durante tanto tempo não vi nada
Senão uma promessa que em abrolhos
Demonstra uma dureza nesta estrada.
Que é feita um puro espinho, extorque os molhos
Das flores que morreram na invernada.
Meus versos são mais rudes e venais
Porém só se amenizam quando escuto
Um laivo de esperança que me traz
Palavra carinhosa e mais amiga.
Por vezes escondido no meu luto,
Teu canto assim permite que eu prossiga...
90
Arranco o que restou de minha vida
Dispersas emoções, pratos quebrados.
Momentos fragilmente deslumbrados
E o gosto nauseabundo da partida.
Jogado sobre as pedras e alambrados
Quem sabe e reconhece não duvida,
A carne latejante e apodrecida
Ainda teima e, às vezes gera brados.
Aonde restaria o que não pude
Trazendo como brinde este alaúde,
Helmintos devorando o que sobrou.
Vertendo a fantasia em farto pus,
Percebo mais suave a minha cruz
Depois que a fantasia me deixou...
91
Arranco os olhos e bebo a tempestade
Na vastidão do nada que plantei.
Vestígios do que fomos nesta grade
Marcando o que em verdade não busquei.
Embalo os meus resquícios, liberdade,
E tento confundir, mas nem mais sei
Se o vento vestirá tranqüilidade
Ou mesmo matará o que sonhei.
Se há penas ou penhascos, não me importa,
A mesma solução é reta ou torta
Depende do que os olhos me diriam
Mas como os arranquei, apenas vejo
A boca escancarando um vão desejo,
Estrelas que distantes sempre esfriam...
92
Arranco os olhos falsos da pantera
Vencida pela força da ilusão.
Algoz da fantasia, sem perdão,
Matando o que restou em fria espera.
Beber felicidade. Quem me dera.
Vivendo ao deus-dará, sem direção,
A culpa destroçando o coração,
Não tenho mais nem flor ou primavera
Aroma putrefato, risco imenso,
Nem mesmo em teu retrato ainda penso,
Jogado na gaveta mais sombria.
Porém terrível fera não se cansa,
Voltando a reviver numa lembrança,
Um carrossel soturno, rodopia...
93
Arranco os podres galhos do arvoredo
Que trago dentro da alma carcomida
E assim procuro crer que uma saída
Virá no amanhecer. Assim concedo
E parto num cometa. Sei segredo
Que possa permitir na nova vida
A sorte que julgara já perdida;
Supero com firmeza o velho medo
Refaço dos escombros a jornada
Que tantas vezes, nunca deu em nada,
Espero após a poda; o florescer
Apóio os cotovelos na janela,
E o sonho que em teu sonho ora se atrela
Talvez inda me trague algum prazer.
94
Arranjo alguma chance, nada além;
Dos olhos feitos lanças, serviçal.
Ao par que se perdeu não quero o mal,
Mas posso confessar, não quero o bem.
Reflito sobre o espelho que ora vem
Falar do quanto sou frio ou boçal,
À velha fantasia digo tchau,
Cremando o que restou, sobra ninguém.
Dispenso a tola ajuda da ilusão,
Nem cálices nem bares, volto ao chão
De tantas pedrarias, queda à vista.
Arrebentando assim minhas correntes,
Trazendo a faca presa entre meus dentes,
Fingindo ser somente algum turista...
95
Arranco vorazmente do meu peito
As marcas deste amargo sentimento.
Amor já se perdendo num momento,
Teria o meu caminho satisfeito.
A noite se aproxima do meu leito
Trazendo entre neblinas, duro vento,
Teu rosto sobressai no pensamento.
Risonho, neste instante, tudo aceito...
Depois tanto vazio me tomando,
Aguardo alvorecer em vento brando,
Persiste o mais temível vendaval.
Quem dera... Mas o sol inda não veio;
O rio se perdendo do seu veio,
Recebe do teu mar o fel e o sal...
96
Arrasta-me depressa, a dura correnteza
Mostrando minha sina, eterno perdedor,
Farrapo a me cobrir, frágil aquecedor
Expõe a minha face, e nela uma certeza.
O dia que virá, imerso em tal tristeza
De novo me fará um mero sonhador.
Catando o que me resta um corpo exposto em dor,
Jogado friamente aos mares da incerteza.
Somando o que eu já tive; eu vejo muito pouco,
Andrajos que carrego, um riso insano, louco,
Gargalho como um rude em vagas ilusões,
Afago em ironia, os olhos da serpente
E bebo a fantasia em risos de um demente
Sentindo o frio intenso em vagas tentações.
97
Giros arrastados na cantiga,
Na roda que me deste nada fiz...
As mantas que me cobres, forte viga
Sustenta quem amou, foi aprendiz...
Não vejo nem desejo que consiga
A mão que se caleja nada diz,
O medo que me impede que prossiga,
Fornalhas que incendeiam, céu mais gris...
Nas bordas dos recôncavos estrias,
Nas cordas das sonoras melodias,
Nos bancos que me trazem teu passado.
Nos cancros que causaste sem perdão.
Amor que me percorre aliviado
Explode num momento, o coração!
98
Arrastando correntes pelas ruas,
Esfolo os meus joelhos na ilusão.
Minha alma na total putrefação
Procura na rapina carnes cruas.
Selando o paraíso que cultuas
Eu trago o meu olhar de servidão,
Porém sem ter sequer calefação
No inverno que eternizas, continuas.
Helmintos me devoram; sorrateiros,
Os olhos dos amores rapineiros
Eu sei que são agudos, frias garras.
Os lanhos que ganhei, sublime herança,
A morte talvez traga a temperança
Rompendo assim as últimas amarras...
99
Arrastas mendigando um gozo pleno,
Vergastas estalando em tuas costas,
Afastas me entregando como gostas
As pernas, me chamando em louco aceno.
Penetro com meus dedos cada loca,
Rasgando com furor e tu deliras;
Pedindo como escrava que te firas,
Teu corpo aprisionado me provoca
E chama para o gozo feito em dor,
Maltrato tal cadela que gemente,
Delira nos meus braços tatuada,
Marcada a ferro e fogo, num torpor
Numa explosão feroz e intensa sente
Prazer como uma fera alucinada...
3200
Arrastas o teu corpo moribundo
Por entre os espinheiros que cevaste.
Um ser tão desprezível vaga o mundo
Expondo assim seu cerne em vil desgaste.
Um verme simplesmente, nauseabundo,
É tudo o que em verdade te tornaste
Morfético canalha, ser imundo
Com o lodo jamais fará contraste...
E teima em respirar, tal criatura,
Cadáver ambulante, decomposto,
O olhar que rapineiro vai exposto
Incrível que pareça; isso perdura,
Um dia foi humano, hoje este bicho
Entranha-se no esgoto. Resto e lixo...
3201
Arrasto o que inda resta dentro em mim
Deixando pela casa velhas marcas.
Pegadas do que fomos; de onde eu vim,
Distante de teu mar, sigo sem barcas.
O quanto de desejos sempre abarcas,
Saudade inesgotável chega assim,
Revive; num momento, antigas Parcas
Amanhecendo ao som deste clarim
Procuro um lenitivo num sorriso
Guardado como forma de um aviso
Tomando toda a cena, visionário...
Assim como mostrasse em relicário
O quanto que eu perdi e não sabia,
Refaz do desencanto, a fantasia...
2
Arrasto-me nas ruas, qual molambo,
Um verme que se deu ao limbo eterno,
A sorte que meus sonhos fez escambo
Lambendo minhas pernas cria o inferno.
Partícipe da orgástica folia,
Entregue a mais completa insensatez,
Gritando tantas vezes a alforria
Os olhos em temível languidez
Atrelo o meu futuro ao meu passado
E leio este capitulo final,
Deitando o meu olhar aliviado
Percebo que restei sem bem nem mal.
Correntes carregas vida afora,
A sombra do que fui já me devora...
3
Arrebentando a boca do balão
O amor faz o que quer e sem defesa
Entregue à perfeição feita em beleza
Eu dou por encerrada esta questão.
Se eu bebo e me embriago, a tentação
É como um vinho doce sobre a mesa,
Por isso meu amor, com gentileza,
Eu sei que sou deveras um glutão.
Embaralhando imagens, eu te vejo,
Descendo das estrelas num lampejo,
Alucinado eu perco o meu juízo.
Se a vida pode ser maravilhosa,
No amor que a gente, uma alma posa
Pensando desde já no paraíso...
4
Arregaçando as mangas pra batalha
Que sabemos feroz em mansidão,
Na mão que te estendendo já agasalha
A força bem mais forte da união.
Um canto mais sublime que se espalha
Tramando para o mundo, a solução,
Não deixo que isso seja fogo em palha,
Partimos para a luta com paixão.
Um sonho que se faz mais necessário,
Um hino, como um brado se revela,
Que jamais se permita ser sectário.
Um pensamento duro e temerário
Destruindo esta fruta doce e bela,
Do amor tão profundo e solidário...
5
Arrisco algum palpite, vou à luta
E mesmo que não venha, não desisto,
Querida, eu não estou aqui pra Cristo,
Porém jamais fugi de uma disputa.
Enquanto a minha voz ninguém escuta,
Eu cismo de teimoso, inda resisto,
Se o Monte da esperança agora avisto
Na Páscoa dos meus sonhos, sou labuta.
Quem sabe possa ter um bom final?
Capítulos que assisto, outra novela,
Embora pouca coisa se revela
Não vejo calmaria ou temporal.
Pegando este cometa pela cauda
Apenas solidão amor desfralda...
6
Arrisco ser arisco e risco um traço
Façanha sem vergonhas ou pudores.
A moça se entregando num abraço
Promete doações de bons licores.
Depois é só deitar em teu cansaço
Sem medo sem vergonha e sem temores.
Orgasmos recolhidos quase em maço
Fecundam cada noite em mil alvores.
Finesse, pra que tanto se não vejo
Além do cometido num desejo
Fazendo o que se quer e de veneta.
A boca da morena faz biquinho
Meus lábios vão descendo de mansinho
Até chegar, enfim, na bela greta...
7
Arrisco uma braçada neste mar
Amar demais se torna uma obsessão
Cruzando um oceano quero estar
Ao lado dessa imensa sensação.
Casar amor com tanta rebeldia
Que a cada dia mostra sua face
Não deixo de viver esta alegria
Não cabe novo medo que te embace...
Se manás me ofereces, nunca nego,
Se trago nas semanas, meses, anos.
Saudades deste amor; tanto carrego,
Que não conheço mais os abandonos...
Sou carta tão marcada neste jogo,
Amores que incendeiam, brasa e fogo!
8
Arvoras a ser deus querido amigo,
Não sabes da potência deste canto.
Não vives puramente por perigo
Não tramas da esperança seu encanto...
Não sabes entender esta explosão
De cores e de formas mais sutis,
Que chamam simplesmente de paixão,
Que mata e que me faz triste e feliz...
Emprestas tal desejo ao nada sabes
Não cabes nem no gosto e nem no gozo.
Amigo, eu já te peço, não acabes,
Nas ruas como fosse um andrajoso...
Amor, se tu resistes; nada sobra,
Da forma que te dá, também te cobra...
9
As águas cristalinas deste rio
Descendo em cachoeiras, em cascatas,
Vertendo o coração que fora frio
Em múltiplas cantigas, novas matas,
Eu quero te encontrar, viver estio;
Na lua que nos toca, luzes, pratas...
Nos sons que nos embalam, alma e canto,
Nos tons tão verdejantes da esperança,
Nos dons que nos fizeram amar tanto,
Nos passos de mãos dadas, uma aliança,
Uma alegria intensa, teu encanto,
A vida do teu lado, calma, avança...
Tu és minha menina tão querida,
Meu verso nos teus braços ganha vida...
10
As águas desabando sobre nós
Promessas de colheitas, boa aragem.
O ressurgir da vida em novos pós
Moldando este caminho, uma viagem
Que preconiza um mundo logo após
Formado por amor. Talvez miragem,
Mas sinto ser possível que estes nós
Que atamos com carinho em cada margem
Do rio que nos leva à redenção
Frutificando sempre em paz e glória
Reverta todo o rumo desta história
E mostre no final a salvação.
Assim com a vontade com que cevas
A noite num luar, longe das trevas...
11
As águas deste rio vão ao mar
E voltam feitas chuva novamente,
Regando o ribeirão que faltamente
Ao mar irá num átimo chegar.
Refaço cada passo devagar,
Vagando pelo espaço que pressente
O fim de minha história. Se demente,
Invento com certeza outro pomar...
Afásico se trágico, me entrego,
Ao tétrico poema que não fiz.
Um lúdico idiota, um aprendiz
Não sabe ter sequer querência, apego.
E quase que capoto no barreiro
Que a chuva traz por mote corriqueiro...
12
As águas destes rios, transparentes,
São gotas de cristal ao sol feroz..
Nas mansas corredeiras, nas correntes
Que levam calmamente para a foz.
Amada, nos teus olhos, mesmo brilho
Do rio que se entrega ao quente sol.
Amor que tanto tenho segue o trilho
Dos teus olhos, sou qual um girassol...
Nas águas, nas salivas, nos teus beijos
Mergulho tantos sonhos, tanta luz...
Envolto nas delícias dos desejos,
Amor de tanto amor que reproduz
O brilho das estrelas, lua e rio...
De noite se explodindo em louco cio...
13
As águas escorrendo, beijam margens
E levam sem cessar, fertilidade.
Dos sonhos convertidos em miragens
De plácidas lagoas. Na verdade
Ao percorrer contigo, mil viagens
Enfim eu encontrei felicidade.
Sentindo, do Nordeste nas aragens
A brisa deste amor, sinceridade...
Tesouro incalculável sempre tem
Quem sabe da alegria que se deve
Ao fato de estar junto com alguém
O tempo vai passando bem mais leve.
Eu quero o teu amor, querido bem,
Pois sei o quanto a vida se faz breve...
14
As águas inundando estas canoas...
Em plásticos remendos, alagados,
O quanto que tu pecas não perdoas
Usando de má-fé com afogados.
No fogo que se espalha nos cinemas,
As mãos feitas em imãs buscam seios.
Decerto ao procurarem as algemas
Não guardam sem noção calam receios.
Depois de certo tempo, anel e festa
Em juras sem tortura ou agonia.
Por noves meses ganha cada gesta
Repete desde então tal melodia.
Nascendo do nascido outro rebento,
Já se condena à paz feita em tormento..
15
As águas mansas dizem do degelo,
Trazendo a primavera ao coração.
O encanto deste sonho que revelo
Permite que se entenda uma ilusão.
Por vezes não consigo descrevê-lo,
Mas sinto no meu peito a floração
E a placidez do amor que em tanto zelo
Entranha em meus sentidos, mansidão.
Vislumbro no horizonte a cordilheira
Que iremos, com certeza, superar,
Sabendo que o inverno vai chegar
Atravessando o lago manso e terno
Minha alma se entregando alvissareira
Não teme mais nem frio nem inverno...
16
As águas que desceram para o mar,
Lambendo ambas as margens deste rio.
Num sonho transbordante de tocar
As pedras, cachoeiras, fontes... Cio
Nas barrancas... As águas vão chegar
Tomando neste encontro-desafio
A gravidez que faz assorear
Fazendo do seu leito quase um fio.
Depois desta descida, no cansaço
Entrega-se ao mar em larga foz
Num derradeiro canto, num abraço...
Misturam-se distintas fantasias
De lutas, de prazer e gozo atroz
Num regozijo que explode em alegrias...
17
As águias dos amores desfalecem,
Nas asas das falenas delicadas.
Os olhos dos meus sonhos já padecem
De amaurose cruel. As tolas fadas
Esquecidas num canto nada tecem,
Persistindo desejam ser amadas,
Mas as noites vazias escurecem
Não lhes restam sequer as madrugadas...
Nostalgias e cantos . Quem em dera!
A verdade entorpece quem amou.
Este inverno impedindo a primavera,
Mansa aurora essa vida me negou.
No meu peito mordisca dura fera
Apenas amizade o que restou...
18
As águias espalhando a negação
Expandem suas asas, cortam fundo.
Deixando para trás a redenção,
Matando toda a vida num segundo.
O quanto que se fez revelação
Permite que o amor invada o mundo
E faça deste eterno pesadelo
Um sonho tão gostoso de viver.
Pressinto no poder de assim sabê-lo
Que a vida possa dar tanto prazer.
Quem tem amor já sabe que ao contê-lo
Espalha novamente o bem querer.
A deusa deste sonho iluminado,
Agora vem comigo lado a lado.
19
As alegrias tornam-se obsoletas,
Os tempos se detonam sem critérios...
As marcas dos teus dentes são cometas,
Nas noites que vivemos, sem mistérios...
Noites sem luar, noites vãs são pretas,
Amores se revezam, hemisférios...
Prefiro me aleitar em tuas tetas,
Futuro me destina cemitérios...
Me diga, vou viver esses contrastes?
Não posso permitir carnificina...
Me mordes, me deixaste, somos trastes...
Nascemos derivantes, ser abjeto...
A boca a nos beijar, nos extermina...
Derivamos, diversos, mesmo objeto...
20
As almas gemelares vão atadas
Procuram pelas fontes mais profanas
Nas loucas heresias, madrugadas,
Aguardam tresloucadas, mais sacanas...
Rolando a mesma cama, sem temor,
Vivendo cada toque com prazer,
Porejam as delícias de um amor
Que sabe tanto dar e receber...
Na claridão das luas que se encontram
As nuas maciezes já se tocam,
Depois de desatadas desencontram
Em tantas alegrias se retocam
E voltam destemidas à batalha
Amor com fanatismo já se espalha...
21
As almas se procuram e se tocam,
Enroscam-se desejos, coxas, pernas,
As horas que passamos; calmas, ternas,
Rios que noutros rios desembocam.
As doces fantasias se deslocam
E buscam soluções reais e eternas,
Vagando noite afora, com lanternas
Que o gozo prometido tanto focam
Sagacidade expressa no delírio,
O corpo ali desnudo é um colírio
E o tempo vai passando devagar.
Pudesse congelá-lo e então teria
Perpetuado o fogo em ardentia
Que extasiado sinto nos queimar...
22
As ânsias de viver eternamente,
Nas danças e promessas mais felizes,
Sabendo que te amei tão docemente,
A vida se esqueceu das cicatrizes.
Eu quero em cada canto maciez,
Encantos de perfumes e de flores.
Amando vou perdendo a lucidez
Mergulho sem temer sequer as dores.
Nas ânsias deste amor tão infinito,
Eu vejo meu retrato refletido
No rosto do desejo que acredito,
No tempo de viver sem ser sofrido.
Eu quero as concessões do nosso amor,
Que invade, sem temer, por onde for...
23
As ânsias e os desejos dominando,
Tomando os meus sentidos, nada deixam
Senão as alegrias que não queixam
Nem sabem nem procuram desde quando
Recebo os teus prazeres que tocando
Invadem meu sorriso e não desleixam,
Os sonhos mais airosos se desfecham
Em gozos, maravilhas, flutuando.
Percebo na nudez que tu desfilas
As honras procuradas em loucuras
Da mesma forma o fogo em que destilas
As tuas seduções, beleza e chama,
Embalde ainda perceba as amarguras
A vida nos teus braços, bela trama...
24
As asas da barata batem fundo
Nos trâmites da tal burocracia
Enquanto inoperância já vicia
Meu coração deveras vagabundo.
Não perco nesta fila um só segundo,
Voando pelo espaço, fantasia.
Vestido de palhaço, alegoria
Em forma de sorriso, eu me aprofundo.
Não quero amar sem ter sequer um ócio.
Nem bossas de boçal, nem arremedos.
Vivendo a certidão destes segredos
Marcando em meu pescoço, um grosso bócio
Vencer nem que recorra ao tapetão
Colhendo os resultados da paixão...
25
As asas deste amor sacro, imortal;
Em busca de momentos flamejantes
Domando o sentimento sensual
Promessas resolvidas por instantes
Não deixe que esta angústia tão venal
Impeça que ressurjam deslumbrantes
Os brilhos desta aurora matinal
Deixando para trás os delirantes
Temores entre farsas e mentiras.
No canto que mais longe já desfiras
Louvando com magia uma amizade
Alçando os espetáculos mais perfeitos,
Navegue pelos mares, singre os leitos
Dos rios que transitam liberdade...
26
As asas deste sonho, amor não corte.
Por mais que o tempo chegue e triste roa
Não deixe que este sonho morra à toa.
Meu canto necessita ser mais forte.
Embora sem temor sequer da morte,
Prefiro a placidez de uma lagoa.
Não basta que emoção já nos conforte
Preciso deste sonho que ressoa
Trazendo para mim, felicidade,
Que fora a companheira procurada,
Amada não destrua esta amizade
Depois que o amor passar, não sobra nada
Senão o que mais vale, na verdade,
Fazendo nossa senda iluminada...
27
As asas libertárias do meu sonho
Invadem infinitos, solto a voz.
E quando a vida mostra ser atroz
Um novo alvorecer; sinto e componho.
Nos braços da ilusão quando me enfronho,
O pensamento voa mais veloz,
Ganhando um mar imenso como foz,
Nos rios da emoção, enfim me ponho.
Uma ave sem gaiola, arribação,
Voando pelos ares, sem fronteiras.
Alçando no horizonte esta amplidão,
Dos astros mais distantes, mensageiras,
As asas companheiras do poeta
Aonde a fantasia se completa...
28
As asas quando abertas pedem vôos
Em plena liberdade rasgam ar
Permitem nossos sonhos sobrevôos
Por terras tão distantes, céu e mar...
Erros que cometer; Amor; perdôo-os;
Bem sei que amar demais é perdoar.
Baixinho, passarinhos, seus revôos,
Beijando esta gaiola, nosso amar...
Lambendo em tua boca, mil delícias,
Tocando nos teus seios, mansamente.
Vibrando no desejo das carícias
Sentindo esta gaiola alucinante
Que vem como alçapão. Mas de repente,
Amor vai se escapando num rasante...
29
As aves tão distantes desta aurora
Alçando em migração livres espaços
Nos cantos e nas ruas, amor deflora
O rosto adolescente, sexos lassos,
Nos sarros e nas manhas já se aflora
Os dedos que procuram seus pedaços.
Nos carros, nas esquinas, sem ter hora
As roupas vão descendo nos abraços.
Os seios entre dentes e lambidas,
As coxas entreabertas desejosas,
As mãos vão percorrendo desabridas
Os rumos inerentes, sensuais,
Estrelas adormecem caprichosas,
O sol ao renascer quererá mais.
30
As barbas; deixarei logo de molho,
Não quero ter surpresas, te garanto.
Durante a tempestade eu me recolho,
Sucumbo aos teus propósitos. Espanto.
A vida não será olho por olho,
Por mais que me procures, canto a canto,
Trancando o coração com um ferrolho,
Jamais suportarei sequer quebranto
Apenas quero ter tranqüilidade,
Andando sem destino na cidade,
Bebendo em tantos bares que nem sei.
Cervejas e aguardentes, refrigérios,
Derrubas com sarcasmo meus impérios,
Em terra de caolho, eu emigrei...
31
As bênçãos que eu procuro, encontro aqui
Depois de tanta andança pela vida,
Areias tão distantes, mares vi,
A lua dos meus sonhos, já perdida
Estende em seus tapetes, a saudade.
Vagando em versos tantos, vim,
Buscando no jardim, felicidade
Guardando a rosa mansa dentro em mim.
Vestida de cetim, eu sou teu rei
Por tantas aventuras que tivemos,
Descanso o caminhar onde encontrei
O mar em barcos leves, fortes remos.
Eu quero ser teu par por onde eu for,
Meu verso predileto, o nosso amor...
fantasia sobre ANDANÇA
32
As bocas que não beijo, eu beijarei.
Promessas aquecidas pelo vinho...
Não quero nem permito triste lei,
Amar jamais será viver sozinho...
Amarras esquecidas, te encontrei,
No peito de quem ama, já me aninho.
Não minto nem omito o que não sei,
Canto qual solitário passarinho.
O tempo que perdi, jamais retorna.
O vinho que bebi, o copo entorna.
As bocas que beijei podres delícias,
Nas noites encontrei tuas carícias.
Não me negaste nada, mas se cala,
A boca que hoje beijo, nada fala...
33
As bocas, duas mágicas mocambas.
Sem eira seguem beiras descem rios,
O quanto se procuram; querem ambas
Beberem destas águas em rocios.
Nos cios, ócios, vícios, recomeçam
Na caça que não cansa mansa fera.
Às vezes as palavras se tropeçam
Das línguas todo o gozo já se espera.
Silêncio vale mais que mil palavras,
Porém nesta linguagem se confundem
Cevando com vontade mesmas lavras
Serpentes mal se tocam numa fundem.
No jogo, esconde-esconde sensual,
Palavreado usado, universal...
34
As bombas explodindo aos borbotões,
Reféns da estupidez, meninos mortos,
Caminhos desvalidos, loucos, tortos
Futuros que se perdem, erupções
Devastando. Miséria em plantações
O nada se aproxima em frágeis portos,
Mulheres trucidadas, mil abortos;
Do sangue que se escoa, podridões...
Refaz-se numa flor uma esperança
Criada sobre o podre de uma guerra.
Tão bela e maviosa, uma criança
Se faz da podridão, adversidade...
Por que será preciso que esta terra
Ensangüentada adube a liberdade?
35
As brumas do caminho já se foram,
Minha alma não se esfuma em sofrimento.
Nem mais tantas saudades já me agouram,
A vida se refaz neste momento.
Alagado pela alegria deste amor,
Eu bebo, a cada dia, uma esperança.
Seguindo cada passo, sem temor,
Tão terno meu olhar sempre te alcança.
Todos os maus presságios se calaram
Não ouço nem sequer mais os oráculos.
Aos poucos teus carinhos me domaram,
Invadem a minha alma, são tentáculos...
Eu quero erguer-te a taça da emoção,
Num brinde que proponho ao coração!
36
As brumas nos tomando os sentimentos
Fazendo da esperança algo distante.
As tempestades surgem por momentos
Nublando o nosso céu mais radiante
Porém quando, enfim cessam os tormentos
Uma esperança surge num rompante...
Ouvindo o belo som de violinos
Em meio à sinfonias divinais,
Ressurgem velhos sonhos de meninos
Dos tempos mais antigos, ancestrais
Mostrando novos rumos nos destinos
Com formas e contornos magistrais.
Assim como promessa em esplendor,
A vida renasceu em nosso amor...
37
As cartas que mandaste para mim,
Guardadas na gaveta da memória.
São flores que cultivo em meu jardim.
Trazendo tanto lume em minha história...
Nossas fotografias, amareladas,
Lembranças desse tempo mais feliz.
Cadeiras debruçadas nas calçadas.
Conversa que se vai e que se diz...
Tantas saudades carrego em minha alma.
Desse tempo esquecido, do passado.
O vento da lembrança já me acalma.
Vivendo do seu lado, ser amado...
Amores que vivemos, fino trato...
Em teu amor por certo, me retrato...
38
As cartas sobre a mesa. Jogo feito.
Despisto os meus fantasmas neste absinto
Enquanto o gran finale não pressinto,
O vento soçobrando, abala o peito.
Um tempo mais feliz ainda espreito,
Embora em vagas cores já me tinto,
Mesmo que saiba o verso agora extinto
Na fonte dos desejos me deleito.
Um inerente espectro que o poeta
Afaga como imagem predileta,
A válvula de escape, fantasia...
A parte que me cabe se esvaindo,
Enquanto vejo a lua ressurgindo
Negando este improvável claro dia...
39
As cinzas apagadas, quero o fogo!
Nas chamas destes braços, meus confeitos
Te peço, te repeço, tanto rogo!
Amores que plantei, eram perfeitos...
Nas sendas dos meus sonhos, teu olhar...
No mundo que encontrei, és um vulcão!
Por tantos universos, vou te amar!
Explodes em delírios, coração.
Na brasa que trouxeste, meu desejo.
Quimeras esquecidas, não as tenho...
Embora tantas vezes feche o cenho.
Na noite que rolamos, prazerosos,
Sentidos e carícias, relampejo.
Bárbaro, o nosso amor que é feito em gozos...
40
As cinzas que emanavam dos meus dias,
Criando tempestades sem descanso.
As rondas que traziam fantasias
Meu rio procurando o seu remanso...
Nas farpas que me deste, ventanias
Os píncaros sublimes não alcanço.
Não quero mais Renatas nem Marias...
Apenas restos sobram, então danço!
As minhas diamantinas alvoradas
Mentiram semelhanças e defeitos.
Carruagens divinas são levadas
Pelos corcéis velozes... Seus feitos
Espelharam nas lendas reis e fadas...
Amores pareciam ser perfeitos...
41
As coisas que inda trago desta terra
Coladas como grude no sapato,
O amor que não conheço e que retrato
Na boca do vazio que me encerra.
Mal pude conhecer a paz, e a guerra
Recomeçando às custas deste fato,
Enquanto a juventude esmago e mato
Rosa dos ventos tola, já se emperra.
Cabrito quando berra afasta o lobo,
Não sou jamais magnânimo, ser probo
É tudo o que disfarce minha gana.
As garças poluídas, óleo e piche,
Futuro se pintando em azeviche,
Nas rédeas poderosas, sexo e grana!
42
As cores deste céu que sempre quis
Formando este mosaico mais fantástico
Soprando nos meus olhos sacro giz
Um sonho que me entorna, assim bombástico
Mergulho neste mar que outrora estático
Agora é feito em brilho, intensa luz,
Vivendo este porvir tão enigmático
Ao eldorado vivo me conduz.
Saltando o muro imenso dos problemas
Alçando em ilusão tal patamar,
Diviso neste amor, divinos lemas
Que fazem da alegria o meu pomar,
Não temo nem pretendo que tu temas,
Pois temos já conosco o santo amar...
43
As cores do desejo
Caleidoscopiamente
Reluzem qual lampejo
Tomando a minha mente,
Em teu corpo tracejo
Um verso mais contente
Que é feito da vontade
De ter o teu prazer
Em tal felicidade
Eu quero me perder,
Mostrando na verdade,
O nosso bem querer...
Amar em plena glória,
Certeza de vitória....
44
As cores verdadeiras já traduzem
Diversas sensações que nos afloram.
Origem, com certeza destas luzes
Que em sempre transitam, não demoram.
Num prismático sonho me conduzes
Aos arco-íris fantásticos que moram
Nos sonhos de quem leva suas cruzes
Sabendo que mil flores as adornam
Guardando seus perfumes no bornal,
Mostrando uma esperança, em esmeraldas,
Tu tens uma alegria que desfraldas
E trama noite e dia, em bom astral,
Com risos delicados e gentis,
Um mundo mais brilhante, enfim, feliz...
45
As crianças dormidas como o pão
Jogados pelo esgoto da cidade,
Bebendo da tortura em podridão,
Vasculham cada resto da amizade
Que brote de algum louco coração
Distante deste mundo, da verdade.
Mistura de temor e compaixão,
Negando para outrem saciedade.
A sociedade passa e fecha o cenho,
Vergonhas espalhadas pelas ruas.
No fundo até demonstra algum empenho
Matando ou destruindo esta paisagem.
Escondam suas almas, que estão nuas
Diante deste quadro sem bandagem
46
As danças que não danço dançarei
Amores que perdi não mais esqueço.
Nas festas que promessas fui um rei,
Os beijos que te dei, nem os mereço!
Vestidos transparentes que sonhei,
Mentiras tempestades meu tropeço.
Nas camas as esperas que terei,
Não somos simplesmente um adereço...
As fantasias tolas que vestimos,
Amores que se mudam, velhos limos,
Não faço apologia da saudade,
Meus versos são pedaços de promessa.
Amor que sempre esconde não começa,
Na porta descrevi felicidade...
47
As delicadas folhas da esperança,
Revoam sobre rudes pensamentos.
Qual fossem resquícios da criança
A nos acompanhar, tantos momentos...
A fímbria de minha alma já se avança!
Os torpes vendavais, veros tormentos...
Os rumos desprendidos da lembrança
Me levam a ferozes sentimentos...
Aspérrimos declives de minha alma,
Mergulho precipícios do desejo.
Nem versos, nem carinhos, nada acalma...
Tropeço meus delírios nestas nuvens...
Artífice, emolduro pobres bens
A solidão, enfim, trará teu beijo...
48
As dores contemplaram-me sorrindo
Tão logo tu partiste amada minha,
A morte que solene se avizinha
Aos poucos vem chegando e decidindo
O rumo que não quero perceber,
Na batalha que travo todo dia,
Lutando por amor e fantasia
Buscando, sem descanso, o meu prazer.
Hedônica vontade de seguir
Alçando cada passo nos carinhos,
Traçando com desejo os meus caminhos
Aonde inda pretendo descobrir
Amor que sei deveras benfazejo,
No novo amanhecer que assim, prevejo....
49
As dores da saudade já pressinto
Valentes sentimentos não suportam
Enquanto as esperanças sempre cortam
Em cores tão diversas quero e pinto.
Alheio ao que se fala pelas ruas,
Dos bares já não tenho mais notícia.
Usando meu carinho com malícia
Eu teimo em ver as deusas semi-nuas.
Pecado é nunca ter porque sonhar,
Sereia se despede do meu mar
E morre quando pisa na alva areia.
Repito o velho mote adormecido
No colo do passado e não duvido
Que a lua se vier, agora é cheia...
50
As dores me entranhando são vorazes
Inoculando, amargas, as peçonhas.
Cortantes, vigorosas, tais tenazes,
Traçando minhas noites tão medonhas.
Algozes dos meus sonhos, bem mordazes,
Garatujas irônicas, risonhas.
Por mais que seja um rígido rochedo,
Meu peito se demonstra destroçado.
No gosto de teus lábios acre, azedo,
Resumo de um destino malfadado.
Em hediondos ritos, os enredos;
Se perdem neste céu negro, nublado...
A sorte abandonada num cassino,
Derrotas que acumulo. Meu destino...
51
As dores que carrego, são imensas
Trazendo a cada passo as casamatas
Que trago dentro em mim de priscas datas
Matando pouco a pouco minhas crenças.
Outrora me perdi nas serenatas
Que tinham nos sorrisos, recompensas,
As nuvens de meus sonhos vão suspensas
E morrem noutros rios, em cascatas.
Erguendo nos teus olhos, catedrais,
Refletem a magia dos vitrais
Dos templos da ilusão que assim perdi.
A vida que divide amor em castas,
Ao mesmo tempo sinto que te afastas
Deixando este vazio enorme, aqui...
52
As dores que formaram nebulosas
Nos sonhos imprecisos deste amor,
Agora se permitem novas rosas
Tão orgulhosas sabem como a flor
Perfuma um desejo tão sutil
De ter-me novamente redimido
De todo este meu mal, amor gentil
Faz-me da morte estar, ser renascido.
A força que me atrai também revela
Que posso ser feliz, talvez um dia,
Pintando um novo amor em nova tela
Nesta aquarela santa da alegria.
A solidão recolhe suas garras,
Rebento, com o amor, estas amarras!
53
As dores que insensatas já perduram
Crivadas pelos olhos feitos ódios,
São frutos que em tristezas se maturam
Distantes da alegria dada em pódios...
Nos óleos em que curas se perfilam,
O gesto do perdão vai se alongando
Venenos com certeza não destilam
Aqueles que recebem amor, quando
A dor ao invadir a casa aberta,
Recebendo no amor, contrapartida,
Deixando a solidão, erma e deserta,
Vagando ao derredor, não vê saída.
Por isso é que a tristeza vaga avulsa,
Ao receber do amor firme repulsa...
54
As dores que me tocam, seculares;
Por vezes me maltratam e desprezam
Nas costas, toneladas que já pesam
Depreciando sempre meus altares.
Às vezes esquecido em ledos bares,
Botecos da saudade onde não rezam
Aqueles companheiros que me prezam,
Bem poucos, pois se tanto, restam pares.
Malgrado em cada riso eu reconheço
O gargalhar insano e quase louco,
Promessa de outro porre e de um tropeço.
Em párias madrugadas, a verdade
Do que restou assim, deveras pouco,
Apenas nas carcaças, a amizade...
55
As dores vêm chegando, bando a bando,
Mas vejo no cortiço uma mansão
Vivendo o quanto quero desde quando
O tempo se mostrou em viração.
Carrego no meu peito o verso leve
Que molde num momento a liberdade.
A vida nos teus braços já se atreve
E ronda o tempo inteiro claridade.
Estúpida tristeza não mais quer
Saber do peito aberto que poreja
O gosto delicado da mulher,
Decerto o que se quer e se deseja.
As dores vêm chegando? Pobre delas...
Os barcos vão abrindo novas velas...
56
As emoções do amor, sonhos de glória
Povoem tua vida, companheira,
Mudando todo o rumo desta história,
Na sorte – ser feliz- que venha inteira
No dia em que completas mais um ano,
Eu quero que tu saibas que te adoro.
Distante da tristeza e desengano,
O teu aniversário, eu comemoro.
E trago o meu olhar mais radiante,
Por ter tua amizade tão sincera.
Que a vida te sorria doravante,
No eterno florescer da primavera.
Feliz aniversário minha amiga,
Que a luz que te guiou, sempre prossiga.
57
As emoções florescem no meu peito
E fazem de teus olhos, farol, guia
Em cada beijo teu, santa euforia,
Deixando o meu caminho satisfeito.
Outrora em dura vida, contrafeito,
Refém do sofrimento e da agonia,
Somente o vento triste que eu ouvia,
Servindo de mortalha no meu leito...
Agora que conheço o teu carinho,
Suaves lábios teus, meu porto e cais,
Não sigo mais vazio e nem sozinho,
Pois sei que tenho amor que satisfaz,
Chegando devagar, bem de mansinho,
Fazendo eu te adorar, amar demais...
58
As esparsas sentinelas
Não cuidavam da senzala
Escapavas nas jinelas
Saltavas espessa vala
Cortavas nas fivelas
Essa dor nunca me embala
Uma orada mil capelas
Suspendem meu sono e fala!
As sentinelas não viram
As horas que passei lá;
Velhos fuzis não atiram,
A morte nunca dirá
Tal ermo foi conquistado
O meu mar foi navegado!
59
As espumas do mar lambendo os pés
Nas ondas nas estrelas branca areia...
A vida que me deu barco e convés
Agora vem me dar bela sereia...
Amor sou tão feliz por que te quero,
Nas águas mais salgadas deste mar.
No ronco destas ondas, tanto espero
O canto da sereia... Quero amar!!!
Porém, nesta ternura algo assusta,
Amor, amar o mar maré e a praia,
Alegria demais, quanto me custa?
Talvez a solidão faça tocaia
E leve meu amor como me trouxe,
Matando essa ilusão em água doce...
60
As estrelas por tiaras
Nos cabelos da morena
As noites todas, tão claras,
Felicidade me acena...
Pressinto todo prazer
Que virá, noite primeira,
Aos poucos te conhecer
E te conceber inteira.
Beleza, morena rara,
Raro amor que quero em ti
Na vida que se prepara
Teu brilho tão belo vi.
Me enredar nos teus novelos,
Qual tiara nos cabelos...
61
As existências todas repartidas
Nas residências mortas em batalha,
Nessas crianças quietas desvalidas,
Nos gumes mais cortantes, na navalha.
Nas ilusões sem par e combalidas
Na forca que nos toca enquanto atalha.
Na velhice do jovem, do skinhead,
Na mentira do sonho de futuro
Além do que se ganha e que se perde,
O nada está guardado atrás do muro.
Meu filho, que outro filho não mais herde
O dia que se escorre e vai escuro...
Ao nada que voltamos, na verdade,
Só resta uma esperança, uma amizade...
62
Às expensas da verdade
Eu cantei com voz mais forte
O poder desta amizade
Que só trouxe muita sorte
E também felicidade
Cicatriza um fundo corte
E na solidariedade
Transformando todo o norte
De quem fora assim sozinho,
Meu querido e bom amigo,
Não permita que o caminho
Leve ao triste desabrigo.
Saiba, neste canto alinho
E o meu passo vai contigo...
63
Às expensas do corpo morto em vida
Decerto beberão gota após gota.
Estou depois de tudo, de saída
O tempo de viver enfim se esgota.
A sorte há tanto tempo decidida
Deixando uma esperança já remota,
Exponho com sarcasmo esta ferida
Lambida pela fera mais escrota.
Farrapos que desfilo pelas ruas
Na garatuja o riso em gargalhada;
Enquanto me cuspindo continuas
Sorrio do meu jeito mais gentil,
Usando a frase feita e decorada
Já mando para a puta que pariu!
64
As farpas que trocamos no passado
Não tão distante mostram quantas vezes
A vida se transforma em mil reveses
E muda sem saber de rumo e lado.
Quem dera se eu pudesse de bom grado
Fingir que jamais fomos simples reses
Atadas por enganos tão burgueses
Correndo atrás da sorte, velho gado.
Do velho socialista nada resta
Senão alguma luz que invade a fresta
E mostra este fantasma que hoje sou.
Um dia em tua boca eu mergulhei,
No beijo mais gostoso que troquei
Daí o velho trem descarrilou...
65
As fascinantes noites tentadoras
Produzem emoções tão fabulosas,
As coxas que se tocam redentoras,
Jardins que se procuram querem rosas.
As nossas carnes trazem tal perfume
Que vão embriagando em cada toque.
Vencida a tempestade do ciúme
Procuro em tuas formas meu enfoque.
Desejo destas doces, mornas fontes,
Neste mormaço intenso que me queima,
Observo neste sol meus horizontes
Na cama, me ofereces guloseima
Que quero desfrutar cada pedaço,
Sem me importar sequer com o cansaço...
66
Às favas já mandei a solidão,
Estúpida quimera, tola algoz,
Ouvindo da emoção a mansa voz
Encontro finalmente solução
E sigo sem temer constipação
Sequer uma águia imensa e mais veloz,
Os dentes que quebrando qualquer noz
Permitem delicada refeição.
Das tripas, coração, se for preciso,
Perdendo nos teus braços, meu juízo,
Invernos esquecidos na gaveta.
Olhando de soslaio vejo a fruta,
Já posso adivinhar úmida gruta
Mesmo que o verso saia assim, cambeta...
67
As fibras do meu peito espedaçadas
Por amor tão intenso que sagrei
Àquela doidivanas que encontrei
Andando assim sozinha nas calçadas.
Palavras sem sentido, maltratadas,
Em versos de loucura, eu dediquei,
Agora, mais distante, eu encontrei
Verdades nunca ditas, disfarçadas
Em todos os sorrisos que fingiste,
Deixando o coração deveras triste
Mas mesmo assim eu digo: vale à pena.
Amor nunca é demais, mesmo que venha
Em brasa que não queima, verde lenha
Uma esperança nova que se acena...
68
As flóreas sensações primaveris
Num multicolorido alvorecer
Deixando o coração bem mais feliz,
No amor em plenitude me faz crer.
Do inverno, o céu escuro, triste e gris
Um fascinante brilho passo a ver
E nele esta beleza que me diz
Da glória abençoada de viver.
Assim, também na vida, a primavera
Promete um novo tempo, uma florada.
Minha alma tanta vez amargurada,
Depois do que sofreu em fria espera,
Viceja em esperanças como a flor
Que entrega-se ao sublime beija-flor...
69
As flores da alegria semeadas
Em versos e desejos bem regados.
Prometem novas luzes, alvoradas,
De dias mais felizes, mais amados...
As mãos quando se tocam, união,
Tornando o nosso canto mais audaz,
Matando num segundo a solidão
Mostrando o quanto o amor se faz capaz.
Contigo ,minha amada companheira,
Certeza de um sorriso em cada esquina,
Da fonte do desejo, paz certeira,
Do jardim que esperança descortina
Amor quando se entorna em amizade,
Já faz polinizar felicidade...
70
As flores da esperança vão se abrindo
Espalhando este aroma benfazejo,
O quanto ser feliz ora prevejo
De cores mais suaves, céu tingindo.
As vozes do passado se perdendo
Em meio ao forte brado da esperança,
O coração sofrido enfim se amansa
Canteiros da alegria percorrendo.
Um passageiro amargo da ilusão,
Afasta com bravura a solidão
E invade a fonte clara do prazer.
Em ti a floração se mostra plena
Razão da minha vida mais serena
Jamais eu poderia te esquecer.
71
As flores de uma eterna primavera
Os frutos da amizade e do carinho.
Granando uma esperança; morta a fera
Libertam-se meus sonhos passarinhos...
Saber de cada corte. Quem me dera...
Não ser mais caminheiro tão sozinho.
O canto em liberdade, o que se espera;
Em toda a solidão há um caminho
Que traz esta sublime fantasia
De um dia, sermos todos como irmãos.
A terra cultivada em sintonia
Sem fome, sede; Justa, harmonizada,
Não deixe que estes sonhos sejam vãos,
A sorte em nossas mãos, está lançada...
72
As flores delicadas da luxúria
Nascidas no canteiro do desejo,
Num rito de loucura mais espúria
Despetalando em cada novo beijo.
Não quero em teu prazer, uma surdina,
Eu quero que tu grites sem vergonha,
Mostrando tão voraz quanto alucina
Mordendo o travesseiro, rasga a fronha...
Porejem os suores mais brilhosos
Como gotas de orvalho nesta flor,
Aberta aos raios quentes, vaporosos,
Entregue a tais mormaços deste amor.
Neste jardim divino, no canteiro,
Só quero ser, querida, o jardineiro!
73
As flores do jardim de nossa casa
Em plena primavera, tantas cores!
Calor dum sentimento que me abrasa,
Trazendo mais perfume para as flores;
O vento, calmamente, tanto apraza
Vestindo de esperanças minha dores.
Fogueira das paixões ardendo em brasa
Volúpias que me trazem meus amores...
Tenho culpa se quero ser feliz?
Em todas estas flores do jardim,
Algumas com raríssimo matiz.
São lumes duma tão pobre existência
Que teima feramente estar em mim.
Entre todas as flores, bela Hortênsia!
74
As flores do jardim já se murcharam
Não pude desfrutar qualquer perfume,
O amor que eu concebera, de costume,
Palavras sem sentido, deturparam.
Os laços que nos unem desamparam
Apagam no caminho fogo e lume.
Apenas posso ouvir o teu queixume,
Distantes, nossos sonhos se tocaram...
E pude perceber o quanto é vago
O mundo em desespero que hoje trago
Fazendo do silêncio um estribilho.
Querendo em desespero algum afago,
Debulho da tristeza cada bago,
O amor jamais será um empecilho...
75
Ás flores eu pergunto pelas novas
Que trazem para mim de ti querida.
Nos dias que se passam e renovas
As forças que me trazes para a vida.
Procuro em poesia, versos, trovas,
Não vejo, labirinto, outra saída.
Mas ouço por resposta alentadora,
Que estás a são e salvo, minha amiga.
Notícia que por certo é redentora
Para quem tanta dor, no peito, abriga.
A sorte benfazeja e condutora
Permite que o caminho, enfim prossiga.
Às flores, agradeço tais carícias
Contida em boas novas nas notícias...
76
As flores palpitando no jardim,
Asquerosas manhãs que assim vieram,
Rondando tempestades dentro em mim
Nas mãos que não me tocam, degeneram.
Vestindo a podridão que me deixaste,
Meus ásperos caminhos não têm volta.
Apenas conhecendo mais desgaste
O vento que acarinha se revolta
Mordazes gargalhadas; traz o vento,
Jocosas partituras musicais.
Arranjos de cantigas em lamento
Distâncias e tormentas magistrais.
Lembranças de teu corpo e a ansiedade
As flores vão murchando com saudade.
77
As flores que mataste sem pudores,
Abandonadas, restos num jardim,
Não permitem perfumes e nem cores,
Mas nada representam mais em mim...
De todos os caminhos e louvores
Refeitos em desejos, sendo assim,
Singelos e perfeitos esplendores
Unidos noutro lábio carmesim...
Mas tudo o que ensinaste, de bom tom.
Amor não se permite sonhos mansos.
O mundo se transmuda e mostra o dom
Duma amizade plena em novo dia
Uma certeza imensa de remansos
Mostrando finalmente esta alegria...
78
As flores que plantamos e colhemos
Com toda esta alegria que é sem par.
Amor que nos domina, oferecemos
Num ritual divino a se mostrar.
A cada novo dia que vivemos
Sabemos tantas flores semear,
Sempre mais neste amor nos envolvemos
Os frutos já começam madurar.
Entornam nas cantigas, melodias,
O bom da vida é sempre ser feliz.
Assim passamos todos nossos dias
Querendo nesse amor boa guarida,
Tu és o que sonhei e sempre quis,
O bem mais importante desta vida...
79
As flores traduzindo a nossa vida
Trazendo as mais diversas compleições
Espelham dissabores e paixões,
Encontro disfarçando-se em partida.
Na porta de chegada, eis a saída,
A chuva se anuncia em mil trovões
Problemas prenunciam soluções,
Em plena multidão, cruel ermida...
Não chores se ferir-te algum espinho
Não deixe que avinagre um doce vinho,
Matando em nascedouro, intenso lume.
A rosa que maltrata por defesa,
Prepara no final esta surpresa
Que é feita em maravilha, no perfume...
80
As folhas outonais de minha vida
Amarelando os sonhos que inda trago,
Quisera a placidez de um manso lago,
Porém na juventude já perdida
Estendo o meu olhar. Tarde cumprida
Na dura sensação de um falso afago
Da fera que se expõe. O tempo é mago,
Na alquímica loucura, a despedida...
Cinismos entre risos e carícias.
Sarcásticas estrelas, carrosséis...
Nas esquinas e nos bares, nos motéis
Irônicas paixões, tolas, fictícias
E o espelho me falando do abandono,
Agrisalhando o sonho em pleno outono...
81
As frias madrugadas não deixavam
Prever-se um claro sol, uma alvorada.
O quanto que meus olhos procuravam
Depois de certo tempo, o mesmo nada.
Retrato em preto e branco do passado,
Apenas focaliza eterno não.
Às vezes num olhar mal disfarçado
Ainda encontro luz neste porão.
Voando em lusco-fusco, um vaga-lume
Resiste e sobrevive dentro em mim,
E quem sabe por vício do costume
Lutando, solitário até o fim
Eu quero crer no amor, mau ladrilheiro,
Ladrão do diamante verdadeiro...
82
As galés e as cadeias que me tragam
Os restos do que fomos e perdi,
Enquanto os velhos rios, olhos dragam
Bebendo todo o sal que sei em ti
Apenas os temores inda afagam
O amor que imaginei decerto aqui,
As frutas do prazer, sonhos estragam,
E os ventos mais ferozes; concebi.
Viver é ter na força da esperança
A fonte inesgotável que nos lança
Ao mais sublime encanto: perfeição.
Porém depois da festa, este vazio,
E o coração se expondo ao medo, frio,
Olhando inutilmente, pra amplidão...
83
As gargalhadas torpes de um demente
Rondando a minha casa, noite afora.
Vontade de te ter ora premente
Transborda enquanto o medo já se aflora.
A barca dos meus sonhos, tenazmente
Procura algum remanso, mas ancora
Nos braços da tortura que pressente
O fim de uma esperança desde agora.
Aguardo uma resposta que não vem,
Amar e ser feliz? Pura tolice.
A solidão voraz tudo desdisse
E a vida assim sonega um outro alguém.
A porta escancarando o fim me aponta
Enquanto a fantasia morre, tonta...
84
As horas desfilando em minha frente,
Durante a madrugada vou insone.
Quem dera se tocasse o telefone,
Porém só solidão se faz presente.
A chuva desabando sobre o teto,
As lágrimas molhando o meu lençol,
Nuvens impedirão que venha o sol,
Apenas, na manhã, teu desafeto.
Seria muito bom poder sonhar,
Sentir o teu perfume junto a mim.
Não posso suportar a vida assim,
Sem ter sequer o apoio da esperança;
Mergulho no passado, imenso mar
Revolto em vendavais sem ter bonança.
85
As horas disparando, pendulares.
O coração, eterno perdulário,
Guardando como um raro relicário
Momentos entre estrelas, ruas, bares.
Encontro-te por todos os lugares,
O amor é um mal deveras necessário,
Matando pouco a pouco, cada otário,
Mergulhos de luar prateiam mares...
Gravada em minha pele, a tua face,
Por mais que o tempo lépido já passe
Jamais me livrarei de teu retrato.
Gavetas que carrego no meu peito,
Ao mesmo tempo, louco me deleito,
E quebro sem juízo nosso prato...
86
As horas não serão recuperadas,
A vida que se foi não se repete,
Vagando em solidão por madrugadas
Saudade faz do amor simples joguete.
Decerto que jamais eu merecia
Destino, duro algoz, sempre cruel,
Quem sabe... Na verdade a fantasia
Expressa-se em amargo, eterno fel.
No véu das nuvens vejo o teu reflexo,
Insano; eu bebo o riso que perdi,
O meu caminho segue sem ter nexo,
Eu nada sou, distante assim de ti.
O risco de viver, a dor fomenta,
A noite vai sombria e violenta...
87
As horas que se passam não se calam,
Espreitam tempestades, má resposta,
As mãos tão delicadas não embalam
Cortando minha carne talho e posta.
Os olhos que me miram sempre escalam
Mostrando na verdade, quem não gosta,
Verdade nos teus lábios vai exposta
No pobre que estes hálitos exalam.
Jogaste fora a sorte num momento,
O barco naufragaste, sem valia,
Da chama que acendeste, nada ardia,
Procuro te entender, mas não consigo,
Tomando em minha face o duro vento,
Distante de teus olhos, eu prossigo...
88
As horas que vivemos rodopiam
Não param nem que parem mais anseio,
As noites que tivemos já se fiam
Nos gozos deste corpo que incendeio...
Nos brindes que fazemos, meu segredo,
Brincando no teu corpo até morrer,
Embarco neste jogo e vou sem medo,
Embrenho tua mata em teu prazer.
Em tua companhia chama o gesto
E grito peço colo e vou te ver
Em tudo que te peço já me empresto
E deito junto a ti, até morrer...
Não roubo só minutos, com paixão,
Eu quero te tocar toda emoção...
89
As horas se passando sem proveito,
As víboras mordendo um imbecil;
Um verme que ambulando no meu leito,
Vai se mostrando ignaro, o ser tão vil.
Mostrando estupidez, nisto é perfeito,
Não sabe ser tampouco mais gentil...
Os dias se decorrem de outros dias,
Eterno carrossel do meu destino,
Deitando quase perco as fantasias
Mas sigo em meu porvir sendo o menino
Que sempre transbordava em alegrias,
Trazendo uma esperança quase a pino.
De ter amor sincero e mais feliz,
Curando do que fora, cicatriz...
90
As horas se passando tão nefastas
Distantes de quem amo, dor profana.
Cortando minhas costas, quais vergastas,
A morte, sem segredos, não me engana.
Pousando sobre mim, nuvens de insetos,
Provindo dos cadáveres; minha alma,
Devoram em repastos velhos fetos
De uma esperança frágil. Nada acalma.
Sentidos tetanizam quem maltrata,
Em trismos dolorosos, sem ter pena.
Pavor já me invadindo, já desata
Sangria violenta que se acena.
A solidão vagueia, e me desgasto,
Sabendo que serei, o seu repasto...
91
As horas se passando, vou sem norte.
Procuro minhas sombras, nada vejo...
Quem dera se encontrasse a minha morte
Na boca da pantera, escarro e beijo.
Vencido pelas noites de cansaço,
Só tendo a solidão p’ra repartir.
Em plena madrugada, sem abraço,
Eu não consigo nem sequer dormir...
Tristeza vai tomando tudo aos poucos ,
Não deixa nem espaços de esperança.
Os gritos lancinantes saem roucos.
A morte, mesmo lenta, já me alcança...
Também não quero a sorte de saber
Da solidão que segue o meu viver...
92
As horas vão passando em turbilhão
Meus olhos são distantes e dispersos,
Saudade maltratando o coração
Reflete mais intensa nos meus versos.
Inferno e paraíso? Redenção...
Refeito dos momentos mais perversos
Tomando o pensamento chego ao chão
E vago pelos restos meus, imersos...
A noite traz a dor em diademas
Tocando qual adaga o velho peito.
Fugir dos meus temores e problemas
Talvez a solução que precisasse.
Mas olho o teu retrato e, satisfeito
Encontro em teu reflexo, a minha face.
93
As horas vão passando... Sinto algum
Desejo no bater manso do vento.
Às vezes imagino, ser nenhum
Poderia entrar pelo pensamento...
Andando por esquinas sou mais um...
Distante de qualquer dor ou lamento
Eu me embriago em ti. És o meu rum,
Te bebo com ternura e sentimento....
Nunca mais poderia planejar
Outro mar. Preguiçoso coração
Encontrou esse cais e quer ficar.
Pelos teus mares, luas e sertão,
Meu rumo e nexo, o sexo a trafegar;
Te sinto em pensamento, me tocar..
94
As horas, na distância, tão compridas,
Os barcos em tempestas, soçobrados.
Porém se aqui te encontro, nossas vidas
Em modo benfazejo, sobraçados,
Seguimos pelas sendas mais floridas,
Nos corpos que se buscam, imantados.
Secando as tempestades desvalidas
Impregnam em clareza e paz os prados
Nos mares deste amor vou navegando,
E os olhos se procuram, se tocando.
Espalham nevoeiro que malsã
Há tempos ocultara o claro sol,
No amor tão verdadeiro, o meu farol,
Recebo o brilho manso da manhã
95
As hóstias escondidas, nestas matas,
Sanguinolentas marcas entranhadas.
Os olhos derramados em cascatas
Dos pães apodrecidos, mais fornadas.
O riso em tempestade, o gozo fútil
O amor que não se deixa mais flagrar
Arando em terra seca, árida, inútil
Apenas o vazio a encontrar
Deixando o gosto amargo em cada boca
Formando um turbilhão em desespero.
O medo vai tomando cada toca
Na ponta do fuzil, novo tempero.
No quanto pude crer em solução
Vi fogaréus sem dó nem compaixão...
96
As idéias com força de mudança
São luzes que irradiam e que guiam.
Em meio a tantas coisas que surgiam,
Renova-se, no mundo, essa esperança!
Quem traz, dentro do peito, uma aliança
Com tudo que virá sabe que haviam
Aqueles que com novo não se aliam,
E morrem atolados na lembrança.
O mundo se refaz a cada dia,
Nas órbitas, satélites, na fria
Decisão dessas máquinas sem brilho...
Porém, tenha certeza companheiro,
Que tudo se renova, o mundo inteiro,
Somente essas idéias traçam trilho...
97
As juras e perjuras que trocamos,
Na casa pequenina dos meus sonhos,
Momentos delicados e risonhos,
Que agora com carinho relembramos.
De uma árvore, distintos, outros ramos
Os dias se tornaram mais tristonhos,
Noctâmbulos fantasmas que medonhos
Durante vários anos encontramos.
Agora eu te encontrando, posso crer
Que a vida num eterno renascer,
Permite o apascentar da tempestade.
Das juras me recordo, com certeza,
O tempo preparando esta surpresa
De novo traz pra nós felicidade...
98
As juras que fizeste? Diamante
De rara falsidade em tosco brilho.
A senda prometida, fascinante
Nunca passou de apenas pobre trilho.
Por mais que a fantasia se agigante,
Encontra na verdade um empecilho,
Boné não se transforma num turbante,
As lendas que contaste; em vão empilho.
A foto que tiramos, na lixeira
Jogada sobre restos de comida,
Assim eu traduzi a nossa vida
Na medíocre ilusão, planta rasteira
Tomando o meu canteiro, vil, daninha,
Que um dia imaginei, fosse só minha...
99
As lágrimas celestes, gotejando,
Dessas nuvens escuras, tempestades...
Meus lábios em teus lábios, viajando.
A janela trancada, obscuridades...
O tempo resoluto, vai passando,
Os monstros que tivemos, das saudades,
Aos poucos vão morrendo, exterminando...
Das lágrimas do céu, serenidades...
As luzes embotadas, negros olhos...
O canto que decifra meu tormento...
As flores desencantos, colho em molhos.
As noites que vivemos, nebulosas...
Caindo, a chuva inunda o pensamento,
As lágrimas fecundam terra e rosas...
3300
As lágrimas d’outrora são tenazes
E forram todo o peito que te adora.
As dores que me invadem são vorazes
Saudade deste amor, já me devora.
Quem dera nos meus mares tão distantes
Nas praias nas areias, nos desertos...
Amores que se foram inconstantes
Agora no final, morrem despertos...
Mistérios desta vida que me ilude,
Amar nas brisas mansas, roseirais.
Amei bem mais talvez do que não pude
Ao fim de tantas luta, nunca mais...
Quem dera se me desse teu afago,
Teria a mansidão plena de um lago...
3301
As lágrimas de Júpiter alagam
Desertos sem Oásis, oceanos...
Salgando a fantasia, matam planos,
E a morte dos sentidos; vêm e afagam.
Por sádicas palavras que nos dragam,
Dissídios entre vermes quase humanos,
Soturna melodia, sons insanos,
Impedem que esperanças, bens nos tragam.
E as sombras dos meus passos se perdendo,
Navego sobre os restos, que, vulcânicos,
Espalham incontidos, falsos pânicos,
Gerando a tempestade que, vencendo,
Derruba sobre os sonhos, a salina,
Que aos poucos, tal paisagem já domina...
2
As lágrimas perdidas sem sentido
Adiam tão somente o gran finale,
Por mais que o sentimento não se cale,
O tempo que sonhamos, mal vivido.
Tu dizes que em palavras eu te agrido,
Não tendo uma alegria que regale
O que fazer do riso? Penso em Bali,
Talvez ainda seja divertido...
Metáforas à parte bebo o raio
E logo após, tão bêbado já caio
Fazendo da sarjeta cama e leito.
Queimadas que me deste como herança
Mataram qualquer forma de esperança
Criando o descampado no meu peito.
3
As lágrimas procuram pela foz
Depois de conhecerem mil cascatas
As horas solitárias, inexatas
Falando assim da dor que existe em nós.
Não quero a poesia como algoz,
Sequer isolamento destas matas,
Só peço, meu amor, que enfim reatas
Com muito mais firmeza nossos nós.
Silêncio perturbando o nosso sono,
Sentindo com terror este abandono
Jamais conseguiremos ser felizes.
Por isso, companheira; aqui te espero,
O olhar da solidão, terrível fero,
Realça as mais antigas cicatrizes...
4
As lágrimas que descem de teus olhos
Evaporando em nuvens, com certeza,
Aguando as flores, gramas, os abrolhos,
Descendo pelo rio em correnteza
Serão colhidas, rosas, nestes molhos
Nos vasos, salas, quartos, com beleza,
Abrindo e libertando dos ferrolhos
Encantando-nos, postas sobre a mesa.
Das lágrimas às rosas transmudadas,
A vida nos permite ter, de fato,
O sonho feito em gnomos, deuses, fadas,
Por isso não permita que o regato
Se seque, pois assim, nossa emoção
Jamais regalará um coração...
5
As lágrimas refletem, cristalinas,
As dores que transitam pelo peito...
Tristezas, tantas vezes, descortinas;
Como é que posso estar mais satisfeito,
Se nas mágoas te perdes, alucinas...
Não esqueçamos nunca do direito
À tal felicidade. Nas esquinas,
Nas curvas do caminho, dá-se um jeito.
Mas não se perca amiga, a vida segue...
Os dias modificam com a brisa.
Não temas a dor, não mais a negue.
A morte não se apressa nem avisa.
A sorte é fugidia, então a pegue;
D’amores e saudades, se precisa...
6
As lembranças dum tempo feliz, belo;
São os restos, mortalhas que carrego.
Quando a noite, feroz, vem logo nego,
Tentando reformar o meu castelo...
Minhas dores, sangradas num cutelo,
São os mares, distantes, que navego...
Os meus sonhos, mentiras que eu emprego,
Catástrofes, reviro com o rastelo...
Alamedas perdidas no passado,
São vielas, favelas, sina, fado...
Minha alma sifilítica definha...
Arrasto meus tormentos pela rua.
Minha esperança morta, vive nua...
A decadência mórbida s’ aninha...
7
As longas e bonitas cabeleiras,
Que ao vento desfraldadas, mansas, vão.
Fazendo em meu olhar, revolução,
Quais fossem destes sonhos, as bandeiras.
Palavras que me dizes, feiticeiras,
Em tórridas vontades, sedução.
Abrindo transbordando o coração
Não têm mais limites ou fronteiras.
Ao mitigar a dor de uma saudade,
Abençoadamente, regozijo.
A tempestade feita de granizo
Distante, não mais cai em meu telhado,
Amor que tanto eu quis, digo a verdade,
Invade e deixa o tempo apascentado...
8
As luas que entre fases se renovam,
Do amor que tanto sinto, testemunhas,
Nos versos mais perfeitos que compunhas
Os velhos sentimentos se comprovam.
Enquanto dos teus lábios, os meus provam
As luzes destas luas tu já punhas
No gozo do prazer que cedo empunhas
Momentos que os desejos sempre aprovam.
E fazem com que o tempo seja amigo,
Sabendo deste encanto que persigo
Eu tenho em minhas mãos esta certeza
De ser além de simples sonhador
Um homem que se sabe vencedor,
Colhendo em cada olhar, tanta beleza...
9
As luas se encontrando em pleno sol
Amor que me divide, sem perdão.
Brincando, maltratando o coração
Vai dicotomizando meu farol.
De um lado dessa lua, um girassol
Perdido, se encantando na amplidão
Do brilho dessa lua, uma atração
Que faz com que ele pense ser o sol.
As águas mais macias, desse rio,
Refletem outra lua, novo cio,
Pobre sol, solitário fica louco.
Buscando tresloucado seu destino.
Do brilho dessas luas, desatino,
O sol já vai morrendo, pouco a pouco...
10
As luzes do futuro já me esperam
Por mais que as trevas andem por aqui,
Vestindo esta esperança eu me perdi
Enquanto os meus caminhos destemperam
E colho estes fantasmas que se geram
Dos medos revividos. Chego a ti,
Devoro o que deveras conheci
E os sais de tua boca me temperam...
Sarcástica ilusão abandonada,
Expondo num tormento o coração
Que um dia imaginou além do nada,
Fartando-se do sonho. Sigo em vão.
E quando recomeça a madrugada
Aguardo inutilmente a viração...
11
As luzes irradiam, cortesãs,
Chamando para a dança e pro festejo
As horas que se foram, tolas, vãs,
Agora vão entregues ao desejo
De ter tua nudez em minha pele,
Acesas as vontades que revelas,
Ao fogo do teu corpo amor compele
Meu barco se perdendo, insanas velas.
Soprando sobre nós o minuano,
Guardando na guaiaca teu sorriso,
O tempo é rei, deveras soberano,
Mas sabe decifrar quanto é preciso
A quem se faz eterno navegante
Chegar ao infinito num instante...
12
As luzes na cidade vão sumindo,
Deixando simples rastros na calçada
Um dia prometido, outrora lindo,
Refaz um novo brilho em alvorada.
Teu nome, o coração vai repetindo,
Estribilho somente sem mais nada,
O dia que em teus olhos vem surgindo
Na luz de um belo sol, fonte adorada
De toda a plenitude de um calor
Que possa renascer em meu desejo,
Viver a magnitude deste amor
Que sopra um doce vento benfazejo.
Felicidade em sonho encantador,
Precisa, na verdade de traquejo...
13
As luzes que conduzem nossos sonhos,
Reluzem belos dias, alvorada...
Nas horas mais felizes, dessa estrada,
O riso, os rios, ritos tão risonhos,
Os olhos, óleos bentos... São bisonhos
Os medos, a sombria madrugada,
As lendas, todo trauma alma penada,
Muita vez, pesadelos mais medonhos...
Harpas, anjos correndo livres, paz..
Num segundo, seu mundo, é bem capaz
De transformar delírio em realidade...
Fantasias, brinquedos, melodia,
Faz amanhecer, sempre, um novo dia...
Deixando, fatalmente, esta saudade...
14
As luzes que virão já se antecipam
Ao dia que decerto nascerá,
Podando as dores várias que se extirpam
Enquanto o sacro amor florescerá.
Erguendo ao bem supremo um monumento
Que é feito em gozo imenso ao bel prazer.
A vida traz em si o suprimento
Que ajuda-nos em paz, sobreviver.
Algozes de nós mesmos, tantas vezes,
Mortalhas que tecemos da esperança,
Durante dias, horas, anos, meses
Buscando, inutilmente, a temperança
Cevamos medos, trevas, solidão.
Porém vislumbro sóis nesta amplidão...
15
As mágoas fossem águas deste rio
Que desce em cachoeiras e cascatas,
Vencendo a tempestade quer estio
E goza em profusão adentra as matas.
A natureza mostra insano cio
Em luas seminuas plenas pratas.
Abençoados sonhos de um jardim
Em meio a belas rosas cultivado,
O quanto que já fui voltando assim,
Ao perceber amor bem demarcado
Fazendo no meu peito tal festim
Que eu penso que jamais fui magoado.
Morena, com certeza os belos seios
Redimem a tristeza e meus receios...
16
As mágoas que carregas no teu peito,
Derramam tantas águas; lacrimejas.
A lua quando invade o nosso leito
Espalha os belos lumes que desejas.
Não deixe que a tristeza te domine,
Perceba quanto eu quero o teu sorriso.
Por mais que a realidade desatine,
O sonho é necessário e tão preciso.
Teus olhos são espelhos de tua alma,
Encontre nos meus versos um alento.
Se a poesia, amada, já te acalma,
Decerto a fantasia é bom ungüento.
Olhando para o céu veja a tiara
De estrelas que, ternura ora declara...
17
As mágoas que deixaram tais horrores,
Profundas cicatrizes no meu peito,
Ainda se percebem no direito
De não deixarem mais surgir tais flores
Que um dia num canteiro, satisfeito,
Plantei, leda ilusão, nos derredores
Das duras fantasias, seus albores
No aborto de emoções, perdendo o leito
Um rio que seguia para a foz,
Deixando para trás pequeno arroio
Aonde a fonte morta em sonho atroz
Recebe inda um gotejo que em verdade
Permite respirar em calmo apoio
Que é dado tão somente em amizade...
18
As mágoas; coleciono. E os dias desgraçados
Arrastam-se por fim. Um sonho que eu tivera
De um mundo mais feliz, gozos abençoados
Morrendo pouco a pouco, impedem primavera.
Distante do que eu quis – a vida é dura fera
Quem dera se tivesse um rumo em novos fados.
Porém de nada vale angústia desta espera
Jamais irei saber de novos, belos prados...
Em lástimas traduzo o quanto que te quis.
O quanto que lutara, e nunca fui feliz...
Vagando pelo mundo, ausência de esperança.
A dor por companhia, um resto de ilusão
A noite chega fria e traz em solidão
O espelho de minha alma: apenas a lembrança...
19
As manchas de batom já denunciam
A noite que tivemos, meu amor...
Mais do que palavras anunciam,
Prenúncios repetidos, tanto ardor...
A boca que me deste, carmesim,
Os beijos que te dei, nosso prazer.
O mundo está guardado todo em mim.
Sorvendo tanto amor, quero viver...
A noite que virá, por certo, louca;
Trará de novo, tanta fantasia...
Beijando mansamente tua boca,
Vivendo nosso amor, uma alegria...
Amar é mais que tudo, um belo dom;
Guardado nestas marcas de batom...
20
As manhas e manhãs que amor desvenda
Maçãs em corpos nus, deliciosas.
O coração mineiro não se emenda
E ceva com ternura belas rosas.
O amor que dominou a minha agenda
Permite noites claras, fabulosas,
Fazendo da alegria nossa tenda
Regozijando então conforme gozas.
Selando nosso caso com carícias,
Não quero ler mais o jornal, notícias
Que trazem não me importam, valem nada.
Apenas novidades quero em ti,
No livro que deveras tanto li,
A história muitas vezes bem contada...
21
As manhãs que virão; abandonadas,
Estrias que minha alma já fomenta,
Meu verso em pura insânia violenta
Espalha meus pedaços nas calçadas.
Expresso com palavras demarcadas
O quanto necessito e nada venta,
Toando em meus ouvidos tal tormenta
Adentra pelas portas destroçadas.
Um mar que cultivei no pensamento
Distante se calando já sem vento,
Buscando uma alegria em vendavais.
Do quanto que pensara no começo,
Após o meu caminho vir do avesso,
Apenas sou um resto e nada mais.
22
As mãos desta mulher, princesa e fada
Um porto prometido, um bom descanso,
Viagem pela pele desnudada,
Depois da plenitude, este remanso
A noite vai passando, a madrugada,
O gozo mais sublime, enfim, alcanço.
Um velho caminheiro agora traz
Sorriso engalanado e sabe a sorte.
Do quanto amor se mostra então capaz,
Deitando neste cais, um pleno aporte
Do sonho que se fez teso e voraz,
Penetra sem defesas, ganha o Forte.
Quem sabe com destreza navegar,
Procura nos teus braços descansar.
23
As mãos esparramadas nas calçadas,
Nos clãs quatrocentões podres ignaros...
As vestes dos mendigos já queimadas,
Nos risos idiotas vermes raros,
Nos bicos dessas gralhas desvairadas,
Paulicéias dementes, seus amparos...
Sanguíneas remendas demonstradas,
Os preços que pagamos são bem caros...
(Os roubos dessas aves amestradas...)
As mãos acorrentadas das crianças,
Os vermes trafegando seus palácios...
Matando quaisquer sombras de esperanças,
Tantos sonhos submissos de crustáceos,
Esquecem que deixaram nas lembranças,
Marcas de suas garras, suas panças...
24
As mãos que preparavam armadilhas,
Os olhos espiando numa espreita
Tentando adivinhar caminhos, trilhas
O sonho amenizando enquanto deita
Buscando paraísos, maravilhas,
Nas gretas entre nuvens se deleita.
Cometas entre estrelas andarilhas
A febre da esperança, uma maleita
Queimando os olhos frágeis da criança,
Ausência se tornando uma lembrança
Retrato na gaveta dos meus sonhos.
A boca que hoje beijo traz assim
O cheiro que guardado dentro em mim
Prometia momentos mais risonhos...
25
As mãos que procuraram por carinho
Esquecidas na prece que sonega
O desejo premente de outro ninho,
Não sabem quando o medo se encarrega
Dos passos na maldita procissão,
Amortalhando um sonho- ser feliz.
Devoram o que resta da emoção
Olhares vão vidrados. São zumbis...
Pelos amores; jogadas nos esgotos
Expostas aos prazeres roedores,
Distantes, cada vez bem mais remotos
Desfilam com soberba, os seus amores.
E as mãos tão calejadas e vazias,
Afagam as miragens mortas, frias...
26
As mãos que se procuram e incendeiam
Veredas que descubro noite afora,
As sendas que percorro sem demora,
Delírios que os desejos, sempre ateiam.
Meus olhos por teu corpo já vagueiam
Encontram cada porto que decora
Na flama que magnífica se aflora
Enquanto estes delírios nos permeiam.
Ebulições, archotes, brasa e chama,
O amor ao perpetrar divina trama
Nos chama para a festa em fogo e gozo.
Viver o que tivermos sem limites,
Audazes os caminhos que permites
Trazendo amanhecer maravilhoso...
27
As mãos que se procuram em passeios
Por sobre os corpos loucos e sedentos,
Sentindo intumescidos os teus seios
Prometem mil desejos, violentos.
Não tendo, na viagem, mais receios
Exploram-se divinos sentimentos,
De todos os temores vão alheios
Os lábios ao cumprirem seus intentos.
Num leque de caminhos, sei as senhas
Moleque coração ateia às lenhas
A brasa que incendeia noite afora.
Fogaréus irradias sobre mim,
Viagem que se faz assim, sem fim,
Caminhos que o prazer, insano, explora...
28
As mãos que se procuram, clandestinas,
Derramam seus desejos pelos dedos.
As águas que escorrendo, cristalinas,
Expondo pelas ruas, meus segredos.
Tu tocas mansamente e me dominas,
Provocas entretanto tantos medos.
Beber de tuas fontes, doces minas,
Criando novamente meus enredos...
Amar além de tudo, risco pleno,
Sangrando em mil desculpas os engodos,
As pérolas criadas nestes lodos,
Sorvendo calmamente o teu veneno.
Nos ápices dos gozos sensuais,
As mãos que se procuram, querem mais...
29
As mãos que te consolam também levam
As mesmas sensações de inadimplência.
Mas são tão calejadas que relevam,
Sabendo que é preciso complacência...
Eu não carrego mágoas, pesam tanto.
Amigo; te aconselho a ser mais franco.
Amor, depois que perde seu encanto;
Sangria que nem sempre eu mesmo estanco.
Por isso estou aqui, meu camarada;
Nas vezes que sofri, tive teu braço.
Agora que esta noite vai nublada,
Os passos cambaleiam de cansaço...
Amigo, nunca apague tua luz,
Pois o seu próprio facho, te conduz...
30
As mãos seguem vazias, nada pedem,
Esperam tão somente por milagres.
Dos sonhos que já tive, as bases cedem
Meus vinhos se transformam em vinagres.
A carne se esvaindo em tantas rugas,
A porta se fechando a cada dia.
Impossibilitando minhas fugas,
Amordaçando a voz da poesia.
Catando o que restara, assim de mim,
Encontro meus escombros nas caladas.
Não tendo primavera em meu jardim,
As roupas da esperança estão mofadas.
O riso em ironia de um canalha,
Tomando a minha senda já se espalha...
31
As mãos tão delicadas, de pelúcia,
Carícias que prometem, de delícias...
As mãos que me acarinham com argúcia
Meus olhos reagindo com malícia...
Sevícias deste amor sem amarguras,
Agruras e ternuras superpostas,
Escorrem mansamente tais branduras
Descendo levemente nuca e costas...
Expostas às totais felicidades,
Nas mãos que te percorrem, fantasias;
Aos poucos construindo claridades,
Em meio a tempestades de alegrias...
Eu quero tua mão tão delicada,
Escreve meu futuro, assim, amada...
32
As marcas dos amores nos lençóis,
Ficaram, são guardadas com carinho.
Depois de tanto tempo, tantos sóis,
Espero que tu voltes de mansinho,
Brilhando com a força de faróis,
Voltando como um pássaro ao seu ninho,
Trazendo a claridade aos arrebóis
Em florescência rara este caminho
Portando em suas margens, liberdade
Matando, com certeza, esta saudade
Deixando a sensação de eterno abrigo.
Depois de caminhar o tempo inteiro,
Um andarilho feito prisioneiro
Eu quero te sentir junto comigo,
33
As marcas dos amores, altaneiras.
Esguias criaturas buscam glória..
Quem sabe suas sagas verdadeiras,
Declinará seu asco na memória..
Nos máximos dos montes, as ombreiras,
Resquício polvilhado desta história.
As horas mais venais, horas primeiras,
Encontram criaturas vãs: escória!
Nos estandartes tolos, a dura haste
Estorvo e negação, guerras insanas...
Amores, violência, num contraste,
Trazendo os pavilhões em decadência.
As podres criaturas são baganas,
Dissimuladas, fingem inocência...
34
As mariposas rondam luz e sala
A bala que perdeu-se faz morada
No colo de quem tanto não diz nada
Enquanto sem defesas já se cala.
Canhestra realidade, torpe fala
Da morte quase sempre anunciada
A carne apodrecida e destroçada
Infesta com certeza a podre vala.
Esgoto uma esperança, moça velha,
No rosto em decadência que se espelha
No breve crocitar, qualquer estorvo.
Os olhos carcomidos da pantera,
A boca da amizade nada espera
Senão um beijo amargo deste corvo...
35
As matas destruídas, mortos sonhos,
O solo se tomando em aridez.
O quanto desta vida se desfez
Em ritos de ganância tão medonhos.
Cenários de agonia, mais tristonhos,
A Terra desnudando a sua tez,
Somente o que restou: tanta avidez,
Matando os velhos prados, bons, risonhos.
Nas mãos deste terrível predador,
Invés de uma esperança, só pavor,
Imagem destruindo a semelhança.
As águas cristalinas deste lago,
Guardadas na retina ainda trago,
Porém o que restou: frágil lembrança.
36
As matas me preparam a surpresa...
Encontro várias garras afiadas...
Minhas costas estão todas lanhadas
Pela força que emite a natureza.
O manto que te cobre, de nobreza
D’ébano. Mal surgidas madrugada
Os rastros tão sutis destas pegadas
Me levam à fantástica beleza!
As unhas me penetram e torturam
As presas me maltratam e me curam.
A vida me parece soberana!
Em múltiplos delírios sigo a noite,
O beijo da pantera, meu açoite;
Os olhos tão brilhantes de Silvana...
37
As mentiras contadas foram tantas...
Amor quando permite essas mentiras,
Desfaz-se totalmente em várias tiras
Jamais reconstruídas. Velhas mantas
Que do frio verteram flores santas;
Cantavam simplesmente falsas liras,
Amor em emboscadas tanto atiras...
O meu cruel queixume e rindo, cantas...
Quando louco eu pedia teu carinho
Nunca pensei quedar-me então, sozinho...
Em meus versos cantei sem ter nem eco.
Agora em lenços brancos onde seco
As lágrimas que teimam em descer
Percebo: sem amor não sei viver...
38
As minhas asas pedem novo vôo
Depois de tanto tempo em desamparo
Não posso te dizer se não perdôo
Nem mesmo se restou amor tão caro
O resto dos escombros denuncia
A morte feita em vida não protege
Nas horas que vivia apodrecia
No fundo não passava dum herege...
Talvez a podridão seja desculpa
De quem, em vida, nunca teve alento.
O medo de sonhar foi minha culpa
Vagando em cada esgoto, assim divago,
De tudo que vivi, só sofrimento.
A morte então seria o meu afago...
39
As minhas dores sempre são só minhas...
Não posso procurar a solução
De todos meus problemas noutro chão.
Não devo desviar-me destas linhas
Que são as minhas linhas, não são tuas.
O corte que me causa esta navalha,
A força que preciso, na batalha,
Cada um com seus sóis e suas luas.
Na força de lutar, meu alimento.
A dor que sempre causa sofrimento,
É minha sina e sempre é meu fado.
Na guerra desta vida, vou sozinho.
Na luz do coração eu sempre alinho;
Não posso nem vou ter um aliado.
40
As minhas ilusões são pedras falsas,
Ondulo entre esperanças, desvarios.
Tentando ultrapassar mares e rios,
Perdi em desconsolo, as minhas balsas.
Futuro em que distante sonhos valsas
Deixaram no meu peito estes vazios.
Olhares tão opacos e sombrios,
Ausente de meus passos, éter alças.
O sol adormecido já não vem,
No mar de tua vida, sou ilhéu.
Um embrião de nuvem no teu céu,
Na imensa multidão, eu sou ninguém.
Quem dera se viesses. Ah quem dera...
Jardim morre sem flor, sem primavera...
41
As minhas ilusões, frágeis falenas,
Noturnas passageiras da alegria
Atrás de uma esperança que irradia
As luzes mais audazes, vivas, plenas...
Quisera ser feliz. À duras penas
Realidade expondo esta sangria
Morrendo mal ressurge um claro dia,
Por um momento sonham outras cenas.
Ondeiam por distantes oceanos
O luto que reveste-se em procelas,
Não sei como fazer para contê-las,
Coroadas em vários desenganos.
O sol que há tanto tempo já perdi
E teimo em perceber vívido em ti...
42
As minhas mãos cansadas da batalha,
Meus pés cansados, olhos vãos, vazios...
Distância me cortando qual navalha,
Procuro me agarrar em finos fios.
Mas as mãos estão trêmulas. Falha
O coração, sentindo os arrepios
Do amor que semimorto já se espalha
No resto do que fui. Os dias frios...
As minhas mãos desejam um descanso,
Barqueiro procurando por remanso,
Olhares esperando uma alvorada
Que venha em novo amor, uma esperança,
No passo decidido, um gesto alcança
Uma alma feminina, apaixonada...
43
As minhas mãos são lésbicas, gentis,
E tentam descobrir nas belas grutas
Maneiras mais audazes e sutis
Embora tantas vezes mais astutas
Na busca por fazer-te mais feliz.
As mãos que com certeza são bem putas
Encharcam-se do gozo que me diz
Que foram proveitosas liças, lutas.
Na ponta desta mão, moleques dedos
Invadem sem juízo, vales, montes
Abrindo o cofre, sabem teus segredos
E mesmo quando ocultas, curiosos
Os dedos te saciam, caçam fontes
Lambuzam-se nos lagos generosos..
44
As minhas mãos unidas com as tuas,
Às volúpias do amor nos entregamos.
À noite nossas bocas, loucas cruas,
Nestes desejos todos mergulhamos.
Nas selvas que buscamos nosso arrimo,
Nas pernas que sentimos tão coladas.
O teu amor intenso tenso, estimo,
As trocas e carícias esperadas.
Meus olhos nos teus olhos não se cansam,
No fogo desse amor, uma centelha.
As bocas sequiosas já se avançam.
Minha alma de tua alma, tão parelha...
Nos céus que te proponho sem receios,
A doce sensação, teus belos seios...
45
As minhas noites se passaram frias
Nas madrugadas: peito amargo e pranto.
As lágrimas escorrem, agonias...
Sem teu amor, morrendo em triste espanto.
Simples tristezas, álgicas orgias,
Distante vou ouvindo um belo canto
Em vozes mansas, cânticos, magias...
Refeito em esperança, novo encanto.
As mãos cansadas buscam por remédio;
Onde encontrar... Depressa; amor, eu chamo,
Será que a sorte mostra um doce assédio?
Será que, enfim, terei o meu descanso?
Quando ao te ver assim, amada exclamo
E enfim meu barco encontra um bom remanso...
47
As minhas partituras musicais,
O caos se estabelece maestria...
Nas rodas e bordeis, as bacanais
Misturas dos hormônios nessa orgia.
A fauna que freqüenta meus astrais
Navega por destinos não se estia.
A cama nas sevícias hormonais
A noite que me queima sempre fria...
Rodando esses casais negando o medo.
Vazias as metades nunca cheias.
Vestidos madrugadas nunca é cedo.
As guitarras solando um velho blues...
Aranhas e meganhas tecem teias.
As luzes que morremos são azuis...
48
As minhas velhas crenças já se foram,
Pensara ser feliz. Sobrou o que?
As dores sem limites que se afloram
Predizem esta ausência de você.
A flor que vicejara no jardim,
Morrendo nesta seca, duro estio.
Quem dera se pudesse, até o fim,
Alçar uma esperança, tênue fio.
Um resto de alegria toma o peito,
Depois de perceber velha amizade
Dizendo: ser feliz é seu direito.
Mas lute e não se entregue à solidão.
Tentando demonstrar tranqüilidade,
Percebo ao fim do túnel, o seu clarão...
49
As musas sequiosas dos amores,
Procuram pelos faunos indecentes...
Nos lagos; desnudadas, belas flores,
As ninfas se entrelaçam bocas, dentes...
Penetram tantas línguas sem pudores,
Meus olhos delirantes pois descrentes,
Misturam alaridos, gozos, cores
Percebo meus desejos mais dementes...
Quem dera se eu pudesse, sagitário,
Em meio a tantas bocas, seios, sexos...
Feneço neste bosque lampadário,
Espreito tais bacantes, plena orgia...
No lago refletindo tais reflexos,
Especular imagem da alegria...
50
Às Musas tua vida dedicaste,
Fazendo da caneta o teu buril.
O velho coração que num contraste
Mais forte em versos belos refloriu.
Os sonhos de casais sempre plantaste,
Tornando conhecido, o meu Brasil,
Vinicius, com teus versos espalhaste
O amor como jamais alguém o viu.
Eterno enquanto dure, no infinito
Desejo de se dar pra quem se deu.
Sublime, o Rio inteiro ele verteu
Tornando-se de amantes, quase um mito,
O diamante raro que poliste
No peito de quem ama, eterno, existe...
51
As negras gralhas, resolutas pragas...
Agourentas tempestas e mordazes...
As noites vagueando, tornam vagas...
Os mantos que devoram, finas gazes,
Não posso percorrer luares, plagas,
As vastas cordilheiras incapazes
As gralhas verdadeiras nunca afagas,
São corvos que crocitam mais audazes...
Mortalhas que me vestes, negra gralha,
Deferem meus rancores e meus versos...
A cama que me deste, vil canalha,
Cosida com meus nervos e tendões...
Busquei a liberdade, tons diversos,
Cuspiste ferozmente corações...
52
As noites que passamos de prazer
Em sonhos delicados, buliçosos,
Vivendo esta alegria de querer,
Em toques mais sutis e tão gostosos,
Percebo que a vontade de viver
Nos torna mais felizes e viçosos.
Somamos nossos beijos e carícias
Formamos um portal de brasa e lume.
Embalados por toques e malícias
Sabemos mais de flores e perfume.
Agora ao desfrutarmos tais delícias,
A vida nos eleva até o cume
De tantas maravilhas, cordilheiras
De peles que se dão e vão inteiras...
53
As noites que passei tristes degredos,
Perpétuas fantasias, sigo insone.
Se o beijo desvendasse teus segredos,
Não seria um suplício, o telefone
Que teima em não tocar, prossegue mudo.
Aguardo uma chamada que não vem...
Por vezes noutros sonhos eu me iludo,
Olhando para a porta. Sem ninguém...
Eu mal consigo olhar o teu retrato
Guardado na parede dos meus sonhos.
O vento que te trouxe tão ingrato
Agora mostra em risos mais medonhos
O quanto amar demais sempre tortura,
Enquanto a noite invade-se em ternura...
54
As noites que se foram tão imensas,
Mudando o sentimento, em serenatas
Busquei em teu amor as recompensas,
Vivendo mansamente sem bravatas.
Dos sonhos que tivemos, mil cascatas
Descendo pelos lábios, versos, crenças,
Distante das discórdias, sem ofensas,
Tivemos calmaria em flores natas.
Amores que se formam, catedrais,
Desejos em sonatas, madrigais,
As noites se passando, belos sonhos...
Os corpos misturados, canibais,
Querendo cada vez e sempre mais,
Em atos delicados e risonhos...
55
As noites que te viram? Ah! Negadas...
Vazios noutros campos e paragens.
Em meio a tempestades e visagens,
Somente restam dores nas estradas.
Vagando pelas noites desgraçadas,
Não consigo entender estas miragens,
Meus rios sem vertentes vazam margens
E as fozes deste amor secas, paradas.
Os sonhos se foram – só besteiras.
Das matas e das luas tão brejeiras
Apenas o que resta, um simples não.
A noite com certeza voltará,
Depois da tempestade nascerá
O sol extasiando a multidão...
56
As noites tão vazias e caladas
Depois de beijos tantos, bons, ardentes...
Dois corpos se buscando quais dementes
Nas horas mais audazes, dedicadas.
Em meio a cobertores, almofadas
Dois astros se perdendo, enlanguescentes.
Sabendo do que queres, sonhas, sentes
Luares deitam pratas nas estradas...
Na placidez; qual fossemos dois lagos,
Dos braços em carinhos, nos afagos
A noite em fantasias se depura....
A chama tantas vezes misteriosa
Depois que tu partiste; melindrosa
Dos beijos morrem méis, resta amargura...
57
As nossas peles clamam por prazeres
Que somente podemos desfrutar
Ao lado de quem tanto sabe usar
Nos banquetes da carne, estes talheres...
Farei, te juro, tudo o que quiseres,
Trazendo para a cama céu e mar,
Bebendo cada gota do luar,
Verás quanto eu te quero, se vieres...
Entrego-me deveras a teus pés,
Já não verei a vida de viés
Tampouco o sofrimento irá fazer
De mim, o seu perpétuo camarada.
Erguendo com vigor tal paliçada
Numa estrutura feita de prazer...
58
As nossas roupas jogadas pelos cantos
Testemunhando a festa que fazemos.
Estrelas se derramam, percebemos
Os raios que se fartam, belos, tantos...
Descubro cada parte do teu ser,
Mergulho em tuas grutas com vontade,
Chegando à mais completa saciedade,
A luz da divindade eu posso ver.
E tenho-te safada e tão profana,
A diva feita serva e senhoria,
A noite caprichosa e assim sacana,
Esgota-se em furores incontáveis
As mãos da mais perfeita poesia
Abraçam nossos corpos; formidáveis...
59
As nuvens deslizando seus poemas
Pintados neste céu, anis-lilás;
Mudando de paisagens e de temas
Promessas e delírios, o céu traz.
Desenho nosso nome em pensamentos
Olhando para as nuvens que esvoaçam
Mudando com a direção dos ventos
Volúveis se mostraram e se espaçam.
Nas baforadas soltas, as figuras,
Parecem com amor que tu me tens.
Ao mesmo tempo amor, já me asseguras,
Depois com tantas dúvidas tu vens.
Eu torço pra que o tempo esteje firme
Quem sabe teu amor por mim se afirme!
60
As nuvens que te viram vão nevadas
Em busca d'outros campos e paragens,
Em meio a tempestades e visagens
Carregam tantas dores nas estradas...
Vago como essas nuvens desgraçadas
Não consigo entender suas viagens
Por ruas e vertentes, tantas margens
E nada me trará mais madrugadas
Que já se foram, nossas companheiras.
As matas e as luas mais brejeiras
Não sabem por que foste embora, amor...
Assim como essas nuvens voltarás
Depois das tempestades estarás
Marcada pelas chuvas, sem calor...
61
As nuvens vão passando pelos céus
Formando imagens belas, sem igual,
Deitando a maravilha sob os véus
Entrego-me à magia sensual
Dos ventos e portais que imaginando
Trafegam pelo espaço a cada dia
As formas variadas transformando
O entardecer em rara poesia
Terraços e sublimes catedrais
Longínquas e tão próximas de mim,
Num altiplano sonho, nos jograis
As flores multiplicam tal jardim
E vejo, sobre tudo, o teu olhar
Estrela vespertina a me inundar...
62
As ondas num balanço vai-e-vem,
Deixando este marujo com enjôo
Eu sei que neste cais sereia tem,
E até o meu estômago, eu perdôo.
Jamais eu suportei sequer a rede,
Prefiro, com certeza, a velha esteira.
Embora muito grande, a minha sede
E a moça bem gostosa – flor que cheira-
Não posso mais ficar neste balanço,
Senão vou estragar nossa festinha.
Por mais que estava a fim, já nem avanço.
Amor, eu te desejo e estás nuinha...
Do jeito que o diabo não despreza,
Mas tenho que evitar qualquer surpresa...
63
As ondas que levaram para além
Afiguram-se nos sonhos como fases.
Decifro tal enigma e nada vem
Arrancam fantasias, hastes, bases...
O quanto de ilusão nada contém,
Sonhar com o carinho que não trazes.
Saudade vai dizendo deste alguém
Que um dia mostrou luzes mais audazes
Amor, palavra tola em que descrevo
A sordidez terrível que ora cria
O gosto tão amargo da poesia
Que tolamente e em vão ainda escrevo.
Caminho que percorro diz da volta
Deixando o pensamento sempre à solta...
64
As ondas que nos tocam; mar e lua,
Os ventos nos convidam a sonhar.
Enquanto a fantasia continua
Eu bebo cada raio de luar,
Deitando nesta areia toda nua,
Sereia me ensinando a navegar.
Minha alma embevecida já flutua
E chega por instantes, decolar.
Assim neste momento indescritível
O amor se torna frágil, mas incrível,
E tudo é mais possível, passo a crer
Que existe um Paraíso em plena praia.
A lua no horizonte então desmaia,
Aurora anunciando o amanhecer...
65
As ondas vêm trazendo sal e glória
Mudando a direção de velhos ventos.
O amor bebendo a lua merencória
Traduz em temporais os sentimentos.
Ao mesmo tempo embarco na memória
De dias tão felizes, e em tormentos
Prenunciando a dor de uma vitória
Atravessando sonhos, pensamentos.
Tristeza de saber que em plena areia
O movediço passo não garante
Um sol que nos proteja e ao mesmo instante
Adentre uma esperança em nossa veia.
Olhando de viés para este mar
Concebo o dolorido bem de amar...
66
As pedras se derretem sob o fogo
Rolando incandescentes pela praça.
Nos olhos ardentias, sinto o jogo
Que passa simplesmente, qual fumaça.
De toda essa amizade sobre o rogo
Que finge que não vai e se esfumaça.
Paragens tão distantes, mar e lua,
Se encontram e depois o sol renasce.
Desfilo meu cadáver pela rua
Permito que outro olhar, de esgueiro, cace
Antes que a noite surja falsa e nua
Antes que tudo morra e que se embace.
Senhora dos segredos, minha amiga,
Vá logo por que a sorte aqui, periga...
67
As pedras vão rolar numa vitrola,
Dançando a noite inteira eu e você
O tempo ressurgindo nos assola
O sonho não morreu? Busco. Cadê?
Os olhos da morena agateados,
Os dentes do passado em minha pele,
Serenos pela noite, abençoados,
Veneno ao qual o encanto me compele.
Garagens e guitarras? Nunca mais.
O velho coração não se acostuma
Aos sons pré-fabricados e banais,
O sol se perde em meio à névoa e bruma.
Os sons de um zepelim, roques e blues,
Os céus jamais serão de novo azuis...
68
As peles se vasculham, frágeis, nuas
Rolando pelas noites bebem tudo,
Nos bares e motéis, sarjetas, ruas
O quanto que te quero e não me iludo.
Mudando a direção de antigos ventos
Quem sabe poderei chegar a ti?
Em tantos descaminhos, por momentos
Do pouco que eu sabia me esqueci
Um canto libertário se perdendo
Em tantas discrepâncias, vagas rotas.
A lua melancólica envolvendo
As nossas peles, gastas, velhas, rotas.
Rogando por talvez um alegria
O bem que tantas vezes mal queria...
69
Às penas em que amor me submeteu
Fugazes esperanças sempre alentam.
Num átimo nem sinto mais ser eu
Aquele a quem os Fados alimentam.
O mar da fantasia feneceu
Nem mesmo as calmarias me apascentam.
O vago que restou já se perdeu
As tempestades, flores não enfrentam.
Preparo em armadilha uma vingança
Em aspereza enceto um pensamento.
Que porte com mortalha, a penitência
Deixando quase ao léu nossa aliança
Tragada pelo Amor em um momento,
Deixando em seu lugar, dura inclemência...
70
As penas que pagamos por durezas
Expostas nos momentos mais sinceros;
São penas que se pagam em aspereza
Por sentimentos duros, firmes, feros...
Assim foi com certeza o que ocorreu
Nas vezes em que tu não notaste
Amor que tanto tempo transcorreu
Da forma que não foi a que pensaste.
Achavas que não tinhas mais perfumes...
Que pena que não saibas dos encantos
Que trazes apesar destes ciúmes
Que embalam e deformam os teus cantos...
Amiga não permita que estas dores
Destruam os teus sonhos, teus amores...
71
As pernas se misturam em novelos
E fazem dessa noite um vendaval,
A prova neste amor que é mais cabal
Nos gozos que me dás ao recebê-los
Fantasmas do passado, quando tê-los
Não deixe de fazer o ritual
Do jogo mais gostoso e sensual
Beijando com carinho os teus cabelos.
Da lua tão redonda como um queijo
Eu sinto cada brilho no meu rosto,
Da boca da morena quero o beijo
O coração matreiro de um mineiro
Ao ver o nosso amor assim exposto
Da sorte e da alegria sente o cheiro...
72
As pernas transeuntes vêm e vão,
Formigas entre carros e sinais.
Alguns nem mesmo sabem, mas jamais
Qualquer sentido, enfim, encontrarão.
Lutar pelo sossego feito em pão
Estampam nas calçadas os jograis
Aonde quem procura perde o cais,
Sem Céus a queda trama o ledo chão...
Amar, ter muitos filhos, ser feliz?
Depois nos olhos falsos desta atriz
Que dorme em minha cama, ouro de tolo.
Semente que brotou e se renova
No escombro ressurgido, a massa sova,
O trigo de nós mesmos sola o bolo...
73
As pessoas desfilando na calçada
As roupas e os varais mais variados.
Olhando para frente e vendo o nada,
Os seus passos ritmados e apressados
A vida tantas vezes maltratada,
Mergulhos nos vazios disfarçados
Em risos, festas, prêmios e balada,
No intenso vai e vem, robotizados.
As dívidas, as dúvidas problemas,
Os pés, as mãos atados por algemas.
Teatros e cinemas, botequins,
Sem rosto, assim prossegue a multidão,
Encontram tão somente o mesmo não
Sem rumo, do princípio matam fins...
74
As pétalas das flores que senti
Nos mágicos perfumes no jardim.
Aos poucos revirando o que vivi,
Não sinto quase nada. Estou no fim...
Cansado de dizer em vão teu nome,
Nas ruas, nos desertos e nas praças...
Aos poucos cada vez que a noite some,
Tu sabes do que falo, mas disfarças.
Eu sinto que não posso mais te ter
Eu sinto que meus versos se perderam.
Quem fora tanta coisa não quer ser,
Meus olhos, os teus olhos, se esqueceram...
Mas resta tão somente uma ilusão.
Quem sabe a noite traga o teu perdão?
75
As plantas que me deste não refazem
As noites que perdi te procurando...
As cores que elas vibram já não trazem
Amores que deixei não vou a mando...
Azares são medidas que me trazem
As horas que perdemos nos amando...
Angústias estrangeiras não comprazem,
Amiga quem me dera fosse brando...
Beijando-te com calos nos meus lábios,
Crivando-te de herpéticos sorrisos,
Derivo minha nau sem astrolábios,
Espero que não sejam mais precisos
Favores que iludindo, forjam sábios,
Gritando por mistérios mais concisos...
76
As podres excrescências emanadas,
Fosforescestes fogos de artifício,
Latejam minhas pernas amputadas
No sentimento inócuo; um precipício...
As almas, com certeza, estão compradas
Pelos defeitos, ócios, aços, vícios...
Minhas veias estão inoculadas
Pelas serpes de amores mais fictícios...
Sou vértice, sou vórtice, sou frágil.
As espúrias paixões que se entornaram
Não deram-me o poder de ser mais ágil...
Se queres imbecil amante, reles,
Se as esperanças, todas, te largaram,
Convido-te ao banquete: nossas peles!
77
As pontas de uma estrela solitária
Estampam multicores fantasias.
Exércitos de lumes que ora crias
Matizes que se mostram em cor vária.
Na luta por igual reforma agrária,
Durante tantos anos de sangrias
As balas transbordando em mil orgias,
A morte se mostrando necessária.
As flâmulas em foices avermelham
O solo onde esperanças semeadas,
As almas tantas vezes desarmadas
Defronte aos tiroteios se ajoelham,
E este povo oprimido não esmola,
A luta se aprendendo desde a escola...
78
As portas entreabertas do meu peito
Sem medo ou cadeado que as proteja
Faminto sentimento sem direito
Do vento benfazejo que preveja
A luta que vencida dará jeito.
Se tudo o que vier assim deseja
Amor que nunca mais foi satisfeito
A boca desdenhosa que me beija
Servida na bandeja dos meus sonhos
Trará talvez a paz que necessito.
Ao longe, bem distante, no infinito;
Guardado por carinhos mais risonhos,
Vencendo cada pedra do caminho,
Tragando este meu corpo em teu carinho...
79
As rodas da fortuna me excluíram.
Não restou quase nada do que fui,
Enquanto a poesia ainda flui
Castelos que criei; frágeis, ruíram.
Os medos coletados no caminho,
As trevas e fantasmas são constantes,
Das esperanças tolas, as estantes,
Derrubam-se e devoram de mansinho.
Estrídulos diversos, sons etéreos,
Milhões de meteoros sobre o solo.
E quando finalmente, em paz, decolo,
As hordas se aproximam; seus impérios,
Raiando em tempestades no horizonte,
Arrebentam estradas, negam ponte...
80
As rodas da fortuna se perderam,
Quebradas pelos ódios e rancores.
Amores e tristezas conviveram
Assim como os abrolhos beijam flores.
Os dias que passamos, convenceram,
Invernos que virão com seus rigores
Os frutos do desejo pereceram
Mudando dos que amam; seus humores.
Abrindo esta porteira, quero o gado,
Engodos e falácias fazem eco.
Se tanto que te quis ainda peco
O verso não passou de um mero brado.
Joguete dos enganos da ilusão
No teu incêndio sempre fui carvão...
81
As rosas cultivadas já vicejam
Neste jardim divino que plantamos,
Durante tanto tempo nos amamos,
Os corpos dos amantes se desejam.
Os dias mais felizes antevejam
Brotando no arvoredo novos ramos,
Dos dias maviosos que sonhamos,
Os brilhos da esperança relampejam...
Nas rosas cultivadas, bom perfume,
Deixando suas marcas pelos ares,
Refazem cada fruto dos pomares,
Nascendo novamente,sem queixume,
As rosas que colhemos noite afora,
Vieram sem espinhos, sem demora...
82
Às rosas eu dedico
Um verso que é bonito.
Tão encanto eu fico
Seguindo um velho rito,
No amor eu me edifico,
E não persisto aflito.
Jardim se torna rico,
Isto não é um mito...
Porém a verdadeira
Razão assim formosa,
Se mostra mais inteira,
Além da bela rosa,
A mais maravilhosa,
De todas: trepadeira...
83
As rosas que me deste já murcharam...
Crisântemos perdidos no jardim...
As horas que se foram não deixaram
Hortênsias, lírios, palmas nem jasmim...
Perfumes se perderam, não voltaram.
Adornos que plantaste, foram fim...
Nos campos nem certezas enluaram,
Tantos nãos ouvi, nunca mais um sim...
Mergulhei insensato, sem temor...
Velhas rosas murchadas sem alento...
Ressequidas torradas por calor
Excessivo, queimadas pelo vento...
As rosas vão mostrar o esquecimento.
Qual rosas que morreram, nosso amor!
84
As rosas que, nascidas junto às urzes,
Têm o mesmo perfume d’outras flores;
São iguais aos desejos que, das dores,
Transformam essas trevas, novas luzes...
Carregando, pesadas, velhas cruzes,
A minh’alma procura por frescores
Primaveris, a noite gera cores,
Assim como; na guerra, paz, obuses...
Liberdade sangrando nas prisões,
Esperanças matando corações,
Afago, tantas vezes, traição!
Carinhos, muitas vezes, bofetão...
Das abelhas, picadas, trazem mel;
Sorrisos, quantas vezes guardam fel...
85
As rugas me fazendo companhia,
Lembranças de uma vida que revela
Em prantos e tristezas a agonia
E a morte em cada verso, enfim se sela.
As lágrimas rolando em louca orgia,
Enegrecendo o céu, a fosca tela
Impede que eu vislumbre uma alegria.
E a noite de meus sonhos se congela
Mostrada em tão tenaz desilusão,
A sorte não permite qualquer sonho
Já repetindo sempre o mesmo não.
Refém deste passado tão cruel
Meu verso vai nascendo mais tristonho
E a morte vem cumprir o seu papel...
86
As ruínas da vida que perfazem
Os passos esquecidos no passado...
As dores em meu peito tanto jazem
Mudando o caminhar mais esquinado...
Neste árido deserto em minha vida
Não tenho sequer água nem destino.
A mão da solidão, escarnecida,
Tomando meu caminho em triste tino.
Abismos desses ais que tenho em mim,
Vencido pelas dores e suspiros.
A morte vai rondando sem ter fim,
Roubando e retirando os meus respiros.
Minha vida, deserto e aridez
Abismo de suspiros já se fez...
87
As sagas de quem sonha são diversas,
Os dias não repetem velhos motes.
As dores preparando os mesmos botes
Sorrateiras, nos gozos vão imersas.
Dizer desta alegria em que ora versas
É quase preparar quebras e potes,
E mesmo que de encantos tu me lotes
As mãos nos meus teares não são persas.
Oxigenar os sonhos? Também tento;
Fazendo da esperança o meu sustento
Usando uma palavra mais gentil.
Porém a realidade, alma desnuda,
Um pássaro que sofre em plena muda
Meu coração dos sonhos despediu.
88
As saudades ganhando espaço e precisão
Fazendo no meu peito invasão sem dar tréguas
Distante de quem amo a dor e a solidão,
Voando em pensamento eu ganho tantas léguas
E chego de mansinho ouvindo a tua voz
A boca te procura e mata essas saudades.
O tempo que passei; terrível tempo atroz
Deitou sobre meu peito as insaciedades.
Agora que cheguei, eu quero o teu carinho,
Tocar todo o teu corpo, o gozo ser o ninho
De quem tanto te quer, delícia benfazeja
Não pude te esquecer tampouco, amor, o quis
Somente do teu lado eu posso ser feliz
Felicidade plena, o que mais se deseja!
89
As sombras das saudades que carrego
São mansas tempestades que recebo.
Se tantas essas dores que não nego
Porém que muitas vezes nem percebo.
Minha alma transtornada já flutua
Por sobre multidões de sentimentos...
Embalde tantas vezes continua
Guardada neste cofre dos tormentos.
Mas amo em esplendor a tua imagem
Guardada nestes cofres da lembrança
Seguindo tão sem rumo, essa viagem,
Espero teu amor sem mais tardança...
As sombras se iluminam quando vejo
Os olhos tão sedentos do desejo...
90
As sombras do que fomos eu recolho,
Escombros e carcaças, resto e pó.
O tempo destroçando em cada mó
Trancando cada sonho com ferrolho.
Levanto outra ilusão, cevando abrolho
Persisto e novamente estou tão só.
Sonhara com delícia em pão de ló,
Colhendo ervas daninhas, triste molho.
Apenas reproduzo o que recebo,
Aborto de esperança sei que sou.
Inerte o coração, do fel que bebo
Minha alma não sossega sem descanso.
Do todo que buscara, o fim chegou
Na morte um derradeiro e bom remanso...
91
As sombras do que fomos me atormentam,
E cismam em vagar pelo meu quarto,
Dos olhos da esperança não me aparto,
Enquanto em descompasso violentam.
Os meus sentidos tolos te pressentem
Andando pela casa semi-nua,
Somente a fantasia continua,
Porém noites sombrias já desmentem.
O risco de viver em sonhos frágeis
As ondas da ilusão se fazem ágeis
E tomam o cenário nesta noite.
Encantos que hoje sei, são fugidios,
Os olhos que se fixam nos vazios
Aumentam cada corte deste açoite.
92
As sombras invadindo o claro dia,
Tristeza dominando este cenário.
U’a saída improvável; sonho cria
De mim por conivência, um adversário.
Minutos traduzidos em sangria
Esperança descansa noutro armário.
Sorriso, quando o tenho; uma ironia
O tempo é um carrasco, temerário.
Na morte em trevas feitas, me consumo.
Perdendo totalmente qualquer prumo
Chagásica expressão de solitude.
Quem sabe noutra vida inda consiga
Vislumbrar a figura amante e amiga
E o rumo desta história, enfim se mude...
93
As sombras invisíveis do passado
Rondando em pesadelo, a noite intensa,
Quem dera se pudesse em recompensa
Contar com esta presença do meu lado.
Embarco na esperança e de bom grado,
O coração em luzes inda pensa
E tendo tanto amor que me convença
Viajo ao paraíso, enamorado....
Vencendo as intempéries do caminho,
Eu sei que não serei, amor, sozinho,
Contando com teu braço, colo e luz.
Grassando a lua em plenos temporais,
Eu vejo nos teus brilhos magistrais
A trilha que este sonho reproduz....
94
As suas lanças, setas, me tocaram,
E assim me enlouqueceram, estou certo,
Os castelos mais firmes desabaram,
Meu coração se mostra então aberto,
O quanto de carinhos eu te oferto
Os sonhos não mentiram nem calaram
E velhos sentimentos se mostraram,
Apenas movediços. Mal desperto
E vejo nos teus olhos tal magia,
Amiga, transtornando o dia a dia.
Num rumo tão cruel e encantador.
Assim vou prosseguindo sem descanso.
Tranqüilidade e paz agora alcanço
Vencido pelo fogo deste amor
95
As tardes espalhando poesias
Por entre este arrebol, tão belas cenas.
Misturas de jasmins, roxas verbenas
As luzes entre cores e magias...
Compósitos de sonhos e alquimias,
Moldando estas imagens tão amenas,
Quem dera se eu pudesse... Minhas penas
Mantendo minhas mãos sujas vazias...
Minha alma pesa tanto... quanto dói
Saber do amor que morre e me corrói
Deixando este cadáver que hoje sou
A tarde que se espalha nos meus olhos,
Embora em tantas flores, diz abrolhos,
Crepuscular visão emoldurou...
96
As tênues borboletas, liberdade...
Nas asas delicadas, belas cores...
Voando, carregando veleidade
Trafegam, constelares, meus amores...
Lactescências lunares, qualidade
Ímpar, as borboletas buscam flores...
Nesse encontro sutil fragilidade...
Vital, mágico encontro, sem pudores...
Diluídas fantasias vaporosas,
Lepidópteros mostram o caminho..
Mesmo com os espinhos, belas rosas...
As asas mansas asas siderais,
Todo sereno encanto... Fazem ninho...
Ah! Vento te levou p’ra nunca mais...
97
As traças devoraram quase tudo,
Porém o teu vestido num armário
Por mais que ainda pense, nunca mudo.
Qual fosse este fantasma necessário.
Talvez, ser infeliz, inda me iludo
O amor sobrevivendo, relicário,
Um velho sonhador. Porém, contudo,
Eu sinto-me, em verdade quase otário.
As marcas do que fomos nos lençóis,
Os restos de esperança, estas migalhas,
Cortando feito fios de navalhas,
Queimando em minhas costas, vários sóis
E quando ao perceber o chão tão duro,
As vestes da saudade, eu dependuro...
98
As tramas dessa teia eu quero e trilho
Recolho cada farpa, cada espinho
E quando da alegria eu me avizinho
Repito novamente este estribilho.
Não tendo mais sequer um empecilho
Dos passos pressentindo o burburinho
Adentro imensidades em carinho
E preso aos teus desejos eu me anilho.
Erguendo o meu olhar, assim deslumbro
Um mundo sem igual que ora vislumbro
Em claridade imensa e protetora.
Apraza-me viver exato sonho,
Meus barcos em teus mares- amor- ponho;
Minha alma em tantos lumes se decora...
99
As trevas continuam sobre nós,
Propinas são as armas da canalha
Enquanto o povo pobre só trabalha
A corja vai se unindo em firmes nós.
A merda que virá depois, após
Não servirá de adubo, pois de gralha
Matando uma esperança que se espalha
Num crocitar temível, duro, atroz
Fazendo deste povo, refeição,
Proliferando em série a multidão
Um dia ao se cansar dos trapaceiros,
Unindo em amizade os seus quereres
Devorará os tais “podres poderes”
E os sonhos poderão ser verdadeiros...
3400
As tristezas cultivo, minhas flores...
Não quero nem sonhei outro jardim;
Minhas rosas, meus lírios, meu jasmim,
Ficam todos perplexos sem amores...
As esperas sem nexo, minhas dores,
Cultivo mansamente tudo assim,
Sem nada esperar. Resta então, em mim,
As madrugadas frias, seus temores...
Em todas horas duras, enxertia...
As lágrimas que rolam, um esterco.
Enxada, foice, simples poesia...
Minhas dores não são vaga tortura;
Traduzo meu sofrer: semeadura...
Nesse jardim sublime, então me perco...
3401
As tuas mãos guardando este segredo
De tempos mais antigos, dolorosos...
Teus olhos refletindo todo o medo
Dos dias mais difíceis, temerosos.
Percorro as alamedas do teu todo,
Fazendo em cada ponto um porto meu.
Não quero mais que a vida traga engodo,
Meu barco no teu cais já se perdeu.
Arraso seus castelos sem querer,
Invado tuas praias sem aviso,
Preciso de teu mundo pra viver
Meus olhos nos teus olhos eu repriso.
Mas quando o mar molhar a fina areia,
De novo, teu castelo se incendeia...
2
As tuas mãos repousam sobre mim
E percorrendo o corpo, ateiam fogo,
Eu bebo desta fonte, até o fim,
Não quero nem permito qualquer rogo,
Vencendo enfim pudores, quero logo
Tua nudez fantástica em cetim,
Brincando em nossa cama, neste jogo
Marcados por desejo em carmesim...
Afagas minha pele com a língua
Arrepiando assim, insensatez.
Jamais a nossa sede morre à mingua
Aflora um bom perfume em tua tez
E a noite vai passando, desejosa,
Na boca que te busca, tão gulosa...
3
As tuas margens, louco, eu assoreio;
Tomando toda a cena, amor suprime,
No quanto tantas vezes já te estime
Eu faço deste gozo um novo meio
Falando da vontade assim permeio
A sorte que se mostra mais sublime
E mesmo a fantasia em que se arrime
O mundo que, decerto, eu quero e creio.
Ternura nos tomando claramente,
No esteio desse amor tão envolvente
Que entorna maravilhas nesta grei,
Embora na paixão, meu desamparo,
Delicioso sonho doce e amaro,
O vento não protege; disso eu sei.
4
Às veis quando fais chuva no sértão
Os óio do cabôco encheno de água
Rezano pelo fim desse verão
Cansado de vivê tristeza e mágua
Ao vê as nuve negra lá na barra,
Pensano na coieita qui vai tê
Nos braço da esperaça ele se agarra
Sorrino de aligria e de prazê
Paréce, Deus uviu suas promessa
E u dia vem surgino mais filiz.
E a vida nu sertão já recomeça
Mudano num sigundo o seu distino,
Tômbém ao tê o amô qui eu sempre quis
Vórtei dispois de véio a sê minino
5
As velhas esperanças arquivadas,
Não cabem na memória que carrego.
Saudades também foram deletadas,
Não fale deste amor, depressa eu nego.
Roubamos tantas cenas, sem querer,
Apenas escutamos nossa voz...
Quem tenta emoldurar o próprio ser,
Desaba e nunca atinge mar e foz.
Cortejos embalaram nossos dias,
Um jogo sem derrota e sem vitória.
Desperdiçamos belas melodias,
Jogamos, sem piedade, nossa história.
Mas saiba que este amor mesmo que assim,
Ainda me fascina. Vem p’ra mim!
6
As velhas galas passam nem se nota,
Recendem tumulares excrescências...
O tempo ministrou já nova cota,
As velhas gralhas pedem continências
De sorrisos irônicos se lota
A nova realidade e penitências...
As velhas galas mortas nas compotas
Esquecidas num canto impaciências...
As podres velhas gralhas embalsamo,
Quatrocentonas vivem do passado.
Com risos de ironia, nem reclamo...
As ricas podres gralhas deste lado,
Grande taxidermista vou e chamo,
O rosto enfim será mumificado!
7
Às vezes a cangalha tanto pesa
Que o corpo macilento não agüenta;
A marcha quase pára e vai tão lenta
Que a perna machucada, fica tesa.
Assim amor me fez qual fosse presa,
Da fúria do querer que, violenta,
Viola os meus sentidos, me atormenta,
Não deixa mais restar sequer defesa.
Mas gosto do chicote, deste açoite
Que estala em minhas costas, corta fundo.
Carrego se preciso ao fim do mundo,
E corro, sem destino, dia e noite.
Amor já preparou doce tocaia
No vento que levanta a tua saia...
8
Às vezes a tristeza se apodera
De quem por tantos dias- só- vagara,
Em garras penetrantes, leda fera,
Tornando a nossa estrada mais amara.
Da dor que esta agonia sempre gera
Renasce uma esperança nobre e cara,
Vigor do florescer na primavera,
Aos poucos o caminho enfim se ampara
Uma esperança em novo canto traça,
Deixando para trás qualquer desgraça
Apenas num apoio que nos dá,
A sorte se refaz em cada passo,
E a dor cedendo à glória todo espaço
Permite-nos prever que brilhará...
9
Às vezes acontece de eu querer
Um beijo delicado que não vem,
Cansado, nesta vida, de perder,
Não vejo no horizonte mais ninguém;
Meu verso não te encontra, bel prazer,
E vivo em solidão, buscando alguém.
Olhando para frente, para além,
Encontro o meu passado. Perco o trem...
Porém existe sempre uma esperança
Guardada na boceta de Pandora.
Restando tão somente uma lembrança
De um tempo que se foi sem ter nem hora.
Vencido pelo amor sem confiança
Minha alma solitária sempre chora...
10
Às vezes acredito neste amor
Que é feito de vontades encobertas...
Em outras teu sorriso encantador
Se esconde por debaixo das cobertas.
As portas da ilusão vão sem calor,
Mesmo que em outras vezes tão abertas...
Tu falas que me adoras, bem o creio,
Mas teme nosso caso, isso é verdade.
A mão quando de leve toca o seio,
Tu foges como fosse crueldade
Carinho que contigo, sempre anseio,
Amor! Vamos viver felicidade!
Te quero bem depressa aqui comigo,
Juro, não correrás nenhum perigo...
11
Às vezes agradeço ao Nosso Deus
Por tudo que me deu em boa sorte.
Os olhos tão bonitos, faróis teus,
Que traçam os meus rumos, sina e norte.
O gosto desta boca sequiosa
Que traga minha boca em louco beijo.
A pele delicada e tão cheirosa,
Na tradução perfeita do desejo.
Joelhos delicados e bem feitos,
Em pernas longilíneas exatas,
Os seios alvos, duros, e perfeitos,
Quadris que movimentam erupção
Os braços que me tomam enquanto atas
Os meus formando quase uma oração...
12
Às vezes caminhando contra o vento,
Sentindo este bafejo delicado,
Entrego-me ao mais claro pensamento
E vejo-te num átimo ao meu lado.
Esquecer o que vivemos; tolo, eu tento,
Mas sinto ser inútil, és o meu Fado,
E volto a te trazer neste momento
Tesouro dentro da alma bem guardado.
Tua fragrância está sempre comigo,
E a cada novo dia, eu te persigo,
Tornando esta distância bem menor.
Tu és toda a razão destes meus versos,
Se um dia tive os passos tão dispersos,
O mundo que me trazes é maior...
13
Às vezes desfilando em solidão,
Ausente de esperanças, alegrias,
Sem ter ao menos brilho ou compaixão,
Entregue às mais temíveis ventanias.
Jogado a mais completa escuridão,
Apenas os chacais nas cercanias
Minha carne em total putrefação.
Em noites sem igual, tristes e frias.
Depois destes infaustos, novo sonho
Alvorecendo em ti, mulher amada.
Destino nos teus braços, quando ponho
Percebo ser possível a alvorada.
Meu último respiro de esperança
No amor que me permite ser criança...
14
Às vezes é cruel, totalitária,
A mão que nos permite caminhar.
Por vezes nossa amiga ou adversária
Estende enquanto nega este luar.
Aragens tão diversas e complexas,
Extremas emoções se perfilando.
Em formas muitas vezes desconexas
Ódio e paixão um fogo ardente e brando.
Altar vezes profano, outras sagrado,
Espúrias indigências, mil tesouros,
Desértica presença em rico brado,
Efêmeros momentos duradouros.
No sim que se redoma em negação
Antíteses expressam a paixão...
15
Às vezes é difícil caminhar
Em meio a tantas pedras, urze, espinhos.
Vontade de ter asas pra chegar
Depressa e ter em troca os teus carinhos.
Porém quando me perco em alto mar,
Os dias que virão, serão sozinhos,
Quem dera se eu soubesse navegar
Teria com certeza outros caminhos.
Mas saiba que te quero e nunca nego
O quanto és importante para mim.
Por mais que eu te pareça atroz ou cego
Presença que enaltece o meu jardim
Da rosa que perfuma, ternamente,
Embelezando assim, a toda gente...
16
Às vezes é difícil contemplá-la
Guardada sob as roupas de metal,
Andando em desafio pela sala
Forjando alegoria tão normal.
Usando do sorriso feito em gala,
Devasta os suprimentos do bornal.
Os sonhos; deposita numa vala,
Solene, sangra as plantas do quintal.
Sem ter a fantasia que me enfade,
Fazendo do viver solenidade
Estende sobre a casa, emaranhados.
Assim nem bem se esgueira dá seu bote
Usando da ilusão como mascote
Os dentes da canalha arreganhados...
17
Às vezes é melhor eu me isolar,
Vestir os meus remendos e seguir
Buscando o que talvez possa inda vir
Depois de ter matado sol e mar.
A podre fantasia, é bom falar,
Não pode o caminhar solto, impedir,
E quando sinto a dor me consumir,
O tempo passa sempre devagar.
Eu sei que, no vazio, um bom alento,
Teimoso e muitas vezes intrujão,
Vomito algumas ovas de esturjão
Enquanto deste arenque, me alimento.
Os vários horizontes não concêntricos
Expressam versos tolos e egocêntricos.
18
Às vezes é preciso navegar.
Por mais que tenhas medo, não importa,
O vento vai batendo em tua porta,
Num convite difícil de negar.
O coração se expondo, enfrenta o mar,
E noutro coração quando se aporta
A solução por mais que seja torta:
Às ondas sem remédio, se entregar...
E quando não puderes mais com ele,
O amor vai penetrando pela pele
Adentra o corpo inteiro e nos domina.
Vencer este fantasma, quem me dera!
Sentindo estas mordidas da pantera,
A liberdade aos poucos já termina...
19
Às vezes é preciso nervos de aço
Para enfrentar assim, a traição...
Parece que perdemos um pedaço
Daquilo que se fora coração...
Sentindo que me negas teu abraço
Depois de termos tido tal paixão
Percebo que da vida, em meu cansaço,
Somente sobrará um triste não...
Agora que te vejo pelas ruas
Andando bar em bar lembro meu bem;
Deitada em minha cama, carnes nuas...
E sinto uma vontade de morrer,
Talvez assim quem sabe, poder ter
A paz que procurei e nunca vem...
Feito baseado em Nervos de Aço Lupiscínio Rodrigues
20
Às vezes em que tento disfarçar
O quanto a gente pode e não se deu
Metade do que existe por buscar
Esconde o que em verdade se esqueceu.
Afago os teus cabelos, devagar
Vergastas nos cortando, verso ateu.
Abençoado o sonho a se tentar
No encanto que foi teu, mas nunca meu.
Metades incompletas, mas perfeitas.
Agônica esperança não descansa
Enquanto com loucuras já deleitas
E fazes dos tropeços guia e meta.
Quem dera se vivesse em temperança
Talvez inda tentasse ser poeta...
21
Às vezes em silêncio, solto um basta!
A veste que me cabe se rasgou.
Não vejo e nem sossego, nego casta
O traste que me deste desbotou,
O quanto não te engulo, coagula
Sangrenta madrugada que se foi.
Olhar que me desperta certa gula
Vontade de beber, comer um boi.
Afoito faço em ti minha senzala
A bala que se perde assim me encontra.
Amor sem mais sentido, quando fala,
Decerto quase sempre vem do contra.
Aprontas prontamente tuas manhas,
Não luto, estou de luto, sempre ganhas...
22
Às vezes escorrego pelo esgoto
Da porta escancarada do teu riso.
Um sonho mais amigo, estendo roto,
Em ratos e baratas, sempre piso.
Da perna que se foi, lateja o coto,
Meu passo, sendo assim, segue impreciso...
Quem dera me fartar, tanto comer,
Do que foi reservado para mim.
Amiga, não consigo reverter
Nem mais seguir em frente; sendo assim
Não sinto nem vontade de querer,
Apenas vou moendo até o fim...
Alegro-me com pratos e talheres,
Quiçá neste banquete, mil mulheres!
23
Às vezes eu me pego a procurar
As marcas deste amor que ontem fizemos,
Vasculho em minha cama devagar,
E vejo em quantos mares nos perdemos.
Teu corpo junto ao meu, insensatez,
Resquícios de prazeres e explosões,
Nas lembranças do amor que a gente fez,
Por sobre este colchão, revelações.
O gozo interminável, um absinto,
Num vício que me traz sonhos, torpor,
Um dia mais incrível que pressinto
Depois de mergulhar a noite inteira
Nos braços e nas sanhas deste amor,
Perdendo os meus limites, sem fronteira...
24
Às vezes eu me sinto feito um traste,
Em outras revigoro o pensamento,
Jogado em algum canto num momento,
Perversas sensações tu me locaste.
De ti, eu sinto, queres que me afaste
Fingindo transtornada, mas agüento
Toda a profusão do imenso vento
Que neste copo d’água provocaste.
Farsante e muitas vezes caprichosa
Espinho disfarçado em mansa rosa,
Com tantas ironias, mostra e tem
Guardadas; num recanto, as novidades
Trazendo com terríveis crueldades
Notícias tão diversas do meu bem.
25
Às vezes eu me sinto tão cansado,
Meus pés já não conseguem prosseguir
Na busca deste sonho que há de vir
Mesmo que em fantasia, disfarçado.
Talvez felicidade seja um Fado,
Guardado nas entranhas do porvir,
E não tendo ninguém para impedir
Colhido num pomar anunciado...
Percebo meus engodos e naufrágios,
A vida vem cobrando em altos ágios
Esta moeda vã, falsificada...
Mas quando vejo além do firmamento
O encanto do Senhor, encontro o alento
E tenho a minha força renovada...
26
Às vezes eu pareço tão disperso
Ao sabor dos meus próprios pensamentos,
Buscando em nosso amor, os incrementos
Nos quais eu quero estar entregue, imerso.
Se o vento que nos toca é tão diverso
Daquele que dizia de tormentos
E agora nos atingem bem mais lentos,
Refletirá decerto em cada verso.
Embora te pareça ser constante,
O coração mudando a cada instante
Ao mesmo tempo audaz e temeroso.
Mutante, vou seguindo a minha vida,
Na porta de uma entrada eis a saída,
O nosso amor, porém: maravilhoso!
27
Às vezes eu pergunto se há um Deus,
Principalmente quando a vida é boa,
Na voz que a cada instante longe ecoa,
Vencendo em calmaria tantos breus.
E quando a noite traz um duro adeus,
Invento uma jangada, uma canoa,
E o barco ressuscita a antiga proa,
Entendo quão são fúteis os ateus...
Tua presença amiga tem poder
De transformar a sorte num minuto,
Pois quando com fantasmas teimo e luto,
Teu braço me amparando, posso crer
Que existe realmente um ser Divino,
E o medo da derrota, em paz, domino...
28
Às vezes eu pergunto, sonhador;
Por que esta vida, às vezes nos maltrata.
A mão que me amparando, me arrebata
Apóia com tal força, em esplendor
E mostra a cada passo o seu valor,
Ajuda a penetrar na densa mata
Resguarda com carinho e com ardor,
Protege contras as quedas e assim retrata
O amor que, verdadeiro se faz manso
Transforma uma tempesta num remanso
E nos deixa fluir em mar sereno.
Lenitivo pra dor que a vida traga,
O braço que nos cerca e nos afaga,
Promessa de um futuro mais ameno...
29
Às vezes imagino um algo mais
Que mostre que valeu amar-te tanto.
Flutuo nos teus olhos sensuais
E vago sem paragem, me agiganto,
Inebriante sonho tanto quanto
O tempo não desaba seus bornais,
Agarro assim nas fímbrias de teu manto
Alçando as cordilheiras siderais.
À flor da pele sinto o vento frágil,
Na proteção cabal deste naufrágio
Sufrágios que em minha alma concebi.
O amor sendo veloz, feroz, forte ágil
Sem ter a fantasia que inda traje-o
Mergulha insanamente e chega a ti...
30
Às vezes imagino-me a serpente
Que enlaça tuas pernas, gozo e medo,
Em meio a tuas coxas eu me enredo
E adentro teu desejo mais ardente.
Sentindo esta umidade, doce e quente,
Aos teus requebros loucos, vou e cedo
Deitando desde sempre, e mesmo cedo,
Bebendo a flamejante e enlanguescente
Lava que tu derramas: erupção.
Leves ondulações deste teu mar
Que num momento vibram em procelas,
Serpente que ao entrar no furacão
Pressente todo o lago se encharcar
Nas águas cristalinas que revelas...
31
Às vezes mal disfarço o sofrimento
Que trago em minha vida, solidão.
No riso em que proponho e me contento,
As marcas desta dor, do eterno não.
No canto em que vislumbro este lamento,
Resquícios do que fora uma paixão.
Meu mundo se perdendo em tal tormento,
O sonho que já tive morre vão...
Mas finjo com meus versos otimistas,
Contenho minhas lágrimas, sorrio.
Tentando não deixar sequer as pistas
Por onde encontrarás toda a verdade,
Se trago no meu peito imenso frio,
32
Às vezes me afiguras como santa
Em outras tão somente uma heresia
Cavalgo noite afora encaro o dia
E o riso da morena, sacripanta.
Mal vejo os teus sinais, minha alma canta,
Amor não pode ser qual loteria
Vencendo os meus temores já vicia
Enquanto me deslumbra, logo espanta.
Nas tantas dissonâncias, o que faço?
Meu coração não passa de um devasso,
Mas traço outro destino. Quem me dera...
Se a boca que gargalha mostra os dentes,
Os braços tantas vezes envolventes
Escondem tuas garras, fria fera...
33
Às vezes me confundo, e sigo em vão,
Errante pelas noites tão vazias,
Enquanto ao debulhar meu coração
Eu vejo as mais sublimes fantasias.
Amor além da chuva de verão
Rondando cada passo, traz magias
Às quais com teu poder de sedução
Entrego-me do jeito que querias.
Flamejas em vontades e delícias,
Na voz doce murmúrio, diz malícias
Atiças a libido de quem amas.
Num frêmito, o delírio de ser teu,
Meu rio no teu mar já se verteu
Ardendo em fogo intenso, claras chamas...
34
Às vezes me percebo distraído
Olhando para o mar, olhar distante.
A vida retomando o seu sentido,
Beleza se tornando deslumbrante.
A música que toca em meus ouvidos,
Parece melodia divinal.
Realçam-se já todos meus sentidos
O vento assobiando, sensual.
Descubro um bom perfume em cada flor,
Sorrio dos espinhos e das urzes.
O mundo me parece sedutor,
São leves meus labores, minhas cruzes.
E tudo comunica-me, um recado,
Amigo, tu estás apaixonado!
35
Às vezes me pergunto como pode
A vida te levar para outros rumos,
A dor que no meu peito, cedo explode,
Roubando da alegria tantos sumos...
Meu verso vai morrendo nesta ausência,
Procuro te encontrar... mas nada vejo.
Esperança; sinônimo paciência,
Mas nada impedirá que este desejo
De vida que levaste já contigo,
Aos poucos se acabando, enfim me mate.
Mas deixe... Minha amada já nem ligo...
Deixe que a saudade me maltrate,
E saiba que eu te adoro... assim... demais...
Mesmo que não te veja nunca mais....
36
Às vezes me pergunto inutilmente
Por que deixaste a porta escancarada.
Errando tanta vez, fui inclemente,
Querida eu não mereço quase nada.
Fui fútil, fui audaz e feramente
Tornei a tua vida desgraçada,
Minha alma sem juízo matou cada
Momento de alegria, duramente.
Pedir-te mil perdões, é muito pouco,
Escute este lamento deste louco
Que tendo tanta coisa nada via
Senão os vis prazeres desta vida.
Distante da esperada, fria ermida
Tua alma, a porta aberta, propicia...
37
Às vezes me pergunto se estou louco
Ouvindo tais histórias que me dizes.
Apenas mal curadas cicatrizes,
O que resta, querida, é muito pouco.
Em meio a tantas quedas e deslizes
Eu te deixo falar. Faço de mouco,
E o peito desmanchando, sem reboco,
Percebe em tua voz, simples atrizes.
Embora eu na verdade em nada creia
Sorrio de teus casos, destas farsas
Que são quase que um vício, minha amiga.
A mente por espaços já passeia
Em frases tão diversas, pois esparsas,
Unidas, no final, em frágil liga...
38
Às vezes me procuro, mas não vejo
Sequer um rastro meu pelas estrelas.
Voando em tuas asas, meu desejo,
É sempre poder ter e percebê-las,
Luzes de teus olhos que me guiam,
Sendo sempre o meu rumo já traçado
Por certo os meus sonhos se desfiam
Deitados calmamente do teu lado...
Mulher estrela vésper enlanguescente,
Te quero tão profusa e mais intensa,
Meu mundo se perdendo, de repente,
Buscando nos teus seios, recompensa.
Encontro-me deveras sempre em ti,
No mar de tanto amor, eu me perdi...
39
Às vezes nada vendo não contenho
O risco de saber que num mergulho,
Por mais que não traduza algum empenho
No fundo deste mar, sói pedregulho.
Criado entre as entranhas de um engenho,
Depois da tempestade, sou barulho,
Por isso é dos ermos de onde eu venho
Das coxas e coxias, eu me orgulho.
Corcel desenfreado; sou arisco.
Nas bocas femininas, eu petisco
E arrisco mesmo um passo de outra dança;
Melando a minha calça uma vontade
Roçando a mão em plena liberdade,
Enquanto o xote toca e a noite avança...
40
Às vezes não consigo te dizer
O quanto meu amor é importante.
Tu pensas que me esqueço. Pode crer,
Não deixo de pensar um só instante
No enorme amor que sempre quero ter
Vivendo do teu lado, teu amante,
Levando nossa vida com prazer
De um jeito mais sutil e mais constante.
Não pense que por isso não desejo
Eu te amo em verdadeiro sentimento.
E cada vez que venho dar um beijo
Meu coração dispara. Sou feliz
Por ter com toda calma num momento
Amor que já sonhei e sempre quis...
41
Às vezes não consigo traduzir
O que deveras sinto por você,
O amor que a gente quer sem sucumbir
Quem sabe procurar depressa vê
Assim vou garantindo o meu porvir,
No quanto é necessário que se crê
No bem que é tão gostoso repartir
Sem ter que perguntar onde e cadê.
Agindo deste jeito, não tem erro,
O amor não necessita grito ou berro,
As mãos falam melhor, isso eu garanto.
Do seu corpo, meu porto predileto,
Conheço sem ter dúvida, alfabeto,
Em braile, noite afora, e sem quebranto...
42
Às vezes não entendo o bem do amor
Que tanto nos maltrata e nos redime,
Por mais que a solidão, no fundo, estime,
Sou quase um cão vadio, sem valor.
Que ainda crê na força e no calor
Que emana de uma esteira feita em vime,
Por mais que com a dor, no fundo rime,
Eu creio neste pulso salvador
Que é feito da magia de sonhar,
E mesmo imaginar que noutro espaço
Ainda possa haver estreito laço
Em forma de carinho. Mas negar
A busca de um afeto, uma clemência
Talvez seja omitir própria existência...
43
Às vezes necessito de um carinho
Da moça que se fez enamorada,
Chegando no teu peito de mansinho,
Assim como quem quer o quase nada,
Encontro no teu colo o meu caminho,
Deixando esta princesa desnudada,
Prazer que tanto quero se adivinha
Satisfação imensa anunciada.
Roçando a tua pele bem morena,
Lambendo feito um cão vou esfaimado,
Até que o leite seja derramado.
Tu não reclamas deste desperdício,
A gente faz amor, a noite acena
Fazendo deste jogo o nosso vício...
44
Às vezes necessito
Manter olhos fechados,
Negando estar aflito,
Ao ver passos errados,
Por isso eu acredito
Que a vida traz os fados
Retendo o nosso grito
Engodos demarcados...
Numa amizade, às vezes
Silêncio é tão bem vindo,
Assim, amigo há meses,
Ficando só te ouvindo,
Ao ver os teus reveses,
Sozinho, a dor, curtindo...
45
Às vezes no caminho deparamos
Com pedras, com espinhos e problemas,
Vencer e convencer são nossos lemas,
Amiga, frutifique, estenda os ramos.
Depois das duras pedras, encontramos
A sorte se mostrando em diademas,
Eu peço com carinho que não temas
Os dias doloridos, pois sonhamos.
Perceba que o valor de uma amizade
É sempre força plena em nossa vida.
Não vejo, nem procuro outra saída.
Ali se encontra o brilho da verdade.
Receba meu afeto em cada verso,
Contigo o meu amor, jamais disperso...
47
Às vezes nos perdemos, marinheiros
Depois de uma jornada procelar.
Os olhos da pantera, carniceiros,
Chegando de mansinho a devorar
Os sonhos que tivemos. Prisioneiros
Do amor que não se cansa de sangrar,
A solidão buscando o seu lugar,
Apodrecendo em gozos derradeiros.
Na procissão de abutres e de hienas
Jogados aos leões, tristes arenas,
Sabemos do final de nosso amor.
Porém o pensamento não se doma,
E a fantasia então, voraz se assoma,
Num brado que se faz libertador!
48
Às vezes parecendo o pensamento
Voar além das margens de costume,
Ferindo a claridade, cessa o lume,
Refaz a dor insana de um tormento.
Acaso ao desvendar o sofrimento,
Na sede de viver que se consume,
Além de todo encanto que presume,
Nos braços da saudade toma assento.
Bem mais do que pensara, até pudera,
Reparo o pensamento em vão desejo.
Sentindo dos grilhões duro latejo
Acorrentando um sonho, acalmo a fera,
Além do que pudera e com ternura,
Alvíssaras promessas de ventura...
49
Às vezes penso que um dia,
Gostaste de mim, querida.
Eu não sei se é fantasia
Dessa minha alma, iludida...
Eu só sei que te queria...
Eu daria minha vida...
Cada vez mais, todo dia.
Minha voz entorpecida
Gritava, ao mundo esse amor.
Mas eu sei que tudo passa...
Pouca coisa tem valor...
Agora, nada restou...
Senão cigarro e fumaça...
Mostrando bem o que sou.
50
Às vezes por caminho imaginário
Envolto no poder da sedução
Amor vai me tornando um visionário
Refém de uma divina sensação
Prazer que desde quando embrionário
Mostrara ser completa solução
Embora tanta vez, sei que não deva
Ao perceber os raios tão sutis
Permito- me seguir em sua leva,
Volvendo a ter os sonhos juvenis
Apascentando o peito feito em treva,
Sabendo ter amor, sou mais feliz...
Imagens maviosas dos risonhos
Momentos que eu vivi, eternos sonhos...
51
Às vezes quando a vida nos arranha
Ensina-nos bem mais que quando beija.
No medo de perder muito se ganha,
Bem mais do que se pensa e se deseja.
Depois do vale sempre há uma montanha
E dela um horizonte em que se veja
Beleza sem igual, força tamanha,
Que a vida sem amor já se fraqueja.
Por isso, minha amada, me perdoe
Se às vezes não escuto tua voz
Por mais que dentro em mim, ela se ecoe.
Tu me maltratas tanto vez em quando,
Cravando bem profundo e tão atroz,
Por isso me defendo, magoando...
52
Às vezes quando penso em nosso caso
Não sei se tu me queres ou se me amas
Depende do momento... Ou bem me caso
Ou logo vou morrer se não me chamas.
Nos dias mais tristonhos, vem ocaso,
Depois num mar ardente, nascem chamas
Colando o já quebrado e torto vaso.
Mas logo, novamente, tu reclamas...
Assim tem horas que parecem um concerto,
Na bela sinfonia da paixão.
Em outras nosso amor pede conserto,
No dar e no perder, sou só cessão.
Amor se dividiu... Cada secção
Traduz em novo dia, outra sessão...
53
Às vezes quero crer ser impossível
Pensar em outro rumo senão este.
O tempo passa e vou ao leste
Queimando o coração feito fusível
Sabendo o que não sei sendo plausível
Os olhos enveneno e bebo a peste
De tudo o que negaste e não fizeste
O parto se tornando em outro nível.
Peneiro os meus recados, nada vejo
Senão os mesmos erros do desejo
Jogado pelos cantos desta casa.
Sorrindo em ironia, lado a lado,
Deixando o que vivemos, vou cansado
Até felicidade já se atrasa.
54
Às vezes quero crer, mas não consigo
como é possível ver tanta besteira
para quem ignorância é bom abrigo,
no português somente dá rasteira.
a ortografia traz sempre perigo
boçalidade é coisa costumeira,
se eu falo nos meus versos de um amigo,
ou uso o puro amor como bandeira
problema, me desculpe sendo meu
não deve incomodar profissionais
escrita com certeza já morreu
talvez não ressuscite, assim, jamais.
marcada pelos vícios de linguagem,
a poesia vira uma bobagem...
55
Às vezes se balança ou mesmo cai
A gente finge ver de um outro jeito.
A tudo que, em verdade, estou sujeito
Apenas poesia não me trai
A sorte como fosse algum bonsai
Formato diminuto, nega o feito
Enquanto uma outra história eu não aceito
O nervo, sem resposta, não contrai.
Contrariando os versos que eu escrevo,
Pesando se eu desejo, mas não devo,
Levanto a minha voz inutilmente.
Se amor é feito em puro sentimento,
Espero que me aguarde e num momento
O doce que era doce salga a gente...
56
Às vezes sei que pode parecer
Que tudo já perdeu qualquer sentido,
O amor não se condena ao triste olvido,
E sabe a cada dia renascer.
Assídua sensação que diz prazer
Não pode muitas vezes, eu duvido
Falar de um pensamento dividido,
Que sabe e quer em sonhos se verter.
Avesso aos temporais, alguma vez,
Andei tão solitário. Estupidez!
Eu sinto o teu perfume ainda aqui
E mesmo que a distância ainda amargue
A voz quando te escuta sempre embargue
Demonstra o quanto eu gosto, amor, de ti!
57
Às vezes sou velhaco, até gaiato,
Mas marco cada verso com sinais
Que possam trafegar por abissais
Momentos que deságüem num regato.
Comendo cada resto deste prato,
Os olhos que me acercam, de animais,
Enquanto em outros braços trafegais,
Teus signos e vaidades desacato.
Depreciando o mundo que me dás,
Revivo cada parte deste todo,
Mergulho novamente no teu lodo
E finjo que este amor me satisfaz.
Na cama ao revolver lençóis e fronhas
Espalhas tuas marcas vãs, medonhas...
58
Às vezes também sou irracional
E arrasto meus defeitos pela casa.
Um verso que se mostra tão boçal
Negando ao passageiro vôo e asa.
Vou farto do mergulho que abissal,
De tanto que foi dado não me apraza.
Caminho pelas ruas, animal
Que morre num segundo, em chama e brasa.
Passado sem resquícios nem saudades,
Mortalha da ilusão que não mais trago.
A morte anunciando o seu afago
Avançando em intrépida vertente.
Eu deixo tão somente as amizades,
Embora tantas vezes mais descrente...
59
Às vezes tão iguais outras nem tanto
Soberba num boteco, uma aguardente
Trazendo de repente algum encanto
Retrato se mostrando diferente
Daquilo que pensamos e no entanto
Caminho que seguimos; congruente
Ao mesmo tempo ceva e cega o pranto
Na senda muita vez inconseqüente.
Remando contra tudo, junto ou sós
Retiro da camisa, velhos pós
E poso do teu lado. Desiguais.
Riscando o paletó, de chita ou linho,
A cada novo passo, em desalinho
Fazemos das paixões; atemporais....
60
Às vezes te pareço mais descrente,
Mas saiba que de ti não desafino;
Apenas talvez seja transparente
O canto em que; desnudo, eu descortino
A fonte das mentiras, inclemente,
Rasgando o manto sacro e tão divino.
A mão deste facínora é potente,
Matando o Bom Judeu, pobre menino.
A Via percorrida, dolorosa
Apenas na verdade, o Seu começo,
Amor prostituído, um adereço
Que deixa a vida ser tão mais penosa.
Pois quem disseminou amor amigo
Virou deus inclemente, o do castigo
61
Às vezes te procuro e nada tendo
Segredos de um desejo mal curtido,
Meu verso; mal concebo, e não desvendo,
Sabores que legaste sem libido.
Aonde encontrarei felicidade?
Estalagens diversas, ritos vários.
Amores escancaram realidade
Carinhos são longínquos relicários,
As arcas; pós dilúvio, sem montanhas,
Naufrágios movediços no deserto.
Enquanto a poesia em luz apanhas
Eu vejo cada sombra aqui por perto
E teimo em vasculhar ternos e bolsos,
A casa se perdendo sem embolsos...
62
Às vezes te procuro, mas não posso
Falar do meu amor que é tanto, tanto.
Um sentimento enorme pede endosso,
Mudando a minha sina, busco o canto
De quem, ao conceber, sei que remoço,
Secando totalmente o triste pranto
Mergulho e vou ao fundo deste poço
Tocado pelo sonho em raro encanto.
Mil vezes já pudesses ser só minha,
Revezes deixaria para trás
O canto em alegria se avizinha
No amor que a vida trama e sempre traz
Singrando com ternura, verdes mares,
Tornando o corpo belo, meus altares.
63
Às vezes um temor ainda teima
Fazendo estardalhaço do seu jeito.
Enquanto essa saudade volta e queima
Matreiro, no meu canto cismo e espreito.
Frases feitas não servem para nada,
Eu quero o teu momento que não vem,
A boca sem vontade, escancarada
Procura novamente por alguém...
Meu último suspiro foi à toa,
Agora não precisa mais voltar.
Uma esperança tola inda revoa,
Sem trunfos quem sou eu para jogar?
Dos pódios e troféus, nem notícia.
Amor é uma palavra vã, fictícia...
64
Às vezes vida passa e nada sobra
Senão uma saudade matadeira
Sentado na calçada, na cadeira
O vento da lembrança já me cobra
O canto que no peito inda soçobra
Fazendo de uma luz alvissareira
Esta marca que levo a vida inteira
E tudo num momento se recobra...
Sobrando pelo menos amizade
Embora nosso amor morresse cedo,
O tempo que vivemos liberdade
Foi bom, porém passou restando então
O mote principal de um novo enredo:
Uma amizade cheia de paixão....
65
As vísceras expostas sigo andando
Por tantas cajadadas já sofridas.
Aos poucos minha pele desnudando
Demonstram cicatrizes e feridas...
Meu canto em desalento sem potência
Desmaia neste mar ensolarado.
Não peço paciência nem clemência
Vivendo quase sempre assim de lado.
Ser gauche meu destino e minha sorte.
Morrendo sem saber se tenho paz.
Amar tão simplesmente rumo e norte,
Talvez de tanto amor sou incapaz.
O verso que mais canto, de tristeza
Que sangra deste amor, fina beleza...
66
Ascendo ao infinito no perfume
De uma dama da noite em floração.
Por mais que à solidão eu me acostume,
O aroma invade a noite e o coração...
A lua desmaiando sobre o cume
Do monte tão distante, num clarão,
Das culpas e dos erros não exume
Quem segue sempre em busca do perdão...
Partiste num cometa e não deixaste
Sequer algum recado num bilhete,
E o sonho que deveras destroçaste
Agora, um pesadelo e nada mais.
Mas ouço, da esperança este lembrete,
Na forma de perfumes magistrais...
67
Ascendo ao infinito por teus braços
E faço desta senda a mais florida,
Minha alma vagarosa e distraída
Não pode perceber suaves passos,
Porém ao desvendar enigmas, traços
De um tempo mais feliz de minha vida,
Jamais eu pensaria em despedida,
Não quero os meus desejos tão escassos,
Apeio o meu cavalo e me liberto,
Galopo neste rumo, o peito aberto,
Guiado pela luz de teu olhar.
Será que alguém nos pode censurar?
Se eu vejo o meu destino junto a teu,
Meu mundo nos teus laços se prendeu...
68
Asceta que concerta sem ter nexo
Acerta no compasso, mas renega
O quanto tanto encanto de uma entrega
Fazendo desta vida um ar complexo.
Quem anda já desanda sem anexo
Varando a madrugada, segue cega
Aguando o quase nada, se desprega
E prega a solidão, ausente sexo.
O beco sem ter eco nem saída
Fechado pra balanço lança a dor.
Recusa faz confusa a própria vida
Propaga a paga ausente, mente a rosa.
Fugindo do teimoso lançador
Sem seta perde a meta, caprichosa...
69
Aspectos tão diversos que pululam
Nos versos de quem sonha ser feliz,
Depois de todo sonho em que se diz
Os medos, fantasias se vinculam
Ao canto mais distante e pede bis
Nas bocas entreabertas que se osculam,
Nas horas que, passando não regulam
O coração teimoso, um aprendiz.
Orgíacos momentos vão distantes,
Enlanguescente; deitas teu prazer
Causando em minha vida tal desordem
Permitem que meus lábios quais bacantes
Teu corpo sem fronteiras percorrer
E os dentes mais famintos que me mordem...
70
Assíduas ilusões não mais me deixam
E grudam no meu peito. Carrapato.
Enquanto os dias seguem se desleixam
Nas alças da esperança, o sonho eu ato.
As bênçãos que buscara foram falsas
Amar e ser feliz, pura besteira.
Do rio em que navego, perco as balsas
E morro sem juízo e sem bandeira.
Cascatas que tentara superar
Viram redemoinhos num instante
Quem dera se pudesse ver o mar,
Com força sem igual e fascinante.
Mas morro bem distante desta areia,
Meu passo, a solidão, sabe e norteia...
71
Assíduos mergulhos no vazio
Trouxeram ao poeta velhos temas
Falando da emoção sigo vadio
Atado aos dissabores, como algemas.
Deixando os teus recados na gaveta
A marca da pantera faz seu lenho.
Nas velhas alquimias de um profeta
O gozo que em verdade não mais tenho.
Roubando a cena surge esta pantera,
Domina quadro a quadro com magia.
Abrindo no meu peito esta cratera
Que a cada novo gozo mais urgia.
A vida em cambalhotas diz de ti,
Estrela que em loucuras percebi...
72
Assim caminha a terna madrugada
Até desembarcar no claro dia.
Deitando meu prazer em tua estrada
Entregue aos braços mansos da alegria.
Por mais que a vida venha desgrenhada,
Renasce no poder da fantasia,
A cada novo sonho se recria
Uma manhã sublime, iluminada.
Assaz intempestivos pensamentos
Moldando uma ilusão que não se aplica,
Nem mesmo uma esperança justifica;
A vida é feita em risos e lamentos.
Ungüentos aguardados? Pois, quiçá.
Nem sempre o redentor sol brilhará...
73
Assim como este canto redentor
Que faz de nossos dias novo sonho,
Vibrando no meu peito tanto amor
Além de todo mar que te proponho,
Sorriso tão gostoso e sedutor
De um mundo mais feliz e mais risonho;
Sentindo o teu carinho apaixonante,
Sentindo tua boca perfumada,
Não deixo de te amar a cada instante,
Tu és em minha vida uma alvorada
Que traz em forte sol tão radiante
A vida que eu queria, minha amada...
Contigo, nova vida se apresenta
No amor que a cada dia mais aumenta...
74
Assim como os cometas libertários,
Sem dono, sem juízo, sem paragem.
Os olhos que se foram solitários
Embrenham no passado essa viagem.
Vazios corações celibatários
Não sabem, pensam ser qualquer miragem
Perdendo dos seus rios, estuários
Esquecem de beber, do amor a aragem.
Destinos vãos, incertos, solidão...
O quanto tive e nada percebera,
Aos poucos me transformo numa fera
Clausura penso ser a solução.
Mas tendo tua mão sobre o meu rosto,
O peito se tornando, aberto, exposto...
75
Assim como tu queres meu amor
Também desejo imenso; por ti, tenho.
Deitando em tua boca um beija flor
Com sede que querer, amada eu venho.
Estrelas que roubamos lá do céu
Enfeitam nossa cama, salpicadas.
Galopas nosso amor, louco corcel
Que vaga nas cobertas cravejadas
De raios e de brilhos sem igual.
Porém com forte lume, qual um sol,
Desfilas maravilhas, sensual.
E emanas tanta chama, meu farol.
A madrugada chega e o dia vem,
Amanhecendo intenso o nosso bem...
76
Assim como um guerreiro, lança em riste,
Adentro teus castelos sem temor.
Acordo teu desejo antes tão triste
Mergulho tão insano e sem pudor.
Recebes como um vento de esperança
Salvando-te das dores mais antigas,
Princesa que sonhara, uma criança,
Agora nos teus braços já me abrigas
Assim como um guerreiro que sonhavas
Espero que tu queiras sempre e tanto.
Acalma-te com ondas fortes, bravas,
E quer sempre te ter, meu puro encanto.
Eu quero reviver conto de fadas,
E quero que também meu peito invadas...
77
Assim quando é chamado para a luta
Um instrumento mostra seu valor,
Deitando em minha cama, santa e puta
Não deixo de provar com muito ardor.
Avanço soberano sobre a gruta
Tomando um bom tesouro tentador.
No silêncio da noite nada escuta
Senão um eco doce e gemedor.
Vagando por entranha mais profunda,
Eu faço com carinho, o que quiser,
Decoro cada mapa da mulher
Em seios, coxas, pernas, bocas, bunda.
Depois mais dedicado, o que vier,
Meu instrumento cego, logo afunda...
78
Assim que o sol mostrou a sua cara
Eu saí nas andanças costumeiras;
Quem anda no sertão e nunca pára
Repara nas estrelas companheiras.
Um coração vadio já dispara
Ao ver essas morenas costumeiras;
Cabelos enfeitados pela flor
Numa brejeirice sem tamanho,
Depois... vai reparar preso no amor,
Num ritual divino e nada estranho
Do jogo que se faz mais sedutor
Aquele em que não perco e jamais ganho.
Depois de tantas léguas tão sozinho,
Voltando, já vem três para o meu ninho..
79
Assim será contigo, me prometas,
Um dia tu verás quanto eu te quis,
A vida traz em si velhos cometas
Eternamente eu sou um aprendiz
Que tenta vasculhar velhas gavetas
Buscando o que o passado não me diz,
Do amor a sensação feita em lancetas
Deixando a minha sorte por um triz.
Eu tenho, saiba disso, sete vidas,
Renasço a cada novo alvorecer,
Tentando novamente reviver
Por mais que tu me tranques as saídas
Eu tenho no meu peito a poesia,
Tu pensas que me espanta em água fria?
80
Assim vamos fazer um carnaval
Com toda esta loucura permitida
Sabendo que alegria sem igual
Invade e nos aguarda pela vida.
Amar é com certeza bem e mal
Porém não vejo, amor outra saída,
Eu rendo-me ao cantar mais sensual,
Bailando uma odalisca... pressentida
Eu não entendo bem de amor platônico
Eu sei que cada verso vira um tônico
Que ajuda-nos decerto a ser felizes.
Meu verso encontra em ti um eco harmônico
E gosto do que falas, do que dizes,
Agora, por favor, nada de crises...
81
Assinas com carinho este poema,
Um belo lenitivo pra minha alma,
O som de tua voz, ainda acalma
E rompe devagar grilhão e algema.
O amor que suavemente é belo tema,
Porém quando temível deixa um trauma,
Se eu tento então manter a minha calma,
Dizendo em solilóquio: Nada tema!
Realidade chega e num instante
O que pensei ser belo e fascinante
Transmuda-se em terrível pesadelo.
Tu vens apascentando estas procelas
Quando mansamente me revelas.
Porém teu Céu, jamais consigo vê-lo....
82
Assino o manifesto com certeza
Mas vejo algum problema nisso tudo.
O povo que vai contra a correnteza
Depois de certo tempo, fica mudo.
Eu vejo no país tanta beleza,
Porém meu companheiro eu não me iludo.
A gente vai tentando com destreza
Vencer um desafio. Mas te ajudo
E mostro a realidade nua e crua,
Pelada como a tal da melancia
Enquanto a poesia ainda atua
Sem rumo, esta canoa está furada.
Melhor do que criar a fantasia
Compor um bom forró pra macacada!
83
Astros convidando cama e mesa,
Fazendo com que eu creia mais em mim,
A vida preparando uma surpresa
A presa se rendendo, perto o fim.
O inverno se entregando à primavera
Além do que eu esperava vi você
Deitando o seu prazer que me tempera
No quanto que eu desejo sem cadê;
Revigorando o tempo de sonhar,
Agora eu sou feliz e não sonego
O canto que chegando devagar
Trazendo o mar de amor que ora navego
Entrego de bandeja o coração
Envolto pelas teias da paixão...
84
Astros em que debruças sem mortalhas
Acima dos meandros das neblinas
Tecendo em sedas, rendas, luzes finas.
No gozo de tais prendas amealhas
Com toda a precisão, cortes, navalhas,
Na cátedra dos sonhos tu me ensinas
A ver em outras sendas, fados, sinas,
Ascendo então a mundo onde as batalhas
São feitas aspergindo paz e canto,
E em ritos mais tranqüilos já floresce
Impávido canteiro onde este encanto
Decerto em lume intenso resplandece
Tendo por jardineira, uma amizade,
Raiando de perfume, a liberdade...
85
Astros que derramaste quando vinhas,
Deitada nas alfombras dos meus montes...
És flor que iluminando minhas vinhas,
Caminhos encantados, rendas, fontes...
As flores que plantaste, todas minhas,
O mundo que transborda tuas pontes.
As ervas que maltratam, mais daninhas,
Nunca irão impedir teus horizontes.
Amada, água tão mansa e benfazeja.
Nas duras tempestades, meu abrigo!
A cor destes faróis, já me azuleja,
Não posso me olvidar de ser feliz!
Meus astros encontrei, não mais persigo.
Estão em teus abraços como eu quis..
86
Atado a teu destino, esqueço o meu
De ser assim cigano e libertário
Meu mundo no teu mundo se escondeu
Do jeito mais sutil e temerário
Se canto neste escuro e ganho o breu
Encontro teu cantar, sou operário
Que busca nos meus braços sempre o teu
Na fábrica dos sonhos, funcionário
Do amor que convidando para a festa
Se mostra bem mais forte a cada canto,
De tudo que passei nada mais resta
Senão essa alegria de contar
Os dias, meses, horas tanto e quanto
Deitado nos teus braços, namorar....
87
Atado com firmeza por correntes
Que entrementes feriram cada pulso.
Entre os medos e os sonhos, sei que sentes
Vontade de esganar. Um ledo impulso.
Meu sentimento vazio e sempre avulso
Amordaçando o canto entre meus dentes.
Uma alma que incrustada em penedia
Distante; no oceano sem ventura.
De tudo o que sonhei, esperaria
Ao menos um restolho de ternura.
Porém a vida segue vã e fria
E cada vez mais treva em noite escura.
Ao menos se tivesse um bom amigo
A vida não seria desabrigo..
88
Atado no teu corpo em tatuagem
Entranho meus desejos mais audazes,
Perfaço sem juízo, qual miragem
Além do que pensei sermos capazes.
Na fúria encantadora que me trazes,
Pressinto a maravilha de uma aragem,
Não deves mais fugir, pois satisfazes
Meus sonhos mais sublimes, sem dar margem
Sequer à solidão nem mesmo ao medo.
Nascidos para estarmos lado a lado,
Mesmo que às vezes venham turbulências,
Excita-me demais ter teu segredo
Comigo, nesta noite; desvendado
Em forma de prazer, malemolências...
89
Atados neste mesmo sentimento
Pressinto que jamais serei liberto,
Pareio cada passo, enfrento o vento,
O amor derrama oásis num deserto.
E quando, solitário, às vezes tento
Seguir da fantasia o rumo certo,
Bebendo do prazer que experimento
O coração se expõe: um livro aberto.
Jamais arrefecer, seguir em frente,
Olhando o meu futuro vejo em ti
O sonho que pensara: já perdi,
Porém sobrevivera e assim latente
Num último momento, renascido,
Permite que eu me sinta, agora, ungido...
90
Atados: braços, olhos, corpo e pele.
Sem limites, vivemos sem fronteiras.
Ao ato de te ter amor compele
Em magas sintonias, feiticeiras.
Querer o teu querer e nisso ver
Um dia mais alegre e mais contente.
Um jeito de se dar e ter prazer,
Domina o sentimento. Já se sente
A brisa da manhã beijando mansa
A boca tão gostosa de quem amo.
Amor ao perceber nos dá fiança.
No rastro de teus passos; sigo, amor.
E à noite toda vez quando eu te chamo
Invade-me, querida, o teu sabor...
91
Atando nos meus sonhos mil balões,
Erguendo-me solene entre as estrelas,
As mãos querem, procuram já contê-las,
E esgueiram-se nos céus quais ilusões.
Reflexo sobre as águas, expressões,
Que em versos tão sublimes me revelas.
Procuro meus corcéis, arreios, selas,
E encontro a mansidão dos ribeirões.
Bebendo cada gota me inebrio
Enquanto a paz se entorna no arrebol,
E sinto em tal beleza um calafrio
Que mesmo sob a imensa luz do sol
Transcende a tais estrelas que eu buscara
Sem perceber, tão perto, a jóia rara...
92
Atando nossos nós, irei contigo
Cercado pelos brilhos deste sonho,
O quanto eu te desejo e te proponho
Um mundo mais feliz; quero e consigo.
Teus passos pela vida, agora eu sigo
E vejo amanhecer calmo e risonho,
Não tendo mais segredo vil, medonho
Enfronho meu destino em nosso abrigo.
Durante o duro inverno que passamos,
Frondosas esperanças, fortes ramos
Mostraram mais possíveis tais encantos,
Mudando num momento esta estação
Aquece-se na força de um verão
O frio em minhas mãos, tremores tantos...
93
Atando o sentimento
Em sentimento igual
Louvando este momento
Num verso mais banal
Soltando a voz no vento
Certeza triunfal
Matando o sofrimento,
Adeus ao baixo astral!
Eu vejo um acalanto
Na voz de quem me quer,
Enfrento com encanto
Tudo o que mais vier,
Vem logo pro meu canto
Vem ser minha mulher!
94
Atando versos livres, pensamentos,
Palavras e sentidos, soluções
Vagando sem juízo por momentos,
Até chegar ao fundo em tentações.
Não quero cultivar mais os tormentos,
Apenas reviver as emoções
Deixando já de lado os meus lamentos,
Causando em minha vida furacões.
Se eu canto uma alegria feita em gozo,
Talvez isso não possa maltratar
Fazendo de meu dia um sol intenso,
Decerto terei sonho mavioso
Seguindo como um rio para o mar,
Deixando para trás um mundo tenso...
95
Atar os nossos corpos em um só,
Sem ter sequer limites nem fronteiras,
Unidos com desejos, mesmo nó,
Torpores, opiáceos, aços, beiras.
Hedônicos, neófitos, sutis,
No aprendizado eterna evolução,
Do amor eu sei que sou um aprendiz
Envolto pelo fogo, em tentação.
Bebendo em belo cálice, não nego,
Farturas desejando e sempre mais.
Alucinadamente, sigo cego
Audazes os saveiros no teu cais.
Ao revirar os olhos, tão gemente,
Delírio sensual já se pressente...
96
Atarei cada canto em tua lábia
Que mostra quanto é válida a palavra
Quem leva a vida em versos se faz sábia
Moldando este universo em sua lavra.
Não sei se posso caminhar tranqüilo
Nem se preciso refazer meus sonhos.
Meu verso não tem ritmo nem estilo
Trazendo resultados mais bisonhos.
Mas cabem esperanças de mudança
Na versatilidade em que tu fazes
Amantissimamente em cada dança
Do torpe sentimento noutras fases
Amiga eu te agradeço mesmo assim
Sabendo, caçoaste até o fim...
97
Até mais ver, querida companheira.
Não posso te dizer se volto mais,
Apenas te proponho a vida inteira
Na busca do que somos. Siga em paz
Que a noite que se chega, costumeira,
Prazeres e vazios sempre traz.
Mas nada disso importa. A verdadeira
Esperança não volta aqui jamais..
Não digo mais adeus, nem mesmo bye
Apenas até mais se mais houver.
Por mais que a tarde fria que se vai
Demonstre a novidade que não veio,
Além de todo o fim que se quiser,
Amiga, o tempo racha-nos ao meio...
98
Até quando se mostra amargo e triste
O velho paspalhão jamais se cansa.
A vida que sonhou por certo mansa,
No fundo ele bem sabe, não existe.
Mas tanto que deseja ainda insiste
Fazendo ancoradouro na esperança,
Enchendo de ilusões a gorda pança
A fantasia serve como alpiste
E o pássaro sorri de uma gaiola,
A cada nova queda mais se esfola
E a mula já nem marcha de tão manca.
Nefastas nuvens pairam no meu céu,
Comprando algum jumento por corcel
Enquanto a poesia me desbanca.
99
Até que enfim chegaste, meu amor.
Depois de tanto tempo que esperei!
O teu sorriso meigo e tentador
É mais do que bem sabes que sonhei...
Menina como eu quero me perder
Nos teus cabelos longos e cheirosos...
Viver contigo é mais do quer prazer,
Meus dias, do teu lado, mais formosos...
Eu tanto que queria estar contigo,
Faz tempo! Não pensava te encontrar,
Agora que te tenho aqui, comigo,
Desfilo nosso amor por terra e mar!
Eu tanto te esperei; minha morena,
Mas juro, meu amor, valeu a pena!
3500
Até só encontrar o nunca mais
Extremas sensações já se mostraram.
Diversas emoções se desfilaram
Fazendo o coração como seus cais.
Às vezes por querer até demais
Tabus e preconceitos derrubaram
As mãos que num momento bem araram,
Em fontes e carinhos magistrais.
O pouco que vivi trago em memória
Em luta tão difícil, merencória
Derrota se servindo no meu prato.
Nos versos que hoje em dia vão comigo
Confesso o quanto quis, e aqui prossigo.
Dizendo do que tive, neste trato.
3501
Atemporais esgarces da ventura
Esfoliando aos poucos ilusões.
Espoliar os sonhos, direções,
Mergulho a resvalar a sepultura.
O resto do que fui, o tempo apura,
E molda as velhas roupas e porões.
Tomado por anzóis, guinchos e arpões,
A noite que virá; talvez escura.
Olhando para trás quase não vejo
Senão a sombra amarga de um desejo
Comprado nas esquinas e nos becos.
Assolam-me atrozes ventanias
Que em meio às procissões de velharias
Mecônios conspurcando meus jalecos...
2
Atendo ao teu chamado para dança,
Adoro o tango, dengo, mesmo a valsa,
Dançando do meu lado, assim descalça,
A noite sem sentir, depressa avança.
E mostra quanto é boa esta aliança
Que é jóia verdadeira, nunca falsa,
O brilho dos teus olhos se realça
Lembrando o belo olhar de uma criança
Que sabe ser feliz, amada minha,
E faz ser também todos que conhece,
Meu peito no teu rosto já se aninha
E faz de toda dança, a fantasia.
Quem dança com amor, faz uma prece
Que encharca todo o mundo de alegria...
3
Atendo com volúpia ao teu chamado
E vou mais que depressa descobrir
Teu corpo tão cheiroso e delicado
E louco de vontades, impedir
Que faças outro gesto tresloucado,
Pois quero novamente repetir
Amor que a gente fez, louco e safado
A noite inteira até o sol surgir...
Pois sei que estás sedenta e eu também...
Rever tua nudez tão deslumbrante
Bebendo desta fonte delirante
Que em bela inundação, comigo vem...
Vontade de sentir de novo o cheiro
Que vem deste teu corpo, amor trigueiro...
4
Atento a cada gesto e sem perguntas
Eu passo a minha vida, um eremita
Diverso de pessoas que andam juntas
Minha alma, uma presença a mais evita;
Andando pelas ruas, vou sozinho
Nem mesmo a lua vem por companhia
Se quem durante a vida não quis ninho,
Mercê da solidão, não fantasia.
Apenas vaga mundos sem destino,
Bebendo das sarjetas da esperança.
Se às vezes um sorriso; inda declino,
Talvez seja por simples temperança.
Quem sabe, no final da minha história
A lua venha, mesmo merencória...
5
Atento às mais diversas propagandas
Comprando alguma inútil novidade,
A mão que, pela tela, a casa invade
E quando vês, no fim, em nada mandas.
Nem mesmo os teus desejos mais comandas,
Deixando na poltrona a tal vontade,
Programa que de tolo, nos enfade
De novas bugigangas, as quitandas.
Depois de certo tempo nalgum canto
Esquecida, jogada em desencanto
Aquela “divinal” quinquilharia
Que tanto desejavas. Mal nutrida
Carcaça desprezada, concebida
Pra te enganar em fútil serventia...
6
Aterroradamente me perturbas,
As costas vergalhadas, meu presente...
Nas chibatas rosáceas críveis turbas
Não deixam nem espera por semente.
Solitária demente te masturbas,
Na noite mais vazia que pressente.
Mascaras as senzalas velhas tubas.
Distâncias são crepúsculos na lente...
Me castras esses astros que vergasto
Meu ópio se fui sépio, nada fica
O símbolo pedido meu repasto.
Aportes de sutis malabarismos...
Revigoro solventes, pele estica
Estio nos teus trilhos, meus abismos!
7
Atordoado, eu sigo a minha sanha
Querendo ser feliz, mas isso é mito.
Às vezes sem sentido me desdito
E a dor de uma saudade, leda, entranha.
O verso que elaboro, vai aflito
O tempo se passando em noite estranha
Arrasta-se este dia no infinito
E a solidão se mostra então tamanha...
Minha alma sem abrigo; má, bastarda,
Nas ânsias de um encanto que já tarda
Já farta não encontra a claridade.
Quem dera se na boca que cuspia,
Sorriso transparente de alegria
Viesse no formato de amizade...
8
Atormentando amor com versos vários,
Diversos do que sempre me propus,
Recebo destes ventos temerários
O gosto mais amargo que supus.
Fechando o sofrimento em calendários
Passados do que amor que agora pus.
Invado teus desejos, não templários
Bebendo de teu corpo farta luz...
Se faço com meu gesto teu ciúme,
Me esparso e vou disperso no meu canto.
Roubando do jardim, todo o perfume
Matando a sensação de tua ausência,
Amor sentindo em ti, total encanto,
Já sabe e necessita de premência...
9
Atormentado, sigo noite afora,
Encontro na sarjeta um bom abrigo,
Não tendo quem amei aqui comigo
Vontade de partir, e de ir embora...
Até a poesia, agora chora,
Distante da ilusão que ora persigo,
Eu tento prosseguir, mas não consigo
No desabrigo, a sombra me decora.
E aflora esta terrível solidão,
Gerada pela dor da negação;
Já não suportarei ser tão sozinho,
Numa árida paisagem, nada tendo,
O dia que sonhara se perdendo
Nas curvas insolentes do caminho...
10
Atos e relatos, lagos somos,
Bebendo do luar extasiante.
No quanto nos unimos, mesmos gomos
O bem que se propaga ao mesmo instante.
Mesmo em dicotomia vamos juntos.
Semblantes e sentidos confluentes.
Nos átomos atamos tais conjuntos
Na confraria rara convergentes.
A par do que somamos, sendo assim
Vasculho cada ponto de partida
Chegando finalmente vou a mim
Tocando claramente a tua vida.
E vivas eu espalho em louvação
Ao bem que nos traduz nossa união.
11
Atrás da minha porta? Eterno não,
O vento da esperança não me alcança
Enquanto a solidão jamais descansa
Minha alma não encontra solução.
Vontade de sentir em redenção
A vida que sonhei; sincera e mansa.
Voltar a ser de novo uma criança
Que traz dentro do peito uma ilusão...
Brinquedos espalhados nas calçadas
Jardins entre mil flores, primavera...
Os restos de emoção que inda carrego.
Manhãs entre alegrias demonstradas
Nos olhos de quem quis e não me espera,
À falsa fantasia eu já me apego...
12
Atrás desta morena e sua saia
Prossigo sem pensar no que passei,
Agora que o caminho eu encontrei,
Já posso vislumbrar divina praia.
Que a sorte benfazeja nunca traia
Mudando novamente o que tracei,
Não quero ser vassalo nem ser rei
Apenas que a saudade se distraia
E volte pra bem longe e nunca mais
Refaça dos meus braços o seu cais,
Deixando o coração assim miúdo.
Sabendo que meu norte tem teu nome,
Com todo este prazer matando a fome
O rumo desta vida; jamais mudo.
13
Através da janela o minuano
Dizendo deste amor que já não tenho.
Agora se completa mais um ano,
A vida fecha aos poucos o meu cenho.
Do amor somente a dor e o desengano,
Por mais que uma esperança faça empenho,
Outono tão terrível quase insano,
E o frio onde sozinho eu já me embrenho.
Saudades de quem foi pra nunca mais,
Apenas a lembrança inda me aquece,
Recordo de teus lábios sensuais
Volúpias e o descanso do depois.
Paisagem invernal, a noite tece,
Fantasmas que me rondam. De nós dois...
14
Através dessas formas, das visões
Que sempre adivinhava meu desejo;
Palpitam sem sentido corações
Num turbilhão divino onde te vejo.
Surgiste neste céu, estrela amada;
Rolando qual cometa, confundindo.
A noite sem te ter, não vale nada,
Aos poucos teu amor me decidindo.
Rasgando este universo, alma infinita,
Queimando nestas sombras, meu mormaço.
De formas delicadas; tão bonita,
Domina certamente cada espaço.
Aspiro teu amor a cada dia,
A cada pensamento e poesia!
15
Atravessamos vales, cordilheiras
Unindo nossos sonhos, força e gozo,
Noturnas travessias, costumeiras
Trazendo um novo canto mavioso.
Esperanças desfraldam as bandeiras
Embora tantas vezes belicoso
O passo deve ser silencioso
Senão pode acordar as feiticeiras.
Vestidas de canhão e de fuzil,
Numa tocaia algoz, nada gentil,
Ou quem sabe atiçando estas hienas
Que atacam sempre em bando e nunca sós,
Disfarçadas em ricos paletós,
Fazendo nos Congressos tristes cenas...
17
Atravessando as ruas da ilusão
Bebendo nos botecos da esperança
A gente vai fingindo enquanto trança
Os pés nas várias tendas da paixão.
Nos becos sem saída da emoção
Perfuram nosso peito, cada lança
Que nada se fazendo em temperança
Permite que se entenda a sedução.
Olhando de soslaio; assim reparo
Na moça que rebola sobre a mesa,
Sentindo o teu perfume apuro o faro
Preparo logo o bote sobre a presa,
Depois de tanto tempo em desamparo,
À boca sequiosa, a sobremesa...
18
Atravessando os ermos do caminho
Na busca sem ter fim pela esperança,
Quantas vezes, sentindo ser sozinho,
Apenas com teu nome na lembrança...
Nos vergéis e nas sendas mais floridas,
Sabia que podia descansar;
De resto, essas tristezas escondidas,
Num momento, queriam aflorar.
O canto que tentara não se ouvia,
Encanto divinal de amor eterno.
Outro verso de amor, amor fingia,
A vida parecendo com inferno.
Achando tão somente dor, quimera.
A rosa me salvou a primavera!
19
Atravessando trevas nebulosas,
Em busca da amplidão do teu carinho.
As mãos que se perfuram, olorosas,
Lancinantes desejos pedem ninho.
Angústia dos jardins que perdem rosas,
Embalde me apeguei ao teu espinho...
Nos mares das volúpias tenebrosas,
Um canto que se cala, passarinho...
Neste atroz pesadelo, latejante,
Mistura das tremendas fantasias.
Represo meus temores, arquejante.
Não posso receber a vida amarga
Como quem saboreia as ambrosias;
Amor que me devora: afaga e larga....
20
Atravessei, inteiro o Ceará
Numa procura insana por aquela
Que um dia imaginei encontrar lá
Guiado por meu sonho feito estrela.
O brilho de seus olhos levará
Pois sei que a lua mostra-se mais bela
Dourando o meu caminho que estará
Aonde amor imenso se revela.
Passando por Sobral e Juazeiro
Depois de ter no Crato uma notícia
Que o amor mais delicado e verdadeiro
Eu acharei, enfim em Fortaleza.
E assim em noite clara e mais propícia
Eu encontrei você, minha princesa...
21
Atravesso no olhar, mares distantes
Do cais que preparou nosso desejo.
Amar não é saber o que foi antes
Nada do que virá, eu sei, prevejo...
Apenas em teus olhos diamantes
Sentindo rebrilhar um azulejo
Viajo dentro em ti, tantos instantes..
Tocado como fosse por um beijo.
Nos precipícios todos da paixão
Invento minhas asas, caio em mar.
Atraído, vencido, uma ilusão?
Apenas sei das asas e dos medos.
Apenas de teus seios que, ao tocar;
Me envolvendo, aumentando teus segredos...
22
Atrelas teus desejos minha estrela,
Avanças tão frenéticas vontades,
Mulher, flor divinal, quero contê-la
No peito que se mostra em firmes grades.
Por mais que dos meus sonhos desagrades,
Um dia ainda penso convencê-la
Que digo nos meus versos as verdades
Sonhando com manhã voraz e bela.
Audaciosamente eu te procuro,
Vasculho nos meus poros, meus sentidos.
Clareias num segundo o céu escuro
Incandescentes lumes já me alcançam,
Em lava teus fulgores convertidos,
Depois das erupções, sempre me amansam...
23
Atrelo-me aos fantásticos domínios,
Aonde tu espalhas tal beleza.
Seguindo com torpor, raros fascínios,
Pretendo ser somente tua presa.
Jamais suportarei uma arrogância
Tampouco esta ganância que se expõe.
O amor quando liberto, em elegância,
Um tempo benfazejo, em paz, compõe.
Seletas companhias, luas nossas,
Rastreio cada passo que tu dás,
Jamais mergulharei em torpes fossas,
Com toda paciência, mesmo audaz,
Escrevo meu futuro com as mãos
Que possam cultivar benignos grãos...
24
Atrozes sensações de desalento
Tomaram minha vida em triste dia,
Uma alma se encontrando tão sombria,
Soluça merencória em um lamento.
Batendo na janela um frio vento,
Trazendo sem ter dó, dura agonia,
Matando pouco a pouco a fantasia,
Um sonho que me salve, eu juro, tento...
Depois de tantas horas doloridas,
Vagando sem destino em noite triste.
As hordas de quimeras redivivas,
Percebo a claridade em nossas vidas,
Lembrando, minha amiga, que inda existe
As mãos de uma amizade, sempre altivas...
25
Audaz, o caranguejo me consome,
E bebe do meu sangue, cada gota.
A vida pouco a pouco já se esgota
O sonho que eu tivera, ledo, some.
O resto de esperança se carcome,
Perdido sem ter rumo, busco a rota,
Entranho uma esperança em fria grota
Porém este crustáceo, tudo come.
Arrancando os meus olhos, sem disfarces,
Enquanto me acarinhas logo esgarces
Os restos que amanhã vão pelo esgoto.
Na boca que eu sonhei, a cusparada,
De tudo o que eu desejo sobra o nada,
O coração vazio, podre e roto...
26
Augusta sensação ungindo a vida,
Percebo esta alegria que me trazes,
Escondo sob a manga vários ases,
Quem sabe vai à luta e não duvida
Da força que se estampa desde as bases,
Calcando o meu rincão, terra batida,
Mandingas e feitiços, tu desfazes,
Preparando talvez, uma saída...
Invejo-te deveras; nunca fui
Aquele a quem a paz se fez constante,
Arrebentando tudo num rompante
O tempo vai aos trancos, já não flui.
Mereço alguma chance? Sei que não.
Preparo a cada dia, um alçapão...
27
Augusto; tirando ouro do sepulcro
Tornando assim jazigo uma jazida
Aonde a poesia tem seu fulcro
A morte sobrepõe-se além da vida.
Nas asas dos seus anjos ases vejo,
Funérea maravilha, podridão.
No esgoto da existência, a cada ensejo
Pantera disfarçada, solidão...
Males íntimos da alma de um poeta,
Moldando nos escombros a beleza.
Magia tumular que se completa
Servida como um verme posto à mesa.
O bardo em sua verve traz um odre
De um vinho sem igual, amargo e podre...
28
Augustos, velhos anjos já morriam
Deixando em cada campa uma ironia
Sem asas, tais velhacos já sabiam
Que a noite prostituta não viria.
Sepulcros e mortalhas se faziam
De rendas e cetins, falsa alegria.
Em cada cusparada devolviam
Tudo que um falso beijo inda trazia.
Solilóquio qual louco eu perfumava
Em podres crisantemos, demos, anjos.
Orgasmos se expeliam como lava
Relentos eram simples companhias
Amores se esbaldavam liras, banjos
Mostrando tanto bem que me querias...
29
Auréolas vorazes me devoram...
Nas sacras escrituras são falsárias.
As pétalas felizes me decoram
Nas ilhas que fugi, velhas Canárias
Os bares que embarquei frágeis defloram
As luas que portei de formas várias
Delírios que sorvi, tão cedo auguram...
Nas lutas que ganhei podres sectárias
Arresto e capuccino são meus cordéis
As marcas que deixei são menestréis
A vida que passei, vem de viés
Não sei por que cortei, as mãos e pés.
Nas horas que sorteio peço dez...
Nos navios vou lavando os teus convés!
30
Aurora em tal beleza desfraldada
Em ondas cristalinas, tantos brilhos,
Nos raios deste sol vai estampada
O rumo dos meus sonhos, tantos trilhos...
As plantas, os rochedos, a montanha.
Recebem tal clarão que tanto encanta.
As formas tão suaves, vento assanha
As folhas destas matas. Manso canta.
Ao fundo deste quadro tão sensível,
Os olhos da morena que sonhara.
Aurora se pintando, mais incrível,
Deslumbra a natureza, tela rara...
Em meio a tanta luz, se sobressai
Tua beleza, amada, em sonho, esvai...
31
Aurora se mostrando mais inteira
Em vários brilhos, tantos quanto ofuscam.
Meus versos dediquei-te a vida inteira,
Espaços magistrais, eles te buscam...
Eu quero uma sonata que amor fale,
No cálice divino dos teus braços...
Não deixe que este amor nunca se cale,
E venha descansar, te dou abraços...
Em versos mais sublimes, quero ter,
O gosto de te ver bem junto a mim..
Sabendo que em teus braços vou morrer,
Eu quero teu amor até no fim...
E sinto que serei bem mais feliz
Vivendo em nossa vida o que bem quis...
32
Aurora terminando, a vida passa...
A morte desafia e me persegue...
Quem fora caçador, se encontra caça,
Na fonte que se seca, vou entregue...
A vida se cansando, sangra, lassa...
Não haverá ninguém que me carregue,
Nos templos divinais, já se esfumaça
Qualquer que seja o sonho em que se apegue...
Aurora derradeira, vislumbrada,
Não deixe meus retalhos no caminho...
A vida que passei se fez marcada.
Sem lume vai secando meu jardim...
O tempo cruel fera traz sozinho
O mundo que remando, morre em mim...
33
Auroras que imagino, vagos lumes,
Na vagas que se quebram no meu mar
Trazendo no buquê tantos perfumes;
Das vagas ilusões me fiz amar.
No vinho com buquê encantador,
Inebriado sinto teu aroma,
O cheiro que perfaz este vapor
No mundo sem destino, já se soma.
Patéticos, meus versos te procuram,
Parece que nasceste deste sonho,
No rosto tão suave se emolduram
Formando teu semblante mais risonho.
Auroras que me trazem novo brilho
Indicam que o amor sempre é meu trilho...
34
Ausculto a mansa voz do coração
Batendo em disparada, taquicárdico.
Volúpia se transforma em sedução
Deixando bem um frio antártico.
O meu olhar se encontra, assim, catártico
Ao ver em tal beleza, esta emoção,
Meu peito se mostrando quase enfártico,
Já transborda em divina tentação.
Viver cada momento em plenitude,
Qual fora tolamente um ser lunático.
Revejo junto a ti a juventude,
Meu canto se tornando mais temático,
Exprime em cada verso, em atitude
Amor que é para mim, quase emblemático...
35
Ausência de calor e de carinho,
Somando nossos nadas, não dá nada,
Serpenteando a dor em cada estrada
Aguardo o que talvez entranhe o ninho.
A noite se esvaindo de mansinho,
Esgota logo cedo uma alvorada,
Na força do chicote vai lanhada
A pele de quem vive tão sozinho.
A cada nova farpa deste arame,
Eu sinto a minha vida vesga, infame.
Estrábico desejo em que se apegue
O sonho de um estúpido animal
De ter, em comunhão fenomenal,
Um barco que outro mar inda navegue.
36
Ausência dolorosa e tão sentida,
Se fez nestes momentos mais tristonhos.
Querendo te encontrar em vão, querida,
Restaram-me somente ledos sonhos.
Teu cheiro se espalhando em minha vida
Promessa de outros dias mais risonhos....
Agora que percebo, que chegaste
A cama se aquecendo devagar
Tramando uma vontade em que se gaste
Toda energia em fogo a nos queimar.
Percebo que te tendo, que contraste!
Tua distância pode me matar...
Vem logo e traz depressa em teu calor,
O sol que nos aquece, meu amor...
37
Ausência vai batendo em minha porta,
Eu sei que só terei mais alguns meses,
E neles desejando muitas vezes,
Porém a ilusão se finda, morta.
Não posso me enganar, nem deveria,
O que resta de mim é muito pouco,
E mesmo que estivesse insano, louco,
Jamais conhecerei tanta alegria.
Dedos amarelados por cigarros,
Tomado pelo câncer, sem defesas,
Ainda que me restem fortalezas,
Sinais da doença nos escarros,
Sanguíneas libações saem de mim:
Não resta qualquer dúvida: é meu fim!
38
Ausência vai tomando o coração,
Distante de teus braços, meu amor.
O vento se tornando um furacão,
O céu perdendo brilho, mata a cor.
Apenas tão somente uma ilusão
Deixando o meu canteiro já sem flor,
Quem teve nesta vida uma paixão
Conhece plenamente gozo e dor.
Angústia dominando toda a cena,
A noite que eu queria tão amena,
Espalha esta tristeza sobre mim.
Quem dera se eu pudesse te tocar,
Ouvir em tua voz, distante mar,
Cevar em alegrias, meu jardim...
39
Ausente de mim mesmo; cismo à toa,
À tona em agonia vêem meus ermos,
Vontade que inda resta diz que sermos
Seria o que; talvez; sonho ressoa.
O barco que à deriva perde a proa,
A mente vaga em busca de outros termos,
Dizendo dos meus versos, ora enfermos,
E ao longe, a fantasia nada ecoa.
Se eu sou a merencória madrugada,
Minha alma, um albatroz procura pouso,
Na cama de um faquir tenho repouso,
Palavra a cada frase degradada,
Arrancando os meus olhos; morte lenta,
Enquanto este naufrágio, em paz, me alenta...
40
Ausente de teus olhos, céu escuro,
Refém do quase tanto que não tive,
Aonde em que planeta vão estive,
Só sei que, tolamente eu te procuro.
Açudes de ilusão em solo duro
Semente mal lavrada já não vive,
Por mais que a vida amarga tanto prive
Insólita vontade; inda perduro.
Palhaço que buscando um picadeiro
Esmera-se em estúpida esperança.
Sabendo ser tal ato, o derradeiro,
A peça chega ao fim sem solução.
O verso que pensara de aliança
Agora encontra rima em solidão...
41
Ausente do calor de teus abraços,
Apenas a esperança do meu lado.
Tristeza que acompanha aqui, meus passos,
O vento feito inverno vem gelado.
Sentir o coração descompassado,
Deitando no teu colo, sonhos lassos...
Saudade de teus lábios, teu sorriso,
Estar junto contigo a cada instante,
Tu foste sem sequer mandar aviso,
A vida se tornou tão vacilante.
Verão tomado em gelos, e granizo.
Deixando a primavera tão distante...
Porém o manso orvalho já anuncia
A terna mansidão de um novo dia.
42
Ausente dos caminhos da ventura,
Distante de teus olhos, sofrimento.
Somente amor profundo traz a cura,
Apascentando assim, todo tormento.
Percebo o quanto Deus faz em ternura,
Mudando a direção de cada vento,
Uma alma que se mostre clara e pura,
Permite ao sofredor, candura e alento.
Não te sinta tão só; amiga minha,
A mão do meu Senhor já te encaminha
Aos mais suaves prados, com certeza.
Louvando o Criador que nos ensina
O Amor em luz tão mansa e cristalina,
Ajuda a conhecer rara beleza...
43
Avalanche de sonhos que governa
O caminho desditoso de um poeta.
Enquanto a fantasia assim hiberna,
Eu perco a direção, o rumo, a meta...
Quem dera a juventude fosse eterna,
A força se mostrando tão dileta,
Na fonte de teus olhos, bela e terna
Minha alma tão sedenta se completa.
Marcos de momentos mais felizes,
Deixando no meu peito as cicatrizes
Que o tempo inexorável, destruiu.
O templo dos meus sonhos, ilusões,
Enferrujando; o tempo, os seus portões,
Aos poucos, entre as trevas, já ruiu...
44
Avalizando os sonhos mais audazes
Palavras e sentidos misturamos,
Querência sem igual, nós desfrutamos
Em meio a tantos versos, rimas, frases
O amor que nos transporta em várias fases
Além do que sentimos ou pensamos
Por vezes em delírios embarcamos,
Mas somos tão felizes quão vorazes.
Erguendo os nossos olhos em conjunto
A vida não permite um outro assunto
Senão farta loucura em riso franco.
Bebendo cada gota deste sonho,
Meu barco nos teus mares; logo ponho,
E o dia nascerá tão terno e branco...
45
Avanço a noite imensa
ao lado de quem amo,
teu nome já reclamo,
e nele a recompensa
do amor mais do que pensa
a quem sonhando eu chamo,
sem ser cativo ou amo,
em noite mansa e densa.
Vibremos nesta dança
que nunca cansará
atando em aliança
o sol que brilhará,
amar, uma esperança
que eu quero agora e já
46
Avanço com meus sonhos, a manhã
Tocado pelos raios deste sol.
Ao ver teu corpo nu, beleza grã
Intensa claridade em arrebol.
Na tua companhia, amor bendito,
Olvido os meus problemas, me liberto,
E de soslaio, os seios belos fito,
E de uma letargia eu já desperto
Atiças com palavras de malícia,
O coração faminto de quem quer
Saber deste manjar, rara delícia
Imerso no teu corpo de mulher.
O amor que a gente sente, não sacia,
Prazeres traduzindo assim: bom dia...
47
Avanço minha mão pelos teus seios
E desço até chegar ao Vênus Monte
Abrindo úmidos lábios, doce fonte
E sugo teu clitóris sem receios.
Estamos dominados por anseios
Que fazem do prazer nosso horizonte,
A boca é tão somente simples ponte
Volúpias e luxúrias, loucos veios.
Na cópula fantástica a promessa
Do orgasmo que virá como um vulcão.
E devagar, querida sem ter pressa,
Cavalgas com vontade o garanhão
Que explode num prazer sensacional
E alaga tua gruta divinal...
48
Avanço sobre as pedras e os espinhos,
Contigo nada temo, vou em frente.
Os olhos que se espalham pelos ninhos
Vislumbram tal momento iridescente
Aonde com certeza eu terei
O gosto desta boca sobre mim,
O amor vem dominando toda a grei,
Cevando com carícias o jardim
Aonde percebi bela roseira
Que assim perfuma todo este canteiro,
Tu és a minha amada companheira,
Certeza de um amor mais verdadeiro.
Que seja sempre assim a nossa vida,
Jamais admitirei a despedida...
49
Avassalador desejo em que arremeto
Meu barco navegando amor profundo.
Por vezes, alguns erros que cometo
Eu tento corrigir em um segundo.
Mas saiba que eu te quero e te prometo
Lutar, se for preciso, contra o mundo...
Aflora esta vontade em cada frase
Um vero sentimento soberano.
Se sei que nesse amor encontro a base,
Jamais cometerei mais outro engano.
Decerto nos teus passos, minha estrada.
Deveras tuas mãos tão carinhosas,
Serão eternamente perfumadas
Trazendo para a vida aroma em rosas...
50
Aventureiro barco em solidão
Nos bárbaros caminhos desta via
Enfrenta desmedido furacão
Com risos e palavras de ironia.
Sem medo e sem fazer u’a previsão
Se atira nos desejos todo dia.
Após novo naufrágio ou explosão
Refaz-se e não aprende, nem procria.
Vivendo corações já se renega
E mata em cada cais, o comandante.
Do nada que ganhou o nada lega
Apenas os resquícios do naufrágio
Tomando o coração a cada instante.
No fundo se defende, de tão frágil...
51
Avesso aos delicados rapa-pés,
As sedas; não rasguei nem rasgarei,
Fazendo da verdade quase lei
Eu vejo a vida sempre de viés.
Respeito diferenças, crenças, fés,
Não suportando império, mato o rei,
Liberto, o Paraíso que criei,
Jamais se prenderá; torpes galés.
A porta que cerraste; enfim eu abro,
Vislumbro o teu olhar em descalabro,
E acendo o candelabro da esperança.
Enquanto estás ao fútil, amarrada,
Eu subo destemido; a nova escada,
E a chave do futuro,a mão alcança...
52
Avinagrando, enfim, suaves vinhos
Desesperança chega e num momento,
Por falta de emoções, ledos carinhos
Permite um maremoto violento
Causando esta total devastação
Secando os meus canteiros, vou desértico.
As nuvens retornando, um furacão,
Cataclismo que traz fim apoplético.
Estrelas se perdendo, turbilhões,
Restando tão somente este vazio,
O vento prometido nos tufões
Imensos pesadelos hoje eu crio
Desfilo minha angústia pelos ares,
Adentro em fantasia, os lupanares...
53
Azar! Durante tanto tempo estive
Sob o jugo terrível dos maus fados.
A sorte tão ingrata sobrevive
Distante dos meus dias já sonhados.
Por mais que já pensara noutros dias
O vento nunca veio benfazejo.
Tentando transformar em fantasias
As coisas bem mais simples que desejo.
Sorriso de mulher por mim amada,
Amigos que perdi, sem perceber...
As curvas tão fechadas desta estrada
Por mais que são difíceis, quero crer
Que levam no futuro a uma mudança.
E a cura de um azar? Uma esperança!
54
Azulejar a sorte de quem ama,
Abiscoitar o gozo deste coito
O velho pescador jamais afoito,
Prepara na tocaia a sua trama.
Detendo em suas mãos constelação
Afaga com suprema serventia,
O vício só é bom quando vicia
Amor não necessita de facão...
O resto é ter decerto sempre calma.
A palmatória nunca me ensinou,
Apenas o carinho traz colheita.
Acobertando os erros de minha alma
O velho sentimento não poupou,
A noite entre dois corpos nus se deita...
55
Babando tanta baba, um babador
Queria ser além de simples arca,
Quem sabe se sonhasse com amor,
Seria babador menos babaca.
Faria ao mundo, assim grande favor,
Na lama em que se esgota, finca estaca
E faz de todo pobre sonhador
A carne que devora, achando fraca.
Mal sabe este panaca sem juízo,
Que o bom da nossa vida é ser feliz.
Apedrejando assim o paraíso
Maltrata quem não sabe ser servil
Ao mundo que deseja, e sempre quis,
Distante de quem ama. Porco vil...
56
Bacantes caminheiros desta noite,
Desnudos sobre a cama, temporais.
A língua se fazendo como açoite,
Vontade de prazer cada vez mais.
Teu cheiro que se entranha em minha pele
Desnudos e suados, sem pudores.
Ao fogo desta orgia nos compele,
E nus, sacramentamos os amores.
Derramo sobre ti, minhas vontades,
Tu abres os caminhos do infinito
Sentindo os dedos, lábios, liberdades.
Latejo meu desejo dentro em ti,
Até que em explosão de gozo e grito
O céu derrama estrelas bem aqui...
57
Back-up que nós fizemos permitiu
Lograr um exitoso resultado.
Do joio, diferença tão sutil
Fazendo deste trigo, abençoado.
As desavenças queimo em algum grill
O amor que nós vivemos, ilibado
Ouvindo da alegria, canto e brado,
Tornado que se entorna em paz, gentil.
Olhando o meu passado, aumento o zoom
E vejo que de dois somos só um
E tendo esta certeza dentro em mim,
Depois de tudo aquilo que busquei,
A vida finalmente diz okay
E o céu se torna agora, belo e clean...
58
Bagunça o meu coreto e faz a festa
Não deixa mais sobrar nenhum detalhe,
Na boca que procura cada entalhe,
Promessa de invasão em doce fresta.
De todo o meu juízo nada resta
Senão esta vontade que se espalhe
O corte tão gostoso que avacalhe
O siso que não cabe nem se empresta.
No sal, suor, sangria desatada
Fornalha inesquecível, gozo franco.
Contigo o fogo pleno não estanco.
Sozinho na verdade não sou nada.
Apenas reviver o que senti,
Deitando o meu prazer bem junto a ti...
59
Bagunça o meu coreto esta vadia
Que quando beija, cospe e vai sorrindo,
Se eu peço que me esquente, ela me esfria
Se eu quebro a minha cara; diz: - Que lindo!
Um espinho cravado na garganta,
Um tapa que estalou na minha face,
A sorte quando chega, a vada espanta,
E vive se escondendo num disfarce
De meiga donzelinha, moça pura.
Quem vê a sua cara de menina,
Não imagina a sina que tortura,
Que lambe, faz amor, e me domina.
No sim e não disfarço a dura luta,
Rainha da sandice, deusa e puta...
60
Bagunce o meu coreto, faça a festa.
Seja o que quiser mas não se canse.,
Da vida sem promessa nada festa
Premissa é ser feliz, se quiser dance.
O bom não veio? Dane-se querida!
O risco corta? Corra mais depressa
Senão a morte alcança e sem saída
Não deixa nem motivos para a pressa.
Perceba o dom de estar onde sonhaste
Com braços estendidos, cai a noite.
Na queda não resolve nem guindaste,
A dor de uma saudade vira açoite
Mas tenha uma certeza minha amiga,
O mundo vale a festa e vale a briga!
61
Bailando a noite inteira já me perco
No corpo da morena mais tinhosa.
De todos os prazeres eu me cerco
E a noite vai sem fim, maravilhosa...
No cálice da boca tão molhada,
Teus lábios sequiosos e carnudos.
A gente penetrando em madrugada
Brindando nossos corpos já desnudos...
A lua na janela nos espia
E manda nos seus raios, brilho intenso
Contrastes com a tez bela e trigueira.
Num quadro onde esbanjando fantasia
Eu guardo na lembrança e sempre penso
Na alegria de amar, mais verdadeira...
62
Bailando a noite inteira num desejo
Que faça nossos corpos se entranharem.
No quanto descobrimos tal traquejo
Os gozos e os prazeres provocarem
O fogo da paixão que nos consome
Deitando em alegria a noite imensa.
Matamos da vontade toda a fome
Sabendo quanto amor sempre compensa.
Pois somos, do banquete, comensais
Que se fartam, deveras em delírios.
Os jogos que fazemos, sensuais,
Deixando no passado alguns martírios
O teu corpo, um colírio magistral
Do amor o meu altar e catedral.
63
Bailando nos teus braços,
Na noite/ madrugada,
Atamos nossos laços
Em carta já marcada,
Ocupando os espaços,
Não deixamos mais nada,
Apenas nossos passos,
Na rua, na calçada.
Depois no nosso quarto,
Em contraluz, aceso,
Mergulho até que farto,
Amor que sei mais teso,
Fazendo tal folia
Que eu quero, todo dia..
64
Bailando nossa sorte em aguardentes
Em poços defumados da incerteza.
Rasgando minha sina perco os dentes,
E sinto que perdi minha leveza.
Mas vejo outros caminhos decadentes
Por onde trilharei tua beleza
Amada sensação de penitentes
Em busca da verdade e da pureza
Negada por quem tem o cadeado
Guardando neste cofre uma esperança.
Tomando para si destino e fado,
Na velha apologia do pecado.
Distante deste AMOR, o velho avança
E matando a alegria, nega a dança.
65
Bailando sobre mim, a colombina
Entorna poesia em fortes gozos,
Momentos delirantes, fabulosos,
Nos quais a fantasia nos domina...
Um velho pierrô que se fascina
Com teus delírios fartos, maviosos,
E os bailes desfilando prazerosos
Não deixam que se seque a farta mina.
Viagem mal termina e já repetes,
Espalhas serpentinas e confetes
Tomando este salão velhas marchinhas,
Quem dera mestre sala, a noite inteira
Dançando com gentil porta bandeira
As festas compartilho, tuas, minhas...
66
Bailarina que grácil me alucina
Nas curvas generosas se balança;
A boca que se mostra me domina,
Nos requebros gentis, sensual dança.
A fome dos desejos descortina
A noite que tateio nunca avança.
A mão que me promete nova sina.
Nos cabelos castanhos, laço e trança...
Os dedos já cobertos, finas luvas,
Atalhos esquecidos descobertos...
Meus olhos derrapando belas curvas.
Os sonhos erotizo e me agasalhas...
Nos botões da camisa que, entreabertos,
Penetram meus olhares qual navalhas...
67
Bailemos sem limite, a noite inteira
Que a vida nos permite tal festim.
Vencendo esta saudade matadeira,
Encontro o que melhor resiste em mim.
Não deixe que esta tarde tão faceira
Se perca sem destino sem um fim,
Nem mesmo que se perca esta roseira
Plantado com carinho no jardim
Dos sonhos onde fomos lavradores,
Unindo nossas mãos em bom arado
Amor matando o medo do passado,
Refaz em vida belos refletores
Deixando a solidão, assim de lado,
Trazendo em nosso céu risonhas cores...
68
Baladas embaladas para entrega,
Nas noites tão charmosas lá de Sampa
Nas Raves, nas boates, quem navega
Diverte-se querida, assim às pampa.
Enquanto um caipira aqui da roça,
Olhando para a moça da janela
Prepara o coração, sobe à palhoça
E num beijinho doce se revela.
No fundo é tudo igual, amor, gatinha,
O jogo só é bom quando bem feito.
Amor que em tanto amor, amor aninha
Começa num beijinho e vai pro leito,
No mato ou no motel, a estrela brilha,
Garanto que é a mesma maravilha...
69
Balança esta roseira
Põe fogo no quintal,
Amiga e companheira,
A vida sem igual
Se mostra verdadeira
Enfim fenomenal,
Na força feiticeira
Que faz um carnaval
Em festas e bailados,
Em risos e traquejos,
Olhando para os lados,
Pressinto tais desejos,
Juntando nossos fados,
Tomando nossos beijos...
70
Balança este coqueiro, morenaça.
A gente não se cansa de saber
Que o gosto adocicado da cachaça
Rodando sem parar me dá prazer.
Dançando assim pelado em plena praça
Platéia se masturba, eu posso ver
Por mais que teimosia não nos caça
Atrás do trio elétrico o poder.
Perigas nesta estrada se sozinha,
Te quero sem juízo, toda minha,
Fogoso quero sempre esta caçada
A presa estando presa, que delícia
Depois é só carinho e com malícia
Tocaia se mostrou abençoada.
71
Balança o coreto
Na dança dileta
Dizia o poeta
Aqui não me meto!
Ser franca e direta
Eu não me intrometo,
Na luz predileta
Que invade meu gueto.
Eu sou teu amigo,
Por certo, querida,
O resto? Nem ligo,
Encontro a saída
Se corro perigo?
Quem sabe duvida...
72
Balançando a roseira
Quebrando a sapucaia,
Amada verdadeira
Na solidão não caia,
Que a vida é feiticeira
Mas corta qual navalha,
Contigo a vida inteira,
No amor que já se espalha
No campo e na cidade,
Que faz a gente crer
Na tal felicidade,
Vontade de viver,
Saber da claridade
Que traz um bem querer...
73
Balançando na rede com meu bem,
Vontade preguiçosa de ficar,
Gostoso, nosso amor no vai e vem,
Chegando, de mansinho, devagar...
Como é bom, nessa vida ter alguém,
Que a gente sempre possa confiar
Depois de tanto tempo sem ninguém
Só quero, meu amor, te namorar...
A rede, de repente, se rasgou
Na queda, tua saia levantou,
Mostrando este lugar belo e preciso,
Desculpe meu amor, vou te dizer,
Quando a rede rasgou eu pude ter
A mais bela visão do paraíso!
74
Balançando o coqueiro, eu peço a Deus
Que me dê um restinho de alegria.
Os dias que passei só foram teus,
Brincando no regaço de Maria.
Quem sabe claridade vê os breus
E conhece também manhas do dia.
Meus versos vão dizendo da paixão
Que é sempre tão traquinas e moleca.
Devora num segundo o coração,
Depois já sai sorrindo, esta sapeca.
Só restando o luar e o violão
Fazendo a gente logo de peteca.
Mas guardo disto tudo uma esperança
Vivaz como brinquedos de criança...
75
Balangas tanto beiço, mas no fundo
Não gostas do que escrevo nem um pouco,
Fingindo ter ouvidos feito um mouco,
Meu verso te parece nauseabundo.
Se tanto quanto quero não abundo
Cansado de gritar, jamais fui louco,
Sem nada que me fale nem tampouco
O muito prometido é vagabundo.
Se tudo o que apetece é ser feliz,
Desculpe, mas o sonho contradiz
O que a verdade mostra a cada instante.
Amor jamais se fez só por osmose,
Coceira de desejo? Escabiose.
Paixão é pneumonia galopante...
76
Balbucio seu nome, estremecido.
Da vida que eu bebia em cada gota
Os tempos em que havia me esquecido
Andando com minha alma quase rota,
Não resta mais sequer algum vestígio.
Vieste e me salvaste da tormenta.
Pressinto que, em teu peito, algum prestígio
Já tenho. Amor no peito que se assenta
Trazendo uma esperança iluminada;
Permite que eu consiga vislumbrar
A vida como porta de chegada
Depois de tanto tempo a naufragar...
Trouxeste no teu braço salvador
Certezas de viver em pleno amor...
77
Bandeira que amizade assim desfralde
Erguida como um lenço branco, em paz.
Beleza que se espalha no arrabalde
Certeza de alegria e encanto traz.
Uma amizade imensa nega a fraude
E vence sendo intensa e mais capaz.
Sem ter a mão cruel que nos escalde
Fartura sem igual nos satisfaz.
Moldando nosso tempo sem ter gládio
Certeza neste campo que ora invade-o
Forrando cada palmo deste chão
Com toda a maravilha que se encerra
Nos âmagos benditos desta Terra
Cevada com carinho e compaixão...
78
Bandeira tremulando em rijo mastro
Chamado para a paz e para a guerra,
Seguindo cada passo encontro o rastro
Daquela que em desejo, amor encerra.
Do céu em maravilhas, como um astro
Olhar enamorado não mais erra
E vendo a branca alvura em alabastro
A resistência tola cai por terra.
Não posso mais negar quanto eu te quero,
Se é tudo o que eu preciso para ser
Feliz, é neste sonho que eu tempero
A vida em busca insana e fascinante.
Além do que eu pudera perceber,
Desejo o teu amor a cada instante...
79
Bandeirante ditoso na clareira
Correndo sem cristais ou esmeraldas,
Enquanto a poesia tu desfraldas
Esqueço o que dizia esta bandeira.
O amor jamais seria bandalheira
Não fosse em tuas coxas méis e caldas,
Depois de certo tempo troco as fraldas
E faço toda noite a mamadeira.
Rasgaste a camisinha de propósito!
Olhaste para mim como um depósito,
Mas saiba, meu amor, eu ando duro.
Do tiro que tu deste num escuro
Invés de garantires teu futuro
Fizeste no final, um despropósito!
80
Bandeiras da esperança desfraldadas
Tremulam incessantes, sem descanso.
Ao caminharmos juntos, de mãos dadas
Decerto alcançaremos tal remanso.
Emoções nos dominam quando alçadas
Ao infinito plano aonde alcanço
Alegrias em ondas delicadas,
Encanto assim sublime em mar tão manso.
Enamorado, bebo eternamente
Dos lábios da mulher raros licores.
Um grande amor que enfim já nos contente
Desnuda nossa pele, estampa a sorte
De ter a cada noite teus fulgores,
De altares da esperança, um bom suporte...
81
Bandeiras desfraldadas nesta torre
Onde avisto chegarem galopantes
Corcéis em belo céu que agora morre
Nas colinas em cores deslumbrantes.
Bandeiras desfraldadas nesta cama
Misturas de perfumes e de sonhos,
A voz aveludada não reclama
Os mantos descobertos e risonhos.
Bandeiras desfraldadas nesta busca
Do corpo pela pele que sonhara.
A mão que acaricia, nunca brusca,
Encontra em quente lago uma água clara.
No visgo deste lago me perdi,
Bandeiras desfraldadas, ‘stou aqui!
82
Bandido tão silente enquanto agia
Roubando dos pequenos, sempre mais.
Fazendo nos congressos sua orgia
Os chifres denunciam Satanás
Vestido com perfeita galhardia
Galhada sobre a testa sempre traz.
Fazendo nos ingênuos tal sangria
Matando em nascedouro é bem capaz
De se forjar amigo de quem sangra,
Depois nos feriados ir para Angra
Iates e banquetes sem ter fim.
Amigos do demônio, com certeza,
Só peço ao Salvador que, por fineza
Afaste esta canalha aqui de mim...
83
Banhado no desejo de te ter
Dormindo no aconchego dos teus braços
Molhando minha vida em teu prazer
Recebo teus afagos, velhos laços...
E sinto que esta noite será nossa
Em tantas fantasias que pretendo
Gosto que tua boca já me adoça
Em festas e folias convertendo.
Eu quero te saber bem mais tranqüila
Nas vezes e nas tramas bem urdidas
Amor que tanto amor já se destila
Vivendo em pleno gozo nossas vidas...
Suando, nossos corpos se procuram
Em meio a tantos sonhos se torturam...
84
Banhando o lindo seio em minhas águas,
A bela criatura não sabia
Que em braços destas braças minhas rias
As lágrimas corriam, minhas mágoas...
Vertido neste rio que, em cascatas,
Amor não permitiu felicidade,
Ao ver a triste chama da saudade
Em meio às minhas dores fluo em matas.
Depois desses milênios; solitário,
Revejo uma esperança na nudez
Nos carinhos que faço, insensatez;
Nos beijos que transbordo temerário
Enchentes perfilando maravilhas,
Unindo em poesia, antigas ilhas...
85
Banquete da alegria em mar sereno,
Promessa bem sutil quase em desarme,
No sonho em que preciso concentrar-me
Um dia com certeza mais ameno.
Sabendo reviver amor mais pleno,
Na sorte de poder banquetear-me,
Não posso prescindir de tal alarme
Do mundo em que sonhei, sem ter veneno
A sorte- ser feliz- já não retarda
Encontro o fantasia em dia augusto
De um passo mais audaz e mais robusto
Mostrando na certeza, ser capaz
De ter uma manhã ensolarada
Num mundo mais perfeito em plena paz...
86
Banquetes que pensei; simples fiasco,
Orgíacos momentos desejados,
Se agora do meu corpo restou asco
Os pés do caminheiro, calejados.
De quem se fez poeta, nem o casco,
Palavras me servindo de cajados,
O alívio que eu encontro em cada frasco
Sofrimentos enfim remediados.
A perna diabética lateja,
A amputação se mostra a solução,
O cheiro que me invade, podridão,
A angústia se tornando enfim sobeja.
Distante dos antigos refletores,
Contorno com meus versos, tantas dores...
87
Barata desbarata o meu barato
Num ato que insensato não repito.
O beijo da morena é desacato
Preciso de outro verso, senão: pito.
O gato que; fugindo, vira rato
O quanto em desencanto não palpito.
Velhice feita em verso que retrato
Não vale neste jogo mais que apito.
Das velhas picuinhas, estou fora
Ariscas as palavras saltam muros,
Depuro o que em tortura trouxe apuros
Voz em modernidade já deplora
A rima que me arrima é simples soma
Embrulha e me embaralha enquanto embroma...
88
Barata na cintura da baiana
Fazendo reboliço e remelexo,
Eu quero em nosso amor um bom desfecho,
Assim a gente sabe e não se engana,
No gosto desta boca, pura cana,
Abrindo toda noite, calça e fecho,
O resto mal servindo de apetrecho,
Sorriso de soslaio, tão sacana...
Embalas meus desejos em quadris,
Balanças os cabelos num convite,
Por mais que a sensatez amor evite
Dos medos resta alguma cicatriz,
Mas sei que venceremos preconceitos
Vivendo em pleno amor, todos direitos...
89
Barbáries encontrei em minha vida
Assim como mentira e falsidade,
Às vezes já fechada uma saída
O amor veio arrombando qualquer grade.
Se eu trago a cicatriz, sei da ferida
E tento disfarçar tranqüilidade,
Porém se a porta eu vejo destruída
Adentro sem temor nem vaidade.
E assim eu vou seguindo o meu destino
De ser quase um corsário da ilusão,
Prefiro ter meus pés sempre no chão
Senão bem mais depressa eu me alucino,
Se tudo o que vivemos foi em vão,
Eu permaneço sendo um peregrino...
90
Barcaças parindo sonhos
Medonhas embarcações
Os fardos são tão bisonhos
Nas carnes, putrefações.
O barco que nunca tive,
O vento que nunca veio.
Lugares por onde estive,
Arcando com meu receio.
Mulheres que não beijei
Os seios que não vislumbro
Amores que eu estraguei
Nos chumbos já me deslumbro
E bebo desta fornalha
E escarro em podre canalha..
91
Bares, becos, bocas, ritos, rumos, onde?
A vida não permite mais enganos.
De todos os momentos, velhos planos,
Vazio dentro da alma, já se esconde.
Quem dera se eu tivesse barco ou bonde,
Talvez não fossem frios, desumanos,
Os olhos que eu pensara, soberanos
Adelgaçando o sonho outrora fronde.
Restante do viver, desilusão,
Recolho os meus pedaços, negação
E tento numa colcha de retalhos
Abrigo, mas que faço se não vem
Nem mesmo estrela guia, bonde ou trem.
Deixando o coração já em frangalhos...
92
Barganhas que fazemos com o mundo
Determinando os rumos, ódio/amor
Mudanças tão velozes, num segundo
Em glória ou morte a vida a recompor.
Histórias tão diversas, rua escura
Batidas arrastadas, tempo passa.
Na determinação, ação e cura
Depois o que viera se esfumaça.
Crianças espancadas pela vida,
A sorte se levando em plena brisa.
De tudo se repete na batida
Do relógio que nada mais avisa
Senão da morte certa que virá
Na glória deste amor que odiará...
93
Barquinhos de papel pela enxurrada,
Numa festa sutil, criança pobre.
O medo dos fantasmas, vida cobre
O que foi quase tudo, resta nada...
A não ser os barquinhos... Em cada
Novo almoço, torcer para que sobre
Uma rapa de angu; nisso descobre
Que a tal felicidade vai cansada...
Nas janelas, bolinhas de sabão,
Pelos ares, fugiu tanto balão;
Nos papagaios, cerol não havia...
Brincadeiras; queimada, corda, pique.
Amarelinha do tempo, no repique
Dos sonhos, vai reinando a fantasia...
94
Bases frondosas: árvore esperança...
Grinaldas buquês, festas, despedidas...
Alabastrinamente vão vestidas
O que restará dessa contradança?
O que tenho melhor- amor - avança;
As tardes que deixei estão perdidas...
Nos meus dedos, meus medos são feridas.
Nas bodas, tuas bodas, a criança
Morta, ressurge, tímida, reclama...
Perco-me, cego, morde a dor que inflama
Te perder foi atroz, mal tumular...
Escadarias, luzes, enlutado...
Tais esperas, festejos, triste fado...
Quem me dera jamais poder amar!
95
Bastam-me mais uns poucos sentimentos,
Não quero transformar tristeza em ouro.
A dor preconizada nos tormentos
Qual faca penetrando no meu couro
Esquartejando tudo. Sofrimentos,
Meus cruéis guias, sabem desse agouro.
E sempre recebendo os duros ventos
Deixando bem distante ancoradouro.
Amor não quer saber de tais partilhas
Da minha sina, apenas traz veneno.
Quem dera se pudesse um sonho ameno
Aonde desfrutasse maravilhas.
Mas nada me sobrou senão saudade.
Daquilo que jurei : felicidade...
96
Bastando que se entregue ao raro encanto
Por vezes eu me ausento, mas retorno.
Aqui minha morada templo e canto
Amor saiu tostado do teu forno.
Embornal em que trago a liberdade,
Tristeza vai deixando a gente em paz.
Capaz de tempestade e claridade
Amor emoldurado não compraz.
Atrás do que se foi e não mais volta
À solta pelas ruas e calçadas.
A pele da morena, plena escolta
Cantantes esperanças, madrugadas.
Às vezes posso ser até pernóstico
Do amor que nós tivemos, nem acróstico...
97
Bastardas sensações de medos crus,
Ensimesmando sempre a mesma história
Voando sobre nós os urubus
Querendo o que sobrar da merencória
Fornalha em que vivemos quase nus,
Sem rumo e sem troféus sem ter vitória
Na mão do vencedor qualquer obus,
No corpo derrubado, riso e glória.
Eu bebo do teu sangue e te escarrando
Demonstro quanto amei cada mentira.
Depois de ter fugido não sei quando
A vida em precipício já se atira.
Sei lá se estou querendo ou vou te amando,
A mando do que fomos; nada gira...
98
Batendo nessa porta e nos batentes,
Não posso penetrar na tua sala.
A vida me rangendo podres dentes
A solidão disfarça e não se fala.
Os sonhos se parecem inocentes,
Na sedução da carne, a dor resvala...
As mãos que acariciam são tementes,
Os olhos fugidios qual impala...
Já posso traduzir em desventura
Haréns que me deixaste, perfumados,
A mão desfia em atos de brandura.
Os dias não serão mais ocupados.
Amor que me deixaste, sem ternura.
Amêndoas os olhares preocupados...
99
Batendo nesta tecla o tempo inteiro
Fugindo da verdade em falsas tramas,
Se logo em desafio tu reclamas,
Apago num instante o fogareiro.
Vagando por teu corpo qual veleiro,
Dos ventos desejosos sobre as ramas
Não posso suportar lamentos, dramas,
O gozo se mostrou meu companheiro.
A mão que te dedilha mais precisa,
Vencendo o que já fora uma ojeriza
Estúpida ao amor, alço degraus
Chegando ao campanário dos prazeres,
Deslindo catedrais onde puderes
Trazer um calmo cais pras minhas naus...
3600
Bateu na porta, abri depressa... Amor,
Fazendo estripulia, veio vindo
Devagar invadindo sem pudor,
E quase que zombando, estava rindo...
Naquele instante sinto que perdi
O rumo planejado há tanto tempo.
Aos poucos me tomou; me convenci
Que desta vez não era passatempo...
A mais bonita moça do cerrado
Morena com sorriso mais gostoso,
Domou meu ar, meu céu, beijo melado
Que tanto desejei, amor fogoso...
Agora que este amor é minha lei,
A porta, de uma vez, eu arrombei!
3601
Batuca no meu peito
Um coração praiano
Que acha-se em direito
De ter em cada plano
Mansinho do seu jeito
Amor tão soberano
Que mostra, satisfeito
Prazer sem desengano.
Batuca o coração
Moleque mensageiro
Brotando uma paixão
Um gosto alvissareiro
Deitando uma emoção
No nosso travesseiro...
3602
Batuca no meu peito uma saudade,
Da tarde que pensei que nunca vinha;
Eu tinha tal temor à claridade,
Que toda essa saudade já foi minha.
Se aninha no meu peito uma vontade
Da tarde que virás aqui sozinha,
Uma avezinha canta em liberdade,
Saudade que pensei que já não tinha.
Já se avizinha um canto de verdade,
Mas arde uma saudade que se alinha,
Na linha que traçamos, em tenra idade,
Da eternidade amor meu engatinha.
Sozinha, sempre irás sentir vontade.
De ser, somente minha, sem saudade...
3
Batuca o coração tamanho trem
Que sobra tanto espaço não se cansa.
Às vezes a saudade vai e vem,
Mas chega num momento não me alcança.
Nascido de Mercúrio com Iansã
Sou rápido e trovejo meu caminho.
Renasço em minha luz toda manhã,
Pior, nunca temi andar sozinho...
Bebendo a tempestade abrindo o peito
Vou sempre sem sequer olhar prá trás.
Na dor e na saudade já dei jeito,
Agora vou caçando a santa paz...
Por isso minha amada me perdoa,
O tempo que voei, tomado à toa...
4
Batuca sem parar esta saudade
Que tanto me enlouquece e me domina,
O amor que tantos sonhos extermina
Mudando da ilusão tonalidade.
Atravessando um mar feito inverdade
No cais mais distraído faz a mina,
Promete à solidão vital chacina
Abrindo o que restar de antiga grade.
Não vejo outras desditas pós festança.
Tampouco uma alma livre morre e dança.
Alcança num momento ondas eternas.
E visto sem pudor velhas mortalhas,
Caminho ao Paraíso logo atalhas
E as tristezas sombrias; tu invernas...
5
Batucando a saudade no meu peito
Sem jeito com trejeitos mais vadios,
Fingindo que este amor insatisfeito
Nos une por estrelas, mãos e fios.
Agora que encontras contrafeito
Vestido das mentiras perco os frios
Olhares de quem nunca teve jeito,
Tocando bem de leve tantos brios.
Saudade não me engana, vai embora,
Amor que já se foi não voltará;
A noite vem chegando e não demora
Percebe noutra boca um novo toque,
Da lua que por certo, brilhará,
Mesmo que seja amor ponta de estoque.
6
Batucando meu samba sem compasso,
Vou vivendo sem passo e sem poema;
O que demais que a vida nunca teima.
É da morte, sentir medo e cagaço...
Sinto-me, tantas vezes, um palhaço;
Perdido vagabundo sem ter lema;
Não quero clara, quero ponto, um trema.
Na fonte fiz, farei; mas nunca faço...
Na sordidez leal que tu me tinhas,
Amor que era bem pouco, parcas linhas.
Vestido tirolês: comenta leite...
Nem estou procurando quem me aceite
Apenas quero o riso sem sarcasmo,
E se sobrar algum, quero um orgasmo...
7
Bêbado da garapa desta boca
Que tanto lambuzei com beijos meus.
Vontade de gritar, a voz mais rouca,
Meus olhos nos teus olhos, mais ateus..
Enquadro o belo rosto nos meus olhos,
E vejo em tal beleza um espetáculo.
São flores, primaveras, tantos molhos,
Predisse ser feliz, um bom oráculo.
Se já tive improfícuas agonias
Agora me sustento em teu amor.
Nascemos de perfeitas harmonias,
Em cada novo verso que compor.
Beijando tua boca mansamente,
Ensolarando a vida, de repente...
8
Bêbado de saudade- quem diria –
Vou fechando boteco após boteco.
Noite raia, clareia um novo dia,
Passos trocando, paro tonto e breco.
Lembrarei do conhaque, de uma orgia?
Meus suores e lágrimas não seco.
Confundindo verdade e fantasia.
Percebo que inda estou com meu jaleco.
O meu nome estampado num crachá,
Lembrei de que hoje estou de sobreaviso.
Dane-se! Pois quem ama entenderá;
Rolando nas escadas, eu deslizo,
Saudade maltratando desde já.
Morrer agora é tudo o que eu preciso!
9
O amor entra pros olhos,
vai pro peito direitinho.
Amor embebeda a gente
como cachaça com vinho.
Bêbado dos teus olhos, louco amor
Que toca e me alucina, me inebria;
Trazendo a sensação deste torpor
Que ao mesmo tempo dói em alegria.
Amor que não permite recompor
O mundo que, bem antes, eu vivia.
Transgride, me domina e traz temor,
Clareia e me promete novo dia.
Amor, cachaça boa, embriagante;
Que como o vinho sempre amadurece
E torna nossa vida deslumbrante.
Bebendo amor em taça de cristal,
Mostra o valor imenso de uma prece
Louvada neste templo sensual...
10
Bebendo a noite inteira sem parar
Do quanto te desejo e nunca nego.
Aos poucos vou chegando devagar
Vagando sem limites, eu me entrego.
O tanto que eu sofri, nem me dou conta
Asperges no meu corpo farto mel,
Destino tantas vezes nos apronta,
Permite a liberdade de um corcel
Nas asas deste Pégaso pressinto
O amor chegando ao máximo, apogeu
Na boca que se dá, divino absinto
O quanto tanto és minha, já sou teu.
Na linha do horizonte, a tua face
Sem nuvem nem tempestas que a embace...
11
Bebendo a poesia de Vinícius
Em fartos goles, bêbado de luz
O amor que é o maior de tantos vícios
Enquanto me entorpece à paz conduz.
De todos os caminhos mais propícios
Aquele que permite, em corpos nus
Andar pelas beirais dos precipícios
Vencendo as armadilhas, glória e cruz.
Sabia que virias cedo ou tarde,
Por mais que o medo, algoz, inda retarde
Após a madrugada, surge o sol
Aurora transbordante em cores várias
Assiste ao debandar das procelárias
E doura em alegrias, o arrebol...
12
Bebendo a poesia destes versos,
Encontro o que busquei, inutilmente,
Viver cada momento, de repente,
Deixando para trás sonhos perversos.
Juntando os meus caquinhos que, dispersos,
Esboçam o vazio, tolamente.
Sentir esta alegria que se sente
Singrando pensamentos mais diversos.
Arcando com meus erros, sou feliz,
O amor ao confessar o que alma diz
Permite a tão sublime liberdade.
Servindo ao propalado servidor,
Vencendo em alegria qualquer dor,
Eu encontrei enfim, felicidade...
13
Bebendo a solidão neste meu verso,
Distante de mim mesmo, tão vazio...
Num vago sentimento me disperso
E vem a sensação de imenso frio...
Cometa que vagueia no universo
Sem nexo, perco o rumo; já me alio
À negra sensação de ser diverso
Do que sonhara um dia. Morto o estio
Retorno, num momento para inverno
Deixado há tanto tempo, no passado...
A vida se transborda em vivo inferno
Que corroendo a paz, transporta a sorte
Bem longe do que quis. E desolado
Caminho em solidão, buscando a morte...
14
Bebendo cada gole do licor
Que emana de teu corpo,minha amada.
O canto a se mostrar por onde for
Avança enquanto a sorte em fúria brada.
Teu jeito tão sereno e sedutor
Permite que eu vislumbre uma alvorada
Risonha e divinal e em seu albor
Amanhecer em paz ensolarada.
Falemos bem baixinho estes segredos
Que são somente nossos. Na emoção
Que toma os meus sentido, convulsão
Que encharque nossos lábios, nossos dedos
Marcando com desejo e insensatez
O amor que a noite inteira a gente fez...
15
Bebendo cada gota do rocio
Que espalhas nesta cama, deusa nua
Enquanto em tal magia continua
O passo mais sublime que hoje crio.
O coração vagando tão vadio
Encontra esta beleza sob a lua,
Teu brilho se espalhando pela rua
Um templo em magnitude fantasio.
Eu quero repetir qual fora um vício
Carícias em delírios, seios fartos,
Na claridade imensa destes quartos
O amor nos carreando traz o ofício
Divino e tão sacana de poder
Hedônico caminho diz prazer...
16
Bebendo com fartura deste mel
Que espalhas num momento de prazer.
Roubando cada estrela, ganho o céu
Sentindo a tua boca a percorrer
Recônditos num gozo em carrossel
Girando o tempo inteiro, bem querer,
Devoras meus olhares; posso ver
Tua nudez divina sob o véu.
A cada novo toque provocante
Olhando para mim, convidativa
A sílfide se entrega e num instante
Deixando para trás velhos marasmos,
Encharcando os meus lábios de saliva
Estremecendo em múltiplos orgasmos...
17
Bebendo da nascente, cada gota,
Tomando tuas fontes para mim.
A sede se sacia, a fome esgota
Na boca que me beija, carmesim,
Ao mesmo tempo invado cada toca
Do amor que vai intenso até o fim...
Os teus dentes, as unhas, firmes garras
Cravadas no meu corpo, teus anzóis.
Vou preso em tuas pernas qual amarras
Sob esse brilho imenso, olhar quais sóis;
No curso deste rio inebriante
Percorro tuas matas e magias...
E morro em cachoeira a cada instante
Nas ondas convulsivas que fazias...
18
Bebendo da saudade quase um rio,
Depois de tanto tempo sem te ver.
Viver sem teu amor é desafio,
Mas tento, mesmo assim, sobreviver...
Falar do nosso amor é dolorido,
Mas falo com meus versos mais felizes.
Depois de quase tudo decidido,
Amor sem ter amor; tantos deslizes...
Mas venho te pedir, quero perdão!
Não sei de quê, mas mesmo assim te peço.
Talvez inda me reste uma emoção,
Desculpas sem motivos, te confesso.
Bebi da tal saudade, assim, demais,
De tanto que bebi, não cabe mais...
19
Bebendo de teu corpo, meio e fim,
No cálice divino multiforme
Sabendo quanto quero sigo assim
Desvendo sonho a cada novo informe.
Amor se performático permite
Malabarismo enquanto arquitetura.
O canto que me encanta sem limite
Decora enquanto mira a partitura
Numa aquarela insana, nos mosaicos
Em asteriscos riscos programados.
Ariscos asteróides tão prosaicos
Arcaicos sentimentos consagrados.
Sagrando, sangra sempre peles, lábios,
Revendo anotações em alfarrábios
20
Bebendo de teu gozo em cada gota
Ardendo de vontade e de tesão.
Na fonte que não cessa e não se esgota,
A chama mais intensa de um vulcão.
Colocar devagar, bem mansinho,
Com toda esta volúpia de te ter,
Aonde tu quiseres, meu benzinho,
Desejo sem limites de foder
A xana tão sedenta deste falo
Que quer em teu licor, embriaguez,
Na louca cavalgada, neste embalo,
Completa e deslavada insensatez.
Nos gozos alcançados porra e mel,
Caminhos descobertos para o Céu...
21
Bebendo desta fonte eu quero mais
Embora a moça esteja tão aflita,
Os sonhos que se foram desiguais
Ainda te mostrando tão bonita.
Eu quero tacar fogo no cenário,
Deitar o que já fomos novamente,
Tirando a velha roupa deste armário
Cevar nosso jardim, plantar semente
Que brote em mesmo palco nova cena
Na transparência audaz, rebolativa,
A vida num vacilo se apequena
Mantenha então a chama sempre viva
Vem logo na colheita que é só tua,
De preferência chegue, agora e nua..
22
Bebendo desta fonte inesgotável
Aonde a poesia faz morada,
Por Deus a cada dia iluminada
Tornando o Paraíso mais palpável.
Há tanto concebida; em sábio oráculo,
Fazendo do porvir tão aprazível,
O amor incomparável e invencível
Vencendo sem temor, qualquer obstáculo.
Farturas de delícias sobre a mesa,
Gerando em placidez a fortaleza
Na qual nos protegemos e geramos
Fantásticos caminhos sob o sol,
Servindo ao viajante de farol
Expande sobre a terra fartos ramos.
23
Bebendo desta fonte maviosa,
Delícias e delírios: sou feliz.
Manhã se apresentando radiosa.
Meu canto te chamando sempre quis
O gozo desta vida fabulosa,
Marcando com divina cicatriz
Canteiro em que nasceu sublime rosa
De todos os meus ritos, aprendiz.
A pele que te toca em noite imensa,
Fadada a ter completa recompensa
Recebe com doçura a ventania
Que chega de teus lábios, ocas, minas,
Em forma tão perfeitas; femininas,
Tu és o canto livre da alegria.
24
Bebendo desta luz tão deslumbrante
Que emanas quando passas na calçada,
Teu corpo num requebro insinuante
Convida para a festa anunciada
Decerto desde quando, num instante
Sorriste para mim. Não trago nada
Senão a minha lua que, distante
Mantém a fantasia iluminada...
Não posso mais fugir desta verdade
Eu quero estar contigo e nada mais.
Amar sem ter limite à saciedade,
Vencendo os mais temíveis vendavais,
O barco que se entrega em liberdade,
Encontra finalmente em ti, seu cais...
25
Bebendo deste rio cristalino,
Que é feito em amizade e, todo dia,
Mostrando tanto amor, quase divino,
Trazendo para a vida, uma harmonia,
Na força deste canto, eu descortino
Felicidade intensa em sintonia...
Vibrando no teu canto soberano,
No qual a minha vida já se abriga,
Um sentimento nobre e mais humano
Permite que alegria eu já persiga,
Deixando bem distante um desengano,
Podendo, enfim, dizer: tenho uma amiga
Que faz a vida ser mais rutilante,
Na perfeição sublime, um diamante...
26
Bebendo deste vinho, corpo imerso
Em chamas e desejos deslumbrantes.
Invado sem juízo este universo
Que é feito em aguardente, por amantes
Que sabem quanto é duro, mau, perverso,
Os dias que se vão sem os rompantes
Dos sonhos e dos lábios. Neste verso
Eu peço que tu venhas, adiantes
E trames em nudez delícia e gozo
Mexendo com vontade e bem gostoso
A libido aflorando em seios, pernas.
Garanto que terás mais do que pensas,
Suores e salivas recompensas
Em noites sem limites, pois eternas...
27
Bebendo do lirismo em largos tragos
Relembro de teus lábios, fonte imensa
Do gozo que se dera em recompensa
Em meio a tantos lúbricos afagos.
Um louco vendaval tomando os lagos
De placidez outrora vã e tensa,
Por mais que a solidão agora vença
Os dias que vivemos foram magos.
Não pude então domar o frágil tempo
Que traz em suas asas, contratempo
E forra com espinhos minha cama.
Arcanjos, querubins, voando soltos
Por sobre estes oceanos tão revoltos
Apagam, pouco a pouco, a velha chama...
28
Bebendo docemente em tua boca
O gosto da aguardente inebriante,
Vontade de te ter ficando louca,
Não deixe que se acabe um bom instante;
Angústia vai morrendo de tão pouca
A lua se tornando radiante,
A voz vem num sussurro, quase rouca,
Deitada em nossa cama, minha amante...
Bebendo toda gota do desejo
Que explode numa dança sensual,
Amar não necessita ter traquejo
É só deixar fluir... Que o bom já vem,
Todo dia, o prazer é ritual,
Bebendo e me inundando em nosso bem...
29
Bebendo em teu prazer, caminho e rumo
Esqueço um pesadelo feito em vida;
O quanto necessito e sempre assumo
Expressa toda a sorte já perdida.
Além do que não posso, não mais temo
Vencido pelos erros e besteiras.
O barco soçobrando vai sem remo
Encontra em tuas pernas as bandeiras.
O nada representa o que me resta,
Mergulho em desespero no teu sexo,
À angústia interminável já se empresta
A vida sem razão, juízo ou nexo.
Desesperadamente eu te procuro,
Rasgando cada céu em treva, escuro...
30
Bebendo gota a gota à saciedade
Eu quero o teu prazer, moça bonita
Vasculho cada ponto em liberdade,
A boca que me morde caça e frita
Agita no meu peito o paradeiro,
Armado pelos dentes, a coragem
Entrega-se em sentido verdadeiro
Fazendo no teu corpo esta viagem.
Caçando o que eu queria na nudez
Deitando neste sol o meu fervor.
A graça tresloucando a lucidez
Sacia todo o vício, furta a cor.
Suores encharcando o nosso leito,
Traduzem nosso amor, mais que perfeito...
Marcos Loures
31
Bebendo gozos antes tão dispersos
Encontro o que mais quis em minha vida,
Espelhos que prometem universos
Deixando a porta aberta na saída.
Não quero os arremedos mais perversos
Nem mesmo as cotas todas divididas.
O ramo do arvoredo da esperança
Em novas alianças vira mata.
Na louca sensação do quanto avança
A vida que em leilões tudo arremata.
Cascatas redivivas, luz alcança
Nem mesmo uma saudade me maltrata.
Eu quero o teu carinho e não discuto,
O amor é sem juízo, audaz e astuto...
32
Bebendo nesta boca o doce mel
Que traz uma fartura feita em gozo,
O tempo de viver é caprichoso
E às vezes nos parece mais cruel.
Sentindo esta vontade em fogaréu,
No mar que se faz farto e melindroso
De uma tranqüilidade sou esposo
Galgando em tua pele ascendo ao céu.
A vida prosseguindo assim, suave
Não tendo mais tristeza que me entrave
Embarco nos teus sonhos de menina
Castelos que criamos. Fantasias,
E um mundo todo pleno em alegrias,
Felicidade imensa descortina.
33
Bebendo o bom licor do sentimento
Eu tento ser mais tenro até me acalmo,
Dos salmos que ora entoas, meu provento,
Inferno em céu nublado resta calmo.
Amor obnibilando o que inda existe
Da bílis que domara em amargura
Tomando em fel a vida, cega e triste
Espúria violação, fria tortura.
Mendigo da esperança; fui à foz
Dos sonhos que bendigo, mas não toco,
Persisto neste intento, aumento a voz
E quero perceber amor in loco.
Loquaz soltando a esmo, verso e fala,
A paz do amor inflama quarto e sala...
34
Bebendo o puro mel de tua boca
Adoço a minha vida, tão amara.
Na sensação divina e quase louca
O tempo sem juízo nunca pára.
A febre que me toma me translouca
E deixa a sorte ser deveras cara,
Quem teve uma esperança, tíbia e pouca
Já sabe traduzir beleza rara
Na pele da morena maviosa
Que é feita em tal perfume que me encanta,
Eu colibri pousando sobre a rosa,
Beijando em profusão com fome tanta,
Vem logo- espero aqui- voluptuosa
Vê se esta solidão o amor espanta...
35
Bebendo os erros todos do passado
Serei capaz talvez de refazer
O que busquei em vão já me faz crer
Que o dia não será iluminado.
Matando o que pensara estar errado
Também deixei de lado o meu prazer.
No barco, o meu naufrágio passo a ver
Na tempestade seguirei calado.
Coragem que se faz tão necessária
Metáforas em vida temerária
Macabra decisão de prosseguir.
Vingança do que tive no porvir
Prevendo o que virá; fardo cruel
Das nuvens escondendo o que há no céu...
36
Bebendo todo o mel de tua boca
Um cálice perfeito é necessário.
A fúria do desejo já me toca
E traz todo este brilho temerário.
Vasculho do teu rio cada loca,
E a boca procurando itinerário
Encontra esta delícia em tua toca
Prazer tanto voraz quanto mais vário,
Saliva se mistura com orvalho,
E escorre pelas matas pernas, dentes,
Numa loucura intensa, em ato falho,
Percebo que desmaias nos meus braços,
Os passos mais audazes, indecentes,
Abertos os caminhos, e os compassos...
37
Beber de tua boca cada gota
Do fel que tu destilas, mas eu te amo!
A poda que se dá não poupa um ramo,
A vida que maltrata me amarrota.
O barco que se perde desta frota
Mergulha num abismo, não reclamo,
E mesmo quando em versos eu te chamo,
Eu quero muito além da minha cota.
Sem píncaros ou glória, picadeiros
Expostos no sorriso que me impele
À ter saciedade em tua pele,
Cegado pelo brilho dos luzeiros
Que trazes em teu rosto tão suave
Embora a fantasia seja entrave...
38
Beber deste licor maravilhoso
Que encontro no teu corpo, minha amada,
Prevejo um dia calmo em pleno gozo,
Depois de tão sublime madrugada.
Sentir o teu perfume extasiante
Tomando todo o quarto noite afora,
Até que o orgasmo chegue, fascinante,
Prazer que me conquista e revigora
Espasmos latejantes, fogo imenso,
Delírios que recebo da fortuna.
Enquanto em nosso amor, querida penso,
Eu vejo tão possível ser feliz,
Vivendo esta explosão feita em ternura,
Encontro finalmente o amor que eu quis...
39
Beber do meu cadáver, podridão,
Carcaça que se espalha nas veredas.
Por mais que algumas vezes me concedas
Momentos de carinhos: ilusão!
Lambendo as tuas pernas, pobre cão,
Mal sabe das palavras vãs e ledas.
De uma esperança teima em alamedas,
Porém jamais terá satisfação.
Enquanto tu sorris das desventuras
De um tolo que se vende por ternuras,
Eu sinto quão sou frágil e imbecil.
Um dia ainda terei alguma chance
Que traga muito além deste nuance,
Que amor, há tantos anos impediu...
40
Beber em tua boca este licor
Que tanto me inebria e me conquista,
Saber das armadilhas de um amor,
Mantendo a lucidez; é ser artista.
Não quero ser somente um bom ator,
Tampouco guerrilheiro ou ativista,
Por isso, meu amor, esqueça a dor,
Quem ama da esperança não se dista...
Pereço em cada dia que não vens,
Ausência dominando a fantasia.
Eu sei que isto parece teimosia
Estás dentro de mim, tens os meus gens.
O pensamento vaga e rodopia,
No girassol que o amor, em luzes cria...
41
Beber todo este mel de tua boca,
Numa aventura insana, amor perfeito,
deitar-te do meu lado, no meu leito,
deixando-te por certo, quase louca.
No doce de teu corpo, tanto gozo,
Orgástica loucura nos invade,
Debruço em plena fúria esta vontade,
Do amor que a gente faz, sempre gostoso.
De teu néctar provar, sorver inteiro,
Depois nos permitir lubricidades,
Assim a devorar, felicidades,
Deitados sobre o mesmo travesseiro,
A cama se ilumina, tantos sóis,
No chão vão espalhados, os lençóis...
42
Bebera destas águas poluídas
Aonde o bonde perde a direção
Se eu sangro pelos poros, nossas vidas
Não servem para nada, sem razão.
Aceito assim, as tuas despedidas
E nelas vejo uma auto-afirmação,
Se as almas facilmente são vendidas,
A tua não merece nem porão.
Porão meus olhos noutras serventias
E delas com certeza em novos dias
Eu tenho uma esperança que não cessa
De ser além do quanto se confessa
Enquanto a ladainha recomeça,
Fazendo das verdades, fantasias...
43
Bebericando a sorte em cada fonte,
Desenhos entrelaçam várias telas
E quando este desejo tu revelas
Amplias sem saber, meu horizonte.
Bem antes que a tristeza já desponte
Obscuridade toma tais estrelas,
Inútil tentativa; quero vê-las
Detrás da cordilheira, em cada monte.
Não posso mais falar dos meus anseios
Distante da beleza de teus seios,
Os veios que perdi sonegam fozes.
O amor que tantas vezes não me escuta
Protela inevitável e frágil luta.
Ausências de esperança, vãos algozes...
44
Bebi em tua boca
O doce deste mel,
A voz ficando rouca,
Amor em carrossel
A sorte que era pouca
Cumprindo o seu papel,
Deixando a vida louca,
Trazendo enfim, o céu.
Bebi desta doçura
Sabor maravilhoso,
Amor se fez ternura,
Mostrando o fino gozo
Em toda esta procura,
Um mundo fabuloso...
45
Bebo o medo que me trazes
Inebria-me este fato
De saber que tantas fazes
Que sonegas o contrato.
Sendo assim, em novas fases
O teu canto não maltrato,
Se na vida busco as bases
Num ressalto quebro o prato
E sem ter como fugir,
Sem sonhar e sem pedir
Nada pode me impedir
Nem tampouco irei seguir
Esta estrela que há de vir
Novamente a refulgir...
46
Begônias e crisântemos, jasmins,
As rosas esquecidas, violetas.
Os dias que mataram meus jardins
Da sorte, eu me perdi em tais roletas.
Os meios tão diversos, mesmos fins,
Dos restos do que fomos, tu coletas;
Sentidos e serpentes são afins
E os boletins da vida, assim, completas
Repleto do que empresto sem guarida,
Sabendo que ao final não restará
Nem mesmo algum resquício do que fomos.
Da cripta dos meus sonhos, a partida,
É tudo o que mereço e desde já
Eu como da ilusão seus podres gomos...
47
Beija flor no meu quintal
Ensinando uma lição
No seu beijo sensual
Tantos goles de emoção.
Minha roupa no varal,
Meu amor no coração,
Quando vem o temporal,
Eis formada a confusão
Na paixão eu me perdi,
Nos teus braços me encontrei,
Tanto amor quero de ti,
Entorpece o pensamento,
Muito aquém do que sonhei,
Sem remédios: sofrimento.
48
Beijando a boca aberta escancarada
Pronta pro sorriso e pra mentira,
Da língua penetrante à cusparada,
Palavra mansa, ofensa já me atira.
Por mais que me pareça desfraldada
Bandeira vai se ardendo até que a pira
Desfaça a nossa história em simples nada.
O tempo nunca pára e a vida gira.
Mas tenho uma senzala dentro em mim,
Guardada por açoites e carícias.
Sangrando com punhais podres delícias
Sevícias e torturas. Carmesim
A cor dos lábios quentes da morena
Que sangra com volúpia e me envenena...
49
Beijando ao mesmo tempo me assassinas
Com pérfido sorriso, tão medonha.
Mal sabes, sendo assim tu me fascinas
Na sensação estranha e tão bisonha
Contaminando assim belas boninas
Na fétida alegria que me enfronha.
De todas as surpresas, fatigado,
Encaro estas estradas mais poentas.
Maldigo a cada instante este meu Fado
Buscando outras histórias bolorentas
Que tirem minha vida deste enfado
Das luzes e penumbras violentas.
O solo movediço em que, assim, piso,
Servindo como alerta, como aviso...
50
Beijando de mansinho
A boca carmesim,
Adeus ao burburinho,
Te quero só pra mim.
Quem sabe de um ancinho
Cultiva o seu jardim,
Nas mãos tanto carinho,
Dizendo por que vim.
Não ligo pro vizinho,
Que regue o seu capim.
Florindo o meu caminho
Com rosa e com jasmim,
Preparo o nosso ninho,
Lençóis: seda e cetim...
51
Beijando o belo corpo devagar,
Nesta brônzea escultura divinal
A noite inteira até me saciar
Nesta loucura amável, sensual,
Tocando cada raio do luar
Com mãos e com meus lábios... Sem igual...
A sede que se mata em cada gosto,
A fome que se aplaca extasiante.
Meu corpo no teu corpo sobreposto
Num quadro mais sutil e deslumbrante.
Todo o prazer que estampas em teu rosto
Me torna mais feliz, amor garante...
Tu sabes deste sonho que alimento,
Vibrar junto contigo, num momento...
52
Beijando tua boca assim batuca
O coração em desvairado tom.
Saudade de te ter tanto machuca
Trazendo para a vida o que há de bom.
Teu beijo já roçando a minha nuca,
É fogo que incendeia, um doce dom,
Na boca desairosa e tão maluca,
O gosto anunciado de um bombom.
Vem logo que a saudade faz estrago,
Não cabe no meu peito em explosão.
Deitando em minha cama, amor eu trago
Fazendo sempre assim, revolução.
Pois saiba, meu amor, minha querida,
Coração se alimenta em teu afago...
53
Beijando tua boca mansamente
Percebo o tanto quanto que te quero.
Me esmero em te buscar, tão de repente,
Ao mesmo tempo em que me desespero.
São feros os desejos que me tomam.
Se somam aos delírios que já tive.
Retive nas retinas os que tomam
Prazeres onde amores sobrevivem.
Beijando tua boca vou sorvendo
As trágicas saudades que te danam.
Aos poucos, sem temer, vou me envolvendo
Nas tramas que trouxeste e que me enganam...
Amada teu perfume me embriaga
Semeia teu prazer quando me afaga...
54
Beijando uma esperança, por enquanto
Eu vejo ainda um dia mais feliz.
Delito da ilusão, o amor me diz
Que tudo valeria; No entretanto
O riso se transforma em dor e pranto,
Deixando a gigantesca cicatriz.
Dantesca realidade, por um triz
Calando do poeta voz e canto...
Mergulho no passado, um imbecil
Que a estrela derradeira imaginou,
Cadente meteoro; amor previu
Legando este silêncio que transtorna...
A solidão que aos poucos se entranhou
A estrada em desalento; vem e adorna...
55
Beijando-te tão mansa e levemente
Qual brisa te roçando pouco a pouco,
Vontade de sentir tão plenamente,
A mente vai rodando, fico louco...
Eu sinto a suavidade deste vento
Que excita e que anuncia novo jogo.
Em plena fantasia, o sentimento,
Ardente já me abrasa e vira fogo...
Percebo tuas mãos me percorrendo,
Numa velocidade lenta e provocante,
Aos poucos me entregando vou cedendo,
E deixo-me levar no mesmo instante...
Rolamos as cascatas, mesmo rio,
O vento no pescoço... Cadê frio?
56
Beijar a tua boca docemente,
Deitando-te em meu colo, com carinho,
Beber da vida a glória feita em vinho,
No porto, ancoradouro em que se sente
A vida bem melhor e totalmente
Entregue à boa sorte no caminho,
Vencendo os empecilhos, de mansinho,
Poder estar contigo e ser contente.
Não temo as tempestades, pois bonança
Encontro nos teus braços, minha amada,
Em ondas que se entregam à alva areia.
Nos passos deste amor, toda a fiança
Com uma ternura imensa sempre é dada,
Numa ilusão divina, devaneia...
57
Beijar a tua boca sem ter pressa
Fazendo do carinho uma viagem
Que enquanto o peito em festa já se apressa
Eu posso vislumbrar tal paisagem
Amor quando demais sonhos confessa
E diz em cada noite nova aragem,
Cometa que partindo em paz regressa
E traz na sua cauda esta visagem
De um brilho que sem par recende à lua.
A estrela me devora clara e nua
Roçando nossas peles não se cansa
E bebe com prazer cada segundo,
No velho coração tão vagabundo
Renasce a cada beijo uma esperança...
58
Beijar a tua boca, a mais sedenta delas,
Eu sei que ficas rouca ao gritar palavrões
No quanto que me dás, assim já me revelas
O quanto se consegue em doces tentações.
Não quero mais repúdio e nem tampouco velas
Acenda esta fornalha e veja aos borbotões
Chegando na umidade aonde as tramas selas
Selando lado a lado o gozo das paixões...
Na parte que me cabe enteso minha armada,
Na parte que te cabe as ancas e os quadris
Mexendo sem descanso a ponte está molhada
E quer uma avalanche em lanches e jantares.
Estrelas vão passando. Estou bem mais feliz,
Voando deste jeito eu já verei Antares...
59
Beijar tua nudez tão sensual,
Carinhos e vontades que viciam,
Momentos que delírios propiciam
O amor que nos domina, sem igual.
Motivos que encontramos para termos
Um dia mais feliz, noites imersas
Em luas multicores e diversas
Tornando os meus temores bem mais ermos.
Servindo a quem domina e nos cativa,
De nada a sensação sublime priva
Tramando um raro brilho em cada olhar.
Saber quanto é possível crer num Deus
Que torna mais distante o frio adeus
E ensina como é bom poder amar...
60
Beijar-te calmamente o corpo inteiro,
Sentindo o teu desejo se aflorando
Bebendo o teu perfume, aroma e cheiro,
E aos poucos, mansamente, desnudando
Tocando tal nudez com lábio audaz,
Roçando a tua pele com a minha,
Rodando em carrossel, a noite traz
Vontade que em meu corpo já se aninha
De ter o teu prazer bem junto ao meu.
No momento sublime em que sabemos
Da glória imensa- amor- que nos venceu.
Na alegria sincera onde bebemos
Salivas e delícias misturadas,
Rompendo sem juízo as madrugadas...
61
Beijo na boca, sempre é tão gostoso
Ainda mais querida, quando dado
Com todo este carinho bem guardado,
Fazendo-me ficar bem orgulhoso.
Teu corpo sedutor, assim cheiroso,
Por flores deste campo, perfumado.
Eu tinha tantas dores no passado,
Agora do teu lado, tão vaidoso...
Vem logo que a saudade não espera,
Vontade de te ter sempre comigo,
Renascendo a divina primavera
Num passo bem mais forte em que prossigo,
Seguindo para os pampas, para o Sul,
Debaixo deste céu, em limpo azul...
62
Beijos de amor! Delícias e prazer!
Caladas, nossas bocas já se entendem
E sem palavras, sempre compreendem
O que se quer falar sem se dizer.
Não há nesse universo, quero crer,
Quem fogueiras do amor, melhor acendem
Que lábios desejosos que se estendem
E fazem, da saliva, fogo arder.
Se mansos, nos permitem calmaria,
Paz e tranqüilidade, um belo dia.
Nos trazem os perfumes, tantas flores...
Porém já nos devoram, quando ardentes,
Invadem, se misturam línguas dentes,
Vorazes, Como um circo dos horrores!
63
Beirando estrelas sigo em noite clara,
Colhendo a mansa aragem que deixaste
Imensa claridade que, em contraste,
O amor que nos exalta já declara.
Na diamantina senda que perlara
O sonho inestimável que embrenhaste,
Por mais que a vida seja amara
Amarra bem mais forte, edificaste.
Os astros nos convidam para a dança
Que marca com carícias a esperança,
Sobeja maravilha que permite
O encanto sem igual de uma alvorada
Em meio à farta luz já decorada
Além de qualquer lume, sem limite...
64
Beirando o suicídio, sem resposta,
Beijando a boca amarga do vazio
O sonho para sempre agora adio
Celebro o meu final, a mesa posta...
Não quero mais a vida tão exposta
Jogada pelos cantos; se vadio
Eu tento imaginar calor e frio,
E a velha vestimenta recomposta.
No altar dos meus enganos, candelabros
Acendem velas torpes, descalabros,
Abrindo o coração, nada mais trago
Senões que o tempo trama a cada não,
Farturas de mentiras na explosão
Da dor que em solidão faz seu afago...
65
Bela cigana em sonhos já flutua...
Deitada em uma praia quis, um dia
Amor que se mostrasse em fantasia
E que a tomasse inteira, plena e nua.
Amorenado sonho continua
Derrama sobre a moça a poesia,
Na mágica emoção se traduzia
O sonho em que esta história continua...
Depois de certo tempo esta cigana
Trazendo em gravidez, o resultado
Desta paixão divina e soberana
Que sem limites, chegando incendeia,
Liberta pelo astral enamorado;
Pariu em noite imensa a lua cheia...
66
Bela como uma alvorada,
Uma aurora boreal
A imagem tão sonhada
Desfilando triunfal,
O passado não diz nada,
Minha musa divinal
Percorrer a mansa estrada,
Nosso amor, um ritual
Onde encontro finalmente
O que tantas vezes quis,
Um amor que me apascente
E me faça mais feliz,
Ter a mão que mansamente
Nega ao céu qualquer tom gris...
67
Belas ninfas se banhando
Libélulas a voar
As ninfeáceas moldando
Neste lago especular...
Nenúfares vão brotando,
Uma beleza a vagar...
Opiáceos delirando
Um belo encanto, cantar...
Nas cores desta lagoa,
A vida refaz santidade...
Minha esperança é riqueza
Nas asas da borboleta,
Banhada na claridade
Grávida de tal beleza...
68
Beleza assim igual, eu nunca vi,
Estrela que me guia sobre mares
Distantes emoções vivendo em ti
Além do que permitem os luares.
Marés que se transformam todo dia,
Nas praias, nas areias caracóis,
Cabelos entranhados de magia,
Estendem alegrias, raros sóis.
A par desta vontade que nos toma,
Meu verso se tornando mais sutil,
Querendo no teu corpo, bela soma,
O que o passado em trevas impediu.
Encontro fartas bênçãos nesta vida
Sabendo da colheita prometida.
69
Beleza não põe mesa meu amor,
Mas ajuda querida a ser feliz.
Um rosto ao bonito e sedutor
É nessa vida inteira o que eu mais quis.
Sorriso tão suave e tentador
Da moça que se fez tão bela atriz
Tu sabes, tem por certo o seu valor.
Beleza quero sempre e peço bis.
No fundo, um coração também ajuda
Uma pessoa boa tem encantos.
Uma alma que na dor já nos acuda
Merece nosso amor, nossa amizade.
Matizes de beleza, tantos, tantos...
Cada ser tem a sua claridade...
70
Beleza que em teus olhos encontrei,
Qual plêiade, este olhar, toma o cenário.
Expressas neste intenso lampadário
Aquilo que, deveras, desejei.
Ser teu e ter o quanto desejei,
Encanto sem igual, delírio vário,
Felicidade é um bem tão necessário
Por ela, tantas vezes eu lutei.
E agora que te encontro em noite clara,
O gozo deste sonho já me ampara
E deixa bem mais livre a caminhada.
Qual fosse um candelabro num altar,
Com seu facho de luz a iluminar,
Um farol dominando toda a estrada...
71
Beleza que encontrei com tal prazer
Nos olhos da mulher que sempre quis.
Sabendo que depois irei sofrer,
Mas vale, por instantes, ser feliz.
Eu quero a maciez deste teu rosto,
Envolto nos meus lábios sem juízo.
Meu coração aberto, vai exposto,
Querendo te buscar, meu paraíso...
Não posso te pedir que tu me queiras,
Da forma que te adoro, assim, sem fim...
Amor; irei vagando tantas beiras,
Sabendo que acharei dentro de mim.
Eu amo esta mulher que está distante
E tão próxima, viva e delirante!
72
Beleza que traduz pré sentimento
E faz de sua dona a nova escrava.
Deveras do sofrer é bom tormento,
É vulcão que derrama tanta lava.
Não faça do que é belo teu porvir,
Verás que nada vem e sabes disso.
Portanto nada tenho a te pedir,
Nem quero converter em compromisso.
Amada se afagamos nosso egos,
Vivendo por demais sem ter motivo,
Prendemos a nossa alma em podres pregos,
Em sonho por demais, sem gozo, altivo...
Amar é ser feliz no paraíso,
Porém esqueça o lago, vê Narciso!
73
Beleza sem igual se descortina.
Fazendo reboliço em minha mente,
Não tendo na verdade uma semente
Não posso mais plantar, eis minha sina.
O quanto que se quer quem extermina
O vergalhão penetra de repente
E corta o pé mais frágil, nada sente
Quem tem estupidez como cortina.
Assim não adiantam mais palavras
Esqueces o que fiz de antigas lavras,
Escorre em tua boca um doce pus.
Desconhecendo um gesto de amizade,
Ignoras com total sinceridade,
De todo sonho, o bem que eu te propus.
74
Beleza tão sutil e delicada
Caminha pelo reino dos meus sonhos...
Morando nos castelos mais risonhos,
A mão que acaricia, mão de fada...
Vestida em maviosa madrugada
A lua proibiu mares tristonhos
Desertos dos amores, mais medonhos
Nunca mais virão, minha adorada!
O canto da sereia que me ilude
Na voz dessa princesa traz saúde...
Toda a dor desse mundo ela antepara
Com seu sorriso manso e desejado.
O meu mundo será sempre encantado
Enquanto estás aqui, princesa Sara!
75
Belezas que em delícias já se tecem,
Demonstração de que na vida existe
Momentos em que embora esteja triste
As esperanças e as paixões aquecem
Nos erros cometidos que se esquecem
A força de um amor, firme, resiste
As emoções que em calma coligiste
Nas manhas deste amor depressa crescem.
Mergulho no teu corpo minhas sanhas
Brilho solar por sobre mil montanhas
Deitando no horizonte nossos Fados.
A noite se aproxima em lua cheia
Amor que maravilha se incendeia
Coberto de carinhos e cuidados...
76
Belisque, pois eu penso ser um sonho
O fato de te ter aqui comigo.
Trazendo toda a força que persigo
Um tempo mais gostoso em que componho
Um novo amanhecer calmo e risonho
Distante da ilusão, sem ter perigo
Roubando em alegrias este abrigo
Deixando para trás, um ar tristonho.
Parece ser somente fantasia
Daquelas que o amor, insano cria
E deixa o coração em polvorosa.
Depois quando amanheço, estou sozinho,
Sem ter sequer a sombra de um carinho
Canteiro vai morrendo sem ter rosa...
77
Belo sol levantando de manhã
Clareando a promessa da colheita
Coroando esta lavra em todo afã
Da alma da terra plena e satisfeita.
Mostrando que a labuta não foi vã
E a sorte tão pedida foi aceita
Passada pelas ruas, procissão,
Em rezas, nas promessas e novenas
Na benção que foi dada, no perdão.
Nas frutas e nos grãos as velhas cenas
Que trazem Nosso Pai em compaixão
Nas peles tão salgadas e morenas
Os olhos estampando uma alegria
Dos rostos tão amigos, cantoria.
78
Belo templo do amor, por toda a minha vida
Em cada novo dia, em sonhos visitei.
Amar era promessa e também foi a lei.
A luz que iluminava, agora destruída.
Procuro pelo templo, aguardo uma saída;
A mata que o cobriu, em sonhos, alcancei.
Das urzes do caminho, as lágrimas, eu sei.
Ó templo que se esconde! A treva irá, vencida?
Na mão, carrego a foice, a última esperança!
Desbasto o triste mato, em plena confiança.
Nos braços, tanto espinho, os olhos marejados...
O templo não vislumbro, o tempo vai passando...
Despojos da saudade, o caminho se fechando.
O corte mais profundo. Os sonhos des’perados!
79
Espreito belos seios sob a blusa,
Na doce transparência do organdi,
Beleza insuperável que ora vi
Deixando a minha mente mais confusa.
O olhar que de soslaio já me acusa
Mudando a direção chegando a ti
Voltando novamente sempre ali
Desejo, tal paisagem não recusa.
Anseios destes seios serem meus
Pululam as vontades caprichosas,
Visões que me dominam fabulosas,
Atingem paraísos, apogeus
Nas tantas cordilheiras da emoção
Os seios determinam direção..
80
Bem antes de poder te conhecer,
Andava nos invernos desta vida.
Infernos onde pude receber
As chaves desta entrada e da saída...
A sorte não se dava a perceber,
A senda que buscava era perdida...
Jogava simplesmente p’ra perder,
Pairava minha sina, distraída...
Os muros que levantas, dos desejos...
Galgando me trouxeram primavera...
Na noite dos prazeres, nossos beijos,
Queimavam as tristezas, dolorosas.
Verão que me trouxeste, mata a fera,
Perfume de mulher, recende a rosas...
81
Bem conheço teus passos cara amiga,
Vivendo destes restos que morri.
A noite te transforma e me periga
Nas garras destes sonhos que sofri.
Lembro-me quando vinhas pelas ruas
Demonstrando-me garras e rugidos.
Nossas almas estavam quase nuas,
Os corações, sozinhos, distraídos...
Alimentados sempre pela dor,
Jogados quase a esmo pela vida.
Fizemos nosso trato em puro amor,
Tu eras minha fera tão querida...
Porém veio esse vento que em frangalhos,
Deixou o nosso amor, sem agasalhos...
82
Bem firmes meus caminhos e meus passos,
Pegando uma carona no cometa,
Vagando por satélite e planeta
Arranco as maravilhas, risco os traços.
Prazeres na verdade são escassos,
A cada novo engano que eu cometa
Espero corrigir errônea seta
Juntando os cacarecos, meus pedaços.
Minha alma mergulhada no mecônio
Coração fustiga em tanto hormônio
Vai preso e necessita desta teia.
Num instantâneo mar, qual mergulhão
Parido pelo bom da tentação.
Percebo com clareza uma sereia.
83
Bem junto ao teu carinho, no verão,
Estendo meus prazeres no varal,
Tocado pelo vento da paixão,
O beijo calmamente sensual.
Nas margens de meus rios, emoção,
A vida se tornando um carnaval
No charme que derramas, sedução,
A cada novo gozo, triunfal.
Um pássaro distante da gaiola
Meu coração se entrega e vai cativo
Nos passos deste amor eu sobrevivo
Minha alma, num momento já decola
E voa em liberdade, uma andorinha
Que não sabe viver, jamais sozinha...
84
Bem mais do que momentos simplesmente,
A vida nos prepara eternidade.
Estando do teu lado a gente sente
Além deste prazer, tranqüilidade.
O amor que nos acorda plenamente,
Convite para a tal felicidade.
Durante muito tempo, tolamente
Vagando pelas ruas da cidade
De bar em bar, apenas ilusões...
Tentado ser feliz e nada vinha,
Somente a solidão, erva daninha,
Brotava nos jardins das emoções.
Ao ter esta certeza de ser teu,
Canteiro da alegria floresceu!
85
Bem mais do que palavras demonstravam
Amizades, delícias propiciam.
Meus braços com os teus se entrelaçavam,
E os passos benfazejos se faziam,
Os sonhos mais divinos se aclamavam,
E os dias, claridades acolhiam,
Os cantos de amizade que exaltavam
Os rumos bem mais firmes que traziam
Os ventos traduzindo calmaria,
Tramavam esperanças de alegria
Na paz em perfeição, divinos bens
Nas mãos tão carinhosas, camaradas,
Retirando os espinhos das estradas,
Mostrando esta magia que tu tens...
86
Bem mais do que pensamos sermos antes
Vencendo qualquer forma de tormenta,
As tramas que traçamos mais brilhantes
Amor que feito amor, amor aumenta.
Enquanto desfrutamos, dois bacantes
De todo este prazer que me alimenta
Vivemos tais momentos deslumbrantes,
Paixão que sem limites, arrebenta!
Sou frágil enquanto presa e teu cativo,
Nas ondas deste sonho eu sobrevivo;
Viola sertaneja enamorada
Tocando ao fim da noite em serenata,
Na glória de saber ser insensata
A vida nos teus braços, bem amada...
87
Bem mais que receber é sempre dar,
Sem fazer nem ao menos distinção.
Amor se traduzindo por ação
Capaz de este universo transformar...
Quem faz do sentimento como um lar
Permite com certeza uma eclosão
De gozos que iluminem coração
Sabendo sempre a vida cultivar.
Mais fácil carregar o duro fardo
Suplantar cada abrolho, espinho ou cardo
Seguindo com a fronte sempre ereta.
Ilustram nossos sonhos, poesia,
Na qual a fantasia se recria
E a vida sem ter pejos se completa...
88
Bem putinha em minha cama
Te desejo a noite inteira
O meu fogo já te chama
Pra esta foda costumeira
Toda noite dois vadios
Se bebendo sem vergonhas
Na delícia destes cios,
Nossas sanhas são risonhas,
Minha puta em tua xana
No teu cu e em tua boca,
Putaria mais sacana,
Te deixando quase louca,
Nessa foda tão gostosa
Na minha boca, já goza...
89
Bem querer, quero enfim, poder gritar
Pelo seu nome sem temer mais nada...
Nossos abraços, nossos beijos... cada
Amanhecer terá sabor solar,
Não quero morte, simplesmente estar
Junto a seus braços, minha doce amada.
Quando maldisse a sorte estava errada,
A minha vida sem saber amar,
Seguia rumos tão tristonhos... Vem
Acalmar medos, sem você, meu bem
Não há razão sequer, sigo vazio.
Sem o seu prumo desatino e morro...
Tenho em você, o meu maior socorro.
Viver sem seu querer é vago e frio...
90
Bem sabes dos meus erros e defeitos...
São tantos que nem mesmo eu sei contar,
Às vezes não vislumbro meus direitos,
Outras vezes nem posso imaginar.
Meus passos vão perdidos, sem sentido;
Tropeço em minhas pernas; vou ao chão...
Embora tantas vezes distraído
Não sinto quando firo. Mas, perdão!
Como um bando sem rumo, meus desejos
Atropelam demais, causam feridas.
Impetuosamente meus lampejos
Impedem que eu encontre as saídas...
91
Bem sabes quanto quero o teu querer,
Beijar a tua boca o tempo inteiro,
Teu corpo no meu corpo a se perder,
No grito deste amor tão verdadeiro,
Tomado de alegria e de prazer,
Montando em nosso sonho mais certeiro.
Cavalgo na magia, sem pecado,
Além da poesia, tua pele,
Sentindo neste templo perfumado
A força que me toca e me compele
Viver o dia a dia do teu lado.
Que toda essa alegria se revele
E traga a cada dia, um jeito manso,
Deitar a nossa sede num remanso...
92
Bem sabes quanto quero teu desejo
Em doces tentações, não exageras.
As noites solitárias foram feras,
Vazias, sem delícias, sem teu beijo...
Eu quero o sentimento mais sobejo
Fazendo renascer as primaveras
Fechando no meu peito tais crateras,
Trazendo este futuro em que prevejo
Meus olhos em teus olhos mergulhados,
Nos lagos transbordantes da paixão,
Os lábios se encontrando, delicados,
As línguas açoitando com tesão,
Gritando bem mais forte em altos brados
Fazendo em nossa cama, uma explosão!
93
Bem sei do sofrimento que te toma,
Amiga sempre é bom ter um alguém
Que junto com a gente sempre soma
E ajuda a superar quando a dor vem.
Às vezes nos achamos em redoma,
Sozinhos neste mundo sem ninguém...
Mas a presença forte da amizade
Nos traz uma esperança mais feliz.
Permite que se veja a claridade,
E o mundo que sonhamos, que se quis.
Não sofras estarei em realidade
Contigo pra sanar a cicatriz
Da dor que te devora sem dar tréguas,
Mesmo que esteja agora a tantas léguas..
94
Bem sei quanto é difícil suportar
A dor dum grande amor quando se acaba.
É como toda a vida desmanchar
Parece que o universo se desaba.
Mas veja, minha amiga e companheira,
Se pensas com tristeza, trazes treva,
Não deixe que essa dor, que é verdadeira
Embace esta visão, senão te leva...
E faz de todo o canto uma mortalha,
E corta fundo a carne e te destrói.
Na lâmina profunda da navalha
A vida, sem sentido, tanto dói.
Mas pense que amanhã o sol virá,
E toda a tua sorte mudará!
95
Bem sei quanto és ingênua, amiga. Não
Deixe que te maltratem deste jeito.
Ouvindo-te falar desta ilusão
Que pensas me deixar mais satisfeito,
Percebo quantas vezes a decepção
Irá fazer seu ninho no teu peito,
Companheira. Pedindo o teu perdão
Por achar que, talvez tenha o direito
De tocar na ferida que não cura.
Amiga, quantas vezes vais sozinha
Na noite solitária e bem escura
Passando pelas curvas do caminho;
Nunca forma um verão, uma andorinha;
Retorne, então, amada, para o ninho!
96
Bem sei quanto sorris desta amargura
Que trago no meu peito, em dura espera.
Tua alegria é feita na tortura
Que prende minha sorte, triste esfera.
A látega saudade me perfura
E uma alegria imensa sei que gera
Nos olhos de temível criatura
Que sobre a minha vida sempre impera.
As penas que carrego, tuas glórias,
Feridas em minha alma, paraíso.
Se venho carregado das escórias,
Te faço mais feliz por ser assim,
Meus passos mais doridos, impreciso
Sorriso em tua boca carmesim...
97
Bem sei que entristecida, me entristeces
Aquela que já sabe quem eu sou...
Nas vastidões tapetes já não teces,
O pouco do que fomos se acabou...
No pranto que vertemos, não aqueces
A noite que passamos, esfriou...
As dores que te causo, não mereces.
O medo do goleiro frente ao gol...
Nas chaminés, fumaça, tanta cinza.
Cinzel dum escultor fazendo mágica..
O céu de tão nublado ficou cinza...
As lágrimas abortam primavera...
Nas tristezas que levas, vida trágica...
O nosso amor profano, uma quimera...
98
Bem sei que mais marota, tu me enganas
Enquanto vai risonha pelas ruas,
Verdades que se querem sempre cruas
Traduzem, com certeza carraspanas.
E nelas; meus problemas? Cedo danas.
Não digo que meus sonho tu influas
Nem mesmo em fantasias seminuas,
Ou quando seca assim minhas fontanas.
Melindres? Não os tenho e nem terei
Apenas quero a paz que é de direito,
Carrego do passado, de outra grei
O canto em desafino, mas honesto.
Deitando toda noite em mesmo leito,
Concordo quando dizes que eu não presto.
99
Bem sei que me conheces
Mas mesmo assim me queres,
Nas sendas que assim teces,
Querida, se vieres,
Escute minhas preces,
A sorte, em nada; alteres.
Eu tenho esta certeza
Que me norteia a vida,
Num ato de grandeza,
Não te perdi, querida,
Vislumbras a beleza
Que eu julgava perdida.
Por isso eu te agradeço
Amor que eu não mereço...
3700
Bem sei que me tomaste por cordeiro,
Quebrando em sacrifício o meu pescoço,
Causando em minha vida um alvoroço
Ciúme sem dar trégua, e costumeiro.
Quem dera fosse o tempo mais ligeiro,
Talvez inda restasse um simples osso
Inteiro. No começo: que colosso!
Amor me parecia alvissareiro...
Porém com incertezas sinalizas
Tomando com vigor o meu juízo,
Não passas sem ferir e martirizas
Fazendo com que perca logo o siso,
As mãos que me torturam, as divisas
Usadas por quebrantos, e agonizo...
3701
Bem sei que morreremos abraçados
Os fados predestinam tal suplício
De tanto amor que tenho, velho vício,
Os braços estarão por certo atados.
Quem sabe qual Quasímodo, meus fados
Farão dessa Esmeralda precipício,
E tanto que te quero desde início
Talvez os nossos fim compartilhados.
Porém nossas sementes proliferam
E mordem quem deseja ser feliz.
Os olhos dos demônios que se deram
Invadem tantas glebas e plantios.
Mortalha que nos cobre, negro-anis
De noite se reparte em nossos cios...
2
Bem sei que não existe fingimento
No que tu sentes; minha doce amada...
Eu nunca duvidei nenhum momento
E sei que estás comigo. Busco em cada
Estrela o teu olhar; meu sentimento
Jamais esperaria de uma fada
Nem dúvida nem medo e nem tormento,
Por isso nunca sofra. Enamorada
Dos sonhos deste sol que quer a lua,
Da lua que buscando um claro dia,
Nos versos encantados já flutua
O canto que te fez vir para mim.
Por isso não mais tema esta alegria
3
Bem sei que não me queres, mas eu tento
Vencer tuas defesas, ser só teu.
O sonho que entre trevas se perdeu
Bebendo o temporal mais violento.
O amor que poderia ser ungüento
Em plena tempestade se verteu,
O amor que tanto eu quis, pensara meu,
No fundo vai vazio; exposto ao vento.
Os erros, reconheço, foram tantos,
As ilusões morreram desencantos,
Os olhos sem destino, vão ao leu...
Não jogarei confetes, nem confeitos,
Tentara ter momentos mais perfeitos,
Meu barco naufragou. Era papel...
4
Bem sei que não te importa como estou!
As dores que senti quase mataram...
As noites que sofri, me congelaram.
Do que eu fora, bem pouco me restou!
Mas, felizmente, tudo já passou.
Feridas que cortei, cicatrizaram....
Outras mulheres tive, e já passaram...
O tempo que maltrata, me deixou...
Os templos que conheço, da alegria!
De novo tatuados no meu peito!
A dança, o riso, toda fantasia...
A vida camarada deu seu jeito!
Agora se me veres posso rir!
Desculpas? Nem precisas mais pedir!
5
Bem sei que nunca mais terei teus braços,
A dor que te causei não tem remédio...
Meus erros foram tantos e tão crassos
Desculpe se eu insisto em meu assédio.
Errante, pela vida, perco os passos,
E sei que estás cansada. Sou um tédio...
Mas quero que tu saibas destes laços.
Amor, o que será que mais impede-o?
As falhas cometidas? Meus enganos?
Ausência de teus lábios me matando...
Meus gritos solitários, desumanos...
Bem sei que não me queres, mas; porém,
Eu peço, com minha alma suplicando,
Me queira, pelo menos, algum bem...
6
Bem sei que o fim do mundo é todo dia
Depende de quem vai e de quem fica,
Por isso tantas vezes alegria
Parece sensação boçal. Implica
Em ter todas as gotas de harmonia
Nesta mistura nobre que é tão rica
Um pouco de esperança e fantasia
Encolhe por um lado noutro estica.
Mas vivo na alegria um corte de aço
Fazendo meu sorriso mais profano.
Não digo ser feliz é ser palhaço
Quem pensa desse jeito não resiste
Ao gosto do desejo soberano
E morre mais boçal por ser tão triste.
7
Bem sei que quando eu amo de verdade
Misturo a fantasia com desejos.
Talvez amor em sua intensidade
Aumente essa vontade de seus beijos...
Eu vejo a vida sempre mais bonita
Com olhos distorcidos pelo amor.
A lua que me cobre, tão bendita;
Incrível, vai me enchendo de calor.
Eu te amo com sincera insensatez
E canto com meus versos mais doridos,
Quem sabe; a fantasia tome a vez
Pintando em teu retrato meus sentidos...
Amor tão infinito quão fugaz
A mão da poesia sempre traz?
8
Bem sei que são tão nobres sentimentos
Que trazem alegrias em renúncias.
Sagrados nos permitem bons momentos
Intensos, neste mundo de denúncias.
São vastos os prazeres ofertados,
Em ambos, tanta luz ofusca a treva.
São simples mas, deveras, rebuscados,
Por eles a minha alma já se enleva;
Possível conviverem entre si?
Talvez mas é difícil acontecer.
Depois que tanta coisa eu dividi,
Tal possibilidade; pude ver.
Amada; é minha amiga de verdade.
Contigo, em pleno amor, uma amizade!
9
Bem sei que tanta dor já me acompanha
Dos tempos de menino, o que me resta,
Por mais que a dia venha a noite ganha
E fecha novamente qualquer fresta.
Mas tenho uma esperança na fragrância
Que o vento trouxe em paz, de bem distante...
Quem sabe se reverta o mal da infância
E a vida seja enfim, de novo amante...
Eu quero que este vento me responda
Não use subterfúgios, seja franco,
O mar que me inundou trazendo a onda
Foi sonho que perdeu-se ou dia branco?
Espero que esta noite o vento trague
Um beijo que me toque e que me afague...
10
Bem sei que tantas vezes duvidaste
Do que sinto em minha alma, só por ti,
Se em falsos descaminhos me perdi,
A luz de um sol imenso faz contraste.
Não sei se percebeste e reparaste
Que agora, finalmente estando aqui,
Depois da morte em vida, renasci,
E disto, meu amor; participaste.
Vieste em derradeira redenção,
Cuidando com carinhos e atenção
Daquele que durante a vida inteira
Perdendo as esperanças, se perdeu,
E agora que demonstro ser tão teu
Eu faço deste amor minha bandeira...
11
Bem sei que te fizeram redentora,
Mulher de mil batalhas e de guerra.
A noite que te trouxe, criadora.
Das dores; teu carinho me desterra.
Não posso conceber que quem te adora,
Não vive sem pensar: É bela a Terra.
Dos vales e dos campos és pintora,
Dos pássaros das cores desta serra!
Se tens a mansidão que tanto acalma,
Por certo também tens brilho e ternura.
As linhas do futuro em tua palma,
São flores maviosas qual bromélia.
A vida, em tuas mãos, tanta brandura,
Destino que me trouxe a ti, Amélia!
12
Bem sei que todo amor é passageiro,
Não deixo me iludir, eis a questão.
Porém o meu amor tão verdadeiro,
É mais que sentimento: é coração!
Bem sei que sentimento logo passa,
Não deixo me enganar, eis a verdade.
Assim, em pouco tempo se esfumaça,
Não deixa nada além d’uma saudade...
Bem sei que essa saudade nos maltrata,
Não deixo de saber, eis um dilema;
Mergulhar totalmente em densa mata,
Não há sequer no mundo quem não tema...
Mas nisso eu encontrei explicação,
O meu amor é mais: É MEU CORAÇÃO!
13
Bem sei querida, a dor que sentes; pois
Passei pelas estradas que passaste,
Conheço as cicatrizes do depois
Assim como o cansaço e o desgaste...
Vida que, em alegria, se compôs
Às vezes sente o peso que dobra haste
O corte tão profundo que te expôs,
Tal qual um fino caule, já dobraste...
Mas saiba que isto passa; minha amiga,
A cura? O próprio tempo se encarrega,
Por mais que tantas vezes se periga
Uma esperança; não desistas mais,
Ferida que se traz; nunca se nega,
Depois da cicatriz, retorna a paz!
14
Bem sinto meu amigo, este torpor
Que toma tua vida por inteiro,
Nestes versos que acabas de compor
Não foste quem conheço, companheiro...
Tu tens a mansidão dentro de ti,
Pacato como o vento mais suave,
A bem de uma verdade eu nunca vi
Criares para alguém qualquer entrave.
Porém se eu te encontrasse desse jeito,
Jogado como as pedras neste rio,
Iria te dizer do amor perfeito,
Que faz o coração ser mais macio.
Nos braços com total sinceridade,
Eu te relembraria da amizade...
16
Bem sinto que não queres mais que eu chame
Teu nome pelas noites, madrugadas...
Amor que tão distante não se inflame
Nas horas mais gostosas e sonhadas...
A brisa que te trouxe levará
Teus passos por estradas mais diversas.
Eu jamais estarei, decerto, lá,
Meu nome não virá nessas conversas...
Esquecido, num canto que deixaste,
Sem ter um só segundo do teu canto...
Meus pés atados quebras a minha haste,
E negas teu carinho e teu encanto...
Mas saibas que o vigor de uma emoção
Jamais derrubará meu coração!
Que luta a cada instante, sem saudade,
Aberto sempre ao vento, liberdade!
17
Bem vindo ao nunca mais retornarás,
Um prisioneiro apenas, nada mais.
O coração sem tréguas aqui jaz
Morrendo pouco a pouco, esquece o cais.
O vento libertário sempre traz
Em gestos delicados, sensuais
O quanto desejei tempos atrás
Nos gozos dos eternos carnavais.
Mas sei que tão somente o quanto tive
Não serve de desculpa, sigo preso
Às algemas da sorte que não vem.
Não tendo mais querer algum que prive
Levito no teu corpo, perco o peso
Até que não me sobre mais ninguém
18
Bendigo a putaria e a sacanagem,
Gostoso requebrado da morena...
No gesto sensual que me envenena
Mudando num momento a paisagem...
Abrindo devagar cada passagem,
Vislumbro, extasiado, a bela cena
Que toda umedecida já me acena.
O resto? Meu amor... Pura bobagem...
Eu não suporto tanta hipocrisia
Ou falsos moralismos de beata
Das velhas mal comidas, decadentes...
Louvando no meu verso, a putaria,
Fazendo no motel, no morro ou mata,
Pantera me cravando, unhas e dentes...
19
Bendigo este prazer que não negaste,
Em trâmites deveras formidáveis.
Na noite que profanas ,tal engaste
Mostrado em teus carinhos, mais amáveis.
Meu coração, querida, mal locaste,
Vieste com teus atos intratáveis.
Depois o tempo passa e tudo esgarça
Arrebentando a corda do querer.
Não falo deste caso como farsa,
Apenas vou querer sobreviver.
A sorte se perdeu por ser escassa,
Sobrando assim, quem sabe, meu prazer.
Mas guardo, mesmo amargo e bem antigo,
O gosto do teu beijo, que bendigo!
20
Bendigo o nosso amor em cada verso
E faço deste canto o meu louvor.
Andando em solidão pelo universo
Colhendo do jardim perfume e flor.
O mundo tantas vezes tão perverso
Ao ter esta alegria a recompor,
Unindo o que se fora mais disperso
Asperge em bom aroma, tentador.
Quem sempre tateara sem destino,
Galgando mil estrelas- pensamento,
Ao ver tal diamante, raro e fino
Permite conceber alumbramento.
Amor quando se mostra cristalino
Não deixa-nos sofrer um só momento...
21
Bendita a tua luz, amada amiga
Que é guia de meus olhos, meu farol.
Permite que eu caminhe e que prossiga
Eterno passageiro rumo ao sol.
Brotando em cada verbo, tal espiga
Que traz toda a semente em arrebol.
Do sonho que construo é firme viga
Por isso te persigo, girassol...
Bendita esta presença soberana
Que traz toda a certeza da vitória,
Bendita a natureza em paz humana
Que mostra teu carinho que não cessa.
Bendita a santidade feita em glória
Sem penitência, clemência e sem promessa!
22
Bendita a vida, mesmo que dorida,
Mesmo que solidão aporte dura
Mesmo que traga sempre despedida,
Mesmo quando entranhada, noite escura...
Bendita a vida, mater dolorosa!
Mesmo que nunca mais seja sincera,
Mesmo que nunca mais venha olorosa
Mesmo que se demonstre uma quimera...
Bendita a vida, tétrica saudade!
Tarântula, serpentes e dragões
Jamais impedirão a claridade...
Bendita a vida, vera companheira
Dos frenéticos, loucos, corações...
Minha primeira amante e derradeira!
23
Bendita e benfazeja floração
Alvíssaras espalha sobre a Terra,
Alquímica esperança traz poção
Na qual a fantasia se descerra...
Do quão cerrada a minha vida
Em cofres esquecidos no meu peito,
Ao ter a minha sorte amanhecida
Encanto se redime, satisfeito.
Do jeito que vier, apenas venha,
Janelas de minha alma, agora abertas,
Da chama da ilusão, amor é lenha
As sendas mais sublimes descobertas,
A vida em esperança já se aflora,
E sinto a chuva mansa e promissora
24
Bendita seja a força em que se emana
O fogo da paixão; tão violento,
Bailando nos consome o pensamento,
Que voando, horas, dias, não engana...
Eu quero te saber cada semana,
E ter o teu carinho, sentimento.
Roçando os teus cabelos, manso vento,
Chamando para a luta soberana
Não quero mais na vida, um abandono
Nem mais seguir sozinho, irei contigo,
No gozo da ventura que persigo,
Percebo-te rainha neste trono,
Amar é caminhar em passos largos,
Na busca interminável sem embargos...
25
"Bendita seja a Mãe que te gerou”
E trouxe à Terra um pouco de esperança.
O amor que nos permite a temperança,
Os braços da mulher acalentou...
A ti devo, em verdade o que hoje sou,
Uma alma transparente, audaz, mas mansa.
E quando o meu olhar, os Céus alcança
São marcas que este encanto me legou.
Delicadezas trazes num sorriso
Que embora assim suave, é tão conciso
Acalma este vulcão que existe em mim...
Outrora em violento frenesi
Bebendo a mansidão que existe em ti
Cultivo em alegrias meu jardim...
26
Bendito nosso amor, que é nosso guia.
Bendita essa alegria que nos toma.
Amar não é somente fantasia
É multiplicação, mais do que soma.
Olharmos para a mesma direção,
Sem nada que distraia a caminhada.
Unidos pelo mesmo coração,
Em busca deste sol, mesma alvorada!
Amar é conhecer o novo dia,
Sem medo do que foi, do que virá.
É desfrutar os gozos da alegria,
Sabendo que, feliz, se bastará.
Amar não é perder e nem ganhar,
Apenas, se preciso, transformar!
27
Bendito quem desfruta da amizade
De quem demonstra uma alma tão sublime,
Alçando com frescor a liberdade,
Teu verso me acarinha e assim redime.
Tu tens em tuas mãos, farto rosal,
Aonde a floração jamais termina
E mesmo na tristeza a triunfal
Beleza sabe em ti, suprema mina.
Amiga; se eu te louvo num poema,
Concebo humildemente o diadema
Que espalhas entre todos, constelar.
Qual lago que enfrentando a turbulência
Conhece desde sempre esta excelência
Da estrela mais brilhante que o luar...
28
Bendito seja amor que a paz semeia
E torna o meu caminho luminoso,
A vida que em amor já se permeia
Permite que se veja a chama e o gozo.
O rio da esperança adentrando a alma
Abrindo em novas sendas, paraísos,
Decerto multiplica enquanto acalma
Trazendo para todos bons sorrisos.
No amor a mais sublime redenção,
Arauto de um momento mais perfeito,
Retendo forte lume na amplidão
Entranha em alegria cada peito.
Na sede de viver felicidade,
O gozo em sedução depressa invade..
29
Bendito seja aquele que se dá
Sem ter e nem querer a recompensa,
Ao perdoar em paz qualquer ofensa,
Concebe Tua glória desde já.
A luz que eternamente brilhará,
Decerto maviosa e mais intensa.
Além de qualquer rito ou mesmo crença
A Deus, tenha a certeza, ela verá.
Manter acesa a chama feita Amor
Glorificando assim, o Salvador
Vertendo o mel que bebe a cada dia.
E mesmo quando o fel for o presente,
Entregar-se ao Amor completamente
Expondo o coração com alegria!
30
Bendito seja o sonho que sonhou
Alguém enamorado em poesia,
Vibrando neste embalo, a fantasia,
O canto da esperança desfrutou.
Vencendo a triste noite que passou,
Refém de uma tristeza, da agonia,
Percebe a claridade em novo dia,
E em pura sedução já se entregou.
Benditos os amantes mais audazes,
Que mostram-se em verdade mais capazes
De terem esperanças inerentes,
E acima da ilusão, louca mulher,
Terá toda alegria que quiser,
Em doces emoções, dias contentes...
31
Bendito seja o sonho que tivemos
Em meio a tantas luas e promessas
De tanto amor que, loucos, já fizemos,
Desejos vêm aos montes, em remessas...
Benditos os teus olhos radiosos,
Solares e repletos de desejos.
Teus lábios carmesins, deliciosos,
Carnudos tão propícios aos meus beijos...
Roçando tua pele em minha pele
Rolando teu prazer com meu prazer,
Aos versos mais sublimes já compele
Vontade tão teimosa de te ter.
E quero-te entranhada sem ter nexo
De cheiros emanados, amor, sexo...
32
Bendito seja o vento que te trouxe
Em meio a tempestades que passei.
Tua presença calma e sempre doce;
O mundo em que vieste me fez rei.
Tu trazes teu sorriso como fosse
A glória de quem ama, como amei.
Com força de quem quer já que remoce
A sorte que se fora em dura lei.
Te quero, benfazeja e mais serena,
Amiga amada, luz que enfim rebrilha.
Menina que sonhei; a vida acena
E traz uma esperança, maravilha,
De ter em cada dia em rara cena,
Uma alegria imensa em bela trilha...
33
Benesses que buscara no passado
Agora são mentiras, disso eu sei,
Enquanto a fantasia fora a lei,
O dia noutro tom, anunciado.
Do povo tanta vez injustiçado
Lamento em solidão eu escutei,
Enquanto cada hipócrita for rei
O corpo do menino, destroçado.
Não posso me calar, por isto insisto
E mesmo que meu verso seja vão
Ainda posso crer na solução
Plantada por Jesus, amado Cristo.
E mesmo distorcida, esta palavra
Um resto de esperança, eu sei que lavra...
34
Bengala justifica uma cegueira
Ao menos uma esmola. Por favor.
Abrindo tuas pernas, a porteira
Demonstra esta delícia feita amor.
O quanto na verdade não se queira
Secando cada lágrima diz dor
A morte carregada na algibeira
Estampa o meu caminho cor a cor.
No púlpito palpita uma pitada
Das hóstias consagradas pelo Demo.
Nas coxas da morena eu já blasfemo.
Pecado é não fazer amor com ela,
Na castidade insana se revela
Imagem que devia ser capada...
35
Beócia poesia morre insossa
E posso até dizer que não procria
Além do vão momento de alegria
Na aorta não atinge nem a crossa;
Adoce a fantasia. A voz se engrossa
Espalhando fecunda hemorragia
Que mata ao mesmo tempo em que sacia
A fome que as libidos; alvoroça.
Telha colonial sobre a palhoça
Botox com certeza já remoça
E o moço se transforma em iguaria
Fazendo sem pudor de uma carroça
A bela carruagem; fina bossa,
Boçalizando a tal da poesia...
36
Besouro vem zunindo da janela,
Abocanhando a luz em presas fortes.
Bocarra da ilusão teimando cortes
Saudade vai entrando sem tramela.
As asas multicores, som revela
Grasnido da emoção rasgando aportes.
No quanto te desejo e não suportes
O peito se amuando perde a vela.
Quem dera algum ourives lapidasse
A mão que esbofeteia a minha face
Deixando carinhosa o que espinhenta.
Um velho coleóptero fugindo
Sabia discernir fatal de lindo,
Sedução não seria violenta...
37
Biparti meus desejos, hoje choro...
Amores não permitem tais propostas.
De lágrimas ferozes me decoro,
Os lanhos deste açoite fazem postas.
Perdão, filha do sonho, eu já te imploro!
Aguardo ansiosamente essas respostas.
Truão, vero canalha, mas te adoro!
Punhais que aprofundei nas tuas costas!
Falar de traição é tão difícil!
É como disparar um torpe míssil
Matando todo amor que sempre deste.
Quem dera não houvesse essa rapsódia!
A dor nunca seria minha veste.
Imploro teu perdão; volta Custódia!
38
Blasonava-se, falsa e mentirosa...
As tardes que se foram não deixaram
Nem, ao menos, o olor da pura rosa.
Os pés cansados nunca caminharam
Essas terras bravias. Perigosa
Mata de frondosa arvore. Deixaram
Perfumes, tuas mãos. Misteriosa
A noite tão selvagem. Entranharam
Os engodos cruéis que nem disfarças.
Poderias negar os teus comparsas?
Viste-me por acaso, em mendicância?
Na vida coleciono discrepância,
As travas dos meus olhos te ressecam,
Urgentemente mentem, negam, pecam...
39
Boca macia, meiga e desejável.
Fazendo mil viagens sobre mim.
Num gesto carinhoso, inexplicável
Mordendo levemente, bem assim.
Amor a se tornar tão inflamável
Numa explosão divina traz enfim
A solução da vida, antes ruim,
Agora mais gostosa e adorável.
Aumentam meus desejos e vontades
De todo o tempo estar junto contigo.
Refletes todo o sonho que persigo
Tramando com amor saciedades,
Passando a conquistar felicidades
Protegendo-me, enfim do desabrigo...
40
Boca rubra, desejo carmesim...
De ter o teu desejo em meu desejo
Vivendo este desejo, sinto enfim,
Desejo de te dar um louco beijo.
No beijo que pretendo, minha amada,
Desejo de ser teu por toda a vida.
Não vejo noutro rumo, noutra estrada,
Sem portal do desejo outra saída...
Anseio teu desejo, companheira,
Teus seios preparados para amor.
Vasculho cada ponto. A verdadeira
Certeza de viver sem ter temor.
Desejo um coração louco e vadio,
Amada, nosso amor em pleno cio...
41
Bocas que se procuram
Famintas, cegas, cruas,
Prazeres que se apuram
Em carnes, doces, nuas,
As noites que se curam,
Pedintes, querem luas,
Os lábios se perduram
Nas pernas, lindas, tuas...
Versejo com vontades,
Procuro belas flores,
Deixando tais verdades,
Que formam tantas dores,
Distantes, nas saudades.
Ah! Sonhos sedutores...
42
Bocas rubras traduzem meu desejo
Em ter o tom mais perto do prazer.
Na boca carmesim eu já prevejo
O mundo que pretendo percorrer...
O mar cheio de esperanças que navego
Sem ondas, sem procela e tempestade.
Selando um sentimento que carrego
De conhecer, enfim, felicidade...
Eu falo dos festins que nos esperam
Nas noites que trouxeram nossos barcos,
Meus sonhos nos teus portos se temperam
Descrevem nos espaços tantos arcos..
Eu falo destas noites delicadas,
As nossas bocas rubras saciadas...
43
Boiando o boiadeiro não sabia
Que a bóia quando abóia não diz nada,
Tramóia diz de Tróia a cada dia,
E a paranóia quer alma lavada.
A jóia que me deste não valia,
Nem sói acontecer outra cilada.
Se dói o que em verdade não doía
Destrói minha alma agora rebelada.,
É factóide diria o mau político
Apenas indefeso e paralítico
O amor que a gente quer vai sifilítico
E morre nas esquinas, cego e cético,
O quanto não se quer amor poético,
Nem mesmo um vão carinho cataléptico...
44
Bom dia, companheiro, o sol nascendo
Trazendo nos seus raios a esperança.
Felicidade, outrora um ledo adendo
Agora, mansamente nos alcança.
E o peito tantas luzes recebendo,
Aguarda a caminhada bem mais mansa,
O brilho matutino convencendo
Quem faz com fantasia esta aliança.
As pedras e os espinhos, os retiro,
A terra ao refazer um novo giro
Decerto mostrará noites escuras.
Porém quem sabe a paz já discernir,
Não teme as variantes do porvir
Derrama no arrebol; claras ternuras...
45
Bom dia; meu amigo. Há quanto tempo!
Não posso me esquecer de antigos dias,
A vida nos prepara em contratempo
Motivos para várias poesias.
Tomando o meu café de manhã cedo,
Saudades de uma infância que se foi,
Se o mundo se tornou assim, azedo,
Rumino esta lembrança feito um boi.
Te lembras da casinha pequenina?
A roupa no varal bebendo o sol,
Cadeiras na calçada e numa esquina
O mesmo amarelado do farol
Dizendo das surpresas desta vida,
Mas todo labirinto tem saída...
46
Bonança após tempesta, eu vou contente
Sentindo o teu perfume, moça bela,
Amor que em farta chamas se revela
É fogaréu na imensidão que atente.
Descubro a tua pele e de repente
O barco adentra o mar soltando a vela
Desenha nosso amor delícia em tela
Num toque de luxúrias envolvente.
Tua nudez promete maravilhas,
Amor ao desarmar as armadilhas
Expressa mil desejos e vontades.
Rapina dos prazeres; sigo intenso
Bebendo deste mel suave e denso
Encontrando afinal felicidades...
47
Bonança em tempestade revigora
O fato consumado; assim te quero
Sem tempo sem destino e sem ter hora
E nele me renovo e regenero.
Espero sempre o tempo de voltar,
Traçando o meu caminho junto ao teu,
Deitando sob os raios do luar
Esqueço que carrego eterno breu.
Porteira arrebentada sigo em frente
Acendo uma fogueira pela estrada
Por mais que a gente pense e sempre tente
Não deixo que se perca quase nada.
Seguindo nosso amor, raro colosso,
A vida segue em paz, sem alvoroço...
48
Bonança que se dá; pós a tempesta...
Trazendo um louco incêndio em nossa cama,
O quanto eu te desejo amor atesta
E para a festa insana já nos chama.
Carícias e carinhos que trocamos,
Cumplicidade eterna que estremece
As estruturas todas; balançamos
Envolvimento em luz, amor já tece.
Amortecendo assim, os desenganos,
Mudando a direção dos velhos ventos.
Nos olhos que rebrilham, novos planos,
Tomando com vigor os sentimentos.
As nossas mãos unidas sempre em prol
Do amor, um deslumbrante e raro sol...
49
Bonina delicada, tua alvura
Graciosa e tão sutil, enfeita a vida!
Melífero desejo traz doçura
Da boca que julguei estar perdida.
Abelha seduzida pela pura
Inocência emanada, decidida,
Procura-te em total e sã loucura.
Menina, aonde vai assim florida?
Nos campos, nos pomares, no jardim,
Suave borboleta sobrevoa.
Pura felicidade vive em mim.
Aos raios deste sol, uma açucena,
Bonina, doce amada vai à toa,
Meus olhos já não têm cor de verbena...
50
Bordando uma ilusão em céu tão claro,
Olhos distantes buscam uma estrela
Que é feita de cristal deveras raro.
Meu Deus, como é difícil poder vê-la...
O gosto da existência, triste, amaro,
Percebe que não posso mais contê-la
Faltando para os passos, anteparo,
Tal sorte, se perdendo em bela tela.
O cheiro de esperança, outono leva.
Não deixa mais um sonho conduzir.
Minha alma solitária tanto neva
Que nada mais farei, senão sonhar,
Quem sabe poderei, enfim pedir,
Um beijo desta estrela... longe... ao mar...
51
Bordar a minha vida em tua vida,
Atando cada laço em forte linha.
Tua palavra amiga que decida
O rumo em que destino nos alinha.
No dia a dia, sempre foste minha,
Agora a nossa sorte decidida
Nos braços deste amor sem fantasia,
Nos olhos de quem sabe o que se quer,
Formando o novo canto em alegria,
Para sempre serás minha mulher,
Guerreira, companheira em sintonia...
Estou contigo venha o que vier...
Na cama, seda, renda e bom veludo,
Aos poucos, tanto amor pr’a mim é tudo...
52
“Braços abertos sobre a Guanabara”
Abençoando a todos... Ah! Quem dera
Se a sensação divina, posto rara
Trouxesse para o povo a primavera!
A dor de uma esperança que é tão cara
Morre na realidade triste fera
Que devora, revolta e nunca pára
De matar nossos sonhos, nossa espera...
Na injustiça que rouba uma esperança,
Na fome de ilusões, velhas favelas,
Na chaga que se estampa na criança
Nos dissabores todos, calo a voz.
Acendo o coração imerso em velas
E peço por favor: Orai por nós...
53
Braços brancos abraçam sem brandura.
Das brumas, borboletas e bromélias.
Nas sebes emboscadas de corbelhas,
Beija, abelha, boninas com bravura.
Belezas se embasando na brancura,
De beatas bacantes, de camélias,
Não sabem que soçobram as Amélias
Em burlas belicosas, sobra jura.
Entretanto tentando sentir, tato,
Em fátuo sentimento de prazer
Fazendo tanto amor só por fazer
Retrato meu dilema em cada fato.
Se amar demais foi sempre meu retrato,
Rechaço, em novo fato, o bem querer.
54
Bradando com certeza o bem querer,
Por toda a minha vida eu te esperei,
Sabendo quanto tempo, procurei
Percebo a maravilha de poder
Beber em tua boca, o meu prazer,
Singrando esta esperança em que tentei
Fazer de uma alegria a nossa lei,
E tudo se perdia, sem saber
Se a vida não podendo ser somente
Aquela que se busca de repente
Não adianta mais sequer sonhar...
Porém quando tu chegas traz luar
Clareia a minha vida num momento,
Transborda em cada verso, o sentimento...
55
Brandura de querer meu bem que quero
Da forma que quiser meu bem querer.
Eu quero teu amor; pois nele espero
Esta querência boa de viver...
Às vezes vou sozinho e, sem querer,
Encontro a solidão que não mais quero
Matando essa tristeza não espero
Que volte e que incomode meu viver.
Entenda como é bom se, por querer,
Eu for um passageiro deste sonho
Que transformará todo esse viver
Num futuro feliz e mais risonho...
Eu quero teu amor, minha mulher,
Nas pétalas do amor do bem-me-quer...
56
Branquicento luar bebe coqueiros
E risca o céu, divino manobrista,
Nas mãos deste cenário, velho artista
Espreita com olhares os ribeiros.
Mergulhos nestes mares que, mineiros
Amineirando a sorte, traz de vista
Os ventos que se foram sem ter pista,
Os passos do poeta são ligeiros.
Vermelho entre azulados dizem sol
Que vem e revoltando este arrebol,
Fecundará palmeiras e sereias.
A moça coxa-a-coxa quer bem mais,
Sovando as esperanças sonha sais
Do boto que num bote invade areias...
57
Brasil este país forte e gigante
É quase um continente, com certeza,
A fome sertaneja, uma constante
Retrato mais fiel desta pobreza
Que é feita de injustiça e roubalheira,
Nas almas nos Congressos e cidades
Cevando sem limites, bandalheira
Impedem que se creia em liberdades.
Na fuga sem paragem, nada tendo,
A morte se aproxima e toma tento.
Enquanto este vazio se tecendo;
Meu olhar de jagunço sempre atento.
Em plena escuridão, como miragem,
Uma esperança toma esta paisagem...
58
Brasil, na mistureba dos sentidos
Orgasmos tropicais são inerentes,
No fogo moteleiro dos nubentes
Viagens por caminhos conhecidos.
Olhando para a moça que se abriu,
Nos convites safadas fantasias,
Carnavelesco sonho, alegorias,
A pátria sempre foi puta e gentil.
Aproximando bem olhos e lupas
-Morena; maravilha quando chupas
Eu estarei aí de manhã cedo.
Hedônicos jograis determinando
O gozo nunca austero e jamais brando
De tanto que adoçou, ficou azedo...
59
Brasil, no seu currículo as medalhas
Que fazem sempre a honra deste povo.
Embora não perceba nada novo,
Nós somos campeões destas batalhas.
Ao vermos injustiças, velhas falhas
Douramos nosso peito, isso eu comprovo
Da prata com orgulho, ainda provo,
De tanto assassinato, fogos, palhas
Na prostituição de qualquer jeito
O bronze que se estampa em nosso peito,
Além de outras conquistas varonis.
A gente ainda ri e vai contente
A cruz que justifica o penitente
Demonstra o desdentado mais feliz...
60
Brincando com destino, num desdém,
Sozinho não vacilo um só segundo.
Bem sei que na verdade sem ninguém,
Meu peito se tornou um mar sem fundo.
Distante da esperança, vou aquém
Daquilo em que não sonho nem me inundo,
Quem dera se pudesse ter o mundo,
Mas sei que depois disso, nada vem.
Porém no decorrer de tantas horas,
Debruço o coração nestas ameias.
Sem nada o que sonhar como incendeias
Um semimorto velho em que te ancoras.
Às vezes me pergunto, isso é demais,
Se são somente sonhos ou reais?
61
Brincando com teu grelo em minha boca,
Chupando devagar até deixar
Bem molhadinha a xana, doce toca,
Que quero bem gostoso penetrar;
Tu gemes de tesão, ficando louca,
Na foda que contigo irei tirar,
Arregaçando, amada, a tua loca
Até que bem tarada, irá gozar.
O teu cuzinho deixa-me com fome,
Pedindo com vontade que eu o come,
Piscando de desejos, louca gruta,
E depois num boquete ejaculando,
Meu leite em tua boca te fartando,
Uma deusa safada, a minha puta...
62
Brincando de emoção, simples criança
Que faz deste barquinho de papel
Aonde uma alegria sempre alcança
Motivos de sorrir, chegar ao céu.
No seu aniversário uma lembrança
De um dia sem igual, no carrossel
Do tempo que decerto vai, avança
Mas sonha docemente com o mel
Da infância que se foi, não voltará,
Festejos que marcaram seu passado,
Estrela que decerto brilhará
A cada novo sonho desfraldado,
O menino renasce e vem mais forte,
Trazendo para o velho algum suporte...
63
Brincando de esconder entre as estrelas,
Correndo por satélites, anéis,
Galáxias distintas, posso vê-las,
Na busca, minha amada por teus méis.
Neste universo imenso que, ao corrê-las ,
Estrelas-maravilhas, canso os pés;
Mas nada me impedindo concebê-las,
Sou barco que, sem ti, perco o convés...
Quero poder te ter aqui, agora;
Deitar o meu desejo esfuziante....
Tu somes e sem ti já se descora
O céu que tanto quis. Que vale a vida
Sem ter essa mulher amada amante...
Estavas dentro em mim... quieta... escondida...
64
Brincando nas estrelas; pular corda
No arco íris depois de tantas chuvas
A vida da menina assim transborda
Correndo atrás da nuvem de saúvas
Meu coração ao vê-la se recorda,
Quintal garapa, cana, vinhos, uvas...
Um tempo que refaz-se. Vida boa..
Morena teus mistérios e segredos
Relembram chuva fina, uma garoa
Do tempo em que viver trazia medos,
Curados por café, carinho e broa.
A vida me levou, outros enredos...
Mas ver tua emoção, tuas magias,
Me diz: tu és feliz e bem sabias...
65
Brincando no quintal de nossa infância,
Sabendo dos canteiros e jardins.
A vida foi moldada em discrepância,
Vingando em tantos sóis, astros afins...
Mas temos nossos lumes, fantasias.
Mas tenho teus perfumes, mansa rosa.
Mas temo tantas vezes, alegrias,
Ao termos melodia glamourosa...
Na tarde eclipsaremos nosso amor
De raios misturados e potentes,
Vivendo sem temer espinho e flor,
Sabemos que nos temos envolventes...
Aos céus nós subiremos no prazer,
Dos braços enlaçados do querer!
66
Brincando sem descanso com o fogo
Juntei meus cacarecos vida afora
Os sonhos em teus braços eu refogo
Sabendo do arvoredo cada tora.
Desejo o teu desejo e desde logo
Não tendo outra palavra, amor decora
O verso que te faço desde agora
Chamando para a festa sem ter rogo.
Se eu interrogo o pobre coração,
Respondo com final exclamação
Que tudo o mais quero é sempre igual.
Um beijo desfrutado em tua boca,
Paixão que mesmo muito não sufoca
Fazendo uma corbelha divinal
67
Brincar de esconde-esconde entre as estrelas,
Vagando entre mil astros, te encontrei.
Ao ver no céu imerso em belas telas,
A mais perfeita delas, eu achei.
Meu barco velejando, abertas velas,
No mar de amor imenso eu naufraguei,
Querida tu também, cedo revelas,
Amor com quem por vezes eu sonhei.
Agora em teu sorriso de criança
A força redentora deste amor.
A perfeição divina já se alcança
Nos braços da mulher onde adivinho,
Inebriante gosto encantador,
Pureza do perfeito e raro vinho...
68
Brincarmos na piscina sob o sol,
Teu corpo delicado e sensual,
Não tem ninguém por perto em arrebol,
Do suor escorrendo, doce sal.
As mãos vão procurando seus caminhos
E afastam teu maiô, achando a mina,
Mergulho sem juízo, em mil carinhos
E toda esta loucura me alucina...
Depois, debaixo dágua uma loucura
Dançamos em acordes tão delicados,
Com força e com vontade e com ternura
Os rumos do prazer são penetrados
E assim, a tarde passa... a noite vem,
Gostosa, na piscina, com meu bem...
69
Brincávamos de sonhos e ilusões
Meninos que cresceram todos juntos.
Assim, ao descobrirmos as paixões
Não tínhamos na vida, outros assuntos.
O tempo te levou, e a mim também
Distância foi cruel em nossas vidas.
Mas ao rever teus olhos, vejo bem
Que aos corações não houve despedidas...
Dispersos neste mundo de Meu Deus
Casamos, separamos... A vida passa.
Se nunca proferimos um adeus
Ainda posso ver sob a fumaça
Meninos que brincavam mal sabiam
Que o amor, mais verdadeiro conheciam...
70
Brindando à nossa glória fartamente
Inebriado sonho ao qual me entrego,
Prazer que em fonte rara não renego,
Expressa o que desejo plenamente.
O quanto é necessário que contente
Um coração outrora vago e cego,
Permite-se dizer que em raro apego
A vida transbordada em tal torrente.
Sagrando cada verso que eu te faço
Ao novo amanhecer sem embaraço,
Nas águas da monção do amor me inundo.
Na bela alegoria em claro véu,
Eu toco num momento imenso céu,
Vivendo o nosso amor, raro e profundo.
71
Brindando nesta data inesquecível
A quem sempre se mostra companheira,
A força da alegria, tão incrível,
Nos olhos desta amiga, verdadeira.
Aniversariando neste dia,
Eu peço que louvemos cada passo,
De quem sabe viver a fantasia
E traz bem mais sincero cada abraço.
Assim, ao derramar amor imenso,
Transforma o nosso mundo, faz bendito
O canto que se fora triste e tenso,
Fazendo da esperança um novo rito.
Feliz aniversário, eu te desejo,
Em cada verso meu, receba um beijo...
72
Brindo outra vez, teimando no martírio,
Bem sei que me fugiste, sem perdão...
Busquei-te nas campinas como a um lírio.
O que causava inveja a Salomão...
Não mais esquecerei, nem em delírio,
As mãos que me afagavam, com paixão...
Não resta em meu altar sequer um círio
Qual fosse o coração, ateu, pagão...
Não mais quero tratar amor tão tétrico,
Nem quero percorrer teu céu sem lua.
Nas minhas serenatas, assimétrico,
O canto repetido te faz nua.
Meu verso vai quebrado, não é métrico.
Por isso tão distante alma flutua.
73
Brinquedos feitos de papel marché,
Guardados nas estantes da lembrança,
Saudade conjurada, fina lança
Falando a cada dia de você.
O sonho de uma casa de sapê,
Recordação de súbito me amansa
E traz no seu sorriso de criança
O quanto desejei sem ter por que.
Posseira das vontades, deusa nua,
Desfila pela casa e continua
Reinando mesmo ausente só por ser
A sílfide que outrora fez-se em verso
Dourando este fantástico universo
Que um dia emoldurou todo o meu ser...
74
Bronzeado cavaleiro sob a lua
Olhando para argêntea maravilha,
Ao vê-la desfilando bela e nua,
Mirando com prazer sublime trilha.
Uma alma bandoleira, alma andarilha,
Vislumbrando bel astro enfim flutua
E bebendo da luz, também já brilha
E a sanha deste encanto continua.
Nos rastros que ela espalha noite afora,
O amor à flor da pele assim se aflora
Tomando este Quixote enamorado.
Porém Lua cigana vai embora
E outra paisagem além ela decora,
Deixando o sonhador abandonado...
75
Bronzeio o coração em girassol,
Cataventando a luz em riso manso.
Amor vai invadindo este arrebol,
Nos pés que titubeiam, logo tranço.
Às vezes discutindo futebol,
Notícias que me mandas; não alcanço.
Remanso estipulado há tantos anos,
Meandros deste mar em sanidade.
Não quero mais mudanças em meus planos.
O medo não terá facilidade,
Vencendo os meus antigos desenganos
Amor que agora eu tenho, é de verdade.
Menina vê se nina o velho peito,
Fazendo do teu modo, do teu jeito...
76
Brotando mesmo em terra mal arada,
As emoções nos tomam totalmente,
A chuva que se fez abençoada
Expressa o brotamento da semente.
Não deixe que a tristeza, assim, te alague;
Irrigue nossa vida em esperança.
Por mais que a fantasia não te afague
Estenda ao coração, a temperança.
Assim, nesta aliança nós iremos
Vencer os mais temíveis temporais.
Unindo nossas mãos, os mesmos remos
Expressam a esperança feita em cais.
Mesmo que anuviado em noite escura
Amor que remedia também cura.
77
Bruxuleantes luzes adentrando
O quarto que se fez em fortaleza,
Não tendo nem porque, talvez ou quando,
Encontro tão somente uma incerteza
Sumária expectativa me tomando
Além do que mais queira quem me preza
Da vida vou perdendo algum comando
E morro a cada dia, frágil presa.
Eviscerado o sonho em que me deste
Contrastes entre cores tão diversas,
Não tendo mais sentido estas conversas
Apenas prenunciam dor e peste.
Partícipes de um jogo sem final,
Morremos pouco a pouco, bem ou mal...
78
Bueno, como te que quero prenda bela
Distâncias eu percorro num segundo
Somente pra dizer o que revela
Amor, um minuano ganha o mundo.
O sonho qual cavalo que se atrela
Meu canto que já fora vagabundo
Ao ver no céu dos pampas esta estrela
Percebe este querer demais profundo.
No amargo de meus dias, na algibeira
Carrego uma esperança sem igual,
Do medo eu distancio, vil bagual
Que um dia maltratara o sentimento.
Paixão que sinto em fogo, verdadeira
Queimando o coração, ardente e lento...
79
Buenos Aires, Gardel, noites de ronda
A lua em plenos raios, argentina
Imensa; a deusa nua, que redonda
O céu dos meus desejos alucina...
Bandaleons convidam para a dança
O vinho em tua boca carmesim,
Tinturas delicadas. Com pujança,
Encontro as rubras rosas, meu jardim.
No vestido vermelho, sensual,
A deusa já flutua entre meus braços.
Um beijo disfarçado e casual,
As pernas se tocando, tangos, passos...
E tudo à meia luz, como convém
Na noite inesquecível de meu bem...
80
Bulino cum meu peito essa morena
De noite no meu quarto, uma beleza!
A gente vai sabeno cum certeza
Da vida mais gostosa e mais serena
O chêro do seu corpo me envenena
Dexano lá pra trás quarqué tristeza,
Carim que a gente faiz, que boniteza
O amô vem machucano e num tem pena.
Martrata um coração que sempre qué
O gosto tão gostoso da muié
Trazeno uma alegria sem iguár.
É como se eu tivesse, de repente
Podê de maginá que a gente sente
Qui nem um passarim, é tar e quár.
81
Buril que se perdeu em noite fria,
Numa álgida presença, solidão.
A morte me fazendo companhia,
As nuvens deslizando em procissão.
A fétida presença da agonia,
O vento se transforma em furacão,
E enquanto a vida passa, tudo esfria,
Percebo que também passei em vão.
Mereceria ao menos uma chance,
Distante vejo amor fora do alcance
E as minhas mãos inúteis vão às cegas...
Teares da ilusão perdendo o fio,
Verdugo tão irônico e sombrio
Gargalha dos meus sonhos tão piegas...
82
Buscando a antiga barca do passado,
Outrora solitário sonhador,
Janela que se abriu mostra em bom grado
O quanto o sol se mostra encantador.
Voando sem parar, chego a teu lado,
É vasto o Paraíso feito flor,
Um canto que desejo enamorado,
Porteira escancarada diz amor.
Tomando as firmes rédeas, minha mão,
Deixei de ser polígamo por ti,
Nas plagas mais distantes, solidão;
Fazendo no horizonte sombra e treva,
Agora que esta sorte eu conheci,
A luz de um novo tempo em paz me leva...
83
Buscando a claridade deste sol,
Qual fosse um helianto, eu me inebrio
Da luz que derramada no arrebol
Transforma em diamante este rocio.
São mágicos momentos com certeza,
Suprema maravilha. Inesquecível
Tradução mais perfeita da beleza
Prismático delírio, fonte incrível
Aonde iridescente poesia
Uma aquarela nobre que recria
Deidades concebidas pelos sonhos.
Jardins e borboletas, água pura,
Na cristalina imagem da ternura
Cenários fabulosos e risonhos...
84
Buscando algum refúgio nos teus braços
Depois de ter sofrido a decepção
Saudade não estica mais os laços
Sou teu e vivo imerso em tal paixão.
Os erros que eu cometo, sei que crassos,
E neles encontrei desilusão.
Seguindo com firmeza assim, teus passos
Verei ao fim da tarde este clarão
Que diz do plenilúnio que me trazes,
A lua deste amor jamais tem fases
E brilha mesmo em tempo mais nublado.
Permita que eu prossiga num ponteio,
Seguindo este caminho que eu anseio,
Cantando o tempo inteiro do teu lado...
85
buscando ancoradouro neste porto
desejos entre lábios e carinhos,
bebendo em tua boca doces vinhos,
no corpo de quem amo, eu me conforto.
descubro a bela senda aonde aporto
delírios que encontrando calmos ninhos
já sabem, reconhecem os caminhos
que trazem calmaria em bom conforto.
confronto meu passado doloroso,
com farto bem estar tão desejoso
e faço deste sonho, puro encanto.
e saibas que eu te quero, bela prenda
segredo que o amor cedo desvenda
permite que enfim diga: eu te amo tanto!
86
Buscando aonde estrela mergulhou
Navego os sete mares num segundo,
Das águas perfumadas eu me inundo,
Num doce paraíso naufragou
Saveiro que esperança me legou.
Do velho coração tão vagabundo,
Estrela que me leve pelo mundo
Colhendo cada flor que amor plantou.
E embora um sonhador sem eira ou beira,
Fazendo da alegria uma bandeira,
Eu posso enfim dizer do amor que trago,
Enfáticas palavras, belo sonho,
Delicadeza extrema em que componho
A doce placidez de um calmo lago...
87
Buscando conhecer quem sou, quem fui,
Procuro em ti querida esta resposta.
De tanto que amizade nos influi
A face que ocultei; em ti exposta.
O tempo tantas vezes tudo pui
E corta um sentimento, aberto em posta
Tudo o que vivemos já conflui
Para quem sabe e mesmo assim nos gosta.
Amiga me conheces muito bem
Valores que carrego, sabes todos...
Uma amizade intensa sempre tem
Poder de nos mostrar quase que inteiros
Não admite nem erros nem engodos.
Espelhos que nos mostram verdadeiros...
88
Buscando neste amor, simplicidade,
Na casa pequenina de sapê
Vontade de saber mais de você
Distante da loucura da cidade.
No quanto se deseja, minha alma crê
Que tudo seja sempre de verdade,
Olhando o firmamento a luz invade
E nela o meu futuro, amor já lê
Você chegou tão manso em minha vida,
A solidão deveras distraída
Não percebeu seu passo em calmaria
Ao ver a minha casa iluminada
Tristeza foi mudando de calçada
Abrindo este caminho pra alegria...
89
Buscando nos cristais a claridade
Que possa traduzir meu claro amor.
Não soube deste dom nem qualidade
Capaz de superar tanto esplendor.
Cristais se derreteram num segundo,
Sem luminosidades definidas.
Amor, em tanto brilho, mais profundo,
Supera as tristes pedras, derretidas...
Em outras pedras, tantas; procurei,
Mas nada de encontrar uma rival
Ao fogo deste amor, que é lema e lei,
Nem mesmo na dureza do cristal...
Apenas uma pedra é tão brilhante,
Quanto amor que te tenho, o diamante
90
Buscando nos teus olhos o reflexo
Dos meus que se perderam e não voltaram,
Misturo nossos lábios num complexo
Desejo. Nossos corpos se tocaram
Fazendo deste amor a nossa meta
Que corta tantos céus; invade o mar,
Tocados pelas mãos e pela seta
Daquele que domina, deus do amar.
Mergulho nos teus olhos, mal disfarço;
Na luz que me alucina e logo cega,
Cedendo ao teu desejo todo o espaço,
Jardins desta esperança, minha alma rega.
E ao ver meus olhos dentro deste olhar,
Percebo o quanto quero e vou te amar...
91
Buscando num jardim flores, camélias,
Jasmins e violeta, dálias rosas,
Achando-te querida, em mil bromélias,
Mais bela que entre todas, orgulhosas,
Recebo o teu perfume, raridade
Que vale toda flor desta jardim,
Amando mais que posso, na verdade,
Guardando teu aroma dentro em mim...
Suaves os desejos mais profanos
De ser o jardineiro preferido
Não vejo nem concebo mais enganos,
Depois de tanto tempo preterido..
Eu quero o teu perfume e t’a beleza
Com doce paladar em minha mesa...
92
Buscando o céu mais claro em pleno azul
Espaços percorrendo num segundo,
Olhar entristecido, o peito blues
Rondando vai ao léu, qual giramundo.
Tua presença está sempre comigo,
Embora não te veja junto a mim.
Imagem deslumbrante que persigo,
Carrego o tempo inteiro, sempre assim.
Olhando para os lados vejo um vulto
Andando passo a passo o tempo inteiro,
Amor sempre presente, embora oculto
Exala em fantasia, aroma e cheiro.
O quanto que eu te quero! Amor imenso;
Não sabes, mas somente nele eu penso...
93
Buscando o paraíso em teu olhar
Recebo a claridade de um farol.
Banhando em pura prata o negro mar
Da lua transformada em vivo sol.
Espalhas esperanças a brilhar
Tocando com belezas o arrebol.
Persigo assim teus olhos sem parar,
Qual fora um helianto, um girassol.
Semeias fantasias onde passas,
Em ti me vanglorio, sou feliz.
Deténs as alegrias e as graças
Meu álibi sagrado, soberano.
Envolto em claras cores, teu matiz,
Amor se faz inteiro, sem engano...
94
Buscando o que encontrara; amor, em ti;
Desabam num segundo, temporais.
A barca de esperança busca um cais,
Que um dia em fantasias, conheci.
Em sonhos, pelo menos, eu venci
As dores e tristezas ancestrais,
Em risos, pesadelos; transformais
Utópica manhã. Eu renasci.
Porém ao acordar, em solidão,
Voltando à mais cruel desilusão
Não tenho outra saída senão esta,
Deixando a porta aberta em esperança
Entrego o coração sem contradança.
A morte, o bem supremo que inda resta.
95
Buscando o que tivera em claras cores
A sorte eu sempre soube caprichosa
Vieste dirimindo minhas dores,
Mostrando a nova vida, maviosa.
De todas as sonhadas, belas flores,
Rainha do jardim, divina rosa
Agora irei contigo aonde fores,
Estrela que me guia, radiosa.
Amor, imenso sonho em plenitude,
Refaz no entardece, a juventude
Não sabe e nem pergunta mais por que.
Tristeza se perdendo em emoção,
A boca que me beija em sedução
Amor em fantasia que se dê.
96
Buscando o teu castelo no sertão
Princesa dos meus sonhos... O luar
Aponta meu caminho e direção
Teu reino enluarado onde encontrar?
Pegadas tão esparsas pelo chão
Distante... Tanto tempo a procurar
Levado pelas mãos do coração...
Princesa mais bonita do lugar!
O vento do querer é o meu guia
Estrelas comandando o meu caminho...
Ao gosto da vontade... A fantasia...
Clareio nos teus braços, na chegada.
Deitando em tua cama meu carinho...
Depois dessa poeira... Tanta estrada...
97
Buscando os braços mansos, magistrais
Da moça que não quer saber de mim,
A flor que descorou o meu jardim
Sem dar uma alegria. Eu quero mais
Que os lábios com certeza sensuais
Dizendo finalmente um simples sim.
A vida detonando este estopim
Demonstra que serei dela jamais.
Não falo de desejos e loucuras
Apenas de carinhos em ternuras.
Amor tão simplesinho, arroz/feijão
Varanda em casa branca, na palhoça
Não falo em Casablanca nem paixão.
Saudade dessa moça, o peito roça...
98
Buscando os teus sinais vasculho a casa
Em meio a vendavais e tempestades
Enquanto a fantasia ainda abrasa
Decifro madrugadas, claridades...
Rompendo as velhas grades do passado,
Liberto passarinho quer asilo
Nos olhos deste ser belo, encantado,
Querendo amanhecer bem mais tranqüilo.
Sem medo, coração batendo forte
Não teme mais algemas nem gaiola,
O tempo cicatriza qualquer corte,
Trazendo esta alegria que não cessa.
Felicidade assim entra de sola,
Realizando em paz, velha promessa...
99
Buscando pela lua espero o teu carinho...
Vagando pelo céu, aguardo o meu repouso
Nos braços de quem amo, um manso e doce ninho
Onde eu encontrarei o meu campo de pouso...
Seguindo a minha rota embora indefinida
Não passo um só minuto estradas bem cuidadas
As pedras, minha cruz, carrego em plena vida,
Nas forças do destino as dores encontradas...
Estou já tão cansado, a noite se aproxima...
Espero te encontrar nas curvas, nas paragens...
Cantando essa ilusão em tosca e triste rima
Minha alma aventureira inteira-se em viagens...
Eu quero tanto amar, embora não mereça...
Eu temo que sozinha, a minha alma envelheça.
3800
Buscando pelos passos de quem amo
Cansei de mergulhar em mar sombrio.
Um velho coração tolo e vadio,
Já não suportará senzala ou amo.
Podando da esperança cada ramo,
O vento que virá decerto frio,
No quanto sempre nego, propicio
A voz na qual, exausto inda reclamo.
Serpentes entre rochas, trevas, locas.
A fantasia foge enquanto tocas
Com tal suavidade que entontece
Desníveis provocados por meus erros,
Olhando no horizontes, negros cerros
Enquanto a poesia se enfurece...
1
Buscando tão somente por alguém,
Mineiro coração faz a colheita
A claridade em sonhos sendo feita
Esconde a tempestade que inda vem.
Atrás daquele monte a negra nuvem
Enquanto o sol ainda não se deita
Parece que em tocaia, numa espreita
O dom de destruir, percebo, tem.
Na falsa calmaria desta tarde
O gozo da ilusão que eu sei inda arde
Depois de certo tempo em alto brado
Trará a tempestade mais cruel,
Porém a sensação de um calmo céu
Retrata o que vivemos no passado.
2
Buscando ter sossego, certo dia,
Entranho meu desejo numa mata
Aberta nos meus sonhos de alegria
Deitado numa pedra, uma cascata
Roncando maviosa melodia,
Que invade traz a paz e me arrebata
Formando o fundo para a sinfonia
Dos pássaros. Trancado em casamata
Levando minha vida sem descanso,
Somente desta forma uma ventura
Depois de tanto tempo; sinto, alcanço...
Tua presença amada no aconchego
Aumenta muito a chance de uma cura
Mas, nua como estás... Cadê sossego?
3
Buscando tua sombra em noite clara
Vagando sem destino por aí,
O quanto; no passado, amor; sofri
O verso que ora faço já declara.
Quando tua presença tudo aclara,
Sabendo desta luz que existe em ti,
Valeu a pena; a dor que conheci,
E sei que este sorriso, cura, sara...
Abrindo o coração, sendo sincero,
Tu tens toda a loucura que eu espero
Num misto de ternura e insanidade
Na doce fantasia que me encanta,
A deusa sem pudor e sacra, santa
Malícia com sutil ingenuidade...
4
Buscando uma alegria, bebe um trago
Do fel que recebera como herança.
Numa macabra insana e louca dança,
Procura em desconsolo algum afago.
O sonho muitas vezes qual um mago
Engana e até promete uma esperança.
Farrapos do que fora uma criança
Jogados das janelas neste lago
Que em tez tão poluída não disfarça.
Repete a tão useira e antiga farsa
Criada em noite insone e mais sombria.
Gargalho sobre os restos que carrego,
Fingindo ser estúpido, vou cego
Forrando a minha noite em ironia.
5
Buscando uma guarida no teu peito,
Amiga, minha eterna companheira,
Tomado pelo grito insatisfeito
Da dor que se mostrou bem mais inteira.
Persigo, neste mundo o meu direito
De ter felicidade verdadeira...
Quem fora plenitude de ternura
Agora sem ninguém vai tão sozinho.
A vida se pintando em amargura,
Maltrata me deixando sem carinho.
A noite sem estrelas morre escura,
Um pássaro se perde sem seu ninho...
Por isso te procuro e na verdade,
Eu creio em toda a força da amizade...
6
Buscando, da fortuna, o meu direito
Encontro meus pedaços pelo chão.
O manto que cobria contrafeito
Embala tantos sonhos de perdão.
Vencer que me fizera satisfeito
E dar o meu recado, rente ao chão,
Vertendo meu amor, insatisfeito,
Tocando bem de leve o coração,
Permita te fazer um novo filho
E saibas que com isso, maravilho.
Não deixe que o destino nos afaste.
Amor que sempre teve o sentimento
De desabar assim, cada momento.
Não sabe que o futuro nos deu a haste.
7
Buscar a claridade em cada noite...
Ser vão e companheiro da verdade.
A noite perspicaz me traz açoite
O vento de meus sonhos, u’a saudade...
Não posso conviver com tanto engano,
Nem posso me deixar ao desatino...
O medo renovando torpe plano,
O canto da sereia é meu destino...
A minha alma procura por saída,
Nos teus braços remansos e delícias...
Venerando total e leda vida,
Já busquei por teus passos, nada encontro...
Desfrutei liberdades e malícias,
Nossa vida é completo desencontro...
8
Buscar a plenitude na aliança
Que possa permitir um novo dia.
Saber qual a importância da alegria
Movendo com firmeza uma esperança;
Quem luta com vigor, o amor alcança
E um templo ao Deus Eterno, em si, já cria,
Deixando para trás, terra sombria,
Tornando assim a vida, calma e mansa.
Vivi tantas mentiras; só restando
De tudo o que sonhara, medo e dor.
Ao conhecer palavras do Senhor,
O mundo se transforma. Em passo brando,
Caminho sem temores pela senda
Que Amor pleno e sereno, já desvenda...
9
Buscava meu caminho em senda quase escura,
Os rios, bela fonte, em doce melodia.
O rumo desta estrada, incerto, eu não sabia.
Só sei que caminhava, a trilha tão bela e dura.
Na fonte cristalina, o frescor d’água pura,
Entretanto estranhava, estava sempre fria.
Por mais forte esse sol, mais e mais se resfria.
Na senda maviosa, estranha criatura.
O meu olhar, curioso, embalde se detinha;
A senda que segui, decerto não é minha!
Um olho mais atento observa e não se engana...
O meu caminho é leve, as fontes são risonhas...
Não tem nenhuma dor, não tem águas medonhas.
Mas, logo que acordei, o adeus de Mariana...
10
Busco em cada sinal, em cada esquina
A sombra de quem foi morte e começo.
Qualquer sinal chegando me alucina
E nos meus pés, teus rastros, eu tropeço.
Corto meus pulsos, sangro; cego a sina
Que muda todo instante de endereço.
A lua penetrando esta cortina
Servindo de consolo e de adereço.
Como o Rio de Janeiro me inebria!
Teu nome repercute como um eco.
A noite tropical depressa esfria
Esguia esta cidade é muito pouca.
Entrando num cortiço ou num boteco
A corda em meu pescoço abrindo a boca
Marcos Loures
11
Busquei a vida inteira, nunca nego,
Uma pessoa amiga que pudesse,
Amenizar a dor que assim carrego,
Sem que sequer cobrança me trouxesse
Poder compartilhar os meus problemas,
Ouvir-me, tão somente ou me alertar,
Alegria e conforto sendo os lemas
De quem já sabe, enfim, nos apoiar.
Por mais que isto pareça ser bem fácil,
Garanto ser imensa raridade.
Um coração gentil, por vezes grácil
Que traga tanto alento para a vida
Nos laços bem mais firmes da amizade,
Só encontrei em ti, minha querida...
12
Bye bye, adeus, so long, já fui,galera;
Não guardo mais as fotos nem recados,
Os quadros esquecidos, pois mofados,
Depois de certo tempo, enfado e espera.
Quem sabe reconhece e até tempera
A vida com desejos malcriados,
Em outras direções, olhos focados,
Desleixo, a solidão, aos poucos gera.
No quarto as bandeirolas, velhas flâmulas
Futuro de fumante diz das cânulas
Traqueotomia à vista, morte a prazo.
Se eu tenho enfim por mim, tanto descaso,
A culpa é deste inferno que hoje piso
Teimando ver após, o Paraíso...
13
Cabeça decepada na bandeja
Servida com pimenta, azeite e sal.
Banquete que esta corja já deseja
Em rito bem sacana e sensual.
Fartura em que a vida, assim preveja
Delírios desta gente canibal
Em nome de um amor que sempre almeja
Prazer tão imbecil quanto carnal.
Nas gargalhadas sinto que esta festa
Um dia não terá prosseguimento;
Cadáver que em cadáver já se gesta
Depois de certo tempo, vira fera.
Nas armas, cocaína, condimento
No qual fino festejo se tempera...
14
Cabeça tá coçando? Fique de olho
Aberto; meu querido companheiro.
Pois pode ser a peste do piolho
Um bicho sem vergonha e bem matreiro.
Ataca jovem, velho até pimpolho
Passeia no cabelo e travesseiro.
Já tive esse bichinho aqui comigo
E foi um osso duro de roer,
Parece na verdade até castigo,
Passando um pente fino pude ver
O quanto de piolho fez abrigo
É coisa bem difícil de esquecer.
Pequenino, mas coça assim à beça
Andando com os pés sobre a cabeça...
15
Cabeça vai girando qual piorra
Rodando bar em bar, bocas e seios,
A sorte lamentada, uma cachorra
Usando sem limites podres meios,
Procuro que alguém que me socorra
Não importando quais sejam os meios
Cansado desta merda, dessa porra
Que se danem juízos ou receios.
Eu quero navegar em mansos mares,
E o gozo da amizade que inda venha.
Revejo velhas caras, seus altares
Halteres tão inúteis, força insana,
Assando minha vida e pondo lenha
Na força em babaquice que me engana.
16
Cabelos desmanchados pelo vento,
Sorrisos estampados nesta face,
Vontade de sentir cada momento,
A vida sem sequer qualquer disfarce.
Eu sinto cada toque desejoso
Qual fosse uma explosão imensurável
Depois de tudo vem o gozo
Imensidão de estrelas incontável.
A mão tão delicada vira garra,
Entranha no meu peito, dilacera,
O coração exposto vem, agarra,
Os dentes da princesa são de fera...
Vontade de sentir cada detalhe
Da força que penetra em cada entalhe...
17
Cabelos tão dourados quanto os teus
Roubando deste sol, a claridade.
Não posso permitir, de novo, adeus,
Nem quero mais saber de uma saudade...
Bem sei que o sol te vendo não nunca esquece
Dos raios que roubaste na manhã.
O deus enamorado se enlouquece
Se esconde em tantas nuvens, triste afã...
Bem sei que quando andavas pelas praias,
O vento em teus cabelos, mil carinhos...
Beijava tuas pernas, coxas, saias...
Buscava sem juízo, doces ninhos...
Inveja que causamos á natura,
Fazendo em pleno dia, noite escura...
18
Cabem mil universos no meu peito,
Embora tantas vezes siga só.
Dos passos não deixando nem o pó
O sonho não se afasta do meu leito.
Um velho coração insatisfeito
Procura desvendar sem medo ou dó.
Porém realidade, amarga mó
Destrói o que em delírios fora feito.
O mundo sendo vasto é tão pequeno,
Dos versos há quem sabe algum aceno,
Mas nada se movendo sobre a Terra,
Poética ilusão, frágil paisagem,
Efêmera e sublime esta viagem,
Transpõe num vôo audaz montanha e serra...
19
Caçando o que não tive, vou sozinho
Na inglória caminhada pela vida,
Às vezes percebendo uma saída,
Engano, então retorno ao velho ninho.
O peito aberto imita um passarinho
Que voa em liberdade, construída
A cada amanhecer e concebida
Ao perceber aberto o seu caminho.
Porém na flor da minha mocidade,
Imerso na total iniqüidade
Não tive, na verdade, quase nada.
Agora que o outono rouba a cena
E a vida cruelmente já me apena,
Aguardo que inda tenha uma guinada,
20
Caçando os meus fantasmas pela casa
Que sei mal assombrada, dos meus sonhos.
Os ritos corriqueiros são medonhos,
Tristonho coração já não se atrasa.
Chegando de manhã, nada mais tendo,
A falsa plenitude vira arroto,
Movido por controle mais remoto,
Segredos do que fomos não desvendo.
Quis chácara, mas xícaras, trouxeste,
Os chacras, tolos mantras, mantas ânsias...
Confusas expressões mostram ganâncias
Plantando neste solo mais agreste
Minha boca esfaimada se sacia
Nos resíduos banais da fantasia...
21
Caçando, devoramos nossa caça
E dela em regozijo faço a festa
Amor que sutilmente ganha a praça
Ternura em fantasia sempre gesta.
Arestas que podamos no passado
Permitem que pensemos no futuro
De um jeito mais feliz, anunciado
Dourando em alegria um céu escuro.
A mão de uma ventura sem igual
Pressente com firmeza, amanhecer,
Bebendo tua pele sensual,
Amor que se transforma quer prazer
A vida estende encanto que deseja
No peito uma alvorada benfazeja.
22
Caçando-te querida sou a presa
Que sabe do poder desta pantera,
Mantendo amor em chama sempre acesa
Jamais outro caminho, assim, me espera.
Tu trazes nestas mãos, a primavera
E mostras com carinho esta certeza
De tudo o que sonhei. Ah! Quem me dera
Não perderia nunca esta princesa
Que é maga nas carícias e nos beijos,
Treslouca minha vida, e faz feliz.
Cumprindo o que diziam realejos
Encontro nos teus braços o que eu quis.
Certeza de poder ser devorado,
Num sonho assim bendito, iluminado...
23
Cacarejando festas por aí
Decifras as baroas e os barões
De todas as medalhas que sofri
Pelejas são apenas mergulhões.
Metáfora demais que me perdi
Fazendo dos enredos, turbilhões.
As bocas que entre trevas percebi
Estrelas entre céus viram bilhões.
Pacotes e coiotes, alquimias
Se mias não humilhas quem seria
São sérias estas séries, certos dias
As sondas feita em línguas não se cansam,
Enquanto provocando hemorragia
O gozo das festanças logo alcançam...
24
Cachorro que se perde do seu dono
Vagando pelas ruas sem licença
Vivendo a sensação de um abandono
Na vida perpetua uma descrença.
Tentando descansar, esquece o sono,
Um osso sem valor é recompensa,
Um beijo apodrecido vira abono,
A noite sem ninguém, passando imensa.
Uivando de saudade se lembrando
Do tempo em que podia até sonhar
Castelos de ilusões se desabando.
O frio desta noite me enregela,
Preciso urgentemente te encontrar,
Mesmo que seja sempre uma cadela!
25
Caço-te nos lençóis de nossa cama,
Não encontrando nada, a noite passa,
No que se fora assim, intensa chama
Sobrando tão somente esta fumaça
Em mil gracejos tolos, sutil trama
Se mostra sem motivo, uma chalaça
Apenas minha voz inda reclama,
Ausência que se fez,a minha alma esgarça.
Errante te procuro e nada vejo,
Mas mesmo assim valeu o nosso amor.
Talvez pra ser feliz, outro traquejo
Que nunca mais teria quem sonhou.
Buscando o teu carinho redentor,
Esqueço tanta vez quem mesmo sou...
26
Cada dia renovando uma esperança
De ter essa alegria que buscara,
Sabendo que esta noite é qual criança;
É pedra preciosa; jóia rara...
Nas horas imprecisas, minha amiga;
Que bom saber que posso te encontrar.
Por vezes nossa vida já periga
Qual barca que teima em naufragar.
Meus versos são meu canto de amizade
Em busca da verdade desta vida.
Eu sei que sempre dói uma saudade,
Da luz que se passou, está perdida...
Por isso, minha amiga te agradeço,
E todo o teu carinho, reconheço...
27
Cada macaco sabe do seu galho
E desta forma a vida é mais suave,
Quando compartilhamos nossa nave
É certo que teremos mais trabalho.
Se ao teu lado, querida, eu me atrapalho,
Eu vejo agora nisto um grande entrave,
Para evitar que a dor assim se agrave,
Eu mostro esta carranca de espantalho.
Cada um no seu quadrado; estou na minha,
Seguindo o meu destino nesta linha
Depois de certo tempo; estou sozinho.
Um pássaro procura companhia,
Mas não suporto mais tanta agonia
Ao ver outro canário no meu ninho...
28
Cada qual com seu cada qual, dizia
Um velho amigo lá das Minas Gerais
Assim também se faz a poesia
Que tem os seus segredos, rituais.
Soneto necessita de harmonia,
Por mais que as rimas sejam tão banais,
Sem métrica soneto não se cria,
A roupa só se quara nos varais.
Não vejo porque tanta discussão.
A criança conhece a redondilha
Dançando na ciranda. É tradição
Do povo brasileiro e lusitano,
Depois do que aprendeu se desvencilha
Cravo fugiu da rosa? Desengano...
29
Cadáver de um romântico, passeia
Entre as estrelas tolas da ilusão.
Celestes armadilhas da expressão,
A lua não seria, assim tão cheia.
Hipérboles, metáfora incendeia
Andinas maravilhas, rés do chão.
Das almas andarilhas, negação,
Realidade mata aranha e teia...
A poesia, agora, perde a tinta,
Desta aquarela, poucos os matizes,
Mulheres tão distantes, más atrizes
A peça há tanto tempo vai extinta,
Meu passo quase trôpego se esconde
Aonde a fantasia perde o bonde...
30
Cadáver insepulto que carrego;
De um tempo que passou, deixou resquícios...
Não sei bem se eu afirmo enquanto nego
Embora saiba bem destes indícios...
Depois de tantos mares que navego
As asas decolando em precipícios,
Distante do que fosse esse meu ego,
Se sigo, talvez sejam só meus vícios.
Os nomes, muitas vezes sepultados,
Volta e meia pululam e renascem.
Diversos, os caminhos, nossos fados,
São mais do que retratos na parede.
Falar neles é como se voassem
Em busca de outras fontes, matar sede...
31
Cadáver putrefeito da esperança
Algoz que tantas vezes me iludiu,
Sorriso em face estúpida, imbecil
Cravando na ilusão espada e lança.
Arcana das paixões, a morte avança
Dos cárceres dos sonhos, mãe gentil,
Enquanto a fantasia, serva vil
Espalha as suas garras por vingança.
Acorrentando as mãos de quem resiste,
Ao fim verei num ato tolo e triste
A cena derradeira desta peça.
Sem ter sequer a chance de sonhar,
A morte devorando devagar
Sem nada, nem ninguém que ainda a impeça.
32
Cadáveres carrego, bem pesados...
Amores e saudades sempre voltam
Nos sonhos, pesadelos, sinas, fados...
Tantas horas perdidas me revoltam
Pés cansados, imersos, afogados
Em plena comunhão, vultos escoltam...
Nas mantas, meus temores abrigados
Precisam de tais nuvens que se envoltam.
A vida foi passando de viés,
Saudades e esperanças; o que eu trago.
O mundo que pensei atou meus pés
Carrego minhas dores – turbilhões...
Todos os meus cadáveres; afago.
Cansaço de quem leva multidões!
33
Cadáveres dos sonhos vão à toa,
Devoram cada parte do que fui,
Se o tempo como insano ainda flui
A voz do meu passado vem e ecoa
Adorna uma ilusão, cevando o nada
E quando me surpreende está vazio.
Alheio ao que tivemos, não adio
Inverno de minha alma, destroçada.
As marcas de teus lábios em meu rosto,
O beijo apodrecido da pantera,
A vida que em teus braços degenera
Deixando o cerne frio, amargo; exposto.
Esposo da esperança, a realidade
Devasta provocando mortandade...
34
Cadáveres que trago do passado
Entranham nos meus versos, degeneram.
O quanto que pensara fosse um brado
Agora os sons diversos desesperam.
Carcaças espalhadas pelas ruas,
Na mendicância crua, esparramada.
Enquanto mansamente continuas,
Não resta dos meus sonhos quase nada.
Apenas um sepulcro dentro da alma,
Vestígios do que fomos, vãos carinhos.
Colecionando dores, vivo o trauma
Da solidão imensa em nossos ninhos.
Assídua tempestade não se vai,
A tela ao fim da peça nunca cai...
35
Cadê minha Tereza? Foi pro mar...
Quem era ventania, virou brisa,
A morte traz medida mais precisa.
Quem fora majestade? Sem altar...
Depois dessa viagem, foi parar
Onde toda maré se torna lisa...
Tereza, bem distante, o mar avisa,
Que nunca poderei mais te encontrar...
Perdoe se não pude nem sentir
O que pensei doesse. Vou pedir
A Netuno que nunca mais te veja...
É tudo que minh’alma mais deseja,
Tua cabeça traga na bandeja;
Nem quero teu cadáver prá carpir...
36
Cadê teus olhos tristes que não vejo?
Cadê a poesia que fizeste?
A noite se engalana sem desejo
E a sorte quase sempre não me veste...
Vento que balançando essas palmeiras
Nas praias deste amor que nunca tive.
As horas sem amor são verdadeiras
O resto do que penso não contive...
Agora não me venha com certezas
Que sabes que não é o meu direito,
Vivendo sem sequer sentir tristezas,
Do nada sempre ao nada, satisfeito...
Porém eu jamais nego que eu te amei
Em versos e metáforas fui rei...
37
Cadeias da tristeza, me livraste...
Deixando meus pés livres para a vida...
Das dores infinitas, me abjuraste.
Deixando essa mãos livres... Esquecida
Da proteção divina, me negaste...
Então mãos e pés, trazem despedida.
Quebraste sem saber toda fina haste
Que mantinha meus pés. Foste bandida!
Cadeias de tristezas, teu legado...
Preâmbulos mortais, velhas cantigas...
Um coração que fora apaixonado
Percebe velhas dores, tão antigas...
Um coração que bate, vai de lado...
Te imploro, vou tristonho, mas nem ligas!
38
Caia por cima de mim,
Nas danças e nos folguedos
Meu amor tão grande assim
Vai em busca dos segredos,
Tua boca carmesim,
Tua língua, lábios, dedos,
Tanto amor que não tem fim,
Aplacando os velhos medos.
Nos meus braços, tua pele,
Silhueta mais esguia
O teu corpo me compele
A fazer estripulia.
Antes que a noite congele
Aqueçamos a alegria.
39
Caindo a noite, pântanos brilhando...
As almas subiriam para o espaço.
Azuis com as tristezas carregando,
Não deixam testemunhas nem um laço...
As horas enlutadas vão passando...
A solidão e o medo, meu cansaço...
As almas ao subirem, já deixando
A noite onde mergulho e me disfarço...
As luzes azuladas trazem medo.
A morte se refaz nesse segredo,
Quem são? Por quê? Ninguém responderá!
Mistérios d’existência ficam lá,
Nas almas que fugiram do degredo...
Meu amor, porventura, onde estará?
40
Caindo sobre os sonhos, pesadelos...
Nos seios desta amada que não ama...
Meus mundos não permitem revivê-los
Nas lavas dos vulcões percorro chama.
Nos brotos das abóboras, seus grelos,
Quem dera reviver amor sem lama.
Envolto nos meus sonhos qual novelos
Que trazem meus destinos. Velha trama...
Adormeci nos braços desta lua...
Balançando, deitei na mansa rede.
Mulher que nunca veio, estava nua...
Nos desertos, meu corpo mata a sede.
A boca que silvava, continua.
Um grande amor que nunca tive, atua...
41
Caiu um aguaceiro dos meus olhos
No dia que a morena foi embora,
Tristeza eu colhi em tantos molhos,
Meu peito foi sozinho e chora, chora...
Saudade é como um trem desgovernado
Não deixa mais a gente nem dormir,
Lembrando do seu beijo tão molhado,
Perdão, morena, agora, vou pedir...
Eu sei quanto que errei; morena linda,
Fiz tanta bobageira pela vida...
Meu coração, morena, é seu ainda,
Sem você, minha estrada vai perdida...
Não deixe que a saudade matadeira
Acabe com paixão tão verdadeira!
42
Calado pelo encanto – amor harmônico,
O verso que se fez em pessimismo.
O brado em solidão morrendo afônico,
Amor causando em nós um cataclismo.
Furores sem limites, fogaréu,
Ardências e calores, jogo feito.
Aladas fantasias, risco e céu.
Floradas de esperança no meu peito
Alcanço o que queria e desejava
Embora a lava queime nossos pés,
O quanto tantas vezes procurava,
Em sonhos, catedrais, altares, sés
Debulho os nossos ritos, faço a festa
O quanto ser feliz é o que nos resta.
43
Calados passarinhos, ninho morto...
Nas vibrações etéreas, vento manso.
Meu pensamento frágil voa absorto
Em meio a mansidão deste remanso...
Nos áditos perdidos, rumo torto,
Embalde tantas ruas, eu me canso...
Amar sem ter alguém, é meu aborto,
Procuro pela guia e não avanço!
Espedaçado, pávido, indeciso...
Caminhos inauditos e ferozes.
Edênico desejo, paraíso,
Conglobam-se velórios e quimeras...
Nos meus escuros sonhos, ouço vozes
Distantes. Dos amores d’outras eras!
44
Calando as mais temíveis penitências,
O amor abriu as portas da alegria,
Não vejo tão somente coincidências
Percebo este poder feito alquimia.
Espalha assim o amor, benevolências
Trazendo a luz intensa a cada dia.
Impávidos olhares no horizonte,
Traduzem claras nuvens- esperanças.
No quanto o meu desejo sempre aponte
O riso prometido nas festanças,
Marcado por franqueza, viva fonte,
Na plena fortaleza em alianças.
Arcando com meus erros, sou feliz,
Um velho sonhador, vero aprendiz...
45
Calando o canto amargo do passado,
Lúgubre cantochão em ladainha,
Amor em nosso peito emoldurado
Permite uma colheita em rara vinha.
Se eu vinha de um destino traiçoeiro,
Agora em tom maior, a melodia
Adentra e modifica o cancioneiro
Perfaz pura emoção, nova harmonia.
A voz que se mostrara quase agônica
Expressa a fantasia de um tenor.
Mudando em alegria, antiga tônica
Recobre este cenário em farto amor.
Homérico caminho que deságua
No gozo do desejo, aborta a mágoa...
46
Calando o coração tão andarilho
A voz do amor se fez inquestionável.
Na fonte do prazer inesgotável
Derramo o quanto quero e maravilho.
Não vejo mais qualquer um empecilho
E sigo percorrendo o passo amável,
No mar do amor imenso, navegável
Eu traço com certeza o bem que trilho.
Por mais que tantas vezes enganado,
Andando por caminho torto, errado,
Eu inda tinha um resto de esperança
De ter após a dura tempestade
Algum caminho solto, em liberdade
Trazendo enfim um pouco de bonança.
47
Calando para sempre os meus deslizes
Jamais esquecerei o que vivemos
Por mais que noutras sanhas nos perdemos
Amor já superando velhas crises.
As dores se despedem, más atrizes
Do gozo mais profano que bebemos
Decerto navegar exige remos
Vontades que decerto queres, bises.
Melancolia é coisa do passado,
Jamais imaginei o que me trazes,
A vida se permite em várias fases
Porém ao ter alguém sempre ao meu lado
Não vejo mais problemas nem terrores,
Entregue à mansidão nego pudores...
48
Calando sobre o quanto não sabia
Rugindo sobre o quase que perdi
Remorso colorindo a noite fria,
Vencido pelo quadro que esqueci
Rolando pela velha escadaria
Da casa que matei quando nasci.
Talvez inda me reste uma alegria
Despida em noite boa. Vem pra aqui.
Remédios para quê? Já basta o tédio.
Maldito este luar em seu assédio
No orgasmo que chamei, mas que não veio.
Problemas acumulo; mas sem seio;
Sem coxa de morena ou de mulata
Caleidoscópio cego me retrata...
49
Calaram já faz tempo nossas vozes
Deitando sobre todos; a amargura
De tantas esperanças vis algozes
Aos quais nem mesmo a morte, enfim, depura.
Enquanto o manso amor aqui floria
Espinhos espalhados pelos ventos,
Matando em nascedouro a poesia
Gerando em triste aborto estes tormentos
Na podridão dos olhos da pantera
O vício no hemorrágico banquete
Recobrem com mortalha a primavera
Fazendo de minha alma atroz joguete
Esparramando a dor tão simplesmente
O desamor sorri; cruel serpente...
50
Caldo de cana, mel, ou rapadura.
Doçura se tornou, querida, um saco,
O amor se confundiu, foi pro buraco,
Matando qualquer forma de ternura.
Amor errado, trama em noite escura,
Confere solidão, ingênuo e fraco.
Recolho os cacarecos num só taco
Cortando em minha carne, vejo a cura.
É carne de pescoço, eu te garanto,
Causada pelo tédio e desencanto,
Atrás da solução, quebrei a cara.
Enroscas tuas pernas noutras pernas,
Em plena primavera, o amor invernas,
Mas deixe-me sozinho, vê se pára...
51
Caleidoscópio diverso,
Amor muda seu matiz.
Cantando assim cada verso
Procurando ser feliz...
Porém no fundo, o poeta,
Finge mais que se imagina.
Mesmo quando se alucina
Ou Cupido acerta a seta
A palavra é feiticeira
Pouco a pouco nos invade
Mentirosa é verdadeira.
Amar é mais que vontade.
Dor é também companheira,
Se juntar vira saudade...
52
Caleidoscópio, eu vejo em tantas flores
Mostrando uma beleza interminável,
Por onde tu seguires, onde fores
Reflexos de um prazer inesgotável.
Ditando sobre nós a redenção
Teus passos me servindo como guias
A vida transportando em turbilhão
Eterna maravilha em melodias.
Nas ilhas que deveras foram tantas
Durante minha dura caminhada,
Agora que em verdade tu me encantas
Não temo nem soçobro em derrocada.
Deixando bem distante o meu calvário
Encontro o paraíso imaginário...
53
Calor enlanguescente que desperta
Não deixa quem amava mais dormir.
Amor um sentinela sempre alerta
Embora na distância, hei de te ouvir...
Palavras que soltamos, mais dispersas,
Não cabem nos meus versos enfadonhos,
De tanto que esperamos nas conversas
Agora quê que faço com meus sonhos?
Jogados sobre a cama, sem sentido,
Não deixam os meus olhos mais fechados,
Perdendo-me nos braços deste olvido,
Os sonhos se tornaram duros fados...
Amada não permita que isso ocorra,
Amor tão delicado: me socorra!
54
Calor vai consumindo e tão confusa
A deusa se perdendo no suor,
O mundo talvez fosse bem melhor
Se a moça levantasse a sua blusa...
Talvez inda tivesse num nuance
Visão do mais sublime paraíso,
Porém a chuva chega sem aviso
E rouba da ilusão última chance.
Apenas sou mais um que se perdeu
Tentando receber o que foi meu
E agora não pertence a ninguém mais.
Recibo já rasgado, o que fazer?
Se teimo e nada tendo a receber
Arranco o que sobrou dos meus varais.
55
Calor vai me tomando esta manhã
Ao ver deitada aqui tua beleza,
Vontade me domina em louco afã
De ter entre meus braços tal princesa.
Teu seio no formato de romã
Na boca maravilha em framboesa.
A febre me tocando, mais louçã;
Querer-te toda minha, uma certeza...
Sorris e nisto excitas-me bem mais.
Sussurros meus desejos, devagar.
Tremores e ternuras já me traz
Olhar de uma menina apaixonada.
Na chama em que me sinto fervilhar,
Amando sem parar, fazer mais nada...
56
Camaleão audaz mudo de cores.
Em tardes eu vou blue, negro noturno.
Carrego inda comigo meus amores.
Meu passo numa espreita sói soturno
Levando como cargas,dissabores.
A vida transtornando cada turno
Plantei felicidade colhi dores,
Nos porões de minha alma eu já me enfurno.
Coração tão vira-lata rebate
Nas madrugadas frias, triste, late.
Uivando em dissonância, a noite traz
Um pesadelo enorme, mata a paz
Amores sem vergonhas ou verdades
Transparecendo cedo as veleidades...
57
Caminhando busquei novas manhãs.
Os ventos tempestades me queimaram...
As mãos se esfarraparam, foram vãs,
Os tiros e canhões dilapidaram...
Nas tentações profanas das maçãs
Dos sonhos, pesadelos me sangravam
As noites solitárias são malsãs
Meus sonhos – liberdade - já calaram...
Os dias que se mostram mais saudáveis
Rapinas, tentam loucas; destruir.
As dores se tornando insuportáveis,
Vorazes, as tristezas não disfarçam
E querem nosso amor já destruir...
Bicos esfomeados, tudo caçam...
58
Caminhando comigo, lado a lado,
Aladas esperanças vêm à tona,
Atadas minhas mãos em outro prado,
Calado; o sentimento inda ressona.
Abandonado, eu tento um novo curso,
De tudo o que já tive; nada resta.
Mudando novamente o meu percurso
Adentro a ventania que se empresta
À sorte de quem fora e não voltou,
Partícipe de um duro pesadelo.
Saudade em minha pele se entranhou,
Deixando ao coração, o frio e o gelo.
Dos elos que se quebram, liberdade?
Apenas tão somente esta saudade...
59
“Caminhando e cantando e seguindo a lição”
Que a cada novo dia aprendemos bem mais.
Mais forte do que o medo, e o vento da paixão
Além do que se mostra em longínquo e bom cais
Demonstra uma alegria em força e sedução
Unindo em diferença a derrota jamais
Virá para quem sabe e tem plena noção
De um mundo bem melhor que é feito em plena paz
A partir deste sonho, um mar em calmaria
Na placidez do canto, a brisa soberana
Que faz de cada noite a promessa de um dia
Sem lutas e sem fome, assim felicidade
Da qual sempre quem ama em versos já se ufana
Virá tendo por lastro, a força da amizade...
60
Caminhando por aí, pelas esquinas,
Teus passos flutuantes, vou seguindo...
Sem saber, nunca sai destas retinas;
Que tanto,um só carinho, vão pedindo...
Caminhando por aí, sequer percebes,
Meus versos se perdendo, sem sentido.
Transmites mansos ventos que recebes,
Enquanto eu...Nos teus passos, vou perdido...
Quem sabe encontrarei o meu caminho?
Quem sabe... Me perdoe mas eu te amo,
Não sei se nos teus braços eu me alinho,
Decerto sem saber que te reclamo
Desfilas pelas ruas, galerias...
Enquanto eu... Me sobraram poesias...
61
Caminhando por ruas tão vazias,
Somente a minha sombra me acompanha.
Luar adormecido na montanha
Deixando estas calçadas mais sombrias.
Sonhando com prazeres; fantasias
Um mundo mais feliz. Terrível sanha.
Apenas solidão ainda entranha
Matando pouco a pouco as alegrias...
Eu te procuro e nada tendo
O dia novamente amanhecendo,
Caminhos paralelos, infinitos...
Há tanto que eu queria te dizer
Do amor que ainda sinto. Sem te ver,
Os versos são somente sons aflitos...
62
Caminhando sem cansaço
Pelo sertão das Gerais,
Procurando um forte abraço
Da amizade feita em cais.
Esperança eu logo traço,
Pois sei que isto é bom demais,
Estreitando cada laço,
Sem eu me esquecer jamais
De uma amiga que carrego,
Dentro do peito em abrigo,
Sem seu brilho fico cego,
Sem a sorte que persigo,
À amizade eu já me entrego,
Deixe-me ser teu amigo.
63
Caminhante perdido sem ter trilhos,
Desconforto gigante em impotentes
Passos que se fazem andarilhos
Buscando outro caminho, outras vertentes.
Encontro na verdade os empecilhos
Comuns da miopia que sem lentes
Confunde seus amigos com caudilhos
E rosna pra quem ama, unhas, dentes...
A sonda que lancei, sem ter resposta
Sonares se perderam neste mar.
Porém pele curtida cria crosta
E aos poucos se transforma na couraça
Que penso proteger do que encontrar...
Só resta uma saudade e a vida passa...
64
Caminhas entre luzes, na calçada
Néons acompanhando cada passo.
A lua se embebeu de madrugada
E vaga sem destino pelo espaço.
Os sons se misturando na balada,
Nos olhos a vitória diz fracasso,
Imagem distorcida não diz nada.
O rito de esperança então devasso
E caço cada parte do que fomos,
Na múltipla visão dos mesmos gomos
Flutuas pelos bares, ruas, becos.
Da música de outrora ouvindo os ecos,
Eternamente jovem. Quem me dera.
Inverna em noite clara, a primavera...
65
Caminhas pela casa toda nua,
Beleza sem igual já se acentua
Ventura incomparável, gozo e festa
Calando com ternura uma tempesta.
A sanha sem pudores continua,
Na cama, no motel, em plena rua.
Na fúria inesgotável que se atesta
Fartura que o desejo nos empresta.
E quando penetrando em cada gruta,
A fêmea insaciável determina
O andar da carruagem. Sempre astuta
Abrindo suas coxas, minha lança
Invadindo as entranhas da menina
Que engole tão voraz e não se cansa...
66
Caminhas sutilmente pela praia
Requebros entre as ondas, sol e areia
Enquanto o teu olhar já me incendeia
O vento levantando a tua saia
Permite que se vejam belas pernas
Morenas e roliças, fogo e chama,
O meu desejo agora te reclama
E quer nossas venturas, doces, ternas.
Tua nudez; prevejo num momento,
E quero sempre e tanto, sem juízo,
Chegando num galope ao paraíso,
Liberto o meu sedento pensamento,
Querendo, toda noite muito mais,
Trejeitos e vontades sensuais...
67
Caminheiro, as estradas do sertão
Desabando o vazio das andanças
Desaguando no mar do coração
Sem força sem pecado e confiança
No resto do que fora uma canção
Guardado em algum canto uma lembrança.
Um gosto de saudade sangra a boca
Deixando bem distante a juventude
Que foi-se em agonia quase louca,
Vontade de sentir nova atitude
Mas força que restou parece pouca,
Morrendo sem ter gana ou ter saúde.
Caminheiro; em teu passo eu já prossigo,
E posso te dizer, és meu amigo...
68
Caminho cabisbaixo, vou cismando
Buscando teu retrato, bem guardado
A vida pouco a pouco vai passando,
Meu peito em sofrimento, torturado...
Meus males são reféns do nosso amor
De tantas amarguras que carrego.
Dizendo que te encontro em cada dor
Que tento e não consigo, nunca nego.
Desdéns colecionados pela vida,
Nos temporais ferozes que enfrentei,
Minha alma sem sonhar segue sofrida
Por campos e montanhas que nevei
Com lágrimas e frio, vento forte,
Sentindo esse bafio, minha morte!
69
Caminho em noite vaga, tolo, insano
Navego pelos bares e caladas.
Jogado pelos cantos e calçadas
Amor feito saudade é tão tirano.
Quem dera reviver cotidiano
Palavras entre sinas bem traçadas,
Porém as luas sempre disfarçadas
Demoram transtornando cada plano.
Queria a cor do mundo em meu olhar
O brilho esmeraldino da floresta.
Se apenas solidão é o que me resta
Apenas solidão; vou encontrar;
Amor porta-estandarte do vazio,
Promete em carnaval somente o frio...
70
Caminho em pedregulhos; perco a linha
O trem de minha vida descarrila
As dores vão fechando e fazem fila,
A noite que congela é toda minha.
Buscando uma alegria que não vinha
O sangue em agonia já destila
Em goles gigantescos de tequila,
Uma esperança aos poucos se definha.
Amigo, na verdade me liberto
Das pedras que encontrei estrada afora.
A bosta que estercara revigora
E deixa até florir neste deserto.
Bebendo deste sonho em conta-gotas
As roupas que eu vesti ficaram rotas...
71
Caminho em tempestade, devagar
Mineiramente venço os vendavais
Chegando calmamente em cada cais
Vejo o melhor momento de ancorar.
Na praia dos meus sonhos céu e mar
Em tons maravilhosos, sensuais
Fazendo desse todo um pouco mais
Num gozo esmeraldino azulejar...
Jogado pelas ondas barco segue
Sem blague, sem mentiras, peito aberto,
Aos braços e carinhos vou entregue
Vogando por errantes caminhares
Nos ventos, sem temores me liberto
Amor bem junto a mim, nos calcanhares...
72
Caminho feito em glória, meu tesouro.
Florida senda exposta dentro da alma,
Do verdejante sonho, ancoradouro,
Dos louros e vitórias, luz que acalma.
Encontros entre as almas que se buscam,
Verdades infinitas que nos guiam
Sem trevas nem neblinas, não se ofuscam,
E tantas maravilhas fantasiam.
Passando pelas noites sem temor.
Tremulam esperanças nos seus passos,
Cenário divinal a se compor,
Tomando num momento estes espaços.
Delírios virginais em claros tons,
Espalham pelas terras, belos sons...
73
Caminho feito em luz glorificou
Porém o meu destino é ser sozinho
Saudade de quem foi e não voltou
Deixando simples sombra sem carinho.
De tudo o que eu pensei nada restou,
Somente esta saudade onde me aninho.
O canto deste sonho me chamou
De volta a percorrer velho caminho
Que leva, num instante à mesma cama
Aonde em toda noite ardia em chama.
Amor que com loucuras se verteu
Em mágicas palavras, sonho breve
Felicidade, agora não se atreve
Matando o que pensara ser só meu...
74
Caminho junto a ti a vida inteira
Com passos bem mais firmes, dia a dia...
A vida se mostrando feiticeira
Encanta-nos com força e com magia...
Colhendo cada flor desta roseira
Que traz em seu perfume a garantia
Da paz tão delicada e verdadeira
Do amor que mais que tudo, sempre queria..
Amada, seguiremos nossa vida
Em toda a primavera da esperança.
Deixando a solidão bem esquecida
Num canto abandonado, tão distante...
Em nosso amor, querida uma fiança
Do dia que virá, mais deslumbrante...
75
Caminho numa praia junto a ti,
A noite traz a lua como guia.
Espraio nos meus olhos alegria
Depois de tudo aquilo que vivi
Saber que enfim consigo o que pedi
Amor que seja intenso em fantasia
E mate, de uma vez toda a agonia
Que um dia em falsos beijos conheci.
Reflexos do luar por sobre as águas
Convite para um louco mergulhar.
Agora um coração que não tem mágoas
Encontra seu destino mais sereno,
E a noite vai passando, devagar,
O amor que a gente faz, sincero e pleno...
76
Caminho passo a passo com quem amo
Enveredando espaços infinitos.
Versejo e com força amor eu chamo
E venço a solidão em claros ritos.
Meus olhos que já foram tão aflitos
Agora neste sonho em que amor tramo
Reféns de uma alegria, vão benditos
Somente em teu olhar encontram amo.
A vida em perfeição com plenitude
Remoça no teu canto em juventude
Amando-te demais, vou amiúde
Na busca sertaneja por açude
Assim como é preciso ter saúde
Amar é sempre um gesto de atitude!
77
Caminho pela vida, simplesmente,
Na semi-morta luz de uma esperança
Aguardo em fantasia a nova dança
Que um dia prometida, qual demente
Escapa entre meus dedos, novamente.
Guardando o que já fui, leda lembrança
Quem dera se eu pudesse ser criança
Recuperar a vida totalmente.
Porém um tédio imenso, uma tristeza
Deitando em minha cama, põe a mesa
Deixando uma vontade de morrer.
Quem teve uma alegria, pelo menos,
Recorda de outros dias mais amenos,
Numa ânsia de sonhar e de viver...
78
Caminho pelas ruas do passado...
Meu lago placidez, já se secou.
Meu mundo sem vergonhas, destroçado,
Mostrando que quem vinha já passou.
Recebo, da saudade esse recado:
Esqueça nessa vida quem te amou...
Não posso conviver com tal pecado,
As brasas dos seus olhos me queimou...
Viver é percorrer imenso tédio.
Não posso conceber tanta frieza.
Procuro para a dor, falso remédio.
Espero seu amor, eternamente,
No vento, procurei a natureza
Encontrei triste lago, novamente...
79
Caminho pelas ruas lado a lado
Com bela estrela viva e deslumbrante,
Fazendo de meu canto enamorado
O rumo que procuro a cada instante.
Depois de padecer, muito cansado
Do tanto que sofri, estar diante
Do bem por tanto tempo procurado,
A vida se ilumina, radiante.
Na tua companhia não me canso
E avanço a noite inteira, dança e festa,
Vagando qual cometa as pernas tranço
Inebriado em olhos tão bonitos.
Amar-te em mil delírios, o que resta
Senão felicidade em doces ritos...
80
Caminho pelas ruas sem destino...
Os olhos que me vêm me torturam...
As noites que não tive me asseguram
O resto que sobrou desse menino,
Que as dores tão cruéis em desatino,
No verme que passeia; transmudaram
A minha morte em vida asseguraram.
Onde estará teu olhar? Já me alucino!
Completa a minha cota de tristeza,
Nas ruas que caminho, sem beleza,
A certeza absoluta deste nada,
Que me acompanhará eternamente...
O tempo vai passando. Eu, de repente,
Sentado aqui - sozinho- na calçada...
81
Caminho pelas ruas sem ninguém
Apenas a saudade é companheira
O frio da lembrança quando vem
Deixando para trás qualquer bandeira,
Aguardo em desespero por alguém
Que trague uma esperança costumeira,
Mas olho para o espelho e nada tem
Nem mesmo uma palavra corriqueira
Que fale de um amor ou da amizade
Que mostre uma alegria em meu caminho,
Vivendo tão somente sem carinho
Eu perco meu destino e liberdade,
No peito uma ilusão em desalinho
Repete este estribilho: uma saudade!
82
Caminho pelas trevas mais obscuras
Em busca do clarão que me negaste.
Vivendo nessas tramas da loucura
Aos poucos percebendo tal desgaste.
Não minto sobre os medos que inda tenho,
São tantos que não cabem num poema.
Porém a cada dia sempre venho
Mudando lentamente um velho lema...
A timidez que impede que eu reclame
À lua tanto brilho que desejo,
Por vezes tanto fogo que me inflame
Espero e não consigo, nem um beijo...
É fácil compreender por que reclamo,
Que faço deste amor se não te chamo?
83
Caminho por estrelas quando vejo
Os olhos divinais que tanto quis.
Sabendo que vertido meu desejo
Na boca que me fez ser tão feliz...
Montanhas escaladas nos mistérios
Das noites que passamos acordados,
Amores envolvidos sem critérios
Demonstram velhos sonhos decorados...
Amada que me trouxe liberdade
Das fontes que percebo inigualáveis,
Vasculho pelos becos da cidade
Os olhos divinais inalcançáveis...
Divinos sentimentos são capazes
De penetrar amores mais vorazes...
84
Caminho quando traz tanta aspereza
Que impede a mais tranqüila caminhada,
Moldado nos teares da incerteza
Não deixam nesta vida quase nada.
Quem sabe, num momento de beleza
A vida se mostrando transformada
Com toda uma alegria e com leveza
Ressurja em esperança, qual florada
Que traz a primavera em nossos olhos
Colhendo as alegrias quase em molhos
Deixando uma amargura para trás.
Assim, querida amiga, na verdade,
Se a vida é feita em paz, viva amizade,
Talvez até sonhar seja capaz...
85
Caminho que me leva à sedução
Meu canto é lírico, eu bem sei, mas tento
Usando da palavra como ungüento
Focar na fantasia esta emoção.
Por tantas vezes tão somente o não
Tomava o meu destino, sofrimento,
E quando escuto a tua voz então
Amor vai entranhando o pensamento.
A marca do teu beijo em minha boca
A força deste amor que já nos toca
Permite uma alegria sem limite.
Tristeza perde uma razão de ser
Enquanto vejo em nosso amor prazer
Estrela sensual não mais evite...
86
Caminho que nos leva, todo de ouro,
Aonde as esperanças já florescem
Os sonhos e desejos sempre crescem
Tomando nossa vida em tanto louro.
Tu és, neste caminho, o meu tesouro;
Teus versos carinhosos enobrecem
Amor que se faz fonte, nascedouro
De um tempo divinal que luzes tecem.
Tomado por teus passos, caminhando
Em trêmulas vontades, te tocando
Sorvendo em tua boca um doce vinho.
Amor que se espalhasse pela Terra
Cessaria com toda estupidez da guerra
Trocando estes obuses por carinho...
87
Caminho Santiago, Compostela,
Nas rotas dos romeiros Juazeiro.
Nos raios deste sol, ventos e vela.
No mundo dos migrantes, um luzeiro...
Nas rezas nas oradas, na capela,
Amor que se derrama verdadeiro.
Esperança que sangra se revela,
No pátio deste mundo sorrateiro...
Aparecida traz seu santuário,
Os homens agradecem, procissão...
Nas rias das urgências estuário...
No medo se comprova a devoção.
As tristezas guardadas num armário,
Esperança acalenta um coração...
88
Caminho sob a Lua de São Jorge
Bebendo cada rastro que deixaste
Saudade vai enchendo meu alforje
Lágrima com sorrisos, num contraste
Fazendo da esperança um alimento
Minha alma numa espreita, de tocaia
Aguarda que tu chegues num momento
O vento levantando a tua saia...
Jamais te deixarei, esteja certa
Por mais que sejam duros os caminhos.
Porteira da ilusão pra sempre aberta
Teu cheiro prometendo mais carinhos
O prumo desalinha, não desisto.
Enquanto houver amor, mais eu resisto...
89
Caminho sobre as mágoas que carrego,
De tempos que não foram mais felizes.
Amor que em tanto amor sempre navego,
Mostrando meu futuro sem deslizes.
Não posso permitir a despedida,
Seria tão cruel com quem deseja
Viver o que se resta duma vida
Na brisa em que me amanso e que me areja...
Pois saibas, meu amor; tão obstinado,
Deseja teu amor todos os dias.
Amor quando te vejo, sou guiado
Por lindas, delicadas; melodias...
Amor que reproduz todo o meu céu,
Na boca destilando vinho e mel...
90
Caminho sobre urtigas, urze, erica...
Meus passos se perdendo neste pasto.
Fulvos, os meus desejos, vida rica,
Nos peitos delirantes, sonho casto...
Não posso nem pedir, mas sei que fica
O gosto da saudade, amor bem gasto
As luvas dos meus sonhos, sei pelica,
Nos versos, minha vida já contrasto...
Nas pedras, corredeiras, seixo e lodo...
Os caules dos arbustos espinhosos;
Pairando sobre mim, um triste engodo...
Nas fontes exauridas, mato a sede...
Perfumes que pensei ter; olorosos,
Meu sonho? Estar deitado em uma rede...
91
Caminhos doloridos, percorrera
Aquele que buscara rara luz.
Nas pedras encontradas; percebera,
Que a vida maltratando reproduz
As urzes nos destinos. Toda fera
Ao mesmo tempo assusta e já seduz
Princesa disfarçada na quimera
Que mostra num sorriso, a dura cruz.
Da mesma forma amor que fundo toca
Rasgando a minha pele, não permite
Que tenha uma alegria que se enfoca
No sonho que falseio p’ra mim mesmo.
Não ouço nem sequer sei quem admite
Que amar é como andar bem junto e a esmo...
92
Caminhos em loucura percorridos
Seguindo esta jangada mar adentro,
Cervejas e prazeres embebidos,
Temperos em dendê mel e coentro
No centro do cenário a moça nua,
Rodando sobre a mesa dos meus sonhos,
O corpo ensolarado, agora sua
Encantos entre cantos tão risonhos.
Na praia, areia, gozos de sereia
Acendendo a fogueira no lual,
O fogo do desejo a lua ateia
Andança nesta dança sensual.
Balançando os seus seios e cabelos,
Das coxas a promessa de novelos...
93
Caminhos mais floridos te desejo
Embora tanto espinho nos caminhos.
Na sorte que te quero e que prevejo
As flores se misturam com espinhos.
O céu que traz o sol, nos dá trovejo,
Às vezes no inimigo bons carinhos,
Na boca que não quero, tanto beijo;
Na que mais que necessito, os escarninhos...
A vida é mesmo assim, amada dor.
É flor, espinho e pedras, solidão.
No frio valoriza-se o calor.
Do medo é que se mostra uma coragem,
A liberdade nasce em podridão,
Na mão que nos açoita, nasce o pajem...
94
Caminhos que nos levem mundo afora
Além destas notícias dos jornais.
As dores e maldades jogo fora
O mundo se mostrando muito mais
Que toda a sensação que tenho agora,
Do medo que nos toma e mata a paz.
Passando pelos mares, ilhas, rios
Ardendo nas queimadas da ilusão.
Tocando nestes nervos, olhos, fios
Dizendo da amizade e do perdão.
Povôo os corações que sei vazios,
Com todos os sentidos da emoção.
Os passos prometidos, liberdade,
Os laços bem mais firmes da amizade.
95
Caminhos que percorro em lágrimas marcado
Deixando que se aflore a dor e o sofrimento.
O medo de viver, há tempos entranhado,
Explode vez em quando e invade o pensamento.
No verso que hoje invento, um derradeiro brado.
A dor da solidão no peito toma assento
Matando o que pensara, um dia, no passado
Ser da alegria plena, o forte e belo vento.
Encharco-me do vinho amargo, avinagrando,
O tempo não ignora e segue deformando
Imagem refletida e agônica, num lago.
Amor amortalhado, imensa distorção,
Na quase conseguida, estúpida ilusão,
No espelho da água, a morte, enfim faz seu afago...
96
Caminhos que seguimos mais unidos
São largos sem ter pedras ou espinhos.
Os ventos da esperança são sentidos
Batendo nas janelas, abrem ninhos.
Os pós destas estradas; revolvidos,
Polvilham tais angústias nos sozinhos,
Porém quem tem os sonhos divididos
Recebem tão somente bons carinhos.
Os cardos arrancados, urzes, pedras
Nas mãos do amor; querida, eu sei não medras
E vences qualquer muro, vai liberta.
Palavra que encontrei pra traduzir
O bem que tantas vezes vi surgir,
Felicidade assim, em alma aberta.
97
Caminhos que senti profusamente
Em várias cercanias que eu trilhava.
Vestido deste sol tão inclemente
Por certo em cada passo mais suava
A mão já tão cansada quão tremente
Carinho em outra mão bem sei, buscava.
Tropeça, cai, machuca, mas se ri
E mostra em gargalhadas ser matreira
Depois que novo rumo, assim, perdi
A mão que desejei tão companheira
Encontro, finalmente por aqui
Depois de vasculhar a terra inteira;
Nas ânsias por amor bem mais sincero
Encontro em ti, querida, o que mais quero...
98
Caminhos tão diversos que percorro
Demonstram quanto a vida vale a pena.
Enquanto a solidão ao longe acena
Nos braços de quem amo, eu me socorro.
Depois de cada vale encontro um morro
E após um outro vale toma a cena
Se alma for inteira e não pequena
A vida traz o frio e mostra o gorro.
Assim entre os espinhos e as floradas,
Estrelas tão distantes alcançadas
E o verso me servindo como alento.
No eterno vai e vem, ondas do mar,
Aprendo a cada dia, mais amar,
Libertando afinal meu pensamento...
99
Caminhos tortuosos enfrentamos,
Neste desejo simples, mas audaz.
Dizer que simplesmente nos amamos,
Talvez sangrar a dor que a vida traz.
Nos versos onde em sonho nos beijamos
Com fúria e com ternura tão voraz
Mas saiba que no amor nos encontramos
Um sentimento vivo, manso, em paz...
Se sinto tua falta a cada dia,
Espero tua voz me acalentando,
Tua presença em forma de alegria
Denota quanto bem por ti já tenho.
Por isso é que aos poucos digo, venho
Neste crescendo raro, estou te amando...
Marcos Loures
3900
Camões em seus sonetos qual Vinícius
Faziam do Amor, motes perfeitos,
Às vezes verdadeiros ou fictícios,
Porém por quase todos, bem aceitos
Amar e ter coragem de assumir
Num tempo em que a discórdia já domina,
Talvez garantirá melhor porvir,
Jamais deixe que seque a fonte, a mina...
Por mais que a vida mostre-se macabra,
Fomente esta emoção, nada ela custa.
O peito ao deus erótico, pois, abra
Não creio ter o Amor, medida justa.
“Amar sem ter medidas”, é saber
Olhando para Deus, O conceber...
4001
4001
Carrego estas tristezas no bornal
Herança que virou um duro fardo.
Nos caminhos que passo, tanto cardo,
Vagando em solidão, mar abissal.
Toda noite o vazio dá sinal,
O mundo nebuloso, um sonho pardo.
As dores desfilando em festival.
Solidão companheira, triste fado.
Meus males- as malas que carrego-
Não sei porto algum nem descarrego
A saudade que insistindo se avizinha.
Pesado; mal caminho e sigo triste,
Um sonho pirilampo não resiste...
Tanta dor neste mundo... Sempre minha...
2
Carrego meus fantasmas, pesam tanto...
Depois de alguma chuva dor e riso.
O toque mais audaz se faz preciso
E nele, com certeza todo encanto.
Se venço a cada dia, este quebranto
Permito ao fim da vida, este sorriso
Que chega sem espera e sem aviso.
Alimentando assim, ternura e pranto.
O risco de sonhar valeu a pena
E mesmo que a saudade já se acena
Depois deste horizonte, nuvem sol.
Recomeçando a cada nova queda
O gozo em pagamento, vil moeda
Os olhos da esperança, o meu farol...
3
Carrego mil estrelas na bagagem,
Pesando desta forma, o coração,
Tentando vislumbrar na paisagem
Aonde bate forte, a direção.
Na moça mais bonita, uma bobagem
Vendida como frágil solução,
Permite ao sonhador, uma viagem,
Cerzindo de um amor, tolo refrão.
Eu tomo um comprimido e vou dormir
Sabendo dos porões deste porvir
Que nada me trará de novo a lua
Que um dia se fez moça e foi só minha,
E agora noutros versos descaminha
Deixando a minha noite escura e nua...
4
Carrego minhas dores, vou sozinho;
Colhendo o que plantei. Problema meu!
Se o rumo noutros braços se perdeu,
Queimei e destruí o que foi ninho.
O coração que sempre foi ateu
Cansado de buscar algum caminho
Que possas deslindar qualquer carinho,
Jamais atingirá este apogeu.
Quer queira ou quer não queira, vago só,
Não tenho e nem desejo sequer dó,
Adoço o meu olhar noutra paragem.
Que dane-se a ilusão, morta a quimera,
Sem flores que fazer da primavera?
Assim nossas andanças se interagem...
5
Carrego nos umbrais da sorte inerte
O quanto verteria e não consigo.
Por mais que a claridade me desperte
Buscando a liberdade, enfim, prossigo.
Saliva que me morde e desafete
No beijo sem confete e sem abrigo.
Os olhos escondidos no carpete
No quanto nada havia, inda persigo.
Legado dos amores escondidos
Nas praças sem jardim, caramanchão.
No fel imerso em sonhos desvalidos
Resumo o quanto quis e nada tive.
Percebo um antepasto na amplidão
Do amor que sendo inato não retive...
6
Carrego os olhos podres da esperança
Vendidos num puteiro beira estrada
No corpo da menina, da criança
Uma alma sempre nua e disfarçada
Nas armas dos beatos, temperança
Nas armas dos injustos, na facada
Fuzis e batalhões, velha aliança
Entre a corja que manda e a desmandada.
A fruta apodrecida nos motéis,
Os risos destas gralhas indecentes.
Bebendo da sangria dos bordéis
Cravando nos infantes frios dentes,
Talvez algum resquício de amizade
Permita depois disso, a liberdade...
7
Carrego-te nas veias minha amada,
Em cada gota encontro tua imagem
No sangue em que transcorre esta viagem
Tua presença é sempre demarcada.
Ao coração seguindo nesta estrada
Trazendo ao corpo a paz em nova aragem,
Levando com certeza esta mensagem
Em gotas de meu sangue transportada.
Nas horas em que estamos lado a lado,
Sentindo bem mais forte esta emoção
Vibrante sensação que enamorado
Encontro no teu corpo este caminho
Levando a mais sublime redenção.
Feliz em cada verso eu já me aninho...
8
Carregue pelos céus, meu coração,
Levando assim, contigo uma esperança
De toda a mais perfeita tentação
Ao ter tua presença, a luz alcança
A dança que se faz em festa plena
Permite que se estenda sobre nós,
Beleza em que alegria nos acena
Deixando bem distante a dor atroz.
Amar é ser feliz? Às vezes sim.
Porém quando se trata de um tropeço
A luz vai se afastando, então de mim
Por mais que eu já repita: eu não mereço!
Amor com dor traz rima pobre e fria,
Matando toda a sorte que eu queria...
9
Carro de boi passando pela estrada
Distantes cantorias e lamentos...
Trazendo as lembranças desta amada
Que só deixou saudades e lamentos...
No gosto adocicado, da garapa
Relembrando os teus lábios, puro mel;
A solidão estende a negra capa
E impede que eu perceba o claro céu...
No cheiro desta terra tão molhada
Vivendo nosso amor, sem ter sossego.
A chuva que caiu de madrugada
Promete novo amor e novo apego...
E vejo-te querida, sentada do meu lado,
Amiga, tanto amor não é pecado...
10
Cartas jogadas sorte desafio...
Nos dados, rodam, giram... Nas roletas,
Olhos negros, vermelhos. Sina, cio...
Tudo passando, luzes violetas...
Estás distante, estática. Eu me fio
Nos lunares lunáticos...Lunetas
Mirando espaços; louco tempo, estio.
A sorte não bafeja, lambo as tetas
Da ganância; mas falta puro leite.
Não há sequer ninguém que isso aceite,
As cartas viciadas gritam não!
Espero o final, lento inexorável,
Quem me dera tivesse mais amável,
A lança que perfura o coração!
11
Casais que se completam num motel,
O sexo faz a noite mais gostosa,
Certeza de adentrar depressa o céu
Deidade se expressando quando goza.
Rolando numa cama de bordel,
A gente se procura e; se antegoza
Felicidade plena num dossel,
Mulher que me sacia, maviosa.
Prazer quando se é dado e recebido,
Atiça com vontade uma libido
E faz desta luxúria sensual
Uma homenagem feita ao deus bacante
Orgias e menages, corpo amante
Se entrega num divino bacanal...
12
Castas e mantras, discorres
As postas expostas sangrando
As bocas, as tocas porres
Nas hóstias hostes passando
Nas tumbas, as lufas, morres
Os restos, as rotas vagando
Carpas, percas, escorres
Mudo, imundo naufragando
Mas meus mastros e matizes
Mês a mês mestres e bruxos
Cartas, cotas e cartuchos
Atos egos e atrizes
Citras cítaras e cânticos
Roma amor romã romântico!
13
Castelos construídos de um desdém,
Vazia madrugada, noite fria.
Vagando solitário, sem ninguém,
Minha alma vai morrendo, assim, vazia.
Quem teve nesta vida um doce bem,
E um dia se banhou em alegria,
Percebe como é triste ser alguém
Que morre, pouco a pouco, todo dia...
Perguntas: -Por que choras meu amigo?
As horas vão passando cruelmente,
Somente no meu peito, uma tristeza
E um sonho em que buscando um novo abrigo
Perdido em solidão, vou tolamente
Beber da seca fonte da incerteza...
14
Castelos construídos são de areia,
Decerto o mar virá e nada sobra.
A solidão se mostra em fria teia
O quanto amor nos deu, a vida cobra.
Recobro os meus sentidos, vou sozinho
E o peito solitário bebe o vento
Deixando em pensamento antigo ninho.
Agora a noite trama o sofrimento
Momentos de paixão? Eu sei que tive
Platéias delirantes, mil cenários.
Nas mãos todo o vazio que retive
Decerto amores foram temporários
O quanto que pensei que fosses minha
Perdeu-se numa noite vã, sozinha...
15
Castelos desabados, meus desejos...
Capitulei vencido pela treva.
Nas guias dos luares, sem lampejos,
A morte traiçoeira, sempre ceva...
Passando por terríveis relampejos,
Minha alma que é desértica já neva
Meus olhos sem mirada, simples pejos,
Buscando meus castelos, dor releva...
Amar teria sido meu delito?
Viver sempre será fatal conflito.
Da guerra só conheço derrocada...
Não podem rudes pedras florescer...
A morte, enfim, ajuda-me a viver,
É torre do castelo, destroçada
16
Castelos dos meus sonhos, realeza
Há tempos destronada sem reinado,
O dia em nevoeiros, abortado
A morte sem remédio da princesa.
Enquanto a vida segue, com certeza
O jeito é reviver o meu passado.
Guardando o que sobrou deste legado,
O prato sem comida sobre a mesa.
Beirando os precipícios continuo,
O amor que se fez uno pede duo
Mas nada além de um falso diamante.
Os dedos arrancados sem anéis,
Apenas labaredas, os corcéis
Enfurnam-se na senda mais distante...
17
Castelos e sereias, a princesa...
O corte tão profundo já levou.
De toda a fantasia que ficou,
Um gosto tão amargo da tristeza...
Mas a tarde trará nova certeza,
Mesmo que o sol que veio não brilhou
Outro virá trazendo o que sonhou.
Enfim te cercará de tal beleza
Que nunca lembrarás do antigo sol.
A vida te promete este farol
Que sempre te trará a claridade!
E tudo que parece tão distante
Muda-se, de repente, num instante,
O amor já te trará felicidade!
18
Castrados pela vida e pela espera,
Não sabem mais se vão ou permanecem...
Se submisso ao leão, finge-se fera
E os pobres dos cordeiros já padecem...
Desfolha totalmente a primavera
As rosas despetala e já fenecem...
Porém ao ver os tigres numa espera,
Baixando os olhos meigos obedecem...
Eunuco que se esconde, disfarçado,
Um gigante na audácia, mas anão
Os pobres que conhecem tal castrado,
Pisando, maltratando, este infeliz
Aos trancos e barrancos, bofetão,
No amor e na amizade, meretriz!
19
Castraste o cachorrinho? É sacanagem!
O bicho não tem culpa, companheira,
Olhando deste prisma, a molecagem
Que faz dando latido até rasteira
É coisa tão pequena, uma bobagem,
Eu ouso até dizer que é corriqueira,
Melhor seria então nova abordagem
Usando para o pênis, focinheira.
Tirando do coitado qualquer chance
De se realizar em um Romance,
Tu não verás jamais ele contente.
Por isso é que te falo esta verdade,
Somente pra evitar tal crueldade:
Melhor raça de cão? Cachorro quente...
20
Catando meus caquinhos pelas ruas,
Jogado neste canto vou a esmo.
As dores me invadindo, podres, cruas.
Quem dera o nosso amor... Não sou o mesmo...
Carrego esta mortalha que me cobre,
Mas dela tenho orgulho, é minha pele.
Não há força no mundo que recobre,
Que cure quem de tanta dor repele.
Não quero mais abraços nem conselhos.
Meu tempo de sonhar está no fim.
Os olhos se castanhos ou vermelhos
As dores são só minhas, sendo assim
Não peço nem apoio nem migalhas,
As mortes que são minhas, sem batalhas...
21
Catando os meus pedaços espalhados
Nos cantos e botecos da cidade,
Repito em tantos ecos os passados
Caminhos sem destino ou liberdade.
Os versos que te trago, garimpados
Em meio a tantas rugas da ansiedade
Soando feito os guizos agrupados
Misturam vaga-lume e claridade.
No lusco-fusco busco a solução
Que trague algum resíduo do que fui.
O rio de meus sonhos não mais flui
Inflando o medo em forma de balão.
Do quanto fomos fontes e desejos,
Vagamos sem foguetes ou festejos.
22
Catedrais dos meus sonhos, minha crença.
A vida não deixou sequer cascatas,
Viajo num segundo tuas matas;
Queria recolher a dor imensa!
Nas horas que sonhei, cruel doença,
Nas formas desse corpo, me retratas,
A lágrima que tenta está suspensa!
A garganta retêm mas, cruel, matas!
Catedrais, orações, a rebeldia...
Não quero ter sequer um novo dia;
Apenas a verdade é que liberta!
Não temo nem clamor nem fantasia.
Meu mote se perdeu na poesia.
Minha dor, insolente, me desperta!
23
Catetos e co-seno, hipotenusas
Triângulos retângulos quadrados.
Meninas levantando suas blusas
Olhares mais famintos e safados.
Palavras balbucio vão confusas,
Jogando meus compassos, meus esquadros,
Perdido no porão buscando as Musas,
Encontro tão somente os meus pecados.
Na trigonometria desta vida
Distante do prazer, pela tangente
Percebo que não tenho mais saída.
Em tua geometria eu me perdi,
Agora o que fazer se estou descrente,
E nesta confusão cheguei a ti...
24
Cativas e cultivas com carícias,
Rompendo a fortaleza que cercara,
Ao dar com tanto ardor, a jóia rara
Que agora me permite tais delícias.
O amor que se mostrou já nas primícias
A fonte que sacia e assim me ampara,
Sentindo corpo a corpo e cara a cara
Entregue a profusões, loucas sevícias.
Proféticos enigmas decifrados,
Segredos, com certeza, mais ousados ,
Pecados esquecidos no quintal.
E quando ao me tocar com maestria
Delitos insensatos o amor cria,
Torna a nossa vida magistral...
25
Cativas minha vida com sorrisos.
As doces melodias, tua voz.
Travando nos ouvidos paraísos,
Matando uma tristeza tão atroz...
Deitando no teu colo, quero o som;
Das ondas que rebentam nesta areia.
A vida se promete; nosso dom,
Amando noite e dia vida cheia...
Recebo a maciez do teu respiro,
Beijando a minha face em cicatriz.
Nos braços deste encanto já me atiro,
Por certo tentarei ser mais feliz.
Agora, minha amada, me perdoa,
Que a noite é tão bonita; a vida é boa
26
Passarinho que cantava
no primeiro de janeiro
canta sua liberdade,
e eu choro meu cativeiro.
Cativo da saudade, o quê que faço
Se esta mulher não quer mais meu carinho;
Procuro sempre em vão, estendo o braço,
Depois é que percebo: estou sozinho!
Amor que nos levita, ganha espaço
Morrendo me levando ao descaminho...
Estrela que do mar, num rubro laço,
Deixou solitário passarinho...
Agora, na gaiola da saudade,
Olhando para a vida, sem sentido...
Amar demais será que é crueldade?
Pressinto o teu perfume, mas cadê?
Vazio, sem amor, vou desvalido;
Pergunto: minha amada, mas por quê?
A trova mote é da região central de Minas Gerais
27
Cativo de teus versos, sonhador,
Não tenho mais desculpas, quero mais.
Bebendo de teus lábios sensuais,
Desfraldo esta bandeira, puro amor
Poder que se mostrou transformador,
Vencendo tais distâncias abismais,
Amar, querida eu sei, nunca é demais
Fazendo da esperança o seu louvor.
Afogo-me nas águas cristalinas,
Descendo pelos rios chego à foz
Dos sonhos que embalaram nossa vida,
O amor alimentando fontes, minas,
Unindo com firmeza nossos nós,
De todos descaminhos, a saída...
28
Cativo deste amor, puro prazer
Recebo de teus lábios, deusa e diva.
Minha alma concebendo o bem querer
Da tua, prosseguindo em paz, cativa.
A gente não se cansa de tentar
Viver a fantasia, ser feliz.
Deitando sobre nós raro luar
Expressa o que emoção jamais desdiz.
Eu venho sem descansos, noite afora
Buscando tua pele, corpo inerte,
Amor quando demais não se demora,
Fartura em alegrias cedo verte,
A cada instante um sonho moldurando,
Sentindo a tua mão me procurando.
29
Cativo deste sonho em ti vou preso,
A gente briga tantas vezes... tolos...
Tristeza vem regando nossos solos,
Depois- parece até que estou surpreso,
Chorando pelas ruas, indefeso
Buscando em outras sanhas, outros colos,
Encontro tão somente duros dolos
Jamais escaparei, não vou ileso...
Tentando te esquecer eu volto a ti,
Eu mal consigo acreditar: perdi...
Apenas me rondando uma saudade.
O nosso caso vai chegando ao fim,
Trazendo nosso amor dentro de mim,
Eu não conhecerei mais liberdade...
30
Cativo dos jardins em águas turvas,
Descendo pelos rios da amargura.
A vida ao preparar terríveis curvas
No desamor e inglória se segura.
Salgando o que já fora tão potável,
Impede que ressurja a fantasia.
O sonho que busquei, inalcançável,
Floresta tenebrosa, o que se cria...
Torrentes de fantasmas, solidão,
Vestígios do que fomos, não mais vejo.
Apenas a completa escuridão
Matando em nascedouro o meu desejo
De ter quem tanto amei e já partiu.
O céu em treva eterna se cobriu.
31
Cativos para sempre dos amores
Jamais me perderei do que eu desejo.
Um paraíso feito em raras cores
Vivendo junto a ti, cedo prevejo.
Almejo a claridade em teu olhar,
Refeito dos meus erros, vou contigo,
Sabendo finalmente onde encontrar
Depois da tempestade, pleno abrigo.
Couraças que aprendi; eu descartei
Agora o peito aberto nada teme.
Do amor que inoculou a paz em lei
A vida encontra o firme e leal leme.
Calor que uma emoção assim ateia,
Cantando amor supremo em lua cheia
Marcos Loures
32
Catulo da Paixão, com seus poemas
Mistral deste País que sem memória
Abandona na estrada sua história,
Com tanta hipocrisia cria algemas,
Usando da Natura nos seus temas,
Louvando o que foi visto como escória
Beijando a lua imensa e merencória,
Criou raro tesouro em frágeis gemas.
Do Luar do Sertão, Jeca Tatu
Um tapa bem na face desta gente
Deveras orgulhosa e prepotente
Se nega a ver sua alma e corpo nu.
Usando da palavra, o seu buril,
Mostrou a face oculta do Brasil...
33
Causando a mais feroz inundação
O que era gotejar já se transforma
A vida não detém tal furacão
Que muda num momento a sua forma
E o que era placidez não mais comporta
Ebulição extrema rompe o cais,
Abrindo em supetão, arromba a porta
Em pânicos divinos, sensuais.
O quanto que se entorna eu não duvido
O amor quando em total efervescência
Expandindo o arrebol com alarido
Mostrando a mais cruel, viva potência.
No fogo que se faz tão inclemente,
Conturba enquanto acalma toda a gente...
Marcos Loures
34
Causando a mais total transformação
Um sonho que se fez abençoado
Taquicárdico e louco coração
Nos passos do desejo vai, levado
Pelos raios mais fortes da emoção,
Recebe a ventania em calmo prado,
Fazendo sem saber, revolução,
Completamente insano, assim tomado,
Fagulhas incendeiam cada dia,
Tornado em sentimento, fantasia
Sabendo deste amor que é de verdade,
Enquanto em fortaleza se oferece,
Destino mais saudável ele tece
Na força desta luz que nos invade.
Marcos Loures
35
Causando em reboliço, as alegrias,
Por mais que sejam frias madrugadas
Nos madrigais; as horas quando estias
Espiam entre as estrelas alvoradas.
Atadas nossas crias nossos risos,
Jamais se saberá quem começou.
Azuis bebendo as trevas são precisos
Enquanto o sol, mais tímido, raiou.
Na luz que entranha, arranha cada olhar,
Cantares encharcando este arvoredo.
Segredo que se mostra a desvendar
Mantendo o fogo aceso desde cedo.
Num acalanto um manto tenta em canto
Tateio tatuado em teu encanto...
Marcos Loures
36
Cavalgo o pensamento, sem conter
Sequer alguma estrela ou vão cometa,
Quasares e pulsares posso ver
Usando o coração como alvo e seta
Quem dera se pudesse ser completa
A refeição que um dia pude crer
Ser feita em alegria, mas sem meta
Arremessado sigo ao bel prazer.
E vindo de onde vim, nada terei
Senão o peso enorme desta grei
Que marca, em cicatrizes, meu costado.
Carcaças que devoro sobre a mesa,
A morte se servindo em sobremesa,
Apenas tão somente um desgraçado...
37
Cavalguei nesta noite sem Maria...
Das estrelas fiz norte e companheiras;
As minhas mãos cansadas, montaria...
As mantas que cobri, as derradeiras...
O vento passageiro melodia.
O sol que não pretendo deita esteiras...
Nas artimanhas loucas, meio dia.
Nas vésperas da vésper, corredeiras...
Mas quando percebi, nada restava...
A trama que engabela, foi gestora..
Martirizei comédias, fui gaiato...
O que não percebi não me enganava...
As trevas que nasci, na manjedoura...
A vida que vivi, simples hiato..
Marcos Loures
38
Cavalo bravo, sorte desregrada,
Viajo um pantanal dentro de mim.
Na mão esquerda eu trago sempre o nada;
Na mão direita a rosa carmesim.
Destino que se fez em vaquejada
Charneca apodrecida foi meu fim,
Minha esperança tola e destroçada
Eterna seca toma meu jardim...
Cavalo bravo, sina sertaneja
Estrias vão tomado o meu futuro,
Não há mais solução que se preveja
Nem gesto que demonstre liberdade.
A sorte vem sem cobre em chão mais duro.
De graça nesta vida? Uma amizade...
Marcos Loures
39
Cavalo dos meus sonhos, eu encilho,
E sigo pela noite em liberdade,
Usando o nosso amor, divino trilho,
Encontro o paraíso em deidade.
Na sílfide em luz, me maravilho
Roubando o que sonhei felicidade,
Atinge; o pensamento, o tombadilho,
Permite se vislumbre a claridade.
No fogo que me queima e me extasia,
O gozo das vontades soberanas,
Repletas de querência e fantasia
Marcando com divina cicatriz,
No amor que, cedo invade; tenho ganas
De ser imensamente mais feliz.
40
Cavalo galopando sem domínio
Vazando pela estrada, um poeirão
Causando em quem olha tal fascínio,
Acelerando sempre o coração.
A liberdade é feita em cavalgada
Em sonhos que ninguém pode conter.
Sem hora de partida ou de chegada
Assim também a vida deve ser.
Como um cavalo solto sem amarras,
Viver sem montaria em rédeas soltas
Do amor não se prender em frias garras
O céu sendo o limite sem rodeios,
A crina e a cabeleira sempre soltas,
Enfim: amor perfeito em meus anseios.
41
Cavalo quando é bom vale tesouro,
Mulher é como pedra lapidada,
Se tudo na verdade não diz nada,
Eu quero na morena ancoradouro.
No sol do seu olhar, sempre me douro,
E sigo a vida inteira na invernada,
Porém se a mata quer ser desbravada
Ainda com certeza dou no couro.
Amansa o coração de um bom mineiro
A moça quando espalha o doce cheiro
Fazendo nesta noite uma arruaça,
Bebendo em sua boca a maravilha,
Encontro nesta prenda uma armadilha
E entorno poesia com cachaça.
42
Cavalo quando xucro é um perigo,
Ninguém segura as rédeas nem peão.
O vento que causou tal furacão
Condena o coração ao desabrigo.
No fundo, desdenhoso eu já nem ligo,
Não quero o teu amor, repito: não!
Tampouco camarada nem amigo,
Comigo é sempre assim, zero ou milhão.
O amor que se fez regra, norma e lei
Já não agüentaria cabisbaixo
A casa vou botar, agora abaixo
Humilhação jamais eu suportei,
Porteira vai fechada sim senhora,
Quem quer a mamadeira sempre chora
43
Cavalo quando xucro; é um problema
Difícil resolver esta parada,
O coice prometido é um dilema
Se eu fico, de presente, uma pernada.
Usando da palavra quebro algema
Não quero ser figura carimbada,
Não sendo carioca, sou da gema,
Embora não freqüente esta balada.
Abalo que senti na mesma queda
Aonde vou pagar; outra moeda
Sem ter sequer nem juro ou dividendo.
Deixando este corcel assim de lado,
Eu volto ao meu caminho mal traçado
E o que sobrou de nós, vou recolhendo...
44
Cavaquinho tocando este chorinho
Que me trouxe lembranças do passado...
Do tempo que passei sem teu carinho,
Da vida que tivestes ao meu lado...
O resto que pensei ser tão sozinho,
Muitas vezes vivi acompanhado,
O choro companheiro, de mansinho,
Jamais me fez assim, tão desolado...
Cavaquinho chorando me traz Glória,
Morena que ficou na minha história...
Nas noites do Sovaco, sem tristezas...
Misturando saudades contradança...
Cavaquinho me dando estas defesas,
Enquanto esta velhice já me alcança!
45
Ceder à sedução louca e voraz
Que faz com que eu me entregue totalmente,
Ousando este carinho mais audaz,
A boca percorrendo lentamente
Os vales, as montanhas, os canteiros,
Aos poucos, decorando a geografia
Em todos os relevos verdadeiros,
Vertendo em cachoeiras, a alegria...
Tremores, terremotos, furacões,
Marés, ventos solares, tempestades,
Correntes, maremotos, convulsões,
Em ondas de fatais felicidades.
Num grito de vitória e de conquista,
No revirar dos olhos, céu avista...
46
Cedo ou tarde verás quanto eu te quero
E neste momento eu sei que tu virás,
Sabendo deste amor que é feito em paz,
E em mansas fantasias já tempero.
Cuidado com carinho e tanto esmero,
A placidez de um lago, amor me traz
Sem ser um sentimento vão, fugaz,
Mostrando ao fim da vida, a luz que espero...
Apenas calmaria, suave brisa,
Nas cores de um outono se matiza,
Preparo para o inverno que é fatal.
Eu quero estar contigo a cada dia,
Sentindo finalmente a poesia
Harmônico prazer consensual...
47
Cegar em luz pacífica, os tormentos,
Teimando em ser feliz mesmo que venha
A negra solidão. Mantendo a lenha
Acesa, enfrentar sempre fortes ventos.
A vida proporciona os seus proventos
Por mais que tanto medo, às vezes tenha,
Escrevo em mansidão minha resenha
Sabendo das feridas, sei de ungüentos.
Numa expressão audaz e flamejante
Amor em força intensa e deslumbrante
Estende a claridade em meu quintal.
Aguando com sorrisos, a alegria,
Um novo alvorecer me propicia
Retratos deste sonho sem igual...
48
Ceifeiros, os meus sonhos te procuram,
Arando uma esperança a cada verso.
Distantes de teus olhos me torturam,
Semeiam ilusões pelo universo.
Nos dedos tão macios, sensuais,
As mãos de quem adoro me chamando.
Formando com estrelas, festivais,
Em brilhos, pelos céus, vão desfilando...
Transcendem tanta paz pelos espaços,
Mostrando o bom caminho que me guia.
Estreitam mais fortes, nossos laços,
Além do que, talvez, se poderia...
Deitar em tuas pernas, sonho e cais,
Meus sonhos te buscando... Nunca mais...
49
Celebração à vida. Posso crer
Na força da franqueza e da alegria,
A mesa não ficando mais vazia
Um tempo bem tranqüilo se faz ver.
Depois de tantas sendas percorrer
O coração em paz se fantasia
Da luz de uma amizade em que se cria
Um templo feito à glória de viver.
Visão que mesmo utópica, eu persigo,
Querendo um novo dia mais amigo,
Sem lobos ou cordeiros. Plena paz...
Quem dera se pudesse sem tormentos,
Sentir mais benfazejos os momentos
Que o vento da esperança agora traz...
50
Celebrando divino pensamento
Que me embaça qualquer nova empreitada
Levando meu canto sem tormento
Passeando sem rumo pela estrada
Que me guia sem planos de partida
Nas celestes visões angelicais,
Caminhando porquanto longa vida
Embalando meus sonhos no teu cais.
Neste caos absoluto, sem amor,
Num momento fiando minha história
Na procura de ter novo sabor,
Encontrando amor em plena glória.
Descrendo te encontrar após distância,
Mas amor que se preza, traz constância!
51
Celebrando teu nome com meus versos
Pedindo o teu desejo em meus anseios.
Vagando por centenas de universos
Depois de tudo deito-me em teus seios...
Nossos sentidos que antes bem dispersos
Se encontram, se misturam sem receios.
Viemos de outros mundos tão diversos
Agora nos unimos. Os esteios
Que formam nossa base em tanto amor;
São os meios que usamos sem temor
Nas lutas contra a dor e a solidão,
Deitado nos teus braços; manso, rio.
Deságuo no teu mar, braças do rio
E vivo tão feliz nossa emoção...
52
Celebro nosso amor em vinho e festa
Num ato de paixão e de querência
Não quero mais da vida uma inclemência
A mocidade enfim renova e atesta
Que a vida que passei, sendo funesta
Renasce nos teus braços com decência
Jamais quero viver em penitência
O tempo que não sei quanto me resta...
Assim, em meio a beijos e vontades,
Que satisfeitas tramam liberdades
Sem prazo, sem limites, mas constantes.
Amar é caminhar no que bendigo,
No verso que se faz bem mais amigo,
Certeza de prazer na doce amante...
53
Celebro uma lembrança do moleque
Que um dia se fez rei e não sabia.
Uma alma tão travessa quão vadia
Abria no horizonte um vasto leque.
O tempo faz com que este rio seque
Restando esta saudade tão vadia,
Distante da divina rebeldia,
Jogando na defesa, viro beque.
Pudesse ter nas mãos o meu destino,
Voltava a ser sem dúvida, o menino
Que a vida, dia-a-dia destroçou.
Correndo atrás do tempo, uma saudade
Dizendo desta Angústia que me invade,
Goleiro que falhou em cada gol.
54
Célere veio a noite entranhada de medos...
Um sorriso resiste, a noite não perdoa.
O pensamento livre, os céus já sobrevoa.
Quem sabe desta noite encara seus degredos.
Pensamento me leva, acima d’arvoredos.
A noite se revolta, um brado forte ecoa.
Da luta não me solta, embarco na canoa
Dos sonhos, companheira... Eu guardo seus segredos...
Também conheço o dia, aurora é minha amiga.
A noite não percebe a morte que periga!
O brilho da alvorada, espreita este martírio.
Bem sabe que travei com a noite em tempestade.
Na luta que sonhei, venceu a claridade!
Em Lílian minha amada, a força d’alvo lírio!
Marcos Loures
55
Cenário desta insânia deslumbrante
A cama feita em trágicos lençóis
Farol que se perdeu a cada instante
Negando uma alvorada plena em sóis.
Se de soslaio eu vejo antiga cena
A lúgubre passagem repetida,
O quanto que o desejo me envenena
Matando minha sorte de saída.
Assíduo expectador da fantasia,
Há tempos que eu perdi força e vontade.
Noite que solitária já se esfria
Prenúncio do vazio em tempestade.
A faca que se entranha no meu peito,
Por ironia, eu sei ser teu direito...
56
Cenário em alegria a nos tomar
Um mundo a se mostrar maravilhoso
A chuva vai caindo devagar,
Trazendo um frio manso e tão gostoso
Vontade de poder já te encontrar
E dar o meu carinho mais fogoso,
Vibrando num desejo de tocar
Beijar o corpo belo e tão cheiroso
Da moça que me encanta e me domina,
Mulher com ar eterno de menina
Brilhando nos teus olhos clara estrela.
Sentir o teu perfume junto a mim,
Florindo em fantasias meu jardim
Na festa prometida em noite bela...
Marcos Loures
57
Cerrando estas fileiras contra a dor
Que teima em nos tocar, de vez em quando,
Sabendo o sentimento e seu valor,
O sol no fim da tarde nos tocando;
Com raios de raríssimo esplendor
O bom de nosso amor vai consagrando...
Olhamos para o sol, futuro e brilho.
Saboreamos juntos, tal promessa.
Seguimos cada raio com seu trilho
Mostrando que o porvir já nos confessa
Que não mais haverá um empecilho
Que a sorte em nossa vida, enfim, impeça.
Estou contigo passo a passo, amada,
Na busca da manhã em alvorada...
58
Certa manhã, o sol mostrando a cara
Prepara o coração para a viagem
Que sei será difícil, mesmo amara,
Mas tenho uma esperança na bagagem
E sei quanto ela vale e quanto ampara
E mesmo que fizer qualquer bobagem,
A lua que de noite alumiara
Com mansidão me traz a fresca aragem.
Carrego no bornal o teu retrato,
O peito vai aberto, sem temor.
Caminhos com espinhos, pedra e mato
Porém uma amizade verdadeira
Esperando quem chega vai compor
A tralha que carrego na algibeira.
59
Certeza de outro tempo anunciado
Na fonte da alegria já se abriga
E bebo cada gole, extasiado,
Feliz por te saber, querida amiga,
Depois que achei perdidos rumo e fado,
Agora ser feliz, talvez consiga,
Matando esta tristeza do passado,
Permite que meu passo, enfim prossiga,
Alvorecendo um mundo em liberdade,
Às custas deste amor feito amizade
Que em plenitude e paz, vencendo, avança.
Nos olhos deste sol que nos luzindo
Permite um amanhecer mais claro e lindo
Proporcionando a glória em temperança.
60
Certeza de que sou, enfim feliz,
Quarando nossas roupas no varal,
O bem deste querer pra sempre diz
Do vento que nos toca sem igual.
Cansado de viver só por um triz
Em toda madrugada, um vendaval,
Agora que encontrei o que mais quis
Tempero a minha vida com teu sal.
Amar a quem nos ama de verdade,
Sem medo de enfrentar a tempestade
Que a vida nos prepara de tocaia,
Garante o riso franco e benfazejo
Que é tudo o mais quero e mais desejo.
Meu mar já se entregando em mansa praia.
Marcos Loures
61
Certeza de um prazer delicioso
Iridescente dia se anuncia
Num toque com certeza fabuloso
A gente se entregando em alquimia.
Estrelas ejaculam raras luzes
E nelas a tiara de um prazer.
Caminho aonde em luas me conduzes
Permite num momento perceber
Em forma de delírio a sobremesa
Deitando nossos corpos, sede e fome,
O quanto se deseja, amor nos preza
Escuridão e treva, em brilhos some
Meu corcel libertário nas estrelas,
Contando vaga-lumes, tu atrelas.
Marcos Loures
62
Certezas de que nada tanto fui
Embora abarrotado de esperanças.
Amor que sutilmente, vai e flui,
Descansa nas alturas onde alcanças.
Meus passos são retrógrados, insossos,
Recebes as lufadas do carinho.
Embora não mereça os alvoroços,
Decerto minha sina é ser sozinho...
Não deixo essas pegadas no deserto
Por certo nada sou do que sonhei.
Amor quando distante morre perto
Tão perto que jamais te esquecerei...
Amada me perdoe se não vivo
Se sou um simples sonho, então te privo
63
Cerzindo esta mortalha com as dores
Que sempre me fizeram companhia.
Adentro o pesadelo em que se cria
Os ventos/tempestades, sem alvores.
Cansado de buscar os teus pendores,
A morte dos meus sonhos se anuncia
E galgo ao infinito, a velharia
Dos versos imbecis matam amores.
O fardo vai pesando em minhas costas,
Ignaros antiquários, torpes cantos.
Contemporâneas formas de prazer
Invertidos meus passos, perco apostas
E tramo tão somente os desencantos
Teimando em ilusão, sobreviver...
64
Cerzindo uma esperança com as linhas
Que amor tanto me deu quanto roubou.
Vontades desmembradas, tolas, minhas
Dizendo deste pouco que restou.
Cevara, no passado, ricas vinhas,
O tempo, o doce vinho, avinagrou.
Decifro cada enigma que tu tinhas,
Mas nada do que fomos me encantou.
Por isso, sigo só e não pretendo
Tocar cada disfarce que desvendo,
Contendo os teus diversos sentimentos.
Ausência de prazer, talvez não fosse
O fim desta aventura que agridoce
Domina em plenitude os pensamentos...
65
Cevando a mais sublime liberdade
Vestimos a esperança a cada dia,
Escrevo nas estrelas fantasia
Alçando a mais completa claridade.
O parto que gerou felicidade
Exprime todo amor que eu bem queria,
Um novo amanhecer já se recria
Ao estender a paz, tranqüilidade.
E vamos nesta mesma direção,
Banquetes que se faz do mesmo pão,
Multiplicando assim, a simples soma.
Atados, mas libertos, conseguimos,
Do mundo em que felizes, prosseguimos,
Reféns do amor imenso que nos toma.
66
Cevando em harmonia nossos cantos
A vida se promete em fantasia
Rascunhos de esperança amores tantos
Trazendo para a vida uma alegria
Em meio à fantasia, teus encantos
Espalhas em meu peito, todo dia.
Coberto pelo belo destes mantos,
Declino meu amor em poesia.
O coração dispara em alvoroço,
Nas garras deste amor, eu me remoço
E passo num segundo a perceber
O quanto é necessária esta viagem
Em meio às maravilhas na paisagem
Dourada pelas mãos do bem-querer...
Marcos Loures
67
Cevando o coração de um andarilho
O amor por vezes mostra-se exigente,
Levando a solidão ao triste exílio
Exibe o corpo audaz em chama ardente.
Arpoadores mãos que me tocaram,
Ceifeiras emoções, finas promessas.
Teus olhos, com certeza conquistaram,
As setas que sorrindo, já arremessas.
Destino se moldando em luzes várias
Ao subverter assim, velhos oráculos,
Enobrecendo versos antes párias
Coloca sobre mim, os seus tentáculos.
A par do que imaginas ser um jogo,
Em teu amor, por certo eu já me afogo...
68
Cevando o que sonhei: farta alegria,
Debruço o meu olhar por sobre as ondas,
Os medos quais temíveis anacondas
Rebordam cada passo em agonia.
Além do que meu sonho prometia
Em luas sempre cheias e redondas
Palavras que se fazem como sondas
Encontram farto gozo em maestria.
Tua nudez clamando para a festa
Sedução que à noite já se empresta
Em lânguidas imagens, sedução.
Eróticas promessas, cama e mesa,
Desejo nos tomando como presa
Encharca nossa noite em tentação...
Marcos Loures
69
Cevando uma amizade tão constante,
Gigante sensação que se apresenta,
O vento que, sulino, me apascenta,
Ao mesmo tempo forte e deslumbrante.
Dos pampas, a paisagem fascinante
Que excita enquanto acalma e nos alenta
Palavra de consolo, rara e Benta
Tão próxima que mesmo assim distante
Nos momentos difíceis desta vida,
Tornando-se em verdade tão querida
Expressa a plenitude em maravilha
Tu tens toda a magia em tuas mãos,
Meus olhos de teus versos são irmãos
Pelas coxilhas belas, segue e trilha...
Marcos Loures
70
Cevando, vou colhendo o meu prazer;
Acendo a brasa intensa da paixão,
O quanto que inda tenho de saber
Às vezes me transtorna uma emoção.
Decrépito, este velho passa a crer
Que a vida tem sentido e solução.
A cada novo fruto passo a ver
Amor chegando à minha direção.
Preparo os alçapões, enteso a linha,
A fisga na mirada, já se alinha
E o tempo da colheita não se esgota.
Recolho o quanto posso, vou à luta,
Silêncio no meu peito não se escuta
A solidão morrendo, tão remota...
Marcos Loures
71
Cevaste meu amor por tanto tempo,
Agora que me tens fazer o que?
Não quero que me vejas passatempo
Apenas um brinquedo em que se vê
O gosto da vitória na batalha,
A sensação suprema de ganhar,
Meu canto enamorado já se espalha
O que fazer senão te amar?
Cavaste na minha alma uma esperança
De ser além do amor, ser imortal.
Eu vejo, do brinquedo já se cansa,
Não quero ser apenas um jogral.
Eu quero me perder nestes teus rios
Embora eu já perceba, são tão frios...
72
Chamando cafundó de cafundéu
Como permite a nobre poesia,
Quem sabe e reconhece logo cria,
Com mãos mais soberanas, novo céu.
Jamais se negará tal raro véu
Que cobre com solene maestria
O verso do poeta em que a magia
Descreve e desenvolve o seu papel.
Aplaudo, caro amigo, esta coragem
Que tens ao se propor neologista.
Faz parte dos desígnios de um artista
Distante de quem diz tanta bobagem.
Prossiga desta forma que verás,
O sol nascer supremo, em rara paz..
Marcos Loures
73
Chamaste de romântico até lírico
O verso que embuti noutro poema,
Às vezes eu repito o mesmo tema,
Num ato quase métrico ou empírico.
Não bebo e com certeza um bem etílico
Talvez ajude a gente a caminhar,
Parado e sem sair do meu lugar,
Não tenho mais defesa, morro acrílico.
Aliciando os sonhos de quem posso,
O risco de viver é muito grande.
O quase se transforma em fundo poço,
Só pedindo afinal: Tocai a glande.
Assim quem sabe a gente recomeça
Aonde terminou num ato, a peça...
74
Chamaste-me: teu filho, solidão...
E voluntariamente me entreguei
Sem ter ao menos rumo em precisão,
Os olhos em teus braços, eu salguei.
No barco que emprestei, meu coração,
Por mares tão distantes, naveguei...
Despido do que fora uma esperança
Vivendo em velas soltas, incertezas.
Achando que encontrara uma bonança
Nos braços de quem dera... sutilezas
Da sorte que, longínqua não se alcança;
Povoa minha vida de tristezas...
Eu necessito ao menos respirar,
Quem sabe uma amizade em seu lugar?
75
Chamei-a de gostosa, ela fingiu
Que não era com ela, depois disso
A rosa foi perdendo todo o viço
E o que era sentimento não fluiu.
Não quero ser coleiro nem tiziu,
Apenas um pardal sem compromisso,
Porém se a vida mostra tanto enguiço
Eu mando para a ponte que partiu.
Ouvidos delicados respeitando,
A moça disfarçando deu pinote,
Fazendo da cantada um mero trote
Já não suportarei saber nem quando,
Apóio os cotovelos na janela,
E a moça agora pensa que é com ela...
76
Chegada deste amor deu cambalhotas,
Entrou pela janela, fez estrago,
Abrindo do meu peito as tais comportas
Negando com usura algum afago.
A direção perdida enquanto trotas
Galopo na esperança que inda trago,
Invés de precisão, velhas lorotas
Rompendo a placidez do antigo lago.
Na troça da morena, os meus destroços,
Os frios tiritaram os meus ossos
A vida se perdendo neste trevo,
Viver desta ilusão é ser boçal,
Se o amor fez no meu peito bem ou mal,
Resposta pra pergunta, eu não me atrevo...
Marcos Loures
77
Chegamos das senzalas e bordéis,
Dos ocos da existência, medos, trevas.
A vida nos mostrou nossos papéis,
A glória nos negou cantis e cevas.
Mas somos, da esperança mais fiéis,
Rasteiras, pequeninas, boas ervas.
Bebendo sem discórdias mesmos féis
Nascemos e morremos, tantas levas...
Chegamos das cidades e favelas,
Chegamos das mentiras, dos engodos.
Nos restam nascimento, morte e velas.
Amor nos concebeu e nos criou.
Quais perlas que surgindo destes lodos,
A paz do eterno amor glorificou!
78
Chegamos dos lugares mais diversos,
Dos bares, das igrejas, dos bordéis,
Cumprimos com louvor nossos papéis
Unindo corações antes dispersos.
Tentando respeitar os universos
Distintos; da esperança, mais fiéis,
Vencendo com ternura tantos féis
Nos laços da amizade, enfim, imersos.
Sabemos que a verdade nos liberta,
E a porta estando sempre em paz e aberta
Permite que se veja o quão é belo
O sol que nos doando a claridade
Reparte seu calor com igualdade
Usando a liberdade à qual me atrelo...
79
Chegando à apoteose da paixão,
Não deixo mais pedaços na avenida.
Amor iluminando o barracão
Grandiosidade toma a nossa vida.
Atados pelo mais forte cordão
Levamos qualquer mágoa de vencida.
Pisando com suor o mesmo chão,
Vitória anunciada e já cumprida.
Sem ter alegorias, sempre junto,
O amor abrindo as alas da esperança.
A força que se mostra no conjunto
Garante nota dez, eu te garanto.
Contrapartida feita em contradança
Demonstra em sintonia, o nosso encanto...
Marcos Loures
80
Chegando à velha casa onde nasci
Depois de tantos anos, encontrando
A imagem deste amor sereno e brando
Que vejo tão somente por aqui.
Se muitas vezes, tolo eu me perdi,
Errante coração vai sem comando,
Em ruínas, a esperança desabando,
Dizendo das mentiras que vivi.
Sentir o seu perfume, mãe querida,
Ouvir a sua voz num manso tom.
É como perceber que o bom da vida
Ainda permanece dentro em mim.
Quem fez da fantasia quase um dom
Renova as velhas flores do jardim...
81
Chegando de manhã, trazendo o sol,
Depois de uma balada/madrugada
Entrando por debaixo do lençol,
Sorriso de quem traz carta marcada
E brinca com desejos do arrebol,
Esconde quanto vale o quase nada.
E eu, qual imbecil seu girassol,
Refém de outra mentira mal bolada.
Cigarros espalhados nos cinzeiros,
No quarto, suas fotos e retalhos.
Na beira de um ataque, nada digo.
Apenas sei dos bares e puteiros,
Dos corpos das vadias em frangalhos
E assim no quase sendo, inda prossigo...
82
Chegando de mansinho no meu quarto
Vem sorrateiramente esta vontade
De ter o teu amor, até que, farto;
A vida se refaça em liberdade.
Velejo sobre ti amor imenso
E trago o meu desejo sem limites.
Se sempre em teu carinho eu sempre penso
E peço meu amor que me acredites
Pois és minha esperança mais serena
De ter a sensação de ser feliz.
Se a vida, tantas vezes envenena
Tu és melhor antídoto que eu quis.
Amar e ter certeza deste sonho
É mar onde meu barco eu sempre ponho...
Marcos Loures
83
Chegando depois disso aos braços teus
Após os erros todos cometidos,
Enganos que já foram esquecidos
Percebo o quanto é triste um vago adeus.
Alegrias se dão em himeneus
Deixando os meus terrores destruídos,
Os dias mais felizes pressentidos
Invadem os sentidos, nossos, meus...
A par do que sentimos nada temo,
Nem toda a aleivosia, nem o Demo,
O mal adormecido não me alcança.
Ao ter tanta certeza aqui comigo,
No passo mais audaz sempre prossigo
Contendo em minhas mãos esta esperança.
Marcos Loures
84
Chegando mansamente como a brisa
Que roça nossa pele, devagar.
Perfume que me toma cedo avisa
De uma paixão, delícia a transbordar.
Agrisalhado sonho aromatiza
O templo em que se fez divino amar
A mão que acaricia mais precisa
Permite um paraíso vislumbrar
Por entre estas montanhas, belos vales,
Caminhos no teu corpo percebidos,
No quanto em tanto amor tu já me fales
Ecoam nesta noite, mil gemidos,
Meu corpo se matiza nos teus beijos,
Afloram neste instante, mil desejos...
85
Chegando mansamente, amor nos lança
Aos mais sublimes gozos. Fanatismo...
Entranha meus desejos, fudelança
Sublime num mergulho em louco abismo.
Por entre as tuas coxas, minha lança
Provoca insanamente um louco sismo,
Enquanto os teus quadris, perfeita dança,
Na insânia dos prazeres, eu me crismo.
Encharcas meu caralho com teu gozo,
Um jogo aonde sempre vitorioso,
O amor jamais se cansa, pede bis.
Fuder tua buceta, teu cuzinho,
Umedecida senda, descaminho,
Promessa da manhã clara e feliz...
86
Chegando neste mundo em plena festa
Uma alegria imensa para os pais.
Agora mais um ano que se empresta
À sorte de te ter, é bom demais,
Querida amiga, assim o que nos resta
É ter uma certeza que este cais
Uma esperança nova sempre gesta
Trazendo uma emoção que é feita em paz.
Outro ano a mais depois daquela data
Dever ser sempre tão comemorado
Pois a alegria viva quando inata
A todos ilumina com certeza,
Querida, como é bom te ter ao lado,
Sentado frente ao bolo, nesta mesa.
87
Chegar ao infinito num instante
Depois de percorrer distantes léguas
Amor se faz sublime e dominante
Não deixa e nem permite simples tréguas
Adentro os templos todos deste amor
Refaço em cada prece uma oração
Que feita com ternura e com fervor
Permite que eu encontre a solução.
De tanto que eu errei a vida afora
Por tanto que eu sofri, ora eu persigo
A fonte que alimenta e revigora
Abrindo nos caminhos o postigo
Eu quero o teu querer e nada mais,
Aporto o meu desejo no teu cais...
Marcos Loures
88
Chegaste à minha vida devagar,
Sem ser anunciado, passo a passo,
Agigantando aos poucos cada traço,
Tomando todo o espaço, sem falar.
Andava sem respostas, sem destino,
A vida não trazia soluções.
Olhando para várias direções,
Tão frágil coração, tolo menino...
As mãos que ora me amparam são as Tuas,
Senhor dos meus caminhos, meu Pastor.
Nos olhos a pureza deste amor,
Deixando as almas mansas, quase nuas.
Permita-me, afinal, nesta oração,
Pedir pelos meus erros, Teu perdão...
89
Chegaste bem mais perto e neste zoom
Tomei-te entre meus braços de surpresa.
Mostravas com certeza medo algum
De ser tão devorada, bela presa.
As pernas eu prendi, enrodilhei
Entre as minhas, sem chance de dar fuga
E dentro de teus braços mergulhei,
Fingiste resistência. A boca suga
A língua desejada e mais gostosa,
As coxas se misturam, mãos e seios.
A noite se passando maviosa
Os olhos se tocando nos anseios
Do amor que se fez firme e tão presente
Nos gozos e nos risos, amar urgente..
90
Chegaste com os olhos tão trementes
Mal percebia seres a rainha
Que à noite, no meu quarto sempre vinha
Tornar os meus momentos mais contentes.
Vontade de tocar-te se avizinha
E mostra num segundo o quão ardentes
Desejos deslumbrantes, fortes quentes
De unir a tua pele junto à minha.
O fogo do desejo me incendeia
Profusa sensação de gozo e morte,
Vislumbro na mulher uma sereia
Na boca que me morde um bom veneno,
No lábio que devora em fundo corte
Prazer feito em volúpia faz aceno...
91
Chegaste como um dia de verão
Num vento mais suave e bem ameno,
Deixando um velho peito mais sereno,
Regando com ternura um duro chão...
Meu canto se perdendo na amplidão
Envolve em alegria cada aceno,
Destrói da solidão cruel veneno
E mostra enfim caminho e redenção.
Quem veio de um inverno que em frieza
Tornou meu passo lento e sem destino,
Chegando bem mais forte a correnteza
No sol de uma paixão, calor a pino,
Impede a mutação da natureza
Mostrando uma verdade à qual me inclino...
92
Chegaste devagar, bem de mansinho
Já chegou ocupando o pensamento
Tomando para si o sentimento,
Com palavras gentis, tanto carinho...
Na boca que beijamos verde vinho
Sorvendo em cada gota avivamento
Que refazendo a vida num momento
Abriu uma esperança: novo ninho...
O som do teu silêncio se espalhando
Por toda a minha casa-coração.
Quando vi... Reparei; estava amando
A mando do que fala-se tão quieto;
Na voz tão delicada da emoção
Tomando minha vida, por completo..
93
Chegaste mansamente como a brisa,
Tomando num segundo, toda a senda.
Amor em que não cabe mais contenda,
Invade este cenário e não avisa.
Agora que minha alma se matiza
Nas cores que emoção, cedo desvenda,
Tornando a solidão, apenas lenda,
Por sobre nuvens claras, vai precisa
E segue cada rastro que tu deixas.
Sentindo o teu perfume delicado,
Na maciez que encontro nas madeixas
Dos teus cabelos longos e macios.
Viver cada momento do teu lado,
Em meio a mil gemidos e arrepios...
Marcos Loures
94
Chegaste mansamente e pouco a pouco
Tocaste bem mais fundo o coração
Deixando em profusão, confuso e louco
Entregue sem limites à paixão.
Amor que sem medidas foi tomando
A casa, a sala, o quarto em fogaréu,
Do gozo de um prazer veio inundando
Translada para a Terra imenso Céu.
Na barca de meus sonhos, timoneira
Vergastas e delícias me trazendo.
A noite se mostrando lisonjeira
Da sede do desejo eu vou bebendo
E sei o quanto quero a fantasia
Que molda em nossa vida, esta alegria..
95
Chegaste mansamente em hora boa
E sorrateiramente, devagar
Pingando no peito uma garoa
Em pouco começou a trovejar
Meu coração que andava meio à toa,
Assim já começou a disparar.
Agora, bem mais forte ele ressoa
Parece que do peito vai saltar...
Moleque coração mais sem juízo
Achando esta morena se perdeu.
Não pôde resistir ao teu sorriso
Que faço meu amor, se já sou teu.
Te espero aqui sozinho no meu quarto,
Senão meu coração vai dar enfarto...
Marcos Loures
96
Chegaste mansamente em minha vida,
De forma tão sutil que nem senti.
Aos poucos, minha história em ti querida,
Meu rumo simplesmente, já perdi.
Eu sinto tanta falta de te ter,
Queria a cada aurora ser mais teu.
Que faço nesse mundo; quero ser
Aquele que em teus braços se perdeu...
Que pena não te ter sabido outrora,
Embora sempre estive assim tão perto.
Mas tendo teu carinho, desde agora,
Meu mundo não é mais triste deserto.
Eu quero teu amor assim vital,
Por certo, estava escrito em nosso astral...
97
Chegaste no meu quarto de surpresa
Vestindo transparente lingerie
Senti-me no momento, tua presa
Em meio desta fome eu me perdi.
Comeste cada parte em sobremesa
Depois lambendo os beiços, percebi
Que a noite prometia uma princesa
Safada e generosa viva em ti.
No quase que não fomos, sofrimento,
Depois em doces gomos, um banquete;
Amor que não perdeu nenhum momento,
Se mostra com a cara e a coragem.
Na gula em que se mostra, amor repete
A festa extasiante, sem miragem.
98
Chegaste no momento derradeiro,
A minha alma em fatal putrefação
Servindo de repasto e refeição
Ao gozo deste insano rapineiro
Que crava as fortes garras no meu peito,
Os dedos amputados, minhas pernas,
Carícias das bicheiras, mornas , ternas
A carne apodrecida, mesa e leito.
Minha antiga dispnéia se agravando,
Buscando na janela, um vento brando,
O calor me sufoca, procuro ar.
A morte me tocando em mil tentáculos.
Aos teus olhos terríveis espetáculos,
A vida sinto aos poucos me deixar...
Marcos Loures
99
Chegaste num sorriso, primavera
Trazendo o teu canteiro perfumado.
Depois de tanto sonho, farta espera,
Amor no coração vem batucado,
Fazendo toda a festa que quisera,
Deixando o que não presta ali, do lado.
Amar a vida inteira, assim à vera
É quase ser um ser abençoado...
Entornas teu jardim em flores tantas,
Mostrando que os espinhos são enganos.
E qual a cotovia tu me encantas
Em versos e delícia sensual.
Sentidos se mostrando soberanos,
No aroma do jardim celestial..
4100
Chegou lá de Goiás um novo vento
Trazendo uma alegria sem igual,
Amiga, como é belo o sentimento
Que entranha a poesia, sensual...
Tua pureza imensa sempre agrada
A quem possa te ler, e faz feliz.
Tu tens delicadeza de uma fada
Escreves com ternura e bom matiz.
Pois; Loures os lauréis conquistarás
Com versos delicados e mimosos,
Por certo no infinito brilharás,
Teus dias, com certeza, gloriosos...
Eu tenho tanto orgulho em ser teu primo,
Aracelly com carinho sempre rimo!
Para a poetisa goiana Aracelly Loures que, para meu orgulho, é minha prima e minha amiga
4101
Chegou; encantadora em contraluz,
A tua silhueta demonstrava
Na transparência, forma que produz
Beleza que deveras esperava...
Mas logo dissipada, a tua imagem,
Sumindo pelas ruas, galerias...
Procuro te encontrar, talvez miragem,
Quem sabe tão somente, fantasias...
Mas sei que existes, tenho esta certeza...
Viveste dentro em mim, a vida inteira.
Te encontro em cada sonho, uma princesa
Desnuda do meu lado, companheira...
Roçando nas cobertas te imagino...
Nas janelas abertas, descortino...
4102
Cheguei de tua vida neste passo
Que passo no compasso mais ligeiro
Procuro pelo espaço sem cansaço
E pego num abraço, o corpo inteiro...
Nem tento nem disfarço mas te quero
No verso que diverso tanto fiz...
Vencido pelo canto que venero
Espero que viver seja feliz
Me diz por ondas foste ver o mar
Amar é se saber tão manso e forte.
Armando minha rede no luar
Na pesca deste amor terei mais sorte..
Brincando nessas rédeas sou corcel
Procuro nossa estrela em nosso céu...
4103
Cheguei sem ter nem tempo nem idade,
Meu nome o vento leva nada vale.
O fato de trazer insanidade
No impetuoso gesto monte e vale
Caminho com total sinceridade.
Não deixe que esta música se cale
Nem mesmo não pergunte quem há de
Fazer com que este vento já te fale.
Apenas me receba sem ter medos,
Singrando o quarto, o corpo, cama e gozos.
Não sou sequer a sombra nem segredos.
Sou parte de ti mesma, rumo incerto,
Meus olhos te parecem andrajosos,
Espera-me, por favor, o peito aberto!
4104
Cheguei, em tua vida, muito tarde...
Eu sei que não querias esperar
O fogo que é tão calmo mas, manso, arde...
Querias noutras chamas se queimar...
Entendo que não soube ser teu sonho,
As asas que carrego já te assustam,
O mundo que te trago, mais bisonho,
São forças que contigo não se ajustam...
Agora, que proponho outra saída,
Respondes que cheguei no entardecer.
Amada se te dei a minha vida,
Responde como posso então viver?
Destino me deixou meio de lado,
Me diga o que fazer? ‘Stou atrasado...
4105
Cheio de rosas, de jasmins e lírios,
O meu jardim carece de uma flor
Que traga em cheiro o meu querer. Delírios
De quem se torna jardineiro, amor.
Meu verso blues, minha canção tristonha
Depois de tanto tempo se encontrando
Na paz e na alegria de quem sonha
Aos poucos novamente, se entregando.
Espero que isso passe tão somente
Assim como uma chuva de verão,
A raridade enorme da semente
Em mil desejos trouxe uma ilusão.
Aguardo novo tempo em primavera
Brotando em meu jardim. Ah! Quem me dera!
4106
Cheira a terra molhada e forma o cio,
As tanajuras voam, criam pares,
Depois deste momento, no vazio,
Os machos vão morrendo. Pelos ares
As nuvens de saúvas neste estio
Que nasce com as frutas e pomares,
Calando a sensação de manso frio,
Nas primaveras todas, mil altares...
A noite vai se abrindo nos cometas
Num zíper nos permite ver a lua.
Estrelas vagueando qual gametas
Permitem pirilampos sedutores,
Beleza que se entrega mansa e nua,
Nascendo novamente em mil amores...
4107
Chorando em cada verso, quando lê-lo,
Quem dera se assim fosse, amada minha,
Teria algum resquício de um desvelo
Dourando o dia aonde amor aninha.
Selando uma esperança em carrossel,
Galopes entre estrelas, sonho à solta,
Voando eternidades pelo céu
Acalentando um mundo sem revolta.
Virias neste instante, nua e bela,
Vagando em fantasias pela noite,
Rondando constelar, divina estrela
Na cama em que prometo já se acoite
As marcas dos delírios nos lençóis
Queimando em tanta ardência, raros sóis...
4108
chupins vão namorando um arrozal
e os bicos preparando seus banquetes.
Cenário desembesta-se usual
Arremedando gozos em falsetes.
Ticoticoteando este jogral
Não vou carnavear os meus confetes,
Eu quero ter do corpo sol e sal
Sem ser nos tentáculos joguetes.
Berrantes vão chamando para o cio,
A luz em seu miolo, fantasio
E trago o velho trigo feito em pão.
Por cima dos meus ombros, vejo a lua,
Molhando este desejo veste nua
Deste arrozal, eu farto-me de grão...
4109
Chuva caindo tranqüila
Noite traz a mansidão
Adormece a bela vila
Sonhando paz e perdão.
Veneno de quem destila
Atravessa a multidão
Miséria, longe, se exila
Todos sonham vinho e pão!
Menos os meus olhos tristes
Não consigo mais dormir
Por que, meu bem partistes?
Não consigo perdoar...
Como pude prosseguir?
Vem a chuva me contar!!!
4110
Cibele
Acima do que posso imaginar,
Acima do que posso imaginar,
Repousa tão fantástica beleza!
O Olimpo, certamente faz brilhar,
Com lume e com potência de princesa.
Dos seus braços, nasceram terra e mar
Seu seio amamentou a realeza!
À noite resplandece no luar,
A vida fez nascer, sua grandeza.
O mundo, seus pecados e delícias,
Etéreos passageiros, sombra e luz.
O campo das estrelas, as malícias.
As ninfas, seu carinho e sua pele.
Nas Plêiades, desejo seu transluz,
Consorte, lhe encontrei, minha Cibele!
4111
Cicatrizando uma alma feita em pus
O fardo se tornara bem mais leve,
A transgressão insana já me opus,
Porém amor sem tréguas já se atreve
E rouba cada gota desta chuva,
Formando com mil lágrimas o açude
Cabendo nos meus sonhos como luva,
Mudando de repente uma atitude
Outrora tão passiva e mais pacata,
Num ato de rebelde insanidade.
O laço num instante se desata
Trazendo em ar mais puro, a liberdade.
Aprendo num momento alvissareiro:
O amor não se permite prisioneiro.
4112
Cidades não são verdes nem vermelhas,
O povo não se mede por palavras
No fundo labaredas são centelhas
Quem dera se certeza desse em lavras...
As mentes que remetes são ovelhas
Perdidas procurando por pastor...
Nas distâncias, ofensas quebram telhas
Deixando sem cobertas nosso amor...
Beija-me então, valhei-me meu Senhor...
Quem caminhava por pedras e tropeços,
Quem sonhava desejos e torpor
Não merece mais novos recomeços...
Amanhecer sensatas calmarias...
Descobrir as paixões de cada dia...
4113
Cigana que enganaste o peito vão
Deixando as tuas marcas, vis profundas...
As horas são eternas vagabundas
Perdendo desde sempre a direção...
O quanto que encontrei somente o não
O tanto que sonhei e não me inundas
Com raios das estrelas. Mãos imundas
Que tocam esperança e violão...
Outrora ainda tinha alguma luz
O verbo sonegando amarga a cruz
E torna a caminhada mais difícil
Do amor que quando o tive nem escombros
O sol vem ressurgindo sobre os ombros,
Seus raios me penetram como um míssil...
4114
Ciganas prediziam; profecias
Que um dia tu virias para mim.
Tu trazes em teus olhos tais magias,
Florindo minha vida e sempre assim
Em torno de teus passos, alegrias,
Prazer que me mostraste, sem ter fim,
Vivendo em plenas luzes, fantasias,
Recendes esperanças num jardim
Plantado e cultivado com carinho,
Regado com fantástica emoção
Por jardineiro sempre dedicado,
Eu quero estar contigo em meu cantinho,
Envolto nos desejos da paixão
Estando sempre assim, apaixonado...
4115
Cigarro não faz bem disso eu bem sei,
Porém eu não consigo disfarçar
Ladrão demais assim a nos roubar
Não deve sem moral, fazer a lei.
De tanto que na vida eu já fumei
E o tanto que inda tenho pra fumar
Dinheiro algum dos outros maloquei,
Não aprendi nem quero enfim roubar.
Eu peço ao Bom Senhor que assim me ajude
Embora a maltratar minha saúde,
Eu tenho esta certeza em devoção.
Pior do que cigarro, eu te garanto,
Eu falo esta verdade sem espanto,
Político safado e corrupção...
4116
Cigarros acabando neste maço,
A noite não diz oi nem tudo bem.
Caçando bar em bar peço um abraço
E o tempo vai roendo sem ninguém.
O risco de viver é bem escasso,
Amar sem perguntar e sem porém.
Escadas que rolei, olhar que embaço
Há tempos coração perdeu o trem.
Agora vaga mundos, vagabundo
Metralha as esperanças num segundo,
Rumina o que já tive; louco eclético.
Quem dera se amizade inda bastasse
Talvez o coração já se acalmasse,
Mas segue sem juízo; cego e cético...
4117
Cincadas que cometo vida afora
Por vezes me transtornam, mesmo assim,
Prefiro te dizer, querida, agora
Que tenho uma esperança dentro em mim
De ter tua amizade, que se aflora
E mostra quanto é bom o mundo. Enfim
Eu te proponho, amiga, que nessa hora
Estejas mais disposta a dizer sim.
Desculpe se eu errei. Isso eu admito,
Não tenho a perfeição sequer por meta,
Cambaleando perco a linha reta
Tropeço e quase caio. Estava escrito
Nos búzios, almanaque, astrologia,
Que a sorte de te ter, viria um dia...
4118
Cingindo meus amores, velho sol.
Perdido entre esplendores, morre chuva...
Os olhos disfarçados, sem farol,
Escondem-se em teu pranto de viúva.
Ao gerar este vinho tinto, a uva,
Da mansidão transborda em etanol;
A mão que me maltrata perde luva.
O brilho que me mostras, girassol!
Mas sabes que amanhã já me revolto,
Não quero ser somente teu espelho.
Amarras que me prendes sempre solto;
Amores se repetem, velha história!
Em todos os momentos, me assemelho
Na busca do esplendor que me deu Glória!
4119
Cinqüenta anos não são cinqüenta dias,
Durante tanto tempo em dor e riso
Vivendo sofrimentos e alegrias,
É como padecer num paraíso.
O tempo diminui as fantasias,
O passo muitas vezes impreciso
Em noites tão divinas ou vazias,
Transformam as tristezas em sorrisos.
A vida traz colheitas, filhos, netos,
Amores tão diversos e diletos,
Momentos de emoção, floradas, podas,
Porém a tudo o amor sempre supera
Mantendo o brilho eterno; primavera
Dourando toda a vida nestas bodas...
4120
Cinzas, a tarde cinza em nuvens, escondida.
A chuva que virá decerto me entristece...
Em lágrima vertida, em pranto, minha prece...
Parece que perdi o rumo, em minha vida!
Quem fora mais sereno aguarda que decida
A mão que me machuca, o canto se endurece;
Na tarde nebulosa, a tempestade desce...
A juventude morta esconde-se, perdida...
Um dia, a mocidade em toda plenitude,
Sonhei com teu carinho, amor sempre se ilude.
Manhã ensolarada, a primavera cálida...
Depois, entardeceu... Tantas nuvens chegaram...
A tarde acinzentada; as manhãs se acabaram...
Lembranças doces, Lívia, alvor da manhã pálida...
Marcos Loures
4121
Ciranda da esperança dá e tira.
O amor não pode ser somente assim,
Vestindo de ilusão dita a mentira
E mata esta semente em meu jardim.
E enquanto o sonho dorme e a Terra gira
O beijo que recordo, carmesim,
Errante pensamento perde a mira
E acende da tristeza, este estopim...
A lua na varanda; dama bela,
Rainha soberana me revela
Que tudo foi somente uma miragem
E o peito enamorado então se esquece
Desenho desigual, o sonho tece
Tornando assim opaca, a paisagem...
4122
Cismando em solidão, procurando outras eras
Aonde a poesia amiga e tão querida
Cantava em harmonia as plenas primaveras.
Agora tão somente é noite dolorida...
As horas vão passando em lágrimas severas
A sorte já se foi, de mim tão esquecida
Mostrando em ironia, as garras; duras feras
Matando o que restou de luz em minha vida...
Pensando no que fui; o olhar perdido e vago
Apenas o vazio, estende-se em afago
E a fome de esperança esgota o meu jardim...
Num último suspiro, eu vejo um brilho antigo
Chegando devagar, e num olhar amigo
Percebo renascer a luz dentro de mim...
23
Cismando o pensamento, em busca de outras eras,
Retrato de uma infância enveredada em risos.
Amores maltratando, as garras destas feras
Adentram bem mais fundo e negam paraísos.
Felicidade plena, eu lembro que tu eras
A minha companheira em jogos imprecisos,
Bebendo em tua boca eternas primaveras
O jogo foi perdido em passos indecisos.
Olhando para o nada, o vazio corrói
O vento em tempestade, a vida se destrói
No meu rosto enrugado, as marcas deste amor.
As lágrimas caindo encharcam o meu rosto.
O coração se mostra em solidão exposto,
Aos poucos, mesmo em vida, a carne a decompor...
24
Cismando pelas roças e sertões,
Debaixo desta lua inebriante.
As cordas dos sonoros violões
Janelas entreabertas... Lua amante.
Cantando nosso amor em serenata,
Em meio ao festival de grilos, sapos,
Saudade desse tempo me arremata,
O coração desfeito; restam trapos...
“A lira do cantor...” A noite bela...
Amada me esperando, com sorriso...
Abrindo o coração, abre a janela,
As portas para entrar no paraíso...
Vieste e logo foste, nada além,
Sobrou essa vontade de meu bem...
25
Cismando pelas ruas do passado,
Das eras mais recônditas refaço
A vida que perdi, procuro espaço,
Verão há tantos anos invernado...
Nas ondas deste sonho, sou levado
E tento reviver o antigo passo,
Porém já não encontro o velho laço
Que unira nossos corpos lado a lado...
Apenas abandono, nada mais...
Insone, mergulhando no que tive,
Buscando o Paraíso aonde estive
Em tempos tão distantes, magistrais..
A sombra do que fomos inda vive
Quebrando, da esperança, os seus cristais...
26
Cismando pelas ruas, solitário,
Recebo o vento amargo da ilusão...
A vida vai expondo o meu calvário
Formado pelos braços da paixão.
Amar assim demais é temerário,
Dizia a sábia voz do coração.
Amor que não respeita calendário,
Causando a cada dia uma explosão...
Recebo tua carta, marinheira,
Que busca em cada porto uma alegria.
Embora reconheça verdadeira
Esta emoção que dizes em teus versos.
Eu peço meu amor, bem que podia,
Deixar os outros mares tão dispersos....
27
Cismando sem juízo, velhas sendas,
Estradas que passei em outras eras,
Permitem que iludido, creio, acendas,
De novo num fulgor, as primaveras.
Tampando cegos olhos, outras vendas,
Impedem-me de ver rotas severas.
Abrindo bem profundas, grandes fendas,
Expondo de tocaia, garras, feras...
Olhando para o longe, enfim divago,
E penso que inda tenho algum afago.
Depois, desiludido, volto a mim
E risco mais um nome desta agenda
Porém, qual imbecil, retorno enfim,
E volto a percorrer a mesma senda...
Marcos Loures
28
Ciúme simplesmente e nada mais...
É bom que se varie este cardápio.
Em corpos tão sublimes divinais,
Ciúme é dos amores um larápio.
Não posso reclamar e fico quieto,
És dona dos teus passos, disso eu sei.
Porém vou ser mais franco e até direto,
A cada pensamento sua lei.
Tu bebes de outras bocas a saliva,
Somente pra lembrar dos lábios meus.
Depois de algum prazer, simples adeus,
Retornas deste amor, cega e cativa.
Mas saiba que o desejo sempre aguça,
Porém não diz amor roleta russa...
Marcos Loures
29
Cravo branco serenado
Gostoso perfume tem.
Quem tem amor tem ciúme
Quem tem ciúme, quer bem.
Ciúmes são perfume de uma flor,
Maiores quanto mais queremos bem.
Vivendo em nosso caso, tanto amor,
Não quero te perder para ninguém!
Eu sei quanto é bobagem; o temor,
Tu és toda a certeza que se tem
De um mundo mais suave e sedutor.
Mas sei que tens ciúmes sim, também...
É claro que te tenho confiança,
Não nego que jamais desconfiei.
O amor entre nós dois, forte aliança
É mais do que pensei ter algum dia.
Por mais que tantas vezes disfarcei,
Minha alma, mil loucuras, fantasia...
A Trova Mote é da região Nordeste de Minas Gerais
30
Clamando por carinhos mais exatos
Penetro tuas sanhas e te afago,
Na terna placidez de um manso lago
Deságuam sem tormento os meus regatos.
Se teimo em descaminhos inexatos
Anseio pelo amor, temível mago,
Moldando estes remendos que inda trago
Terá ao fim de tudo fiéis retratos.
Alertas que espalhaste pelas brenhas
Silvestres desventuras reflorescem,
Nas mãos que doloridas inda tecem
Os ritos que não vês, mesmo desdenhas.
Seria o que talvez houvera sido
Se o sonho não houvesse renascido...
31
Clamores que escutamos da platéia,
Após o gran finale desta peça.
Sem mágoa que me cale ou que inda impeça
Alquímico desejo, panacéia...
Vencer tantas tormentas, na odisséia
Do dia-a-dia, um bem que se confessa,
Cumprindo os rituais desta promessa
Uma alma que enobrece, não plebéia.
Tocando o corpo inteiro sem ter pressa,
Na fúria delirante, insana, atéia,
As dores que nos rondam, alcatéia
Em bando se perdendo. A luz regressa
Trazendo com ternura cada idéia
Como se fosse assim eterna estréia.
Marcos Loures
32
Com olhos embebidos em beleza,
Inebriado bebo, gole a gole
O quanto esta alegria já nos bole
Tomando em nossa vida, com surpresa.
Sabendo ser de ti, apenas presa
Não quero quem dos medos me console,
Se a boca desta fera assim me engole,
Desejo me fartar à mesma mesa.
Amor, um vencedor neste escrutínio
Permite que se veja com fascínio
Manhã de eterno sonho em carnaval.
Não temo mais, da vida, uma tramóia
Sabendo que encontrei sublime jóia
Gozando essa ventura magistral.
Marcos Loures
33
Com mesma devoção com que cuidais
Daqueles que sofreram atentados
Da sorte que se fez cruel demais
Vivendo nesta vida tristes fados.
Além do que vos digo, costumais
Agir em prol de tais desesperados
Que sentem seus destinos desgraçados
Mas vejo que carinho; sempre dais.
Atando meu caminho em pertinência
Com atos de vanglória nesta vida,
Agindo mais fiel ao pensamento
Eu sei que embora encontre resistência
Que vós não permitais a recaída
Daquele que também sei sofrimento
34
Com luxo e com luxúria nos amamos,
Nas noites sedas, linhos e cetim.
E quando num segundo nos tocamos
Prazeres estourando até o fim.
A paz que nós queremos, encontramos
Deitando nesta cama, sempre assim,
É bom saber que enquanto nos amamos
Aumenta mais amor dentro de mim.
Sabemos dos espaços e queremos
Ao navegar os mares mais profundos
Usar dos artifícios que nós temos
E num mergulho insano e sem juízo,
Ao menos por minutos ou segundos
Chegamos afinal ao paraíso...
Marcos Loures
35
Com luvas de pelica eu peço a ti
O que restou do antigo maremoto.
Sabendo recolher o que perdi,
Sorriso mais matreiro; não desboto.
Serenos os meus fardos? Não mais creio
No quase ser talvez um vencedor.
E quando o novo tempo assim receio,
Não sei se ainda posso recompor
A imagem desbotada, enfim puída,
De quem pensara ser além do nada.
Minha alma quando pega distraída
Repete sem sentir, mesma balada
Aonde ser feliz era possível,
E o amor era o supremo combustível.
36
Com lápis e papel sempre na mão,
Arquétipo tão falso de um poeta
Que quando chega enfim, a inspiração
Anota a bela imagem, tão dileta.
Na sala, na cozinha ou no colchão
Durante a refeição já se completa
E mesmo em pleno amor, fornicação
Dá um tempo senão ela se deleta.
Quem vê a tal figura pela rua
Olhando para estrela ou lua cheia,
Lunático fantasma que flutua,
E vez em quando toma uma topada
Uma alma delicada, e quase alheia
Entre beirais de sonhos, debruçada...
Marcos Loures
37
Com gosto de chuchu, o nosso amor,
Faz feira e toma o preço de um remendo.
Depois do temporal eu sigo vendo
O que restou do caos, feito um andor.
Rapinas vão servindo de adereço,
O beijo da fatídica loucura.
Enquanto se desfez em pó, a jura
Eu tenho o que em verdade já mereço.
Quaisquer figurações que se aprouverem
Serão de serventia duvidosa.
O peso que carrego é muito além
Do quanto os meus desejos inda querem,
Aonde brotaria alguma rosa
Abrolhos em buquês agora vêm...
38
Com força e com vital intensidade
Jamais alguém consegue derrubar,
Aquele que adentrando a claridade,
Encontra, finalmente praia e mar.
O amor quando sincero e de verdade,
É sol que em tempestade vem brilhar.
O amor em mim nascendo a cada dia,
Refazendo os meus passos rumo a Ti.
A cada novo encanto se recria.
Amor que nos tropeços aprendi,
Repleto de emoção e de magia,
Desfruto quando estás, SENHOR, aqui.
Adeus à solidão, ao medo e ao frio,
O amor do nosso Pai, eterno estio!
Marcos Loures
39
Com força de vontade
Encarando pedreiras
Somente esta amizade
Nos mostra as verdadeiras
Saídas que podemos
Usar tranquilamente
Se enfim já nos perdemos,
Encontro de repente
Nos braços desta amiga
A mão que tanto apóia
Fazendo que prossiga.
Tesouro em bela jóia
Num átimo rebrilha
Guiando em dura trilha...
40
Com dias bem melhores, sempre sonho
Trafego pela vida simplesmente,
O quanto é necessário estar contente
Deixando o meu caminho mais risonho.
A sorte nos teus braços quando eu ponho
Traduzo a confiança plenamente
Felicidade em versos eu componho
Mudando o meu destino, num repente.
Teus olhos tão distantes trazem luzes
E a tantas maravilhas tu conduzes
A lava derramada na paixão.
Palavra que proferes, de carinho,
Chegando à minha vida de mansinho,
Tocando mais profundo o coração.
Marcos Loures
41
Com costas lanhadas
Por sol e vergasta
As bocas salgadas
Mentira tão casta
Palavra açoitada
No fundo já gasta
No peito a porrada
A sorte se afasta
Porém nesta luta
Sincero alvoroço
Vencer força bruta
Amor, um colosso,
O grito se escuta
Restando destroço...
42
Com coração fogoso. Amor, espreito
A fim de me tornar conhecedor
Entendo necessário este calor
Que invade toda noite o nosso peito.
Eu quero na verdade é ser aceito,
No enredo que se faz encantador
E ao mesmo tempo vil torturador
Jamais se imaginou insatisfeito.
Amaras impressões que carregava
Do tempo que depressa se escoava
Nas mãos de um infeliz apaixonado.
Macabras as palavras proferidas
Por quem nem em bilhões de pobres vidas
Teve um desejo ao menos saciado...
Marcos Loures
43
Com beijos carinhosos bela prenda
Espalha dentre nós amor e paz.
Futura jornalista sempre traz
Nas mãos belo arrebol, divina senda.
Os segredos da alma ela desvenda
Com toda mansidão se faz capaz
E a todos com certeza satisfaz,
Usando da emoção, sublime tenda.
Giana, eu te agradeço emocionado
O amor que tens com fé já derramado,
Sabendo da importância que isso tem.
Do Deus que é corajoso enquanto manso,
Contigo, timoneira, eu quero e alcanço
A força insuperável em raro Bem...
Marcos Loures
44
Coloquei minha saudade
Num balão e já soltei.
Agora com liberdade,
Sem amarras, eu voei.
Nos céus voando liberto
Encontrei o meu caminho,
Incrível! Estava perto,
Nas asas do passarinho.
Que me levou para a casa
Me deu comida e abrigo,
Acendeu lareira e brasa,
E falou tanto comigo.
Aprendi: não há perigo
Se você tem um amigo!
45
Colocas querosene na aguardente
E queres que eu deseje gole a gole.
Cravando em minhas costas cada dente
Depois de certo tempo a noite engole
E faz do nosso amor, tonto e doente
Um sonho em que se bise e se decole?
Tu pensas que encontraste um penitente
Roçando até que a gente já se esfole?
Bebi de teus prazeres e estou farto.
Não quero mais teu gosto meio insosso
Tá certo que sobrou apenas osso
O resto na verdade, eu já descarto.
Não quero meu amor, ser educado,
Desejo um gozo audaz e mais safado....
46
Colírio para os olhos, a morena
Desfila em minissaia belas pernas.
O corte que em malícia desempena
Permite brilhos fartos de lanternas.
O cão que sabujando a bela cena
Não deixa que se percam, pois eternas
As ondas de calor nas quais se acena
Delírio que em loucuras gozo infernas...
São ferrenhas batalhas que travamos,
Enquanto calmamente caminhamos
Nas ruas e calçadas da cidade.
Aponto o meu olhar, logo disfarço,
Amarro sutilmente o meu cadarço
E tenho sobre olhar, felicidade...
Marcos Loures
47
Colher-te, bela rosa do jardim
Que cultivei em plena mansidão.
Regado por amor que não tem fim,
Adubo tão gostoso da paixão...
Perfume desta rosa sinto assim,
Carinho com total sofreguidão
Desejo nesta rosa carmesim,
Abrir e te beijar, cada botão...
No deleite de ter-te aqui comigo,
E perfumadamente me entregar
Aos teus encantos. Já nem ligo,
Desfolho cada pétala da flor,
Deitada no jardim, nua ao luar
Entregue totalmente, ao bom do amor...
48
Colhendo todo o sumo que me dás
Após nosso deleite extasiante.
Na busca primorosa sou capaz
De todo este torpor mais ofegante
Que a noite tão insana sempre traz
A quem em outro alguém se fez amante...
Sem fôlego depois destes passeios
Ao ver o teu olhar ensandecido
As mãos vão deslizando por teus seios,
Renovado caminho decidido
Em meio a tempestades sem receios
Um mar tão mavioso percorrido...
Estertorando em gozo, num deleite...
Nos doces e salgados, santo leite...
49
Colhendo o que plantei, na primavera,
Florido este jardim feito esperança.
Não temo mais tocaia e mato a fera,
Usando tão somente a temperança.
Olhando para longe, inda me vejo,
Sozinho percorrendo cada senda,
Nas mãos imaculadas do desejo,
Enigma crucial já se desvenda.
O amor quando em amor, amor produz,
Resiste a qualquer chuva ou tempestade.
No facho encantador da intensa luz,
Eu posso perceber tranqüilidade
Tomando a minha vida em mansa paz,
Mostrando quanto o amor se faz capaz...
Marcos Loures
50
Colhendo nos teus olhos tantos lumes,
Espalho tais sementes em meu jardim;
Granando tantas rosas e perfumes,
Brilhantes diamantes guardo em mim...
Os olhos que plantei, multiplicaram,
Os céus com tantos prismas diferentes.
Ao verem tal beleza se encantaram
E com ciúmes foram indolentes...
Não sabem que eu percebo cada gesto,
Dos céus tão ciumentos, desejosos.
Mas mesmo sob intenso e grã protesto,
Os grãos foram levados, luminosos...
Sabendo das sementes tento vê-las
Deparo neste céu, tantas estrelas...
51
Colhendo em teus jardins, raros florais,
Num ato de total insensatez.
Nos céus, tão belos lumes que tu vês
Representam o amor que eu sei, demais.
Trafego por espaços siderais
Neófito ao sonhar sem lucidez,
Encantos que esta noite, em altivez,
Derrama sobre nós. Celestiais...
Elevo o pensamento ao infinito,
Imagens deslumbrantes que ora fito
Debruçam maravilhas. Sedução.
Entregue a tal delírio, vejo em ti
Reflexos do que outrora eu concebi,
Qual plêiade: real constelação!
Marcos Loures
52
Colhendo em minha cama, rara rosa
A divina expressão de formosura,
Àquela a que se busca e se procura
Rainha do jardim, maravilhosa,
Porém ao colibri, tão caprichosa
A rosa em seus perfumes me tortura,
Embora se mostrando sempre pura,
Decerto eu sei da flor tão vaidosa.
Deitando sob o sol do Amor, declaro
O quanto é necessário perceber,
Que a vida num segundo põe reparo
A seta desairosa de Cupido,
Embebida no mais raro prazer
Omite a direção, rouba o sentido...
Marcos Loures
53
Colhendo desta flor todo o perfume,
Valeu a pena o tempo de cultivo.
É necessário além de algum costume
Trazer o coração atento e vivo.
Avivo nosso amor a cada dia,
Numa estação diversa, o trem prossegue.
Vencendo o sempre atroz melancolia
Não me deixo vencer, jamais entregue.
Caminho pelas ruas; vou aos bares,
E compro os meus cigarros, tiro um trago,
Às vezes mal percebo estes luares,
A lua encontro aqui, a cada afago.
Sentindo o vento doce no meu rosto,
Amor seguindo manso em peito exposto...
Marcos Loure
54
Colhendo a flor mais bela do canteiro
Um velho jardineiro não sabia
Que poderia ter o tempo inteiro
Ao lado desta rosa, uma alegria.
O amor quando sincero e verdadeiro
Além de simplesmente fantasia,
Domina este cenário e derradeiro
Perfuma nossa vida todo dia.
Assim eu sei que tenho o privilégio
De ter as chaves todas deste império.
Amor que me trazendo refrigério
Protege contra a dor e o sortilégio.
Sabendo desfrutar cada segundo,
Sei que sou o homem mais feliz do mundo!
Marcos Loures
55
Colhemos; isto é certo, o que plantamos,
Cuidar é necessário, e sempre bem.
Às vezes sem querer nos deparamos,
Sozinhos precisando de um alguém
Que seja companheiro. Se tentamos
Fugir desta verdade nada vem,
Decerto muito mal nós cultivamos
O jardim que a amizade mostra e tem.
Semeando ternura e compaixão
Teremos a resposta na colheita.
Amar é conhecer todo o perdão.
Não é difícil. Pense como é fácil
Seguir tranquilamente esta receita.
Porém muito cuidado: amor é frágil...
56
Colheita em que se tramam paraísos
Percebo no jardim de nosso amor.
O quanto em sonho é sempre tentador,
Amor jamais nos manda seus avisos.
Permita que eu adentre teus sorrisos,
Chegando ao mais perfeito e encantador
Canteiro; aonde eu sei que em cada flor
Cuidados foram sempre tão precisos.
Botão quando roubado prenuncia
Encanto bem maior, disso eu sabia
Por isso minha voz se faz tenaz.
Paixões entre palavras reveladas,
Estampam estas flores que; roubadas,
Traduzem todo o gozo que amor traz...
Marcos Loures
57
Coleiro, canarinho e trinca ferro
Sanhaço jaboti, cotia não
O canto da alvorada no sertão
Depois de tanto pranto o fino berro
Acendo meu futuro no desterro
Meu canto não espera solução
A vida sempre trouxe solidão
A causa do meu pranto foi meu erro.
Mas venha se quiser espero um beijo
De quem sempre me trouxe seu desejo
Em forma de gaiola e sem saída.
Meu mundo sempre forma liberdade
Em formas e desejos da saudade
Agora por favor devolva a vida...
Marcos Loures
58
Colando nossas bocas, bebo a vida,
Em cálices repletos de bom vinho.
Bem antes da saudade sem saída,
Detinha nos meus braços teu carinho...
Presságios, aventuras... despedida
De quem já se perdeu e vai sozinho.
A mão te procurando, tenta o ninho,
Mas queda-se sem forças, esquecida...
Fantasmas doutros tempos infelizes
Vagueiam minha mente, não suporto..
Não quero em nosso caso mais deslizes,
Aporto no teu corpo uma esperança.
Nos dentes da tristeza não me corto
Enquanto houver o sonho em nossa dança...
59
Colando grau na base da porrada,
Beirando os precipícios no caminho,
Vagando vagabundo pela estrada,
Piquei a mula logo bem cedinho
E varejei a sorte na beirada
Do podre lamaçal de ser sozinho.
A liberdade é sempre ensangüentada,
Rasgada pelas garras de um ancinho
Aberta a cova rasa onde a semente
Depois de bem aguada, brota e segue
Crescendo, frutifica em esperança.
Mas aprendi no alpendre da saudade,
Que ao lado de quem temos amizade,
A vida bem mais fácil, cedo avança...
60
Colado junto a ti qual tatuagem
A cicatriz bendita do desejo,
Que faço se, sozinho, o fim, prevejo
Perdendo o meu corcel e a carruagem.
O amor sem ter amor, simples bobagem,
Não passa na verdade de um lampejo,
Distante do infinito que ora almejo
Sem ter tua presença, é vã viagem.
Qual fora um passageiro da esperança
Somente quando a voz do amor me alcança
Cavalgo este alazão, a liberdade...
Adentro os mais diversos continentes
Estrelas espalhando os contingentes
Numa espetacular felicidade..
61
Coisas de “vai idade” com certeza
A neve vem cobrindo os meus cabelos,
Por mais que encare em vão, a correnteza,
Envolto pelo tempo e seus novelos.
As rugas vão tomando a minha face,
As horas tão ligeiras já deslizam.
Visão que se perdendo, tudo embace,
Castelos desabados não avisam.
Apenas me restando a fantasia,
E a velha teimosia em esperança.
Enquanto a noite chega mais sombria,
A juventude fica na lembrança,
E o velho libertário aqui resiste,
Embora combalido, amargo e triste...
Marcos Loures
62
Cochilo,sem querer do coração,
Deixando sua porta entreaberta.
As garras tão felinas da paixão,
Aproveitaram área tão deserta...
Ao ver que já não tinha mais saída,
Deixei meu coração mais indefeso;
Minha alma, simplesmente distraída,
Entrou no mesmo barco tão coeso...
Jazendo neste canto, fico mudo;
Aguardo as novidades mais calado.
Lutei assim demais, lutei com tudo,
Agora pelo amor aprisionado...
Cativo, de tal forma, na verdade,
Não sonho nem sequer com liberdade
63
Coçando a perereca a noite inteira
Orgasmos explodindo em turbilhão.
A moça num sorriso dá bandeira
E mostra a sua cara de tesão.
Não pára e nem sossega esta coceira,
Que toda noite traz repetição.
Subindo nas paredes, companheira
Entrega-se ao desejo e à tentação.
Bendita leucorréia ela proclama,
Não quer nem mais saber desta pomada,
Clamídia com certeza acende a chama
E deixa molhadinha a dita cuja,
Ao ver o tubo vindo, alvoroçada,
A perereca quer que a moça fuja
64
Cobrindo vira circo, com certeza,
No velho picadeiro uma esperança
Funâmbula se entrega à mesma dança
Que possa derrotar a correnteza.
É necessário ter tanta destreza
Que mesmo a solidão que agora avança
Não possa destruir nossa aliança
Deixada qual banquete sobre a mesa.
Corsários da alegria, os teus ciúmes,
Matando a rosa imersa em maus perfumes
Fazendo do passado, um vil presente.
Não deixe que os espinhos tomem tudo.
Eu quero, mas no fundo não me iludo,
E o fim do nosso caso se pressente...
Marcos Loures
65
Cobrindo em duro pó todas as luas
Deixando para trás uma esperança.
O ser humano em glória sempre alcança
Os corpos esquecidos, carnes nuas.
O sortilégio faz sempre das suas,
E mata a ingenuidade da criança.
Sabendo desta espera, alma se cansa
E mesmo que amputado, continuas.
Esboça a reação, mas obedeces,
Apenas executas tuas preces
E deixa uma esperança no passado.
Contigo, vou seguindo, e a vida flui,
Em outro ancoradouro; se conclui,
O barco que me trouxe; naufragado...
Marcos Loures
66
cobra em seus chocalhos diz aviso
Cuidado com seu bote, minha amiga.
Olhando para o chão por certo eu piso
Que a vida do imprudente já periga.
A faca se disfarça num sorriso,
A chuva em tempestade desabriga,
Se eu erro, com certeza não mais biso
O resto empurro em paz, com a barriga.
É prático viver. Largue os queixumes
Quem vê somente espinho, sem perfumes
Maldiz a maravilha de um jardim.
Depois segue arredio o tempo todo,
Queda prenunciada diz do lodo
No logro que se esconde, bem no fim...
Marcos Loures
67
Coberto pela terra infecta e farta
Os vermes são meus únicos parceiros,
Usando a precisão de carpinteiros
Necrófago banquete me descarta,
Enquanto da esperança, o rito aparta
Expondo os frágeis ossos; carniceiros
Na orgíaca festança vão inteiros
Na podre provisão que se reparta
A realidade expressa seus humores.
E paulatinamente cessam dores,
Quem sabe até sorria depois disto,
Imerso nesta insana confraria,
Por mais que isto pareça uma ironia,
Eu sinto que deveras inda existo...
68
Coberto de carinhos e cuidados
O dia anunciado em paz e glória.
Conhecerei no nosso amor vitória
Encantos e delírios demarcados.
Os olhos tantas vezes enfadados
Tentando vislumbrar em nova história
Promessa resguardada na memória
De tempos com certeza abençoados.
Nas mãos que se procuram, mansidão,
Olhares que trocamos- emoção
Viver felicidade é nossa sina.
Caminho concebido com prazer
Permite a fantasia e faz viver
Na força feita amor que nos domina...
69
Coberto de alegria e de prazer
Eu sinto o vento manso deste amor.
Regado pela fome de viver
Disfarço este meu peito sonhador;
Distante dos meus olhos pude ver
A força da tristeza, imensa dor,
Porém ao vislumbrar teu bem querer,
Eu pude cada passo recompor.
A lua se mostrando assim desnuda
Deixando a natureza agora muda
Espalha a luz imensa sobre nós
É como se dissesse da alegria
De quem ao desfilar já percebia
O vento da paixão doce e feroz.
Marcos Loures
70
Coabitam vontades e temores,
Minha alma se transforma em tal dilema,
Contendo a fantasia, qual algema
Perece neste inverno e seus rigores.
Cevar com alegria tantas flores,
Teimando em perceber que a piracema
Permite que; o sonhar seja o meu lema,
Porém sentir do vão passos, rumores.
Vontade de sentir tua presença
Tocando a minha pele, sendo minha,
Enquanto a poesia em ti se aninha
Querer esta esperança bem mais densa,
Urgência de saber se isto é verdade,
Qual fora tempestade, o sonho invade...
71
Como água transformada em tinto vinho
Propulsionando o sangue em minhas veias,
No instante em que dominas, incendeias
E o abrasador verão toma o caminho.
E tudo se transmuda de mansinho,
No mar feito em calor que tu anseias
Vislumbro a magnitude de sereias
Fazendo do meu peito, lar e ninho.
Das lágrimas de outrora, resta o nada
Sorriso se esparrama pelas sendas,
Florindo de esperanças, cada trilha.
E ao ver assim tão bela a minha estrada,
Segredos mais recônditos; desvendas,
E após a tempestade, o sol rebrilha...
72
Como a floresta densa, impenetrável,
Meu coração vivera tanto tempo.
Temendo o sofrimento interminável
Do amor, este difícil contratempo...
Assim também seguia em sofrimento
Pela saudade fria do vazio.
Não conheci sequer nenhum momento
Da bela primavera ou dum estio...
Hoje entre os ramos mansos desta flor
Conheço a primavera, sei do orvalho,
Vivendo plenamente o nosso amor,
Na solidez hercúlea do carvalho.
Tingindo esta floresta de outras cores
Aprendo a conhecer frutos e flores...
73
Como a criança sofre com os medos
Noturnos pesadelos, tempestades.
Por mais que intensamente, agora brades,
Jamais decifrarás velhos segredos.
As mãos que não conhecem mais seus dedos,
Atados sem direito às liberdades,
Jogados em gaiolas, frias grades,
Alheios aos outrora bons enredos
A força que decepa as ilusões,
Aos poucos em temíveis turbilhões
Invadem minha noite, e sigo insone.
A angústia de saber que tu partiste,
Irônica esperança segue em riste,
Revive num tocar do telefone...
74
Comigo eu sempre quero esta presença
Que é acalentadora, com certeza.
Não há no mundo luta que não vença
Um coração que viva em tal beleza.
Mulher maravilhosa, a recompensa
De todo o meu passado em vil tristeza
Sentindo tal ternura sempre imensa
A vida em calmaria e com leveza.
Decerto ao te saber, felicidade
Nas mãos tão delicadas de quem amo
Teu nome pelas sendas sempre chamo
Nas águas mansas vejo a claridade
Do amor que nos redime e nos liberta
Trazendo tanta paz, em hora incerta...
Marcos Loures
75
Cometo os meus enganos quando vejo
Reproduzida a foto do meu sonho,
Caleidoscópio vago aonde ponho
Metáforas em forma de desejo.
Se em cada verso, um riso inda porejo
Talvez tente encobrir o sol medonho,
Tacanho sentimento que, bisonho,
Escarifica aos poucos medo e pejo.
Arcaico- na verdade eu sou jurássico,
Fingindo ter um tom por vezes clássico
Logro a fragilidade, a mimetizo.
Metamorfoseando, sou patético,
No fundo movediço, poso eclético
Tentando me esconder, vago e impreciso...
Marcos Loures
76
Cometa que tão ágil nunca espera,
Que foge se não dermos atenção,
Espreita trama o bote, louca fera,
A louca e desvairada inspiração...
É tanto traiçoeira quanto ingrata
Perfura mansamente e me derrete
Revólver que se atira, cura e mata,
depois que já se foi, nunca repete...
Escravos desta deusa, nós, poetas,
Vivemos tantas vezes tão cativos
Dos deuses dos amores com as setas
Das tontas loucas musas mortos vivos.
Estou tão embrenhado em suas garras
Inspiração me explica, como agarras?
77
Cometa que me guia, o bem do amor
Permite que eu conceba em alegria,
Palavra que em constância já me guia
Cevando mansamente a bela flor
Roubada da emoção em gozo e dor.
No coração mineiro, uma sangria
Que aos poucos se tornando hemorragia
Da rosa dos meus sonhos muda a cor.
Tu és e não percebes a tal rosa
Que torna a vida bela em fabulosa
Manhã enrubescida pelo sol.
Um trovador que encontra tal beleza,
Usando a poesia quer e preza.
Dos raios que me emanas, girassol...
78
Cometa navegando por espaços
Distantes coletando cada lume,
Na bruma dos meus olhos teu perfume
Estende-se em perfeitos, doces laços.
Os sonhos mesmo audazes e devassos,
Contemporizam todo vão queixume.
O passo tendo amor que cedo aprume
Perdoa os erros tolos, simples, crassos.
Eu vergo sob o peso deste encanto
Que marca a poesia de quem ama,
Espalha-se a delícia em cada rama
Tomando este cenário canto a canto.
Estrela que se deu eternamente
Raiando em maravilha, enfim luzente...
Marcos Loures
79
Comerciais, meus versos? Me perdoe,
Alguém roubou, decerto, a minha grana,
Não ganho nem centavo por semana,
Por mais que a poesia ainda ecoe.
Não digo que a palavra amor é chata
Além de ser sutil ela é bacana,
O Chico com o Tom, dupla sacana,
Quando escreveu “Eu Te Amo” te maltrata?
“Eu sei que vou te amar”, meu poetinha
Foi feito pro Vinicius ficar rico?
Camões com tanto amor, pediu penico?
Ou fez o que bem quis ou que convinha?
Vendendo assim meu peixe Predileto;
E sem fazer miché, faço SONETO!
Marcos Loures
80
Comendo no teu corpo a sobremesa
Eu quero ser eterno comensal.
Sabendo quanto é boa esta surpresa
Prazeres escondidos no bornal.
Depois ao perceber tanta beleza
Eu faço o meu retorno triunfal.
O amor é ritual, assim professo
Meus credos, minhas preces, orações.
Virando a minha vida pelo avesso,
Nos versos eu declaro tais paixões.
Aos braços deste encanto eu me arremesso
E deixo vir incêndios aos milhões.
Tristeza se guardando na masmorra,
Não tendo quem escute nem socorra...
Marcos Loures
81
Comendo este feijão feito um tropeiro
Sonhando com os beijos da morena.
O velho coração de um carreteiro
Durante a tempestade mata a cena.
Enquanto a realidade vem e empena
A morte traz no medo, o mensageiro,
Que venha sem decurso, em paz, serena,
Porém jamais de um jeito assim ligeiro.
Pardal que sempre quis ser curió,
Caminho sobre pedras e vou só,
Apesar dos temores, sigo em frente.
Querendo o teu querer, mas não me queres,
Bendita maravilha entre as mulheres.
No colo desta serra em gozo ardente...
82
Comendo doces uvas, me inebrio
Dos vinho que vislumbro num vinhedo
Na adega devagar eu principio,
A descobrir as chaves, o segredo.
Matando minha sede, encontro o fio
E vago embriagado neste enredo.
Agora a minha vida em puro estio,
Não quer fugir jamais deste degredo...
Nos favos tão melíferos, licores,
Os rios aumentando os seus caudais,
Eu quero lambuzar-me muito mais
E ter em profusão os mil sabores
Dos vinhos, méis e rios sensuais,
Em gozos e prazeres sedutores...
Marcos Loures
83
Comendo do banquete que me dás,
Teu corpo desejoso e tão gostoso
Certeza de que amor demais nos traz
A sobremesa doce feita em gozo.
Bebendo cada gota desta fonte
Que vem da grota bela, delicada.
Lambendo tuas pernas, seios, monte,
Deixando tua gruta bem molhada.
Recebo o teu prazer em minha boca,
E gota a gota seco com vontade
Ouvindo-te gritar, gemer, tão louca,
Até que chegue enfim, saciedade.
Vem logo que eu te quero, intenso cio,
Rodando a noite inteira, um calafrio...
84
Comendas que deformam a verdade,
São dadas sem saber nem porque e como...
São livros que não prestam, mero tomo...
São coisas que não deixam nem saudade...
São pântanos que fingem claridade,
De prata nada têm, somente cromo...
Fingidas tais comendas são embromo,
Estão distantes dessa realidade...
Comendas encomendas e mentiras.
Disfarces de quem nunca soube nada...
As balas reprimendas que me atiras
Raspando passam, deixam a certeza...
Dos crimes que cometes, madrugada,
Das mortes que carregas, da tristeza...
Marcos Loures
85
Comemorar o teu aniversário
É como traduzir felicidade.
Além do que parece necessário
Eu faço destes versos de amizade
Um mundo onde não seja temerário
Viver em santa paz; tranqüilidade.
Amor já reconhece itinerário
E busca no teu peito a liberdade.
Vivendo em harmonia, com certeza,
Deixando sempre em paz a natureza
Percebo a raridade da pessoa
Que faz a nossa festa, pois resiste,
Não deixando, decerto ninguém triste,
A vida vai levando, numa boa...
86
Começaria tudo novamente
Se fosse necessário, meu amor.
A vida vai rodando em minha mente,
No canto, riso e dança, sedutor.
Em minhas mãos, teu corpo tão febril,
A cuba libre; o sonho que nos resta,
Teu corpo delicado e mais gentil,
A música tocada pela orquestra...
Uma certeza imensa de um futuro
Melhor a cada dia, eternidade.
Olhar pra trás e ver amor tão puro
O coração vibrando sem parar
Mostrando com firmeza esta vontade,
De sempre, meu amor, recomeçar...
HOMENAGEM AO GRANDE GONZAGUINHA
87
Combinação perfeita que se deu
Há tempos concebida sem remédio.
Do quanto que eu te quero; sonho meu,
A sorte vem fazendo manso assédio.
Sem tédio nem ressaltos, passo firme,
Cruzando todo o céu, vago cometa.
A cada novo enquanto que se afirme
Vigora cada gozo que eu cometa.
A nave vai seguindo sem tremores,
Diversas emoções riso sincero.
No céu feito em mosaicos multicores
O todo que desejo e sempre espero.
Na madeira de lei do pensamento,
Nosso amor estradeiro, solto ao vento...
Marcos Loures
88
Comadre, puxe o banco e sente aqui,
Cevemos este amargo com carinhos.
O amor ao descobrir nossos caminhos
Permite que me encontre junto a ti.
Por vezes tantas dores que senti
Causando no meu peito burburinhos,
Enquanto nos deixava mais sozinhos,
Depressa então, o amor eu descobri.
São guapas as estradas que traçamos
No meio das coxilhas, pelos campos.
Aos brilhos da esperança, pirilampos
Dos quais, por solidão, nós nos guiamos
Até chegar ao fim da nossa senda
No amor que da amizade se desvenda...
Marcos Loures
89
Com uma lupa busco a liberdade,
Mas macabras figuras aparecem,
Enquanto fantasias já se tecem
O túnel se escondeu sem claridade.
Mecânica palavra diz verdade,
Nem versos só reveses que me engessem,
E mesmo que as lembranças não regressem
O barco se perdeu, sem qualidade.
Deidade disfarçada em falsa cena,
Não quero mais genérico, tampouco
Desfilo este fantasma, pois é pouco
O quanto se fez tanto, a dor empena.
Milagre avinagrado azeda tudo,
Porém como imbecil, também ajudo...
90
Com tua voz amiga, suave e franca
Me dizes o bom dia que eu sonhara.
A noite que passara toda branca
Perfeita sensação divina e cara,
Que a vida que queremos nunca estanca
O rio de desejo em que se ampara.
Aberta a tua porta, escancarada,
Deixando cada rastro bem marcado,
A rosa que plantamos, encarnada,
No olhar que me deixaste,apaixonado.
Depois de tanto quase tive nada
O resto, no teu peito preservado.
No quanto que queria me perdi,
O bem que sempre quis, estava em ti...
91
Com todo o meu carinho te proponho
Vivenciar a dor que é feita em gozo,
Destino muitas vezes caprichoso
Matando desde então desejo e sonho.
Se a vida se transborda em mar medonho,
Se o dia nascerá maravilhoso.
O velho caminheiro que andrajoso
Percorre a longa estrada tão tristonho
Não sabe recolher as flores tantas
Que espalhas pela senda em majestade,
Se eu bebo até fartar felicidade
Bem sei que com ternura sempre encantas,
E quando te decifro e sei de ti,
A paz do paraíso eu conheci...
92
Com toda paciência deste mundo
Construí meu barraco na favela,
Pra moça mais bonita e mais singela,
Porém o coração é vagabundo...
Do quanto desejei amor profundo
Que nem a poesia mais revela,
Sabendo da morena, flor tão bela,
Não deixo de sofrer um só segundo...
Ouvindo, na vitrola, o bom Waldick,
Saudade arrebentando cais e dique,
Exposto ao vendaval da penitência
Tentando imaginar dia bonito,
Meu amigo poeta, eu exercito
Sem ter nenhum descanso, a paciência...
93
Com toda magnitude arquitetônica
Os templos dedicados ao amor,
Nos sons de uma aventura supersônica
Nas hostes desta luta sem temor.
Numa emoção divina quase harmônica
O gosto do prazer, semi-torpor
Na beleza sem par, lua nipônica
Mil versos desejosos te compor...
Decifro teus mistérios e segredos,
Teu canto sem igual sempre alucina.
Eu quero me compor em teus enredos.
Na bela flor de lótus mergulhar
Trazendo para mim, essa menina
Que bem cedo aprendi a tanto amar!
94
Com sua vestimenta prateada,
Seguindo todo passo que perfaço.
Deitando sobre a relva luz sagrada,
Regando meu amor em fino traço.
Desertos envolvidos nos seus lumes,
Renascem em belezas transbordantes.
As flores se embriagam; bons perfumes,
Invadem nossos sonhos, deslumbrantes.
Ao ver essa beleza sem ter par,
Ao ver a claridade feita em sonho;
Desejos tão profundos de te amar,
Um mundo tão em paz, eu te proponho...
Teu rosto refletido em pura prata,
Na lua, transformada em serenata...
95
Com sede nestas noites mais febris
Buscando o teu agreste gosto e gozo.
Balanças tentadora teus quadris
Libertas minha fera. É tão gostoso
Vontade de chegar e pedir bis
Querer cada momento mavioso
Eu sei que se quiseres sou feliz
Senão o que fazer? Sofrer choroso?
Teus beijos me apontando ao infinito
São festas prometidas mas não dadas.
Teu nome nas estrelas foi escrito
Por olhos desejosos e sedentos.
As pernas caçam pernas enredadas
Aumentam as tensões teus movimentos...
96
Com rosto imerso em lágrimas de amor;
Rechaçando qualquer toque do carinho.
Vivendo sem ter ganas, sonho ou cor.
Rasgado pelo toque deste espinho.
Remontam tantas asas do passado,
Onde restara cego, em vil tormento;
O peito vai vazio e tão calado,
Queimando meu amor em fogo lento.
Ralando o coração nesta saudade,
Estrias dentro da alma pululando.
Buscando me escapar da realidade,
Depois de tanto tempo, assim, sangrando.
Eu vejo o teu olhar, meu caro amigo,
Sentindo em tua força o meu abrigo...
97
Com quem o pensamento sempre alinho
Traz sempre uma certeza de esperança;
Cansado de lutar e estar sozinho,
Convido minha amiga para a dança
Tomemos, com certeza um doce vinho,
Brindemos, pois assim, uma aliança.
Quem vive neste mundo com carinho,
Futuro mais feliz, por certo alcança.
Assim, neste poder de uma amizade,
Fazemos nosso canto benfazejo,
A sorte que me trazes, eu desejo,
E peço a Deus que dê a claridade
Bastante pra seguires sempre assim,
Amiga, irei contigo até o fim...
Marcos Loures
98
Com quantos paus se faz uma canoa?
A gente vai tentando ser feliz
Pensando estar agora numa boa,
Depois que a casa cai, o quê que eu fiz?
A chuva de mansinho, uma garoa,
Ao poucos vai molhando e por um triz
Minha casa virando uma lagoa
Fugir pro outro lugar, te juro, eu quis.
Assim no nosso amor feito Colgate
Sorrisos de mentira, falsidade,
A tua traição, triste arremate
Embora coerente esta atitude.
Quem vive de ilusão, eis a verdade
Pensando num banquete come um grude...
Marcos Loures
99
Com paixão tão insana, nós singramos
Na cama em rebeldia, insensatez.
E logo que pudemos, entregamos
Os corpos sem saber de lucidez.
Nos templos mais profanos adentramos
Buscando cada altar, por sua vez.
Depois numa avalanche mergulhamos
Atados para sempre, sem talvez.
Em loucas convulsões, êxtase pleno.
Fizemos moradia no infinito
Fazendo deste amor, um gozo em rito.
Bebendo da loucura tal veneno,
Que invade nos causando a sensação
De um terremoto feito em explosão...
4200
Com os botes tristonhos da saudade,
Procurei por teus olhos minha amada...
Meu caminho de pedra e vaidade...
A voz que solto vai desesperada...
Como posso saber felicidade?
Não tenho rumo, nunca tive nada...
Te procurei por toda essa cidade...
Não te achei! Minha vida anda cansada!!!
Mas, pensando melhor, não vou sofrer!
Preciso descobrir o meu caminho...
Não quero viver vida tão vazia!
Eu vou procurar novo bem querer...
Não quero mais seguir tão sozinho!
Noutro bote, fazer a travessia!
4201
Converto cada verso num verão
Que os olhos não verão amor jamais
Há mais do que talvez uma versão
Versando sobre mares mata o cais.
Casebres entre as sebes do sertão
Ser tanto quanto eu quis e nunca mais,
Quermesses e promessas negação
Ação que em reação fere demais.
Embaralhando os passos, lassos laços
Nos aços dos punhais os teus olhares
Arejas nas arestas feitas braços
Cadarços desamarras no tropeço
Se impedes o que peço teus luares
São mais do que pretendo e até mereço...
Marcos Loure
2
Convertes nas veredas tropicais,
Os sonhos que tiveram nossos pais.
Barqueiro que jamais esquece o cais,
Velejas seus veleiros, pedes paz...
A morte não percebe e tanto faz,
Amar quem já amei, penei demais..
Carpidas tantas mortes, imorais,
Mentias quando vias seus sinais...
Os olhos que não cegam pedem mais;
América procura ser capaz,
Os rios que perdi mananciais,
Os medos que causaste vis, boçais.
Os trastes que legaste são portais
O continente, nova vida traz...
Marcos Loures
3
Conversa sempre assim mal resolvida
Depois de tanto tempo gera o nada.
A noite vai passando e na calada
Escuto esta mentira repetida.
A farsa se entranhando em nossa vida,
Derruba com certeza alguma escada,
Jogando o sentimento na calçada
Encontra a velha paz tão distraída.
Amor necessitando de um apronto
Esclarecendo tudo ponto a ponto,
Senão sinto apagar-se a velha chama
No amor que já se fez mal entendido
O dia com certeza é mais comprido,
Deitando a solidão em minha cama.
Marcos Loures
4
Convenço-me; decerto eu tenho sorte
Perene sensação de medo apóia
O fato de saber distante a jóia
Que um dia me trará profana morte.
Sereia que se nega ao manso corte,
Regressa e como fosse paranóia,
Minha alma transparente não mais bóia
E encontra no vazio quem suporte.
Brincando com a lúdica esperança
Amarga-se a ventura de não ser,
O vértice dos sonhos não se alcança
Somente por talvez ainda crer
No quando que não veio nem virá,
O amor procuro aqui, ei-lo acolá...
Marcos Loures
5
Conturba enquanto acalma toda a gente
O corte tão suave da navalha
O fogo que se mostra de repente
Num momento maior assim se espalha.
Não vendo sequer credo, cor ou raça
Amor é tempestade redentora.
Vigia enquanto toma toda a praça
Felicidade intensa e sofredora.
Algoz que amaciando nos domina,
Estrela desabada em noite escura;
Transborda em mar imenso a calma mina,
Amaciando a pedra outrora dura.
Amor sem ter juízo, em sanidade
Permite que se mude a humanidade...
Marcos Loures
6
Contrariando toda previsão
Que há tempos se mostrou desfavorável,
O solo com certeza mais arável
Permitirá divina plantação.
Amor que se traduz em plena ação
Não deixa algum segredo inviolável,
O certo sobrepõe-se ao improvável
E a gente bebe o manso ribeirão.
Cardumes seguem líderes, eu sei,
Por isso é que te sigo em toda grei
Estrela sedutora que me guia.
Acordo de manhã e te procuro,
E mesmo que eu encontre algum apuro
Depuro o coração com poesia...
7
Contorno de teus lábios sobre mim
Marcando com batom, a minha tez.
Delícia de viver amor sem fim,
Tatuado por total insensatez
A marca de teu beijo, carmesim,
Mostrando quanto amor a gente fez
A vida inteira imersa num festim,
Lembrado com carinho em toda vez
A marca de teus lábios representa
A rota de um amor sem ter limites.
Amor que não aceita mais palpites
Paixão que nos tomou, tão violenta.
Minha alma desejosa assim flutua
E beija a tua pele, inteira... nua.
Marcos Loures
8
Contorno com meus sonhos o infinito
E chego, finalmente aos braços teus,
Depois de tanto tempo, em frio adeus
O amor se renovando, agora eu fito.
Da dura compleição deste granito
Que um dia se mostrou nos olhos meus,
Na crença da existência deste Deus
Na força deste encanto eu acredito.
E vivo tão somente por poder
Saber que existe em ti tanto prazer,
A Musa dos meus versos, minha amada.
Aos céus vou galopando num segundo,
Raiando em teu olhar, o amor profundo,
Ao Éden desejado, rumo e escada...
Marcos Loures
10
Contigo, amor, irei onde quiseres,
Teus passos seguirei por toda a vida.
Persigo assim teus rastros, caracteres,
Pois sei que decifrei sorte perdida.
Aguardo-te do jeito que vieres,
Pra sempre tu serás bem recebida,
Não sabes quanto quero o teu querer?
Não sabes que não vivo mais sem ti?
Momentos tão fogosos de prazer
Contigo, minha amada eu conheci.
Não posso mais pensar sequer viver
Sem ter tua presença sempre aqui.
Vivamos nossos dias sem temores
Tomando em nossos corpos, bons licores...
11
Contigo seguirei para onde fores,
Embora continues tão distante,
O final se aproxima ao mesmo instante
Deixando entre seus passos, mil horrores.
Pudesse amenizar as minhas dores,
Procuro na gaveta algum calmante,
Por mais que a tempestade se agigante,
Ainda teimo em campos, perco as flores...
Nas mágoas que carrego, esqueço as rosas,
Que outrora imaginara tão viçosas
E agora, vão murchando no jardim.
A angústia me entorpece e me alivia,
Na morte vejo a paz e a noite fria
Espalha seus granizos sobre mim...
12
Contigo pelas praias do desejo,
Espero a chuva mansa e num respingo
Beber a maravilha de teu beijo,
Das dores do passado assim me vingo.
O mar em mansas ondas nos tocando,
Ouvindo este marulho, uma alegria,
Andorinhas desfilam, vão em bando,
Numa esperança igual, amor nos guia.
Mãos dadas, olhos fixos no futuro,
Dois pássaros libertos da gaiola,
Não temem mais o céu, mesmo que escuro,
Minha alma junto a ti, quer e decola
Chegando ao farto brilho no arrebol,
Reflexos delirantes deste sol...
13
Contigo partirei buscando sendas,
Nos campos, nas estradas, nas procelas.
Meus olhos não suportam tantas vendas,
A vida escapará de tantas celas...
Contigo partirei, por novas lendas,
Nas noites que sonhamos, todas belas...
No frio do deserto, velhas tendas,
Nas rosas que plantamos, amarelas...
Contigo partirei minha querida,
Percorro procurando nossa vida...
Retiro tantas urzes do caminho...
Abraço a fera noite que me veste,
Contigo partirei d’onde vieste,
Contigo nunca mais serei sozinho!
14
Contigo irei por onde caminhares
Trilhando as mesmas sendas, ermos prados.
Os passos não serão desencontrados.
Por todos os destinos e lugares.
Profana serventia em lupanares
Dos sonhos que vivemos com bons grados
E mesmo quando inúteis, fenestrados,
Os tetos entre lumes, constelares...
A noite que sombria, sempre traz
O vento da agonia; insegurança,
Teu rosto em harmonia e temperança
Numa expressão pacífica é capaz
De dar o lenitivo necessário,
Vencendo um pesadelo temerário...
Marcos Loures
15
Contigo eu tenho tudo o que bem quis,
Um velho trovador escuta a voz
Do amor que se mostrando dentro em nós
Transforma este marujo em aprendiz.
Grumete da esperança, eu sou feliz
Mesmo sabendo ser amor algoz
Retiro dos meus olhos ledos pós
Esqueço a mais temida cicatriz.
Maturidade traz experiência?
Eterna juventude não se cansa
Fazendo rebrotar a mocidade.
Por mais que alguém traduza por demência
O amor se renovando em confiança
Permite perceber felicidade...
Marcos Loures
16
Contigo eu estarei a cada verso,
Nos sonhos que te embalam, fantasias.
Por mais que o mundo seja vil, perverso,
Eu dourarei teus passos, alquimias...
Derramas no infinito do universo
O brilho das sublimes poesias,
Unindo sentimentos tão dispersos
Encanto incomparável, sempre crias...
Amor que engrandecendo, me agiganta
Vontade de te ter, querida, é tanta
Que nada impedirá, tenha a certeza.
O passo decidido, vou em frente,
Na fonte deste amor, onipotente
Trazendo todo encanto que se preza...
Marcos Loures
17
Contigo eu consegui tudo o que quis
Um velho caminheiro, outrora triste,
O amor; agora sinto que persiste
Mudando um velho céu, novo matiz.
Quem sempre se julgara por um triz
Percebe que esperança inda resiste
No amor que eu encontrei e sei que existe
Em cada novo dia, peço bis.
Vestindo meu sorriso nos meus lábios,
Os sentimentos magos, doces, sábios,
Fagulham e latejam, coração.
Qual fora uma verdade que ocultasse
A vida não permite mais disfarce
Rondando toda noite, em sedução...
18
Contigo eu aprendi como viver,
Depois de tropeçar em tantos erros,
Vislumbro o mais sublime amanhecer
No sol que surge sobre os altos cerros,
Erguendo o meu olhar eu posso ver
Aprisionadas dores, firmes ferros.
No aço do punhal que me ferira,
Há tempos esquecido sobre a mesa.
O amor acende em fúria, eterna pira
Deixando para outrem qualquer tristeza.
A terra em carrossel, não pára e gira
Mudando o rumo desta correnteza
Sabendo neste amor, a direção,
Enfrento com destreza, o furacão.
Marcos Loures
19
Contigo debruçando em lua bela,
Nos raios de luar já nos banhando
Seguindo o teu desejo, guia/estrela;
Sentindo esta vontade anunciando
O fogo da paixão que se revela
Despindo, bem sabendo aonde e quando
Puder ter a loucura que se atrela
Em nossas noites tesas, nos guiando...
A boca te sugando se completa
Nos lábios mais audazes e gostosos,
Tua nudez se mostra mais dileta
Rainha dos desejos prazerosos,
E a natureza em festa se repleta
Em convulsões, delírios, nossos gozos...
20
Contigo a vida inteira, ficar junto,
É disso que eu preciso e te asseguro,
Não tenho em minha vida, novo assunto,
Vivendo o nosso amor, sincero e puro.
Escuros que deixei há tanto tempo
Decerto descaminhos conhecidos.
Dispenso com franqueza o contratempo,
Em paz os meus algozes convertidos.
Extremas ilusão tanto maltratam
Enquanto a realidade é sempre crua.
Porém os sentimentos se resgatam
E a vida, sem remédios, continua.
Não quero em nosso amor mais ingerências
Já basta de torturas, penitências...
Marcos Loures
21
Contigo a vida ganha novo viço,
Encontro finalmente o que buscava.
O amor interminável que eu cobiço
Não sabe em seu caminho, qualquer trava.
Em plena liberdade, prosseguimos,
Sem nada que nos cale, nem impeça.
Timões dos nossos barcos; conseguimos
Trazer na mesma rota, peça a peça.
Alvissareiro sonho que desfruto
A cada novo dia, mais te quero,
Bendito seja sempre o caro fruto
No amor que em minha vida é bom tempero.
Sabendo dos janeiros que passamos,
Libertos, sem grilhões, senões ou amos.
Marcos Loures
22
Conterrânea de Uberaba
Dos teus versos eu sou fã,
A saudade não desaba
E renasce de manhã
No palacete ou na taba,
Renovando o seu afã,
Feito bicho de goiaba
Com vontade de maçã.
Coração mineiro tem
O tamanho deste trem
Que sempre, à tardinha sai,
Mensageira da esperança
Nos teus versos com pujança
O meu peito grita : UAI...
Marcos Loures
23
Contente deste amor que o peito abriga
Em meio a tantas luzes que passamos.
Querida, me permita, então que diga,
Do quanto que vivemos, nos amamos...
Não tenha mais o medo que impedia
Os passos que precisas conhecer.
E venha, vamos juntos para o dia
Que teima e necessita amanhecer.
Não vejo que tua alma se acovarda
Entendo teus momentos sem coragem,
A noite que virá inda se tarda
Podemos começar nossa viagem.
Eu sei dessas amarras, não reclamo,
Aos poucos vou dizendo que eu te amo!
24
Contendo todo amor que outrora eu quis
Senhora dos meus sonhos, amante amiga,
Do medo não restou nem cicatriz,
Ausência não passou de mera intriga.
O tempo de sonhar se faz agora,
Coletando as estrelas mais distantes
O quanto em maravilha se decora
Fazendo das tristezas vis farsantes.
Bem antes do que tenho em alegria,
Andara pela vida, simplesmente,
Ao ter bem junto a ti vital magia
Felicidade plena se pressente.
Vivendo com certeza, raras glórias.
Arcando com meus erros e vitórias.
25
Contendo em minhas mãos esta esperança
Menina bem travessa faz a festa,
O quanto que eu já tive, a vida gesta
Deixando o bom sabor de uma festança.
Uma esperança a mais amor alcança
E adentra qualquer pântano ou floresta
Loucuras de prazer, amor atesta
E a noite se permite vir mais mansa.
Joguete dos sentidos, riso e pranto,
Do quanto necessito, eu não me espanto
Escravo consciente da paixão.
Na força imorredoura deste sonho,
A cada novo verso eu te proponho
Fartura de esperança e de emoção.
Marcos Loures
26
Contemporâneo como uma vitrola,
O velho coração de um trovador;
A faca que tão velha não se amola,
Jardim que, sem adubo, mata a flor.
Guardando as ilusões nesta sacola,
O vento nunca esteve ao meu favor,
Desejo de sonhar, o tempo imola,
E nada restará. Nem vou propor.
Seria o verso tolo de um poeta,
O inerte companheiro de viagem.
O quanto a fantasia me completa
Servindo como encosto, inda me guia,
Por mais que as esperanças não me trajem
Componho este fantasma em alegria..
Marcos Loures
27
Contemplo o teu olhar, e vejo o brilho
Do sol que sempre estampas num momento.
Vencendo toda a dor e o sofrimento,
Percorro em santa noite, um doce trilho.
A vida disparando o seu gatilho
Nesta paixão que entorna em sentimento,
Deixando para trás, ressentimento,
Embrenho em teu olhar sem empecilho.
Não falte para nós amor e sonho,
Em versos dedicados, sempre ponho
Meu barco nos teus mares, meu destino.
Depois de certo tempo, sem domínio,
Vivendo loucamente tal fascínio,
Refaço a mocidade, sou menino...
Marcos Loures
28
Contemplando-te esqueço de querer
A mim mesmo me perdendo em tal beleza
Que faz todo o sentido se perder
Nos braços de quem fora, com certeza
Aquela que deu gosto ao meu viver
Matando qualquer fonte de tristeza..
Não tenho mais palavras, minha amada
Tu és tudo o que quis sempre na vida.
Ao sentir os teus passos nesta escada
Percebo que esta sorte resolvida
Dará numa manhã, nova alvorada
Depois da noite imersa, e sem saída...
A nau que no teu corpo encontra o mar,
Agora pode, livre, navegar...
29
Contêm os paraísos que eu alcanço,
Teus olhos radiantes e estelares.
E neles garantia de um remanso
Depois de vagar só por tantos bares.
O coração batendo bem mais manso
Encontra refletido nos luares
O brilho deste sonho em que descanso
Sabendo benfazejos tais altares.
Na mansidão imensa deste lago
Amor preconizando cada afago
Permite que eu me entregue, prisioneiro.
Se à sombra deste sonho amada eu vivo,
Eu quero ser do amor sempre cativo
Sentindo este prazer mais verdadeiro.
Marcos Loures
30
Contando na chegada, com teus braços
Do que já fora outrora um vago esboço
Fortalecendo a vida em novos traços
Permite que se veja tal colosso.
Nas sendas delicadas do porvir,
Ao pressupor assim real grandeza
Sem nada que me impeça de seguir
A vida descortina a fortaleza
Que toma a nossa vida e brilhará
Certeza que se mostra sem igual,
Permite que se sonhe desde já
Prazer de intensidade magistral.
Dourando de esperança esta amplidão,
Amor já pressupõe libertação.
Marcos Loures
31
Contagem regressiva para o fim,
Apenas uns minutos e termina.
Restando alguns momentos para mim.
Cuspindo e gargalhando, velha sina
De quem há tanto tempo quis assim.
A mão que se fez podre me alucina
Prefiro que isto tudo chegue enfim.
A mente sem limites rebobina
Um backup cansativo e sem proveito.
Lançando um vago olhar sobre o meu leito
A merda em que vivi se refletindo
Nos farrapos expostos no colchão,
Quem nasceu e viveu seu tempo em vão,
Em liberdade, enfim, vai se esvaindo...
32
Construo para os céus, enorme escada,
E sei de cada abismo que me espera.
Apascentando assim terrível fera,
O jeito é refazer a caminhada
Que leva inutilmente ao mesmo nada,
Secando qualquer fonte/primavera,
A casa que sonhei virou tapera
E a moça do sorriso, desdentada.
Enquanto a procissão já serpenteia,
A lua que pensara ser tão cheia,
Não passa de um riscado mal traçado.
Chegar ao fim da vida deste jeito,
Amigo? O que me resta não aceito,
E insiste em caminhar sempre ao meu lado...
34
Constelação perdida em plena imensidão,
Esquecida no céu, carrega tantas luas...
O meu olhar vazio imerso na amplidão,
Buscando por alguém: tolas lembranças tuas...
Noctâmbulo desejo, andante coração,
Mulheres que eu amei, imagens belas, nuas...
A noite se demora, alma, constelação...
Meu pensamento voa... Amada... Já flutuas...
Na seara florida, as pétalas da rosa...
Nos campos, o brilho... A lua, mansa, chama.
Abre seus braços... Louca, a lua vaidosa,
Prateada e tão bonita, esconde o triste breu...
Noturna sinfonia, arde, me queima, inflama.
Pobre constelação esquecida, sou eu...
Marcos Loures
35
Consorte, uma princesa assim pensava,
O mundo não seria montaria...
A sorte que por certo imaginava,
Jamais ela deixou romper o dia...
No fundo, das histórias que sonhava,
A vida era sonora melodia.
Mas pobre da princesa, se calava
Diante de qualquer tonta magia...
De fadas, seu castelo, abandonado.
A sorte quiçá nunca mais se chega.
A Fera que pensava fosse um fardo,
Era, em verdade, sua companheira...
A vida que pensava brincadeira,
Ebúrnea e agourenta, negra pega...
Marcos Loures
36
Conservo o teu perfume extasiante,
O cheiro desta pela que me atrai.
Rolando em nossa cama, delirante,
Meu pensamento voa, inda me trai.
Eu vejo esta beleza alucinante
Em cada verso meu. A noite cai.
Não deixo de pensar um só instante,
De ti restou apenas um bonsai
Deixado nesta sala da ilusão,
Como um retrato vivo deste amor
Que foi a perdição e salvação.
Mas amo-te eterna e mansamente
Estás dentro de mim. Nenhum temor
Impede que eu te chame, novamente...
37
Conquistar teu amor! Meu mais dileto feito...
Andavas toda nua em um sonho divino.
Guardadas no meu peito, as ânsias dum menino.
O mundo em harmonia, amor mais que perfeito!
Pensava que era Deus; a deusa no meu leito...
A noite em fantasia, o riso em desatino...
Na tua boca o gozo... Em sonho me alucino!
Não tinha nem sequer a sombra de um defeito.
Porém, a vida ensina a quem nunca cultiva.
A chaga que te mostro, exposta em carne viva,
Demonstra que fui tolo agindo sem pensar.
Perdi a quem amava, a quem eu tanto quis,
Minha alma se transtorna, estou tão infeliz...
Amor que conquistei, não soube conservar!
38
Conquanto tenho tido tanto alento
Nos braços de quem muito amor me guarda.
A vida se transforma e o pensamento
Nos traz a noite imensa. Visto a farda
Do sonhador constante, num momento;
Por mais que a solidão, deveras, arda;
Encontro em teu carinho meu sustento.
Amor quando é demais, mesmo que tarda
Trará a solução para os problemas.
Não deixe que emoção nunca se extinga,
Amor, o meu tesouro em ricas gemas.
Fazendo de meu sonho a doce lavra
Plantando uma ilusão que nos respinga
No verso, na canção e na palavra...
39
Conluio de vontades sensuais,
Flutuas nos desejos mais audazes,
Enquanto em fogo intenso, amores trazes
Eu quero desfrutá-los, sempre mais.
As horas que passamos, nunca iguais
Momentos de ternura, mas vorazes
Eu sei que, satisfeita, satisfazes,
Delírios sem limites, canibais.
Troféus nesta bailado inesquecível
Intensos fogaréus, céus alcançados.
As línguas vão servindo como arados
Além do que pensara ser possível,
O amor ensandecido não sossega
E estrelas entre as pernas sonha e pega...
Marcos Loures
40
Conheço uma doutora, lá de Iúna
Que deixa todo mundo boquiaberto,
Nos versos o encanto da graúna,
Que bom que mora bem aqui por perto...
Eu fico bem Alegre em te dizer;
Amiga nos teus versos tal beleza
Que nos dá sempre vontade de viver
Acabam com a dor e com tristeza.
Aqui todos conhecem a dentista
Que trata com carinho e paciência,
Também já reconhecem esta artista
Que tem, na poesia, competência...
Tirando-lhe o chapéu não me domino,
Mil vivas para Karla Leopoldino!
Para Karla Leopoldino,
grande odont
óloga e poetisa
41
Conheci-te, por certo, em outras eras...
Andávamos dispersos pelo mundo.
Perdidos conhecendo tais quimeras
Que tornam nosso amor cão vagabundo...
Expostos, conhecemos tantas feras...
Turbilhão miserável, giramundo...
Nos palácios, mansões, grutas, taperas
Rodamos universos... Eu me inundo
Do destino cruel que nos separa.
A rosa que plantamos nos jardins,
Em outras terras surge, rosa rara...
Os anjos que escutamos, querubins...
As horas que passamos tristes fins.
Na noite que dormimos sós nevara!
42
Conheci num verão, u’a moça forte,
Dentes e seios rijos, camponesa...
Minha vida era triste, sem ter norte,
Mas nada reparei, sequer beleza...
Os seus olhos castanhos, belo porte;
Sorria, mansamente, sem tristeza.
Estrada me levou, profundo corte;
As curvas dessa vida, luz acesa.
Parti para Sergipe, Propiá,
Muitos anos fiquei por lá;
A moça adormecida na lembrança ...
N’outro dia sonhei com tal morena...
A campesina bela e tão pequena...
Me lembrei do seu nome; era Esperança!
43
Conheces meus defeitos, mesmo assim
Não me deixaste só na tempestade.
Por mais que me encontraste já no fim
Fizeste bem valer nossa amizade...
Depois de tanta dor, encontro, enfim,
A tão ansiada vida em liberdade...
Perdido neste mundo, num confim,
Recebo em teu calor, sinceridade...
Amigo não se encontra por aí
São pérolas tão raras, disso eu sei.
Por isso, companheiro, digo a ti
Nos versos; admirado e com respeito,
Que eu agradeço a Deus, pois encontrei
Alguém que me compreende desse jeito...
44
Conhecer os caminhos , as bandeiras
Saber de cada estrada e seara.
As defesas em lutas derradeiras,
Desfrutar da pepita bela e rara.
Penetrar casamatas e trincheiras,
Convidando teu corpo, amada, para
As guerras, novas danças nas esteiras,
Nada; nem a distância nos separa.
Nos lençóis, no sofá ou no quintal.
Bebendo à nossa glória mil champanhas,
No vale, na montanha, no curral.
Descendo por teus rios, matas, mar.
Adentro finalmente nas entranhas
Conhecer... conquistar... colonizar...
45
Conhecer as mulheres? Quem me dera...
São esfinges complexas, puro enigma,
Desta tão mansa flor uma pantera,
A mulher nunca tem um só estigma...
É por vezes macia e tão dolente,
Envolvente se quer, depois repele...
Tão confusa te fala claramente,
Nos carinhos suaves, pura pele...
Se tem a sutileza quer conquista,
Amor tão sereno e tão simplório...
Acredite se queres dar na vista,
Mas que jamais invada o território...
A mulher sempre sabe o que mais quer...
Inda mais na presença da mulher!
46
Conhece em mansidão, doces caminhos
Cantando uma alegria em tom maior,
Pensando nos teus beijos e carinhos,
Teus seios, tua boca e teu suor,
Deitando em nossa cama, sedas, linhos,
Caminhos do teu corpo, eu sei de cor.
Encontro nos teus braços, belos ninhos,
De todos os meus sonhos, o melhor.
Vivendo em cada noite, um paraíso,
Entrego-me aos teus beijos, teu sorriso
Deixando para trás a falsidade.
A paz que eu tanto quis agora eu vejo,
Além de simplesmente um bom desejo
Um novo amanhecer em liberdade...
Marcos Loures
47
Conhece desde sempre o velho cais,
A barca da ilusão na qual navego,
Não tendo na esperança algum apego
Eu quero da alegria muito mais.
Os dias que passamos informais
Permitem que eu vislumbre enfim sossego,
A solidão pedindo então arrego
Não voltará, Deus queira, aqui jamais.
Conheço desse jogo, suas manhas,
Amor tem nas incríveis artimanhas
Uma arma que se mostra mais potente.
Porém quem reconhece o seu perfume
Acende em seu caminho, claro lume
Deixando-se levar pela torrente...
Marcos Loures
48
Congela o dia-a-dia em semi morte,
Lembranças que carrego de nós dois.
Por mais que uma esperança inda se aporte
Não vejo nem sequer se houve depois.
Saudade refletindo neste espelho
Imagens de momentos já passados,
E mesmo que sabendo estar mais velho
Os olhos no que fomos, congelados.
Sem ter mais ilusões, em nada creio,
Entregue e sem defesas, tolamente,
A bússola se perde, e noutro veio
O passo se tornando reticente.
Viver deste cadáver que ontem fui.
O tempo vai voando, mas não flui...
Marcos Loures
49
Confusos, os meus passos dão tropeço,
O quanto na verdade quis e fui,
De ter felicidade não se imbui
Quem tenta ter além do que mereço.
A face da esperança quebra o gesso,
Fratura a fantasia; e tudo rui,
A roupa que eu usara o tempo pui,
E o campo da ilusão não tem começo.
Quem dera se eu tivesse este endereço,
No fim, minha palavra não influi,
O rio busca a foz e manso flui,
Paradas entre curvas, nada meço,
A cargo dos meus sonhos, perco a rota,
E a blusa que eu usei, já se amarrota...
Marcos Loures
50
Confuso, vou seguindo atordoado,
Sem rumo e sem destino vou ao léu.
De todas as mentiras, tão cansado
Amor que se fazendo mais cruel
Às vezes num sorriso disfarçado
Engana quando esconde o doce mel,
Deixando o gosto sempre amargurado
De quem me lambuzou somente em fel.
Eu quis uma mulher que enfim me desse
Carinhos e palavras benfazejas,
Que faço pra conter tamanho abuso?
Não adiantam rezas nem as preces
Atordoar-me é tudo o que desejas,
Deixando-me deveras tão confuso...
Marcos Loures
51
Confuso eu mal percebo a luz estonteante
Que deixas como rastro, andando pela casa,
Concebo em fantasia, alvissareiro instante
Na doce sensação do fogo ardente em brasa.
Ao permitir que assim, querida eu já me encante
Neste momento raro a vida então se apraza
Acompanhando o passo, eu sigo-te hesitante
Parece que este tempo, em um momento atrasa
Mas logo recomposto, entrego-me ao desejo,
E tanta maravilha, em luz, amada eu vejo.
Sentindo o respirar de quem se fez tão rara
O coração sem rumo, aos poucos se dispara,
Além do que julgara amor me satisfaz
Trazendo para a vida, encanto feito em paz...
52
Confusão decidida num segundo.
E vamos recordar o que foi fado.
Não deixes, na parede, esse recado.
Senão eu não prossigo nesse mundo...
Profusão do que tanto sei profundo,
Na maresia quero ser salgado.
Valentia e maré trazem pescado,
Mundo redondo, mundo tão rotundo...
Marionete sim, e sou movido;
Na sensação, dever quase cumprido...
Mesma impressão do amor sendo problema
E se fosse sertão, seria emblema;
Mas nada mais será, a vida rema.
Amor que foi de araque, vai perdido...
53
Conforta-me não ter medo de morte
Mas quero muito além de um simples verso.
O quanto que seguira vão, disperso,
Sem ter nem almejar um novo norte
Agora cicatrizo antigo corte
Do tempo mais audaz, porém perverso,
E sobre nosso amor, inda converso
Falando deste sonho sem aporte.
Quem sabe noutro espaço e dimensão
A sorte tome nova direção
Calando a sensação dessa amargura.
Assim, proliferando a fantasia,
Embrenhe em minhas tréguas a alegria
E poesia intensa, leve e pura.
54
Conforme nos meus sonhos, procurei
Eu tenho esta alvorada mais querida
Após as dores tantas que passei,
Os medos que invadiram minha vida,
Agora que, feliz, eu te encontrei,
Do labirinto, encontro uma saída,
No mar de tanto amor, eu mergulhei
Deixando a dor distante e já vencida.
Eu quero que tu saibas deste encanto
Da noite constelada em claro manto
Eu faço o meu cantar, além de um rito
Um hino dedicado ao pleno amor,
De todas as batalhas vencedor
Vencendo em mansidão, duro granito...
Marcos Loures
55
conduzido, querida, por teus braços
deitando no teu colo um acalento,
sentindo a mansidão de um doce vento
que deixa em nossos corpos riscos, traços.
Ao estreitar assim profundos laços,
não deixo de cantar um só momento,
amor vai me tomando o pensamento
comanda, sem ter pejo os nossos passos.
Sou teu e nada mais me importará
senão seguir teus rastros pela vida.
Eu sinto que talvez encontre já
a sorte que pensara estar perdida,
no amor que a gente sente brilhará
a estrela reluzente, enlanguescida...
Marcos Loures
56
Condena a nossa vida a tal desgaste
O tempo quando inútil e mal cumprido,
Olhar que mostrar mais decidido
Encontra o que decerto tu legaste.
A dor em alegrias traz contraste,
E invade mais cruel qualquer sentido.
O passo que se mostra decidido
Percebe esta beleza que criaste.
Mas que em sentimentos tão diversos,
Invade destruindo os universos
Na busca sempre insana por um bem,
Descobre num segundo esta verdade
Distante do poder de uma amizade
Vazio tão somente é o que se tem.
Marcos Loures
57
Concordo, pois é fato o que tu dizes,
Mas creio que o soneto não tem jeito,
Em meio a tempestades e deslizes,
Tremendo comichão sinto no peito.
Fazendo outros poetas mais felizes,
Sem rimas eu me dou por satisfeito,
Da métrica, somente cicatrizes,
Modernidade agora e sempre espreito.
Não creio nos triângulos quadrados,
Nem mesmo nos retângulos redondos,
Porém os versos andam malfadados,
Assim como os amores de hoje em dia,
Ouvindo dos meninos seus estrondos,
Sem música resiste a poesia?
Marcos Loures
58
Concordo quando dizes que eu não presto
Que o verso que eu te faço e repetido,
Do quanto que eu desejo recebido,
O resultado eu sinto que é funesto.
Traduzindo decerto cada gesto
Eu vejo o que não tive repartido
Repatriado sonho diz olvido
Da nossa qualidade eu não atesto.
Se eu testo ou se esse texto vai sem nexo
O que me importa é ter o teu carinho,
Embora a solução de tudo: o sexo,
É mais complexo sempre se emoção
Mistura com amor nesse cadinho
Fazendo em alquimia uma explosão...
Marcos Loures
59
Concordo plenamente, meu amigo,
Porém às vezes perco a paciência,
Tem gente que ignorando o que é decência
Não sabe respeitar, eis o perigo.
Se gostam ou não gostam eu nem ligo
Não sou poeta e sem tal incumbência
Eu gosto de brincar com a cadência
Fazendo do soneto um bom abrigo.
Não posso compreender como tem gente
Que agindo como um tolo adolescente,
Implica com vigor com quem se aquieta.
Problema psiquiátrico? Estou certo.
Meu coração se encontra sempre aberto
Por isso não serei, jamais, poeta!
60
Concordo e embaixo assino
Nós somos parecidos
Temos um só destino,
Embora repartidos.
O jugo do assassino
Os gritos não ouvidos.
Imenso desatino.
Laços jamais partidos.
De Espanha e Portugal
A faca no pescoço,
Macabro ritual
Impede o novo sol
Nações num só esboço
Distante do espanhol...
Marcos Loures
61
Concordo e assino embaixo o que tu dizes,
Querido companheiro em poesia.
Enquanto na amizade se recria
O sonho, já não cabem tais deslizes.
Eternos sonhadores e aprendizes,
Parceiros da fantástica alegria
Que molda com delírio um novo dia,
Deixando para trás as cicatrizes.
Na força da amizade é que se vê
O brilho da esperança e seu porquê
Raiando dentro em nós imenso sol.
Que tua claridade nos permita
Saber que na amizade, esta pepita
Espalhe-se em tesouro no arrebol...
Marcos Loures
62
Concebo-te rainha deste sonho
Que tramo em bela noite enlanguescente,
Viver cada momento; te proponho,
Fazendo desse amor nossa nascente.
Que traz tanta beleza em esplendor
E trama a claridade que preciso.
Transformar, querida, o nosso amor,
Nesse imenso portal do paraíso...
Eu quero te cantar a vida inteira
Sem ter preocupação, apenas ser.
Amada, nossa luz é verdadeira,
Permite e dá beleza ao meu viver.
Escute esse cantar dos passarinhos,
Nas mãos que te recobrem de carinhos...
Marcos Loures
63
Concebo o novo mundo em amizade
Mas tenho que saber me prevenir
Do coice que tu dás tão à vontade
Apenas, tão somente pra ferir
Quem sabe desfrutar da liberdade
Respeita este direito de ir e vir,
Caminho pelas ruas da cidade
Sem medo do que tenha no porvir.
Mas não me cansarei de ser assim,
O amor quando floresce no jardim
Perfuma a mão que acolhe e dele gosta,
Enquanto a poesia sempre adubas,
Mostrando as suas garras, dentes, jubas
Deixando aonde passas, mera bosta...
Marcos Loures
64
Concebo o nosso caso em temperança
Embora a tempestade caia bem.
Quem tem desejos fartos por herança
Procura a noite inteira por alguém
Que traga e seja a fonte inesgotável
Aonde a solidão não tenha vez,
A boca que se mostra insaciável
Permite sem juízo, insensatez.
Uma expressão faminta em cada olhar
Catando a poesia que espalhaste,
Chegando sem ter tempo de voltar
Amor em lua mansa faz contraste
Aguardo a calmaria feita em fera,
Quem dera se viesses, primavera.
65
Concebo frios versos sem sentido...
Esmerando-me, atroz, procuro cismas...
No mar que sem tormentas nunca abismas,
Olhar tenso, pretende estar perdido...
Houvesse tanta voz, vaso partido.
Meu mar sempre teria cataclismas,
Nos pântanos permeio convertido,
As vozes intercalam mil sofismas...
Nos pares e patentes, vou pendente,
Esquizofrenicamente desejo.
Clavículas quebradas, absorvente
Famélicas dentadas pedem beijo...
Não falo me consolo e nem versejo...
Se tento me detenho e vou doente...
Marcos Loures
66
Comprei uma casinha num recanto
Aonde a vizinhança era tão boa,
Porém para o meu grande e amargo espanto
Encontrei rachadura na canoa.
Vizinho que se mostra em desencanto,
Sem ter o que fazer, gentinha à toa
De toda a maravilha deste canto
Com dor de cotovelo já destoa.
E o tal bisbilhoteiro, me garante
Ainda tem perfil indefinido,
Falando enfim que é homem, mas duvido
Sem ser nem educado ou elegante,
Binóculo na mão, ou mal descambe
Ou veste fantasia, enfim... de Bambi...
Marcos Loures
67
Comprazem de total insensatez
Disfarces que mentiste neste baile...
Espero pela dança e minha vez,
Fugazes as carícias pedem braile...
Girando pelo mundo girassol,
Há muito mais mistérios que pensei...
Imagino um cansaço morto ao sol,
Jorrado das saudades que deixei,
Liberto meus fantasmas no poema,
Mas canções favoritas do cancão.
Nas matas sertanejas meu dilema
Ouvindo as fantasias volto ao chão.
Pressinto melodias, velho tema,
Quebrando sem porque meu violão!
Marcos Loures
68
Compondo uma esperança em puro amor,
Destroços rebentando do meu peito.
Abortando em botão matando a flor,
Deveras nada esteve do meu jeito.
Vazio que sobrou, nada compor,
Amor morrendo assim tão imperfeito.
Soçobra meu navio em plena dor.
Do vago que restou, um nada feito.
Mas vejo uma alegria em pleno breu.
Um gosto de ilusão, do sonho meu.
Bonança que se fez da tempestade.
Tocando o coração, fico contente.
Da sensação de paz, mais docemente,
A força benfazeja da amizade...
69
Compartilho dos sonhos de quem amo,
Desejos tão iguais em amizade.
De uma árvore, parelho cada ramo
Vencendo lado a lado a tempestade.
Nas horas mais difíceis eu te chamo,
Pois sei que encontrarei a liberdade
E a cada novo passo sempre tramo
Certeza de viver sem falsidade.
Não tendo mais palavras pra dizer
O quanto é necessário o bom abrigo
Pressinto que encontrei raro prazer
Que é feito deste braço bom e amigo.
Permita ao fim de tudo agradecer
O fato de poder seguir contigo...
70
Compartilhar dos sonhos e desejos
Que fazem nesta vida a maravilha.
Em sentimentos vários e sobejos
Locupletando enfim esta partilha
Louvando a todo instante com vicejo
E fomentando amor em nobre trilha.
Ao ser já seduzido, um colibri
Procurando por néctar em cara flor,
Da senda iluminada que há em ti
Recebo com carinho, este frescor.
Já não concebo o tanto que senti,
Apenas o que quero recompor
Nas pétalas divinas sem espinhos
Aroma penetrante nos caminhos...
Marcos Loures
71
Companheiro da fera inebriante:amor;
Por vezes me esqueci que as mágicas mulheres
Guardam cada segredo em diversos talheres
Nas gavetas do sonho, em cálices de dor.
Muitas vezes estranho o mistério da flor
Carnívora. Também fazes o que quiseres
Nas tocaias. Inseto, a presa, se não queres
Depois de mastigada expulsas com vigor.
Porém a perfumada e olorosa rosa,
Absoluta malícia esperando ansiosa
Que um colibri se chegue e carregue seu beijo
Para outra rosa, assim num cio delicado
O pobre beija flor foi, sem perceber, fado.
Olinda; serei flor, colibri ou desejo?
Marcos Loures
73
Compadre, venho aqui falar de tudo
O que passei, perrengues, nesta vida.
A flor que imaginara ver crescida
Agora vai deixando um rastro mudo.
Não ouço mais a voz de quem, contudo,
Um dia se mostrou minha saída,
Eu sei que na verdade eu não me iludo,
Porém não percebi que a despedida
Seria dolorida assim, demais.
Não quero vê-la enfim, pois nunca mais
Irei amar com força e com vontade.
De todos os caminhos que encontrei,
Garanto que jamais imaginei
Sentir num duro peito, esta saudade...
74
Compadre que esta sorte seja tanta,
Que a vida lhe sorria sem usura
Que nada mais que venha cedo espanta
A chuva da promessa em santa cura.
No meio da tristeza a lua encanta
E faz a plenitude da ternura
A ave fazendo ninho forte canta
E a manta te protege em noite escura.
Aqui neste sertão do deus dará
A festa anda no bico do canário.
O dia mais feliz que chegará
Trazendo para todos tantos bens
Batuca num festejo os parabéns
No dia em que fizeste aniversário.
75
Como um replay eu jogo novamente
Se eu ganho ou perco, já venci.
O tempo não importa, plenamente
Ondeio o meu prazer dentro de ti.
No corpo da morena um ópio, um vício
Recendes à total insensatez
No abismo incontrolável, precipício
Bebendo toda a lua de uma vez.
A dois se fez esplêndida batalha
Aonde o vencedor vencido está
Perfume pela casa que se espalha
Eternamente em nós mergulhará.
Do sol que tu me dás cedo matizo
Um novo amanhecer em que diviso.
Marcos Loures
73
Como um pobre navegante
Que se perde em pleno mar,
Desta taça transbordante
Hoje eu vou me embriagar,
E bebendo a cada instante
Do prazer que eu quero dar
O teu corpo provocante,
Penetrando devagar.
Num fúria sem limites,
Naufragar em loucos braços,
Só te peço que acredites
Neste amor que prezo tanto,
Estreitando nossos laços,
Do teu corpo faço um manto...
74
Como um jasmim em alva vestimenta,
Surfando sobre as nuvens, plena lua.
Apascentando, nobre, esta tormenta
Que há tanto no meu peito se cultua.
Arestas aparando, trazes vida
Àquele que se perde em desventuras.
Palavra carinhosa proferida
Deixando mais distantes tais agruras.
Elevas teu olhar sobre o horizonte
Embebe-me de luzes fartas; belas.
E ao ter tua presença aqui, defronte,
As emoções descrevem raras telas
Aonde se percebe tal beleza
Que entornas quais pegadas com destreza...
75
Como um farsante, o tempo me enganara;
Deixando um sentimento assim exposto.
Amar é discernir a jóia rara
Dessa bijuteria do desgosto.
Eu sinto em nosso amor, a raridade
Que vale toda a luta mais feroz.
Trazendo do brilhante a claridade
Faz o meu coração bater veloz.
Qual perla que crescera com a dor,
Amor que sempre foi ardido ungüento.
Ardis que prepararam com vigor
Por pouco não destroem sentimento.
Mas sinto que este amor é mais tenaz.
Vencer as tempestades, foi capaz...
76
Como um cão, obedeço aos teus desejos...
Rosnando a quem agride, te maltrata.
Carrego meus fantasmas, seus lampejos,
Nos ossos que enterrei. Dor em cascata,
Recebo teu carinho, espero os beijos,
Mas nada vem, então, levanto a pata,
Lambendo mansamente... Tenho pejos,
Mas nem reparas, segues teu caminho...
Quieto, pálido, ladro...estou sozinho.
Adormeço deitado à sua porta.
Essa prisão eterna me alucina...
A cada dia, torpe, me domina...
Quem me dera, Senhor, te visse Morta!
77
Como um antigo sonho realizado
Servindo ao Meu Senhor sem o temer.
Sabendo ser passível de pecado
Aquele que não tem pleno poder.
E quando, arrependido, perdoado,
Não ser somente escravo do prazer,
Mas ter o olhar em paz, iluminado,
Tocado pelas ânsias do viver.
Romper qualquer algema que inda exista,
E tendo uma alma pura, qual de artista,
Beber da eterna fonte, fantasia.
Rasgar os preconceitos, ser liberto,
Vencendo as tentações deste deserto
Que alma sem cuidado, sempre cria...
78
Como seria bom cantar amor.
Não esse amor carnal que me domina,
Nem esse amor utópico se for,
Apenas amor lírico, de sina.
Amor que nunca teima nem seduz,
Amor que não me queima, nem maltrata.
Que brilha, simplesmente, me traz luz.
E nada mais deseja, nem destrata.
Amor com sobriedade, maciez.
Amor sereno e frágil, fortaleza...
Sem pele, sem frescor, amor de vez.
Tão solitariamente na beleza.
Solidário, sincero, sem temor.
Sem nada mais além que o próprio amor
79
Como queria ter-te aqui querida,
Poder comemorar mais este dia
De luz que me ilumina a triste vida,
Distante de meus olhos, fantasia...
Bem sei que tua sina foi cumprida
Trazendo para o mundo uma alegria
Tão rara. Mas a tua despedida,
Quebranto que desfez tanta magia...
Bem sei que estás no Céu, tão bela estrela,
Que guia cada passo que eu tomar.
Contigo, o bem supremo, em puro amar
Lição que me ensinaste, tão bonita...
No teu aniversário, avó Carmita,
Meus filhos deveriam conhecê-la....
PELO ANIVERSÁRIO DE MARIA DO CARMO COUTINHO LOURES,
QUE DESDE 21 DE ABRIL DE 2000 VIROU MAIS UMA ESTRELA NO CÉU...
80
Como posso fechar esta fatal ferida?
O tempo vai matando, em nós, a inocência.
Em vão eu rezo aos céus, pedindo por clemência.
A dor inebriante, invade e nos convida
À tentativa errante, o ser feliz na vida.
Ordena, o deus amor, a dura penitência.
O látego cruel promete tanta ardência
Vejo-te na chegada, esperas despedida...
O corte que fizeste, o fio desta espada;
Depois que despediste, a vida trouxe nada.
Nem chuva que refresque e nem a mansa brisa...
A vida se resume em aflição e penas.
As noites nunca mais serão calmas, serenas.
Por que feriste assim, quem tanto amou, Marisa?
Marcos Loures
81
Como posso dizer? Sou mais feliz
Estando aqui contigo, minha luz...
Depois de viver tanto por um triz
Hoje sei que quanto amor seduz!
Antigamente, a vida era vazia
Não tinha nem sorrisos nem a paz.
Corria entre meus dedos, a alegria...
Felicidade? Nunca ter, jamais...
Porém, quando chegaste a minha vida,
A todas as tristezas dei adeus.
Por isso é que te peço isso querida
Não deixe que se acabem sonhos meus...
Sou mais feliz que sempre imaginara
Vivendo em teu caminho, jóia rara...
82
Como posso compor tal desalento,
A vida não permite enfim, meu luto...
Vivendo por viver, sei do tormento,
O medo por sentença, imenso, bruto...
Nas pranchas que surfaste, peço o vento,
Amor que não merece sequer fruto...
Do beijo que trocamos, diz, nojento;
Por quantas vezes mentes e eu refuto!
Nas vezes que fingiste, morta à míngua;
Nas portas dos castelos mentes farda,
Mordendo, venenosa, a própria língua,
Derrubas por querer, abaixo a guarda...
Não posso perdoar, pois sei que é tarde,
Olhar que machucaste, sangra e arde...
83
Como posso cantar nessa gaiola?
Já não tenho horizontes nem futuro.
A dor que me castigam, vem, assola,
As pernas se quebraram, triste muro...
Liberdade, meu peito pede esmola,
Mas negas... Prisioneiro deste escuro,
Procuro me encontrar... Fizeste escola,
Não tenho minhas asas, sou anuro...
Não consigo equilíbrio, vou voar?
As cadeias me prendem, me torturas...
As noites que se foram, ditaduras...
Onde e como consigo meu cantar?
Nos colos desta serra que hoje vejo,
Ali, reside todo o meu desejo!
Marcos Loures
84
Como os anjos, furtivo, o teu olhar,
Buscando nesta alcova por carinhos.
Deixando de, quem sabe, me buscar.
Sabendo que viver empenha ninhos.
Eu te darei, morena que desejo,
Beijos tão frios quanto a lua.
Fazendo em cada sonho, meu ensejo,
De ver tua beleza quase nua,
Andando pela sala e pelo quarto.
Chegando essa manhã te encontrarei,
Depois de tanto amor, por certo farto,
Deitada em meu dossel, fazendo a lei
Que diz do amor eterno e desejado.
Dourando todo o sonho, extasiado...
85
Como o verão, ardente, fero, aceso,
A juventude se passou, fulgor...
O sol nascente a me trazer vigor,
Pensando sempre em escapar ileso...
Nunca podia, ao menos, leve peso,
Saber navalhas que me cortam, dor...
Outono veio, procurei amor...
Que me encontrou lento, pesado, obeso...
Amor procura no frescor remédio.
O brilho opaco, renuncio à vida...
Nas horas todas, me restando o tédio...
Quem dera a volta no romper da aurora...
A tarde cai, noite a cegar, perdida...
Cada cicatriz a marcar, aflora...
Marcos Loures
86
Como o rio pra nascente
Meu amor sabe o caminho
Ao granar esta semente
Já não vou seguir sozinho,
Todo amor que a gente sente
Se irmanando com carinho
Traz o coração contente
Ilumina o nosso ninho.
Tanta coisa por dizer
Tanta coisa pra falar
Meu amor, o teu prazer
É gostoso de encontrar,
Tanto amor quero viver,
Pois eu vivo só pra amar.
87
Como ignorar, querida, esta presença
Gostosa de quem quero aqui comigo.
Desejo passear no céu contigo
Depois pegar estrelas, recompensa.
Vagar em paraísos, noite imensa,
Usando tuas pernas como abrigo
Dos sonhos mais incríveis que persigo,
Sem termos nem criarmos desavença.
Apenas esconder-me dentro em ti,
Guardando em teu prazer, os meus anseios.
Brincando levemente com teus seios
De um jeito mais fogoso, estar aqui
Sentindo o teu perfume o tempo inteiro,
Nas mãos do nosso amor, bom feiticeiro...
Marcos Loures
88
Como fosse uma forma de aliança
Juntei meus cacarecos, fui a ti.
Destino mais ingrato que eu cumpri
Fingindo fazer parte da festança.
Enchendo em fantasia a minha pança
Tantas mentiras bobas eu bebi,
Ressuscitando o morto que vesti
Na paz que eu procurei sem confiança.
Um velho carcomido por um verme,
Desnudo eu já te chamo para ver-me,
Não quero te assustar, mas sou assim.
Molambo em gargalhada, corpo exposto,
As rugas vão tomando o velho rosto,
Espelho na sarjeta o que há em mim.
89
Como farei sem ter os olhos teus?
As trilhas que percorro, tão nubladas,
Envoltas nestas trevas, negros breus,
Por medos e torturas assombradas,
Começam, de repente, a renascer...
Sem teus braços, as pernas que vacilam,
Nos passos que esqueci como aprender.
As dores que em minha alma se perfilam...
Os medos que ressurgem bem mais fortes...
A fria solidão já mostra as caras.
Das cicatrizes brotam novos cortes,
Formando dentro da alma mil escaras...
Amada me responda, por favor,
O que farei da vida, sem amor!
90
Como falas assim, que estou distante?
Se existes dentro em mim, cada segundo.
Se vivo dentro em ti, por todo instante
O que une, amor, é tão profundo
A mesma luz se entorna, deslumbrante
E guia nossos passos pelo mundo...
As asas libertárias deste amor
Douraram-se no canto da esperança.
Louvando para sempre o destemor
Amor se fez mais forte e com pujança
No campo da batalha, nossa flor
Vencendo mil canhões em aliança.
Se estou dentro de ti e tu em mim,
Iremos desta forma até o fim...
91
Como eu te quero! Tanto, tanto assim...
Nas horas mais benditas, nosso amor...
Trazendo todo encanto para mim
Vibrando em nossa vida com vigor.
Florando minha vida em teu jardim
Num dia mais feliz e sedutor
Guardando esta esperança até o fim
De ser eternamente um sonhador.
Eu quero e te desejo boa sorte,
Não deixe que a distância nos destrua.
Amor que necessita ser mais forte
Que toda tempestade que vier,
Na placidez imensa de uma lua
Teus braços carinhosos de mulher..
92
Como está tão distante minha amada!
Faz tempo que procuro e não te vejo.
Procuro-te na noite enluarada
No sol desta manhã, no meu desejo,
Na tarde que surgiu; triste e nublada,
Na chuva dentro da alma que prevejo
Procuro o meu amor, não vejo nada
Saudades do sabor do nosso beijo...
Eu sinto alguém em minha porta,
Com tanta força, quase que arrebenta.
Num salto, logo pulo não me importa
Que tenhas me causado sofrimento.
Minha alma em desespero não agüenta!
Vou ver; respiro fundo... Era o vento...
93
Como é possível, Pai, falar de Amor
Se eu vejo a cada dia, esta injustiça
Formada pelas garras da cobiça,
Matando quem é frágil, sem pudor.
Quem tem uma vingança por louvor
Prepara o coração, e encara a liça
Nesta odiosa face, a dor mestiça
Da carne que se mostra a decompor.
A fome que se espalha no planeta,
O tiro de fuzil ou de escopeta
A Terra sangra aos poucos, agonia...
Enquanto houver mordaça e vil açoite
O sol não nascerá, na eterna noite,
Inútil será a minha poesia...
Marcos Loures
94
Como é doce morrer em pleno mar,
Um velho timoneiro tem por sonho
Depois de tantos anos, navegar,
Enfrentando oceano mais medonho,
Navio de esperanças ancorar
Num porto que se mostre mais risonho,
Durante a tempestade velejar,
Os olhos no futuro? Não mais ponho...
Cansado desta luta tão inglória,
A lua sempre a mesma, merencória
Sem forças, me entregando à ventania.
Quem dera se eu amasse novamente...
A vida se agrisalha e, de repente,
O vento da ilusão? Pura agonia...
Marcos Loures
95
Como é difícil, Pai, saber da vida...
Esqueço do passado, do futuro,
Transcorrendo o meu tempo, nau perdida...
Traspasso espaços, subo neste muro.
Os sinais da manhã, noite vencida;
Claridade vencendo todo o escuro...
Brincando com meus medos, minha lida
Sorridente. Nas queda, nem fraturo
Os meus sonhos, seguindo meu cantar...
As alvoradas claras. Vou buscar
Paz, decididamente, nada mais.
Roubando toda manha da manhã,
Desta antiga e serena cortesã;
Meu futuro e passado, deixo atrás!
96
Como é difícil Pai, seguir Seus passos.
Na eterna vigilância necessária
Vencer a tentação tão temerária,
Cevando na Amizade firmes laços.
Atento a cada bote da serpente
Que vive dentro em nós e nos devora,
E quando o Amor vencendo, vem e aflora
Seguir com a alma pura e penitente.
Deixar toda a vaidade no caminho,
Beber da eternidade em cada irmão,
Que o justo nunca faça burburinho
Mantendo em todos gestos, humildade,
Usando do Amor pleno e do perdão,
Fazendo, sempre oculta, a caridade...
Marcos Loures
97
Como é difícil falar disto que sinto,
Palavras vão fugindo... O medo vem,
Mas nesta embriaguez, qual fora absinto;
Delírio me queimando; e sinto bem.
Dizer que não me atrai? Ah! Eu não minto,
Como é gostoso amar e ter alguém!
Teu rosto no meu sonho, sempre pinto
Mil cores e matizes... Sei também
Que sentes o que sonho e disso gostas,
O fogo me queimando; sol... Areia...
A mão que acaricia minhas costas.
É preciso falar da sensação
Que; tomando-me inteiro, me incendeia
Neste misto de amor e de paixão?
98
Como é bom poder contar contigo
Em todos os momentos, companheira,
A vida nos maltrata, bandoleira
E traz em cada curva, outro perigo.
O sonho que deveras eu persigo
De ter uma mulher que já me queira,
Na cama que se entregue por inteira,
E me tenha decerto como amigo.
Tal conjunção perfeita que é meu sonho
Encontro do teu lado, amiga amante,
Mulher que sei, bonita e deslumbrante,
Além de me fazer feliz, risonho
É base necessária em cada passo,
Por isso eu te amo tanto e nem disfarço.
Marcos Loures
99
Como curar, de amor, a tal ferida;
Que invade terebrante e não me deixa.
Se sinto se esvaindo a própria vida,
Amor quando demais, traz sempre queixa.
Não posso contra amor, sem resistência,
Nem posso com a dor que amor me traz.
Deveras é preciso paciência,
Lutar contra esse amor não sou capaz.
Entregue na batalha, sem defesa,
Entregue nos teus braços, fogo ardente.
Eu sinto que te quero com certeza,
Vencendo que de amor era descrente.
Querida; todo amor que vale a pena,
De penas e de luzes, pinta a cena...
4300
Como é bom contemplar teu belo rosto,
Ao vê-la, assim, passando pelas ruas;
Sentindo-me por certo, bem disposto,
Enquanto teus caminhos; continuas.
Meus olhos acompanham cada passo,
Sonhando com teus braços junto aos meus.
Tentando não consigo, mas disfarço,
Teus olhos que pedi, em prece a Deus.
A vejo tão solene e tão gentil,
Numa passada mansa e tão sublime.
Amor que se formara, quer ardil,
De forma que aprisione quem estime.
Eu sonho com teus beijos, tua chama;
Deitada sorridente, em minha cama!
4301
Culminam no prazer de assim contê-las,
Esperanças rondando quais falenas
Em procissão; constelam tais estrelas
Sidéreas emoções restam serenas.
Num sonho em fluorescências posso vê-las
Às vezes gigantescas ou pequenas
Revelam em seus mistérios, rotas, velas
Ao fundo, sorridente, tu me acenas.
No imenso tombadilho, a tua imagem
Reflete em multicores fantasias.
O barco ao engendrar esta viagem
Percorre este oceano, o pensamento.
Percebo: ao mesmo tempo em que sorrias,
Mais forte, com certeza, vinha o vento...
Marcos Loures
4302
Cumprindo o meu papel, eu muitas vezes,
Pensei poder sair de peito aberto.
Porém ao perceber tantos reveses
Da vida que eu queria, já deserto.
Procuro o teu carinho, mas há meses
Não tenho mais ninguém aqui por perto.
Porteira escancarada perde reses
O amor se maltratado resta incerto.
Parágrafos diversos, tolas frases,
Tu falas com sarcasmo serem fases,
Depois em gargalhadas ris e zombas.
Um dia ainda irei, eis a verdade,
Poder imaginar a liberdade,
Usufruindo enfim, minhas kizombas.
Marcos Loures
4303
Cumprindo em nossa vida, o paraíso,
Papel primordial, insuperável.
No toque mais audaz, sempre preciso,
Bebendo a fantasia inigualável
A fonte do prazer inesgotável,
Transtorna num segundo o meu juízo
O amor que a gente faz, doce e potável
É feito deste jeito mais conciso.
E quando a noite chega de mansinho,
Trazendo os astros vários, claridade
Contigo o tempo inteiro bem juntinho,
Encontro o que sonhei, felicidade
Enquanto no teu corpo o meu aninho,
Recolho a desejada divindade...
4
Cumprindo a profecia que um oráculo
Há tempos proferiu como um enigma,
A sorte deslindando o seu tentáculo,
Marcando o nosso sonho em duro estigma.
Primando por saber ser oprimido,
Não vendo nem desvendo esta ilusão,
Entre os meus pesadelos comprimido,
O que restou de tudo? Nem o chão.
Pereço ao mesmo tempo em que renasço,
Morrendo nos teus braços, ressuscito,
E mesmo que pareça tão escasso,
O que inda sobra aqui é tão bonito.
Se eu fosse pelo menos um resquício,
Não buscaria sempre o precipício...
5
Cultura brasileira foi pro saco!
Inteligência é coisa nauseabunda.
Ao enfiar cabeça no buraco,
A minha paciência já se afunda.
Da parte que cabe nenhum naco,
Vazio, o pensamento se redunda,
Meu canto na verdade, eu sei que é fraco,
Agora vou cantar somente a bunda.
Quem sabe me ouvirás em teu radinho,
E chegue junto a mim bem de mansinho,
Tocada pelo encanto da canção.
Num bonde mais gostoso iremos nessa
Que o amor sem interesse se confessa
Nos braços tatuados do Tigrão!
Marcos Loures
6
Cultuo nosso amor de tantas prendas,
Deitado em teu remanso, celebrando
Amor nesta mistura, sedas, rendas;
O gosto de teus lábios, manso, brando...
Eu sinto que te tenho mais que pude,
Te vejo neste espelho junto a mim...
Amor que tanto quero, em plenitude,
Vivendo deste amor, que não tem fim...
Quem sabe se tomando nos meus braços,
Eu possa compreender a minha sorte.
Estreito, em nosso amor, os nossos laços;
Meu barco já encontra o rumo norte.
Depois de tanto amor que não entendo,
Viver tão belo amor; não me arrependo...
7
Cultivo tantas flores no jardim,
Um jardineiro sempre cuidadoso
Prepara com carinho e sempre assim,
Encontra este canteiro tão formoso.
Assim como acarinho por inteiro
Mulher tão perfumada e mais gostosa,
Sentindo de mansinho este bom cheiro,
A primavera em ti, maravilhosa...
Eu quero o teu perfume delicado,
Com jeito de desejo e de pecado,
Usufruindo sempre que puder
Até que a manhã chegue e traga o sol,
Pois sendo, meu amor, teu girassol
Eu quero ter nas mãos a flor mulher...
Marcos Loures
8
Cultivara em meus sonhos; diamantes,
Safiras, esmeraldas e cristais.
Prazeres e delírios abundantes
Distante das matilhas, dos chacais.
Estrelas que pescara por instantes
Perdidas não encontro nunca mais.
Os olhos da pantera, deslumbrantes
Levaram as estrelas dos bornais.
O vento que chegara do Planalto
Matando os meus prazeres nascedouros
Somente na frieza do basalto
Na inerme sensação deste granito
Que seca e que renega tais tesouros
Apenas me restando um vago grito...
9
Cuspindo a labareda, fogo intenso.
Paixão desarvorando faz a festa,
Vereda percorrida, sol imenso,
Gestando a vida nova na floresta
Do peito que se embarga, quente e denso,
Num ar que sem limites tudo empesta,
O passo caminheiro, segue tenso,
Sabendo do que o tem e do que resta.
A morte chegará mais cedo ou tarde,
Porém a prata cai em lua cheia,
Na labareda fátua que incendeia
Deixando o peito amante em puro alarde,
Nas asas afiadas da incerteza,
Amor sem ter aviso e nem defesa.
10
Curvando ao peso desta sina, dura
Vagando pelas ruas sem ninguém.
A noite que esperava em lume, escura
Distante das clemências deste bem.
Procuro insanamente por alguém
Que possa me trazer e com fartura
Sorriso precioso. Nada vem,
Restando tão somente uma amargura.
Mas sei que talvez trace um novo plano,
A sorte que bem sei não ser madrasta,
Meu sonho por teus passos já se arrasta
E moldando um futuro soberano
Percebe que terei felicidade
Nos braços tão leais de uma amizade...
Marcos Loures
11
Curtindo o pancadão num sacolejo,
Requebros e quadris, noites sedentas.
As bocas que se mordem violentas,
Mergulhos em lençóis, dor e desejo.
A fome aproveitando o louco ensejo
Misturas de vontades entre mentas,
As horas vão inúteis e sangrentas,
Vendeta de ilusão a cada beijo.
Barriga de tanquinho, sem alertas
As pernas tão famintas quando abertas
Metáforas engolem com ardência.
Assim entre falsários e farsantes
O gozo por gozar; mais provocantes,
Matando em nascedouro a adolescência...
Marcos Loures
12
Curar uma saudade é muito fácil
Não deixa de ter suas maravilhas
Por mais que amor passado seja grácil
Melhor seguir decerto em outras trilhas.
Fazendo da saudade um amuleto,
Figa, galho de arruda, uma guiné,
Depois olhar pra frente, eu te prometo
Saudade vai largando do seu pé.
Mas se isso não der jeito, minha amiga
Eu tenho uma mandinga que não falha,
Misture pó de mico com urtiga
E jogue no focinho do canalha.
Ou então cai fora e desentoca,
Beijando tão gulosa uma outra boca...
Marcos Loures
13
Cupido que é moleque bem sacana
Apronta suas artes e não pára.
De vez em quando chega e logo espana
E nada de livrar nem minha cara...
Cansado de tamanhas traquinagens
Eu falo com menino prá parar.
Useiro contumaz em sacanagens,
Disparando outra seta sem mirar.
Atinge o atingido coração
Que fica paranóico de verdade.
É tanta e tanta flecha meu irmão,
Como posso ter tranqüilidade?
Tá bom que sempre eu viva para amar.
Aliás, manda flecha sem parar!
14
Cunhando uma esperança em cada frase,
Falando da alegria de poder
Durante a minha vida perceber
Algo que em ternuras sempre apraze.
Não tendo, em alegria, mais entrave.,
Eu posso caminhar, cabeça erguida,
Mudando a direção de minha vida,
Sabendo dos segredos, cada chave.
Na gleba dos meus sonhos, o cenário
De intensas maravilhas, borbulhando,
Percebo a farta glória desde quando
O amor que outrora fora temerário,
Adentra com firmeza, o coração,
Cevando das tristezas, solução...
Marcos Loures
15
Cumprir nosso ideal de ser feliz
Em vôos pelos céus da liberdade,
Forjando nosso medo em cicatriz
Rondando cada luz desta cidade,
Falenas destes sonhos, aprendiz,
Do brilho de teu rosto, esta verdade
No seio mais formoso que já quis
Amar é pertencer felicidade.
Em teus olhos reflito os meus desejos
Volteios e caminhos ensimesmo.
Roubando os teus ares, mil lampejos
Refletem em palavras primavera.
Depois deste mergulho em que fui esmo,
Te encontro redentora desta espera.
16
Cuidar do coração, uma rotina,
Que deveria, sempre, ser constante.
Regar com melhor água, cristalina,
Fazendo amor ficar bem mais vibrante!
Cuidar de uma esperança sem temor,
Regando com mil beijos, sem ter fim...
Na lavra tão feliz de um grande amor,
Certeza de mil flores, dentro em mim...
Cultive o sentimento, vale a pena.
Amar é se entregar sem ter segredos,
Distante, no horizonte, a vida acena
Impede que tenhamos tolos medos...
Eu quero estas sementes, meu amor,
Brotando no meu peito, lavrador!
17
Cuidar desta amizade
Como quem lavra a sorte,
Fazer com qualidade
O rumo, o nosso norte,
Salvar da tempestade,
Jamais deixar que o corte
Afaste da verdade,
Um braço amigo e forte.
Não tema, então querida,
Contigo irei sem medo,
Toda a razão da vida
Se mostra num segredo,
Estrada assim cumprida,
Louvando cada enredo...
18
Cuidando deste amor com fino trato
Fazendo da esperança um instrumento
Que traga uma alegria, no contato
E nunca mais se faça um juramento...
Eu te amo, isso me basta. É meu retrato
O rosto pleno em gozo, um sentimento,
Amar é mais que um sonho, já é fato
Que traz ao meu cantar, contentamento...
O canto derramado em minha voz
É canto de alegria em toda a glória,
Olvido o sofrimento mais atroz
E sigo meu amor qual peregrino
Refaço, desta forma a minha história,
E volto nos teus braços, qual menino...
19
Cuidando com carinho deste sonho,
Mortalha da tristeza abandonada,
A vida por teus braços é guiada
Enquanto um raro dia eu te proponho.
Na cena que em delírios eu componho
Seguirmos tão juntinhos esta estrada
Há tempos, com certeza desejada,
Levando a um novo dia, mais risonho
Não quero e nem preciso de porquês
No amor mais delicado em que tu vês
O brilho anunciado deste sol
Que sei, virá trazer tanta magia,
A cada novo verso que se cria,
O lume toma em paz, este arrebol...
Marcos Loures
20
Cuidado, minha amiga, com que dizes;
Palavras engatilham tempestades.
Na arte de conviver, as cicatrizes
Ressurgem simplesmente de verdades
Salgando nossos dias infelizes,
Lembrá-las é ferir com crueldades.
As almas tantas vezes são atrizes
Que escondem essas tais fragilidades...
Portanto vê se esquece o que passou,
O que feriu demais, cicatrizou,
Apenas quero olhar daqui pra frente...
Não ceda à tentação de maltratar,
Permita que eu refaça o meu cantar
Em outros rumos breves, mansamente...
21
Cuidado que a parede tem ouvidos,
Comadres e compadres que não tendo
Nada para fazer vão se metendo
Nos versos que cutucam as libidos.
Olhares esticados e compridos
A turma fofoqueira assim nos vendo
Invejosa e canalha, não compreendo,
Começam novamente os seus latidos.
Que se danem! Façamos muito amor,
Com jeito e com carinho é bom demais,
Eunucos e mocréias tão boçais
Não podem impedir que nasça a flor,
Ao menos nos seus cérebros percebo
O esterco que em bom grado eu já recebo..
Marcos Loures
22
Crocita em noite imensa um negro corvo,
Vasculha cada ponto do passado,
Tornando-se depressa um grande estorvo
Não cansa de seguir-me lado a lado.
Gargalha em ironia, faz a festa
Nas garras e no bico, uma altivez
Do que já tive quase nada resta,
Somente a mais venal estupidez.
A juventude morta, a porta aberta
A minha mocidade está perdida.
Apenas a saudade inda me alerta
E traz algum motivo para a vida.
O corvo não me larga e sempre volta,
Dos sonhos e esperanças, triste escolta.
Marcos Loures
23
Cristais do teu sorriso me tragando
Nas loucas vibrações de nossos beijos
Por rios, oceanos, vou vagando,
No céu destes teus olhos, azulejos...
Fulgindo nosso sol em plena noite,
Reflete no teu corpo em cada raio.
Promessas que em teus braços já me acoite
Na sensação divina de um desmaio.
Os turbilhões girando sem ter nexo,
Nesse canibalismo prazeroso,
Na noite de desejos e de sexo
Neste tropel infindo, nosso gozo.
Te quero minha amada que me afaga
Curando com ternura cada chaga...
24
Crisálidas se abrindo em tal beleza
Enaltecendo aos deuses criadores.
Formando com amor mostra a destreza
Da natureza plena em seus fulgores.
Da larva que já foi, sequer notícia.
Alçando espaços, lépida figura
Que entregue à maravilhas em carícia
Voando em perfeição, uma escultura.
Eu quero esta crisálida comigo,
Refeita em borboleta maviosa,
Que não teme mais qualquer dor ou perigo
E destemida, sabe quando goza...
No gozo que esta vida já conceda
Teu corpo, meu altar, bela vereda
Marcos Loures
25
Crisaldálias e jasmins, nosso jardim...
As crisálidas presas, borboletas
Prometidas. Guardado tudo em mim,
Estrelas, meteoros e cometas...
Ah! Porque foste embora? Vou assim
Como presas crisálidas, repletas
De esperanças. Mas nada mais, enfim...
Inda são borboletas incompletas...
Eu quero liberdade em pleno vôo,
Quero poder sentir o manso vento.
Meu canto livre pelos céus escôo...
Mas a garganta fecha e nada sai...
Escravo, liberdade é pensamento
Simplesmente. Saudade nunca vai...
Marcos Loures
26
Criaturas insólitas se amavam!
Num turbilhão de necessários medos
Reconhecendo sempre os teus segredos
Os meus olhos, o teu calor; buscavam,
Por vezes tantas pedras encontravam
Reconstruindo sem ter paz, enredos
Angústias insolentes tramam dedos
Em temporais as solidões se davam.
Incrível sensação de poder ver
E a desdenhosa derrocada ter
Matando em aridez nosso jardim,
Mesmo sabendo que te quero tanto
Trouxeste simplesmente o desencanto,
Roubaste o meu sossego mesmo assim.
Marcos Loures
27
Criar constantemente uma ilusão
E dela ser servil o tempo inteiro,
Arcando com meus medos, solidão,
Não sinto da alegria sequer cheiro
Rasgando os teus espaços, amplidão
Gastei todas as cores do tinteiro,
Somente recebi dor, decepção,
O sonho que me resta, derradeiro,
Permite algum resquício de esperança
Nas chamas da amizade em temperança.
Quem sabe inda terei alguma chance
Mesmo que tão somente num nuance
Felicidade mostre a sua face,
Na estrada que amizade em paz mostrasse...
28
Criados, no Princípio, Céu e Terra
Disforme e tão vazia, sob trevas,
No frio que cobria fartas glebas
A escuridão tomando vale e serra.
A luz então se fez em pleno dia,
As águas apartadas do oceano,
Nas mãos de um Pai supremo e soberano,
Toda vegetação então surgia.
A vida povoando este vazio,
Nos céus, mares e terras, pares seres,
Multiplicando assim a criação
No outono, inverno, primavera, estio,
Até chegar aos homens e mulheres
Semente derradeira, último grão...
29
Criados pelos sonhos, loucos cios
Dourando nossos dias, ronda explícita
A vida se mostrando em vários fios
Da forma vezes sana outras ilícita
Pecados profanando cada altar
Do amor que outrora fora ingênuo e calmo
Agora que começa a maturar
Do corpo desta deusa cada salmo
Permite em louvação que se dedique
O quanto deste amor eu já desejo.
Rebenta com vontade cada dique
E o gozo sem igual cedo despejo
No corpo da mulher que é fonte e mina,
A fixação me toma e assim fascina...
30
Crepúsculo dos sonhos, duro inverno...
Num céu avermelhado, eu me perdi.
As rédeas do futuro não mais vi,
A vida se tornando amargo inferno.
Distante do sorriso frágil, terno
Daquela que eu quisera estar aqui,
Estrela que se foi. Não sei de ti,
Delírio em sofrimento, vão e eterno...
Num último suspiro, quem me dera...
Voltasse a tão sublime primavera,
Mas nada, simplesmente, por resposta.
A vida vai aos poucos se esfumando,
Ao vento da agonia, duro e brando
Deixando a minha carne nua e exposta.
Marcos Loures
31
Crepúsculo caindo, a noite chega
E velho a maravilha do sol-pôr
Chamando e nos mostrando o bem do amor
Que em corpo sensual, cedo navega.
O vento que na pele, assim se esfrega,
Num arrepio imenso e sedutor,
Promessa de loucura insana, ardor,
De noite sem limites, pura entrega.
Cascatas e montanhas, rios, fontes,
Açudes e lagoas, mar e lua.
Viajo em sonhos belas paisagens,
Nas cores que matizam horizontes,
No brilho da mulher/sereia nua
E o sonho transbordante em mil miragens...
Marcos Loures
32
Crepuscular presença desta agônica
Esperança que, atroz, fora um sudário,
No embuste de uma vida outrora harmônica
A falsa sensação de algum sacrário.
Mas, torpe caminheiro em alma afônica
Não vê além do passo necessário
Rolando entre os cascalhos, segue atônica
Silenciado encontra um estuário
Aonde precipita a foz que um dia
Viera em voz mordaz, vã fantasia
Tingindo em vivo sangue o sonho exposto.
Da antiga sensação já nada resta,
Senão esta alegria que, funesta,
Expõe cada pedaço, decomposto...
Marcos Loure
33
Brados descomunais, noite pujante.
No ganido longínquo, sofrimento...
Disforme sentimento dum gigante,
A vida se refaz cada momento.
Melancolia chega, estonteante,
O vento se resume: açoidamento.
Na lápide dos sonhos, minha amante.
A dor em mim procura alojamento...
Soberba e soberana, lua atroz...
Não sabes nem sequer minha existência!
Um brado delirante, tão feroz;
Percorre por espaços siderais...
Quem sabe, enfim, terás santa clemência
Cremilda, ouvindo o brado e os meus ais!
34
Cremei as ilusões em fogo brando,
Incêndios e explosões: tolo alarido,
Dos erros cometidos, convencido,
Contra a maré terrível navegando.
Vazio toma as rédeas e o comando
Inda sinto o convite da libido,
Mas tudo que tentei foi esquecido
E o mundo que busquei se desmanchando.
Tu trazes um perfume delicado
Deixando alvoroçado o coração,
O amor que se escondeu noutra estação
Apenas por herança deixa enfado
Politraumatizado pela vida,
Há muito obliterada; uma saída...
35
Criando um personagem, o poeta
Emerge das tempestas e se afoga
Destarte a fantasia tanto roga
Que nada do que penso se completa.
Com toda mansidão e fúria flerta
Janelas adentrando, um passarinho,
Que segue quase sempre tão sozinho,
Ao mesmo tempo adentra a porta aberta
E fecha com mil chaves cofres íntimos
Os versos da verdade bebem pouco,
Sentidos tantas vezes são tão ínfimos
Nesta esquizofrenia, sigo louco,
E embora siga à risca as instruções
Vivendo a brisa espalho furacões...
Marcos Loures
36
Criando um formidável mar medonho
Meu verso nega a sensação de estio
Ao emergir conceberei tal frio
Que mesmo em luz convergirá tristonho.
O quanto em ilusão não mais proponho
Traduzirá o que jamais eu crio.
Não quero nem saber se fantasio
Quando mergulho insanamente em sonho.
Meu passaporte para amor, vencido
Demonstrará o que pensei perdido
Na forma mais cruel de negação.
Agricultor que se perdeu da ceva
Contigo eu sei que mesmo em plena treva
Lavramos na aridez de um duro chão.
Marcos Loures
37
Criando o descampado no meu peito
Espero por posseira, uma alegria,
Nefasta solidão por heresia
Da lágrima caída faz seu pleito.
É claro que a saudade ainda aceito
Mesmo que venha ao fim de um belo dia,
Enquanto uma ilusão se fantasia
Das cores mais sombrias, morte espreito.
Apartam-se de mim as esperanças,
Entoam carpideiras tristes danças
Meu cadáver exposto na ante-sala.
Brindando com venenos e cristais,
Sorvendo o que vivemos, desiguais,
A voz do meu passado não se cala.
Marcos Loures
38
Criando meus castelos, descobri,
Os olhos desta calma criatura.
Por vezes procurei. Estava aqui
A mansidão que salva e me traz cura.
Por tanto sofrimento que vivi,
Por tantas punhaladas da tortura,
Nas vezes em que distâncias percorri
Buscando a claridade em noite escura.
Agora que te encontro, sou feliz.
Encontro a principal finalidade
De tudo que sonhei, do que já fiz.
Meu coração pesando aqui do lado,
Encontra, no final da tempestade
Em Helga o sol que brilha e é sagrado!
39
Criança que brincava, fundo corte.
As mãos tão carinhosas, pois maternas.
Num tempo que me achava, fosse forte,
Nas horas que passei, serenas, ternas...
Passados tantos dias, vejo a morte
Espero as ilusões, vidas eternas...
Não creio que ninguém vivo se importe,
As dores das lembranças que me infernas...
Chegando na metade do caminho,
O resto desta estrada é só descida...
Inverno que maltrata passarinho,
Cabelos, rugas, marcas não me deixam...
Epílogo fatal do que foi vida,
Meus olhos embaçados não se queixam...
Marcos Loures
40
Creia que nosso beijo já nos cura
De toda uma amargura e da tristeza.
Nas mãos que se buscando com ternura
A fonte mais sublime da beleza.
Na boca permanece essa secura
No corpo inda me resta uma incerteza
Se tanto maltrataste, esta tortura
Acaba com o que resta de leveza.
Mas tenho uma esperança em nosso beijo
Marcando o meu sorriso com prazer.
Futuro que sonhava não prevejo
Somente com carinho e emoção
A sorte benfazeja de viver,
Na boca que me negas, salvação...
41
Cravejando os teus olhos, diamantes
Melenas escorrendo sobre o colo,
Permito-me sonhar e por instantes
Levito me ascendendo, além do solo.
O amor que nos tornou tão fascinantes,
Agora sem retorno, mostra o dolo
De Eros que em suas flechas mais vibrantes
Não deixa nem saudade por consolo.
Revejo cada dia que passamos,
Quebramos da alegria, vários ramos
Remamos contra a sorte, vãos, cruéis...
Seguindo cada brilho, falsa estrela
Tornando amarga e escura a nossa tela,
Os dedos já se foram, sem anéis....
Marcos Loures
42
Coveira dessas minhas ilusões,
Uma atroz serviçal das negras trevas...
Dilapida sem medo os corações,
Onde fora verão, sem perdão, nevas...
Fizeste minhas deusas, simples servas...
Trazes torpes problemas... Soluções
Ocultas; velha chaga, podridões!
Cadáveres de amores, sempre cevas...
A sórdida lembrança que deixaste
Reproduz fielmente meu tormento...
Nas pútridas manhãs que me beijaste,
As horas se verteram em lamento...
Não te quero mais, suma! És podre traste.
Deixe-me então em paz, por um momento....
43
Cortaram tuas asas, anjo amado?
Fecharam os teus olhos, sonhos, brilho...
Desmoronando o monte do passado
Rompeu esta barragem, fecha o trilho
Tomando numa enchente todo o prado
Matando este desejo, nosso filho..
Amada não permita que esta amarra
Limite cada passo em rumo à sorte.
Apare em mansidão a dura garra
Cravada em teu pescoço bem mais forte
No corte da navalha e cimitarra
Promessa de vingança, dor e morte....
As asas renascendo a recompor
Os vôos sem limites deste amor...
44
Cortado pelas cruzes que me pregas,
Das urzes semeadas no caminho
Entrando em minha pele, sigo às cegas
Sabendo ser feliz mesmo sozinho.
Cansei de ser babaca e tão piegas,
Não quero o teu amor nem teu carinho.
Românticos, meus versos soam bregas,
Prefiro quando eu canto em desalinho.
Não quero mais palavras tão tranqüilas,
Venenos que me trazes e destilas
Já não conseguem tantos sofrimentos.
Teu nome eu rabisquei de minha agenda,
Tirei a carapaça e rasgo a venda
Agora vou liberto e solto aos ventos...
45
Cortado pelas cruzes que me negas,
Nas urzes que deixaste meu caminho,
As cores que pintei, formando pregas,
Não posso ser feliz assim sozinho...
Vencido pelas noites sou piegas,
Covarde não consigo ter meu ninho,
Nos mares onde vivo não navegas,
As roupas que me deste, puro linho...
Quebrei tua mordaça, te dei fala,
A morte conseguida faca e bala...
As alamedas mostram meu destino.
Te fiz a poesia mais tranqüila,
Venenos tua boca já destila,
Quem dera se pudesse ser menino!
Marcos Loures
46
Corsários da ilusão, na estupidez
Naufrágios entre esparsas emoções.
Vencer com galhardia esta altivez
Da amarga negação dos vendilhões.
Perceba no cenário em que tu vês
Os corpos furiosos, nas paixões
Deitando sobre a cama em languidez
Delírios desejosos, uniões...
E siga sem temer este inerente
Incêndio que domina dois amantes,
No olhar ensandecido se pressente
Um rito interminável, gozo e dor.
Por mais que se pareçam fascinantes,
Amores cevam trevas, colhem cor...
47
Corsário coração, navega e voa..
Procura por navio que me leve...
Vasculha tantos mares, segue à toa...
Gaivota livre, canto belo, breve...
Meu navio, convés, âncora e proa
Canto desesperado não se atreve
O medo do naufrágio me abalroa,
Icebergs me lembrando tanta neve...
Corsário coração, destemperado,
Nas correntes marinhas se perdeu...
O solo que precisa, despraiado,
O mundo que pensava fosse seu,
O tesouro perdido, vai ilhado...
Coqueiro tão saudoso, já morreu...
As ilhas que deixaste, coração,
Não sabem das procelas nem perdão...
Sorrindo, o sol vigia na amplidão!
Marcos Loures
48
Corro a te encontrar, triste como o vento...
As tortas caminhadas, céu de prata.
Perfazem meu telúrico lamento...
As flores se perderam. Leda mata...
No pranto prosseguindo o novo invento,
As várias compleições dessa cascata.
Não quero saber pátria nem apascento...
Não tenho mais sustento nem bravata...
Todo meu canto, faca, enxada e foice,
Perdido navegante sem ter praia.
As hóstias enganadas; tudo foi-se,
Restou tal solidão que já se espraia.
Venha depressa ouvir o trem chegando,
Corro a te encontrar, estou te amando..
49
Correntes que nos unem, frases soltas,
Ondeiam entre luzes discrepantes,
Os sonhos tantas vezes galopantes
Permeiam em procela almas revoltas
Os passos vagamundos sem escoltas,
Metáforas esgrimam, torturantes,
Colhendo a liberdade que em rompantes,
Não sentes, mas depois de creres soltas.
Carcaças de ilusões, golpe funéreo
Que molda do vazio o verso etéreo,
Ferrenhas, as batalhas com mim mesmo.
Nas vezes que eu andei, alheio, a esmo
Talvez tenha criado um morto vivo,
Que volta e meia surge, e dele eu vivo...
Marcos Loures
50
Correndo vem meu anjo pros meus braços
Tremendo neste amor sem ter tardança,
Percorro calmamente nos teus traços
O brilho angelical duma esperança...
Avivo teus vigores violentos
Que de anjo te transformam de repente
Tão loucos os delírios mais sedentos,
Venenos e lascívia de serpente...
Teu rosto de marfim enrubescido
Em vivo carmesim já transtornado,
Pudor que nesta cama está perdido,
Encontra nosso amor, louco tornado.
Tu temes este amor, mas por fim goza,
Nos braços que te esperam, anjo e rosa...
51
Correndo sempre atrás de uma ilusão
Espelho a natureza desumana,
No falso amor que sempre nos engana
A dor retornará em profusão.
Distante da amizade e do perdão
O peito que em riquezas já se ufana
Encontra glória inútil soberana,
Comendo a podre carne de um irmão.
Amigos, na verdade são comparsas,
Desfrutam das iguais e cruas farsas.
Melhor é caminhar sempre sozinho!
Estúpido capacho da esperança
Espalho nas calçadas da lembrança
Parceiros que se foram no caminho.
Marcos Loures
52
Correndo pelas ruas, harmonia
Do canto desses pássaros formosos,
Andando vou forjando a fantasia
Que brilha noutros olhos radiosos...
Seguindo desditoso, companheiro,
Preciso que me escutes, por favor,
Vagando pelos mares, tempo inteiro,
Deitando sobre as ondas desse amor.
Se fui o que pensara não mais sou,
Amigo necessito deste abrigo,
De tudo o que já tive, o que restou.
Porém eu desconfio que consigo,
Da brusca solidão, a primavera,
Na volta da magia da pantera!
53
Correndo pelas águas deste rio,
Em volta das montanhas dos meus sonhos.
Vivendo em tão completo desvario
Temendo pesadelos mais medonhos.
Eu risco teus espaços com meus beijos,
Penetro nas cascatas mais divinas.
Inundo esses teus lagos dos desejos
Com águas do meu rio e te alucinas.
Correndo tantas vezes, não me canso,
Espero teu prazer em cada curva,
Os pontos mais ocultos, quando alcanço,
Arrebenta as barragens, tanta chuva...
Num remanso, descansos do depois,
Entregues neste mar que é de nós dois...
54
Correndo pela praia, uma sereia,
Os seus cabelos soltos, o meu desejo...
Aranha não percebe e tece teia,
Ansiedade... Louco por seu beijo,
Amor vem transfundindo minha veia,
Na vida que me deram, só pelejo...
A crina que de leve, despenteia...
Distante, tão distante... Eu sonho, almejo...
Nos risos, gargalhadas, inocência,
Meus olhos vão pedindo por clemência,
Jamais perceberás meu sofrimento...
Essa praia deserta, a crina o vento...
Eu vejo aproximando essa demência,
Ao ver assim correndo, e eu vou tão lento...
55
Correndo no quintal em laranjeiras
Mal sabe que desenha uma obra rara.
O tempo lhe trará outras bandeiras
Aos poucos solidão se mostra cara.
Estas montanhas tão distantes beiras
No fundo do que quis e que sonhara.
São sombras definidas, verdadeiras
Do tempo em que feliz, nunca pensara...
Mulheres, filhos ruas e botecos,
O paletó reflete o desamor.
As laranjeiras morrem sem ter ecos,
O gosto do azedume, verde fruta,
Reforça um paladar tão sedutor.
O amor se transformou em morte astuta...
56
Correndo entre montanhas e cidades,
Trazendo num vagão este menino
Que um dia, bem distante destas grades
Nas quais eu me degrado e me alucino
Sonhava a liberdade sem fronteiras,
Olhando a lua cheia sertaneja,
Nas mãos das esperanças feiticeiras
Colhendo da alegria o que deseja.
A cada novo dia uma estação
E o peito caipira diz ponteios,
E quando a vida muda a direção,
Moleque bebe o sonho sem receios.
Porém, descarrilado, perco o trem,
Enquanto a realidade amarga vem...
57
Correndo contra o vento qual criança
Que brinca no quintal do meu passado.
Quisera num momento estar ao lado
Do gosto de uma infância que me alcança.
O tempo todo corre e não se cansa
Sorrindo sob o céu todo estrelado.
Um gesto de alegria, extasiado
Rondando minha vida traz lembrança.
E vejo-te mulher, menina moça;
Arisca a se escorrer entre as estrelas.
A lua refletida na água em poça
Clareia qual lanterna tuas pernas.
Delícia de poder sentir e vê-las
Nas noites que passamos, belas, ternas...
58
Cordilheiras gigantes, montes, cumes...
No salto extasiante da pantera,
Num laivo mais sutil, tantos ciúmes...
A febre desejosa da quimera...
Na mão que me açoitava, teus perfumes,
Os vértices, os prumos, minha espera,
Deliro mas não ouves meus queixumes.
Ah! Se tu fosses minha... Quem me dera...
Nos olhos vaticínios indefesos,
Traduzes as visões destes profetas.
Cativos meus amores morrem presos
Nos desejos ferozes, domadora...
Porquanto meus martírios quis ascetas,
Desmaiam em teus gozos, redentora!
Marcos Loures
59
Corcel no qual a vida; logo atrelas,
Estrelas vai transpondo num galope
Repondo neste céu as velhas velas
Não quer pastor, nem padre ou mesmo pope
Arcanjos em arranjos mais diversos
Não tendo ortodoxia se faz terno.
O quanto cavalgar teus universos
Permite ao terno um corte mais moderno.
No inverno eterno sonho, eu ponho em ti,
Reponho todo estoque e recomeço.
Partindo do princípio que eu venci
Comemorando tive o meu tropeço.
Se eu peço e não impeço o novo dia,
Estendo no varal farta alegria...
Marcos Loures
60
Corcéis entre brilhantes e cristais
Marcando cada noite que tivemos,
Enlanguescida em ritos sensuais
Do fogo e da luxúria, nós bebemos.
Teu corpo em minha tez já tatuado,
Em tua cútis vejo o meu retrato.
Ao Éden, nosso sonho agalopado
Transporta num momento mais exato.
A vida quando manda o seu recado
O faz por tantas vezes em enigmas.
Ao teu desejo sempre quando içado
Esqueço, abandonando outros estigmas.
Pendões e maravilhas; somos um,
Olhar que se reflete aumenta, zoom
Marcos Loures
61
Coragem não deixa pistas
Nos olhos dum cantador.
As noites servem conquistas
Conquistas do nosso amor.
Amor, nunca me resistas,
Espinho trazendo a flor
Não sei se são comunistas
As mãos que tinham pavor
Aportei numa saudade
Deixei de lado a maldade
Fiz meu ponto de partida
Nas horas tristes da vida
Nunca mais tranqüilidade
Nunca mais a tal ferida...
Marcos Loures
62
Coração vigilante não se cansa
Faroleiro dos sonhos e vontades,
O velho timoneiro da esperança
Expande em destemor, as claridades...
E mesmo quando a treva imensa alcança,
Vencendo em calmaria, ansiedades,
Sob o estelar fascínio, o peito dança
Desconhecendo enfim, algemas, grades...
Estando sempre atento às virações,
Enfrenta os mais diversos furacões,
Sabendo do viver, quais os segredos,
Castelo sobre rocha, estruturado,
Jamais será por certo destroçado,
Conhece o mar bravio e seus penedos...
63
Coração venturoso precisando
De alguém que lhe arranjasse companheira
Vasculha todo espaço e não sei quando
Encontra nova sorte mais certeira.
A vida se mostrando curta e magra,
Amigo camarada, necessito
Contato com Santíssimo Viagra
O santo mais potente que acredito.
O casamento/vinho é um vinagre
Sem chances nem de cura ou esperança;
Por isso estou pedindo este milagre,
Ao Santo curador de uma aliança.
Em preces e louvores, decididos,
Ao Santo Protetor dos já caídos...
64
Coração vagabundo, sem pudor,
Não espera sequer saber o nome,
Vai logo declarando seu amor,
A chama qualquer uma, me consome...
Depois fica chamando tanta dor,
Não quer nenhum banquete e passa fome,
Não cheira nem abelha e pede flor.
Mas vê se toma jeito enfim, se dome...
Coração sem vergonha e sem juízo,
Não deixa de fazer estripulia,
No fundo sabe tudo que preciso...
Não pode perceber sequer um dia,
Depois, vai torturante ao paraíso,
Batuca tão feliz, é fantasia...
Marcos Loures
65
Coração vagabundo sem juízo,
Esperando este amor que nunca vem.
Aguarda um teu sinal, simples sorriso,
Para ser contemplado, ser teu bem...
Coração que na vida, em prejuízo
Jamais teve a alegria, ser de alguém,
Aos poucos vai morrendo sem ter siso,
Nos olhos tão distantes, sem ninguém...
Meu coração, criança maltrapilha
Que vive na esperança, ser feliz.
Perdendo totalmente rumo e trilha,
Não sabe mais viver sozinho, o mundo,
Eterna sensação: ser aprendiz...
Que faço coração tão vagabundo?
66
Coração sertanejo pede à lua
Que vem já polvilhar todo o sertão
O amor que tão distante inda flutua
Perdendo cedo o rumo e a direção.
Deitando farto brilho continua
Vagando solitária na amplidão,
Olhando dos espaços chega à rua
Espalha-se por entre a multidão...
Na prata em que se emana o seu olhar,
As sombras argentinas refletindo
O lume sensual, deveras lindo
Roubados de seus raios, do luar.
Sonhando com o amor, vital partilha,
Mal vê num manso beijo, uma armadilha...
Marcos Loures
67
Coração taquicárdico menino
Que faz estripulias no meu peito.
Batendo em descompasso e desatino
Deixando o meu viver mais satisfeito.
Nestes momentos todos; me alucino,
E nem mais sei pensar certo e direito...
Às vezes fugidio, outras tão fácil,
Coração descompassa e perde o rumo.
Não pode ver mulher mais bela e grácil
Não pode ver a fruta quer o sumo...
Se faz de uma esperança mais sombria,
Nas asas da ilusão vai decolando,
Forrando o meu espaço em fantasia,
Feliz dentro do peito, está pulsando...
68
Coração sem juízo perde o senso
Fazendo da esperança o seu dossel.
O amor, este temível carrossel
Além do que desejo ou mesmo penso.
Sentindo o seu pulsar num fogo intenso
A cada novo tempo um fogaréu
O amor desempenhando o seu papel
Enxuga a vida inteira olhar e lenço.
Mas sei que vale a pena e sou teimoso
Aventurado sonho diz do gozo,
Rescaldo da emoção, ponto final.
Duetos que maltratam, mas que curam
São bocas que se querem, se procuram,
Num bálsamo sagrado, mas letal...
Marcos Loures
69
Coração sem juízo e tão teimoso
Não deixa de querer quem não me quer,
Às vezes mais singelo ou majestoso,
Envolto pelas tramas da mulher
Que um dia prometera farto gozo
E agora noutro braço. O que vier.
O rumo em desvario, caprichoso,
Aonde a solidão quer e puser...
Não tendo outra saída ou solução
Eu vago pelas noites, frio intenso,
Distante deste amor, ainda penso
No que me reservou meu coração,
Quem teve um sonho claro e cristalino,
Morrendo pouco a pouco em desatino...
Marcos Loures
70
Coração passarinho nesta rua
Vislumbra da janela a bela prenda,
Deitada em sua cama, quase nua,
Na transparência linda, seda e renda.
Quem dera passarinho fosse a lua
Que todo o seu segredo já desvenda...
Trazendo no seu bico uma flor rara,
Olhando apaixonado, tal cenário.
Com pés no teu beiral, ele se ampara,
E fica extasiado, esse canário...
Coração passarinho já dispara
E beija tua boca, temerário...
Assusta-se depressa com o beijo,
Na rosa ali caída, o meu desejo...
71
Coração quis isenta uma saudade
Nos versos que compunha em ousadia
Viver sem conhecer a liberdade
Que mata e que morde todo dia...
Coração se despede do meu peito
E voa sem saber para onde vai
Agora coração ‘stá satisfeito
Mas se fizer besteira logo cai,
Depois não reclama coração,
Moleque tão traquinas bem levado...
Agüenta com firmeza essa emoção
E nada de ficar meio de lado...
Agora que procura sempre amor
Não venha reclamar se espinha a flor!
72
Coração que se fia em vã promessa
Um dia sofrerá, tenho certeza.
Envolto nos abraços, pobre presa
Da dor que se refaz bem mais depressa.
Amor que tanto eu quis não se confessa
Pois traz o sofrimento e a tristeza.
Cortando tão profundo, assim despreza
Sangrante coração. A dor tem pressa...
Madrasta sorte, lívido destino,
Escrito em ilusão, desde menino.
Morrendo; em outra face ela renasce.
O ferro que nos fere deixa muda
A vida, prisioneira, de um disfarce
Que, em pedra, um coração cedo transmuda..
73
Coração passarinho cantador
Buscando, da gaiola, a liberdade
Que somente se encontra em pleno amor
Sinônimo real: felicidade.
Menina teu olha tão sedutor
Bagunça o coração, eis a verdade;
Que faço se me entrego ao teu calor,
Vem logo todo o frio da saudade...
Amada vou contigo em pensamento
Tentando ser feliz, por isso vem.
Não deixo de querer nenhum momento.
O gosto saboroso do teu beijo
Maltrata o coração tamanho trem,
Saudade vai roendo! Eu te desejo!
74
Coração navegante que sem rumo
Aporta vez em quando em ledo cais,
Quem sabe desse jeito eu me acostumo
E deixe de sofrer. Querer demais!
Coração vai e bebe todo o sumo
Correndo, depois cansa e não quer mais.
Demora muito tempo já sem prumo
E vive sem comando, só dor traz...
Abandonando o mar que se propunha,
Um dia naufragou em outra areia
Sozinho, não queria testemunha...
Agora que se pensa vencedor,
Envolto nos cabelos da sereia,
Coitado... Virou vítima do amor...
75
Coração ganhando espaços,
Onde outrora nem entrava
Se os meus erros foram crassos
Solidão agora agrava
Os olhares sendo baços
Encobertos pela trava
Do passado nem mais traços
Nos teus braços encontrava.
Se não sou o que querias,
Tu também nunca será
Neste amor alegorias
Eu desvendo desde já,
Nossas noites sendo frias,
O sol nunca nascerá!
Marcos Loures
76
Coração não tem mais jeito,
Vagabundo sonhador,
Disparando no meu peito,
Todo dia um novo amor.
Mas se amar for um defeito,
Que defeito encantador!
Vivo sempre insatisfeito
Colibri de flor em flor
Vou colhendo cada gota
Com minha alma estropiada,
Sem valor, andando rota
Segue tonta vai ao léu,
Todo tempo alvoroçada
Abelha fazendo mel...
Marcos Loures
77
coração lateja em sonho insano,
Distante das loucuras que fizeram
Os olhos de quem ama, em desengano,
Rumando por estrelas, já tiveram
Momentos de carinho, mas temprano,
Os medos/sofrimentos que vieram
Mudando a direção em outro plano
Carícias e delírios se esqueceram.
Cobrindo de tristezas, negra manta,
O brilho das estrelas logo espanta.
Porém tudo ressurge novamente
Nos beijos carinhosos de uma prenda
A vida em alegrias traz por prenda
Amor que assim domina toda a gente.
Marcos Loures
78
Coração dum minêro apaxonado
Pércura pela moça mais bunita
Rainha do sertão e do cerrado,
Por isso, sem juízo ele parpita.
Trazeno as dô dus dia do passado
Agora num amô ele cridita
Vem logo lá di riba pru meu lado,
Um sonho mais facêro num ivita.
De tanto que eu quiria um bêjo ao menos
Da moça com quem sonho e num me canso.
Travesso tanta noite nos serenos
Viola punteando, de mansinho,
Nus braço da morena, o meu discanso,
Certeza de num sê jamais sozinho....
Marcos Loures
79
Coração desfraldado, catedrais...
Seus olhos vasculhando namorados...
Os medos se transformam em banais
Sentimentos que trazem velhos fados...
A menina crescida, são vestais
Os desejos ardentes, pedem prados,
Os amores distantes perdem cais,
Carrega nos seus braços seus amados...
O seio exposto, vida se renova...
A mulher explodindo na menina.
A lua vem surgindo, bela, nova...
As claras fantasias iluminam...
Desejos e delírios tontos, minam
A dor de ser feliz, mansa, termina...
Marcos Loures
80
Coração depois de tantas tempestades
Simplesmente padece, desfolhado
Em meio a dores tantas, falsidades,
O fardo de viver fica pesado.
Dos ninhos que tivera; coração,
Nenhum sobreviveu ao vento frio.
Deitando tão somente em solidão,
Seguindo sem destino, vai sozinho.
Um dia já soubera ser feliz,
Taquicárdico sonho se esvaindo
Por entre minhas mãos. Tantas já fiz
Pensando que este amor seguisse infindo.
De todo um arvoredo, nada resta,
Nem mesmo algum resquício da floresta...
Marcos Loures
81
Coração de um simples Zé
Disparando sem juízo,
Vou a gosto, vou de à pé
Encontrar o Paraíso.
Neste amor eu ponho fé
Diz de tudo o que eu preciso,
Tanto amor sabe quem é
Quem desejo, sem aviso.
Ser teu par bela gaúcha
Numa dança sensual.
Se o teu pai tem a garrucha
Eu não levarei à mal
Coração já diz, na bucha
Nosso amor é sem igual!
Marcos Loures
82
Coração beduíno, meu deserto...
Nos oásis buscando pela vida,
Cansado de sofrer, da despedida.
Vontade de estar longe, estando perto.
Coração, navegando em mar aberto,
Distâncias que percorre a nau perdida.
Cansado de bater, pede guarida.
Cruel busca incessante, vive incerto...
A cada batimento vai mais fraco,
O espelho em que te miras, mais opaco.
A vida não convida para a festa!
Nas tuas rebeldias, foste herói.
Agora a tarde vinda e como dói...
Nada, nem coração, enfim me resta!
83
Coração batendo forte
No meu peito quando eu vi
Recebendo lá do norte
Tanto amor que existe em ti.
Venha logo, ser a sorte
Deste amor me convenci
Cicatriza todo corte
Teu remédio encontra aqui
Vou te fazer cafuné
E carinhos de montão,
Dar beijinhos no teu pé,
Com vontade e com tesão
Vem comigo, tenha fé,
Pro resto? Não liga não...
84
Coração apaixonado, capitão
Que deixa o barco, logo naufragar,
Nas ondas violentas da paixão
Não tendo outro lugar para aportar,
Ao canto da sereia em sedução
Mergulha se esquecendo de nadar.
De tudo o que quisera, sem mistério,
Afunda em água rasa e cristalina.
Naufrágio de um amor é caso sério,
Depressa maltratando, me alucina,
Cortando a minha carne sem critério,
O coração refém não se domina
E deixa-se levar, apaixonado,
Nos braços da menina, naufragado...
85
Coração bate faceiro
Na procura de outro bem
Quando amor é verdadeiro
Estrelinhas já contém
Entrelinhas, alinhavo
O que ouvi de um seresteiro,
Quando o mar ficar mais bravo
Vento se faz mensageiro
Vou contigo, minha amiga,
Não me canso de sonhar
Coração quando periga
Já começa a maltratar.
Nos teus versos a saudade
Nunca traz felicidade...
Marcos Loures
86
Coração amanhece em pleno fogo
Saudoso da morena tão faceira
Quem dera se ela entrasse no meu jogo,
E fosse sempre a minha companheira.
Aqui, na Conchinchina, até no Togo,
A vida enfim seria alvissareira.
Eu quero estar contigo, então vem logo
Acenda, pois faz frio, esta lareira
Eu tenho brincadeira pra ensinar
Eu tenho tanto amor para aprender
Debaixo deste sol, sob o luar
Do jeito mais gostoso, podes crer.
Morena; estou aqui a te esperar
E louco de vontade de te amar...
Marcos Loures
87
Coração alvinegro tão sofrido
Lembrando de outras dores do passado,
Durante tanto tempo condoído,
Pesando aqui do lado e magoado.
Por mais de duas décadas sem nada,
Sem ter sequer a comemoração
De um título, minha alma maltratada
Caindo pra segunda divisão...
A vida tantas vezes vem cobrando
Os erros do passado, companheiro.
Mas logo te verei recuperando
O rumo que perdeste por inteiro...
Banhando o coração pleno de glória,
Mudando com vigor a triste história
PARA O MEU GLORIOSO BOTAFOGO!
88
Coração acerbado, dolorido...
Fugindo das procelas, dos tritões...
Cativo, por teus olhos vou contido,
Me prendo em tuas fímbrias: ilusões!
Ah! Delirantemente qual bebido,
Hirto, sombrio, loucas convulsões!
Caminhos pétreos, frágil, perdido,
Envolto nos insanos turbilhões!
Meu coração simbólico, contristo.
Nos teus lábios melíferos, divinos.
Mergulho vacilante, não resisto.
Me aprisionaste, sigo em desvario...
Perdendo minhas bússolas, meu tino...
Coração: angustias, vão, vadio...
Marcos Loures
89
Coração aboiado em sofrimento
Procura uma invernada em esperança.
Cansado de entornar tanto lamento,
Espera que esta noite venha mansa
Carpindo toda dor nesse momento,
Os braços da mulher que eu amo, alcança...
Coragem pra poder dizer do amor
Que foi a perdição deste meu peito.
Um boiadeiro em canto sofredor,
Espera seu amor que é um direito
De quem espalha a vida em destemor
E vive tanto tempo insatisfeito...
Eu quero o teu olhar de pão de mel,
Estrela radiosa do meu céu...
90
Coprófagicos versos que a ti faço
Ora são os retratos de um amor,
Sem ter sequer caução como um pedaço
Da carne que percebo decompor.
Se às vezes eu pareço, inerme e lasso
É culpa do banquete ao meu dispor,
Romântico senil, velho palhaço
Gananciosamente vai se expor
A merda que se espalha, aculturada,
Vendida como hambúrguer ou hot dog
Neblina, na verdade chama fog
Londrina paisagem paulistana,
Enquanto o seu rabinho, o cão abana,
Da brasilinidade sobra nada....
Marcos Loures
91
Copo
Plástico
Loto
Mágico
Golpe
Baixo
Chofre
Acho
Acha
Caixa
Falsa
Traça
Caça
Fáscia.
92
Convoca à mesma queda em vão tropeço,
O olhar desta morena inebriante.
Além do que confesso, não mereço
O véu se mostra sempre deslumbrante.
Amor tem na alegria um adereço
E muda a fantasia num instante.
O mundo eu vou virando pelo avesso,
Mas vejo este sorriso tão constante.
Constato que não tenho outro caminho
Senão a palidez do amor inglório.
Não acho mais carinhos neste empório
Empoeirada estrada se repete.
Quem dera se eu pudesse; passarinho,
O dia-a-dia cala e me arremete.
Marcos Loures
93
Convites que te faço neste instante
Chamados para a festa multicor
Aonde se mostrando fascinante
O bem que nos domina – o pleno amor.
Teu corpo sensual e provocante,
Tocado pelo brilho encantador
Estende-se desnudo e radiante
Levando ao paraíso num torpor.
Teu olhar faiscante beladona
Aos olhos de quem ama se abandona
E deixa-se levar na correnteza.
Deitando sobre ti minhas vontades,
Encontro o paraíso em deidades,
Hipnotizado agora em tal beleza..
94
Convites de alegria e de bailado
Encontro em teu sorriso e sem descanso
A noite inteira vibro enquanto danço,
Estando, meu amor, sempre a teu lado.
Por anjos, meu caminho iluminado
Eternidade busco quando avanço,
Sabendo no final, este remanso
Há tanto em belo sonho, anunciado.
Estrada margeada por cristais
Em flóreas cercanias magistrais,
Decifro teus enigmas e me embrenho
No doce emaranhado, teus cabelos,
Com raios tão sublimes a envolvê-los,
Mostrando do bom Deus, seu raro empenho...
Marcos Loures
95
Convido-te, querida para a dança
Que é feita em fantasia e sempre traz
No bojo da alegria uma esperança
E torna a nossa vida em pura paz.
Sentir o paladar dos belos lábios
Além de teu carinho e teu afeto.
Encontro nos teus versos astrolábios
Levando ao rumo certo, o mais correto.
Eu enfatizo sempre que o amor
Que é nosso companheiro vida afora,
Moldado em amizade tem vigor
De eternidade intensa quando aflora.
Os passos, feitos versos; compartilhas
Trazendo para nós mil maravilhas...
96
Convido Sebastiana pro forró
Dançando a noite inteira sem parar,
Não cansa de gemer e de cantar
As pernas se misturam dando um nó.
A moça balançando sem ter dó
A dança diferente é de lascar,
Fazendo toda gente suspirar
Levanta no salão poeira e pó.
Mistura de xaxado com baião,
Causando reboliço e confusão,
Acende o coração, velha fogueira.
E assim sem ter remenda nem juízo
A gente já se emenda num sorriso
Dançando sem parar a noite inteira...
Marcos Loures
97
Convido para o enterro de um amor,
Féretro sairá de um coração
Cansado de sofrer só decepção
Nas mãos carregará um velho andor.
O corpo já começa a decompor
E cheira, na verdade à podridão.
Debaixo de maus tratos foi ao chão
Agora enterro simples, vou propor...
Sem luxos, nem sequer fita amarela,
Sem nome do defunto na capela,
Nem rezas, nem tampouco flor, desejo.
Depois de tanto tempo do teu lado,
O amor vai sem velórios, enterrado
Num clima de alegrias e festejo..
Marcos Loures
98
Ao ver um cidadão ser agredido
De forma tão covarde, por tal arma,
A sorte se demonstra além do carma
De um tempo mais feroz já percorrido.
E quando nos meus sonhos eu lapido
A imagem onde o todo nos alarma
De um mundo mais difícil que desarma
Uma esperança além da própria vida.
Um atentado destes nos assusta,
E a fúria se mostrando além, robusta,
Sabendo dura Lex onde é sed Lex
O pobre do senhor, hoje senil,
Demonstra a quantas anda o meu Brasil.
Num violento ataque com durex.
99
Um pobre cidadão
Que sempre foi tranquilo
Em seu suave estilo
Marcado a bofetão,
Batendo em professor
Gerando esta notícia
E nela da sevícia,
Um cálido senhor.
Cristão até medula
Um homem muito honrado
Caráter ilibado,
Que à burguesia adula,
De um povo tão safado
Terrível atentado!
4400
É fato que envergonha uma nação
Um homem de caráter como o Serra
Numa agressão covarde já se enterra
O que podia ser uma eleição;
Enquanto o Bush toma sapatada,
O nosso companheiro de leilão
Nos dias mais bonitos que virão
Na entrega do País anunciada,
Ao ser tão agredido por um povo
Que apenas passou fome noutros tempos
Já não sabe lidar com contratempos,
Ainda bem não foi vítima de ovo,
Pela primeira vez, repito e brado,
Seria; com certeza, ovacionado!
4401
promessas são promessas, nada mais
problema é realizar o que se fala
população cansou de ser vassala
usada pela elite em dias tais,
ousando com falácia sempre igual,
o tempo mostra a história onde atento
percebo o que se perde em ledo vento
gerado pela vã cara de pau.
assim também a pobre paulistada
palavra, no passado, nunca honrada
embora a assinatura garantia,
a farsa desenhada e corriqueira
usada como fosse verdadeira,
cheirando a repeteco: hipo-crisia.
4403
a culpa com certeza é de quem tenta
na marra ao impedir quem nao concorde
ainda que decerto quando aborde
de forma tão tenaz quão violenta.
imagem do sujeito em tez san-grenta
enquanto no careca, se recorde,
não há qualquer sinal.Verdade morde
e faz deste vazio o que sustenta
a tese mais sutil e verdadeira
até quando esta mídia porca inventa
tentando enfim gerar outro factóide.
perdoe se deveras sou pensante
e nada desta história num instante
respeita quem não é um debilóide.
4404
Das hastes desta flor, foi arrancado
Botão que prometia ser perfeito.
Espinho numa rosa, revoltado,
Não deixa quase nada, insatisfeito...
Crescendo novamente em vingança
Por ver botão tão belo e perfumoso,
Destrói este beleza em esperança;
Causando tal estrago, doloroso...
Mas sinto que te posso conquistar,
Não quero nosso amor se fenecendo.
As dores não se cansam de chegar,
Amor merece ser, sobrevivendo...
Na luta pelo amor eu não desisto.
Lutemos, sem temor, sempre por isto...
4405
Das glórias que esparramas, o clarão,
Tomando os meus altares, força e luz.
Enquanto a tua imagem reproduz
Eu perco o meu caminho, a direção.
Regando com tormentas, plantação
Coleto ao fim da vida, espinha e cruz,
Mas vendo em teu olhar, carícia, obus,
Estendo ao infinito, cada mão.
Abraço os meus fantasmas e temores,
Estrídulos de uma alma que em rancores
Tentara a liberdade, inutilmente...
Malabarismos tantos que eu tentei
Até chegar em manso cais à grei
Na qual eu vejo a luz que em paz, alente...
Marcos Loures
4406
Das garras rapineiras, fortes, vis,
O corte que ensandece e se aprofunda.
A sorte desejada se desdiz
Do nada o simples nada já redunda.
A primavera morta em cores gris
Inverno, imagem torpe, vã rotunda
Em ciclo vicioso agora diz
Da mão da solidão que enfim me inunda
Cilada que esta vida preparou
Suprime desde sempre uma esperança
Resume na verdade o que restou
De um ser que andara em sonhos delirantes.
Resíduos de inocência da criança
Mágicas fantasias inconstantes...
4407
Das frutas do desejo nem os gomos
Tocaram esta vontade mais voraz.
A boca que se quer ser tão audaz
Demonstra o que em verdade ainda somos.
Os versos que na cama nós compomos
Moldando uma alegria que nos traz
O vento que se fez em pura paz,
Jamais sonegará o que nós fomos.
Malabarismos tantos! Noite plena...
Menina a tua boca me envenena
Trazendo na saliva, maravilhas...
Agora que outro dia renasceu,
Amor que foi demais; apodreceu
Prefiro trafegar em outras trilhas...
8
Das mágoas e das sombras do que fui
A imagem delicada da mulher,
Aonde esta ilusão tola estiver,
O rio da esperança, calmo flui...
Porém minha alma amarga já conclui
Voaste para estrela, outra qualquer,
Por mais que a fantasia inda vier
Castelo de meus sonhos, cede e rui...
Teus lábios em meus lábios... frágil sonho,
Soturna melodia que componho
Colhendo estes retalhos que deixaste...
Ao vento este arvoredo se redobra,
Campanário que ao longe, os sinos, dobra
Quebrando da ilusão derradeira haste...
Marcos Loures
9
Das leis em sã razão sei os preceitos,
Afasto meus temores, sigo em paz.
Não tendo nesta vida, preconceitos,
Eu creio neste sonho que me traz
Amiga, tanto quero os meus direitos,
De tudo o que pensares, sou capaz,
Mas tendo meus motivos satisfeitos,
Não tenho por que ser sequer audaz.
Agora que percebo na amizade
A força que buscara a vida inteira,
A vida se mostrando em qualidade,
Decerto brilhará mais verdadeira.
Até chegar, enfim, felicidade,
E o mundo renascer de outra maneira...
10
Das lágrimas já fiz o meu farnel,
Tristezas que carrego no bornal
Impedem que eu consiga ver o céu,
Deixando o meu caminho desigual.
Às vezes eu percebo quão cruel
É o tempo que me resta, sol e sal
Queimando minha pele, amargo fel
Bebido em noite insana, vou ao léu.
Mas tendo uma amizade que socorra,
Talvez a minha vida tenha jeito,
Impede em alegria que se morra,
Alimentando o sonho mais airoso,
Tocando com carinho o nosso peito,
Tornando o meu destino caprichoso...
11
Das flores do jardim tu tens perfume raro
Viver amor sem fim, uma delícia imensa.
Ciúmes? Não precisa, amor eu te declaro
E espero teu amor por simples recompensa.
Um sentimento nobre atinge em sonho claro
Mostrando quanto é boa a vida em que se pensa
Somente em bom carinho, um sonho que é tão caro
A quem sofreu demais e sabe que compensa
Amar além do cais, trazendo na chegada
Sorriso calmo e franco, uma alegria em cada
Momento de ternura e paz que sempre quis
Um coração que sonha e não se cansará
Pois sabe que este amor prá sempre viverá
Deixando o meu jardim, decerto tão feliz...
Marcos Loures
12
Das flores que plantei, amor e tréguas
Nas plagas carinhosas do meu peito,
Andando por amor distantes léguas
Em busca do viver mais satisfeito.
Tenazes e sutis, tantas lembranças,
Passado que encontrara assoberbado,
Vibrando nestas hostes de esperanças
Fazendo deste amor meu doce brado.
Amo tudo que em minha alma semeio,
Na pertinácia imensa da paixão,
Poder acarinhar sem ter receio,
Os seios tão sublimes, coração...
Amor que revelando meu jardim,
Nas flores que cultivo, dentro em mim
13
Das flores que plantei no meu canteiro
O cheiro sensual da rosa rubra
Desejo tão real e derradeiro,
Fazendo com que a sorte, enfim, descubra.
Perfumas minha mão de jardineiro,
Trazendo toda sorte que a recubra
No olor mais delicado e verdadeiro.
Não deixe que esta nuvem má encubra
A rosa sensual e perfumada
Que nasce no jardim mais bem cuidado.
Só pede meu carinho e quase nada
Além duma emoção pura e sincera.
Por isso, pela rosa apaixonado,
Renasce, no meu peito, a primavera!
14
Das flores que não vi amanhecidas
Apenas um resquício feito em corte,
Seguindo o teu caminho, rumo e norte
As dores talvez sejam esquecidas.
As marcas da amizade percebidas
Trazendo um bom carinho que conforte,
Resiste na verdade à própria morte,
Eternidade intensa em várias vidas.
A mão que maltratara, em desencanto,
Semeia tempestades perde o cais.
Porém numa amizade, a calmaria,
Mostrando em alegria um novo canto,
Vibrando em harmonia sem jamais
Negar uma possível fantasia..
15
Das flores que cultivo em meu jardim,
As cores e perfumes mais diversos.
Sabendo serem simples os meus versos,
Eu tendo demonstrar o que há em mim
Usando este canteiro como exemplo,
Desfilo meus sentidos entre tantas
Belezas demonstrando o quanto encantas,
Pois és de um sonhador altar e templo.
Da rosa, esta altivez de soberana
Tens da dama-da-noite, o bom perfume,
Da orquídea a maravilha que engalana,
Delicadeza sutil de uma verbena
Porém, no frio espinho dos ciúmes,
Azaléia: beleza que envenena...
16
Das flores que conheço seus perfumes,
Ou a beleza angélica dum lírio...
Algozes cariciam meus queixumes,
Nas horas mais difíceis, num martírio...
Rebrilhando processam belos lumes,
Majestosas; me levam ao delírio,
Amores gigantescos alçam cumes,
Nos olhos da natura um bom colírio...
Tantas maravilhosas esperanças...
A beleza inaudita destas flores...
Dama da noite, dálias, as lembranças...
Dos antigos carinhos, dos amores...
Nossos tempos felizes, das crianças
Que fomos, enlouquecem-me os olores...
Das flores que brindávamos, jardim...
Das cores que sonhávamos, jasmim...
A saudade maltratando tudo em mim...
17
Das coisas que carrego pela vida
O teu sorriso pesa no meu peito,
Por mais que a realidade torpe agrida;
Abarco a fantasia quando deito
E tendo em minhas mãos; calos da lida,
Felicidade faz benigno pleito,
Missão com tal penhor sendo cumprida
Permite que eu me sinta satisfeito.
E possa mergulhar neste universo
Telúrico caminho desvendado;
Saber que estás aqui bem ao meu lado
Transcende ao infinito enquanto verso
Meu mundo em teus supremos Paraísos;
Cirúrgica expressão em tons precisos...
18
Das cobras cada bote traz venenos
Que encontram seus antídotos nos sonhos.
Quem sabe de momentos mais amenos
Recebe ventos mansos e risonhos.
Atenda por favor, os meus acenos,
Decerto não serão pra ti medonhos.
Atento aos teus desejos, mas serenos,
Os dias não serão sequer bisonhos.
Menina não se esqueça que o contraste
Sempre valorizou qualquer matiz.
Ouvindo o que teu peito, quer e diz
Tremores de alegria provocaste,
Maior do que se deu em São Francisco,
Matando esta serpente, cadê risco?
19
Das férreas emoções, este legado
Herança que deixaste, vil, venal
Quarara uma esperança no varal,
Depois de certo tempo; destroçado.
Guardando os guardanapos do passado,
A seca que invadiu o meu quintal
Permite que se tente bem ou mal
Algum sorriso, mesmo disfarçado.
Das farpas que me deste, dos espinhos
Cevei as flores mansas nos meus ninhos
Adubo para o Norte em que prossigo,
Fraturas dentro da alma, corrigidas
De tantos labirintos as saídas
Trouxeram proteção ao desabrigo...
Marcos Loures
20
Das dores um eleito, simplesmente
Fadado aos desencontros, descaminhos.
Meus olhos prosseguindo assim sozinhos,
O sol no meu jardim, duro e inclemente.
Imagem que embotando a minha mente
Na ausência de carícias e carinhos.
Cevar? Se já não tenho mais ancinhos
Apodrecendo enfim, cada semente.
Vestido de ilusão, chegando ao nada.
A queda preconiza o vão da escada,
Escaras dentro da alma ora carrego.
Porém se tudo fosse de outra forma,
O amor sendo o juiz, a lei e a norma
Em plena luz jamais seria cego...
Marcos Loures
21
Das distantes quimeras de minha alma
A luz sempre escondida, nunca brilha...
Meu pensamento, louco sempre trilha
Embora tanta dor não traga calma.
Futuro que se esconde em minha palma
Talvez inda prometa a maravilha
Atada no meu pé a triste anilha
Mostra-me que o futuro não acalma...
A minha sorte, embalde tanto insista
Não posso permitir que a morte assista
Sem ter nenhum clarão de tal beleza.
O canto que me trazem as sereias
Morrendo tresloucados nas areias
Dos deserto, se foram com Teresa,,,
Marcos Loures
22
Das cruzes que carrego, em sentimento;
As trevas do que fui inda me pesam.
Não bastam tempestades, chuva e vento,
Olhares incisivos me desprezam...
Não quero que este canto seja isento
Dos erros que perfazem meu caminho.
Mas, juro, minha amiga, sempre tento,
Fazer com mansidão, recanto e ninho...
Instintos que se tornam mais domados,
Indômitos geraram tantas dores.
Agora nestes dias esgotados,
Aprendo a semear algumas flores...
Assim como a amizade real é pura,
Meu canto busca encantos na natura...
23
Das coxas tão bonitas da morena
Vontade de fazer tanta besteira,
Enquanto este desejo já me acena
A moça se mostrando feiticeira
Parece desejar o que mais quero,
Beber do mesmo gozo em noite imensa.
O amor se verdadeiro e mais sincero
Merece com certeza recompensa.
A filha do patrão, moça prendada
Olhando para mim, jagunço pobre
Vontade sem juízo alvoroçada
Cuidado que se tem que se redobre...
Mas moço que já fora ajuizado
Agora se perdendo, apaixonado...
24
Das coxas a promessa de novelos
Em becos e caminhos, à vontade.
Roçando as nossas carnes, bocas, pêlos
O dia nascerá tranqüilidade.
Liberta borboleta foi crisálida
Que há tempos cultivei no meu jardim,
Da moça que sem viço, feia e pálida
Refeita em maravilha chega assim
Causando um reboliço no meu peito
Domina toda a cena, costa a costa
No delicado porte, este trejeito
Do jeito que se quer e que se gosta.
Arromba em um segundo os meus umbrais,
Bebendo desta fonte eu quero mais...
Marcos Loures
25
Das cóleras temíveis e supremas,
Não quero mais sequer algum momento.
Romper do meu passado, vis algemas,
Sentir das alegrias, movimento.
Ao lado de quem amas; nada temas,
O amor promete a paz; sincero alento,
Estrelas em perfeitos diademas,
Na luz de olhar; já me apascento.
Vencer este amargor que inda resiste,
Jamais o meu cantar se porá triste
Alheio a tais areias movediças.
O quanto desejara ser feliz,
Apenas ao teu lado, ausente gris,
As tardes não serão, frias, mortiças...
26
Daria com certeza um belo mote,
O risco que corremos depois disso.
O solo deste amor é movediço,
Perdendo todo o doce, quebro o pote.
E faço da serpente gozo e bote,
O vidro se mostrando quebradiço,
Caminho sem saber do novo enguiço,
Esguicha o coração, velho fracote.
Querendo não querer, teimo demais.
Do visgo de teus olhos faço o cais
Quebrantos encontrando na saída...
Será que não seria mais sublime,
Morrer sem compaixão, ou mesmo um crime
Que deixe esta parada resolvida...
Marcos Loures
27
Daquilo que pensava ser amor
Apenas fantasia e nada mais.
Cansado destes velhos temporais,
Coração sem um cais, navegador.
Depois de tantos sonhos, recompor
A vida em momentos tão banais,
Os dias se passando sempre iguais,
As noites mormacentas sem calor.
Olhando para os lados, não mais vejo
Aquela em quem depus o meu desejo,
Ausência de alegria e de esperança.
O medo de viver assim tão só,
Desato da ilusão tal frágil nó
E a noite em desencanto já me alcança....
Marcos Loures
28
Daquela a quem amor eu ofereço
Não quero nada mais do que seu beijo,
Envolto totalmente no desejo
Meu coração, feliz, eu obedeço.
Assim em cada novo dia eu teço
Mil versos com carinho e com traquejo.
Quem fora tão sozinho sente pejo
E a triste solidão, enfim, esqueço.
Não posso me calar, por isso eu grito
Soltando minha voz, estava escrito
Nos búzios, nas estrelas e nas cartas
Que um dia poderia te encontrar,
Agora que eu te tenho, tanto amar,
Eu peço, nunca mais de mim apartas...
29
Dancemos homenagens para o deus
Que paga nossas contas e pecados,
Se tens no bolso mais que alguns trocados
À miséria darás o teu adeus.
Bastando para tanto que tu creias
Nos milagres vendidos nesta Igreja,
Fortuna sem igual, grana sobeja
Melhor que o canto torto das sereias.
Um dia num deserto, não sei onde
O deus maravilhoso já se esconde
E vendo o peregrino que andrajoso
Seguia por penedos tão faminto,
Ofereceu riquezas. Não, eu minto;
Parece que foi obra do... tinhoso!
Marcos Loures
30
Das cinzas do cigarro fiz teu nome,
Escrito com detalhes sobre a mesa.
Saudade, certamente me consome,
Espero teu carinho, sobremesa...
Não disse adeus, querida, já te espero.
A noite se promete formidável.
Amor que tanto quis e que venero,
(Carinhos e desejos), tão amável...
Me dê a tua mão, vamos sair,
A noite nos espera, extasiada...
Sabendo que o melhor estar por vir,
Vivendo sem cessar, ó minha amada...
Não deixe tanta vida, por aí,
Te quero, vem comigo, estou aqui...
31
Das chamas exauridas do passado,
Deixaste-me qual fênix ressurgida.
A pedra lapidada, até ungida
Reflete o coração ressuscitado.
Do quanto me encontraste amargurado,
Minha alma aventureira, vã, perdida,
Sem ter nem perceber sequer saída
Inútil poesia, duro fardo.
Avesso às soluções mirabolantes,
Teimando em destruir os diamantes
Um velho prepotente e sem paragem,
Os dedos engelhados, rugas tantas,
Porém ao ter noção de quanto encantas
Renova-se ao final, esta paisagem...
32
Das asas que me deste em sonho audaz
Quem dera se eu pudesse voar leve,
O amor em um momento já se atreve
E faz de cada verso, capataz.
Enquanto a luz conheço, amor me traz
O tempo de sonhar, mesmo que breve,
Buscando um novo tempo que reserve
Perfume desta flor, ternura e paz.
Não vejo e nem pretendo ter o gume
Da faca no pescoço, fundo corte.
Apenas sou tocado pelo lume
Falena que procura uma manhã
Aonde se perceba que melhor sorte,
Fazendo do prazer rara maçã.
SONETO SEM A LETRA I
33
Dançavas com volúpias indizíveis
Mostrando teus anseios de profana
Os quadris esguiavas , tão incríveis.
Nas formas e montanhas da serrana
Terra. Sonhei desejos impossíveis
Do sabor mavioso desta cana
Escorrendo meus lábios. Os possíveis
Prazeres, a luxúria não me engana.
Nas danças convulsões quase que orgásticas,
Desejos entranhados manifestas.
As pernas seminuas, mais fantásticas...
No rosto, despudores e anseios,
A boca prometendo loucas festas.
Transparência divina: belos seios...
34
Dançávamos juntinhos e era bom,
A música invadia os meus ouvidos
O teu corpo atiçando os meus sentidos,
Os pés acompanhando, o mesmo tom.
Durante muito tempo aquele som
Deixava os pensamentos tão perdidos
E estávamos, deveras, convencidos
Que o amor nos escolhera. Raro dom...
Passava um mês, um ano, uma semana,
E tudo se esquecia noutra festa.
Os malditos hormônios garantiam,
Porém realidade desengana
De pouco que era muito, nada resta,
Porém beijos gostosos nos viciam...
35
Dançavas em nudez quase completa
Fazendo sensuais, loucos volteios.
No breve movimento de teus seios,
Promessa de uma noite mais repleta.
Ardente e tentadora, uma ninfeta
Que tesa em movimentos, bamboleios,
Ao experimentar rudes anseios,
Banquete nesta insânia, predileta...
Entreabertas pernas permitiam
Visão profana e santa deste cálice.
Pedindo que depressa, logo; escale-se
Delícias que meus olhos percebiam.
E assim, total deslumbre, intensa fúria,
Ardentes convulsões, gozo e luxúria....
36
Dançavas cumbia noites mais portenhas...
Te víamos estrela Buenos Aires,
Perdidas todas manhas minhas senhas...
Amar foi perseguir-te por luares....
Nas danças ludibrias, nossas lenhas,
No rádio do meu carro, nossos bares,
Voávamos libertos, nossas penhas...
Estavas tão desnuda nos altares...
Bandaleons , acordos loucos tangos,
Morfeu acaricia nossos sonhos...
Nos amores estrias, fandangos
O carpido desejo renascer.
Dançávamos os sonhos mais medonhos
Nos ares que voamos, vou te ter...
Marcos Loures
37
Danças, saltos, mergulhos sem parar,
Nossos sonhos envoltos em prazer.
Prazer que nos invade sem parar,
Dançando sem vontade de descer...
Mergulhos, tantos saltos sobre a chama,
Vida que se incendeia e nos fustiga,
Aplaca nossos sonhos, não reclama,
Na cama que rolamos, trama amiga...
Nossa alma é uma nave sem destino,
Vagando pelo espaço sem paragem.
Se temos ou não somos, nem atino,
Apenas te convido pr’a viagem...
Que tramo nestes saltos e nas danças,
Rumando para amor, Roma, esperança
38
Dançarmos nossa dança sem descanso,
Vencer as intempéries e as invejas.
Terás todo este amor que tu desejas
Fazendo do recanto, um bom remanso.
A voz que em alto brado, agora eu lanço,
Detendo as correntezas que sobejas
Trará em calmaria o que ora almejas
Nas ondas deste mar, doce balanço.
Estar contigo é ter uma certeza
De ser além de tudo, mais feliz.
Fascínio de um amor, e eu aprendiz
Recebo o teu carinho e com firmeza
Espero novo dia pra poder
Mais forte, proclamar nosso prazer...
Marcos Loures
39
Dançaremos o ritmo que quiseres
Prazeres desfraldados nossa cama.
Na mesa dos amores, mil talheres,
Na ronda da alegria, enfoque e chama.
Rodando nesta valsa vienense
Num samba tropical ou num bolero,
Que o amor que tanto espero recompense
Do jeito e da maneira que mais quero...
Amada, não me canso de dizer
Do quanto te desejo, quanto admiro,
Em cada novo passo, novo giro,
Ardências e vontades de poder
Alçar os infinitos de teus passos,
Roçando com meus lábios, dedos, braços...
Marcos Loures
40
Dançaremos o ritmo que quiseres
Prazeres desfraldados nossa cama.
Na mesa dos amores, mil talheres,
Na ronda da alegria, enfoque e chama.
Rodando nesta valsa vienense
Num samba tropical ou num bolero,
Que o amor que tanto espero recompense
Do jeito e da maneira que mais quero...
Amada, não me canso de dizer
Do quanto te desejo, quanto admiro,
Em cada novo passo, novo giro,
Ardências e vontades de poder
Alçar os infinitos de teus passos,
Roçando com meus lábios, dedos, braços...
Marcos Loures
41
Dançando sobre os sonhos, indolente;
Nessa semi nudez que me domina.
Segredos de donzela e de serpente;
Aos poucos, docemente, me alucina...
As ondas que tu mostras, nesta dança;
Forjando nos meus olhos, um delírio.
A noite nos teus braços, sempre avança;
Mistura de desejos e martírio...
Dançando nosso amor, sem perceber;
Hipnotizado fico e não reclamo...
A cada novo dia, perceber,
Que sempre e tanto mais. Ah! Como eu te amo!
Nas mesclas de ternura e tentação,
Aprisionado e louco de paixão!
42
Dançando sob o brilho das estrelas
Tocando uma viola caipira,
Cadenciando os passos do catira
As luzes que eu desejo aqui contê-las
São fartas alegrias, noites belas,
E enquanto a gente bebe e a mente gira
Beleza da cabocla que se admira
E que com poesia tu revelas
Convites para a dança num sorriso,
O portal principal do Paraíso,
Que ateia o fogaréu dos meus anseios.
E assim a noite imersa em fantasia
Enquanto este luar se refletia
Derrama prata sobre os brônzeos seios...
43
Dançando no teu corpo sem cessar,
Eu tenho toda a vida pra viver
Ao lado de quem sempre quis amar,
Amando simplesmente; pertencer...
Minha alma descoberta te quer nua.
Tão nua nos meus braços, nosso encanto
Cada canto; vestida desta lua,
De prata, transparente, belo manto...
Nascendo e ressurgindo dos meus braços,
Que sempre foram teus, desde a chegada.
Reparto nossas bocas, tramam laços.
E deitam no infinito, minha amada...
Lençóis, edredons, tramas e coberta,
Camas e maciez... Que descoberta!
44
Dançando num compasso em desvario,
Fantasiando gozos e viagens,
Descendo minhas mãos, encontro o rio
Aonde arrebentei tantas barragens.
No quanto ao me embeber, já me vicio
Eu quero sempre além destas visagens,
Matar o meu desejo, não adio
E quero ter agora tais paisagens.
Remeto-me ao teu colo, seios fartos,
Dos sonhos a verdade faz os partos
E deita sobre nós a intensa luz
Na qual eternamente quero estar,
Tocando com leveza, devagar,
Vagando ternamente, corpos nus...
Marcos Loures
45
Dançando nossa dança predileta
Nossos rostos colados, passo a passo,
Minha vida na tua se completa
Na plena sintonia deste abraço.
A noite vai passando... A fina seta
Do deus apaixonado, no compasso,
Atinge bem em cheio a sua meta,
E sinto mais firmeza no teu braço...
Amar é se entregar, eternamente,
Te juro, meu amor, te quero tanto...
Não deixe que esta dança, de repente,
Termine na saudade, em um adeus,
E vendo, tanto encanto neste canto,
Eu louvo a pontaria deste deus...
46
Dançando no salão iluminado
Dos sonhos e vontades, meus desejos.
Encontro cada sombra do passado,
Rendendo-me mergulho nos teus beijos.
Depois no baile fanque da esperança
Encontro atoladinha esta menina.
Dançando em chapa quente se ela dança
O tempo de sonhar nunca termina.
Quem dera se pudesse a patricinha
Saber do vira lata que a procura.
Cachorras, preparadas, perco a linha,
No popozão da moça a minha cura.
E assim buscando amor não sei aonde
Eu vou seguindo a gata e pego o bonde...
Marcos Loures
47
Dançando no salão das esperanças
Promessas do que fomos repartidas.
Atando bem mais forte em alianças
Unimos com carinho nossas vidas.
As horas que se passam, calmas, mansas
Remansos em estradas distraídas
Atando nossos passos, mesmas danças,
As dores são deveras redimidas.
Eu quero estar e ser teu companheiro,
Vivendo um sonho intenso a cada dia.
Sentindo o teu perfume, rastro e cheiro
Singrando o doce mar da poesia.
Catando estas estrelas que derramas
Fazendo das estrelas, novas chamas...
Marcos Loures
48
Dançando nas esferas e nas ruas
As nuas melodias e os sonhos,
Que fazem de meus olhos mais risonhos
E em plenas alegrias continuas
As Ruas e destinos são festejos
Realejos dos meus tempos de criança
Quem me dera se todos os desejos
Realizassem por certo uma esperança
Mas, nada , estou assim muito feliz,
Sabendo que virás ao fim do dia.
O brilho dessa vida, sempre quis.
depois de tanto tempo,por um triz
Revivendo invadindo a poesia
Trazendo, ao fim da vida, uma alegria!
49
Dançando na quadrilha dos meus sonhos
Morena sedutora me sorrindo.
Enquanto em maravilhas eu deslindo
Momentos com certeza mais risonhos
Depois de dias frios e tristonhos
Eu vejo o amanhecer de um dia lindo.
Convites de quentão, fogueiras, danças,
Nos olhos tanto brilho, fogaréus...
Nos passos que traçamos, esperanças
Olhares se encontrando pelos céus...
Voltamos num instante a ser crianças
Usando as fantasias como véus...
Folguedos e festanças, esplendor
Do mágico poema feito amor...
Marcos Loures
50
Dançando na noite, bate e me guia
Nesta fantasia a gente se perde
Tem gente que pede outra ventania
O vento sacode e traz alegria.
Eu quero o meu canto o quanto que quero
Eu não quero espanto o pranto não gero
Amor que venero é sempre um encanto
Ficando no canto aguardo o que quero...
O tempo que trago a noite me deu
Amor que morreu espera um afago
Sozinho vou eu nas margens do lago
Bebendo esse trago amor meu morreu.
Mas danço de novo o canto que tinha
A noite é tão minha, assim me renovo...
51
Dançando entre as estrelas, sóis e luas
Ouvindo em disparada, corações
As peles e vontades todas nuas
Aos olhos dos fantasmas, emoções.
Enquanto mais distante continuas
Os rios vão tombando embarcações
Se eu tento e na verdade não flutuas
Atuas com delírios e paixões.
Meu álibi promete a liberdade
Em transe procurei tuas pegadas,
Depois de certo tempo, a liberdade
Não vale quase nada, disso eu sei,
As hóstias da ilusão são consagradas
À sorte que decerto em não achei....
Marcos Loures
52
Dançando em poesia
voamos sem parar,
no rumo da alegria,
vagamos num luar
que é tudo o que eu queria
poder comemorar
a bela fantasia
de poder te encontrar,
dançando nos espaços,
estrela deslumbrantes
juntemos nossos braços
amando mais do que antes
e em valsas, danças belas,
chegarmos às estrelas...
53
Dançando em poesia
voamos sem parar,
no rumo da alegria,
vagamos num luar
que é tudo o que eu queria
poder comemorar
a bela fantasia
de poder te encontrar,
dançando nos espaços,
estrela deslumbrantes
juntemos nossos braços
amando mais do que antes
e em valsas, danças belas,
chegarmos às estrelas...
54
Dançando com teu canto sou feliz,
Amando assim, deveras, ganho a vida,
De tudo o que de bom penso que fiz,
Eu devo tanta coisa a ti, querida...
Vivendo uma alegria por um triz,
Acho do labirinto, uma saída,
Não resta mais nenhuma cicatriz,
Tristeza já se foi em despedida.
Encontro em tuas mãos, o meu amparo,
Meus passos nos teus passos, elisão,
O nosso amor, tu sabes é tão raro,
As tuas mãos macias e serenas,
Tocando minha pele e coração,
Prá sorte no futuro já me acenas...
55
Dançando com palavras, eu sonhei;
Na valsa debutante deste amor.
Os trâmites legais eu respeitei,
Embora sempre fosse um sonhador.
Amar não é seguir nem ditar lei;
Do amor serei decerto, um servidor.
É certo que em deserto eu esperei,
E veio a tempestade sem temor.
As lavras e canteiros que cultivo
São parte deste sonho. O que fazer
Se sem amor nem sei se sobrevivo,
Ou vivo simplesmente por viver.
Amar não é se dar e ser passivo,
É mais do que ficar, é sempre ser!
56
Dançando com as nuvens, par em par,
Vagando as noites claras, sem sossego.
Amor que nos guiando traz apego,
Vontade de em teu colo me entregar.
Nós somos testemunhas de que amar
É como reviver, isso eu não nego.
É refazer os olhos de quem cego
Não via mais as cores deste mar.
Navego com a brisa, com os ventos,
Chegando ao porto manso de teu colo.
Jamais em sacrifícios eu me imolo,
Pois tenho aqui comigo, pensamentos
Nos quais, quando em tristeza, me consolo,
E aplaco quaisquer dores, sofrimentos...
Marcos Loures
57
Dançamos noite inteira sem parar
Na festa deste sonho em maravilha
Que leva pelas mãos até luar,
Em purpúreas delícias, nossa trilha.
Olhar que qual farol sempre rebrilha,
Mostrando em que planetas navegar,
Levar-te junto a mim, uma bela ilha,
No carrossel divino, céu e mar...
No jardim das canções, no horizonte,
Que é feito do matiz encantador.
No mundo mais bonito que desponte
Amor que sempre gira, mente e sonho,
Florescendo e raiando em cada flor,
Nos versos da cantiga, eu te proponho...
58
Dançamos nossas noites de alegria
Ébrios desta insensata lucidez,
Que traz como verdade, a fantasia,
E mata a realidade em sua tez.
Nas Torres, nas senzalas, nas masmorras,
Amarro nossas almas transtornadas.
Impedem que dos medos nos socorras,
De tantas as tristezas entornadas...
Dançamos nossas noites, sem parar,
Vivendo nossos sonhos nossa luz.
No parto que prepara nosso mar,
Reflete todo amor que se produz.
E vamos para o dia, peito aberto.
Sem medo da aridez deste deserto!
59
Dama que em minha cama vira a puta
Que sempre desejei, fúria e paixão.
Abrindo a sua xana não reluta,
Devora, engole tudo com tesão.
A fêmea delicada, assim astuta,
Arranca mil gemidos, tentação,
Encharca de vontade cada gruta
Molhando com delírio. Convulsão.
Felina que ronrona enquanto arranha,
Como um anjo sacana abrindo as pernas,
Enlanguescente finge em doce manha
Maliciosamente pede mais.
As nossas madrugadas loucas, ternas,
Delitos e pecados sensuais...
Marcos Loures
60
Dados que já rolaram destruídos
Rugindo tempestades sem sentido...
Na quilha dos desejos percebidos
O medo transportando, vou perdido...
Criaturas deixando seus olvidos
Nos roseirais delírio desvalido.
Nas hispânicas lutas meus sentidos...
Dado que sempre rola, destruído...
Mensagens sem remota qualquer chance
De resposta por quem não deseja volta...
Na montanha risonha do romance,
O medo desafia pede escolta.
Se foste meu amor, não és fiancè,
Meus dados que rolaram na revolta...
Marcos Loures
61
Da vida refazendo uma ilusão
Bebendo até fartar as decepções.
Sentimentos, eternos alçapões,
Ladrando de saudade feito um cão.
Não quero mais saber de outro senão,
Sem vértices mergulho nas paixões
Naufrago sem pudor, embarcações,
E trago com doçura cada arpão.
Se fétido ou se lúdico, não sei.
Veremos no final, se existe lei
Ou regra que me impeça um recomeço.
Nas farpas que trocamos; bem ou mal,
Amor ao desfilar em festival
Espera pela queda num tropeço...
62
Da vida que se sente, assim, amada
Recolho meus momentos mais felizes,
A lua se espalhando na calçada
Promete em profusão raros matizes.
Canções vão percorrendo nossos ares,
Mergulhos em fantástica alegria.
Aonde e da maneira que sonhares
De ti farei a minha estrela guia.
Carrego dentro em mim a tua luz
E dela faço o rumo de meus passos.
A solidão que fora algoz e cruz
Sucumbe, cedo, à força dos teus braços.
É bom gritar ao mundo que hoje és minha.
Minha alma na tua alma já se aninha...
Marcos Loures
63
Da vida me aportaram nos teus braços,
Os barcos de meus sonhos, fantasias.
Estreitam-se, com força nossos laços
Sabendo deste amor, as garantias.
Não quero mais viver desiludido,
Nem mesmo que me sangrem as promessas
O quanto amor é bom, se repartido,
Tu sabes e decerto me confessas.
Não temos mais motivos pra sofrer
Tocados pelo gozo da ventura
Que mostra toda a força do prazer
Calando com sorrisos a amargura.
Depois de meu passado triste e roto,
A fonte do prazer jamais esgoto.
Marcos Loures
64
Da vida em harmonia e bem querer
Eu traço o mote e expresso em poesia
O bom que tantas vezes se estendia
Mudando todo o curso do viver.
Não posso mais deixar de te dizer
O quanto que recebo em alegria
Palavra que decerto bendizia
A trama que escolhi, a percorrer.
Nas cinzas que carrego no meu peito,
Amor em mansidão já deu seu jeito
Agora nada temo, com certeza.
Seguindo a minha vida em calma e paz
Decerto a plenitude agora traz
A força que não teme a correnteza.
Marcos Loures
65
Da tua imagem mágicos adornos
Criados na retina dos meus sonhos,
A sílfide em fantásticos contornos
Promessa de momentos mais risonhos...
O acaso que juntou minha alma à tua
Num ato tão perfeito quanto harmônico,
E quando o afeto mútuo assim atua,
É para o sentimento como um tônico
Fortalecendo os laços, permitindo
Então um caminhar mais vigoroso,
E quando em ti belezas tais; deslindo,
Eu sinto o propagar de intenso gozo,
Nas ondas de teus mares, naufragado,
Marulhos do desejo, imenso brado!
66
Da tua camisola transparente
Imagens destes seios deslumbrantes,
Mamilos excitados e excitantes
Uma explosão em gozos se pressente.
O coração dispara de repente
Deliciosos ritos, fascinantes,
Sorrisos em convites provocantes
Imenso turbilhão tomando a gente.
As línguas se misturam; vagam dedos
Descobrem dos prazeres, seus segredos
Enredos entre redes feitas braços.
Penetram-se desejos e vontades,
Fronteiras destruídas, sem as grades
Intenso fogaréu estreita laços...
67
Da tua boca sinto essa peçonha
Crotálica presença, escorpiônica.
Mordaz; uma beleza assim medonha,
Minha respiração se torna agônica.
Enquanto uma esperança ainda sonha
Minha alma se perdendo vai atônica.
Por mais que uma alegria se proponha,
A vida não será; jamais, harmônica.
Da fêmea demoníaca que enlaça
A cérvice de quem amou demais.
Aporta em tempestades tal desgraça
Negando ancoradouro, perco o cais.
O tempo do teu lado nunca passa,
Porém insano amor, eu quero mais...
68
Da textura da seda em tua pele
Deste perfume doce que inebria,
Aroma que domina e que impele
A te buscar sem medo em alegria...
Dá-me esta esperança de emergir
Neste sacrário louco e mais profano,
Sofregamente quero te sentir,
No enrodilhar de pernas mais insano.
Sorver de tua pérola este sal,
Que me deixa, tu sabes, sempre tenso,
E verter meu carinho sensual
Neste infinito céu de sol intenso.
Ah! Faz surgir a flor voluptuosa
Que tão tropegamente, vem e goza...
69
Da tristeza dos olhos de quem ama
Acesa esta fogueira no teu peito.
A dor que me tocando logo inflama
Transborda em teu sorriso, satisfeito.
Meu sofrimento é toda a tua chama
Lençol que te acarinha no teu leito,
Se preso em tuas garras, tua trama,
Cada vez mais cativo, assim eu deito.
Amor antropofágico e voraz,
Que é feito destas mágoas mais profundas,
Não sabe, em turbilhão, viver a paz,
Tua alegria é feita destas chagas,
Do sangue derramado é que te inundas,
Mordendo, calmamente enquanto afagas...
70
Da sorte e da alegria sente o cheiro,
Deixando esta mordaça já de lado,
Amor que a gente fez; anunciado,
Mudando a nossa vida por inteiro.
Entendo cada encanto verdadeiro
Não sendo mais decerto um estouvado
No corpo que desejo faço arado
Nas coxas e nas ancas meu canteiro.
Cavalo que se atrela em esperança
Bobeia, segue livre e o céu alcança
O tempo lança os dados, faz o jogo.
E a gente com vontade não se cansa,
Brindando com prazer esta aliança
Brincando sem descanso com o fogo..
71
Da silhueta altiva e tão esguia
Tocada pelas névoas ao luar,
Invade mansamente o meu sonhar
E a velha direção já se cambia.
Flamejante, este olhar que me irradia
Com eloqüência sinto-me tomar
Por tal beleza rara. Vislumbrar
Imagem que em teus olhos trama o dia.
Enlouquecido vago, tristemente
Depois que tu partiste, o que restou?
Resposta aos meus anseios diz: ninguém...
O fim da longa estrada se pressente
Mostrando na verdade quem eu sou
Mortalha enegrecida, ancora e vem...
Marcos Loures
72
Da senda que eu julgara já perdida
Entregue em descaminho à própria sorte
O vento dolorido amargo e forte
Estrada entre os espinhos percorrida
A vida preparando a despedida
Projeta tão somente frio corte
Secando uma ilusão que sem aporte
Enlutada, perece, esvaecida...
Seguindo solitário, ninguém vê,
Quem dera se eu pudesse ainda crer
No encanto que o passado desenhou.
Procuro o teu retrato, mas cadê?
Apenas em meu mundo o desprazer
A morte, no vazio, diz quem sou...
Marcos Lou
73
Da rosa que o amor despetalou
Apenas vaga imagem de um canteiro,
Que segue em cada passo o que restou
Do sonho que julguei ser verdadeiro.
Desdigo num momento o que hoje sou
O vento jamais fora alvissareiro.
O fardo que esperança carregou
Incendiando em vão, foge ligeiro.
Acaso se chegasses e tivesses
Esta visão do amor que não se preza.
Terias com certeza uma surpresa
Antítese perfeita mata as preces
O amor que outrora fora mais amigo,
Prepara diariamente o meu jazigo...
74
Da rosa que plantei sob a janela
Apenas os espinhos recolhi,
Enquanto a solidão já se revela
Eu volto o pensamento e chego a ti.
O amor na sua vasta clientela
Espalha uma esperança lá e aqui.
Depois vaga sozinho, mata a estrela
Dizendo do que eu quis e não vivi.
Amarga sensação que não me larga,
Nos dardos que lançaste num olhar
Eu sei que este horizonte não se alarga
Na adaga que penetra impunemente
Vontade de partir e de ficar,
Transtorno que nos toma corpo e mente...
Marcos Loures
75
Da rosa que me deste, o meu canteiro
Na rubra maravilha se deslinda,
Por mais que o sofrimento venha, ainda
Beleza deste encanto, mensageiro.
O sonho de um poeta verdadeiro
Permite que se entregue à flor mais linda
Perfume fascinante não se finda
E vive eternamente, por inteiro...
Mal sabes quanto o belo representa,
Apascentando a dor tão violenta
Da dura solidão de um sonhador...
Rosais que tu plantaste no meu peito,
Cativo dos florais, já me deleito
Com toda a perfeição da bela flor...
Marcos Loures
76
Da noite que se fez agalopada
Lençóis e fronhas soltas pelo chão.
Da pele tão macia, assim suada,
O brilho de estrelas, constelação.
Sentindo tua boca navegando
Meu corpo entre carinhos mais completos,
De novo minha pele arrepiando
Tu sabes dos meus atos prediletos.
Os beijos mais gostosos tão intensos,
As mãos que não se cansam de explorar.
Viajo por planeta e mar extensos;
A boca vai descendo devagar...
E assim, nesta delícia matinal,
De novo percorremos todo astral...
77
Da primavera em flores, o meu peito
Vivendo vicejante, transtornado.
Lutando pelo amor, que é seu direito,
Querendo ser de amor também amado...
Estendo os braços meus e te procuro,
Em meio a tais jardins do bem querer.
De luas estrelares, brilho puro,
Que faz o nosso céu resplandecer.
Eu sigo te pedindo essa ventura
De ter o teu carinho, minha amada.
Amor tão forte, intenso, se perdura,
Após o doce beijo da alvorada...
Da primavera, quero a primazia,
De te inundar de flores, de alegria...
78
Da pedraria falsa que lapido
As pérolas desbotam-se em fracassos.
O rumo há tantos anos decidido
Encontra na agonia os vãos abraços.
Ouvindo da esperança, dor, gemido,
Arranco com franqueza os velhos laços,
O que julgara há tempos, vai partido,
Olhares se tornando frios, baços...
O féretro dos sonhos, seus velórios,
Amor que tanto carpe e me entontece,
Da antiga ladainha, inútil prece
Forrando em pesadelos merencórios,
Aguarda numa espreita, a amarga sorte,
Cerzindo com sarcasmo, a minha morte...
Marcos Loures
79
Da noite que chegando devagar,
Pretendo tão somente uma ternura
Que venha mansamente demonstrar
A divindade imensa, bela e pura
Que enlaça cada passo a se mostrar
Bem longe dos verdugos que em tortura
Invadem com terrível amargura
O sonho em que cismei de te adorar...
Teus seios, tua pele, a tua boca.
Martírios e desejos misturados,
A noite vai rolando, audaz e louca
Atando nossos corpos num segundo,
E assim, em mil prazeres decorados,
Vagamos o universo em mar profundo...
80
Da neve que me toma o sentimento,
Agrisalhando aos poucos meus cabelos,
Teus olhos tão distantes. Posso vê-los
Entretanto, sonhando num momento...
A chuva se mistura com o vento
Dos céus nuvens confundem-se em novelos,
Agônicos espectros, seus apelos
Expiam esperanças, me atormento...
Pesadelos afloram. Histriônicos
Esgares em total estupidez.
No solo da alegria, esta aridez,
Os passos se confundem, desarmônicos.
Satânicos fantasmas. Neste abismo,
O amor se transbordando, fanatismo...
Marcos Loures
81
Da noite feita em trevas, sinto o brilho
De um sol tomando em glórias, o horizonte.
Ao ver tanta beleza, sonhos trilho,
Procuro de onde vem; divina fonte.
O velho coração tolo e andarilho,
Sem ter a direção que ainda aponte
Por onde prosseguir sem empecilho,
Já sabe e reconhece a frágil ponte
Que o leve ao mais sublime amanhecer,
Depois de tantos medos e tristezas.
Envolto por fascínios e belezas
Eu sinto a dor de outrora fenecer,
Entregue à tão sublime claridade,
Conheço os seus sinais: felicidade!
82
Da musa música delícia orgasmo
Nas cordas e nas danças e cirandas.
Nos ermos no vagar entusiasmo.
Desertos, praias bares e quitandas...
Convulsas rezas lúbrica és espasmo.
Orquestras e dobrados, festa, bandas...
Amores, risos, lágrimas sarcasmo...
Nas guerrilhas luares e Luandas...
Nas valas e sarjetas vícios, bordéis...
Parques meninos rodas carrosséis
Igrejas botequins, Deus, Satanás...
Nas estrelas e luas nas favelas...
Nos erros nos acertos treva e velas...
São todos os lugares onde estás...
83
Da musa dos amores, poesia
Eu bebo cada gota de prazer.
Meu verso enamorado já dizia
Do quanto é necessário um bem querer.
Trazendo em alvoroço um novo dia
Raiando a maravilha, amanhecer,
De tudo quanto sinto que podia
Agora me convenço. Posso ter.
Arfantes caminheiros, longa estrada
Vencida tão somente em esperança.
Destino deslumbrante já se alcança
Depois de tanto medo e derrocada.
Não deixo de sonhar contigo amada,
Farturas de desejo em lua mansa.
Marcos Loures
84
Da morte que perpetra um vão orgasmo
Levando uma crisálida em vencida
Depois de tanto tempo, no marasmo,
A boca se esfacela e nega a vida.
Procelas que embebi na minha estada
Deixando suas marcas mais profundas.
No peito que se entrega, uma estocada
Causada pelas mãos, cruéis, imundas
Daquela que se fez negra penumbra,
Depois de me entregar em corpo, em alma,
Somente este vazio se vislumbra,
Uma agonia amarga, agora acalma.
E neste paradoxo, pouco sobra
Do peito que em tempestas já soçobra...
Marcos Loures
85
Da morte em redenção, pressentimento
A chuva na soleira quer entrar.
O tempo destroçando devagar
Queimando em fogo manso, sempre lento.
Às vezes um sorriso, finjo ou tento,
Mas nada poderá modificar
O rio caminhando para o mar,
A vida já tomou, decerto, assento.
Crianças vão correndo pela sala
Notícias repetidas nos jornais.
Os versos terminando sempre iguais
Apenas a saudade ainda fala,
Mas mostra a mesma boca no mormaço,
Do amor que sucumbiu, o mesmo traço...
Marcos Loures
86
Da morte da menina arremessada
Do prédio pelas mãos da insensatez,
A sombra que transtorna, estupidez,
Na foto das manchetes, estampada.
Retrato da miséria demonstrada
Sem nexo, renegando a lucidez,
A fome mais cruel estampa a tez
Mostrando esta tragédia anunciada.
Apenas um cadáver de criança
Sorrindo, sonegando uma esperança
Numa expressão terrível da verdade.
Mais uma, com certeza, entre milhares
De corpos que povoam mil lugares
Espelho em que se vê a humanidade...
Marcos Loures
87
Da moça tão bonita, uma sereia
Se esconde sob a saia da donzela.
Eu tento e não consigo, que esparrela!
Apenas é fogueira que incendeia,
Mas logo a realidade põe areia,
Toda dificuldade se revela,
Cueca com vontade já se mela,
Não dá nem um pedaço, sequer meia.
Nos seios, meus carinhos... que delícia,
Descendo devagar total perícia,
Porém fechando as pernas, um horror.
A moça taca lenha na fogueira,
Enquanto a rapariga dá bandeira
Acendo os meus desejos com vigor
Marcos Loures
88
Da menina carioca
Quero um beijo mais gostoso,
O meu mar já desemboca
No teu corpo tão dengoso
Coração, velho sestroso
Pouco a pouco se desloca,
Neste encanto prazeroso
Feijoada e tapioca
A vontade pondo a mesa,
Vai chegando em Fortaleza
Devagar, bem de mansinho.
Um mineiro que se preza
Nos teus braços quer ser presa
Do teu corpo faz seu ninho...
Marcos Loures
89
“Da manga rosa quero o gosto e sumo”
Dos braços da morena meu regaço
Evaporando amor, etéreo fumo,
Deitando no teu colo meu cansaço...
Eu te desejo esteja certa disso,
Como quem beijaria mansa flor.
De todo amor que nasce em belo viço,
No vício um precipício em denso amor.
Perfumes inebrias, meu incenso,
Intenso como quem quer ser feliz.
Amor se bobear ficando imenso,
Deseja toda a rosa em seu matiz...
Não deixe que esse canto se desfaça
Brincando qual criança em plena praça...
90
Da loba que se esconde em tua pele,
Decifro os seus desejos mais audazes.
Causando reboliço em minas bases
À louca fantasia me compele.
A doce insensatez que nos domina
Transforma a calmaria em temporal.
Descubro, dos desejos, fonte e mina,
No corpo desta diva sensual.
Na cama, com certeza um fogaréu
Hedônica paisagem que ora crio.
Transporta o pensamento, alcança o céu,
Espalha nos lençóis, doce rocio.
Unindo nossos cios, destemidos,
À noite entre sussurros e gemidos...
Marcos Loures
91
Da lírica canção que inda ressoa
Durante as minhas noites tão vazias,
Estrelas derramadas, harmonias,
Lençóis; já não revolvo. Sonho à toa.
As décadas passando, a vida voa,
Encontro o meu fantasma de outros dias,
Regando este canteiro, as águas frias,
O barco naufragado ignora a proa.
Menino que sonhou Arpoador,
Sem Califórnia aguarda uma Jamaica,
Insana melodia tão arcaica,
A balalaica diz do encantador
Desejo de mudança que abortei,
E as rugas vão ditando a nova lei...
92
Da lama de onde vim, restos e ramos
Os rostos macilentos, cadavéricos;
Epidemias, pestes enfrentamos.
No orgástico prazer, amores féricos,
Os olhos debulhados negam amos,
Nos nossos entrelaces, quase homéricos,
Os déspotas algozes; descartamos,
E nos amamos, fartos, como histéricos...
As lamas se misturam, neste esterco,
Do caos e do abandono se alimentam,
No mangue, em nossos corpos, eu me perco;
Ao lixo já retorno e não reclamo,
As podridões diversas me sustentam;
Somos iguais, amor... Por isso, eu te amo!
93
Da joça que na roça vira carro,
Eu roubo as tentativas de motor.
A moça desejando qualquer sarro,
Deixando devagar agüenta a dor.
A proteína eu roubo do cigarro,
E nela o câncer tem todo o louvor.
A boca me beijando diz escarro
Fugindo com meu santo protetor...
No resto, tudo bem e nada presta,
O beco sem saída na floresta
Prepara esta ferina solução.
Enquanto a poesia não me gesta,
Eu faço em descalabro cada festa
E roço essa menina no portão...
94
Da janela do quarto, solitário,
Ao ver a tua sombra desfilando,
Meus olhos vão seguindo itinerário
E, aos poucos, dos teus olhos, desviando...
Não quero que tu saibas deste amor
Que traz a poesia em minha vida.
Vencendo tanto tempo sem sabor
A noite se adormece distraída.
Há musica nas ruas quando passas,
Há brilhos diferentes, há romance.
As folhas que no chão, tu sempre amassas,
Impedem que a batida já te alcance,
Do pobre coração que se dispara,
Sentindo esses teus passos, minha cara...
95
Da glória que virá, pressentimento
Espalha-se em fantástica alquimia.
Beleza em que se dá tal sentimento
Há tanto que delícia já previa.
Abertos os caminhos, sigo o vento
E sei que nele encontro a poesia
Os elos das algemas; arrebento
Projeto: ser feliz, jamais se adia...
Desejos que trazemos; não etéreos,
Palpáveis com certeza. Em filigranas
As horas junto a ti são soberanas.
Momentos solitários e funéreos
Eu passo quando estás longe de mim.
Porém sinto que vens, até que enfim...
96
Da glória de poder sentir o vento
Macio da esperança me tocando,
Na brisa benfazeja, o pensamento
Aos poucos, mais sutil, se libertando.
A vida traz a glória por intento
Porém a gente segue sonegando
A luz que surge em pleno firmamento,
Mostrando um novo dia suave e brando.
Amar completamente e sem medidas,
Vencendo estas defesas que são fúteis
Os braços quando estendes são sempre úteis
Ao permitir a outrem ver as saídas
Que às vezes são tão óbvias que se ocultam
Daqueles que ouvem tudo e nunca escutam...
Marcos Loures
97
Da forma que vieres, és benvinda,
Coberta de um amor ou por favor,
Tua presença amiga já deslinda
Um novo mundo pleno e sedutor.
Embora cedo seja muito, ainda,
Jamais é muito cedo para o amor.
Meu coração aguarda tua vinda
De quero da maneira como for.
Ao ver-te decidida e quase rindo,
Percebo que inda tenho alguma chance,
O tempo de esperança é sempre lindo.
Ainda que isso seja embrionário,
Quem sabe viveremos num romance,
Amor tão delicado e visionário...
98
Da força da amizade eu me convenço
Delícia em liberdade já sentinto,
Aos olhos de quem ama, um brilho intenso
A cada novo dia, ressurgindo,
O medo de perder, tornando tenso
O canto que se fez em dia lindo,
Porém se na amizade eu sempre penso,
O vento em calmaria já vem vindo
Batendo na janela enfim me traz,
A perfeição dileta, plena paz
Deixando para trás uma agonia.
Eu tenho nos meus olhos a certeza
De um tempo em que o carinho já se preza
Quem sabe esta amizade me diria...
Marcos Loures
99
Da fonte da alegria, eu vou beber
Descendo a correnteza da utopia,
O dia em claridade irá nascer,
Vencendo com certeza a noite fria.
O quanto que desfruto do prazer
De ter o teu amor, reter sangria,
Sabendo o quão sublime um bem querer
Tramando em nossa vida esta magia.
Felicidade viva em cada riso,
Amor que vem chegando sem aviso,
Mudando novamente cada plano.
Não temo me entregar, mergulho fundo,
Nos faustos deste sonho eu me aprofundo.
Por mais que venha cedo o desengano.
Marcos Loures
4500
Da eterna juventude, inesgotável;
Humanidade busca a mina, a fonte
Um sonho que se mostra interminável,
Vazios; entretanto, no horizonte.
Quem dera se eu tivesse a mocidade
E nela refizesse os meus caminhos.
Talvez inda restasse a claridade
No libertário encanto, passarinhos.
Ao ter o teu sorriso amada amiga,
Eu vejo ser possível, pelo menos,
O traje que em delícias nos abriga
Trazendo dias calmos, mais amenos.
Assim ao recobrar uma esperança
A fonte dos desejos já se alcança...
4501
Da boca benfazeja e tão formosa
O beijo se disfarça e quase foge,
O rumo desta noite presunçosa;
Trazer tantas estrelas neste alforje
Chamado coração. Neste embornal
Carrego todos, vários sentimentos
Do amor que prometia sensual
Agora se esgarçando perde o vento
Se torna burocrático demais,
Apenas escolhemos nossas armas
Amor vai se esvaindo sem ter paz,
Envolto em milhares desses karmas
Que pesam sobre nós tal qual a cruz,
Restando tão somente a fraca luz...
4502
Da dura ventania, apenas resta a brisa
Tocando na janela aberta do meu peito.
O bem que eu procurara; agora, já me avisa
Que o rio voltará depressa pro seu leito.
E vejo em plenilúnio, o céu quando me deito
Nas luzes desta lua, a vida se matiza
E a cada novo dia, amor aromatiza
Trazendo a mansidão me deixa satisfeito.
Aos poucos aprendi que a dor é necessária,
Pois mostra que alegria é sempre temporária
E toda a maravilha existe num contraste
Fazendo-nos sentir, mais forte a correnteza
Que trama ao fim de tudo, a luz que me embeleza
Sanando em redenção o mais duro desgaste.
4503
Da dor um diadema me circunda,
Um fardo que carrego; inesgotável
Amor é tantas vezes intragável
Nem sempre em alegria ele redunda.
A mão que acaricia se aprofunda
E rasga, simplesmente o imaginável
Sorriso muitas vezes amigável
Esconde a gargalhada vagabunda.
Mas gosto do prazer, isso não nego,
Talvez no gozo dê algum nó cego,
Quem sabe, encontrarei libertação.
Na opaca luz dos olhos de quem ri,
As tramas da serpente eu descobri,
Jamais serei Raimundo ou solução...
Marcos Loures
4504
Da dor que me elegeu como parceiro
Num casamento quase que perfeito,
Em flores dediquei meu verdadeiro
Canto que se mostrara satisfeito.
Meus versos que se encantam com a dor,
Também vão procurando uma saudade.
Se falo deste caso com amor,
A dor vem me nublando a claridade.
Mas sei que no final ela me vence
Convence e me deixando a solidão
Que é tudo neste mundo que pertence
Ao pobre e distraído coração.
O que fazes aqui, minha querida?
Mudar todo o destino em minha vida?
4505
Da deusa que em meus sonhos concebi
Persigo cada rastro que deixou
Caminho que deveras deslumbrou,
A beleza sem par que eu conheci,
Sem freios, num momento chega a ti,
Pois devo, e disso eu sei, tudo o que sou
A quem durante a vida me guiou
E vejo, com certeza bem aqui.
Agradecer a Deus a companhia
De quem ao demonstrar tanta alegria
Acolhe com carinho e com afeto.
Um homem pra ser forte de verdade
Reconhece a total fragilidade,
Por isso, nos teus braços me completo.
Marcos Loures
4506
Da chuva que teimosa não se esgota
Nublando toda a Terra, traz em águas
Imagem destrutiva e sempre rota
Tramando no meu peito tantas mágoas.
Retratam cada parte deste sonho
Que agora eu posso ver em pesadelo.
O barco noutro mar, teimoso eu ponho
E sei que assim jamais irei revê-lo.
Mas tento, num instante olhar o céu,
Sonhando com o azul que nunca veio.
Galopa o pensamento qual corcel
Buscando a liberdade sem receio.
Olhando para a noite uma utopia:
A lua se espalhando invade o dia.
4507
Da calma em um momento, a tempestade
Formada pelo fogo da paixão
Arrasta com volúpia, um furacão
Restando quase nada; já me invade
Tomando com total voracidade,
Ardendo em minha pele, meu tesão,
Neste redemoinho uma explosão
Com toda esta loucura, tal vontade
De ter teu corpo nu, paradisíaco
Amor que se permite afrodisíaco
Insânias entranhando. Vento audaz,
Da fome que bem sei insaciável
Da sede em fonte imensa, inesgotável
Do fogo que consome e satisfaz...
4508
Da bola muitas vezes dividida
Sem ter sequer desculpa, caio fora.
Se a gente com prazeres se demora
O fogo dissimula outra saída.
Por mais que a solidão ainda agrida
Um velho coração não comemora
Sabendo que incerteza se assenhora
Do que restou de bom da nossa vida.
Seguir o rastro claro de uma estrela
Que amor com toda força já revela
Usando da alegria que buscamos
É tudo o que desejo. Convenhamos-
A sorte volta a ser, quem sabe; bela
Agora que deveras encontramos.
Marcos Loures
4509
Da boca que beijei em noite clara
Sequer sobraram sombras ou resquícios
Quem sabe sejam lúdicos, fictícios
Momentos em que a vida me enganara.
Distante deste rio, esqueço a vara
E volto aos meus antigos precipícios
Dos sofrimentos gozo os seus ofícios
E galgo o mesmo nada que encontrara.
Esboço, agora insone, a reação,
Na mítica e complexa sedução
Das cordas em bemóis desafinadas.
Esgueiro pelas ruas, seus esgotos,
E em meio vagos sonhos, quase rotos,
As manhãs que virão; abandonadas.4510
De que valem meus versos sem ação...
O medo tantas vezes me transtorna,
A massa silenciosa faz o pão,
A gralha vendilhona vem, deforma...
Meus versos vão perdidos pelo vento,
Diversos espetáculos revejo...
Promessas de melhora... Sofrimento.
A gralha encarniçada dá um beijo...
Meus versos incansáveis mas remotos,
Espreitam por verdades encobertas...
Quem fora num retorno, terremotos.
As chagas que deixaram vão abertas...
Aos jovens as lembranças, simples fotos,
Meus versos servirão enfim de alertas?
Marcos Loures
11
De mármore; coluna trabalhada
Na sala e no teu quarto, mansa espalha...
A manhã ao chegar traz, orvalhada,
O gosto desse dia de batalha,
No gesto que me mostra a caminhada,
No corte e nesse fio da navalha...
Vou amar-te e no fim não terei nada,
A não ser essa mágoa que me orvalha...
Rocio se anuncia um novo dia.
Nas areias o mar, onda se espraia.
Quem me dera viver da fantasia.
Da morena, ventando erguendo a saia,
Tesouros espalhados, poesia...
Nosso amor invadindo toda a praia...
Marcos Loures
12
De Lourdes para Loures, flores belas
Em trovas e sonetos, dois parceiros
Enquanto em alegria sonhos selas
Os dias nascerão alvissareiros.
Encontro em teus poemas mil estrelas,
Sentidos tão reais e verdadeiros
Beleza em poesia tu revelas,
Momentos delicados, costumeiros.
Mineiros companheiros de poesia
Sangrando pelos dedos fantasia
Rondando as Musas todas, nossa festa.
Tu sabes que eu admiro cada verso
Que fazes traduzindo este universo
Que farta maravilha à vida empresta...
PARA A GRANDE POETISA SILVIA de Lourdes ARAÚJO MOTTA
13
De lágrimas, meus olhos vão vestidos,
Destinos solitários já traçados,
Meus dias lá se vão, apodrecidos,
Os rumos sem ter nexo, desgraçados
Sem direção, caminhos que perdidos
Depois de tantos dias disfarçados
Permitem que não sejam esquecidos
Os dias de tristezas demarcados
O vazio da vida me tomando
Total insensatez por companheira
Os sonhos e esperança desabando
Palavras são cruéis, isso eu garanto,
A solidão me toma e vem inteira
Bebendo cada gota do meu pranto...
Marcos Loures
14
De guerreiro feroz qu’apascentaste
Não resta nem sequer sombra ou pedaço,
Metade do que foi para o espaço
Sem dúvidas tu sempre provocaste.
O que fazer de uma árvore sem haste,
A fronde é necessária. Se um ricaço
Agüenta uma porrada ou embaraço,
O pobre se condena ao vil desgaste.
Mas não suportarei qualquer chacota,
Este terno, filho único, amarrota
A mão que chicoteia não se esquece.
O certo é que me deste de lambuja,
A foto do passado é garatuja
E o peito em desamor não sabe a prece...
Marcos Loures
15
De finíssimas rendas, lingerie
Que vestes nesta noite tão ansiada,
Desejos explodindo... Estou aqui
Tentando vasculhar cada pegada
E descobri o mapa do tesouro
Em busca desta mina que entontece
Sabendo que terei as jóias d’ouro
Debaixo desta capa que enlouquece.
Se nessas transparências adivinho
A forma tão gentil desta morena,
Eu quero ter o gosto do carinho
Que a lingerie sugere e que me acena.
Permita que eu desfrute deste sonho,
Em que querer demais, já te proponho...
16
De dores e de bênçãos, divisória
A força que suplanta céu e mar
Meu sonho de amizade é feito em glória,
Sem medos que nos possam maltratar,
Mudando num momento nossa história,
Alçando a liberdade de um luar.
Quem dera se eu pudesse sem vanglória
De toda esta alegria desfraldar.
Assim, talvez não venha dor profana,
Que mata e; muitas vezes, desengana.
Supera com firmeza, medo e intriga.
No encanto que se mostra em clara luz
O nobre sentimento se conduz
Nos passos de meu sonho, minha amiga.
Marcos Loures
17
De Deus a mais sublime semelhança
Amor muda o cenário, traz a luz.
Enquanto o verso manso sempre alcança
O brilho, farto amor o reproduz.
Entrego o pensamento à liberdade
Alçando a mais perfeita redenção.
Amor quando se mostra de verdade
Decerto se faz sempre a solução.
Vencendo em calmaria a correnteza,
Eu tenho dentro em mim, a força plena
Que trama com delícias a beleza
Aonde um bem sublime já se encena.
Distante da saudade que emparede,
Deitando meu amor em mansa rede.
18
De pétalas de rosa, onde me aninho;
Fizemos um canteiro de esperança.
Enquanto a noite cai, amor avança
Tomado por desejos e carinho.
Meu canto sem te ter, triste e sozinho,
Morria sem sentidos, pobre dança.
Amor ia esquecido sem lembrança,
Das rosas tão somente cada espinho...
Agora, a redenção de teus desejos,
Fez-se tão soberana em minha vida.
Marcado por teus lábios, doces beijos,
Percebo que serei bem mais feliz,
Pois tenho minha sorte decidida,
Amor que imaginei e tanto quis...
Marcos Loures
19
De pétalas de rosa uma coberta
Na lúdica emoção que nos conquista,
A porta da alegria estando aberta
Permite que se tenha a bela vista
Aonde se percebe imensidão,
Brilhando no horizonte a plena lua.
Versejo sobre tal transformação
Da deusa que se entrega bela e nua.
Recebo este bafejo de alegria
Decerto da bonança algum sinal,
Tomado pela forte ventania
Num gesto de convite sensual
Vislumbro no teu corpo este Eldorado,
Tesouro tantas vezes, procurado...
Marcos Loures
20
De onde pusera sonho barco e nau
Perdendo todo o rumo em desespero.
Fazendo de meu verso a pá de cal
Na qual nem me disfarço nem tempero.
Planando neste céu sou sol e sal,
Distante do que temo e não mais quero,
Meu sonho na alameda tropical
É quase uma paixão ou corte fero.
Não temo e nem pretendo essa piedade
Que é quase que um disfarce da alegria.
Se dane teu carinho, uma amizade.
Não quero mais saber de algum consolo.
Se tenho minha voz e a poesia,
Os pés em podre lama eu sempre atolo...
21
De onde nasce o amor? Não sei, te juro...
Amor nasce do encanto, da magia?
Muitas vezes nascendo em peito duro,
Aos poucos, bem devagar, me amacia...
Como chega o amor? Devagar, lento?
Na fúria das tormentas, alucina...
Amor vem ao sabor de cada vento?
Fragilidade imensa que domina...
Amor é sentimento doloroso
Que trama com prazer um belo duo.
Fazendo na tristeza, imenso gozo,
Pesando no meu peito, já flutuo...
Amor, pressentimento de esperança;
Atado aos nossos pés, levanta, dança...
22
De novo retornei a ser criança
Envolto nos teus braços, noite amena,
Depois de ser escravo da lembrança
A sorte benfazeja, amor acena.
No verde dos teus olhos, esperança,
Delícia só se encontra na morena,
Menina, reconheço cada trança,
A flor da minha sorte, uma açucena...
Não falo e nem reclamo da velhice,
Apenas recomeço dia a dia,
Amor que me invadiu sempre me disse
Que o tempo recomeça a cada instante,
Na boca carmesim uma alegria,
No corpo da morena amada amante...
23
De noite recomeça a zumbilança
Que não pára jamais de incomodar.
Do meu sangue este bicho faz festança,
Mas não basta, ele tem que me acordar.
Zumbindo o tempo todo já me cansa
A luz, acendo e nada de parar.
Porém um dia, eu tenho esta esperança
Tudo com certeza vai mudar.
Pois já que não bastou inseticida
Nem mesmo o cortinado resolveu
Tampouco dar tabefe, até sopapo,
A coisa vai ficar bem resolvida
Se Deus ao atender pedido meu
Um dia transformar-me em gordo sapo...
25
De Noé, seus herdeiros se espalhando
Criando reinos vários, capitais,
E os povos assim vão multiplicando,
Habitam paisagens desiguais.
Nemrod, homem valente de Javé
Um grande caçador; serve de exemplo,
O grande defensor que traz na fé
Erguido com firmeza imenso templo.
Famílias tão diversas, mil linhagens,
Que guardam em Noé, o patriarca,
Ao manterem-se unidos pelos gens
Daquele construtor da divina arca,
Após a tempestade, a dispersão,
A cada herdeiro cabe uma nação...
26
De alguns vários fantasmas que me habitam,
O sexo juvenil, sempre escondido,
Em tantas ilusões, bem mal servido
Ainda nos meus sonhos, vêm, palpitam.
Desejos que morreram, mas que gritam
Na cripta do cadáver revolvido
Nas noites infantis. Houvera sido
Momentos e resíduos que exercitam
A juventude feita quase em pó,
Mas velho safardana não tem dó
E o coração sacana se apaixona.
O fruto apodrecido traz semente
Que mostra; quase ao fim, amor urgente,
Melancolicamente, vou pra zona...
27
De carinhos sublimes desejoso,
Querendo esta presença iluminada
De tanto que eu vivera receoso,
Encontro nos teus braços, doce Fada
Um mundo mais feliz e venturoso,
Depois de tanto espinho em minha estrada.
Vivendo nosso amor a cada instante,
Dourando nosso dia em fantasia.
Amor que se fazendo mais prestante,
Garante toda a glória que eu queria.
Num sonho que se mostra deslumbrante
Concebo amanhecer divino dia.
Contigo eu sou feliz, isto eu garanto.
Coberto por teus braços, belo manto.
Marcos Loures
28
De cada vez mais firme procurar
Saída para as dores que carrego,
Invado num momento o teu luar
E bebo do teu rumo, feito cego.
No rum de tua boca, me embriago,
Sentindo o teu perfume pelos ares.
Tomando de teu corpo cada trago,
Estendo o meu prazer a raros mares.
A moça poetisa se mostrando
A deusa que eu queria em minha vida,
A fonte dos desejos me entornando
A glória de encontrar clara saída.
Assim um navegante benfazejo
Encontra o cais perfeito em teu desejo.
Marcos Loures
29
De cada nova noite nem restolho...
As pútridas certezas me minaram...
Vazio, perfurando, cego um olho;
As luzes que brilhavam se acabaram...
Tranquei meu coração com um ferrolho.
Vis emanações fátuas soçobraram...
Em meu caminho feito em puro abrolho
Espinhos, pedregulhos. Já roubaram
Toscos sonhos. Ofusco meus delírios.
Mártires se pretendem meus martírios...
Me deste os teus transtornos por herança!
Sorvi desses matizes, cores tétricas.
Meus versos se perderam sem ter métricas.
A morte me rondando, vil criança!
30
De bruços, nesta cama, estás deitada;
As tuas costas sempre tão macias...
As minhas mãos nas costas desnudadas,
Percorrem sem juízo... As fantasias
Nos tomam, novamente arrebatadas
Prometem mais delícias e alegrias...
Abraça-me, enlaçando em tuas pernas,
Meu corpo no teu corpo se entrelaça
As horas de prazer são quase eternas,
Me prendes com as coxas... Sou t"a caça,
Em tão sofreguidão, volúpia terna,
Arranhas minhas costas... Vida passa
Assim em nossa cama, noite afora...
Até que o sol se mostra e o dia aflora...
31
De bar em bar noturno peregrino
Noctâmbulo vagando pelas ruas
Nas sarjetas conheço o meu destino
Da carne em podridão, palavras cruas;
Destilo o meu veneno, bebo a sobra
E nisto me inebrio o tempo todo,
Rastejo nos botecos, réptil, cobra
Arrasto-me entre pedras, trevas, lodo...
E cuspo nesta boca que me beija
Exponho o sentimento e na nudez
Minha alma tão vadia já se aleija
E torpe, vomitando insensatez
Sandices? Acumulo tempo afora.
E da carcaça podre, a vida aflora
Marcos Loures
32
De apagares a chama da paixão
Usando os mais diversos subterfúgios
Tramando sempre a mesma solução
Negando em ironia meus refúgios,
Estou cansado, amiga, e te garanto
Que tudo o que disseste noutro dia,
Além de não causar sequer espanto,
Já não provoca mais hemorragia.
Gerindo o meu futuro com presteza,
O amor jamais sossega enquanto exala
O doce aroma feito em sobremesa,
Deixando cada rastro em minha sala.
Vassalo da esperança sigo em frente,
Vencendo o teu sarcasmo incoerente...
33
De amores vou perdido pelo mundo
Percorro tantos astros que nem sei.
De tudo que te falo, já me inundo,
Da vida que sem tréguas eu busquei.
Paixão que me arrebata e me domina
Não deixa nem sequer achar o rumo.
Perfumando tua alma cristalina
Retendo dos prazeres todo o sumo.
Amar demais passou a ser a meta
Que traz o meu caminho mais florido
Por isso em minha voz, canta o poeta
Sem amor nada faz sequer sentido.
Amores percorrendo os universos
Vibrando nos desejos dos meus versos!
34
De amores que me fez o teu corcel
Sangrando o coração, gozo supremo,
Tirando a tua roupa rasgo o véu
E chego num segundo, ao mar extremo
Aonde com certeza nada temo,
Vibrante fantasia, fogo e mel,
Afãs que desejamos em fartura,
Fechando os olhos vejo-te comigo,
Abarco os teus delírios com ternura
E sabes que estarei sempre contigo,
Vivendo nesta insânia se afigura
Altar feito em delírio que persigo.
Assim, peles atadas sem pudores,
Roubando do luar, loucos fulgores.
Marcos Loures
35
De amores nada sei, querida amada,
Apenas eu percebo os seus sinais,
Vagando em solidão na madrugada
Só sei da solidão, terrível cais.
Minha alma em tua alma emoldurada
Aguarda teu carinho e pede mais.
Na boca que te espera, bela fada,
Vontades e desejos. São demais.
Crisálida esperança toma o peito,
Transforma todo sonho em realidade.
Eu quero o teu amor de qualquer jeito
Do beijo que me deste, uma saudade,
Tomando o coração traz paraíso
No toque mais suave e mais preciso..
Marcos Loures
36
De altares da esperança, um bom suporte
Mostrado neste incêndio em noite plena.
Fosforescente gozo que envenena
E ao mesmo tempo entranha riso e corte.
A música que entornas, bem mais forte,
No corpo levitando em mão serena.
Porquanto te busquei a cada cena,
Sabendo desde então da minha sorte.
Estrelas rutilando em profusão,
Arcanjos, querubins, asas abertas,
Num frêmito fantástico, emoção
Chocalha em guizos fartos, a alegria.
Enquanto calmamente tu despertas,
Mal percebes a luz que se irradia...
Marcos Loures
37
Das terras estrangeiras o meu sonho
Em forma de mulher encantadora;
Das dores que carrego, redentora.
De todos os caminhos, mais risonho.
Quem teve tanta dor, mundo medonho;
Já sabe que ao te ter a vida aflora
E jamais deixará quem tanto adora.
Nada quero saber e te proponho
Que vivas, do meu lado, o que me resta
Abrindo meu futuro. Na seresta
Onde sempre estivemos, par constante,
A nossa melodia nos levanta.
Com bela voz , Amor sempre encanta...
Deixa-me ser, da vida, novo amante!
38
Das tantas valentias que menti;
Ao menos fui poeta por um dia.
Enquanto a gente mata a fantasia
Ressurjo no que outrora, em vão perdi
Se tenho o meu destino junto a ti,
A culpa e desta lua que fulgia
Armando o bote, estúpida sangria
Que tantas vezes, trêbado, bebi.
Perigo em cada curva, desconheço,
Vereda que entranhada não esqueço
É parte do caminho rumo ao nada.
Vendendo meus grilhões, me libertei.
Os templos mais nefastos desenhei
Colhendo ao meio dia a madrugada...
39
Das rosas e do espinho, num rosário,
Perfumes exalando em sofrimento,
Do amor que se fazendo num calvário
Ao mesmo tempo luz e desalento.
Amor neste rosal, um relicário
Rasgando a minha mão em um tormento
Mudando o meu caminho, temerário
Amor se reproduz e segue o vento.
Uma rosa se entrega ao colibri,
E esconde em suas pétalas uma arma,
Nem mesmo o puro amor logo a desarma.
Agora, finalmente eu percebi
Beleza tão singela e traiçoeira
Guardada numa lúdica roseira...
40
Das retinas cansadas, meus delitos...
Não quero perceber esta saudade,
Nem quero mais sonhar sonhos aflitos,
Nem me perder : total ansiedade.
Teus passos são meus rastros, mas restritos
Às tardes que te perco: liberdade!
Demoras a voltar? Nos infinitos
Procuro; embora eu saiba, seja tarde.
Meus dedos dedilhando uma canção,
Lembrando do teu corpo/violão
Encontra estes acordes dissonantes...
Meus versos são mordazes e gentis...
Quem dera se pudesse ter teu bis;
Porém os dias seguem quais mutantes...
41
Das pétalas sangrantes que levava,
Colheita de um canteiro mal cuidado.
O amor que tanto tempo ela esperava,
Apenas um caminho malfadado.
A cada novo dia, a velha trava
Falando dos enganos do passado
Surpresa que esta vida resguardava
Invés de algum perfume, espinho e cardo.
Quem dera se pudesse recolher
A flor que imaginara, a mais bonita.
Um sonho que invadindo sempre excita
Tramando da alegria este prazer
Distante de seus olhos. Tentação.
Porém o amor negou tal floração...
42
Das pedras insensíveis do caminho,
Dessas mansas ribeiras sem destino...
Não quero me encontrar jamais sozinho.
Nem quero mergulhar, ser assassino,
Cortar os pulsos, livre sem ter ninho,
As ondas me levaram, desatino...
Os portos que deixei, já me definho...
Vou de banda, pesado, torto, esquino...
Misturando essas dores com prazer,
Vivendo simplesmente por viver...
Não quero combater minhas tristezas,
Nem quero mergulhar nessas represas,
Onde escondes fatal impaciência.
Amar é destruir toda ciência!
43
Das palavras; ourives que eu invejo
Um nobre sonetista em versos belos.
Usando em maestria teus rastelos
Talento sem igual em ti eu vejo.
Ao ler os teus poemas um lampejo
De intensa claridade, passo a vê-los
Tesouros valiosos que ao contê-los
Encontro a perfeição que tento, almejo.
Servidos num banquete, as iguarias
Que trazes em sublimes poesias
Saciam os que sabem degustar.
Amigo; me permita esta heresia
Que a mão de um repentista agora cria
E em versos tão banais a te louvar....
44
Das velhas tempestades que passei,
As sortes e presságios tão obscuros
Prometem velhos céus bem mais escuros
Em nada do que tive, me encontrei.
Ao homem que resiste à mansa lei
Certeza de momentos bem mais duros.
Porém aos corações suaves, puros,
A imagem deste Pai, supremo Rei...
Nocivas tempestades, furacões,
Nas mãos de quem se entrega ao Seu poder
Que é feitos dos amores e perdões
Transformam-se em bonança e calmaria.
O olhar tão generoso eu pude ver
Derramando estas bênçãos da alegria.
45
Das velhas emoções que sonegamos
Estendo no quintal o sol e a lua.
A sorte meretriz já nem atua
Enquanto em desvario nos amamos.
Não sendo mais cativos, pedem amos
As almas que caminham nesta rua,
O verso sem sentido continua
Arborizando os céus que desenhamos.
Herdando quais satélites o brilho
Da estrela que demonstra um andarilho
E antigo coração, faca entre dentes.
Mosaicos espelhares que se nexo,
Mostrando que em cenário mais complexo
Retratos de nós dois são congruentes.
Marcos Loures
46
Das velharias toscas, noves fora,
Sobraram dez mil réis e nada mais.
O beijo da pantera não demora,
Quem dera se nós fossemos mortais.
Coroando a festança com sangrias
Urgindo ser feliz, não temo a pressa;
Estrelas que buscamos são vadias
E a noite em plena luz já recomeça;
Repare no cangote da morena,
Poesia maior; inda não vi.
E quando com tesão; a moça acena
O Paraíso em vida é logo ali...
Dadaísmo, cubismo ou aforismos
Morena no meu colo? Cataclismos...
47
Das trinta mil sementes que plantei
Durante estes dois anos, no recanto.
Belezas sem igual eu encontrei,
Fartando-me de luz em raro encanto.
Bem mais do que sonhara, debrucei
Meus olhos sobre amores, raro manto
No qual por tantas vezes, tropecei,
Temendo, na colheita algum quebranto.
Eu agradeço a tantos que não posso,
Sem ser injusto, citar nome aqui
E em todos, maravilhas eu bebi
Por isso é que repito enquanto endosso
Com todo o meu ardor de repentista
Louvores que hoje faço a cada artista.
Marcos Loures
48
Das trevas que vivemos, no passado;
Das dores incrustadas, sem alento.
Tremula nosso sonho extasiado,
Salvando da tormenta num momento...
Escuto tua voz tão redentora,
No meio da tempesta que aproxima.
Uma amizade em paz, tão duradoura,
Retoma meu caminho em mansa estima...
Mereço uma amizade tão profunda?
Por vezes me indagando sem resposta,
Da solidez que sempre se oriunda,
A vida em amizade é mesa posta.
Amigo, me perdoe se fugi,
Os mares me trouxeram, eis me aqui!
49
Das noites sepulcrais, revivo, pasmo;
Grilhões que me maltratam, são quimeras...
Vivendo num caótico marasmo,
Não quis a parcimônia com que esmeras
Os casos teus de amor. Entusiasmo
Contido, sentimentos sem panteras
Nem garras, sem dentadas nem sarcasmo.
Amor que não promete loucas feras!
Distante de teus olhos, alma exora...
Presume teu perdão, com galhardia.
Preciso refazer meu mundo agora,
A dor desta saudade me alucina!
Não deixe-se acabar a fantasia,
Rebenta tais grilhões d’amor Cristina!
50
Das noites que tivera; sim me lembro,
Dos olhos tão tristonhos e distantes;
Duros dias sofridos de setembro,
O peso desta vida nos semblantes...
Passando por momentos dolorosos,
O peso da saudade machucava...
Os sonhos se tornaram pavorosos.
Um mar de solidão se aproximava...
Mas quando te encontrei, tudo mudou.
Teus olhos de promessa e de aconchego,
Vazio coração reflorestou
Da tempestade e dor, fez-se o sossego...
Setembro que me trouxe uma quimera,
Termina nos teus braços, primavera!
51
Das Ninfas que desnudas, já se banham
Nos lagos tão distantes do meu sonho,
Encantos e desejos, eu proponho,
Porém desilusões torpes me entranham.
As néscias madrugadas que me apanham
Num flagrante momento mais bisonho,
Fantasiam um mundo tão risonho...
Trevas da realidade, sempre ganham...
Áureas sensações, somente enganos.
Ao olhar sonhador, escuridão
Penumbras dentro da alma, tão somente.
As nuvens que dos céus tomam os planos,
Sobejas em terrível multidão,
Acordo, solitário, novamente...
Marcos Loures
52
Das montanhas mineiras, proteção;
A mãe que nos pariu e nos consola.
Nas mãos a mansidão de uma viola,
Nos olhos alegria e compaixão...
Riqueza se contrasta com sertão,
A voz que libertária até se imola,
Enquanto em poesia, a alma decola,
Vagando pelo etéreo, na amplidão...
Orgulho que em seu povo já se entranha,
Mirando muito além de uma montanha
Sabendo quanto é belo este horizonte.
Se às vezes me envergonho; brasileiro,
Meu peito vangloria-se, mineiro,
Bebendo desta imensa e férrea fonte...
53
Das minhas sensações tu és senhora,
A dona de meus sonhos, de meus passos,
Te quero minha amada, sem ter hora,
Deitado calmamente nos teus braços
Desfruto deste amor que, sem demora,
Amarra a minha vida nos teus laços...
Tinindo no infinito um som veloz,
Cometas percorrendo nosso beijo..
O gosto de te ter, ser tua foz
Aquece todos sonhos que pré vejo.
Ouvindo em minha cama, a tua voz,
Aumenta por demais o meu desejo..
E sinto-te rolando em nossa cama,
No fogo que se explode em forte chama...
54
Das minhas esperanças, o regresso
Voltando das batalhas, duras lutas.
O quanto eu te ofereço, agora eu peço,
E sei que temerosa, já relutas.
Presságios que tivera; traiçoeiros,
Marcaram cada dia em tua vida.
Deitando a solidão nos travesseiros
A travessia; eu sinto, está perdida.
Mas tendo alguma luz ao fim de tudo,
No túnel feito em tempo e temporal.
Do quanto que desejo, resto mudo,
Olhando imenso mar, descomunal.
Sonhando com desditas e falências,
Eu penso ter cumprido as penitências...
Marcos Loures
55
Das Minas Gerais
Eu trouxe este sonho
De ter sempre mais,
Um mundo risonho,
Aonde jamais
Vivesse tristonho,
Já me satisfaz
Amor que proponho.
Falar de amizade
De queijo e de broa
A felicidade,
Tão perto revoa,
Na roça e cidade,
Eta coisa boa!
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Das mágoas que causei-te, meu amor,
Guardadas num recanto da lembrança.
Vencendo as tempestades sem pavor,
Vivendo simplesmente da esperança.
Alcanço teu olhar e já me aparto,
Me afasto de teus lábios, mas te quero...
Amor que se partiu deseja um parto,
Renovo os sentimentos, sou sincero...
Amada essa certeza me acompanha,
Eu quero me entregar aos teus caminhos..
Nas águas desta vida amor se banha
E sonha com montanhas de carinhos...
Desculpe se te causo algum rancor,
Querida; peço; aceite o meu amor!
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Das ondas deste mar intensidade
Que tanto desejei em nosso amor,
Deixando a sensação de um bom torpor
O quanto de prazer diz da vontade.
Enquanto a areia branca uma onda invade
Deitando junto a mim já vem compor
Paisagem deslumbrante ao meu dispor
Delírio em meio a tal serenidade.
Somemos os pedaços, união,
Venceremos dilemas e procelas
Enfrentaremos juntos o tufão
Do amor que agora em luzes queres, selas,
A tenra maravilha de saber,
Ter toda a paciência pra colher!
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Das nuvens que enegrecem nosso céu,
Dos raios e trovões que nos assustam,
A natureza cumpre seu papel
Bem mais do que tristezas já nos custam.
Ao ver-te aborrecida, ensimesmada;
Pergunto-te qual causa tem a dor;
Por vezes me respondes quase nada
Mas sei quanto tu sofres tal temor;
Da vida que querias mas não veio,
Das tempestades tantas que passaste.
Perceba, minha amiga, que o esteio
Da vida, posso até dizer uma haste;
Que sempre nos apóia e nos transforma:
Numa amizade; amor já toma forma...
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Das noites tão frias
Sozinho no quarto,
Promessa de dias,
Que penso e descarto
Sem ter alegrias
De dores tão farto,
Porém me darias
Carinhos de fato.
Amiga agradeço
A sorte que dás,
Será que mereço
Todo esse carinho,
Que sempre já traz
Calor em meu ninho...
Marcos Loures
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