domingo, 24 de outubro de 2010

7437


Há tanto o que dizer e nada falo
Olhando a procissão de imensos nadas.
Na contramão do tempo, num estalo
São velharias nossas madrugadas.

O que pensara ser algum regalo,
Desvios feito curvas nas estradas,
Inúteis minhas mãos criando calo
As almas sem amor, aposentadas.

Desisto! Dos amores que eu sonhava,
A velha poesia, amarga escrava,
Ultrapassada, arcaica e tão somente

Estúpida maneira de expressão,
Matemos desde já o coração,
Plantemos do vazio, uma semente...


7438

Irei aonde a vida latejar
Rasgando o coração de quem sonhara,
O tempo apodreceu o meu pomar
Enegrecendo a sorte outrora clara.

Deixando no passado aurora e mar,
Levando as esperanças em tiara.
Nos astros procurando sem parar,
Estrela- fantasia; luz tão rara.

Quem dera se encontrasse algum motivo,
Das dores e temores eu me esquivo
E encontro após a dura tempestade

No braço benfazejo da alegria
Estrela divinal que enfim me guia
Moldando em meu caminho, uma amizade...


7439

Ira santa tanta luta, bruta força...
Quebram sinas, sinais dos assassinos...
Caçam moças, almoçam mansa corça...
Matam tempo, queimando os meninos...

Canalhas suas tralhas quebram louça
Farsas expostas rostos, desatinos...
Gerações abortadas, sangue, poça...
Destruindo desejos e destinos...

No sem juízo, escarro, convulsão.
Nos sem telhados, fados, riscos, chão;
Dos meus olhos vermelhos, verminose...

Gerações abortadas, fina hipnose...
Prelúdio de canções sem ter beleza
Os mortos esquecidos sobre a mesa!
Marcos Loures


440

Invoco o testemunho de quem mente,
Somente por saber que ainda creio
Na doce sensação do amargo anseio
Uma expressão medonha de um demente.

Queria permitir-me pra semente
Sereno vergalhão, mas não há meio,
No quanto quis o trigo só centeio
Quisera outra palavra mais contente.

No parto inusitado, nasceu flores
Aonde ervas daninhas; esperava,
Rompendo da ilusão a antiga trava

Espero do prazer fartos odores.
Melancolia é coisa de cinema,
Mas servirá também para um poema...


441

Invisto nos espaços sem dar tréguas,
Dos versos caminheiros, bebo os rastros,
Liberto, alçando estrelas, venço léguas
E sigo bem de perto lumes, astros.

Fervilha o pensamento nesta busca,
Sofreguidão, loucura ou frenesi.
Nem mesmo a sanidade, o sonho, ofusca
Vestindo a realidade, eu me perdi.

E teimo sem paragem, vou à toa.
Esfumaçada noite em nuvens, chuvas.
A voz dos meus anseios inda ecoa,
As mãos vazias buscam velhas luvas,

Caminhos que se fez em morros, curvas,
Procuro pelo sol, mas cega, enturvas...
Marcos Loures


442

Invisibilidade, eu bem queria ter,
Andar por astros - livre. E desta liberdade
Usufruir. Mas vejo o quanto posso crer
Na face em que se espelha amor feito amizade,

Olhando pra mim mesmo, encontro o nada ser
Senão a mão cansada em busca da verdade.
Por vezes também sonho algum novo prazer,
Porém nada encontrando, a solidão me invade.

Reparto o que partira em partos renegados.
Açoito uma esperança, algoz e necessária.
Na cárie que se expõe; os dias vãos passados.

Entrego-me ao vazio e nisso, sou feliz.
Amiga a nossa sorte é sempre temporária
Que dera se eu tivesse a vida por um triz...


443

Investes travestida de vestal,
Embora te conheça rapineira.
A morte sempre foi teu pedestal,
De luto enegreceste esta bandeira.

Misera serventia no final
Fazes do que jamais terás.Certeira
No traiçoeiro bote. Canibal!
Envolta na mortalha, carpideira.

Espíritos maléficos, teus guias.
Abortas sentimentos mais humanos,
Os sonhos que me deste, são profanos.

Das bocas que escarraste vêm sangrias.
Fingiste venalmente. Não perdôo!
Nas asas abutrinas podre vôo!
Marcos Loures



444

Invernosa, minha alma adormecida...
Os sonhos cristalinos : aflições!
Infernos que renascem, minha vida...
Tantas vezes luares e sertões,

Agora simplesmente vai perdida,
Longe das auroras e verões.
Derretem-se geleiras nesta brida.
Sina, caldeirão pleno de ilusões!

Canário que cantou nesta gaiola,
O coração não sabe dos amores...
Amor nunca se aprende nesta escola...

Minha alma adormecida, noite fria...
Minha Nossa Senhora, minhas dores,
Na triste madrugada, uma agonia...
Marcos Loures




45

Invernos que enfrentamos, minha amada,
Sulcando nossas peles, enrugando,
A juventude vai abandonada
E o tempo, sempre incólume, passando.

Andrajos de esperanças perambulam
Ninguém quase repara nos escombros,
Porém doces certezas nos açulam
E o vento vai erguendo nossos ombros

Tesouro de outros dias, as paixões
Ainda retumbando no meu peito,
Acercam as penumbras de ilusões
Deitando-se, serenas neste leito

Aonde nossa doce mocidade
Encontra em paz amor e liberdade...
Marcos Loures



46

Inverno que se dá sem ter estio
Distante em meu passado foi à toa.
Vem à tona o desejo em que me fio
A noite do prazer de novo soa.

Tocando na vitrola um velho blues
Chamando para a festa dos sentidos.
Os olhos da vontade são azuis
Acendem meu amor, minhas libidos.

Energia que se emana nesta dança
O tempo de sonhar já não se acaba.
Vivendo o meu destino, uma esperança
Na mata, na tapera, casa ou taba.

Os signos se combinam, com certeza
Astros convidando cama e mesa...


47

Inverno dentro da alma me conduz
Ao medo de ser livre, e ter enfim
A mais sublime flor deste jardim
Desnuda sobre os céus, intensa luz.

Enquanto a poesia me seduz
Dizendo que serei feliz, em mim,
Ouvindo da esperança o seu clarim
Arranco num momento, pedra e cruz.

De amores, um eterno passageiro
Procura de teu corpo ser posseiro
E bebe cada gota de ilusão.

Quem sabe noutras vidas, noutras eras
Invernos transbordando em primaveras
Permitam a quem ama, este verão...
Marcos Loures


48

Inverno aqui no Sul, verão no Norte
Hemisférios diversos, mas atados
Em sentimento verdadeiro e muito forte
Fazemos nossa festa, enamorados...

Aqui de paletó, lá roupa esporte
Caminhos diferentes, mas fadados
A terem num momento a mesma sorte.
Lancemos, pois, assim, os nossos dados.

E vamos ao banquete da existência
Tomados pelo amor, em seu convite
Amando sem fronteira e sem limite

Em cantos de emoção sem penitência.
Dançamos nossos corpos, louco cio,
Aqueces com certeza inverno frio...



49

Invento um novo dia sem fastio
Portando em minhas mãos verso ou adaga
A vida me cortando enquanto afaga
Velocidade imensa, vento frio.

Sacrílega emoção inverna estio
Lacrimejante sonho então me alaga
Saudade com carinhos quando é paga
Restituindo em nós antigo fio.

Sombria madrugada se aproxima
Neblina vai tomando nossa estima
Calado, resta o peito e nada mais.

Dissabores florescem nos meus olhos,
Recolho a fome e o medo, vários molhos
Imagens distorcidas; perco o cais...
Marcos Loures



7450

Invento minhas penas, minhas dores?
Não sei se isso é verdade, mas se dizes...
Só sinto que se tenho meus temores,
Pressinto que isso nos faça felizes.

Amor que não sufoca não permite
Que amar se sinta intenso e verdadeiro.
Amar é perceber sempre o convite
De sermos mais além, além de inteiros.

No diamante raro, tantas trincas,
Aflige a sensatez, insânia cura...
Maltrata a lucidez, decerto brincas,
Louvando esta loucura com ternura.

Se choro de alegria, me transtorno?
Se dou demais, porque de amor me entorno?
Marcos Loures



51

Invento mil palavras e imagino
A doce fantasia que inda possa
Fazer um palacete da palhoça
Roçando os meus desejos de menino.

O sol de uma esperança quando a pino,
Prenúncio desta chuva que me empoça,
Minha alma sertaneja não se apossa
Do olhar desta morena, diamantino.

Sonhar é permitido. Ainda bem,
Senão a solidão depressa vem
Tomando num segundo todo o espaço.

Vencer a madrugada, crer no dia
Que espalha em luzes fartas, poesia,
Dourando este caminho que ora traço...
Marcos Loures



52


Invado tuas sendas com desejos
Insanos de prazer que não se acaba.
Um mundo em maravilha se desaba,
Cobrindo nossos corpos, com mil beijos...

Teu corpo sedutor, úmidas tocas,
Em lábios, língua, dedos, penetrando,
O sexo sem limites, logo alocas,
E sinto-te,querida enfim gozando.

Por todos os lugares que quiseres,
Adentrarei com fome e com vontade,
Bendita sedução que entre as mulheres
Encharca com total felicidade.

Nas coxas, seios, ânus, boca e sexo
Dois corpos que se fundem, perdem nexo...


53



Invado teus castelos, cavaleiro;
Montado em meu rocim, branco e veloz.
Deitando em tua cama logo após
Abraço-te num sonho mais faceiro

Quem dera se isto fosse verdadeiro
A vida não seria tão atroz
Calando a minha boca perco a voz
E sinto-me tristonho por inteiro...

Distante de meus braços, resta o sonho
Mas mesmo assim, audaz; eu te proponho
Um dia sob estrelas namorar.

Recebo tais lufadas deste vento
Do amor que me invadiu o pensamento
E vôo para ti, num galopar...



54

Invado com calor
Teu corpo tão ardente
Fazendo nosso amor
Com força de semente.

Serei teu lavrador
Arando mais contente,
Canteiro tentador
Mexendo com a gente.

Nas águas deste Porto
Nas ruas deste mar,
Amor que estava morto

Fomenta sem parar
Granando com vontade,
Trazendo a liberdade...
Marcos Loures


55

Invado as tuas ilhas do desejo,
Penetro em cada ponto, me sacio.
À noite no delírio de um festejo,
Não desperdiço, amor, nem mais um cio.

Deitando em tua nudez, eu sempre vejo,
Calor que já mitiga todo o frio,
Prazer que pela pele, sim, poreja;
Amando sem parar, horas a fio...

Matar a nossa sede, sem limites,
Num mundo de alegria, formidável...
Das grutas conhecer estalagmites.

Depois de navegar tantos caminhos,
Vibrar nosso desejo insaciável,
Adormecer um mundo de carinhos...



56

Invadir o teu corpo com carícias
Tomando teu desejo para mim.
Formando em nosso amor tantas delícias
Vibrando sem parar, chegar enfim

A todo este prazer, tantas malícias,
Mil êxtases roubados sem ter fim,
Em nosso corpo as marcas das sevícias,
Mordidas, cicatrizes, quero sim...

Lambendo tua pele tão suada,
No sal tão desejoso, me afogar.
Rompendo a noite inteira, a madrugada

Orgástico delírio consoante,
E louco sem juízo, me entregar
Aos braços da mulher, divina amante...



57

Invadindo teu corpo enfim desnudo
Lábios audaciosos, língua quente.
Usando este prazer que é nosso escudo
A noite vai passando qual demente.

Recebo de teu gozo em enxurrada
Lufadas de desejos e vontades.
E cada curva está bem demarcada
Com todos os sinais- saciedades...

Meus dedos vão buscando pelos cais
Misturam nossos pelos no suor.
A fome tresloucada pede mais
E cada vez que vamos, é melhor.

Em meio a travesseiros e cobertas
Fazemos toda noite, descobertas...
Marcos Loures


58

Isabela, bela Isis, minha luz!
Abelha-mel que adoça e que maltrata.
No mel desta colméia se produz
Enigma que me educa enquanto mata.

Desejo de deslumbre, de alcaçuz.
Na picada feroz amor retrata,
Carinho de guerreira, de um obus...
No verso que lhe faço, me destrata...

Beijando e me mordendo sem pudores
Amante desejada, quero o mel!
Vasculha por destinos, fossem flores...

É manto que me caça e que me alcança.
Amor tão mavioso de Isabel,
Pacto que fiz com Deus, nossa aliança...
Marcos Loures


59

Irônico um babaca sem talento,
Estúpido boçal já não se cansa
Enquanto perturbando enchendo a pança
Da merda em que vomita o seu intento.

Sob óculos se esconde o perebento
Que as mãos da poesia não alcança
Sem ter nem qualidade tenta a dança,
Mas saiba que eu estou bem mais atento.

Ao coice desferido pelo jegue,
Eu mando pro diabo que o carregue
Com pena do demônio, do capeta,

Pois ter que suportar tal elefante
Que sendo tão “sutil” a cada instante
Demonstra o que queria ser: poeta!


7460

Irônico festejo em meu velório
Gargalham os abutres, vou exangue.
Os restos vãos expostos num empório
Na taça cristalina, rum e sangue.

As vísceras expostas, bacanais,
Orgástica e vampírica luxúria.
Instintos demonstrados, bestiais
Nos olhos tresloucados, riso e fúria.

Incúrias espalhadas pela casa,
Tetânicas molduras tão voláteis,
O fogo da mentira que me abrasa
Tentaculares pêndulos contráteis.

E o lúbrico sorriso com sarcasmo
Da morte que perpetra um vão orgasmo.
Marcos Loures


61

Irmã da solidão, a tal saudade,
Deixando o pensamento mais disperso.
Prodígio dos amores sem verdade,
Tramando toda a dor em triste verso.

Amiga, de tais forças és refém,
Mas conte com meu braço companheiro.
Bem sabes que na vida, sem ninguém,
O dia se parece derradeiro...

Mas vamos destruir essa irmandade
Que faz do nosso peito, amargo ninho,
Matando a solidão e a saudade,
Por certo terás paz em teu caminho.

E conte com apoio e com meu braço.
Trazemos irmandade, em forte laço!


62



Iridescente brilho toma conta
De todo o meu canteiro em doce aroma,
E quando o sol ao longe já desponta
O coração inquieto enfim se doma.

Flutuo nesta imagem, volvo o olhar
Ao prisma que se cria nos teus olhos,
E aprendo finalmente a cultivar
Mesmo que existam flores entre abrolhos.

Decifro tais mosaicos e arabescos,
Caleidoscópios vários multicores,
Outrora pesadelos vãos, dantescos,
Agora auroras raras nos albores.

Ninando a poesia a voz amável
Do encanto entre mil cantos, formidável...



63

Iremos, libertários. Asas. Céu,
Vagando constelares esperanças.
Por mais que a noite venha tão cruel
O quanto se percebem novas danças

Fazendo desse sonho um carrossel
Trazendo nos meus olhos as lembranças
De um tempo mais gostoso, estende em véu
As rotas colidindo em alianças;

O tempo de viver felicidade
Entende ser possível claridade.
E ao fogo deste jogo nos compele.

Assim seguindo a roto da alegria
Seguimos mesmo em simples poesia
Atados: braços, olhos, corpo e pele.
Marcos Loures



64

Iremos viajar ao paraíso
Na plena sensação do nosso gozo.
No toque mais sutil e mais preciso,
Tão leve e tão sublime, mavioso...

Sentir esta umidade desejosa
Nas bocas e nas sendas mais divinas,
Mergulhar minha sede carinhosa
E beber tuas fontes cristalinas...

Sorver cada gota do desejo
E não deixar sobrar nada afinal,
Na louca sensação do manso beijo
O gosto do prazer... É sensual.

Invadindo sem medo de disputas;
Conceber as enchentes, rotas, grutas


65

Iremos nos amar de madrugada
As bocas percorrendo tantas sendas...
Searas que descubro em minha amada,
Aberto o coração, vislumbro tendas...

E sinto no teu corpo, meu desejo...
Nos mares que navego, cada porto,
Receba meu carinho, manso beijo.
De tudo que pensei ‘stivesse morto..

Amar é conhecer que o infinito
Limita o sentimento que nos une,
Amor tanto sublime quão bonito,
Ao mesmo tempo cura e já nos pune...

Quem dera se eu morresse neste instante,
Em que sou seu carrasco e seu amante...


66

Iremos desfrutar cada momento
Deitando com prazer, luzes intensas
Bebendo deste encaixe, as recompensas
Deixando para trás qualquer tormento.

Por mais que o vento venha violento,
Distâncias pra quem ama, nunca imensas,
As bocas se procuram, e mesmo tensas
Expressam neste beijo o sentimento.

Tu és a companheira deste sonho
Que tanto quero, vire realidade,
O amor sem preconceitos te proponho

Sorvendo cada gota, até fartar.
Rompendo sem juízo, as velhas grades,
Conluio em perfeição de lua e mar...
Marcos Loures



67

Irei sobreviver, esteja certa!
Juntando os meus escombros, vou em frente.
As dores já serviram como alerta
O tempo vai mudar, disso estou crente.

O céu desanuvia num momento,
Um azulejo exposto faz pensar
No fim abençoado do tormento
Promessa de uma noite de luar.

Meus olhos na procura que não cessa
Procuram algum lume que inda luza.
Porém a noite em trevas segue imersa
A vida segue em mágoas, tão confusa.

Não posso mais sonhar. Ah! Quem me dera!
De tocaia, espreitando, a mesma fera...
Marcos Loures


68

Irei junto contigo par a par
Cantando cada verso em noite clara,
Sabendo o quanto é bom poder te amar
Que a vida no teu lado se antepara

E nada neste mundo vai secar
A fonte em que este sonho já se ampara
Deixando para trás a sempre amara
Estância onde a saudade faz brilhar

O medo de viver em liberdade,
O medo de cantar amor sincero,
Teu sonho na verdade o que mais quero,

O teu querer gostoso de sonhar,
Vem logo me trazer a claridade
Deitando em tua rede sob luar...
Marcos Loures


69

Irei contigo, amada sem descanso,
O mundo inteiro cabe em nosso amor.
Refaço este horizonte encantador
Pensando neste sonho em que alcanço

Teu corpo em branca areia, num remanso,
Sereia que me trouxe este calor,
No colo, no teu seio acolhedor,
Meus dedos, meu carinho, assim avanço...

Bebendo desta fonte prazerosa,
Descendo cada lábio em descaminhos.
Desfolho e despetalo, amada rosa.

Jardim que é feito em gozo, em mil carinhos,
Tornando a casa inteira mais formosa,
Acolhe e assim perfuma nossos ninhos...
Marcos Loures


7470

Invade, apascentando um vil tormento
Paixão que me inebria e me entontece,
O quanto revoltoso, o sentimento
Ao mesmo tempo nega e se oferece.

Redijo em cada verso, entôo em loas
Expresso o quão sedento estou agora,
O canto que te trago; sempre ecoas
E a sede se aplacando revigora

Exausto, adormecendo no teu colo,
Completo, pois repleto de prazer
Fecundo com ternura, a terra e o solo,
Depois, é só com calma recolher

Da vida que se dá sem penitência
Amor, uma divina providência.
Marcos Loures


471

Invadem em momentos mais bonitos
Falenas procurando um vago lume,
Fazendo deste sonho, nossos ritos
Encharco a minha vida no perfume
Nascido nos canteiros infinitos,
Matando erva daninha, este ciúme...

Em versos e poemas não me canso,
Emérita emoção que já transborda.
O rio que percorro; agora manso,
Floresce mavioso em cada borda.
O sonho alvissareiro enfim alcanço
Atado em teu amor, serena corda.

Vibrando de emoção, vou todo dia,
Encontro o paraíso que eu queria.
Marcos Loures


72

Invadem em delícias cada peito
Sentimentos sutis e dominantes
O quanto os meus desejos são constantes
A cada nova noite eu me deleito.

A vida se mostrando desse jeito
Em raios e vontades deslumbrantes
Não deixa que se perca por instantes
O rumo em que o amor vai satisfeito.

Um coração que sei ser vagabundo
Vagando num segundo todo o mundo
Espera a serventia do teu cais.

No porto feito abraço, ancoradouro,
No corpo da morena o meu tesouro,
Querendo deste gozo sempre mais...
Marcos Loures


73

Inútil devoção do agricultor,
Traduzida na safra já perdida.
O quanto desejei em minha vida,
Aborto que se fez enganador.

Não tendo quase nada a te propor
Apenas o vazio, eu sei querida,
Sem portas ou janelas, a saída
Não tendo qualquer face, é sem valor.

O joio se espalhando no trigal
Impede uma colheita com certeza,
Não tendo assim mais nada sobre a mesa

Não quero e não suporto este bornal.
A vida que cevou desilusão,
Espalha por semente, a negação...
Marcos Loures



74

Inútil caminhar se nada tenho
Senão a velha manta já rasgada,
O tempo não dizendo quase nada
Fechando a tempestade, amargo cenho.

Nos versos a paixão tentando empenho
Não vê que ainda busca a mesma estrada
Que, brusca, sonegou minha escalada
Montanhas tão distantes de onde venho.

Desejo algum farnel no meu bornal
Retorno e o que me espera, sempre igual
Não deixa qualquer chance, e assim me perco

Vencido há tanto tempo, destruído,
O que sobrou em nós, leva ao olvido
Canteiro enfrenta a seca sem esterco..


75

Inúteis tentativas, com certeza,
Findando a fantasia; resta o quê?
Saber que ainda guardo aqui você
É ter já maculada a fortaleza.

Enveredando o rio, a correnteza
Na qual minha alma tola ainda crê,
Morando num casebre de sapê
Banquete de prazeres quebra a mesa.

Chegar de manhãzinha e a encontrar
Fazer o seu café, quentar o leite...
Por mais que algum lirismo ainda espreite

E tente um raio tímido; o luar
Há tanto se escondeu e não voltou,
E o que eu julgara doce se acabou.



76


Inundo-me de ti e transbordando,
Tomando toda a margem, busco o mar,
Na foz das emoções vou me banhar
Com o belo luar nos decorando.

Que o vento seja sempre calmo e brando,
E nos permita o sonho, navegar,
No etéreo sentimento este ancorar
Imenso sol deveras nos tocando...

Fartura na colheita prometida,
Frutificando a paz em nossa vida,
Augúrio desejado e recolhido,

Na esmeraldina luz que banha o sonho,
O quadro mais sublime que componho,
Trazendo ao meu viver, prumo e sentido...


77

Inundo de desejo o teu recinto,
Afogo esta vontade de te ter.
Nas cores deste sonho eu já me pinto
Bebendo a conta-gota o teu prazer.

Vulcão que imaginara estar extinto
Trazendo tanta lava a percorrer
No jogo feito amor, às vezes minto,
Mas sempre um bom motivo eu penso ter.

Percalços nesta estrada tão diversa,
Beiradas escondendo as armadilhas.
A nuvem que cobria vai dispersa,

Porém o temporal virá depois.
No quanto quero o sonho de nós dois,
O amor vai prosseguindo em outras trilhas...
Marcos Loures


78

Inundando esta imensa vastidão
De toda uma esperança, reamar.
Na força da enorme da paixão,
A cada novo sonho te encontrar.

Bebendo desta luz em explosão,
Navego tão profundo e belo mar,
Nos vórtices mais altos, coração,
Sangrando e se entregando sem pensar...

As águas tão distantes da amargura,
Se vão em cachoeiras de prazer.
Na noite tão profusa uma ternura,

Tomando pouco a pouco este meu eu,
Na luta por poder sobreviver,
A força deste amor já me venceu...


79

Inundação em gozos nos inflama
Demonstra toda a força da paixão.
O quanto desejei ter tua chama
Tomando com loucura o barracão;

Incêndios programados que aliviam
As dores que trazemos de outros dias.
Nos jogos que decerto nos viciam
Delícias derramando poesias.

Amor que na verdade não precisa
Do verso pra saber que tem valor.
Sabendo quando quer ser brasa ou brisa
Estrela deste mundo encantador

No palco desfilamos velhas cenas
Divinas explosões; doces e amenas...
Marcos Loures


7480

Intriga que me instiga o tempo todo,
Falar da vida alheia e da vizinha
Se deu ou se não deu, nunca foi minha,
Na moça eu não passei, garanto, o rodo.

O amor que imaginei foi puro engodo,
A festa que sonhei, nem mesmo tinha
A boca desejada da gatinha
Fedia feito mangue, podre lodo.

Pacatos seresteiros; nunca mais,
A lua é sem vergonha e se abrindo
Mostrando o seu brilhar risonho e lindo

Tentando desfrutar dos bacanais
Agora vem vestida de cocota,
Cuidado que este ultraje se amarrota...


81

Intra-uterino esboço de um fantoche
Que vaga pelas noites, bar em bar.
Fazendo de mim mesmo este deboche,
Não terei nem lugar pra descansar.
Perdido, sem ter bonde, trem ou coche,
O quase que tentei se fez ao mar.

Encosto meus olhares no vazio,
Adorno com palavras maus sucessos.
Nos erros e derrotas, me vicio.
Pecados todos eles são confessos,
Mordaças que eu buscara e não mais crio,
São quase de minha alma, os adereços.

Arranco os olhos, cuspo em meu retrato,
O amor que não floriu, quebrando o trato...
Marcos Loures


82

Interminável noite em minha vida;
Os maços de cigarro se sucedem
Na dança encharcada por bebida
Os olhos desejos não mais pedem...

O canto se findou sem contracanto
Morrendo sem ter paz, já não percebo
O gosto que fizera tanto encanto
Nem gesto de esperança, enfim, concebo...

Sou ermo vou sem remo e sem coragem,
A madrugada em lástimas transcorre.
Perdendo o meu caminho na viagem,
Apenas um silêncio me socorre.

O telefone toca. Quem me liga?
Clareia num segundo, a voz amiga...


83

Interminável festa dentro em mim
Ao ter tua presença, amada amiga.
Vivendo esta alegria, sinto enfim,
Poder de uma ilusão, incrível viga.

Por vezes tão sozinho, nada via
Senão a mesma sombra transtornada,
Cansado desta inútil fantasia
Que traz, no dia-a-dia, o mesmo nada

No peito crocitando a sensação
Do agouro tão fatídico de um corvo
Repetindo deveras o refrão
Da negação estúpida em estorvo.

Imagem desdenhosa que se muda
No pássaro, ao chegar tempo de muda...
Marcos Loures


84

Interessante, às vezes me lembrar
De como começou o nosso caso,
Eu quase te perdi. Fora do prazo,
Por pouco não deixava-te escapar.

Te via e quase nunca percebia
O brilho dos teus olhos sobre os meus,
Dizia tantas vezes: Vai, Adeus.
E não te imaginava e nem podia...

Cansado desta vida só e a esmo,
Já tinha me esquecido de viver,
Meu sonho adormecido, sempre o mesmo,
Não tinha nem resquícios de prazer...

Mas quando eu percebi; meu coração
Atado nesse fruto temporão...


85

Interessante quando nós pensamos
Na vida em suas dores e alegrias...
Tantas vezes sabores encontramos
Nas coisas que vivemos, nossos dias...

Quem sabe do amargor da solidão
Conhece todo o mel desse prazer.
Quem guarda todo o doce da emoção
Recebe todo o fel quando perder...

A vida se refaz, meu companheiro,
Não temas esse amargo que te toma.
Nem penses em doçura o tempo inteiro.
A vida se resume nessa soma...

Seria tão ruim se a vida fosse,
Só mel ou fel, por isso é agridoce...


86

Interessante como muitas vezes
Andando solitário pelas ruas
Onde eu procuro nesses tantos meses
Rastros dessas estadas minhas, tuas;
Encontrei os resquícios do que fora
No tempo em que ter amei e em sonhamos.
Nas esquinas, nos bares sempre aflora
Um pouco desse muito quando amamos.

Na mesa, nas cadeiras, nas toalhas,
Neste mesmo garçon, nos bancos, praças...
São como se afiassem navalhas.
Sentindo inda teus braços, como abraças...
Depois de tanto tempo, tantos anos...
Percebo que distantes, nos amamos...


87


Interessante a vida. Expressa variedade...
Durante tanto tempo eu procurei teu colo,
Arando com ternura o mais agreste solo
Buscando inutilmente a tal felicidade...

Por mais que o verso feito assim inda te enfade
Mostrando o quanto sou banal ou mesmo tolo
Do quanto; em vão, desejo; esqueço qualquer dolo.
Rompendo o que talvez pudesse ser qual grade.

Presença soberana invoca uma alegria
Que enquanto me domina, assola audaz e cria
Este novo horizonte em montanhas supremas.

Não vejo e nem pretendo um outro desenlace,
Destino tão diverso impedirá que trace
Errônea caminhada. Eu peço nada temas...
Marcos Loures


88


Intensos temporais, a vida apronta,
E neles, com certeza, mil lições,
Saber do amor magias e poções,
Deixando uma alma leve, audaz e tonta.

Do quanto te desejo não fiz conta,
Apenas sei das várias explosões
Palavras vão saindo aos borbotões
E ao nosso paraíso, alma remonta.

Por isso, eu te asseguro, quero tanto
O amor que nestes versos frágeis canto,
Louvando a nossa história, intenso sonho.

E caminhar por entre belas luzes,
Deixando para trás antigas cruzes,
É tudo o que eu mais quero e te proponho....


89

Intensamente busco em teu reflexo
Imagem de meu rosto refletido,
Espelho que se mostra dividido
Formando assim mosaico mais complexo

Encontro qual miragem já sem nexo
O que não sei se foi ou terá sido
Além do que pensara ter havido
Reparo que onde estás estou anexo.

Percebo o quanto somos congruentes
Imagens que assim vi; coincidentes,
Permitem que te fale- sou sincero -

Que nossas almas andam sempre juntas,
Espelho respondendo a tais perguntas
Demonstrando-te; amor, quanto eu te quero...
Marcos Loures


7490


Intensa claridade
Tomando toda a cena,
Beleza que me invade
Delírio em lua plena

Queria, na verdade,
O que este corpo acena,
Tanta felicidade
Delícia que serena.

Na mão da poetisa
Destreza de um buril
Que encanta quem a lê

O verso suaviza
De forma tão sutil
Perfumes de um buquê...


91

Inspire se puder, profundamente
E sinta a maravilha deste ar puro
Enquanto amor tomar a nossa mente,
Depois de certo tempo um novo apuro.

Das tramas deste encanto eu me depuro
E bebo até ficar completamente
Embriagado, amor. Por isso juro
Nem sempre desconjuro o que se sente.

Do muro, já não saio, vou seguindo
O rito mesmo escuro e violento.
Se aturo o que não fora sempre lindo

É duro persistir com quem não ama
Perfuro o meu olhar, e às vezes tento
Acuro o meu ouvido: amor me chama!


92

Inspiram-me supremas maravilhas,
Espio-te desnuda em minha cama
E busco com vagar saber das trilhas
Minha alma te procura e logo chama.

O amor ao preparar tais armadilhas,
Acende da loucura brasa e chama,
Voando o pensamento por mil milhas
Enreda-se em divina e louca trama.

E quando mal percebo estou contigo,
Saber das artimanhas, eu consigo,
Vivendo o paraíso de nós dois.

Silêncio delicado do depois
Tomando o nosso quarto devagar,
Um sonho tão gostoso de sonhar...
Marcos Loures


93

Insisto, a noite cai, não tenho medo...
As tardes foram marcos com certeza,
O beijo que roubei me deu destreza;
A vida vai seguindo seu enredo!

As pedras que cultivo, meu penedo;
As bocas que desejo, dão leveza,
Achei das trevas luz, sei o segredo,
Que me dará por fim, a realeza...

Bastiões já se tornaram minhas pernas,
Os olhos te procuram, nas cisternas
Da noite que, caindo, me traz Lara...

Não posso permitir nova desgraça,
A morte nunca pára, por pirraça.
Jamais deixei de amar a quem amara!

94

Insano sofrimento ano que vem
Se vem não desanimo, mas não quero
Se quero não devendo ser sincero
Espero se vieres ir também.

Se sofro não te minto mais, meu bem.
Omito tanto queimo quanto fero
E vago sem sentidos no que gero.
O tempo em tempestade tempo tem.

Ao ver-me, por sinal, tão iracundo,
Não sabes dos ganidos do meu peito
Que sempre se ferindo vai fecundo

E taciturno cala sobre tudo.
Devendo tanto amor como um direito
De amores dos teus mares já me inundo.

95

Insânia que domina enquanto cura
Não deixa qualquer dúvida: Eu te quero.
Na calada da noite com ternura
O quanto te desejo amores gero.

Parturiente sonho que nos guia
Cortando nossa carne mansamente.
Homérica vontade em poesia
Gerando tanto encanto novamente.

O mundo vai rodando em girassol,
Buscando cada fonte mais audaz.
O vento que se entorna em arrebol
Aos poucos nos domina e satisfaz.

Eu singro meus pecados bebo a fera
Promessa de florais em primavera...
Marcos Loures



96

Insana deusa, santa e delicada,
Em minha cama, nua traz a glória,
Abrindo as tuas pernas, bem safada,
Mudando em minha vida, toda a história.

Teus seios, tua mão, fonte sacana
De toda esta vontade de poder,
Saber da deusa casta e soberana,
Mostrando esta vontade de prazer.

Uma calcinha solta sobre a cama
É testemunha muda deste jogo,
Aonde toda a sanha em que se trama
Chamando pras loucuras e eu me afogo

Em meio a tuas pernas. Oferendas
Feitas organdi, sedas e rendas...


97

Inhaca tão terrível eu carrego
Embora tome banho todo dia,
Eu lavo o tempo inteiro não sossego,
Porém a fedentina não varia.

A minha namorada já reclama,
Num ônibus espalho os passageiros,
De gambazinho a turma assim me chama
Embora nunca mude estes meus cheiros.

Um dia imaginei a solução
E fiz o meu pedido pr’uma estrela
Mais feliz disparou meu coração,
Somente por poder sentir e vê-la.

Agora eu me livrei da minha inhaca
Não tenho mais chulé, sou jararaca!
Marcos Loures


98

Ingênua? Mas faz festa da moçada,
Oferta de prazeres, gozo e vício.
Pureza beira abismo e precipício
Ternura com delírios bem regada.

Talvez não percebesse quase nada
Sequer a maravilha deste ofício
Não vejo da maldade algum indício
Desnuda suas coxas, uma Fada...

De mão em mão rolando noite afora,
O beijo no pescoço não demora
E logo recomeça a velha dança...

Incrível que pareça, a moça é pura,
Somente um carnaval é quanto dura
Numa mistura insana, riso e lança...


99

Infinitivamente sensual
Doce como serpente que me traga.
Não pense que viver é tão banal
Senão a casa cai, e se estraga...

Quero o teu lado, cego e mais oculto,
Quero o teu gozo manso e tão voraz.
Eu não amei somente um doce fruto,
Muito mais que vencido sou capaz.

Se não soube te amar, que se dane.
Apenas não consinto que se iluda,
A cama que tramamos não reclame,
Que a roupa velozmente se desnuda...

E te quero explosiva e sem juízo,
Roubando em toda cena, o paraíso...


7500

Infestam pensamentos, falsas luzes
Confundem este velho marinheiro
Que traz dentro do peito velhas cruzes;
O amor que imaginou ser verdadeiro.

Enquanto em farsas tantas me conduzes,
O passo se mostrando mais ligeiro,
Imagens distorcidas; reproduzes,
A dor se torna um fato corriqueiro...

Chegando ao fim do poço, posso ver
Que tudo não valeu sequer à pena.
Tábua de salvação que enfim se empena

Derruba o caminheiro. O desprazer
De ser somente o resto e nada além
Ofusca toda a cena enquanto vem...


01

Inexoravelmente voltarás!
O tempo me deforma e te conquista.
Nada mais do que fomos restará,
A não ser tempestade que resista

Por entre tamarindos, ananás
Vergonhas de deixar a menor pista...
Leio nos teus jornais tempos atrás,
Que de mim nada mais nem sombra e vista...

Os meus segredos frágeis, necrofágicos,
Formam um mausoléu que já cultuas...
Os olhos demarcando são pelágicos,

Os tempos se trafegam necrológicos.
As formas que deformas, carnes cruas.
No coquetel vermelho, tons ilógicos...
Marcos Loures


02

Invade qual posseiro, benfazejo.
O amor que não se cala e nos entranha
Vislumbra todo o sonho que eu desejo,
A sorte nos teus braços sem barganha.

Durante muito tempo eu procurara
Espelho de minha alma noutra face,
A vida que se fora assaz amara
Num novo amanhecer, destino trace

E deixe este perfume mavioso
De flores sem igual no meu jardim.
Amor, por tantas vezes caprichoso
Expressa esta vontade dentro em mim.

Pensara no amor como passado,
Porém eu encontrei, emocionado.


03

Invade o coração sem desengano
Vorazes tempestades. Ainda creio
Que o tempo sendo mago e soberano
Transforme em alegria cada anseio.

Arando com vigor a terra agreste,
O coração poreja fantasia.
Enquanto decifrando o que me deste,
Um Eldorado em vida, sonhos cria.

Arcar com tantos pesos, minhas costas,
Nas áridas manhãs sem ter ninguém.
Vencendo contra a morte tais apostas,
Sabendo que ao final, ela já vem

Tomando toda a cena, sem pudores,
Velando mesmo assim, com belas flores...
Marcos Loures


04

Invade o coração de toda gente
Amor tomando sendas tão formosas
A cada novo dia, mais contente,
Canteiro em profusão, perfeitas rosas,

Um sonho mais feliz, vida consente,
Distante das outrora temerosas
Tempestas em vazio penitente
Agora em emoções maravilhosas,

O sentimento ganha da razão
Na força desmedida, uma paixão
Que de repente tudo transformou,

Encanto sem limites promovendo,
Belezas infindáveis promovendo,
Nosso caminho, amor determinou...
Marcos Loures


05

Invade e assim goteja dentro em mim
Intensa tempestade sem disfarce
Beligerante algoz se mostra assim,
Tramando a cada dia um novo esgarce.

Comparsa de meus risos, a agonia,
Demonstra o seu poder quando me cala,
A mão que me acarinha logo esfria
Da solidão minha alma, eu sei, vassala.

Por mais que eu tente algum sorriso inerme
No fundo eu sei que nada aplacará
A fome que se estampa em cada verme
A morte ao fim de tudo vencerá,

E o solitário corpo exposto à gana
Expressa a solidão, vil soberana...
Marcos Loures


06

Inútil sensação de ser feliz,
Passado o tempo a limpo, o que restou?
O gesto de uma amante que aprendiz
Aos poucos, meu domínio penetrou
Deixando na fumaça o que bem quis,
Roubando quase tudo o que pensou.

Coração esmoler não mais resiste
E bate em solitude e nostalgia.
Mais nada me restando, o quase assiste,
Bebendo o que sobrara se extasia.
Não digo que fiquei, com isso, triste,
Apenas fui bem menos que eu queria.

Recebo em troca o gosto violentado
Do tempo em que pensei ter sido amado...


07

Inútil fantasia me rondando,
O quanto ser alguém tanto queria
Talvez eu contivesse esta sangria;
Tristezas não viriam mais em bando...

Sentindo o meu prazer se debandando,
Aonde procurei; o nada havia,
Jazendo uma esperança que, vadia,
Num rumo tão diverso; se esgueirando...

Escorrem pelos dedos; ilusões,
Neste amargor constante enfim me embrenho,
Aonde quis o fogo das paixões

Somente a mansa brisa: solidão,
E agora que percebo: nada tenho,
Eu sei que a fantasia foi em vão...



08

Inconseqüente penso nesta ausência
Do que não fui nem mesmo procurei
Viver é necessária a competência
Sem sementes jamais eu cultivei...

Esqueço desta tal conveniência
Matando meu juízo rasgo a lei.
Rejeito o que precisa de anuência
Em decadência minto o que não sei.

Saudade do que nunca foi sentido,
Sentindo o que jamais tive, por medo.
A mando do que fui tão distraído

Deixando a referência perco emprego,
Brincando com a morte, meu segredo,
Motivos para amar, por que carrego?


09

Incoerente verso, está no lucro,
Eu tento disfarçar, mas não consigo.
Cavalo dos meus sonhos, velho xucro,
Voltando aonde enterro o meu umbigo.

Não quero ser teu céu nem teu sepulcro,
Apenas me embasbaco, mas não ligo,
Do amor em fantasias, quebro o fulcro,
Conspurco com falácias teu abrigo.

A boca destilando um raro vinho,
O coração transborda em vã peçonha
Por mais que a poesia se proponha

Eu tendo esta incerteza, desalinho.
Da inércia em poesia, sou arrimo,
Nos laços do vazio, me deprimo...
Marcos Loures



7510



Incendiando tudo, chama intensa
Que ateias no meu corpo, estrela guia,
A minha noite outrora foi tão fria
E agora a chama ardendo, assim, imensa.

Além do que minha alma sonha ou pensa
Tu és o fogaréu que sempre ardia
Fomentando em nós esta ardentia
Que é para o trovador, a recompensa.

Mantendo assim aceso este braseiro,
Num incessante jogo corriqueiro
Aonde não existe um vencedor,

Em ti, o meu sustento, a minha luz
Que a imagem da fogueira reproduz
Na terna sensação de pleno ardor...


11

Incessante desejo me domina,
Flutua como um ar tão impalpável.
Por vezes tantas noites me alucina,
Quem sabe, esse amor incalculável...

Tomando tantas formas, mais diversas,
Invade o pensamento e se demora...
Entranha minhas noites e conversas,
Sabendo quem te quer e quem te adora...

Conduz-me aos momentos mais felizes,
Não seca, nem deserta uma emoção.
Repete sem cessar, sem ter deslizes,
Não deixa de encantar o coração.

Pois saibas, todo o tempo em que vivi,
Anoiteço, adormeço; penso em ti...



12

Incauto viandante da ilusão,
Canora assombração de antigos dias,
Dos bardos e poetas, guardião,
No meu rosto engelhado, vãs estrias.

Arpejos solitários da emoção,
Relíquia das ignaras fantasias,
Arqueiro que sem rumo ou direção
Do gelo faz criar as ardentias.

Metáforas criadas, vãos caminhos,
Estrada tantas vezes mal cuidada.
Irrompe dos grilhões, manso ou medonho.

Entorpecendo, avilta ou rega em vinhos,
Imersa fantasia vislumbrada,
De amores o alimento insano, SONHO...
Marcos Loures


13

Incandescentes lavas borbulhando
Nesta cratera imensa do desejo.
Paixão sem precedentes nos tomando,
Nos corpos dominados, um latejo..
Um látego prazer nos devorando
As línguas são açoite em cada beijo...

Mistérios ministrados em paisagens
Bordadas nestas telas, carne viva,
As mãos vão vasculhando uma pilhagem
Que faça nossa noite mais altiva.
Os rastros desejosos da viagem
Marcados pelos mucos e saliva...

Pois ébria destes vícios mais profanos,
A noite se desnuda em vários planos...



14

Inato sofrimento me acompanha,
Tantas vicissitudes, brilhos falsos,
Escondido detrás desta montanha
Dos mares que não vi, os cadafalsos.

Persigo, sempre trôpego e não tendo
Refaço novamente, torto e vão.
À sombra do vazio vou vivendo,
Revendo tão somente a solidão...

Um anjo desde então segue meus passos
Diverso do que outrora sonhei estro,
À margem, não define quais os traços
Do velho desdenhado, ora canhestro.

Ser destro, seguir reto sem tropeço.
Mas gauche prosseguindo, assim. Do avesso...
Marcos Loures


15

In vino veritas sei
Nas orlas deste oceano
Nos reinados puro rei
A morte me traz seu plano

E se resta o que sonhei
Não me trazes mais engano
O que me exorcisa, lei
É leve vai soberano...

As tropas estropiadas
As pias mãos santificas
Urtigais mães acoitadas

Nada mais contigo implicas
Nas obras glorificadas
Joelhos com torpes plicas...


16

Impúberes amores do passado,
Adagas que deixaram cicatrizes.
Os tímidos olhares de aprendizes
Caminham ainda hoje do meu lado.

De espectros o meu sonho povoado,
Infernos entre medos e deslizes
Cabelos se tornando, agora, grises,
Porém vivo aos fantasmas, abraçado.

Espreita-me em tocaia esta pantera,
Abismo da esperança, timidez.
Imagem que nem mesmo o sol desfez

Não conheci jamais a primavera,
E inverno a cada dia em pedras, cardos,
Nas curvas do caminho, leopardos...
Marcos Loures


17

Impossível, querida; é não deixar
Fluir o que nos manda o coração.
Meu verso quando em sonho vai buscar
O teu doce sorriso em sedução,

Sonhando com viagem ao luar
Deitando do teu lado esta ilusão.
Convido-te às estrelas explorar
Com olhos desejosos da paixão...

Em ti percebo a vida a refazer-se
Depois de tantas quedas no caminho.
Não deixe que este bem, jamais disperse,

Menina, como eu quero-te mulher!
Deitar sobre teu corpo, meu carinho.
Te espero da maneira que vier...


18

Império sanguinário dominante;
Transforma em morte tudo que ele roça.
Nas crinas dos cavalos, ruminante...
As bombas são jogadas na palhoça...

Domina, torturando, a cada instante.
Se ri, zombando, vive a fazer troça,
De quem tentar seguir, ir adiante.
Pois a todos que o temem; vil, destroça!

Águia, rapina, matas sem ter penas...
Destróis a todos, marcas, envenenas.
Em nome d’um Senhor mais egoísta.

Permita-nos Ó Pai, sobreviver,
À fúria desmedida desse ser.
Se nos queres servis, então desista!


19

Império dos sentidos, gozo pleno,
Até numa explosão que não se iguale,
O amor que na verdade não se cale
Demonstra com loucura, cada aceno.

Usando do prazer como um veneno
Que acalma enquanto fere e me regale,
Perfume que tortura tanto exale
Além do que em verdade eu concateno.

Do amor em sua plena fantasia
Extrema maravilha em dor suprema.
Rompendo enquanto enlaça, traz a algema

Que mata num abismo de alegria.
Cravando este punhal no coração
No orgasmo vida e morte em explosão.
Marcos Loures


7520

Impedem que o ribeiro chegue ao mar
As tantas emoções que se diluem,
Porém eu posso agora vislumbrar
Os gozos que se tocam e confluem.

Despertas reais sonhos e desejos,
Na soma que se mostra instransigivel
De sentimentos plenos e sobejos
Felicidade é sempre mais tangível.

A sensibilidade aflora em cada toque
Sem medos nem rancores, simplesmente.
A vida se mostrando em novo enfoque
Permite o bom final que se pressente.

Meu verso que se farta em agonia,
Ao teu lado conhece uma alegria...

21

Impede que eu prossiga assim sozinho
O olhar abençoado de quem amo.
Aos passos mais macios eu me alinho
E toda a noite em sonhos; sempre chamo.

Amor se aproximando tão mansinho
Tornou-se; na verdade, quase um amo.
Se eu bebo deste doce e raro vinho
Um mundo em esperança agora eu tramo.

Eu quero o teu amor e nada mais,
Sonhar com teus carinhos! Maravilhas...
Sabendo que também tu compartilhas

Do mesmo sonho, amada encontro o cais
E sinto que ao saber de nossa vida,
“Minha alma de buscar-te anda perdida”


22

Impede o alvorecer iluminado,
A treva inesgotável que carrego,
Por mais que uma esperança trame um brado,
Meu passo assim prossegue; torpe e cego.

Sorriso tanta vez anunciado
Espreita o vendaval quando navego,
Num ato que decerto é tresloucado,
Ao mais temível sonho; assim me entrego.

Esfacelando o resto que inda existe
Voraz, embora amargo e mesmo triste
Prevendo em meu futuro um final trágico.

Meu verso no final quase autofágico
Explode em fantasias e ilusões,
Sangrando estas barragens, turbilhões...
Marcos Loures


23

Impede em tantas nuvens, ver o dia,
As nuvens que se formam neste céu,
O quanto não se goza da alegria
Nos fada a persistir vagando ao léu.

Se tento ou se talvez ainda havia
O quase, jamais sei do meu papel,
Versando sobre a noite quente ou fria,
Vazio em desalinho o carretel...

Carcaça do corcel apodrecendo
Enquanto, sem ninguém persisto tendo
Um resto que me ateste uma fartura

Distante, em outros tempos, desde agora
A força que sabia desde outrora
Esboça em gesto estúpido, amargura...
Marcos Loures


24

Impede a liberdade, dura trava
Cravada no meu peito, sem perdão
Saudade me queimando feito lava,
Ardendo assim me invade o coração,

Durante todo o tempo em que pensava
Na força deste amor, na tentação
Qual fosse a fera imensa, firme e brava
Rasgando a minha pele mostra então

O tempo em que sozinho eu te buscara,
Estrela radiante bela e rara.
Em dias tão difíceis, traduzidos

Nos olhos marejados de quem ama.
A vida ao apagar a nossa chama
Fazendo os meus caminhos desvalidos...


25

Impávida impressão de calmaria
Mostrando quão possível ser feliz.
O Amor ao espalhar farta alegria
Expressa o que emoção há tempos diz.

Cardumes constelares vão passando
Em noite iluminada, brilho farto.
A sensação de paz já nos tomando
Transmite esta esperança como um parto.

Colecionara dores, tristes sonhos,
Refém de uma amargura hereditária,
Olhares sem destino, vis, tristonhos,
Vivendo tão somente como um pária.

Nas mãos tão delicadas de um amor,
Novo caminho e rumo a se compor...
Marcos Loures


26

Impassível, sorrio da desdita,
Que nunca imaginaste o quanto sinto...
A noite de promessas tão bendita
Esvai-se na desgraça em que me tinto...

Ceifado, um coração jamais traz lavra,
Esconde meu segredo num disfarce.
Iludo essa saudade mas, palavra,
Sozinho, me deparo face a face...

Espelho de minha alma, refletindo,
O canto que calei amargurado,
Se encaro minha dor, assim sorrindo,
Saudade traz o riso machucado.

Carrego tantas marcas, cicatrizes,
Em busca d’outros tempos, mais felizes...




27

Imerso num problema enfrentando ancestrais
Vontades de saber do longínquo futuro
Invento outra palavra em letras garrafais
Que possam traduzir meu gesto mais obscuro

Sou quase um ser vazio em busca de imortais
Desejos onde engano ultrapassando o duro
Chão inda me traduza um ar que fosse puro
Envolvendo o meu sonho e salvando animais.

Terrível predador, o ser humano mata
Inconsequentemente assim tudo desmata
E deixa no vazio; heranças sem valor.

Um povo que se faz letal e mercenário
Terá a morte em vida, o fim como honorário
Ao abortar a vida esquece o que é amor...


28

Imerso no passado tão distante,
Olhando para as nuvens chego a ti,
Imagem que se mostra fascinante,
Do amor que eu tanto quis e já perdi.

Paisagem nebulosa, assim, mutante
Traduz a nossa história, estou aqui
Sentindo-te querida, a cada instante,
Dorida fantasia, concebi.

As sombras do que fomos, no meu quarto,
As cinzas que deixaste no cinzeiro.
Desta lembrança amarga não me aparto,

Tu foste em minha vida, um talismã
Perfume que entranhaste o travesseiro
Tua presença terna, embora vã...

29

Imerso nas saudades que pressinto
Dos dias que se foram mais felizes.
Falar do que julgara assim extinto
Pensando que só fossem cicatrizes.

Na beleza do amor que sonho e pinto
Com cores tão suaves, mil matizes.
Meu coração te espera. É teu recinto;
Amor nos faz eternos aprendizes...

Mas ouço, te procuro e nada vejo...
Apenas o silêncio que atordoa.
Tu vives tão somente em meu desejo?

Marcando meu caminho, tal saudade,
Qual pássaro que embalde sempre voa.
Assim como se foi felicidade...
Marcos Loures


7530

Imerso nas saudades que pressinto
Dos dias que se foram mais felizes.
Falar do que julgara assim extinto
Pensando que só fossem cicatrizes.

Na beleza do amor que sonho e pinto
Com cores tão suaves, mil matizes.
Meu coração te espera. É teu recinto;
Amor nos faz eternos aprendizes...

Mas ouço, te procuro e nada vejo...
Apenas o silêncio que atordoa.
Tu vives tão somente em meu desejo?

Marcando meu caminho, tal saudade,
Qual pássaro que embalde sempre voa.
Assim como se foi felicidade...
Marcos Loures

31



Imerso em velhas cruzes do passado
Andara por caminhos mais estreitos,
Os rios se extravasam de seus leitos
E o pântano dos sonhos, encharcado.

O verso que tentara, burilado,
Desmancha-se, mostrando que os defeitos
Nem sempre deveriam ser aceitos
Sentido fartamente embaralhado.

Escarpas que escalara em fantasia,
Abismos, precipícios; pedregulhos..
As cruzes como fossem seus entulhos

Que o tempo pouco a pouco concebia
Não deixam que vislumbre uma saída
Demonstram quão inútil, sua vida...


32

Inesquecível, quase que imortal,
A força desse sonho inebriante
Vivendo esta alegria em paz constante
Não quero em minha vida outro final.

O corpo dessa deusa sensual
Espalha em meu caminho, diamante,
O beijo que roubei, tão delirante
Encena a fantasia magistral

Andando junto a ti, a cada passo,
Amor vou desfilando pelo espaço
Em risos e delírios siderais.

As somas que buscamos nos completam,
Mostrando as maravilhas que repletam,
Teus sonhos em meus sonhos são iguais.
Marcos Loures


33

Inesquecível noite que tivemos
Foi tanto amor que tudo parecia
Vibrando muito além da fantasia,
Desejos sem igual, nós concebemos.

Assim, eu quero crer, prosseguiremos
Bem mais do que este simples, manso dia,
O amor que nos tocou qual ventania
Expressa o que em loucuras, nós queremos.

Batendo bem mais forte o coração
Derramas no meu peito o sangue teu,
Transfundes sem limites a emoção.

E quando vem a noite me lembrar
Do amor que um dia a gente, em paz viveu,
O coração começa a disparar...


34

Inebriante sonho, um raro vinho,
Melíflua sensação de gozo pleno.
Chegando em minha vida de mansinho,
Um mundo tão suave e mais ameno.

Descrevo em ti meu sonho predileto,
Alvissareira luz que imaginara,
A cada nova noite eu me completo
Tocando a bela estrela, imensa e rara.

Jogada pelos cantos deste quarto,
Saudade se esvaindo pouco a pouco.
Da sílfide perfeita eu não me aparto,
À dor os meus ouvidos são de mouco.

Néons vão clareando os passos teus,
Deixando para trás qualquer adeus...
Marcos Loures


35

Inebriado bebe, em ti, absinto,
O gozo num prazer raro e supremo.
Contigo, com certeza eu nada temo,
Nas cores de teus sonhos eu me pinto.

Felicidade enorme; assim, pressinto
Amor, um beneplácito que extremo
Permite que se tenha barco e remo
Quem vive da alegria, tão faminto.

A par desta vontade soberana
Minha alma em fantasia não se engana
Pressente que terá tranqüilidade.

Um vento que decerto me abençoe
No canto em minha alma sempre ecoe
Amor me conduzindo à liberdade...
Marcos Loures


36

Indiferente aos teus tormentos tantos
A vida prosseguiu sem ter, ao menos
Momentos mais felizes ou amenos,
Matando em nascedouro os seus encantos

Rolando na verdade duros prantos,
Do cálice escorreram os venenos
Que tragam e não deixam serem plenos
Os sonhos que pudessem trazer mantos

Que amenizassem frio dentro da alma,
Somente um vento manso que inda acalma
Trará o gosto leve da verdade,

Vertendo uma esperança mais suave,
Calando qualquer dor que ainda entrave
Buscando um doce alento na amizade...
Marcos Loures


37

Inda quero da vida o gosto bom
Da boca da morena mais sacana,
Vibrando novamente em cada tom,
A mão deste prazer que tanto abana,

Comendo desta fruta, do bombom,
Quem sabe amar, querida, não se engana,
Amar não é somente um doce dom,
Levar a vida inteira, soberana...

Eu quero renascer em cada toque,
Perfeito, mavioso e sensual.
Amor que não se guarda, sem estoque

Permeia minha vida, meu astral,
Menino que brincava com bodoque
Agora se embrenhando em matagal...

38

Inda me lembro quando propuseste
Que o nosso amor pudesse ser eterno,
Do jeito carinhoso que vieste
Certeza de um porvir deveras terno.

Tomando toda a cena, lua imensa
Deitando sobre nós a claridade,
No encanto mais sublime a recompensa
De um sentimento feito com verdade.

Ouvindo nossas juras, as estrelas
São belas testemunhas deste fato,
E quando em noite plena volto a vê-las
Relembro desta cena onde retrato

O amor que se mostrando soberano
Não deixa que se perca em desengano..
Marcos Loures


39

Incrustada no peito trago a seta
Que um dia desferiu sem direção
O deus do amor, que além de ser poeta
Faz pouco da vontade e da emoção.

Porém uma verdade mais concreta
Permite me falar em tentação,
Enquanto este desejo ele me injeta
Eu vivo os desacordes da paixão.

Às vezes a palavra tão dileta
Em outras ouço imenso palavrão
Minha alma na tua alma se completa,

Mas sei que são tempestas de verão.
A rosa com acúleos me espeta
Depois vem cabisbaixa e quer perdão.


7540

Incrivelmente atados noite afora,
A noite vai girando em carrossel,
Lambuzo-me de ti, chegando ao céu,
A lua qual balão já nos decora,

Partilha de prazeres, quero agora,
Fartura de explosões, nudez é véu.
Abelha em raro gozo explode em mel,
A fome recomeça e revigora

Em águas de lavanda sei que és minha,
Sinais que tu espalhas nesta cama;
Num arco íris gigante a noite inflama

Estrelas fazem ronda, já se avizinha
Caleidoscópio/sol na madrugada,
Ejaculando luz numa golfada...


41

Incrível como os raios deste sol
Invadem a minha alma totalmente.
Lutando tantas vezes, sigo em prol
No rol de seus caprichos vou demente.

E sinto, enamorado, em cada raio;
A força e a potência desta estrela.
Me prende, não consigo, nunca saio,
Da simples emoção de querer vê-la.

No toque carinhoso matinal,
O sol do seu olhar, cedo me invade,
Na praia dos desejos, sol e sal,
Não posso mais lutar contra, quem há-de?

E quero que me beije com furor
Entregue a seus carinhos, meu amor...


42

Incontrolável sina da paixão,
O intenso fogaréu que nos domina,
Supera em claridade esta neblina
Estende a fantasia em turbilhão

Turíbulos dos sonhos; sedução
Galopa uma esperança, solta crina
Cordel que nos unindo, determina
A noite em mais completa tentação.

Embora a chuva caia noite e dia
O sol de tanto amor trama em mormaço
O corte mais profundo, lâmina, aço

Garoas espalhando a poesia
Força sublime, audaz; chama insensata.
Meu doido coração faminto se ata...
Marcos Loures


43

Imagens distorcidas e sirenes
Rondando a madrugada. No meu leito
A morte se arregaça e no seu pleito
Os medos se tornando então perenes.

Recomeçando assim o pesadelo
Abraços e mentiras, cuspe e gozo.
O pote se arrebenta, fabuloso
Dos olhos da pantera, este novelo

Que abarca minhas pernas, me angustia
Enquanto a boca beija, amarga e fria
Eu vejo o teu fantasma me rondando.

O teto da ilusão vai desabando
Tornando a noite trágica e vazia
Os pássaros dos sonhos vão em bando...


44

Imagem/semelhança que não cria,
A criatura pensa ser mais forte
Que Aquele que nos dando rumo e norte
Gerou este universo em harmonia.

Porém se assenhorando disso, um dia
Julgando- se do Amor único aporte
Tendo nas mãos poder de vida e morte
A criação, em fúria destruía...

A Terra que foi dada por morada,
Ao ser completamente devastada
Tornando-se um deserto sem saída

Em lágrimas deixando o Criador
Que fez tal maravilha com Amor,
Sabendo ser inútil Sua lida...


45

Imagem tantas vezes destroçada,
Vendida nas esquinas, nas Igrejas
Uma alma solitária e abandonada
Enquanto tu, qual lobo, mal trovejas.

Palavra redentora engalanada
Transformas da maneira que desejas,
A consciência; às vezes alugada
Insanas expressões, cruel, despejas.

Pavor que tu espalhas nos cordeiros
Pastor de alma tão fúnebre e vazia.
Imagem nababesca propicia

Momentos tão canalhas, sorrateiros.
Vendendo com malícia este Diabo,
Não tens como esconder o próprio rabo.
Marcos Loures


46

Imagem suave e plácida retorna
Tomando já de assalto o pensamento.
Olhar enamorado vem e adorna
Causando no meu peito este tormento.

A noite que passara, outrora morna
Ardendo mansamente em fogo lento,
Em louca fantasia já se torna
Poeira nunca toma mais assento.

E sinto tal volúpia me tomando,
Na chama deste amor incendiando
Trazendo em minha cama uma fornalha

Aos poucos me elevando chego ao céu
Tomado pelo intenso fogaréu
Que sobre estes lençóis prazer espalha...
Marcos Loures


47

Imagem refletindo a silhueta esguia
Irradiada ao brilho intenso do luar.
Em névoa delicada, explode em fantasia
E aos poucos me invadindo, entranha devagar.

Cansado de vagar, viver sem alegria
Procuro pelo amor que encharque o meu sonhar
E mostre em riso franco, a vida em poesia
Que me permita, enfim, saber do bem de amar...

Andara já descrente- ausência deste alguém
Que em noite enluarada- agora, eu sinto, vem...
A solidão, percebo, em lástimas morreu.

O fim do sofrimento aporta mansamente
E tudo se transforma. O outrora penitente
Viaja em liberdade ao sonho teu e meu...



48

Imagem que transborda em poesia
Trazendo uma vontade em que se ganha
A força tão sublime da alegria,
Ultrapassando assim, alta montanha.
Fazendo em noite imensa a cantoria
Que mostra em cada canto a luz tamanha

Que é para o sofrimento, um bom remédio,
Figura se mostra sacrossanta,
Aliviando o medo, acalma o tédio,
A dor para bem longe sempre espanta.
Deixando uma alegria como assédio,
Em cada novo dia nos encanta

Poder que nos transforma em claridade,
Revela-se mais forte na amizade...


49

Imagem que acompanha o tempo inteiro,
Qual fora uma miragem simplesmente.
Tomando por completo a minha mente,
Bem além do usual, do corriqueiro.

Eu sinto no meu corpo, aroma e cheiro
Daquela que se fez inteiramente,
Num único desenho se pressente
Usando a mesma cor, uno tinteiro.

Qual sombra que acompanha cada passo,
Eu sigo o teu amor, estreito laço
Atando corações, vidas e sanhas.

Gemelares caminhos siameses,
Unidos pelo sol que tantas vezes
Verdeja em esperanças mil montanhas...
Marcos Loures


7550

Estátua do Manequinho, símbolo alvinegro, sofre ação de vandalismo
Escultura, que fica em frente à sede de General Severiano, tem o órgão sexual arrancado
G1


Imagem do pecado, na nudez
Da criança que cândida urinava
Pedófila figura. Insensatez
De quem sem ter pudores a exaltava.

Permita-me dizer, só tu não vês
O quanto que esta cena denotava,
Contrária a mais completa lucidez,
Arranque, por favor, do olhar tal trava.

Eu sou um defensor dos bons costumes,
Por isso é que percebo que em tal ato,
O poder invejável do recato

trará na escuridão, sublimes lumes.
Quem tem em suas mãos perfumes, sândalo,
Não pode ser chamado assim de vândalo!


51


Imagem delirante em raras tintas
Matizes deste sonho inesgotável,
No vento em que se expressa, o tom amável
Com que, querida amiga, tu me pintas

Do sonho em aquarela, mãos distintas
Permitem esta tela insuperável
Num mote que perpétuo, interminável
Ressurge de emoções várias, extintas.

Tu tens total domínio sobre as cores,
Palavras multiplicas com tal arte
Que a poesia vibra por tocar-te

Sabendo decifrar os teus pendores.
Espalhas tantas flores no recanto
Usando do talento em mago encanto...


52

Imagem de mulher, tão bela e esguia
Desnuda sob os braços do luar...
Jamais descansarei de procurar
Durante a noite entregue à fantasia...

Enquanto uma esperança, o sonho cria,
Um brilho diferente em meu olhar
Permite que inda possa vislumbrar
Em meio à tempestade, a calmaria...

Por vezes uma imagem mostra quem
Pensara tantas vezes ser meu bem,
Porém no amanhecer se esvaeceu...

Calando a fantasia neste instante,
O sonho num momento fascinante
Levando o que restou, também morreu...
Marcos Loures


53

Imagem de mim mesmo que se espelha
Reflete este mosaico que sou eu.
De tudo o que passei, simples centelha
Demonstra o que – faz tempo- se perdeu.

A face que ora vejo, em rugas, velha,
À qual o temporal se ofereceu
O reino da esperança se assemelha
Ao tempo que prepara cada véu

Amando cada escombro do que fui
Enquanto o meu castelo, ledo, rui
Existo tão somente por saber

Que a morte que abocanho em cada trago
Aos poucos se permite como um lago
De imensa placidez, farto prazer...
Marcos Loures


54


Imagem de beleza feminina
Deitada em minha cama, até que enfim,
Tão cedo uma ilusão já descortina,
Envolta em lençóis puro cetim,

Às vésperas da dor que me arruína,
Brandura de emoção trazendo assim,
O gosto de ventura vive em mim,
E encontro em tua boca, seda fina.

A flor dos meus desejos sem abrolhos,
Iluminando a vida em claros olhos,
Vencendo a tempestade traz em si,

Amor que imaginei outrora em alma
Que pura, satisfaze e já me acalma,
O sonho mais gostoso que eu vivi...


55


Imagem da esperança desfocada,
Ainda me permite ver o brilho
Daquela em cujas sendas andarilho
Seguira desde a última alvorada.

A sorte doravante malfadada
Na inútil romaria que ora trilho,
Suplanto a cada dia um empecilho,
Minha alma de esperanças, alijada.

O féretro decerto anunciado,
Dirá do quão foi fútil meu passado,
Jogado pelas ruas e sarjetas.

Ouvir a tua voz doce e macia,
Momento de alegria propicia.
Porém; as ilusões? Simples cometas...


56

Imagem constelar perene e rara
No afã de se fazer bem mais que lixo,
A mão que ensandecida já dispara
Não sabe nada além de algum capricho.

Propaga tenazmente o mesmo nada
E pensa que com isso explica bem.
Fugindo em descontrole dessa alçada
Ousada quer a ossada de outro alguém.

Melindres de hipopótamo. Ironia...
A vespa pica o rabo em suicídio
Escorpiônica vontade cria
Causando de si mesma este dissídio.

No amor que tanto quer vender teus peixes
Decide se tu queres, mas me deixes
Marcos Loures


57

Imagem carcomida, ermidas desvendadas.
Os dados que lancei, esquecem-se da sorte.
Esgoto as emoções ausente rumo ou Norte,
As mãos em desamor há tempos destroçadas.

Roto, vou percebendo as horas malfadadas,
O mar que se perdeu, sem rio, sem aporte,
Sem porto, temerário, enfrenta um vento forte;
As fantasias vãs, paisagens esgarçadas..

Esplêndidas manhãs, minhas tardes sem sol.
Escuridão tomando, inunda este arrebol,
E as trevas que virão, soturnos pesadelos...

Herdando tão somente esta aridez imensa,
Oásis esquecido, a morte recompensa
O fato de jamais, sonhos, poder retê-los.


58

Imagem carcomida do passado,
Retrata este vazio que legaste,
A lua faz contigo este contraste
Deixando ainda o céu iluminado.

O dia renascendo de bom grado,
O medo tão distante, frágil haste
Que quebra à ventania que emprestaste
Formando o temporal anunciado.

Infectos, estes versos buscam cura,
Sabendo que o remédio diz ternura
Ventura de poder ser tão feliz.

Será que inda terei alguma chance,
A vida se mostrando num nuance
Soprando sobre o céu que deixas gris...
Marcos Loures


59

Ilustre teu caminho, minha bela.
Eu sei que irei te amar a vida inteira.
Amor assim demais, amor revela,
Amar passou a ser nossa bandeira...

Desprezo tais ciúmes de quem pensa
Que amor é como guerra e quer batalha.
Amor não preconiza recompensa,
Também não nos permite qualquer falha.

Revolta-me saber que bem distante
Dos olhos de quem ama, a solidão,
Vagueia procurando a cada instante,
Um jeito de matar essa emoção...

E quero ter teu corpo sempre assim,
Vibrando meu desejo sem ter fim...


7560

Ilustre amor que leva toda a glória
De ser, por certo, algoz e ser remédio.
Paisagem se desbota na memória
Não deixa mais romper o velho tédio...

De tantos esquecidos nas gavetas
Também nosso contrato não vingou.
Passado que vivemos não remetas
Pois saiba que carinho não restou.

Amada sem amor um só fiasco,
Dos campos e batalhas, teus troféus,
Saltando dos amores, em penhascos,
Despencam nossos sonhos lá dos céus.

A glória de viver tão louco amor
Por certo despetala a mansa flor!


61

Ilusões transformadas nos jardins
Que tento semear nesta esperança.
O vento que te trouxe já me alcança
Lembrando dos tropeços e dos fins...

Meu triste sol morrente sem futuro,
Furtando a claridade de uma lua
Parece que a tristeza continua
No templo das promessas, mais escuro...

Porém as ilusões, asas partidas
Esperam mais um dia pelo vôo.
Que nada... Tanta dor que não perdôo

Entranham minhas sortes já perdidas
Matando o que restou de sentimento,
Meu jardim assolado pelo vento...


62

Ilusões povoando o pensamento,
Flamejam sensações mais discrepantes.
Torrentes que me invadem num momento,
Nas carnes sensuais, dilacerantes.

No mundo dos meus sonhos toma assento.
Teus olhos tão morenos, radiantes,
Nos céus em brilho farto, tomam tento
Meus barcos nos teus mares, navegantes...

Nas rútilas manhãs, o teu clarão,
Inflama meu desejo, fico tonto.
Atado estou às tramas da paixão

E tudo o que pensara aqui já conto
Sabendo o quanto amor, sendo vital,
Em tudo o que eu fizer, fundamental...


63

Iluminando em glória este arrebol
A lua se derrama em plenitude;
Musa que nua e ousada em girassol
Ao mesmo tempo atrai enquanto ilude.

No Forte da esperança, o meu farol.
Amor em força intensa, em atitude
Derrama sobre nós o imenso sol
No gozo que se dá, farto e amiúde.

Entrego cada sonho aos seus desejos,
Em ritos sensuais e tão sobejos,
E nessa suavíssima loucura

Os corpos se entregando, dois bacantes,
Nos ritos mais audazes, provocantes,
Extremamos delícias e procuras...
Marcos Loures


64

Iluminando assim nossos bornais,
Pirilampos colhidos da esperança
Ao tempo prometido de mudança
Os dias talvez sejam magistrais.

Aonde com certeza derramais
Desejos de calor e de aliança
A gente com vontade sempre alcança
O porto mesmo em loucos vendavais.

Abarcas meus desejos e prazeres
Na redenção das dores sei que queres
Seguir essa viagem do meu lado.

Bornal em alegria iluminado
Estende a fantasia mais perfeita
Enquanto nosso amor, farto, deleita...
Marcos Loures


65

Ilumina o meu peito esta canção
Que é feita com coragem por quem amo.
Tocando bem mais fundo o coração
Nos versos que me fazes eu reclamo

Amor que desvaria e traz paixão
Não deixa ser cativo quem é amo
À noite ponteando um violão
Teu nome; na calçada sempre chamo.

Amar é verbo intenso que ilumina
A quem se dedicar sem ter mentiras.
Palavras carinhosas que desfiras

Já formam a riqueza de uma mina.
Eu quero ter o doce, apaixonado,
Nos lábios da morena, um bom bocado.


66

Ilha sonífera traz manso mar...
Quebrando as ondas maresia e lua...
Permitindo-me então sonhar e amar...
Em tantos mares e marés, flutua...

Quero os saveiros, cais e portos. Lar
De um albatroz, distante continua.
Velhos problemas? Esquecer, nadar
Nas águas limpas, a minha alma é sua...

Subo o coqueiro, minha sede mato...
Nos meus dilemas, nem guardo retrato.
Sou simplesmente um sonhador, eu sei.

Mas meu sonhar me permitindo tanto,
Me dá tal força que concebo encanto.
Nesses meus mares sou com certeza um rei!
Marcos Loures

67


Igual medusa triste, envenenada
Aquela que me trouxe desenganos
Morrendo pouco a pouco, sobra nada
De todo este veneno que em teus planos

Formado dos desejos sobre-humanos
De ter a vida sempre desgrenhada
Assim a cada dia traz marcada
A tez em duros cortes soberanos.

Roubando toda a cena, esta saudade;
Esvai-se quando chega outra paixão,
Repondo em minha vida, a liberdade.

Quem fora tão vazio simplesmente,
Amando, vai matando esta serpente.
Imenso paradoxo da emoção.
Marcos Loures


68

Idílios entre exílios e mentiras,
Eu não serei decerto um Odisseu,
Penélope distante já morreu
Enquanto noutros portos sei que atiras.

A moça rodopia em carrossel,
E vende as bugigangas numa esquina.
Eu dou um peteleco e chego ao céu
Da boca tão safada da menina.

O beijo necessita um gargarejo
Senão esta halitose nos derruba,
Enquanto preferires meu desejo,
O gozo com certeza sempre aduba

Depois de certo tempo, na colheita,
Telêmaco no colo, satisfeita...
Marcos Loures


69

Imerso em melodias do passado,
Encontro a Linda Flor que procurava
Quando a Deusa do Asfalto me tocava,
Um Ébrio se sentia iluminado.

A Malandrinha sempre do meu lado,
N’ Última Estrofe logo se mostrava
No Luar do Sertão se derramava,
Dos Lábios que Beijei, enamorado.

Dos mares dos meus sonhos, Timoneiro,
Sei que As Rosas Não Falam, meu amor.
Divina Dama num verso encantador,

Num Último Desejo, o derradeiro,
Com carinhos, Explode Coração.
Mas o que restou: Bonde do Tigrão!
Marcos Loures


7570

Imenso, imerso em paz, no paraíso,
O rito que professo não se engana,
A paz que se mostrando soberana
Deslinda o toque pleno e mais preciso.

Não quero na verdade algum juízo
Somente poder ter o mel da cana
Que esvai em cada poro. Noite insana
Que toma a nossa vida sem aviso.

Não nego este desejo imperativo
De ser, do nosso amor, servo e cativo
Vassalo deste gozo alucinante.

Tocando a tua pele devagar,
Descubro quão fantástico é te amar.
Um pouco a cada dia, em luz constante...
Marcos Loures


71

Imenso e prazeroso: o que eu preciso;
Momento em alegria com fartura.
A sorte transmudando sem aviso
De todo o sofrimento me depura.

A boca da morena desejosa
Espalha sobre mim felicidade,
Sabendo da mulher maravilhosa
O mundo se vislumbra em claridade.

Eu tenho aqui comigo esta certeza
Que nada mais impede de ser nossa.
A mão tão carinhosa não despreza
O sonho que decerto nos remoça.

Enquanto a sorte imensa, gozos trama,
Amor jamais apaga a velha chama.
Marcos Loures


72


Imensas catedrais distantes dos meus sonhos
Intensos vendavais resumem serenatas.
Às vezes me esquecendo o quanto são medonhos
Os dias em que durmo além das luas pratas.

Por vezes sei o quanto em meus versos bisonhos
Os rios negam mar, porejam nas cascatas
Enfronho o meu desejo ao passo em que, risonhos,
De cálices desfruto ouvindo tais sonatas

Emergidas do nada, alcançando os ouvidos,
E traduzindo o quanto em nada eu me criei.
Nos gládios deste sonho, o barco naufragado

O passo já previsto, os olhos nos olvidos
Deixando para trás o que pensara lei.
Amiga; por semente, o vaso já quebrado


73

Imensa poesia já continha
O olhar embevecido que buscava
A voz que assim cantava essa modinha,
Enquanto em paz a noite enluarava.

A boca que julgara ser só minha,
E em sonhos tão felizes eu beijava,
Agora em outros lábios; vã, se aninha.
O céu neste momento se nublava.

De tudo o que eu queria; o nada veio.
Só a desesperança aqui chegou
Tropeço nas estrelas; busco um meio

Que possa permitir; mesmo falsária
Uma ilusão que traga em luminária
O amor que a realidade sonegou...
Marcos Loures


74

Imensa adoração que te dedico
Com versos, com palavras, com amor...
Ao ver tua presença; sempre, fico
Extasiado e pleno em esplendor.

Num trono de fulgores, te elegi
Rainha dos meus dias mais felizes,
Certeza de saber que estás aqui
Transforma as minhas chagas, cicatrizes...

Quando eu cruzava tristes, vãos desertos,
Na busca pelo oásis da paixão,
Os ventos que batiam tão incertos,
Apenas prometiam solidão...

Agora que te achei não largo mais,
Não quero te perder, amor, jamais!


7575

Imagino alvorada mais serena
Invadindo toda a noite vaporosa.
Depois de tanta dor bem mais amena,
Nas hastes pontiagudas desta rosa...

Nos tímidos louvores da manhã,
Os raios penetrantes deste sol.
A vida se transforma neste afã,
Querer me transportar ao teu farol...

Os olhos, diamantes mais precisos,
Estrelas radiantes de tão belas...
As tramas delicadas dos sorrisos,
Que em sonhos, madrigais lindos, revelas...

Eu quero teu perfume minha amada,
Nascendo nos meus braços, alvorada!


76

Joguete da esperança tão somente.
Afetos são apenas lenitivos...
Por mais que um novo rumo já se tente,
Os restos do passado sempre vivos...

Dos sonhos, fantasias, são cativos
Os velhos sentimentos. Tolamente
Ainda teimo crer nesta semente,
Ausente dos meus campos, meus cultivos...

Qual fora um pirilampo, o rosto brilha
E logo após se apaga, escuridão...
Das trevas da saudade, o coração

Persiste em perfazer a antiga trilha
Que ao nada levará, tenho a certeza.
Cansei-me de enfrentar a correnteza!
Marcos Loures



77

Jamais em minha vida digo o não
E caço a noite inteira estrela e lua,
Deitando em minha cama a deusa nua,
Provoca a mais completa perdição.

O vento que se faz em turbilhão
Abrindo uma janela expõe a rua,
Minha alma transparente assim flutua
E bebe a tempestade, o furacão.

Chegando de mansinho, fez estrago
O turbilhão tomando o calmo lago
Promete um gosto bom, queima o cinzeiro.

Chacoalham-se quadris, louco balanço
Prazer vem galopante quando avanço,
Matando o medo algoz e feiticeiro
Marcos Loures


78

Jamais escutarei os teus conselhos,
Embora; sei que dados com carinhos,
Buscando noutras vidas seus espelhos,
Diversos, os anseios e caminhos.

Estradas percorridas pelos velhos,
Não são pra juventude firmes ninhos.
Na ponta dos meus dedos, dos artelhos,
Os medos e prazeres são vizinhos

Por isso é que decifro os meus enigmas
E não suportaria mais estigmas
Nem marcas ou sinais de sofrimento.

Não quero ouvir mais nada nem ninguém,
Enquanto outra alvorada inda não vem
Persigo o meu destino em ritmo lento...


79

Joguete da ilusão, pregando peças
Fazendo sem tempero a minha história,
Paisagem desbotada da memória
Criando este palácio em que tropeças.

E quando a solitária me confessas
O corte preparando a falsa glória,
Eu sei que sou um pária, leda escória
E fujo dos enganos e promessas.

Sangrias e sementes, medos mares,
As frutas apodrecem meus pomares
E o tempo de viver vai se esgotando...

Ondas que se formaram na lavoura
O sonho insanamente tudo doura
E a vida buscando ávida; um comando...


7580


Joguei todos os sonhos no estuário
Que percorre teus vales e montanhas
Florada não passou de mostruário,
Perfumes se perderam nas entranhas.

Não posso me livrar deste cenário
Nem posso mergulhar águas estranhas
Outono vai perdido. É necessário
Perder enquanto eu sei que sempre ganhas.

Partindo, quase morto me deixaste,
Nas profundezas da alma, tais relíquias
Latejam desumanas paroníquias,

Causando ao coração frio desgaste.
Guardando tão somente os teus defeitos
Sem rumo, irei dormir em outros leitos...
Marcos Loures


81


Joguei minha toalha há muitos anos,
Não posso mais sonhar com doces prados,
Meus passos com certeza tão errados
Condenam aos completos desenganos.

Amortalhando assim, os véus e panos
Os dias sem destino, degradados,
Os vinhos afinal, avinagrados,
Meus versos que hoje cirzo, são insanos.

Patéticos cenários que imagino
Veredas que traduzem desatino
As águas sob as pontes, turbulentas...

Ouvindo a tua voz mansa e suave,
O sonho percorrendo antiga nave
Imerge neste mar no qual me alentas...


82


Joguei as esperanças na sarjeta,
Sou velho e quase inútil seresteiro,
O amor sempre volátil vem ligeiro
E morre bem distante, este cometa.

Por mais que a fantasia se prometa,
Rasteiras; vou tomando o tempo inteiro.
Dos erros mais comuns, os derradeiros,
Derrubam querubins calam trombeta.

Enquanto uma emoção, o amor ejeta,
As sobras vão ficando em meu cinzeiro.
Quem dera se inda houvesse o mensageiro

Porém a refeição não se completa
E o verso mais absurdo de um poeta
Promete este romance verdadeiro...
Marcos Loures


83

Jogo os braços para o céu
E agradeço ao Meu Senhor,
Destilando puro mel
No teu corpo encantador,

Vai cumprindo o seu papel
Alegria no louvor
Sorte gira em carrossel
Nestas tramas de um amor

Que pensei que fosse meu
E depressa se acabou,
O meu rumo se perdeu

Já nem sei sequer quem sou,
Céu depressa escureceu
No meu peito até nevou...



84

Jogo as cartas sobre a mesa
E não minto nem um pouco,
Se o amor não faz surpresa
Sem ter voz, ficando rouco

Vou cevando a minha presa,
Se não vem eu fico louco,
No teu corpo esta beleza
Faz ouvido assim de mouco.

Ser tão só melhor não ser
Se seria o que eu quisesse
Não rezaste minha prece

Descuidaste, eu pude ver,
Sementeira sem cuidado
Desperdiça um bom arado..
Marcos Loures


85

Jogávamos verdades frente a frente.
O jogo transcorria sem mistério,
A vida não passava sem repente,
Rompantes que tivemos, caso sério.

Um beijo, num segundo, cemitério...
Tratávamos de amor sempre envolvente,
Cabelos que caiam caspa e pente.
Termino nosso jogo: necrotério!

Agora que não venho e que não vais,
Não mando meus recados nem converso.
Depois da brincadeira, quero paz.

Procuras por meus mantras no universo.
Verdade maltratando? Não, jamais!
Recados que darei? Num simples verso...
Marcos Loures


86


Jogaste nossa sorte pelo chão,
Queria, manga rosa, o gosto e o sumo,
Porém vento sem ter nem direção
Deixou meu coração sem ter mais rumo.

Estrelas que roubaste da amplidão,
Pisando no barraco, solidão,
Do zinco deste amor não me acostumo,
O barco sem ter leme perde o prumo.

O amor que não se dá com vibração,
Aos poucos se esvaindo em tolo fumo,
Sem ter sequer os traços da união

Não pode se fazer em teia ou grumo.
Não dando nem talvez para o consumo,
Queria ter teu sim, me deste o não...
Marcos Loures


87


Jogar esta saudade da janela
Fechando esta tramela, com firmeza,
Depois de ter amor por sobremesa
O encanto que proponho é todo dela.

Se o coração diz tudo e não congela
O beijo da mulher me traz leveza
E tendo tudo aquilo que se preza
Não quero mais saber de outra costela.

A gente faz das tripas coração
Até saber do rumo ou direção
Aonde pode ter felicidade.

Por isso não mais vejo alguma chance
Além do que este olhar ainda alcance
De sentir novamente uma saudade...


88

Jogar contra a parede os meus enganos,
Urino sobre os erros repetidos,
Em repentinos golpes desumanos
Os ecos distorcidos nos ouvidos

Bom dia, boa tarde, como vai?
Mentira economiza uma conversa
Das ilusões fazendo algum bonsai
Arvoredo frondoso se dispersa

Pudesse cometer uma loucura,
Romper os cadeados do bom senso,
Talvez eu percebesse alguma cura,
Não bastando acender qualquer incenso.

Usando do sensório sem bloqueios,
Lambendo da morena, os fartos seios...


89

Jogando o sentimento em pleno esgoto
Cadarço que se deu desamarrado,
Teu beijo traduzido em perdigoto
Apenas verso podre e descorado.

Não tenho mais coragem, te garanto
De beber uma água suja e tão salobra
Legando o nosso caso ao desencanto
Eu sinto o teu veneno, fria cobra.

Agora a vida cobra a solução
E nisso vou seguindo em peito aberto.
Apenas um bolor no antigo pão
Criando tão somente este deserto.

Não quero mais ouvir tuas mazelas,
Meu barco singra o mar em novas velas...


7590

Juventude perpétua sem queixumes,
Promessas de viver felicidade...
Amar sem sofrimentos, sem ciúmes,
Guardar, bem escondida a vil saudade.

Princesa que me encharca de perfumes
Não quero retornar à realidade!
Na terra dos prazeres, bons costumes,
A fantasia vive na verdade!

Qual Água que em pureza não se iguala,
Perfume de lavanda solto ao ar.
A vida com doçura, calma, inala,

Meus reinos pelo amor de ser teu rei!
Amar é pouco, quero te adorar!
Alessandra, princesa que sonhei!


91

Jurubeba é remédio bom pra azia
Dizia a minha avó já falecida
Depois de caprichar numa bebida
Ressaca prometida pro outro dia

Bebendo jurubeba; que alegria!
A bosta da ressaca está vencida.
Assim também querida, a nossa vida
Que no começo, festa prometia

E agora ao embrulhar o “Figueiredo”,
Querendo vomitar, pois desde de cedo
Devoro uma infusão da santa planta

Ao ver outra beleza desfilando,
Ressaca deste amor vai se acabando,
Um cheiro de mulher, tudo suplanta...



92


Jurando amor eterno tu partiste
E logo não deixaste nem pegada.
Não sei bem se fiquei decerto triste,
Apenas me gastei na madrugada

Fazendo um mutirão que não resiste
Tomando um botequim quente e gelada,
Se eu acredito ou não que amor existe
O certo é que depois não sobrou nada...

Somente uma vontade de dançar
A noite inteira, fui pr’ Estudantina
Bebendo essa morena sem parar.

Não venha agora; amor; estás banida
A sorte noutra vida descortina
Juraste amor eterno? Que bandida!

93

Junto do mar, deitando meu cansaço,
Ao fechar os meus olhos, logo ouvi,
O vento delicado num abraço,
Pensei que te encontrei de novo, aqui...

As ondas se quebrando em alva areia,
Ouvindo este marulho, viajando...
Percebo como um canto de sereia,
Uma voz tão distante, me encantando...

Sentindo um leve toque nos meus lábios,
Em tal prazer imenso já me entrego.
Há muito que perdera os astrolábios,
Sem rumo, sem destino, não navego...

Os olhos... Vou abrindo, lentamente...
E sonho estar contigo, corpo e mente...




94

Junto ao mar caminhando pela areia
As coxas e as pernas bronzeadas,
No fogo deste sol que te incendeia,
Ao vento estas madeixas balançadas...
Imagem formidável de sereia
Por ondas, tuas pernas vão molhadas...

Ao ver-te numa saia deslumbrante
Inveja desse vento, assim, me dá,
Quem dera te tocar por um instante,
Quem dera se viesses para cá,
Ficar comigo, bela, irradiante...
Ser o sol que contigo deitará

Depois dormirmos juntos sob a lua,
A noite inteira, estrela seminua...


95

Juntinhos, sem destino, essa viagem
Gostosa de ser feita, pela vida,
Amor não pode ser qualquer bobagem,
Promete na verdade, uma saída.

Tecendo todo dia a sua teia,
Ateia no meu peito, um fogaréu,
Atéia sensação adentra a veia,
Hasteia uma bandeira, eleva ao céu.

Assaz delicioso, o nosso amor,
Nas asas deste gozo estou liberto,
Libelos que hoje faço, com fervor,
Libélulas em rumo solto, incerto.

Insetos e cometas, seixos, rios;
Amores trazem mansos, loucos cios...
Marcos Loures


96


Juntemos nossas mãos para pedir
Que Deus nos ilumine mais um ano,
E a gente possa então usufruir
Da presença de um ser que embora humano

Trazendo a divindade de ser pleno,
Amigo dedicado e companheiro,
Que se mostra sincero e tão sereno,
Mostrando-nos amor mais verdadeiro.

Um querubim em forma de pessoa,
Que agora ao completar aniversário
E ao dar esta certeza- a vida é boa,
Não deixa um coração ser solitário

Por isto, faço votos, comemoro
Festejando esta amiga a quem adoro.


97

Juntando os meus pedaços formo o nada,
Na colcha de retalhos, ilusões
Resíduos entre escombros, derrocada,
Invernos destroçando os meu verões.

A fantasia aos poucos se degrada
Nem lua, nem viola. Nem sertões.
A sorte há tanto tempo malfadada
Aborto de esperanças, só borrões...

Nas cinzas dos cigarros, na fumaça
Os sonhos se esvaindo, puro tédio.
Enquanto a morte mostra em seu assédio

O quanto a realidade já me esgarça
Eu bebo cada gota deste fel
Que forma negras nuvens no meu céu...
Marcos Loures


98

Juntando num orgasmo tais destroços,
Cadáveres que somos; renascidos.
Os olhos comem bocas, rangem ossos
O quanto prosseguimos desvalidos.

Esquálida esperança não diz nada
Apenas restitui um velho gozo
A fantasia; há muito abandonada
Persiste neste sonho sequioso.

Bebendo teus prazeres, um absinto
Vermutes entre coxas entreabertas
No sangue derramado, ora me tinto
As horas preferidas, as incertas.

Assumo cada gota de teu sumo,
Bebendo em teu prazer, caminho e rumo...

99

Juntando nossos corpos, amor diz
Que tudo o que fizemos sem pudores
Trazendo para a vida os refletores
Dos sonhos que me tornam mais feliz.

Não deixe que descore este verniz,
Nem traga ao nosso amor velhos temores,
Nem sequer rememores os rancores,
Jamais permita um céu amargo e gris.

Abrindo com coragem, coração
Amores do passado? Jogue fora
Que a vida, meu amor não se demora

E mostra do problema a solução
Pulsando junto a ti bebo infinito,
No amor que numa estrela estava escrito...
Marcos Loures


7600

Juntando com suor que bem salgado
Ajuda a temperar o mel da boca.
Amor pra ser assim bem temperado
Apimentando sempre nos treslouca.

A voz quando se empolga fica rouca
O corpo vai ficando arrepiado.
Cabeça vai rodando, quase louca
O resto do tempero está guardado

Pra festa que vier, nosso banquete,
Soltando mil rojões, tanto foguete
Termina com delícia em sobremesa.

Assim amor se faz de cama a mesa.
E nessa comilança eu e você
Sabemos o que é ser um bom gourmet.



01

Julgando quem jamais eu julgaria
Se o jugo fosse ao menos redentor,
No bote preparado pelo amor,
A noite com certeza nunca é fria.

Marasmo não traduz amor Maria
Tampouco amor perfeito é simples flor
Nas mãos de quem se faz um lavrador
Que sabe cultivar a poesia.

O quanto não pretendo e nem devia
Carrego com meus sonhos tal andor,
O vôo em liberdade do condor

Ultrapassando montes me inebria,
E quando a solução mata o esplendor
O jeito é mergulhar na fantasia...


2

Jorraste meus fantasmas pela porta
Estarrecendo o gosto prometido
Da companheira vívida que aporta
Tragando meu martírio em vil gemido.

Minha alma transparente, a dor aborta,
E corta penetrante, o decidido
Momento de sangrar, por cava, aorta,
No sonho deste amor apodrecido...

Antúrios que plantaste nos canteiros
Trocados pelos lírios roxos, tétricos,
Os túmulos do amor são corriqueiros

Em quem serpente veste; viperina...
Escarras com teus risos sempre elétricos
E ao mesmo tempo, acode e me domina...
Marcos Loures


3

Jogado pelas ruas como um pária
Andando entre as estrelas e botecos,
Calçada da ilusão em cor tão vária
Vazio refletindo os velhos ecos.

Nas tralhas da emoção, uma adversária,
Os sons de um vão passado em repetecos
Minha alma eternamente vil e otária
Exposta aos pescoções e petelecos.

Não bebo desta fonte que inebria,
Esperança não passa de um engodo.
Quisera ter a luz, mas eu me fodo

Noctâmbulo se perde em noite fria,
Vasculhando nos bolsos, nada vejo,
Senão tais arremedos de desejo...


4

Jogado pela vida sem um cais,
Sequer ancoradouros encontrei,
O quanto que não trago e cultivei
Permite já saber que dói demais

O fato de ter sempre este jamais,
Fazendo do vazio, a sorte e lei,
Distante de teus braços, naveguei
Até só encontrar o nunca mais.

O coração pedinte segue vago,
Buscando uma alegria, bebe um trago
Não tendo por resposta um só retrato,

Quem sabe, no futuro um riso aberto
Modificando enfim, o que era incerto
Trazendo uma emoção que aqueça o prato.
Marcos Loures


5


Jogado numa tumba malcheirosa
Arcando com meus erros e defeitos,
A carne apodrecida e pegajosa
Entranha em frenesi, invade os leitos,

Carcaça carcomida tenebrosa,
Persiste em desejar fartos direitos,
Vislumbra a noite fria e tão chuvosa,
Enaltecendo em trevas os seus feitos.

Sidéreas ilusões me destroçando
Deixando em carne viva uma esperança,
Do nada que me trazes, me inundando,

Restando tão somente este lamento.
Amor rompendo os elos da aliança
Apodrecendo enfim, o sentimento...


6

Jogado nas sarjetas, quase informe,
Devoro o que restou de fino prato,
Uma esperança morta já não dorme,
Apenas esboçando o meu retrato.
Quem teve um sonho breve, quase enorme
Só vive destes restos que hoje, eu cato.

Elementares ordens que quebrei,
Fomentos de vinganças descabidas.
A morte simplesmente, traça a lei
Invalidando sempre nossas vidas.
Do pouco que não quis nem esperei
As sobras vão embalde, repartidas.

Na paixão de viver, tão violenta,
Do aborto em que nasci, restou placenta...




7

Jogado em algum canto, o violão Aonde tantas vezes me abriguei. Mentiras que trouxeram sensação De ser, dos teus castelos, quase um rei.
Jogado em algum canto, o violão
Aonde tantas vezes me abriguei.
Mentiras que trouxeram sensação
De ser, dos teus castelos, quase um rei.

A merencória lua do sertão
Já se espalhou e foi para outra grei.
Não resta no meu céu sequer monção.
Não posso nem dizer aonde errei

Só sei que destas cordas um plangido
Repete esta monótona harmonia
Enquanto uma alma amarga fantasia,

E o norte há tanto tempo já perdido
Não deixa que se cante em tom maior,
Angústia dos meus versos, sei de cor...
Marcos Loures


8

Jogada pelos cantos, mocidade,
Perdida entre esperanças tão vulgares;
Nos cantos esquecidos da saudade
Encontro estes motéis e lupanares.

Em todos os caminhos, falsidade
A solidariedade, sei nos bares
Distante da premência de verdade
Vasculho cada sonho em mil lugares

E vejo tão somente uma ilusão
Nos olhos da mulher, a fantasia
Ao mesmo tempo diz da solidão

Enquanto estou contigo, luz esparsa.
O amor que a gente fez traz alegria,
Mesmo que eu saiba ser somente farsa....
Marcos Loures


9

Jogada na gaveta do passado
Lembrança que se fez um duro algoz,
A noite vem trazendo a sua voz
Deixando o coração desesperado.

O grito da esperança em alto brado
Socorre o pensamento e vem veloz,
De novo uma promessa traz os nós
Do amor que em pleno se fez atado.

De sentimentos frios e servis,
Marcando em ferro frio, a cicatriz
Não deixa uma alegria transbordar.

Porém ao ter aqui tua presença
Espero finalmente a recompensa
Agora que encontrei o bem de amar.
Marcos Loures


10
Jocosa esta figura que retrato,
Deambulando trôpega na rua.
Buscando feito um cão vadio, um prato,
Porém a realidade é bem mais crua.

O tempo de sonhar. Um velho ingrato
Que ladra em agonia, bebe a lua,
Quebrantos que carrego, com maltrato,
A sina deste espectro continua...

Irrompe em minha pele a podridão,
E nela sinto o gozo quase absurdo,
O coração no olvido segue surdo

E veste o que sobrou deste porão.
Jogado sobre as pedras do caminho,
Persigo desta morte, o vão carinho...


11

Jazigo da esperança, cemitério
Dos sonhos e das almas sem proveito.
O tanto que procuro e me deleito
Deitando em verso tolo e sem critério.

O amor, velho idiota, sem mistério
Maltrata enquanto adula um ermo peito.
Sem nexo, sem vergonha esse sujeito
Nos marca desde o antigo batistério....

Tremendo papelão. Não quero mais.
Cansei de danças torpes e boçais
O peso do passado? Muito leve...

Querendo ser talvez apenas isso,
Um trovador alheio ao compromisso
Que agora, sem ter travas, já se atreve...
Marcos Loures


12


Jazendo sobre o corpo da esperança
Num porre sem igual, galgo infinitos.
Nos cândidos louvores, torpe dança,
Nas garras das harpias velhos ritos.

Incensos e cantigas, uma aliança
Que torna os rituais mais esquisitos
De ricas iguarias enche a pança
Quem fala em sacrifícios, ledos mitos.

As ímpias multidões sei que merecem
As unhas afiadas das vinganças.
Principalmente as tímidas crianças

Nem sempre a seus desejos obedecem...
Mas creio no Judeu, o Pai do amor,
Na lágrima que escorre em Seu andor...


13


Jazendo quem em jazz fez seu abrigo
Já sabe do que gera em gesto fútil
Apenas restará este jazigo
O resto, jogue fora, pois inútil.

Numa melancolia melanínica
Lembranças das senzalas de minha alma.
A tua imagem tétrica e tão cínica
Aos poucos me tirando toda calma.

Espalhas cancros, cacos e pedaços,
Varrendo deste chão qualquer adubo.
Meus olhos ao te ver, ficando baços,
Nos mais longínquos éteres eu subo

Levando a minha carne em tantas postas
Do jeito que preferes e até gostas.
Marcos Loures


14

Jazendo neste canto, sem juízo,
Amor que me entranhara, enfim, suspira.
Acende tanta luz do paraíso
E queima eternidade numa pira...

Dos reinos encantados que viera,
Amor se enamorou de quem pensava
Que amor fosse distinto por ser fera,
Porém amor a todos dominava.

Eu, vítima das garras do carrasco,
Sem medo, rebelei-me, num segundo.
Invade meu navio, rompe o casco,
Em meio a seus desígnos, eu me afundo...

E submergido morro prazeroso,
Entregue a tais delícias deste gozo...



15

Jaz tábida minha alma, expressa podridão...
Anseio pela vinda amada do festim.
Do nada para o nada: extrema solidão!
Aguardo pelo beijo audaz, feroz, do fim...

Tristeza de viver... Tristeza nesse não
Absoluto, final. O sonho acaba, enfim...
Na boca que sonhei, um riso sem perdão...
A pá da cruel terra expressa-se em carmim...

A larva que me beija, eterna camarada;
Num sonho mau, deliro... Espera pelo véu.
Na festa que termina a luz anunciada

Se esconde, escuridão! Nada mais restará!
Na profundeza espero a salvação do Céu.
Me sobra a solidão! Meu Deus, onde andará?
Marcos Loures


16

Javé criou do barro à sua imagem
Aquele que seria o preferido,
Reinando sobre a imensa paisagem,
De todos; o mais caro, o protegido.

Vivendo nos Jardins, sem ter noção
Da dor e dos temores e receios
Ao vê-lo condenado à solidão,
Transforma; na mulher os seus anseios

Unidos por desejos e vontades
Irmãos nos sentimentos e prazeres,
Atados pelas mesmas claridades,
Comuns os seus direitos e deveres...

Sublime perfeição de um Deus que quis
Que o filho fosse amado e assim, feliz...



17

Jardins de nossos sonhos multicores
Caleidoscópio vivo que carrego,
Enfileirando lumes sedutores
Eu sei que não irei seguir mais cego.

Adaga penetrando mansamente,
A seta deste deus, louco menino.
O tempo de viver vai de repente
Mudando totalmente o meu destino.

Não deixa nem pegadas no areal,
Tentáculos da sorte me tocando,
Amor vem como um louco vendaval
E todo este cenário vai mudando.

A vida em desamor já fragiliza,
Desaba uma esperança em qualquer brisa...
Marcos Loures


18

Jardim que se floresce em teu encanto,
Inesgotável fonte de prazer.
Deitando tua pele como um manto,
Não canso de plantar e de colher.

Além deste jardim, existe o mundo,
Girando vagabundo, carrossel,
Percorro toda a Terra num segundo,
Chegando de mansinho, vou ao céu.

Serenas serenatas que eu te faço,
Debaixo do sereno – madrugada,
Um novo alvorecer, eu quero e traço,
Fazendo a noite intensa, alvoroçada.

A marca da pantera em minha pele,
Ao fogo da vontade, me compele...


19

Jardim em tão sublime floração
Também tem seus espinhos, disso eu sei.
O quanto em nosso sonho é redenção
Durante tanto tempo eu estranhei.

A rosa que permite um bom perfume
Espalha com vigor no meu caminho
Em forma de desejo, o seu ciúme
Mostrando claramente cada espinho.

A dança necessita contradança
O medo nunca pode derrotar
O gozo tão sublime em temperança
Deixando cada coisa em seu lugar.

Amor jamais permite calabouço,
O vento do prazer em ti eu ouço...


Marcos Loures



20

Jardim de uma alegria, florescente,
Deitando no meu colo, a minha amada,
O coração, feliz adolescente,
Escuta em tua voz, uma chamada,

E grita ao doce amor sempre presente,
Já dando em minha vida uma guinada,
O quanto ser feliz tão simplesmente
Na mágica emoção anunciada.

A trama que em teus lábios se mostrou,
Em teu sorriso manso me entregou
Deixando para trás qualquer mistério.

Assim, ao perceber tanta meiguice
Relembro de outro alguém que um dia disse:
Amor não tem juízo e nem critério.
Marcos Loures


21

Jardim de tantas rosas, todas belas,
Esplêndido canteiro, com certeza,
Que é feito em profusão, tanta beleza,
Um céu que se emoldura nas estrelas...

Quem dera se eu pudesse, assim, vivê-las
E ter com tal magia, e com presteza
Louvores se desfilam, natureza;
Um mundo é muito pouco p’ra contê-las.

Decerto o grande bardo inspirador
Que emana em ricos versos que recebo,
De toda a maravilha que concebo,

Força descomunal de um sonhador
Que canta no conjunto a tal mancebo
Em arco e seta, alado, o deus AMOR.
Marcos Loures


22

Jangadeiro que corre para o mar,
Meu amor também busca por sereia;
Distante, vou sonhando nesta areia,
Nas praias onde tento te encontrar...

Saindo de manhã para pescar,
Esse sol, escaldante, te incendeia.
Saudades vai deixando, triste teia,
Que enreda quem viveu só para amar...

Na jangada, correndo com o vento,
Transportas esperanças, sofrimento;
As lágrimas sinceras que ficaram...

No retorno, tristezas se alegraram,
Outras vezes, as vidas acabaram;
E quem partiu, ficou no pensamento...
Marcos Loures



23

Jangada solta ao mar em pescaria
Uma esperança alerta aqui na areia
Do dia que virá festa, alegria,
Na boca pescadora da sereia

O canto não se cala, de magia,
A pele bronzeada se incendeia
Irrompe todo o bem da fantasia
E a lua na varanda brilha cheia...

Se nas brancas velas de teu braço
Plantei milhões de estrelas coloridas.
Eu quero desfrutar de cada abraço,

Beber de tua boca, uma saliva.
Na pesca, mil espécies tão sortidas...
Mas guardas, entre as pernas, água viva...


24

Jamais verei uma esperança em vida
Cansado de lutar inutilmente
Desarmonia me tomando; mente
Mosaico em ilusão vã, distraída.

Reconhecendo no portal; saída
A vida se transforma totalmente.
Com tal vigor eu caminhei; demente
Sabendo desde já da despedida.

A minha sorte, insana tanto bole
E muda a direção da tempestade
A solidão aproveitando invade

Impede que minha alma siga leve,
Amor se mostra quando a luz se atreve
Na sede que se mata a cada gole.
Marcos Loures


7625

Jamais te trairia meu amor,
Seria com certeza bem cruel
Se fosse desta forma. Em teu calor
Encontro com certeza doce mel.
E digo, me acredite; por favor.
O que mais sei na vida é ser fiel.

Eu quero todo o fogo que se emana
Desta delícia imensa que me trazes.
A força da paixão é soberana,
Meus lábios te procuram mais audazes,
Vem logo que esta vida não engana,
Eu quero teus carinhos mais vorazes...

Menina és a razão da minha vida,
Decerto não serás jamais traída...



26



Jamais te esqueceria; saibas disso,
Perceba a eternidade deste sonho,
O amor mantendo sempre o belo viço,
É tudo o que mais quero e te proponho

O quanto amanhecer se fez risonho,
O coração entregue em reboliço,
Enquanto nos teus braços eu me enfronho,
Aumenta com prazer meu compromisso.

É claro que há espinhos; sempre os há;
Porém nosso caminho mostrará
As flores cultivadas com carinho.

Contigo sou feliz; isto me basta,
Minha alma de tua alma não se afasta,
Por certo não serei jamais sozinho...



27

Jamais te deixarei minha querida,
A vida sem te ter, não vale nada,
Seguindo o teu caminho, doce estrada,
Embora tantas vezes, distraída,

A mão que te acarinha, vale a vida,
Não quero outra manhã nem alvorada
Que venha sem te ter, querida, amada.
Pois vejo em nosso amor, uma saída

Às dores que encontrei pelo caminho,
Meu coração sofrido, um passarinho
Distante de seu ninho. Na verdade,

Eu quero nosso amor, santa magia,
Mesmo que dure assim, único dia,
Já vale, para mim, a eternidade!


28

Jamais te abandonei; minha morena,
Tu tantas vezes disse: não te quero.
Meu coração voltando à velha cena
Sabe dizer o quanto que venero

E sinto tua ausência, não te nego,
Andar sem teus braços é vagar
Levando a dor que triste assim carrego,
Sem chance de viver e de lutar.

Eu te amo e não consigo te esquecer,
O frio dentro da alma me consome.
Sem ter o teu carinho, sem prazer,
A luz na minha vida, aos poucos, some...

Não fale de abandono, por favor,
Em ti eu reconheço o meu amor!
Marcos Loures


29

Jamais sou responsável se eu cativo
A rosa apodrecida da esperança.
Não digo que talvez eu siga altivo,
Matando o que restou, mera lembrança;

Porém de uma alegria eu não me privo,
Eu juro, não pari tola criança
Que sangra, mas que tenta manter vivo
O amor que, sem remédio, logo cansa.

Tu finges que me queres, mas não vês
Que a vida não se move em teus porquês
Deitando sobre amor farsa e mentira.

De ti, me libertando, loucas tramas,
Enquanto o mel do sonho tu derramas
A Terra sem descanso sempre gira...
Marcos Loures


30



Jamais serei romântico, querida,
Por mais que te pareça ser tão lírico,
Enquanto foi inútil minha vida
O método que usei não foi empírico.

Não tenho as cicatrizes que propago,
Tampouco grandes fatos, fardos, gozos,
Da fruta não comi sequer um bago
E os dias nunca foram caprichosos.

Somente, dos desejos, sanguessuga,
Não devo aos grandes sonhos, uma ruga,
Soprando como brisa, sem procelas.

Colecionando versos sem sentido,
Às vezes sendo escravo da libido,
Não conheci corcéis, voos nem selas...


31

Jogando carteado noite afora,
Ganhando experiência, perco a grana.
Enquanto a sorte amarga assim me afana
Eu tento e não consigo: vou embora?

Quem sabe com certeza faz agora,
Porém que nunca cabe já se dana
Eu devo confessar: sou um banana.
E a turma outra vitória, comemora.

Quando eu chegar em casa, o quê que faço?
Eu sei que a dona encrenca vai chiar;
Mas já me acostumei e nem disfarço.

Rolo de macarrão no meu costado.
Apanho, apanho, apanho até cansar,
Mas jamais deixarei meu carteado!


32

Jogados sobre a mesa: dados, cartas,
Aviso aos navegantes, eis a praia,
À vista ou mesmo à prazo, nunca caia,
Nas velhas arapucas. Não te fartas.

Nem mesmo o paraíso que descartas
Permite o canto livre da jandaia,
A deusa dos delírios sabe a vaia,
Porém dos teus caminhos nunca partas.

Servir a quem não serve; teu engodo,
Remóis o teu passado e deste modo
Jamais tu poderás beber futuro.

Augúrios decifrados por ciganas,
Enquanto a solução; já desenganas,
O grão não brotará neste chão duro...


33

Jogados nas sarjetas, nas calçadas
Na visceral vontade que me nos toma,
O nada que se mostra em cada soma,
Expressa-se nas duras caminhadas,

Nas câimbras de minha alma qual um coma
As farpas penetrantes, entranhadas,
Os olhos vão buscando os mesmos nadas,
Insana dor de tudo já se assoma.

Redomas de ilusões não mais resistem
Embora as cicatrizes que persistem
Demonstrem coleções de desencantos

Eu tento ensimesmado resistir,
Porém com solidão a me impedir
Não ouço nem sequer antigos cantos.
Marcos Loures


34

Jogados contra o vento; em cinzas, feitos
Feitiços e feitios mais diversos,
Amamos nossos sonhos já desfeitos
Apenas revividos nestes versos.

Na podre hipocrisia dois eleitos
Nas tocas mais ferozes, quais perversos
Destinos esculpidos em trejeitos
Bastardos tão unidos, mas dispersos.

No pão não repartido, na injustiça
A boca se entupindo de carniça
Jogada pelos donos do poder.

Escárnios, carnes podres, um banquete,
Na marca deste corte em canivete
O gozo alucinante de um prazer...
Marcos Loures


35

Jogado sobre as pedras num naufrágio,
O barco que criei em fantasias,
Durante as tempestades, tu fugias,
E o amor cobrou sem pena, juros, ágio.

À deriva tentara fugir, ágil,
Porém as ondas tomam cercanias
E tombam sobre as águas sempre frias,
Mostrando o quanto o amor se torna frágil.

Tentáculos diversos, calabares,
Ausência de esperança em vastos mares,
Sangrias entre os dentes, meu grilhão,

Reveses decifrados, névoas fartas,
Não tendo mais saída, me descartas,
E deixas no lugar, a solidão...
Marcos Loures


36


Jogado sob olhares da Medusa
Meus sonhos se fizeram infelizes,
Nos dias acumulo cicatrizes
A vida se tornando mais confusa.

Distante da beleza desta Musa
Que finge não saber dos meus deslizes,
Espero com certeza que divises
Com toda a maravilha que produza

Uma amizade imensa e consagrada,
Mostrando uma manhã bela e raiada
Depois da tempestade malfazeja.

Amiga me permita conceber
Um mundo mais tranqüilo onde o prazer
Não seja simples meta que se almeja.


37

Jogado sempre às traças, ventania,
O barco se esqueceu que tinha um leme,
A terra sem um porto sempre treme
E muda a direção que bendizia.

A madrugada segue dura e fria
O peito solitário tudo teme,
O vento em assobio vem e geme
Tornando mais macabra e mais sombria

A noite que se fez sem dar alento.
Distante, bem distante o pensamento
Procura dispersar o furacão.

Minha alma num momento, decomposta
Ouvindo deste amor, cruel resposta:
O quanto que eu amei, foi tudo em vão.
Marcos Loures


38

Jogado pelas ruas, corpo imerso
Em meio a duras pedras, na sarjeta
O vento me invadindo, vai perverso
No corpo a cicatriz, podre tarjeta

Restando a solidão de um simples verso
Que toca a noite imensa e faz asceta
Quem tanto vasculhou pelo universo
Na busca pelo amor, velho cometa.

Escombros do que fui carrego agora,
Batalhas que encarei, todas perdidas...
Nas entranhas expostas, consumida

Ninguém ao ver-me verme inda deplora,
Rolando encontro enfim o doce esgoto
Refúgio terminal de um bosta roto....
Marcos Loures


39

Jamais permita a morte da criança
Que habita o coração de quem se dá
Sabendo a maravilha desde já
É nisso que consiste uma esperança.

Tomando a tempestade, a temperança
Reflete o sol que sempre brilhará
Um mergulho na infância ditará
O amor que deixaremos como herança.

Fonte da juventude, o carrossel
Que ainda vibra em nós, roda gigante,
Permite a paisagem fascinante

Guardada em nosso peito sob o véu
Das dores que ofuscamos com a luz
Farol ao qual o sonho nos conduz...
Marcos Loures


40





Jamais perecerá quem crê nos sonhos,
Vertidos entre as luzes soberanas,
Por mais que venham trevas desumanas,
Mergulho nestes mares tão risonhos.

Desnudas a tua alma redentora,
Sublimes fantasias que desfilas,
Erguendo maravilhas das argilas
Palavra encantadora em ti se aflora.

E gestas com teus versos, novo tempo,
Vencendo a tempestade, o contratempo,
Ungindo em paz um raro amanhecer.

Quem sabe já cultiva com perícia,
Frutificando enfim, rara delícia,
Moldando em plenitude, o bem viver...



41


Jamais neguei que quero o teu amor,
Se eu sonho o tempo inteiro possuir
Morena mais faceira que há de vir
Com toda esta vontade e com fulgor

Meu verso te percorre a te compor
Rainha dos meus dias. Vou pedir
Aos céus, aos mares, lua em pleno ardor,
Que possa finalmente te sentir

Na cavalgada em louca maestria
Teu corpo junto ao meu, forte atração.
Tomado por insânia e por paixão

Além do que jamais eu saberia
Dizer; deixo que fale o coração
Ao decorar a tua geografia...
Marcos Loures



42

Jamais necessitei de ti, amiga.
E disso com certeza fiz o ninho
Aonde esta amizade já se abriga
E trama noite e dia o seu caminho.

É preciso dizer que a forte viga
Que liga nossos mundos é o carinho;
Com toda confiança e sem intriga.
Eu posso, mas não quero ir mais sozinho.

Uma amizade é forte enquanto sabe
Que o caminho de outrem já não te cabe,
Embora seja bom o caminhar,

Os passos sempre vão independentes.
Os rumos escolhidos, diferentes,
Porém nossa alma sempre gemelar..
Marcos Loures


43


Jamais me esquecerei desta mulher
Fantástica paisagem feita em luz,
Da lua que em molduras me seduz
A bela fantasia em seu affaire

Sabendo desde sempre o que mais quer,
Amenizando o peso de uma cruz,
À glória de ser livre já faz jus
Vencendo a tempestade que vier

Por isso é que me orgulho de poder
Gritar aos quatro cantos o prazer
De ter tua presença encantadora.

Saber-te companheira de viagem
É ter total certeza de uma aragem
Sublime que meu céu doura e decora...



44

Jamais me esquecerei daquele dia,
Durante muito tempo, o pesadelo
Tomando o pensamento num novelo,
Tramando tão somente esta agonia.

Distante do que o sonho fantasia
Não posso nem desejo mais revê-lo,
O amor quando se mostra em tal desvelo
Apenas solidão imensa cria.

Gerânios na janela do meu quarto,
Na imagem que jamais dela me aparto
Retrato de um passado mais feliz.

Agora o vento açoda estes umbrais
Repete este estribilho: nunca mais!
Escombros do que um dia, eu tanto quis...


45

Jamais me esconderei, tenha a certeza,
Sou teu e nada impede esta vontade
De ter ao fim de tudo, a claridade
Expressa com real, rara beleza.

Quem segue nesta vida com destreza
Encontra em tanto amor felicidade,
Bebendo deste sonho que me invade
Terei ao fim da tarde, esta grandeza

Do amor que me domina e me conquista
Além de uma utopia simplesmente.
A vida do teu lado tão benquista

Traduz o meu desejo mais profundo
Estar sempre contigo e ser contente,
Paz no meu coração tão vagabundo...
Marcos Loures


46

Jamais irei viver alvorecer
Em paz, leve sorriso eu já não tenho.
Quem teve da alegria o seu empenho
Percebe quanto é duro perceber

Que a sorte abandonada, de onde venho,
Deixando bem distante o meu prazer.
Apenas sofrimento, enfim, retenho,
No sonho uma vontade de morrer...

Perdida, bem distante, a mocidade,
Um resto de esperança esvai agora.
A dor que no meu peito já demora

Resume o que senti na realidade.
Meu canto, sem sorrisos, não resiste...
E morro devagar, vazio e triste...


47

Jamais irei temer um pensamento
Que fale, sem pensar, em desenganos...
Soltando meus segredos neste vento,
Passando, sem mentir, por tantos anos...

Eu vivo sem cobiça ou ambição
De coisas que não tragam meu prazer.
Eu vivo com total sofreguidão,
Espero, em cada curva, o meu lazer...

Hedonista, bem sei que assim eu sou,
Não quero nem tristezas nem saudades.
Quem vive em plena nuvem que passou,
Não pode vislumbrar felicidade.

Pois abra teu sorriso, companheira,
Amiga, trague a vida, beba inteira!


48


Jamais irei perder o meu caminho
Que leva para ti a todo instante,
Meu passo permitindo que adiante
Em direção ao barco aonde aninho

Um coração que outrora foi sozinho,
E agora vai contigo, um par constante,
No encanto que se mostra radiante
Expressa a sensação de amor e ninho.

Vem logo e não permita que a saudade
Invada minha cama e ponha a mesa.
Depois que encontrei vou sem defesa,

Pois sei do sentimento que, em verdade,
Fez-se sinceridade em plenitude.
Moldado na esperança e na atitude...


49

Jamais irei buscar outra saudade,
Por isso não consigo mais amar.
Viver ou conceber realidade
De certo modo, engajo-me em teu mar,

Mas faço deste amor fatalidade,
E digo que não posso descansar
Enquanto não houver felicidade,
Afogo meus delírios neste bar.

E travo com vontades, uma luta
A chama da paixão, bem mais astuta
Agita em fogaréu, mas eu disfarço.

Amarro da ilusão qualquer cadarço
Pois sei que a queda marca em alvoroço.
Deixando os teus sinais em meu pescoço...
Marcos Loures


7650

Jamais irão trilhar ledos enganos,
Os pensamentos plenos de saudade.
Por mais que tenhas vários os teus planos
Rastreio os teus caminhos. Claridade!

Os gozos inda vibram soberanos,
Lembrando que eu te amei. E na verdade
Ainda quero ter de novo os anos
Aonde eu conheci felicidade...

As lágrimas traduzem quão é forte
O imenso sentimento que me toma.
O amor quando demais além da soma

Multiplicando em luzes nossa sorte
Aporte insuperável de emoção,
Saudade refletindo esta paixão...


51

Jamais gargalharia; eu te garanto.
Mas posso te dizer: foi muito bom.
Foguetes pipocando em todo canto,
Nos céus estrelas nuas de neon.

Não sei se ainda rezo, danço ou canto,
Tampouco desafino deste tom,
Fingindo com sarcasmo algum espanto,
Julguei não ser possível ter tal dom.

A tua derrocada, companheira
Depois de tanta empáfia; é um sinal
Que existe um Ser supremo e divinal

Mesmo sendo a justiça passageira,
Eu posso em regozijo te dizer
Do quanto tua dor me deu prazer...


52

Jamais eu te esqueci, meu grande amor.
Tantas vezes chamei pelo teu nome
E nada...Tão somente; morta a flor,
O frio dentro da alma me consome...

Tentei deixei de amar. Que dissabor!
Nada mais faz que a vida eu já retome,
Imerso neste charco, em viva dor;
A solidão devora, a paz já some...

Mas sei que esta saudade me alimenta
De toda uma esperança sem sentido.
A tua voz distante representa

Um elo terminal em minha vida.
Sem ela com certeza, assim perdido,
Teria toda a sorte, decidida...


53

Jamais eu quis ter lucro ou prejuízo,
Apenas empatados, um a um.
Quitanda de um amor perde o juízo,
Depois de certo tempo, eu sou nenhum.

Um fósforo queimado pelas ruas,
Restos mortais dos sonhos que inda trago.
Olhando o meu passado quis as luas,
Do meu cigarro resta apenas trago.

Se desembesto e sigo sem paragem,
No fundo não teria outro caminho.
O beijo da pantera? Uma bobagem
Sem trilhos, descarrilo em desalinho.

Balbuciando o nome de quem quis,
Alento em fogo brando, a cicatriz...


54

Jamais eu poderia te enganar,
Não posso mais pensar em ter alguém,
A morte se aproxima, perco o trem
A noite tenebrosa sem luar.

Quem sabe... Mas eu devo confessar.
Outro caminho amiga, a ti convém,
Estou das esperanças muito aquém,
O rio dos meus sonhos nega o mar.

Meus olhos não têm brilho, são opacos.
Restando do que fui somente cacos,
Pedaços espalhados pela sala.

Jamais conseguiremos ser felizes,
São grises os meus céus, parcos matizes,
Das dores a minha alma, uma vassala...
Marcos Loures


55

Jamais eu poderia ser feliz.
A vida não cansou de me mostrar
Que nada enfim teria do que eu quis,
Não fui feito, decerto para amar.

A poesia eterna meretriz,
Deitando este prazer num lupanar,
Enquanto a realidade já desdiz,
Eu teimo, inutilmente, no sonhar.

A minha vida passa em falsos guizos,
Vestindo em sarcasmos meus sorrisos,
Mergulhos nos vazios dentro em mim.

Arranco minhas máscaras então,
E vendo num espelho este bufão
Estúpido palhaço: sou assim!
Marcos Loures


56

Jamais eu poderia me esquecer
Da noite que tivemos no passado.
Vivendo este momento de prazer,
Deveras com carinho relembrado

Eu posso novamente perceber
O quanto se é feliz enamorado.
A cada novo instante eu posso crer
Que fui pelo bom Deus, abençoado.

E ao ter tua presença novamente,
Recolho os dividendos da esperança,
E quando em teus carinhos se pressente

Que enfim eu poderei viver em paz.
A mão da poesia já me alcança
E um mundo em calmaria quer e traz.
Marcos Loures


57

Jamais eu poderia desdizer
O que a cigana há tempos já previu.
Do amor que se perdeu sem dar prazer
Um cheiro ora tão profano e tão sutil.

Fingir que eu consegui mesmo esquecer
O beijo em temporal que me seguiu
Durante tantos anos pude crer
Que nada adiantou, pouco serviu...

Rasgando o coração, eu vou me expondo
Sonhando com a volta. Uma ilusão...
Por mais que o mundo seja assim redondo

Jamais eu te terei de novo aqui.
Errante e sem destino, mão em mão,
Procuro em cada corpo, estar em ti...
Marcos Loures


58



Jamais eu poderei viver em paz,
Diziam aos meus olhos teus oráculos.
Nem mesmo a fantasia satisfaz
Tomado pelas garras e tentáculos

De quem em desencanto sempre traz
Terríveis tempestades; espetáculos
Aonde a fantasia mais voraz
Não vence o desamor em seus obstáculos.

Beligerantes noites, carrosséis,
Aborto o navegar, pois sem convés
Meu barco não terá sequer um porto.

Convido-te, sarcástica, e o velório
De um velho singular e merencório
Dissecará meu verso amargo e morto...



59

Jamais eu deixaria de querer
Amor que imensidão assim promete
Vivendo esta magia, com prazer,
A sorte nos teus braços me arremete

Recebo o teu afago em belos versos,
Encantos e vontade amor eterno.
Por mais que nossos dias são diversos
Carinho que me mandas sempre terno.

Abraços e delírios, mar e praia
Meu Porto transformado em belo cais.
O vento que balança tua saia
Permite e quero ver cada vez mais...

Amar é receber em alegria
Bem mais que imaginei que poderia...
Marcos Loures


60

Jamais eu deixarei de tanto amar
Estrela que me guia pelos céus...
Distante de teus raios, meu luar,
Por vezes escondido nos teus véus.

Estou sempre contigo, não percebes?
Meus lábios te procuram, madrugadas,
No vento que deitada tu recebes,
Nas horas mais tranqüilas, delicadas

No vento que te toca, teus cabelos,
No riso mais sereno e mais profundo.
Nos sonhos mais audazes, atropelos
Que te invadem. No teu mundo,

Em cada novo verso que fazemos,
Nos dias mais felizes que vivemos...



61

Jamais esqueceria
Amor que me invadiu,
Transborda em alegria
Meu coração a mil

Numa taquicardia
Desejo tão sutil
De amor e poesia
Neste verso gentil,

Pois tudo o que eu queria
Meu peito descobriu
Vibrando a fantasia

Na qual se coloriu
Amando todo dia
Meu coração se abriu.


62


Jamais esqueceria o teu olhar,
A senha concebida em noite clara.
Sabendo quanto é bom poder te amar
A voz em tons macios te declara.

Batendo em tua porta devagar,
Tua presença amiga sempre ampara,
E quando sinto a boca me tocar
Encontro o que sonhei, o que buscara..

Somando nossas forças sigo em frente
Suplanto em alegrias os obstáculos,
Amor com poderio em seus tentáculos

Oráculos decifra plenamente
E num sincero rito demonstramos
O quanto é que deveras nos amamos...


63

Jamais esqueceria a quem adoro
E desejo que esteja junto a mim.
Se às vezes eu pareço que demoro
Não pense que desprezo amor assim.

Sou teu e sou feliz por seres minha
Ó Musa que me encanta e me alucina
Minha alma vai sombria e tão sozinha
Distante de quem sabe que domina

E finge que não vê meu sofrimento
Se está em outros campos, outras sendas.
Não deixo de querer um só momento
Deitar o nosso amor em belas tendas

Nas noites maviosas e esperadas
De estrelas e de luas decoradas...


64

Jamais esquecerei o nosso beijo
Que nunca foi trocado, disso eu sei...
Apenas vasculhamos o desejo
E tão depressa veio e me entreguei...

Por certo não contavas com meu canto,
Entendo que não queiras mais voltar.
Vivendo o que me resta em desencanto,
Abraço essa cortina, esse luar...

Amada mas não tema pela sorte
O canto que te trouxe fortalece
Terá no teu futuro o vento forte
Que tanto nos dá força e enriquece.

Amada só te peço não se esqueça
Do beijo, mesmo que nunca aconteça...


65

Jamais esquecerei dos teus carinhos,
São marcas deste encanto que alimenta
Paixão que nos tomando, violenta
Aquece com desejos nossos ninhos.

À noite que se embebe em burburinhos,
O gozo da loucura que apascenta,
A vida, quem me dera, fosse lenta,
Ao decifrar teus signos e caminhos.

Assim dois companheiros de viagem
Tramando em alegria esta paisagem
Tecendo a realidade com magia.

Enquanto a gente bebe poesia,
O templo da esperança traz roupagem
Divina que este amor, conduz e cria...
Marcos Loures



66

Jamais esquecerei de teus apelos
Refém de tantos sonhos, sigo só.
O amor ao envolver-me em seus novelos
Retorna e se renova, deste pó.

O vento balançando os meus cabelos,
A vida vai passando sem ter dó.
Momentos tão difíceis de vivê-los
Saudade traz moinho, amor é mó.

Manadas de ilusões já vão distantes
À sombra dos meus erros e pecados
Gingados da lembrança provocantes

Dominam tal cenário. O que fazer?
Os olhos no horizonte, disfarçados
Engendram velhas lendas, desprazer...


67

Jamais será tão tarde
Pra quem tem a razão
Em sonho sem alarde
Completa sensação

De um bem que queimando, arde
Mas mostra a solução
Do dia que não tarde
Moldando uma emoção

Na mão cariciosa
No peito juvenil,
Ao florescer a rosa,

Perfuma o meu canteiro,
A amizade gentil
Um sonho alvissareiro.


68

Jamais será decerto, amargo e rude,
Quem tem numa amizade, a senhoria.
Mudando num momento de atitude
Espalha sobre a terra tal magia.

No passo transformado, eu também pude
Prever em meu caminho esta harmonia.
Rompendo em força intensa, antigo açude
Uma esperança expressa esta alegria.

Algemas que rompi do meu passado,
Na visceral vontade de conter
Bem mais que simples fonte de prazer

Encantos deste dia anunciado
Trazendo todo o bem que outrora eu quis,
Mudando do meu céu, todo o matiz.
Marcos Loures


69

Jamais se perderá em desatino
Quem vive a fantasia e não deserta
Certezas desde o tempo em que menino
Mantinha o peito em porta sempre aberta.

As chuvas que apanhei, a escuridão,
As marcas tatuadas dia a dia,
O tanto que tivera em negação
Agora vaga lume me irradia.

Da tétrica manhã que ameaçava
O resto do caminho em temporais
Minha alma em alegrias já se lava
Tocando com firmeza porto e cais.

Coragem que decora o coração
Permite deste amor, declaração...
Marcos Loures


70

Jamais retornei, pois nunca fui
Estive o tempo inteiro lado a lado,
Embora muitas vezes disfarçado,
O rio em mansidão deveras flui.

Talvez não me notaste, minha amiga,
Porém meu braço sempre te apoiou,
E o tempo que sem tréguas já passou
Deixou cada palavra que te abriga.

Não tema a tempestade, sou teu par,
E vivo em cada frase que tu dizes,
E mesmo nos momentos infelizes,

Principalmente neles vais notar
Um vento que te acalme e te apascente
Tocando os teus cabelos, tua mente...
Marcos Loures


71

Jamais resistirão à maré cheia
Amores construídos sobre o nada.
Ao mesmo tempo a brasa que incendeia
Expressa a solidão anunciada.

Os dias que virão sombrios, frios,
Não deixam qualquer dúvida: acabou.
Da frota desmembrados os navios
Apenas o deserto, o que restou.

Olhar vai se perdendo no Levante,
Buscando algum resquício no oceano.
A sorte distraída e tão distante
Conclama num instante ao desengano.

Mas quando o teu sorriso, amada eu vejo,
Acende logo a chama do desejo.
Marcos Loures



72

Jamais posso negar intenso brilho
Que emanas nos teus olhos, companheira.
Meu mundo nos teus passos eu palmilho
Com minha admiração mais verdadeira.

Se Deus, em sacrifício deu Seu filho
Amando, com certeza a Terra inteira
Ergueste com firmeza esta bandeira
Que é rumo e vai dourando um nobre trilho

Que deixas no caminho com vigor.
Sabendo do poder do Santo Amor
Deixando para trás qualquer orgulho

Tua amizade é nobre e consciente
Fazendo toda gente mais contente
Sem ter nenhum alarde, nem barulho...


73

Jamais ponto final em nosso amor!
No máximo uma vírgula, mesmo assim
Não quero mais um peito sofredor
Batendo tresloucado dentro em mim...
Mil versos em teu nome irei compor,
Levando uma esperança até no fim...

Pois venha ser meu til, minha emoção,
Menina tão bonita, uma ousadia
É ficar tão distante desta paixão
Que traz pra nossa vida essa alegria.
Corsária que tomou meu coração
Brotando em pleno sonho e fantasia..

Abrindo tais parênteses, querida,
Como é bom desfrutar prazer na vida!


74

Jamais permitirei tal heresia
De ter um vão sorriso, um beijo falso,
Não quero mergulhar no cadafalso
Que a noite nos teus braços prometia.

Viver tão somente em fantasia?
Um futuro mais digno; eu quero e alço
Vencendo qualquer forma de percalço

Não trago mais descalço um velho sonho.
O canto em harmonia que componho
Talvez inda me trague a redenção.

Mas vejo que, perdido o sentimento,
Eu desconheço a força deste vento:
Difícil descobrir a direção.
Marcos Loures


7675

Jamais conseguiria te esquecer
Tu foste um raio imenso de alegria
No rastro de teus passos, poesia
Estende este tapete, bel prazer.

Nos olhos de quem amo eu pude ver
O brilho que emoção sempre irradia,
Felicidade um dom que se já se urgia
E em ti eu pude, enfim; reconhecer...

Por mais que mil ardis a vida faça
Ser dura a caminhada de quem ama,
O amor ao esculpir sublime trama

Usando da esperança sua massa,
Na força soberana e tão gentil
Das doces emoções faz seu buril...


76

Jamais conceberei ser evitável
O cancro que me invade por inteiro.
Na pútrida matéria descartável,
Exposta a várias cores do tinteiro;

Encontro meu destino inconsolável.
Vagando por amor tão “verdadeiro”,
As marcas deste rumo maleável,
Fagulhas que me queimam, vil braseiro...

Vestiste de pureza, podre atriz.
Nos ritos dos amores, foste vã.
Horrenda e tão profunda cicatriz...

És verme que minha alma creu divina,
Escondias pendores, cafetã
Disfarçada nos ares de menina...

77

Jamais aponte o dedo para o céu,
Não quero namorada verruguenta.
O amor que a gente quer já não aguenta
Um mote tão estúpido e cruel.

Na venda do chinês, como um pastel
Pensando na barata tão nojenta,
Olhar que sendo atento não inventa
Já sabe com certeza o seu papel.

Depois de uma enxurrada de bobagens,
Mentiras dando o tom das paisagens
Eu tento algum disfarce e caio fora.

Do amor que eu pensei doce, diarréia,
A moça, na verdade esta mocréia
Graças ao Bom Deus já foi embora...
Marcos Loures


78

Jamais aceitarei a despedida,
Se agora estás marcada dentro em mim,
Distante do vazio de onde vim
Em ti eu reconheço a própria vida.

Mergulho nos meus ermos; desvalida
Paisagem sem te ter; perco-me assim,
Não posso suportar, é o meu fim.
Imenso labirinto sem saída...

Se a lua que te trouxe não voltar,
De que valeu estrela, céu e mar
Sem brilho e sem os raios fascinantes

Que tornam minha noite quase um dia,
Inútil, totalmente a poesia,
E os sonhos? Pesadelos lancinantes...


79

Jamais a despedida amor verá,
Se é feito com firmeza e com ternura.
Sem pânico ou temores, vingará,
Trazendo para a vida uma água pura.

Sem mágoas, sofrimentos ou afins,
Contigo caminhando por distâncias,
Das terras mais longínquas, dos confins
Mantendo nos sentidos, elegâncias...

Verás que amor assim não foge à luta
É feito pra vencer qualquer espinho.
Quem ama e deste amor tanto desfruta
Já sabe que este sonho passarinho

Precisa ser cuidado com desvelo,
Vivendo sem saber de um atropelo...
Marcos Loures


80

-Já vou! Grita o menino que já fomos.
A mãe impaciente não descansa.
A foto da modelo, seios, pomos,
A gruta desejada não se alcança.

As mãos tão ocupadas fazem festa
E a mãe vai insistindo lá de fora.
A coxa da morena é só o que resta
Espera mais um pouco. Vou agora...

E nisso, sua prima está chegando,
Com fogo de moleca aborrecente.
De novo recomeça imaginando

Aquilo que se vê, mas não se sente.
- Espere mais um pouco, tô saindo.
( Pois a felicidade já vem vindo )


81

Já vem raiando um belo e claro dia
Trazendo no seu bojo a tocha acesa
Que faz iluminar a natureza
Assim que o sol, brilhante se irradia.

Formando em cada raio um novo guia
Que oferta para todos a beleza,
Em força e claridade, uma riqueza,
Assim que uma manhã se principia.

Estampa em cada rosto, a caridade,
Tornando nossos sonhos mais brilhantes.
Amar assim aos nossos semelhantes

É ter uma certeza: ser feliz.
Por isso em cada verso que te fiz
Eu louvo o teu desejo de amizade....


82


Já tenha uma certeza, não duvide.
De todo o sentimento que alimento.
A luz de teu carinho sempre incide
Sobre o meu corpo e queima em fogo lento.

Porém se tu quiseres incendeias
Em chamas bem mais fortes, nossas noites.
Amor trago comigo em minhas veias
E compartilho assim, nestes pernoites.

Eu quero lambuzar-me no teu mel,
Alçando um vôo livre em tuas mãos,
Ao descobrir teu corpo, mantos véus
Poder usufruir dos belos vãos...

Estou aqui morrendo de vontade
De poder dividir felicidade...


83

Já tendo uma esperança como guia
Enfrento a solidão com destemor,
O quanto se faz claro que este amor
Derrama sobre nós a poesia.

Da voz que tanto tempo me dizia
Que a cada novo obstáculo a transpor
O sentimento encontra mais vigor,
Mostrando em plena paz tanta alegria

Eu sinto o toque calmo e soberano,
Cerrando para sempre o desengano,
Condenado ao eterno desabrigo.

Qual lavrador que um sonho cultivara,
Numa colheita amena, bela e rara
Recolho cada rastro que persigo.
Marcos Loures


84

Já tendo totalmente o que procuro
Depois de tanto tempo sem ninguém,
Amor vem sorrateiro e salta o muro,
Depressa coração, que o amor já vem.
Aguando em alegria um chão tão duro,
Eu colherei enfim, todo o teu bem.

Mesclando cores várias, eu percebo
A tela mais perfeita que sonhei.
O vento encantador que ora recebo
Demonstra a maravilha que hoje sei
Está na fonte pura, e dela eu bebo
O mel que com certeza eu procurei.

Os olhos de quem amo; são estrelas,
Divina a sensação de recebê-las...
Marcos Loures


85

Já sente o fogo ardente no seu leito
Aquele que deixa transportar
Pelo amor verdadeiro vai aceito
E bebe a fantasia de um luar.

Vivendo tão feliz e satisfeito
Caminha em passo firme e devagar,
Abrindo com certeza um duro peito
Adentra a fantasia, imenso mar.

Eu sinto que este amor que tu me deste
Da glória de viver, perfeita veste
Permite cada passo sem temores.

Nos olhos da esperança, o meu farol,
Nos braços de quem quero, sinto o sol
Emoldurando assim divinas flores.


86

Já sei felicidade
Nesta alegria insana
Que cedo assim me invade
Em sorte soberana,

Mas criticar quem há de?
Amor que vem e explana
E trama a liberdade
Que enfim jamais engana.

Desfilo a fantasia
De ser eternamente
Qual presa da magia,

Que faz de mim, contente,
Um ser que noite e dia,
Se encanta, corpo e mente...
Marcos Loures



87


Já se condena à paz feita em tormento
Amor que nada colhe, mas que planta,
O tempo em contratempo passa lento,
No rosto da morena sacripanta.

No mimo sem estímulo o meu leme
Estampa o quanto é lírico o sorver-te
O frio em serventia trata e teme
Por mais que a chuva intensa sempre aperte.

Mereço esta jornada? O nada eu jorro
E corro, vou atrás; mas nada achei
Guinada que se deu, pede socorro
O verso catalítico entranhei

Amor que apocalíptico se esvai,
Elipse em carrossel, rondando cai...


88

Já sabe: não virá nada mais nada após;
Quem desistir duma esperança breve,
Um sonho vão decerto não se atreve,
A desvendar deste segredo os nós

À ventania que se mostre atroz
Numa inconstância, como pluma leve
Sucumbirá no sonho que me leve
Distante deste rio, perco a foz.

Enquanto busco ao menos a esperança
O vento descuidado já me alcança
Na dança das audazes ilusões.

Quem sabe uma ternura inda conceba
Amor que se mostrando noutra gleba
Expressa as mais doridas tentações...
Marcos Loures


89

Já sabe valorar a redentora
Presença da amizade em nossa vida
Aquela que se dá sem ter nem hora
Não teme nem sequer a despedida.

Assim, ao te falar, querida, agora
Do quanto é necessária uma saída
O canto que se emana revigora
A paz que é tantas vezes distraída.

Lutando contras as forças oponentes
Enfrento as ventanias em torrentes
Mergulho neste sonho, e vou inteiro.

Tentando demonstrar em amizade
O quanto pode ter tranqüilidade,
Durante tanto tempo, amor guerreiro,
Marcos Loures


90

Já sabe que terá ternura e alento
Distante do vazio de um adeus,
Tocado pelos olhos, num momento,
Voando em direção aos braços teus.

Singrando pelos ares, pensamento,
Carinhos e desejos, todos meus.
O canto de alegria, traz o vento.
Clareiam minha noite, belos céus.

Amor que nos unindo, em liberdade,
Dá-nos real sabor: felicidade
Vontade sem limites de saber

O quanto a vida foi maravilhosa
Cevando nos canteiros, rara rosa
Em forma de alegria e de prazer.
Marcos Loures


91

Já sabe o que procuro, aonde vou
O coração entregue à fantasia,
Enquanto uma esperança ainda ardia
Um rumo diferente, amor tomou.

Nas asas de um bom sonho, decolou,
Trazendo de uma estrela esta ardentia
Que aquece com ternura e galhardia,
Sementes de alegria, ele espalhou.

Atravessando mares, cordilheiras,
Escreve sua história e se deslumbra
Moldando a claridade da penumbra

Afasta os nevoeiros e se esgueira
Por entre as velhas trevas do passado
Deixando um rastro intenso, iluminado...
Marcos Loures


92

Já sabe e reconhece os artifícios
Aquele que se deu intensamente,
O fogo vai queimando e de repente
Prepara com carinho novos vícios.

De todos os desejos, meus ofícios
Sabendo quanto eu quero totalmente
Quem ama de verdade nunca mente
Só quando pressupõe tais precipícios.

Expondo a minha face num mosaico,
Falando deste amor, lerdo e prosaico
Quem dera se ele fosse mais bombástico.

Moleque que cresceu em riso farto,
Olhando o teu retrato no meu quarto,
Perdoe se pareço assim, sarcástico...


93

Já sabe conquistar, decerto o mundo
Aquele que se mostra por inteiro,
Amor que é benfazejo e verdadeiro,
Um sentimento raro e tão profundo.

Nos braços deste sonho eu me aprofundo
E sinto o vento manso e lisonjeiro
Que trama num sorriso, mais matreiro,
Atando um coração que é vagabundo.

Adentro as doces sendas da emoção,
Tocado pelo lume em sedução,
Amor dispara assim, o seu gatilho.

E tendo a claridade que sonhara,
Meu passo com firmeza já se ampara,
Não vendo mais sequer um empecilho.
Marcos Loures


94


Já preguntei responda meu amô,
Vivê sem tê vancê é disgramado,
Já prantei no cantêro dessa frô,
Meu coração ficô apaxonado!

Iscute, meu amô, um cantadô
Que dessa triste vida num vê lado
Sem tê vancê vai me fartá calô,
Como é que vô vivê, desesperado!!!

Pru favô num me dêxe mais sozinho,
Ansim vancê me faiz um sofredô,
A vida sem vancê num faiz sentido...

Sem te tê vô ficá ansim perdido,
Pois arretorne, entonce meu amô,
Um bêjo te mandei, num passarinho
Marcos Loures

95

Já não suporto tanta estupidez
De arautos disfarçados de poeta,
Gente que do vazio se repleta
Tentando macular a lucidez.

Enquanto o que foi feito se desfez
Nas mãos desta imbecil e tão abjeta
Figura que envenena cada seta
Pensando que escreveu em português

Vociferando à torto e de mal jeito,
Rolando solitário no seu leito
Sonhando com carinhos que não colhe.

Mal sabe este idiota, pois que a Diva
Por ser tão caprichosa, e até altiva
Entre jardins de joio, o trigo escolhe...



96

Já não suporto mais qualquer encosto,
Miríades de sonhos são falácias.
Roubando o que restara das hemácias
Eu sigo este caminho vão e oposto.

Não lembro da cigana, nem seu resto,
Apenas o florir destas acácias
Que podem traduzir meras audácias
Diversas deste verso que ora empresto.

Joguete em tuas mãos? Tolo disfarce
Por mais que o dia-a-dia nos esgarce
Gracejos ouvirás, tenho certeza.

Periga ter a morte atocaiando
Enquanto sinta o prédio desabando
Vencido pela mansa correnteza...


97

Já não meto o meu nariz,
Nem tampouco o meu bedelho,
Se o teu corpo pede diz,
É melhor pedir pro espelho

A madrasta é boa atriz
Eu te peço e de joelho
Venha me fazer feliz
Novo amor é um fedelho

Que não tendo terno e siso,
Veste short e camiseta
Dos perigos não aviso

Caminhando assim cambeta
O meu beijo sem juízo
Vai e vem feito um cometa..
Marcos Loures


98

Já não me reconheço nem tampouco
Procuro algum sinal que me permita
Saber se na aguardente ou na birita
O muito surge às vezes do tão pouco.

Gritar demais só deixa a gente rouco,
A arte, com certeza, a vida imita,
Ouvir besteira é coisa que me irrita,
Cultura nacional? ME DEIXA LOUCO!

Revendo este enlatado mexicano,
Sendo empurrado goela abaixo, vejo
Só resta entrar de novo pelo cano

Usando a fantasia de panaca,
Na fila principal, do gargarejo
Brasil cai no gramado e sai de maca...


99


Já não farei- quem sabe? – outro soneto,
Tampouco a poesia inda me embala
Olhando o meu retrato, a voz se cala
E ao fim do precipício, eu me arremeto.

Não quero mais fazer parte do gueto
Aonde a fantasia teima e fala,
Arranco o meu retrato desta sala,
E o fim deste palhaço, eu te prometo.

A carga é bem pesada e sem bornal,
Não posso mais teimar num ritual
Que nada diz, somente expõe o vago.

O gosto amanhecido deste pão
Que agora percebi, foi sempre vão,
E estúpido, comigo, ainda trago...


7700

Já não dou mais pelota pro inimigo
Deitado do meu lado, esta serpente
Que enquanto me sorri mostrando dente
Esconde, atocaiado; este perigo.

Cismando de fazer doce de figo
Botou caco de vidro e repelente
A cobra jararaca, esta demente
Eu tento me livrar, mas não consigo.

Depois de ter chamado o Butantã,
O Corpo de Bombeiros, a Polícia,
Olhando com jeitinho e com malícia

Enrosca suas pernas, a vilã
E lambe destilando fel e mel,
Do inferno, num segundo vou ao céu...
Marcos Loures


7701

Já furaste meus olhos, tuas garras,
Já bebeste meu sangue com teu bico...
E prendeste meus braços, nas amarras...
Toda a minha miséria te fez rico...

Cortando a minha carne, cimitarras,
Devoras os meus filhos, minhas filhas,
Meus sonhos de justiça, vem e barras...
Marcando nossos pobres com anilhas...

Recendes a cruel escravidão,
A morte escancarada num porão.
Vergonhas espalhando pelo mundo..

O mar que navegaste foi negreiro,
O sonho que legaste tão imundo,
Vendendo meu Brasil, no mundo inteiro...
Marcos Loures


7702


Já estou de partida, minha prenda,

Nunca me prenda, eu tenho de partir,

A lua desfilando sua renda

Me diz que é necessário prosseguir...


Carrego na guaiaca esta saudade

Dos pampas e da china mais bonita,

Se nesta imensidão, barbaridade;

A minha alma pampeira já se agita.


E sinto o minuano me cortando

Qual fora uma lembrança deste amor,

É como neste amargo eu ir tomando

Os teus doces desejos, com calor...


O poncho vou soltando estrada a afora,

Lamento, meu amor, ter que ir-me embora...


7703

Já é meu rumo, meu norte
A paixão que nos domina,
Prevenindo em paz, o corte
Tal presença cristalina.

Uma estrela de alto porte
Minhas sendas, ilumina,
Como um vento bravo e forte
Dissipando esta neblina.

Vejo os olhos sonhadores
Penso em nobre castiçal,
Ao colhermos tantas flores

De um jardim fenomenal,
Espalhando em mil louvores
Este encanto sem igual...
Marcos Loures



7704

Já deixa este andarilho mais contente
A possibilidade de sonhar.
A sensação de paz que nos alente
Tomando nossa vida, devagar.

Durante tanto tempo andei sozinho
Vagando sem destino pelas ruas.
Enquanto nos teus braços eu me aninho,
Comigo, com certeza continuas...

Eu quero a minha vida do teu lado,
Estrela solitária e sem igual,
Meu verso se mostrando apaixonado
Procura a bela estrela, ganha o astral.

O que já fora noutro tempo atroz
Transforma a fantasia em doce voz...
Marcos Loures



7705

Já basta de torturas, penitências,
A vida não se faz em tempestades
O quanto foram duras coincidências
As horas sem amor, tranqüilidade.

Eu tento e mal disfarço, ser feliz
E nada neste mundo impedirá
Que eu tenha tudo aquilo que eu bem quis,
Desejo a vida inteira, desde já...

Afãs, labutas, lidas corriqueiras
Jamais me impedirão de prosseguir
Estendo nos meus versos as bandeiras
E nelas meu prazer a repartir.

Partir de mãos vazias? Não pretendo.
Fogueiras de emoções, desejo e acendo.



7706

Jamais esquecerei de te dizer
O quanto és importante para mim.
Amar, usufruindo do prazer
Que a vida nos demonstra início e fim.

Quem dera se eu pudesse converter
Meu verso em um canteiro, e no jardim
Sentindo toda a glória de poder
Trazer ao mundo um sonho bom, enfim.

Às vezes me pergunto por que escrevo
Se o tempo levará já todo acervo
E nada restará nem a lembrança.

Porém ao receber o teu carinho,
Percebo que jamais irei sozinho
E a vida se esmeralda em esperança...

7707

Luxúrias e desejos, boca e sexo.
Felatios, cunilínguas, maravilhas...
Bebendo deste sonho sem ter nexo,
Invado nos teus portos, tuas ilhas.

Tocando no teu corpo qual anexo
Que entranha, se prendendo em tuas trilhas,
De ti um complemento, quase um plexo,
Encontro devagar, doces virilhas

E nelas vou roçando lábios quentes,
Ardentes em fulgores implacáveis.
Eu sinto na verdade o que tu sentes,

Embora tão distante, tantas léguas,
Eu guardo dentro em mim; inconfessáveis
Desejos de te amar e não ter tréguas...
Marcos Loures


8

Luxúria em mil orgasmos me alucina,
Os olhos penetrando nas entranhas,
Cavalgo em liberdade, vento e crina
Por entre vales úmidos, montanhas.

Lambendo todo sal de tua pele,
Suores alagando leito e chão,
Sem ter qualquer pudor que nos atrele
Aos deuses do prazer, invocação.

Gemido, gargalhadas, explosões
Correntes, olhos, bocas, gozos sádicos.
Torrentes transtornando turbilhões,
Distante dos desejos esporádicos

Repetidas vontades enlanguescem,
Os ópios de teu corpo me entorpecem...



9


Lutar contra as fraquezas da vontade
Que tantas vezes segue em passo falso.
Distante da perfeita claridade,
Deveras infeliz, meus sonhos alço

Na busca de um amor serenidade,
Caindo num escuro cadafalso
Aguardo a tão cruel felicidade
Da solidão sombria eu já me calço.

Quem sabe em teu sorriso, a solução.
Virias como a luz mais redentora,
Tornando bem mais leve o coração

De quem a vida inteira sempre chora
A dor de uma saudade que procura,
Somente por amor, pura ventura...


10


Lutar até chegar a um consenso,
Rasgando as esperanças e ir em frente
Por mais que isto sugira um contra-senso
Amansa o coração de um penitente.

O amor que imaginara ser imenso,
Transforma-se em vazio, de repente,
E quando em teus carinhos, inda penso,
O fim da minha história se pressente.

Chegando de mansinho à minha porta,
Saudade latejando vem e corta
Tornando sempre inútil a fantasia.

Quem dera se pudesse; quem me dera.
Exposto à solidão, temível fera,
Apenas a ilusão me bastaria...


11


Lúgubre melodia que deixaste
Nos maus momentos, todos, te relembro...
A morte deste amor deu-se em dezembro,
No mais exato instante que chegaste.

Teu corpo tão franzino uma fina haste,
Nas cicatrizes todas me desmembro,
Devorou cada parte, cada membro.
A vida, em podridão, já carregaste!

No beijo viperino, teu carinho,
Nas vísceras expostas, regozijo.
Rapineira, das dores forjas ninho.

Vestígios de ilusão, profunda chaga.
Porém te imploro: volte. Aliás: exijo!
Marcos Loures


12

Luares transbordando nas montanhas,
Parindo esta paisagem, noite vaga.
Enquanto o pensamento assim divaga
As velhas sensações restam estranhas.

As dores coletadas são tamanhas
E apenas solidão ainda afaga,
A morte talvez seja boa paga,
Embora, claridade nas campanhas.

Pelejas do passado; luta inútil,
Por mais que amor pareça tolo e fútil
Ainda faz estragos, fera audaz.

Da lua que, teimosa, raia plena,
A réstia de esperança que me acena,
Ao torpe coração não satisfaz...


13

Luar que nos enfeita
Em brilho deslumbrante
Decerto se deleita
Contigo neste instante

Silhueta perfeita
Tocada por brilhante
Luar que já se deita
E quer ser teu amante.

Morrendo de ciúmes
Encontro a bela flor
Que trama em raros lumes

Um gozo encantador
Bebendo os teus perfumes,
Me entrego ao nosso amor...
Marcos Loures



14

Luar que cai sobre a mata
Me trazendo teu reflexo
O teu brilho me arrebata
Perco todo senso e nexo.

O vento vem qual chibata
Arremata meu complexo
Sentido verso maltrata
A noite promete sexo...

Sensuais as tuas pernas
Maviosos os teus seios
Em meu corpo não te invernas

Não me tens medo ou receios
Nos teus beijos faço cama.
Nosso amor é toda chama...
Marcos Loures


15

Luar que brilha a me trazer saudade...
Sonho divino, que perdi tristonho...
Em serenata cantarei meu sonho,
Perfeito, radiante claridade...

Por tanto que eu te quis; felicidade,
O mundo me restou pobre e medonho...
Na luz que me irradia, essa verdade
Escondida, temida, assim exponho

Alegria foi farsa, imersa em pranto.
O meu olhar vazio, vai nevado,
Espero teu amor, teu mago encanto.

No rumo que já sei carrego um cardo,
Porém, em plena dor, eu me agiganto.
Meu verso se desnuda, amortalhado...


16

Luar está chamando para amar,
Convidativamente flores tantas
Brilhando sob a luz deste luar,
Argênteas belezas nestas mantas,

Derramam os seus lumes sobre o mar,
Certeza de que mais que tudo, encantas,
E chamas para à noite namorar;
Nas chamas tão profanas quanto santas.

Insanas aventuras pelas matas,
Palavras que sussurro em teus ouvidos,
Desfilam emoções quase em cascatas

E levam ao delírio. Lua intensa
Distante de outros dias nos olvidos,
A lua em nossa cama... Aberta... Imensa



17

Luar de prata mostra o meu caminho
Por entre as cachoeiras deste rio;
Deságuo nos teus braços, teu carinho
Quarando minha sina, mato o frio.

No gosto da cachaça lembro o vinho,
Cigarro se esfumaça e vou vazio
Trilhando cada lua com jeitinho
Canto de passarinho vira pio...

Somando cada fio de cabelo
Que a dor embranqueceu sem ter ninguém,
Esbarro no passado num desvelo

Que é marca registrada do meu peito.
Agora que percebo amor que vem,
A todos eu proclamo esse direito...



18

Lua sobre esse pampa mavioso,
Eu ando procurando por amores.
O meu tempo passando doloroso,
Horas celestiais, campos, flores...

O céu iluminado por leitoso
Cobertor divinal, tragando as dores
No seu mata borrão mais vigoroso,
Derrama sobre o campo seus pendores...

Na guaiaca repleta, sentimentos
Mais sonhadores, levo essa esperança
Na espreita de que venham os bons ventos.

No meu coração vibrando campana
A me trazer a doçura, esta lembrança,
Tempo em que nos amamos, Fabiana...

19

Lua ronda
Amor chega,
Peito sonda
Te navega.

Em cada onda
Doce entrega
Luz redonda
A alma apega

Venha logo
Que este jogo
Não termina

Noite afora
Desde agora
Minha sina...
Marcos Loures


20

Lua que em noite imensa já branqueia
As sendas mais floridas do sertão
Enquanto a poesia assim ateia
Os fogaréus subilmes da paixão

O brilho de teus olhos incendeia,
Esplendoroso e intenso tal clarão,
A nuvem de falenas te rodeia
Vertiginosa imagem, turbilhão...

Rodando o teu vestido em transparência,
As formas se adivinham, seios, pernas...
Paisagem sensualíssima. Na ardência

Dos fogos e das chamas, tal mistura,
Nas trevas dos meus sonhos, as lanternas
Pilhando este flagrante de ternura...


21


Lua que ao brilhar derrama prata
Por sobre este arrebol, ganha a janela
E quando em forte lume se revela,
Acendendo o clarão por sobre a mata

Distante da saudade que maltrata,
Explode em maravilhas sobre a tela;
Eu lembro neste instante: foi para ela
A minha derradeira serenata...

Agora a lua dorme atrás dos montes,
As trevas dominando os horizontes,
Paisagem desbotada, o que restou.,

Que faço sem poder sequer dizer
Àquela que em momentos de prazer
Qual lua, meu caminho iluminou?


22

Lua nua, meu limbo e poesia,
Clarão noturno, entorno tuas luzes,
Nos caminhos, meus ninhos, minhas urzes..
Vou perdido, adiando cada dia...

Lua bela, estrelar, alma vadia,
Rolando tantas formas, somos cruzes;
Nas pedras, perdas, trevas avestruzes
Escondidos fugidos, qual valia?

Venero meus anseios, seios, lua...
Procuro, me torturo, estás tão nua...
A vida continua, mas cadê?

Elevo meu navio, naufraguei...
Acendo teu pavio, me queimei.
Ó lua me responda então, porque?


23

Luz que minha vida agita,
Brilho que sempre me guia
Mesmo na hora mais aflita
Se transborda em poesia


Em teus olhos, luz bendita
Em teu colo, fantasia
Eu quero que se repita
Meu amar a cada dia.


Quero a vida que conflita
Com minha morte tão viva.
Quero a sorte mais altiva,


Nessa vida rediviva
Quero teu gosto, pepita,
Minério mais caro, Rita...


24

Luz dos olhos, refulgente,
Ofuscando essas estrelas.
Como estar sem poder vê-las?
Pergunto pra toda gente!

Não posso passar sem tê-las
Não viveria contente...
Caminhar sem percebê-las
É morrer tão de repente...

A luz dos teus olhos, mar...
As telas que não pintei,
Velas a me iluminar...

Nos castigos que preparas,
Nos teus olhos serei rei,
Olhos verdes, vidas claras...
Marcos Loures



7725

Luz do sol incendeia minha vida
Trazendo uma sereia de além mar.
Minha alma então clareia, decidida
Já sente a lua cheia a me tocar.

Deitando numa areia, convencida
Morena entra na veia e faz brilhar
A mão que assim passeia tem cumprida
A sina que vadeia até sonhar.

Domingo em plenilúnio, cheia a praça
Casais com infortúnio ou riso aberto.
Nas mãos uma petúnia, o corpo enlaça

E a gente se ilumina quando pensa
Da fonte em rara mina há recompensa
Aguando-me elimina este deserto...



26


Loucuras que cativam, infernizam,
E mostram tantas garras contundentes
Seduzem e de leve perenizam
As horas que tivemos bocas, dentes,

Esquecem desta santa que dormia
Na menina que brinca do meu lado,
Da mulher que reclama todo dia,
Da fêmea que abrasada forja o cardo,

Nas chamas das loucuras onde dança
E pede e que me tira pra sonhar
Com tramas em nudez, já vem, avança,
Deitada em minha cama, quer luar

Que adentre e que acarinhe perna e coxa,
Deixando de prazeres, murcha e frouxa...



27

Loucuras e volúpias da paixão...
Em nossas roupas soltas pelo quarto
Sintomas da total revolução
Do amor intenso, imenso, doce e farto.

As marcas de batom, a sedução;
Na vontade de estar... Amor, não parto
Deixando aqui contigo o coração,
Nesse amor que é só nosso e não reparto;

São tantos os momentos que vivemos,
São tantos os prazeres que sangramos...
Se tudo que há lá fora já perdemos;

Se nada mais serei. O que fazer?
Em tantas fantasias nos cortamos...
Me diz, como eu irei sobreviver?



28

Loucuras de um desejo interminável
Caçando a noite inteira a tua gruta
Vontade de te ter assim tão puta
Um sonho muito além do imaginável.

Teu grelo em minha boca, intumescido
A xana molhadinha me esperando,
Caralho com vontades penetrando
Ouvindo em tua boca este gemido.

Arranhas minhas costas, meu pescoço,
Fudendo com tesão a noite inteira.
O amor que a gente faz, fino colosso,
Na sacanagem plena e costumeira

A porra escorrendo em tua boca,
Voraz e sem juízo, insana e louca.
Marcos Loures



29

Loucuras comecei a cometer,
Desde que conheci tal criatura...
Como, então, poderei sobreviver
Como procurar nesta noite escura?

Meus olhos que teimaram te perder.
A boca que me mata é a que me cura!
Quem me dera tivesse um novo ser,
Um misto de brandura e amargura...

No começo, tropeços sem valor...
Pouco a pouco transtornos fui mostrando...
Andava simplesmente por andar.

Lunático bebi ondas do mar.
Fanático caminho delirando;
Estático fiquei sem teu amor!
Marcos Loures


30

Loucura que me enreda totalmente,
Fazendo dos meus versos, foguetório.
Tramando nos seus laços, de repente,
O dom que nos transtorna, que é notório.

Vestindo a fantasia em fanatismo,
Confundem-se alegrias e delírios.
É asa que nos leva para o abismo,
Desejo transtornado de martírios.

Uma verdade falsa nos contenta
Uma mentira exata, satisfaz.
A corda do juízo se arrebenta,
Na busca infernal por louca paz.

É sempre quase nunca o sim e o não.
Prazer tão doloroso da paixão!


31

Loucura é não deixar amor fluir,
Temer as loucas regras do desejo,
Barreira alguma pode me impedir
Quando aquilo que eu quero, perto vejo.

Ninguém pode tentar calar a voz
Sublime do que sentes e que eu sinto.
Não deixe que o ciúme seja algoz;
A sorte benfazeja; já pressinto.

Quando o sentimento vem com força,
Não pense que alguém possa mais conter.
O amor que é sempre frágil como a louça
Precisa de cuidados, proteger.

No laço que nos une brilho e viço,
Ninguém tem; meu amor, nada com isso...


32

Loucos sonhos, delírios insensatos...
Milhares de fantasmas rutilando.
Rituais ancestrais, irei voando
Por espaços, meus laços, meus retratos...

Atípicos pendões surgem inatos,
Dos céus descendo os anjos, flutuando...
As mãos vazias, gôndolas girando.
Irresponsáveis aves sobre pratos,

Escapo deste céu, não temerei.
O cetro me negando, mata o rei
Nas minhas terras, cega confusão.

As vagas tempestades, as sereias,
Nas mãos que me torturas, me incendeias...
Gira mundo, alucina, perco o chão...



33

Louco! Se eu te pareço enquanto canto;
Meus versos sempre em busca do desejo
De ter um sonho imerso em entretanto
Enquanto em meu caminho eu nada vejo.

Feita destes talhos, quase em pranto
Uma esperança inerte; inda porejo,
Ao meditar no entanto, se me adianto,
Reflexos deste sonho eu antevejo.

Amor, um tema, em versos, tão comum,
Nas invectivas todas que proponho,
Sabendo que dos loucos, sei nenhum

Que deixe que o amor seja esquecido.
Não posso amortalhar um lindo sonho,
Nem mesmo a tanta coisa dar ouvido...



34

Loucas palpitações são tão febris,
Bebendo gota a gota nossos mares,
No orvalho que poreja sou feliz,
Nas frutas que desfruto em teus pomares.

Os rumos se entrelaçam, se avassalam,
Aos poucos misturamos nossos sumos,
Os sonhos e desejos se acasalam,
E loucos, já perdemos nossos rumos...

Eu quero conhecer-te em cada ponto,
Nas cordilheiras todas, altiplanos,
Nas fossas, nos teus vales, fico tonto,
Não posso cometer mais desenganos...

Derramas avalanches delicadas,
As mãos que acariciam, são de fadas...



35

Longínquas essas saudades,
Lembrança, velha criança
Passando pelas cidades,
Resvala nesta esperança.

Tempo longe, sem maldades,
Éramos os reis de França...
Casados, velhos abades
Dançaram a nossa dança!

Chega a tarde, vem sem pressa.
Nos cerca de filhos, netos...
Amores sonhos completos,

Corda que nos une, forte...
As dores vêm na remessa,
No fim dessa tarde, a morte...
Marcos Loures


36



Longínqua luz que toma este cenário,
Deixando a bancarrota da ilusão
Morrendo assim morosa no porão,
Queimando sem destino e sem horário.

O quanto fui deveras temerário
Não tendo nem remédio ou direção,
O pensamento voa qual falcão,
Mesmo que seja louco, até falsário...

Cercado pelas hordas dos anseios,
Sentindo o teu perfume, belos seios,
Vontade de tocar teu corpo nu.

Mas sei que nada disso é permitido,
E quando deste amor, até duvido,
Sendo apressado; assim, eu como cru...


37

Longe de ti percebo a solidão
Verdades e mentiras são falsárias
Amores se viverem sem perdão
Nas dores sempre encontram adversárias

Se não te importas sinto tal tormento
Que quase me enlouqueço sem prazer.
Vivendo por viver já não agüento
Os males que me invadem todo o ser.

Estando junto a ti por outro lado,
Esqueço minhas dores, ressuscito
Amor p’ra ser amor ama o amado
Com gosto, no segundo, do infinito.

Por isso te pretendo como um todo
Sem teu amor, decerto, frio e lodo...



38



Longe de ti a vida não tem graça;
É como caminhar sem rumo ou nexo,
E crer que a cada dia que se passa
O mundo vai ficando mais complexo,

Nos ermos desta ausência; solidão
Esgueiro-me entre as trevas, busco a luz,
E tendo por resposta a negação
O vago se propaga e reproduz

A sensação de perda, este vazio
Que amputa uma esperança e traz o nada
A mente; num eterno rodopio
Sem Norte e sem porquês logo se enfada

Nas tramas mais diversas me perdi
Sangrando em desamor; longe de ti...


39

Logrando ser feliz, intensamente
Vestimos fantasias e desejos,
O corpo se desnuda e assim pressente
A maravilha insana feita em beijos.

Não posso mais conter o desvario
Que toma o pensamento e traz loucuras
-Teu corpo que exalando um doce cio-
Em toque tão suave me procuras

Qual gata ronronando no tapete,
Desnuda em garras, risos e promessas,
Com jeito de quem quer e assim repete,
Deixando já de lado, não conversas

E vamos noite afora, fogo adentro,
De todas as maneiras eu te adentro...


40

Logo que chegas, vindo de onde vens,
Procuras ao entrar, a fechadura...
A chave introduzindo... Parabéns!
Acertaste sim, mesmo noite escura

Não impediu tal glória! Sei que tens
A mansidão divina da brandura...
Mas, irado, ferido nos teus bens
Ou no brio feroz, tal armadura

Demonstra tua raiva sem sentido!
O que fora brandura se transforma,
A mansidão, deixaste pelo olvido...

Com tanta estupidez, de bruta forma,
Tu tentas penetrar, estás perdido,
Pois logo, sem porque, tudo deforma...

Aquele “bravo” sujeito,
Mais calmo, fica besteiro...
Diz, lá no fundo do peito:
Meu reino por um chaveiro!


41

Logo ao te ver andando pelas ruas
Recordo-me das noites que passamos,
As nossas silhuetas seminuas
Nas camas e nas lamas que tramamos.

As bocas se mordendo leves, cruas,
Instantes em que quase flutuamos.
Atuas noutros palcos onde suas
Desejos teus encontram outros amos.

Dizer-te: como estás? Prazer em vê-la.
Cinismo hipocrisia, mas que faço?
Noutra constelação virou estrela.

Aqui já encontrei uma outra atriz,
Roubando tua cena e teu espaço.
É bom saber que estás também feliz


42

Lógica
Trágica
Álgica
Mágica

Tétrica
Métrica
Féretros
Éteres...

Fístulas
Pústulas
Cólicas...

Férreos
Térreos?
Prédios...



43

Amar jamais será algum pecado,
Pelo contrário: bênção redentora!
Quem sabe quanto amar nos revigora
Matando toda a sombra de um passado

Deixando qualquer crítica de lado
Percebe que quem sabe faz agora
E deixa uma tristeza, assim de fora,
Promove um novo mundo iluminado.

Vem logo e não dê trelas a quem fala
Abrindo o nosso peito, o quarto, a sala,
E o nosso apartamento, pela fresta,

De uma felicidade, este escudeiro,
Amor, sincero e franco, verdadeiro,
Um paraíso imenso que se gesta...


44


Lirismo que invadiu meu pensamento,
De tantas madrugadas, solidão...
Ao ver teu nome solto neste vento,
Aos poucos fui criando uma ilusão...

Agora que percebo quanto te amo
Não deixo mais sequer um só segundo,
Que toda esta ternura que reclamo,
Se afaste deste nosso novo mundo...

Eu quero teu perfume, minha rosa,
Em todas estas flores, meu jardim...
Bem sei que minha amada é tão vaidosa,
Reflete todo mar de amor em mim...

Não fujas do que sonhas; nossa vida,
Te aguardo calmamente aqui, querida...


45


Lirismo diz do lírio ou da mortalha?
Ferrenhas, as batalhas que perdi,
No corte das navalhas, cada falha
Estampa o que buscara, e vejo em ti.

No rapineiro canto de uma gralha
A mansidão que outrora percebi,
Escombros do que fui, morte amealha
Ceifando o que restara e não sorvi.

Impregnado de sonhos, velho estúpido,
Olhar embasbacado, insano, cúpido
Ao catar as estrelas não percebe

Que o mundo não suporta idiotia,
Minha alma que encilhada em montaria
Atroz, em versos álgicos se embebe..
Marcos Loures



46

Lirismo comedido dos burgueses
Ao ofertar as flores diz espinhos,
Suaves sentimentos quase reses
Infantes abastecem toscos ninhos.

O sexo pontual: todos os meses,
Entrega parcelada que aos pouquinhos
Enfadam e viciam tais fregueses;
Aguando a cada dia mais os vinhos.

Quando minha alma anseia por sarjetas
Rasgando as burocráticas tarjetas
Jogando para longe tais crachás,

Mergulha em tresloucado rodopio
E o gosto delicado e mais vadio
Do amor insatisfeito- satisfaz...


47

Lírica nossa matina
Dores que não me desfias
A morte que desatina
Somente nela confias

As vagas velhas ladinas
São os restos que fias
Escapaste das latrinas
Escarras nas minhas pias...

Formas velhas senzalas
Esperas pelo defunto.
Destruindo minas salas

Nas portas desta fornalha
Estou distante conjunto
Morte dispensa navalha!
Marcos Loures


48

Línguas úmidas túrgidas vontades.
As pernas entreabertas da morena.
Promessas de delícias, saciedades.
Um gozo delicado que se acena.

Do tímido carinho, um mar profano
Aos poucos dedilhando o paraíso,
Encontra um templo raro e soberano,
Aberto com o toque mais preciso.

Uma oração se faz em cada beijo,
Roçando pele a pele, ímãs, aço.
No turbilhão insano do desejo,
Decoro os teus sinais e passo a passo,

Adentro um Éden feito em tentação,
Maçãs, serpentes, gozo da paixão...
Marcos Loures



49

Linguagem corriqueira sem frescuras,
Não pode ser usada num soneto?
Na alvíssima expressão de tais branduras
O meu nariz, perdoe, sempre meto.

Não sei como esculpir tais esculturas
Meu mármol se tornou tão obsoleto,
Não irei alcançar tuas alturas,
Bastando que me vejas como inseto,

A pulga na cueca te incomoda.
Porém eu não suporto qualquer poda
Não me encha o saco, amigo. Peço paz.

Não vou ficar aqui passando mal,
Eu nunca fiz masturbação mental
Pinçando uma palavra. Tanto faz!


7750

Ligados, pelo amor, no mesmo umbigo
Atados pelo sonho mais audaz,
O bem que tantas vezes satisfaz
Pressupõe mansamente um bom abrigo.

Abarco cada intento em que prossigo
Vivendo a maravilha que amor traz,
Ao fim da tempestade, a plena paz
Ao lado de quem amo eu já consigo...

Alvíssaras ao tempo em que se dá
Felicidade plena que acolá
Andara tão distante de meus passos.

Agora que encontrei felicidade,
Apenas a ternura ora me invade
Nascida do calor de teus abraços...
Marcos Loures



51


Lua de minha vida; soberana,
Senhora de meus sonhos mais felizes.
A noite nos teus braços se abandona,
Envolta nas ternuras dos matizes...

Ilumina a pupila dos meus olhos,
Ilumina o desejo desse amor.
Trazendo as alegrias, tantos molhos,
Fazendo minha vida em esplendor.

A noite que promete rubra aurora
Palpita no meu corpo enluarado.
Amada como é bom te ter agora,
Vestida em salvação, doce pecado...

Que a lua que te trouxe, em prata chama,
Espalhe aos quatro cantos quem te chama


52

Lua cigana, quero teu perfume!
Nas voltas que transtornas, sempre vens...
A lua companheira no queixume,
A lua que roubou todos meus bens...

A lua que me mata de ciúme,
A lua já fugiu trás das nuvens...
A lua que desnuda meu costume,
A lua que mentiu nos meus totens...

Lua cigana, quero tua boca,
Beijar fundo teu brilho até luzir...
A mansa lucidez te fez mais louca...

Efeitos delirantes produzir...
A lua transformou os meus desejos...
Na lua procurei pelos meus queijos...
Marcos Loures



53

Lua bela em teus raios de cristal
Encontro tal beleza, deslumbrante
Qual fora um mavioso diamante.
Dos astros tu és sempre a maioral.

Teu toque tão macio e sensual
Para quem ama mostra-se excitante
Por isso és a rainha de uma amante
Que deita sob a prata sem igual.

Ah! Lua, companheira e tão amiga,
Não permita que a dor assim prossiga
Na eternidade rara deste abrigo

Afaste a solidão do meu caminho,
Não deixe que eu me sinta mais sozinho,
Eu quero esta mulher sempre comigo!


54


Lua azul, clareando meu inverno,
Não quero ter sentido nem senão,
Quebrando essa cadeia, beijo o chão...
Nem sei mais qual o corte do meu terno.

Sabia que tentava desse inferno,
Buscar a melodia num grotão,
Mas quebrando uma corrente, digo não
Nem me importa ser velho ou ser moderno...

A tua gravidez é, na verdade,
Um resto de sincera lealdade.
Mas quem sabe de tudo bem se cala.

As vozes que transtornam, paranóicas,
A vida tem antenas parabólicas,
Permitindo teu retrato em minha sala...


55

Louvando todo amor que é só da gente,
Não quero usar imagens rebuscadas,
As luzes não serão mais ofuscadas
Iluminando a vida plenamente.

Por mais que uma saudade ainda tente
Mudar os rumos todos das estradas,
Amor fazendo em nós as escaladas
Permite uma viagem mais contente.

Garapa nos teus lábios, moça bela,
Menina que se fez estrela guia,
Entorna em meus passos poesia,

Amor pintando assim a rara tela,
Cenários tão diversos traduzidos,
Caminhos que seguimos mais unidos...
Marcos Loures


56

Louvando toda luz que se irradia
Dos olhos de quem sabe ser feliz,
Deixando no passado a cicatriz
Repara em mansidão velha avaria.

A barca feita em sonhos conduzia
Felicidade ao cais que sempre quis
O céu não nascerá em cores cris,
Revejo o sol que a nuvem recobria.

A par desta esperança eu canto amor
E sinto que ao nascer de cada flor
Perfumes no canteiro serão tantos

Que a vida mesmo insana, até descrente,
Trará um novo encanto que envolvente
Recubra a fantasia em claros mantos.
Marcos Loures


57

Louvando quem renova-se de fato
Eu tento ser mais justo e não consigo,
Mantendo desde sempre este contrato
O novo, faço joio e perco o trigo.

Intrigas vãs quebrando cada prato
Deixando o coração ao desabrigo.
Afogo-me nas curvas do regato,
Porém eu não pressinto até perigo.

E caço cada frase pra dizer
Do quanto é necessário conceder
Para que se consiga a solução

Amar e ter depois, a solidão
Esmera-se em matar qualquer prazer,
Barganha sem ter manha sobra o não....
Marcos Loures


58

Louvando os tempos belos, sonhos idos
Sentindo a suave brisa me chamando
Destinos e caminhos revolvidos,
Desejo tua sombra me inundando.

Ouvindo a tua voz que já reclama
Carinhos e prazeres; vejo o vulto
Que incide em minha vida, fogo e chama,
Na redenção sublime, qual um culto.

Presença mais constante, mesmo ausente
Soprando calmamente me inebria.
E quanto mais se quer, bem mais se sente
Realidade em plena fantasia.

Oculta sensação a me propor
Felicidade intensa, doce amor.


59

Louvando o teu cantar sempre gentil
Eu sinto a brisa mansa da manhã
Deixando bem distante um mundo vil,
Tocado pela glória e neste afã

Meu canto se transforma em mais de mil
Na voz que se moldura tão louçã
A redentora estrela que surgiu
Trazendo em rastros claros o amanhã.

Aniversariando este anjo belo,
Permite que eu me encante e te revelo
Uma felicidade sem igual.

A noite se mostrando iluminada
Pelos teus olhos traz a mansa estrada
Moldando em maravilha todo astral.
Marcos Loures


60

Louvando em sorte plena, esta vitória
Molhando os teus cabelos, tua pele
Embora muitas vezes merencória
Que a força do destino assim nos sele.

Teu corpo umedecido por meus lábios
Suores e prazeres que trocamos,
Os dedos caminheiros sempre sábios
Percebem do arvoredo tantos ramos

Nesta alameda insana e delicada
Veredas de delícias; reconheço.
Ao sonhar com a festa anunciada
Amor em plenitude eu te confesso.

Só quero desde sempre e novamente
Beijar a tua boca docemente.


61

Louvado seja o Deus que nos permite
Imaginar um mundo bem melhor.
Por mais que outro horizonte, olhar não fite,
Existe dentro em nós, algo maior.

Amor que sei ser multifacetário
Encontra no perdão e na amizade,
Poder que se mostrando necessário
Transporta dentro em si, felicidade.

Eu tenho no Senhor um grande irmão,
Que veio pra ensinar qual o caminho
Que possa nos trazer a salvação,
Na força da humildade e do carinho.

Jamais serei cordeiro nem pastor,
Esterco dos jardins do Deus-Amor...


62

Liberdade é tudo o que se almeja
E disso faço fé, quebro correntes,
Sorriso que se mostra sem os dentes,
Mesmo em tristeza ainda relampeja.

Um homem de moral jamais rasteja,
Nas costas leva as cruzes, penitentes,
Sem medo do que trazem, entrementes,
As horas sob a lua sertaneja.

E mesmo que distante, erguendo os olhos,
Abrindo o coração, quebra os ferrolhos
Enfrenta as tempestades, destemido.

Do sofrimento faz seu alimento,
Na seca ou tempestade, no tormento,
Não solta nem sequer algum gemido.


63

Liberdade alçando vôo
Percorrendo o mar imenso,
Universos sobrevôo
No teu colo, sempre penso

Vou liberto, mas cativo
Deste amor que quero tanto,
Pelo amor a ti eu vivo,
Pois é nele que me encanto.

Nas palavras, nos sorrisos,
Tantos momentos de glória,
Nos teus passos mais concisos
Eu mudei a minha história.

Coração tamanho trem,
Na procura de teu bem...
Marcos Loures


64


Libando nosso amor, qual borboleta,
Que em flores mais sutis trama revôos
Amor talvez a flor mais predileta
Espera um manso beijo em sobrevôos...

Carrego meu amor no meu alforje
Ao lado que é canhoto do meu peito,
Mas temo que saudade em dor se forje
E traga em tempestade, duro pleito...

Amor que se ternura e se libasse
Nas noites mais sozinhas, velhos passos.
Quem dera se esse amor já se encontrasse,
Rolando em nossa cama, nossos braços...

Amor que se encontrara mais perdido,
Tocando desejoso, essa libido...


65

Li teu nome no jornal
Achei tudo uma bobagem
Vida jamais foi igual
Precisa nova paragem

Restitui meu carnaval
Fardos de sacanagem
Nesse meu canavial
Não tem ar sequer aragem...

A vida nunca me alisa
Nunca me deu seu carinho
Nas horas que faço brisa

Nas bocas deste selinho
Nos ouros tive latão
Mentiras do coração!
Marcos Loures


66

Li nos noticiários de um jornal
Daqueles que apertando verte sangue,
Cenários de um terrível bangue-bangue
Na mais bonita e louca capital.

O tráfico domina o visual
Na Tijuca, Borel ou lá no Mangue
Enquanto uma esperança morre exangue
Repito novamente o ritual,

Trancando as minhas portas e janelas,
Ferrolho/cerca elétrica/ mil trancas;
Gradeando o que já foram ricas telas

Um prisioneiro apenas, nada mais.
Selando a fantasia em marchas mancas,
Não quero ser manchete dos jornais...


67

Levo no coração minhas montanhas,
O jeito meio quieto, o peito aberto.
Trazendo para ti as minhas sanhas
Princesa, meu amor, em ti desperto,
Meu verso mais sincero, minhas manhas,
Chegar depois de tudo, aí bem perto.

Sentir o teu perfume e me deitar
Em teu colo sublime, guapa prenda,
À noite sem segredos no luar,
O fogo que nos toca que se acenda
E chame para a noite iluminar
Que o tempo desse amar, já se desvenda

Nos olhos delicados da menina
Que uma eterna alegria descortina..


68

Levei a minha amada prum motel
Pedi logo a suite principal
Um troço de beleza sem igual,
As luzes pareciam carrossel.

Procuro num retrato mais fiel
Falar deste lugar fenomenal,
Desculpe se me expresso aqui tão mal
Na tinta derramada no papel.

Havia uma piscina de água quente
Banheira de uma tal hidromassagem
Televisão de plasma... de repente

O que a gente deseja. O que quiser.
Porém eu não gostei da sacanagem:
Eu me esqueci, te juro, da mulher...


69

Leve o meu cadáver por regalo,
Apenas tão somente é o que me resta.
O vento vai entrando pela fresta,
Por vezes é difícil navegá-lo

Se eu tento ou mesmo às vezes inda falo
Do quanto que não tive e o sonho atesta,
Mecânica expressão de riso e festa,
No fundo não passou de um mero estalo.

Carcomes os meus olhos, triste amor.
E trazes a carcaça por troféu.
Um ermo passageiro segue ao léu,

Um féretro somente a te propor.
Mas teimas em zombar destas carcaças,
E rondando os meus olhos, esfumaças...
Marcos Loures


70

Levaste teus rebentos pela vida,
Em esmoleres sonhos sem sentido.
Refém de tua sorte já perdida,
No corte da existência, puro olvido.

Procuras nos espelhos a saída
Mal vês que tudo enfim foi resolvido.
A pedra do caminho não vencida,
O medo de viver, adormecido.

Não leve mais os mortos nem os risos.
Ateie fogo às vestes e aos lençóis...
Talvez assim percebas outros nós;

Além de todo amor, os paraísos
Se mostram desarmados e distantes.
Permita-se morrer dentro de instantes...


71


Levaste o que restou de um sonhador!
À tona em explosão angustia e medo,
Mudando de repente o velho enredo,
Plantaste ervas daninhas. Amargor.

Gerânios que cevei perderam cor
À porta solidão, frio e degredo,
O barco espatifado num penedo
Dos mares revoltosos, o estupor.

Aquém do talvez pudesse ter
Bastando para a glória um beijo teu.
Farol que inutilmente se acendeu

Não pude, sou sincero mais o ver.
Tecera uma ilusão, procuro o fio
Recuperar meu prumo? Um desafio...


72

Levaste meu sorriso nos teus olhos
Sorrindo pelas ruas, sem juízo.
Não pude perceber, carrego antolhos
A fuga de quem teve em seu sorriso

Mentiras sacrossantas, santos óleos
Da santa que se deu em paraíso,
Colhendo da vingança em vários molhos
Escapa de meus dedos sem aviso.

Levaste os velhos planos que sonhei
Enganos que plantaste, eu recolhi.
Apenas o que vivo estava em ti

O gosto da mortalha que deixaste
No coração que, em mãos, eu te entreguei;
Somente este cadáver; não levaste...
Marcos Loures


73

Levaste meu amor quando partiste
Em busca de outros campos mais amenos;
Minha alma apaixonada ficou triste
Bebendo desta ausência os tais venenos

Que fazem do meu canto, meu lamento;
Regendo o coração, esta saudade,
Queimando como fosse um forte vento,
Tornando tão vazio o fim da tarde...

Sou árvore sem frutos, mar sem praia,
Jardim sem ter as flores, sou ninguém...
No peito a solidão se achega, espraia,
E busco como um louco, por meu bem...

Só resta esta saudade, com certeza,
E toda essa tristeza; sobremesa...


74

Levanto o meu olhar; venezianas
Abertas do meu peito sonhador.
Mortalhas do que fomos, doidivanas,
Acendem meu desejo e no calor

Das noites tão gostosas e sacanas,
Enveredo em teu mar, navegador
Dos sonhos nesta luz cotidiana,
Desfraldo nos meus olhos, puro amor...

Fazendo da paisagem, minha tela
A par do que vivemos, vou em frente.
Estremecendo em gozo já se sente

A nau que enfim partiu, levanta a vela
E vai nesta aquarela desejosa
Colher no teu jardim perfume e rosa...
Marcos Loures



7775

Levanta o teu vestido, o vento audaz,
Expondo as maravilhas que escondias.
Tocado pelo fogo mais voraz
Meus olhos rebrilhando em alegrias.

Percebo em tuas coxas tais magias
Além do que sonhara, muito mais.
O pano que teimoso em que cobrias
Ao vento se mostrou mais incapaz.

Retorno para a casa imaginando,
A cena que avistei em plena rua,
Querendo completá-la; tê-la nua...

Enlaço, nos meus sonhos, tuas pernas,
As mãos te percorrendo e te tocando...
As noites se tornando, ardentes, ternas...
Marcos Loures


76

Levanta de manhã, toma o café
E sai pelas calçadas da cidade.
Sem marcas de pegadas vai a pé
Em busca de cigarro e claridade.
Igrejas e dementes, turvam fé,
Na banca de jornais, a novidade...

Percebe que anda sempre com atraso,
O tempo não diz nada mas já cobra.
O amor vai terminando em fim de prazo
Contenta-se com resto, com a sobra
A planta vai morrendo seca em vaso
Esquecido na varanda, triste ocaso.

Nem mesmo um conhecido. Sem bom dia,
Uma amizade apenas bastaria...



77

Levando tanto amor junto comigo,
Eu já não sei andar sem companhia
Da estrela que domina e que me guia,
A cada nova curva, outro perigo.

Imagem deslumbrante que persigo
Moldada em perfeição, traz a alegria
Que toda a luz do amor, deveras cria;
Não vejo solidão nem desabrigo.

Teu rosto como um sol vence as neblinas,
Espalhas no arrebol calor e luz.
Visível fantasia que conduz

Corcel que, libertário, em soltas crinas
Galopa entre as montanhas e flutua
Levando na garupa a deusa nua.
Marcos Loures


78

Levando por caminho mais incerto
Meu barco tantas vezes se perdeu,
Amor que quando em sorte me escolheu
Mostrou um novo rumo, enfim aberto.

Dos erros cometidos eu me alerto
E vejo ser possível um sonho meu,
Trazendo a claridade para o breu
Servindo ao coração em tempo certo.

Outrora a minha vida foi sem nexo,
Amor é sempre um tema tão complexo,
Por isso e só por isso fui tentando

Até que se esgotassem minhas chances,
A vida sempre traz estes nuances:
Na seca tantas vezes semeando.
Marcos Loures


79

Levando para a praia, ganha a areia
Depois de atravessar as pradarias,
Corcel que se encantou pela sereia
Em raras e formosas pedrarias.

Diamantino sonho segue os rastros
Deixados pela prenda em seu caminho.
Seguindo em noite clara, guias, astros
Bebendo da alegria o farto vinho.

Cansado de viver em desengano,
Eu me espalho agora pela vida,
Tocado pelo frio em minuano,
A sorte está decerto decidida.

Cevando todo o amargo da esperança
Felicidade imensa, amor alcança...


80

Levando para a praia o meu saveiro
Encontro no teu corpo, ancoradouro,
O derradeiro porto, o meu tesouro,
Meu sol de intenso brilho, alvissareiro.

Muito além de um prazer mais corriqueiro
Nas ondas de teus mares eu me douro,
E sinto finalmente o bom agouro
Roçando os meus lençóis, meu travesseiro.

Estampas num sorriso o quanto queres
Além deste desejo que conferes
A quem se fez cativo destes laços

Eternidade feita em atitude
Eu sinto renovar-me em juventude,
Vagando a noite, imerso nos teus braços.
Marcos Loures


81

Levando minha vida pelo mar,
Marés e tempestades, maresias...
Abraços entre lua, sol, amar,
Marulhos de prazeres, alegrias...

Quem dera timoneiro, pensamentos.
Quem dera solidez em novo cais.
Perdendo, nunca mais rosa dos ventos,
Espero pelos mares, mas, jamais...

Não quero perceber, do mar, a trilha,
Nem quero navegar sem sentimento.
Não me deixe sozinho, não sou ilha,
Eu quero teu amor, cada momento...

Levando minha vida; solto a vela,
Amor que tanto quis, já se revela...


82

Levando imensa vaia dos amores,
Distante do que fora fidalguia.
Asperges no caminho seus rancores
E falseia com mágoa a poesia.

Tempestuoso céu bebe louvores
Daquela que não sendo, já recria
O vento que traduz velhos pavores
Farrapo extravagante que eu bebia.

Seus brilhos? Não mais vejo nem pretenso
Regresso do futuro e jamais penso
No que não poderia, mas vivi.

Adivinhar o bote da serpente,
No cais que novamente se freqüente,
Vagando em ventania chego a ti...
Marcos Loures


83

Levando em pastoreio uma esperança
Qual fosse assim um último suspiro,
Acendo na verdade uma aliança
Na qual eu sobrevivo, enfim respiro.

Amar é necessária confiança
No jogo do prazer em que eu prefiro
Ser caça enquanto a noite já se avança
E a Terra assim completa mais um giro.

Casulo que prepara a borboleta
A vida se transforma a cada dia,
Amor que nascerá, santa magia.

Vagando por teus sonhos, um cometa,
Aguardo calmamente em poesia,
O sonho em que meu mundo se completa.

84

Levados pelo vento, meus amigos,
O tempo se passou, restei sozinho...
Depois de ter sonhado com abrigos,
Depois de ter vivido em outro ninho
Os olhos que me viam, tão antigos,
Agora vou bebendo de outro vinho...

Os dias foram todos tormentosos,
As horas que vieram me sangraram,
Os cantos que aprendi, tão lamentosos,
Por outros mares tortos, ecoaram...
Saudades doutros mundos venturosos
Onde essas amizades triunfaram...

Agora que te encontro novamente,
Amiga, é necessário amar urgente...
Marcos Loures


85

Levado pelos ventos da paixão,
Deixando esse deserto em que vivi,
Abrindo tão profundo, o coração,
A vida que sonhava é estar aqui.

Naufrágios deste amor em que mergulho
Transformam simples ondas em delírios.
Viver contigo, amada, é meu orgulho.
Termina em nosso amor, tantos martírios....

Encontro uma verdade em cada verso
Desejo de viver eternamente.
Rompendo sem temer, este universo,
Diverso do meu mundo tão descrente...

E quero teu amor bem junto a mim,
Amor, desde o princípio, um belo fim...


86


Levado pelo vento da saudade
Chegando no teu quarto de mansinho,
Deitando do teu lado já me aninho
E passo a desvendar felicidade.

Sentir este calor que nos invade,
Roçando a tua pele com carinho
Percorro com volúpia este carinho
Sabendo ultrapassar defesa e grade.

É bom voltar em paz ao aconchego,
Tocando o corpo nu e enlanguescente
Da ninfa com frescor adolescente.

E quando após a chuva morto chego
Teus braços me protegem do relento,
Bendita esta saudade e o manso vento...
Marcos Loures


87

Levado pelas mãos do pensamento
Tentando decifrar os teus sinais,
Mortalha da ilusão tomando assento,
Mergulho o sentimento dos umbrais.

E vejo o renascer de velhas urzes,
Tomando assim de assalto, o meu canteiro.
Aonde imaginara fartas luzes,
Encontro o meu desígnio derradeiro.

O passo que falseia vê na queda
Inevitável, força pra lutar.
Pagar a solidão com a moeda
Que um dia recebi; e me fechar.

Deixando no relento, as fantasias,
Noturno amanhecer, nublados dias...


88

Levada num momento a outro cais,
Embarcação se mostra renitente
O quanto que sonhei noutros astrais
Naufrágio com certeza se pressente.

Potentes vendavais que nos tombaram,
Serenas praias nunca eu percebi.
Apenas ilusões afiançaram
O resultado encontro agora, aqui.

O vago que persiste no meu peito
Retrata o que não tive, mas busquei.
Quem sabe na amizade encontre um jeito
Mudando de cenário, reino e rei.

No palco das temíveis ilusões,
Os ventos em diversas direções...
Marcos Loures


89

Lembro de nossos dias mais felizes,
Namoro no portão, os pais na sala...
Nós éramos apenas aprendizes.
Saudade, no meu peito, como fala!

Depois de muito tempo nos achamos
Em todas as quebradas desta vida,
Libertos sonhadores; nos amamos,
Maravilhosa estrada tão comprida;

Cumprida dia a dia tempo afora...
Agora, pensativa, teus temores,
Tu pensas que talvez eu vá me embora
Matando novamente estes amores...

Não percebes o quanto te esperei?
Sempre ao teu lado, amor; eu estarei!


90

Lembra-te do solar das margaridas?
O velho precipício dos anseios...
As mãos que penetravam teus receios
E as bocas tão famintas e sofridas.

Nas peripécias tantas, bem urdidas
Os dedos encontravam firmes seios.
Os rios não fugiam de seus veios
Caprichos e delírios. Nossas vidas...

Recorda-te do quanto fomos tanto.
As flores e o riacho, medo e encanto
E a voz de tua mãe se aproximando...

O tempo não perdoa; agora só,
Do sítio dos meus sonhos, resta o pó
E o fogo lentamente se apagando...



91

Libertos, sem grilhões, senões ou amos,
Levamos nossos barcos mar afora.
Perfeita sintonia que encontramos,
Permite esta viagem sem ter hora

Certeza que se tem de um manso cais,
Explica esta fantástica alegria,
Os dias são decerto magistrais,
Vivendo o bem maior da poesia.

Agora, companheira, em cada verso
Eu quero te dizer quanto eu te adoro,
Amor vai adentrando este universo
Em suas mansas mãos já me decoro

Trajando a paz que sei fenomenal,
Na eterna sensação de um carnaval...
Marcos Loures


92

Libertos pelos fogos das paixões,
Não temos tempestades a temer.
Jogados mesmo em jaulas de leões,
Percebo em nossas mãos pleno poder.

Abrindo da esperança os tais portões
Sabemos quanto é bom sempre vencer.
Por mais que venham duros furacões,
A força deste amor eu posso ver.

Querendo o teu querer o tempo inteiro,
Recebo a mais sublime fortaleza.
Embora nesta vida, uma surpresa


93

Libertos e encontrando um manso ninho
Depois da intensa busca vida afora,
O amor que tantas vezes se demora,
Invade a nossa casa. De mansinho...

No colo deste encanto em que me aninho
Vontade de ficar, não ir embora,
O tempo em solidão não rememora
Aquele que se entrega ao bom carinho.

Recebo o teu afago após a lida,
Cotidiana luta que sem tréguas
A cada novo turno recomeça.

Em tal felicidade bem urdida,
Das dores vou distante tantas léguas,
No amor que magistral, já se confessa...
Marcos Loures


94


“Liberto meus fantasmas quando escrevo”
E torno o dia-a-dia mais suave,
Voar em cada verso eu já me atrevo,
O pensamento passa a ser a nave

Que traz o imaginário para mim,
Apascentando a dor, permite o sonho,
Na palavra decerto encontro assim
Um mundo que mais justo ora componho.

No amor que construímos, a saída
Que tanto procuramos nesta vida
E, mesmo virtual, nos traz alento.

Singrando os oceanos num segundo,
Ao escrever construo um novo mundo.
Vou liberto, ao sabor de um manso vento...
Marcos Loures


95

Liberta em mansidão, uma amizade
Composta de desejos mais felizes.
Sabendo que viver em liberdade
Precisa ter eternos aprendizes...

No dom de ser amigo; uma esperança,
Forrada por carinho e por respeito.
Nos elos tão cerrados da aliança,
Os versos que te faço, satisfeito...

Amigo pressupõe uma coragem
De sempre ser fiel e verdadeiro,
Seguirmos, braços dados, a viagem
Que me colocará desnudo, inteiro...

Nas curvas desgraçadas do caminho,
Eu sou teu vero amigo, com carinho...


96



Liberta borboleta no jardim,
Passeia entre heliantos e rosais,
Paisagens tão sublimes, magistrais
Guardadas quais relíquias dentro em mim.

Dizendo deste tempo de onde vim
Da rosa que adentrando os meus umbrais
E agora, ao perceber teu nunca mais
Caminho inexorável mostra o fim...

Distante do acalanto que se ouvia,
Restando este ladrido de agonia
Na porta escancarada o nada vem...

Deitado sobre as fronhas da saudade,
Diamantino sonho? Falsidade?
Cadê a bela noite de meu bem?


97




Lembranças do que tínhamos outrora,
As tinhas e os cupins tudo levaram,
A velha fantasia não decora
Os corpos que entre mágoas se abortaram.

Carentes de ilusões, ainda tontos,
Por entre vagalhões, nossos escombros,
Nem mesmo tais desculpas dão descontos,
O sol; já não veremos sobre os ombros.

Sombrios os caminhos são desditas,
Distante cada estrela que ora fitas,
Reflexos do que um dia fomos nós.

Os braços que cansados não labutam,
Os astros tão distante não escutam
Mil brados deste amor, verdugo atroz...


98



Lembranças do que fomos no passado
Vivificando a glória no presente.
O amor quando é demais, já se pressente
O encanto sem igual eternizado

Embora não estejas ao meu lado
Tua presença amiga, o peito sente;
Não sabes, mas eu conto a toda gente
Mantendo o sentimento, de bom grado.

“Amor demais amigo”, amada amante
Sinônimo de um sonho fascinante
Que tem toda a pureza dos cristais.

E vivo tão somente por saber
Que um dia em minha vida, este prazer
Amei mais do que pude. Amei demais...
Marcos Loures


99

Lembranças deste tempo onde não fomos
Senão um precipício de loucuras.
Roubando dos prazeres tantos gomos,
Bebendo em nossos corpos amarguras.

Vadias tempestades em torturas,
Carinhos delicados e ternuras,
As matas embrenhadas, mais escuras,
Delícias mais profanas como impuras...

Champagne derramada nos teus seios,
Nos rumos se perderam os juízos...
Emigro em nossas luas sem receio.
Sinônimos divinos, paraísos.

Não víamos sequer romper o dia,
Na vida tão orgástica, alegria...


7800

Lembranças desta glória que vivemos,
Em mantos que emprestamos ao veneno.
Sentindo que d’amores que sofremos,
A noite nos invade em seu sereno.

O frio que comanda não resfria
O peito que abrasado, não se cansa.
De tanto que escutei a melodia,
Depois de tanto tempo, amor já dança.

Não deixe que me entregue mais contente
Pois saiba que ironia tem seu preço.
O mundo se desanca, num repente
E amor vai se mudando de endereço.

Quem logra seu passado com mentiras,
Ao pântano das dores já me atiras...


01

Lembranças despertadas do passado
Invadem o meu quarto em noite imensa.
Um sonho que perdido jaz pesado,
Deixando a minha vida bem mais tensa

Trazendo no seu bojo, demarcado,
A nebulosidade- noite densa-
Mudando, de repente, sina e fado,
Legado que carrego em recompensa

Do amor que se perdeu e não voltou,
Deixando uma saudade no meu peito.
Sozinho, pela vida, agora eu vou,

Mas trago o gosto doce de teu beijo,
Que é na verdade, amada, um outro jeito
De dizer que inda te amo e te desejo...


2

Lembranças delicadas, posto vivas,
Contemplam meus momentos mais atrozes.
Ouvindo vagamente roucas vozes,
As horas vão passando sugestivas.

De tudo o que guardei, expectativas
Em dias mais difíceis e velozes
Invés de companheiras, tão algozes,
As noites sempre frias, pensativas.

Deixando no passado tantos louros,
Troféus que antes julgara imorredouros
Abandonados morrem, perdem chama.

Pergunto, minha amiga, como e quando
O tempo se fará suave e brando,
O nada por resposta triste, clama...


3

Lembranças da morena adolescente,
Sublime fantasia dentro em mim,
Deitada sob o sol, no seu jardim,
Tornava o meu verão muito mais quente.

A boca desejada, mas ausente,
Delírios em desejo carmesim,
Guardando este retrato, sigo assim,
Tentando reviver. O tempo mente...

E nada do que fui ainda vejo,
Os olhos no trabalho, a mente voa
Andando pelas ruas vou à toa

A vida se entornando num lampejo,
Permite tão somente a fantasia...
Verão que neste inverno já se esfria.
Marcos Loures



4

Lembrança deste amor, cura e envenena
E a só tempo trama e já destrói
Qual maremoto em noite mais serena
O quanto que maltrata sempre dói.

Sói, pois acontecer que uma saudade
Estúpida quimera mostra as garras,
Além do que alegria inda arrecade
Tristezas vão firmando vis amarras.

Assim, neste agridoce eu me tempero
E bebo às vezes luzes, noutras trevas,
Portanto enfim construo ou degenero
Secando meu jardim preparo as cevas.

Antíteses retratam fielmente,
Saudade que me invade, de repente...


5

Lembra-te, minha amada, aquela tarde
Quando estávamos sós, desejo intenso.
Um refúgio tranqüilo nos teus braços
Vontade de te ter, amor imenso.

Cada lágrima nossa, de alegria,
Cada nova emoção, a descoberta.
Flor que procura amor no jardineiro
Uma nova esperança que desperta.

A tarde passando, a noite veio.
Em teus seios promessas mais sutis.
E toda a poesia nos trazia
Um mundo novo, livre dos receios...

Lembra-te aquela tarde, meu amor,
Jamais esquecerei cada segundo...
Numa infalível cura, nossa vida.
Amor nos redimiu. Tocou bem fundo...


6

Lembra de tanta harmonia
Que sempre lavou meus olhos
Nessas noites de alegria
Que vieram, tantos molhos...

Nas estrelas que sorriam
Nos medos que não vingaram
Os dias se transcorriam
As dores nunca chegaram

Deixaram seus véus lá fora
Esquecidos no quintal.
Nosso amor não foi embora,
Ficou comigo afinal.

Na harmonia que juramos,
Tanto, tanto nos amamos...


7

Leitão à pururuca um bom tropeiro,
Cachaça com limão e churrascada,
Depois dar um passeio num puteiro,
Até varar de fome a madrugada.

Amigo de verdade, companheiro,
Não foge de uma noite farreada
Dá tombo, se preciso, no porteiro,
Deixando esta porteira arreganhada.

Nadar na cachoeira, jogar bola,
Saltando sobre o muro lá da escola,
Dar notas pras garotas, chegar junto.

Confirmar as mentiras que contamos,
Assim a juventude nós passamos,
Colhendo a cada dia um novo assunto...
Marcos Loures


8

Legando ao velho circo amenidades,
Sorrisos tantas vezes estrambóticos
Em guizos, histriões decerto exóticos
Demonstram sem rigor, banalidades.

Rompendo do passado, velhas grades
Detalhes deste umbral, em arcos góticos
Em meio a gozos fartos, bens eróticos
Desejos tão iguais voracidades.

Apátrida emoção não quer escolha,
Expresso nos meu verso em cada folha
O quanto em placidez amor faz busca.

O amor que noite imensa já patusca
Bebendo o farto vinho em rara orgia,
Delitos e delírios; cedo cria.
Marcos Loures


9

Legando ao meu passando este empecilho
Eu tramo com mais força cada passo,
Vencendo cada luta, entranho o espaço.
Liberto, o coração segue andarilho.

A vida disparando o seu gatilho,
No peito de quem sonha encrava este aço,
No verso que em delírios hoje faço
Permito-me falar de cada filho.

Espalho meus gametas, reproduzo
O verbo que se fez, mesmo confuso,
Tem na palavra certa e bem usada

A chama em que se inflama a minha vida,
Nem tanto benfazeja. Decidida -
Rompendo em negras nuvens a alvorada.
Marcos Loures


10

Legando ao meu cadáver, podridão;
Embriagado sonho feito incenso,
Um pântano que adentro; ledo, imenso,
Da fantasia tola, rufião.

Negando a primazia desse pão
Macabro esse sorriso, céu mais denso
Enquanto tolamente, ainda penso
Na tábua em falsos brilhos, salvação.

Profanas tempestades, meus louvores
Da pele decomposta, dissabores
Estúpida esperança trama ritos.

Os olhos que me seguem numa espreita
A morte inevitável se deleita
Nos versos quais sabujos, cães malditos...
Marcos Loures



11

Legados de outras eras não são fardos
Que os velhos inda trazem sobre as costas.
As balas guerrilheiras nas encostas
Os templos feitos sonhos; negros, pardos.

Nos olhos e nas peles, os petardos,
As mãos sobre os joelhos, ora postas,
Futuro desdenhando tais apostas,
Apenas por herança, os mesmos cardos.

Antigas baionetas e fuzis,
O corpo da pequena meretriz
Servindo de estandarte a quem deseja

Um novo alvorecer neste planeta,
Olhando o que passamos pela greta,
Apenas liberdade inda se almeja...
Legados de outras eras não são fardos
Que os velhos inda trazem sobre as costas.
As balas guerrilheiras nas encostas
Os templos feitos sonhos; negros, pardos.

Nos olhos e nas peles, os petardos,
As mãos sobre os joelhos, ora postas,
Futuro desdenhando tais apostas,
Apenas por herança, os mesmos cardos.

Antigas baionetas e fuzis,
O corpo da pequena meretriz
Servindo de estandarte a quem deseja

Um novo alvorecer neste planeta,
Olhando o que passamos pela greta,
Apenas liberdade inda se almeja...


12

Legado que transformo em poesia,
Herança de um passado sem sentido,
O quanto a fantasia, a vida adia,
Permite que eu me perca em triste olvido.

Escravo, tantas vezes, da libido,
O sonho disfarçado em euforia,
Distante do que eu quis, vou iludido,
Usando esta mortalha: a da agonia...

O quarto esfumaçado, a sala imersa
Na solidão sombria em luz fugaz,
Procuro a solução abrindo o gás

Pisando em teu orgulho, seda persa,
Um dia quem foi rei, pensou ser dono,
Devora este banquete, o do abandono...


13

Legado da esperança, pleno amor,
Que a vida não macula, nem consegue,
Sem ranços, sem perguntas nem pudor,
O fato é que o desejo te persegue

E molda um novo dia encantador,
Aonde uma alegria já nos regue,
Gerando com ternura cada flor,
Que eternidade nunca mais se negue...

Erguendo um brinde em taças de cristal,
Vagando o pensamento pelo astral,
Singrando espaços tantos, universos.

Delírios de total insensatez
O amor que magistral, assim se fez,
Merece muito além de simples versos...


14

Leda boca esfaimada da megera
Que aquieta-se somente com carniças.
Atocaiada sorte que na espera
Detém o que desejas e cobiças.

Abrindo nos caminhos tal cratera
Que muda com as hordas mais noviças,
O corte que legaste degenera
E mata enquanto forja falsas liças.

Não quero o meu cadáver em teus seios,
Nem mesmo a tua fome insaciável.
Estúpida fornalha busca os meios

Que possam destruir o que inda resta.
Olhando o meu futuro lamentável,
O lobo tenta em vão nova floresta...



15

Lealdade, decerto, não conheço.
Se tudo neste mundo, hipocrisia;
Amores que, sem pena, desconheço,
Matando qualquer uma fantasia.

Será que tanto mal ,assim, mereço?
Disfarças nesta tua melodia
Nos versos que bem tarde reconheço
O tempo que tivemos de alegria.

E dizes que passaste na procura
De amor que te fizesse mais feliz.
E dás à luz do sol a sombra escura

Transformas nosso amor em velho traste,
Ah! Querida, se tudo que eu já quis,
Morreu tão sem cuidados, por desgaste!


16

Lavrar quando o deserto é teu arado,
Forjar da pedra fria, maravilhas.
No solo em maestria cultivado
Arquipélagos crias, raras ilhas...

Das nuvens não insetos, mas a chuva
Com a qual tu permites a florada.
Cabendo tantas vezes, como luva
Nutrindo a terra assim, bem estercada,

Amigo de sobejas poesias,
Tu fazes com teus versos magistrais
Os lumes que vagando, onde me guias
Imagens constelares, siderais.

Meu verso em reverências te agradece,
O teu canto sublime que enobrece.
Marcos Loures


17

Lavrando sobre o túmulo dos sonhos,
Jazigos que pirâmides, eu quis.
O peso em minhas costas, cicatriz,
De dias malfadados e medonhos.

Os olhos que inda mostram quão tristonhos
Momentos em que a vida, por um triz,
Marcado pela imensa tarde gris
Os restos performáticos, bisonhos.

Ondeio neste vasto carrossel,
Reconhecendo ao fim que meu papel
Na história que criaste, é de bufão.

Arranco estes pendões e volto ao mar,
Aonde pus a paz em cada altar
Erguido na tempesta e no tufão...


18

Lavramos na aridez de um duro chão,
E tantas vezes encontramos nada
Amor se transformando em barricada
Prenunciando em ultimato o não.

Quem sabe encontrarei a solução
Depois de tanto conhecer a estrada
Recebendo da vida outra lufada
Descubra enfim o que busquei em vão.

A sorte se mostrando doidivanas
Em meio a luzes tempestades tantas
Ao mesmo tempo beijas, desenganas

A vida vai passa e muitas vezes tensa
Em fartas trevas, cedo desencantas
Nunca ninguém que não conhece pensa.
Marcos Loures


19

Lavasse o coração em água pura
Que, cristalina, desce de meus ermos.
Pudesse me inundar em tal ternura
Sem mesmo decifrar sinais e termos.

E com a natureza convivermos,
A mãe que nos ampara e nos atura
Além do que possamos crer ou vermos,
Por mais que a vida exploda em amargura

Não deixe de sentir a mansidão
Do vento feito em brisa; placidez,
Que um dia em tempestade já se fez

Mudando a direção, secando os rios.
Reconhecendo assim, desejos, cios
Da vida que é refeita em cada grão...



20



Lavado ou enxaguado tanto faz,
O bicho peludinho é um sucesso.
Fogoso, molhadinho satisfaz
Sem medo, com vontade eu me arremesso.

Depois pegar no rabo, ali atrás
Mexendo e rebolando, eu te confesso,
Por ele de loucuras sou capaz,
Sacrifícios não vejo e nunca meço.

Rolando em minha cama, em arrepio,
Brincando toda noite eu me vicio
E quero sempre mais, sem ter sossego.

Pois dê pra quem tu amas, não se esquece
Que quem tanto deseja já merece
E eu vivo só por ela, isso não nego...

TO FALANDO DA GATINHA DE ESTIMAÇÃO!
Marcos Loures


21

Latidos que escutei do coração
Enquanto a caravana cisma e passa.
Amor vai se esvaindo na fumaça
Ocasião fazendo este ladrão.

Ladrando pelas ruas, solidão
Amarro o meu destino em tal desgraça,
Do pão de cada dia, não sou massa,
Nem mesmo quero ser a solução.

Soluços entre lágrimas? Não mais.
Negaste tais nefastos vendavais
Deixando como herança uma ironia.

As cartas que jogaste sobre a mesa,
Dos dados que rolaram sem surpresa,
Amor não dá fiança nem se cria.
Marcos Loures


22

Lateja meu desejo em tua busca,
Levanto este lençol, te vejo nua...
Tua beleza imensa já me ofusca
Ao ver tua nudez, alma flutua...

E tento te tocar, mas temeroso
Afasto-me ficando assim, distante,
Sentindo que no corpo mavioso
Pressinto uma viagem deslumbrante...

Porém o medo toma-me de assalto
E tudo o que sonhara vai por terra...
Meu passo tremulante, quase incauto.
O teu olhar, percebo, enfim descerra..

Sorrindo, me convidas para a cama..
O medo se dissipa... O quarto inflama...


23


Lascivos os momentos mais audazes
Aonde percebemos que carinho
Se faz em nossos pântanos vorazes
Num êxtase aferindo nosso ninho.

Volúpias e priápicos desejos
Onânicas vontades esquecidas.
Depois de enaltecer os relampejos
Deixamos para trás sem despedidas

As hostes energúmenas, vazias...
Banquetes tão hedônicos, noturnos.
Orgásticas mensagens que querias;
Restando os furibundos tão soturnos.

Não quero nosso amor morrendo à míngua,
Adoro o teu sorriso em cunilíngua...
Marcos Loures


24

Lembrar-me de teu rosto, tua imagem
Que sempre me acompanha, riso e pranto.
Aos poucos vou perdendo esta coragem,
E entrego-me à loucura, desencanto.

Viver a delicada e mansa aragem
Deitando sob a lua, claro manto,
Perpetuando assim esta paisagem
Que toma o pensamento, tento e canto...

Porém a voz melíflua da ilusão
Ainda se permite, falsa pedra.
O coração sozinho já se medra

E tenta algum disfarce. Solidão
Batendo em minha porta me convida
À fuga desta vida em outra vida...


7825

Lembrando-me de Cristo neste dia,
Sexta feira sangrenta da paixão,
Sempre trago comigo essa agonia,
Do mártir que pagou pelo perdão.

Caifás o seu carrasco, bem podia
Ter sido equiparado na questão
A um Papa causador de uma heresia
Matando Joana D’arc. A solução

Que dada em política selvagem
Ao temer uma perda de poder.
Permita-me Senhor, uma homenagem

Neste dia terrível contra a paz
Podendo neste Papa já rever
A face demoníaca: Caifás!


26

Lembrando quando a vida foi tão boa,
Meus versos retornando à mocidade,
Do cheiro do café, cigarro e broa,
Eu tenho, aqui garanto, uma saudade.

Da pescaria à tarde com meu pai,
Da minha mãe na sala de jantar,
O tempo sem limites já se esvai,
Quem dera se eu pudesse retornar,

Beber a liberdade deste vento,
“ Os jogos de botões sobre a calçada”
Nos olhos tão somente este tormento,
De tudo o que pensara, restou nada.

A vida se findando trama a fuga,
Nos espelhos saudade se fez ruga...


27

Lembrando do que fomos, dá tristeza
Saber que destruí nosso castelo.
Por isso tantas vezes me revelo
Na foto que deixaste sobre a mesa.

O quanto a solidão sempre despreza
Aquele que se fez sem qualquer zelo,
E quando à noite, em lágrimas eu velo,
Aguardo; esperançoso, uma surpresa.

A madrugada insone nada traz,
Retrato na gaveta, dor voraz,
E a gente se perdendo pouco a pouco.

Não posso resistir à tua ausência,
Queria teu sorriso por clemência,
Senão vou acabar ficando louco...


28

Lembrando do pomar e da mangueira
Fazendo sombra no quintal. Saudade...
A vida parecia brincadeira
Não havia nem sombra de maldade.

Nas mãos desta criança a atiradeira
Matando sem saber da crueldade.
Inocência perdoa esta besteira
Nas asas da perfeita liberdade.

No rio piracemas, tanto peixe....
Gravetos e fogão, na brasa e lenha,
Pedaços recolhidos, mesmo feixe.

Mugidos e namoros lá no pasto,
É pena que a velhice logo venha
E mate o coração, sacana e casto..


29

Lembrando de teus olhos vejo a lua
E nela esta beleza inesquecível.
Deitando cada raio sobre a rua,
Na chama que me invade em luz incrível.

O pensamento alcança e assim flutua,
Felicidade, agora, enfim, possível.
Saber do nosso amor, estar liberto,
Sentir o paraíso bem mais perto.

Meu canto contemplando os belos versos
Que fazes, minha amada e companheira.
Depois de tantos passos mais dispersos,

Razão para viver se mostra inteira.
Os dias não serão jamais perversos,
Na lua deste amor, mais verdadeira
Marcos Loures


30

Lembrando da pureza, doce encanto,
Das tardes do passado, das novenas,
Jardins de minha casa, as açucenas,
Do amor que imaginara em triste canto.

A noite tão vazia, em negro manto
Trazendo uma tristeza em duras penas.
Quem dera se eu tivesse horas amenas;
Mas nada a mim chegava, só meu pranto...

Chegaste mansamente em beijos mudos,
Nas mãos a maciez: sedas, veludos,
E aos pouco me tomaste por inteiro.

Meus sonhos, suavemente já completas
Palavras que me dizes, prediletas,
O amor que fora sonho é verdadeiro!


31

Lembrando da menina lá no engenho
Nas festas, nas colheitas, tantas danças...
Meus olhos decorados de esperanças
Deste passado belo; amor, eu venho.

De toda uma certeza que inda tenho
Depois de ter passado mil andanças
A vida promulgando nas mudanças
O corte penetrante, cerrando o cenho.

Velhice vem chegando, sem desgosto,
As marcas do que tive estão aqui
Sulcadas nestas rugas do meu rosto.

São belas e profundas cicatrizes
Trazidas deste tempo em que vivi
Contigo. Tão marcantes mas felizes...


32

Lembranças tão saudosas deste caso
Que nem o tempo pode transformar.
A lua vai nascendo neste ocaso
Banhando em pura prata o belo mar.
A vida não se faz e não quer prazo
Apenas no teu corpo navegar..

Bem sei que não vieste para a festa
Mas sinto que virás mais soberana,
Pois tudo o me encanta e que me resta
Nos olhos desta deusa já se explana
E vivo a procurar; lua e floresta,
Àquela a quem desejo e que me engana...

Não posso mais calar o sofrimento,
Buscando o teu amor, por um momento...


33


Lançados pelas mãos, os frios dados
Demonstram nossa sorte malfadada,
A vida que se ufana em derrocada
Esquece que seus dias ‘stão contados.

Rugindo pela noite em altos brados
Um cão prepara em riso uma dentada,
Ao ver a carne enfim dilacerada
Encharca com meu sangue os mansos prados.

Do pouco que me resta não detenho
Sequer uma impressão de onde venho
Mordido pela fera da ilusão.

E finjo acreditar na liberdade,
Esboço até talvez, felicidade
Depois de ter somente solidão.
Marcos Loures


34

Lança ao mar o seu bote salva-vidas
Amor que não tem forças, na procela,
O quanto se deseja e se revela
Em bocas e carícias distraídas.

As honras ao amor são concedidas
Por quem imaginando raras telas
Liberta o pensamento, solta as selas
Esquece as horas tolas, já perdidas.

Batalhas engrenando são diversas
Palavras quase inúteis, vãs, dispersas
Espalham pelos céus, o sentimento.

Assim, ao ter o sonho em minhas mãos,
Os dias que se foram morrem vãos,
Aguardo ansiosamente os novos ventos...
Marcos Loures


35


Lamento triste ganha a madrugada,
Qual vento que batendo na janela,
Carinho sem limites se revela,
Tornando a noite amarga e tão gelada.

Quem dera se pudesse... Vem o nada
Falando num momento vão daquela
A qual o pensamento já se atrela,
Imagem do passado, transtornada.

Tristeza por quem sabe amar além
Do que pude. Vivendo esta agonia,
Num leito de viúvo, abandonado

Procuro por estrelas, nada vem
A neve torna a noite bem mais fria
Espectros tão sombrios do passado...


36

Lambuza enquanto abusa deste jogo
A festa que repito e não me cansa.
Na ardência da morena eu já me afogo
Brincando em seus cabelos, cada trança;

Fiança que buscara há tantos anos,
Nos fios desta teia eu me encontrei.
Legando ao meu passado os desenganos
Nos planos deste amor eu mergulhei.

Nas tocas e nas grutas, furnas, sendas,
Eu vejo ser possível uma água clara,
No fogo que depressa quero, acendas
Paixão e insensatez, gozo declara.

Entradas e bandeiras, eldorados,
Esmeraldinos trilhos desvendados..


37


Lambias, sorrateiro, todo o chão,
Venenos e vermífugos, verdugos.
Tão servil, adubavas o porão
Comias as espigas e sabugos.

Amores que vivera, lassidão...
Fermentos e fecálicos expurgos,
O cheiro das entranhas, podridão!
Serpenteando ruas, valas, burgos...

A noite em suas plêiades luzentes,
Trazia uma esperança de melhora.
Os braços dos canalhas envolventes,

Os vermes das vermelhas carnes podres...
Vivendo nos barracos toldos, odres...
A morte se prepara e, santa, aflora...


38

Lamber-te por inteiro, ser teu homem...
Molhando tua flor tão desejada.
Incêndios que nos tocam e consomem,
Na fúria que te fez por mim amada.

Desnuda-te, perfumas e me domas,
Em teu castelo, invado o teu jardim.
Bebendo gole em gole, tu me tomas
Sorvendo intensamente, até o fim.

Sem mais reservas, deixo-me tragar
Te dando todo amor que mais querias.
Alago com prazeres o teu mar.

Nadando em cada sonho, verso e canto,
Mergulho sem limites, fantasias,
E me entrego, sem rumo, ao teu encanto...


39

Lamber tua buceta e ter teu mel
Descendo em minha boca tão voraz,
Prazer que ser teu homem sempre traz
Vibrando neste quarto de motel.

Tirando dos desejos todo o véu,
Desnuda, a diva insana satisfaz,
Mostrando a cada instante que é capaz
De fazer da vontade um fogaréu.

Recendes aos perfumes mais suaves,
Viajo no teu corpo minhas naves
Até que o gozo escorra em tua gruta.

A deusa se transforma num segundo,
E quando nestas sendas me aprofundo,
Tu mordes meu pescoço, feito puta...


40

Lamber tua buceta e te fuder
Deliciosamente ter teu sexo,
O amor este safado ser complexo
Espalha tanta dor, busca prazer.

Rolando até que chegue amanhecer
O côncavo se encaixa no convexo
Não quero ter vergonha e vou sem nexo
Roubando esta alegria de viver.

Pegando-te por trás, ancas quadris,
Até que orgasmo chegue em explosão,
Contigo santa e puta, eu sou feliz

E quero sem pecado e sem juízo
Sabendo desfrutar deste tesão,
Voando em cada gozo ao Paraíso...
Marcos Loures


41

Lamber o teu grelinho, e te sarrar,
Roçando o meu caralho na portinha.
Desejo toda noite me esfregar
Depois comer a tua bucetinha.

A puta bem gostosa a devorar
Enquanto se entregando toda minha,
Vontade de comer bem devagar,
Até poder melar tua boquinha.

Boquetes, meia noves, fudelança,
A noite se passando nesta dança
Na foda prometida e sem igual.

Tu pedes minha porra em tua boca,
Sorrindo de vontade quase louca,
Querendo noutra noite um bacanal...
Marcos Loures


42

Lamber o teu grelinho e tão sacana
Beber todo o teu gozo, gota a gota,
Vontade de fuder já não se esgota
Te quero bem vadia, uma putana.

Enquanto a gente se ama tira e bota,
A noite vai passando e não se engana,
Encontro o Paraíso em tua xana
A fonte inesgotável, tua grota.

Nas furnas que me mostras com tesão
Melífera delícia em explosão,
Vontade de ficar eternamente.

No gozo prometido e anunciado,
Depois de certo tempo, saciado,
Eu quero e recomeço novamente...
Marcos Loures


43

Lamber este selinho caprichoso,
Coloco de mansinho nesta carta,
De um jeito mais bacana e tão gostoso,
Prazer que não se teme nem descarta.

Tu tocas a corneta para mim,
Abrindo esta corveta, vou bem fundo,
Podendo te encharcar até o fim,
Entrando neste jogo mais profundo.

Esta cocota, eu sei, faz maravilhas,
Guardando o meu baralho logo encaixa
Adentro com delícias belas trilhas
Penetro quando em rogo já se abaixa.

E faço do melado desta cana
Garapa mais gostosa e mais bacana...
Marcos Loures


44


Lambendo tuas pétalas, ó rosa,
Aos poucos descobrindo teus anseios.
Espinhos escondidos, tudo aflora,
Na mansidão suave sem receios...

Nas hastes, no botão, no teu perfume,
Sabendo transformar tudo em prazer;
Fazendo deste sonho um bom costume,
Renova teu frescor, amanhecer...

O sol queimando lento te enlanguesce
E deitas tuas pétalas serena.
Um anjo disfarçado aos poucos desce
E entranha teu aroma em vida plena...

A rosa desejosa, vai se abrindo,
E o orvalho delicado, vem surgindo...


45

Lambendo tua xana
Beijando-te entre as pernas
A noite vai sacana
Delícias sempre ternas.

Roçando a minha pica
Teu grelo; eu quero mais
Teu mel que me adocica
Em sonhos sensuais.

Enquanto num boquete
Tu fazes maravilhas,
Pecado se comete

Adentro tuas ilhas.
No fogo que socorra,
Teu gozo, minha porra...
Marcos Loures


46

Lambendo o teu grelinho com tesão,
Deixando molhadinha tua gruta
Vontade de te ter, safada e puta
Deixando me levar na sedução

Gostosa de poder fuder gostoso
Menina tão sapeca e safadinha,
Beber cada gotinha do teu gozo,
Que escorre em fogo desta bocetinha.

Xingando e te cravando com vontade
Batendo em tua bunda de levinho,
Depois enfio tudo no cuzinho

Vem logo, bem safada pro teu macho,
Por cima de ladinho, vem por baixo
Que eu quero dar prazer, felicidade...


Marcos Loures


47

Lambendo este grelinho, com tesão,
Os dedos penetrando tua gruta,
Meu corpo te buscando, um furacão,
Te quero aqui comigo, muito puta.

Não deixe pra depois, te quero agora!
Sacana e sem juízo, xana exposta,
Eu quero o teu cuzinho sem demora,
Eu sei que de mansinho, você gosta.

Não vai doer, eu boto devagar,
Depois de me melar na bucetinha,
Pra começar irei só colocar
Do meu caralho, a sua cabecinha.

Comer a tua xota , delicia,
Te tendo bem safada, assim, vadia...


48


Lambendo com carinho cada pé
Da moça mais gostosa que conheço,
Sentindo a sua mão num cafuné
O Amor já reconhece este endereço.

Subindo devagar – depois eu desço,
Um beijo no pescoço; vou até
As ordens do desejo eu obedeço,
E cegamente sigo credo e fé,

No quase fui feliz, o desencanto
De ter permanecido no meu canto
Tentando decifrar tuas vontades.

Agora tu me dizes que não queres
Sequer compartilhar destes talheres,
Banquetes foram simples inverdades...


49

Lágrimas, os tormentos, convulsões.
Dilacerados, torpes, tais horrores.
Açoitantes lamentos sangram dores,
Nas cortinas vorazes, podridões

Quem soubera servil matou perdões
Quem não vira um ser vil como os amores,
Não servira. Nas iras; multicores,
As margaridas sangram corações...

Receba o simples mártir do universo,
As labaredas queimam todo cerne.
Não resta quase nada do meu verso.

Da podre carne surge nova vida,
Aurora vem da noite já perdida,
Assim também o amor, temível berne...


7850

Lagrimando saudades prateadas,
Às expensas das loucas intempéries.
Os vates já previram madrugadas
Em silêncio e amores vindo em séries...

Não mereço, por certo que pilhéries
Destas dores nefandas, vãs, caladas,
Corações pirilampos depaupéries
Bem antes das manhãs mais orvalhadas...

Sentindo este coral venal, harmônico,
Esperava por certo, um novo acorde.
Mas ao nascer, amor resta mecônico,

Não há luz nem carinho que o acorde.
Viverei tão incerto, pois afônico
Não ouvirás um canto que discorde.

Coração desespera e bate manso,
O teu colo podia ser remanso,
Em meu sonho sem paz, nunca te alcanço!
Marcos Loures


51

Lágrima que estas dores denuncia,
Cristalizando em águas o tormento
Que torna a nossa noite amarga e fria,
Rompendo este silêncio, sofrimento.

A pérola traidora em agonia
Traduz o que nos toma o pensamento.
Por mais que uma expressão mostre alegria,
Nos olhos tu declaras sentimento.

De todos os amores, nada resta,
Senão este vazio que se empresta
À velha solidão, vil companheira.

Porém querida amiga, não desista,
A sorte que é funâmbula, uma artista,
Se equilibra nos sonhos, feiticeira...
Marcos Loures


52

Ladrilho tua rua com brilhantes
E mesmo assim tu finges não me ver.
Por mais que os sonhos sejam fascinantes
Sonhar somente basta ao meu prazer?

Os sentimentos tolos são mutantes,
Mas neles imagino tal poder
Que mesmo que isso seja por instantes
A gente sente o tempo se perder.

Disseram deste bosque solidão.
Eu sei e conheci um anjo tolo
Em quem o amor há tempos dando bolo

Matou o que sobrou de coração.
Agora ela se faz de distraída
Roubando o que restou de minha vida...


53

Ladravas pelas noites, solitário...
Nas guias agonias e canções.
O medo me acompanha, é tão sectário,
Nos versos universos e verões...

Amor que te protege, mais notário,
Não permite mentiras nem versões...
Nas dores e nos prantos, solidário.
Temores e maus tratos, seus perdões...

Lambias minhas mãos, tão carinhoso,
Vibravas com meus feitos, minha glória.
O tempo te trazia venturoso.

Amigo que não nega todo amparo...
Por vezes da tristeza sentes faro,
E mudas, sem querer, meu rumo e história...
Marcos Loures


54

Ladrão do diamante verdadeiro,
O sonho saqueando a realidade.
Levando amor que eu tinha; derradeiro,
Deixando tão somente esta saudade...

Palavra que entristece quem a sente
Relembra o que eu vivi e foi tão bom,
Por mais que o dia venha para a gente,
Lembranças carcomendo em mesmo tom.

Monótona e difícil cantinela
Que insiste mal a noite vê chegar,
O amor que tanto eu quis ora revela
Apenas a vontade de voltar

E crer que inda é possível reviver,
Realçando somente o que é prazer...
Marcos Loures


55


Lacaio dos meus sonhos
Escravo da ilusão
Meus dias são medonhos
Meus risos nada são

Cercados por bisonhos
Caminhos pra amplidão
Os gozos enfadonhos
Metáforas do não.

Se eu sigo tão cativo
Senzalas entranhadas,
Enquanto estiver vivo

Persisto nas estradas,
O peito vai altivo
Em meio a barricadas...
Marcos Loures


56

Lacaio de meus sonhos, tantas vezes
Segui em noite vaga, versos tontos.
A vida suprimindo estes descontos
Tramando a cada dia, mais reveses;

Archotes que eu buscara há vários meses
São lendas simplesmente, velhos contos,
Tocaias, estiletes, seus aprontos
Fazendo de emoções, somente reses.

É lúdico brincar com as palavras,
Se delas me permito em tramas, lavras
Colher os sentimentos, belos frutos.

A farsa em que me enredo, dor e gozo,
Permite este caminho caprichoso
Amaciando versos frios, brutos...
Marcos Loures


57

Lacaio das terríveis ilusões,
O barco da esperança perde o cais.
A vida carregando os seus senões
Responde tão somente: nunca mais.

Quem tem fartas tristezas por refrões,
Não guarda mais estrelas nos bornais,
Momentos em que enfrenta as solidões,
Decerto são temíveis, infernais.

Encontro algum alento nas lembranças
Dos dias em que fui bem mais feliz.
Nos olhos sempre ingênuos das crianças

Um brilho que jamais recuperei,
O amor que fez de mim o que bem quis,
Transforma o pesadelo em sua lei..
Marcos Loures


58

Lacaio da esperança, um sonho agreste
Tomado por total insensatez,
Matando o que pensara placidez
Agônica loucura me reveste.

À lúbrica ilusão, que a dor empreste
A fonte da amargura que se fez
Dos olhos desta insana lucidez,
Com a força sublime de um cipreste.

Arcando com meus erros, busco a morte
E nela tão somente algum alento.
Não tendo mais ninguém que me suporte

Eu vago pelas noites, vil carcaça
Entregue à tal delírio, o pensamento
Esgueirando, vadio se esfumaça...
Marcos Loures


59


Lábios se procurando, majestade.
A doce maciez de teus sorrisos,
Os toques mais audazes e precisos,
Sem medo, sem pudor ou falsidade.

Na parte que me cabe, esta verdade
Demonstra meus momentos mais concisos,
Aonde sem saber de angústia ou sisos,
Desdizer nosso amor? Não sei quem há de.

Roçando a tua pele devagar,
Vagando por caminhos sem fronteiras,
A boca delicada a se ofertar

Atravessando pátios e quintais,
Desejo todo o bem que tu me queiras
E beijo novamente e muito mais...




60


Lábios quentes, desejos infinitos...
As bocas se procuram mais sedentas;
Amores que se sabem mais benditos.
Bonitas, as paixões tão violentas...

Meu corpo no teu corpo distraído,
Passeiam os meus lábios, sem destino.
Eu quero nosso amor, vou decidido
A buscar teu prazer, já me alucino...

Sinto-te flamejante quase louca,
Os olhos se perdendo, vão sem rumo.
A tua voz gemente, densa e rouca,
Juízo sem sentir, perdendo o prumo.

E sinto, depois disso, uma explosão
De fogos,de sentidos, de emoção!



61

Labaredas lambendo o meu sorriso,
A chama que me queima já alivia,
Às vezes navegar inda é preciso,
Porém perco meu barco a cada dia.

Amor se aproximando sem aviso,
Chegando num descuido, traz sangria,
Nas cores deste amor, me mimetizo
E deixo para trás a noite fria.

Das labaredas sei dos ferimentos,
Da dor que causa cada queimadura.
Embora na ferida encontre cura

Ao mesmo tempo em vivos sofrimentos,
Amar é se entregar à vil tortura
Bebida em grandes goles de ternura..


7862


Labaredas lambendo meu sorriso,
As chamas que me queimam aliviam,
Bem sei que navegar inda é preciso,
Fingi que sei o que eles não sabiam...

Amor que enruga, livre torna liso,
Por tantas coisas novas que surgiam
A morte não precisa nem de aviso,
As labaredas, chamas, me lambiam...

Cortei meu pé, feri meu sentimento.
A bula não resolve nesse ungüento;
Urtigas que me coçam trazem cura...

A vida não perdeu um só segundo...
Meu coração parece vagabundo;
A lua não clareia a noite escura...
Marcos Loures


63


Lascívias e loucuras neste ninho
Em penas e cetim, os travesseiros
Na noite sem medida; alvissareiros
Alívio que se faz pleno carinho.

Na mágica alquimia, com cadinho
Misturas em prazeres verdadeiros
Os corpos se compondo em tantos cheiros
Conjuntos que me apontam o caminho

Mais próximo por onde imaginava
Destino que pensara já traçado,
Porém após por Eros ser ferido

Um rumo diferente se apontava
Vivendo com quem quis aqui do lado,
O medo de viver vive escondido...


7864

Lápis na mão; no olhar atento
A velha paisagem disfarçada,
Do quanto desejei não sobra nada
Senão este vazio exposto ao vento.

E quando necessário; amor invento,
Saltando sobre o muro e a paliçada.
O sonho se transforma em palhaçada
E o gosto que me resta, do excremento...

Mirando muito além, no firmamento,
A lua que busquei? Abandonada,
Jogada sobre um céu nublado e tosco.

No oásis que encontrei por um momento,
A fonte num segundo iluminada,
Apenas um remendo amargo e fosco...


7865

Lancei ao fogaréu torpes desejos,
Carcaças e caraças, velhos cismas,
Os olhos morredouros sem lampejos
Nos medos que carrego; toscos prismas.

Pergaminhada, a pele, segue em pejos
Mergulho no oceano em que me abismas
Amores me traindo em vãos ensejos
Insólitos batismos, ledos crismas.

Meus ossos apodrecem mesmo em vida,
Destroços que me matam pouco a pouco,
Restando alguns segundos, sem saída,

O mundo relegando-me à carcaça
Semeio tempestades, sigo louco,
Cadáver de um amor que inda acha graça.


7866

Lançando-se sublimes, do altiplano.
Condores libertários, belos Andes,
Amor não permitindo mais engano,
Nem mesmo a fantasia que desandes

Percebe da tristeza qualquer dano
Tornando-se maior em feitos grandes
Amor que se demonstra soberano,
Encantos permitindo que comandes,

Seguindo vai incólume adiante,
De todos os maiores, o gigante!
Amor que em mansidão nos dominou,

Embora reconheça esta potência
Que tantas vezes trama em inclemências
A luz em treva intensa ele espalhou...
Marcos Loures

67

Mal posso acreditar em tua vinda,
Menina sedutora, apaixonante,
Não deixo de querer um só instante,
Que bom saber que estás comigo, ainda.

O céu mais deslumbrante se deslinda,
Em luz que já me invade, inebriante,
Quem teve o seu amor, assim, distante
Percebe quanto a volta se faz linda.

Ouvindo a tua voz, Ó bela prenda,
Eu sinto que é possível ser feliz,
Já tenho neste mundo o mais quis,

Carinho, um bom futuro, enfim desvenda.
Quem segue sendo sempre um aprendiz,
Bebendo desta fonte pede bis...
Marcos Loures


68

Matizas o meu canto
Em luzes maviosas
Mostrando que este encanto
Recende a raras rosas
Por isso em amar tanto
As horas são gostosas

Desertos que passei
Oásis procurando
Por tanto que pensei
Não saberia quando
Amor fizesse lei
E fosse iluminando

Caminho que enternece
Amor feito uma prece...
Marcos Loures


69

Maturidade chega com a tarde,
Os meus cabelos brancos são emblemas.
A vida vai passando sem alarde
Não posso me esquecer de velhos temas...

Nas dores que vivemos, fui covarde,
Agora que envelheço, em outros lemas.
Por mais que sempre tente não retarde
O tempo não tem pena das algemas.

Nessa melancolia, meu retrato...
Ansiedade louca sem remédio.
A morte aproximando-se é um fato.

O mundo vai murchando pouco a pouco...
Não posso resistir ao duro tédio
Maturidade chega e fico louco...


70

Matizes variados, nosso amor
Iridescente imagem que me toma,
Além de simplesmente sermos soma,
Multiplicamos sonho em cada flor.

Um trovador ao ver a rara luz
Na qual emolduraste a nossa vida,
Depois de procurar pela saída
Encontra a bela guia que o conduz

Levando em suas mãos, a poesia,
Pintando em belas cores, a alegria
Num prisma que me encanta enquanto traz

Tesouros escondidos, diamantes
Caleidoscópios tantos, fascinantes
Forjando da paixão loucura e paz...
Marcos Loures


71

Matando; de tristeza, o sofrimento,
Alegres emoções já nos tomando
Sabendo desta estrela desde quando
O amor trouxe o final deste tormento.

A sorte vai cumprindo o seu intento,
Enquanto uma esperança traz, raiando,
No tempo mais sublime abençoando,
No fogo da paixão, meu sentimento.

Portando o sol nos olhos, libertária,
A paz que; não duvido, é necessária,
Depois da ventania, assim, bendita,

Acende; no caminho, a lamparina
Na luz que se mostrando cristalina,
Bom dia minha amada, és tão bonita
Marcos Loures


72

Matando uma saudade nos teus braços
Perfaço as minhas sendas costumeiras.
Retrato meus carinhos nos regaços
De quem ao desfraldar belas bandeiras

Afaga com ternura e com abraços,
As sensações perfeitas, verdadeiras,
Não deixe que estes medos, fortes, crassos,
Destruam emoções tão lisonjeiras.

Tu és decerto, o rumo predileto,
Aonde irei marchar até que a morte
Trazendo o seu caminho, duro e reto

Invada e me carregue para o eterno.
Saudade não permita o triste corte,
De um sentimento imenso, manso e terno...
Marcos Loures



73

Matando uma saudade nos teus braços
Perfaço as minhas sendas costumeiras.
Retrato meus carinhos nos regaços
De quem ao desfraldar belas bandeiras

Afaga com ternura e com abraços,
As sensações perfeitas, verdadeiras,
Não deixe que estes medos, fortes, crassos,
Destruam emoções tão lisonjeiras.

Tu és decerto, o rumo predileto,
Aonde irei marchar até que a morte
Trazendo o seu caminho, duro e reto

Invada e me carregue para o eterno.
Saudade não permita o triste corte,
De um sentimento imenso, manso e terno...
Marcos Loures



74

Matando toda a sorte que eu queria,
O coração se faz tão indefeso,
Não posso suportar tanta agonia
Trazida neste olhar, duro desprezo.

Se eu prezo o teu amor por que me negas?
Eu vivo tão somente por saber
O quanto caminhei sozinho às cegas
Na busca solitária por prazer

Depois de tanto tempo entregue ao nada,
Restando tão somente este vazio,
Adentro a mais dorida madrugada
E mesmo em tanta dor, um sonho eu crio,

De ter; junto contigo um novo dia,
Surgindo nos meus olhos, poesia...
Marcos Loures



7875

Matando os dias rudes, negros, tétricos
A mansa sensação do amor se fez
Em rumos mais perfeitos e simétricos
O quanto é necessária a lucidez.

Sem lágrimas ou lástimas que entranhem
Rondando entre paredes, pedras, trevas,
Distante destas feras que me estranhem
As luzes revoando em finas levas

Cevando as mais profícuas claridades
Afeito a tais vontades incessantes.
Os olhos vão bebendo estas verdades
E raiam nos teus sóis mais escaldantes

O quanto desde outrora em flóreas sendas
Amor que me inoculas cria lendas...

76

Matando o verso incréu, rude e soberbo,
Um simples trovador canta esperança.
O que já fora outrora tão acerbo
Agora revigora a nova dança.

A trança da morena em minha pele
Jogando sobre mim, festa e confete
O quanto em avidez amor compele
O gozo que se bebe e se repete

Trazendo no bornal sonho impossível
Que aflora com encanto inexplicável
Fazendo qualquer lenda ser mais crível
Crivando em diamante o mundo amável

Provável solução em primavera
Potável tentação que nos espera.


77

Matando o que se fora, outrora trágico
Um sonho que se fez audaz e insano,
Do quanto tive em vida um momento álgico
Coberto em solidão e desengano

Agora viro a página, em tão cálido
Caminho transformado em solução.
O céu que já nascera vago e pálido
Promete ao renascer uma explosão.

Do quanto amor se mostra enfim, mimético
Eu vejo o meu reflexo num mosaico.
Recebo este arejar doce e poético
Deixando o sofrimento vil e arcaico

Guardado num recanto e ali atônico
Calado pelo encanto – amor harmônico...
Marcos Loures



78

Matando o que restou deste menino,
Desesperança marca em tatuagem,
Mudando totalmente esta paisagem
Gerando sem perdão um desatino.

E quando, solitário me alucino,
Percorro a fantasia, uma miragem,
Recebo da ilusão torpe mensagem,
Voláteis sentimentos, perco o tino.

Vivendas que fantásticas, criei,
Permitem finalmente algum alento.
Corcel em liberdade, o pensamento,

Dourando com delírios minha grei.
Quem dera se voltasses para mim,
Talvez este pavor chegasse ao fim...
Marcos Loures



79

Matando o que restou da claridade
Sem lua o cavaleiro segue em solo,
O quanto é necessária uma amizade
Não serve nem de apoio ou mais consolo.

Assolam os momentos, fúrias, dores,
Argutas as quimeras na tocaia
Espalham seus espinhos, secam flores,
Algoz feito esperança toma a praia

E invade o que restou de quem sonhara,
Deixando tão somente uma carcaça.
A jóia cultivada, mesmo rara,
Perdida em meio a nuvens de fumaça;

A morte que sonega o paraíso,
A vida vem trazendo sem aviso.
Marcos Loures



80


Matando o que pensara ser só meu
Não quero que meus passos tu evites
Saudade de teu corpo junto ao meu,
Rolando sem juízo e sem limites.

Depois que tu partiste, resta o breu,
Apenas a saudade a dar palpites
Refaço o brilho intenso, que era o teu,
E nisso tudo quero que acredites,

De tudo o que carrego nesta vida,
Tu és a parte nobre, mas sofrida
Do que inda penso um dia que há de vir

O vento da esperança que me roça,
Ao mesmo tempo corta e já remoça
Mudando em pensamento, o meu porvir.



81

Matando o que inda resta dentro em mim,
Exponho o meu cadáver pelas ruas.
Jogando creolina em meu jardim
As bocas que se mordem seguem cruas.

A cada novo guizo, cascavéis
A cada novo porto, o meu naufrágio.
Deixando para trás velhos corcéis
O peito vai ficando exposto e frágil.

Carcaças de esperanças num esgoto,
Estrelas derrapando no teu céu,
Bebendo cada gota do vinhoto
Vendido em drogarias como mel.

Se eu fosse o que pudesse, mas não creio
No amor que se faz cinza e sem recheio...



82

Matando o milharal, cadê boneca?
Apenas um restinho lá sobrou.
Somente uma esperança não secou,
Menina tão travessa e mais sapeca.

Minha alma sertaneja não se seca
E busca no oceano o que sonhou,
Nas águas pensamento procurou
A sorte traiçoeira e tão moleca;

Nas águas ao revés das duras ondas,
As noites destas luas mais redondas,
Dos casos, companheiros, meus amigos,

À dura solidão desta jangada,
Eu tento a solução, não vejo nada,
Apenas são diversos, os perigos.


83

Matando o medo algoz e feiticeiro
Apegos bem mais firmes, nosso jogo,
Queimando sem juízo, acende o fogo
E mostra este desejo por inteiro.

Do quanto que te quero, sinto o cheiro
E tramo esta ventura em que me jogo,
Da forma mais sutil quando me afogo
Eu vejo que este amor é verdadeiro.

Penetro tais defesas, abro frestas,
Aparam-se sutis velhas arestas
E o tempo sem limites, vai passando.

Na rua, na calçada ou no motel,
Ao desvendar vestígios deste céu,
Não quero e nem pergunto aonde e quando.
Marcos Loures



84

Matando nossa sede neste rio,
Descendo as cachoeiras mais bonitas.
Sentindo este calor que aborta o frio,
Vivendo as alegrias mais benditas.

Quase sempre olvidamos quanta fome
Que existe neste mundo em desamor.
Ao lado da alegria a dor já some,
O riso não é bom revelador.

Devemos desfrutar desta alegria,
Porém sem nos deixarmos enganar.
Por mais que seja bela a poesia,
Do mal ela não pode se furtar.

Por isso, meu amigo, tanto irmão
Precisa deste amor de salvação.b


85

Matando minha sede neste poço
Deliciosamente aberto em chama.
Causando a um sedento alvoroço
Incendiando quarto, casa e cama.

Sorvendo cada gota devagar,
Sabendo que um desejo insaciável
No mel delicioso lambuzar
De doce paraíso tão amável.

No regozijo imenso da paixão,
Vibrando neste altar de amor profano.
Não resistir jamais à tentação
Deste prazer sincero e soberano

Que toma nossos corpos tão sedentos,
Delírios tão suaves, violentos...



86


Matando estes desejos mais sedentos,
Rolando em nossa cama noite e dia,
Aberto o coração sujeito aos ventos
Que forram nossa vida de alegria.

Me deixo seduzir por teu encanto,
E deito-me em teu colo tão macio,
Depois do nosso amor, um acalanto,
Não deixa mais espaço para o frio...

Eu sei que sem te ter eu já não vivo,
Apenas sobrevivo e nada mais...
Não quero e não procuro mais motivo
Eu vivo por amar assim, demais...

Não quero mais deitar em outra cama,
Apenas no teu corpo encontro a chama...


87

Matando em nascedouro a solidão,
O gozo da alegria determina
Que a fonte que se entorna de emoção
Permite no horizonte a rara mina.

A força cristalina deste amor,
Apaixonadamente já nos toma,
Dourando em meu canteiro a fina flor,
É multiplicação, bem mais que soma.

Amor um bem preciso, um dom eclético
Que faz de todo o sonho, realidade.
O quanto que te vi em tom profético
Agora vislumbrado em claridade.

Verdades estampadas no teu rosto,
O fogo da paixão se mostra exposto...


88

Matando em mil oásis o deserto
Que outrora dominara esta paisagem,
Vertendo uma alegria em peito aberto,
Não creio ser amor simples miragem.

Prossegue o pensamento em vã viagem,
Trazendo o que é distante para perto,
Enquanto em poesia, amor alerto,
Alento encontro em lúdica voragem.

Versando sobre sonhos, tão somente,
Demora o coração nesta semente
Que tento ser início de mudança.

Beijar a tua boca ter teu colo,
Cevando em alegrias nosso solo,
Adubo mais fecundo, uma esperança...
Marcos Loures


89


Matando a minha sede nesta fonte
Numa expressão suprema de prazer
Que toma conta inteiro, do meu ser
E torna mais suave este horizonte.

Enquanto o sol dos sonhos já desponte
Na plena claridade posso ver
Emanam-se delírios, quero crer
Que encontro finalmente a firme ponte

Unindo nossos portos sobre o rio
Imenso e turbulento dos anseios.
Tocando a tua pele, boca, seios,

Condeno-me feliz ao desvario
E rasgo o coração neste poema,
No raro constelar, um diadema...

90

Mascaro com mil guizos, fantasia
Escondo-me nas capas da mentira
Olhar no firmamento sempre atira
Fuzis, metralhadoras, mão sombria.

No sonho tão inútil que se cria;
Do coração se expondo cada tira
O mundo futilmente vai e gira
Fazendo bem mais falsa, uma alegria.

Assim como os irmãos, todos burgueses,
Na mesma procissão, nós somos reses
Tomadas pela tétrica ambição.

Vagando pelas noites, bar em bar,
Pensamento tão somente em desfrutar,
Correndo sempre atrás de uma ilusão.
Marcos Loures



91

Máscara amortalhada da ilusão,
Cobrindo os olhos tétricos, satânicos,
Esconde da verdade, medos, pânicos
Sonegando a terrível expressão

Forjando a mera, estúpida emoção.
Aplaca torpes mares, que vulcânicos
Camuflam-se em amores vãos, mecânicos,
Da calmaria vê-se uma explosão...

Fervilhas em desejos, frenesi,
A pérfida volúpia te consome,
Dos vários maremotos que bebi

Eu pude perceber o fogaréu
Que mascarado olhar, negando a fome
Entranha mil demônios no teu Céu...



92

Mas vendo-te de lado, assim calada,
Ninando o paraíso que não vês
Benéficos momentos sem porquês
Apenas não diziam quase nada.

Se odeio o renascer feito alvorada
A culpa é dos caminhos sem cadês
Cadenciando o passo, se degrada
O que jamais darias, pois não crês.

Serena madrugada não me atrai,
A bala se perdida, pra onde vai?
O caso é de polícia? Já nem sei.

Beirando o precipício principio
Enquanto adormecendo tão vazio
Já não cultivarei em tua grei...



93

Mas valem nossa estrada, podes crer
Os tantos pedregulhos que encontramos.
Durante a tempestade navegamos
Buscando o velho cais que posso ver

Nos olhos faiscando de prazer
Arcando com volúpias que entranhamos,
Dos templos que diversos nós criamos
O rito abençoando nosso ser.

Selando nossos rumos com fantástico
Cenário prometido há tantos anos.
Por mais que tanta vez o vento drástico

Fizesse dos meus passos, vendavais.
Jamais reviverei os desenganos
Que um dia foram tristes rituais...




94

Mas tente perceber quanto podemos
Se juntos caminharmos, dia a dia,
O barco, se juntarmos vários remos
Vencendo a correnteza, propicia
Além do que sonhamos ou prevemos
O cais de uma esperança, em alegria.

O beijo tão suave deste vento
Que toca nosso rosto, uma bonança
Que invade sem temor o pensamento,
Fazendo com Amor rara aliança,
A plena calmaria no tormento,
Usando o meu perdão como vingança.

Assim, ao perceber o Teu Amor,
Meu verso se entregando num louvor!
Marcos Loures




95


Mas será que ouvirás a minha voz?
Meu canto agônico, perdido, triste...
Meu coração tão temerário, insiste,
Teimosamente. A vida é mais atroz...

Mas sinto que estarás aqui, amor,
Neste Nosso Natal, o da esperança,
Teus olhos carrego na lembrança,
Como ao perfume, guarda a triste flor...

Esse vento batendo na janela...
Toda noite trazendo o frio intenso.
Amor que se foi, forte e tão imenso...

Com o vento batendo, na dor, penso.
Mas a sombra da lua, me revela
Que não é mais o vento! Será ela?


96


Matéria que se faz em força bruta
Causando tantos males, invejosa,
A sorte se mostrando belicosa
Incide sobre nós, fomenta a luta.

Vibrando, até sorri, quanto executa
Em fúria tão venal, voluptuosa,
Fixando seu veneno em cada escuta,
Agarra meu destino, uma ventosa.

Futuro em suas mãos, logo restringe,
Cravando suas garras na laringe
Não deixa respirar, mostrando os dentes,

Somente uma esperança, mesmo tarde,
Formada pelo encanto da amizade
Craveja de brilhantes envolventes...


97


Matéria humana, pérola mais fina
Que deve ser imersa em bons carinhos
Cultivo em que; quem ama, assim domina
Com paciência cria raros vinhos.

Ao que esta jóia bela se destina
Dependo do frescor de antigos ninhos
Decerto com pureza cristalina
Se tem por direção, ricos caminhos.

Deslumbramento feito em riso e gozo
De toda a soberana placidez,
Jamais deixado ao léu, qual andrajoso

Resíduo de matéria sem cuidados.
Na força da amizade, a lucidez
De passos com firmeza, sempre dados...


98

Matei o que sobrara em poucos versos,
Depois do meio dia, o funeral.
Convido aos mais gulosos que dispersos
Adotam verborréia sensual.

Risíveis os temores tão diversos
Meu canto se mostrando mais banal
Engole este vestígio de universos
Retratando um terrível espectral.

Espetacularmente sangro e rio,
Vestido de quasares fui à festa
E nesta estupidez em que me crio

Tampouco o que sobrou já não me resta
Apago da esperança o seu pavio,
Pro gozo de quem sabe e me detesta.


99

Matei o que restou do sentimento
Que outrora foi a vela que guiara
Nem mesmo esta ilusão ainda ampara,
Enfrento sem defesas, cada vento.

Percebo o velho amor qual excremento
Aonde quis a pérola mais rara,
Verdade tão nefasta ora se aclara
E vejo a podridão deste rebento

Que um dia mal parido, se fez sonho,
Aos olhos do luar me decomponho
Brandura não se fez nunca presente.

Perfídias entre hedônicas loucuras,
Os lábios encetando tais torturas,
Num asqueroso fim, já se pressente



7900

Matei a minha doce mocidade
Vencida pelos tragos, botequins,
A moça delicada que me enfade
Devolvo para os chatos querubins.

Eu quero esta mulher muito sacana
Que goste de um carinho mais audaz,
O rabo da cadela que me abana
Quando empinado, é claro, satisfaz.

Donzelas? Poucas vi com mais de doze,
Porém mantendo assim a sua pose,
Não pode ouvir sequer um palavrão

Que fica então chocada. Pobrezinha,
De noite cacareja esta galinha,
Morrendo de vontade e de tesão...



1

Mataste com sarcasmo um inocente
Ao escarres, torpe, no mendigo
Que ao estender as mãos em desabrigo
Gritara por justiça tão somente.

Não viste, mas cuspiste em toda a gente
Ao adubar o joio, negas trigo,
Desdenhas este Deus que fez-se amigo
Embora em ironia, dizes crente.

Paginas tua vida com sarcasmo,
Depois, inconseqüente a cada espasmo
Verás o olhar daquele que feriste.

Serás que percebeste tal torpeza?
No vômito encontrando a sobremesa,
O dedo da justiça, enfim em riste...
Marcos Loures



2

Matar o meu desejo num desejo
Que possa me matar em tal prazer
Que eu possa na saudade deste beijo
Sem medo, num momento bom morrer.

Vivendo esta loucura que prevejo
Roçando a minha pele, posso ver
Ao aflorar com fúria sempre vejo
O doce que pretendo recolher

Na boca da mulher maravilhosa,
Que possa me trazer um diamante
Enquanto encontro a fonte mais gostosa

Num gêiser divinal, glorificante
A vida se tornando fabulosa,
Bebendo desta mina a cada instante...
Marcos Loures


3

Matar nossas vontades, cio e gozo,
Ardendo de tesão, te quero nua.
Chegando ao paraíso mavioso
Que em sevícias divinas continua.

Descubro este caminho caprichoso,
Transando nesta praça sob a lua.
A puta que em delírio doloroso
Mordendo a tua carne louca e crua.

Esporro em tua boca leite e sal,
Escrava dos desejos, serviçal
A deusa se mostrando tão vadia.

Enquanto me galopas esbofeteio,
Unhando com vontade cada seio,
Regando com furor tal putaria..
Marcos Loures


4


Matar as fantasias e ilusões
É quase que morrer em plena vida.
No amor a porta aberta e distraída
Causando, disso eu sei, revoluções

Tomando assim de assalto os corações
Quem ama teu sua alma, enfim, ungida
No sopro deste encanto, uma saída,
Não resistas, querida às tentações.

Deixe que esse rio siga em paz,
E beba da alegria que amor traz
Sem mesmo perguntar para onde vai.

O dia nascerá, tenha certeza,
Vencer com esperança a correnteza
Sabendo que; levanta-se quem cai...
Marcos Loures



5

Matar a tua sede n’outros braços
Pensando ser os meus. Serve de alento?
Caminhas com alguém em tantos passos
Exposta à calmaria de outro vento.

Viver sem alegria este momento,
São erros que, imagino serem crassos,
O amor jamais suporta o sofrimento.
De todos os teus sonhos, olhos lassos...

Não vejo como possas ser feliz,
Se a boca que te beija nada diz
Senão de uma lembrança que persiste.

Perdoe, não desejo aqui teu mal,
Porém ao desabrigo, a tua nau
Terá um porto amargo, ledo e triste...


6

Matar a nossa sede em pleno gozo,
Sem ter sequer limites e bom senso.
No toque, no carinho mais gostoso.
Em ti querida, amada, eu sempre penso,

No amor que a gente faz, maravilhoso,
A cada novo dia me convenço
De todo este querer voluptuoso
Que dá tanto prazer, amor imenso...

Ardentes os teus beijos mais sedentos,
Teus seios são divinas esculturas,
Passeio com meus lábios, mansos, lentos

O teu corpo moreno, carnes duras,
Na noite que se faz extasiada,
Tua nudez se mostra iluminada.


7


Marujo inebriado em maresia,
Encontra em plena areia, caracóis,
Deitando nesta praia a fantasia,
Dourando-se ao poder de vários sóis.

Somando o quanto quero e nada tinha
Enquanto a tempestade não passava
Ao ver esta emoção, agora minha,
Não tenho mais porteira e sequer trava.

Somente uma semente de esperança,
Ao solo mais profícuo vem chegando.
A vida frutifica na bonança,
Tristezas lá se vão, fugindo em bando

Perfumes do rosal, farta colheita,
Abrindo o coração que se deleita...


8

Martírios que vivi; já não concebo
Nem deixo mais a dor me conquistar,
Tristezas vão em bando, volto ao mar,
No fogo do prazer que ora recebo.

Um novo amanhecer, enfim percebo
Depois de tanto tempo a divagar,
Aflora no meu peito o bem de amar,
Teu néctar mavioso; agora bebo.

Quem fora simplesmente um sonhador,
Ao ver amanhecer a recompor
Estrada que trazia o mesmo não,

Não pode mais deixar de agradecer
Ao ver em belos dias perecer,
Verdugo de meus dias, solidão.
Marcos Loures


9



Marmóreas ilusões dizendo nada
A lua quis argêntea e a perdi.
Nos vastos desdenhares; chego a ti,
Esgares iluminam madrugada.

Sereia num inverno congelada,
Não posso suportar mais teu piti,
Habilidosamente me escondi,
Debaixo desta saia; assim rendada.

Rodando pelas ânsias da querência,
O amor não pode ser qual penitência
Pagada com moedas sem valor.

Um cheiro no cangote faz estragos.
Porém sei dos pecados todos pagos
E fujo desta insânia dita amor...



10

Mariposas adentram na janela
Aberta do meu peito em noite ardente.
Semblante refletido, lua dela,
Na ardência deste encanto mais fremente.

Volvendo esta emoção vou num repente
Alçando o quanto tive em mão singela,
A boca que me lambe crava o dente
E dá tanto prazer na mordidela.

Não venço meus temores, mas te quero,
Primavero meus sonhos em delírios.
Teus olhos nos meus olhos, meus colírios

Na brisa do teu riso, luz que espero
Na florada divina, num estalo,
Cavalgas teus prazeres, sou cavalo...
Marcos Loures



11

Mariposas adentram na janela
Aberta do meu peito em noite ardente.
Semblante refletido, lua dela,
Na ardência deste encanto mais fremente.

Volvendo esta emoção vou num repente
Alçando o quanto tive em mão singela,
A boca que me lambe crava o dente
E dá tanto prazer na mordidela.

Não venço meus temores, mas te quero,
Primavero meus sonhos em delírios.
Teus olhos nos meus olhos, meus colírios

Na brisa do teu riso, luz que espero
Na florada divina, num estalo,
Cavalgas teus prazeres, sou cavalo...
Marcos Loures


12

Marinheiro, envelheço sem meu mar...
Os oceanos tornam-se mentiras
Não sei porque, resolvo te contar
Histórias tão antigas viram tiras

Soltas no jornal... Tento navegar
Mas as ondas temíveis viram piras
Sedentas estão prontas pra queimar...
Marinheiro que teme o mar... Atiras

Um olhar tão irônico que marca.
A verdade é que trago tantas mágoas,
A vida me deixou perdi a barca...

Mistérios deste mar, já quis amar
As dores me cobriram, tantas águas,
Quem sabe, um dia, aprenda enfim nadar!
Marcos Loures


13

Maria se não fosse quem amava
Talvez eu não amasse mais Maria,
Maré quando depressa a mim chegava
Mostrava em fina areia que amaria

Quem mares sem temores maltratava
Tratava de saber minha agonia.
A faca penetrando em veia cava
Cavando quem amor não cevaria.

Calvário de quem ama, serpenteia
Na sala disfarçada de perfume.
A lua que não veio, maré cheia,

Estende o rubro pano das promessas.
Maria vê se deixa de ciúme
Pecados sei de ti e não confessas...

14


Maria se fez luz e fantasia
Mas teve que seguir em outro intento,
Além do que João assim previa
Na barca da vontade em louco vento.

Maria, na verdade não sabia
Que a chuva se fazendo em novo invento
Nas coxas da morena, ela lambia
Molhando toda a moça num momento.

A transparência feita em organdi
Deixando essa menina quase nua.
Meu braço pra morena; ofereci,

Quem sabe atravessar estreita rua.
Problema é que João voltou correndo
Assim que percebeu estar chovendo...



15

Maria que é bonita e tem talento,
Entorna poesia quando escreve,
Meu verso num segundo já se atreve,
Bendito seja tal atrevimento!

Fazendo da alegria um sentimento,
Derrete com certeza o gelo e a neve,
Perdoe o trovador que em verso breve
Encontra no teu canto, tanto alento.

Por vezes, caminheiro sem destino,
O coração teimoso de um menino
Num velho batucando em desatino

Sabe reconhecer um cristalino
Olhar e neste intento eu me alucino
E à luz de teus poemas, me ilumino...



16

Maria não merece ser feliz,
Depois do que ela fez, nem mesmo reza.
O mundo se disfarça nessa atriz,
Amor que na verdade não se preza.

As valas que enfurnaste no céu cris,
O bando que comandas morde, presa...
Nas marcas que fizeste, cicatriz
De giz, literalmente vil se enfeza...

Maria tem pudores de falsária,
Vendeta de primores indecentes,
Vivendo de sugar a plebe otária

Que lambe e sutilmente crava os dentes.
Transmite se puder, gripe aviária,
A desvairada emana dos dementes...
Marcos Loures



17

Maria foi à caça e nada vendo
Voltou de mãos vazias. Pobre fera.
Quem sabe de tocaia noutra espera.
O jeito é bem mansinho ir percebendo

O quanto na verdade não desvendo
Diz vendas feita em sal que não tempera.
Deitando o meu prazer numa tapera
Ainda continuo um sonho tendo.

Tentáculos do amor não mais os quero,
Se o gozo da alegria destempero
No fundo o que Maria ainda quer

É quem não faça dela algum objeto,
O beijo que encontrou de um ser abjeto
Jamais a satisfez como mulher...



18

Mares e marés, matas, cachoeira
O canto da promessa já se cala.
A dor que me tortura a vida inteira
Batendo nesta porta, entra na sala...

E traz a tempestade verdadeira
Que pesa em minha vida, quero amá-la;
Tomando em meu destino, a dianteira.
Calando-me não deixa sequer fala.

Quem sabe encontrarei no fim da vida
Depois de tanto amor em despedida
Depois da solidão terrível fera,

No cimo das montanhas, meu cansaço,
Encontro nestes rastros o teu traço
Trazendo para mim a primavera...


18



Marcos Loures: O Poeta.

Para um poeta desse porte o quê dizer?
Um Marcos Loures não se encontra todo dia,
conhece bem essas quebradas do viver,
seu verso é forte, é suave, é poesia.

Quando ele some dá um quê de nostalgia
e a galera quer então logo dizer:
menino, moço, um doutor, que na grafia,
numa tacada, um soneto faz nascer,

ventos de Minas já lhe sopram boa sorte,
Caburaí até Chuí, repete a história,
que volte logo, sua falta é imensa,

sua presença é nota dez, é passaporte
pra conhecer um mundo infindo; na memória,
está presente em cada verso mais querença.

19

Marchando em altivez até o fim
Da longa e dura estrada desta vida,
Percebo que encontrei no meu jardim
A flor mais desejada e mais querida.

Quem tem uma esperança segue assim,
Pois vê, no labirinto uma saída
Já tendo a solução, concebo enfim
A paz feita amizade repartida.

Meus olhos no infinito de teus olhos
Encontram seus espelhos, brilho farto.
Abrindo das janelas os ferrolhos

Abrolhos vou matando em meu caminho,
Decerto com firmeza agora eu parto,
Sabendo que não vou jamais sozinho.


20

Marcante redenção do amor em prece
Expressa o sentimento mais perfeito.
No quanto nos teus braços me deleito
O amor em alegria, luzes tece.

Ao canto abençoado se obedece
Numa emoção que entranha no meu peito,
O verso em que se mostra satisfeito
Em cores tão sublimes transparece.

A barca dos meus sonhos segue em frente
Sabendo que no amor, bom timoneiro,
Encantos com certeza, ela terá;

No olhar abençoado, a luz se sente
Inundando arrebol rega o canteiro
Trazendo a fantasia para cá...
Marcos Loures


21

Marcado pela cruz, o sentimento
Deixado no passado e por sinal
Vendido num infame vendaval
Está decerto em nosso pensamento.

Perdão que se tornou um claro alento
Jogado nos escombros do bornal.
Estornos vão moldando um ritual,
Expondo em coação, meu sofrimento.

Talvez se desnudar-me dos desejos,
Vontades sem limites tragam pejos,
E o novo amanhecer, quando vier

Trará já no seu bojo um raro brilho,
Quem sabe se seguindo o manso trilho
Eu tenha esta alegria que se quer.
Marcos Loures


22

Marcado em solidão e sofrimento
Eu tento um novo verso que refaça
O tempo de sonhar que em pleno vento
Aos poucos, firmemente se esfumaça.

Na praça e nos coretos do passado
Meninas e cinemas, lua, encantos.
Agora tão somente o mesmo enfado
Espalha a solidão aos quatro cantos.

Mesclando minhas dores com as tuas
Odores misturados, bom suor.
As carnes nesta cama, fomes nuas
Prometem movimento bem melhor

Nas ancas e quadris, doces balanços
A lua se refaz em raios mansos...
Marcos Loures


23

Marcada num sorriso em nossas faces
A lua prometida, clara e cheia.
Apenas o vazio me incendeia
Mudando num momento, os desenlaces.

Por mais que em outras luas sei que passes
Aguardo a chama plena em que se ateia
O fogo que tomando cada veia
Permita melodias em que traces

Um rumo bem distinto. Quem me dera...
A lua que se quer frustrando espera
Não vindo, deixa espaços, dias vãos...

O tolo coração ainda tenta
Em meio a tempestade tão violenta
Sentir o teu perfume em minhas mãos
Marcos Loures


24

Marcada assim a ferro, sangue e fogo,
Paixão que nos tomou, em força audaz.
Tomando o pensamento trama um rogo
Que faça todo o canto vivo em paz.

Nenhum poder jamais nos calará
Nem mesmo uma incerteza, nem temores.
No chão de nosso amor, só brotará
Perfumes e carinhos, santas flores...

Nossos pendores livres sem grilhões,
Nossos sonhares sempre em liberdade.
Vibrando em nosso peito as emoções,
Além de todo mar, sinceridade.

Tu és amor intenso e soberano,
Amor que não permite mais engano...


7925

Maravilhosamente aqui comigo,
Despida de qualquer ingenuidade
Menina, nosso amor é um perigo,
Que falem desse caso na cidade!
No fundo tanto quero que nem ligo,
O que quero é viver felicidade!

Se vemos mil cometas que se danem
Aqueles que não sabem das estrelas.
Que as dores que passamos não espanem
As luas que queremos; são tão belas.
Que aqueles que não amam já nos banem,
Não sabem de alegrias, nem vivê-las.

Quando rolamos mares, cordilheiras,
Atropelamos ervas tão rasteiras...


26

Mar! Dono das quimeras que me matam,
Nos vendavais; inquieto me tortura...
Os medos dessas ondas já maltratam,
A noite que marinha é tão obscura

Traz-me fosforescentes algas vivas...
Águas vivas queimando... Tu gravitas
Se eleva por sobre águas mais altivas...
As noites que vivemos não levitas...

Leviatã fantástico... Sereia...
Quem dera desejasses meus desejos...
Incêndios netunares, mar ateia

Forjando maremotos e procelas...
No mar que navegaram nossos beijos,
Abismos terebrantes, belas celas...


27

Mãos dadas; caminhamos pela vida,
Unidos em tristezas, alegrias.
Tua presença é sempre tão querida
Trazendo uma certeza em duros dias.
Por mais que esteja longe uma saída,
Terás toda a presteza que dizias...

Não deixas meu caminho sem ter rumo,
Não cobras o que dás de coração.
Ajudas com teus braços a dar prumo
E confiança em cada direção
Que for a mais sensata onde me aprumo
Achando sempre assim, a solução.

Por mais que a dor se faça de verdade,
Tu sempre estás comigo em amizade....


28

Mãos dadas caminhamos pela vida
Formando uma corrente interminável,
Na sensação divina, pois querida
De um mundo bem melhor e mais amável.

Fraternidade sempre em voz unida,
Trazendo bem perto o inalcançável,
Nesta alegria, nossa, dividida,
Num sorriso em glória, demonstrável.

Semearemos juntos os amores
Que fazem do universo o nosso lar,
Não digo que sejamos sonhadores

Nem falo que esta festa é impossível.
Um sonho repetido a se sonhar
Tornando uma ilusão mais acessível...



29

Manter-se jovem sempre que puder,
Sorrindo de si mesmo, gargalhar,
Olhando de soslaio pra mulher
Que passa na calçada a rebolar.

Saber de uma armadilha se vier,
Mas nem por isso, a vida enfim, poupar.
Fazendo sem temor o que quiser,
E nunca se negar ao louco amar.

Assim a primavera se prolonga
E a estrada com certeza é bem mais longa
Pra quem nunca temeu a tempestade.

Bebendo com vontade o furacão,
Sangrando a vida inteira na paixão,
Alçando a tão querida liberdade!


30

Mantendo uma esperança até o fim,
O velho caminheiro não desiste,
Até quando se mostra amargo e triste,
Espera florescer o seu jardim.

Torpor de uma aguardente, rum e gim,
O coração deveras luta e insiste,
Sabendo que outro dia ainda existe
Lutando contra os medos. Sou assim...

E mesmo que pareça temerário,
Amar é como um mal tão necessário
Que nada poderá calar a voz

Do coração envolto em braços mansos.
Recantos mais suaves, meus remansos,
Fazendo da alegria, porto e foz...
Marcos Loures



31

Mantendo o sentimento sempre vivo
Loucuras muitas vezes necessárias
Trazendo o pensamento sempre altivo
Vencendo estas tristezas, adversárias...

Às turras com diversas emoções,
Eu tento desvendar tantos segredos,
O quanto se permite que as lições
Ajudem a mudar velhos enredos.

Amor quando se faz numa partilha
É força insuperável, tenho dito.
Não quero mais cair nesta armadilha
De um rosto inexpressivo, mas bonito.

Eu busco a mais perfeita companheira,
Estando do meu lado, a vida inteira...
Marcos Loures



32

Mantendo no meu peito, a porta aberta
Adentra-se este sonho que me trazes
De todo o que pressinto, estando alerta
A vida se renova em várias fases.

Dormir eu te garanto não mais quero
Se agora o meu sorriso é mais intenso.
Além de qualquer sonho eu me tempero
No amor que nos teus braços, tenho imenso.

Encantos espalhados pela casa,
Estrelas debruçadas na janela.
Calor que veramente assim me abrasa
Amor em plenitude se revela

E chama para o gozo, tais magias
Realizando as nossas fantasias...


33

Mantendo estes teus olhos tão abertos
Envolves minha vida com teus braços.
Ocupas mansamente os meus espaços
E tramas venalmente tais desertos.

Os dias reticentes vão incertos,
Marcados por teus passos duros traços.
Penetram minha carne, frios aços,
Mortalhas em que os sonhos são cobertos.

Tu queres minha vida solitária,
Deixando em purgação meus sentimentos.
Cansado destes ritos, teus lamentos,

Procuro uma esperança solidária
Que trague ao fim do tarde, uma amizade
Indícios da manhã em liberdade...


34

Mas sei que tudo passa. E no amanhã
O sol renascerá... Tola ilusão...
A rosa se perdendo do pendão
Deixando a floração amarga e vã.

Aflora-se esta emoção que sei malsã,
Levado pelas ondas; perco o chão
E morro a cada dia na amplidão
Do céu agrisalhado na manhã.

Epidêmica tristeza agora grassa,
Do quanto imaginara luz e graça
A fonte vai secando pouco a pouco.

Morrer nos braços teus. Ah quem dera!
Porém a solidão, terrível fera,
Encharca o meu cantar, insano, louco...


35

Mas saiba que te quero eternamente,
Embora muitas vezes não pareça
Tua imagem não sai de minha mente
Eu temo que ao final eu me enlouqueça.

Tendo no coração lugar tenente
O amor que tantas vezes prega peça
Com teia cada vez mais envolvente,
Além do imaginário se confessa.

Amar e ser contigo a vida inteira
Não tendo mais desculpas sigo em ti,
O sonho mais sublime que vivi

Razão de minha vida, mensageira
Dos deuses, entidades, santos, reis.
Fazendo dos delírios suas leis...
Marcos Loures



36

Mas quando em calmaria, amor eu canto
E nele vejo sempre a luz bendita
Minha alma em sedução, zênite fita
Bebendo cada gole deste encanto.

Nos braços deste sonho me agiganto
Meu mar em emoção logo se agita
Sabendo que encontrei rara pepita
Afasto dos meus dias medo e pranto.

Porém se o bem do amor me emociona,
Enquanto chega, atroz, logo abandona,
A seca deste rio; eu volto a ver.

Somente na amizade eu encontrei
A mansidão real em bela grei
Um rio em grato mar a se verter.
Marcos Loures


37

Mas por que me beijaste, te pergunto,
De tudo que sofri, bem sabes quanto,
O beijo que foi dado, suave encanto
Entretanto machuca e não me cura.
Pois sei da maciez duma ternura
Que nunca demonstraste, minha amiga.
A noite em sofrimento, não prossiga,
Não sou quem tu desejas, estou certo,
Meu coração tristonho, meu deserto,
Merece por acaso um sofrimento?
Teu beijo ressuscita o meu tormento.
Tormento da saudade de quem fui,
A manta da esperança já se pui
Desnudando a minha alma sofredora,
Que mesmo que não saibas já te adora!


38

Mas não repare não, a lágrima é de araque
E beijo a tua mão apenas por favor
Na taça de cristal eu bebo até conhaque
E a moça que rebola adoça o meu amor.

No jogo de mentir tu me fizeste um craque
Quero indenização. Não tenho onde mais pôr
A cara depois disso. Aonde ponho o fraque
Que inútil eu comprei? E o terno furta-cor?

Não tomo em teu louvor sequer mais um pileque,
Agora sem defesa eu jogo de beque
E faço do meu verso o que bem eu quiser.

Na túnica rasgada um sinal destes tempos,
Cansado de bancar estes teus passatempos
Vá caçar o que fazer; me deixe em paz, mulher!
Marcos Loures


39


Mas eu preciso, enfim, continuar
Seguindo minha estrada, o meu caminho
Na busca em cada canto a vasculhar
Até poder topar com festa e vinho

Nas mãos de uma mulher, que com carinho
Entrega o coração sem me cobrar
Arranco da roseira tanto espinho,
Adoço, com seu mel o imenso mar.

Um violeiro que é feito trovador
Já sabe dar valor à luz da lua,
Que iluminando os passos vem propor

A todos, indistinta claridade;
Atrás dessa janela bela e lua
Na caça desta tal felicidade...


40

Mas és muito volúvel – que revolta!
O tempo que perdi já não tem conta
Minha alma acorrentada agora solta
Procura uma emoção ainda tonta.

Quem teve uma ilusão por falsa escolta
Percebe quando a vida, vil, apronta,
O tempo que passou, eu sei, não volta
Nem mesmo uma tristeza se desconta

Das dívidas que tens para comigo,
Mulher que me mostrou que o desengano
Condena quem amou ao desabrigo

Pensando que encontrei felicidade
Eu vejo que no fim, do sonho e plano,
De tudo não restou nem amizade


41

Mas deixe que eu te embale, meu amor,
Nesta rede de braços, coração.
Devagarinho, manso, como for;
Deixando, bem distante, a solidão...

Mas deixe que eu te chame assim, querida.
Que a vida sem ternura, vale nada...
É lua que se vai, está perdida;
Vagando sem ter brilho, des’perada...

Mas deixe que eu te encontre em cada canto,
Em cada fantasia, cada sonho...
A vida necessita deste encanto
Um mundo mais feliz, eu te proponho...

Mas venha pr’os meus braços, vem comigo,
Preciso estar contigo, meu abrigo...


42

Manhã que vem chegando, bela aurora,
com raios de esplendor, o sol nos toma,
tua beleza imensa se decora
neste matizes raros, tudo soma.

Orvalho no jardim, cristal que chora
amor que dilacera e não se assoma,
quem dera meu amor, contigo agora
estarmos bem mais juntos, nova soma.

Tu és meu aconchego, estou em ti,
em cada novo verso que te faço.
Amor igual ao nosso, eu não vivi,

mostrando da manhã, a claridade,
em rumo a mais um dia, passo a passo,
envolto em teus braços, liberdade...


43

Manhã que nunca veio, morre tarde.
A cor destes teus olhos, frágil lume.
Amor tão terebrante nega alarde,
O sol embora fraco, traz perfume.

A cor desta esperança já se encarde.
O verde desbotado, teu ciúme.
Transforma-se vazia, é tão covarde;
Meu medo, é cordilheira cobre o cume...

O raio das manhãs, me nega aurora.
Nos meus jardins sofridos, morre a tília
A morte, tantas vezes, me namora;

Mas quando a noite cai, profundo talho,
Me lembro da manhã plena de orvalho;
Me lembro d’ outros olhos, os de Hercília!


44

Manhã que já decifra tal mistério,
Amores se perdendo e se encontrando.
A noite que passamos, sem critério,
Delícias e tristezas penetrando.

Não quero mais viver em desespero,
Tragado pela força da saudade.
Amor, sem teu amor, eu nunca quero,
Amar-te é traduzir felicidade...

Teus pés que tanto embasam minha vida,
Não podem se ferir nem tropeçar.
Se tantas vezes fomos despedida,
Preciso, pra viver, recomeçar...

Perdoe por meus erros, te amo tanto...
Meu verso sem teus olhos, perde encanto...


45


Manhã fria pedindo um cobertor,
Quietinho; te procuro. tão gostoso...
Debaixo da coberta o teu calor
Deixando o frio dia mais dengoso...

Carinhos se procuram; bocas, braços...
Uma vontade doida de ficar.
As pernas desenhando tantos traços,
A vida transcorrendo devagar.

O cheiro de café penetra o quarto,
É hora, meu amor, eu tenho que ir...
De amores e desejos nunca farto,
Mas nada mais espera. Vou sair.

Lambuzo minha boca, pão e mel...
E sonho com carinhos... Vou ao céu...


46

Manhã extasiante se pressente
Nos olhos da mulher maravilhosa
Que faz a minha vida ser contente
Estrela que me guia, fabulosa.

Plantando o coração em fértil solo,
Arando com cuidado e com firmeza
Amor quando em verdade não tem dolo
Enfrenta calmamente a correnteza;

De todos os meus sonhos, sei que trago
Um canto mais suave e mais bonito
Na vida que se dá calor e afago
Um mundo em paz total, eu acredito

Somando nossas forças, não mais temas
Rompemos desde já tantas algemas.
Marcos Loures


47

Manhã de primavera no meu peito,
Canteiros em mil flores expressando
O vento da alegria calmo e brando,
Deixando o canto leve e satisfeito.

O amor quando disperso, não tem jeito,
Aos poucos meu caminho desabando,
As fantasias fogem noutro bando,
Apenas as tristezas tomam leito.

Mas quando amor se faz primaveril,
As feras mais distantes do covil,
As sendas florescendo em harmonia.

Assim, ao te encontrar, eu percebi,
Que tudo o que eu sonhara estava ali,
A tradução perfeita da alegria!
Marcos Loures


48

Mandingas desfazendo um vil quebranto,
Sonatas invadindo a madrugada,
Coleto das estrelas cada encanto
Desfio nosso amor numa alvorada.
Decoro nossa vida em pleno canto
No tanto que essa luz é desejada.

Do nada vou cerzindo a plenitude,
Cevando o meu destino em forte laço.
A cada amanhecer, nova atitude,
Permite novamente este regaço
Do sol que traduzido por saúde
Invade nosso mundo passo a passo.

Cadenciando o sonho eu encontrei
O amor que tantas vezes procurei.
Marcos Loures


49

Manda as crianças pra cama,
Depois não vem reclamar.
Quando a gente acende a chama,
A censura vai pegar!

Pois tem gente que reclama
Quando a gente quer amar.
Misturando nossa trama,
Vai querer nos censurar.

Meu amor nunca foi fraco,
Tanto engorda quanto cura.
Mas cuidado com pitaco

De quem não sabe ternura.
Vive olhando no buraco
Da porta, da fechadura...


7950

Manás que desfrutamos com ternura,
Delícias percebidas, guloseimas,
Nas flamas que nos tocam; tu te queimas,
Bendita com certeza, a queimadura...

Amar é se entregar a tais delírios,
Sem ter qualquer defesa, mergulhar...
Naufrágio que embeleza qualquer mar,
Trazer nos olhos fogos e colírios.

Nos círios e nas rezas, procissões,
Brotar tal fantasia aos borbotões,
Mundanas esperanças, sacros ritos.

Manjar que, inebriante, nos fascina,
Galope de corcel em solta crina,
Carícias que amaciam mil granitos...
Marcos Loures


51

Mamãe não te ensinou a ter respeito?
Implicante, gosmento e xexelento
Adora provocar algum tormento,
Apanha e sai chorando deste jeito.

Precisa ter coragem e muito peito
Pra poder encarar sem ter alento
O enorme furacão que já foi vento,
E nunca está deveras satisfeito.

Pra ser leão além de ter a juba
Não pode fazer birra por jujuba,
Por isso, meu amigo, caia fora

Não seja tão birrento, por favor.
Bisbilhotando assim quem faz amor
Castigo lá do Céu não se demora...
Marcos Loures


52

Maltrata me deixando satisfeito
O sentimento que me marca em gozo,
Do dia em que pensei maravilhoso
A claridade sonegando o feito.

Amar talvez não seja meu direito
Quero, porém, o amanhecer fogoso
Nos braços da mulher, sonho gostoso
Tramando sempre um belo cais, perfeito.

No quanto fantasio e nada tenho,
Não vejo mais a tempestade insana
Mesmo perdendo no final o jogo,

Vivas estrelas; neste amor, contenho
Vivificado em luz tão soberana
Não temo mais o frio nem o fogo
Marcos Loures


53

Maloca que se toca vira casa
Se acaso ano que vem tu não vieres
Deixando para trás cama e talheres
Algures outro tanto não abrasa.

Se a fase é muito boa eu te garanto
Que o gol sai bem mais fácil e não demora,
Se o tempo em temporal noite decora
Qualquer coisa servindo como manto

Oráculo, no horóscopo, nas cartas,
As partes se contentam com metade
Por mais que solitário, o lobo brade

A guerra entre dois sonhos nunca apartas
Pois partes se completam formando uma,
Não dê moleza à moça. Ela acostuma...


54

Malícia nos teus olhos de menina,
Melancolia trazes, risos tristes...
Mistérios: tua lua cristalina...
Martírios dos amores que resistes...

Misantropia e luta, tua sina...
Molecagem, brinquedos, nada omites,
Metódica, trazendo luz divina...
Mediadora, os conflitos, dedos ristes,

Maciez travas beijos e mordidas...
Me manejas do modo que quiser,
Mansidão ultrapassa nossas vidas,

Meiguice rebentando quando quer,
Mazelas que consolas, reunidas,
Me mostram teu perfil, M, mulher...
Marcos Loures


55

Malhas entrelaçadas formam teias...
Misturas amarelo com marrom...
O fogo te devora, plenas veias...
Teus passos mais silentes, ouves som?

Os olhos faiscantes, chama ateias,
Brilhando nas escuras, qual neon.
Em pânico, as florestas, incendeias.
Beleza que apavora tem seu tom...

A tantos que te temem és quimera,
Embora não conheçam tuas garras.
Nas noites, quando caças, as amarras

Armadilhas expondo a bruta fera...
Tantos medos ocultas nas bocarras,
Encantos, alucinas, bel pantera!
Marcos Loures


56

Malditas as palavras que disseste
Tornando assim indócil coração.
Infames sensações, canalha e peste,
Resquício de mortalha em podridão.

Sorriso tão mordaz que assim me deste
Em gosto e paladar, humilhação...
Esta carcaça imunda, enfim reveste
Um ser que testa a força do perdão.

Vampira de esperanças, ser infecto,
Na face carcomida um triste aspecto,
Esdrúxula figura, leda trama,

Ferindo com frieza, tolamente
Aquele que em teus braços foi demente,
E que desesperado, ainda te ama...
Marcos Loures


57

Mal viro as minhas costas e me trais,
Que faço se não posso estar contigo
Durante tanto tempo. Mas te digo
Que o corpo que se entrega assim demais

Depois de certo tempo por castigo,
Será para as bactérias, vírus, cais.
Se queres tu saber, eu nem te ligo,
Sãos teus estes problemas sexuais.

Só falo e com certeza, não repito,
Que mais do que passar em ti um pito,
Em outras vou até me embriagar,

Se a solidão temível já me espanca,
Não quero nem saber se a mula é manca,
O que eu quero, querida, é rosetar...
Marcos Loures


58

Mal vem o sol nascendo em bela aurora
As luzes da cidade inda brilhando,
Meu quarto em tuas cores se decora
E, aos poucos meu desejo renovando
No amor que a gente faz sem ter nem hora
No corpo em que persisto navegando;

Neste caminho lindo, um andarilho
Procura a imensidão sem ter atraso,
Rompendo uma alvorada em raro trilho,
Sem hora sem destino, sina ou prazo.
Envolto em maravilha, então me pilho
Deixando este futuro ao mero acaso.

Só sei que trafegando em tais magias,
Encharco esta manhã de fantasias...


59

Mal sabes que vieste em redenção A quem por tanto tempo imaginara Que a vida tão distante da emoção Seria com certeza bem amara.
Mal sabes que vieste em redenção
A quem por tanto tempo imaginara
Que a vida tão distante da emoção
Seria com certeza bem amara.

Meu peito padecia da ilusão
De ter somente a dor de fria escara
Porém ao perceber aluvião
Que veio com vontade e que antepara

Jogaste com certeza um pólen raro
Que fez da poesia um instrumento
No qual por tantas vezes eu me amparo

Ao aplacar decerto o sofrimento,
Meu peito desta forma eu escancaro
Pois sei que encontrarei em ti ungüento...
Marcos Loures


60

Mal sabes que o descuido traz encanto
Deitada mal coberta num lençol;
Deixando-me antever, por certo, tanto
Quanto brilha na tarde um forte sol.

Eu quero te sentir sem entretanto
Tornada em minha vida, um bom farol,
Bem sei que não terei nenhum espanto
Em te fazer meu rumo e girassol.

Hiperestesiado sinto o vento
Batendo no meu rosto, na promessa
De renovar o manso sentimento

Que dorme nesta cama junto a ti.
Sem medos minha sorte te confessa
Que és tudo o que sonhei e que perdi...


61

Mal sabes que este sonho me domina
Tocando fortemente o meu querer.
Encontro em nosso amor infinda mina
Que sempre me dá forças pra viver

Por mais que a noite tarde, me alucina
Esta esperança imensa de te ver
Poder beijar a boca da menina
Que sabe me dizer o que é prazer.

Eu quero que este dia seja farto
Como um banquete intenso e soberano.
Jamais desta vontade, amor, me aparto

Pois ela dá razão para sonhar.
Viver o sentimento sem engano
E livre, totalmente, enfim. Te amar..
Marcos Loures


62

Mal sabes quanto eu amo cada vez
Em que percebo estás perto de mim.
Tu me irradias, pena que não vês
O quanto te desejo, tanto assim.

Meu verso te buscando, insensatez,
Aguarda esta resposta, amor sem fim,
Parece que em verdade tu não crês
No quanto és importante, mas enfim

Depois de tanto tempo na procura
De teus lábios sedosos, venho aqui
Clamar por teu amor, feito em ternura.

Sonhando sempre, sempre chego a ti,
E bebo em tua boca, esta loucura
Na qual com toda força eu renasci...
Marcos Loures


63


Mal sabes quanto amor eu te dedico,



Não posso suportar a tua ausência.



À espreita dos teus passos, sempre fico,



Retorne para mim; peço clemência!






A todo instante como na tocaia,



Espero que tu venhas, minha amada.



Do meu mundo, te imploro amor não saia,



A vida sem amor; passa a ser nada!






No meu amor, que sabes ser sincero,



Entrego-me sem medo e sem pudores.



Recebo no teu canto que eu espero



O brilho de teus olhos sedutores,






E digo: meu amor, o que mais quis



É ser nos teus carinhos, tão feliz...


64



Mal sabes quanto amor em tanta fé
Encanta quem deseja ser feliz.
O nosso casamento vai dar pé
Pois nele encontro assim o que eu mais quis.
Deitando junto a ti, bom cafuné
Vontade de ficar e pedir bis.

Amor que se mostrou tão indulgente
Não sabe de ciúmes nem de brigas.
Eu gosto de viver intensamente
E sei que também queres, das antigas
Loucuras que fizemos plenamente
Erguendo com ternura nossas vigas.

Perdoe se eu te louvo qual idólatra,
Trafego em teu prazer, amor podólatra...


65

Mal sabes quantas vezes, delirando;
Chamava por teu nome e te esperava.
Amor de tão sublime, não sei quando
Eu te perdi. Querida, eu te adorava

Em cada novo dia, procurando
Toda alegria imensa que me dava
Amor que me levaste. Vou passando
E a vida me queimando como lava.

Eu quero novamente te sentir,
Minha boca procura pelos teus.
Por isso, nestes versos te pedir:

Não deixe que a saudade me domine.
Esqueça que me deste, um dia, adeus...
Vem logo, antes que a vida, enfim, termine...


66

Mal sabes quando há tempos eu a via
Andando pelas ruas, na calçada,
Aos poucos, devagar eu percebia,
A força que tu tens, irradiada.

Palavra que depois sentia cada
Movimento sublime da alegria
Que trazes em teus olhos, luz dourada
Que há muito- não soubeste- já me guia...

Os laços de amizade cultivados
Em ramos bem mais fortes do arvoredo
Os passos sem segredos, foram dados

Na busca da real felicidade.
E faço, com certeza o meu enredo,
Baseado nos suportes da amizade...

67

Mal sabes do poder que tens, querida.
Fazendo da palavra o teu buril.
Imersa dentro em ti, sublime ermida,
Gerando um sentimento mais sutil.

Poética expressão em cor sortida
Caleidoscópio em versos permitiu
Erguer o teu altar enquanto acida
Adoça com teu mel acre e gentil.

Lidar com os fantasmas de ti mesma
Ao dicotomizar, de cada sesma
A multifacetária sensação

Numa esquizofrenia salutar,
Sabendo ao dividir, multiplicar
Domínio em maestria da emoção...
Marcos Loures


68

Mal pude perceber tua chegada.
Vieste devagar e mansamente
Lutar contra a corrente dando em nada
Pensara num chuvisco, veio enchente...

Querência quando invade a madrugada
Domina o sentimento, toma a mente.
Sangria, de repente, desatada,
Pensei em calmaria; tolamente...

Numa avalanche; toma o tempo inteiro,
Enchendo com os cânceres, cinzeiro,
Esfumaçando o quarto do infeliz.

Porém a consciência enfim me diz:
Vadre Retro; romântica ilusão,
Irônico troféu: escravidão!



69

Mal pude perceber que, enfim, brotava
A flor do jasmineiro em meu jardim.
Se fosse jardineiro reparava
Porém, quase não vi esse jasmim.

Jazia em mim a dor de ter perdido
A flor que se fizera companheira.
Durante, antes, depois de ter sabido,
Que nada se perdura a vida inteira.

Em mim o cheiro triste destes lírios
Em cravos e perpétua solidão.
Mortalhas macilentas e martírios;
Delírios invadindo, sempre o não.

Ao ver-te, bela e mansa, junto a mim,
Relembro o jardineiro e o jasmim...


70

Mal pude perceber quando partiste
Deixando a minha casa de manhã
Estava mais cansado do que triste
Sabia que esperança fora vã;

Vivera intenso amor que inda persiste
Embora um guerrilheiro talibã,
Porém quando da luta se desiste
Esquece-se dos gozos da maçã.

E assim que o dia veio trouxe o sol,
Tomando em claridade este arrebol
Forrando o chão em luzes faiscantes.

Qual fora um helianto, uma falena,
Retina registrando toda a cena,
Pensei ser mais feliz. Bem mais do que antes...


71

Mal pude disfarçar minha surpresa
Ao perceber aqui, tua presença,
Os dados já jogados sobre a mesa,
A noite que deixaste, foi imensa.

Depois que tu partiste; restou nada,
Somente este vazio interminável.
Numa longa e espinhosa caminhada,
O muro que ora enfrento, insuperável.

E agora tu retornas. Ironia...
A vida nos prepara cada cena!
Aonde eu esperava uma alegria,
O riso que sarcástico, envenena.

Medonha garatuja do passado,
O amor que tanto quis; esfacelado...


72



Manias? Eu as tenho e jamais nego,
Um bom botafoguense sabe disso,
Por mais que o tempo seja assim mortiço,
Os olhos de esperança eu já carrego.

Nos barcos da ilusão sempre navego,
A vida é nó comprido e corrediço,
E mesmo sob a chuva eu não me enguiço,
Farejo a solução, embora cego.

Amigo, o coração neste galope,
Tristeza no meu peito, sem IBOPE,
Meu grito em fantasias nunca morre.

Pois quando a solidão bate na porta,
O sangue vai pulsando em minha aorta
E assim oxigenado, me socorre.
Marcos Loures


73

Manhã vem renascendo em mansa brisa
Depois da tempestade que passamos.
Das árvores do amor, quebrando ramos,
O sol que agora nasce nos avisa

Do quanto é necessária a mão precisa
Na qual, felicidades encontramos,
Ao mesmo tempo em que nos aparamos
A dor vai fugidia, assim desliza

Por entre os descaminhos; solitária,
Palavra benfazeja é necessária
E mostra ser possível novo dia.

Assim iremos juntos, solidários
Decerto não seremos solitários
Já tendo uma esperança como guia.
Marcos Loures


74

Manhã vai se mostrando bem mais clara
Tomando toda a praia em raro sol
O verso mais audaz ora declara
O quanto sou de ti um girassol.

Os ventos assanhando os teus cabelos,
As marcas de teus pés na branca areia.
Delírios tão gostosos de vivê-los
Tanto amor adentrando em minha veia.

Sereia que se fez em fantasia,
Desejo te buscar a cada instante
As ilusões que amor, insano cria
Permitem cada raio deslumbrante.

Não suporto esperar, eis a verdade,
Sequer raiar aurora. Ansiedade


7975

Manhã trazendo todo o seu frescor
Invade nosso quarto e nos provoca;
Deitados, mergulhados no torpor,
O deus enamorado nos convoca.

No cheiro de lavanda que se espalha;
Percebo tua boca desejosa,
Unidos pela mesma cordoalha
Deslumbro essa manhã maravilhosa.

E vamos; navegantes sem destino,
Rompendo mais um dia prazeroso.
Hedônico delírio de um menino,
Passando com amor em pleno gozo;

Sem hora de chegada ou de partida,
Os dias mais felizes desta vida.


76


Manhã tão luminosa que chegou
Trazendo o teu olhar, sol radiante,
Tocando o coração me despertou
Fazendo acelerar a cada instante.

Aos poucos, teu olhar me desnudou,
Jogando-me na cama, amor vibrante
Que toda essa manhã iluminou,
Prometendo-me um dia deslumbrante.

Danço no teu corpo mil desejos
De beijos e carinho sem ter fim.
Trazendo para a vida, nos festejos;

O gosto que esquecera no passado,
De ter esta alegria toda em mim,
No canto que te faço, apaixonado...


77


Manhã se refazendo em mãos vorazes
Na cálida presença da peçonha
Entranha bem profundas as tenazes
E mata em ironia audaz, medonha.

Orgástico amanhã que em risos trazes
Àquele que em delírio já te sonha.
Na farsa que se impõe; diversas fases
Desde que a vontade enfim se imponha.

Egresso do naufrágio, este rochedo
Persiste sem saber de teu segredo
E morre enquanto tudo desconhece.

Soubesse pelo menos meu destino,
Talvez inda restasse, em riso ou prece
um verso que não fosse em desatino...


78

Mal percebes a luz que se irradia
Dos olhos de quem ama veramente.
Revelam com clareza o que se sente,
Entornam simplesmente poesia...

Distante da vaidade, eu bem queria
Beber de tua boca fartamente,
Vivendo um mundo em paz, pleno e contente;
Porém a noite segue tensa e fria.

Pairando sobre mim opacidade
Retrata tão somente o vão que existe,
Num canto amargurado, sigo triste

Nos olhos de quem amo? Falsidade...
Um diamante perde o seu valor,
Canteiro em dura seca, busca a flor...
Marcos Loures


79


Mal posso adormecer, te sinto aqui
Trazida pelo vento do querer.
Ah! Nessa imensidão te concebi
Sinônimo perfeito de prazer...

Meu pensamento; fixo, não pára,
O tempo inteiro quer te ter comigo,
A noite em solidão, nada me aclara,
Procuro em cada estrela o meu abrigo...

E vejo teu retrato neste céu,
Completa e tentadora sedução;
Aberto, sem ter nuvens, branco véu
Pintando o teu olhar, constelação...

Eu quero o teu amor. Cada segundo
Que passa sem te ter cala profundo...


80

Mal posso me lembrar de minha vida
Antes de encontrar-te, meu amor.
Achava que não tinha mais saída,
Faltava no meu mundo este frescor

Que trazes sem cobranças. Sim, querida,
Tu és o meu caminho a recompor
Estrada que julgara já perdida,
Sem ter como seguir. Por onde for

Carrego tanto amor dentro de mim.
Sorrindo o coração, posso dizer
Que tenho o que desejo; pois assim

Que pude conhecer-te, minha amada,
Reaprendi contigo o que é viver,
E a solidão, deixei abandonada...

81

Mal posso suportar a claridade...
Os dias me parecem violentos,
Envoltos em terríveis sofrimentos,
Não dão, ao pensamento, liberdade.

Nas ruas, nas esquinas, na cidade,
Os homens se esquecendo dos tormentos,
Maltratam, se torturam, sem ungüentos.
Destroem, sem saber, felicidade.

Nas horas mais incríveis sem segredos
Não respeitam sequer os nossos medos,
Destroçando, inclusive, as fantasias...

A claridade expondo meus pecados,
Expondo meus segredos, violados...
Não posso suportar os claros dias!
Marcos Loures


82

Macabras sensações se repetindo
Tomando toda noite em pesadelo,
Trazendo uma agonia que em novelo
Aos poucos, os meus sonhos, destruindo.

O chão sob os meus pés já vai se abrindo,
Embalde, tento insano revertê-lo,
A pele está marcada pelo selo
Do sofrimento inútil me invadindo.

Assim caminha a louca humanidade
Na busca pela doce liberdade,
Encontra tão somente o descaminho.

Olhando o meu passado passo a crer
Tão fútil o que trouxera algum prazer,
Caçando o que não tive, vou sozinho
Marcos Loures


83

Macabros e temíveis rituais
Florindo a minha noite em cardo, erica,
No abrolho recolhido já se explica
O gozo destes medos canibais.

No limbo as gargalhadas infernais
Fumaça se esvaindo me intoxica
Sulfúrica ilusão motes replica
Em meio a tempestades abissais.

Estendo em desespero minha mão
Alçando ao mesmo tempo Céu e chão,
Hedônica amargura já vem vindo

Um Eldorado feito em ar satânico,
Porém vou me entregando sem ter pânico
Formidável cenário atroz e lindo...
Marcos Loures


84

Macaco olhando o rabo do vizinho
Mal vê seu próprio rabo fedorento.
Deixando outro macaco em seu cantinho,
Talvez fosse mais simples, sem tormento.

Tratar o semelhante com carinho
É coisa que aprendi e me contento,
Melhor ir caminhando de mansinho
Do que deixar o rabo exposto ao vento.

Tão grande é o rabão deste macaco
Que nada percebeu por tanta sobra;
Ataca e com tacada toma taco.

De tudo o que percebo, rabo pleno,
Cuidado, meu amigo, com veneno,
Esse rabo que tens? Não vês? É cobra...


85

Macacos que me mordam se eu deixar
De agradecer o teu amor sincero,
Por isso eu quero aqui comemorar
No dia mais feliz que sempre espero

Depois de tanto tempo, renovar
O fogo em que me toca e me tempero
Pois sei que o sentimento nunca é mero
É feito em alegria que é sem par.

Um ano, mais um ano, o tempo passa
E nada matará tal emoção.
Destino com destino que se traça

Permite vislumbrar felicidade.
No teu aniversário, coração
Batendo bem mais forte, de verdade.
Marcos Loures


86

Machuca o coração a tua ausência...
Sabendo que te quero, minha amada
A vida não se faz coincidência,
Precisa ser, deveras, conquistada.

Em cada novo beijo, num novo abraço,
Se somam sentimentos mais perfeitos.
Amando quem se fez pleno cansaço,
Desejo reclamando seus direitos...

Repare como o céu tem claridade
Roubada de teus olhos, minha estrela.
Louvando tanto amor em liberdade
A cada no sonho, revivê-la.

Machuca o coração ando curvado,
Coração tanto pesa, apaixonado!


87

Macia; a boca nojenta
Investida de ilusões,
Arrancando em mil porções
A verdade que apascenta.

Mão que morde e violenta,
Esperança aos borbotões,
Nas entranhas, meus rincões
A vida passa tão lenta.

Mas no fundo o que me serve
Sendo servo e vil cativo,
Me mantendo, sobrevivo

Tendo a luz que me conserve
Destes olhos sertanejos
Marejados de desejos....
Marcos Loures



88

Maciez lucidez insensatez
Parcimônia medonha sobriedade
Ócio fastio cio frigidez
Sobra sombra semblante seriedade.

Azo azia azar asas aridez,
Ânsia ganância mansa ansiedade
Tendência temor termo timidez
Ida doída doida dose idade...

Ilha família tília filha brilha
Manso remanso alcanço danço lanço...
Trama metralha metro trismo trilha...

Lesa beleza isola brisa mesa
Canso repenso meço traço avanço...
Íngua míngua aguar, língua portuguesa...


89

Madrugada... Sentindo a fresca brisa
Entrando pela porta escancarada
Tal qual fora um sonho que me avisa,
Que a vida se aproxima perfumada

Pela rosa que nasce no canteiro,
Orvalhada em carinho, inda em botão.
Num sentimento puro e verdadeiro,
O cheiro desta rosa em minha mão...

Retenho o ar, respiro mansamente,
Imensa paz me invade e me transtorna.
Assim me vou me entregando corpo e mente,
Minha alma de ternuras já se entorna...

Estou entregue ao vento encantador,
Sinto que chegaria, enfim, o amor...


90

Mãe, sorrateiramente, maldições
Maldiçoas caminhos me amofinas...
Não vieram de ti, bem sei, senões,
Mas as pernas que me deste, vãs, finas,

Não podem resistir às solidões,
Nem podem libertárias, libertinas,
Não vivem sem celeumas nem perdões.
São vagas, minhas almas lamparinas...

Ignota, imbecil ou ser venal.
Vazio estapafúrdio, quase zero...
Meu mundo que não pude nada quero,

Resumo num recorte de jornal.
Não sirvo nem talvez de calendário...
Quem sabe encontrarás no obituário?
Marcos Loures


91

Magia que me trazes com fartura,
Delitos que cometo, sem saber.
O amor quando se dá com tal brandura
Promete a cada dia mais prazer.

Por mais que a noite ainda esteja escura,
Será maravilhoso amanhecer
Do lado de quem traz em si a cura
E impede que eu retorne a padecer

Dos males da tristeza e solidão,
Perdido num deserto sem oásis.
A vida percorrendo novas fases

Invade com total dedicação
O peito de quem tanto já se deu,
E agora amor sincero, conheceu...
Marcos Loures


92

Magias que se fazem prediletas
Tornando nossas vidas mais benditas,
Em noites maviosas, infinitas,
De luas e de estrelas tão repletas.

Em meio a tantas luzes me completas,
Confirmas toda a bênção das escritas,
Deixando bem distantes as aflitas
Canções que nos feriram, finas setas.

Amiga, em delicado e doce aroma
Demonstra teu sorriso calmo e franco,
Abrindo calmamente tantas portas.

Ao ver-te carinhosa em bela soma,
Abrindo o coração, sangria estanco
E deixo estas tristezas, todas mortas...

93

Mágicas fantasias inconstantes
Povoam meus sentidos e pensares.
Trazendo os gostos tantos dos lugares
Aonde visitei mesmo em instantes.

No quanto que em desejos tu decantes
Os erros e desvios tomam ares
De trágicos caminhos. Nos altares
Dos sonhos; entretanto, fascinantes...

Andando entre temíveis fogaréus,
Os olhos em amores, como réus
Na lua um testemunho passa a ter

Quem fora nesta vida, um trovador,
Andando de mãos dadas com amor,
E em meio a tantas ondas de prazer.
Marcos Loures


94


Magoaram-te? Querida eu não permito
Que alguém possa ferir quem tanto bem
Espalha pela vida, pois se alguém
Tornou teu dia a dia mais aflito

Não deixe o coração restar contrito,
Eleve o pensamento, pois já vem
A mão de um Deus mais justo que também
Esteve sob a cruz, mas infinito

Dizendo de um amor e do perdão
Deixou para nós outros tal lição
Que mostra todo amor em plenitude

Às vezes, perdoar, bela atitude
Permite-nos alçar em liberdade
Sentido bem real de uma amizade...
Marcos Loures


95

Maio primaveril, aqui outono...
mostrando tantas cores, raro céu;
deitado e tão distante no abandono,
quem dera se tivesse um bom corcel,

por certo voaria até chegar
ao Porto dos meus sonhos, terra bela.
A voz que vem chegando de além mar,
riscando num segundo, minha estrela.

Dizendo deste amor que é meu amparo,
nas cores de uma aurora divinal.
Voando em pensamento, nunca paro,
saido deste trópico outonal

chegando de surpresa, sem aviso,
buscando lado a lado, o paraíso...

Marcos Loures


96

Maior amor; no mundo, te garanto,
Jamais existirá que o nosso amor.
Amor que se traduz em tanto encanto,
Encantos e desejos, olor, flor...

Eu quero t’a nudez na minha cama,
Nas tramas que confundem nossas coxas.
Aos poucos acendendo nossa chama,
Depois as tuas pernas, mansas, frouxas...

Amor que se deseja eternamente
Mas mente nessa eterna gratidão,
Se forma coração, desejo e mente,
Se sente no explodir dessa emoção.

Depois no regozijo do depois,
O gozo no cansaço de nós dois...


97

Mais belas as palavras quando ditas
Com toda força vinda da emoção
As frases que me encantas, tão bonitas
De todo sentimento, uma expressão.

De que valem tesouros ou pepitas
Se não houver sequer lapidação.
As sensações tão mágicas descritas;
Maravilhosas, vêm do coração.

Por isso ao emanar tanta ternura
Acalmas meus sentindo, me apascentas.
As dores tão temíveis, violentas,

Momentos de tristeza e de amargura
Consegues transformar com paciência,
Fazendo mais feliz minha existência...
Marcos Loures


98

Mais forte, com certeza, vinha o vento,
Trazendo para tantos o sinal
Da sorte se entranhando num momento
Numa transformação, seu ritual.

Durante a ventania, segue lento,
Da latitude sabe, ao menos, grau
Sem ter a referência visual,
Periga num naufrágio em sofrimento.

Porém o teu sorriso me persegue,
E nele sigo os rastros, timoneiro.
Por mares tão sombrios que navegue

Percebo mesmo às vezes temeroso,
Que ao ter o nosso amor por companheiro,
O dia raiará maravilhoso...
Marcos Loures


99

Mais importante amor
Do que saber do tempo
- Tal escravizador,
Traz sempre contratempo –
Ver o real valor
Sem ser só passatempo

De tudo o que sentimos
E tudo o que fizemos.
Amor que dividimos
Carinho que nós temos,
O quanto repartimos,
E tudo em que nós cremos.

A data nada diz,
Mas sei que sou feliz...


8000

Mais nobre que a riqueza, uma paixão,
Por mais que ela se frustre pela vida.
Não há querida amiga, evolução
Sem ter uma paixão como partida,

É dela que se emana a solução
Para os problemas todos, a saída
É feita de total empolgação
Jamais se dá, decerto por vencida

Enfrenta as tempestades e as procelas,
Não teme nem a queda ou cicatrizes,
Pois os apaixonados são felizes,

São donos dos planetas, das estrelas,
Desconhecendo dores ou louvores,
Movendo cada passo sem temores.


01

Mais sangrante, essa adaga, minha amiga...
Consolo minhas perdas no seu fio,
Disfarço meus temores, tanto frio...
Ternura que esqueci, já tão antiga.

Em meio a tantas mágoas, vou vazio,
Você sabe de tudo mas nem liga,
Amor que já morreu, perdeu a liga,
O tempo que passei, procuro estio...

Mas somente invernosa madrugada
Açoita com seus ventos, a janela....
Não posso, nem serei, não sobrou nada...

A foto na parede não é dela,
A vida se esvaindo, tão cansada...
Amor que fora estrela morre Estela...
Marcos Loures


02


Mais terras que percorra, não terei
Senão brilhos, olhares, e canções.
Em todos os desertos, fui o rei,
Embora nunca houvesse corações!

Procurando esta lua, descasei,
Não me deste sequer os teus verões
As terras sem destino, descansei,
Amores se explodindo em amplidões...

Meu mote falta sorte, sobra morte...
A noite que me trouxe esta ciranda,
Por certo provocando fundo corte,

Não deixa outro caminho em minha sina.
Na boca carmesim desta menina,
Amores se traduzem em Fernanda!


03


Mais um aniversário. O que fazer?
O tempo não dá tréguas, vai ligeiro.
Idade não me importa! Ao bel prazer
Prossigo em meu caminho, verdadeiro.

Seria muito bom poder viver
Sem ter os medos próprios de quem vive.
Saber com toda a glória envelhecer
Não me esquecendo nunca onde eu estive.

Mantendo a mesma força de vontade,
E não deixar faltar nem um sorriso,
Guardando para sempre uma amizade,
E o passo que for dado, o mais preciso.

Mais um aniversário, mas tá bom.
Viver e ser feliz, bendito dom!


8004

Mais um ano se passou
Com carinhos e amizade
Você sempre nos mostrou
O caminho da verdade.

Nesta data agora eu vou
Com total felicidade,
Bendizer onde eu estou
Sob enorme claridade

Dos olhares de quem sei
Da amizade fez a lei,
Tendo amor tão solidário.

Nesta luz que agora vejo,
Minha amiga eu só desejo
Um feliz aniversário!
Marcos Loures


8005

Mais uma noite fria e sem ninguém,
Apenas esse vento na janela
Procuro sempre em vão pelo meu bem,
A vida se entregou ao lado dela...

O resto do que fui caminha a esmo
Sem ter sequer destino, vou vazio...
Quem dera que eu pudesse ser o mesmo
Antes que o coração calasse frio...

Amor, por que partiste, diga enfim,
Meus versos não suportam a distância
A morte vem rondando, chego ao fim,
O sofrimento imenso em tal constância

Permite que eu escute sempre o não,
E morra, a cada dia, em solidão!


8006


Majestade espalhando a cada passo,
Mexendo os teus quadris, doce pantera.
Desejos no teu corpo sempre traço
Gerando a fantasia que se espera.

Na espreita dos teus rastros, vou e caço
Estrelas que derramas, primavera.
Na fonte dos desejos embaraço
Cabelos, coxas, pernas, louca fera...

Espelhas diamantes nos teus olhos,
Muito embora tão frívola bacante
Semeie fantasias entre abrolhos

Promessas de colheitas em fartura.
Prendendo minhas pernas num instante
Galopa eternidades com ternura...


8007

Mal conheço teu nome, e não me importo
Com isso, pois te sinto por inteiro,
Neste oceano quente onde me aporto
Te reconheço apenas pelo cheiro.

Nos dentes afiados onde me corto
As marcas deste bem mais verdadeiro,
Ao tempos mais felizes já reporto
Com gosto tão selvagem de espinheiro.

Borbulho em tua boca meu desejo
Num beijo decorado, essa tortura
Tramando uma loucura onde prevejo

A nossa fantasia em carne exposta,
Já vale o que me entorna e me procura
Num arrepio intenso enquanto encosta...



8008


Mal consigo dormir se não estás
Deitada do meu lado, brasa acesa.
Ardendo em vera chama, amor se faz,
Depois de toda a festa em sobremesa.

Sorvendo assim de ti, sou bem capaz,
De receber o vento que me tesa,
Fazendo tanto amor, querendo mais,
Navego nos teus mares de princesa.

No jogo que incendeia a nossa cama,
Brincando em flamejantes tentações.
Insisto em te querer, fogosa trama,

Nas asas tentadoras das paixões.
Amor em seus matizes, toda a gama,
Explodindo em milhares de emoções...
Marcos Loures


8009


Mal creio que isso tudo deu em nada,
No parque, a diversão ficou de lado,
O beijo que me deste, amarrotado,
A sobra foi jogada na calçada.

Apreço sendo coisa do passado,
No quarto a tua imagem apagada,
O risco de viver quebra alambrado
A teimosia em nós, tão tatuada.

Abaixo então a luz, fumo um cigarro,
Das lembranças sutis, eu me desgarro
E volto a ter um riso, mesmo falso.

O quase ser feliz vira tragédia
Com pão amanhecido, bebo a média
Andando sobre pregos, vou descalço...


8010

Mal nasce o dia; lembro-me de ti.
Do tempo em que vivemos mesmo ninho.
Agora é que percebo o que perdi
Na adega da esperança sem teu vinho
O mundo desabou, descolori
O brilho da manhã, fiquei sozinho...

Uma emoção distinta que se aflora
Mostrando um paladar de nostalgia.
Uma ave que se foi, bela e canora
Deixou este silêncio em agonia.
De tudo o que tivera, sem aurora,
Renasce nebuloso cada dia.

Eu digo o quanto te amo, não me escutas?
Pomar morreu em flor, sem gosto e frutas...

8011


Meu amor desdobrado em fantasias,
Me disse que jamais serei feliz...
Não pressinto o temor das valentias,
A noite emoldurada nada diz.

Não me importa se fiz ou se farias,
Nas cordas da viola, um novo bis...
Mascaradas procuram alegrias,
Amor nega verdades que não fiz...

Da boca abençoada que beijei,
Da mão tão calejada que acalento,
Não sobram nem parcelas do que sei,

Não quero cometer incoerências,
Nem quero um coração batendo lento,
Beleza que encontrei nestas hortênsias ...
Marcos Loures


12

Meu amigo de tantas histórias
Pela vida, nós fomos guerreiros.
Tantas vezes , vitórias e glórias,
Sentimentos reais, verdadeiros.

Outras vezes, perdidos, sem nada;
Nessas curvas difíceis da vida.
A presença demais esperada
Com certeza, da mão tão querida.

Se tivemos as horas ingratas,
Outras tantas, nós fomos felizes.
Amizade nos traz forças natas
Ajudando das mais duras crises;

Neste afeto, por certo, sem par;
Um apoio pr’a luta encarar!


13

Meu álibi, disseste é incabível!
Não tenho mais desculpas a forjar...
Olhaste um coração tão impassível,
As pedras sutilmente, vão rolar!

O resto que sobrou, indefectível,
Não passa de penugem sobre o mar...
Meu álibi, pensei fosse infalível,
Agora que percebo, perco o par...

Ávido dessa vida que vivi,
Não devia vestir tal sutileza...
Por favor, não me julgues de per si...

Mentiras fazem parte deste jogo!
Cobri com mil desculpas, na defesa,
Te peço envergonhado, ouça meu rogo!


14

Meu alento de vida, meu futuro...
Tua voz que me acalma cristaliza.
Amor que me inoculas, belo e puro;
Bate, tortura, sangra, vem e alisa...
.
Um amor delicado e tão brutal
Serpente que acarinha e dá seu bote.
Na cama uma criança sensual
Iluminando tudo, um holofote...

Vibrando nossos fluxos e cenários.
Rodando nas cabeças inebria.
Somos os mesmos rios, estuários.
A noite que queremos; tão vadia.

Se somos sanguinários nos sugamos,
Ao mesmo tempo, loucos, nos amamos..

15

Metamorfoseando o pensamento,
Às vezes sou quem nunca poderia,
A vida em genial engenharia
Provocando a mudança, estanca o vento.

Se imerso no passado eu me arrebento
Esqueço o que em verdade não podia,
Percorro sem domínio cada via,
Sem ter de algum final, pressentimento.

Mutante coração, quer ou não sabe,
Bem antes que meu tempo, enfim se acabe
Desta complexidade; eu me livrar

Arcando com a escória do que fui,
Este ir e vir de amores tanto influi,
Mas teimo em meus escombros ignorar...
Marcos Loures


16

Metades que se encontram em poesia
Somadas formam mais do que milhão,
A noite quando toca o manso dia,
Em luzes se transforma, um turbilhão...

Metades encantadas pois completas
São forças gigantescas e medonhas,
Assim como se abraçam dois poetas,
Nos sonhos que eu já sonho e que tu sonhas...

Parcerias são formas de prazer
Amores repartidos mas inteiros,
Ajudam a quem ama perceber,
Que a vida se reparte em companheiros...

Parceiros destes cantos sem quimera,
Que fazem renascer a primavera!



17

Metade quer seguir, a outra cessa,
E enquanto te imagino pareada,
Não vejo mais o rumo desta estada
O amor jamais passou de uma promessa...

E a fantasia estúpida confessa
O quanto se traduz por simples nada.
A lua se derrama na calçada
E a história em serenata recomeça.

Já tive tanta pressa. Hoje estou só,
Da antiga caminhada resta o pó
Que toma este cenário totalmente.

Resíduos do que fomos embotando
O olhar que tantas vezes quis mais brando,
E agora tão sombrio, se pressente...



18

Metade do que fiz não deu em nada,
Tampouco outra metade valeu tanto,
Matando com discórdia algum encanto
Que possa traduzir uma alvorada.

Servindo a quem não serve, abandonada,
Minha alma se perdeu em tolo canto,
Não posso suportar qualquer quebranto
Sabendo tão distante minha alçada.

Calçando a solidez de um diamante,
Embora saiba ser só um farsante
Aquele que propaga a fantasia.

No beijo embolorado da ilusão,
O quanto amarelou meu coração,
Gerando invés de luz, desarmonia...


19


Metade do que eu
Faço nada diz
Escada vou depois subo...
Descendo
No amor que tantasssssssssssssss
Vezes fui feliz...


3
Prazer quando se tem eu quero ao cubo


Recolho cada fruto
Vivo o grão.
Numa EXPRESSÃO estranha, sou SÓ
TEU.
A
O coração batendo assim
Encontra no final, a SOLUÇÃO...



Eu tento e não dis farço falsos rumos
Quem dera se eu pude ESSE ser teu PAR – 02468
Ao FIM
Da estrada sinto em meus
A mos
Pru

Vontade de e te encontrar
SAIR
Assim quem? SABE tenha um novo SOL
Trazendo luz nesse ARREBOL...
FARTA

ESTA É UMA TENTATIVA DE FAZER UMA POESIA CONCRETISTA...
ESPERO QUE GOSTEM.


20

Metade da maçã que me cabia
Depois da tentação no Paraíso
Trazendo algumas gotas de alegria
Num toque muitas vezes impreciso.

Se a gente faz amor e é todo dia,
Garante com certeza um bom sorriso,
Porém se chega a noite em ventania,
O amor já vai embora sem aviso.

Desta Eva que me coube na partilha,
Carinho diz lareira e quebra o frio,
Minha alma muitas vezes andarilha

Encontra nos seus braços o remanso
Que mata o coração feroz, vadio,
E deixa meu espírito mais manso..
Marcos Loures


21

Mestre Camelo eu peço uma licença
Pra poder desfiar o meu rosário.
Se o verso é da maneira que se pensa,
Eu sinto que em verdade eu sou otário.

Ficar queimando a mente não compensa,
A poesia vive atrás do armário,
A noite vai passando sempre tensa
A rima se tornando um relicário.

Atrás do trio elétrico vou eu,
Quem sabe deste jeito inda consiga,
Fugir da regra estúpida, esta urtiga

Que há tanto tempo, amigo, já morreu.
Mas digo companheiro; a poesia
Rimada está virando uma heresia...
Marcos Loures


22

Mesmo quem pensa sempre ser feliz
Às custas desse canto em vão prelúdio
Esquece que tampouco o que se quis
Deitar no manso colo em interlúdio...

Trazendo um sentimento onde se ilude
Ascende por montanhas intocáveis.
Assim quando eu amei bem mais que pude
Passei por tantos mundos improváveis.

Senti que tudo passa nesta vida
Amor, paixão e dor são momentâneos.
Porém tenha certeza enfim querida
Que as fotos nestes casos, instantâneos.

Agora na parede emoldurada
Somente uma amizade bem amada...


23

Mesmo que uma alegria seja breve,
Louvando a vida em cor maravilhosa,
Palavra tão amiga e mais mimosa,
Não deixa mais que caía em fria neve

O tempo transformado bem mais leve,
Fomenta uma alegria graciosa,
Deixando a vida amarga e tormentosa
Distante do momento em que se deve

Saber da glória imensa de se ter,
Uma amizade plena de prazer,
Calando em nosso peito amargas dores,

Amiga não consigo te esquecer,
Contigo é bem mais fácil meu viver,
Pois sabes cultivar jardins e flores.


24

ue te pareça fantasia
Não teime que talvez o nada venha
O fogo necessita desta lenha
Senão a nossa vida é tão vazia.

Serena madrugada quer e cria
E mesmo que esperança não contenha,
Minha alma sem limites já se empenha
Buscando no final tua alquimia.

Parceiro deste espectro, verso tolo,
O quase me pegando de surpresa.
No fundo não desejo ser a presa,

O amor não merecia tanto dolo.
No colo desta luz que forma o trilho
O coração dispersa-se, andarilho...

8025

Mesmo que seja apenas por momentos,
Eu sinto que terei alguma chance
De ter em minhas mãos teus sentimentos,
Vivendo a maravilha de um romance.

Tocado pelos belos pensamentos,
Captando reticências num nuance
Percebo finalmente estes ungüentos
Por mais que a fantasia não se canse.

Eu quero poder ter o teu sorriso,
Pois nele já encontro este sinal
Do quanto ser feliz inda é possível.

Amor que chega sempre sem aviso,
Transforma um ser tão frágil e mortal
Num deus iluminado e imprevisível...
Marcos Loures


26

Mesmo que pareça mentiroso
Meu canto mais feliz nunca mentiu.
Às vezes te pareço um ardiloso
Que engana com palavra mais gentil,
Porém toda alegria dor e gozo
Por certo quem poeta já sentiu.

No vento que me trouxe veraneio
Na areia em que tostei meu coração,
Nos olhos de quem vive tanto anseio,
Nas mãos sempre perdidas no perdão.
Na doce sensação do belo seio,
No rosto da saudade, na emoção...

Falar do que mais sinto, amor demais,
Se mostra em cada verso e sempre mais...


27

Mesmo que não sejam verdadeiras
As palavras que dizes para mim,
Refletem maravilhas de roseiras
Florindo em alegrias meu jardim.

Mesmo que as canções soem tão falso,
O verso emoldurando uma esperança
Arranca o coração do cadafalso,
E louco, sem dar tréguas, ele dança.

Mesmo que o remendo seja atroz
A colcha de retalho é nobre manto
Pra aquele que cansado e já sem voz
Procura uma alegria em qualquer canto.

Por isso é que me entrego plenamente,
Sabendo que o poeta é triste e mente...
Marcos Loures


28

Mesmo que eu entenda ser tão falso
O diamante belo que me deste,
Entregue à tal loucura, sem percalço
Meu coração outrora árido agreste

Na agônica expressão de um cadafalso
Agora de alegrias já se veste,
E mesmo que inda siga assim descalço
Pressente alguma aragem que me ateste

Dos sonhos que inda trago; Ilusões,
Vertendo qualquer forma de prazer.
Não posso conceber tais emoções

Mas gosto, mesmo em dúvida de ter
A rara sensação de ser feliz,
Por mais que o céu se mostre sempre gris...


29

Mesmo que em passo lento, devagar
O peito sempre erguido, eu vou em frente,
Não temo a virulência a se mostrar
No bote venenoso da serpente.

Eu tenho na verdade uma noção
Do quanto é necessário ter cuidado.
Quem busca no amor satisfação
Às vezes, quase sempre é maltratado.

Fazer no nosso amor, experiência
Uma armadilha, eu sei, já se prepara.
Quem reconhece e disso tem ciência
Cuidando de um amor qual jóia rara

Encontrará em paz, perenidade,
Vivenciando a luz da liberdade...


30


Mesmo que a neve caia sobre ti,
Não deixe esmorecer tua vontade.
Em todos os momentos percebi
Nos teus olhos a rara claridade

Que faz numa pessoa a diferença,
Tu tens o brilho próprio que ilumina
A todos. Divindade assim imensa,
Tocando a quem rodeia descortina

Uma alegria plena e assim nos traz
Felicidade e paz, razão da vida.
Por isto neste dia eu te desejo

Tudo o que tu quiseres e bem mais.
Que o teu aniversário enfim, querida,
Espalhe pelos Céus raro azulejo...

Marcos Loures



31

Mesmo quando ausente, eu percebia
Tua presença, amada junto a mim,
Além de simplesmente poesia
Eu vejo farto amor que não tem fim.

No toque de teu corpo essa magia
O beijo desta boca carmesim,
Vivendo plenamente esta alquimia
O amor que a gente sente é sempre assim.

Não vejo mais motivos pra temer
Iremos passo a passo, eu te garanto
Que imerso na alegria em pleno encanto

Apenas do teu lado posso ver
Um dia mais bonito em pleno sol,
Pois sou de teu brilhar, um girassol...
Marcos Loures


32

Mesmo nos mais áridos caminhos,
Nas sendas mais desérticas, o amor,
Vencendo a solidão com seus carinhos
Permite a fantasia recompor

Com toda a placidez, suaves ninhos,
Aonde uma esperança vem repor
Distante das tormentas, burburinhos,
Numa expressão serena, traz calor.

Tão simples e complexo ao mesmo tempo,
O amor vai superando o contratempo
Tornando fértil o solo, e mesmo a areia.

Num ato de feliz superação
Trazendo um oceano de emoção,
De um deserto transforma em maré cheia...


33


Mesmo material, nós fomos feitos,
Da carne apodrecida nos esgotos,
Os sonhos que tivemos foram rotos
Jogados nas sarjetas quais rejeitos.

Vivemos por viver, mas satisfeitos,
Refaço os meus caminhos destes cotos,
Tu mostras teu vigor nos tantos brotos
Jamais quisemos ser somente aceitos.

E, párias sem paragem, vamos nessa,
Por mais que venha a queda; recomeça
A sina brasileira de lutar.

E quando a noite chega, sertaneja,
O amor avarandado é o que deseja
Uma alma empaturrada de luar...


34

Mesmo distante, quero o teu amor
Em forma de ilusão ou de verdade,
Sabendo do teu jeito encantador
Que traz tanto prazer, felicidade,

Eu quero teu amor de forma amiga
Com gestos delicados de fineza,
Embora, eu sei, saudade sempre abriga
Algumas cicatrizes da tristeza...

Não me abandones, venha para mim,
Na noite benfazeja e desejada,
Te quero em nosso mais belo festim,
A boca me mordendo, apaixonada...

Mais tarde, quando a morte enfim chegar
Eu posso assim, dizer: foi bom te amar!


35

Mesmo distante sinto esta presença
Do bem que se fez tanto a cada dia.
Uma amizade feita em alegria
Encontra na amizade a recompensa.

A vida nos imputa tal descrença
Que aos poucos vai matando a fantasia,
Criança que nós fomos não sabia
Da ausência de esperança; dor imensa.

Por mais que estejas longe, minha amiga,
Existes e persistes dentro em mim.
Sabendo desta luta até o fim

Por uma vida amável que prossiga
Trazendo para nós tranqüilidade,
Encontro munição nesta amizade...


36

Mesmo distante espero o teu perfume
Exalado em palavras delicadas.
Ao trazeres em luz, perfeito lume,
As noites se tornaram estreladas.
Matando qualquer sombra de queixume,
As nossas mãos e bocas vão atadas...

Não posso resistir ao sentimento
Tão forte e mais gostoso da paixão.
Não deixo de pensar um só momento
Na possibilidade da emoção
Que vem tão sutilmente e toma assento,
Inunda bem depressa, o coração.

Na soma de nós dois, amor se intera
Formando uma esperança em primavera...
Marcos Loures


37


Mergulho sem temer tuas procelas,
Enveredo-me, louco, no teu sol.
Meu amor não se esquece, abre as velas
E te sabe cigano amor, farol...

Quero saber de tocar teu corpo inteiro,
De beijar tua boca, sem receios.
Sabendo que um desejo verdadeiro
Necessita de nucas, bocas, seios...

Em teus raios dourados, minha amada,
Todos atracadouros quero em mim.
Desembarcar na praia ensolarada,
E beijar cada porto, cais, enfim...

Em teu mar vou deitar-me, ser areia,
Uma onda a me lamber, na lua cheia...


38

Mergulho sem limite, a cada instante
Nos mares que tu trazes, num sorriso,
Uma escultura nobre e radiante
No toque dum artista mais preciso,

Vibrando em luz suprema, delirante,
Expressa a perfeição de um paraíso.
No colo desta deusa, aconchegante,
O sonho mais feliz, claro e conciso

Pilares de um altar, rara nobreza,
Intrépido caminho que hoje eu traço,
Outrora um vagamundo na incerteza,

Agora um cantador enamorado,
Aos poucos vem tomando todo o espaço,
Alaga em fantasia, o ledo prado...
Marcos Loures


39

Mergulho sem limite em belos poços
Naufrago em teus caminhos, bebo a sorte,
Desejos que se fazem teus e nossos
Aos mares deste amor divino aporte.

Eu quero e não descanso de buscar
A marca deste amor, insanamente.
Vestígios em teu corpo do luar
Tramando a bela noite iridescente

Pecado é não querer provar do gozo
Melífera loucura que transcende,
Segredo deste mar voluptuoso
Que toda noite em chama nos acende

Nudez e transparência, qual colírio
No jogo que se mostra tal delírio
Marcos Loures


40


Meu amor não mais permita

Que este sonho, um dia acabe,

Quem provou de uma desdita

Sabe quanto amor já cabe


A minha alma sempre agita,

Do meu destino já sabe,

Encontrar uma pepita

Antes que a vida desabe


E faça-se em sofrimento,

Em tanta dor afinal.

Não esqueço um só momento,


Ao olhar o firmamento,

De teu corpo sem igual,

Minha alegria e tormento...


41

Meu amor impreciso qual cometa
Remete na centelha de teus passos
A vida que se fez mais incompleta;
Ocupa sem querer os teus espaços.

Repete cada luta que repleta
A boca esfomeada tantos maços
Fumados. Emoção analfabeta
Não sabe nem percebe os mansos braços

Que envolvem calmamente meu pescoço;
Alegria fugaz voando breve
Restando uma incerteza em alvoroço

Escrita nestas páginas vazias.
Mas eu te peço, amor que assim me leve
De volta às velhas luzes, fantasias...


42

Meu amor eu não sei nem por onde andas,
Por isso me embriago. Eis os tremores.
Andei te procurando em outras bandas
Perdi teu rastro imerso em novas flores.

Mulheres que encontrei pelo caminho
Virtudes esquecidas na aguardente.
Na busca por afeto e por carinho
Ser feliz, decerto é mais urgente.

Num sentimento lúdico de amor,
Por um momento, escravo desta luz,
Não tenho quase nada a te propor

Será que bem leve e breve a minha cruz,
Deste cenário sigo sendo ator
Ao fundo um cego triste toca blues...


43

Meu amor está pleno de teus beijos,
Tuas manias sóbrias e decentes,
No que me restará de teus desejos,
As mãos vão percorrendo, são dementes...

As farpas que trocamos, percevejos,
Os restos da comida, bocas, dentes...
Na sorte que pedi aos realejos,
Distâncias e desejos pedem lentes...

Meus dedos vasculhando cada ponto,
Na gruta que me dás, velho morcego...
No rolar desenrolo e fico tonto,

Manias e defeitos são vertigens...
As barcas mais sutis não as carrego,
Nos olhos me restando só fuligens...
Marcos Loures


44

Meu amor espera o sol
Sol que nunca mais veio...
Amor louco girassol,
Preparando um novo esteio

Nada encontra em arrebol
Coração desfere seio
Virando nova ilha, atol!
O sol é pão e centeio...

Tristes olhos querem ver
Onde pode sol nascer
Se tal sol nunca mais brilha...

Nos céus procuras a trilha
Onde mais pode esconder
Os olhos de nossa filha?
Marcos Loures


45

Meu amor é fanática emoção.
Meus olhos não conseguem tanto brilho.
Passando por amor, vira obsessão.
É mais do que sonhar um novo filho.

Explode, com certeza, o coração.
Não deixa nem permite rumo e trilho...
Rebenta mais feroz do que paixão!.
Detona dinamite no rastilho...

Esse amor, endeusado e tão cruel,
Por certo vasculhou estrela e céu
Um resumo absoluto desta vida.

É ponto de chegada e de partida.
Espreito a divindade em meu dossel,
É sorte que me leva a despedida...
Marcos Loures


46

Mergulho nos teus olhos, ganho o mar,
Nas verdejantes ondas me apaixono,
Entregue à tal beleza, em abandono,
Permito, o pensamento, navegar.

Adentro o paraíso, devagar,
Queria ser escravo e ser teu dono,
Os ritos do desejo, doce abono,
Que tanto procurei; posso encontrar

No olhar desta mulher que me conquista,
Deslizo em calmas ondas, vou na crista,
Até chegar ao porto de teus braços.

Levado pelos ventos, me inebrio,
Sentindo o teu calor, esqueço o frio,
Deitado mansamente em teus regaços.


47

Mergulho nos abraços
Da moça mais bonita,
Seguindo loucos traços,
Encontro esta pepita.

Do amor que faz os laços
No qual sempre acredita
Quem segue insanos passos
Um horizonte fita

Em clara mansidão,
Em montes divinais,
Amor, aluvião,

Nos toma sem dar chances,
Aumenta sempre mais,
Em loucas avalanches...
Marcos Loures


48

Mergulho nos abismos da ilusão
Fazendo dos teus lábios o meu guia
Enquanto houver ainda fantasia
Eu venço sem temor, o furacão.

E vendo tão distante a solução
Quem dera se chegasse novo dia
Raiando com desejos e harmonia
Trazendo ao viajante, a direção.

Amar não é brinquedo, é caso sério.
E a vida nos tramando este mistério
Permite um cão vadio ter desejos.

Nos olhos da rainha, o mesmo brilho
Que roça o coração deste andarilho
Sonhando com delírios, loucos beijos...
Marcos Loures


49

Mergulho no vazio que criei,
Apenas vagabundo trovador
Usando as artimanhas de um amor
Nas suas armadilhas me entranhei...

Respostas? Tolamente procurei,
Quebrando os meus altares, sem andor,
As alas libertárias do condor
Fazendo da esperança a minha grei...

Mas nada do que outrora imaginara
Será qual recompensa para mim,
Matei há tantos anos meu jardim

Na busca desta flor sublime e rara.
Na inválida emoção destes meus versos,
Os passos que tentei seguem dispersos...


8050

Mergulho no vazio de teus olhos
E o nada simplesmente me apavora,
O quanto se perderam em restolhos
E o nunca tolamente já decora

Olhar que insanidade fez distante,
Vagando por estrelas ou bueiros,
Afã que se mostrara delirante
Perdido nos remansos traiçoeiros.

Nesta loucura imensa que nos traga,
Estranhas sensações acumuladas.
Porém uma palavra mansa afaga
E traz à tona vidas malfadadas.

Preservo mesmo em louca tempestade
O sentido real desta amizade...
Marcos Loures

51

Mergulho no teu mar. Vou desejoso,
Querendo cada gota prometida,
Sorvendo e destilando cada gozo
Nos méis maravilhosos, nossa vida.

Ao ter teu corpo lânguido e sedento,
Misturo nossos lábios e salivas.
Atado nas vontades, num momento
Atraco no teu porto, tais ogivas

E na explosão das minas eu me rendo,
E deixo-me levar, do amor cativo.
Fartura de banquetes que pretendo,
Dos gozos mais benditos, eu me crivo...

Do quanto o nosso amor farto se fez
Vontade de encontrar tua nudez.
Marcos Loures



52


Mergulho no teu corpo em tal deleite
Trazendo para mim tua ardentia,
O fogo em tua pele me irradia,
Convite para amor que logo deite

Na cama em que o prazer se mostra enfeite
De corpos que se querem, fantasia,
Distante do que fora nostalgia,
Tomando da alegria um puro leite.

Amada, como é bom estar ao lado
De quem nunca cansei de imaginar
Desnuda, num encontro onde suado

Pretendo sem juízo, mergulhar.
Vencendo a resistência, num segundo,
Adentro os teus segredos, e vou fundo...


53

Mergulho no teu corpo e sou sincero,
Não temo uma incerteza, nenhum mal.
Amor que não machuca? Não o quero,
Entranho no teu pélago abissal.

Escracho os meus sentidos; vivo e, fero,
Das cordilheiras faço o meu bornal,
Patamares longínquos onde espero
O precipício insano, desigual.

Não teimo, pouco temo e assim me crio,
Frutas maduras, gozos e pomares,
Na cama onde desfruto tetas, cio,

Talheres que permitem bons jantares.
Morena. Vem, aqueça que está frio,
Esparramando estrelas e luares...


54

Mergulho no teu colo, esta vontade
De ter o teu amor bem junto a mim,
Razão de poder ter felicidade,
Num sonho que não pode ter mais fim,

Se eu tenho, no teu corpo a claridade,
Que faço se distante estou, assim.
Tu tens este poder de seduzir,
E dominas sem nada a me pedir.

Pensando nos teus beijos e carinhos,
Teus seios, tua boca e teu suor,
Deitando em nossa cama, sedas, linhos,

Caminhos do teu corpo, eu sei de cor.
Encontro nos teus braços, belos ninhos,
De todos os meus sonhos, o melhor.
Marcos Loures


55

Mergulho no passado, insano e frio
Estendo uma saudade no varal,
Recolho cada gota do vazio
Que um dia transbordou neste embornal.

A vida escarifica pouco a pouco
Aumenta esta ferida no meu peito,
O grito que se faz audaz e rouco
Estronda tão distante e nega o preito.

Argúcia se mostrando sempre inútil,
Escancarando a face desumana
Do tempo que se molda insano e fútil
Matando ao mesmo tempo desengana.

Soprando sobre nós a tempestade
Formada pelas chagas da saudade...
Marcos Loures


56

Mergulho no passado e vejo a sombra
Daquela que negando, se entregou.
Imagem distorcida ainda assombra,
Matando o que do amor, inda restou.

Contrastes entre luz e escuridão,
Espreito o que vivemos e mataste,
Do sim que imaginei, a negação,
Trazendo tão somente este desgaste

Que aos poucos transformou em quase nada,
Aquilo que eu pensara ser eterno,
Da bela primavera anunciada
Eu vivo amargurando um duro inverno.

Mas trago ainda a chama da ilusão,
De um dia poder ver outro verão...
Marcos Loures


57

Mergulho no oceano dos encantos,
Palácios e princesas, sei de cor.
Não temo nem as urzes, desencantos,
A vida me guardou seu bem maior!

Alvores e manhãs magas belezas,
Meu reino entre diversos, maravilha...
Searas de ternura e de riquezas,
Nos perfumes e cores, flores, tília...

Escuto estas cantigas nos umbrais,
A vida, com certeza, vale a pena.
A noite me promete festivais,

Prateando com a lua, toda a cena.
Deslindam-se loucuras imortais.
Na beleza tão pura de Açucena!
Marcos Loures


58

Mergulho no oceano de teus braços,
Afogo-me em teus lábios sensuais.
Adentro no infinito em largos passos
Deitando meu prazer encontro o cais

Nos olhos, nos teus seios, teus regaços,
Querendo cada noite sempre mais,
Sabores que encontrara; tão escassos
Agora em tua boca, magistrais.

Ao ter tua presença deusa e Diva,
Minha alma se entregando, assim cativa
Jamais quer que este encanto se desfaça.

Coloco meu futuro em tuas mãos,
Adentro teus mistérios, furnas, vãos,
E o fogo dos desejos nos devassa...
Marcos Loures


59

Mergulho no horizonte deste olhar,
E sigo cada rastro que tu deixas,
Não quero mais saber das velhas queixas
Aonde a dor encontra o seu lugar.

Num feixe fascinante, rastros luzes,
Persigo o bem que outrora quis tão meu,
E quando a noite enfim se escureceu,
Vislumbro a maravilha que produzes

Com teus poemas doces e suaves,
Vencendo as armadilhas. Sem entraves
Eu posso perceber quanto é divino

O templo desenhado em fogo, amor,
E creio; numa espécie de louvor
Num sol iridescente e diamantino...


60

Mergulho meu passado neste rio
Que tantas vezes tenho navegado,
Nas noites mais doridas, tanto frio,
Espero meu amor aqui do lado...

O sono quando chega e não te encontra
Em pouco tempo manda o pesadelo.
Amor quando de amor se desencontra
Aos poucos se tornando um atropelo.

Nos raios deste sol brilhando n’águas
Dos rios e cascatas, um cristal;
Meus olhos se lagrimo, plenas mágoas
Transbordam nesse rio, no final.

Amada não permita que isso ocorra,
Não sei nadar, tu queres que então, morra?


61

Mergulho em teus desejos, a vontade
De ser teu companheiro a vida inteira.
No gozo que permite a claridade
Palavra que se mostra verdadeira

No afeto desejoso que me invade
A sorte já se mostra sorrateira
Embalas meus desejos, rompes grade,
Fulguras como a sorte derradeira.

Flameja em minha pele com prazer
Tocando bem mais fundo no meu ser,
A doce insensatez que se derrama

Arrancas estes véus, desnudo o sonho
E um verso mais suave; enfim, componho,
Bebendo cada gota desta flama...
Marcos Loures


62

Mergulho em teu olhar; vou à retina
Navego tal beleza deslumbrante,
A vida num momento rebobina
E volto a ser mais jovem neste instante.

E vendo o teu sorriso de menina
A juventude pulsa radiante
O sonho mais gostoso nos destina
A sorte de saber do amor gigante

Que sendo assim constante não se cala,
E nada neste mundo mais abala
Quem tem esta alegria com fartura.

Se eu choro, eu te garanto, é sem tristeza
Ao ver no teu olhar tanta beleza
Rendido vou imerso em tal ternura...
Marcos Loures


63

Mergulho em suas sombras, meu amor,
Minha alma sutilmente se inebria,
Vergastas me cortando com ardor,
No corpo de quem amo principia

A dança feita em riso, e no pavor
Rasgando a mais sublime fantasia
Permite-se que veja o seu furor
Na sede que se mata e me vicia.

A fonte dos prazeres e dos gozos,
Amor martirizado, salvaguarda,
Desnuda em sua cama ela me aguarda,

Nas ânsias de desejos caprichosos.
Na concha que se abriu, a convulsão
Ejaculando méis em profusão.


64

Mergulho em suas curvas rio amado,
Nas suas águas claras, meu prazer;
De tanto que sonhei cruzar a nado,
Nas suas mansas margens, meu lazer...

Não quero mais saber de penitência,
Nem quero mais salgar felicidade;
Nem quero mais pedir uma clemência
Eu quero é ser feliz,e de verdade!

Viver a minha vida em companhia
De quem sempre desejo e não me canso.
Trazendo nos meus olhos, alegria,
Teus lábios carmesim, decerto alcanço...

Mergulho em tuas curvas sem pudor,
Vivendo a fantasia deste amor!


65

Mergulho em horizontes versos soltos,
Néscio, vou sem destino e sigo só,
Percebo estes momentos que revoltos
Impedem ilusões, sou simples pó.

Remoto sentimento, um vil temor,
Resquícios do que fomos, dois inúteis
Resido nos escombros, perco flor
E tento ser somente. Medos fúteis...

Perdi o que tentei, porém prossigo
Ouvindo simplesmente o som sem nexo
O tempo se volvendo, quero o sexo

Demente, enfim sombrio, te persigo
E o resto me ofereces, meu troféu
Que, podre, dos esgotos vence o céu...

SONETO SEM A LETRA A
Marcos Loures


66



Mergulho em teus carinhos sem defesas
Bebendo desta fonte insaciável.
Encanto a cada canto demonstrável,
Cevando maravilhas e belezas.

O quanto exponho a vida em fartas mesas,
Fazendo do impossível solo, arável.
Teu corpo muito mais que desejável
Sensualidade além de mil tigresas.

Queria tão somente hoje poder
Sentir os teus anseios mais profanos,
Mudando a direção dos velhos planos

Sorvendo cada gota do prazer
Que trazes em teus lábios delicados,
Momentos tão serenos e safados...


67

Mergulho destemido, a cada cena
Contando estas estrelas que me dás,
Amor que em fantasias já se encena,
Deixando uma tristeza para trás.

Colhendo em meu jardim, rosa e verbena
Canteiro da esperança segue em paz.
Certeza de outra história mais amena,
Amor em plenitude satisfaz...

Coração se abastece de esperança
Vencendo qualquer forma de intempérie
O sonho não se faz em larga série

Encanto sem limites nos alcança.
O verso em que traduzo amor que sinto,
Inebriado bebe, em ti, absinto...
Marcos Loures


68


Mergulho como um peixe num aquário
Nos braços tão serenos de quem amo,
Amor é nosso rumo, itinerário
Teu nome com certeza sempre clamo

E sinto o teu perfume nesta senda
Que leva ao paraíso em liberdade,
Segredos que o amor cedo desvenda
Buscando tão somente a claridade

Falenas-corações vagando lumes
Crisálidas que formam nossos dias,
Numa esperança rara, teus perfumes

Exalam maravilha em poesias.
Tocando nossas peles, arrepios,
Os ventos das paixões, doces, macios...
Marcos Loures


69

Mergulho carinhoso e triunfal
Bem vindo caminhar em noite clara,
A lua nos chamando tudo aclara
Amor já se tornando um ritual.

A cargo deste sonho sem igual
A vida em alegria se declara,
A jóia do prazer embora rara
Espalha farto brilho magistral.

Benesses encontradas sem fastio,
O quanto de desejo em que vicio
Explica todo o bem que vejo em ti.

Estrela decorando a madrugada,
A rosa do querer iluminada
Floresce no perfume que senti...
Marcos Loures


70

Mergulhe sem limites nosso céu,
Entre estrelas, pulsares e quasares
Galopa em liberdade este corcel
Deixando no passado tais azares

Que um dia polvilharam nossa estrada
Fazendo de um encanto, pesadelo,
O quanto a paz por nós é desejada
É sonho tão difícil de contê-lo

A par desta fantástica ilusão
A vida se fazendo em fantasia,
De um claro amanhecer, a percepção
Demonstra um novo tempo que se cria.

Aonde uma amizade sobrevenha,
Sabendo ser amor a nossa senha.
Marcos Loures


71

Mergulhe em bel prazer e compareça
Dançando a mesma dança, um vanerão,
Amor que assim não tiro da cabeça
Aos poucos vai virando uma paixão.

No ritmo alucinante par a par,
Cevando o mate amargo desta vida
Percebo o vento vindo devagar
Um vivente procura uma saída.

Adentra o teu rincão, tão guapa prenda
No amor que é trilegal, nosso sustento.
Segredos que tu guardas se desvenda
Bebendo gole em gole, o sentimento.

Que o negrinho proteja o tempo inteiro,
Guardando na guaiaca o gosto e o cheiro...


72

Mergulhar o meu desejo
No teu corpo já desnudo,
De mansinho em cada beijo,
Meu amor irei com tudo

Com a fome que me atiça,
De poder te dar prazer,
Meu olhar já te cobiça
Nos lençóis poder te ter.

Corpos nus que se entranhando,
Trazem gozo em estribilho,
Com loucura te tocando,
Desvendando cada trilho...

Delirante noite vem,
Do desejo sou refém


73

Mergulhar de cabeça e coração
Sem ter qualquer defesa que me impeça
Alçar o Paraíso deste chão,
Desejo que minha alma já confessa.

Vertendo cada parte da remessa
Em lágrima e ternura, ser o grão
Que traz em si a glória da promessa,
Deixando para trás qualquer razão...

Assim eu me permito caminhar,
O coração aberto ao pleno vento
Um pária, mesmo probo em seu intento

Às vezes necessita ir devagar,
Porém sem ter medidas nem mesuras
Entrego-me ao fascínio das loucuras...


74

Mergulhando em sofismas que me travas,
Não pude perceber tuas facetas.
As noites entrevadas velhas cavas,
Nas luas estendidas nas lunetas.

Reparo, indiferente, nossas lavas,
Desculpas que formaram teus planetas.
A roupa apodrecida nunca lavas,
Meus mundos, te entreguei, podres vendetas...

Baldados tantos gritos e perdões
Nas tramas e nas lendas somos arte.
Vasculho teu amor por toda parte,

No fundo me deparo com prisões...
O faro que negaste está, destarte,
Apodrecido em nossos corações!
Marcos Loures


8075


Mergulhada num lago sem saída,
Encontras as quimeras que me deste
As roupas que vestiste, toda peste
Que cultivavas numa torpe vida...

Não te salvarei, deixo-te perdida,
Afogada na mágoa que te veste,
Sem nem sequer rezar para que reste;
De teus sonhos, alguma sobrevida.

Nas águas podres, pestes e vorazes
Predadores te beijam, mais audazes...
Sugam teu sangue, matam lentamente...

Minha vingança tarda, mas não falta,
Apagar todas luzes da ribalta,
Aplaudindo espetáculos, somente...


76

Mergulha tantos mares, toda a graça...
O vento desejado, primavera,
Serpente que sonhara não disfarça,
Trazendo sutilmente esta nova era...

Que por certo virá em plena praça
Dançando tão faminta quanto fera,
Envolta na tempesta que entrelaça
Gozando do prazer desta pantera...

Mergulhando este louco sentimento,
Vasculha pelas luas os seus raios...
Amante se entregando ao viril vento.

Espera pela luz mais redentora,
Os olhos espraiando nos desmaios
Lunares, da rainha sedutora...
Marcos Loures


77

Mergulho por instantes nesta fenda
Aberta e num convite irrecusável,
Além do que eu julgara imaginável
Um novo Paraíso se desvenda.

O velho coração não tendo emenda,
Peregrinando em solo indecifrável
Permite-se ao engodo; mas, amável
Encara o sofrimento como lenda.

Nas tendas em tais sendas; por instantes,
Prefere imaginar mil diamantes
Mesmo sabendo inglório o tal do amor.

Assim, passando a vida num segundo,
Um pária sem destino, um vagabundo,
Nas sombras sonha um mundo multicor...



78

Mergulho o meu olhar neste horizonte
Por entre os verdes belos da esperança,
Vislumbro, da alegria, a minha fonte
O azul de um claro céu, a vista alcança.

As cores se misturam, bebem sol,
Que trará com certeza, vida e glória.
Sentindo a maravilha do arrebol,
O amor chega mudando a minha história

Quem fora, no passado tão tristonho,
Sem ter sequer o brilho em seu olhar.
Agora ao se entregar, querida eu sonho
Com o dia que decerto irá chegar

Aonde o coração esperançoso
Permita deste amor, desfrute e gozo..


79


Mergulho o membro duro entre estas pernas
Sedentas e molhadas, desejosas.
As carícias diuturnas sempre ternas
Abrindo do jardim as rubras rosas.

Meu vício é penetrar-te com esmero,
E depois quando sôfrego invadir
Misturas de vontade com tempero
Gostoso de provar e repetir...

Arfando como um louco garanhão
Sentindo os pelos ralos sobre mim,
Aos poucos no calor deste vulcão
Não quero que este sonho tenha fim.

Se o dia se faz macho, noite é fêmea
Viver sem ter prazer? Pura blasfêmia


80

Mergulho num abismo feito em vão
Se a ausência de quem sonho está presente.
Vagando pelas ruas qual demente
Perdendo a cada passo, terra e chão.

A luz em mais temida arribação
Descreve um espiral e de repente
A treva terminal, já se pressente
Tornando assim infértil, coração.

Mas quando o teu perfume se espalhando
Canteiros de meus sonhos encharcando,
Prenúncio amanhecido revigora

O gozo tão supremo da alegria
E o tempo em desvario, se anuncia
Vivendo o paraíso desde agora.
Marcos Loures


81

Mentiras espalhadas nesta trama
Encontram o vazio por resposta,
A mesa quase sempre nunca posta
Não pode e nem convida, nunca chama.

A pele em agonia já descama
E mostra o corte fundo feito em posta
Não tendo mais prazer, perdi a aposta
Quem sonha assim demais encontra a lama.

Nos horizontes nada de montanhas,
Não sei e não terei malícia e manhas.
Apenas solidão é o que convém

Ao velho passageiro em descaminho,
Viajo pelo tempo e vou sozinho
Perdi faz tanto tempo, antigo trem.
Marcos Loures


82

Mentiram sobre o néctar e ambrosia,
Deixando assim de lado a realidade,
Na puta sacanagem bem sabia
Do quanto apodreceram liberdade.

A noite se transforma numa orgia
Na crápula ilusão: felicidade;
Vendida como carne e fantasia,
Transita na calada, a falsidade.

Amores a granel, por atacado,
Bazares indecentes, carnes podres,
O sangue vai vendido nestes odres

Os vermes me devoram, sou lixado;
Comprado pela merda do prazer.
E a mesma carne imunda pra comer...
Marcos Loures

83

Mentira vai cumprindo o seu papel,
Nem tudo o que reluz é ouro puro,
O porto que encontrei, não é seguro,
No porão de minha alma escondo o céu.

Girando; o tempo cega o carrossel,
O dia amanhecendo sempre escuro,
A vida se passando em tanto apuro,
O medo transformou o mel em fel.

Cavalo dos meus sonhos galopando,
Formando uma cortina de fumaça,
Enquanto em nuvens negras tu flutuas.

O solo desde então vem desabando,
Atrás eu posso ver minha carcaça
Cobrindo em duro pó todas as luas.
Marcos Loures


84

Mentira que me trouxe essa verdade
Que tentas esconder inutilmente,
A fonte insaciável diz saudade
Mascara o que desejam corpo e mente.

Não posso permitir que esta demente
Ainda me transtorne a claridade,
Quem sabe decifrar quando ela mente,
Encontra finalmente a liberdade.

Eu teimo em te dizer embora saiba
Que o amor que eu tanto quis foi puro engodo,
Distante deste mundo que me caiba

Persisto em perseguir tuas pegadas.
Das sombras do passado, deste modo,
Eu vejo minhas faces retratadas...
Marcos Loures


85

Mentindo toda noite em desprazer
Eu tento me enganar, mas não consigo
O corpo que se fez amante e amigo
Por toda a minha vida hei de saber.

Quem dera novamente receber
O gosto delicado deste abrigo.
É tudo o que eu desejo, até persigo
Viver o que nos resta em bem querer...

Partiste em noite fria. Um temporal
Desabando as estrelas, morta a lua
Saudade tão somente continua

Tristeza prolifera como cuva.
Quem sabe tu virás depois da chuva
Trazendo em claridade todo o astral...
Marcos Loures


86

Mensagens entre sonhos e viagens
Aléns que conhecemos num instante
Olhando pra sublimes paisagens
Mosaico de belezas, fascinante.

Nos rios, seixos, águas, beneplácito
Desejos feito acordo, cordas, cantos
A noite em seu pendor, suave e tácito
Permite que se entendam tais encantos.

Iridescentes brilhos confundidos
Em lagos de perfeita placidez
Carinhos em delírios são fundidos
Tomando toda a cena, em sua vez.

Os lábios massageiam outros lábios,
Momentos delicados, porém sábios...
Marcos Loures


87

Mensagens em garrafas, cartas, senhas,
Deixando à flor das águas minha sina
Querendo de repente que tu venhas,
Seguro o tempo alado pela crina.

Porém quando nas trevas tu te embrenhas
Fechando atrás de ti, porta e cortina
O frio que se faz sem fogo ou lenhas,
Saudade de teus lábios me azucrina.

Mas vendo que chegou ao endereço
A carta que mandei há vários dias
Agora eu te garanto, sem tropeço

Que a gente pode ter final feliz,
Vencendo com sorriso as agonias
Escuto esta resposta que assim diz...
Marcos Loures


88

Menino tão matreiro pula a cerca
Que sempre separou amor e dor.
Não teme que este mundo já se perca
Em versos que me fez tão sonhador.

Sou como este menino, prenda minha
Que fez desta ilusão prado sem fim.
Se a noite desta tarde se avizinha
Eu quero esta promessa carmesim.

O manto que louvaste, amor insano,
Se fez bem mais distante do que eu quis.
Mas vejo salvo o medo ou salvo engano
Que ainda poderei ser mais feliz

Roçando o belo pasto da esperança
Que salta novamente qual criança...


89

Menino sem juízo, o tal do amor,
Às vezes preparando uma falseta,
Seguindo a direção mais incorreta
Tropeça e sem saber aonde por

Os pés; derruba um pobre sonhador,
Que nele, todo dia se completa,
E tenta sem resposta ser poeta,
Maltratando decerto a frágil flor.

De quando em quando eu sinto que meu erro
Condena o coração a tal desterro
Causando o mais terrível reboliço.

Desculpe se cometo este pecado,
Só posso te dizer: muito obrigado,
Não quero que esta rosa perca o viço!
Marcos Loures


90

Menino que galopa pelos prados,
Montado no cavalo da esperança.
O vento já vem dando os seus recados
Em galhos do arvoredo que balança.

Nas crinas dos cavalos galopados
Os sonhos se perdendo em outra dança.
Mal sabe, este menino, destes fados
Do amor que atingirá em seta e lança.

Exausto, depois disso, sonha a cores
Com dias que virão depois da chuva.
Meninas se prometem, seus amores,

Infância da tormenta anunciada.
Paixão fica na espreita após a curva
Tomando, no galope, toda a estrada...


91

Menino que criou-se lá na roça
Brincando com pião e cabra cega
Deitando numa rede, na palhoça
Jamais numa cidade, em paz, sossega.

Montado num cavalo, na carroça,
Em nada nesse mundo já se apega,
Da dor e da saudade se faz troça,
Do verso que improvisa a sorte prega.

Moleque que se fez quase um matuto,
No cigarro de palha, o companheiro.
Olhar de quem não sabe, sendo astuto,

Cartilha decorei, mas sou matreiro.
Porém por amizade, vou e luto,
Comparsa; na verdade. Um bom mineiro...


92

Menino que cresceu perdeu o rumo,
Não sabe mais sonhar, cadê brinquedo?
Do brilho da alegria resta o medo
Maldita sensação de claro aprumo.

O gosto da maçã esquece o sumo
O dia amanhecendo sempre ledo,
A vida vai tecendo o seu enredo,
Não amo o dia-a-dia, me acostumo.

Olhando o teu sorriso, caro filho
Em pleno viço vejo-te correr,
Sem ter que imaginar qual seja o trilho

Que irás depois de tudo, percorrer.
O amor sem ter descanso, este andarilho,
Apenas sendo puro, dá prazer...


93

Menino que corria no quintal
Em total liberdade mal sabia
Que a roupa que quarava no quintal
Seria quase um símbolo de um dia

Aonde ser feliz era normal,
Brincando desfraldava a fantasia,
Reinando sem limites, bem ou mal,
Os medos, pesadelos, a alegria...

Irmãos, primos e pais, tios avós,
A festa se fazia domingueira,
A vida era divina e companheira.

Depois de tanto tempo e nada após
Sem laços de amizade, um velho só.
Olhando pra criança volta ao pó...


94

Menino que corria entre bandeiras,
Jogando toda a sorte em laço frouxo.
Depois de tantas horas mais certeiras
O passo se tornando roto e coxo.

Menino entre jaqueiras e quintais,
Olhando sob as saias da morena.
Deitando uma esperança nos varais,
No corpo da menina, a vida acena.

Agora se esqueceu desta criança
E morre de ciúmes sem motivos.
No gosto mais suave da lembrança
Os olhos do moleque sempre vivos...

Amor bateu na porta, um mensageiro,
Safado sem juízo, amor primeiro...


95

Menino que brincando em laranjais
Encontra no quintal, na vizinhança
Amor que imaginou não ter jamais
E sente audacioso; uma esperança

De ter amor primeiro, e quer demais
Menina que ao correr, cabelo em trança,
Parece que também se satisfaz
Ao ver neste menino, amor que alcança.

Plantada esta emoção, vai aumentando,
E o tempo nunca cala. Fortalece,
E o doce que da infância não se esquece

Nem mesmo se distante, aonde ou quando,
Germina novamente em primavera,
Valeu, querida amada, tanta espera...
Marcos Loures


96




Menino quando eu ia comungar,
Naquele imenso e sacro ritual,
O Padre, desde a pia batismal,
Jamais pensei poder sacramentar

Destino dos que moram no lugar,
O vento muitas vezes me fez mal,
Mordido pelo medo mais banal,
Sonhando com mil formas de pecar.

Depois, eu fui crescendo e percebi
Que nem toda verdade encontro ali,
Igreja tantas vezes, desabrigo.

Aquela hóstia sagrada, conspurcada
Nas mãos de uma noviça desejada,
No fundo não passava de água e trigo...


97

Menino entre bandeiras e quintais
Jogando fantasias sem requintes,
A vida não bebeu dos carnavais,
Cenário bem diverso do que pintes.

Lembrança se aprofunda e até clareia,
Sei que a culpa é da tal senilidade.
Presente com passado, fina teia,
Na demência que aos poucos toma e invade

A morte é uma questão simples de tempo,
Não tenho mais vigor, fujo da luta,
O amor é mentiroso passatempo,
A voz deste imbecil; ninguém escuta.

O velho coração brinca de pique,
E o barco da existência vai a pique...


98

Menino entre bandeiras e quintais
Jogando fantasias sem requintes,
A vida não bebeu dos carnavais,
Cenário bem diverso do que pintes.

Lembrança se aprofunda e até clareia,
Sei que a culpa é da tal senilidade.
Presente com passado, fina teia,
Na demência que aos poucos toma e invade

A morte é uma questão simples de tempo,
Não tenho mais vigor, fujo da luta,
O amor é mentiroso passatempo,
A voz deste imbecil; ninguém escuta.

O velho coração brinca de pique,
E o barco da existência vai a pique...


99

Menino dos meus erros, berros tolos
Ascendo ao que tentei, não fui feliz.
O barco sem destino, por um triz,
Procura inutilmente veros colos.

Arando em incerteza tantos solos,
Só peço que me impeça a cicatriz.
Riscando o coração lápis e giz
À fórceps assei sonhos, solei bolos.

Um mero navegante em noite escura
Sem cura, sem remédio, persistente.
No cálice das bocas, a ternura,

Salivas são as seivas prediletas.
Às vezes idiota outras demente,
Meus dedos no teclado são poetas?

Marcos Loures


8100


Menina; quando escuto a tua voz
Delícias eu vislumbro: gozo intenso.
Tu sabes quanto em ti, querida, eu penso,
Um sentimento insano; assim, feroz.

Sabendo mais e mais, sempre de nós,
Todas as intempéries; sei e venço,
A cada novo dia eu me convenço,
O meu desejo em ti encontra a foz.

Não posso mais conter este delírio,
Viver sem teus carinhos; um martírio.
Vontade de tocar tua nudez.

E numa incontrolável emoção
Entregue ao teu fascínio e sedução,
Lembrar do amor que à noite, a gente fez...


1


Menina
A flor
É sina
Amor.

Divina
A cor
Assina
Ardor.

Sereno
Veneno
Do beijo

Que tento,
Momento
Desejo...



2

Menina vou dizer
Do amor que tanto tenho,
Tão cedo assim eu venho
Buscando em teu prazer

O gosto de viver,
Nas matas eu me embrenho,
Calor de ti retenho
E adoro este querer.

Menina, o teu sorriso
Trazendo uma certeza
De ter no paraíso,

A paz, tanta beleza,
Amor não mostra aviso,
Vem logo e põe a mesa...
Marcos Loures


3

Menina: venha logo sem demora
Que toda a fantasia quer ciranda,
Enquanto a poesia já desanda
O beijo da saudade se assenhora.

Chegando de mansinho, quero agora,
O coração pesando assim de banda
A lua sertaneja na varanda
O beijo da morena comemora.

Teria algum presságio para mim
O velho realejo de outras eras?
Amores e prazeres são quimeras

Espero alguma flor neste jardim,
Mas nada do que colho no canteiro
Falou de teu amor, se é verdadeiro...


4

Menina vem comigo e então me nina
Que a noite pode ter fantasmas mil.
De todo o desespero que se viu
A noite em pesadelo não termina.

Tua presença calma, feminina
Acalma este velho permitiu
Que a vida não mais fosse dura e vil,
Mudando em calmaria a minha sina.

Vencendo meus temores que de antanho
Fizeram de meu peito um alvo fácil
Contigo, na verdade eu sempre ganho,

Sorriso de menina em corpo grácil
Com toda essa alegria que se emana
Da boca mais gostosa e mais sacana...


5

Menina vê se nina quem te adora
A sina que persegue quem te chama
As asas que te cobrem sem ter hora
Na cama que reclama tanta chama

Coberta de prazer seu ser aflora
E implora quem te quis por nova trama
Quem sabe faz agora e vai embora
Não posso nem dizer que não me escama

A luta que foi bruta se repete
Compete e me destrata mas confete
Espalha quem navalha e serventia

Ventava mas não trouxe um agasalho
O vento que quebrava tanto galho
Amava essa menina em galhardia...
Marcos Loures


6

Menina tão safada se mostrando,
Afasta esta calcinha devagar.
Enquanto vai assim se masturbando
Convite sem igual para sonhar.

Depois bem mais safada me excitando,
Chamando para a gente se entregar
À foda sem pudores. Provocando;
Vontade quase louca de transar.

Chupar o teu grelinho, te lamber
Depois ,com toda calma te fuder
Até que o gozo venha em chafariz.

Menina já não brinca de boneca,
Mas sabe segurar, sempre a peteca,
De ti, eu sou, decerto, um aprendiz...
Marcos Loures


7



Menina tão formosa, moça feita,
Delito prometido, bom pecado,
Fingindo que me quer, logo me enjeita,
Sorriso delicado, mas safado.

Beijar a sua boca, ser seu homem,
Deitar sob as estrelas, sob a lua,
Vontades, disso eu sei, já me consomem,
E sonho com a bela, toda nua.

Quem dera se eu pudesse... Mas não posso,
O velho coração não mais suporta,
Se ainda fosse jovem, ainda moço,
Eu poderia entrar por sua porta.

Porém a realidade policia,
Não vou fazer do amor, pedofilia..


8

Merencório luar vai dando adeus,
O dia não promete sequer sol;
Juntando o que restou; pedaços meus,
Quem fora um arquipélago, hoje atol.

Eu sei que na verdade tanto errei
E pago por pecados cometidos.
O quanto foi possível desejei,
Os pés estão cansados e feridos...

Colecionando enfim, tristezas várias,
Não me resta senão cevar abrolhos.
As noites se tornaram temerárias,
Já não consigo mais fechar meus olhos

E vago qual noctâmbulo sem eira.
Sem ter sequer alguém que ainda me queira...


9

Mereço o teu desejo se quiseres?
Mereço o teu carinho se vier?
Amar é um banquete em mil talheres
Para se desfrutar numa mulher.

Tu és o meu princípio, meio e fim,
Caminho que se em mesmo já se encerra,
Amando em plenitude tanto assim,
Maior amor nenhum em toda a terra.

Tu és a minha cura e meu remédio,
O vento, a tempestade, minuano,
Sem ti a morte sempre faz assédio,
Te quero desde sempre, amor temprano.

Sou servidor dileto de teus passos,
Meu canto predileto, nos teus braços...


10

Mereces toda dor sem ter nem tréguas
Herança dos teus erros tão freqüentes.
Amores são deveras delinqüentes,
E neles pensamentos voam léguas.

O látego que corta a tua pele
Penetra em tua carne e se aprofunda.
Uma alma sem parada, nauseabunda
Enquanto já seduz, nega e repele.

Perdoe se não podes me entender,
Sou quase um frágil tolo colibri
Que vive procurando algum prazer

Vagando rosa em rosa, sem canteiro.
Porém ao te saber eu conheci
Da amarga dionéia, cor e cheiro...
Marcos Loures


11

Mereces muito mais, eu te garanto
Que um velho diabético e banguela
Espere que irás ter rica baixela
Com toda mordomia em raro encanto.

Quando sobra um trocado almoço e janto,
A vida só dá chute na canela,
Quebrei a bicicleta e sem magrela
Não posso nem sair. Haja quebranto!

Meu carro, uma Brasília setenta oito,
Guardada na garagem. Sou afoito;
Partindo o meu nariz vivo sem grana.

Não posso mais molhar nem o biscoito,
A coisa está ficando deste jeito,
Por isso é bem melhor pensar direito....
Marcos Loures


12

Mereceria a chance que me deste
Talvez se houvesse enfim algum proveito,
Se tudo o que não tive já rejeito
A culpa é dos meus ermos, velha peste.

Não tendo quem abone nem ateste
Eu sigo a minha vida deste jeito,
Disfarço tanta angústia num trejeito,
Porém meu coração prossegue agreste.

A luta jamais pára, é tão ferrenha
Por mais que a fantasia ainda venha
No fundo estou cansado desta vida.

Tirando a gargalhada do bufão,
A sorte se perdeu sem direção
E a morte se mostrou digna saída...


13


Merece dias plenos, soberanos,
Aquele que se entrega sem perguntas,
Destinos superando os desenganos
Em almas que caminham sempre juntas.

Vencer os dissabores naturais
Que teimam e persistem em chegar,
Os olhos mais que fátuos, magistrais
Enveredando as tramas do luar.

Em plagas tão diversas, novas greis,
O templo dedicado ao deus amor.
Ignorando preceitos, tolas leis,
O cais se mostra ao bom navegador

Ancoradouro mágico e gentil,
Que há tempos nosso amor já descobriu...


14

Mentistes sobre o pão, negaste o vinho,
Vendeste este judeu crucificado,
Coroa que me deste, puro espinho,
No beijo traiçoeiro, o teu legado.

Mas não me deixe aqui, morro sozinho,
Eu necessito o riso escancarado
De quem se fez feroz em desalinho,
Mulher de brilho fácil és o meu fado.

Nas cinzas que me trazes, teus chicotes,
Na embriaguez sincera e comovida,
Minha alma; se inda existe, vai aos lotes

A cada nova esquina convertida
Nas mãos de quem açoita; o paraíso
Barganha em que me vendo sem aviso...
Marcos Loures


15

Mentiras, sedimentos de esperança?
Não creio que isso seja a solução,
Tampouco salvará. Sigo a lição
Do sonho que distância tanta alcança.

Enquanto este arvoredo ao longe dança,
Ao vento desvairado da paixão,
Acena-se ao final, rebelião,
E o que pensara firme já balança.

Destituindo antigas ditaduras
Formadas por carícias e torturas,
Fugindo deste déspota terrível.

Não quero mais excêntricas miragens,
Depois de tantas falsas garimpagens,
Jamais quero este fardo imprevisível...


16

Mentiras quando ao vento soltas são,
Neste furor intenso me transtornam.
Sabendo governar meu coração,
Excesso de cuidados logo entornam...

Insanas confianças nos futuros
Fortuitas ilusões que queimam tanto,
Os frutos deste amor se estão maduros,
Recordam das sementes outro tanto.

Semeio novas luzes no teu peito,
Cintilam meus cristais e diamantes,
Amor quando demais, amor perfeito
Embala nossos sonhos delirantes...

Que importa meu amor da vida o fel,
Se tramas nossa cama em doce mel...


17

Menina que me fez ser mais feliz,
Eu quero em cada toque mais audaz
Prazer que sempre, sempre, satisfaz
Promessas nesse amor que; louco, fiz.

Não quero mais a vida por um triz,
Apenas um desejo ameno, em paz.
A fome do querer, teu beijo traz,
Vontade se refaz e pede bis.

Sentir o vento manso da paixão
Tocando minha face, sem demora.
Querendo todo amor que já se aflora

Batendo em descompasso, o coração.
Teus lábios vão roçando meu pescoço,
Amor que a gente faz, puro colosso!
Marcos Loures


18

Menina que me deu certa esperança
De ter na vida lume e ver saída...
Versando por verdades, sem vingança,
A lida vinda pede nova vida...

Renovo meus amores- contradança
Meu leme não se parte na partida...
Confio nos meus fios sem fiança,
A mão que acaricia; concebida...

Menina que me nina nunca pára,
Não pare de trazer nova jornada.
Jornal que nunca lido se compara,

distante das sarjeta; bela estrada,
Amor sem sofrimento é coisa rara,
É jóia que se fez bem lapidada.


19

Menina que jamais morreu em ti,
Sonhando com mil mimos e carinhos.
Encontro e felizmente descobri
Que o amor perfaz em paz os seus caminhos.

Amor que tanto busco encontro aqui
Deitando no teu colo, belos ninhos
Que aos poucos inebriam, pois sorvi
Segredos e carícias, raros vinhos.

Na divindade expressa em ricos motes,
Com total sutileza, bem te quero.
Eu peço, já torcendo que me notes

E venha caminhar neste arrebol,
Abrindo o peito sinto que te espero
Pra juntos passearmos sob o sol...
Marcos Loures


20

Menina que embeleza a minha vida,
Por ti eu caminhei além do cais.
No brilho da manhã recém nascida,
Amor assim divino que se faz,

A dor quieta num canto, adormecida,
Bem sabe que não volta nunca mais.
Vai preparando a sua despedida,
Tomada pelo amor que a noite traz.

Tu és a minha sina, profundo amor,
Marcando com teus beijos, meu caminho.
Da boca; tão gostoso este sabor,

Que é feito delicado, de mansinho,
Do jeito que mais quero, tentador,
Coberto pela paz, pelo carinho....


21


Menina provocante e radiosa,
Eu gosto de sentir o teu perfume,
Perdoe minhas cenas de ciúme
Espinho que maltrata a bela rosa.

Seguindo a tua imagem tão formosa
Qual fora uma falena que no lume
Encontra o que procura; caprichosa
E morre no calor de tanto ardume.

Cardumes estrelares te perseguem,
Neste tropismo raro e fascinante,
Ao ver a criatura assim brilhante

São poucos os que tocam e conseguem
Saber da raridade deste encanto,
Por isso é que eu te amo tanto, tanto...


22


Menina o teu desejo é meu alento,
Mas este sonho eu sei que não mereço.
Deitar-me do teu lado... O pensamento
Voa... e vai me virando pelo avesso..

Sentir teu corpo aqui, no manso vento
Que vai me arrepiando... eu me enlouqueço.
Beijando-te querida, num momento
A vida se refaz em recomeço...

Sentir teus lábios quentes sobre mim,
Afagar teus cabelos tão revoltos,
Passar a minha vida toda assim...

Beber deste perfume gota a gota...
Meus sentimentos voam, estão soltos...
Nesta esperança imensa... mas remota...


23

Menina nunca mates a princesa
Que dorme no teu peito em ilusão.
Pois nela se encontrando tal beleza
Que assim perfumará teu coração.
Por mais que a vida traga uma incerteza
Por mais que tantas vezes ouça o não;

Não deixe que se morra esta esperança
De um dia ser feliz, pois tu mereces.
A vida carregada de lembranças
Nos sonhos mais divinos que tu teces
Revive em alegrias, as crianças
Refeitas nos carinhos e nas preces...

Não mates a princesa; por favor.
Pois traz nesta pureza o vero amor.


24

Menina não me perco em devaneios
Da moça que cheirosa é rosa e luz
Os dedos ao fazerem seus passeios
Prefere corpos juntos, porém nus.

Do quanto percorri divinos veios
O verso em ser complexo reproduz.
No fundo a transparência diz dos seios
Tornando bem mais leve minha cruz.

Enterro o sentimento neste rio
Que mesmo tão confuso, quero e crio,
Na foz que nunca veio nem virá.

Amiga em teu regaço, o meu descanso,
O quanto tanto quis e não alcanço
Expressa o que o meu sonho não me dá...
Marcos Loures


8125

Menina fecha os olhos, devaneios;
E sonha com seu príncipe encantado.
As mãos delicadas sobre os seios
Num movimento manso, alucinado...

Depois, vai mansamente e sem rodeios,
Em busca do caminho tão sonhado,
Procura, num segundo os outros meios,
Prazer que tantas vezes foi pecado...

Menina vai se abrindo, sem segredos,
Os olhos revirando. Uma loucura...
Delícias desbravadas pelos dedos,

O príncipe chegando, devagar...
Num gesto de carinho e de ternura,
No delírio, começa a galopar...



8126


Menina de programa, bela puta
Que ronda em minha cama, bem safada,
Aluga por momento cada gruta
Topando sem temer qualquer parada.

Pagando este boquete inesquecível,
Fudendo com vontade e com tesão,
Seu cu, sua buceta, foda incrível,
Na minha cama vira um furacão.

Trepando a noite inteira, não se cansa,
Com um, com dois, com três adora sexo,
Orgasmos sem limites sempre alcança.

Lambendo uma buceta, dando o cu,
Engole tanto o côncavo e o convexo,
Vem logo minha puta, eu já tô nu!


27

Menina como é bom poder tocar
A pele tão macia, carne dura.
Sentir de tua boca o paladar
Em nossa noite plena de ternura...

Estrela tão distante, estás aqui
Eu sinto o teu perfume por inteiro,
Amor tão delicado encontro em ti,
Deitada neste mesmo travesseiro...

Menina teu sorriso de sapeca,
Brincando com palavras me seduz...
Guria, minha prenda, uma boneca,

Irradiando bela fêmea, luz...
Tu és tão sedutora quando quer,
Menina desejada, uma mulher...
Marcos Loures


28

Menina cada mimo que me fazes
Dizendo deste sonho que nos chama,
Enquanto a lua muda suas fases
O amor que nos domina em forte chama

Não deixa que a tristeza se aproxime,
Brincando com cometas, sigo os rastros
Que deixas quando passas tão sublime,
Saltando sobre belos, vários astros.

Sentindo o teu perfume, vou além,
Pois trazes um jardim dentro do peito
Doçura que em teus lábios sei que tem
Deixando um sonhador tão satisfeito

Teu corpo delicado, nos teus seios,
Delírios em trejeitos e meneios...
Marcos Loures


29




Menina bem sapeca na pracinha,
Deixando suas pernas entreabertas
Meus olhos vão buscando em descobertas
Beleza que se mostra sem calcinha.

Macias suas coxas, peludinha,
Gostosa de se ver, olhos alertas,
Queria bem debaixo das cobertas,
Brincando em sacanagens, vem marcinha...

Eu quero te sentir línguas e bocas
Tocadas, bem safadas sem juízo.
Rondando e penetrando tuas tocas

Fazendo desta noite inesquecível,
Sentindo bem maroto o teu sorriso,
Amor que a gente faz, sempre é incrível.


30

Menina bela flor dos meus enganos...
Tu sabes quanto eu quero o teu carinho.
Vivendo neste mundo sem ter planos,
Sonhara a vida inteira ser sozinho.

Chegaste, te chamei, vieste rindo,
Agora o que farei menina flor?
Sorriso tão feliz, contente e lindo
Tomando o coração em pleno amor...

Levar-te para a casa? Ser só teu...
Nos teus olhos fechados, ilusões...
Quem teve nesta vida amor ateu
Marcado pelas dores das paixões...

Se me entregar assim, prá sempre morro,
Se te deixar partir, cadê socorro?


31


Menina amada eu quero estar contigo
Em todos os momentos que puder,
Sabendo da menina esta mulher
Divina que desejo e que persigo.

Um sonho em maravilha em que eu consigo
Ter toda uma alegria em bem querer,
Decerto em tantas brilhos, o prazer
Encontra nos teus braços raro abrigo.

Menina, ao me ninares, acalanto
Amada sensação de ser feliz.
Ouvindo em tua voz um belo canto

Querendo sempre assim, pedindo bis
Da boca que extasia intensamente
No amor que enfim chegou, completamente!


32

Menina adormecida na calçada,
Os cães lambendo boca, corpo e cara...
A noite transtornada vem gelada,
Promete novo açoite, ninguém pára,

Apenas observando a velha gralha,
Rapineira feroz, gralha faminta...
O bico está moldado qual navalha,
O sangue devorado, bela tinta...

O povo adormecido, qual menino,
Pressente quão voraz é tal rapina,
Com medo, prometendo um desatino,

Espelha-se na face da menina...
Essa gralha expectante em vão crocita..
O povo apavorado sabe e grita!
Marcos Loures


33

Menina a tua saia me fascina
Perebas que tu coças? Maravilha!
Quem dera ser a pulga pequenina
Fazendo nestas coxas minha trilha.

Chegando sorrateiro descortina
Alagamento abunda na vasilha
Bebendo cada gota da vagina
Atino e desatino, barco e quilha.

Um dedo gigantesco já me agarra
Espreme e num momento acaba a farra,
Morrendo em alegria inusitada,

Ao menos adentrei em rara rota,
Formidável mulher, bela xoxota
Agora com pulguinha destroçada...
Marcos Loures


34

Mendigo alguma chance pra poder
Decifrar sonhos tolos que inda trago,
Quem dera conhecer algum afago
Murmúrios inaudíveis do querer.

Alhures ou aqui; cadê prazer?
No mar que transformei em simples lago,
Eu bebo da emoção; mas não sei mago,
Adaga eu esqueci; pode bater.

Carente dos cardumes da esperança
Enfados rituais; lugar comum,
Quisera pelo menos ter algum,

Residual fornalha diz lembrança.
E quando me incendeio; um cadafalso
Expressa este universo vão e falso...


35

Memórias de outros tempos, gloriosas,
Aos poucos meu caminho vão mudando,
Espalham mil canteiros, belas rosas,
E as dores com certeza, devastando,

As horas ao teu lado, valorosas,
Do medo de viver me libertando
Encaro estradas sempre caprichosas
Meu canto a cada canto retumbando

Eternamente sei que irei amar-te,
Vivendo a plenitude em qualquer parte.
O tempo de viver é soberano.

Fazendo deste amor uma colheita
A sorte em berço esplêndido se deita:
coração lateja em sonho insano.
Marcos Loures


36

Memória, crudelíssimo carrasco,
Termômetro de quantos vendavais...
História, vai girando seu fiasco,
Num tom sobre tom, marca, contrafaz...

Colibri, pirilampo tento e masco,
Sonoridades sépias, nunca mais...
No paralelepípedo, meu casco.
E, vergonhosamente, tudo trais...

Beija-me muito! Quero contra-sensos,
Ascender aos celestes magazines...
Meus sábados, domingos são imensos...

Na praça, atenção: meus velhos cines
Passarão mesmo filme, meus incensos.
Não há tino, nem cetro: Desatines!


37

Memória tantas vezes cuidadosa
Olvida num momento a dor imensa,
Deixando uma alegria em recompensa
Tal qual a vida fosse pura rosa.

A luz supera a noite tenebrosa
Quem sabe tal saudade inda convença
Ao esquecer decerto, cada ofensa,
A vida nos ressurja; maviosa.

Assim nós poderemos refazer
Embora sobre um pântano, essa casa
Marcada pela dor e por prazer,

Mais forte do que a treva é a forte brasa
Que mesmo sendo fátua, ressurgiu
Tornando a cusparada mais gentil.

Marcos Loures


38

Melódica manhã sem manha e sol
Sombria cascavel prepara o bote.
Do mel que se lambuza quebra o pote
E arrisca qualquer coisa em besteirol.

Não vendo nem a sombra em arrebol
Esquece deste efeito – o tal rebote.
Se sabe ou não sabe deste mote
Ilustra a solidão de algum farol

Perdido num atol no fim do mundo,
Carcaça que caminha sem destino,
O manto que recobre sendo imundo

Corsária vai vagando solta ao léu.
O sol que inda pensara estar a pino
Há muito se afastou daquele céu.



39

Melífera poesia? Não terás;
Meu verso é feito um fio de navalha
Que corta ao mesmo tempo em que batalha
Tirando da alegria, rumo e paz.

Se amor em fantasia satisfaz,
No fundo eu preferia esta bandalha
Da moça que rebola e que avacalha
Enquanto sem juízo, for capaz.

No fundo o que queremos é só sexo,
Por mais que seja simples ou complexo
A gente quer delícias em lençóis.

Desculpe se te falo sem rodeios,
Desejo tuas pernas, coxas seios,
Bem antes no durante e mesmo após...
Marcos Loures


40

Melífera paisagem? Não mais creio,
O tempo traz ditames que ora eu ouço,
O amor gerando assim tal calabouço,
O quase se mostrando mais alheio.

Fogueira da ilusão; já não ateio,
Mergulho neste abismo, ganho o fosso,
E quando em noite escura, sei que posso
Fingir que cevei trigo, até centeio.

Aderna-se ao final a embarcação,
Sem rumo, peço bússola e não tem.
Do velho eu aprendi que precaução

Permite a caminha mais tranqüila,
Mas teimo em prosseguir assim, porém
Eu sei deste temor que alma destila.


41

Melhor ser solitário que ser farto,
Aparto os meus demônios; mato igrejas
Jazendo cada gozo que desejas
Os passos entre fúrias já descarto.

É preciso uma reforma; um novo parto,
Gulosas confrarias tão sobejas
Distante do que sonhas e tracejas,
Gracejos de cristãos ora descarto.

Não bastaria a Cruz, pobre cordeiro.
Fizeram de teu Lar podre puteiro,
Milagres a granel, hipocrisia.

Disputas entre velhas meretrizes
Esquecem e renegam o que dizes
Tomando conta; assim, da portaria...


42

Melhor que um beijo só pão com meleca,
Dizia meu amigo Igor Areas
Por isso é que me perco em tuas teias,
Não vou deixar cair, juro, a peteca.

Mulher- a preferida? A mais sapeca,
Beleza é o que se esconde sob as meias.
Depois a gente rola nas areias
Quem faz amor, decerto nunca peca.

Meu beijo com certeza açucarado,
- Diabetes não anda controlado-
Ligando em cima esquenta ali por baixo

Depois é só correr para a galera,
Quem sabe fazendo hora, não espera
Vem logo que tu gostas quando encaixo...
Marcos Loures


43

Melancólica noite... Lara partiu...
Tantos copos vazios neste bar!
Minha boca amargando esse luar!
Onde estás Lara? Nunca mais se viu!

Dia seguinte, céu bem claro, anil...
Nem rastros conseguiu, por fim, deixar...
Restando-me somente procurar...
Amor que se vai, tudo mata, vil...

Mas não quero teus olhos sem paixão!
Não quero tua boca sem mordê-la
Não posso conceber um coração

Sem força violenta p’ra bater...
Não posso perceber sequer estrela
Cadente, no meu céu desfalecer...
Marcos Loures


44

Melancolia invade, toma tudo...
Tristeza do que fui e não sabia,
Nas janelas o vento... Fico mudo,
Esperando nascer um outro dia...

Em várias tempestades, sei, contudo,
Nada me sobrará, nem fantasia...
Nada me restará, nunca me iludo...
O que posso fazer? Melancolia...

Meus cigarros consumo sem descanso...
O câncer alimento das saudades...
O final desta farsa vem tão manso...

Os meus olhos cansados, sem remanso,
Não sabem distinguir nem claridades...
Morrer, morrer, prazer final, avanço...


45



Menina tão bonita, quero um beijo
Da boca mais gostosa que já vi,
Fazendo deste sonho o meu desejo,
Quem dera se estivesse, amor, aí.
É tudo nesse mundo que eu almejo,
Meu pensamento chega até a ti.

Estar te acarinhando, mansamente,
Fazendo cafuné, te ter no colo...
Amor desse jeitinho que é o da gente
Na rua, na fazenda, sonho e solo,
Saber quanto é gostoso, de repente
Teu braço em que me entrego e me consolo...

Morena, vem comigo namorar,
Pela janela aberta, entra o luar...


46

Menina se te nina a lua mansa,
Deitando sobre ti, velhos desejos
A fúria da vontade nos alcança
Aproveitando em festa tais ensejos.

De amor e de carinho enchendo a pança
A boca saliente em seus traquejos,
Procura sem fronteiras, vira lança
E invade os Paraísos sem ter pejos.

Ao cerne da questão, carne desnuda,
Depois é um Deus nos salve e nos acuda,
Juntando corpo e corpo, sacro grude.

Eu posso até morrer que vou feliz,
Só peço que me dês chance de bis
Antes que a tua idéia, logo mude...
Marcos Loures


47

Menina quero ter tua boleta
Sentir esta umidade num rocio.
Tocando para ti minha corneta
Percebo esta delícia feita em pio.

Beijando a tua cana meladinha,
Percebo que tu queres um pouquinho,
A bruta desenhada é toda minha,
Prometo que vou só bem de mansinho.

Podendo com vontade e com telão
Até que venha a borra que tu queres,
Cascalho vou colando neste chão,
Do jeito e da maneira que quiseres.

Na grelha minha língua se queimando
Boleta mais perfeita me mostrando...

Marcos Loures


48


Menina que se faz de pura e santa,
Na hora mais gostosa fecha as pernas,
A sede de te ter; querida, é tanta,
As tuas carnes todas, belas, ternas.

As mãos que se passeiam, bocas idem,
Encontro em tua fenda uma porteira.
Aqueles que não sabem; que duvidem,
Pois sei que ela não dá mesmo bandeira...

Mas sorve, engole tudo e quer de novo,
Atrás já me permite um bom carinho.
Esqueça o que disser o tolo povo,
Não vamos só ficar neste sarrinho.

Menina se faz pura donzela,
A fera em nosso caso: claro que é ela.


49

Menina que ninando cada sonho
Trouxe-me essa alegria já sem par,
Meu mar; aonde embarco e sempre ponho
Delícias que encontrei na preamar

Mil cordilheiras, venho e assim transponho
Neste horizonte lindo de mirar,
Encontro um arquipélago risonho
Espelhos refletindo o teu olhar.

Um céu caleidoscópico recebe
Alucinadamente cada brilho
Que emana-se em teu corpo em cada sebe

Por onde passaremos sonho e verso.
Que nada se transforme em empecilho
Ao claro amor, maior deste universo...
Marcos Loures


8150

Menina que mulher desejo tanto,
Beijar-te impunemente e te tomar
Serena em meus anseios. Teu encanto
Recebo como vontade de gritar,

Sangrar nossos desejos sem espanto,
Rolando em nossa chama, flamejar.
Vibrando com potência esse meu canto
E logo, descobrir onde te achar.

Sentindo o teu perfume delicado
Nas ânsias da mulher que se promete.
Amar-te com furor, extasiado...

Em arrepios fartos, alvoroço,
O teu corpo aos meus lábios se arremete,
Beijando, mansamente o teu pescoço...


51

Menina que me nina com seus versos,
Mostrando a doce mina em que se emana
A luz que seja bela e soberana
Deixando para trás dias perversos,

Colhendo os meus retalhos que, dispersos,
Impedem com certeza força e gana,
Moldura que se tece e desengana,
Motivos para a morte são diversos.

Porém contemporizas meus temores,
E mostras com ternura outros alvores
Apaziguando enfim, o meu corcel

Que vaga por estrelas sem destino,
Tu sabes que, menina, em desatino
O dia-a-dia arranca cada véu...
Marcos Loures


52

Medo tanto
Cedo e sigo
No meu canto
Sem abrigo

Desencanto
No perigo.
Uso o manto
Mais antigo

Levo o riso
De quem sei
Paraíso

Que busquei.
Se preciso,
Voltarei...


53

Medonha garatuja caricata
Medonha garatuja caricata
Demonstra esta sombria noite imersa
Em dura tempestade que maltrata
Tornando a fantasia mais dispersa.

Na bêbada impressão que inda nos ata,
Dos sonhos, dos amores, tão diversa,
Nos bares, suas mesas, desbarata
Centralizando assim, cada conversa.

Matei as fantasias, nada mais.
E quando expus aqui meu pensamento,
Dos versos que julgavas tão banais

O fogo em explosão, duro lamento
Rompendo as ribanceiras, ledas margens
Expressam fielmente m’as paisagens...
Marcos Loures


54



Medonhas confidências fiz à lua,
A velha prostituta dos amantes,
Bebendo do meu copo, exposta e nua,
Permite-se ao desfrute das bacantes.

Orgástica e tão plena já flutua
Sangrando as ilusões mais delirantes.
Reflexos desta dama sobre a rua
Enganos falsificam diamantes.

Meus espermatozóides sem proveito,
Jogados nas latrinas da esperança.
Rolando, vou sozinho em velho leito

Arcando com meus erros. Grito amor,
Apenas o vazio inda me alcança
Lançando meus prazeres ao terror...



55



Mefisto se mostrando mais audaz
Ao permitir teu riso, seio exposto
Fartura de desejos sempre traz
Um vômito jogado no meu rosto.

Não quero ser cativo ou capataz
Nem quero disfarçar em pleno agosto
Calor que sei jamais inverno traz.
Mas deixo o meu recado e já me encosto

Nos ombros desta bela meretriz,
Escancaradamente apaixonado
No podre de teus lábios sou feliz.

E venço a madrugada em pleno esgoto,
No corpo quase morto, abandonado,
Jogado pelas ruas, boquirroto...
Marcos Loures


56


Melancolia à postos, não me resta
Sequer algum motivo pra sonhar.
Se o jeito é derrubar cada floresta
Tentando usufruir pleno luar,

Prefiro a solidão que a vida gesta,
Matando pouco a pouco, devagar,
Deixando a luz entrar mínima fresta,
Com toda a gratidão a pratear.

Porém eu não pranteio este passado,
Nem mesmo irei buscar algo de novo,
Do sangue que escorreu do nosso povo

Na luta pelo sol anunciado,
Eu vejo que valeu cada batalha,
Embora a mão feroz; inda retalha...


57

Medo preso e sombrio pede vento;
Quem passeia na vida é solitário
Escapando demente desse tormento
De todo nosso amor imaginário.

Se não puder viver cada momento
Buscarei por caminhos qual templário,
Na esperança real sem sofrimento
De reviver a paz, livre canário...

Olhos presos,medrosos perdem tempo
Buscando no atroz fogo da tempestade
A brisa que jamais vem... Contratempo...

Odeias as verdades que não digo,
Te trazem as relíquias da saudade.
Meu amor renovando o teu, antigo...


58

Medida desse amor tão sem medidas
Não cabem nestas roupas que não vestes,
Penetro tuas tocas distraídas
E adoro esse desejo que revestes...

Loucura se inteirando na loucura
Sem meias, cintas-ligas ou prisões,
A mão que teu prazer, tonta, procura,
Encontra a cachoeira em borbotões...

Medidas que proponho em nossa chama
Ardendo maviosa no delírio,
Queimando nosso amor, que tudo inflama,
Nas dores e prazeres, bom martírio...

Invado tuas praias, me incendeia,
Me afogo no teu mar, na maré cheia...


59

Medalha prateada no meu peito
Dizendo dos balaços e dos medos.
No pátio dos desejos meus segredos
E morro totalmente insatisfeito.

Profetas vão errantes, podre leito,
Dentadas nos olhares, desenredos,
Montanhas renascidas de penedos
Espetam minhas costas quando deito.

Uma estrela sem brilho adentra o quarto,
Marasmos modificam sonho e parto
Presentes os desígnios do passado

E o cardo acalentado na janela,
O salto suicida se revela
No beijo da pantera malfadado...


8160

Mecônios que carrego dentro da alma,
Nefastas procissões de querubins,
Veneno que espalhaste nos jardins,
Os fins não justificam velho trauma.

A mão que sobre o túmulo se espalma
Rastejas entre pedras e capins,
Verdugo da emoção, noites afins,
Nem mesmo a faca em riste, ora me acalma.

Inata sensação do nada-ser,
Carcaças carcomidas pelo tempo.
Se eu tento, proliferas contratempo

É vasto este arsenal que tu carregas,
Esgares entre máscaras, poder.
Avinagrando enfim, minhas adegas...



61

Mecânico que segue para Meca
Mercante que se entende por bacante
Antanho nada disse da moleca
Que beija sem pudor a cada instante.

Um velho vai tocando uma rebeca
Falácia em felação diz sua amante.
Não deixando cair esta peteca
A moça com sorriso faiscante.

Metódico não diz do dom erótico
Roçando devagar divino pórtico
Amor que eu não queria tão melódico

Tampouco que isso fosse assim exótico
O gozo do prazer sulino ou nórdico
Não pode ser jamais frio estrambótico...
Marcos Loures


62

Mecânica expressão que se repete
Confetes esquecidos no meu terno,
Os olhos vãos, a vida não compete
E ao mesmo tempo tento ser eterno.

Não quero nem percebo alguma enquete
Que possa traduzir um vento terno,
Amor, mal concebi, vi a maquete,
E dela traduzi perfeito inferno.

Se sigo moribundo e tão sombrio
Persigo cada rastro que deixei,
Depois do mesmo nada, o nada eu crio

Vazio se tornando minha grei.
Se eu sei ou se seria simples vão
Mais forte e temerário, o coração...
Marcos Loures


63

Desfilo um emaranhado de vontades
Ardentes fogaréus sem recompensa.
Assisto ao desfilar atrás das grades
À fantasia; alma seguiu propensa.
A moça tinha raras qualidades,
Fortuna em possuí-la? Foi imensa.

As coxas mais roliças e gostosas,
Na fúria inesgotável dos quadris
As noites sempre são maravilhosas;
Sorrisos generosos e gentis,
As mãos sem ter limite, audaciosas,
Fizeram-me decerto mais feliz...

Porém escravizada pela estética,
A sílfide desfila hoje, caquética...



64

Me trouxeste calor, embora fraco...
Gaiolas me recordam passarinho.
Da vida não terei sequer um naco,
Meu canto terminei, irei sozinho...

Nas noites que varei festejo Baco,
No fim de tudo, perco meu caminho.
Da fortaleza imensa, sobrou caco.
Meus olhos aves, procurando um ninho...

Do calor que trouxeste resta a neve.
Amor que não vivemos, morre breve,
Sentimos nossos passos tão cansados...

As noites se encharcaram, pesadelos...
Erramos, tropeçamos nos novelos
Envoltos pelos mantos esgarçados...
Marcos Loures


65

Me tesas, me deixando em fogo e brasa,
Acendes a fogueira, bem vadia.
Fazendo do teu corpo a minha casa,
Fudendo sem parar, é noite e dia.

É tanta sacanagem, putaria,
Boquetes, siriricas e punhetas
Que envolvem em loucuras e magia,
Caralho, rabo, cu, seios buceta.

Misturas de teus gozos com o meu
Teu grelo mais sedento pede mais,
Mesmo ardendo de tanto que fudeu,
A língua vou roçando no teu cais,

Tu pedes minha porra, e dás teu mel,
E tudo recomeça em carrossel...
Marcos Loures


66

Me sinto um dinossauro, meu amigo,
“ Perdoe o galicismo, mas me entenda”
Que enquanto a poesia traz a tenda
A vida me promete o desabrigo.

Se gostas ou não gostas eu nem ligo,
A vida tal segredo não desvenda,
Talvez ao fim da vida alguma prenda,
Mas juro que este sonho eu não persigo.

Fazendo do soneto, arma antiquada,
Espada em minha mão desembainhada
Banhando-me nas águas do passado,

Eu ergo o meu olhar para anteontem,
Os dedos sem ter onde ainda apontem
Libertam coração velho enjaulado...
Marcos Loures


67

Me sinto frágil, ágil, imbecil.
Impropérios, carinhos que me dizes...
Na certa, pensará: fomos felizes,
Amor, quando inconstante, é muito vil...

Não tentes enganar, não sou servil,
Descoramos portanto esses matizes...
Fui perdido ,perdi, cacei perdizes,
Nas ondas que perdemos, dor pariu...

Caçoas dos meus versos, sou estúpido,
Não quero mais sorver, nem restar cúpido...
Apenas navegar, pois é preciso...

As bocas escancaras, nada sinto...
Embriaguez igual, só com absinto,
Nem venha sugerir que dramatizo!
Marcos Loures


68


Me recordo, criança temerária;
Acácias no jardim da minha casa...
A dor dessa saudade; vem, arrasa
Quem fora, um dia, vida libertária.

A saudade voando, procelária,
Me traz a sensação cruel da brasa;
O trem da juventude, já s’atrasa,
Deixando tão somente essa cor vária.

Nas flores tão singelas dessa acácia,
Seus cachos amarelos, na fáscia
Dos sentimentos, cortam, fundo talho...

Quem soube de meus dias, já se vai.
A tarde d’existência, triste, cai...
Sobrando do meu mundo, um só retalho...

(Saudades das acácias que perdi,
Quando era tão feliz, por ser criança,
As acácias não saem da lembrança;
São marcas desse tempo que vivi!)

69


Me prendendo nos teus braços
Eu não quero liberdade
Esquecendo os meus espaços
Na prisão, felicidade!

Meu amor, estreitos laços
Já me traz sinceridade.
Tropeçando nos meus passos,
Dos teus braços, que saudade!

Minha amada toda a vida,
Procurei por um carinho,
Que bom te encontrar; querida!

Teu amor já me consola,
Deixa eu ser um passarinho
Preso na tua gaiola!



8170

Me permitam voar, asas abertas
Que sustentam meus sonhos, culminâncias...
Os mundos invisíveis, seus alertas,
Espreitam por conquistas, discrepâncias...

As expressões diversas, incompletas,
Navegam seus primores, as infâncias
Dos sonhos que perdi, as minhas metas...
Não pude resistir a tais ganâncias.

Benditos os que sofrem, regozijam,
As dores que não pecam nem deturpam...
Dos templos, predadores nos alijam;

Nos levam por fantásticos porões.
As mãos mais caridosas nos conspurcam,
As garras aprofundam solidões...
Marcos Loures


71

Me pego perguntando aonde vais
Bem sei que não possuo esse direito.
De tanto que tentei um novo cais,
Inquieto, em tempestade, insatisfeito...

As noites que escapava, na surdina,
Tramando uma esperança que não vinha...
Rompendo a madrugada, dura sina.
A sorte se mostrava má vizinha.

Marcado pelo medo da saudade,
Em volta com a dura solidão.
O medo de perder a liberdade,
Envolto na penumbra da paixão...

Só resta no meu peito esta certeza,
Saber que tanto amei a ti, princesa...


72

Me lembro não somente deste beijo
Que foi nosso primeiro, inesquecível.
Ao ver o meu passado te revejo,
Sinto o mesmo desejo, forte, incrível...

Mais que isso, meu amor, eu não me esqueço
Além do nosso beijo, tão querido,
O toque em tuas mãos, nosso começo,
Que sinto, assim, viver longe do olvido.

Teu cheiro, teu perfume delicado,
O vento que trazia uma esperança
De conhecer o amor, extasiado,
Nada disso me sai da lembrança...

Interessante, gosto de lembrar,
Nosso primeiro beijo? Com o olhar!


73


Me lembro da presença delicada,
Tão mansa mas perfeita em sintonia
Daquela que com mãos de seda e fada
Aos poucos me domava em alegria...

Faz tempo que desejo, mãe amada,
Cantar nestes meus versos, poesia
À ti, mulher querida e dedicada,
Amiga e companheira, dia a dia...

Te sinto, mesmo longe, aqui tão perto,
Amor igual ao teu não recebi,
Estás em cada dia em que desperto

No sol que no meu mundo descortino,
Beleza sem igual encontro em ti,
Minha querida Osília Mannarino!


74

Me lembro da balada que tocava
No dia mais feliz de minha vida,
Te juro que eu jamais imaginava
Que a sorte que eu julgava já perdida

Pudesse, na balada me trazer
Uma esperança toda renovada
Dizendo: na alegria volte a crer,
Escute tão somente esta balada...

Meu coração defronte ao peito teu
Trespassados na mesma direção
Por esta seta que Eros concebeu
No fervilhar intenso da paixão...

Neste total eclipse uma emoção,
Juntando em nossos dois, um coração!


8175


Me esqueceste... Perfazes meus caminhos...
Nas tuas vestes, fogo... Covardia...
Nas marcas que deixaste, teus carinhos,
Nas horas que passamos, melodia...

Os rastros que percorro são daninhos,
Me transportam da noite para o dia...
Não me queres, jamais quis outros ninhos,
Uma noite somente bastaria...


Ah Morena, mendigo teus mistérios!
Amores que perdi, pedem critérios,
Perigosa tigresa me naufragas...

Não quero cultivar dores nem mágoas!
Dominaste meus palácios dos desejos...
As flores que colhi, foram teus beijos!
Marcos Loures


76


Me fizeste mais voraz
Nas cordas deste meu pinho...
A porta aberta mordaz
Na morte certa, sozinho...

Instigo mas incapaz
Tanto sangue, tinto vinho!
No teu norte peço paz
Sou vasto, pequenininho!

As hóstias que me negaste
Nesse divórcio que tive
Cicatrizes, me marcaste.

Sou gado, vivo sem cerca;
Não há força que me prive
Nem distância que se perca!
Marcos Loures



77

Melancolia à vista, sonho a prazo
Desprezo o que somei e não carrego,
Se em meio a tempestades eu navego,
Decerto com mentiras disso aprazo.

Chegaste, minha amiga, com atraso
Ainda não fiquei, de todo, cego,
Não faço nem metade do que prego,
Porém não quero além de um tolo ocaso.

Gracejos entre goles, gargalhadas,
Palavras sem sentidos espalhadas
Olhando sorrateiro, em nada creio.

Parado em qualquer canto de uma praça,
Quem só sobreviveu e o fim abraça,
Espreita de tocaia, vago, alheio...
Marcos Loures


78

Me diz a minha lua entrelaçada
Nos braços da sutil enamorante
Que tudo que passei não deu em nada,
Que a vida recomeça d’ora em diante...

O peso que carrego na lombada,
É peso que me aflige, sou farsante,
O medo de romper a madrugada,
Adormecido ao lado da tratante...

A lua se entrelaça com cometas,
Deitada se mostrou ninfomaníaca.
Deslumbra-se com sátiros, ninfetas,

As pernas se misturam, brancas, pretas,
A lua dá risada demoníaca.
Se abrindo dadivosa, tetas, gretas...
Marcos Loures


79


Me disseste insincera que não quer;
Concebo tantas formas , seu estilo...
Não me dizes jamais coisa qualquer,
Lágrimas que choraste, crocodilo...

Agora que me dizes teu affaire,
Nas luzes que brilhas não rutilo...
Os teus fascínios vários de mulher,
Resplandecem, deixando-me intranqüilo...

Nas horas que te quis, não me querias...
Agora simulando novo amor,
Pensavas aquecer t’as noites frias,

Na cama desse pobre trovador!
As mentiras sinceras que causei,
Fortuitas, não garantem que te amei!
Marcos Loures


8180

Me deste teu colostro, juventude...
Teus sonhos foram belas fantasias..
Vivendo tanto amor na plenitude
Cordões umbilicais nem percebias...

Amantes joviais, tal amplitude,
Nos trouxe verdadeiras poesias...
Irei amar-te assim, muito e amiúde,
Nossos momentos: lúdicos, os dias...

Fomos principiantes, mas distantes...
As bocas se entreabriam, doce beijo...
Os medos e delírios inconstantes...

Na farsa que perdemos, fomos trágicos...
As mãos não traduziam os desejos.
Nossos amores: tímidos mas mágicos!
Marcos Loures


81

Me curvo assim defront'ao sentimento
Que invade minha vida e não me cansa.
Amor passou a ser o movimento
Mais alto que meu sonho sempre alcança.

Teus belos seios, deusa que me encanta,
Teus belos olhos, dona dos meus dias.
Tanta certeza sempre me agiganta
E faz das minhas noites, alegrias...

Eu sinto teu perfume, minha amada,
Eu sinto teu carinho, tão sublime.
Depois de tanto tempo sem ter nada.
Amar passou a ser tudo que estime...

Eu quero teu azul neste meu céu,
À noite descobrir todo teu véu...


8182


Melancolia é coisa passageira
Quando se tem ao menos fantasia.
A sorte se mostrando a mensageira
De quem bebe dos sonhos, poesia.

Espero que em teus braços, companheira
A vida se refaça a cada dia,
Além do que a tristeza ainda queira
A luz que tu me trazes, também guia.

E tento sem disfarces nem temores,
Viver a plenitude da amizade
Deixando para trás quaisquer rancores

Unindo os sentimentos, nada temas.
Vencendo a fria treva, a claridade
Permite que se rompam tais algemas...
Marcos Loures


83


Me bastaria estar contigo, amor
Mais uma noite. Na canção que sonho,
Ouvindo vozes tão suaves, ponho
Meu mundo, trago essas saudades... Flor

Que sempre trouxe seus espinhos, dor...
Mas quando vejo esse luar, tristonho;
Brusco me calo, esse lugar medonho,
Não poderá mais prosseguir. Condor

Atravessando cordilheiras, Andes...
Bem que tentei, não consegui nada antes...
Espero pelo melhor, vivo só...

Me deixas luto, mas, perder não sei...
Quem sabe tenho o que jamais sonhei;
Quem sabe então, eu voltarei ao pó...


8184

Me acumulaste sempre em tanto amor
Que trago este rosário de esperanças.
Sabendo de teu riso sedutor
Amiga me conduzo em tuas danças.

Nas águas destes rios, leves, mansas.
Certezas deste mar encantador.
Distante de guerrilhas, medos, lanças,
Na profusão intensa em bom calor.

Amiga, não me farto de teus dedos
Beatos, carinhosos e felizes.
Amores, amizades, teus segredos,

Na cura de tais males, cicatrizes.
Ilusões por certo mais presentes,
No amor em que vivemos, somos gentes...

2 comentários:

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