sábado, 30 de outubro de 2010

15000 a 15100

1

Sonhos de ilha deserta no Pacífico.
Viver sem ter nem tempo pra pensar,
Lavrando a fantasia em pleno mar
Delírios de um desejo tão magnífico.

Por mais que isso pareça um sonho típico
De quem nunca se cansa de busca
Beleza e maravilha, sol, luar,
Conosco é singular, quase específico.

Depois dos vendavais, esta bonança,
Há tempos desejada, vejo enfim,
E ao menos a poesia quer e alcança.

Não deixaremos rastros nem pegadas,
Anúncios deste encanto, querubim,
Nas asas libertárias, deuses, Fadas...
Marcos Loures


2

Sonhos de amor, delícias sensuais,
Palavras e vontades que se tocam.
Querendo de teu corpo sempre mais,
Meus olhos em desejos já se alocam
E buscam neste Porto um belo cais,
Voando em liberdade se deslocam

Atravessam os mares, vão além.
Beijando a tua boca, poesia.
Encontram nos teus braços doce bem
Que tantas vezes, juro, assim queria.
O vento em fantasia sempre vem,
Trazendo em cada verso esta alegria

Que mostra a liberdade em pensamento,
Beijando a tua boca, o manso vento...
Marcos Loures


3

Sonhos de amor, delícias sensuais,
Palavras e vontades que se tocam.
Querendo de teu corpo sempre mais,
Meus olhos em desejos já se alocam
E buscam neste Porto um belo cais,
Voando em liberdade se deslocam

Atravessam os mares, vão além.
Beijando a tua boca, poesia.
Encontram nos teus braços doce bem
Que tantas vezes, juro, assim queria.
O vento em fantasia sempre vem,
Trazendo em cada verso esta alegria

Que mostra a liberdade em pensamento,
Beijando a tua boca, o manso vento...
Marcos Loures


4


Sonho terrível, sangue e podridão!
Nas ruas vermes loucos e famintos
Devoram, não permitem solução,
A noite e seu fantasma aperta os cintos,

Forte vento em total destruição
Os olhos marejados morrem tintos,
Toda terra, efeméride vulcão,
Destroçada, resquícios indistintos...

Sobre mar flamejante vejo um vulto
Caminhando, flutua simplesmente...
A voz distante, quase não ausculto...

Neste mesmo momento, um manso brado...
O sonho se desaba num instante
Olhos abertos, vejo-te ao meu lado...
Marcos Loures


5


Sonho que, soberano e tão suave
Durando minha vida não refaço.
Espero que vagueie minha nave
Em toda imensidão do teu espaço.

Na grota das esperas sem futuro,
Revivo cada gota do perdão
Que parco, sem saber, saltando o muro,
Desaba e já desanca o coração.

Mostrando os velhos dentes que não mordem,
A corda que prendia, se arrebenta...
As garras que me cravas não mais ardem,
Apenas nossas mágoas, água benta.

Eu vejo teu sorriso mais ditoso
Nas horas que vivemos franco gozo...



6

Sonho meu; libertário pensamento,
Trazendo quem já foi e vai voltar.
Distante dos teus olhos, sofrimento,
A vida me ensinou a te adorar.

Saudades deste corpo, num momento,
Estrela que me guia a demonstrar
A força da emoção em manso vento,
Embalando o meu sonho. É bom te amar.

Permita que eu te toque, sonho meu,
Beijar a tua boca, te sentir.
Mudando num segundo o que há por vir.

Beleza que o amor já concebeu
Nos braços generosos da morena,
A liberdade plena toma a cena....



7


Sonho medieval trazendo Lara,
Estranhos cavaleiros, armaduras...
A pele alabastrina, lua clara,
Nossas noites imersas, tão escuras...

Anéis e diamantes, jóia rara,
Auréolas divinais, vitais ternuras.
Vitrais e catedrais, vida tão cara,
Redomas virginais, fatais loucuras!

A mansa sobremesa não regala,
Mortalhas dos sentidos vão submersas.
Nos pássaros canoros luta e gala.

O templo dos amores, monjas selam,
Palácios e tapetes, ouros, persas...
À noite meus desejos se revelam...
Marcos Loures



8

Sonho agita-me, flórea primavera
Vestindo de magnólias e de rosas
Tua nudez prepara a doce espera
Formando novas tramas desejosas.

Soltando teus cabelos ondulados
Tu cobres o meu corpo nas melenas
Qual fossemos unidos, decorados,
Nas formas delicadas, vivas cenas...

Audazes minhas mãos vão percorrendo
E coroando em ti, milhões de beijos.
E neste quadro sinto renascendo
A vida emoldurada em teus desejos.

Vestindo tua pele sobre a minha
Tatuas na minha alma cada linha...



9

Sonhei- te campesina e libertária,
Nas mãos metralhadoras e fuzis.
À noite sempre vindo temerária,
Nas matas, os afetos tão gentis.

Nossa bandeira revolucionária,
Em emboscadas; lutas mais febris.
A liberdade sendo embrionária
Trazendo assim porvir bem mais feliz.

Éramos guerrilheiros e o marxismo
Estava na bandeira que portávamos.
Vermelho em nosso sangue e no ideal.

Um mundo mais igual sem elitismo
E em todos intervalos nos amávamos
A calmaria em pleno temporal...


11

Sonhei que te encontrara em bela praia
Deserta. Tu brincavas com a areia,
Tão logo quando o sol já se desmaia
Trazia com a noite uma sereia.

Desnuda caminhando sem cuidado,
Mostrando a maravilha na nudez.
Meu coração decerto apaixonado,
Olhando a brejeirice e tua tez...

Sonhei com nossos beijos incontáveis
Nas trocas de carícias e destinos.
Buscávamos prazeres tão amáveis
Sem desespero, em mansos desatinos...

Sonhei com tua boca em minha boca
Na noite desejosa; a voz mais rouca...


12

Sonhei que me espreitava verso fero.
Nos seus potes melíferos vetustos
Nos seus vagos melindres não esfero...
Começo pelos brados, são astutos...

Cantores e canários quero quero...
Ravinas e resenhas sogras, lutos...
Sonhei que me esperava mas não quero.
Os dedos malfadados cortam, brutos...

De longe a maciez sonega ruga.
O vaso espatifado na cabeça...
Nas portas Alcazar impede fuga.

Nos versos sou ventríloquo e boneco.
Quero que neste inverno não me aqueça
A vida não merece repeteco...
Marcos Loures


13


Sonhei que me esperavas, meu amor.
Correndo, procurei, mas não vi nada...
Sobrando desse sonho só a dor
O que farei sem ti, ó minha amada?

Eu quero o teu perfume e teu perdão,
Eu quero o teu carinho e teu desejo.
Eu quero o teu amor, minha emoção,
Eu quero em toda noite, o nosso beijo...

A lua quando vê minha tristeza,
Me abraça com seus raios tão brilhosos.
Eu quero desse amor ter a certeza,
De dias que virão mais calorosos...

Amada, por favor, venha comigo,
Espero, nos teus braços, meu abrigo...


14

“Sonhei que eu era, um dia, um trovador”
Cantando em serenatas meus anseios.
Olhando para a lua vi teus seios
Rainha dos meus sonhos, meu amor...

Quem dera se eu pudesse a ti compor
Sem ter, digo a verdade vãos receios,
Teria em tuas mãos tantos enleios
E um mundo sem igual, encantador.

Loucuras ou delírios de quem vive
Com olhos nas estrelas, vago céu.
Espaços infinitos das vontades.

Tomando dos desejos, este aclive
O coração que outrora andara ao léu
Encontra em plena treva, claridades...
Marcos Loures


15


Sonhei com um tesouro, qual menino,
De pedras preciosas recheado;
Num diamante imenso me ilumino,
Neste rubi sem par, apaixonado.

Numa esmeralda esplêndida, esperança
De ter este coral de cor tão rara,
Dum ouro sem igual, nossa aliança,
Amor que se mostrou jóia mais cara.

Na gema que encontrei; tão mais precisa,
Em forma de menina-flor morena,
Minha alma embevecida, poetisa,
Ao ver o tal tesouro logo acena.

E diz-te nesse beijo assim, querida,
Que bom um paraíso em plena vida!


16


Sonhei com teus desejos, meus desejos...
Andávamos felizes pelos campos.
Vertíamos milhares, loucos beijos,
Nosso caminho, estrelas, pirilampos...

Sonhei que te levava pelas mãos.
Castelos e princesas aguardavam.
Os medos estancados, eram vãos,
A poesia e o canto me inundavam...

Sonhei com fantasias de grinalda.
O tempo não passava, era infinito...
Palavras e perfumes, ar desfralda...

Vastos e profundos, nossos mares...
A noite salpicada dos luares,
Fazia nosso amor bem mais bonito
Marcos Loures


17

Sonhei com sóis, diversos sóis queimando...
Tragando gestos, luas pensamentos.
Flambava frenesis, fornalha assando
Homens, plantas, cidades, rios, ventos...

Do que se fora flora, se infernando,
Sóis algozes ferozes, santos bentos,
Das luzes: urzes, cruzes, derramando...
Sabiam dessas glórias, seus intentos...

De tal clarão profundo, surge Deus,
Domina o caos, Senhor da luz, dos breus...
Alado, armado, brilha mais que sóis...

Rompendo espaços lança desse Astral,
Com Sua voz feroz, celestial:
“O que fiz com amor, tudo, destróis!”
Marcos Loures


18

Sonhei com clones e verbos
Absinto, porres homéricos!
Olhos miravam soberbos.
Medos se tornaram tétricos!

Nunca mais foste vestal,
Apenas fingias riso.
Abarcas velho sinal
Perdeste senso e teu siso...

Imbatível, gladiavas
Os carpos quebravas todos...
A noite que imaginavas

Aspergida nesses lodos!
Cáspite! Podes sair
A tarde ainda há de vir!
Marcos Loures


19

Sonhavas com momentos maviosos,
Nos dias que passei por tais carinhos.
Portais abertos, olhos invernosos
Pediam, imploravam novos ninhos...

Farsantes, minhas mãos voluptuosas,
Procuravam por outras tantas santas...
Dava-me teu olor, clamor de rosas...
Das pétalas forjavas tuas mantas...

Nos álamos, nos pélagos auríferos,
Nos campos, nos pomares mais frutíferos,
Forjávamos delírios indecentes...

Sentíamos os pântanos carbônicos,
Amores entre flores, são platônicos.
Rolávamos felizes, inocentes...


20



Sonhavas com castelos, rendas, fadas.
O manto das estrelas te cobria
Penumbrosas, as luzes emanadas
Dos olhos de promessa d’outro dia.

Madrugada debruça-se na orgia
De cores e malícias derramadas.
Os olhos deslumbrantes de Maria,
Promessas de manhãs iluminadas.

Sonhavas com castelos e viagens,
Embalde sua aurora nunca vinha...
O vento prometendo, nas aragens,

O gosto delicado do rocio...
Sonhavas com castelos e rainha,
As duas divindades, pleno cio...
Marcos Loures



21


Sonhava com castelos, a donzela
Pensando ser talvez um cavalheiro
Aquele que entre trevas se revela,
Apenas, tão somente um escudeiro.

A noite sem luar e sem estrela,
Trazendo o seu encanto derradeiro,
À luz deste cometa ela se atrela
E morre num poema corriqueiro.

Balbuciando frases sem sentido,
A dama se perdendo em triste olvido
Não vê que quem deseja não vem mais.

Contenta-se com tolo menestrel
Que finge ser real o seu papel
Entregue aos seus delírios forja um cais...



22


Sonhava amor em cascata
Que vencesse as corredeiras
Fantasia que nos ata
Traz nas mãos estas bandeiras,

Emoções que emanas, grata
Da alegria, mensageiras.
Sob a lua cor de prata
Estendendo tais esteiras

Ergo um brinde à esperança,
Deslumbrante meretriz;
Com firmeza e com pujança

Lança acordes dissonantes,
E pensando ser feliz
Eu deliro, por instantes..


23


Sonhaste com camelos no deserto.
Tu eras odalisca predileta,
Mil danças já dançavas, bela, ereta...
O mundo que sonhavas, estou certo,

Trazia a voz macia dum poeta...
Sonhavas acordada por completo,
Amores perseguias como seta...
De jóias, por sultões, corpo coberto...

Acordaste sozinha, sem ninguém...
Aos teus pés encontraste só comigo.
As dores dos amores que se tem,

Por certo são suaves, sem perigo.
Restando tão somente minha face...
Por amor, não te nego meu disfarce...
Marcos Loures


24

Sonhar tanto; me salva e já deprime
Fugindo desta amarga realidade.
Amar a sensação de um tenso crime
Surtar em pesadelo, ansiedade...

Por mais que o sentimento, tolo, esgrime,
A vida não comporta a claridade.
Sem ter a solidez que inda me arrime
A cada novo passo, o medo invade...

Buscar cada resquício do que fui,
Errante, o coração somente intui
Seguindo sem sequer ter corrimão

A queda inevitável no futuro,
Ao ver intransponível, grande muro
Aborto num delírio cada grão...
Marcos Loures


15025


Sonhar o que se quer e se acredite
É tudo o que mais quero em minha vida.
Vivendo a cada dia sem limite
Eternidade, a meta a ser cumprida.

Mesclando mil sabores eu entendo
Que tudo pode ser tão diferente,
Futuro mais pacífico; estou vendo
Rondando em calmaria toda a gente

Que deixa-se levar por um segundo
Nos braços deste sonho imaculado.
Numa extensão que englobe todo mundo
O bem que se professa, demonstrado.

Compartilhando assim, da claridade,
Entendo a salvação feita amizade...
Marcos Loures


26



Sonhar nunca é demais, esteja certa,
Arder nesta ilusão que tanto queima
Pecado sem ter culpa, noite incerta,
Mistura deliciosa, santa teima...

Temer, tão simplesmente conter siso,
Que impede que possamos encontrar
A chave que nos leva ao paraíso,
Na nossa própria entrega está perdão.

É como desfrutar da nossa casa
Neste momento livre, nessa entrega,
Que nos aquece tanto, louca brasa,
Amor que tanto salva não se nega.

Amor que sempre foi a solução,
Nas asas traz calor e proteção...



27


Sonhar é transformar a realidade
Nas mãos sangrantes temos o futuro;
Numa batalha feita da verdade
Contra os que nos escondem neste escuro.

Valores como amor, fraternidade,
Que são tratados sempre sem apuro,
São bases para a vida em liberdade
Amor original deveras puro.

Lutando contra as mãos muito pesadas
Daqueles que compraram ou se vendem,
Das feras em cordeiro disfarçadas,

Dos donos do poder, súcias imensas,
Meus versos e teus versos se pretendem
Viver com os irmãos, não às expensas...



28



Sonhar é libertar velhos fantasmas
Dizia Dostoievsky. Acredito
Que quem faz da alegria mote e rito,
Não guarda nem espectros nem miasmas.

As almas se sentindo agora pasmas,
Ao verem noutras almas o infinito,
Percebem quanto é bom, raro e bonito
O amor que se traduz cristais e plasmas.

Nadar contra a corrente? Não consigo,
Se eu tenho em minhas mãos o que persigo
Jamais amaldiçôo o insano amor.

Quebranto? Não permita Deus que eu tenha,
Para manter acesa a brasa; lenha
Ardendo nesta chama; em teu calor...


29


Sonhar é libertar nossos fantasmas
Que vivem torturando quem deseja.
Não quero tão somente os cataplasmas,
A boca da ilusão, jamais se almeja

Quem beija a solidão, como eu agora,
Não pode imaginar outra saída,
Enquanto a fantasia comemora
A sorte segue vaga, e tão perdida.

Juntar os meus retalhos, o que resta,
Fazer das esperanças espantalho.
Incêndios que provocas na floresta
Depois não deixas nunca um agasalho

Exposto ao fogo ardente da paixão,
Herdando em frio intenso, a solidão...
Marcos Loure


30


Sonhar contigo em sonhos tão diversos
Do sonho primitivo em que te vi,
Os ventos transmudando os universos
Ecoam nos ouvidos bem-te-vi.

Os sons mal repartidos e dispersos,
Além do que pensara existe em ti,
Os sonhos noutros sonhos quando imersos
Vagando desde além chegam aqui

E tanto que sonhei que agora vejo
Reflexos do que anseio num desejo
Aonde sobrevivo, muito mal.

Talvez ainda amor tu me darias
Se eu tivesse as sutis alegorias
De um sonho feito em sonho original...
Marcos Loures


31

Sonhar com teus castelos, u'a rainha...
Guardada por mistérios e segredos.
A noite que virá, se tua e minha,
Depende do que dizem nossos medos..

A vida que se mostra e se avizinha
Deixando para trás temores ledos,
Tu sabes do desejo que se alinha
E tecem tão amados, bons enredos..

Nas redes e nas tramas bocas, nexos...
Poder estar inteiro sem demoras,
Os passos preferidos tão conexos,

Nos levarão sem dúvida ao nirvana,
Vontade nos invade, nela afloras,
Rainha dos desejos, soberana...



32


Sonhar com teus carinhos e promessas,
Tocando no meu peito esta saudade.
Não tenho mais contigo nem conversas
A vida te levou felicidade...

Mas sinto que talvez quando confessas
Lembranças que ficaram; amizades
Tenhamos esperanças mais diversas
De um dia o recomeço, noutras tardes

Sedentas de teu beijo e teu carinho
Eu possa me entregar ao velho sonho
De te ter novamente. Mas, sozinho

O tempo vai passando. Inda reclamo
Teu nome ao novo mundo que proponho,
Dizendo bem baixinho: como eu te amo!



33



Sonhar com cada toque sensual
Roçando minha pele com a tua,
Estrela que em cenário belo atua
Desejo que se faz consensual...

No encontro que pensara casual,
Qual sol que se derrama sobre a lua,
Esplêndido cometa que flutua,
O amor é o astro-rei, o principal.

Reflexos de luar ganhando o mar,
Sem hora de partir, quero ficar
Atado junto a ti, rara deidade.

Assim, no raro brilho deste amor,
O verso mais gostoso de compor
Traduz o que bem sei, felicidade...


34


Sonhar com cada fase desta lua
Que deita do meu lado em noite clara.
Renasce todo dia bela e nua.
Trazendo nos seus brilhos fartos; Lara.

Imagem distorcida inda flutua
Numa alucinação que me antepara.
E a gente em fantasia continua
Bebendo da emoção ternura rara.

Mergulho no infinito do luar,
Rompendo estas amarras, vou liberto,
Vagando pelo espaço, o peito aberto

A noite eu vou passando a divagar,
Amor que o plenilúnio agora traz
Faz com que eu adormeça em plena paz...
Marcos Loures



35


Sonhando talvez ser teu cavaleiro
Vestido com a manta da saudade,
Montado em um corcel aventureiro,
Lutando por amor e liberdade

Nas espadas, nos gládios, tanta luta,
Empunho meus desejos delirantes,
Pantera transtornada, mas astuta,
Aguarda simplesmente tais rompantes

Que fazem deste sonho tão divino
Resgate de ilusões adormecidas,
Vivendo um grande amor tão cristalino
Que vale por milhões, bilhões de vidas...

Castelos e conquistas, realeza,
Amando essa pantera, uma princesa...



36


Sonhando ser do amor, a preferida,
Fingindo recolher uma esperança.
Deixada pelos cantos, vou perdida,
O frio vem chegando, uma lembrança.

A noite que caiu em nossa vida,
Sabendo do que fomos, da aliança
Há tempos desprezada e já partida,
Apenas a tristeza inda me alcança.

Sonhando ainda ter uma alegria
Depois de tanto tempo- ter alguém,
A noite vai caindo e nada vem.

Somente na janela, a ventania
E um nome repetido bate à porta,
Minha alma desprezada e quase morta...

Marcos Loures


37


sonhando em poder ter-te bela e nua
Perdido; eu não te encontro e sigo só.
Embora a vida siga, continua
De todos os desejos, nem o pó.

Entremeio vontades e vazios,
Olhares vãos, distantes sem destino.
Teares da esperança, ledos fios,
Do frio deste olhar; amor, declino.

Coração bandoleiro nas trincheiras
Esboça num momento, reação.
Perdido, noutros corpos quer bandeiras
Encontra sempre a mesma solidão.

Amor que em fantasia, a gente fez
Roçando tua pele. Insensatez...
Marcos Loures



38


Sonhando com teus sonhos
Meus sonhos vão buscar
Os sonhos mais risonhos
Que alguém pensou sonhar.

Passados os medonhos
Momentos a penar,
Em dias tão bisonhos,
Tristonhos a passar.

Recebo no poema
Amor que se faz lema
E leme desta vida.

Vivendo qual sonhara,
Contigo, minha cara,
Encontrei a saída...



39


Sonhando com teus olhos numa espreita,
Vagando pelo céu, na imensidade
Procurando uma imagem mais perfeita
Que possa traduzir felicidade.

Enquanto a poesia se deleita
Encontro finalmente a claridade
Minha alma mergulhando satisfeita
Bebendo de tua alma à saciedade.

Meus olhos neste sonho eu aprofundo,
E dando paradeiro ao vagabundo
Coração que depois da caminhada

Além deste universo se elevando,
E quanto mais depressa, vai mais brando,
Porém quando eu levanto, sobrou nada...
Marcos Loures


41


Sonhando com teu corpo junto ao meu
Pensando que serei, enfim, feliz...
A luz de teu olhar clareia o breu
Na cor desta esperança por um triz

O verde de teus olhos se perdeu.
Em cada novo tom, novo matiz
O negro de minha alma se acendeu
E o sonho desejado pede bis...

Mordisco levemente tua boca,
Avanço por teu corpo, mil carícias,
Suspiras, alucinas, quase louca...

E tudo o que eu queria, eu desfrutei
No belo altar profano, tais delícias...
Mas logo amanheceu... Eu acordei!


42

Sonhando com teu bem me recompenso
Concebo um dia claro e deslumbrante
O quanto é necessário que se cante
Mostrando este carinho tão imenso.

Em ti somente e sempre tanto eu penso
Não deixo de lembrar nenhum instante
Por mais que a vida às vezes desencante
Da força em sentimento eu me convenço.

Sentindo o teu perfume delicado,
Eu quero e necessito te dizer
Do amor que se mostrando sina e fado

Permite que eu sinta realizado;
Tocando a minha pele, o teu prazer
Deixando-me pra sempre apaixonado.

Marcos Loures


43


Sonhando com quem nunca me queria
Vestido de ilusão, verde eu desboto,
O tempo vai mostrando eterno moto
Girando em carrossel, negando o dia.

Herança deste amor: farta agonia.
Felicidade, apenas vaga foto
Guardada em algum álbum mais remoto.
Espreito numa esquina, uma alegria

Não encontrado nada, volto a casa.
Lareira da esperança já sem brasa
Não traz para este frio, a solução.

Jogando minhas roupas pela cama,
Ao brilho do luar, penso na chama
Tomada pelo vago coração.
Marcos Loures



44


Sonhando com prepúcio amorenado
Donzela não consegue despertar.
Seu sonho, qual um príncipe encantado
Deitando em sua cama, faz brilhar

O raio em que sentiu seu doce fado
Sem medo de sofrer, basta lutar.
Um fálico calor, no cortinado
Adentra e a penetra devagar...

Mas sabe, esta princesa que dormia
Que amor é feito assim, de uma ilusão
Na porta do seu quarto, com emoção

Desnudo e mais disforme eis que surgia
Batráquio indesejado e pavoroso,
Com riso em ironia, desdenhoso...


45


Sonhando com lirismo de Quintana,
A maciez de um verso encantador.
Na sorte de poder sonhar, compor,
A vida tanto traz quando me engana.

Enquanto a poesia, esta alma espana,
A rude face mostra que o escultor
Tentando ser suave fez da dor
A fonte siderúrgica que emana

Aborto do que um dia se fez manso,
Distante do que eu quis; agora avanço
E encontro os pesadelos contumazes...

As hordas delicadas se esvaindo,
A lua se escondeu, se despedindo,
Mutante rotação sonega as fases...


46


Sonhando com destino mais sereno
A menos que a saudade não permita
Sabendo que serei bem mais ameno
A dor que já causei que eu não repita...

Aflita por saber que andei cansado
Do fado que esta fada me previu.
Se vil ou se servil, andei errado,
Meu canto sem ter rumo, o que se viu...

Mas tenho uma certeza que me afaga
Na paga doce e plena da paixão.
Se não tem mais senão meu não se apaga
Nas cordoalhas todas, coração...

Sonhando com destino mais feliz,
Vivendo enfim, amor que sempre quis!



47


Sonhando com as tramas que vivemos,
Vivendo nestas tramas do sonhar.
Perdendo nossos rumos, percebemos
O gosto mais amargo a me tragar.

Meu verso se envolvendo nestas tramas
Se forma deste mesmo material
Que traz toda a beleza destas chamas,
Nas camas que te fazem sensual.

Eu quero amanhecer a cada dia
Imerso nestes versos que te faço,
Sabendo que um momento de alegria
Depende do desenho em que te traço.

Eu quero caminhar por toda vida
Sem temer nem sequer a despedida...
Marcos Loures



48

Sonhamos com desejos e vontades
De estarmos lado a lado, encanto e gozo.
Ao nascer, envolvido em claridades
Amor mostrou-se eterno e mavioso.
Na luta que travamos, liberdades
Demarcam nosso sonho esplendoroso.

Amar – sacro direito universal
Sem tréguas sem limites, sempre mais.
Às vezes com lirismo ou sensual
Só sei que isto nos mostra um belo cais
À espera de um saveiro sem igual
Trazendo para a vida imensa paz.

Jamais são desenganos. Nosso amor.
Que é feito de emoção em resplendor...
Marcos Loures


49


Sonhado com estrelas, ruas, vento.
Andando nas calçadas sem destino.
Te vejo atravessar; neste momento,
A rodovia longa e mal domino

Vontade de seguir. Paro, ando, tento;
Tomado por magia e desatino
Dou asas ao mais fundo sentimento.
Amar virou bem mais que um simples hino...

O teu nome escrever em sangue, pano.
Moldando eternidade em ato puro.
Apagando depressa um outro engano,

Revelo o meu amor atemporal.
Rasgando esta camisa, assim me curo,
Bebendo esta paixão, um temporal!


15050

Sonetos, serenatas e sonatas,
Certezas, sobremesas e serpentes.
Carmins, caminhos, karmas, casamatas,
Vaticínios velórios evidentes...

Sobraram certamente poucas matas,
Mataste não permites penitentes,
Castrastes cachoeiras e cascatas,
Demônios destruíste mais dementes...

Refaço meu cansaço em teu regaço
Reparo os anteparos que disparo
Nas danças que choveste véu espaço.

Fortuitas são gratuitas tuas mantas.
É bom poder ouvir, sentir Kitaro,
Notas que não remontas foram tantas..
Marcos Loures
51


Sonetos que soletro sem ter métrica
São meras serventias do que eu traço.
A noite sem mulheres passa tétrica,
Papel que joguei fora não amasso.
Menina da bundinha mais elétrica
Acerta minha sina e perco o passo.

Mugindo no meu pasto sou o gado
Aguado pelas mágoas do que tive.
Amiga vem chegando pro meu lado
E veja num momento o que revive
Do quase que não fora no passado,
Mas peço deste encanto já me prive.

A vida vai passando e não recosta
Deixando este perfume bom... de bosta...
Marcos Loures



52


Sonetos de Neruda, mesmo à parte,
Falando tão somente dos amores,
Permitem te falar que a perfeita arte
Expressa da emoção, as várias cores.

Por mais que isso não possa interessar-te
Jardim só tem beleza quando há flores.
Legando ao sentimento o vão descarte,
Não saberás sonhar, por onde fores.

E um homem sem seus sonhos não é nada,
A vida é dolorosa pra quem ama?
Mantendo da alegria a velha chama,

Terás bem mais florida a tua estrada.
Permita-te, não custa meu amigo,
Não faças do vazio, o teu abrigo...
Marcos Loures



53


Sonetos de hoje em dia são bacanas,
Não pedem nem mais rima nem cadência,
Eu quero defender com eloqüência,
Matar as velharias tão insanas.

Vontades são decerto soberanas,
A rima está virando uma indecência
Se é coisa de velhaco, paciência.
O amor pode ser feito em mil cabanas.

Cabanas são mansões, dizia Eurico,
Tampouco quero estar no prejuízo,
É necessário sempre ter juízo

Por isso de teimoso aqui eu fico,
Falando de um soneto tão moderno,
Distante do “modelo do meu terno”...
Marcos Loures


54


Soneto sem ter métrica nem rima
Parece com banquete sem comida
Enquanto é propaganda morro acima
Debaixo desta saia, uma saída

Quem pensa que um amor por si só prima
Não vê mais resultados, perde a vida
Quando a vontade chega e pinta o clima
Restando-me beber desta bebida.

Se eu tento e não detento vou liberto
O perto se transforma em heresia.
O coração é porto quando aberto

E a noite sendo calma, segue fria
Poeta que se faz em voz vazia
No flagra se mostrou sem poesia...


55


Soneto é uma forma ultrapassada
Aonde os velhos teimam em fazer
O que talvez lhes dê algum prazer
Os versos sob a regra pré-traçada.

De poesia, eu sei que não tem nada,
Apenas para o gáudio, posso crer.
Não sei como isso possa inda viver,
Pois sei quanto o soneto nos enfada.

Catorze versos pedem a tal métrica,
Figura muitas vezes quase tétrica
Distante desta incrível liberdade

Da bela poesia sem gradis
Na qual se escreve tudo o que se quis,
Que sem amarras mostra a claridade...


56


Soneto é pra quem sabe, isto eu garanto.
Não é fazendo versos sem sentido,
Sem métrica e sem ritmo em pobre manto
Apenas um contorno desvalido

Distante do que é feito com encanto,
Que tu conseguirás ser recebido
Sem provocar nos mestres farto espanto,
Mesmo que isso inebrie o bom Cupido.

Esculpido em Carrara, um verso nobre
Sabendo da beleza que o recobre
Jamais permitirá tal garatuja

Caricatura sempre de mau gosto,
Mostrando ao fim desnudo e descomposto
Banhando a velha Musa em água suja...


57


Soneto alexandrino em seus catorze versos
“Caminhando, cantando e seguindo a lição”
Permite navegar por tantos universos
Usando com firmeza, as forças da emoção.

Eu prefiro escrever com o formato inglês,
Três quadras, meu amigo, e um dístico final.
Nesta composição conforme agora vês,
O fato mais concreto e sei fundamental:

Manter o mesmo ritmo usando rimas ricas,
Dois hemistícios... Nobre amigo: a poesia
Que cuidadosamente agora tu me explicas
Permite que se pense em rara maestria.

Usando o que nos diz o amor e o coração,
“Somos todos iguais, braços dados ou não!”
Marcos Loures



58


Sonega em nossa vida, a despedida
Um canto mais sublime, enamorado.
Não posso conceber a minha vida
Sem ter tua presença do meu lado,

Minha alma te deseja assim querida,
Vivendo com prazer, o nosso fado.
Sabendo no teu corpo uma saída
Pras dores que encontrei em meu passado.

Não posso e não consigo te esquecer,
Sem ti, não saberia mais viver,
No espelho deste amor me mimetizo.

Recebo o teu carinho em redenção
Esqueço, num momento a solidão,
Um sonho sem igual, depressa eu biso...
Marcos Loures



59


Somos metades vãs sem coerência...
Amo-te e me negaste, beijo e morte...
Vivemos justaposta convivência
Nos medos de rancores e da sorte.

Metralhas os meus passos sem clemência
No fundo desvairado incenso e corte
Antropófago amor trava em latência
Sorrisos e dentadas, dor e esporte...

Eu sei que juramentos não resistem,
Percebo tais contrastes definidos...
Amores que não matam não desistem

O beijo da serpente me apaixona...
Os termos deste trato confundidos.
A víbora feroz, mansa ressona...
Marcos Loures


60

Somos feitos dos desejos
Que nos tomam por inteiro,
No teu corpo selo em beijos,
Nosso amor tão verdadeiro.

Nas delícias mais profanas,
Teu amor, nosso prazer.
Nossas noites soberanas,
Nosso sonho a se verter

Namorando sem descanso,
Decorando a geografia
Cada porto, um bom remanso,
Cada gozo, uma alegria.

Vem comigo, ao paraíso,
Deixa pra lá todo o siso...
Marcos Loures



61


Somos êxtase, simples vãos orgasmos,
Sem medo dos sentidos mais libertos.
Se temos nossos tantos bons espasmos,
Todos os vagos rumos mais incertos...

Nego a filosofia e sinto teus desejos
Em torno dos teus olhos contorções.
Amores se irradiam nos lampejos
Em todas as vazias ilusões.

Poesias sem nexo, simples sexo,
Que nosso mundo rola pelas camas,
Forjando esse desprezo mais complexo
Que nunca sabe quanto queimam chamas.

Os olhos devorando meus sentidos
Decoram nossas camas, seus vestidos...


62


Somente uma bonança, a vida traz
Depois dos temporais que se fizeram
Temíveis. Encontrando em sonho audaz
Palavras que meus medos detiveram

Numa expressão divina, concebendo
Um dia em claridade inesquecível,
Da sorte de viver, tanto bebendo
Mudando o meu destino desprezível.

Aqueço as minhas mãos em teu carinho,
Estendo o coração, sinto a lareira
Vislumbro embriaguez em farto vinho,
Sentindo esta emoção já costumeira.

Meu verso se entranhando em tua pele,
À eternidade em vida nos compele...
Marcos Loures


63



Somente um trovador, um menestrel
Que tenta com palavras declarar
O encanto tão sobejo do luar
Que reina, soberano em claro céu.

Olhando para estrelas, sigo ao léu,
Buscando a fantasia derramar
Num sonho esmeraldino lapidar,
Cumprindo tão somente o meu papel,

Lavrando a cada dia, usando os versos
Que possam traduzir meus universos
Eterno sonhador, vê no horizonte

Os traços que tu deixas ao partir,
Arquitetando em paz o meu porvir
Numa aurífera, bela e intensa fonte...



64



Somente teu amor me satisfaz
Por isso é que não quero te perder,
Razão que eu encontrei para viver,
Certeza de passar a vida em paz.

Um vento mais suave a noite traz
Em flores meu jardim a se verter.
E passo, num instante a perceber
Que posso ser feliz, que sou capaz.

Tu mostras teus sorrisos redentores,
Tu falas, irradias, e me encantas.
As dores, solidão; por certo espantas

E fazes de meu dia, um raro sol,
Brilhando intensamente este arrebol
Trazendo para a vida, mil pendores...


65

Somente suas luzes, radiantes,
Em formas tão diversas, num mosaico
Surgindo deste mundo tão arcaico
Permite lumes raros e constantes.

Amor em suas sendas deslumbrantes
Em templos magistrais no mundo laico,
Fazendo a solidão um ser prosaico
Tomando em ares mansos, triunfantes.

Meu corpo no teu corpo sem fronteiras,
As bocas em mil ânsias, gula e festa.
Palavras provocantes alucinam.

O quanto vou entregue a tais bandeiras,
Desejos e fulgores, sonho gesta,
Teus lábios tão vorazes me dominam...
Marcos Loures


66


Somente ser só teu e nada mais!
A voz que repetia o mesmo mote
Entregue à fantasia feita cais
Estende em farto mel, divino pote.

Sem cotas nem limites, sempre teu
Caminho percorrido em bela noite
Entregue à luz suprema, esquece o breu
Já tendo a claridade em que se acoite.

A trama que se expressa claramente
Nos diz do amor intenso e sem limites
No qual eu me sentindo assim contente
Não quero e nem permito mais palpites.

Fiel ao nosso sonho; sou feliz
Contendo todo amor que outrora eu quis.


67



Somente quem não quer a recompensa

De toda esta bondade que semeia,

E nem numa alegria sua, pensa,

E nem deixa as pegadas nesta areia



Quando nos carregar pelos caminhos

Mais duros que por certo surgirão,

Mostrando que não vamos mais sozinhos,

Entregando a sua alma e o coração;



Somente quem não quer ser conhecido

Pelos atos concretos de esperança,

Jamais precisa ser reconhecido,

Numa alma com pureza de criança...



Vivendo e sempre agindo em destemor,

Conhece a plenitude de um amor!



68

Somente quem amou sabe dizer
Do amor que nos sacode e nos alegra.
Embora nessa vida não há regra
Absoluta. Falamos do prazer

De sermos passageiros do querer.
Por mais que a noite venha triste e negra
Amor no dia a dia nos integra
E mostra o quanto é bom poder se ter.

Mergulhos que nós damos neste mar
De intensas tempestades e procelas
Chamado de paixão; faz-nos pensar

Na porta que entreabriu-se, da esperança;
Assim vamos sem medo, abertas velas
Na vida tão gostosa que se avança...


69



Somente o que sobrou: tristeza e dano,
Além dessa saudade inusitada,
Amar jamais será de minha alçada,
O coração em temporal, cigano.

Embora em dor de amores, veterano
Depois de tanto tempo, alma cansada
Procura e simplesmente não vê nada,
A vida sonegando cada plano.

Sem pieguice eu tento ser feliz,
E novamente como um aprendiz
Repito os mesmos erros do passado.

São tantos desenganos pela vida,
A sorte assim se mostra em despedida.
Já deveria estar acostumado...
Marcos Loures



70


Somente o amor nos leva à perfeição!
Acima do poder do bem, do mal.
Onde sentir bater teu coração
É lá que existe Deus. Ponto final!

Amor, nossa esperança de vitória
Contra toda tormenta que vier.
É nosso caminho para a glória
Nos braços carinhosos da mulher.

Singrando pelo mar do grande amor
Encontro a fortaleza desejada.
Sentindo, da alegria esse torpor
Minha alma se renova, enamorada.

Amor que é meu cativo e meu feitor,
Mesmo na perdição, meu salvador!


71


Somente não atreles teu passado
A todo este futuro que sonhamos.
Os passos quando outrora foram dados
Não devem ser agora, nossos amos.
Os erros, com certeza, bem podados
Morrera neste corte de outros ramos.

No nosso renascer em esperança
A vida que se foi não mais importa.
Ao termos bem mais forte esta aliança
Abrimos para a vida nova porta.
Afaste estes fantasmas da lembrança
Que a vida que passou esteja morta.

Pensemos tão somente no porvir.
É tudo o que consigo te pedir...


72

Somente desse jeito eu sou feliz,
Caçador de ilusões; já me perdi
Agora que encontrei amor em ti
Eu bebo me inebrio e quero bis.

Recebo em nosso céu tal diretriz
Trazendo e conduzindo, volto aqui
Sabendo todo o sonho que vivi
Amor sem filial morre matriz.

Não vejo outra saída, nem pretendo,
De tudo o que desejo convencendo
O dia se fará bem mais tranqüilo.

Passeio entre cometas, alvoradas
Andando sem espinhos, tais calçadas
O canto feito amor, é meu estilo...
Marcos Loures


73


Somente ao teu amor, amiga; aspiro
E faço de meu verso um instrumento
Que seja num papel, mesmo em papiro,
Invada um coração queimando lento.
O sonho, na verdade que eu prefiro,
Jamais abandonou meu pensamento.

Repete sempre a mesma ladainha,
Unítona esperança que me toma,
De ter a tua boca junto à minha,
Na multiplicação que é feita em soma
De corpos que a saudade já avizinha
No fogo que nos queima quando assoma.

Querida, no teu corpo a divindade
Sublime a traduzir felicidade...


74

Somente a noite fria inda me ampara
Fazendo do meu peito um turbilhão,
Vencido por tão dura sensação
Distante desta boca que eu beijara.

Felicidade é jóia sempre rara,
Difícil descobrir a direção
Tomada pelo vago coração
A vida se tornando então amara.

Pedaços do que fui vão pelas ruas,
Jogados nas sarjetas, nas calçadas,
As manhãs que virão; abandonadas

Cobrindo em duro pó todas as luas
Na madrugada feita em frias trevas,
Estrelas fugidias, vão em levas...
Marcos Loures



15075


Somente a fantasia inda me alcança
Trazendo a tua imagem novamente.
O sonho se esvaindo tenuemente
Restando da alegria, vã lembrança.

Quem tem uma ilusão como fiança
Já sabe o quanto a vida nos desmente
E trama a decepção. Uma alma crente
Espera da emoção, clara aliança.

A noite que se faz enluarada
Deitando a claridade na varanda
Com esperança roda na ciranda

Volátil que em carinhos é formada,
A lua embevecida em tenra cena
Abraça a tua tez; prata morena.
Marcos Loures



76

Somente a cotovia canta agora
Depois da madrugada em lua altiva.
A santa se mostrando se assenhora
Deixando alma vadia então cativa.

Mentiras entre fardos e façanhas,
Sorrisos de ironia, remendando
O quanto se perdeu em outras sanhas
O dia renascendo, vai moldando.

Não quero mais nem juras nem promessas
Espinhos cultivados no rosal
A febre que falsária me confessas
Ardendo nos meus olhos feito cal.

O projeto de vida desabou
Na boca que mordendo me beijou.


77

Somemos nossas forças meu amor
Assim alcançaremos o infinito,
Nas ondas do teu mar, belo torpor,
Fazendo do prazer, o nosso rito.

Amor que sem limites, vou propor
Sem medos ou temores, irrestrito,
Na imensidão do sonho recompor,
Amor com a firmeza de um granito.

Viajo por teus céus, bebo as estrelas,
Nas constelares luzes, a tiara
Divina que se mostra bela e rara,

Sentindo a brisa mansa a concebê-las
Navego sem descanso pelo astral
Até chegar à lua sensual...
Marcos Loures


78


Somemos nossas forças meu amor
Assim alcançaremos o infinito,
Nas ondas do teu mar, belo torpor,
Fazendo do prazer, o nosso rito.

Amor que sem limites, vou propor
Sem medos ou temores, irrestrito,
Na imensidão do sonho recompor,
Amor com a firmeza de um granito.

Viajo por teus céus, bebo as estrelas,
Nas constelares luzes, a tiara
Divina que se mostra bela e rara,

Sentindo a brisa mansa a concebê-las
Navego sem descanso pelo astral
Até chegar à lua sensual...
Marcos Loures


79

Sombrias noites vago em verso tolo
Acordo as velhas luzes que apagaste,
Cadáver da esperança, não descolo
E corto cada perna inútil haste.

Se teimo em ser feliz, falso, decolo,
Abarco cada frase que negaste,
Nas mãos da fantasia eu me degolo
Recolho este espectros que legaste.

Entronizando os erros cometidos,
Tropeço sob o peso do passado.
Baús que tantas vezes revolvidos,

Tramando nos revólveres o fim.
Quem sabe o suicídio? De bom grado
Traria algum sentido. Sou assim...
Marcos Loures


80


Sombrias madrugadas, cemitérios...
O vento frio bate na janela
E a negritude imensa se revela,
Trazendo à madrugada vãos mistérios.

Quiméricos desejos sem critérios,
Nas criptas de minha alma o sonho sela
Imagem delirante. Falo dela
E ouço como respostas impropérios...

Amar sem ser amado: insensatez.
Arrasto tais correntes pela vida,
O olhar que agora mostra a morbidez

Sorrira de esperança: estupidez.
A fantasia morre corroída,
Esta ilusão perdida, se desfez...


81



Sombrias e noctívagas saudades
Rondando minha cama em agonia.
Nos olhos nauseabundos, inverdades
Transforma o quase nada em fantasia.

Saudade prostituta em gozos falsos
Fagulhas se transbordam num incêndio.
Recende placidez em cadafalsos,
Sorrisos do que fora vilipêndio.

Apequenando dores gigantescas
Amiudando terríveis maremotos
Das horas mais difíceis e dantescas
Apenas desalentos mais remotos.

Saudade do que fomos? Nunca mais.
Sabores que tivemos: infernais!



82


Sombras desfilando em nosso quarto
Sombras do que fomos e matamos...
De cada novo amor, marcado parto,
Aromas e perfumes que estragamos.
Agora que afinal estou mais farto
Fingimos delicados: nos amamos...

Teu rosto não rebrilha nem o meu,
Os trilhos se encontraram no cansaço.
Depois deste universo que bebeu
Restou somente o gole deste espaço.
Palavra que este amor me convenceu,
Melhor adormecer que ter teu braço...

As rendas e veludos desbotados,
Apenas velhas penas e os enfados..



83

Sombras de nós mesmos se entrelaçam,
Reflexos na parede do meu quarto,
Enquanto nossos corpos já se abraçam
De ti nenhum segundo mais me aparto.

Desenhos entre frágeis lusco-fuscos,
Estampam os matizes mais diversos,
Às vezes movimentos quase bruscos
Mostrando os corpos nus em luz imersos.

Na teia que se tece em bel prazer,
Um raro belvedere se anuncia.
O quanto quero em ti já me embeber
Sonega a noite vã, negra e sombria.

Fronteiras tão distantes, unos traços,
Num louco emaranhado, pernas, braços...
Marcos Loures



84


Somando os nossos cantos, liberdade,
Decifrando hieróglifos, sinais.
Partilhas que prometem claridade,
Espelhos de outros tempos, divinais.

A voz de um cantador, a Terra invade,
Nos versos tão sonoros, magistrais,
O Pai ao encontrar felicidade,
No enlevo dos suaves madrigais

Transborda em sol imenso, esta alvorada,
Aurora dos vestais, bardos poetas.
Nas mãos, tintas serenas e diletas

Profética alegria anunciada
Visão inesquecível doce e terna,
Tornando a poesia; enfim, Eterna...


85

Somando o quanto quis e o quanto tenho
Incrível coincidência, zero a zero
Se às vezes no vazio eu me contenho
Talvez ainda venha o que mais quero.

O amor traz sortilégios como empenho,
E quando em outros cantos me tempero
Nas tramas mais doridas sempre embrenho
E morto, novamente, regenero.

Assim, idas e vindas tão sem nexo,
Por mais que dizes simples é complexo
E tudo em vão seria se não fosse

O gosto da maçã e do veneno,
Enquanto nos seus passos me apequeno,
Eu torno-me cruel, porém mais doce...


86




Somando meu amor com esperança
Encontro em teu amor o resultado
Dançando sem saber a mesma dança
A vida que procuro é ao teu lado...

Mas quando a noite fria se voltar
E a bruta solidão quiser me ver,
Proclamo essa vontade de te amar
Como a vontade plena de viver.

Não sei se vencerei meus tantos medos
Nem sei se isto dará a plena paz.
Os olhos que choraram sem segredos
No fundo desta noite a morte traz.

Mas quero teu carinho mansamente
Enquanto a vida for pura semente...


87


Somando cada verso com o nada
O nada que procuro encontro enfim,
A praga que nasceu no meu jardim
Jamais será decerto abandonada.

Se tudo o que ofereço já te enfada
Enfia a doce fada até o fim
Na sanha dessa fada transtornada
Safada a moça fada só diz sim.

Nos píncaros pacote e panfletos
Paçocas e minhocas, surubis
Soníferos misturo com sonetos

E nesta gororoba sou feliz.
Amiga me desculpe esta franqueza
Na rima vou comendo a sobremesa.


88


Somamos nossos zeros; riscos, gozos.
Atando mãos distantes e vazias
Olhando para o nunca mais jocosos,
Fizemos destas sombras, alegrias.

Traçamos paralelos entre nadas,
Borrascas que bebemos, vomitamos.
As farpas em carinhos disfarçadas,
Nas tetas das mentiras, nós mamamos.

Ariscos, imbecis, o que quiseres;
Vadios, vagabundos, e daí?
Bebendo dos prazeres das mulheres,
O quanto que não fomos, percebi.

Porém nessa arruaça em mil deslizes,
Nós somos meu amigo mais felizes...
Marcos Loures


89


Somamos nossos sonhos, sem temores
Numa alvorada em luz iridescente
Amor vai se mostrando mais urgente
Trazendo à nossa vida tantas cores.

Os olhos se mostrando sonhadores
Vivendo tudo aquilo que se sente,
Tomando nosso mundo de repente
Permite que se vejam tais alvores.

Na alvura deste céu que se aproxima,
Amor vai dominando todo o clima
Na força da alegria que se acenda,

Eu tenho esta certeza que não nego,
Do amor que em fantasias eu carrego,
Dançando nesta noite, minha prenda...
Marcos Loures


90


Solto o teu cabelo, roço a nuca,
E sinto no arrepio, o teu desejo.
A barba que mal feita, te machuca,
De leve vai seguindo o bom cortejo...

Os olhos revirando, entreabertos,
As mãos se deliciam na procura,
Oásis vão jorrando nos desertos,
Aos poucos sensação de uma loucura

Sem par e com destino bem traçado,
Vasculham-se perfeitas emoções,
Neste furor intenso, apaixonado,
No peito, corações, palpitações...

Ouvindo o teu suspiro venturoso,
Um mar de amor se inunda em nosso gozo...


91

Solto as rédeas, liberto o pensamento
E deixo o coração comandar tudo.
Por vezes, eu confesso até me iludo,
Mas vivo com firmeza o sentimento.

Sabendo que talvez venha o tormento,
O rumo dos meus passos; cedo eu mudo,
Mas não posso ficar calado e mudo
Entregue aos dissabores deste vento.

Somando nossas forças, meu amor,
Eu sei que é necessário aguar a flor
Senão nosso canteiro não vigora.

E tento com carinhos conduzir
Estrada do futuro e no porvir
A vida se desenha desde agora...
Marcos Loures


92

Soltando as minhas feras, unhas garras
Eu quero mergulhar nos teus sentidos,
Rompendo sutilmente estas amarras
Beijando com tesão doces ouvidos.

Caminhos com ternura percorridos,
Enquanto em minha pele tu te agarras,
Na noite entre delírios e gemidos,
A gente se perdendo em loucas farras.

Apague este abajur e venha logo,
Se necessário for, querida eu rogo,
Mas quero a morenice desta Musa

Deitada em minha cama, sem pudores
Deixando para trás velhos rancores,
Tirando pra começo, saia e blusa...
Marcos Loures


93


Soltando a minha voz em serenata,
Chamando na janela, a minha amante.
A lua que surgiu tão fascinante
Deitando os raios prata sobre a mata.

Um sonho que meu verso em vão resgata
De um tempo mavioso e fascinante,
O som de um irritante alto-falante
Entra pela janela e o nó desata.

Ao ter tua presença aqui comigo,
Arranco os laivos torpes da tristeza
E envolto nos teus braços eu me abrigo

Fugindo da fumaça que nos ronda,
O amor que faz dos sonhos sua presa
Traz o passado em forma de uma onda...
Marcos Loures



94


Soltado pelas mãos feitas paixões
Vestindo de ilusão e de promessa,
No quanto traz desejo se confessa
Fugindo, com certeza dos padrões

Amor paloma branca em amplidões
Gerando a fantasia, gozo expressa,
Porém é necessário não ter pressa
Que o tempo trama em paz, explicações.

Sem métrica ou sem rumo vai meu verso,
Beijando a madrugada quer o dia,
Antítese sublime à qual me lanço,

Rasgando num segundo este universo.
A sorte que se espalha prometia
A vida claramente qual remanso...
Marcos Loures


95

Solidão quando a dois,
Maltrata mais que tudo,
Vazio vem depois,
Por isso não me iludo.
Não quero paz e arroz,
Prefiro ficar mudo...

Eu sei que não teremos
Momentos mais felizes,
Meu barco vai sem remos,
Naufrágios, cicatrizes.
No céu que nós perdemos,
Só nuvens, sem matizes...

E bebo do vazio
Criado em dia frio...


96


Solidão me maltrata e me machuca...
Saudades deste amor que quero tanto
A tua mão roçando a minha nuca
Qual fora gargantilha em que me encanto...

O teu sorriso franco, que se quer
Nos olhos que rebrilham, meus faróis...
No teu perfume doce de mulher
O fogo em que procuro, girassóis...

Quem dera se viesses num momento,
A rosa mais bonita do jardim...
Te busco como fosse um cata-vento
Guardado para sempre, dentro em mim...

Passando por espinhos no caminho;
Ao ver-te: solidão? Abandonada....


97




Solidão maltrata o peito
Em quem ama causa estrago,
Ficaria satisfeito
Meu amor, com teu afago.

Mas sozinho deste jeito
Vou ficar, querida, gago,
Deitadinho no meu leito
To perdido e bem mal pago

Tanto choro que derramo
Alagando a cercania,
Vou podando cada ramo

Da ilusão que inda guardava,
A saudade desafia,
Os meus passos ela entrava...


98


Soletro o pensamento em verso e luz
Nas franjas das montanhas verdejantes
A força da alegria por instantes
A mão de um sonhador, pegue e conduz.

Acalmando os sentidos, reproduz
Aquilo que vivera em sóis constantes
E mesmo que profícuas, delirantes
Palavras se emaranham- contraluz.

Usando por buril, o sentimento,
A lira refletindo este momento
Espalha esta cantiga pelos ares.

Mensagens tão diversas são captadas,
Libertas, sem destino, vão aladas
Recolhem esplendor em teus pomares...
Marcos Loures


99

Solares do passado me maltratam
Olhares tão diversos que inda trago,
O amor quando se mostra em fino trago
Pupilas desejosas se dilatam.

Enquanto os laços frágeis se desatam,
Procuro inutilmente algum afago,
O velho desdenhoso, tolo e mago
Estrelas mergulhando desacatam

E catam cada sobra do que fomos,
Sorvendo sem pudores, podres gomos,
Rendido à tal loucura, sigo em frente.

Avanço nos beirais da fantasia,
Matando o que restou da poesia
Que teima em me tocar, pobre demente...
Marcos Loures


15100

Sol ardente, sertão que me embrasara,
Tardes incandescentes sobre a areia...
Destinos mais sofridos, já queimara,
A vida se perdendo, triste teia...

O sol que de brilhar nunca cansara,
Esparso sobre a terra que incendeia...
Asa branca voando, me deixara,
Na certeza: calor nunca refreia...

Mulher que me deixaste assim, sozinho;
Embalde te procuro no sertão...
És pomba que não volta para o ninho,

Deixando tanta agrura em seu lugar...
Andorinha: esperei, cadê verão?
Somente o sol ardente a me embrasar!
Marcos Loures

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