001
Toco teu rosto
busco teu olhar
vamos parar o tempo
segurar nossas emoções ...
(ivi)
Por vezes me imagino junto a ti,
O tempo nunca para; segue em frente
A vida se refaz completamente,
Porém logo percebo o que perdi.
Quem dera que estivesses inda aqui
O velho coração, tolo demente
Buscando ser feliz, resiste e mente,
Sonhando com a fonte em que bebi
Felicidade e plena juventude.
O vento na janela clama e ilude;
Relembro-me de quem partiu há tanto...
O amor já não visita a velha casa
Esperança falsária ainda abrasa;
Porém tudo o que resta: desencanto...
002
- AMO VOCÊ
Coração marinheiro sem destino,
Que no cais procurando pelo mar
Entrando totalmente em desatino
Esqueceu como pode navegar...
Coração naufragado perde tino,
Não reconhece estrelas, nem luar...
Brincando, marejando, qual menino
Marinheiro que esquece de nadar...
Coração, as saudades são teu barco,
As Percas de deixaram és um arco
Na procura insensata das marés...
Coração, as perguntas sem respostas
Queimam tanto ardendo em nossas costas,
Coração um veleiro de mil pés...
003
Bem que tento, bem que tento, não consigo
esquecer o sonho lindo que vivemos,
para mim bem mais que sonho, o meu abrigo,
o romance belo que nós escrevemos.
Nada, nada se compara a esse sonho,
o mais lindo que viví em minha vida,
que eu canto nestes versos que componho
lamentando a ilusão, que sei, perdida.
E assim me deixo ir na fantasia,
pra guardar só os momentos de alegria.
HLuna
Vieste redentora fantasia,
Mudando este cenário tão sombrio,
E o coração moleque, este vadio,
Enfim imaginou ter alegria.
Durante muito tempo, eu já sabia
Por mais que andasse cego e assim vazio,
Eu não resistiria ao vento frio
E o amor que me aquecesse, eu buscaria.
Chegaste de repente em minha vida;
Trazendo com certeza esta saída
Que tanto imaginei e sempre quis.
Agora finalmente consegui
Sabendo como é bom estar aqui
Poder dizer a todos: sou feliz!
004
FICA PRA SEMPRE...
Galgando ilusão alcanço o céu.
Retrato em teu olhar azul sereno.
Dos lábios extraio mel adocicado.
Da tez tal rubro sentimento.
Poder dizer a todos: Sou feliz!
Ser mais do que podia imaginar.
Retorno aos sonhos de outrora,
Desta vez pra sempre irás ficar?
Melodioso meu canto de sereia
Ludibria meu poeta sonhador.
Acolhe em meu seio lindo verso
Extrapola palavras de amor.
Sou tua ingênua sonhadora
Serás pra sempre meu senhor...
Gelis
Rondando qual satélite teu brilho,
Persigo cada trilha que tu deixas
O coração que andara maltrapilho
Envolto por lamentos, tantas queixas
Ao perceber os raios que me emanas
Sedento te persegue a cada instante,
Busquei-te; meu amor, por mil semanas
Agora sou de ti, fiel amante.
E teimo em te querer cada vez mais,
Sem medo e sem pudores, plenamente,
Saveiro que encontrou um manso cais
Em plena tempestade e, de repente
Ao perceber tão belo ancoradouro
Conhece a maravilha de um tesouro...
005
Quero poder amar com tal liberdade,
Que não precise nunca mais mentir...
Quero poder viver nada pedir
Não esperar sequer essa saudade...
Atracar no cais barco em tempestade
Com toda proteção poder fugir...
Não ter medos, segredos por aqui;
Minhas âncoras, Porto Soledade,
Saveiro refletindo sobre o mar
As sombras que roubou desse luar
Nas correntes marinhas ir sem rumo...
No meio dos sargaços flutuar,
Sem ter medo receio de voltar...
Em meio a vendavais manter o prumo...
006
Há muito conheci fantasmagórica,
Andando pelas ruas da cidade...
A noite traduzia dor histórica,
A morte já trazia ambigüidade...
Trazia então, por certo, tal saudade;
Que noutras tantas vezes mais eufórica,
Sonhava, simplesmente, liberdade...
Quem nunca conheceu sua retórica,
Jamais conceberia tal loucura...
A morte, com certeza, sua cura,
Trazia alento e medo, apascentava.
Os olhos vagabundos, marejavam,
Destinos, desatinos, desabavam...
Loucura, pelas ruas, desfilava.
007
Na espiral de meu tempo, temporal...
Nas lânguidas manhãs, sonhei-te tanto,
Do pântano, charneca, brota o pranto
Enlameio meus olhos... És fatal!
Meus anseios, meus óleos, sou frugal;
Otimizo, remeto mito, encanto,
Mas nada vingará, és puro espanto,
Sombreando os arquétipos, carnal!
Teimo na seiva, queres pura essência,
Me trazes, veramente, tal demência,
Que não posso mais vê-la sem velar...
As pontas, tuas lanças, são mordazes,
Rasgando minhas ondas, vão audazes.
Tsunamis provocadas no meu mar...
008
Trazer o gosto amargo dos meus ritos,
Em todas minha mágoas, penitente...
Cortando, livres, carnes e infinitos.
Vultos negros, partícipes, serpente...
Quero a mordaça, laços mais benditos,
A maçã, cortesã, mais veemente,
No gozo mais profundo, mais retintos.
Febre terçã, malária, inconseqüente...
Perambulas pecados e orgias,
Enleios, devaneios, meus veleiros...
Meus pecados urgentes, fantasias.
Falas! Eu não te creio, nem credito,
Teu vulto retorcido, meus janeiros,
Amar-te: poesia, dor e mito...
009
Não me deixe morrer, melhor a vida,
Mesmo esquecida nesse quarto escuro.
A dor golpeia funda e retorcida;
Eu tento audacioso pular muro...
A perna que quebrei, mordaz ferida
Não pode sufocar; então, perfuro
Os meus ossos expostos... Vai fendida
A alma; meu peito rasgo, sou obscuro...
Essa dor lancinante é simples fado,
A noite penetrante e sou culpado
Pelas minhas retinas maculadas.
Tateio, ondeio; seios teus são teias,
Quero tomar-te enfim nas minhas veias...
Se sou teu fardo, tuas mãos são fadas...
010
Eu quero teu melhor sorriso irônico...
Viver em teus desejos, os mais santos...
Rasgar, sem perceber, todos os mantos,
Poder sorrir contigo, amor platônico!
Longe de tua boca, vou agônico,
Não sei d’abissais mares, celacantos,
Nem quero mais cobrir-te, teus quebrantos,
Por certo ao te ver resto catatônico.
As tuas mãos, centelhas são tenazes.
Cravando tuas garras mais vorazes,
Devoras, louva-deus, nada mais sobra...
Te quero venerando teus engodos,
Penetras mais sutil teus eletrodos,
Os teus olhos hipnóticos, és cobra!
011
Nunca ninguém que te conhece, pensa;
Nas tuas cicatrizes, nos teus lanhos...
Éramos, sem sabermos, dois estranhos,
A quem a morte sorria, clara, densa...
Vivíamos em fuga, atroz ofensa,
Computando agonias como ganhos...
Me embebia nos teus olhos castanhos,
Não sabia sequer, nem ter descrença,
E lavava minh’alma em fastio,
Deixava-me levar, pútrido rio,
Sem pensar que as correntes me sugavam...
Tuas linfas, qual ninfas, me excitaram,
Em andrajos, depois, nada deixaram,
Criaturas insólitas se amavam...
012
Nas mortalhas da sorte, fiz meu lar,
Deixei, como epitáfio, teu sorriso...
Vorazes cicatrizes, foi preciso
O escárnio com que rias, meu pomar...
Rosas despetaladas, espinhar...
Espetáculo sórdido, teu riso,
Me apunhalas;é mórbido e conciso;
Mas percebo é assim que sei te amar!
Nas noctívagas serpes, traz abraço,
Tuas línguas devoram, forte braço,
Nas lambidas ferozes, teu carinho...
As fornalhas, respiros, me derretem.
Os pecados sutis, nos acometem,
Presa fácil, procuro por teu ninho...
013
Lágrimas, os tormentos, convulsões.
Dilacerados, torpes, tais horrores.
Açoitados, lamentos sangram dores,
Nas cortinas vorazes, meus verões...
Quem soubera servil, são teus perdões,
Quem não vira, viril como os amores,
Não servira, nem vil nem meu pendores.
As margaridas cevam corações...
Passai pelas estrelas, faça o verso,
Receba o simples mártir do universo,
As labaredas queimam todo cerne.
A podridão resulta duma vida,
Aurora traduzindo despedida,
Minha alma parasita qual um berne...
14
Não quero o deus que cobra seus impostos
Tampouco padres; tétricos cantores
A multidão estúpida; seus rostos
Marcados pela voz dos impostores.
Não arredam o pé; mantêm seus postos,
Cordeiros idolatram tais pastores
Das oferendas pútridos encostos
Igrejas depositam vãos penhores.
E o amor há tanto tempo desprezado
Jogado entre os esgotos das cidades.
O Cristo por canalhas explorado
Exposto nas entranhas de um zoológico
Na cruz; qual fora pássaro em mil grades
Retrato de um desenho vil e ilógico...
015
Levavas pelas ruas num cabaz
As frutas que comíamos à tarde.
Um jovem sonhador pensou capaz
De ter teus braços nus sem ter alarde...
Andavas maciez sem ser falaz;
De branca tez sentia- se cobarde;
Desconhecia então fina verdade;
Amar é sem saber, perder a paz...
A brisa levantava tua saia,
Deixando-me antever tal maravilha...
A noite emoldurada cedo raia...
Meus olhos pertinentes e vorazes,
Sedentos te queriam... Lua brilha
Transmuda. Como os sonhos são fugazes...
016
Tu dançavas requebros sensuais...
Meus olhos nas serpentes, teu quadris,
Refletiam por certo tais ardis,
Nas tuas tranças tramas tão banais...
Tuas coxas sutis orientais,
Revestem o meu mundo, meus lambris...
Das tetas o molejo exige bis.
A gueixa, minhas queixas, os meus ais...
Açulas meus desejos incontidos,
Nas lúbricas centelhas um incêndio...
Procuro por meus rumos, já perdidos,
As noites indecentes, tudo argentas...
Quisera traduzir-te num compêndio,
Na tua nudez guerras apascentas...
017
Sonhei contigo; velha chaga amiga...
Buscava, em vão, a paz que nunca tive;
Por lares, bares, onde sempre estive.
Na excelsa febre, vida inda periga...
Teus látegos cortando sem fadiga;
Expondo a carne, rasgos, inclusive.
Faziam de meus olhos, um aclive,
Por onde devoravam cada espiga,
Gotejando sanguíneas demências...
Pedia a esmo aos deuses, por clemências,
Restavam-me somente, meus medos...
A velha chaga ria-se de tudo.
Antítese, deixava qual veludo,
Intactos, todos meus grandes segredos...
018
Não creio nos milagres a granel,
Tampouco nos farsantes midiáticos
Num misto de canalhas e lunáticos
A venda em prestações de um falso Céu.
Não sei se sacristia ou se bordel
Milhares de cordeiros vãos, estáticos,
Tornados por hipócritas, apáticos
São almas sem destino, vão ao léu.
Prostíbulos cristãos a cada esquina,
Fortuna sendo deusa e concubina
De párocos, pastores e vigários.
Enquanto esta sangria é permitida
O Pobre que nos deu a própria vida
Garante à súcia imunda os seus salários...
019
Eu te procurei tanto ...
Corri mundo afora,
sempre a te procurar
vejo que chega, agora
venha logo, me amar ...
(ivi)
Rondara por desertos e montanhas
Buscando por recantos aprazíveis
Sonhando com momentos impossíveis
Perdido entre diversas, várias sanhas.
Partidas que julgara; às vezes ganhas,
Distâncias gigantescas, invencíveis
Planícies ou imensos, vãos, desníveis
Vitórias sempre falsas e tacanhas...
Agora; após a morte da ilusão,
Cansado de lutar, sem solução
Retorno aos braços teus, meu manso abrigo...
No peito tão somente cicatrizes,
Onde pensara glórias, só deslizes,
Que bom poder estar aqui, contigo...
020
Por vezes imagino outro país;
Nas gélidas manhãs, tórrido anseio.
Desejos incontidos, sem receio,
Um corpo saciado, outro feliz.
Vontade de voar mesmo em céu gris
Percorro delirante cada seio,
Descubro outras paragens, singro o veio,
Qual fora eternamente um aprendiz...
Mas nada; nem a sombra do passado,
Apenas o vazio em minha cama,
A morte sorrateira, vem e chama,
Deitando sorridente aqui do lado.
E quando imaginava outra saída
Escorre em minhas mãos, a frágil vida...
021
Quando à noite, nos campos, olho o céu;
A beleza espalhada no universo,
Deus, Poeta, traduz seu maior verso
Nesses caminhos lácteos, um véu...
Pintor, numa só cor, num só pincel,
Nos tons mais belos, raros, diversos;
Num sopro, com matizes mil, dispersos
Pela imensidão, qual um menestrel,
Apaixonado pela natureza,
Sua obra prima, filha natural.
Num momento de lúcida beleza,
Nos deixou, estampada eternamente,
A grandeza silente desse astral,
Que faz sonhar, maravilhosa mente
022
Velhas tristezas pesam, lesam, marcam...
Acaso o ocaso chega, nega, queima.
A vida finge, esfinge, tanto teima...
Nos meus remendos, quedam, me maltratam.
Jogo nas naus, e fingem que se embarcam,
Forjam da seiva, velha guloseima,
Qual velha brasa oculta que requeima,
Nos meus salões, funéreas, se engravatam;
Valsam soltas, sacrílegas, canalhas...
Revolvem meus saraus, velhas mortalhas...
Noctívagas tempestas, vendavais...
Velhas tristezas, cúmplices mordazes,
Fingem adormecidas, são audazes;
No banquete da vida comensais!
023
Minha barca seguindo essas correntes
Que levam os naufrágios ao meu peito;
Que fazem do que fora contrafeito,
E do nunca, talvez, impertinentes
Barcas, náufrago, afagos e serpentes.
Mares, marés, luares... Meu defeito
Maior sentir teu bafo arfando. O jeito
É vagar por quaisquer vãos penitentes...
Vastos mastros, as altas ondas, ritos...
Ledos medos, segredos, odes, mitos...
Minha barca navega sem ter termo...
Meus destinos, meu mundo vai, na barca...
Quem me dera fugir, mas cruel Parca,
A minha barca, a vida um caminho ermo..
024
No teu sorriso, amada, claridade...
Na tua boca, anseio por delícias,
Nas estrelas procuro santidade
Da qual, teus passos foram as primícias...
Se quero a mansidão, sinceridade,
Buscando, no teu corpo por brandícias;
Quem dera conceber felicidade,
Na magia que encanta.. .Mil sevícias...
Teus belos olhos, rumos a seguir...
Não me permitam nunca mais, perder
Nem sequer um segundo... Estou aqui,
Anseio pela estrada, meu caminho...
Depois de tudo, quero poder ter,
Do começo ao final, sempre meu ninho...
025
Amor morrendo, padecendo tanto,
Deixa feliz no maltratar demais...
Se metade gozando novo encanto,
Outra, sofrendo, perde toda paz...
Satisfação consola todo pranto;
As lágrimas rolando, nunca mais...
Por outro lado, angústias no recanto,
Saudades tão ferozes, vida traz...
Amor jamais falece, só renova...
Corações procurando vida nova,
O tom dado, canção desafinada...
Amor sacana rindo, faz sofrer;
Num desmaio fingido, vou morrer,
Por certo, a dor transforma-se em piada...
026
Quero erguer os meus sonhos no teu céu,
Fazer dos pensamentos meu neon,
Cobrir espaços, levo todo som
Que possa repetir e arrancar teu véu...
Caminhar tuas brasas, fogaréu,
Perder todo sentido e todo tom,
Roubar de tua boca o teu batom;
De vidro? Era somente o teu anel...
Meu bem está guardado, não recuso,
Sou recluso, limite mais confuso,
Que divide, fronteiras invadidas...
Eu sei da tua história, mas não digo.
Iludes, finges frágil, mas nem ligo;
Desse perigo, gozam nossas vidas...
027
Meu reinado, fugindo entre meus dedos...
Tantos sonhos, verdades virtuais.
Lindas mulheres nuas, carnavais...
A noite compartilha meus segredos!
Majestade, senhor de todos medos,
Vitorioso em guerras e na paz.
Loucos desejos, tudo sempre apraz,
Dono dos mares, terras e penedos...
A noite traiçoeira fez miragem,
Do que sempre pensei, simples imagem,
Perdida no oceano, crueldade...
Acordo, meros sonhos. Pesadelo
Que a vida envolve nesse seu novelo,
Trazendo tão somente essa verdade...
028
Tarde dourada brasa que celeste,
Queima feroz, ardendo minha musa;
Devagar levantando sua blusa,
Vou concebendo nova, leve, veste...
Morenas passam; belo gosto agreste
Desafiam o olhar que o golpe acusa.
Uma nuvem passando vai intrusa,
O vento expulsa para o rumo leste.
Suas mãos passeando delicadas,
Nessa tarde feliz as mãos marcadas
Pela forte presença do Sol Deus,
Clareando por toda essa cidade.
A vida refazendo suavidade,
Carícias dos teus beijos que são meus..
029
Teus olhos, minha amada, meu caminho...
Carícias dos meus sonhos mais profundos.
Neles eu encontrei diversos mundos.
Reconhecendo brilhos, sei teu ninho...
Tiraram dos meus dias triste espinho.
Calaram na minh’alma foram fundo,
Das emoções que trago num segundo,
Nos teus olhos, decerto, teu carinho...
A lua mais ciumenta te procura;
Sem teus olhos a noite fica escura.
Por certo, quer roubar o teu luar...
Quando a escuridão tomou a Terra,
O mundo entrou em triste e cruel guerra,
Faltava simplesmente o teu olhar...
030
Disfarço tão somente a minha dor;
Num canto delicado, forjo o riso.
Meu mundo falsamente fiz conciso,
Na verdade fui sempre um amador...
Gargalhei, zombei, pranteando amor...
Nunca pedi sequer nenhum aviso,
Vingativo o tormento foi preciso,
Mas ironicamente sou ator...
As dores, vão tomando-me de assalto,
Penetram carcomendo, mas num salto,
Me vingo sorridente desse fato...
As mágoas construídas dia a dia,
Repetem tal solene melodia.
Espelhos não refletem meu retrato...
031
Contidas, minhas lágrimas não caem.
Simplesmente se calam, abortadas;
Mas caladas, profundamente traem
Quem sempre quis conter as alvoradas...
De minha alma, servidas, sempre saem;
Mas meus olhos contêm as rebeladas.
Vez em quando, fingidas sim, atraem
As dores que escondiam madrugadas.
Mesmo nas amarguras que retive,
As lágrimas tocaiam, escondidas
A força gigantesca sobrevive,
Ludibriando todo sofrimento;
Minhas senzalas, nunca mais vertidas
Num pranto que disfarço e ao menos tento...
032
Sentimentos vazios... vida traz.
Amores e ódios passam num minuto.
O coração sofrendo, mas é bruto,
Logo depois, sereno se refaz...
Nunca irei tolamente, perder paz,
Meus dias passarão, finjo astuto
Para poder dormir. Com isso oculto
Todas as minhas dores, pois jamais
Conseguiria enfim sobreviver...
Mas francamente, tento não conter
Lágrimas dos amores já perdidos;
É como carregar as cicatrizes
Pensando que serão bem mais felizes
Os dias que vierem, iludidos...
033
Mergulhada num lago sem saída
Encontras as quimeras que me deste
Nas roupas que vestiste a viva peste
Que cultivavas numa torpe vida...
Não salvarei–te e deixo-te perdida,
Afogada na mágoa que te veste,
Sem nem sequer, rezar para que reste
De teus sonhos, alguma sobrevida.
Nas águas podres, pestes e vorazes
Predadores te beijam, mais audazes...
Sugam teu sangue e matam lentamente...
Minha vingança tarda mas não falta,
Apagar todas luzes da ribalta,
Aplaudindo espetáculos, somente...
034
Muitas vezes vencendo meus tormentos
Adormeço nos jardins dessa casa;
Sem saber mergulhando numa brasa.
Não permite esquecer dos velhos ventos,
As vagas vozes volvendo, vão lentos
Todos os totens, tolo tempo atrasa.
Soube sentir, sem sonhos; só me embasa
O jasmim nos jardins dos sofrimentos...
Em mim nada assim, símio sinto o fim;
E cravo meu agravo tudo enfim;
Nos galhos da roseira. Sou espinhos...
Nas dálias risos, falhas fiz enredo,
Desses lírios, delírios, sem segredo...
Hibiscos, passarinhos... Cadê ninhos?
035
Teu riso que me trouxe primavera
Também fez dessa vida um girassol,
Iluminando tudo em arrebol
Teu riso, sensação doce de espera...
Tantas vezes girando numa esfera,
Escutava-te rindo, eras o sol...
Seguia teu sorriso, meu farol.
Deixava tão distante vil quimera...
Acalentando as dores tão mordazes,
Tornando mais felizes e vorazes
Todas as manhãs; riso/claridade...
Quando a noite cai, triste e maculosa,
A vida se perdendo em mim... Gostosa
Risada, vem trazer felicidade...
036
Que trazes de surpresa para mim?
Carinho, balas, tiros, emboscada?
Exatas incertezas dizem nada...
Um tapa florescendo em teu jardim.
Mas os braços estendidos, um sim,
Esperam no romper da madrugada.
Ouvirei a palavra sossegada,
Mansa e suave... Dura qual marfim...
Todas as minhas dúvidas terminam,
Nos meus medos, tragados pelas marchas,
Dos meus pés que, faz tempo, se cansaram...
Essa tua resposta, novas achas
Das lenhas que sustentam nossa vida,
Ditarão novamente outra partida
037
Ilha deserta amor, nossos desejos,
Trocados na silente paisagem...
Sentindo nas carícias dessa aragem,
Da bela natureza, mansos beijos...
Náufragos mais felizes, sem ter pejos,
Nas delícias tragando essa visagem,
Descobrindo em teu corpo, uma viagem
Ao paraíso, aprendo tais manejos,
Que permitam saber novas canções...
Nas algas, nas anêmonas, caçoes...
Nos cavalos marinhos e gaivotas...
Nossa nudez, as conchas com que lotas
Tuas mãos. Nessa areia, a maravilha
De conseguirmos conquistar nossa ilha...
038
Nesses meus versos, tento te dizer,
Da boca que não beijo e tanto quero...
Celebro meu desejo, mordaz, fero.
Em tal fogueira, sonho, enfim, m’arder...
Porém, ao mesmo tempo, sem querer,
Por temer teu silêncio, nada espero.
Então me silencio. Nada gero
Somente esses meus versos posso ter...
Na mansidão volúpias atormentam,
Minhas angústias mudas, só aumentam...
Mas sou feliz fazendo esse poema...
Sonhar é doloroso, mas acalma,
A vida transtornada cede calma,
Embora a solidão seja meu tema...
039
Pelas noites sem sono, sem sentido,
Pelos desejos que negaste, rindo...
Pela boca mordaz, me destruindo,
Simples fato: jamais me deste ouvido...
Pelo que me fizeste, divertido
Achar que nunca iria ver saindo
De minha alma queixumes. Vou abrindo
Meu peito, vagabundo e corroído!
Agradecendo a vida que negaste,
Ilusão que, vencendo, enfim, mataste;
Não deixando senão tanta tristeza...
Agradeço a carpida noite fria,
Foste mestra, vencida a dor na orgia
Criaste sem querer, a fortaleza...
040
A chuva lava essa tristeza, amor...
No espelho d’água dos teus olhos brilham
Tantas estrelas que; cadentes trilham
Pelos espaços. Nos teus braços, flor...
Na confusão dos sentimentos dor
E alegria que, juntas, maravilham...
Sem ter teu corpo; medos compartilham
Com todas as angústias, meu temor...
Nas águas mais profundas, abissais,
Num deserto temível te perdi,
Agora e sempre eu quero muito mais.
Quero essa trajetória sem sentido,
a que, irremediável chega a ti
no mar do grande amor, corpo estendido...
041
Mulheres, tantas tive, tão diversas...
Negras, louras, mulatas e morenas.
Todas as formas, gordas, magras, pequenas...
Muitas ganhei, perdi, simples conversas.
Brasileiras, latinas, russas, persas.
Mulheres não faltaram. Açucenas
No meu jardim plantei, colhi apenas
As lágrimas terríveis e dispersas.
Desses amores falsos, nada resta,
Nem me permitirei falar de festa,
Pois sei desses amores, tudo em vão!
Mulheres, sem pensar, tantas troquei...
somente, na verdade, eu nunca achei
a que tocasse fundo o coração.
042
Nas manhãs és o sol que me ilumina
Um sorriso belo de menina
Jardim de encanto a desabrochar
Primavera, meu mundo a enfeitar
Nas noites és estrela pra mim a brilhar
Luares encantados que não canso de mirar
Ja não posso conter meu riso
Nesse mar de sonho e paraíso
Giana Guterres
Tu és o sol imenso que me banha
No claro amanhecer das esperanças,
Surgindo imenso atrás de uma montanha
Anunciando um tempo de mudanças.
O vento que o cabelo longo assanha,
As horas mais tranqüilas e mais mansas,
A vida sem te ter segue tacanha,
Douras com tua luz minhas lembranças...
Pudesse te encontrar e ser feliz
Andar por teus caminhos estelares
Estar contigo em todos os lugares.
A vida então teria outro matiz...
Porém a tua ausência, este vazio...
E o dia recomeça, escuro e frio...
043
Nas tais penumbras de minh’alma eu vejo
Os olhos pálidos da minha dor.
Nas fímbrias prendes solidão; desejo
Então fugir, quero escapar. Apor
As mãos cansadas e sentir o beijo
Mais carinhoso ser teu beija-flor...
Fazer assim do amor, mais belo arpejo.
Nada quero sentir senão calor...
Quero todos segredos, confissões;
Nada dizer, nem precisar, sermões
Feitos dessa total cumplicidade...
Nossos carinhos, envolvendo a lua,
Sofreguidão, te perceber tão nua...
Transparências trazendo veleidade...
044
Pedir perdão por todos os pecados
Seguindo o peito aberto, destemido.
Jamais poder pensar estar vencido
Os sonhos muitas vezes destroçados.
Restando tão somente os velhos fados,
A noite se emoldura num gemido,
E tudo o que quisera, está perdido,
Abraço-me ao Senhor dos desgraçados.
E quase posso crer em salvação
Embora a cada abismo um novo aviso,
Irônico, sem nexo, o meu sorriso
Traduz o que pensara solução.
Matar os meus enganos, ser fiel,
Afasto-me das redes do teu Céu.
045
- Pudesse ser amado
Ah,
como te quero ...
Esta ânsia de
me entregar
e ser
amada por ti ...
(ivi)
Pudesse ser amado e me entregar
Aos sonhos mais sublimes e perfeitos
A vida passaria devagar
Eterna claridade em nossos leitos
Pudesse ser amado e divagar
Sorrisos e alegrias meus direitos
Minha alma eternamente num cantar
E os dias de esperança em paz, refeitos
Talvez felicidade fosse além
Do simples aguardar por este alguém
Quem um dia já se foi pra nunca mais.
Minha viola canta esta esperança
Minha alma; etéreas sendas vai e alcança
Estrelas se acumulam nos bornais...
046
E a noite
vem chegando,
e com ele,
teu Amor,
que me aquece
o coração ...
(ivi)
A noite se aproxima e traz saudades
De um tempo que se foi pra nunca mais.
Os dias vão passando tão iguais,
Aonde encontrarei felicidades
Vagando por mil ruas e cidades,
Saveiros da esperança perdem cais;
Invés de liberdade; vejo grades
Notícias repetidas nos jornais.
Aonde se escondeu a estrela guia
Que tanto procurei e não voltou,
A noite se aproxima, amarga e fria,
Vontade de morrer... sangra meu peito.
Do tudo que ontem fomos só restou
O que fora ontem ninho, hoje desfeito...
047
Em teu jardim quero ser bela flor
Afagada por teus beijos, beija-flor
Néctar tão doce, nosso amor
Te presentear com puro encanto
Acordando nas manhãs em canto
E mostrar-te que te amo tanto
E na doçura desse sentimento
Te levo comigo em pensamento
E já não há mais dor e sofrimento
GIANA GUTERRES
Qual fora flor mais bela do jardim
Encantas o teu pobre colibri,
Vivendo todo o amor que existe em mim,
Eu chego, num instante, estou aqui.
Esqueço das charnecas de onde vim,
Encontro tudo aquilo que pedi
Ao anjo protetor, meu querubim;
E estou maravilhado frente a ti.
Estás em cada verso que componho,
Tu és realidade feita em sonho,
A doce primavera que sonhei,.
Viver sem teu amor? Já não consigo,
Te quero como amante e como amigo,
No reino da esperança hoje sou rei...
048
Nas noites frias quando, enfim, não tenho
O calor de teus braços me acolhendo,
A tristeza invadindo tudo, fecho o cenho,
Pouco a pouco, perdido vou morrendo.
Mal acredito, nada resta. Venho,
Em caminhos tortos me perdendo...
Nessa procura, no vazio embrenho;
Não consigo saber nenhum adendo...
Te quis, decerto essa certeza foge
Não me deixou, sequer, sentir o alforje
Que pesava atroz me machucando os ombros...
Não sei mais repartir sequer o peso,
Só me resta encolher quem fora teso;
E recolher meus restos dos escombros...
049
Solidão, fúnebre maltrata tanto...
Não deixa pedra sobre pedra em mim,
Cruel fantasma és um sinal de espanto
que me persegue, feroz, destrata assim,
Causando o medo, recebendo o sim
Como prenúncio do não, nunca canto,
Meu principal sonho seria, enfim;
Poder voar livre, tirar seu manto...
A solidão, feroz arma, corta. Sabre
Pairando sobre meus sentidos, mata...
Nem sequer sabe que tal chaga s’abre...
Nos meus delírios, solidão, matando,
Marcando todos meus momentos. Ando
Nessa procura, insanamente ingrata...
050
Não saberei falar teu nome. Quem?
Nem quererei mais conhecer teus dias...
As noites passam, passa o dia sem
Que pelo menos venha alguém. Serias
Por um acaso, simplesmente o bem?
Minhas canções irão caber teus guias?
Da minha casa no meu quarto vem
A voz cansada a perguntar, virias?
Respondes nada e teu silêncio fala
Da dor, distante que no peito cala...
Minha voz muda, silencia e some...
És a distância mais cruel que tive...
Amor calado em teu semblante vive.
Quem souber diga, por favor, teu nome
051
Nesse cigarro tantas dores calo...
Cada tragada viva dor renasce,
Não consegui, nem ofereço a face.
Nas cusparadas da má sorte, falo
Nas entrelinhas, vou seguindo ao ralo
Onde vomitas. Quem souber que trace
O próprio trilho. Mas que faço? Embace
Minha visão, nessa fumaça, embalo...
Quero sorver cada segundo, cada...
Quero sentir, mas não me resta nada...
Por isso, fumo; nos cigarros, vida.
Deixai então, eu conhecer amor,
Deixai o brilho vir, nascer, Senhor!
Quero somente essa manhã, perdida...
052
Quem fora segue seu caminho, louco...
Meu movimento vai seguir meu canto.
Não poderei mais, nem mais quero...Encanto
Que vem, num grito, me deixando rouco...
Vida perturba, solidão, sufoco,
Nada mais triste que secar teu pranto...
Meus olhos miram nos teus olhos, tanto
Que me corrói, assim, matando um pouco
Do que restara de meus dias Carla.
Quando te vejo, andando pela sala
Tua nudez transformando tudo...
Tua beleza vai vagando a esmo.
Nesse reflexo procurar eu mesmo
A cada passo, mas não falo, mudo...
053
Quando perdi, eu nem pensava mais,
Nem saberia mais lutar, imbecil...
O coração, num batimento vil,
Não poderia conhecer a paz...
Afago cada sentimento; traz
Uma saudade convertida em mil,
Em todas cores, renovando abril.
Bem quis saber, mas eu serei mordaz...
Quero a mordida, tua boca, dentes...
Minha verdade, conceber vertentes
Por onde nada me transporta, lento.
Quem sabe, tenho esse calor oculto,
Qual um vulcão. Esquecerei teu vulto,
Terei quem sabe, liberdade, vento...
054
Nada mais poderá calar a voz,
Meu grito em liberdade rasga o vento.
Não terei mais nenhum pensamento;
No meu mundo vivendo essa feroz
Sensação libertária. Num atroz
Desejo de vencer todo tormento,
Da sensatez? Vivo esquecimento.
A vida me trará; virá veloz!
Manhã renascerá nessa cidade,
Nesse país, no mundo, no universo...
Cantarei e eu só tenho esse meu verso!
Minha voz, esperança tão felina,
No novo mundo tudo descortina,
Enfim poder cantar a liberdade!
055
Na minha escrivaninha conto farsa;
Parece que me entrego de repente...
No fundo nada disso tem patente,
A vida continua mais esparsa...
Quem não tem amizade só comparsa.
A claridade estraga um ser demente,
Não quero mais verter dizer quem mente;
Mulheres com leveza, tal qual garça.
Minha idade negando meu fantasma,
Roncando sibilando morre pasma,
A vida não se ilude com promessas...
Nesse redemoinho me afogando,
Criteriosamente suportando;
A dor que tu bem sabes não confessas...
056
Tenho a farsa comigo, companheira;
Me permite fingir o que não sinto,
Muitas vezes sorrindo, tanto minto.
Num teatro fingi que é verdadeira
Felicidade falsa escarradeira
Dessas cores vulgares onde tinto
As mentiras sutis. Quando no absinto
Me embriago, surgindo a fera inteira
Ocultada num último soneto.
Sou servil, mas simpático cometo
Essas atrocidades que te escondo...
Num secreto desejo lacerar
Ponto por ponto, nada mais deixar
A não ser teu cadáver, decompondo...
057
*O Vento*
O vento que soprou distante
Chegou numa languidez suave
Trazendo na vertente avante
Mordaz saudade em conclave
As notas trepidaram ausentes
Nenhum clarão servil embalde
Para regar a terra em presentes
Da palavra que voou na tarde
Entrei sem permissão na casa
Silêncio e solidão rosnaram/
Só o perfume e palavra rara
Sentei na almofada vi a mão
]Que dedilhava em contramão
Canções suaves que encantaram
sogueira
São simples aparências, nada mais,
A voz que sussurrante me chamava,
A ausência de teus olhos sensuais
O frio toma a casa, afasta a lava.
O vento me responde: nunca mais,
Silêncio corta a noite, quem amava
Agora tão distante diz jamais.
O velho coração, a firme trava.
Vagando pela sala, sem respostas,
As velhas esperanças decompostas
Expostas ilusões férrea saudade.
No quanto fui feliz e não podia,
A noite se prepara e mata o dia,
Aonde encontrarei felicidade?
058
Companheira, pretendo teu regaço,
Pra que a noite não faça mais surpresas;
Vida posta, banquete nessas mesas,
Onde o que mais me importa, é um pedaço
De tua boca presa no meu laço.
Não quero convergir as correntezas,
Nem tento corrigir minhas surpresas;
Apenas lutarei por teu abraço...
Converto minhas lágrimas em canto,
Precipito teu jogo num encanto;
Bem sei que nunca pensas em ser minha...
Vencido não suporto mais derrotas,
Meu peito naufragando essas ilhotas,
Onde te percebi, assim, sozinha...
059
Quaresma, primavera, tudo muda...
Retrato amarelado sempre ri,
Emoldurando tanta dor senti
Que nada mais terei sequer ajuda!
Minha alma em tanta lágrima se açuda.
Sem resutados. Sorte já perdi,
Desde o maldito instante que nasci.
Olhando criatura tão miúda,
Um anjo desses tortos,sem amém.
Antes isso, prefiro ser ninguém
Desde menino soube essa verdade.
Vou rastejando pelos guetos, cobra;
Comendo o que não serve nem pra sobra,
Só do útero terei, então, saudade...
060
Eu vi teu nome exposto na manchete.
Procurei encontrar um resto teu,
Um resquício qualquer, tudo morreu!
Muitas vezes, pensei, onde anda Bete?
Nas ruas, caminhando, téte e téte,
Com quem, eu sei, jamais te conheceu,
Buscava em cada rosto; um resto teu...
Agora, simplesmente, isso repete
A mesma sensação: total vazio!
Novas manchetes tolo, prenuncio;
No obituário eu sinto, vais estar.
Quem fora a sensação de viva luz,
Num nada, simples nada, se reduz.
Tanto tempo perdido a procurar!
061
Quem dera se eu pudesse ter comigo
Teu corpo tanta vez imaginado,
As sombras do que fomos; no passado
Mal servem de consolo, falso abrigo.
Romper este cordão, antigo umbigo
Ao qual meu pensamento anda ligado,
Um novo amanhecer anunciado.
Eu luto, o tempo todo e não consigo.
E te procuro insone, toda noite
Saudade vai cortando, frio açoite
E nada do que fomos: solidão...
Pudera liberdade, quem me dera!
Porém somente o vago inda me espera
E a vida me responde sempre não...
062
Ah,
como te quero ...
Esta ânsia de
me entregar
e ser
amada por ti ...
(ivi)
Amar e ser amado... Ledo engano.
A vida nos prepara esta armadilha.
Viver na solidão de uma amarga ilha
O amor é quase sempre vago e insano.
Aos poucos abaixando o negro pano,
A peça terminando; o fim da trilha...
Triste ilusão fere enquanto humilha
O coração espera; pois humano...
Ansioso escuto este chamado
Que atravessando a noite se revela,
É o vento assoviando na janela
E o tempo de sonhar? Abandonado.
Queria ser feliz... mas, desencanto...
A morte me aquecendo. Negro manto...
063
Amor que; sem juízo bate à porta,
Transforma enquanto fere e nos adula,
Por ele, nesta vida nada importa,
Remédio que maltrata e vem sem bula.
Loucura que nos toma e nos adula,
Penetrante delírio que nos corta
Insaciável trama; intensa gula,
Insana fantasia que se aborta
E faz de todo ser um tresloucado.
Refém de cada sonho do passado
Forjando da esperança; porto inseguro,
Esgarça as ilusões e nos transforma,
Amor desconhecendo regra e norma,
Caminho destemido em céu escuro....
064
Há tanto que procuro e nada vejo
Senão a mesma sombra do passado,
O amor que não passara de um desejo,
Agora na gaveta, amarelado.
O quanto do vazio que prevejo
Vivendo o que me resta do teu lado,
Não tendo mais sequer orgulho ou pejo,
Sou velho paletó, amarrotado...
As traças devorando cada fio
E o vento cada vez mais forte e frio,
A morte toma forma e pouco a pouco
O que restou de nós? Nem mesmo sei.
A vida vai cumprindo a sua lei,
Só resta este lamento, amargo e louco...
065
Restando muito pouco do que fomos
Não posso sonegar quanto sofri,
O quanto de esperança havia em ti,
A vida não escreve novos tomos.
O amor que repartimos, parcos gomos,
O tempo de sonhar, eu esqueci,
Sangrando cada verso, estou aqui,
Jamais me esquecerei do que não somos.
Errei ao te querer além da conta,
O verso que hoje faço desaponta
E mostra este vazio tão somente.
Morremos muito aquém do cais, do porto,
O velho sentimento agora morto
Aborta o que julgamos ser semente...
066
À sombra do passado, antigos galhos
Deste arvoredo velho e decomposto,
O coração nostálgico ainda exposto
Das esperanças fiz meus agasalhos;
A vida vai rolando em seus cascalhos,
Perdendo as ilusões, amargo gosto,
A solidão servindo como encosto
As dores, meus fiéis penduricalhos.
Ao som de uma guitarra dissonante,
A morte se aproxima a cada instante,
Alegria é soturna fantasia
Perdido entre os diversos descaminhos,
Fazendo dos penhascos doces ninhos,
O fim se aproximando dia a dia.
067
Faminto; procurei por sombras várias
Deixadas nos recantos e sarjetas,
As velhas alegrias temporárias
Amores não passaram de cometas.
Por mais que parecessem necessárias
Marcando as ilusões frágeis tarjetas
As mãos apodrecidas, solitárias
Os sonhos não passaram de muletas.
Agora que o final já se aproxima,
Ainda busco em vão alguma estima,
Vagando entre os esgotos da cidade.
Qual verme que se expõe à luz do dia,
O desencanto toma a poesia
Deixando como herança a insanidade...
068
Mal pude responder aos teus poemas,
O tempo não deixou sequer pegadas.
Muitas vezes fugi de velhos temas
As manhãs repetiam madrugadas...
Hormônios precedendo piracemas,
As hóstias da paixão, envenenadas
Amores não passaram de problemas,
As tramas entre estradas malfadadas.
Mal pude perceber quanto te quis,
Talvez pudesse ainda ser feliz,
Mas era tarde. Falsa pedraria.
Quem sabe noutro tempo, noutra vida.
A mocidade preparando a despedida
Minha alma sem saber envelhecia.
069
Pudesse ser ao menos, poesia.
Vencendo os meus temores. Timidez.
O amor quando demais tanto se fez
Morrendo de saudades. Fantasia.
Pudesse ser a voz que o vento urdia
Negar a minha própria estupidez,
Quem sabe enfim amor tivesse vez,
Porém eu nada disso merecia.
Pudesse finalmente ter alguém,
Que apascentasse o fútil coração.
E quando a solidão, de novo vem
Escuto o badalar do velho sino,
Dobrando novamente tosco e vão,
Chamando à realidade, ao desatino...
070
Não vejo outra saída, nem tampouco
Desejo outro caminho que não este.
A dor que calmamente me reveste
O canto de ilusão ficando rouco.
O quanto tu me deste era tão pouco,
A solidão servindo como veste
Não tendo mais um sonho que me ateste,
O que me resta então? Meu canto louco.
E o quase crer que existe a liberdade,
Morrer sem conceber felicidade
Ir caminhando ao léu, sem rumo e prumo.
Tentando pelo menos disfarçar,
Se a vida se esvaindo devagar
Bebi da fantasia todo o sumo...
071
Nostálgico, procuro pelas ruas
As Marcas do que fomos no passado,
Estrelas envolvidas por mil luas,
O velho coração enamorado.
Enquanto as fantasias eram tuas,
O canto sob o céu enluarado
Distante dos meus olhos continuas
Procuro e nada vejo aqui do lado...
Seríamos dois pobres sonhadores,
Aguando com as lágrimas as flores
Que há tempos já murcharam. Nada resta
Apenas o luar enfumaçado,
E o verso sem sentido; embolorado,
E a serenata soa, vã, funesta...
072
Solidão
a invadir
este coração,
tão carente
de ti ...
(ivi)
A sensação perene do vazio,
Aos poucos minha pele se soltando,
O vento que julgara, outrora brando,
Queimando lentamente, triste e frio.
O velho coração que fantasio
Mergulha no oceano e desabando,
Lentamente abandona o tosco bando
Atravessando a vida, vai vadio.
Queria muitas vezes ser feliz,
O céu das esperanças morre gris,
Atriz/felicidade aonde estás?
Minha carcaça, podre e sem remédio,
O dia passa lento, amargo tédio
Minha alma sem descanso, busca a paz...
073
Qual fora um louva-deus que, suicida
Abraça num delírio sua amada,
Sacrificando assim a própria vida
Sabendo que ao final, restará nada;
Mergulho nos teus braços. Despedida
Pelo desejo inútil demarcada
Assim foi, na verdade toda a lida
Em nome deste amor, sacrificada.
Servindo de repasto aos teus anseios,
Mergulhando o meu rosto nos teus seios
Aguardo pelo bote ensandecido.
De que me valeria a vida inteira
Não fosse ter em ti a companheira;
Destino, desta forma a ser cumprido...
074
Em nome deste amor que nos maltrata
E enquanto me entorpece; me atormenta,
Por mais que a poesia seja ingrata
A noite em mil prazeres, violenta.
A vida sem te ter escorre lenta,
O fogo do desejo me arrebata
Depois quando a poeira cessa, assenta,
Percebo as cicatrizes da chibata
Que lanha minhas costas, fúria imensa,
Mas sei quanto é divina a recompensa
Que tenho entre os teus braços delicados.
Sentir o teu perfume, ser teu par,
O lume da paixão a nos tocar
Momentos sem igual, iluminados...
sobre poema de Laura Carolina
075
*Regresso*
O vento fino soprando suave
Adentrou cauteloso e mudo
Com cheiro de vôo de nave
Regressou em novo mundo
A porta fechada sem a trave
A janela com claridade vida
Sorriram quebraram o lacre
Estavam estáticas na partida
O sono não apagou a paisagem
Mesmo com tinta descolorida
Fica penumbra na embalagem
Como sonâmbula desprotegida
No meu cais ancorado o barco
Feliz retorno querido Marcos
sogueira
Após as tempestades e as procelas
Que tanto soçobraram meu saveiro,
Agora me percebo por inteiro,
Abrindo o coração, expondo as velas.
Pintando com meus sonhos novas telas,
Entrego o meu cantar, meu companheiro,
E tendo o teu soneto por parceiro,
Encanto sem igual que me revelas
Eu posso novamente mergulhar
Sem medo dos naufrágios vida afora,
Minha alma, bem tu sabes que te adora
E encontra novas forças pra lutar.
Perdoe pelos erros do passado,
Permita que eu te tenha lado a lado..
076
O tempo se passou, a vida é dura
Choram Marias e Clarices, ainda!
Democracia? Se o mal não finda
Que diferença faz, da Ditadura?
Regime disfarçado e a Dita Dura
A nos ferrar e nós sorrindo.
Herança maldita; nosso Senado!
De resto, um Presidente com ferradura.
Pior, é que essa dor assim pungente
Que maltrata tanto e tanto a gente,
Veste de luto as nossas esperanças.
O que será, meu Deus, dessas crianças
Do meu Brasil tão rico, abastado,
Se por tantos ladrões surrupiado?
Josérobertopalácio
Os olhos do planeta vagam tontos
Buscando algum remédio, mas não há
Alguns que são vendidos quase prontos
Nem mesmo o mais vadio tomará.
Diabos disfarçados, santos tolos
Macabras criaturas vasos ocos
A nitroglicerina enchendo bolos
Das árvores não sobram sequer tocos.
Pecado é não saber ser tão esperto,
Vencidos nossos prazos, podridão.
A morte vem rondando, anda por perto,
O porto dos meus sonhos, solidão.
E agora o que fazer senão tragar
O gole que decerto irá matar...
077
\"NOSSO AMOR NÃO DEU CERTO, GARGALHADAS E LÁGRIMAS...\" (CAZUZA
Vou só e pela rua da amargura.
Gargalhas nosso amor que não deu certo!
Eras inseticida e inseto,
Falseavas sempre. / Caricatura
Iludido eu beijava. Triste agrura!
Descobri a frieza de um concreto
E vou feliz por não ter perto,
Este quadro que, pintou tua figura.
Canto feliz porque fugi da raia,
Que tudo saia qual som de Tim Maia!
Me siga, mas do outro lado da rua.
Não perca teu caminho e direção
E por favor, não tente a contra mão.
Adeus, eis a verdade nua e crua.
Josérobertopalácio
Amor é Malazarte, disso eu sei
Faz tantas e prepara uma cilada,
Depois quando se vai não deixa nada
Mentir, falsificar, é sua lei.
O céu que quis mais claro se fez grei,
A tempestade foi simples lufada,
E quando reparei, triste mancada,
Era bufão enquanto quis ser rei.
Rasgando a fantasia, vejo a face
Da tola garatuja que se ri.
Reparo neste olhar, chegando a ti.
Não posso resolver mais este impasse.
Melhor é ser feliz e solitário
Ou ter a caradura de um otário?
078
\"NÃO DA MAIS PRA SEGURAR, EXPLODE CORAÇÃO\" (GONZAGUINHA)
Meu coração bombeia poesia
É um manancial de emoções
É fábrica de sonhos, ilusões
Também se desmantela em agonia.
Sem distinguir marasmo / simpatia,
Adora encrencar com corações
Já nem sei quando tem boas intenções,
Mas inda é minha melhor companhia.
E nas diversidades dos amores
Sorri, canta, também tem dores,
Que acato e desacato; confusão
Que aprendi a conviver e então:
Se coração de poeta não tem jeito,
Que não apronte demais dentro do peito.
Josérobertopalácio
Além do que podia imaginar
O tolo coração de um velho ignaro,
O amor fazendo estrago; pagou caro,
E a vida; fui sentindo se escoar.
Navego sem destino por teu mar,
Não resta nem mais bússola nem faro,
E quando procurava por amparo,
Eu pude perceber meu naufragar.
Amar; amara marca inconsistente
Por mais que tolamente a gente tente
É teia ou armadilha que se tece.
Querer felicidade na paixão
Buscando refrigério num verão,
Numa explosão divina que enlouquece...
079
Me responde,
por favor,
tu ainda
gostas de mim ??
(ivi)
Jamais eu deixaria de querer
Quem tanto desejei e não me quis.
Do amor sendo um aluno, um aprendiz,
Entregue sem defesa ao seu poder.
De tudo o que me resta, podes crer,
Colecionando cada cicatriz
Eu bebo todo gole e peço bis,
Não posso e nem pretendo te perder.
Seria tão somente um vão cometa
Que vaga sem destino céu afora,
A vida em tua vida se completa
E tudo o que mais quero é ter comigo
Esta alma que minha alma quer e adora,
Vivendo o que me resta, aqui, contigo.
080
\"SENTADO NA CALÇADA DE CANUDO E CANEQUINHA\"
Na calçada / canudo e canequinha,
Eu dava forma ao meu mundo de ilusão
Te vendo refletida na bolinha
Igual cristal, mas / ploft / era sabão.
Adolescente, (sonhador, folião),
Tempo em que a ilusão, o peito aninha.
Menino sonhador! Ao coração
Tanto fazia, amanhecer ou à tardinha!
O tempo parecia dar guarida
À juventude que, em beleza envolvida,
Vivia a cada dia uma emoção.
O tempo se passou, ou trem ligeiro!
Entre tantos, sou mais um passageiro
Que se prepara, pra descer na estação.
Josérobertopalácio
A juventude foge entre meus dedos,
Abandonado barco que se vai.
Não posso mais saber dos seus segredos,
O pano desta vida, manso, cai.
O quando ser feliz, velhos degredos,
Sorriso do passado, vejo o pai
Que aplacava sereno, tantos medos,
O tempo num momento, assim se esvai.
Agora o que me resta é tão somente
O túmulo dos sonhos, onde jaz
O quanto que busquei, não fui capaz,
E o fim que a cada dia se pressente
Fechando os olhos tristes de um poeta
Numa viagem trágica e incompleta...
081
\\\"FEITO AQUELA GENTE HONESTA BOA E COMOVIDA\\\" (BELCHIOR)
Interessa para Lula, o indigente.
Que dele venha o voto, somente e só.
Esqueceu-se que saiu do cafundó,
Pra hoje ter Sarney seu dirigente.
“Gente honesta boa e comovida”!
Com Bolsa Família “vencer na vida”?
Ludibriam o sertanejo. Ilusão!
Acorda Nordestino, ainda é tempo!
Ou segura mais um pouco o sofrimento
E usa a foice no dia da eleição.
Josérobertopalácio
Inda sonho...
\\\"Feito aquela gente honesta, comovida\\\"
Inda crente na promessa do vilão
Que segue a sina explorado em sua lida
E são donos da estima do patrão...
Feito aquela gente honesta, sem ciência
Dos escusos mandatários, inda sonho
Ver meu povo levantar tomar tenência
E mudar desse futuro o olhar bisonho...
\\\"Feito um povo que acredita na justiça\\\"
Acordassem da desdita essa mortiça
Proclamassem sem demora a exigência
De direito, cidadãos de consciência
Com certeza, sem demora e de virada
Mandaria par´os quintos tal cambada!
AnaMariaGazzaneo ( A MAGA)
Perdoe, meus queridos companheiros,
O velho coração de um socialista,
Em meio à podridão destes chiqueiros
Ainda sou deveras, um lulista.
Congressos e senados são puteiros
O brasileiro, eu sei, é bom artista
Larápios conhecidos, costumeiros,
Enorme e sem final, a longa lista...
Mas creio que o país anda melhor,
Ao menos para os pobres desvalidos,
A velha ladainha sei de cor,
Porém a fome está mais aplacada,
Mesmo que escute ainda estes gemidos
Da raça brasileira, injustiçada...
082
\\\"ARRANCA AS ETIQUETAS, RASGA O PREÇO\\\" (CARLOS COLLA)
“Arranca as etiquetas, rasga o preço”
Faz tempo que esse amor não tem valor;
De que vale “Te Amo” em tanta dor?
Tua paixão cansou deste endereço?
Por que afoga em magoas meu apreço?
Pra te beijar, te dar carinho, aqui estou,
Mas me desprezas, pisoteias o amor.
Queres partir, vai, vai que eu não te impeço.
Mas se quiseres vem pra me fazer feliz!
Outras vezes já estivemos por um triz;
Então, estarei sempre a tua espera.
Igual ao mundo, nosso amor é uma esfera
E gira, gira, e sempre passa por aqui.
Te esperarei, em meio a noites, sem dormir.
Josérobertopalácio
Não quero mais saber do amor sem graça,
Sem fogo e sem loucura, simplesmente...
Apenas que me aplaque ou me contente
Eu quero bem mais fogo que fumaça...
O tempo não há dúvidas, que passa,
E o quase não se torna totalmente,
Felicidade agora, isto é urgente,
Eu quero ser de ti, a presa e a caça.
Rasgando os velhos tolos preconceitos,
Pudores são sutis velhacarias,
Fazendo dos sofás, camas e leitos,
Deleite entre as estrelas e o luar.
As noites que desejo; são vadias,
Sem nada que nos possa controlar...
083
\"DE UM POVO HERÓICO O BRADO RETUMBANTE\"
“Não tem visão? Bate a cara contra o muro!”
Desliga tua televisão para não ver,
Arruma outra coisa pra te entreter
E não mete a mão no bolso. Estás duro!
Um artifício; usa óculos escuro,
Vê de banda a bandalheira acontecer,
Elege Dilma, vai na onda do PT
E aguarda ela te mandar tomar no furo.
Quem te viu Lula e agora te vê!
Bolsa Família e Ibope, por cima,
Enganando o sertanejo que se anima...
“Povo heróico? Um brado retumbante”?
Tomando a cada dia no bufante,
Acostumou-se a deixar acontecer.
Josérobertopalácio
Eu quero o amanhecer de um povo nobre
Vestindo uma esperança avermelhada,
Sem ter a fantasia que o recobre,
A vida pela estrela iluminada.
O quando fui feliz já se descobre
Na mão da multidão que esfomeada,
Que um dia quis o pão que ainda sobre
Da caridosa corja aburguesada.
Eu sei quanto é simplório o velho Lula,
Porém se a humanidade toda o adula
Até o megastar Barak Obama
Talvez seja porque simplicidade
É o que mais necessita a sociedade,
É a lenha que alimenta o fogo, a chama...
084
- FALEMOS DO AMOR
\"QUERO QUE VOCÊ ME AQUEÇA NESTE INVERNO E QUE TUDO MAIS VÁ PRO INFERNO\" (ROBERTO E ERASMO)
Tem gente que quer ver nosso amor frito,
Eu vejo fervilhando os burburinhos
Vivamos nosso amor, nossos carinhos,
Pois querem é bagunçar nosso coreto.
É tudo só inveja, eu pressinto,
A vida nos ensinou todos os caminhos
Pra lidar com amor e dor, sempre juntinhos,
Nas horas de cantar, ou nas do grito.
Nos vale o Céu azul, mesmo sem o Sol brilhar
Se sempre estamos a nos esperar
Tornando a nossas vidas mais bonitas.
Que os dias e as noites sejam tantas,
Com você me aquecendo neste inverno
E que tudo mais vá pro inferno.
Josérobertopalácio
Falemos; pois do amor, meu companheiro,
Usando cada verso como amparo,
Mergulho no oceano, vou inteiro,
E sei que ser feliz hoje é tão raro.
Das cores mais diversas do tinteiro
Preparo este cenário, sigo o faro,
E quando o sentimento é verdadeiro
Das dores e temores, eu me saro.
Sanando os velhos males do passado,
Andando com estrelas ao meu lado,
Enchendo meu bornal de fantasia.
Matando a minha sede em cada verso,
Vagando sem ter rumo no universo,
Fazendo deste sonho poesia....
085
\"EU NÃO SOU CACHORRO NÃO\" (WALDICK SORIANO)
Me tratas como se eu fosse um animal
Já não suporto tanta humilhação
Não penses que eu sou cachorro, não,
Nem aos bichos a lei permite tanto mal.
Se gosto da malandragem, coisa e tal
Tu devias compreender, oh Conceição!
Tu te lembras muito bem, faz um tempão,
Que deixei de lado a pinga, menos mal.
Não me jogue na rua minha nega.
No carteado eu ganho pra manteiga
E vamos escorregando cada dia.
Manera a raiva, mostra a simpatia
Teu nego tá mudando devagar
Um dia com fé em Deus, nós chega lá.
Josérobertopalácio
Tu foste o meu maior erro, decerto,
Portanto te desejo mais que tudo,
Andando sem ter rumo no deserto,
O coração fraqueja, fico mudo.
E quando em outros cantos me transmudo,
Inundo-me do vago, sigo incerto,
Eu sei que na verdade, só me iludo,
Mas quero-te sem medo, aqui por perto.
Verdugos de nós mesmos, riscos tantos,
Cansado de viver tais desencantos
Sabujo de teus passos, sou teu cão.
Mergulho sem defesas na loucura
Do amor que maltratando, fere e cura
Aborta semeando cada grão...
086
\"ASTRONAUTA DE MÁRMORE\"
40 anos! Astronauta não voltou!
Lua saudosa! Noites apaixonadas,
Desabaram as ilusões alimentadas
É o fim das vozes no seu radinhôôô!
Desilusão que o homem alimentou.
Só daqui a vinte anos, outra pernada
Tantos ciclosda Lua, uma hibernada!
Um martelo pra quebrar o gelôô!
Astronauta de Mármore aqui na terra.
Triste a Lua a segurar nossa bandeira
Traída por uma aventura em Marte.
E sofre a angustia do descarte
Nos dando uma lição tão verdadeira
Quem se entrega assim tão fácil; se ferra.
Josérobertopalácio
A lua se mostrando clara e cheia
Dominando o cenário, nua e bela,
O quanto de magia nos revela,
Enquanto em poesia ela vadeia.
Por mais que a humanidade ainda creia,
Eu vejo com certeza noutra tela
Corcel de um sonhador atrela a sela
E voa pela noite e se incendeia.
Um nauta quis fazer da velha dama,
Apenas um satélite sem vida,
Porém meu coração mantém a chama
Caminha pela lua de São Jorge,
Se a multidão vagueia assim perdida,
Eu trago o seu clarão em meu alforje...
087
\\\"MARINA, MORENA, MARINA ME FAÇA O FAVOR\\\"
Eu sei que eu pintei, mas foi o sete
Bagunçando nosso amor bem mais da conta
Em troca, o que você faz já não me espanta
Mas tua beleza essa pintura, não reflete.
Marina, pra que tanto disparate
Manera o ruge, esse batom, minha santa
Enfeitada qual penteadeira de puta
Tu vais pro guines antes que o galo cante.
E sei que tudo isso é por pirraça
Depois que me encontraste naquela praça
Num agarrado com a viúva do Alfredo.
Mas tudo já passou não tenha medo
Não mais te pinta pra chamar minha atenção;
É meu o teu e é teu o meu, (CORAÇÃO).
Josérobertopalácio
Amar Marina é mais que amar a vida
É crer numa possível liberdade,
Minha alma tantas vezes dolorida,
Encontra o que sonhou: felicidade...
E quando a poesia chega e invade,
A velha mocidade desvalida,
Renova-se e transborda de saudade
A chama que pensara adormecida...
Não pintes mais teu rosto, bela tez,
O amor não mais permite a insensatez
És pura e rara jóia, diamantina
No corpo de mulher mil maravilhas,
Permita que eu percorra as raras trilhas
Traçadas no teu rosto de menina.
088
Só desperta amor quem tem amor pra dar
Não se compra ou vende no varejo
Cantando nosso amor, até solfejo
Mas gagaguejo quando tento te falar
Queque eu quequero te te amamar
E tu tu me me negas o be beijo
E e assimsim me mamatas de desejo
Ma mas um didia vou te nanamorar.
A poesia, amor, aceita tudo
O gago o falador e até o mudo...
O verso é de quem tem verso pra dar!
Eu encho de amor a poesia
Casando amor com dor em alegria.
É nos versos que consigo me encontrar!
Josérobertopalácio
Não quero e nem consigo disfarçar
O amor bagunça sempre o coração
Às vezes digo sim, e penso não
Chegando num segundo a gaguejar.
As coisas vão mudando de lugar,
O mundo perde rumo e direção
Não tendo nem querendo explicação
Só quero nos teus braços me jogar...
Receba cada verso como abraço
Estreite com firmeza cada laço
Num louco descompasso, me perdi.
Se tudo o que mais quero é ter comigo,
Mesmo que traduzindo desabrigo
O gigantesco bem que vejo em ti.
089
O rico está chiando porque está tendo que dividir através do Leão
Com os menos favorecidos um pedaço de pão
Agora não é mais uma miragem
o pobre de barriga cheia
Só mesmo o Lula teve essa coragem
E deixa o rico que esperneia
Rutinha
Há tempos que eu sonhava com justiça,
Um raio de esperança no horizonte,
Da Burguesia o cheiro de carniça
Da multidão faminta, a velha fonte.
Eu sei quanto foi dura e amarga a liça;
Mas vejo do castelo, o seu desmonte,
Nos olhos rapineiros a cobiça,
Nas nossas mãos agora erguida a ponte
Que possa nos trazer um novo dia,
Aonde muito além de uma utopia
O mundo não mais seja temerário.
Depois de tantos doutos do passado,
Eu vejo o novo tempo anunciado
Nos olhos, no sorriso do operário...
090
\"DETALHES TÃO PEQUENOS\" no soneto.
“Não quero te falar meu grande amor” (Belchior)
Das dores e dos dias tão distantes
“Quase gritei nos mil alto falantes” (Raul Seixas)
Eu vivia “a cem por hora meu amor” (Belchior)
Não suma mais, querida, por favor.
Eu precisei até tomar calmantes.
Meu coração pulsava em dissonantes
Notas, regidas na saudade e na dor.
Te vejo agora aqui, tudo mudou!
Então “receba as flores que te dou” (Agnaldo Timóteo)
Olha!“Querida, mil vezes, querida” (Agnaldo Timóteo)
Minha “Deusa na terra nascida”. (Agnaldo Timóteo)
“Eu vejo a vida melhor no futuro”, (Lulu Santos)
Tendo ao meu lado teu amor, tão puro.
Josérobertopalácio
Saber de cada passo que tu deste
Em busca da real felicidade,
É ter no olhar a força da verdade,
No mundo onde a paixão domina e investe.
A força imensurável de um cipreste
O quadro desenhado agora invade
E rompe sem pudores, qualquer grade,
Sabendo da alegria que se ateste
No olhar enamorado de quem sonha,
Por mais que a noite surja vã medonha,
Erguendo este castelo fabuloso.
A rica fantasia que me cobre,
É feita deste amor sobejo e nobre
Cobrindo o corpo frágil e andrajoso...
091
“Braços abertos sobre a Guanabara”
Ele assiste a tudo estarrecido
“O Rio de Janeiro continua lindo”
Mas a exclusão social se escancara.
Rio, teu março, aquele abraço, tua cara,
O Cristo redentor, tudo assistindo,
-O crime dando as cartas, progredindo-
Fugindo-lhe das mãos o que planejara.
Rio de Janeiro, fevereiro, Carnaval
A fome fantasia-se na passarela
Desce o samba a falar pela favela.
Do alto assiste o Cristo a tanto mal
Pastor, político, traficante...
Orai por nós, Senhor, todo instante.
Josérobertopalácio
O Rio de Janeiro em luto chora
A morte da esperança de seu povo,
Pudesse refazer tudo de novo
Decerto não seria este de agora.
Cadáveres nas ruas e favelas,
Migalhas de esperança se esfacelam,
Enquanto estas entranhas se revelam
As manchas vão sujando raras telas.
Um dia, noutro tempo, quem me dera.
Pudesse reviver a primavera
De um povo tão fantástico e gentil.
Proteja; Redentor, esta cidade
A pérola soberba que em verdade,
Domina o belo céu do meu Brasil...
092
Cantiga de vida
é tua presença
constante ...
(ivi)
Estar contigo é crer num novo dia
Diamantino brilho inesgotável,
Eterna sensação festa e folia
Na terna fantasia interminável.
O quanto sou feliz, o amor recria
E faz do verso simples; palatável,
Tomado por encanto e por magia,
A fé num belo dia, inabalável.
Ser teu é ter certeza de outro tempo,
Sem medo, sem temor ou contratempo
Apenas de sorrisos revestido.
A luz de teu olhar tomando a cena,
Promessa de alegria imensa e plena,
O mundo num Oásis convertido...
093
TROCANDO DESAVENÇA POR ABRAÇO.
Tirando dos varais as velhas vestes
Eu tento me vestir de esperança
Pintando fantasias qual criança
Sabendo que o pincel, tu não me destes.
Que a tela, um horizonte me empreste
Apague a invernada, pinte bonança,
Guerra só de amor, cupido e lança,
Felicidade igual a chuva no nordeste.
E assim, no preto e branco, o colorido
Viajando até o meu sexto sentido,
Por mais que a esperança, rica fonte,
Do meu coração siga distante.
Insisto e não destoo o meu compasso,
Trocando desavença por abraço.
Josérobertopalácio
Amigo, não repare nesta casa
De barro revestida e rebocada,
A rua sem asfalto e sem calçada
O trem, quando não falta sempre atrasa.
Porém tenha a certeza que serás
Aqui bem recebido, pois a festa
É tudo na verdade o que me resta;
Reinando no meu lar, a imensa paz.
Eu tenho três meninos e a patroa,
Mulher trabalhadeira e muito boa,
Desta morada pobre; fonte e luz.
Terás o melhor vinho, eu te garanto,
Daquele que nas bodas, por encanto
Transformou com amor, Cristo Jesus...
094
PINTAR COM A LINGUA O CÉU DA TUA BOCA.
Pintar com a língua o céu da tua boca
Deixando louca tua vontade de querer
Só se entregar e o resto esquecer;
O amor permite sensação tão louca.
Beber na fonte que teu prazer entoca
Sugar tua seiva que me faz transcender
O limite da sensação do prazer,
Que se esparrama na ponta da minha broca,
Levando a seiva do amor à tua loca
Que num êxtase, dá espuma em troca;
Assim é o nosso amor colorido.
Nossas línguas dão nas cores os arremates
Ao nosso amor, que desconhece disparates
E segue a cada dia mais e mais unido.
Josérobertopalácio
Sentir tua presença em minha cama,
Deixando-me levar pela loucura.
Revendo e decorando toda trama,
A noite feita insana em tal procura.
Delírios entre braços, o amor chama,
Entregue aos teus caprichos, com doçura,
Às vezes meretriz, perfeita dama,
Momentos de prazer e de tortura.
E quando amanhecer; exijo o bis,
Somente desta forma sou feliz,
Um velho marinheiro sabe o cais.
Arfantes viajantes do infinito,
O amor que nos vicia, raro rito
Por mais que seja igual nunca é demais...
095
Se tu voltares,
eu abro meus braços,
pra te enlaçar ...
(ivi)
Eu venho do sertão lá das Gerais
Trazendo o coração de um violeiro,
Não pude te esquecer nem quero mais,
Amor quando sincero e verdadeiro
Transforma toda a vida, e se é demais,
Tomando as minhas mãos, o timoneiro
Encontra na esperança o abrigo e o cais,
Assim é que te quero: por inteiro
Sentir o teu perfume; o teu respiro,
Nos braços deste encanto eu já me atiro
E bebo a poesia de teus lábios.
Os versos mais singelos e mais puros,
Vencendo os corações terríveis, duros,
Bem sabes são no fundo, versos sábios...
096
Ouvindo a velha música que fiz,
Homenagem vadia a quem não ama;
Esqueci que vivi sem tua chama,
Mas falando a verdade, fui feliz.
E brincaste também, assim o quis;
Cúmplices; eu sei, fomos dessa trama
Rolávamos incautos, céu e grama
Mas, quem dera, pudesse tentar bis.
Bisonhos tais desejos, mas sinceros.
Ouvindo a melodia dessa valsas,
Sentimentos tão falsos soam veros...
Fustigando, por certo, tal remendo
Que usei pra disfarçar, nas minhas calças
Dos meus sonhos. Sofrer me protegendo...
097
Nos varais da saudade, quarei Rita.
Pendurei no cabide, minhas dores.
Na tábua de passar, os meus amores;
No concreto da vida, foste brita...
Nas mentiras do tempo, vento agita;
Vem trazendo essas cinzas, seu odores,
Desmatando o jardim, deixei as flores;
Garimpeiro da sorte, nem pepita...
Desfraldando a bandeira do meu sonho,
Procurando a rasteira que tomei;
Esfolando o joelho, me envergonho.
Metade da metade da certeza,
Não cabe nesse mundo onde fui rei.
Meu amor, eu fiz voto de pobreza...
098
Aqui estou
a invadir
este teu abismo
de silêncios e incertezas ...
(ivi)
Perdoe-me este invólucro; é defesa
Depois de tantas mágoas, hoje eu sei,
Cansado de ser caça, simples presa
No abismo de mim mesmo, mergulhei.
Por tanto que tentei e nada tive
Esqueço de viver; fecho as porteiras.
Quem tanto amou agora sobrevive
Rasga das esperanças; as bandeiras...
Um dia fui feliz? Falsa impressão...
Restando este vazio que sou eu
A velha companheira: solidão,
Meu mundo num instante se perdeu...
Perdoe se não posso mais sorrir,
Chegou o meu momento de partir...
099
Amigo
Fortuna bem maior do que dinheiro
É cultivar, amigo, uma amizade!
Lapidada dura eternidade.
Lição de vida que aprendi primeiro.
Amigo é na verdade um companheiro
E fique você certo, meu confrade;
Amigos virtuais, mas de verdade,
Nos versos seguimos mesmo roteiro.
Nas veias tens o sangue das Gerais
Do Milton, do Guedes e muitos mais
É a tradição das Minas com seus versos!
Tento te acompanhar e nos tropeços
Invoco o conterrâneo Gonçalves Dias
E jogo pro papel as poesias.
Josérobertopalácio
Amigo, tantas vezes quis o sol,
As trevas dominaram o cenário
E sem a claridade em arrebol,
O dia transcorrendo temerário...
Apenas os tropeços corriqueiros,
As velhas cicatrizes; a aguardente
Os risos que julgara verdadeiros,
Minha alma sem remédio, finge, mente
Meu mundo foi errado do começo,
Não pude conhecer outra verdade,
Agora, recolhendo o que mereço
Não resta nem sequer a liberdade...
Pereço nos esgotos e sarjetas
Sorrisos e alegrias? Vãos cometas...
100
Quero provar
mais e mais,
teu Amor
e carinho ...
(ivi)
Inesquecíveis noites que tivemos;
Momentos sem igual, felicidade...
Se o paraíso, juntos, conhecemos.
Sabemos que hoje existe eternidade.
A cada novo beijo, uma surpresa.
Deliciosamente fui ao Céu,
A lua se desnuda em sobremesa
Derrama sobre a cama, farto mel;
Singramos oceanos de prazeres.
Vagamos constelares maravilhas
Irradiando luz. Sublimes seres
Desvendando Eldorados, ricas trilhas
A vida nunca mais repetiria
Momentos tão singelos de alegria
101
Amor total
quando estou
junto a ti ...
(ivi)
Perdido em meio às luzes da cidade
Bebendo cada gole da ilusão
Buscando conceber felicidade
O vento me responde sempre: não;
Caminho pelos becos sem alarde,
Eu sei que na verdade foi em vão,
Agora, com certeza se faz tarde
O tempo se esgotando sem perdão;
O amargor refletido no meu canto,
Causado pelo imenso desencanto
Apenas traduzindo este vazio.
De quem por tantas vezes se perdeu,
Se a lua dos meus sonhos se escondeu,
Agora só me resta o intenso frio...
102
Variar? Pensei!
Impossível? Mas que droga!
Juro que tentei...
Meu coração fechou a porta
Paixões passaram
Como relâmpagos se foram
Só o que em mim deixaram
Amontoado de restolho
Permanecem às lembranças
Radicadas em minha pessoa
Lembranças das lambanças
Que nos faziam sorrir à toa
Das noites de versos rimados
Que até hoje meu peito soa
FADA
Pudesse revolver o meu passado
Voltar cada momento que vivi.
A morte vem rondando por aqui
Eu sinto esta presença bem do lado.
O céu que outrora fora enluarado
Eu sinto que faz tempo já perdi.
Meu barco hoje está desgovernado
E o cais, eu te garanto, não mais vi.
O fim se aproximando, anoitecer...
O coração sem forças pra bater
Meu canto entristecido, sucumbindo...
Bradando o seu cajado, a velha amiga.
Rondando a minha cama, lá se abriga,
Irônica, eu percebo, está sorrindo...
103
ÀS VEZES, POR EMOÇÃO, A RAZÃO MOFA.
Os filhos em rebeldia vão agindo
Mãe Natureza devolve a ingratidão,
Cansou-se de sofrer e com razão
Muda as regras e vai nos castigando.
Teimamos em más ações, só destruindo
Nosso mundo, na cegueira da ambição.
Perdemos o norte e na contra mão
Desabamos, na ilusão de estar subindo.
Não vale um céu azul, sem o ozônio
É querer inteligência sem ter crânio
É ver o imenso mar sem ver um peixe.
Permanecer no erro? Não se queixe
Ao ver ventilador em tua farofa.
Às vezes, por emoção, a razão mofa.
Josérobertopalácio
Enquanto a natureza é destruída,
Castelos são erguidos nos escombros,
Matando pouco a pouco toda a vida,
O homem nada vê por sobre os ombros.
A seca prenuncia o temporal,
A fome se espalhando pela Terra
E o homem, criatura vil, boçal
Não ouve quando Vida sofre e berra.
Herança que deixamos para os nossos
Apenas tão somente frágeis ossos,
E os grandes arvoredos destroçados.
Assim quando cobrarem, no futuro,
A inválida aridez de um solo duro,
Ficaremos somente assim: calados...
104
Mensagem:
Domas meu coração / chicote e jeito,
Com artimanhas que a vida te ensinou
Voltando a ser aluno, ex-professor,
Meu coração inda diz-se satisfeito.
Adentras as artérias do meu peito
Os batimentos seguem a teu dispor
Carinho, chicotada, alegria, dor.
Domado, segue ele a teu respeito.
Pra quem foi um Don Juan, sei que vai mal.
Achou a forma do seu pé. Infernal
Sua vida, a meu ver, mas que nada!
Só bate aos encantos de sua fada
E enquanto, na paixão, da sua mancada;
Eu saio de mansinho pra putada
Josérobertopalacio
Faz tempo que não bebo nem um gole.
Cigarros escondidos pela casa.
A natureza às vezes chega e bole,
Mas quando vou sair, a vida atrasa.
Esqueço da aguardente e da cerveja,
Só tomo o meu suquinho natural,
E quando a fome aperta e aqui lateja,
Eu olho de mansinho e digo tchau.
Um cafezinho, às vezes, um leitinho,
Arrasto meus chinelos pelo quarto,
Andando como fosse bem velhinho
Às nove vou dormir, disto estou farto.
Porém se eu não andar tão pianinho
Sou pego de surpresa pelo infarto....
105
Mensagem:
Somente o doce mel da tua boca
Acende fagulhas em meu peito
Atiça meu corpo – Fico louca!
Aumenta mais e mais o meu desejo...
Amor de tanto fez ou tanto faz?
Não quero pra mim nem pra ninguém
Somente o teu amor me satisfaz...
Somente o teu carinho me convém...
Outra vez contigo puder estar
Sob o lume das estrelas – constelação
Na cauda de um cometa contigo viajar
Fazer mais uma vez feliz meu coração
Trocar versos contigo é te beijar
Como dantes viver nova emoção...
FADA
Sentir teu corpo nu tocando o meu,
Debaixo dos lençóis, o Paraíso,
É tudo o que mais quero, o que preciso,
Contigo atingirei meu apogeu.
Teus seios, tua boca, tua pele,
Vencendo os nossos medos e temores.
Podendo ver o céu em raras cores,
A ti, o meu desejo me compele;
Completas os meus sonhos, sabes disso,
Tu és este Eldorado que cobiço.
Fornalha que mantém acesa a chama.
Deixando estes pudores pra depois,
Saber das maravilhas de nós dois,
Vivendo sem limites nossa trama...
106
Suaves nuvens
a bailar pelo céu ....
Ahh, amor dedicado,
que é sempre lembrado ...
(ivi)
Havia um certo tempo em minha vida
Que o céu se emoldurava com estrelas,
Agora, que esperança está perdida,
Mal posso na verdade compreendê-las.
A vida se esvaindo entre meus dedos,
Bailando no meu céu nuvens sombrias,
Incrível superar antigos medos,
Sabendo serem parcos os meus dias.
Vencido pelo fogo da batalha,
Tecendo com meus versos a mortalha
Que um dia servirá de vestimenta.
A sorte está lançada, eis o meu fim,
Flores estão murchando em meu jardim,
Minha alma algum sorriso ainda tenta...
107
Recomeçar quem me dera
Retornar aos tempos de outrora
Decerto mudaria nossa estória
Bufaria pra galera
Pra te fazer contente
Ser tua matusquela
Demasiada estridente
Pros diabos ser donzela
Declarar tudo que sinto
Falar pelos cotovelos
Pra te ver sempre sorrindo
Te virar pelo avesso
Estória sem medo
Teria um belo desfecho
FADA
Errantes mil cometas vagam loucos
Percorrem todo o corpo de quem amo
Momentos tão felizes são bem poucos
Viagens multicores; quero e tramo.
Ser teu e prosseguir nesta balada,
Nas danças e nos ritos mais sutis,
Adentro noite afora, madrugada
E grito ao mundo inteiro: sou feliz.
As roupas esquecidas pelo chão,
Os corpos se misturam, e se fundem
Na força de um divino furacão
As pernas se entrelaçam, se confundem...
E assim, dois viajantes sem juízo
Conhecem bem de perto o Paraíso...
108
E na Poesia
eu me embriago
de Amor por ti ...
(ivi)
Sorvendo de teus lábios este absinto
Que tanto me inebria quanto cura,
Falar do amor intenso que ora sinto,
Depois de tantos anos de procura
Sangrando esta emoção interminável
Singrando este oceano de desejos
Sagrando nosso amor incomparável
Momentos de prazer, fartos, sobejos.
Naufrágios entre braços e acalantos,
Vivendo sem pudor os teus encantos
Cantando o coração, um passarinho
Decifras meus anseios e vontades.
E quando o pensamento, logo invades
Semeias esperança em meu caminho...
109
Perdi os sentidos
neste beijo
apaixonado ...
(ivi)
Um beijo, tão somente e nada mais,
Alvissareira noite que se arrasta,
Depois de conhecer o porto, o cais,
A vida por si só, ora me basta.
Cerzir com fios de ouro o meu destino
Ardentes emoções decifro e bebo
O que pensara sonho de menino,
Futuro mavioso assim concebo.
Querer cada momento e sempre e tanto
Seguir os teus caminhos, ser teu Par
Tomado pela força deste encanto
Eu pude finalmente me encontrar
E sei que nada mais pode impedir
O amor que este teu beijo fez surgir...
110
Nada tem valor
nesta vida
se não tivermos
o Amor
no coração...
(ivi)
Se o amor é mola mestra desta vida,
O velho timoneiro nas tempestas,
Das emoções diversas que tu gestas
A que propulsiona tua lida,
A estrada entre espinheiros é cumprida
Raríssimos sorrisos, guizos, festas.
As curvas tão freqüentes e funestas,
Batalha costumeira a ser vencida...
São tantas decepções, tantos senões,
Mas saiba, vale a pena este caminho.
Envolta pelas trevas, nos porões
Algum fio de luz vencendo a noite
Chegará de surpresa, de mansinho
Curando as vergastadas deste açoite.
111
Sorrindo mesmo quando a dor chegar,
Liberto coração não teme nada.
Sequer a tempestade em pleno mar,
Aguarda a calmaria na chegada.
A primavera, um dia há de voltar,
Jamais acreditar na derrocada,
Possível, certamente navegar
Após a noite escura, uma alvorada...
Os riscos costumeiros da viagem,
No peito semeando tal coragem
Voragens e procelas? Não temer...
Assim, feito esperança interminável,
O mundo será sempre mais saudável,
Com força pra lutar e pra viver...
112
Guardo uma canção na alma
decantando o tempo,
carregando as pedras da vida
construídas na saudade
que você deixou...
Em meu corpo
fragmentos brotam
entre um vale e outro,
deixando marcas
de um passado
respingado de vida,
soprando os sonhos
de um amor que surgia
na veia da ternura,
inebriado de encanto...
Quantos planos...
Quantas promessas...
Tuas asas pareciam
réstias de sol,
tuas páginas de vida
eram o livro onde
escreveríamos o nosso amor...
Minha fome de poesia
seria a ceia do pão
e o linho dos lençóis...
As palavras tingiram
o céu, e sobre a folha
de teu corpo meus desejos
jorraram versos de amor...
O belo assustou o que
não foi dito e tudo se
deteriorou nas reticências...
Chove agora lá fora e a água se
mistura ao meu pranto,
ao gozo final de um
amor em seu último suspiro...
Por que essa saudade de você
não vai embora?
Por que teima em fazer
morada em meu coração?
Meus versos vagam pela noite,
caíram palavras pelo caminho
e voo sozinha o espaço que
me resta...
Perdi o rumo
do teu coração...
E não suporto tanta saudade!
Dedete
Saudades das belezas das Gerais,
O Rio Carangola, a queda d’água
Crianças entre velhos mangueirais,
Meu sonho em Muriaé logo deságua.
E volto num momento a ser criança
Sonhando com teus sonhos; ilusão...
Se Minas inda mora na lembrança
Ficou pelo caminho o coração...
O tempo traz as mesmas armadilhas,
A vida determina outras paragens
O Rio vai lambendo as suas ilhas
Prepara outra emoção, novas viagens...
Mas sempre restará felicidade
Em forma de lembrança, de saudade..
113
Quando esperei saudade encontrei riso.
Quando procurei vida, achei distância...
Quando quis a vontade, eis inconstância!
Nas vezes em que louco; fui preciso...
Quando só busquei guerra, paraíso...
Se quis maturidade, tive infância.
Nesse mar que sonhei, só sei estância...
Quanto mais me escondia; mais aviso.
A saudade brincando foi criança,
Na mortalha infinita do teu canto.
Quem sempre procurava, não avança.
Nos meus sonhos serranos, precipícios;
No que quis ser vadio, resta o pranto;
De teu amor nada resta, nem resquícios!
114
Juventude perdida como dói,
Maltrata cada dia sem ter pena,
A distância cruel de longe acena
E a memória sedenta, se corrói...
Fui feliz não sabia e se destrói
O sentimento. Busco a velha cena
Procuro te encontrar, mas a safena
Implantada no peito, como sói
Acontecer, remete ao velho enfarte,
Medo sutil da morte me apavora...
Tentando ser feliz viro descarte
Mas quem me espera cínico catarro,
Que por mais que eu fugisse disso agora;
A velhice emergente tira um sarro...
115
Meu Senhor Me perdoe se não posso
Ter minhas mãos tão limpas quanto quero.
Perdi meu tempo. Busco amor sincero;
Muitas vezes, percebo, quase roço,
Outras tantas procuro pelo Vosso
Amor, mas não prossigo. Sei tão fero
Quem me propôs viver, quem dera vero
Sentimento que nunca mais endosso...
Nos meus caminhos, tortos e sem nexo,
Busco as mudas gentis dos sentimentos.
Tantas noites, amor dizia sexo...
Agora mais cansado, nada busco.
Eu nem sei de torturas, nem lamentos...
Só sei que na luz, teimo ser tão fusco...
116
Pernoita o olhar no silêncio da tua falta
É pálida a madrugada no meu espelho
Busco ainda estrelas no olhar, tosco desespero.
A névoa dos cinzentos desencantos é densa
O vazio renitente da solidão embaça a visão numa espera
Imprime imperativo o desejo... Sem trégua.
Vislumbro na noite a porta entreaberta do sonho
Nela... Meus olhos ainda te encontram.
Karinna
Ouvindo um velho blues, a noite escorre
Saudades de quem foi e não voltou,
Eu bebo mais um copo, e um novo porre
A foto na parede é o que restou...
O quarto esfumaçado denuncia
O câncer se aproxima lentamente,
A história se repete a cada dia
O sonho, ledo sonho volta e mente...
Quem sabe noutra vida, noutro espaço
O mundo já me basta, e no cansaço
Eu faço outro soneto, outra mentira.
E a Terra sem sentir nenhuma pena,
Reflete em meu espelho a velha cena,
E indiferente a tudo, segue e gira...
117
Vem aqui,
que eu
pertenço a ti,
somente a ti...
(ivi)
“Eu não existo sem você”, querida
A vida não teria algum sentido
Estrada sem destino, vã, perdida,
O velho coração já consumido
Pelos erros na ausência da esperança
Bebendo a tempestade de um vazio
Enquanto a morte chega, a noite avança
A vida tão somente por um fio...
Sem ter a sua boca junto à minha
Sem ter os risos seus, sua alegria
O frio de um inverno se avizinha
E morre sem sentido, a poesia.
Querendo o seu querer, ser de você
É tudo o que minha alma, tola, crê...
118
Ainda restam
na minha lembrança
tuas palavras,
a Poesia,
onde floresceu
nosso Amor...
(ivi)
A liberdade mora em plena dor
E nela se refaz a cada verso,
Viver cada momento este universo
Marcado por espinhos, bela flor.
A história se repete, e como for,
Eu sigo mesmo ausente até disperso,
Nos braços de quem amo, vou imerso,
Vibrando as velhas cordas de um amor.
Não posso mais calar, nem mesmo quero,
Mesmo no sofrimento, ser sincero
Bailando sobre os restos da esperança;
Mergulho no vazio de teus olhos,
Estrelas, as recolho e dos abrolhos
Semeio o meu jardim feito criança...
119
E me banho
nestas fontes
de águas cristalinas
relembrando nossas
carícias, nossa paixão,
nosso Amor...
(ivi)
Mergulho nestas águas cristalinas
Banhando-me dos sonhos mais felizes
Estrelas vão vagando, meretrizes
Mil luas observando tão ladinas...
A ninfa se desnuda e me irradia
Matizes tão diversos e brilhantes
Cometas sem destino, galopantes
Transformam negra noite em claro dia.
Satélite de ti, entorpecido,
Hipnotizado, calo-me e navego
A um mundo até então desconhecido,
E a toda esta beleza; enfim me entrego
Perdendo o que me resta de juízo,
Tocando com as mãos, o Paraíso...
120
O amor traz as surpresas mais felizes,
Dos beijos aos carinhos sem pudores,
Estrelas derramadas, multicores,
Dos sonhos, dois eternos aprendizes.
Do encanto que me falas que me dizes,
Eu bebo a fantasia dos licores
E vivo intensamente tais amores
Sem medo dos engodos e deslizes....
Procuro desvendar cada segredo,
Mergulho sem defesas, vou sem medo
E teimo em te querer aqui do lado,
Amar é conceber céus tão diversos,
E canto com prazer nestes meus versos
De um jeito mais gostoso, mais safado...
121
Aguardo esta resposta que não vem
E espero simplesmente, nada mais.
O quanto que desejo diz ninguém
No fundo não seria assim demais.
O quase se prepara para aquém
Os dias se repetem, sempre iguais,
O que não deveria segue além,
Os risos não seriam tão boçais...
Mascaro o sofrimento com sorrisos,
Irônicos os versos, meus poemas,
Repetem na verdade velhos temas,
Os passos são deveras imprecisos.
Agora que se fez outra manhã
A vida se mostrou de novo, vã.
122
Tu tens tanta magia em teus quadris
Que assim tu me conquistas num segundo,
Contigo, com certeza sou feliz,
De cores e de luzes, eu me inundo...
Outrora sem destino, vagabundo,
Desde que te encontrei, eu peço bis,
Nas tramas do desejo me aprofundo,
E tudo o que fazemos não desdiz
A força inesgotável da paixão
Que doma sem vacilo, o coração
Fomenta a fantasia de quem ama.
Os deuses estão vendo quanto amor
Invade nossa cama sem temor,
Mantendo eternamente a viva chama..
123
A resposta pode ser qu'inda demore,
porque não decidi qual vou te dar.
Espera, por favor, ah, vai, não chore,
contempla a luz clara do luar.
Sorri enquanto escreves teu poema,
que fala de um amor mal resolvido.
Embora repetindo o mesmo tema,
o verso é sempre bem construído.
A vida se renova a cada instante,
quem sabe amanhã sou tua amante.
HLUNA
Tu sabes muito bem que isto é meu sonho,
Estar bem junto a ti, ser teu amante.
Por isso, a cada verso eu te proponho
Um novo amanhecer mais deslumbrante.
Cansado de ficar só e tristonho,
Encontro finalmente este diamante,
Que faz o mundo ser bem mais risonho,
Teu corpo sensual e provocante...
A lua nos bendiga e santifique
O amor que nos foi dado por um Deus
Que ouvindo estes lamentos, todos meus
Implora que esta deusa agora fique
E seja a companheira de meus dias,
Sorvendo cada raio que irradias...
124
Olá Marcos Loures,
é uma honra um halo de luz
que se evidencia de mil cores
teres aceitado a amizade que seduz
tratas dos corpos pela ciência
da alma utilizas versos poesia
trazes da amizade a consciência
que nos alimentamos de maresia
que frutifique aqui a tua humanidade
homens e mulheres luso descendentes
é na raiz donde emana a nossa sanidade
que o mundo gira em nós tão evidentes
João Raimundo
Amigo eu te agradeço esta fineza
Composta em belos versos e garanto
Que embevecido estou pela beleza
Inigualável, rara do teu canto.
A vida nos prepara tal surpresa
Usando a poesia como manto,
E quando vejo em ti tal gentileza,
Mantenho mais distante a dor e o pranto.
Sou Loures e isso herdei de Portugal,
Nas veias corre o sangue tropical
Porém minha alma está nas lusas praias
Das lágrimas que salgam vasto mar
Também eu pude outrora derramar
Até chegar um dia, em terras maias...
125
Que este amor enviado pelos deuses,
Supere todos as amarguras
E ao passar dos meses,
O amor, esteja nas alturas.
Orquídea azul
Amar além de todas as fronteiras
Eternidade feita em mil carinhos,
As horas do teu lado, derradeiras,
Bebendo em nossas bocas raros vinhos...
Vontades tão frequentes, costumeiras
Fazendo dos espaços nossos ninhos,
Hasteio em nossos Céus verdes bandeiras
São feitos de esperança estes caminhos...
Sem medo de sofrer, sem amargura,
O mesmo sentimento que nos cura
Num único momento me inebria.
Escuto da janela a voz do vento
E envolto no calor do sentimento,
Encontro nos teus passos, poesia...
126
E vivo,
assim,
eternamente,
pra te Amar...
(ivi)
Vivendo por amar quem não me quer
Sonhando com abraços impossíveis,
Dois corpos num só ser, indivisíveis
Poder te conceber minha mulher.
Sentir tua presença, ser teu par
Vencer os desafios desta vida,
E a história de nós dois; assim cumprida,
Sem nada que me impeça de sonhar...
Porém a manhã chega e este vazio,
Invés de teu calor, somente o frio
E este desejo insano de morrer...
Pudesse ser feliz por um momento,
Quem sabe assim, talvez o sofrimento
Fingisse pelo menos me esquecer...
127
Fazer deste lugar o Paraíso,
Estarmos abraçados, praia e lua,
A deusa dos meus sonhos, bela e nua
Deixando um velho tolo sem juízo...
Teu corpo delicado e mais preciso,
A festa dos anseios continua
Dionísio em seu festejo assim atua
E louco de vontades, teimo e biso...
De todos os lugares, o melhor,
De todos os encantos, o mais forte,
Sem nada que me impeça, sei de cor
O que fazer na noite do meu bem,
Enquanto a fantasia mansa vem,
Bendigo a toda instante a minha sorte!
128
Meu querido, não tenho ciúmes, tu podes ter mil amores.
Só não se esqueça dos meus belos minutos contigo no além.
Dos teus mergulhos em êxtase dentro das minhas flores.
E do meu contentamento por possuir o amor de alguém.
Vejo-te desnudando e este teu olhar que consegues ler,
Desvendando com teu corpo, o meu jeito abocanhador.
E todas as palavras que somente meu corpo sabe dizer.
Fusão de desejos, onde tu entendes o sangrar do amor.
Só preciso que me traga energia e renove toda minha emoção
Vem paixão da minha vida, bombeie amor para o meu coração.
Eu te quero e é tão puro este amor, que te peço até em oração.
Lembres sempre do meu afeto, não me deixe esquecida.
A tua chegada faz-me tão feliz, divinamente enriquecida.
É um renascimento para matar esta saudade tão dolorida.
Grácia Kátia
O amor quando demais gera sangrias
Incontroláveis sonhos, gozos fartos,
Misturando tristezas e alegrias
Abortos de emoções, divinos partos...
Desejos se confundem e se tocam,
Prenúncios de delírios e torturas
E quando os sentimentos já se trocam
Os méis geram prazeres e amarguras...
Amar além de tudo é ser divino,
Eternizando a força de um menino
Que um dia quis voar e não sabia...
Não tema, pois o amor, se ele te encharca,
Enfrentando o oceano em frágil barca,
Sem poder controlar a hemorragia...
129
- POR VOCÊ
Preparo as arapucas, armadilhas
São tantas artimanhas em que me meto,
As dores vão ladrando, são matilhas
E os erros, sempre os mesmos que cometo.
E quando no vazio eu me arremeto,
Distante da alegria tantas milhas
Escondo o sentimento em algum gueto,
Contrária direção por onde trilhas...
Vieste, mas não viste os olhos meus,
Apenas escutaste cada adeus,
Não tiveste o trabalho de buscar
Sequer a minha sombra pelas ruas.
E olhando para além tu continuas
Só resta-me esconder sob o luar...
130
E quando o cair da tarde se vislumbrar,
Um novo anoitecer se fará,
E a lua com seus encantos,
Vai meu amor me mostrar,
Para nos meus olhos, o brilho voltar...
ORQUÍDEA AZUL
A lua refletindo em tua pele
Prateia este sorriso divinal,
E a louca fantasia me compele
Ternura num delírio sensual...
O corpo desta sílfide perfeita
Deleite para os olhos de quem ama,
E enquanto a lua ao longe enfim se deita
O sol que me irradias vem e chama
Deitando junto a ti, praia deserta,
O vento sussurrando mil promessas
A natureza aos poucos já desperta
Sedenta, mil carícias recomeças...
Quem dera fosse assim, sonho divino,
E ausente de teus braços, me alucino...
131
Bicho preguiça quero só teu colo,
Deitado no remanso, curva do rio...
Conhecer teu amor, de pólo a pólo...
Deixar meu coração bater vadio...
Quando estirada estás, no mesmo solo,
Vagabundo procuro, quero o fio
Que me possa prender, dentes amolo
Pronto para morder, quero teu cio...
A pantera cruel, de firmes garras,
Cravando no meu peito, as suas presas.
Nas suas serenatas, as guitarras
Deliciosamente dissonantes,
Refletem teu gemido. Vão acesas
As luzes que refletes ofuscantes...
132
Tua beleza, crime sem castigo,
Me fascina qual fora meu pecado;
Quero viver somente do teu lado
Um mundo mais tranqüilo, em paz e amigo
Distante deste sonho, enfim prossigo
Cada momento a mais, desesperado,
Esperando poder ter encontrado,
Em plena tempestade, o meu abrigo.
Na tua fuga, busco por meus olhos;
Em vão, pois os carregas, tento ver
Mas nada enxergarei. Qual andarilho
Vagando entre desertos, nos abrolhos
Que a vida semeou, vou sem prazer
Perdido, sem destino, senda ou trilho...
133
A rua está suave o vento finge
O tempo está sombrio sem o sol
Apenas no disfarce do arrebol
Para acalmar a noite como esfinge
Com rosto de mulher corpo gigante
Deitada no umbral dos sonhadores
Velando na calada o modo amante
Das horas que mitigam os amores
Carente da palavra que revela
A alma já cansada pede abrigo
O sonho desprovido a ti se anela
Decanta mente e sonho desprovidos
Das noites em calmaria eu pré/sigo
Dos sonhos resguardados e perdidos
sogueira
Perseguindo as pegadas que tu deixas
Enquanto caminhaste pelas ruas,
O velho sentimento mata as queixas
E deusa dos meus sonhos, tu flutuas.
Enredo-me em teus braços, liberdade,
No afã de ser feliz, bem que podia
Trazer para o mundo a claridade
Que maravilhas fartas, irradia
O canto que me enleva e me consola,
O risco que corremos, sem temores,
E o pensamento voa, assim decola,
Semeia pelo espaço, luzes, flores.
E tu que és primavera; doura o sol,
E entornas teus encantos no arrebol...
134
Fazendo da esperança a minha luta,
Usando de metáforas diversas,
As noites solitárias, vãs, dispersas,
Fugindo desta ausência, audaz e bruta.
Nem mesmo a voz do vento, a noite escuta,
E enquanto noutros cantos sonhas, versas
As velhas fantasias vão imersas
Ao renascer o dia, nova labuta.
Credenciando a gente para a morte,
A vida, companheira e má consorte,
Armando as arapucas e tocaias.
Alheio a teus encantos, durmo só,
Refaço-me do medo, e volto ao pó
Morrendo em novas ondas, outras praias...
135
Lembrando das canções do meu passado,
Ouvindo a tua voz suave e mansa,
Saudade, sem perguntas já me alcança
E sinto-te presente lado a lado,
O velho pensamento, solto, alado,
Resiste a qualquer forma de mudança.
Por mais que tão comprida, a minha andança
De ti, o meu viver segue habitado.
Resisto a qualquer nova fantasia,
São tolas ilusões e nada mais...
O barco que se atraca em firme cais
Acostumou-se à velha calmaria
E resta calmamente neste porto,
Futuro? Há tanto tempo, inútil, morto...
136
Perfil
Livro de Visitas
Contato
Textos
:: Todos > Sonetos
- AONDE ANDA VOCÊ?
Trazendo nos meus olhos tal imagem,
O rosto do passado ainda brilha,
O que julgara outrora maravilha,
Agora se apresenta qual miragem.
A vida pra quem sonha? Uma bobagem,
Minha alma sem destino, uma andarilha,
A cada nova esquina, outra armadilha,
Fazendo do vazio, um deus e pajem...
Aragens tão diversas das que quis,
Outrora inda podia ser feliz,
Agora vago tolo pelas ruas...
Esqueço do que fomos nada além
De uma estação vazia, perco o trem
E noutras nuvens, nua, tu flutuas....
137
Perceba quanto é bom poder sonhar,
Vagar pelas estrelas, no infinito,
Lançando bem distante um forte grito,
Aprendo num segundo a navegar...
Montanhas no horizonte, no além mar,
O quanto desejei, foi tão bonito,
Porém o meu futuro estava escrito
Nas curvas que aprendi a contornar...
Chegando de mansinho, a morte ri,
Aos poucos a percebo bem aqui,
Beijando a minha boca mansamente...
Quem dera se Inda houvesse alguma chance,
A esperança fugiu de meu alcance,
A vida vai rompendo esta corrente...
138
Angústia e podridão, vermes rodeiam
O corpo decomposto, exposto e vão
As nuvens se aproximam e campeiam
As rapineiras aves vêem ao chão
Farejam desde já minha carcaça,
O fim se aproximando inexorável,
Quem fora caçadora, agora é caça.
O mar jamais seria navegável...
E, incrível que pareça me apascento.
Depois da tempestade, uma bonança.
Distante de cumprir qualquer intento,
O frio interminável já me alcança.
E a boca, desdentada, vã, canalha,
Em meio a tal cenário ri, gargalha...
139
Mal pude disfarçar meu desencanto
Ao ver tua chegada, após a chuva
O amor que antes julgara com encanto,
Não cabe mais nos sonhos, frágil luva.
E quando tu partiste até pensei
Que nada mais teria em minha vida,
O sofrimento vivo, norma e lei,
Toda esperança ausente, já perdida.
Porém esta carcaça que hoje resta
Apenas arremedo, garatuja
Somente a realidade assim atesta
Que a carne é sempre fátua, podre e suja...
Foi bom ter te encontrado; espelho amigo,
Envelhecendo enfim, morro contigo...
140
Tua presença bela e sedutora
Convites sensuais, doce loucura,
A provocante sílfide decora
A cama com cetins e seda pura,
Os lábios da tigresa, suas garras,
O fogo nos seus olhos, a magia,
E enquanto com as pernas tu me agarras,
A noite se promete mais vadia...
Um cálice de vinho, um bom licor,
Suave transparência, seminua,
Nas hordas divinais, o raro amor,
Deitados sob a luz da deusa lua
Que embevecida, beija e te prateia,
Derrama sobre nós a clara teia...
032
Por amor
entreguei-me a teus desejos
alcancei caprichos
cobri de beijos
o mais ardente amor
dei asas à imaginação
seduzi os teus apelos
sem moderação...
Por amor
cheguei faminta a
teus abraços
invadi teus pensamentos, espaços
abri as portas de teu coração
embriaguei-me na clausura
de ser perfeita candura
amai-te com sede de mulher...
Por amor
ofertei-te o paraíso
perdi o meu juízo
mudei a rota do destino, este pobre sonhador
perfumei a pele de teu corpo
guerreei na paz de tuas mãos
e na overdose de tua boca
saboreei a mais perfeita emoção...
Dedete
Ao encontrar-te o amor se fez inteiro,
Sem medos e pudores, sem rancor.
E envolto nos teus braços, com ardor,
Eu mergulhei num mar mais verdadeiro,
Sentindo a tua pele, gosto e cheiro,
Ardendo no teu fogo, em teu calor,
Sorvendo de teu gozo, este sabor
Nas ânsias deste encanto, este braseiro...
Na mágica presença sem igual,
A noite se fazendo magistral,
Um sensual caminho a percorrer.
Poder te amar sem ter limite ou fim,
Cevando com mil flores o jardim
033
Castelos construídos de um desdém,
Vazia madrugada, noite fria.
Vagando solitário, sem ninguém,
Minha alma vai morrendo, assim, vazia.
Quem teve nesta vida um doce bem,
E um dia se banhou em alegria,
Percebe como é triste ser alguém
Que morre, pouco a pouco, todo dia...
Perguntas: - Por que choras meu amigo?
As horas vão passando cruelmente,
Somente no meu peito, uma tristeza
E um sonho em que buscando um novo abrigo
Perdido em solidão, vou tolamente
Beber da seca fonte da incerteza...
034
Percebo em teu sorriso a falsidade
Que tanta vez encanta, mas destrói,
O amor quando demais, tudo corrói,
Permita-se viver à saciedade...
Não pude conviver com claridade,
O brilho nos meus olhos cega e dói,
Se os castelos na areia amor constrói,
O que me bastaria: lealdade...
Mas nada do que tive ainda resta,
A noite solitária e vã, funesta
Retrata o que sobrou de tantos anos...
A marca da pantera em minha pele,
Ao velho precipício, a luz compele,
Matando totalmente sonhos, planos...
035
Passos sujos de sangue nas calçadas,
Olhares tão vazios, vida à toa,
Ouvindo estes clarins nas alvoradas
O pensamento ao longe ainda ecoa...
E as mãos sem esperança decepadas,
O naufragar sem bóia da canoa,
Antigas esperanças derramadas.
A vida que eu julgara, outrora, boa
Mergulho numa insana correnteza,
Não tive e não terei força e destreza
Apenas caminhando contra o vento.
Sentindo o fogo ardendo nos caminhos,
Os dias que terei sempre sozinhos,
Matando pouco a pouco o sentimento...
036
E a noite
se alonga
até
eu te encontrar...
(ivi)
As horas vão passando lentamente,
Ponteiros do relógio torturando,
Há tempos que eu estou te procurando
Virás ao fim da noite, finalmente...
O tempo me contempla cruelmente
Pergunto desde sempre, como e quando
O dia nascerá suave e brando.
Porém a realidade chega e mente
Outra noite vazia, sem ninguém,
Apenas este frio que ora vem
Dizer que é tudo inútil, tudo vão...
Porque não poderia ser feliz?
Minha alma como velha meretriz
Ilude novamente o coração.
037
Se às vezes eu me iludo é por querer
Pensar na solução que nunca veio,
E tanto te desejo, quanto anseio
Em meio a desafios, percorrer
Os mares do sonhar e do prazer,
Olhando para a vida sem receio,
Desabaladamente, perco o freio,
Nem mesmo a realidade irá conter...
Mas quando tudo acaba e nada tenho,
Fechando novamente o amargo cenho,
Percebo quão inútil, fútil vida...
E ouvindo novamente a consciência
Eu perco finalmente a paciência
E dou minha batalha por perdida...
038
Um velho dinossauro em extinção
Que luta pelo arcaico classicismo,
A poesia é feita do cinismo,
Sem rumo, sem destino e direção.
O verso que hoje faço, sei que é vão,
Eu vejo o precipício e em tal abismo,
Vagando tolamente ainda cismo,
O soneto morreu de inanição...
Acaso poderia ainda crer
Nos velhos mandamentos, leis e normas,
Se tudo o que tu lês, logo deformas
Fazendo a poesia ao bel prazer.
Perdoe este animal agora extinto,
Esta realidade é o que ora sinto...
039
- NEGO
Fecho meus olhos,
vagarosamente...
Te vejo,
chegando a mim...
(ivi)
Apenas a fumaça do cigarro
Envolvendo os meus olhos sonhadores,
E quando da ilusão eu me desgarro
Procuro pela luz de outros albores.
As marcas do que fomos logo varro,
E teimo em meu jardim sonhar com flores,
A velha sutileza de um escarro
O tempo ressuscita antigas dores.
Quase que consegui fugir, mas morro,
A solidão em forma de socorro
Alia-se aos fantasmas que carrego.
Da vida, a melhor parte foi contigo,
Encontro nos escombros meu abrigo,
E teimando em viver, inda te nego...
040
Eram teus rios/
Em corredeiras das mãos/
Corpo e alma, conjunção./
Eram afluentes/
Em esverdeados olhares/
Minérios gravitavam espetaculares./
Eram teus líquidos/
Entre tua rigidez/
E a minha maciez./
Toques de eterno fluíam/
E incontidos liquefeitos/
Os versos na derme/
Represados em reversos/
Transmutaram-se dolentes/
Invadiram-me contentes./
Instante mutante, sinto-te aqui/
Como um mar jade passional/
Espumas de nós, carícias de sal. /
Karinna*/
Entranham-me teus mares azulados,
Salgando cada parte de minha alma,
Os sonhos tantas vezes mareados,
O vento toca a praia e já me acalma...
Mutantes sensações, frio e calor,
Dourando a minha pele o sol imenso,
Irradiando sobre nós, profano amor
Gigante como mar, profundo, imenso.
Tocado pela espuma, mansa areia,
Desnuda-se divina criatura,
A voz inebriante da sereia,
Imagem de delírios, de loucura...
Tomado por total sensualidade,
Do amor bebo a fatal felicidade...
041
Nosso Amor
sempre foi assim,
tu distante de mim
eu te amando
e me enganando,
cada vez mais...
(ivi)
Amar mesmo à distância, tramas tantas
Desígnios, descaminhos, vários mares
Ao mesmo quando tocas cedo encantas,
Espalhas por meus céus teus constelares.
Sidéreas maravilhas, me agigantas
Tornando os meus prazeres teus altares,
Avanças pela noite, nobres mantas
Perfeitas fantasias, mesas, bares...
E inebriadamente assim me entrego,
Por belos oceanos que navego,
Algozes esperanças são as guias
Que trago no meu peito escancarado,
E o quanto estou por ti, apaixonado,
Traduzem as mais simples poesias...
042
Que da palavra semeia amizade
Deixando em cada frase emoção
Rubrica como selo em qualidade
Sonetos que ponteia o coração
Os dias vão passando a vida encurta
Sem medo vou descendo na ladeira
As horas não trafegam com pergunta
Seguindo vão cortando a ribanceira
Até onde a caneta encontra espaço
A tinta desenhar notas em punho
Vou junto a ti criando passo a passo
Mesmo que o dia me traga empecilho
Na noite venha o sono em redemoinho
Há sempre um pedacinho pro teu mundo
sogueira
Tu tens este poder que me fascina,
Retiras empecilhos do caminho,
No olhar tão delicado da menina,
Poderes sem igual; neles me aninho
E busco interminável e rara mina,
Distante de teus olhos me definho,
A vida por si só já determina,
Aonde encontrarei repouso e ninho...
No quanto sou feliz em poder crer
Na doce fantasia de viver
Ao lado deste alguém que eu amo tanto...
Vencer as intempéries, ser mais forte,
Usando o sentimento como norte
Calando desde sempre a dor e o pranto...
043
Ouvir a ventania na janela
Estrondos, vários raios, fogo intenso.
O inferno num momento se revela,
E o dia assim transcorre, segue tenso.
O quarto transformado numa cela,
Na fuga, ansiosamente, teimo e penso,
Nas cores tão sombrias desta tela,
O abismo, precipício, enorme, imenso...
Assim, na tempestade de meus dias,
Distante de teus braços, sigo só,
Terríveis temporais e as agonias
Reduzem a esperança à simples pó.
Ouvindo da janela, a ventania,
Cenário que este amor nos propicia...
044
Às vezes sei que peco por excesso,
Ultrapasso as medidas, vou ao fundo.
E quando sei que errei, eu recomeço,
Girando o tempo inteiro, o velho mundo.
Aos poucos, vou fazendo algum progresso,
No quase o coração, é vagabundo.
Pois aprender é sempre um bom progresso,
E quando me interessa, eu me aprofundo,
Mas chega de conversa e venha aqui
Que todos os hormônios vão à tona,
Lembrar de cada beijo que te dei
É como renascer. Voltar a ti,
Tristeza, velha amiga me abandona,
E volto, num segundo a ser um rei...
045
O teu cadáver beijo com brandura,
Afasto então as moscas carpideiras,
As honras usuais e costumeiras,
A campa que te espera é fria e dura.
Depois de tantos anos de procura,
Das esperanças fiz tolas bandeiras,
As horas escorregam, vão ligeiras,
O amor? Não posso crer que exista cura.
Abraço mansamente o corpo inerte,
Bem antes que a verdade me desperte
Eu sonho com momentos que não tive.
Daqui a poucos dias, nada resta
Senão a podridão crua e funesta,
A morta, mesmo assim ainda vive...
046
Teimando em ser feliz, não poderia
Seguir outro caminho que não esse,
Sem ter dentro de mim, a alegoria
Que ao tempo queima e já floresce.
Receba cada flor, olvide o espinho,
Se nada do que temos valerá,
O quanto é necessário, de mansinho
Viver eternidade desde já.
Legado que carrego junto a mim,
Um tesouro forjado pela dor,
Haveria, talvez outro jardim
Porém monotonia furta a cor,
E gera este vazio inalcançável,
No temerário sonho, indecifrável...
047
Poder morrer de amor e renascer
Nos braços de quem foi e não voltou,
Na doce sensação deste poder,
O quanto de coragem me restou.
Afasto-me deveras do meu ser,
Já nem pergunto mais sequer quem sou,
Apenas noutra vida quero crer,
Florindo o que deveras não granou.
Vieste num momento sem igual,
Tomando a minha Vida plenamente,
Assolaste o meu peito, vendaval,
Porém logo partiste, sem demora.
Se eu vivo, é por que sinto, de repente,
Que a morte chegará a qualquer hora...
048
Ver no retrovisor a tua imagem,
Distante, porém forte e dominante,
Tentando prosseguir minha viagem,
Perdendo a direção a cada instante.
Disperso, penso ser uma miragem,
Que segue este cansado viajante,
Abrir minha janela, nova aragem,
Porém esta atmosfera é sufocante...
Escravizado, teimo na esperança
De poder romper logo tais correntes,
E quando esta visão chega e me alcança
Eu teimo em disfarçar, mas não consigo,
Os olhos seguem vagos quais dementes,
E a dura caminhada, enfim. Prossigo...
049
Jamais eu poderia imaginar
Tua nudez exposta em minha cama,
Há tempos que tentava te encontrar;
Mantendo sempre acesa a frágil chama...
Alvoroçado, passo a te buscar
Após interminável, longo drama,
Teu corpo sob os raios do luar,
A sede de te ter domina e chama
Imagem desbotada do passado,
Resíduos entre escombros do que fui,
Um verso no universo vaga e flui
O dia amanhecendo iluminado.
Um sonho e nada mais, simples migalha,
Que a voz da lucidez cedo atrapalha...
050
Ahh, que bom
que chegas,
assim me deixo
cair nos teus braços...
(ivi)
Chegaste num momento imprescindível,
Num improvável raio constelar,
Tomando toda a casa devagar,
Teu passo manso, quase inaudível.
Fizeste-me pensar ser invencível
Pousaste em minha vida e neste lar
Que outrora fora amargo e vago bar
Criaste um muro alto, intransponível.
No afã de ser feliz, tantos engodos,
Os erros cometidos, foram todos,
E tudo não passou de um ledo engano.
No frio desta imensa solidão,
Ouvir a tua voz? Um sonho vão,
Amor algoz, carrasco, desumano...
051
Não... Não cairei em seus braços.
Saudades ainda fere meu leito,
Maltrata, arruinando os enlaços
Na dor que tomou o meu peito.
Foste o meu amor primoroso,
E também o mais belo girassol,
E por ti, meu sentir foi fogoso,
Gasturas sentidas no vôo, meu rouxinol.
E hoje, deparo contigo querido.
No banco daquela mesma praça,
Na sombra que guardei teu lugar.
Tristeza é o que tenho sentido,
A letra sem tu não se enlaça,
Quero contigo o amor comungar.
Estela Maris
Querer amar-te além do que é possível,
Sentindo a imensa força de um desejo.
Um mundo sensual e tão incrível
É tudo o que nas cartas eu prevejo.
Ouvir a tua voz, sentir teu cheiro,
O arfar de teu respiro junto ao meu,
O sonho que é de amores mensageiro
Há tanto que este olhar já percorreu
Vencidos os temores e os receios,
Ser teu e não querer mais nada.
Sentindo a maciez dos belos seios,
Raiando do teu lado, esta alvorada
Que é como o anunciar de um novo tempo.
Sem medo. sem rancor, sem contratempo...
052
Depois de tantas curvas no caminho,
Perguntas sem respostas, erros vários
Momentos de prazer são temerários
Uma ave necessita de algum ninho.
Depois de perceber quanto é sozinho
Quem se deixa enganar por adversários,
Por gozos sem sentido, temporários,
O amor sem compaixão e sem carinho.
Nas ruas mais sombrias, caminhei,
Fazendo do prazer a regra e a lei,
Engodos cometidos, todos meus.
Encontro a solução na frágil cruz,
E entrego a minha vida a ti, Jesus,
Obrigado Senhor, meu Pai, meu Deus...
053
“O Pão de cada dia nos dai hoje”
Herdeiros do Teu Céu maravilhoso,
Quem desta realidade, teme ou foge
Jamais conhecerá tal pleno gozo,
Permita-me que eu sirva só a Ti,
Que cada ato traduza o Grande Amor,
Pois plena liberdade eu conheci,
Nos braços deste Eterno Redentor
Aberto aos desvalidos, acolhendo
Aquele que sofrendo, aprende amar
Nos olhos deste irmão reconhecendo
O Pai que nos ensina a perdoar.
Recobra minha vida com ternura,
Minha alma, seja em Ti, liberta e pura.
054
Senhor, os meus pecados pesam tanto,
Eu peço-te perdão, e de joelhos,
Os olhos marejados e vermelhos,
Cobri-me plenamente com Teu manto.
Durante a caminhada, quantas urzes,
Mentiras, falsidades espalhei,
Negando e renegando a Tua lei,
Amaldiçoando enfim as minhas cruzes.
Cordeiro que vieste em salvação
Trazendo para tantos, redenção
Escute o meu lamento, por favor.
Derrame Tuas bênçãos sobre mim,
Florindo de esperança o meu jardim,
Cevando a imensidão do puro amor...
055
Tudo posso Senhor, em Ti, meu Pai,
Pois Tu me fortaleces nas batalhas,
Tu és o meu Pastor; nas minhas falhas
Meu mundo nos Teus braços, jamais cai.
Vencer as tentações que são humanas,
Contando com o apoio do Senhor,
Deixando-me entregar ao grande amor
Na força insuperável que me emanas.
São tantas as fraquezas do meu ser
A pobre criatura criando asas
Pensando ter nas mãos pleno poder,
Entregue aos desvarios do pecado,
Pois entre, então, meu Pai, nas nossas casas
Caminhe, por amor, sempre a meu lado...
056
A chuva desabando no telhado,
Alagamentos vários na cidade.
O tempo totalmente alucinado,
Tempestas muito além da realidade.
Raios, trovões gritando em alto brado,
O medo pouco a pouco, tudo invade,
O mundo que sonhei já destroçado.
Não há na cercania quem não brade
E em meio a tal loucura, perco o rumo,
Os erros e pecados, quando assumo,
Perplexa calmaria toma a cena.
E o Cristo, Pai supremo, Deus e irmão,
Na força inexorável do perdão,
Um claro amanhecer, ao longe acena...
057
Entrego-me Senhor à Tua glória,
A minha vida está nas Tuas mãos,
Contigo conheci plena vitória,
Pois vejo Tua face em meus irmãos...
Mudaste num segundo a minha história,
Hoje sou farto campo, com os grãos
Que Tu já derramaste sem vanglória,
Os dias que passei deveras vãos,
Pensando ser o dono dos meus passos,
Ocupando Senhor, tantos espaços
Com a certeza de ser quase invencível.
Agora que Te aceito dentro em mim,
Percebo finalmente porque vim;
E o Paraíso passa a ser possível...
058
Ao ver florir as árvores que um dia
Plantaste no pomar de nossa casa,
Eu percebi o quanto a fantasia
Pode chegar, mas sempre, sempre atrasa.
Das cores que sonhei primaveris,
Apenas os resíduos dos amores
Fingindo novamente ser feliz,
Cevando dentro em mim antigas dores.
Reflito mais um pouco e nada tendo,
Somente este jardim, sem vida e cor,
Segredos do passado; não desvendo,
Tampouco sei falar se existe amor.
Apenas o florir deste arvoredo
Demonstra que este amor morreu bem cedo...
059
Perambulando, um pária coração,
Sem ter sequer paragem nem abrigo.
Vivendo por viver, sem direção
Desconhecendo o amor de um bom amigo.
Rondando bar em bar, nos lupanares,
Prazeres sem limite, sem pudor;
Na cama das vadias, os altares,
Comprando o que julgara ser amor.
Um velho vagabundo, sem destino,
Gargalha-se entre copos, súcias, putas;
No copo de aguardente eu me alucino,
As mãos na jogatina são astutas.
Porém pelas quebradas da cidade,
Jamais eu conheci felicidade...
060
São tantos os pecados que confesso,
Após as virações, o barco segue,
No amor e no perdão, tento o progresso,
Porém meu coração já não consegue...
Carrego no meu peito, a antiga chaga
Herdada desde o Gênese: o desejo.
Que nem mesmo a verdade plena apaga,
Apenas vislumbrando algum lampejo
De luzes nesta treva em que caminho,
Fazendo do pecado a minha história.
O meu final, decerto, tão sozinho,
A morte então será, última glória;
As bênçãos do Senhor; eu as perdi,
Num mundo que sem paz, eu concebi...
061
Perdoe por saber fazer sonetos,
Eu disso me envergonho, esteja certo.
Queria simplesmente os poemetos,
O meu caminho então seria aberto.
Maldito classicismo me persegue,
A métrica escraviza sem pudores.
Por mais que a consciência tola negue,
Eu mato o meu jardim, estrago as flores.
Talvez algum momento ainda possa,
Fazer sem velhas grades, poesia.
Uma alma libertária se remoça,
Enquanto a minha morre: velharia.
Queria a liberdade nos meus versos,
Teria em minhas mãos mil universos...
062
Na paz do Meu Senhor. Felicidade
Na beleza do sol que me ilumina
Num pássaro a voar, a liberdade,
Galope de um corcel balança a crina
No encanto que nos traz uma saudade
No riso delicado da menina,
No amor que nos transmite a claridade,
No brilho do luar, força divina.
Eu agradeço a Ti cada momento,
A vida que me deste, e mesmo a dor,
Que ensina, pois somente o sofrimento
Liberta o coração do ser humano,
Erguendo a minha prece ao Redentor,
Ao Pai, ao Criador, Meu Soberano...
063
Mantendo o coração aberto à vida,
Não temo tempestades nem procelas,
Rompendo do desejo, grades, celas,
Vencendo os dissabores desta lida.
Certeza da missão sendo cumprida,
As luzes revigoram velhas telas,
Abrindo do meu barco, todas velas
Etapa por etapa a ser vencida.
Contando com a força do Senhor,
Sabendo perdoar quem me magoa,
De peixes abarroto esta canoa
Que é feita na pureza deste Amor,
Sem ter sequer limites ou medidas,
Curando com perdão, velhas feridas...
064
Teu corpo convidando para a festa
Orgásticas loucuras noite afora,
Que a chama dos desejos logo empresta
A quem além de tudo, te ama e adora.
Invado este caminho e em cada fresta
Úmida delícia me devora;
O gozo que profano, sempre atesta
O fogo que nos queima e cedo aflora
Tomando cada poro. Calafrios,
Momentos mais felizes e vadios,
Ternura à flor da pele, e na fornalha
Queimando feito um louco, insensatez,
Entregue à fantasia e cupidez,
Na cama, o fogaréu, toma e se espalha...
065
Por tanto que eu te quis e não sabia
Que o amor tem dessas coisas, falsos brilhos,
Mentiras dominando velhos trilhos,
Negando a claridade, morto o dia...
O quanto que vivi na fantasia,
Sonhando com palácios, risos, filhos,
Grilhões entre correntes, estribilhos,
Canções que me falavam da alegria...
Mas tudo se perdeu, e num segundo,
Desaba sem defesas, o meu mundo,
Segredos espalhados pelo vento.
Joguei tralhas, mobílias na janela,
Rompendo sem pensar, a antiga cela.
Liberto o coração, meu sentimento...
066
Dançando noite afora, riso e gozo,
Beijando a luz da lua que irradias.
Um sonho divinal, maravilhoso
Ao som das mais sublimes melodias.
O tempo de viver é caprichoso
Se pleno de loucuras e alegrias,
Amor, louco prazer delicioso,
É tudo o que em verdade tu querias,
Porém logo partiste num cometa,
Vagando no infinito, no universo,
Deixando tão somente um triste verso,
Satélite procura por planeta,
Estrela que se foi pra não voltar,
Escurecendo o céu, cadê luar?
067
Pudesse ser poeta e te faria um canto
Aonde eu poderia expressar meu amor.
Ávido de ti, tomado pelo encanto
Ouvindo a tua voz, espécie de louvor
Eterna primavera, a luz que quero tanto
Sem medo de viver, entregue a teu calor,
Na força deste abraço, amada eu me agiganto
Enfrento a tempestade, apascentando a dor
Pudesse ter um dia, o beijo de quem amo,
Sentindo mansamente a doce calmaria,
Que a luz deste desejo, ao longe me anuncia
Como fosse um farol, que sempre quero e clamo
Realizando enfim, o sonho de um menino
Que diz felicidade em verso alexandrino...
068
Fazer da poesia o ganha-pão...
Mercadoria frágil, sem valor.
O quanto valeria uma canção
Que não falasse apenas de um amor.
Vivendo com meus pés presos ao chão
Sabendo que meu céu furtou a cor,
Esqueço em algum canto, o violão
E deixo, neste instante de compor...
Fazer outro plantão é o que me resta
Olhando a fantasia pela fresta,
Tirando da cabeça esta vontade.
Abrindo o bico, pobre passarinho,
Voando sem ter rumo, perde o ninho
E encontra em sua frente, a velha grade...
069
Falar do meu desejo por você
É simples redundância e nada mais,
Somente quem conhece, sabe e crê
Que tenho no seu corpo, o porto, o cais.
Na leve transparência, sensual,
A camisola aberta me convida,
O amor delicioso ritual,
O dom maior que tenho em minha vida
Saber reconhecer o seu perfume,
Falena que procura um raro lume,
Sangrando de desejos, gozo farto.
Falar de meu desejo, da vontade
De ter sempre a meu lado a claridade
Que toma à noite conta do meu quarto...
070
Tirando a tua roupa devagar,
Desnuda maravilha que domina,
Por mares tão gostosos navegar
Sabendo decifrar do gozo a mina,
Tocando a tua boca, te beijar,
A deusa dos meus sonhos, tão ladina,
A gata siamesa a me arranhar,
No cio que jamais finda, termina.
Entranho tuas grutas, mares, matas,
Deslizo na umidade das cascatas
E bebo cada gota desta fonte...
No encanto da sereia em minhas mãos,
Penetro calmamente doces vãos
E vejo o Paraíso no horizonte...
071
O mel que tu derramas me convida
Banquete inesquecível que teremos,
Delícia no teu corpo, consumida,
Prazer que há tanto tempo conhecemos..
Sacio-me em teu corpo, deusa nua,
Vertentes concebidas, penetradas,
E enquanto a nossa festa continua
A lua se derrama nas calçadas
O vento roça a pele e te arrepia,
Teu corpo em convulsões, doce loucura,
A língua viajante, vai vadia
E o fogo do desejo, uma tortura
Numa explosão de fogos de artifício
O amor feito em prazer, supremo vício...
072
Nas tramas do desejo, mais audaz.
Decifro os teus anseios, sou teu par
E quando nosso amor, louco se faz
Vontade de contigo caminhar,
Seguindo a noite inteira sem parar,
De toda insânia ser bem mais capaz,
O solo, no rocio fecundar
Depois poder dormir em plena paz.
Nas rotas delicadas me perder,
Vagando pela entranha do teu ser,
Sentindo o corpo todo em frenesi.
Encharco-me dos gozos que transpiras,
Acendo neste amor, divinas piras,
E morro pouco a pouco dentro em ti...
073
Colhendo cada flor que me ofereces,
Fazendo do meu quarto este jardim,
Certeza de que ouviram minhas preces,
O mundo renovou-se dentro em mim.
Lasciva, enlanguescente, deusa nua,
Estampa em sua face este sorriso,
Minha alma em conjunção, cedo flutua
Atingindo o Nirvana, o Paraíso...
Nas ânsias desde sempre decifradas.
Teus seios, minhas mãos, bocas e língua
Bandeiras entre sedas desfraldadas,
O amor não morrerá jamais, à míngua
Guerrilhas entre montes, vales, lutas
Invado tuas furnas, doces grutas...
074
Aguardo esta mulher que nunca vem
E temo que jamais eu a terei,
Enquanto a fantasia perde o trem,
Eu procuro encontrá-la noutra grei.
Por sendas mais diversas caminhei,
Resposta se repete: outro ninguém,
Não posso mais lutar, já me cansei,
Apenas o vazio me contém.
E a noite solitária se aproxima,
Quisera ter do amor alguma estima,
Agrisalhando os sonhos, nada resta...
Morrendo pouco a pouco, sigo só,
Retornarei sozinho para o pó,
Que a morte à vida em vão, pra sempre empresta...
075
Ourives da esperança, a poesia,
Entorna-se deveras sobre nós,
Não serei o que virá depois, após,
A noite que se fez amarga e fria.
Só sei que na verdade eu te queria,
O amor foi companheiro, mas algoz,
A dor da solidão se faz atroz,
E impede que ressurja um novo dia.
Na aurora da existência, perco o rumo,
Os erros que cometo, bebo o sumo,
E foge entre os meus dedos, mocidade...
Quem dera ouvir a voz melodiosa
Da deusa que se fez tão majestosa
E reina nos confins de uma saudade...
076
Maldigo a poesia que escraviza
E impede que eu consiga caminhar,
A morte num momento vem e avisa,
É hora de viver e não sonhar.
Se o céu com outras cores se matiza,
Escondo-me deveras neste bar,
Queria desfrutar da mansa brisa,
Porém a tempestade a me tomar
Causando uma fatal ebulição,
Rasgando com vontade o coração
Negando a realidade, me tomando.
E o dia que jamais reconheci,
Distante deste canto, por aí,
Tornando furioso o que quis brando...
077
Mereço alguma chance? Pois talvez
Queimando as velhas fotos do passado,
Recuperando aos poucos, lucidez,
Revejo o meu castelo destroçado.
O velho paletó já se desfez,
O risco de sonhar, deixo de lado,
É xeque-mate, a vida é um xadrez,
O reino, se existiu, foi dominado.
Não quero mais ouvir qualquer lamento,
Se devo prosseguir, sincero, eu tento
E em meio a tais escombros, um farol
Mostrando que além mar existe um porto,
E mesmo que ao chegar esteja morto
Trará pro navegante, um novo sol...
078
Esta ânsia
incontida
te chama
pra mim...
(ivi)
Ouvir o teu chamado me fascina,
Depois da tempestade esta bonança
Gerando novamente uma esperança
Que aos poucos toma a cena e me domina...
Revendo o teu sorriso de menina,
Voltando a ter os sonhos de criança,
Guardada nestes cofres da lembrança
A jóia tão sublime, diamantina...
Após as noites frias de sereno,
No encanto deste canto me alucino,
O mundo que julgara tão pequeno
Agora se agiganta, em perfeição,
Quem fora no passado, este menino,
Soltando as rédeas, livra o coração..
079
Não creio no Teu Deus que é vingativo,
Senhor que traz a lança em Suas mãos,
Soberbo criador, um ser altivo,
Chibata lanha as costas dos irmãos.
Não creio neste Deus que se apresenta
Matando quem discorda do que diz,
Quem ama com fervor sempre apascenta
Perdoa eternamente um aprendiz.
Não creio neste Deus destruidor,
Que outrora protegeu um povo apenas,
Que exige dos seus súditos louvor,
E faz cumprir na Terra duras penas...
Só acredito em Ti, Pai feito irmão
Que traz como bandeira; amor, perdão...
080
Neste meu viver
meu coração
só quer teu Amor...
(ivi)
Em vastas amplidões, nos infinitos,
Caminhos siderais, constelações,
Lançando bem distante loucos gritos,
Vagando sem destino ou direções.
Os dias que virão bem mais bonitos,
Valendo todo o bem dos corações,
Matando o que restou dos velhos mitos
Cevando em calmaria mil tufões.
Refém deste delírio que me toma,
Apenas teu sorriso manso doma
O impávido sonhar de um tresloucado.
Abrindo a minha porta, escancarando,
Sentir o teu perfume penetrando,
Profano, sedutor, mas delicado...
081
Difícil escapar desta artimanha
Que traça o coração humildemente
Vivendo como probo da façanha
Encanta-se por tudo lentamente
E pinta na lembrança tela viva
Com cores e matizes maviosos
É como numa peça que dá vida
Aos anos passageiros ardilosos
É como numa dança que bailando
Desfila toda graça e harmonia
Entrega toda alma vai moldando
Os passos que flutuam pela graça
Neste compasso recorro à poesia
E ao poeta compartilhar desta taça
sogueira
O amor, velha artimanha do querer,
Explode em mil pedaços quem deseja,
Tomando num segundo todo o ser,
Ao mesmo tempo acalma e já lateja
Vencido pelas ânsias deste insano,
Eu pude perceber que não sou nada,
Entregue aos descaminhos do tirano,
A minha vida aos poucos se degrada,
Aguardo após a chuva uma bonança
Que possa me trazer alguma paz,
Mas quando a vida e o tempo avança
Eu sinto-me em verdade um incapaz.
E deixo-me levar pela torrente
Atada nos meus pés, fria corrente...
082
Abutres devorando esta criança
Exposta na calçada, fome e frio,
Uma ameaça tosca que vã trança
Nas ruas e ladeiras, meio-fio.
Uma alma entorpecida desde cedo,
A vítima carrega algum punhal
O corpo apodrecido, um arremedo
Do que se diz justiça social.
Autoridades tomam providência,
O rabecão transporta esta indigente
Livrando desde cedo a consciência
Apascentando assim, a toda gente
Que volta do trabalho, da labuta,
Liberta do perigo, morta a puta...
083
Carbônica estrutura em harmonia
A vida se refaz da própria morte,
E traz por solução um novo aporte
Que é sempre renovada a cada dia.
A tosca humanidade concebia
O acaso como fonte, rumo e norte,
Sem perceber eterno cada corte
Que a nossa consciência desafia.
Seria por acaso esta existência?
Tolice e prepotência tão somente,
É necessário ter a consciência
Ciência do improvável puro acaso.
O refazer se faz numa semente,
Gerada e geratriz dentro de um prazo...
084
As tardes tropicais, primaveris,
Canários entre as flores no quintal,
A força da esperança, velha atriz
Refaz a maquiagem triunfal.
Quando horizonte, aos poucos, resta gris,
E a noite preparando o ritual,
O coração – tolice- inda me diz
Da lua que sonhara magistral.
As mãos tateiam vagas pela cama,
Apenas o fantasma de um amor,
O corpo neste espaço se derrama,
E sem respostas, durmo, solitário.
Suando, exposto ao vão, torpe calor,
Calando o encanto triste do canário...
085
A minha mocidade, morta e louca,
Batendo novamente à minha porta,
Roçando feito o vento, a minha boca,
O frio da saudade, vem, recorta...
Minha esperança, tosca e pouca,
A vida se apresenta amarga e torta,
A voz da adolescência me treslouca
E o sonho morre torpe, e o sonho aborta.
As rugas e o grisalho do cabelo,
Inverno se prepara, frio e gelo,
O fim se aproximando, e o sonho ronda...
Quem dera se pudesse um oceano,
Num ir e vir infindo, louco, insano,
E o tempo travestido em uma onda...
086
Pudesse ter teus lábios num momento,
Um beijo sensual e sem defesas;
Das ânsias do desejo simples presas.
Numa explosão de terno sentimento.
Quem sabe aplacaria este tormento,
Levados pelas fortes correntezas,
Tocados por delírios e surpresas,
O tolo coração exposto ao vento
Tomado pela força da loucura,
No amor que me sacia e me tortura,
Apago os meus engodos corriqueiros
E vestido de estrelas, sigo à toa,
À tona, à flor da pele, uma alma voa.
Aguando de esperanças meus canteiros...
087
O amor preparando o meu Calvário,
Cavando com paixão, sem compaixão,
O tempo se tornou meu adversário,
O quase tantas vezes disse não.
Seria muito bom, novo fadário,
Mas quando te percebo, solidão,
Eu vejo quanto o gozo é temporário,
Ouvindo por resposta, o velho não.
E teimo persistente, nesta insana
Procura pela noite soberana
Que um dia me trará bela alvorada.
Olhando pra mim mesmo, nada creio,
O quanto desejei, cruel anseio,
Transmuda-se de novo, resta o nada...
088
O homem a perder-se, sem noção
Do propósito de vida e assim
De um lindo começo, o triste fim;
O Pai sofrendo com sua ingratidão.
Onde era pra ser paz, desunião
Seu habitat destrói feito cupim
Pisoteia toda a flor do seu jardim
Em atos que o distanciam do perdão.
As normas do Criador ficam de lado
Sem ver que assim carrega grande fardo
Resultante da desobediência.
Sem a noção do que é pedir clemência
Cego de ambição cultiva o horror...
Um dia se verá com o Criador.
Josérobertopalácio
No olhar do Criador, a compaixão,
Olhando para os vermes que criou.
Se todo o sacrifício foi em vão,
Apenas a miséria se espalhou.
Nas mãos do meu pastor, a exploração,
A ovelha que sem rumo desviou,
Perdendo a eternidade no porão
Que a farsa eclesiástica gerou.
Neste eclipse total, farta cegueira,
A renda ao fim do culto, uma bandeira
Expondo esta nudez da alma profana
Do vendedor da falsa pedraria,
Na Igreja do Senhor, patifaria,
O que importa, afinal, vendeta e grana...
089
Pobre soneto morre a cada dia,
Cultura nacional? Farsas à vista,
Quando ouso dizer: patifaria,
No olhar do que se diz real artista,
Terrível, sem controle, maresia,
Por mais que a consciência ainda insista,
Na métrica, cadência, tal sangria,
Prepara pro futuro, esta surfista.
Não vejo contra-senso nisto tudo,
Olhando de soslaio, fico mudo,
Assim caminha a nossa humanidade.
A força dos quadris é bem maior.
Poeta morre à míngua, e o que é pior,
Na bunda da vadia, a eternidade...
090
Se dobras o cabo da Boa Esperança,
Se agora és talvez, ou faz de conta;
Lembrar da juventude, não é afronta
Sobraram os rastros de tua andança.
E velho, voltarás a ser criança
Os passos devagar; mesma conduta...
Feliz se o carinho não te falta.
Velhice! A reta final de nossa andança.
O fim de tudo: a morte, com certeza.
O que virá depois, de sobremesa?
Josérobertopalácio
Quem sabe eternidade? O que me importa?
Não tenho as ilusões do cristianismo,
Se existe após a vida, nova porta,
Ou mesmo um precipício, algum abismo...
A pele que se enruga inda suporta
A curva sem temor, mesmo cinismo,
História que num átimo se corta,
Seria necessário o realismo?
Medonhas criaturas infernais,
Angélicas canções, vagos espaços.
Não quero nem pretendo muito mais,
Por isso ser feliz, obrigação,
De quem tem com a vida estreitos laços,
E deixa bater firme o coração...
091
Não quero o sacrifício de quem amo,
Tampouco tais mentiras da paixão.
O pouco que inda faço sonho e tramo,
O rio invade o mar, inundação.
Se teimo no arvoredo em cada ramo
Eu vejo o meu fantasma rente ao chão,
Sendo o que não seria ainda clamo
Talvez por qualquer motivo ou solução.
Só sei que nestas sendas, vendas trago,
Desejo pelo menos que o afago
Não seja simples farsa, velho engodo.
De tudo que se diz amor demais,
Não ouço mais a voz dos vendavais,
E compro esta metade pelo todo...
092
Imagens falam mais do que poemas,
Dourando esta manhã, sol irradia
Procuro com palavras raras gemas,
Nenhuma se compara à pedraria
Exposta nos penhores da Natura,
Diversidade feita por um Deus,
A mansidão da brisa, tal ternura,
Contrasta com os raios sobre os breus.
Porém o Criador ao ver exposta
A sua criatura aos maus profetas,
Enquanto a liberdade é decomposta
Só resta a fantasia dos poetas,
Imaginário tolo, mas sutil,
Tornando a realidade menos vil...
093
Quero tua vida,
assim,
repleta de Amor!!
(ivi)
Queria estar repleto deste amor
Que um dia me ensinaste, mas perdi
O rumo que levava sempre a ti,
A voz já se calou, pobre cantor.
Bastando a primavera sem a flor,
Em meio a fantasias, concebi
O que pensara outrora estar aqui,
Num cântico supremo de louvor...
Mas como ser feliz se na verdade,
A fome toma conta da cidade
E a humanidade expõe a face escura.
Não me basta talvez um novo grito,
Olhando fixamente pro infinito,
Cansado desta vã, frágil procura...
094
Quem dera se Coelho ou Surfistinha,
As vespas são de fogo, rabugentas,
As cores do meu céu; já não aguentas,
Preparo o rebolado pra festinha.
No pouco que me resta, ainda tinha
Palavras mais sutis ou violentas,
Enquanto as bundas tremem, seguem lentas
As Musas enfrentando esta galinha.
Na Arcádia, os acadêmicos e o chá,
Velhuscos rebolando o cha-cha-cha,
A musa da novela fica nua.
O beijo da mulher perde o segredo,
Portela desfilando o novo enredo,
Catulo se escondendo, mata a lua.
095
Neste céu
de Amor,
nuvens bailam,
encantadoras,
suaves,
perfeitas...
(ivi)
As nuvens passeando pelos céus,
Vagando, bailam mansas e suaves,
Cobrindo a terra toda em claros véus,
Os pensamentos seguem como naves...
Perfeitas maravilhas ditam sonhos,
E tornam tal cenário inesquecível.
Os dias tão sublimes e risonhos,
É peno que isto tudo é perecível...
Olhando para a esquina e seus mendigos,
Quem dera menos joios, bem mais trigos,
Vislumbro outro planeta, outra verdade.
Mas sei que sendo simples sonhador,
Não posso traduzir o vero amor,
Tampouco imaginar a eternidade...
096
Cansado, este amor que só maltrata
Trocado em miúdos, em descompasso
Agoniza sem força, entregue ao lasso
Sem saber se sai, ou fecha a porta,
Só vê o passado que o espelho retrata
Segue em guerra, no grito e no braço
Tentasse ajustar sintonia e passo
Salvando o pouco que inda lhe resta.
Talvez voltassem festa e alegria!
Tirando as duvidas do: (Gosto ou não?)
Caindo na real, matar a ilusão.
E tendo a certeza, amor deslanchava
Seguia seu rumo, não mais entravava
Viajando ao astral da melhor fantasia.
Josérobertopalácio
Arcaico romantismo, uma tolice,
O gozo de um prazer é momentâneo,
De tudo o que eu disser e o que se disse
Não vale este retrato que é instantâneo.
Num três por quatro feito em preto e branco,
Documentando o fato, perco o rumo,
Sentado na pracinha, o velho banco,
Erráticas mentiras eu assumo.
Agora o que me resta, algum motel,
Viagra é combustível, amor, farsa
A lua se derrete, é de papel,
A lírica poesia, tão esparsa
Derruba quem pensou ter novamente
Um canto de Vinicius preso à mente...
097
Quem vive de lembranças é museu,
Saiba que já dei volta por cima...
Aquilo que escapou; se escafedeu,
Não sirva pra manchar a minha sina.
Acendeu minha ilusão que ascendeu,
Amanheceu e a claridade já me anima
A mente se refresca em belo clima,
Chegou um vento novo, arrefeceu.
A mesa sem banquete, não vê ceia
Não deu pra alimentar nosso destino...
Aranha se enrolou na velha teia.
Eu vou puxar o carro vou embora
Paguei o que comprei; meu desatino...
Vou livrar-me deste amor fora de hora.
Josérobertopalácio
Depois de aposentado, o coração
Resolve novamente travessuras;
Requenta o velho amargo chimarrão
E teima no banquete das doçuras,
Porém o diabético sertão
Afoito às mais estranhas diabruras
Acende o fogareiro da paixão,
E os gozos vão virar simples torturas...
Perdoe este soneto, minha amada,
As mãos já calejadas te machucam,
Jamais reviverei outra alvorada,
É simplesmente um ato de ousadia
Imagens do passado me cutucam
Bulindo com a arcaica fantasia...
098
Meus versos, conteúdos tão ecléticos,
Discorrem sobre fatos corriqueiros
Ainda que pareçam até patéticos
Os faço, viajantes, mensageiros.
Murmúrios, burburinhos; pelos ventos
Levados ao tempo ao espaço,
Mantidos em minha linha, assim traço.
Pra paz e pro amor, grandes ungüentos.
São alegrias aos corações tristes
Um alento ao sofredor que ainda insiste
Em dizer que a poesia não vingou.
E sendo um poeta, um sonhador,
Com os astros, meus parceiros, em sintonia;
Amor e dor se fundem em poesia.
Josérobertopalácio
Versejo sobre o quase que não tive
E mesmo sobre o tudo que me resta
Revejo cada porto aonde estive,
E teimo em navegar falsa floresta.
O velho marinheiro sobrevive
Comendo na verdade o que não presta,
Por mais que a realidade inda me prive
Carcaça da poesia é tão funesta.
Perebas espalhadas por aí,
Falando do quintal que nunca vi,
Da roupa que quarou Mariazinha.
Mereço alguma chance? Não mais creio,
Descubro da velhaca cada seio
Pensando que ela ainda fosse minha...
099
Vê se muda este amor de aparência!
Decorado em revistas semanais;
Não agüento escutar mais os teus ais,
Nem tão pouco entender tua ciência.
Ache outro prá encher a paciência;
Vá embora e não olhe para trás.
Feche a porta e não volte nunca mais
Com este amor desprovido de freqüência.
Telefone ponha anúncios em jornais,
Ofereça o dinheiro e pague mais.
Se um outro suprir a minha ausência
Aproveite e se case na seqüência;
Já te amei mais agora eu quero é paz.
(Herivaldo Ataíde)
Eu quero qualquer coisa que me alente,
O cheiro do café tomando a casa,
Gostoso igual amor, quando esta quente,
Depois que esfria o tempo tudo atrasa.
Felicidade em velho é sempre urgente,
Senão a realidade se defasa,
Prazer que é mentiroso é penitente
Do antigo fogaréu, nem mesmo brasa.
Estrelas despencadas como seios
Tocando a minha mesa, que banquete!
Soldado que pensara ser cadete
Trazendo no cantil os seus anseios,
Sou menos do que nada, mas resisto,
Se alguém de perto olhar, logo despisto...
100
Meu velho companheiro, eis a verdade,
Política no mundo é sempre igual,
A todo instante vejo um festival
Aonde o que domina é falsidade.
Petista se vestindo de tucano,
Tucano se disfarça em “democrata”,
O que interessa a todos: ouro e prata,
O povo vai entrando pelo cano.
Mas tendo a liberdade pra berrar,
Cabrito mais cabreiro fica esperto,
Olhando na verdade, bem de perto,
Botando assim as coisas no lugar,
Melhor a claridade que uma escura
Noite aonde domina a ditadura...
101
As esperanças abrem suas asas
Abarcam ilusões que inda carrego,
E mesmo que pareça surdo e cego,
Caminho sem temor por sobre brasas.
Olhando aqui de cima, vejo as casas,
E mares sem fronteiras que navego,
O tempo nestes sonhos, eu emprego,
Mergulhando em piscinas sempre rasas...
Quebrando a minha cara vez em quando,
Fazendo da emoção, minha senhora,
A sorte se esfumaça e já demora,
Enquanto o meu castelo desabando
Prepara para o fim, num terremoto,
E o amor vai se tornando mais remoto...
102
Descora-se a esperança, verde claro,
Nesta aquarela resta a negritude,
Enquanto não mudarmos de atitude,
Felicidade é um dom ausente ou raro.
Usando cada verso, hoje declaro,
Que mesmo que o cenário ainda mude,
O coração humano, sendo rude,
Prepara tão somente o desamparo.
Vagando pelas ruas, velhas gralhas,
Carcomidas crianças, toscas tralhas,
Nas mãos dos idiotas e canalhas,
Enquanto nas esquinas, as navalhas,
Cometendo de novo antigas falhas,
Cobrindo a humanidade toscas malhas...
103
A humanidade mostra em sua história
Que os erros se repetem e o poder
Trazendo ao vencedor intensa glória
Ao derrotado traz duro sofrer.
Assim imagem tosca e merencória,
Que a todo instante sempre posso ver
Divide a sociedade e tem na escória
A grande maioria a apodrecer;
Porém nada pior que a ditadura,
No absolutismo a morte do pensar,
A mão que traz a rosa com brandura
Exposta às vis correntes, velha cruz.
Por isso, vejo a luz a libertar
Emanada dos olhos de Jesus...
104
Ao ler este diálogo percebo
Que tudo nesta vida é perecível,
O amor que não podia nem concebo,
Escreve seu final de modo incrível;
A moça necessita do mancebo,
O canto do desejo é sempre audível,
E desta realidade eu também bebo
Meu coração também é corruptível.
Bastando um bom molejo nos quadris,
E o riso sem vergonha da morena,
Meu peito se demonstra meretriz
E acende este pavio sem juízo,
O rosto da sacana vem e acena,
Se eu provo do sabor, decerto biso...
105
Amor divino é certo a solução
Ação que a derrubar tanta barreira
Arranca a arma à mão e ao coração
Acende em brilho mor, doce fogueira...
E dá comida à boca, ao seu irmão
Cuidado pra curar as cicatrizes
Dos lanhos das chibatas, injustiças
Descuido e exploração das meretrizes.
Olhar que vê além da pura imagem
E chega ao cerne, abraça a humanidade
Sabendo do valor de cada ser
É ato que conclama esta verdade
Que pago já, reclama acontecer
Mas onde, no vivente esta vontade???
AnaMariaGazzaneo
O amor que nos ensina Jesus Cristo
É feito de um eterno perdoar,
É nesse imenso amor que sempre insisto,
E nele, intensamente mergulhar.
E quando na esperança, e paz, invisto,
Percebo quão possível é lutar,
Por isso, e tão somente é que resisto,
E dessa fonte é feito o meu cantar.
Que a força soberana e tão imensa
Do amor comande todos os destinos
Que não haja mais guerra ou desavença
Que toda humanidade viva em paz,
Tenhamos a pureza de meninos,
Somente o amor divino satisfaz;
106
Amor, um velho barco sem comando,
Navega pelos mares, vai ao léu.
De pássaros sem rumo, velho bando,
Na frágil esperança do papel.
Se contra a correnteza vou remando,
Não tendo quase nada em meu farnel,
Minha alma vai pesando em contrabando,
O doce de um deseja amarga fel.
E resta tão somente um passo em falso
Que o amor prepara então seu cadafalso,
E deixa-nos de herança esta masmorra.
Aguardo qualquer porto mais seguro,
Cevando sobre um solo árido e duro,
Sem nada que me salve ou me socorra,,,
107
O sol raia tramando um novo dia,
E brilha no horizonte, soberano,
Escaldante calor já se anuncia,
Na claridade plena, imenso engano.
Outrora um frágil sonho de alegria,
Errar é na verdade sempre humano,
Porém se um novo cais se concebia,
A lua no cenário abaixa o pano,
E muda, num instante, negritude,
O quanto que te quis muito e amiúde
Após o entardecer, vira sol-pôr;
Quisera pelo menos, um nuance.
Bem antes que o olhar, luar alcance,
Distante, morre ao longe, nosso amor...
108
Disfarço vendo a praça onde o amor
Mostrou-me sua face traiçoeira,
Momentos de alegria e de rancor,
A vida é uma eterna ratoeira.
Chegasse mais distante, aonde for,
Espinhos vão tomando esta roseira,
E o tempo que passei a teu dispor,
Explica esta esperança derradeira.
Acendo uma fogueira, e vou à luta,
Derramo a querosene sobre o chão,
A mão da insensatez, demais astuta,
Esculpe a fantasia que geraste,
Vagando sem destino, coração,
Carrega o enorme peso do desgaste.
109
Não te dou mais arrego, seu danado
E digo sim quem é meu novo encanto
Deus Grego faz de mim anjo em pecado
Despenco ao seu olhar, sagrado manto...
Nos braços deste deus, me perco insana
Nem me lembra teu nome, vou perdida
E não resisto em mim, ardente a chama
Por certo um novo amor me faz bandida.
Com Marcos sei que sou bem mais feliz
Pois ele me completa. Empate ao jogo
Enquanto o teu prazer me nega fogo...
Azar o seu e tarde o teu lamento
Teu Ás, foi tentação, mas não aguento.
Com Marcos... Convulsão que quero em bis!
Ana Gazzaneo
O beijo que me deste está marcado
Qual fora cicatriz em minha face,
Desejo dentro da alma tatuado,
Sem nada que o impeça nem embace.
Prazeres conheci, agora vago,
Sem nexo sem destino, pária sou.
Buscando das estrelas um afago,
Meu tempo, na verdade já passou.
Colhendo os velhos frutos, podridão,
Minha alma gangrenada, se apodrece,
Enquanto busco nova solução,
O fim entre meus dedos, me apetece.
Riscando os meus cadernos, velhas folhas
Diabetes traz aos pés, terríveis bolhas...
110
Porque a dor do amor
É para ser vivida
Quem nunca a viveu
Possui a alma encolhida
Quem nunca sofreu
Nunca há de ter outra saída
A não ser navegar no mar
Feito um barco à deriva...
Karlinha
Um barco sem timão, rosa dos ventos,
Naufraga no oceano da ilusão,
Por mais que sejam belos os momentos,
De que vale viver sem ter paixão?
Enfrento, com amor, vários tormentos,
Trazendo para mim, toda a amplidão,
Esqueço que já tive sofrimentos,
Encontro finalmente a solução.
Navego no teu mar, em calmaria,
Aporto nos teus braços, todo dia
E sigo a minha vida em plena paz.
Mal cabe no meu peito, esta vontade
De ter eternizada a claridade,
Que roubo deste olhar, suave, audaz...
111
Toque-me, sinta o tremor das mãos.
Não diga nada,
Deixe o brilho do olhar nos anunciar,
Enquanto unas num doce acariciar.
Perceba o fogo da paixão,
A alegria que toma meu coração,
Num suspirar que tua presença é a razão.
Só então descobrirá meu insano desejo,
Na alma que por ti, faz festejo.
E descobrirá minha vontade,
Nesse amor de verdade.
Sem contratempos, sem regras, sem rancor,
Toque a delicada pele da face,
Mergulhe em meu lábios.
Ai então saberás que por você, meu amor nasce.
Estela
O gosto da maçã em tua boca,
Deliciosamente expõe a vida,
Que mesmo parecendo, às vezes louca,
Missão que com vigor quero cumprida.
Encontro no teu cais, as mansas docas,
Escondo-me dos breus em meio aos braços,
E quando mil prazeres vens e alocas,
Ocupo mansamente os teus espaços
E sigo pareado com a sorte,
De ter felicidade, sendo teu,
Amor igual ao nosso de tal porte,
Humanidade nunca conheceu.
Riscando minha pele, tuas unhas,
No muito além do quanto tu supunhas...
112
Tarde nublada,
sem tu aqui,
tristeza em mim...
(ivi)
Agrisalhada tarde, escura vida.
Não tendo mais sequer algum motivo
Que possa reverter a vã, perdida,
Estrada em caminho e sobrevivo.
Minha alma pelo tempo apodrecida,
Outrora um caminheiro mais altivo
Agora segue só, sórdida ermida,
De todos os meus sonhos já me privo.
Relendo os velhos livros do passado,
Histórias em que amor se fez intenso,
Na senda bela e flórea, doce prado,
Antigo gargalhar, simples saudade,
Mas tudo em que, deveras, hoje penso,
Esconde desta tarde, a claridade...
113
Ouvia a voz do vento convidando
Ao manso caminhar entre as estrelas,
As aves, como plêiades, num bando,
Guardadas na memória, posso vê-las...
Um dia fui feliz e isto me basta,
Agora a vida leva seus enfeites,
Enquanto a poesia, assim se afasta,
Morrendo sem prazeres e deleites.
Sonhar que um dia eu possa reviver
Momentos tão suaves do passado.
No quando tive tudo e pude crer
No amor, meu companheiro e aliado.
É pena que a semente não vingou,
E a fonte sem motivos, já secou...
114
Qual o vôo que carrega confiança
Onde pousar palavra que liberta
Qual estrada que leva na distância
Mensagem que meu coração decreta
Viajo livre vôo sem ter caverna
Nenhum pouso retido neste agora
Minha alma tão livre quase hiberna
Sem laços vou segundo rumo a fora
Não vejo nenhum lago pra repouso
Palavras que viajam verso e prosa
São sombras que faz da mente pouso
Teus versos ladeados têm beleza
Pra todos que em ti vê o talento
Os meus vão afolhados. Fico presa
Sogueira
Ourives das palavras, a poeta
Desfila seu talento. Embevecido,
Eu bebo da beleza tão completa,
Do canto pelo encanto amado, ungido.
Quem dera se pudesse ter a glória
De ter a companhia desta amiga,
A vida não seria merencória
Pois nela a poesia, já se abriga.
E neste desfilar raro e fecundo,
De fartas maravilhas que tu crias,
O pária coração de um gira mundo
Encharca-se de luz e fantasias...
E, tolo num momento eu quis tentar
Também cada palavra lapidar...
115
Peguei a tiracolo minha viola
Sai por aí na estrada do saber
Gastei logo do sapato a sola
Os dedos roliços por escrever
Na mente a rima não recuou
Outro poeta pecou de ler
Eu aqui cantando teu amor
Pensei no sertão distante
Uma casinha no centro, verde
Onde as matas colhiam antes
A pureza do ar campo e rede
Na varanda de espaço gigante
No coração a paz sem a sede
Das horas em ritmo ambulante
Sogueira
O velho violeiro coração
Cantando qual canário no quintal,
Aprende pouco a pouco esta lição
E traz a esperança em seu bornal.
No dia mais feliz da criação,
Bom Deus nos deu o Recital,
Do pássaro liberto, na emoção
Que aplaca com ternura, todo o mal.
Espalhas nos sertões duros bravios,
Na forma de cordel ou desafios
A imensa maravilha que se emana
Da voz de um passarinho, soltas asas,
Cobrindo de alegria nossas casas,
Tornando a fantasia soberana.
116
Cevando alguma forma de ilusão,
Bebendo da esperança atroz, maldita,
Há tempos esquecido o meu verão,
Inverno terminal, aos poucos, grita.
A morte nos umbrais faz seu serão,
História tantas vezes mal escrita,
O corpo segue em decomposição
O passo claudicante delimita.
E volto aos meus primórdios, tento crer
Que ainda tenho a sorte em meu poder
E sonho com brinquedos de criança.
A foto amarelada, o riso franco,
O amor quando existiu, em preto e branco,
Reside nos escombros da lembrança.
117
Agrisalhada tarde, escura vida.
Não tendo mais sequer algum motivo
Que possa reverter a vã, perdida,
Estrada em caminho e sobrevivo.
Minha alma pelo tempo apodrecida,
Outrora um caminheiro mais altivo
Agora segue só, sórdida ermida,
De todos os meus sonhos já me privo.
Relendo os velhos livros do passado,
Histórias em que amor se fez intenso,
Na senda bela e flórea, doce prado,
Antigo gargalhar, simples saudade,
Mas tudo em que, deveras, hoje penso,
Esconde desta tarde, a claridade..
118
Revejo os meus quintais na primavera,
Ilhado neste quarto, apartamento,
O verso que compus, traduz espera,
A salvação virá, qualquer momento.
Resisto bravamente, sorte mera,
E mesmo ser feliz, ainda tento,
Naufrago no teu mar, minha galera,
E busco vez em quando, um novo invento.
Mas vendo estas paredes no horizonte,
Queria com a vida última ponte
Perdi os velhos elos da corrente
Trancafiado aqui, neste lugar,
Revejo o meu quintal e vou buscar
Algum retrato fusco em minha mente...
119
Meus riscos, só rabiscos, fossem bem
Levassem meu afago a ti, querido
Eu creio me faria bem também,
Mas sofro, este limite é meu castigo...
Palavras correm tolas pelas linhas
Meu choro derramado embebe o riso
Tão longe vai, distante o paraíso...
Tocasse a tua face, as entrelinhas...
ANA MARIA GAZZANEO
Orquídeas florescendo no jardim,
Percebo que inda resta alguma luz
Brilhando vagamente dentro em mim,
Pesando volta e meia, imensa cruz.
Refaço este caminho de onde vim,
E ao nada, minha vida me conduz,
Acendo este pavio, este estopim,
Revivo cada sonho ao qual me opus.
E creio ser possível ver meu filho
Correndo pela casa novamente,
Ultrapassando em paz outro empecilho
Abrindo estes portais rumo ao futuro.
Olhando bem de perto, fixamente,
Há traços de horizonte além do muro...
120
Driblando os meus fantasmas, sigo à toa,
Refém dos desenganos e mentiras.
O coração recende a pão e broa,
Do quanto quis amor, sobraram tiras.
E quando ao longe, o mar, canções entoa,
Flutua o pensamento e nele giras,
A vida que eu sonhei, quisera boa,
Sem medos ou rancores, velhas iras
Acaso se viesses me verias
Desnudo de esperanças e alegrias
Ferrenho lutador perdendo o rumo.
Mereço alguma chance? Ledo engano,
Do quanto quis viver, inda me ufano,
Da morte da ilusão, eu bebo o sumo...
121
Preciso do Senhor, pois sou pequeno,
A força pra vencer as tentações,
Procelas, tempestades e tufões,
Trague para mim um tempo ameno...
E quando nos prazeres me enveneno,
Perdendo assim o rumo e as direções,
Aplaque as mais temíveis ilusões,
E mostre um mundo manso e mais sereno...
A vida, este milagre que nos deste,
Traçando os seus caminhos entre os breus,
Trazendo-te Senhor, Meu Pai, Meu Deus,
Na paz que nos aquece e nos reveste,
Vencendo as velhas lutas do passado,
Num mundo libertário, transformado.
122
O olhar apaixonado de quem sonha
Perdido no horizonte; busca alguém,
E quando a noite chega e a lua vem,
Redonda, gigantesca, mas tristonha
A madrugada corta e tão medonha
Traduz a realidade e diz ninguém
Do nada que minha alma inda contém
Amor sendo figura vã, bisonha...
Dedilho um bandolim, falo do nada,
A seca se espalhou dentro de mim,
A música que ouvira está calada,
E fecho minha porta, finalmente,
Seguindo a minha história, vou assim,
Até o plenilúnio engana, mente....
123
Quem dera se bastasse algum momento
Nas curvas tão fechadas desta vida,
Não quero transportar velho lamento
Sabendo desta história já perdida...
Amor que fora outrora meu sustento,
No olhar de quem conhece e assim duvida,
Trazendo viração, singra o tormento
E aporta na emoção torpe, fingida.
Revelo os meus canteiros e cantares,
Por onde, sem saber tu caminhares
Espalho os meus rosais, tirando espinhos
Jamais tu percebeste, nem quiseste,
Se apenas a nudez inda reveste
Rapinas os meus sonhos, pobrezinhos...
124
Sumo de versos tão sublimes
Palavras vertendo o belo ser
A sorte está lançada, vai voando
Carregando consigo bem querer
Medos, rancores, velhas iras
Que aqui se criam e se dissipam
Esperanças e alegrias vão soprando
Assim é a vida, doce é a lida
Karlinha
Ainda guardo em mim as belas flores
Que um dia tu cevaste em meu canteiro,
Os sonhos sempre foram multicores,
Usando os mil matizes do tinteiro.
Contigo caminhando aonde fores,
O tempo vai depressa, é tão ligeiro,
Promessas renascendo nos albores,
No encanto que derramas, verdadeiro...
Meu derradeiro canto será teu,
Se o mundo no teu mundo se perdeu
Encontro finalmente a solução...
Os versos que compões; maravilhosos,
Tornando os prados meus mais olorosos,
Tocando bem mais fundo o coração...
125
Vieste como um vento, um temporal,
Tomando toda a casa, num instante,
E o fogo deste olhar, raro e brilhante,
Trazendo uma alegria sem igual,
No eterno festejar de um carnaval,
Imagem tantas vezes fascinante,
Num belo ritual, doce e constante,
O amor reinando pleno e triunfal.
Porém, a tarde cai e a noite vem
Trazendo os seus fantasmas e mistérios,
E ao fim da madrugada, sem ninguém,
Do quanto outrora fui nada mais resta,
Dos festejares lutos vis funéreos
A porta se fechou, não restou fresta...
126
Que fresta que nada
Tudo é festa!
Todos os ais viram carnavais
E rir é o que nos resta
Karlinha
Vestindo a fantasia da ilusão,
Sorrisos estampando cada face,
Por mais que a vida doa ou mesmo embace,
É hora de viver cada emoção.
No quase fui feliz, não há senão,
E mesmo que a verdade nos desgrace
Aprendo a me virar noutro disfarce
Dançando junto à imensa multidão...
Olhando para os lados, outros tantos,
Hipnotizados caem pelos cantos,
Na louca gargalhada dos palhaços.
Vibrando sem porquês, querendo mais,
Bijuterias feitas carnavais,
Tropeço nos meus próprios, tolos passos...
127
A história não perdeu-se, ela resiste,
ao impacto, aos tropeços da estrada.
E te digo, não é uma história triste,
tem amor, tem alegria em revoada.
Neste canto está minh'alma apaixonada,
que se mostra como nunca, um dia, viste.
A história não perdeu-se, ela resiste,
ao impacto, aos tropeços da estrada.
Te oferto este amor que em mim existe
e uma rosa, a mais linda e perfumada.
Vamos juntos te peço, ah, não desiste,
nosso amor é belo qual contos de fada.
A história não perdeu-se, ela resiste.
HLUNA
Há tempos que preciso te dizer
Dos vales e montanhas que enfrentei
Buscando ter nas mãos, nosso prazer,
Errante caminheiro que sem lei
Seguia por desertos e planaltos,
Vagando cordilheiras e oceanos,
Encontrando percalços e ressaltos,
Cevado por delírios sempre insanos.
Avanço noite afora nesta busca
Que um dia me trará felicidade.
E quando a luz da lua toca e ofusca,
Eu bebo a me fartar da claridade.
E vejo num segundo todo o céu,
Contido na beleza de um rondel....
128
Trago
sempre
no peito
este Amor
que tenho
por ti!!
(ivi)
Se eu trago dentro em mim algum prazer,
É por saber que existes, saiba disso.
Mantendo o coração, frescor e viço,
Um rio de esperança a se verter,
Toando bem mais forte, me faz crer,
Que vale sempre a pena o compromisso,
Jamais serei, tu sabes, mais omisso,
Ao fundo no horizonte, quero ter
A imensa vastidão do amor sincero,
Que é tudo que deveras eu venero,
Ao aplacar as dores costumeiras.
Fazendo dos teus olhos, belos guias,
Eu quero me entranhar nas fantasias,
Mais belas, mais sutis e verdadeiras...
129
Arcar com minhas dúvidas, seguindo
O passo em direção ao fim do dia.
Promessa de um lugar que quero lindo,
Entre meus dedos frágeis se esvaia.
As violetas mortas nestes vasos,
Os quadros embaçados, velhas telas,
Preparam-se na curva meus ocasos,
Fotografias toscas e amarelas...
Somar nada com nada é o que me resta,
Vestígios nos escombros de minha alma,
A verdadeira chama, hoje funesta,
Somente a solidão inda me acalma
Pois dela vou sugando a poesia,
Numa fugaz e torpe, vã orgia
130
Mal posso disfarçar meu sentimento
na vida um caminheiro sem descanso,
E quando uma vitória, tolo, alcanço,
Explode o coração, frágil momento.
Os erros do passado, meu lamento,
A busca por qualquer novo remanso,
Aos poucos claudicante, penso, avanço,
Num passo cada dia bem mais lento.
Serpentes são comuns e corriqueiras,
As urzes tão freqüente, costumeiras,
As pedras fazem parte destas sendas.
Pudesse, pelo menos, descansar,
Quem sabe até, poder crer e sonhar
Que amores sejam mais que simples lendas...
131
Vencer os meus temores, ser feliz,
Recebo o vento manso no meu rosto,
Eu sei quanto esperança é meretriz
Coleto em profusão, tanto desgosto,
Distante, muitas vezes, do que quis,
O sonho que restou já decomposto,
A vida a cada instante volta e diz
Do velho coração, frágil e exposto.
Morrer talvez pudesse me acalmar,
Sem mares nem luar, vagando à toa.
E enquanto a mocidade ainda ecoa
As rugas de minha alma, devagar,
Tornando este cenário mais real,
Expressam desta farsa, ato final...
132
Espero após a chuva, uma bonança
Que possa traduzir fecundidade,
Assim caminharia humanidade
Trazendo ao sonhador, uma esperança.
Colheita traduzindo uma festança
Reinando sobre nós, felicidade,
A vida necessita de umidade
A terra só produz quando descansa...
Ao ter esta certeza, vejo em Deus
A solução final, a redenção,
Florindo com beleza a criação.
Certeza de luzeiros entre os breus,
Fomento de uma eterna sintonia
De um tempo todo pleno de harmonia
133
Olhar atrás da porta e nada ver
Sentir a brisa mansa da manhã
Entrar pelos esgotos, perceber
Que a história, na verdade fora vã.
As árvores começam florescer
Promessa frutifica um amanhã,
Porém sem ter mais nada a merecer,
Minha alma é suicida talibã.
Ouvindo da razão, algum apelo,
Tentando derreter a neve e o gelo
Resquícios de um passado mais atroz,
Ninguém sabe dos erros cometidos,
Afloram-se, sem nexo os meus sentidos,
E tento ouvir a minha própria voz.
134
De seu pensamento
Extraio seu intento
E agora?
Desandar-me sem demora
Ou
Tornar-me seu tormento?
Karlinha
Tu és o meu alento nas procelas,
Ao mesmo tempo vens e me enlouqueces
Enquanto desabrigas já me aqueces
Dicotomia rara que revelas.
Dominas meus caminhos e desandas,
É Norte que me faz perder o rumo,
Nos braços eu me entrego e logo esfumo,
As noites de tempesta, restam brandas.
Conheço cada passo que tu dás,
Seguindo tua sombra e sou capaz
De mergulhar sem medo nos teus mares.
Porém eu desconheço o teu destino,
E frágil como fosse algum menino,
Procuro-te nos bares, nos altares.
135
Quanto não cabe em mim
Os luares nos bares
Nas ruas, malabares
As músicas, os olores
As dores de amores
- cores carmim
Dizia ser sempre tua
Lua desnuda
Sem véu nem grinalda
O mel que ainda falta
Cultivo em seu jardim:
Volta pra mim...
E no que resta
Nada é festa
Andanças, tantas mudanças!
Incerteza de um passado
Que retorna como um fado
Pobre de mim
Karlinha
Mal sabes quanto quero teu querer,
Depois de mil andanças, percebi
Que tudo o que desejo encontro em ti,
Dominas os meus sonhos sem saber.
A tua ausência rima com sofrer,
Notícias, procurei além e aqui,
Voltaste e num instante revivi
O quanto me trouxeste só prazer.
Nas ruas e calçadas, nas cidades,
Nos bares, nos sertões, becos vielas,
Cevando em profusão tantas saudades,
Vagando sem destino, sem paragem,
Agora que a presença me revelas,
A vida se renova em mansa aragem...
136
Meu bem
O sopro foi mais além
Quisera eu ser sua querida
Porém, nossa sorte em disparada
Causou-nos somente feridas
Falácia maldita
Querência deslavada
Lágrimas desmedidas
Ai, meu bem
Estou aquém
E sem
KARLINHA
Mal sabes quanto custa uma saudade,
De ti, este cruel distanciamento,
Parece uma terrível crueldade,
Lembrar do nosso amor, cada momento.
Carrego dentro em mim, esta verdade
Palavras são levadas pelo vento
E quando esta lembrança chega e invade,
Ao velho coração resta o lamento...
Cada soneto meu diz o teu nome,
Resume o sentimento que me doma,
E quando o dia chega e o sonho some,
Resisto simplesmente, nada além,
Meu mundo em tuas mãos, quisera soma,
Mas o simples vazio me contém
137
Se no meu peito
O peso é demais
Na minha alma
A paz, incapaz
Perdida a andar
Eu reconheço
Para que sonhar
Se há recomeço?
KARLINHA
Prossigo o caminhar e reconheço
Que embora existam pedras no caminho,
Há sempre o renascer e o recomeço
Inebriante e doce, suave vinho.
Após cada momento de tropeço,
Erguendo o meu olhar, não vou sozinho,
O amor é muito além de um adereço,
E nele, com coragem, eu me aninho.
Sentindo o aproximar de um novo sol,
Bonanças prometidas, claro dia,
Olhando bem de perto este arrebol,
Reverto o meu destino e volto a ti
Estrela soberana que me guia,
De magnitude igual, eu nunca vi...
138
Para que sapatear
Se o amanhã é o melhor
Não se sabe o que virá
Tanto faz se em dó menor
Engasgos, tropeços e escorregões
Nessa vida só carrego
As mais tenras emoções:
Cotações
Corações
Infindas desilusões...
KARLINHA
Por mais que sejam simples ilusões
Sonhar é derrubar velhas correntes
A vida é toda feita em turbilhões
Momentos de prazer são infrequentes,
Tomados por imensas emoções
A faca carregando entre meus dentes
Exposto às mais diversas tentações,
Aguando da esperança vãs sementes.
Eu creio no amanhã, e disso vivo,
Alívio para as dores costumeiras,
O coração aberto, o peito altivo,
Vertendo pelos poros, farto amor,
Espinhos são parceiros das roseiras,
Mas vale, com certeza, cada flor...
139
A solução
É a resolução
Do verbo em transição
Amar
Posto em ebulição
Nata da emoção
Poetar sonhando
Com sofreguidão
Viver sem discrição
De ter amado
Tanto a ponto
De
Desandar
O que estava
Pronto
E
Ponto
KARLINHA
Amar é ter nas mãos um infinito
Regendo constelares maravilhas
Seguir por cada estrada que tu trilhas
Certeza de um lugar bem mais bonito,
O amor não é somente um frágil mito,
Unindo num momento, simples ilhas,
Que outrora se distavam várias milhas
Gerando diamantes do granito.
Na força imensurável deste encanto,
Imensas alegrias ditam pranto,
Renasce dos escombros, primavera.
Amar é ser escravo e estar liberto,
Por mais que o caminhar pareça incerto
Apascenta a temível, dura fera...
140
Fim do dia que chega
Todo dia a mesma agonia
Saber que o que é seu não é meu
E o que é meu é só teu
Perda irreparável, tão negra
Quanto o fundo da noite
Que se espreita
Que tristeza, tanta tristeza
Fugaz na sorte, aspereza
Foi-se na poesia, tosco mote
Karlinha
O quanto desejei poder ser teu,
Fantasmas do passado perseguindo,
E tudo o que sonhei já se perdeu,
O amor, dura sangria, se esvaindo...
Cerzindo com estrelas, novo céu,
Vagando por espaços siderais,
A lua deslumbrando um claro véu,
Porém felicidade diz jamais...
Vencido pela ausência de teus olhos,
A negritude toma este cenário,
Aonde quis mil flores, vejo abrolhos,
O tempo de sonhar tão temerário...
E tudo que queria, num segundo
Perdeu-se neste torpe, tosco mundo..
141
A vida em seus mistérios traz o brilho
Que ofusca o meu olhar e me inebria,
Seguir com emoção sublime trilho
Que leva após a noite ao claro dia.
Alheio aos temporais, seguindo em frente,
Arisco caminhando entre penhascos,
No olhar a mansidão pura e clemente
Venenos esquecidos, velhos frascos.
Ascendo ao infinito e num instante,
Recebo da esperança a doce brisa.
Lapido com prazer tal diamante,
E a mão que acaricia, suaviza.
Por mais que seja farta a escuridão,
Espalhas claridade na amplidão...
142
Minha alma se prepara pro jazigo,
Eterno companheiro de meus ossos,
Os erros se amontoam, vão comigo,
Pecados, todos meus, são também nossos.
Amortalhando o corpo que se vai,
As lágrimas fingidas de quem fica,
O pouco do que fui assim se esvai,
Na morte a vida flui e se edifica
Remotas as lembranças, vida em vão,
Olhando de soslaio, vejo o fim,
Quisera ser semente, e deste grão
Brotasse nova vida, pois assim
Eternizando o mote/ vida e morte,
Seria bem diverso, o frágil Norte...
143
Decifrando os mistérios deste encanto,
Presença inesquecível de nós dois.
Realçando sutil o raro encanto
Vivendo a eternidade do depois
Depondo sobre nós as suas mãos,
O amor nos presenteia com a sorte,
Após tantos momentos, tristes, vãos,
Encontro nos teus braços o meu Norte
E vibro de emoção por ser apenas
Teu par na caminhada pela vida,
Manhãs que surgiram bem mais amenas,
E a dor há tantos anos esquecida.
Abraço tua sombra e tua imagem,
Perfaço ao Paraíso, esta viagem...
144
Sereno coração nega aparências
E vive da esperança mais sutil,
Deixando para trás tolas pendências
Aguarda outro momento em que gentil
Consiga ultrapassar cruéis abismos,
E teima em ser feliz; pobre imbecil,
A vida se traduz em cataclismos,
A cada nova curva o mesmo ardil.
Não quero me enganar, sigo sozinho,
Tristezas coletadas, mais de mil,
Avinagrando assim, o doce vinho,
Meu elo com a sorte se partiu.
E tudo o que mais quis, um céu anil,
Espalha-se outonal, em pleno abril...
145
Por mais que sejam simples os teus versos,
Eu vejo uma verdade insofismável,
Pudesse ter nos olhos, universos,
Talvez jamais seria tão amável.
Meus braços nos teus braços vão imersos,
Num mundo mais gostoso e confortável.
Antigos sentimentos tão dispersos,
Encontram um caminho navegável
Nas tramas deste amor que prezo tanto,
Que tem na sutileza seu encanto.
E sendo desta forma, me fascina,
Ao velho navegante aberta a fresta
O sol que adentra forte, já me empresta
O verso generoso da menina..
146
O gosto do pecado nos teus lábios
Profanas e divinas emoções
Nos versos fabulosos que compões
Delírios por si só, cruéis e sábios.
Perdendo os astrolábios, à deriva
Meu barco num naufrágio anunciado,
E o velho coração enamorado,
Mantém uma esperança alerta e viva.
Consolidado amor que assim nos farta,
E quando a poesia nos domina,
Jogada sobre a mesa, cada carta
Prevê um novo tempo de alegrias,
Nas mãos tão delicadas da menina,
Eu vejo o amanhecer de raros dias.
147
Eu trago dentro da alma esta certeza
Que um dia me fará, talvez, feliz.
Do amor eterna marca e cicatriz,
Que tento disfarçar, leda destreza;
E pondo as velhas cartas sobre a mesa,
Eu tenho na verdade mais que quis,
A velha poesia, meretriz
Desfila desdentada e sem leveza.
Riscando os céus encontro este cometa,
Que ronda qual satélite o planeta
E volta para o espaço sideral.
Mais vale o rebolado da mulata
Na imensa procissão tão insensata
Nos dias infernais do carnaval...
148
Batendo as minhas asas, vou a ti,
Das Minas para o Sul, verão inverno,
O quanto desejei amor eterno,
E muitas vezes, tolo, me perdi.
O verso que levava eu esqueci,
Porém estou vestindo um novo terno,
Se o imenso sentimento assim hiberno
O resto está na carta que escrevi.
Vou bêbado de luz, pobre falena,
Repito novamente cada cena
E abraço tuas sombras, teu recado.
Olhar pela janela e criar asas,
Voando vou liberto sobre as casas,
Até chegar enfim, ao teu reinado.
149
Não posso suportar tal sofrimento,
Antítese que atada pelo umbigo,
Transformando no inferno este momento
Num visgo que me atrai ao inimigo.
Imagem carcomida de um amor,
Que segue decomposta, mas nos ata.
Quisera ser, de fato, um bom ator,
Fingir; porém a vida me maltrata
E cospe no meu rosto, co’ironia
Apodrecendo os sonhos do passado,
Pudesse enfim conter esta sangria,
Soltando com vigor, um grito, um brado,
Tu és, eis a verdade uma alma gêmea,
Nas ancas os delírios de uma fêmea...
150
Há tempos que te devo este soneto,
Perdoe minha irmã, pela demora.
A distração é um erro que cometo,
Porém o meu amor jamais tem hora.
Mas saiba que me orgulho de poder
Dizer a todo mundo que te gosto,
Na batalha diária posso ver
A alegria estampada no teu rosto,
Da mãe zelosa, amiga e companheira,
Um simples pleonasmo, mas és mais
Andrea; em tua força costumeira
Tu dás a segurança de um bom cais.
Mesmo distante, trago-te comigo,
Além de teu irmão, sou teu amigo...
151
Lutar contra as diversas intempéries
Seguir de peito aberto, destemido.
As falhas, reconheço, são em séries,
Porém; já basta! Dou-me por vencido.
Quisera ter nas mãos um novo dia,
Criar da poesia, algum lugar,
Pasárgada; distante, fenecia,
Cometa que se foi não vai voltar...
Mas tento disfarçar e ser moderno,
Contemporâneos passos, velho abismo.
Lançando-me sem medo neste inferno,
Vagando sem paragem, louco, cismo.
Lutar contra a corrente, ah quem me dera...
A morte com sarcasmo à minha espera...
152
Chamando de meu louro este urubu
Trocando assim as bolas, vou em frente,
Mas” eu vou acabar ficando nu”,
Dormindo nas marquises, indigente.
Quem sempre se apressou e comeu cru,
Queimou a sua boca em prato quente,
Botafoguense vive jururu,
Porém um sofredor é insistente.
Você não me quer mais, mas e daí?
Amanhã nascerá e um dia
Talvez vá me querer quem não queria
Afinal, tanta coisa eu mereci,
Viver de uma ilusão, querida amiga,
Não enche de ninguém, sua barriga...
153
Menina requebrando na calçada,
Libido da galera vai a mil,
A turma fica toda alvoroçada,
Razão da vida está neste quadril.
Cadenciando o passo, ela percebe
Que todo mundo segue o requebrado,
Em cada olhar guloso que recebe,
Aumenta, com certeza o rebolado..
E assim caminha toda a humanidade,
Nas ancas generosas da mocinha
Filosoficamente eis a verdade,
Quem dera a piriguete fosse minha?
Tomando uma cerveja bem gelada,
Lembrando-me da moça da calçada...
154
Viver sem ter prazer, imenso tédio...
Vazio coração não tendo jeito,
Fingindo muitas vezes satisfeito
Procura na esperança algum remédio.
E tento disfarçar com placidez,
Um diamante falso, nada além
E quando a noite chega, insônia vem
Mergulho na completa insensatez.
E tomo mais um gole, outro cigarro,
Nas fimbrias da ilusão, logo me agarro
E finjo ser feliz... invento um caso
E bebo da alegria, esta falsária,
Minha alma vagabunda, simples pária,
Prepara-se afinal pro meu ocaso...
155
Quisera ter as mãos mais puras,
Sem marcas das sangrias e pecados.
Pudesse acreditar em tantas curas,
Cevar a fantasia em belos prados.
Por mais que minhas noites são escuras,
Os céus que procurei tão estrelados,
Distantes das maldades e torturas,
Os dias seguirão mudos, velados.
Fechando uma porteira, deixo além
O quanto desejava ter no bem
A solução final em plena paz.
Porém a cada dia, mais me afasto,
Fazendo do prazer o meu repasto,
Que nunca, na verdade, satisfaz..
156
A moça dos meus sonhos não me quer,
Deseja multidões, porém vou só.
Sereia no formato de mulher,
No pensamento sempre dando nó.
Vestido transparente e bem curtinho,
O vento faz a festa da galera,
Andando devagar, vai de mansinho,
Desfila pelas ruas. Quem me dera!
O amor tem destas coisas, sabes disso,
A gente quebra a cara vez em quando,
A moça não deseja compromisso,
Porém se bobear estou casando...
Ainda bem que a idéia está no forno,
Não tenho vocação para ser corno...
157
Se o meu vocabulário é mesmo chulo,
Perdoe se não sou tão erudito,
Na vida me virando em cada pulo,
Porém jamais ganhei alguém no grito.
Batráquio vez em quando sei que engulo,
Se vejo confusão, eu logo evito,
Mulher comprometida? Eu nunca bulo
O que falam de mim é simples mito.
Tomando uma cachaça vez em quando
Cerveja é muito cara pro freguês,
Dinheiro nunca chega ao fim do mês.
E desse jeito, amigo, vou remando,
Do jeito e da maneira que Deus quer
Topando qualquer coisa que vier...
267
Vou vendendo o meu peixe deste jeito,
Fazendo um arremedo de soneto
Que embora saiba nunca ser perfeito
É feito com carinho e com afeto.
Nos erros costumeiros que cometo,
Algumas vezes, minto e me aproveito,
E quando noutros braços me arremeto,
Pretendo na verdade ser aceito.
Passando pela vida simplesmente,
Fazendo do meu verso, meu abrigo,
Palavra muitas vezes delicada
No fundo, sei que engano a minha mente,
Tocando um velho tango tão antigo,
Pois de funk, me perdoe não sei nada...
10 268
Nascido no sertão de Quixadá,
Um coração moleque sertanejo,
Vibrando de alegria e de desejo
Vivendo tão somente ao deus-dará
Sonhando que outro dia chegará
Mostrando neste sol, o bem que vejo
O gosto da saudade num lampejo
Encantos que deixei, há tempos, lá;
Banhado nos riachos da esperança
Fazendo nas estrelas uma andança
Chegando num minuto ao infinito.
O rosto da manhã já sem disfarce,
A corda da lembrança que se esgarce
Traçando em minha vida um novo rito.
69
Nascido na pequena manjedoura,
No reino de Judá, sacra Belém,
O rei que perseguido é muito além
Do sol que sem perguntas sempre doura.
Dos Anjos, os avisos já diziam,
Que aquele que nasceu rei proletário,
Vencendo sem temor este adversário
Que os males e os fantasmas vis procriam.
Palavra do Senhor que nos redime,
Adorações, louvores, sem altares,
Falando nas montanhas, mil lugares,
O Amor sem ter limites, Verbo exprime,
E mostra a perfeição do Amor eterno,
Que traz a claridade em pleno inverno
70
Nascido em força intensa e vivo em nós
O claro e intenso fogo da paixão,
A vida se divide; antes e após.
Aposta em que faz revolução.
Na comoção que causa em nossa vida,
Numa ávida loucura que não cessa,
Confessa-se na força desabrida
Que a cada novo dia recomeça.
O corcel indomável que te espera
Deitada em minha cama, exposta e nua,
A pele bronzeada da pantera
A boca que se dá faminta e crua,
A fome insaciável que entornaste
Debaixo dos lençóis, me declaraste.
Marcos Loures
71
Nascido e só por isso condenado
A ter o quase nada como herança
Aquele que se viu já destroçado
Promete no futuro uma vingança
Depois de tanto tempo abandonado,
Na fome e na batalha, enfim alcança
O gosto do prazer já revelado
Enchendo com cadáveres, a pança.
Roubado a cada dia, em desamor,
Cuspidos nos sertões e lotações.
Na face deste povo em franco horror
Os gozos das chacinas e mortalhas,
Sem ter mais esperança em soluções.
Amores às carniças, nas batalhas...
Marcos Loures
72
Nascido de um momento mais sublime,
Verdugo de ilusões ,cala em meu peito.
Às vezes, insensato, me deprime,
Noutras já se mostra satisfeito.
Dos erros cometidos, me redime,
Em fúria estremecendo no meu leito,
Na sensação voraz remete ao crime,
Mortalha que emoldura do seu jeito.
Mas quando penso em ti, deusa vestal,
Recende teu perfume; raro olor.
Se torna levemente sensual.
Apascentando sempre, sem batalha,
Repleta meu caminho em puro amor,
Meu sonho, vivo fio da navalha...
73
Nascida no sertão, estrela d’alva,
Rainha dos desejos, nua e bela.
Enquanto o Paraíso me revela,
Perfumes de jasmim, lírios e malva.
Um Refém desta insânia não me canso
E vivo tão somente por poder
Sentir em frenesi, tanto prazer,
Cativo deste encanto, o teu remanso.
Cultivas com delírios, meu desejo,
Farturas que decerto vejo em ti,
Do amor em sedução farto e sobejo
A pérola raríssima que encontrei.
Sorvendo imensidão que conheci
Um pescador de sonhos, mergulhei...
74
Nasci para poder viver contigo
Legado tão fantástico que trago,
Sentindo o teu carinho e teu afago,
Nos braços de quem amo, o meu abrigo.
Por mais que a noite trague dor, perigo,
O amor tem o poder divino e mago,
Na placidez sublime, feito um lago,
Traduz tranqüilidade que persigo.
Não tenho mais os medos que sentia
Na estrada solitária, amarga e fria,
Sem ter tua presença junto a mim.
Agora que percebo quanto é belo,
O amor que num momento te revelo,
Florindo uma esperança em meu jardim...
10275
Nasci na batucada dessa vida,
Em pleno carnaval, sem esperanças.
A marca dum cigarro foi tingida,
A primeira e mais forte das lembranças...
Minha mãe, colombina noutra lida,
Fazia cada noite mais crianças.
Suas pernas abertas, foi tangida
Feito gado, nas danças, contradanças...
A velha prostituta enfim morreu,
Tuberculose escarra podridão.
Desses dez que pariu, sobreviveu
Um só moleque, feito solidão,
Minha sorte vadia, feito meu.
É que inda vou cuspir nesse teu chão.
Marcos Loures
76
Nasci em meio a tantas profecias,
Um filho que sonhavam velhos pais,
Qual fora da esperança um manso cais,
Apenas ilusões e fantasias.
Os bares e as andanças por orgias,
As noites entre putas, madrigais,
A seca se espalhou nos milharais
E as nuvens esconderam sóis e dias.
Hemoptises de uma alma insaciável,
Moldando este perfil de um suicida,
A mão que acaricia, já me acida,
E a vida se tornou insustentável...
No pútrido sorriso da serpente,
O bote que se espera, de repente...
77
Nasci em meio a crises mais febris,
Meus olhos vasculhando esse planeta.
No rosto transfiguras formas vis,
Vadia a vida vivo qual cometa...
Não pude conviver, as mães gentis,
Nem pude conhecer vida dileta.
Na boca que me beija já cuspis,
Nos templos que me matas, sou poeta...
Descido pelas cordas abastadas,
Meus restos espalhados nas searas...
As mães que me negaram são bastardas,
Um verme vasculhando sua loca.
Perdido sem saber sequer da toca,
Ganhei minhas heranças, tais escaras...
Marcos Loures
78
Nasci deste cometa que partiu.
Um pasto que composto não me basta.
Repasto indefinido quer buril.
O morro dos degredos verde pasta...
Quem disse que seria varonil,
A mão que não carinha, cedo afasta...
O trâmite correto nem um til.
A cada safanão já me desbasta...
Vendi meus patrimônios cerimônias...
Venci os meus fantasmas sem quermesses...
Nos olhos e na face tem criptônias
A banca de revistas minha esquina.
Os trapos que vesti me dão benesses
Na boca que beijei desta menina...
Marcos Loures
79
Nasceste; meu amor na flor de maio
Mostrando o teu encanto multicor
Na lua que mostrando seu desmaio
Debruça sobre o mar raios de amor.
Num acalanto breve da esperança
Num gesto carinhoso da paixão...
Na festa que se faz em louca dança
Nas cordas tão sonoras, violão...
Nasceste desta luz caleidoscópica
Do fim da tarde raro, inesquecível...
Achei-te como fora ilusão de ótica
Depois te percebi, amor incrível....
Não sabes por que em ti amor se aninha?
Nasceste simplesmente pra ser minha!
80
Nasceste tão divina dos meus braços
Em plena insensatez, noites titânicas...
Vivemos tão atados, redes, laços.
Nas emoções indômitas, atlânticas...
Eu quero majestosa nossa trama
Num lance irradiante fulminado.
Ardendo tremulante, em tua chama,
Rasgando o teu conceito de pecado.
Dardejantes olhares vitimizam
Um lasso coração de ti refém,
Nas mãos que tanto caçam, imprecisam,
Buscando em cada toque o teu também...
E vamos neste amor que é tão fremente
Nas vagas deste mar, mais envolvente...
81
Nasceste sendo minha. Sempre minha...
Transcende, nosso amor, ao infinito,
Ao mesmo tempo em que teu corpo vinha
Compartilhava enfim, num mesmo rito
Tua alma que em minha alma se avizinha
Num sonho interminável e bonito,
O corpo que ora aqui no meu se aninha
Na uníssona vontade em que eu habito.
Não me pergunte mais, se tudo que
A gente possa ter será talvez
Vertente de improvável sensatez;
Respostas; se eu procuro, sem cadê
Não cabem com certeza, explicação,
Seguindo sempre em mesma direção...
Marcos Loures
82
Nasceste para mim, eu não duvido,
Caminhos que entrelaças com doçura,
O bem que se deseja e se procura
Deixando a solidão em triste olvido.
No gozo da alegria repartido,
Não sinto mais nem medo ou amargura,
Teu braço com firmeza me assegura,
Momento quem em ventura é concebido.
Não deixe que isto acabe e sem tropeço
Ao Éden, Eldorado, sigo em paz.
Encontro muito além do que eu mereço.
Num agradecimento em cada verso,
O gozo que o Amor perfeito traz,
Unindo cada passo antes disperso...
Marcos Loures
83
Nasceste no netúnico reinado,
Em meio a tempestades, calmarias...
Cachalotes, medusas, conchas... Fado.
As ondas os abismos são teus guias...
Num grito aterrador, tão delicado,
As águas que te cercam, gelam, frias.
Marulho sempre mostra seu recado,
Nas lutas calabares, nas orgias...
Nasceste entre tritões, teus protetores,
Amante das estrelas e da lua...
És símbolo : prazeres loucos, dores...
Descansas teus cabelos, fina areia...
Meus sonhos te imaginam, bela, nua.
Rainha dos meus mares, és sereia!
Marcos Loures
84
Nasceste nesta terra árida e dura
Amanhecendo doces temporais.
Ribeiro de teus olhos, amargura,
Derrama sobre o solo águas e sais
Ainda que tentasse uma ternura,
Das farpas costumeiras mais e mais
O campesino sonho se procura
À foice e enxada, louros milharais...
Olhos esverdeados, azulejos,
E as alvas nuvens ditam os desejos
No avermelhado sangue socialista.
A luta continua, dia-a-dia,
Viver traz no seu bojo a poesia,
E a terra dividida; uma conquista...
85
Nasceste na nascente do universo,
Olhar primaveril tão envolvente!
Te canto mergulhado no meu verso,
Procuro teu olhar em toda a gente.
Meu mundo sem teu canto é tão disperso,
Em tristes melodias, de repente,
Transborda neste mundo. Sou reverso,
Avesso, sem te amar perdidamente!
Nos céus donde vieste, na alvorada,
Promessas benfazejas de fortuna!
A noite em tempestades, mais soturna,
Espreita, de tocaia, me alucina!
Eu canto esta canção desesperada,
Na espera de te amar, linda Celina!
86
Nasceste em meu desejo, rubra rosa,
Em sonhos infinitos, sensuais.
A boca que te busca desejosa
Sempre te quer muito, muito mais...
Desculpe-me esta fúria voluptuosa
Que não descansa nunca, nem jamais.
Na pele tão morena e mais cheirosa,
Vontade de te ter... Suor e sais.
Imagem delicada da mulher
Que sabe seduzir em mansos versos,
Além deste desejo que vier,
Além deste perfume, rosa amada,
Carinhos e delírios mais diversos,
Na noite, toda nossa, iluminada...
87
Nasceste em meio a urzes decompostas.
Esgoto que apodrece a céu aberto.
És serpe que envenena quando gostas.
Caminhas por latrinas, mar infecto..
A carne que te trai, devora em postas,
És aborto incompleto. Sei, decerto,
Das lanhas que já abriste em tantas costas.
Produzes com teus beijos, um deserto...
Meus dias ao teu lado, tristes lutos...
Descarnas os meus ossos com lambidas...
No pé, apodreceste tantos frutos.
Mataste vorazmente quem te quis...
As minhas mãos, em vão, vão decididas,
Cortar nossos destinos, infeliz!
Marcos Loures
88
Nascentes dos meus gozos, raras fontes
Adentro qual intrépido turista,
A cada novo ponto que se avista
Amplio do desejo; os horizontes.
Em vales, cordilheiras, grutas, montes
Geógrafo em prazer passa em revista
E toda a maravilha cedo lista
Ecólogo não quer outros desmontes.
Apenas desfrutar esta beleza
Que é dádiva sublime, com certeza
Da mãe Natura em festa, em fantasia.
Orgásticas lições; vou aprendendo,
Enquanto este rocio, percebendo,
Sorvendo com total, farta alegria..
Marcos Loures
89
Nascente maviosa deste Rio
Que mostra em suas margens, os segredos,
Deriva em esperanças, santo estio,
Deixando para trás tantos degredos.
Esquecimento amargo, duro e frio,
Provoca na minha alma velhos medos.
Porém na fonte insana principio
A trama delicada dos enredos.
Tesouros que guardados nas areias
Das praias onde o rio tem a foz.
Meu coração batendo mais veloz,
Em mãos audaciosas me incendeias,
Quem teve em seu passado curva atroz,
Recebe os teus carinhos, minhas veias...
Marcos Loures
90
Nascendo nos seus braços vou sem fim,
Em vaga tempestade que me esconda.
Navego em pensamento, sempre assim,
Morrendo em sua praia, pedindo onda.
Temo a fugacidade de um momento,
Vivendo em seu desejo, por inteiro.
Ao mesmo tempo quero o sentimento
Aprisionando; amor tão verdadeiro...
Mulher que sempre foi demais tão mansa e crua,
Ao mesmo tempo pinta e me descora.
Vagando pelas ruas, alma nua,
A boca que me beija me devora...
Nas fases deste amor, tão fera e calma,
A lua lhe entranhando lhe traz a alma...
91
Nascendo das estrelas mais brilhantes,
Da lua que me cobre em raios claros;
Nós somos sonhadores navegantes
Degustando sabores que são raros.
Jardins de tantas flores faiscantes
Nos servem de consolo, bons amparos,
Em sentimentos puros, castos, caros
Das dores, dos apuros, bem distantes.
Que noite sempre surja venturosa
Traçando uma esperança em cada verso.
Recebo com carinho tua rosa,
Trazida em belo gesto, amor sincero.
Desculpe se pareço-te disperso,
Mas sabes, meu amor, quanto te quero
92
Nas vozes de meus sonhos, tão diletas
Escarras com escárnio mais feroz,
Teu riso na verdade é meu algoz
E corta em profundezas, finas setas.
Sombrios teus desejos, frias metas,
Cortantes, perfurando, nega a foz
Do quanto percebera, vou veloz
E as horas; em verdugos sais, completas.
Encardes com teus cardos alvos linhos
Fantoches do que fomos; vão incertos,
Atingem meus segredos pelos flancos,
Apodrecendo agora velhos ninhos
Prometes tão somente tais desertos
Turvando estes quereres antes francos...
93
Nas vísceras expostas, postas paz...
Cada pústula repulsas postulas,
Mas és éter, flutuas. Tuas gulas
São meus guias, vadias; vou atrás.
Se temo teu veneno traz antraz.
Se cedes teu remédio, negas bulas...
Devoras, todas horas, mas anulas...
Teu beijo pedra, perda, Satanás!
As mãos vãs e vazias vagam vilas,
Das frestas frenesi, fórmicas, filas...
Dos céus véus e meus veios, meios, fim...
Sexo verbal, venal, vogal verdades...
A saúde amiúde traz saudades;
Veleidades, vazio vago assim...
94
Nas vezes que persigo seus segredos,
Amor em plenitude trama os dias,
Deixando os desencantos ermos, ledos,
Numa expressão sublime, galhardias.
Vencer dos descaminhos os penedos,
Urgindo no final, benfeitorias.
Arcaicas e prosaicas servidões,
Não servem como lastro para o barco
Aonde além de termos os porões
Encontro este Eldorado que ora abarco,
O Amor fiel aos sonhos e emoções,
Transforma o sofrimento em mero e parco.
No canto majestoso da graúna,
A solidez concreta da braúna!
95
Nas vestes que adornavam meu passado
Em vivas ilusões foi-se meu mundo.
Se sinto meu amor abandonado,
O sono que embarco é tão profundo.
Caminho nos botecos, nas bodegas,
E bebo até não mais poder sair.
Vagando pelas ruas, nas entregas
Encontro esses amores sem pedir.
Mal chego a minha casa, estou vazio.
Ressaca se promete verdadeira.
Na cama, revirando, sinto frio
E deixo esfumaçar a vida inteira...
Sorrindo recomeço minha sina.
O coração deixei em cada esquina...
96
Nas ventanias verbos regulares,
Nas costas das meninas as vergastas...
Cafezais e rebanhos meus pomares...
Mulheres e crianças, velhas castas.
Os jovens vão lutando por Palmares.
Nas bocas escancaram sangue em pastas.
Pelas ruas definham morrem pares.
Os olhos vomitando e não te afastas...
Em todas ventanias revolutas,
Em tantas esmeradas ditaduras
Nas praças e nos portos, tantas putas,
Não sei de qualquer ato sem torturas,
Por mais que mentirosa, me refutas,
As noites que vivemos são escuras...
97
Nas velhas putarias do Congresso
Vendetas e leilões, farta ganância
O nojo me tomando, assim confesso
O quanto isso se mostra em tal constância;
Apenas o que resta é o meu avesso.
Na pança da canalha, a morta infância
Servindo de alimento à corja vil,
Em tantas bacanais negras orgias,
Matando pouco a pouco o meu Brasil
Exposto a tantos cortes e sangrias.
Aquele que se mostra varonil
Devora as pobres putas e vadias.
Amores, amizades, com ternura,
Na carne que é servida com fartura...
Marcos Loures
98
Naufrágios de nós mesmos, irmandade
Nas ânsias e desejos incontidos.
Torpores invadindo em quantidade
Deixando para trás dias sofridos.
Amor vai dando à vida qualidade
Anunciando dias comovidos,
Teus passos transmitindo a liberdade
Tão firmes, sempre vão mais decididos.
A boca que ofereces, num sorriso,
Receberá meus lábios, com certeza.
Mergulho que se faz sem dar aviso,
Enfrenta com vigor a correnteza,
E assim, ao conceber um paraíso
Roubamos deste amor, farta beleza...
Marcos Loures
99
Naufrágio do desejo
Nos braços prediletos,
Num lindo relampejo
Meus sonhos mais completos.
Na boca roça o beijo,
Numa expressão de afetos
A cada dia vejo
Prazeres tão concretos...
Viajo sem malícia
Teu corpo divinal,
Tocando com perícia,
Num rumo sem igual,
Vivendo esta delícia,
Do amor tão sensual...
10300
Naufragando essa vida, num contexto,
Procuro por tais flechas que m’atiras...
Não quero mais saber de teu pretexto.
Nem quero conviver com tais mentiras.
Anos passam, amores são bissextos,
Velhas matas cascatas rotas tiras...
Esquecendo palavras do meu texto,
Nas sanfonas dançavas nos catiras...
As vozes que se calam sabiás;
As bocas que se beijam pedem paz.
Os olhos que se queimam nunca riem,
Impedem os que pensam vidas criem...
Não quero mais naufrágios da saudade...
Madrugaste tristezas falsidade...
Nenhum comentário:
Postar um comentário