domingo, 24 de outubro de 2010

8185

Meu barco soçobrando em tempestade
Perdido num naufrágio sem destino
Buscando inutilmente a liberdade
Debaixo deste sol, imenso, a pino.

Encontra nos teus braços, Amizade,
O rumo mais perfeito e cristalino,
Vivendo finalmente a claridade
Na mão que impede insânia e desatino.

Ao ter tua presença tão amiga,
Minha alma com firmeza vê a viga
Que possa permitir a caminhada.

Sabendo separar trigo de joio
Poder sempre contar com teu apoio
Permite a nossa vida abençoada!
Marcos Loures


86

Meu sentimento exposto, torturando,
Rasgando, sem ter pena, o coração;
No que resta do peito, vai cravando
As garras mais sutis dessa emoção...

Tantas noites passadas procurando
Encontrar nos meus versos, a canção
Que permita viver. Agonizando
Tento sobreviver nessa paixão!

Restam somente rimas esquecidas,
Alimentadas pelas, já perdidas,
Emoções que me negam sobrevida...

Sonhando com meus versos mentirosos,
Navego os universos vaporosos;
Onde minha alma finge nova vida...


87

Meu Senhor! Eu te imploro, por favor.
Não me deixe morrer sem Seu alento...
Não tenho mais vergonha desse amor
Que me trouxe na vida, sofrimento.

Perdido em desalento imerso em dor
andando sem ter rumo, um sonhador
enfrenta as tempestades onde for,
Viver de tal maneira? Eu não agüento...

eu quero simplesmente ser feliz,
Não penso noutra coisa em minha vida...
Felicidade; escondes, onde? Diz...

Procuro em vão, buscando outra saída
nos labirintos. Vivo por um triz
E a sorte há tanto tempo em despedida...


88

Meu Senhor eu te peço um momento
Para ouvir minha prece afinal.
Vou sofrendo na vida o tormento
Que me queima, tortura, esse mal.

Pecador com meus erros que sei
Venho a Ti te pedir Teu perdão
Nos castelos de areia finquei
Os meus pés. Tropecei, fui ao chão.

As amarras da vida trouxeram,
Muitas vezes me impedem de ser,
O que todos caminhos puseram
À grandeza do amor, seu poder.

Eu Te peço Senhor, caridade,
Aprender que, no amor, liberdade!


89

“Meu sangue errou de veia e se perdeu”
Chegando ao coração desta mulher
Encontra o que deseja e se puder
Faz dele, na verdade, um porto meu.

Se tudo o que mais quero é sempre teu,
O beijo mais gostoso que se der
Pulsando deste jeito o que fizer
Há tempos o meu peito percebeu.

Seguro tuas mãos e vou contigo,
Se a chuva inda vier eu nem mais ligo,
Abrigo que eu buscara, agora eu sei.

No encanto de teus olhos me perdi,
Deságua esta esperança e chega a ti,
Tornando o coração, remanso e grei.
Marcos Loures


90

Meu rumo se transmuda num repente
E mostra ao fim do túnel uma luz.
O quanto ser feliz já se pressente,
Olhar que em teu olhar se reproduz

Tocando o coração de toda a gente
Amor intensamente nos seduz
E agora se eu prossigo mais contente
Não temo mais a dor, amarga cruz.

Somando nossos passos cedo alcanço
O fim da caminhada e vou feliz.
Encontro finalmente este remanso

Deitado sob estrelas luminosas
Estendo sobre a terra um chão de giz
Plantando no teu peito belas rosas...
Marcos Loures


91

Meu rumo se transforma totalmente
Depois de cada chuva em tempestade,
O bêbado nas ruas da cidade
Vagando sem destino, qual demente,

Intrépida jornada pela mente,
No quanto que não tive e já me invade
A trama se perdeu em quantidade
E o fim do nosso caso se pressente.

Mas tendo o teu corpinho assim desnudo,
Chamando para a festa, vou com tudo,
Adentro o festival, macia a cama,

Os planctos e as sementes, plantas, gozo,
Do emaranhado louco e caprichoso,
Acende em brasa imensa, a velha chama.
Marcos Loures


92



Meu rosto, qual meu peito, está disforme;
As rugas destruíram num repasto.
Nas lutas que sangrei, a vida dorme...
Não deixariam resto, rosto, rasto...

Com calma seguiria, num conforme,
As tropas que pastaram no meu pasto.
Nas horas que te tive, me desgasto,
Não quero que me digas nem me informe.

Teimosamente sigo na batalha;
Não quero mergulhar na tua praia,
Sem tempo p’ra saber da nova falha...

As tarjas cobrirão nossa gandaia.
Não venhas com palavra que te calha,
Levanta, sem pensar, a tua saia!


93

Meu rito recomeça novamente,
Amar e desamar, amar de novo...
Parece que virei clarividente
Do mesmo paladar, contigo provo
Mas sei que talvez venha,( sou descrente)
Um gosto renovado noutro povo.

Amiga, estou cansado desta liça
Que faço todo dia em prol da vida.
O amor que já perdi não se cobiça
Nem traz alguma chance de saída.
Minha âncora que é feita de cortiça
Garante esta esperança assim, perdida..

Só posso garantir que, na verdade,
O que nos sobrará: uma amizade...


94

Meu rio desemboca no teu cais
Depois das cachoeiras no caminho,
Eu quero e com certeza tenho mais
Sabendo que não vou seguir sozinho.

Estrelas que me trazes, com as quais
Decoro minha senda, em teu carinho
A solidão se foi para jamais,
E nos teus braços mansos eu me aninho.

Amiga, como é bom dizer teu nome,
A dor aos poucos morre, agora some,
E sinto que se aflora num sorriso

O sol de uma alegria transparente,
Tocando todo o mundo de repente,
Forrando minha estrada em paraíso...


95


Meu rígido e voraz caralho busca
Na xota desta deusa um gozo pleno
Prazer que me inundando não ofusca
O quanto que em desejo me enveneno.

Safada a bela puta vai abrindo
As pernas e me chupa porejando
Rocio em sua gruta permitindo
A foda que estou sempre desejando.

De quatro em seu cuzinho, meu remanso,
Rebola em minha pica, bem gostosa
Coloco com vontade, porém manso,
Alcanço o gozo pleno enquanto goza

A deusa que se fez puta e vadia,
Na porra se embebendo de alegria...
Marcos Loures


96

Meu querido amigo
Não tema esta dor
Perfume sem flor
Não vem mais contigo,

Em teu doce abrigo
Percebo o valor
Do sonho a compor
Que assim eu persigo.

Perguntas não faço
Apenas te abraço
Em tua aflição,

Assim amizade
Traz a claridade
Mata escuridão...

97

Meu pobre coração, sofre calado;
Os medos e tristezas seu enredo...
Quantas vezes, sofrendo tal degredo,
Procurou prosseguir sem ser alado...

Percebendo o bater descompassado,
Não posso conhecer o seu segredo;
Tantas vezes constrito sela o medo,
Outras tantas bateu desesperado...

Meus olhos vão cansados de chorar,
Vagueio e não consigo te encontrar.
Não posso sufocar mais o meu pranto...

Nem quero nem desejo te esquecer,
Mil vezes, estou certo, então, morrer.
Do que colecionar mais desencanto...
Marcos Loures


98


Meu pensamento, nunca soberano,
Jamais cuidou de ser do amor cativo,
Depois de se perder em desengano,
Criou esta ilusão de amor que vivo.

Vencido pela força das quimeras,
Amor levara sempre duros fardos,
Sabendo quanto doem as esperas,
Amor já se cortara em tantos cardos...

Porém destes espinhos do caminho,
Amor encontra a flor mais delicada,
E sabe que se foi bem mais sozinho,
Agora segue a vida iluminada

Nos braços de quem mais valera pena,
No colo extasiante da morena...


99

Meu pensamento livre sempre vaga
Nas noites insensatas, corta o vento.
Bebendo em tua boca, já se alaga
A lua em derradeiro firmamento.

Na mão que me penetra a fina adaga
Do amor que se fez forte em juramento.
O sonho navegando noutra plaga
Pressente a maravilha do momento.

Nos gozos, nas luxúrias, embebido,
Descendo minhas mãos pela corrente
Dos mares que naufrago. Decidido

Entranho em cada gruta, explorador,
Descubro um diamante e vou contente,
Nos tesouros divinos deste amor...


8200



Meu pensamento envolto num lamento
Calando em seu tormento, minha voz.
Sagrando contumaz pressentimento
Que torna o meu viver, decerto atroz...

Que resta de meus sonhos? Quase nada...
O canto que te trouxe queda mudo.
A mão que acaricia a minha amada,
Retalha meu amor em quase tudo...

A vela da esperança então se apaga,
E nada do que fomos já me resta...
Dos mares que navego, louca vaga
Remete ao sentimento que me empresta...

Amor que em tal tormenta já soçobra.
Contento com os restos que me sobra...

Marcos Loures


1

Meu pensamento chega e num momento
Invade tua casa cama e sexo,
Perdoe se causei algum tormento
Eu quero o teu amor, loucura e nexo.

Escuto a tua voz ouvindo o vento
Sou côncavo que busca por convexo
A ti a cada novo pensamento
O amor vai me levando sem complexo.

No amparo dos carinhos que me dás
Encontro a mais perfeita e clara paz
Razão de meu viver, do meu sonhar.

O templo dos prazeres, tua boca,
O amor que nos ensina já se aloca
Nos seios de quem sempre eu quis amar...
Marcos Loures


2

Meu pensamento busca teu pensar
De forma que pensemos mais unidos.
Os versos que desfilo nesse amar
No mar de tantos sonhos esquecidos...

Tu sabes que vivemos da paixão
À flor da pele, somos tão iguais.
Vivendo nas loucuras da emoção
Em tudo que fizemos, somos mais.

Sabendo quanto ecoam nossos cantos
Nos nossos corações alucinados.
Rolamos nossas camas, rumos, mantos,
Só sabemos viver apaixonados...

Por isso, minha amada meu mergulho
No mar já se explodindo num marulho...


3



Meu peito vai molambo e sem sentido
No escambo de meus sonhos eu perdi,
O quanto não percebo revolvido
A podridão reflete sempre em ti.

O cais que já não tenho refletido
No mar que internamente não mais vi.
O caos em ladainha repetido
Está bem preservado, guardo aqui.

Crepúsculos; espreito dentro em mim.
Nas pústulas que levo; minhas bênçãos
Os dias que pensara serem sãos

Amparam cada passo para o fim,
Saudade vai queimando e já lateja
Dardeja uma ilusão que se deseja...




4

Meu peito sossegado
Depois da tempestade
Encontra adocicado
Um gosto de saudade

Daquilo que em verdade,
Pensei fosse meu fado
Tanta felicidade
Com gosto de pecado.

Amor que não se olvida
Em gestos inocentes,
Trazendo para a vida

Palavras envolventes
Decerto uma saída
Em sonhos reluzentes...


5

Meu peito quase um bárbaro imperfeito
Sem ter as filigranas portentosas,
De imenso matagal em chuvas feito,
Nas lágrimas e espinhos, velhas rosas
Aradas com a dor de qualquer jeito
Em tardes bolorentas, caprichosas...

Eu trago dentro em mim toda a tristeza
Que é natural daquele que cresceu
Sabendo que enfrentar a natureza
É ter da noite treva em total breu.
Assim, marchando sempre com rudeza
Palavra feito faca, este sou eu!

Nos olhos da morena, amor socorre,
Que o sangue da esperança ainda escorre..


6

Meu peito necessita uma faxina
Operário incansável acumulando
Caçando qualquer forma feminina,
Pesado, vai aos poucos desabando.

Cevando uma agonia quer o brilho
Do quanto que se faz, já nem destila,
Amores do passado quando empilho
Entopem de tristeza esta mochila.

Cochilo, e sem perdão, amor de novo,
Fazendo do meu peito um armazém.
Uma apostila antiga que reprovo
Às vezes nem perturba, mas já vem...

Na turba que se entranha eu me empaco,
Só peço, por favor, não encha o saco!
Marcos Loures


7

Meu peito escancarado de tristezas
Esfaceladamente se destrói.
Inconscientemente de incertezas
Já se inunda... retalho, já se mói...

Nas lendas seculares se corrói
Nas pedras insensíveis, suas mesas...
A vida que maltrata sempre sói
Ser única medida sem defesas...

Apaixonadamente desvairado,
Liquidificador esmaga o senso...
Rasgado, esfacelado, escancarado...

Nas perdas que somei, fiquei vazio...
Meu coração gigante, pois imenso,
Fingindo, não se esquenta, bate frio...
Marcos Loures


8

Meu peito enamorado segue exposto
Aos ventos e loucuras, temporais,
Acima do que quero tal preposto
Permite na verdade, um novo cais
Aonde o que vivera em frio agosto
Transborde melodias sensuais.

À margem dos recados recebidos,
Eu sigo sem temer o que virá,
Amor ao seduzir os meus sentidos
Expressa o que eu desejo desde já.
Os dias entre gozos repartidos,
Espelham o que de nós renascerá.

As frutas espalhadas no quintal,
O beijo que se mostra sem igual...
Marcos Loures


9

Meu peito em terremotos quando vejo
Tua nudez exposta em meu dossel,
Lateja em minha carne tal desejo
De penetrar inteiro neste céu.

Recolho tantos gozos que eu almejo
O coração sem rumo, vai ao léu
Aos poucos vai tomando esse traquejo
De ser abelha farta em tanto mel...

No terremoto extenso que sofri
Na tempestade imensa, um furacão
Sentindo esta presença bem aqui,

Das enchentes, tornados, maremotos,
Envolto nos enredos da paixão,
A pele delicada... Flor de Lótus...


10

Meu peito em sedução
Bebendo desta fonte
Que mostra que o perdão
Já traz belo horizonte,

Em nosso coração,
Amor que enfim aponte
Prá dor, a solução
Formada nesta ponte

De corpos sequiosos
De amor e de prazer,
Amantes orgulhosos

Dourando, nos faz crer
Que sonhos maviosos,
Começam a nascer....


11

Meu peito dolorido vaso cheio,
Das dores que não posso desprezar...
O rasgo que causaste, meu anseio,
A noite que te dei perdeu luar...

Procuro mais veloz, saber um meio
Por um caminho novo te encontrar,
Na maciez delícias do teu seio,
O corte que causaste faz sangrar...

Meu peito apaixonado, já se enchia
Das ilusões vertidas sem sentido...
As farsas que montaste, poesia

Esperam novo olhar, houvera sido
Vencido pelas mesmas fantasias...
Os raios que trovejam os meus dias...
Marcos Loures


12

Meu peito dolorido já te alcança
Na dor que me destrói, demais intensa.
Sabendo que esse amor é minha dança
Saudade traduzida como imensa.

Criança procurando um acalanto,
Num canto mais sereno, quero encanto.
Amor que me prometes, tanto, tanto;
Investido do amor, cessando o pranto.

Me espanto de saber quanto te quero,
Te quero e já percebo quanto é bom
Viver com teu amor que enfim venero,
Amar intensamente, santo dom...

Eu quero teu amor enternecido,
Eterno em tanto amor, bom, dolorido...


13

Meu peito curumim faz sempre as suas
A cada amanhecer mil traquinagens,
Ao ver as multidões, imensas ruas
Procura por belezas e visagens.

Visgo do teu olhar quando flutuas
Invade o coração, e traz miragens.
Às vezes mal caminhas e recuas,
O coração se entrega a beberagens

E sonha o tempo todo, não desiste,
Duma alegria imensa fica triste,
Mas nada mais consegue enfim deter

Meu coração eterno vagabundo,
De novo se emaranha e num segundo,
Recomeça a sonhar e assim sofrer...


14

Meu passo segue, enfim, desencontrado
Distante do que fora paz e abrigo,
A morte já mandando o seu recado,
Encontra a cada curva, outro perigo,

A dor vai ecoando em alto brado,
Um passo para frente e não consigo,
Atado aos elos duros do passado.
Um sonho que me acalme, em vão, persigo.

Quem sabe em ilusão ressurja um dia
Nos brilhos da alvorada: fantasia
Trazendo novamente a claridade

Mas nada do que eu possa vislumbrar
Permite que eu consiga imaginar
Depois do temporal, tranqüilidade...
Marcos Loures



15


Meu passo no teu passo vai preciso
Navega eternidade em cada abraço.
Amor, eu na verdade nem disfarço
E vejo em nosso caso um bom aviso

Mostrando delicado, o teu sorriso,
Presente que nos deu em fino traço
Cupido, ao estreitar em forte laço
Amor que se entregou, bem mais conciso.

Sentindo os teus cabelos, sobre a face,
Beijando a tua boca, mais sedento.
Um gesto benfazejo, sem impasse

Transforma em alegria o que foi dor
Tocando nossa pele um manso vento,
Empresta loucamente o seu calor...


16

Meu passo na verdade é conduzido
Por que ao se mostrar um ser maior
Espalha em meu caminho com louvor
Um dia de esperança percebido,

No canto que se mostra conhecido
Certeza de uma vida bem melhor,
Nas asas da amizade e do amor
O vento da alegria é já sentido.

Pessoa de raríssima beleza,
Teu canto sendo ouvido, com certeza
O mundo enfim, seria bem mais belo.

No teu aniversário, eu te agradeço
E as glórias divinais eu sempre peço
Nas preces que hoje eu faço e te revelo...


17

Meu pai que se perdeu em noite clara,
Deixando a solidão como presente.
Amor que tantas vezes desampara
Durante a vida vaga não se sente.

A boca da saudade é tão amara
Decerto uma esperança se pressente
Na mão que em mil carinhos antepara,
Porém o vento diz do amor ausente.

Sozinha, minha mãe pouco dizia
Do pai que já se foi pra nunca mais
Resíduo de uma imagem, fantasia.

Distante de meus olhos, tantas léguas
Saudade do vazio não dá tréguas
Pesando em minhas costas, dói demais...
Marcos Loures


18

Meu sonho ao te encontrar, felicidade!
Meus versos companheiros de teus versos.
Ao lado deste amor, nossa amizade,
Mostrando estes matizes mais diversos.

Encerro no meu peito a claridade
Que ganha no infinito de universos
Essência da total fraternidade...
Não deixa nossos cantos mais dispersos

Fazer-te mais feliz, amada amiga,
Pousar em tua boca o doce mel
Nesta ternura plena e tão antiga

Deitar-me do teu lado, estar contigo
E juntos galoparmos no corcel
Que entranha de desejo, amor amigo...
Marcos Loures

19


Meu ser que se fez cinzas de um cipreste
Que outrora sombreava calmamente,
Nas dores por herança que me deste
A vida se perdendo tolamente.

Somente a solidão inda me veste
E aos poucos me transforma em vão demente.
O não quando meus olhos o puseste
Em vendas tudo nega, cegamente.

Revejo nos meus dias, juventude,
Um rosto de belíssimo fulgor.
Não sei e nem concebo como pude

Perder o manto claro deste amor.
A mão desta saudade, fria e rude,
Matando, sem ter pena, um sonhador...


20

Meu ser emudecido se escancara
E bebe em temporal o teu sorriso,
Esfirras e cachaça vida amara,
O mar não representa o paraíso.

Sem medo desta dor que desampara
Nas névoas da esperança perco o siso,
Pulsando a sensação em que fixara
O tempo necessário e mais preciso.

Espelhos refletindo o que se fez
Em mágicas palavras, foz e mar.
Vontade simplesmente de te amar

Mordendo a solidão, insensatez.
Coração arquejante já não bate,
A vida determina este arremate...


21

Meu medo caminhando o seu naufrágio,
Procura nas barcaças meu destino;
Esqueceu de saber qual o presságio
Guardado fosse guia, atroz, mas fino...

A vida, transcorrendo em cada estágio,
Renova-se no riso do menino
Esquecido no canto, embora frágil,
Percebe logo amor em desatino

que é sempre a paga, lívida e cruel.
Buscando essas estrelas do seu céu,
encontra tão somente estas mortalhas,

de amores que se foram nas batalhas,
Nas defesas que tento conhecer
Aumentarão apenas meu sofrer...


22

Meu mar já se entregando em mansa praia
Enfrenta tais procelas no caminho.
Não deixa que esperança, um dia traia
Matando o coração em desalinho.

O vento levantando a tua saia
Beleza tão sublime que adivinho
Desejo em teus prazeres já se espraia
E sorvo cada gota de teu vinho.

Teu corpo serpenteia em minha cama,
Divina transparência sensual,
No riso, um paraíso sem igual

Acende o fogaréu, intensa chama.
Meu mar ao vislumbrar tão belo cais,
Selando o nosso amor, quer sempre mais.


23

Meu maço de cigarros na metade,
Meu copo sempre cheio de cerveja.
Tomado pela angústia da saudade
Minha alma te procura e te deseja.

Eu olho pro relógio. Eu sei que é tarde,
Somente a solidão é que me beija;
Da noite o que restou? Ansiedade!
A dor deste vazio, rói, lateja.

Ao pedir outra dose de conhaque
Eu te vejo na taça refletida.
Miragem? Num segundo tomo um baque

E vejo que é real. Quando me vês,
Sorris e logo chamas. Volto à vida
Emergindo de toda embriaguez...
Marcos Loures


24

Meu maço de cigarros na metade,
Meu copo sempre cheio de cerveja.
Tomado pela angústia da saudade
Minha alma te procura e te deseja.

Eu olho pro relógio. Eu sei que é tarde,
Somente a solidão é que me beija;
Da noite o que restou? Ansiedade!
A dor deste vazio, rói, lateja.

Ao pedir outra dose de conhaque
Eu te vejo na taça refletida.
Miragem? Num segundo tomo um baque

E vejo que é real. Quando me vês,
Sorris e logo chamas. Volto à vida
Emergindo de toda embriaguez...


8225

Meu maço de cigarros já no fim,
A noite é longa e nada mais terei,
Senão o que restou dentro de mim,
Do tempo em que vivia sob a lei

Deste amor tão ignaro quanto sei,
Vagando sem destino, mesmo assim,
Na busca mais frenética tracei
Os passos que morreram no jardim

Da casa onde moravas, flores falsas,
Espinhos resgatando cada passo
Perdido em debutantes sonhos, valsas

Amaras experiências mal vividas,
Restando tão somente o meu cansaço
Mas tento renovar-me em nossas vidas...


26


Meu louco amor descansa nos meus braços,
Qual redentora glória em meu outono.
Encontro meu caminho em teus espaços,
Deixando mais distante um torpe sono.

Não quero descansar, atando os laços,
Unidos ao teu corpo, em abandono,
Meu pensamento voa nos teus passos,
Rainha juvenil em mago trono.

Invoco meus poemas, testemunhas,
Sem mais cantos perdidos, nem flagelo,
Arando nosso amor, vivo rastelo,

Separo ervas daninhas, rego a rosa,
As garras me tocando, tuas unhas,
Pantera em pleno ardor, silenciosa...


27


Meu lago se tomou em amargura
Do sal que sempre teve, nada mais.
No enxoval dos sonhos da ternura
Apenas a metade o tempo traz.
O que logo desfaz, depressa cura,
Mas sempre leva um pouco desta paz.

Na rede das intrigas, fina agulha,
Desfere cedo um golpe contra mim,
O meu olhar tampouco se debulha
Retesa arco com seta, até no fim,
Amor que não se fez canalha e pulha
Guardado no canteiro, no jardim,

Florindo em esperança benfazeja
Que adoça muito mais que se deseja...


28

Meu ideal por certo já cintila
Nos olhos de quem soube ser amiga.
No passo em que permites que eu prossiga
Demonstras a amizade mais tranqüila.

Qual lume que irradias na pupila
De quem dentro dos sonhos já se abriga
Tu sabes do carinho em que esta viga
Se fez do chão barrento, de uma argila.

O mesmo Deus que um dia, soberano
Mostrou toda pureza e raro ardil,
Executando firme, um belo plano

Criando em espelhar caricatura
Um ser que talvez fosse mais gentil,
Dourou nossa amizade, com ternura...
Marcos Loures


29

Meu grito representa um instrumento
Que salva-me dos braços da loucura;
Envolto em desabafo com bravura
Espalha meus sentidos pelo vento.

Numa explosão mais forte, o sentimento
Ao mesmo tempo exponho e traço a cura;
Livrando-me da dor que me tortura;
No desabafo intenso, um bom ungüento.

Sou manso e no remanso é bom viver,
Mas sinto que por vezes incomoda
A placidez de quem amor açoda.

Depois que solto o grito posso ver,
Em calmaria branda que me invade,
Os olhos do meu peito, em liberdade.


30

Meu grito de esperança está contido,
Atado pela dor de uma injustiça.
Quem pensa que adormece em um olvido
A fome que decorre da cobiça
Num canto desta casa, adormecido,
Espera reviver em nova liça.

Não posso ser feliz se impera a dor,
Se vejo em meu irmão, o sofrimento.
O mundo em novo rumo recompor
A glória que se foi sem sentimento.
Talvez um novo dia, em pleno amor
Mostrando assim tenaz ressarcimento.

A vida se mostrando de repente,
Num mundo em que esperança seja urgente...


31

Meu filho; em pleno amor foi-me ofertado,
Na sorte tão feliz que Deus me deu.
No beijo que esperança tem me dado,
Em meio a tantas luzes, já nasceu.

Teu pai que sempre foi um homem triste
Nos versos que te faço, eu te agradeço,
Amor igual, maior jamais existe,
De tantos que já tive, eu envelheço...

E sinto que na morte que me toca,
Domando essa minha alma sem sossego,
Amor que d’outro amor não pede troca,
Não cobra nem sequer um aconchego.

Mesmo distante brilhas e és meu céu,
Meu anjo, meu amado Gabriel!


32

Meu filho vai correndo pela casa;
Dono das mais perfeitas formas. Lago
Onde moram amores. Sua asa
Aberta, anjo divino d’onde trago

Os meus sonhos... És chama, fogo, brasa.
Da vida rei; dos sonhos és meu mago.
Minha saída dessa dor que abrasa,
És mansidão d’amor, maior afago...

Correndo pela casa, liberdade.
Luz que clareia a vida, mocidade.
Nesses tempos doídos és alento...

És tempestade mansa, um forte vento
De esperanças. Meus sonhos, meu perdão...
És a razão da vida, coração!!!


33

Meu filho como é bom poder lembrar
Do dia em que nasceste. Em tal magia
Mergulho o pensamento e devagar
Eu vou me relembrando da alegria

Que Deus neste momento, ao se lembrar
De quem em solidão, tanto sofria,
Veio por um instante decorar
Meu mundo de delícia e fantasia.

A vida me levou para distante
Daqueles olhos meigos da criança
Roubando todo o sonho radiante

Que um dia descobri não merecer.
Mas hoje quando um ano a mais se alcança
Queria em parabéns, agradecer...


34

Meu fado não afogo nem reflito
Mas penso que não peso se não vou.
No labirinto extinto solto o grito.
A rosa do que fui despetalou.

O medo de não ter meu infinito
Expresso nas verdades que não dou.
O mundo que vivemos é sempre hirto.
Nas pontes que passaste naufragou...

A cal que sendo cáustica claudica
No laço que me enlaço te enlacei.
A corda que não medes não se explica

Jazeste nas quimeras que me deste.
O mundo que desejo não tem rei.
Alastras como fosses uma peste...


35

Meu doido coração faminto se ata...
E bate sem sentido nem por que,
Adentra a sensação de densa mata
Que forma todo anseio em que se crê.

Vivendo enternecido pelo brilho
Da lua que invadiu esta alvorada,
Num mar de tanto amor me maravilho
E sigo teu caminho, nossa estrada...

Em alforjes que carrego dentro da alma,
Os víveres mais doces são teus lábios.
Não quero nem sequer o que me acalma,
Não quero nem prudência, nego os sábios.

Um sabiá sabia quanto amar
Valia muito mais do que voar...
Marcos Loures


36

Meu dia, esteja certa já foi ganho
Depois de te saber enamorada,
Não guardo medos trágicos de antanho,
Apenas percorrendo a mesma estrada

Eu vejo que talvez não me perdi,
Tampouco em cada curva eu capotei.
O quanto que em delírio sei de ti
Eu sei que na verdade eu nada sei.

A boca que hoje beijo não disfarça
Decifro teus enigmas e devoras
Distante dos teus lábios segue esparsa
A vida que se ilude sem ter horas,

Embora caminhando sempre ereto,
Morena balançando o meu coreto


37

Meu Deus, não me permita essa loucura,
O velho desdentado não merece,
Fazendo da esperança a minha prece
Queria ter ao menos a ternura.

A cada nova curva, outra amargura,
No fundo o coração não me obedece.
Quem dera se talvez inda pudesse
Vestir a fantasia da candura.

Não quero mais ninguém. Seguir sozinho
Sem medo das estradas, colho espinho,
E faço dos meus dias calmaria.

Mas quando a madrugada trama a lua,
Eu vejo numa imagem bela e nua
Mulher que se traduz por ventania...
Marcos Loures


38

Meu Deus quando te fez nunca pensara
Que tudo que sonhei estava em ti.
As dores que passara, já perdi
Nos teus olhos amada jóia rara...

Em busca da doçura, a vida amara
Te escondeu mas, deveras, ei-la aqui
Os medos que maltratam já venci.
Agora sou feliz, minha Samara..

Carrego minhas cruzes meus espinhos
Mas tenho a recompensa dos carinhos
De quem, num belo dia, Deus me deu.

Meu jardim florescendo em teu perfume,
Não guardo dessa vida um só queixume.
Pois sei que nosso amor, Deus protegeu!
Marcos Loures


39

Meu destino, florestas sem futuro,
Mortas as noites sinto tua mão...
Navegante procelas, mar escuro...
Na fúria e calmaria, sou leão.

O chão que me provoca bate duro.
O mar desta saudade aluvião.
Trovadores sem rimas, amor puro.
Vestígios denunciam no vergão,
A tortura não mata, nem aturo...

Galgarei solidão sem ser sol,
Semelhanças padeço, pelo sal
Da terra, nada mais terei em prol,

Na luz que passará, meu passaredo.
Amor mar marinheiro, principal,
Pássaro passageiro, passa o medo...
Marcos Loures


40


Meu destino jogado em preamar
Nas ondas que te levam para aonde?
Nas conchas que cansamos de buscar
Na história em que perdemos trem e bonde.

Promessas de fingir e de sonhar
Teu rosto nem mais sinto, onde se esconde?
Estrela tão difícil de encontrar.
Nem mesmo uma esperança me responde,

Apenas pude ver tua partida
Nas ondas e nas conchas, nesta areia
Lambida pela luz da lua cheia.

Distante de teus olhos passo a vida,
Procuro pela estrela porto e cais,
O vento me condena: nunca mais!


41

Meu destino amargo, triste e frio,
Rondando minha casa, abre a janela
E encontra um coração ledo e vazio,
Distante de outros tempos. Já revela

O quanto de ilusão ainda eu crio,
Falando deste amor, tanto, por ela.
Fugindo e me perdendo, eu avalio
O vento que adentrando apaga a vela.

Da brisa costumeira, vendaval,
Dos olhos de quem foi, apenas facho.
No apagar dos meus dias, nada levo.

Apenas a saudade sem igual
De um tempo mais feliz. O nada eu acho,
E um verso derradeiro, então me atrevo...

Marcos Loures


42


Meu desejo é teu beijo rosa bela,
Plantada no canteiro da esperança.
A sorte em tua boca se revela,
Na noite que promete e o bem se alcança.

A rosa que é vermelha e amarela
Não sai do pensamento e da lembrança
A vida que passei foi só por ela,
A rosa não deixou de ser criança

E solta seu perfume por aí,
Deixando o coração tão apressado,
Amor que procurava achei em ti,

Um bem te vi te viu tão verdadeira
Porém um colibri apaixonado,
Sofrendo com espinhos da roseira!


43

Meu desejo é ter teu colo,
Moreninha meu amor,
Deitar contigo no solo,
Com carinho e sem pudor.
Em teu corpo me consolo,
Vou vivendo, sonhador.

Quero a boca mais bonita
Que já vi na minha vida,
Meu amor, vê se acredita,
Que te quero assim, querida,
A minha alma andava aflita
Sem saber de uma saída,

Mas sentindo o teu perfume,
Da cegueira veio o lume...


44

Meu desejo é te encontrar
Num momento de alegria,
Não me canso de sonhar,
Quero amor e é todo dia.

Como ao barco em pleno mar
Uma estrela já me guia,
No infinito vai brilhar
Com lirismo e poesia.

Chegue aqui, escute a voz
Deste tolo caminheiro
Que procura ver em nós

O seu amor derradeiro
Se o passado foi atroz,
Nosso amor é verdadeiro!
Marcos Loures


45

Meu corpo vai seguindo cada rastro
Deixado por teu corpo delicado,
Morena tu já negas alabastro
Teu corpo tem a cor do meu pecado.

No acordo que fazemos, vale e mastro,
O beijo na maçã é mais safado.
Jamais foi ilibado, é bem babado,
E brilha todo dia sem ser astro.

Plantando meu desejo em teu roçado
Fazendo de meu verso, o meu rastelo,
Que se danem princesas sem castelo.

Chegando de mansinho pro meu lado,
Abrindo este sorriso mais sacana,
Vem logo temperar minha cabana...


46

Meu Pai onipresente onde estarás agora?
A solidão consome, expõe o meu cansaço...
Ao nada retornando, a vida não demora,
Meu pranto Te procura. Estás solto no espaço?

Ubiqüitário Deus, vasculho mundo afora
Preciso urgentemente aguardo teu regaço...
Não deixe por favor, minha vida ir-se embora.
Me responda Senhor: me diga o quê que eu faço?

Meu dia já termina em busca deste sonho,
Envolto em densa bruma abraço a noite escura.
Do mar, um pesadelo, um ser forte, medonho...

Terrível calabar, se erguendo me devora...
Devolva-me sem medo, a natural ternura...
Meu Pai, onipresente, onde estarás agora?
Marcos Loures


47

Meu Pai não te peço ajuda
Já por demais te pedi.
Mas ao pobre vê se acuda
Seja paraíso aqui

Não basta um galho de arruda
Nem tudo que já perdi.
A roupa que veste e muda
Desde o dia que nasci...

Vastas as tempestades
Várias as brutais cizalhas
Trastes são veleidades

As podres velhas canalhas
Nos dentes trazem adaga
Os devoram velha draga!
Marcos Loures


48

Meu Pai é bem melhor, eu te garanto,
Pois Ele nos criou com maestria.
Nos braços de meu Deus eu me agiganto,
Verdade sem igual, sem fantasia.

Ajuda a consolar secando o pranto.
E toda a humanidade é Sua cria
Criando este universo com Encanto
Beleza alucinante propicia.

E saiba, que este Pai é também teu,
Um coração que seja assim ateu
Não deve ter carinhos , preconizo.

Eu mando tua raça pros Infernos
Em sofrimentos tantos, pois eternos
E para quem não crê: fogo e granizo...

UMA HOMENAGEM AOS INTOLERANTES E DONOS DA VERDADE.
CANALHA RESPONSÁVEL POR MILHÕES DE MORTES.
QUE AS CHAMAS E LABAREDAS OS RECEBAM COM TODA A GLÓRIA QUE MERECEM...


49

Meu orgulho exporei no meu desejo...
Vaso quebrado nega seu valor.
Meu ardoroso sonho que cravejo
Não precisa brilhantes a compor...

Nos olhos orgulhosos tudo vejo,
Não sinto teu sabor, doce licor...
A morte degenera meu vicejo,
A boca apodrecida dá pavor...

Já tenho consciência: disparate!
Meus restos escondidos no bornal...
A degeneração dum simples vate

Sonhador, demonstrando o que é a vida.
Os olhos despedaçam na partida,
Orgulho se desfaz no funeral...
Marcos Loures


8250


Meu olhar tão distante, nada alcança
Uma ilusão perdida sendo o guia
Matando o que de outrora resistia
Tristeza me servindo de fiança.

Porém ao ver teu riso de criança
Amiga, renasceu a fantasia
De ser bem mais que lúdica lembrança
De um tempo tão distante que morria.

Meu coração, somente não entende
E teima em viver só do passado,
Ao mofo, à naftalina ele recende

Matando um embrião de uma esperança
Um velho sem futuro, abandonado,
Apenas no passado, ele descansa


51

Meu olhar que já fora manso e doce
Tempestuosamente me traiu...
A noite calmaria sempre trouxe
Porém tão de repente se esvaiu.

A calma desses anos acabou-se...
Meu peito embriagado pastoril,
Num momento feroz exasperou-se
À sombra da saudade, meu buril...

Agora, nas tempestas e procelas,
Irado vai buscando um novo dia...
Montado nas estrelas, não tem selas,

Convulso já despreza a mansidão...
As notas que traziam melodia,
Me rasgam, devorando o coração!


52


Meu olhar descortina exatidão
Do corpo mais perfeito que conheço.
Desnuda em minha cama, com tesão
Vertiginosamente reconheço
As marcas do desejo e tentação
Mostrando o quanto amar tem o seu preço.

Desvendo os teus segredos e mistérios
Recebo o teu arfar mais desejoso.
Pratico no teu corpo os magistérios,
Profetizando sempre o doce gozo,
Quem fora qual vassalo em teus impérios
Vai sedento, faminto, um andrajoso

Que implora neste verso desconexo,
Todo o calor intenso de teu sexo...


53

Meu olhar ansioso te esperando
Não voltas do que foste nem vieste.
O tempo de viver já vai passando
O vento que trouxeste não reveste.

Desisto desta busca sem sentido,
Sentindo que este frio não se esgota.
Amor quando em amor mal resolvido
Das dores ultrapassa sua cota.

Mas venho com meus olhos mendicantes,
Buscando o que não sei nem mais queria.
Quem teve tantos dias delirantes,
Só lembra dos momentos de alegria...

Mas sei que não desejo nada enfim,
Apenas teu fantasma vivo, em mim..


54

Meu mundo no teu mundo se perdeu
Num mágico momento inesquecível,
Amor que é nosso encanto concebeu
Além do que se fora, outrora crível

Um mundo sem abismo ou avarias,
Numa expressão perfeita em seus detalhes,
Teus sonhos em meus cantos quando alias
A tela já se doura em teus entalhes.

Distante das outrora movediças
Areias que enfrentei nos descaminhos,
Vencendo em minha vida antigas liças
Entrego-me ao delírio dos carinhos

Que trazes ora em forma de um anzol,
Pescando para nós divino sol...


55

Meu mundo mais silente e sem teu viço.
Num momento, perdeu o seu sentido.
Espinhos carregando qual ouriço,
Às portas da saudade, deste olvido.

Quem fora tão pudico, tão castiço,
Morreu sem nem saber, mais destruído.
A vida derrubando esse caniço,
A sorte não legava, distraído...

Me deste então sentido, mas sem rumo...
Desfazes todo leito em que descansas.
Nas vezes que tentei não me acostumo...

Desperta minha amada, temos danças!
Ao redor, maravilhas se deslindam...
As horas que sofri, lá fora, findam...


56

Meu coração trazendo como guia
A lua sertaneja, em rica prata,
Mergulho divinal na fantasia
Deitando cada raio em densa mata,
Parece que o bom Deus ali dizia
De todo este prazer que me arrebata.

Meus passos se mostrando alvissareiros,
Trazendo em cada senda tal pujança,
Que mesmo que pareçam corriqueiros,
Jamais esquecerei. Bela lembrança
De sonhos realizados, altaneiros,
Natureza desnuda em minha andança.

Um passional delírio em ansiedade,
Pintado pelo Deus por amizade...


57

Meu coração tocando em outro tom
O gosto da alegria de viver.
Felicidade mostra-se ser dom
De quem sonhou em busca do prazer.

No canto da esperança o mesmo som
Que faz a nossa vida se verter
No rio em fantasia, sempre bom,
Nesta vontade imensa de saber

O paladar da sorte em doce sina,
No gesto camarada de uma amiga,
Na lua que, de graça nos fascina

Na mansa corredeira que nos banha
No braço da amizade, imensa viga
Da paz que se aproxima, em luz tamanha...


58

Meu coração sofredor
Procurando o teu carinho,
Quê que faço sem amor,
Eu não quero estar sozinho...

Vivendo sem ter calor
Tão triste no meu cantinho,
Te carrego aonde eu for
Qualquer que seja o caminho.

O botão da laranjeira
Tá abertinho todo branco.
Meu amor, a vida inteira,

Eu plantei neste jardim,
Teu sorriso, todo franco,
Traz perfume de jasmim...


59

Meu coração servido em iguaria
Neste banquete imenso, dionísico,
Devoras calmamente nesta orgia
Aos poucos sei que vou morrendo em físico...

Sou sobra do que fora um sonhador,
Entregue ao teu desejo demoníaco,
Mas saibas que sou teu adorador,
Te quero com prazer paradisíaco...

Servido como prato principal
Na cama, o teu altar mais freqüentado,
Latejos de desejo sensual,
Me sinto, aos poucos, sendo devorado...

Hedônica figura de serpente,
Que quer me envenenar, e estou contente...


60

Meu coração seguindo uma boiada
Que desce do sertão para encontrar
A noite tão sonhada, iluminada
Nos braços da morena a me esperar.

Meu verso se perdendo não diz nada
Somente como é bom poder plantar
Semente de uma flor apaixonada
Que um dia noutro peito vai brotar.

Boiada vai passando mais ligeira
Encontra nos caminhos, secas, rios.
Assim também a vida feiticeira

Nas montanhas e várzeas, sol e chuva
Às vezes os meus dias são vazios,
A solidão cortando qual saúva...


61

Meu coração seguindo cada passo
Que fazes nesta estrada mais audaz
Tu sabes que eu te quero e não disfarço
Te quero, na verdade muito mais.

Sou teu, apenas isso, meu amor.
Atrás de teus caminhos, acho o meu.
Deitar-me do teu lado, em teu calor,
Amor quando é demais, me convenceu

Do dia que promete ter teu sol
Ardendo em minhas costas, prazeroso,
Deixando uma tristeza em arrebol,
Encontro um canto, leve e mavioso

Nas águas de Iracema, na alva areia,
Desfila radiante esta sereia...
Marcos Loures


62


Meu coração se veste em folhas, flores,
Recebe a primavera deste amor
Em meio a tantas guerras, dissabores,
Já sabe da alegria o bom sabor.

Irei contigo, amada aonde fores,
Num passo bem mais firme. Um sonhador
Já sabe dos caminhos redentores
Aonde desfrutar fragrância e cor.

Perfumes que tu deixas nestas sendas,
Segredos que comigo já desvendas
De um tempo alvissareiro e mais fecundo.

Vibrando o paraíso em nossa vida,
Eu quero te saber glória e saída
Na vastidão das cores, nosso mundo...


63

Meu coração se fia na promessa
De ter amanhecer com mais leveza,
Amor nunca me espera, já tem pressa;
Encontra nos teus braços, a beleza...

A sorte que encontrei no meu destino,
Vivendo toda a vida sem disfarce;
Amor me transformando num menino,
Dos velhos sentimentos, já renasce...

Amor; venha correndo; vem me acuda,
Não deixa esta tristeza ressurgir.
Preciso de carinhos, tua ajuda,
Deitado no teu colo; vou sorrir...

Deixa eu beijar t’a boca, minha amada,
A vida sem amor, é quase nada...


64

Meu coração que outrora fora frio,
Agora se aquecendo do teu lado,
Permite o meu viver menos sombrio,
Trazendo um sonho novo, iluminado,

O peito que se fora tão vazio,
Renasce em novo encanto, apaixonado.
De tudo o que vivi, meus sonhos crio
E sigo quase sempre engalanado.

Minha alma se entregando a tal delírio,
Procissão dos desejos sou teu círio
Que levas com louvores, satisfeita,

Meu corpo no teu corpo se deleita,
Amor que me transborde, mais sincero,
É tudo nesta vida o que eu bem quero...
Marcos Loures


65

Meu coração que fora qual mutante
Vestindo toda veste que aprazia,
Recebe tua imagem deslumbrante
E veste-se de gala em alegria.

Me deste teu futuro neste instante
Sou teu e nisso mostro quanto havia
Do todo que se fez mais importante
Que tudo que sonhei em certo dia.

Minha alma em turbilhão se aquece em ti,
Verdeja meu sorriso, inunda a face.
Do medo em borbotões que já verti

Não resta nem sequer sombra e pedaço.
Eu temo a sensação de que isto passe,
No esgotamento claro, no cansaço...
Marcos Loures


66 Meu coração profusa e calmamente
Irriga de esperanças minha vida.
Eu sinto que te posso num repente
Trazer a nossa lua vã, perdida...

Eu sigo meus fantasmas do passado,
Argutos e ferozes, me sugando.
Eu quero te reter aqui ao lado,
Ao mesmo tempo sempre te buscando.

Apenas em profunda hemorragia
Amor se derramou, tomou espaço,
Percebo que hoje sendo o que viria
Após a noite imensa sem cansaço,

Eu quero te envolver nesta ternura
De amor que te traduz intensa e pura...


67


Meu coração procura um manso ninho
onde, passarinheiro encontre a paz.
Pois o peito/andorinha se sozinho,
verão não reconhece e nunca traz.

Bebendo de teu corpo todo o vinho,
que julga ter direito e ser capaz.
Batendo tanto tempo tão fraquinho,
dispara, simplesmente e quer bem mais.

Eu te amo e jamais nego a minha sina
de ser feliz somente ao lado teu.
Tanta alegria,amada sempre mina

dos olhos de quem veio em salvação.
Há muito que meu sangue se verteu
nas veias, nas artérias, coração...


68

Meu coração precisa ser feliz,
Vivendo em tua pele insaciável
Escapando da dor vou por um triz,
Entrando em território impenetrável.

Vazando a corredeira onde eu fiz
O mundo que tramara amor potável,
Depois dos descaminhos, pedir bis
Vivendo bem além do imaginável...

Meu álibi encontrei nas tuas sanhas,
Arcando com meus medos e desejos.
Bebendo de teu cálice, as entranhas

Numa tortura insana e tão picante.
Mordiscar teus lábios com meus beijos,
E ser, depois de tudo, o teu amante...


69


Meu coração por certo tão urbano
Ainda guarda as luas do sertão,
Ouvindo estes acordes da canção
Feita pelo poeta soberano.

Embora maranhense de nascença
Fez-se do Ceará no sobrenome,
Criado entre a miséria seca e fome
Deu-nos tal banquete em recompensa

Agora ouvindo a voz da cearense
Poetisa, uma parceira sem igual,
Além de luas encho o meu bornal

Desta beleza rara que convence
Formando constelares maravilhas
Deixando diamantinas, belas trilhas...


70

Meu coração pesando vai de banda
No brilho de quem tanto imaginava
Depois da dura imagem mais nefanda,
O rumo finalmente eu encontrava

O passo bem mais firme não desanda
Rompendo da emoção, seu lacre e trava,
Uma amizade em paz tão só não anda
E mostra em plenitude o que buscava.

Os dias embelezam nossa vida,
Carinhos que se dão são recebidos,
Os passos em firmeza alçando a paz.

Não deixa a caminhada vã, perdida,
Caminhos mais libertos percebidos
Nos ventos que amizade já nos traz...


71

Eu perdi o meu coração no empoeirado caminho deste mundo;
Mas tu o tomaste em tuas mãos.
Eu buscava alegria e apenas colhi tristezas;
Mas a tristeza que me enviaste tornou-se alegria em minha vida.
Os meus desejos se espalharam em mil pedaços;
Mas tu os recolheste e os reuniste em teu amor.
E enquanto eu vagava de porta em porta,
Cada passo meu estava me conduzindo ao teu portal.

Meu Coração

RABINDRANATH TAGORE


Meu coração perdido na poeira
Ao ser tomado amor, em tuas mãos,
Quem teve só tristeza; companheira,
Quem teve tantos dias sempre vãos

Verteu tua tristeza em alegria.
Espalhei meus desejos pelo mundo
Enquanto o teu amor os recolhia;
Dando um sentido mais profundo

À vida que eu tivera sem destino
Vagando porta em porta, descaminho
Agora ao perceber, quando me atino
Já vejo que não sou mais tão sozinho.

Pois cada passo, vagando pelo astral
Levava – doce amor – ao teu portal...

Obs Fantasia feita em soneto sobre obra de Rabindranath Tagore


72

Meu coração palpita em tanta festa
Ao receber a carta que mandaste.
No fundo de minha alma já tocaste
Abrindo no meu peito imensa fresta.

Não quero mais saber do que me resta
Nem quero mais pensar se houver desgaste,
Mal sabes quanta luz tu me emprestaste
Salvando-me da dor que sei funesta...

Saudades que acumulo pela vida,
Lembranças de teu corpo, porto e cais.
Perceba quanto enfim iluminais

Na carta com anseios recebida.
Sabendo que tu sentes minha falta,
Felicidade, assim, minha alma pauta...


73

Meu coração não deixa-se domar,
Eu cria nesta lenda sem sentido,
Depois de que te vi, pus-me a pensar
Que amor nos doma e toma distraído.

Na tarde nebulosa da saudade,
A chuva derramando seus cristais
Rendendo e nos tomando a liberdade
Amor se aproximando mais e mais...

Percebo o rumorejo deste rio
Descendo nas cascatas altaneiras,
O mundo sem amor resta vazio,
As noites sem ternuras, sem fronteiras...

Meu coração domaste; fera amada,
A garra que cravaste: tão afiada...


74

Meu coração mineiro, um pobre sertanejo
Nascido na montanha em meio a tanta mata
Sonhando com menina, um distante desejo
Percebe sua sina, a vida em serenata...

Apenas vou dizer o quanto que prevejo
Do medo do que sou, um rio que em cascata
Descendo em solidão, num momento revejo
O que já fui e deixo em frio me arrebata...

Quem dera se pudesse em vôo mais liberto
Trazer esta guria e ser enfim feliz.
Porém triste cerrado esconde este deserto

Que trago dentro da alma, a vida calejada,
Que bom se isso trouxesse o céu em bom matiz,
Talvez então viesse a tarde desejada...
Marcos Loures



8275


Meu coração melão de São João
Nascendo em matagal, proliferou
Meu verso se encharcando de ilusão
Nos braços da morena decolou.

Depois, caindo como este balão
No chão, mais que depressa estambacou.
De tanto que bateu com emoção
Sem ter juízo quase que enfartou.

Namoro é muito bom, quem vai negar?
Chamego de morena inda é melhor.
Ah! Se eu pudesse assim me apaixonar

Mil vezes todo dia, sem temores.
Saberia dizer até de cor
Quais são os paladares dos amores...
Marcos Loures


76

Meu coração liberto olhando um cais,
Anseia por carinho e liberdade,
Sabendo de outros sonhos irreais,
Aplaca num momento a ansiedade

E quer, sem ter delongas muito mais
Do que pudera ser felicidade,
Aguarda no caminho aonde vais
Florir uma esperança em amizade.

Não deixa se levar por emoção,
Pois sabe quanta dor assim espera
Quem vive tão somente esta prisão

Que é feita em solidão, triste cativa,
Fartando-se de um sonho em primavera,
Mantém nossa amizade sempre viva...
Marcos Loures


77


Meu coração imerso em teu desejo
Se faz de nova luz e novo senso.
Nos restos do que fui tanto prevejo
Amor sem ter destino, vai imenso...

Não sinto mais vontade de saber
De que matéria amor tão louco tece.
Eu peço que tu venhas amor ter
Se quiser posso até rogar em prece.

Se nada restaria destas frases
Amor que incentivado cruza o céu.
Já veio me infiltrando pelas bases,
Depois de certo tempo, deixa ao léu.

Mas quero te sentir, taquicardia,
Amor que tanto prezo, me irradia...


78

Meu coração imerso em catedrais
Dos sonhos em longínquas, ledas datas.
Demonstra no vigor de serenatas
O quanto te queria bem demais.

Acordes dissonantes, sempre mais,
Adentram nas ogivas, colunatas
Deitando uma ilusão em velhas pratas,
Banquete que bem sei; terei jamais.

Mas vejo nestes sonhos, mãos suspensas
Que tocam o meu rosto com carinho.
Depois que tu partiste em desavenças,

O templo adormeceu, triste e sozinho.
Quem sabe voltarás em recompensas,
E a luz rebrilhará no nosso ninho...


79

Meu coração fazendo confusão,
Já nem sei se te quero ou nem te quis.
No meio das batidas, fui feliz?
Não quero nem respondo sim ou não!

Um coração moleque, sem perdão;
Inventa sua praia, diz que não diz.
E, pior, tempestade, pede bis...
Paga pra ver qualquer novo sermão...

Eu fiz meu calendário sem ter datas,
Perdi todo meu tempo nas ingratas
Sensações que me trazes, vagabundo...

Fiz meus versos, confesso que menti,
Muitas vezes, vadio, nem sofri.
Mas por fim, coração percorre mundo...
Marcos Loures


80

Meu coração encontra tanto alento
somente em teus regaço, no teu colo.
Pois sabes me trazer com teu talento
um vento delicado, meu consolo.

O tempo que promete temporal
se esvai em um segundo, e logo vejo
vontade se fazendo vendaval
procura, bem depressa por teu beijo.

Quem dera se eu pudesse ter a sorte
de ter em teus carinhos, porto e cais,
eu nada temeria, nem a morte,

seria o mais feliz entre os humanos.
Eu te amo e cada vez aumenta mais
compartilhar amores mais insanos...
Marcos Loures


81

Meu coração em busca dos amores,
Por tanto tempo o frio dominava...
De nada mais sentia suas cores
A corredeira doía, sempre brava...

Nada mais poderia ter, pensara...
Um coração que bate sem cuidado.
Amor eu sempre soube é pedra rara
Mas tem, p’ra ter valor, ser lapidado...

Não vejo mais futuro, estou sombrio...
Por vezes imagino teu sorriso.
A noite me trazendo tanto frio.
Espero teu amor, disso preciso.

Não deixe que isso tudo tenha olvido.
Salve meu coração, que está partido


82

Meu corpo te reclama a cada instante,
Deveras a distância nos maltrata,
Na força deste amor que me agigante
Delírio que conquista e que arrebata

Marcando com teus lábios, delirante
Caminho em que a ventura já nos ata.
Tua presença amada e sempre grata
Permite este momento fascinante...

Receba com carinho este poema
Que traz como seu mote uma alegria
Vencendo num sorriso esta agonia

Que outrora fora amargo e duro tema.
E assim dois andarilhos conterão
A eterna maravilha da paixão...


83

Meu corpo te buscando e na vontade
Que um dia em fantasia me tomou,
Entorno sem limites, saciedade,
De tudo o que aprendi, e agora sou,

Descubro- até que enfim – felicidade,
Na pele que em loucuras me tocou.
Refém do paraíso de verdade
Em ti meu barco, amada, naufragou

Do gozo mais perfeito que persigo,
Apenas junto a ti o amor consigo
Por isso creio ser tão necessário

Dizer a todo mundo quanto eu quero
O amor que se mostrando mais sincero
Completa em alegria, aniversário.
Marcos Loures


84

Meu corpo que se aquece nos teus braços,
Aos poucos me tornando um dependente
De todo esse carinho dos abraços,
Enlaces que me prendem totalmente.

Eu tenho uma vontade quase louca:
Falar pra todo mundo que me escuta,
Como é gostoso o cheiro desta boca
Que roça minha boca sem disputa.

Amor tão soberano e vagabundo,
Rolando em qualquer cama, sem pensar,
Não há maior amor, eu sei, no mundo,
Amor que não se cansa de cansar

Em tantas maravilhas que o amor tem,
Nas noites, nesses dias do meu bem...


85

Meu corpo no teu corpo; atos, laços,
Fomentos da divina insensatez.
Adentro com fulgor, ocupo espaços
Sentindo o teu suor, brilhante tez...

Estar dentro de ti, ser inerente,
Coalizão complexa, mas exata,
Num gêiser divinal, já se pressente
O gozo que em sorrisos se constata.

Das cordas, cárdia insânia, coração,
Volúpias benfazejas que se tocam,
Ardências e vontades, com tesão,
Prazeres que se encontram, já se alocam

Nos cândidos recônditos sedentos,
Em loucos frenesis, doces tormentos...
Marcos Loures


86

Meu corpo em podridão vasculha a casa
Do amor que se perdeu há tantos anos.
Na decomposição o sangue vaza
E deixa em mil pedaços velhos planos.

A morte sem juízo já se atrasa
E deixa tão somente os desenganos
Tomando o que resta em pouca brasa
Cadáveres de sonhos, desumanos.

Beijando a minha boca, a solidão,
Saudade deste amor, putrefação
De todos os sentidos. Renascer?

Quem dera se pudesse este prazer
De um último carinho quase inerme,
Nos lábios redentores deste verme...


87

Meu corpo de coçar-se anda perdido,
Às vezes quero crer mais não consigo
O quanto que essa pulga faz comigo,
Pegando-me, deveras distraído.

Ô bicho dos demônios! Convencido
De que pensa que eu sirva como abrigo,
Na verdade parece ser castigo.
Procuro nisto tudo algum sentido.

A vida que passei; vida cachorra,
Ladrando pelas noites nas calçadas,
Esta explicação; penso que socorra.

Quem sabe andei uivando nas estradas?
Agora que coçaram minhas patas:
Eu descobri por que: sou vira-latas...


88


Meu corpo com certeza irá esquálido
Levando o que restou de um ser patético.
O verso se mostrou bastante inválido,
Distante do que julgo ser poético.

Ausência de um verão que fosse cálido
Não vejo mais que um sonho e antiestético
Apodrecendo inerte, sigo pálido
Num paganismo intenso, sempre cético.

Quem ver-me, quase um verme sem valia
Não sabe que eu amei, sonhei, sofri.
Porém saudade mata uma alma fria

E nada sobrará decerto, aqui.
Apenas estrambótica visão
Do que só fora uma alucinação...


89

Meu corpo ardendo em brasa invade o teu
Incêndios provocados, fogo intenso.
A chama em umidade se verteu
No nervo contraído, o corpo tenso.

Bacantes exauridos, no depois,
Aragens e sorrisos, suor tanto.
Vibramos em uníssono, nós dois,
Numa explosão que é feita em raro encanto.

Insensatez e glória, na colheita,
Depois na terra arada, grãos fecundos.
A cama e seus lençóis, toda desfeita

A gota em explosão já convertida;
E mesmo que isto seja por segundos
Bem vale a eternidade de uma vida.
Marcos Loures


90



Meu coração varado por Cupido,
Em flechas tão certeiras quanto audazes.
Agora meu amor, o que decido,
Se falo em sentimentos mais falazes
O que pensara estar mais decidido,
Se perde no caminho num four de ases...

Cupido, esse moleque bem traquinas,
Tomou meu velho peito num assalto,
Já nem sabia mais; pernas, meninas,
Agora vem tropeço no ressalto,
A que será portanto que destinas
Ó deus! Um coração em sobressalto

Te pede, por favor, não faças isso,
Não quero mais saber de compromisso...


91



Meu canto se tornando mais sutil,
Num brinde que te faço, meu amigo,
Teu braço bem mais forte e tão gentil,
Pra sempre se transforma em nosso abrigo.

Protege contra a dor, quimera vil,
Afaga quem caminha assim, contigo.
O nosso peito em festa então se abriu
No canto mais feliz que assim, prossigo.

Revendo esta folhinha, o calendário,
Percebo que hoje é dia de uma festa,
Pois sendo assim, feliz aniversário

E que isso se repita por zil anos.
Enquanto houver a força que me resta,
Teus dias são pra sempre, soberanos...


92


Meu canto se perdeu em desafino,
O vento que te trouxe já te leva,
Enquanto dentro da alma chove e neva
Eu desafio, tolo, o meu destino.

O que será dos sonhos? Desatino...
A seca destruindo toda a ceva,
As nuvens que eu herdei, terrível treva,
Num verso sempre estúpido. O menino...

Aviso aos navegantes: sou naufrágio.
Inútil caminheiro, audaz e frágil,
Medonhas madrugadas; desafio.

E tento vislumbrar um lenitivo,
Apenas tão somente sobrevivo
Eterno inverno, sigo vão, sombrio...



93

Meu canto se perdendo sem ninguém
Vazio que se entorna dentro em mim.
Depois de tanto tempo quero alguém
Que trague e que remoce amor sem fim.

O vento da saudade quando vem
Destrói cada ilusão. É sempre assim.
Quem tantas vezes luta por um bem,
Em seca encontrará o seu jardim.

Há tempos que eu desejo te dizer
O quanto é necessário ser feliz,
Roubando da alegria este prazer

Meu verso sem sentidos se perdendo,
Aos poucos já não tendo o que mais quis
Os carinhos da morte me envolvendo...


94

Meu canto se faz simples como o sol
Nascendo sobre os montes no sertão.
Uma esperança trago por farol
Alumiando sempre o coração.

Não vejo nada além neste arrebol,
Somente me acompanha a solidão.
Procuro uma amizade, um girassol
Que não quer mais sofrer desilusão.

Amigo quando chega traz alento
E ajudando a encarar o novo dia
Apascentando a dor, trazendo ungüento

E transformando o triste em alegria.
Meu canto vasculhando num momento
Procura uma amizade; quem daria?


95

Meu canto pelos olhos vai movido,
Na sensação de ser, enfim eterno,
Mantendo o coração tão aquecido,
Faróis que me iluminam neste inverno

Da vida em que me sinto revivido
Pelo carinho doce, meigo e terno
Já tendo o meu passado revolvido
Esqueço o que vivi; amargo inferno.

Agora por somente ser assim
Um homem que se encontra em mar sem fim
Percebo quanto é bom poder dizer

Do quanto bebo a vida com prazer
Nesta mulher, decerto reluzente,
Fazendo-me sentir, de novo, gente...
Marcos Loures


96

Meu canto necessita de disfarce,
A voz embotaria o coração...
Não posso oferecer senão a face,
Espero por teu beijo e bofetão!

Nas horas mais doridas se renasce
A vontade translúcida, perdão!
Não quero, nem talvez nunca cessasse
A luz que já me insufla, da amplidão...

Meu canto não distingue nem explica,
Somente degenera e não se expõe
Meu canto que jamais cala, adocica?

Escarra minhas dores, alivia...
Devagarzinho chega e decompõe
Não deixa nem retalhos, fantasia...


97




Meu canto mais suave
Voando em direção
Qual fosse uma livre ave
Que busca o coração.

Não vendo mais entrave
Esquece a solidão
Depois de achar a chave
Aquece-se em paixão...

Meu canto agora quer
Amor que sei fecundo,
Nos braços da mulher

Mais bela deste mundo.
Pois seja o que vier
Não te esqueço um segundo...

98

Meu canto mais parece o de um pardal
Que se encanta com tanta maravilha
Bebida nos teus versos, doce trilha
Que me permite assim, um bom final.

Navega em mares calmos minha nau
Seguindo este farol que ao largo brilha,
Cada soneto teu, a alma andarilha,
Persegue num divino ritual.

A bela e talentosa sabiá
Sabia deslumbrar e desde já
Eu, pobre tico-tico, me inebrio

Com tua magnitude, minha estrela,
É sempre bom poder ouvir e vê-la
Tornando mais audaz meu verso frio...


99

Meu canto mais ameno e mais liberto
Encontra nos teus versos direção,
Andara sem oásis num deserto
Ouvi em tua voz anunciação

De um dia onde o longe fosse perto
E a vida permitisse esta lição
Do amor que é feito em peito mais aberto
Fazendo a saudade ser em vão...

Na comunhão dos sonhos e dos atos,
Uníssona certeza: ser feliz.
Por mais que sejam secos os regatos

Amor em enxurrada, tudo alaga,
E cura sem deixar a cicatriz
Qualquer funda ferida, imensa chaga.
Marcos Loures


8300

Meu canto errante busca uma harmonia
Que possa traduzir felicidade,
Vagando pela noite quente ou fria,
Nos bares e motéis desta cidade.

Quem sabe ao fim da vida, uma alegria
Permita-me falar da liberdade
Que embora tantas vezes, sonho cria,
Sabendo-me sozinho, diz saudade...

Marcantes sentimentos que vivera
No amanhecer da vida, primavera,
Apenas simples páginas marcadas

Nas folhas do diário da esperança,
Enquanto este vazio vem e alcança
As vozes da emoção, desafinadas...
Marcos Loures


1

Meu canto em ventania varre tudo,
Salgando esta salada do viver.
Às vezes em silêncio sigo mudo,
Pensando em tanta coisa por fazer.
Cavalo vai faminto e não me iludo
Meu verso se perdendo sem querer.

Faca dilacerante da saudade,
Na ponta tão aguda, bico e corte.
Se traço nos meus olhos liberdade,
A mão que me segura é sempre forte,
Não fosse estes meus laços de amizade,
Amor me levaria logo à morte.

Fazer da companheira amiga/irmã;
Um salvador momento em duro afã.


2

Meu canto em teus encantos, satisfeito,
Transborda em alegria, calmamente,
Felicidade muda em seu conceito
Do amor vira sinônimo e pressente

Que o mundo em nova face, dê direito
A quem necessitar ser mais contente
Invade em luz imensa o nosso peito,
Ao ampliar tal brilho, rara lente.

Deixando o sofrimento já perdido,
Distante, sempre ausente, e sem sentido
Percebo nos teus olhos, minha amiga

O rastro das estrelas e da lua.
Minha alma em transparência já flutua,
E o coração em paz, em ti se abriga.
Marcos Loures


3

Meu canto em liberdade, sem valor,
Não deve incomodar mais a ninguém,
Não sou mais do que simples trovador
Que gosta de cantar, de querer bem.
Não faço de meu verso um sedutor,
Pois sei má qualidade que ele tem.

Apenas vou tentando ser feliz
Da forma que mais quero e mais desejo,
Brincando da maneira que se quis
Um velho sonhador que não tem pejo
De em público mostrar a cicatriz
E mesmo assim sorrir. Por isso vejo

Com pena se meu canto te incomoda,
Desculpe se ele está fora de moda...


4

Meu canto é socialista, sim senhor.
Não quero mais injustas possessões.
Orgulho de poder viver amor
Sem temer mais quaisquer desilusões.

Somos iguais, dizia o Bom Senhor,
Tocando fundo em nossos corações...
Mas tantos imbecis sem ter pudor
Preferem os pecados aos perdões.

Sou feliz; tenho tudo que sonhei,
Tenho nos olhos amor e liberdade,
Meu sonho promissor já me faz rei

Quero compartilhar felicidade,
Eu assumo, entretanto, o quanto errei...
Nos olhos dos meus filhos, claridade!

Marcos Loures


5

Meu canto decantando tanto galho
Nos setembrinos cantos das cigarras
O campo de asteróides agasalho
Nos mares desconheço tais vis garras...

Meu mote feito em métrica que espalho
Tempera de venenos e alcaparras
Meu ato que julguei se fora falho
Não justifica medos nem amarras

Receba do cometa esta verdade
Mereces, por sinal, internação.
Quem traz um falso amor sem liberdade

Expõe a face negra da megera.
Não pede e nem merece mais perdão.
Aborto, fantasia-se de fera...
Marcos Loures


6


Meu canto de esperança esparso ao vento,
Trazendo este bom cheiro de café.
Na força que me invade o sentimento,
Igrejas tão distantes... Amor... Fé....

A voz de uma criança, num momento;
Correndo pela casa, corta o pé.
As mãos da avó contendo o sangramento...
Saudade vem chegando... Longe até

De todos os desejos mais distantes
No rosto da primeira namorada.
Os sonhos do menino, delirantes...

O amor chegara cedo. Turbilhão
Montando a cada dia, uma cilada,
Na força inusitada da paixão!


7

Meu canto de amizade amortecendo
As dores que carrego no meu peito,
Um novo amanhecer; irei tecendo
Cantando mais feliz e deste jeito

Um vento que apascenta percebendo
Na luta que não cansa, satisfeito,
Os rios da esperança percorrendo
Nas fozes deste sonho, meu direito.

Renovo a cada dia meu louvor
Ao fato de poder ter nos meus passos
Ajuda que se mostra em esplendor

De quem durante a vida tanto apóia
Ao estreitar da sorte velhos laços
Demonstra a perfeição de rara jóia...
Marcos Loures


8

Meu canto de agonia que se esparsa
Espessas nebulosas vão tragando,
Formando em tanto sonho, a velha farsa
Que aos poucos eu percebo me levando

Ao fim deste meu sonho mais bendito
De ter uma esperança em ser feliz.
Meu grito corre embalde ao infinito
E morro sem ter tudo o que mais quis.

Quem maldizia a sorte que encontrara
Dos dias benfazejos sequer sombra,
A noite que se dera em cor tão rara,
Em toda negritude já me assombra.

Meu canto tão sereno em emoção
Já morre da fatal desilusão...


9


Meu coração é como um velho trem
Que tem nas estações seu alimento,
E quando um passageiro novo vem
Encontra para as dores, grande alento.

Eu sei que me conheces muito bem,
Por isso modifique o pensamento,
Se tantas alegrias ele tem
Tua presença nele sabe assento.

Não quero que tu desças do comboio
Que acorda o coração de um sonhador.
No mar do amor que invade um manso arroio

E torna a placidez tempestuosa,
O meu jardim precisa desta cor
Bebida dos teus versos, rubra rosa...


10

Meu coração dispara pensativo,
Lembrando deste amor que me deixou,
Na rosa que vivia não mais vivo,
Saudades deste tempo; mas já vou...

Não posso me prender aos falsos sonhos,
Nem posso destruir o que não veio.
Ressurjo nos caminhos mais risonhos,
Em busca de teus mares, sem receio...

A vida assim passando, se completa
Nos tantos que vivemos sem temer.
Se penso que talvez seja poeta,
Eu quero, no teu mundo renascer...

Espero por momentos de alegria,
Trazendo ao nosso amor, a poesia...


11

Meu coração descansa no teu seio
As tuas mãos rolando meus cabelos...
Aos poucos aumentando o meu anseio
De me envolver contigo... Nos novelos

De pernas misturadas. Como é bom
Sentir o teu perfume me envolvendo
Desperta o meu desejo, o mesmo tom
De promessa que vai amor tecendo...

Selva, areias, desertos e montanhas
Por todos os lugares te buscar...
As mãos em meus cabelos, quando assanhas
Vontade de te ter e me entregar...

Teu rosto junto ao meu num só respiro,
Suando, todo amor, por ti, transpiro!


12

Meu coração deixado na boléia
De um velho caminhão, não tem conserto,
Numa hora complicada em pleno aperto,
Não quero mais virar simples geléia.

Dizia GALILEU DA GALILÉIA
Que quem vacila morre no deserto,
Ficando em sobreaviso, mais esperto
Desavisado casa com mocréia.

Moréia morde o rabo de quem pesca
Melhor que tubarão, isso eu garanto.
A sorte é vagabunda e tão grotesca

Enquanto a pátria for policialesca
Eu olho assim de banda, e nem me espanto,
Só quero é neste Amor, tomar a fresca...
Marcos Loures


13

Meu coração chagásico, disforme,
Aflorando-se em pétalas anidras...
Em meio a tempestades sempre dorme,
Aguardando as terríveis, venais hidras...

Num suicídio brando, dor enorme,
Como comemorasse, festas, sidras...
Bradicárdico, pulsando filiforme,
Embalde procurando doces, cidras...

Doces amores, plagas impossíveis.
Díspares seus sonhares, realidade...
As dores não recuam, impassíveis.

Jardins já não dispõem variedade.
As flores se tornaram virulentas,
Sístoles e diástoles... Tão lentas...


14

Meu coração cansado caminheiro,
Buscando desde infante pela glória.
A vida sanguinária seu tinteiro,
Esgarça toda dor, cruel memória...

Se mais vale a pobre alma ao mundo inteiro
O que me restará? Não sei...Vitória
É sentimento altivo e verdadeiro,
Porém é tão distante...Sou escória...

Ao ver toda a minha alma visionária
Buscando por amores que não tive...
A vida se abortando embrionária,

Não deixa sequer sombras onde estive,
A noite se aproxima, solitária,
Dos restos do que fui, minha alma vive!
Marcos Loures


15

Meu coração buscando uma resposta
Em vagos turbilhões quase se afoga.
A mesa dos amores já foi posta
Meu peito enamorado, tanto roga.

Eu quero uma ilusão para viver,
Não cabe mais o medo da derrota.
Amor é seduzir, e poder ter,
Da vida, uma alegria além da cota...

Eu, vendo teu sorriso mais tranqüilo,
Não deixo de sonhar felicidade.
Amando teu perfume e teu estilo,
Não deixo-me levar pela saudade.

Meu coração buscando manso cais,
Percebe como é bom te amar demais


16


Meu coração batendo sem descanso
Na espera do teu beijo e teu carinho.
Vivendo no meu sonho sempre alcanço
Desejo de não ser jamais sozinho.

Da triste solidão não sobrou ranço
Nem menos o seu cheiro no meu ninho,
Meu coração contigo bate manso,
Nas cordas tão sonoras do meu pinho...

Alívio de quem ama, uma esperança
Formou a fortaleza do meu peito.
Numa alegria enorme, tanta dança,

Vibrando de contente, sempre quis
Viver na minha vida satisfeito
Vivendo nosso amor, sou mais feliz...


17

Meu coração batendo qual maluco
Sem ritmo, descompassa num segundo.
Moleque vagabundo, mameluco,
Vagando de repente, quer o mundo.

A fonte do prazer quando eu cutuco
Mergulho, vou sincero e assim me inundo
Morena vem me dar todo o teu suco,
Tantas pernas! Misturas que confundo

Sou velho desdentado e não regulo
Meus olhos com a fome de te ter.
Não tenho mais nem bote e perco o pulo

Mas tenho uma vontade de viver!
Se deixares, amor, eu já te engulo
E mato a tua fome de prazer...


18

Meu coração batendo em disparada
Tropel das emoções, taquicardia.
Jamais eu baterei em retirada
Vivendo até fartar, a fantasia

Que a cada amanhecer já se recria
Mantendo a cercania iluminada.
Contendo com firmeza a hemorragia,
Na força da esperança, tamponada.

Coronárias, aurículas, decerto
Irrigadas por tanto sentimento,
Não deixam que se pense num infarto.

Amor ao transformar ledo deserto
Inunda com amor cada momento
Gerando em alegria, manso parto...
Marcos Loures


19

Meu companheiro; peço-te piedade
Não me obrigue a falar, mas dou razão
De tudo o que aprendi nem a metade
Vai ter a serventia ou precisão.
Mentira misturada com verdade,
Causando no meu peito comoção.

A gente desconhece quem abriga,
Na casa, na choupana ou na tapera,
Ardendo no meu corpo feito urtiga,
Mordendo e maltratando feito fera.
Pra essa mulher maldita eu trago a figa,
Que a peste na desgraça degenera.

Bem que tu me avisaste meu amigo,
Eu mereço, bem sei, este castigo...


20

Meu cigarro esparrama-se em fumaça,
Como o sonho que tive e não tem jeito...
Dançávamos felizes, plena praça.
Floríamos jardins, amor perfeito...

O tempo traiçoeiro, sempre passa,
Sozinho vou dormir, imenso leito.
Nos bares me embriago, rum, cachaça,
Nas curvas da saudade é que te espreito...

Cigarro companheiro; não te largo,
Embora no final, tu trairás...
O gosto: doce beijo hoje é amargo.

Calado me esfumaço pela vida...
Nas horas mais difíceis peço paz.
Espero, sem sinal, a despedida!
Marcos Loures


21

Meu cheiro está guardado dentro em ti,
Teu corpo está grudado aqui comigo,
Se dentro de teus olhos me perdi,
Viver sem teu amor, já não consigo.
Teus seios em meus lábios, tudo aqui...
Me diga então, amor como prossigo?

Se somos passageiros deste trem
Que liga nossos sonhos e desejos,
A vida nos teus braços sempre vem
Coberta por carinhos, nossos beijos.
Sem ti não sou mais nada nem ninguém,
Meu céu já vai morrendo sem lampejos...

Por isso, é que me vejo, tantas vezes,
Atado no teu corpo, siameses...
Marcos Loures


22


Meu cavalo vai solto com o vento
Ultrapassando vales e montanhas,
Na liberdade plena, o pensamento
Vencendo nos caminhos, artimanhas.

Tu sabes quanto em mim, saudade arranhas,
E toca sem segredo, os sentimentos.
Os dias se arrastando morrem lentos,
Atrás de cada passo, tuas sanhas.

Deslizo pelos ares, meu corcel,
Em nuvens negras, tristes, desenganos,
Qual fossem os rebanhos lá do céu,

Invento mil desculpas, traço planos,
Amor fazendo o peito de quartel
Mitigando estes males desumanos...


23


Meu canto vai chegando para o sul
Buscando uma menina tão bonita.
Correndo todo o mar e o céu azul
Às vezes neste sonho já acredita

Mas teme uma resposta assim contrária
E venha a ser tristonho e sofredor.
Bem sabe como a vida é temerária
Pra quem vive sonhando com amor.

Talvez um dia a sorte benfazeja
Trazendo uma alegria para mim
Mostrando quanto a vida só deseja
O gosto desta boca carmesim

Da prenda mais bonita que conheço.
É sonho. Simples sonho... Eu não mereço!


24

Meu canto te propõe um novo sonho
Que é feito goiabada pão e mel,
O gesto mais divino te proponho
Abrindo com certeza um vão no céu.

Amigos quando encontro pela vida
São raros e merecem meu cuidado,
Por isso não aceito despedida,
Nem quero este caminho sepultado...

Meu canto te propõe a nova luta
Que temos pela frente, companheira,
Lutando contra a força sempre bruta
Daqueles que se destroem terra inteira,

Lutemos pelos nossos semelhantes,
Irmãos e camaradas sempre e antes...


8325


Meu canto te buscando já te alcança,
Enaltecendo sempre a liberdade
Aonde o meu olhara em esperança
Percebe num momento a claridade,

Nos braços de quem quero, amor me lança
Mostrando assim cabal felicidade,
A noite vai surgindo sempre mansa
A calma em plenitude agora invade

Além do que meu sonho já me mande,
Encontro um mar intenso, belo e grande.
Tomando o coração, me faz contente.

Florindo em nosso peito, amor sincero
Expressa em fantasia o que eu mais quero:
Jardim de uma alegria, florescente.
Marcos Loures


26

Meu barco singra o mar em novas velas
Do quanto que eu vivi, pragas, carunchos
Cavalo sem arreio e sem ter selas,
Na calma procurada em ervas, funchos

Os trunfos que inda tenho sob a manga
Permitem novo jogo em franca luta.
Não quero mais olhar esta baranga
Que finge ser esperta audaz e astuta.

Prefiro o cheiro doce da morena
Que atrás da velha curva vem surgindo.
Mostrando uma esperança que me acena
De um dia mais gostoso, calmo e lindo.

Ateia fogaréu e não se nega,
O vinho mais gostoso desta adega...


27

Meu barco que se encontra sem destino,
Naufrágios e tormentas esperados,
Debaixo deste sol que queima, a pino,
Os olhos se derramam, tão salgados...

Voltar a ser de novo qual menino?
Deitar-te meus desejos malfadados?
Às vezes já pressinto que alucino
A sorte enfim rolou, faz tempo, os dados...

A boca delicada, a carne dura,
A pele perfumada, sonhos... sonhos..
Por quanto tempo a mais amor perdura?

Eternidade é meta mais distante...
Mas sinto que estes mares tão risonhos
Serão talvez, perpétuos num instante...
Marcos Loures


28

Meu barco nos teus mares; quero e ponho
Naufrágio mavioso eu adivinho,
Em meio ao turbilhão feito em carinho,
Adentra em gozo e paz um mar medonho.

O quanto com delírios; vejo em sonho
Permite que se beba o farto vinho,
Licores nesta cena que componho,
Adega em fantasia onde me aninho.

A cérvice em desejo, arrepiada,
Sussurros entre jogos e carícias,
Palavras se vestindo com malícias

A noite segue assim, em cavalgada,
Derramas em goteiras, sem pecados,
Os mantras mais sublimes, entoados...
Marcos Loures


29

Meu barco nos teus mares navegando
Enfrenta os temporais com gargalhadas,
As mãos que foram sempre bem atadas
Agora em liberdade acarinhando.

Às vezes pelos cantos hibernando
Esqueço que possuo tais escadas
E perco o rumo em meio a barricadas
Enquanto a solidão vem nos tocando.

Marchando para os braços de quem amo,
Do quanto que perdi já não reclamo,
Pois sinto o teu amor em minha veia.

Assim se a noite chega amarga e fria,
O coração depressa já se estia
Ao ver a claridade em lua cheia
Marcos Loures


30

Meu barco no teu mar, desejo e ponho
Encontro a praia feita de emoções
Certeza de um momento mais risonho,
Tocando bem mais fundo os corações.

Acesas esperanças que nos guiam
Transportam pensamentos, vou além,
Invernos tenebrosos ora estiam
Entregues ao calor do nosso bem.

Servindo a quem cativa, ama e parceira,
Não deixo um só segundo de buscar,
Estrela que se mostra a derradeira
Deitando fluorescências no meu mar.

Mulher que um dia eu quis, e não sabia,
E agora está comigo em harmonia...
Marcos Loures


31

Meu barco necessita timoneira
Que leve para um cais bem mais suave,
A sorte de quem ama, alvissareira
Supera bem mais calma um duro entrave

Durante a noite fria, a companheira
Sem nada que perturbe ou mesmo agrave
A mão desta divina mensageira
Que em fartas alegrias já me lave.

Amor além de simples, mansa prece,
Ao peito sonhador que se oferece
Estende uma bandeira, clama à paz.

Embora em devaneios, a razão
Perdida nas entranhas da paixão
O amor, em luz suprema satisfaz...
Marcos Loures


32

Meu barco navegando
Distante da tristeza
Aos poucos vai chegando
Aporta em Fortaleza

E logo deslumbrando
Raríssima beleza,
O sol que vai dourando
Revela esta princesa.

Mulher que a poesia
Procura como tema,
Parece fantasia,

Encontrar Iracema
Nas praias, na alva areia,
Uma bela sereia...
33


Meu barco na saudade navegando,
Encontra as alegrias soberanas
De um tempo que se foi, e desde quando
Partiu, cravou as garras desumanas,
Aos poucos em espinhos destroçando
Deixando estas lembranças mais insanas.

Pois quem viveu, outrora, alegremente,
Agora em solidão, por companhia
Encontra uma saudade tão somente,
Na forma de ilusão, de fantasia,
Andando pela noite qual demente,
Bebendo a tempestade, busca o dia.

E nada encontra além desta saudade.
Cativo que não busca a liberdade...


34

Meu barco já não tem rosa dos ventos
Perdendo a direção, busca o naufrágio.
Envolto em tais cruéis pressentimentos
O coração se torna então mais frágil.

O dia silencioso em pleno caos
Levando o meu sorriso de vencida,
Quem dera se pudesse em novas naus
Saber aonde existe uma saída.

Perdido entre tempestas, vendavais,
Não tenho mais suporte, eu me perdi.
Encontro ao fim da noite um belo cais,
Mostrando a solução. E estava aqui

Nos sonhos e delírios, fantasia,
A eterna companheira: poesia...

ML


35

meu ariano amigo esteja certo
que a vida sorrirá em teu caminho,
por mais que te pareça estar deserto
encanto se fará pleno carinho.

de todos os reinados, tantos reis,
tu és o maior deles, não se engane.
enquanto a fantasia dita as leis
de todo o teu talento já se ufane.

permita neste teu aniversário
cantar em versos simples, mas sinceros,
dizendo do teu braço solidário
apascentando medos sempre feros.

eu quero que tu saibas, companheiro
Gonçalves, um poeta verdadeiro!

PARA O MEU QUERIDO AMIGO GONÇALVES REIS


36

Lá atrás daquela serra,
tem um banquinho de areia,
onde assentam as muié feia
pra falar da vida alheia.

Meu amor, isso é mentira
Dessa gente fofoqueira,
Eu não danço mais catira
E nem pulo mais fogueira.

Senão a cabeça pira
Não agüento mais besteira,
A terra é bola que gira
Toda a vida, a vida inteira.

Eu não saí com Maria
Nem tampouco com Joana,
Vem prá que a noite esfria,

Vai pegar um resfriado,
O meu peito não te engana,
Ele vive apaixonado!

A trova mote é da região Norte de Minas


37

Meu amor traz no seu peito bem marcado,
Por garras penetrantes; bem profundo,
Meu canto sem tristezas, compassado.
Já cabe dentro dele, todo o mundo!

Amor meu, por seus beijos sou; me inundo...
Meus abraços nos braços seus... Atado
Vou; conheço o mergulho e me aprofundo
Nesse louco prazer, desesperado!

Quero bem mais que tudo conhecer
Os limites sem rumo da paixão.
Beijando a sua boca conceber

Tanto quanto é capaz meu coração.
Quero aprender a ler nesse abc,
Cartilha que me ensina o que é paixão!


38

Meu amor traz no peito bem marcado,
Com garras penetrando, bem profundo
Meu canto, de tristezas, compassado
Um grito, me trazendo o fim do mundo.

Amor meu, de teus beijos sou, me inundo
Meus abraços nos braços teus, atado
Vou, conheço o mergulho em que me afundo,
Nesse louco prazer, desesperado.

Quero, bem mais que tudo conhecer,
Os limites sem rumo da paixão,
Beijando, em tua boca conceber,

Tudo quanto pudera, o coração,
Quero aprender a ler nesse abc,
Vou perder-me nas trilhas, teu sertão...


39


Meu amor traduzido maciez,
Na mansidão serena de teu beijo,
Traz formas delicadas; é, talvez,
A mais sublime fonte do desejo...

Meu amor mais sincero, desta vez
A noite transformada onde te vejo,
Caminhando, seduz tanta altivez...
Amor, meu derradeiro amor, lampejo

De divinal delírio, simplesmente.
Crivado de estelares porcelanas,
Busco em ti, conhecer toda vertente,

De tantas quanto belas, pois insanas,
Maneiras de matar-me de repente,
Sorvendo todo néctar que me emanas..


40

Meu amor tem tal beleza
Que se encontra nesta flor
Trazendo tanta pureza
Na natureza do amor.

Que se perfuma no sonho
De viver manso carinho;
Nosso amor que te proponho
Não reconhece um espinho

E vive completamente
Sem temer a solidão
Felicidade é urgente,
Vivo pleno de emoção

Tanto amor tenho por ti,
Minha rosa; eu colibri...


41

Meu amor se escondendo faz doer
E nisso quando endosso erros tantos.
Por mais que nada faça esmorecer
Já não suportarei loucos quebrantos.

Enquanto a solidão a remoer
Eu vingo-me dos falsos, tolos santos,
Compondo tão somente por prazer
Sonetos são vinganças, desencantos.

Paráfrases, paródias, jogatinas,
Se às vezes me plagio vou plangente
Na flácida palavra acido o mote.

Não ouso telefones, perco binas
Marinas negam Minas, praia e sol,
Da Brahma que pedi, embroma Skol...


42

Meu amor que talvez nunca voltasse
Se não fosse o amor assim atento
Vivendo tanta vida sem disfarce
Amor nunca me sai do pensamento.

Quero viver amor sem medo e tédio
Na eternidade simples do segundo.
Amor que tanto amor é livre assédio,
Invade conturbando esse meu mundo

Feito de sombras mortas e tão quietas.
Mas, amor, com as garras afiadas,
Traz as revoluções, as mais completas,
E rompe essas barreiras mal armadas

Deixadas pelas dores da incerteza,
E leva o coração na correnteza...


43

Suspirando eu deitei,
suspirando amanheci.
Meus suspiros foram em vão,
suspirei tanto por ti.

Meu amor quando suspiro
Tô pensando no teu bem,
Coração no conta-giro
Que velocidade tem!

Se teu amor eu respiro,
Não penso mais em ninguém,
A coisa que eu mais prefiro
É quando, de noite vem,

Com sede me querer,
Com vontade de ficar,
Meu amor, meu bem querer,

Eu não canso de cantar
Venha cá, me dá prazer,
Eu preciso suspirar...

A trova Mote é da região Norte de Minas


44


Meu amor por ti rola ribanceiras,
Sobe por montes, desce pela praia.
Vazando pelos rios, corredeiras,
Levanta levemente tua saia
Desfruta das loucuras verdadeiras,
Por cima do tomara sempre caia
As mãos são mais audazes, traiçoeiras...

Do mel que nos lambuza, gosto doce,
Nas pernas que tremulam, prazerosas.
Fluir nossa vontade, como fosse
Entrar neste jardim, roubar as rosas
Fazendo com que a vida se remoce
Nas horas de prazer, voluptuosas...

No fogo que nos queima, minha amada,
A chama do desejo, alimentada...
Marcos Loures


45

Meu amor por teu corpo, enfim passeio
Um sonho acalentado de um garoto
Que olha na fechadura e busca um seio
Depois vem com sorriso mais maroto.

Os anos me trouxeram o receio
Sorriso se perdeu, quebrado e roto,
Em versos e desejo inda permeio
Meu mundo inusitado e tão remoto

Com dias atuais. Mais delicados.
Queria retornar à fantasia
De dias que se foram. Já passados...

Menina que cresceu tão sedutora,
Dizendo tudo aquilo que eu queria...
Vem logo que eu te quero, assim, agora...
Marcos Loures


46

Meu amor opalesce tão patético...
Nesses cantos suaves das manhãs...
Amor hereditário, sim, genético!
Não desiste jamais das noites vãs...

Amor mais mentiroso, és hipotético
Persiste girassol, em meus afãs...
Oxalá sempre seja assim... Poético...
Amor que me devora os amanhãs...

Meu amor padecendo das saudades,
Mas sorri, tristemente, sem vergonhas.
Embalde adormecendo tuas fronhas,

Deslinda-se num poço de vaidades...
Amor que multiplica qualidades,
Esparso, se perdendo nas montanhas!!!
Marcos Loures


47


Meu Amor nunca esqueça de voltar
A noite que te leva não demore
Espero-te no próximo luar
Que o olhar dessa saudade não decore.

As rosas que colhi querem dizer
Do amor que nunca mais terei igual.
Das rosas uma flor a receber
Do amor um breve toque sensual...

Nos bares solitários sem a lua,
Casais em volta tramam seu encanto.
A mesa onde sentei, estando nua
Aguarda simplesmente... e nada... pranto.

E canto esta cantiga no fervor,
De quem aguarda a volta dum amor!


48

Meu amor nos caminhos que tu fores,
Não esqueças jamais de nossas luas.
Das catedrais que fomos, velhas cores;
Das madrugadas bêbadas, nas ruas...

A vida se derrama em raras cores
Estrelas abrilhantama belas, nuas
Espreito em meu jardim as raras flores
Por onde a diva em glória já flutuas...

Divinos os licores que me dás,
E bebo extasiado cada gota.
Prazer que tão intenso na se esgota

À noite em fogo intenso sempre traz
Aquela que se fez em perfeição
De todos os meus medos, redenção!


49

Meu amor ninguém me toma,
Quero ver alguém tomar,
Um mais um a gente soma,
Depois quer multiplicar.

Ninguém no mundo me embroma,
Dou rasteira no luar,
Meus olhos? Não há quem coma,
Quero te ver me enganar!

Sou ranzinza. Sim senhor!
Eu dou nó na carrapeta.
Pois em matéria de amor.

De tudo eu sou bem capaz,
Eu dou coça no capeta,
Chicoteio Satanás!


8350


Meu cântico melhor qual serenata...
Nas câmaras da vida és a central,
Nas gulas mais festivas, carnaval;
Nas sendas mais frutíferas; a nata...

Meus olhos lacrimejam, és renata...
Martírios que tropeço, bem e mal;
Nas curvas do silêncio o meu aval
Para que eu me estraçalhe - casamata.

És o fim e o princípio, overdose,
Profunda cicatriz, marca, queilose
Criada a ferro e fogo em sangue frio...

Nas minhas merencórias guerras, púnicas,
Sou Cartago, vencida, velhas túnicas...
Não restou nem escombro, estou vazio...

Marcos Loures


51

Meu caminho, procuro novos seres,
Minha alma caminheira vai mais crua,
Não posso perceber novos viveres.
Respiro teu olhar és linda e nua.

Deusa a me seduzir, a nova Ceres...
Um barco pelos céus voa, flutua...
Espero teus delírios, meus halteres,
Minha busca incessante, continua...

Não quero decifrar teu novo canto,
Nem quero penetrar toda, tua alma...
Não posso mais negar o meu espanto...

As ondas que passamos, velhas, tétricas...
Incrível que pareça, vem, acalma,
Versos a procurar ondas elétricas...
Marcos Loures


8352

Meu caminho seguindo pela vida,
Transcorrendo gentil e tão risonho;
E mal contendo, luzes em meu sonho...
Recebendo o calor na despedida.

Em todos teus respiros, ó querida;
Muitas vezes deparo, tão medonho
Quanto cruel, deixando-me tristonho...
Por tantas vezes, foste já vencida...

Morrer por ti, me sinto até capaz;
Quanta delícia, amiga, o vento traz...
Nas tuas mãos, tão alvas quanto belas,

Quisera Deus, poder tê-las singelas,
Na ternura do cais, saveiros, velas...
Companheira possível, és a PAZ...

8353

Meu bem querer chegando devagar
Em juras e perjuras sempre mais,
Entorna poesia a caminhar
Sem medo de mentir, assim, jamais.

Tornando nossa vida imenso lar
De beijos e desejos mais normais,
Enquanto meu querer que navegar
Por noites e carinhos imorais.

Meu bem querer bebendo cada gota
Se esgota e me amarrota mas disfarça.
Tomando o meu prazer, sua compota,

Recolho cada lágrima em meus lábios,
Depois corro depressa para a praça
Buscando maus conselhos, todos sábios...


8254


Meu beijo é quase assim um bandeirante
Que busca este tesouro que escondias.
Em matas tropicais, em noites frias,
Invade cada senda a todo instante.

Procura pela mina deslumbrante,
Em noites dedicadas e vadias,
Beijo expedicionário quer as vias,
Chegando ao matagal tão fascinante.

Depois encontra a mina, teus rubis,
E sabe desfrutar de cada fruta
Que trazes nos pomares divinais...

Ao ver o teu sorriso assim, feliz,
Inundação tomando toda a gruta,
E o risco de querer de novo e mais...


55

Meu barco vai seguindo com fluência,
Deixando as corredeiras para trás
Ao ter em braços mansos confluência
Uma esperança altiva amor me traz.

Não sendo mais capacho da tristeza
À mesa se convida num banquete
A festa que se faz viva surpresa
Impede que o amor vire joguete

Nas mãos de uma venal desesperança
A barca dos meus sonhos segue em frente.
Legando o que eu vivera à vil lembrança
Agora amor se mostra douto lente.

Parturiente lume em que me entranho
Expressa nosso jogo, agora ganho...


8356

Meu barco tristemente vai lutando
Contra as procelas, ondas e tempestas...
O vento mais feroz vem destroçando
Não deixando sequer saída e frestas...

Assim como esse vento, tão nefando,
A vida que passei negando festas,
Meu rumo e meus sonhares naufragando
Em meio à tempestades mais funestas...

Inquieto te pergunto onde escondeste
A bússola astrolábio, enfim meu rumo...
De sudeste a nordeste, norte e leste,

Mortalhas que teceste pedem uso...
O medo me guiando, me dá prumo.
Meu barco se perdendo, tão confuso...
Marcos Loures


8357

Meu barco tantas vezes foi à larga,
Distante dos teus olhos, minha amiga.
A vida se mostrou, pra mim, amarga,
Sombria tempestade desabriga.

O peso da saudade, dura carga,
Dobrando minhas costas, frágil viga.
O coração calado já se embarga,
E a sorte tão distante, assim periga.

Tua presença é sempre necessária,
A noite em solidão, uma adversária.
Tua ausência sonega a liberdade,

A sorte se mostrando procelária,
Porém ao procurar felicidade,
Busquei-te novamente, claridade...
Marcos Loures


58

Meu verso é tão somente um triste alerta,
O mundo necessita da amizade,
Uma alma solitária já desperta
O vago de uma individualidade,

Porém se ela se encontra mais aberta
Recebe sem limites claridade
Os erros do caminho ela conserta
Traçando aos poucos paz e liberdade.

E alçando outro caminho brilhará,
E a todos com certeza, guiará
Segredos que conheço e concebi

Nos olhos deste Deus que é pleno amigo
Que há tempos eu procuro e até persigo
Falando em amizade chego a Ti
Marcos Loures


59

Meus versos, sei que néscios, sem sentido.
Eu sou o costumeiro e velho quase,
Perambulando pálido, sem base,
Esquálido cadáver revivido

Das sombras que eu herdei, vaso partido,
Melancolicamente volto à fase
Sem fogo de esperança que me abrase,
Senil que em voz precoce é desvalido..

Inválida semente que não grana,
Jamais frutifiquei em solo bom.
Apenas necrológico soneto

Aonde a morte reina soberana
E dita insofismável, rege o tom
Caótico destino. Eu me arremeto...


60

Meus versos vão em busca dos teus braços...
Atalhos procurei para dizer.
Espero francamente nossos laços,
Meus braços nos teus braços, meu prazer...

De tanto te esperar, meus olhos lassos,
Perderam a vontade de te ver...
Meus versos descansando meus cansaços,
Nas horas mais difíceis tento crer...

Vieste com palavras mais diretas.
Não posso resistir à negativa...
Desculpe se não sigo tuas metas.

Perdoe se não posso decifrar
Enigmas que te tornam mais altiva,
Meus versos só te falam do luar...
Marcos Loures


61


Meus versos vão buscando novas rimas,
Que façam deste amor, puro tesouro,
Poetas, bardos, vates, ricas primas
Que valem na verdade quase um ouro,
Mudando a poesia em vários climas,
A traduzir boiada em louco estouro.

Assim, ao reclamar simplicidade,
O verso se embrenhando no sertão,
Aguarda paciente a caridade
De quem escute o canto de um cancão
Tristonho ao reclamar rusticidade
Já sabe a dor do amor, se vem em vão...

Poeta nas palavras teus cristais.
Amor é puro e simples, nada mais...


62

Meus versos te emolduram num cenário
Estrela que se fez constelação.
Rajada luminosa na amplidão
Além do que julgara imaginário.

Dois rios que se encontram no estuário
E fazem desta foz em borbotão
Delírio inigualável da paixão
Num templo de matiz sublime e vário.

A bela namorada que sonhei
Vestida de sublime fantasia.
Durante a vida inteira eu te busquei

E agora que te tenho, enamorado
Fazendo deste encanto, poesia
Ecoa no infinito em alto brado...
Marcos Loures


63

Meus versos te celebram; amizade.
Postergas docemente um sofrimento,
Impedes, com teus braços, frialdade;
Acalentas, decerto, meu tormento...

Nas águas turbulentas, és a ponte
Que deixa-nos chegar numa outra margem...
Por vezes, de alegrias, traz a fonte,
Que faz com que sigamos a viagem...

É barco que nos leva pelos rios;
Transpassa corredeiras e perigos,
Não teme nem sequer os desafios,
Que bom poder dizer: temos amigos...

Sementes que jogadas reproduzem,
São braços que nos levam, nos conduzem...


64

Meus versos tão felizes quando exaltam
Os dias que se raiam na manhã.
Os olhos de alegria, pulam, saltam
Transbordam de esperança tão louçã;

Ergamos, meu amor, a nossa taça
Num brinde que faremos à ventura.
Nossa felicidade tanto embaça
Quanto inveja uma triste criatura.

Não sei se ser feliz é algo assim,
Nem sei se posso ser feliz um dia.
Escondo uma tristeza que é sem fim
E nasce mesmo em sol, numa agonia...

Amiga, meu amor já foi embora,
Eu quero ser feliz, que tal agora?


65

Meus versos tão diversos do que sinto,
São farsas, nada mais, que ora cultivo,
As cores mimetizam, mas eu pinto,
E nisso me mantenho, ainda, vivo.

A vida quando aperta mais o cinto,
Tornando o mundo amargo e agressivo,
Talvez seja defesa, mas se minto,
É por não poder mais seguir altivo.

Ouvir a voz do vento, não consigo;
Condenado ao terror do desabrigo
Eu visto a fantasia de poeta.

As marcas que deixei no meu caminho,
Levando ao que julgara ser o ninho,
Mentiram direção, desviam seta...
Marcos Loures


66

Meus versos tantas vezes encobriram
Os restos que traduzem meus olhares,
Distante da ilusão de verdes mares,
Os medos tantas vezes descobriram

Enquanto em meu olhar, agora atiram,
Perdoe se eu vendi falsos altares,
Por vezes eu tentei em malabares
O que num luto amargo, enfim, feriram.

A lágrima retida na garganta,
A vida que acarinha em dor espanta
E mata o que sobrou de um sentimento.

Estúpida promessa sonegada,
Trazendo ao fim da noite o mesmo nada,
Restando solidão e sofrimento...
Marcos Loures


67

Meus versos se perdendo no vazio,
Ninguém os lê, somente a solidão
Eterna companheira, desafio
Num último desejo de verão...

A porta escancarada, o vento frio;
Algoz de uma esperança. Negação.
Girando o tempo, eu logo desconfio
Do cheiro de lavanda no portão...

Acordo e nada vejo. Volto assim
À seca inesgotável no jardim
Matando cada broto da esperança.

A par da realidade, já não creio
Mergulho no infinito sem receio
A morte servirá como vingança...


68

Meus versos são satânicos e cínicos,
Nas orgásticas; líricas promessas,
Meus olhos por ofício, sei, são clínicos.
Partilho em teus cenários novas peças...

Das uvas feitas vinho passos mímicos,
Tremulam meus penhores sei que engessas,
Mimetizo fantasmas que sei tímicos,
Nos cântaros que pântanos, regressas.

Variólico e cético sou pálido,
Métrico cadencio meu poema,
Metódico fiquei assim esquálido,

Etílico sabor vida sem lema
Impávido, pavio sou inválido,
Nesses absurdos versos, sem ter tema...
Marcos Loures


69

Meus versos são meu vício e minha fuga
E neles me realizo por inteiro.
Em cada solidão u’a nova ruga
Amando e me entregando por inteiro.

Eu bebo desta vida sem dar tréguas,
Correndo sem parar atrás do bem
Mesmo distante andando tantas léguas
E às vezes retornando sem ninguém.

No meu bornal carrego as esperanças,
De um dia, receber o teu carinho.
Se fui feliz? Não tenho mais lembranças
De tanto que caminho assim, sozinho.

Mas sei que tu virás menina linda,
Por mais que o tempo passe; espero ainda...


70

Meus versos são meu jeito de cantar.
De expor meus pensamentos, minhas dores.
São feitos como um barco a navegar
No oceano em palavras. São atores...

Autores desta peça em que eu atuo.
Verdugos dos meus medos, desatinos...
São asas sem as quais eu não flutuo.
São pedras, minhas urzes, desatinos...

Meus versos são verdades mentirosas,
São parte de mim mesmo, ou nada são.
Espinhos que preferem roubar rosas,
Noutras tantas são plenos de emoção.

Se sou ou se não sou alma completa,
Se vou ou se não vou, serei poeta?


71
Meus versos são humildes passageiros
De um tempo em que a beleza se traduz
Pela suprema intensidade de uma luz
Que trama seus matizes mais ligeiros.

Não pude compreender os verdadeiros
Rumos aonde a glória se produz
Somente pelo quanto reproduz
Contemporaneidade. Mensageiros

Deste imediatismo, profetas,
Além de simplesmente bons poetas
São magos e professam a alquimia

Que faz do sofredor, esperançoso,
E ensinam como é bom o farto gozo
Do encanto que o novel canta e anuncia...


72

Meus versos são em vão, pra nada vivo...
As ondas nunca deixam de chegar.
Quem resta tão somente, vai altivo,
Meus olhos nunca pedem teu luar...

As dores vão chegando, estou passivo.
A tarde nunca mais vai terminar...
Procuro perceber pra quê que sirvo...
As ondas nunca deixam velho mar...

Meus versos são estúpida nudez,
Exponho assim, meu âmago no verso...
As formas que escondi da timidez,

Os templos que passei pelo universo.
Meu mundo tão comum e tão diverso,
Os versos repetidos, meus talvez!!!
Marcos Loures


73

Meus versos revelando velhos vícios
Vontade de viver, vera vertente.
Nas praças e nas poças, precipícios;
Nos vales e nas vias pertinente.

Se vago nunca deixo esses indícios
Vorazes véus velozes vivo urgente.
Amores que me moram são fictícios...
Nos campos de batalha inda sou gente...

Não vejo meus velórios sem confete.
Não tramo meus temores sem tropeços.
Nos ermos escrevi teus endereços,

Nos olhos criminosos, canivete.
Na festa dos amores, adereços;
Nos braços, minha amada Elisabete!


74

Meus versos que, pretendo, serem facas.
Universos convertendo em peçonha.
As dores que me beijam não aplacas;
As flores me cortejam. Vida sonha

Com desejos sutis. Cravando estacas
Nos cortejos senis. Lavando a fronha
De tantos pesadelos, usas lacas
Para pintar, vermelha essa vergonha!

Os meus prantos, novelos, blusas rasgas;
A trucidar centelhas cedo engasgas...
Não posso permitir nem um segundo...

Num poço redimir os meus pecados,
Nas barcas navegar um novo mundo.
As cracas que carrego. Tristes fados..


8375


Meus versos que serão sempre esquecidos,
Falando deste amor em clara aurora,
Os medos e as tristezas dirimidos,
A luz em plenitude vencedora,

Meus cantos invadindo os teus ouvidos
Num sonho mais sutil, amor aflora,
Tocando mansamente os meus sentidos
Eu quero ser feliz e desde agora.

E o dia se refaz, deveras forte,
Vencendo qualquer medo, até da morte
Trazendo em nossa vida, este colosso

Do amor que se faz pleno em claridade.
E assim, ao perceber felicidade,
Falar de nosso amor, querida eu posso,
Marcos Loures


76


Mexendo devagar, num remelexo,
Engoles cada parte, tão gulosa;
E enquanto mais devoras, mais eu mexo,
Tornando assim a noite fabulosa.

Num ir e vir fantástico, este jogo
Aonde o vencedor se faz vencido,
Mergulho de mansinho; e então me afogo
No fogaréu supremo da libido.

Colecionando estrelas, mil visões,
Recebo inundação e aos borbotões
Derramas sobre mim, doce colheita

Num vício sem igual, recomeçamos,
E quanto mais caminhos; desbravamos,
Minha alma novamente se deleita...


77

Mexendo com meus sonhos de criança
Eu tenho a sensação de liberdade,
Um vento tão suave já me invade
E a vida se percebe assim, mais mansa.

Olhar que numa infância se descansa
Decerto buscará na mocidade
O sentimento pleno da amizade
Que forte e em placidez, a paz alcança.

Sortidas emoções no peito adulto,
Aonde uma tristeza tem seu culto
Matando o que seria bem mais lindo

Se a gente não tivesse se esquecido
Do riso da criança e permitido
Macabras sensações se repetindo.
Marcos Loures


78

Meus versos em formato de oração,
Em busca do caminho mais penoso.
Meu peito, um esmoler quase andrajoso,
Espera tua benção no perdão!

Não sei se, um dia, tenho solução.
A vida se perdeu do doce gozo,
Em meio ao meu sonhar tempestuoso,
Vagando pelo etéreo em solidão.

Deste-me a cicatriz que hoje carrego.
Aos beijos que me negas, eu me entrego.
E canto meu lamento solitário.

Uivando minha dor, namoro a lua.
Que, indiferente, passa e continua
O seu longo e perpétuo itinerário...
Marcos Loures


79

Meus trunfos eu perdi não sobrou nada
Apenas um esboço nas senzalas
Que exponho nas diversas ante-salas
De uma alma que se mostra abandonada.

Ao ver cada palavra decifrada
Enquanto com argúcia tu me falas
Das incúrias cruéis com quem empalas
A vida fortemente destroçada.

Vieste em tumular revolução,
Nefasta; te fingias Nefertite
Perjuras em calúnia sem limite

Tantas vezes vendendo a ilusão
Sarcasmos esboçados num contraste,
Farsantes os sorrisos que legaste.
Marcos Loures


80

Meus telúricos sonhos, natureza...
Nos antúrios vermelhos, sensuais...
Meus desejos tetânicos, carnais,
Traduzem tuas luzes, realeza...

Píncaros atingíveis, meus anseios.
Nos veios que incendeio, com meu cântico,
Delícias conspurcando belos seios...
Nas viscerais cantigas, sou romântico...

As plagas mais distantes, minha meta..
Pelas fráguas vulcânico, poeta...
As labaredas queimam, lava, chama...

Nas alamedas, traço minhas rimas.
Nas correntezas, caço novas primas...
Um coração voraz, palpita e clama.


81

Meus sonhos verticais exigem patas
Seu manto não me serve de agasalho.
Um barco embriagado, feito em latas,
Arromba totalmente esse assoalho.

As dores são geradas em cascatas,
Não servem de tortura e nem de malho.
O dolo que sem medo me arrematas.
É pedra que rolando vai cascalho...

Nos pântanos oscilas és metano.
De restos decompostos tua lira.
Vendeta que não serve é só engano,

Amor que não revive pois indômito,
És cobra que rasteja e vil, delira,
No fundo inebriado, és como vômito!
Marcos Loures


82


Meus sonhos te buscando sem dar tréguas,
Navego nos teus olhos, encontro o mar.
Mesmo nesta distância, tantas léguas,
Não deixo um só segundo de sonhar

Com o momento alegre de te ver,
E assim beijar-te inteira e mansamente,
Clivando nosso mundo em tal prazer
Que seja no infinito, eternamente...

Deslumbras com beleza encantadora
Refulges como o sol em poesia,
A paz que se promete redentora,
Tomando nossa vida em tal magia

Que nada nos impeça, até o fim,
De ter em nossa vida sempre o sim...


83

Meus sonhos se perderam, timoneiros
Que há tanto não conseguem navegar,
Corsários invadindo todo o mar
Entre assaltos e saques rotineiros.

Sequer pude contar com companheiros,
A solidão, eu sinto abalroar
Saveiro que começa a naufragar.
Terríveis pesadelos corriqueiros...

Nas mãos deste vazio que recobre
Os céus, um sentimento outrora nobre
Esvai-se na fumaça que, sombria

Invade este horizonte em tons cinzentos.
Os mares se tornando violentos
Tempestade que a dor imensa, cria...
Marcos Loures


84


Meus sonhos se perderam nos teus sonhos,
Num único momento, paz e glória.
Os dias sem te ter foram tristonhos,
Porém mudaste o rumo desta história.

Vieste como a lua em noite escura,
Com raios prateados, nua e bela.
Lutando qual enfermo pela cura
Meu mundo nos teus braços, vida sela.

E assim poder cantar com liberdade,
Falando deste amor que não morreu.
E quando a poesia vem e invade
Tomando tudo aquilo que sou eu

Revejo o teu olhar que, mansamente,
Mudou a minha vida totalmente...


85

hos são vazios, sem futuro...
Enredam minhas mansas decisões.
O tempo que passamos salta o muro.
Por certo não conhece soluções.

Nas sombras do caminho, negro, escuro.
As cordas anunciam seus bordões.
Ao procurar sentido, nada apuro...
Batendo latejantes corações...

Ao me veres perdido, não me peça
Solução para lutas que não travo.
Nos seus próprios vida tropeça,

Penetra ferozmente nas entranhas...
O mar que tempestade torna bravo,
Nos sonhos alagando essas montanhas...

86

Meus sonhos repartidos, maltrapilhos
Seguindo sem destino vão ao léu.
Pés cansados de velhos andarilhos
Deixados pelos cantos, farpa e fel.

Os olhos que perderam rumo e brilhos,
Não sabem distinguir Inferno e Céu.
Quem teve em seus caminhos empecilhos
Conhece a solidão, dama cruel.

Reconhecendo os olhos e as centelhas,
As correntezas vãs em que me espelhas
Estrada sem destino, vaga luz.

O dom do nada ter senão meus sonhos,
Vidas diversas, bens medonhos,
O nada, simples mente reproduz...

87


Meus sonhos mais distantes me levavam,
Tomando num momento os meus sentidos,
Os medos e as angústias me cortavam,
Deixando meus castelos destruídos.

As dores, cada passo, vigiavam
Vazios, os meus dias, mal vividos
Apenas as tristezas me entranhavam,
Em sentimentos sempre empedernidos.

Nem mesmo as esperanças me escutaram,
Dos olhos, tantas lágrimas rolaram.
Deixando minha estrada sem saída.

Assim ao me sentir abandonado,
Não tendo mais quem ande do meu lado
Vagando sem destino pela vida.
Marcos Loures


88

Meus sonhos invadindo na manhã
O teu castelo em mágicos desejos.
A sorte que fez a guardiã
Mostrando todo o dom, os seus traquejos,
De ser a companheira neste afã,
Cumprindo cada etapa com teus beijos

Princesa deste reino sem fronteiras.
Avanço, um cavaleiro apaixonado,
E encontro as esmeraldas verdadeiras
Ao ver tua beleza, extasiado,
Cumprindo a profecia das bandeiras
Percebo ter achado um Eldorado.

E vamos prosseguindo esta viagem
De sonhos, de vontades, qual miragem.


89

Meus sonhos deposito na latrina;
Puxo a descarga e sinto minha Tróia
A vida qual a merda que ali bóia
Ao mesmo tempo é fúria, mas ladina.

E quando procurei numa outra esquina
Tristeza se vestindo de sequóia;
Eu sei que isto parece paranóia
Que enquanto é absorvente me domina.

Meu coração menstrua todo mês,
Sangrando com gigante insensatez
Causando hemorragias corriqueiras.

Será que no final; ainda queiras
Fartar-se dos enganos tão banais
Fardados com espúrios sempre iguais...



90


Meus sonhos de te ter, breve futuro,
Enredam minhas mansas decisões,
Minha esperança chega e salta o muro,
Espera, impaciente, as decisões.

Nas pedras do caminho, que passei,
As trevas, a saudade, minhas dores...
Depois de tanto tempo, hoje bem sei,
Que prenunciariam os amores.

Quando me vi perdido, tão distante;
Decerto não sabia que virias.
Amando-te a partir de certo instante
Percebi claridade nos meus dias....

Agora que te tenho, amor profundo,
Meus sonhos invadindo todo o mundo...


91


Meus sentimentos vãos, loucos, terríveis,
Formando assim tão trágicos aspectos,
Percebem teus sorrisos impassíveis,
Distantes de meus males, mais secretos.

Embora parecendo incoercíveis
Meus medos vão tomando todo afeto.
Os sonhos se parecem insensíveis
Não trazem nenhum fato mais concreto.

Um coração se perde nas fanfarras
Dos dias em que fora mais feliz.
Rompendo, no final tantas agarras,

As dores que se foram, dilaceram,
Apenas noutros dias que se esperam,
Amor que bem distante, eu sempre quis...


92

Meus sentimentos vagos, vagas buscam
Nos mares que enfeitiçam navegantes...
As luzes de teus olhos sempre ofuscam,
O medo de saber sonhos distantes...

Palavras que sentidos não rebuscam,
Trazem simplicidade dos amantes...
Titubeantes passos, luscofuscam
Os teus beijos, singelos diamantes...

Levarei a saudade que é comparsa.
Desfeitas tentativas vãs, a farsa
Que produzia tolas esperanças

Descansa nos altares das lembranças...
A vida que sonhei, morrendo esparsa,
Renova-se nos olhos das crianças...
Marcos Loures


93



Meus sentimentos seguem como as chuvas
Nas tempestades várias de minha alma.
Com a voracidade das saúvas
Devoram, mas depois tudo se acalma.

Embora tantas vezes, um piegas,
Em outras mimetizo rebeldias.
Vagando sem destino, quase às cegas,
Roubando a claridade dos meus dias.

Amores sensuais, até fraternos
Explodem em momentos tão diversos,
Eterno purgatório onde os infernos
Avizinham-se sempre dos meus versos.

Na doce sensação dorida e plena
De um parto que abençoa e que envenena.


94

Meus passos, sem teus passos, já tropeçam
E caio, com certeza e me torturo.
Amor que nós sentimos, de tão puro,
Faz com que dois amores se mereçam!

E enquanto conflitantes se confessam
Carregam discrepâncias num perjuro,
Intensa claridade em céu escuro,
Porém jamais se perdem ou se engessam.

Algozes de nós mesmos, salvadores,
Escravizados tons libertadores,
Sinceras, as mentiras que forjamos.

E assim; nossas mortalhas; colorimos,
Os pés buscam firmeza nestes limos,
Por mais que seja incrível nos amamos...


95

Meus passos titubeiam, quase caio,
Mas tento novamente uma saída.
E mesmo que se perca o bem da vida,
Um dia, com certeza, disto eu saio.

O fardo que carrego, tanto pesa
E embora solitário, não desisto.
Ao fim da caminhada, uma surpresa
Sorrindo em ironia qual Mefisto.

Ouvindo estes clarins, loucas fanfarras,
Apenas em meu corpo tais agarras
Formando com tridentes, ironias.

Sarcástica ilusão que já se assoma,
Torpor que me inebria, feito coma.
Ao fim do amor, do jeito que querias...
Marcos Loures


96


Meus passos imprudentes me trouxeram
As dores e os enganos mais cruéis,
Meus dias insensatos já tiveram
O gosto tão amargo destes féis.

Fiéis, os meus amigos, sempre viram,
Os erros que jamais pude ocultar.
Tentaram sem sucesso. Não partiram,
E nunca se cansaram de ajudar.

Eu agradeço a todos se hoje estou
Recomeçando nova primavera.
Por mares mais serenos sei que vou,
Agora nem tristeza desespera.

O mundo não se mostra mais perdido,
Por isso esse meu verso agradecido...


97



Meus passos fraquejando vão trementes.
Vazios, os meus olhos, vou cansado.
Na boca que me beija uma serpente
Esconde seu veneno que instilado
Domina todo o corpo e toda a mente,
Vagando o tempo todo do meu lado...

Seu beijo que me toca, me incendeia
E forma uma ilusão que, cedo, passa.
Tomando tal veneno em minha veia
Tonteiras e fascínios, viro caça.
A mão que me acarinha, esbofeteia,
Caminho sem ter tréguas à desgraça.

Estou preso à loucura suave e doce,
Inferno em paraíso, como fosse...


98

Meus parabéns, amigo não me esqueço
Do dia em que fazemos tanta festa
Seguindo por caminho que conheço
Uma alegria enorme é o que me resta.

Uma amizade eu sei, jamais tem preço,
Por isso tanto apreço à vida empresta
Aquele que conhece e reconheço
Tanta honradez quem sabe sempre atesta.

Não vejo outra maneira de dizer
Que somos bem felizes, companheiro
De termos do teu lado tal prazer

De mais um ano em novo calendário
Dizer; tu és amigo verdadeiro,
Meus parabéns por teu aniversário!


99



Meus parabéns querida! Em cada verso
Que faço te louvando, agradecido
Afasto um sentimento mais perverso
Por tantas vezes duro e ensandecido.

Moeda tem dois lados, no reverso
Do canto em que vieste repartido
O sonho mergulhando no universo
Em dores mais cruéis pensei vencido.

Porém ao conhecer tua amizade
O sol a rebrilhar mostrou presença
Trazendo para mim a recompensa

Que é feita a cada dia e na verdade
Não deixa que retorne a solidão
Dourando em alegria o coração!


8400

Meus parabéns querida companheira,
Desejo toda a sorte deste mundo.
Um sentimento nobre e tão profundo
Demonstra esta emoção que é verdadeira.

Quem faz desta amizade uma bandeira
Transforma toda a Terra num segundo,
De todo este carinho eu já me inundo
E louvo esta ventura alvissareira

De ter sempre comigo uma presença
Que mostra ser possível caminhar,
Por mais que a vida seja dura ou tensa

Eu tendo o teu apoio, vou em frente,
Por isso é que eu desejo demonstrar
O quanto neste dia estou contente.
Marcos Loures


1


Meus parabéns, amigo não me esqueço
Do dia em que fazemos tanta festa
Seguindo por caminho que conheço
Uma alegria enorme é o que me resta.

Uma amizade eu sei, jamais tem preço,
Por isso tanto apreço à vida empresta
Aquele que conhece e reconheço
Tanta honradez quem sabe sempre atesta.

Não vejo outra maneira de dizer
Que somos bem felizes, companheiro
De termos do teu lado tal prazer

De mais um ano em novo calendário
Dizer; tu és amigo verdadeiro,
Meus parabéns por teu aniversário!


2


Meus parabéns! Amigo nesta data
Comemoramos juntos – bela festa –
Esta emoção feliz que se retrata
Louvando a maravilha que se empresta

Num dia tão sublime para nós
Que somos seus amigos verdadeiros.
Atando a cada dia mais os nós
Contamos com teus braços companheiros...

A vida nos trazendo dores, medos,
Também nos mostra a sorte triunfante
Quando revela assim os seus segredos

Mostrando que não sou tão solitário
Por isso, é que agradeço e neste instante
Desejo-lhe feliz aniversário...
Marcos Loures


3

Meus ossos espalhados pelo chão
Banquete para as feras esfaimadas.
Meus olhos arranquei, matei clarão
Nas sendas das insanas desvairadas

Que bebem cada gota em podridão
As águias entre pombas disfarçadas,
No fundo de minha alma este porão
Mortalha das paixões em debandadas.

Sou verme e posso ver-me retratado
Na entranha deste esgoto em que me dei.
O vento tantas vezes desregrado

Transforma num instante a antiga grei.
De tudo o que busquei no meu passado,
Apenas o vazio eu encontrei...
Marcos Loures


4

Meus órgãos espalhados nas estradas,
Os restos representam a tortura,
Nos braços amputados, nas caladas.
Caminho meus delitos sem brandura...

Sonhara tão somente com as fadas,
A mão que me maltrata finge cura...
Nas costas cicatrizes, chibatadas,
Meu olho esta navalha vem e fura...

Meus medos estampados, tua face...
Martírios e balaços num fuzil...
A ditadura usando seu disfarce

Promete enfim, vender o meu Brasil
Procura pela gralha que a comparse;
Não deixarão sobrar, no fim, um til...


5



Meus olhos; faroleiros da esperança,
Audazes marinheiros sem destino,
Trazendo, timoneiros, desatino,
Distância que o ligeiro sonho alcança.

Quem dera mensageiros da aliança,
Usando este tinteiro, qual menino
Mergulho por inteiro e me alucino,
No gozo alvissareiro desta dança.

Sentindo os doces cheiros da alegria,
Seguindo estes ribeiros- fantasia,
Caminhos costumeiros percorridos

Os cantos derradeiros de minha alma,
Mordaz aventureiro, o sonho acalma,
Trazendo amor/arqueiro aos meus ouvidos...


6

Meus olhos venalmente esfumaçados...
No quarto que decifro minhas lendas.
Febrilmente, revelo os embaçados
Amores que mortalhas sem ter prendas...

Não permitindo tempos disfarçados
Nem os templos que abrigam tais contendas.
Nossos braços, num mar, entrelaçados,
Bocas que nos cuspiram, nunca ofendas...

As febres delirantes paralíticas...
As rochas que tombamos, monolíticas,
Os medos tatuados nossas almas...

As mortes que vivemos por lazer
No fundo não nos trazem ermos traumas,
Deveras, confundimos com prazer...


7

meus versos que serão meus companheiros
quando, ao fim desta jornada não restar
nem sombra dos amores verdadeiros
e nem mesmo um amigo eu encontrar...

meus versos são parceiros mais fiéis
fiando nestas letras que misturam
meu barco se perdendo sem convés
as cores com que tramo não me curam

amores simplesmente são falsários
demonstram um sorriso tão jocoso,
depois se transformam noutros vários,
não deixam nem sequer sombra do gozo.

amada, deixo o canto que não fiz,
dizendo que em teus braços fui feliz...


8

Meus versos poderosos como o quê
Não podem encontrar em seus caminhos,
Um óvulo sedento, enfim, por que
Percebem que terão ali bons ninhos...

Eu disse pros meus versos: devagar
Que o mundo, num segundo não se acaba,
Também eu não mandei tanto esbaldar
Nem abusar assim da catuaba...

Beleza de mulher que me conquista
Sorriso divinal que a terra adorna.
Agora o que farei? À bela vista
Tomei duzentos ovos de codorna!

Vem logo que eu assumo esta criança
Recomeçar depressa toda a festança!
Marcos Loures


9

Meus versos palpitando em tanto amor
Enlaces, descaminhos, e torturas...
De tanto que procuro o salvador
Sabor destes teus beijos e ternuras...

Te peço, por piedade, não desfaças
Dos versos que dedico sempre a ti.
Meu corpo no teu corpo, quando enlaças,
Abrasa todo o sonho que pedi.

Aos poucos quando vou te percebendo
Entregue na loucura mais sensata;
De tanto que te quero, me envolvendo;
E me vejo embrenhando em tua mata...

Amada, meu amor tão infinito,
Aguarda teu amor, num mesmo rito...


10

Meus versos não suportam a distância;
Sequer irei seguir suas pegadas.
Nem quero poesias malfadadas,
Do amor já não suporto militância.

Aonde houver resquícios de uma infância,
Porém estas imagens degradadas
Preparam numa esquina as barricadas.
Não posso suportar tal discrepância

E o cerne dos meus erros; não alcanço.
Queria ser deveras bem mais manso,
Mas tenho um fogaréu que nunca cessa

Nos gêiseres que trago dentro em mim,
Ausência de ilusão foi o estopim
Dispenso os curativos. Sem compressa...

11

Meus versos não são recados,
Muitas vezes são falsários
Tantas vezes meus pecados,
Invadem mares, corsários.

Tais versos imaginados
Esperneiam são hilários
Nas sinas ouros e fados
Vivem nos dicionários.

Amores vapor barato
Seguem sempre o mesmo canto.
Comem nesse mesmo prato.

Esquinas vivem dobrando,
Não pedem restos e encanto
A vida à toa passando...
Marcos Loures


12


Meus versos escondidos na gaveta
Não saem do meu peito sem cuidado
Por mais que ao que passei já me remeta
Demonstram meu retrato, no passado.

Rasgados os meus versos de tormento
Agora não pretendo mais saber
De tanto que doía o sofrimento
Amores que morreram reviver.

Meus sonhos se renovam mas não sabem
Dos versos que escondi no meu recanto.
São tantos sentimentos que não cabem
Embora tanto amor em desencanto.

Vivendo nosso amor, esteja certa,
Gaveta de minha alma vive aberta!


13

Meus olhos se perdendo nas visões
Noturnas, fantasias que carrego,
Ungindo com palavras, tentações
Vagando em corpos nus, persisto cego,

Em meio a ruas, bares e portões
Nos carros e nos sarros, eu me entrego
À fome das luxúrias, aos tesões,
Sucumbo ao mel de intensas seduções.

Mamilos róseos, bocas, coxas pernas.
Meus dedos e meus lábios, minha língua
Não deixam que esta noite morra à mingua

Nas faces exprimindo rotas ternas,
Molhando minha boca nos teus lábios,
Os gozos explodindo, fartos, sábios...

14


Meus olhos se perdendo nas visões
Noturnas, fantasias que carrego,
Ungindo com palavras, tentações
Vagando em corpos nus, persisto cego,
Em meio a ruas, bares e portões
Nos carros e nos sarros, eu me entrego
À fome das luxúrias, aos tesões,
Sucumbo ao mel de intensas seduções.
Mamilos róseos, bocas, coxas pernas.
Meus dedos e meus lábios, minha língua Não deixam que esta noite morra à mingua
Nas faces exprimindo rotas ternas,
Molhando minha boca nos teus lábios, Os gozos explodindo, fartos, sábios...

Marcos Loures

15

Meus olhos são cascatas, quase um mar
Chorando por quem nunca poderia,
Trazer uma esperança em novo dia
Na selva de teus olhos; vou buscar

O tempo que não pude controlar.
A aurora que virá mesmo tardia
retoma num momento a fantasia
E dela irei beber e me fartar.

Eu busco nas esperas o teu canto;
Travando noite e dia, por encanto,
Quem sonharia parto, invés de luto...

Teus olhos tão perfeitos, mas sou bruto;
comigo mesmo, amada eu sempre luto
até reconhecer teu olhar. Santo...


16

Meus olhos que te enlaçam com ternuras
Buscando no teu colo meu descanso,
Aguarda tanto amor, suas venturas
Qual rio que procura seu remanso.

Ternuras desejadas e queridas
Dos braços da mulher que procurei,
Vasculho nos espaços, tantas vidas,
Parece que este amor eu encontrei.

Deitando sobre esse vergel tão cálido
Que trazes com ternuras indizíveis,
A lua com luar belo e tão pálido
Reflete as belas cenas mais incríveis...

Teus olhos e luar, que fantasia,
No brilho que este amor, tonto, irradia!


17

Meus olhos procurando teu sorriso,
Que; em tudo é mantimento de minha alma.
Viver assim pressente o paraíso,
É chama que me ardendo, já me acalma...

Pois tudo que há de bom e a vida trouxe
Encontro em teu sorriso, minha amada.
Amando a cada dia como fosse
A curva derradeira desta estrada.

Não canso de louvar o santo amor
Que veio com desígnios; forte, intenso...
Vivendo enamorado; tanto ardor...
Sabendo que este amor é mar imenso.

A vida nos teus braços descortina
A beleza da mulher, minha menina!


18

Meus olhos procurando tais pegadas
Deixadas nestes trilhos que passaste.
De tanto procurar, pernas cansadas,
Seguindo os aromas que deixaste...

Eu quero teu amor, não mais discuto.
É tudo o que bem quis a vida inteira.
Teu nome; estou distante... Nada escuto.
Por tanto que te quero, companheira...

Eu sei que tanto errei, peço perdão.
Meus medos aumentando pouco a pouco.
Errei por tanto amor, tanta emoção.
E temo, desse jeito, ficar louco...

Retorno; tão cansado... Morta a chama.
E te encontro, deitada em nossa cama!


19

Meus olhos pelos teus já perguntavam
Enquanto estrelas belas conviviam
Com sonho que decerto te buscavam,
E tantas fantasias permitiam

Trazer os teus caminhos que douravam
Os passos onde os meus sempre seguiam
Remansos sensuais que se fartavam
De todos os momentos que viviam

Dois seres em perfeita comunhão,
Vestidos pelos raios da paixão
Na profusão de um mar em lava ardente

Causado pelo fogo de um vulcão
Vibrando o coração, tomando a gente
Até chegar bendita inundação.


20

Meus olhos nos desertos se lançavam
Eternos sentimentos, poço e pólo
Deitando meu prazer busco teu colo
E apenas frios olhos me miravam.

Em nossas diferenças que saltavam
Aos olhos de quem vê além do solo,
Desejos e velórios misturavam
Receitas tão diversas mesmo bolo.

Fagulhas e farrapos, farpas, lumes,
A boca em podridão traz teus perfumes,
Mas mesmo assim prefiro essa halitose

No amor que me entranhou em pura osmose
Do vago que eu trazia, agora pleno,
Bebendo deste amor mel e veneno...


21

Meus olhos no futuro, quando os ponho;

Vislumbro a maravilha da esperança.

Embora nos pareça tão medonho

O grito da injustiça nos alcança



E penso que este canto tão tristonho

Proponha para todos nova dança

Vibrando com tal força em nosso sonho,

Possamos relembrar do amor-criança



Que teima em nosso peito resistir

Trazendo neste vento que promete

Beleza e sensação de um bom porvir.



Eu sei que te pareço sonhador;

Porém minha ilusão já me remete

À promessa aromática da flor...


22
Meus olhos não se cansam de esperar,
Teus olhos nos meus olhos, se perdendo...
Descendo manso rio sob luar,
Cascatas, corredeiras, conhecendo...

Teus lábios nos meus lábios, imersão.
O cheiro desta boca tão ardente.
Comendo tantas frutas da estação,
Prazeres que me deixam sorridente...

Nas noites tantos grilos, vaga-lumes,
Nos cantos e nos brilhos, nosso amor...
Tragando ardentes goles e costumes,
Tocando uma viola, em esplendor...

Viajo nos teus montes, serenatas...
Teus braços... Nossas noites. Me arrebatas


23

Meus olhos lacrimando em cachoeira
Descendo pelos rios em fumaça
Paixão que me domina, a derradeira,
O tempo nos teus braços nunca passa.

A vida se mostrando alvissareira
Destino mais feliz já não se embaça
Se eu tenho tanto amor, quero que queira
O sentimento nobre em que se faça

A nossa redenção em plena glória
Nos laços destes braços, a vitória
Trazendo num segundo eternidade.

Estou apaixonado, nunca nego,
Felicidade imensa que carrego
É feita deste amor que é de verdade...
Marcos Loures


24

Meus olhos inda miram teu retrato,
Espelhos de minha alma são só teus.
O dia se tornou cruel de fato,
Apenas me restando o triste adeus.

Na ventania imensa, o meu regato
Procura renascer momentos meus
Que foram sem destino e sem formato
Apenas refletindo olhos ateus

E assim, seguindo a sombra de mim mesmo,
Caminho e tantas vezes; vou a esmo.
Bebendo a lua vaga e merencória.

Olhando volta e meia o meu reflexo
A vida sempre traz sem rumo ou nexo
Recordações tão vivas na memória.


8425

Meus olhos entornando esta saudade
Em lágrimas sutis, inebriantes
Aonde se plantara por instantes
Abrolho, num momento, tudo invade.

O quanto se perdeu em falsidade
Deixando luzes claras, radiantes,
O amor quando embrenhou sendas distantes
Matou o que se fora, claridade.

Agora que desfilo este vazio
Nos olhos tão tristonhos, infelizes,
Perdoe por favor, os meus deslizes,

Pretendo reviver o nosso estio,
Embora traga fundas cicatrizes,
Quem sabe noutro dia outros matizes?
Marcos Loures


26

Meus olhos em total ansiedade buscam
Pelo céu essa estrela apaixonadamente
Bela. Estou tão distante... Eu quero, simplesmente
Seu brilho constelar. Os outros já se ofuscam...

Estrela radiosa, o meu verso se encanta
Com o teu raro lume. Embalde te procuro!
O céu, tão invejoso, esconde-te na manta
Pelas nuvens formada, o mundo fica escuro...

Quem dera se pudesse, estrela, ver teu brilho,
A vida, então, seria enorme fantasia.
O meu olhar vazio, espera por teu trilho!

A cada noite nova, um sonho de delícia...
Em ti, estrela amada, um canto de alegria!
O céu mais ciumento, esconde-me Letícia
Marcos Loures


27

Meus olhos decifrando teus problemas,
Decoro minhas tendas com mentiras.
As ruas que iluminas, velhos temas.
As cancerosas bocas que me atiras.

Nas melindrosas luas, meus poemas.
As trevas que me deste, velhas tiras.
Nos medos que segredas torpes lemas.
Nos teus tantos dilemas já me estiras...

Adormeço nas guerras que me fazes,
Iluminando o brilho do meu túmulo.
Nas vezes que fingiste; surdas pazes.

O começo e final, tu és o cúmulo!
As forças que roubaste fazem falta.
A noite dos amores dorme incauta!


28

Meus olhos decadentes e sombrios
Carregam a tristeza secular,
Dos sonhos esquecidos e vazios
Distantes das areias, sem o mar.

São olhos invernais morrendo estios,
Desaprenderam cedo o que é lutar
Perdidas andorinhas sem os fios,
Estrelas tão longínquas sem luar.

Meus olhos, simples ilhas sem ninguém
Eremitas morrendo em solidão.
O tempo vai passando e nada vem

Senão o gosto amargo da saudade
Daquilo que deveras fora o não.
Sem brilhos. Em meu olhar: opacidade...


29


Meus olhos de teus olhos, girassóis
Encanto libertário, paz e vinho,
As marcas dos amores nos lençóis,
Ficaram, são guardadas com carinho.

Depois de tanto tempo, tantos sóis,
Espero que tu voltes de mansinho,
Brilhando com a força de faróis,
Voltando como um pássaro ao seu ninho,

Trazendo para mim, felicidade,
Matando, com certeza, esta saudade
A cada novo tempo peço abrigo

Nos braços de quem amo plenamente
A sorte em maravilha se pressente
Vivendo esta esperança, amor, contigo...
Marcos Loures


30

Meus olhos de teus olhos revestidos,
Trazendo dias mansos, demarcados
De todos os temores já despidos
Vencendo mares loucos, sobraçados,

Tocando mais profundo os meus sentidos,
Meus versos de teus olhos namorados.
Espreita a fantasia em mil sentidos,
Certeza de momentos desejados.

Em sonhos vou teu corpo navegando
De luzes magistrais me decorando
Chegando à maravilha constelar

Luzindo fantasias estelares,
Roubando deste sol fartos luares
Mergulho em ouro e prata sobre o mar...
Marcos Loures


31

Meus lábios vasculhando cada ponto
Do corpo desta sílfide divina
Nos olhos deslumbrantes de menina
Ao paraíso em vida eu já remonto.

E bebo deste gozo em que me apronto
E galgo eternidade que alucina
Felicidade intensa sempre mina
Do porto que me deixa leve e tonto.

Um mero trovador apaixonado
Fazendo os mais sinceros madrigais
Querendo estar contigo lado a lado

Navega pelos astros, liberdade.
Dos sonhos em fulgores tropicais
Amor vai redobrando a intensidade...


32

Meus lábios vasculhando cada ponto
Do corpo desta sílfide divina
Nos olhos deslumbrantes de menina
Ao paraíso em vida eu já remonto.

E bebo deste gozo em que me apronto
E galgo eternidade que alucina
Felicidade intensa sempre mina
Do porto que me deixa leve e tonto.

Um mero trovador apaixonado
Fazendo os mais sinceros madrigais
Querendo estar contigo lado a lado

Navega pelos astros, liberdade.
Dos sonhos em fulgores tropicais
Amor vai redobrando a intensidade...
Marcos Loures


33

Meus lábios vão buscando doces méis
Pois sabem receber de teus carinhos.
Meus olhos na procura, mais fiéis
Encontram em teus braços, caros ninhos.

A noite vai passando calmamente,
Trazendo uma lembrança sensual
Do amor que determina a toda gente
Que a paz promete ser celestial

E vamos, sem desculpas nem temores,
Fazendo tanto amor sobre os lençóis
Deitando sobre a cama, raras flores,
Dos rios do prazer, teu corpo é foz.

E nada nos impede, com certeza,
De termos neste amor, tanta beleza...


34

Meus lábios te procuram, sem palavras...
Apenas te tocar, te dar um beijo.
Qual fora um jardineiro em belas lavras
Cuidando do canteiro, o meu desejo...

Não digo quase nada, nem preciso;
Encontro em tua boca, amada, a chave
Que leva o pensamento ao paraíso;
No toque tão sutil e mais suave...

Carinhos que se buscam, sem temor;
Nos mostram os caminhos mais concretos
Da estrada divinal, em tanto amor,
Dos sonhos que queremos; os completos...

Querida és meu alento em noite fria,
Ao te saber, minha alma se arrepia!

35

Meus lábios te percorrem sem juízo,
Mas saiba que este amor não diz pecado,
Altares que nos trazem paraíso
No imenso fogaréu, anunciado.

Tocando com desejos os teus seios
Delícias que encontrei, belas romãs,
Dos corpos que se dão já sem receios
Comemos, sem pudores as maçãs;

Assim doce veneno que me dás
Inebriadamente me conquista
Fazendo que se tenha a dimensão

Do amor que nos tomou e agora traz
O céu que num momento já se avista
Promessa de total inundação...
Marcos Loures


36

Meus lábios passeando em tua pele,
Vorazes sensações, prazeres tantos.
A cada novo porto que revele
Encontro com certeza, mais encantos.

Meu corpo nos teus cais, quando se atrele
Teus seios sobre mim, divinos mantos,
Que o tempo não mais passe, e sim congele,
Beijando por inteiro os belos cantos.

Nas ânsias de prazeres, tresloucados,
Os lábios já dão conta dos recados,
Sorvendo cada gota de rocio

Que espalhas nesta cama com doçura
Orgástico caminho se procura
Trazendo ao frio inverno um quente estio...
Marcos Loures


37


Meus lábios nos teus lábios fazem rede
E sabem deste beijo tão gostoso,
Matando em tua boca a minha sede,
A sede deste sonho mais formoso,

Permite que em teus braços eu me enrede
E seja sempre assim, bem carinhoso.
Saudade é um retrato na parede
Desejo sempre audaz, voluptuoso.

O beijo prometido, a boca espera
Transbordando a doçura em primavera
Destinos em carinhos são traçados.

Eu vejo ressurgir uma esperança
Fazendo do teu corpo com pujança
Caminhos em prazeres decorados...
Marcos Loures


38

Meus filhos são meus versos prediletos,
São feitos da alegria e da esperança
De sonhos mais perfeitos e diletos,
Limites onde a vista, minha, alcança...

Passeiam pela casa meus afetos
Brincando com pureza de criança.
Às vezes; nos meus sonhos incorretos,
Jogado n’algum canto da lembrança

Esqueço que também corria solto
Na casa dos meus pais, doce janeiro...
Nos braços da saudade vou envolto

E acordo com um grito ou um sorriso,
E o amor que é mais completo e verdadeiro,
Convida a padecer no paraíso!


39

Meus erros, meus enganos, meus defeitos,
São todos testemunhas que eu existo,
Se a nada neste mundo não resisto
Talvez os meus problemas sejam feitos

Somente dos riachos que em seus leitos
Encontram tantos seixos. Se benquisto
O estio da esperança em que eu insisto
Expressa os temporais, nem sempre aceitos.

Perenidade, um sonho tão fugaz,
Nem mesmo algum sorriso satisfaz
Quem tanto desejou inutilmente.

Não posso prosseguir, estou cansado,
A morte vai mandando o seu recado
E o fim inevitável se pressente...


40

Meus erros são enormes, mas humanos.
Nas ânsias as terríveis maldições.
As falhas que me tomam; desenganos,
Impedem com certeza, as soluções.

Não falo que meus versos tão insanos
São formas de enganar-me; ilusões.
Mergulho na esperança os oceanos
Formados pelas dores, emoções...

Oscilo entre a verdade transparente
E toda uma mentira que me guia.
Nas mãos incandescentes, a serpente,

Nos olhos outros brilhos mais sutis,
Resisto e não concebo a fantasia,
Mas mesmo assim, me sinto mais feliz...


41

Meus olhos te procuram... Minha amada.
Em meio a tantos olhos, quero o teu.
Nas ruas, nas esquinas, bares, nada...
Onde foi que esse olhar o meu perdeu?

Muitas vezes pensava ser sozinho,
Nos meus dias total obscuridade.
Cansado de viver sem um carinho,
Trazendo a solidão sem ter saudade...

Meus olhos em teus olhos, de repente...
Os brilhos refletidos, espelhados.
O mundo, num segundo, diferente;
Trazendo tantos sonhos... Rios, prados...

Porém tu foste embora... O quê que eu faço
Sem ter os olhos teus, por onde passo?


42



Meus olhos te procuram pela casa,
Vasculho cada canto, nada vejo.
Apenas o retrato de um desejo
Que em fogo me incendeia e assim me abrasa.

Aos poucos, solidão apaga a brasa,
E a dor que nunca cessa, eu já prevejo
Esta última parceira; não almejo.
Somente uma saudade me extravasa,

Pois nela posso ver o teu retrato
Embora distorcido, na verdade.
Revejo com prazeres cada fato

Vivido nesta casa, em nosso quarto.
Lambido pelos olhos da saudade
Sonhando; ao infinito logo parto.


43

Meus olhos te buscando nas estrelas
Distantes em meu céu quase sem brilhos
Quem dera se também pudesse vê-las
Quem sabe tu virias nestes trilhos.

As nuvens tão teimosas, escondê-las
Somente momentâneos empecilhos
Um dia se eu pudesse merecê-las
Meus olhos não seriam andarilhos...

Eu quero que tu saibas deste sonho
Que um dia cultivei, ser mais feliz.
Amar-te plenamente, eu te proponho,

Meus beijos serão teus se tu quiseres,
Talvez neste meu céu, novo matiz,
Se na bela estrela, enfim, vieres...

44

Meus olhos sem teus olhos, nada são
Somente escuridão em erma estrada,
Imagem num segundo vislumbrada,
Guardada como fosse uma visão

Em mágicos delírios: tentação...
Sem ter tua presença, não sou nada,
Ao vento e a tempestade alma vergada
Reflete o descaminho, negação...

Faróis que cedo guiam os meus dias,
No olhar imaculado, fantasias,
Magias de holofotes, luz intensa!

Quem sabe, por sonhar assim demais,
Terei ao fim de tudo, os magistrais
Olhares, pra quem sonha, a recompensa!
Marcos Loures


45

Meus olhos sem destino te buscavam
Em noite tão distante e neste intento,
As dores do passando se encontravam,
Resquícios que carrego em pensamento.
Depois da tempestade em que se achavam,
Poeira novamente toma assento.

E sinto que terei felicidade,
Ao ver esta mulher que já foi minha,
E agora tão distante da verdade,
Ainda em solidão, triste, caminha.
Meus olhos encontrando a liberdade,
Percebem que talvez, assim sozinha,

Ainda volte a ser em meu jardim,
A rosa que nasceu do amor sem fim...


46

eus olhos se tornando quase pálidos
Numa ânsia sem limites, incontida.
Quem teve plenitude, traz esquálidos
Motivos pra seguir por toda a vida.

Meus dias que se foram, mais inválidos
Deixando toda a base destruída.
Quem dera se tivesse sonhos cálidos,
Assim talvez achasse uma saída....

Mas venho bendizer o teu apoio,
Que ajuda a ser mais forte e mais contente.
O tempo nos ensina trigo e joio,

E mostra como é rara uma amizade.
Por isso minha amiga, antes descrente,
Concebo meu futuro em liberdade...
Marcos Loures


47

Meus olhos se perdendo neste espaço
Em busca da amplidão dos teus carinhos...
Em volta deste tempo, no cansaço,
Os pássaros errantes pedem ninhos...

Não sei mais se consigo ser feliz.
De tudo que busquei, nada mais tive...
O mundo que sonhava e sempre quis
Apenas nos meus sonhos inda vive...

Tentarei resistir mas não prometo...
Os olhos esquecidos não mais vêem
Dos erros nesta vida que cometo,
Por certo das saudades já provêem

Amiga, como é bom ser teu corcel
Meus olhos? Esquecidos lá no céu...


48

Meus dedos te tocando, xana e seios
Roçando tua pele bronzeada,
Meu corpo penetrando belos veios
Na gruta que me entregas encharcada.

A língua vai lambendo, tantos meios
De amar esta mulher deusa safada,
Deixando para trás velhos receios,
Loucura sem igual já vislumbrada.

Teu cu vai deslizando em minha boca
Na tua com volúpia esta piroca,
Depois na putaria dois dementes

Que sabem desfrutar de cada gozo,
Mijando em minha boca tão gostoso,
Cravando em minhas costas fortes dentes...


49

Meus dedos te tocando devagar,
Percorrem os caminhos do prazer.
Eu sinto minha pele arrepiar
Meus lábios, tanta senda a conhecer...
Surpresas neste belo passear
Delícias tão gostosas de saber...

E rendo-me aos desejos mais profanos,
Entrego-me sem tréguas nem descanso.
Nos rumos mais audazes, soberanos,
Os ápices divinos eu alcanço.
Estar contigo assim, meus loucos planos;
Nas furnas delicadas eu avanço...

Teu gozo é meu alento e meu destino,
Nos rios caudalosos me alucino...
Marcos Loures


8450

Meus dedos são audazes bandeirantes
Que entranham por recantos divinais,
Nos olhos redentores, diamantes,
Percorro sendas belas, sensuais.

Jamais eles serão titubeantes,
Pois sabem decifrar senhas, sinais,
Requebros desejosos, provocantes
Permitem que eu encontre portos, cais.

Ancoro meu prazer em tuas ilhas,
E nelas desfrutando as maravilhas
Furtando cada gomo, bebo o sumo.

Sacias com teu néctar as vontades
Daquele que se dando em claridades
Encontra o que queria, sanha e rumo...
Marcos Loures


51

Meus dedos deslizando em tua pele
Procuras incansáveis por prazer.
Destino em que em loucuras amor sele
Num lúbrico mergulho no teu ser.

A cada novo verso que revele
O quanto o teu amor me faz viver,
À farta fantasia me compele
O sonho tão sublime de se ter.

Eu vejo o teu olhar tão sequioso
Ardendo de vontades, riso e gozo
Na eterna sensação do querer mais.

Vencendo estas distâncias chego a ti,
Amor que tantas vezes concebi
Tornando nossas noites imortais...
Marcos Loures


52

Meus dedos andarilhos procurando
Em tuas doces matas, vales, montes,
Tocando com furor, divinas fontes
Que aos poucos vão depressa se alagando.

Sentindo umedecidos horizontes,
Nas belas cercanias se inundando,
Gemidos mais vorazes sussurrando,
Fazendo com o céu divinas pontes.

Até chegar contigo ao mar imenso
Que logo me devora, intensidade,
Sentindo mergulhar nesta umidade

O fogo da paixão audaz e tenso,
Querendo te sorver e gota a gota,
Sabendo que esta chama não se esgota


53

Meus companhero perdoa
As minha lamentação
Se falo não é à toa
Vem vindo do coração

Na boca o gosto da broa
Da vida nesse sertão
Meu pensamento mais voa
Dexando a lamentação

Pros que perfere a sodade
Eu perfiro nem dizê
Na vida, sinceridade

É perciso pra vivê
Mas cum amô e bondade
Mió pra mim e procê !


54

Meus castelos tombados pelos ventos...
Meus passos desviados do caminho.
As pedras que trouxeram sentimentos,
Destruíram castelos, passarinhos...

Nas travessas saudosas sem tormentos,
A paz e a alegria foram ninhos...
Recebendo a visita; meus lamentos,
Meus castelos ruíram, pobrezinhos...

Quando durmo; sonhando com castelos,
Meus castelos, castelos meus, tão belos.
Minha noite parece enluarada!

As dores que se perdem nessa estrada,
Parecem nunca terem existido...
Eu piso nos castelos, distraído...


55

Meus candelabros, nossas velas lua...
Cabelos soltos, secular romance...
Vieste lúdica, formosa e nua.
A cada passo a transformar num lance,

Esmeraldina essa beleza tua,
Que em cada gesto, a mansidão me alcance,
No gosto audaz da boca doce e crua.
Não reconheço outro sequer nuance...

Quando passeias teus olores, rosas;
Douras sem ver todos os meus caminhos.
Nas mãos macias, belas, vaporosas,

As esperanças trazes sem saber,
Os meus distantes sonhos pedem ninhos,
Nas alegrias desse amor, morrer...
Marcos Loures


56

Meus cabelos tomados pela prata,
As marcas de outros dias dolorosos,
A solidão que conheci já se retrata,
Dos sonhos que morreram, venenosos...

Vida de quem não ama, eu sei; maltrata,
Distante dos caminhos luminosos,
Perdido em ilusão, escura mata,
Somente estes momentos tenebrosos...

Amor que parecera ser bizarro,
Moldando nos teus braços, fino barro
Do qual eu renasci, minha querida.

Do medo que vivera no passado,
Cumprindo minha sina do teu lado;
Salvando, finalmente minha vida...


57

Meus cabelos tão brancos como a neve...
Representam verdades que aprendi...
A mão que sempre quis já não se atreve.
O mundo desconhece o que vivi.

A vida que terei será tão breve,
O tempo das tristezas, esqueci...
A carga das saudades, anda leve.
O medo de morrer, some daqui...

As orações que faço, peço a Deus,
Que não me deixe morrer sem ver Maria,
Os olhos apagando, trazem breus...

A vida esvoaçante já flutua...
Memória do que tive, breve dia
Lembranças da sereia, bela e nua..
Marcos Loures


58

Meus beijos desejando cada afago
Que trazes para mim, tão sedutora
Sorvendo desta boca trago a trago,
Certeza de vontade redentora.

Vieste salvadora em meu caminho,
Curando que sofrera tanto tempo,
Distante do que outrora foi sozinho,
A vida não me mostra contratempo.

Vencendo toda sorte de pavores,
Da solidão cativo, eu me liberto
Nas asas infinitas dos amores,
Nascendo bela flor neste deserto.

Amar, uma semente que me invade
Granando traz por fruto a liberdade!


59

Meu verso vasculhando, ganha o céu,
Procura por pegadas, cada rastro
Deixado pelos passos de um corcel
Nos seios da mulher, puro alabastro,

Os olhos descortinam claro véu,
Quem dera se eu pudesse ser um astro
Rodando o firmamento em carrossel
Erguendo o pensamento sem ter lastro

Ganhando a eternidade em manso beijo,
Num mundo mais gentil que em ti prevejo.
Deixando-me levar em correnteza.

Assim, ao parearmos nosso rumo,
Bebendo da alegria o farto sumo
Não quero mais saber desta tristeza.


60

Meu verso vai dispersa bomba atômica
Rasgando o que puder em faca e riso.
A voz que imbeciliza morre cômica
A morte do idiota é o paraíso.

Meu verso uma trombeta sem juízo
Palavra vai matando e morre agônica
Alarmes exauridos num aviso
Não quero estupidez que seja harmônica

Nem mesmo o quanto nada sobrará
Do verso que não fiz e não farei
Falando deste amor que restará

Depois de todo o podre que plantei
Batalhas que emboscaram liberdade
Restando esta mortal tranqüilidade...



61

Meu verso vai buscando em teus caminhos
O colo que esperei a vida inteira,
Meus dias que já foram tão sozinhos
Encontram verdadeira companheira

Que mostra com calor e valentia
Amor que salvará quem sofreu tanto.
Portanto no teu canto de alegria
Um manto me recobre com encanto.

Sem ter a tempestade que eu tivera,
Nos dias mais doridos, tão vazios.
Espero recolher a primavera
Na fruta delicada, nossos cios,

E assim nesta alameda enveredar
Meu sonho de prazer e, enfim, de amar...


62


Meu verso te proclama em amizade,
Pois trazes no teu canto sossegado
O gesto de quem tece claridade
Respeita cada dor de meu passado,
Usando de total sinceridade,
Caminhas noite e dia, lado a lado

Comigo na certeza de encontrar
Um mundo bem melhor de se viver.
Não teme nem sequer a luz solar
Nem teme nova vida conhecer.
Por isso minha amiga, o meu cantar
É feito simplesmente pra dizer

Que tenho uma certeza que me abriga,
A de que tu és sempre minha amiga..


63

Meu verso te fala dos sonhos que trago
Amor que comove tomando o meu peito
Fazendo mais forte querida, este afago,
Vencendo a tempesta no quarto em que deito.

Total calmaria placidez no lago
Aonde em ternura, farturas espreito,
Sabendo do gozo divino, pois mago,
Que após tempestade, meu bem, eu aceito.

Sublime dueto dos sonhos e risos,
Amor mais completo traduz paraísos
Vestido de sonho bebendo da fonte

Que nunca se seca, mostrando o horizonte
Que tanto tentara, sabendo existir
Na jóia tão rara, sublime porvir...
Marcos Loures


64

Meu verso só reflete; minha amada,
Toda a beleza imensa do teu canto.
És como a lua intensa, prateada,
Deitada sobre mim, em puro encanto...

Percorro o mesmo rio que ditaste
Com toda uma alegria sensual,
Nessa ternura imensa demonstraste
U’a força sem igual, fenomenal!

Que bom poder estar aqui contigo,
Dançando com palavras. Vou entregue...
Encontro no teu canto o meu abrigo,
E o sentimento imenso não se negue,

Amada, me permita te dizer,
Teu canto fez meu verso renascer!


65

Meu verso sertanejo, um repentista canta.
Mostrando o meu desejo, um moço caipira
Que sempre quer um beijo, um gosto que me encanta
Da moça em que prevejo a sorte que não fira.

Um coração sozinho em busca de uma manta
Que venha aquecer ninho em forma de mulher
Trazendo de mansinho o bem que ela quiser
E a lua no caminho à noite se levanta

Chamando pro ponteio através da viola
Ao pratear a terra iluminando a mata
Refaço minha sorte em plena serenata

Mostrando que o recheio, amada, da sacola
Trazendo pr’esta serra o cheiro do alecrim,
Meu canto traz a morte escondida de mim...

66

Meu verso se tornando mais conciso
Batuca no teu peito sem parar,
Vertendo em nossa cama traz luar
Na manta feita em puro paraíso.

Eu quero cada gota e sempre biso
Bebendo a vida em goles, farto mar,
Serpentes vão chegando devagar
Venenos em fartura sem aviso.

Vou ávido de ti prazer insano,
Transformo a brisa calma em minuano,
E a tempestade vira furacão.

Cabelos esvoaçam, cavalgadas,
Vagando mil estrelas, madrugadas,
Tocado pelo amor, louco tufão.
Marcos Loures



67

Meu verso se encontrou em plenitude
Dizendo simplesmente todo o sonho
De ter sempre o bom senso e juventude
No que se fez completo e bem risonho.

Que o tempo nos impele e nos ilude.
Um mundo bem melhor: eu sempre sonho.
Decerto em outros templos tudo mude
Porém quero um viver menos tristonho.

E digo deste modo,o que pressinto
Sorvendo todo o mel que me permites.
Concedes teu prazer, desejos, sinto.

E quero ser só teu. Em todo verso
Demonstro sentimento sem limites
Vencendo o duro medo de ir disperso.

Soneto feito sem a letra A


68

Meu verso se encantando
Buscando o teu carinho,
Assim irei cantando
Por todo o meu caminho,

Um homem se entregando
Outrora tão sozinho,
Amor vai dominando,
Entrando no meu ninho.

Quem sonha em ser feliz
Já sabe deste fato,
Contigo amor se diz

E mostra o seu retrato,
Legado que eu mais quis,
Remanso de um regato...


69

Meu verso se desfaz da poesia
Deixando para trás o que sonhara,
Matando em voz cruel o novo dia,
Fragilizado assim, desesperara.
A vida tolamente prometia
A noite solitária, fria, amara.

Na lua que se fez mais clara e forte,
O dia prometendo um novo brilho
Mudando todo o rumo desta sorte,
Trazendo uma esperança como trilho.
Não temo mais sequer a fria morte,
Seguindo sem temer um empecilho,

Imagem que eu tivera agora é rara:
“Somente a noite fria inda me ampara.”


70

Meu verso que te faço, verso amigo;
Reverso do que traço, sem temer.
Diverso do que penso, do perigo,
Neste universo inteiro, percorrer.

Converso com meu Deus e tanto peço.
Inversos meus caminhos percorridos.
Conservo os desejos que mereço
Sou servo dos meus erros cometidos...

Reservo o meu pedido de perdão,
Preservo meus amores sem juízo,
Me atrevo a te pedir compreensão,
No trevo entre inferno e paraíso...

Mas levo uma amizade tão fecunda
Me enlevo numa prece mais profunda...


71


Meu verso que se fez em puro afeto
Buscando nos seus olhos, minha luz.
No sonho mais bonito, predileto,
O raio que me leva e reproduz
Em um caleidoscópio belo aspecto
Da vida que me cerca e me conduz

Ao corpo encantador de uma morena,
Ao jeito tão faceiro da menina.
À glória benfazeja que me acena,
Aurora que me cerca e me domina.
Nesta delicadeza de verbena
A jóia, em raridade, diamantina...

No mundo mais airoso em que se crê,
Mil versos que dedico p’ra você...


72

Meu verso que disperso pelos ares
Encontra uma resposta noutro peito.
Atravessando ruas, rios, mares,
Navega em liberdade. Contrafeito

Por trazer a saudade como tema,
Exclama em solidão esperançosa
- Que sabes, é dourada e rara gema-
Na busca de uma vida mais viçosa.

Pensara não ter eco nem resposta,
Mas tendo uma amizade como a nossa
Saudade se fazendo em mesa posta
Morre enquanto o sonho se remoça.

Amiga, eu agradeço e compartilho
Contigo, ternamente, este outro trilho...
Marcos Loures


73

Meu verso qual aborto que incompleto
Deixou uma placenta no caminho.
Vencido pela dor não me completo
Nem tenho mais um resto deste ninho.

Sou quase, na verdade, um triste feto
Jogado pelas ruas, sem carinho.
No vaso que quebraste sem afeto,
Um parto que se fez, morreu sozinho...

Um ser que tão abjeto vai sem rumo,
Vergastas arrancando minha pele.
Numa acidez terrível, podre sumo

A sorte malfadada me repele.
Quem vive e nunca mais conhece o prumo,
Na morte encontrará enfim quem vele...
Marcos Loures


74

Meu verso procurando uma alegria
Encontra nos teus olhos, raro brilho
Seguindo uma ilusão que assim me guia
Percorro em pensamento um belo trilho.

Quem dera se pudesse, a cada dia,
Mostrar o quanto já me maravilho
Sentindo o teu perfume que me extasia,
Num sonho que se faz sem empecilho.

Nas malas que carrego do passado,
Tristezas, sofrimentos, dor atroz,
Ouvindo em emoção tal bela voz

Permite que eu te fale extasiado,
Que o peito emocionado já se cala
No sonho de poder somente amá-la...


8475

Meu verso predileto, o nosso amor
Bem distante da guerra, eternas tréguas
Navego o mar constante em esplendor
Por milhas, anos luzes, vastas léguas.

E sei que terei sempre o manso cais
Aonde o coração já sabe e diz
Do quanto amor ao ser assim demais
Num brado, grita ao mundo: sou feliz!

Em nossa parceria a solução,
Rompendo as tais algemas do passado,
Ao fundo ouvindo a voz: libertação,
O sonho sempre bom de ser sonhado.

Quando eu te conheci estava certo;
Portal do paraíso, em paz, aberto...


76

Meus discos esquecidos numa estante,
Parecem com minha alma abandonada.
Quem fora; por decênios, bajulada
Decadente se mostra num instante

A vida me calando, qual farsante,
Não deixa mais seguir nenhuma estrada,
Sobrando do que fui quase que nada,
Embora tão teimosa e relutante

Não queira abandonar uma esperança,
Nos discos que escutava, festa e dança,
Na estante a solidão do não mais ser.

Atando fogo, queimo esta vitrola,
E tento em novo canto renascer
Qual pássaro quebrando uma gaiola...


77


Meus dias transcorrendo preciosos,
Tateiam nesta busca mais sossego.
Nas portas que criei, pedindo arrego,
Peçonhas inoculas. Perigosos

Os sorrisos que trazes... Sempre nego
As cores que não tenho. Melindrosos,
Os caminhos sofríveis que navego.
Meus dias e meus dedos são nodosos!

Renasci dessas cinzas que sopraste.
A pátria que pariu m’abandonou.
As mortes que te dei, tu confrontaste;

E quase nada tive e me restou...
O vento sutilmente quebra as hastes ,
Essas hastes que ergueram quem amou!


78



Meus dias quando outrora alvissareiros,
Raríssimos troféus de uma esperança.
Promessas de vitória e seus loureiros,
Julgando bem mais forte uma aliança
Primor de velhos sonhos que, guerreiros,
Morreram sem resquícios na lembrança.

No lodo em que emergi, pr’a sempre imundo,
Charneca de meus olhos, falsidades,
No pélago vazio em que me inundo,
Distante de pureza e castidades,
Vagando sem ter rumo pelo mundo,
Apenas me restando tais saudades...

No crocitar de uma alma prisioneira
Somente a solidão é companheira.


79

Meus dias por teus dias procuravam
Embora tantas vezes não convinham,
Os rastros que na areia se buscavam
Mostravam para onde nunca vinham

Os dias que talvez inda clamavam
E restos de esperança já continham,
Enquanto os meus caminhos se passavam
Os braços noutros braços não se aninham

Vertentes deste rio que prossegue
Atrás de um velho mar, salgado e morto.
Recebo o teu olhar em manso porto

E sigo na alvorada quase entregue
Às rotas emoções, rotas perdidas,
Sem ver no labirinto outras saídas...


80

Meus dias embotados; silencio.
Nas pétalas doridas da saudade.
Um medo me turbando, estou vazio,
Vagando pelas ruas da cidade...

Às vezes- sem amor – penitencio
E calo qualquer forma de verdade.
Fantasmas, fantasias... Logo crio
Fugindo do que fosse liberdade.

Só resta uma esperança nisto tudo,
De um canto que renove o meu viver.
E quase novamente assim me iludo

Fazendo da amizade um novo canto
Que possa renovar o meu querer
Trazendo ao que me resta algum encanto..


81

Meus desejos transcorrem vivos, plenos...
Transformados em sonhos delicados..
Na beleza que tens, Ó minha Vênus,
Meu mundo viveria sem pecados...

A sorte que me lança de joelhos,
Não deixa mais verter as minhas lágrimas...
Das fontes que bebi, não sei de lástimas,
Os olhos que chorei, estão vermelhos!

Meus desejos deliram seu juízo.
O resto que carrego nem preciso.
O que fizeste enfim, dos tristes versos?

Percorro sem saber, mil universos...
Palavras beijam, cortam, dilaceram...
Amores que criei, nunca me esperam!
Marcos Loures


82

Meus dentes te mordendo levemente,
Aos poucos te entornando, devagar...
Sabendo que em meu mundo, de repente,
Meus barcos tu desejas navegar.

Eu quero a sensação do teu prazer,
Da sede que eu mais quero saciar.
Nos braços e nas pernas me envolver,
Delírios de perder e se encontrar...

Eu quero a maciez de teus cabelos,
Roçando minha nuca num enlace.
Carícias de sentir todos os pelos,
Nas horas em que mansa, tu me abraces...

Eu quero viajar contigo espaços;
Depois ir descansar nos teus cansaços...


83


Meu verso derradeiro, na verdade,
Espera um pouco mais para nascer
E sei que ele dirá de uma amizade,
Razão fundamental para o prazer.

Não deve demorar, a vida é curta,
Ainda mais querida pra quem sabe
Que o tempo de viver cedo se furta
Nos braços da doença onde já cabe

As pernas que decerto perderei,
Os olhos que se vão, bem lentamente.
Mas disso tudo amiga eu guardarei,
Resquícios do que tive, veramente.

Amigos que encontrei pelo caminho,
Embora, com certeza, eu vá sozinho...


84

Meu verso como faca corte e gume,
Vagando pela noite sem limites.
Dos vales mais profundos; ganha o cume
Da dor que não aceita mais palpites.

A flor que pede espinhos sem perfume
Impede que meus olhos; nunca fites.
Um sonho: ser feliz nunca se assume
O risco de viver? Não me limites!

Meus pés são minhas asas, vão libertos
O gosto da discórdia me atraindo.
Tragando os insalubres, vãos desertos

Sou parte do que fora o não ter sido.
As máscaras aos poucos vêm caindo
Na farsa em que imbecil; tenho vivido...


85

Meu verso calado
Depois desta festa
Amor delicado,
Por certo o que resta

Deixando de lado,
Invado a floresta
De sonhos, marcado,
O nada se empresta

E mostra um caminho
Sem paz, claridade,
Deixando sozinho,

Vibrando a saudade
Aquecendo o ninho
Sobrou amizade...


85

Meu verso andando a esmo pelas ruas
Depara-se com quem amei há tempos.
Bonita, como sempre, continuas,
Porém no nosso caso, os contratempos

Fizeram nosso sonho terminar,
Aborto do que fora tão divino,
Mas nunca deixarei de te adorar,
Tu és todo o meu sonho de menino...

Nas horas em que a lua acaricia
Tocando mansamente nos teus seios,
Amor quando em amor, já se vicia

Difícil se esquecer, isso eu garanto,
Mesmo que distante, sem receios,
Teu nome com saudades sempre canto...


86

Meu velho companheiro de desditas,
As noites que rolamos bar em bar
Prenúncios destas luas tão malditas
Trazendo esta vontade de chorar.

As nossas poesias mais aflitas
São feitas destes raios de luar
Palavras maltratando, velhas criptas
Aonde um dia iremos descansar.

Amores que perdemos nada são,
Apenas andorinhas num verão
Que voltam para a casa nos deixando,

Amores pela vida descartando
Restando tão somente esta amizade
Que é feita na aguardente da verdade...
Marcos Loures


87


Meu velho camarada, estou feliz
Somente por ouvir a tua voz,
Enquanto esta canção estreita os nós,
Eu tenho com certeza o que mais quis

Inspiração qual fosse um chafariz
Deixando no passado o medo atroz
De quem sem ter mais dentes quer a noz,
E via a poesia por um triz.

Agora sem sequer poupar o sonho,
Mergulho nos encantos do versejo,
Deixando vir à tona o meu desejo,

Um novo tempo em paz, eu te proponho,
Dos Pampas às montanhas, Sul e Minas,
As ondas da esperança são divinas...


88

Meu tormento, meu bem, sempre dói,
Se tu vens; porém nem quer me ver.
O meu medo, por certo, destrói,
Se te perco, que posso dizer?

Viverei sem poder ter o sonho,
Que, segredo, perdi, com teu bem.
O que foi, num momento, risonho,
Hoje sofro; viver, sem ninguém...

Resto o gosto terrível comigo,
Deste fel que verteu dentro em mim.
Eu te empresto, meu bem, o perigo
Que me morde, ferino sem fim...

Sei que sou esse resto, ferido
Sem teu corpo, desejo perdido...

Soneto sem a letra A


89

Meu tormento é companheiro
Que não me larga jamais.
Onde vou, seguindo atrás
Me acompanha o mundo inteiro.

Já me acostumei assim,
O tormento é meu amigo,
Pois, sempre andando comigo,
Vai comigo até o fim.

Se esse tormento morresse
Eu morreria também
Eu procuro por alguém

Que nunca se aborrecesse
Dividir meu pensamento
Com esse bendito tormento!
Marcos Loures


90

Meu tempo em alegrias; vou vivendo
Distante do que fora gelo e neve
Teus olhos aos meus sonhos prometendo
Desejos de uma vida bem mais leve,

Contigo permaneço não temendo
A dor da solidão que inda se atreve
A me roçar a pele, corroendo
Tornando uma alegria bem mais breve.

Nas asas/ liberdade, a fantasia
Refaz em doces olhos, novo dia
Tomando o coração invade a mente

E traz tanta fartura na colheita
Enquanto a fantasia se deleita
Eu quero o nosso amor completamente.
Marcos Loures


91
Meu tempo de sonhar já não existe,
Eu quero ter apenas um desejo
Enquanto a solidão não mais almejo
O coração sofrendo, segue triste

Do sórdido caminho, dedo em riste
O céu não mais trará fino azulejo,
Quem sabe inda reste algum traquejo
Num peito que, teimoso ainda insiste.

Pegando uma carona na vontade
Eu sigo os rastros tolos de uma estrela
Que morre mal ressurge a claridade

E deixa como marca, este vazio.
A sorte de sonhar e de contê-la
Não passa de tolice, ou desafio...
Marcos Loures


92

Meu sonho vai vestido em linho branco
Atravessando as noites nada alcança.
Apenas um sorriso de criança
Restando do que fora um moço franco.

No dia que percebo e que alavanco
O que sobrou de tudo, uma esperança,
O medo de viver já não me cansa,
E perto de teus olhos, eu me estanco.

Avanço, vou incólume, o caminho,
Embora em passos trôpegos, persisto.
Quem sabe inda serei por ti benquisto

Quem sabe beijarás a minha boca.
Meu sonho vai teimoso em branco linho,
Mesmo que esta esperança seja pouca...


93

Meu sonho vai vestido de saudades;
Invade tantas noites sem descanso
E mesmo se sereno, não alcanço
O manto que vestia, veleidades;

Entranho podres flores com maldades
Maleitas e defluxos, meu ranço,
No rancho deste tempo quando tranço
Os pés se distanciam das verdades.

Amor armado mostra-se sem nexo
E verte meus desejos no infinito.
Sem mar que me dê formas em reflexo,

Deformas esplendores e metais.
Alegre não consegues ver meu rito
Em doces e profanos festivais...
Marcos Loures


94

Meu sonho tão distante, em negra treva,
Alçando uma esperança no infinito.
A vida dolorosa então se neva
Na solidão mais dura do granito.

Quem dera se me ouvisses. A dor leva
O meu desejo intenso e mais bonito.
Por tanto tempo, sempre em louca ceva,
Apenas por resposta: o não, teu rito.

Mas sinto que virás ao fim do dia,
Na porta escancarada da ilusão.
Quem sabe assim, luxúrias, gozo e cio

Fomentem minha vida em alegria.
Nos laivos mais fecundos da paixão,
Queimando um coração deveras frio...
Marcos Loures


95

Meu sonho sem convés perdeu a rota,
Mulher que foi perfeita timoneira
Desaba da mais alta ribanceira
Deixando o que sonhei além da cota.

Galopo uma ilusão, o peito trota
Rasgando da emoção rota bandeira
Fazendo deste amor qualquer besteira
Roubando o pensamento, alma remota.

Cabeceira dos rios da esperança
Mortalhas avizinham num sarcasmo,
Mordendo e me cortando num orgasmo

A moça me enxovalha e não se cansa
Do quanto que não fui e não seria,
Alçando em bofetão uma alegria...


96

Meu sonho se tornando o derradeiro...
A morte me permite essa oração.
Entrego-me em teus braços, sou cordeiro
No sacrifício louco da paixão...

Um verme que campeia sorrateiro,
Omite-me palavras de perdão.
Talvez eu não mereça o verdadeiro
Sentido da palavra compaixão...

A solidão constela minha sorte,
Nas amplitudes todas, sou fracasso...
A boca que me oscula, fria morte,

Encobre e vai nublando tudo em volta...
Amor que já perdi, meu embaraço,
A dor dessa saudade me revolta!


97

Meu sonho se esquecendo da saudade,
Invade nossas noites sem descanso,
Trazendo, sem temor, felicidade.
E mesmo assim, sereno, já te alcanço...

Entranho molemente cada canto...
Não deixo que percebas que sofri.
Eu quero teu prazer em puro encanto,
Por isso; minha amada, estou aqui...

Amor sem ter juízo; mas com nexo,
Trazendo meus desejos infinitos.
Percebo nos teus olhos, meu reflexo,
Nas alegrias temos nossos ritos...

Durante nossas noites, festivais,
Deixando esse sabor de quero mais...


98

Meu sonho que se esvai qual leve fumo
Trazendo esse perfume de mulher.
Distante de teus olhos perco o rumo
Aguardo qualquer dor que, enfim, vier...

Meu sonho em toda noite se repete
Formando um carretel de finas dores,
Quem fora, em carnaval, tanto confete;
Sozinho procurando seus amores...

Mas sinto neste vento uma bonança,
Mando de seda verde que te cobre...
Deslumbro neste sonho uma esperança
Que a força dentro em mim já se redobre.

E traga, sem ser sonho, o meu sonhar.
Vontade, em realidade, de te amar!


99

Meu sonho qual noctâmbulo percorre
Os túmulos que trago no meu peito,
O sangue pela boca quando escorre
Esvai em conta-gota, encharca o leito.

Aos poucos esperança leda morre
E vago pela noite insatisfeito
Bebendo a vida intensa até que o porre
Permita o meu descanso e a morte aceito.

Se vens tocar meu corpo, carniceira
Encontras os escombros, meus destroços,
Carcomes e me expondo entranhas e ossos

Não deixas nem resquícios do que fui,
A mão que traz afago, derradeira,
Castelo que fatídico já rui...


8500

Meu sonho procurando pelo afã
De saber que não temo tais procelas...
A vida, sem sentido, minha irmã,
Soltando-se não teme tantas celas...

Quem pensou se perder, nova manhã,
Espera das auroras lindas telas...
Deslinda-se nas matas, flamboyant,
Meus mares navegando vento e velas...

Nos sonhos, receoso da saudade,
Expresso essa ilusão, velha quimera...
Qual Pégaso buscando liberdade,

Meus sonhos vão pairando p’los espaços...
Trazendo, temporã, a primavera...
Delícias encontrando nos teus braços...
Marcos Loures


01

Meu sonho preparando uma modinha
Cantiga que morreu, tão antiquada,
Sentado neste banco, na pracinha
Apenas encontrei a bandidada

A moça que sonhei e nunca vinha
Agora faz programa na calçada,
Coreto dos meus sonhos já definha
A pele na mortalha, agasalhada.

Meus olhos encontrando o que não foi,
Lagoa dos meus dias, sapo boi
Fazendo uma arruaça me atrapalha,

Não beijo o que não tenho nem pretendo
A morte do meu sonho estou vendendo
No corte extasiante da navalha...


2

Meu sonho persistente te obedece
Procura a perfeição por um momento,
A solidão depressa se arrefece,
Levada por carinho em livre vento.

Felicidade intensa que germina,
No amor que se mostrou em plenitude.
Montando na esperança, solta crina,
Fazendo com que a sorte, enfim transmude.

Quem sabe mais estável, seja a vida,
Depois desta incerteza em que talhei
A juventude inteira, e assim decida
Mudar em cada brilho, nova lei.

Amor que presenteia quem persiste,
Matando o meu passado, amargo e triste...


3

Meu sonho penetrando no meu peito,
Um bravo deus emerge do passado.
Tramando cada dia mais perfeito,
Empurra meu amor para o teu lado...

Caminhos de florais tão olorosos,
Perfumes que roubei de teu jardim
Os campos perfumados, dolorosos,
Um mundo de prazer dentro de mim.

Meu sonho vai tomando toda a casa,
Deitando-te na cama que pensei.
A vida assim depressa já me abrasa,
Nas chamas do teu corpo mergulhei...

Amor vem invadindo, me incendeia
Floresce no meu sonho, em lua cheia...


4

Meu sonho em liberdade te procura
E molda em esperança um doce beijo.
Encontro nos teus braços minha cura,
Um dia sorridente e benfazejo.

O céu de um novo tempo, em que ternura
Numa aquarela pinte em azulejo
Afugentando nuvem tão escura
Que outrora percebi sem um lampejo.

Amar-te é conceber felicidade
Que vem e nos domina lentamente,
Sem ânsias, nos tomando corpo e mente

Fazendo-me refém da imensidade
Desta alegria intensa em que me entrego,
Dando-te todo amor que, enfim, carrego...
Marcos Loures


5


Meu sonho em calmas sendas quando pousa
Longínquas maravilhas; adivinho.
Meu beijo em tua boca assim repousa
E encontra no teu corpo um belo ninho.

Não quero mais saber se há outra cousa
Que possa avinagrar um doce vinho,
Meu sonho, uma liberta mariposa
Voando atrás de um lume: o teu caminho.

A noite solitária se faz triste,
Escura em plena treva, quem resiste?
Porém dentro do sonho, amor contenho,

Tua boca macia – sinto – vem,
Porém de manhã cedo, nada tenho,
Do meu lado, na cama, só ninguém...


6

Meu sonho é ser contigo o tempo todo,
Estar em cada noite, a cada dia.
Amor que não permite mais engodo
Se faz mais forte e sempre qual pedia
Um coração tão velho, morto em lodo
Que renasce na perla da alegria...

Surgiste como estrela matutina,
Prenúncio deste sol que nos abrasa,
Sorriso de mulher e de menina,
Tomando num segundo toda a casa.
Prazer de estar contigo me domina
A vida se levita, criando asa

E faz de cada dia uma esperança
Do paraíso em terra que se alcança!


7

Meu sonho de esperança, manso e brando
Em busca de outro senso mais sutil,
Aos poucos calmamente, dominando,
Mostrando ser mais forte e mais gentil,
Remonta todo o tempo que, esperando,
Nublava este meu céu que fora anil.

Ferido pela dor de uma saudade,
Marcado por um golpe do passado.
Qual tronco que perdeu-se da verdade
Cortado pelo corte do machado,
Não acho, nesse mundo, paridade;
Morrendo sem ter sombras ao meu lado.

De tudo o que temia, esteja certa,
A vida se mostrou tão incompleta...

8

Meu verso parecendo um passarinho
Em busca das mentiras que me deste.
Vagando pelo mundo estou sozinho,
Talvez uma saudade, o que me reste.

Vencido pelas pedras do caminho
Entôo meu cantar que me reveste
Das dores em litígio, vasto ninho;
Com fome e com certezas, pão e peste.

Destino sem sentido nem promessa
Escondo meus olhares nos teus seios
Nos olhos que me dás não se confessa

O tempo que passamos sem receios.
A vida sem querer, pegando peça,
Transforma em agonia meus anseios...


9

Meu verso não se engana
Cortando qual navalha,
A sorte que se espana,
Comigo se atrapalha.

A vida soberana,
Um campo de batalha,
Na luta tão sacana
Mais fracos estraçalha.

Galinha quando é boa,
Eu falo e nunca minto,
E ninguém me avacalha.

Se é nova ou se é coroa,
Cuidando bem do pinto,
Com certeza não falha...


8510

Meu verso mais sombrio, as danças neste bar...
Amor que me arrebenta arrebata o que resta.
Um copo de aguardente, o brilho do luar.
Nos umbrais da saudade aberto o peito, fresta.

Nas bocas que beijei, mulher que foi meu par,
Minha alma deslumbrada aguarda pela festa,
Espera teu desejo, ondas do negro mar...
Um tresloucado rito, amor, esgoto empresta...

No gosto desta guerra, amor em forma bruta,
Burilo meu anseio, amanso meu instinto...
Em tua boca o gozo, uma lágrima astuta.

Inebriado sonho, esbanjo-me em delírio...
O vinho que bebi, do meu sangue, retinto,
Na dança sepulcral, meu gozo é meu martírio...
Marcos Loures


11

Meu verso homenageia-te querida,
A minha companheira nas desditas.
Através dos caminhos desta vida
As mãos que me acarinham são benditas...

Por vezes não achando mais saída
As horas se passando tão aflitas;
A dor já me abandona, vai vencida
Por palavras bem doces, e bem ditas.

Eu faço este meu canto em teu louvor
Ao lembrar quantas vezes me ajudaste.
Meu caminho; douraste com amor.

Se quando necessário, sempre abriga
O peito dolorido, fincando haste
Tão firme. Te agradeço, minha amiga!


12

Meu verso enviesado pela sorte
De quem nasceu com fome de vingança;
Na ponta desta faca trago o norte
A mão que quer o beijo já te alcança;

Porém tu sentirás meu fino corte
Da boca que te morde seta e lança.
Não temo lábio doce que me entorte
Nem mesmo uma lambida da esperança.

Nascido em fardo amargo e tão pesado,
Carrego entre meus dentes de soslaio
Certeza de saber que ando de lado,

No coração sofrido, este balaio,
Que é mostra que se fez por ter amado
Quem luta e não se deixa ser lacaio.


13

Meu verso em transparência mais exata
Mostrando o quanto quero te encontrar.
Procuro por pegadas ao luar
Adentro noutras sendas; densa mata.

A solidão que tanto me maltrata
Percebe que perdido, a te buscar,
Talvez eu não consiga mais lutar
E vem bem mais voraz, e desacata.

Não sei por que tu foste noutro rumo,
Nem sei mais se consigo prosseguir.
O frio desta noite a me ferir,

Invade e me transtorna, sem aprumo
Não tenho mais vontade de viver,
A vida sem valia, sem prazer...


8514

Mistério que aprendi desde criança
Contados pela avó, lendas de fadas.
São coisas que não saem da lembrança
Rondando minhas noites, madrugadas.

Idade, sem ter pena vai, avança,
E nada das histórias bem contadas
Num tempo em que vivia esta esperança
De ter zilhões de moças encantadas...

Amores que passei começo e fim,
Tropeços no começo do caminho.
O gosto que ficou foi bem ruim

Mas ao sentir chegar esta morena
Percebo que encontrei, enfim carinho,
Castelo esperançoso já me acena...
Marcos Loures


15

Mirraste tantas mãos que acaricias,
Verdugo que delira em crueldade.
Devoras sem temer, as fantasias...
Prazeres histriônicos, maldade...

Chacinas, aos teus olhos são orgias,
Despertas violências... Ansiedade
Demonstras quando vês torturas frias...
A morte que revelas cedo ou tarde!

Nas páginas sangrentas do jornal,
Ao delírio te levam tais notícias
Carnificinas trazes no bornal...

És pântano sedento de sevícias...
Abutre que deseja tanta morte
Aprofundando sempre imenso corte...


16


Mire em teu espelho e veja aquilo
Que um dia fora minha agora vai,
O sonho em que te chamo não desfilo,
Destilo um verso amargo em que se trai

Palavras que roubaste de meu peito,
Uma amargura imensa que não cessa,
Amar é transgredir? Insatisfeito
Cansado de te ouvir, tanta promessa.

Um sentimento atroz, em egoísmo
Disfarça o que querias e levaste.
Buscando tão somente o hedonismo
Amor foi terminando. E num desgaste

Comum a quem falseia o sentimento,
Tua sombra restou no apartamento...
Marcos Loures


17

Mirar teus olhos, bela companheira,
Seguindo cada passo que desfilas
Moldando esta esperança nas argilas
Fomento de alegria, feiticeira.

Iria te encontrar, quer ou não queira
Por entre mil sobrados, casas, vilas
Tomando a maravilha que destilas
No verso mais sublime, uma bandeira

Que hasteias nos poemas e nas frases
Deliciosamente busco em ti
Licores que inebriam. Quando fazes

Das letras um tapete em cores belas
Dourando a fantasia, vens aqui
E raros diamantes me revelas...
Marcos Loures


18

Mirantes da ilusão, em belvederes
Permitem que se forme a clara imagem
Aonde procurando o que mais queres,
Verás bem mais que pensas ser miragem.

Depois de tanto tempo e sem que esperes,
O sol dominará tal paisagem,
Dos sonhos e promessas que fizeres
O amor te mostrará bela estalagem.

Na aragem matinal das esperanças,
É necessário teres confianças,
Sabendo que a manhã não tardará.

O que pensaras ser simples engano,
Perceberás sublime e soberano,
E em força sem igual te inundará...
Marcos Loures


19

Mirando o teu olhar, eu percebi
O quanto que o Pará se mostra belo.
Vivendo a poesia que há em ti
Encantado, este sonho eu te revelo.

Receba este carinho desde aqui
Na forma de um soneto mais singelo
Na farta maravilha eu me embebi
Criando em fantasia este castelo...

Rastelo em minhas mãos de lavrador
Tentando num soneto qual louvor
Falar desta alegria que nos toma

Na força da amizade, sul e norte,
Sanando com doçura qualquer corte,
Unindo num poema, intensa soma...
Marcos Loures


20

Miragem volta a ser triste deserto
Na seca que retorna eternamente,
O carrossel da vida sempre incerto
Permite que se veja claramente

No rosto da criança esfarrapada
A fome que se espalha, de justiça.
A marca em nossa pele tatuada
Impede que esperança ressurja e viça.

Algozes de nós mesmos, insensatos
Distante da amizade, a podridão
Espalha pelas ruas, pelos matos,
Matando em nascedouro a solução.

Assim, como idiotas e imbecis
Deixamos nossas vidas por um triz...
Marcos Loures


21

Miragem que em tortura, nos ajuda
Sangrando novamente o meu passado,
Saudade vem trazendo esse recado
Do quanto que passou minha alma muda.

O tempo num momento tudo muda
Num sonho em esperança transmudado.
A sorte se lançando em cada dado
Talvez essa ilusão inda me acuda.

Desejo que eu carrego e tu também
Enquanto esta lembrança sobrevém,
O gosto do que fomos permanece.

No templo imaginário, tua tez,
Encanto sem igual, o sonho fez
Marcante redenção do amor em prece...
Marcos Loures


22


Minina aconchagano o coração
Qui bate só pru quê ti qué tão bem,
Nos chêro mais gostoso da paxão
Na vida um bem maió sei qui num tem.

O meu bornár carrega tanto trem
Mais uma coisa tem mais precisão
O bêjo da morena que é tão bão
Dispois que li beijei, num quis ninguém

Sumentes quero o mér de sua boca,
Razão da minha vida sê tão lôca,
Correndo sem distino por aí.

Vem logo qui num posso mais pená,
Istrela nesse cé qui faiz briá
U sonho mais férmoso qui vivi.
Marcos Loures


23

Minhoca, hermafrodita com certeza
Fazendo sacanagem, putaria
Enquanto contra-ataca, na defesa
Aberta fica exposta. Uma alegria.

Amor- entre minhocas, que se preza
Termina em bacanal, tremenda orgia,
Não quero nem saber da sobremesa,
Exercite assim tua fantasia.

O que sei sem ter dúvida nenhuma
No meio da bagunça, da mumunha,
Um fato magistral já se percebe.

A dádiva do amor ali se enfoca,
No conluio divino da minhoca,
Quem com carinho dá, logo recebe...
Marcos Loures


24

Minhas recordações, entranha exposta,
Silêncios esquecidos nestes versos...
A carne despojada, corte, posta...
Os medos e segredos mais diversos...

Meus mares que vivi, de costa a costa
Distantes constelares, universos...
O sol deste deserto queima e tosta,
Meus sonhos presos, trôpegos, submersos...

Em cada verso mostro meus desejos,
O couro que cobria, desnudado...
Da morte anunciando seus cortejos...

As orações que faço, num segundo,
Palavras soltas: sina, medo e fado,
Demonstram, sem pudores, o meu mundo...
Marcos Loures


8525

Minhas palavras são, deveras, tuas.
Meus versos se inebriam do teu sol.
As musas que sonhara, belas, nuas,
Festejam cada amar, nosso lençol...

E sinto o desfilar de teus momentos,
No amor que sempre foi um bom licor;
Vivendo tão divinos sentimentos,
A base do que seja um grande amor.

Eu quero que tu sintas o meu toque,
Nas tantas emoções que nós trocamos.
Amar é sempre nosso sonho; enfoque
De tantas alegrias que sonhamos...

E saiba que me canto é sim, p’ra ti;
Com emoção sem par, estou aqui!


26

Minhas palavras perdem seus sentidos
Quando distantes vão da realidade.
Meus olhos, minha boca e meus ouvidos
Percebem o valor de uma amizade

Real que impeça mundos divididos
Vencidos pela dura crueldade
Que faz com que morramos distraídos
Sem conceber sequer tanta maldade.

Palavras vão ao vento se não feitas
Para nos unir e nos salvar.
Covardes escondidos nas espreitas

Espalham tanta dor em triste seta.
Talvez meus versos possam ajudar
E valerá a pena ser poeta!

Marcos Loures


27


Minhas noites seriam mais insanas,
Em turbulência giram meus sentidos.
As mãos que te carregam são profanas,
As noites que vivemos? Nos olvidos...

Perdidas, minhas lutas... Já te enganas,
Nos portais tristes, álgicos, colhidos...
Sempre me restariam as baganas.
Amantes sentimentos esculpidos...

No azimute, no zênite, no espaço...
Nas alvas tumulares da manhã;
Descansarei sedento o meu cansaço.

Jamais desistirei dessa cunhã,
Adormecida, lassa no meu braço...
Amada desde sempre, cunhantã!


28

Minhas memórias tristes, junto ao leito,
Mortalhas que dominam pensamento;
Do tempo que julgava mais perfeito,
As dores se soltaram neve e vento...

Na porta das lembranças sempre espreito
Memórias de outro tempo... Me contento
Mesmo que se mostrasse de outro jeito,
A vida que vivi, meu sofrimento...

Morte que se aproxima, vem serena...
Minhas saudades pálidas, tenazes.
Tudo que sofri não vale a pena...

Memórias retornando, sorrateiras...
Incrível que pareça, sinto as pazes
Derradeiras porém tão verdadeiras...
Marcos Loures


29

Minhas mãos percorrendo teus cabelos...
A boca aberta... Anseios se procuram...
Sementes que lançamos... Nos novelos
Das línguas mais ferozes se torturam...

Procuro por teus dentes, quero tê-los
Mordiscando... Delírios loucos curam...
Morena tez, serena fez vivê-los
Na fantasia louca se emolduram!

Minhas mãos dedilhando são macias,
Nas noites que brindamos, tão vadias...
Montanhas que escalamos toda noite...

Os beijos delirantes são açoites.
Os portos que naufragam nossos barcos.
As mãos a penetrar todos os arcos!


30

Minhas mãos percorrendo ensandecidas
Teu corpo, porto, cais que revigora.
Contorno minhas noites, nossas vidas,
E chamo-te pra cama. Vem agora!

Meu desejo te pede sem ter hora,
E lambe tuas pernas distraídas.
Do amor que tanto tenho se decora
E sabem dar prazer, mãos pedidas

E tanto desejadas. Quero mais,
Repito logo a dose e me inebrio,
Tocado pelo fogo do teu cio,

Sentindo-me de tudo ser capaz
Até que no final, extasiado,
Dormindo entre estas pernas, do teu lado...
Marcos Loures


31

“Misturo poesia com cachaça”
Invento mil desculpas pra não ir.
No fim da festa sei desta arruaça,
Mas vou teimoso e quero repetir.

De novo futebol e poesia
Meu Botafogo um dia vai ganhar.
A noite sem te ter, morena, é fria,
Mas nada da vadia se entregar.

Restando então falar do presidente,
Do deputado, até do senador.
Maldita comichão comendo o dente,
Decifra estes mistérios, meu amor.

Que a pulga atrás da orelha não sossega
E a boca qual justiça vive cega...


32


Mistura de prazer imerso em dor
Mergulho em areal, falsas promessas
Enquanto nas estrelas tu tropeças
Esqueces da beleza do sol-pôr.

Se em nada posso crer, rasgo o louvor
E mesmo quando insana recomeças
Eu vejo que já faltam tantas peças
E o verso sem sentidos decompor.

A graça na verdade está em ter
Um pouco de ciúme, sem poder
Seguir a claridade, perco o passo.

Amor se é necessário ser dinâmico
No fundo me deixando quase em pânico
Fugidio fui pego, enfim, a laço...
Marcos Loures


33


Mistérios desvendados, oferendas
Que fazem florescer no roseiral
A rosa mais perfeita e magistral,
Cevada pelas glórias que desvendas,

Podendo ver sublimes, áureas sendas,
Ao diferenciar o bem do mal,
Nas entrelinhas sinto o triunfal
Sorriso que aplacando estas contendas,

Um dia reinará por sobre a Terra,
E enquanto esta beleza, o olhar descerra,
Eu posso adivinhar a placidez,

Num templo onde a fantástica harmonia
Derrame a soberana poesia
Cambiando o desvario em sensatez...


34

Minhas lágrimas caem, são mendigas...
Imploram por teu beijo e tua boca.
As flores que murchamos, são antigas,
Na vida que passamos, sendas loucas.

Nos caminhos plantaste urzes, urtigas.
Minha voz, de implorar, ficando rouca.
Marinheiro, naufrágios, mas nem ligas.
Restou de tanta luta, luz bem pouca...

Sem ter tua presença tão amada,
Nas portas d’ilusão, perco meu mar...
Não espero teus ninhos, braços, nada...

Queria novamente te encantar...
Abra teus braços, dê-me esta ansiada
Manhã. Eu não me canso de esperar...


35

Minhas esperanças calam
Traduzem-se nesse sonho.
Tuas noites que me embalam
Por destinos onde enfronho.

Enredam; tortura entalam.
Medo de sentir medonho,
Meus desejos já escalam
destinos que não proponho.

Transporto essa solidão
Embarcada na saudade
Na verdade que me deste

Navegando o coração
desprezando medo e peste.
Alcançando a liberdade,


36


Minhas costas lanhadas por vergastas
Marcando e destruindo o coração.
Amores decompostos, podres pastas
Deixando tão somente a podridão.
Não vês que sendo assim, de mim afastas
A sorte que escondeste num porão.

O sangue em que me banho, traz as moscas
Que invadem a comer minhas entranhas,
As luzes que percebo, fracas, foscas,
As dores que eu herdei, já são tamanhas.
Não sei destas vontades surdas, toscas,
Nem posso adivinhar o que tu ganhas

Trazendo para mim, desilusão,
Fazendo-me cativo, quase um cão...


37

Minhas cismas vagueiam, vão a esmo...
Confusas tempestades doidivanas...
Amor que se pretende ser o mesmo,
Não pode se esconder destas ciganas...

A sorte está lançada não quaresmo,
Nem tento descobrir as espartanas
Vontades. Tantas vezes me ensimesmo
Calado, minha ermida... Não me enganas!

Os olhos embuçados negam céu...
Explodem meus amores, tantas cismas...
Não quero que ninguém, louco, me apene...

Vênus adormecida em meu dossel...
A vida se explodindo em aneurismas,
Esperanças? Encontro em ti, Darlene...


38

Minha vida vai louca, arrastando meu barco
Esperando o meu tempo, ouvido nas cantigas
Que o tempo tão voraz, me traz... Vozes antigas
Que renascem na voz. Representando um marco.

Cantar de uma ilusão amarga onde me embarco
Na solidão, a esmo, ouvindo essas intrigas
Ao final desta estrada. Amada, não perigas;
Pois minha solidão é sentimento parco...

Minha vida, insensata, adoça-se em teus beijos
Quem fora densa mata, adormece essa luta.
Invadindo meu mar, procuras meus desejos

Não posso me perder em meio à força bruta...
Eu quero, no meu sonho augúrios benfazejos
De poder; mais feliz; ter-te tão mansa, astuta...


39


minha vida vai louca arrastando meu barco
esperando meu tempo ouvido nas cantigas
que o tempo mais voraz, me traz, vozes antigas
que renascem na voz, na alegoria do marco.

cantar dessa sereia amada onde me embarco
na solidão a esmo, ouvindo t'as intrigas
no final dessa estrada amiga se perigas
a minha solidão descreve-se em teu arco

minha vida, insensata amargando teus beijos
numa serena mata adormecida luta,
invadindo meu mar, procuro meus desejos

de te ter sem perder, na tua força bruta
nos meus sonhos, servis dos sonhos benfazejos
de poder, mais feliz, fugir da noite astuta...


40


Minha vida vai louca arrastando meu barco
Esperando meu tempo ouvido nas cantigas
Que o tempo mais voraz, me traz, vozes antigas
Que renascem de um chão de nebuloso charco.

Cantar dessa sereia amada onde me embarco
Nessa solidão a esmo, ouvindo t'as intrigas
No final dessa estrada as dores forjam vigas.
A minha solidão descreve-se em teu arco.

Relembro cada passo envolto na tristeza
De te sentir distante e te saber tão perto.
A vida se perdendo envolta em incerteza

Mas sinto que esse dia aos poucos se acabando,
A chuva que virá findando este deserto.
E depois disso enfim, no amor recomeçando...

41


Minha vida transcorre como um rio
Que caminha em silêncio para o mar.
Perdendo da meada, rota e fio,
Esqueço tantas vezes de sonhar...

Tolices, nada mais... Mediocridade...
Falar dos meus amores, sentimentos...
Caprichos sem sentido, iniqüidade,
Palavras carregadas pelos ventos...

Falar do que passei nesta procura,
Sem ao menos dizer quanto te espero...
Amar não é bradar nem ter bravura.
Também é perceber um bom tempero.

Eu peço, por favor, meus olhos; laves.
Já que do coração, achaste as chaves...


42

Minha vida se mostra em palma e rosa,
E faz de um jardineiro um homem rico,
À dor com alegrias eu replico
E colho a manhã clara e gloriosa.

Na pele desta deusa, a mais formosa,
O quanto que desejo, eu logo explico
Extasiado ao ver-te, sempre fico
E a vida se tornando caprichosa.

Erguendo o meu olhar, alçando céus,
Retiro mansamente belos véus
E vejo esta nudez clara e perfeita.

Eu quero sem limites cada gota
Da fonte de prazer que não se esgota,
Sublime fantasia aqui se deita.


43


Minha vida que fora tão perdida,
Ao encontrar-te livre como o vento.
Deixou a dor fatal em despedida,
E renasceu matando o sofrimento!

Não posso imaginar tua partida,
Nem deixo suplantar-me tal tormento.
A solidão se encontra adormecida.
Saudade não deixou nem um lamento!

Quero-te; amada, minha luz e glória!
A vida não repete velha história.
Quero ser teu eterno colibri.

Amo-te, bem sei, desde que nasci!
Eu encontrei em ti, deusa vivente,
A fonte dos desejos permanente!

Marcos Loures


44

Minha vida procura por seu norte,
Eu vou sem ter um rumo noite afora...
Quem sabe depois disso venha a sorte
De ter quem tanto amei. Minha alma implora

Um braço que acalante e me conforte
Amiga; por favor, não vá! Lá fora
O vento vem trazendo o frio, a morte...
Peço-te que jamais tu vás embora...

Preciso de teu colo, amiga minha,
Envolto na saudade, perco o cais.
Tristeza em solidão, tão cedo aninha

No coração tão velho do poeta.
O gosto da alegria é do jamais,
Somente esta amizade me completa...


45

Minha vida passando num segundo,
Traz na tela cinema e fantasia.
Quem me dera morrer por mais um dia,
E ressurgir, nos braços do teu mundo...

Meu coração vagando, vagabundo...
Um cais de porto, tempo, ventania.
Quero poder sangrar, na nossa orgia.
De tantos sentimentos, vou, me inundo...

Minha vida, recebo teu bafejo;
Desde que sei, fugaz enquanto tempo...
Nas alfazemas, lírios, percevejo...

No resto da cantiga não sei mimo.
No resto do meu tempo, contratempo,
Com certeza, quem amo, sempre rimo...


46



Minha vida em ventura destinada,
Trazendo sem temor teu doce gosto.
No mel que sempre fora destilada,
Não cabe mais sorriso no meu rosto.

Amor que sempre fero, faz carinho;
De tudo que eu espero, me remete.
Não vejo meu futuro mais sozinho;
Tanta felicidade me compete.

Eu sinto minha estrela deslumbrante
Buscando nossa luz, tramando a paz.
Viver de tanto amor, ir adiante,
Sem medo dos invernos. Ser capaz!

Se todo grande amor, de amor se fez;
Eu sinto, minha amada; é nossa vez


47


Minha vida desaba em dura tempestade,
Apenas restarão sombrios rastros.
Os desertos herdei; e em vaga claridade
Percorro sem destino espaços, medos e astros.

Quem teve tão somente as masmorras, os claustros
Já sabe quão distante está felicidade...
Dos sonhos de marfim, de mármore, alabastros
Não resta sequer sombra. Eis a pura verdade...

Escombros que te mostro em dura caminhada
Retratos mais fiéis daquilo que inda resta.
Minha alma em pura cinza observa a derrocada

Do nada me embebedo e sigo sendo servo
Do amor que tanto eu quis e morre sem ter festa
Uma lembrança tua é tudo o que eu conservo...


48


Minha vida anoitece sem ter novas.
Notícias que produzo, requentadas.
Verdades que me foram reveladas,
Guardadas nesse cofre como provas

Dum tempo que passei, espero as covas...
As bocas que beijei, abandonadas;
Carícias sem iguais que foram dadas
São testemunhos tristes. Mas renovas

Um velho coração, já sem sentido,
Vieste num corcel mais colorido;
Iluminando um céu deveras torto...

Te procurei, em vão, agora vens,
Num momento improvável, onde os bens,
Razões do meu viver, me encontram morto.


49

Minha última esperança é tua febre,
Não minto se me dizes que já fui.
Não queres conviver no meu casebre,
Amor que na verdade, nunca flui...

Não posso te caçar nunca foi lebre,
Nem posso descansar no que possui,
Das cores que me dás qualquer que zebre,
Castelos que construo, tudo rui...

Mascaras sofrimentos com sorriso,
Vasculhas por mentiras, meus segredos...
Na chuva dos amores, és granizo.

Disfarces que não tenho, versos falsos...
No que me deixas, lívidos segredos,
Me prendes teus castelos, cadafalsos...
Marcos Loures


8550


Minha tristeza, diga à minha amada,
O quanto que preciso do querer
Que sem o qual a vida é quase nada
Em tanta insensatez, querer morrer...

Mas traga o seu olhar para os meus beijos
Sem nada mais pedir senão sonhar
Sem nada mais sentir que esses desejos
De ter deitada aqui, quem sabe amar...

Eu vejo essa ilusão cortando espaços...
Ressuscitando amor que já perdera.
Traçando novos cantos, velhos traços,
Na bela arquitetura de nova era.

Todos os nossos erros foram meus,
Eu quero o teu amor, sem mais adeus...


51

Minha tristeza irá gelar qual neve
Embora me queimando sua chama...
Amor que me pesava, a mente leve
Para velho caminho sujo, lama...

Que a morte da saudade venha em breve
Senão meu coração triste se inflama!
Que amar me faça forte; a mente enleve
Pois o meu sofrimento já reclama...

Não tenho solução, noite estrelada...
Melancolia leva amigo vento,
Felicidade enfim é luz sagrada,

Que nunca sairá do pensamento...
Minha tristeza morre assim nevada
A dor que me tortura é meu ungüento!


52

Minha tola esperança adormecida
Nos espectros vazios busca amparo.
Volúpia de quimeras, esquecida
Envolta nestas brumas, desamparo...

Distante da vereda mais florida,
É fera que perdeu o rumo e faro...
Vacilante esperança quer guarida,
Febrilmente desejo nobre e caro...

Nas cândidas procuras estelares,
Nas buscas incontidas da verdade.
É fruto que não nasce em meus pomares,

Perfume que me negam os rosais,
Esperança adormece, frialdade...
Acordará do sono? Nunca mais!
Marcos Loures

53

Minha terra distante do teu mar
Nos montes e nas veias, puro ferro.
A lua nunca deixa seu luar
Saudade no meu peito, sempre encerro...

Guardei a fantasia do lugar
Bem perto donde a lua mostra o cerro
Nas noites que começo a namorar.
Cantoria do gado, nesse berro...

Ouvindo as serenatas que não fiz,
Dormindo sob estrelas e poemas...
A noite sempre encontra-me feliz.

Nas cordas deste pinho, um desafio,
Saudades que deixei, velhos cinemas,
O canto da araponga: não! Me diz...
Marcos Loures


54

Minha sôdade martrata, machuca...
Os dia que passei num passo mais...
A dô qui feis estrago, inda batuca
Num peito que quiria só a paiz!

Sôdade matadêra inda cutuca
Num é coisa de Deus, de Satanais...
Sôdade dêxa a gente mais maluca,
Sôdade num me larga nunca mais!!

As hóra qui passei, triste distante...
Os día qui chorei sem seu amô,
Nunca mais que me dêxe ansim sozinho!

Sôdade vai dueno a cada instante,
Sôdade quando nasce faiz que é frô,
Mais quano a gente cóie vira espinho!
Marcos Loures


55

Minha rosa dos ventos vai perdida
Em meio a tempestades; sem destino.
Amor que desejei por toda a vida,
Transita neste mar onde termino.

Quero o gosto, teu jeito de viver.
Quero o afeto tão plácido, envolvente.
EU Quero essa certeza de poder
Viver a cada dia mais urgente...

Eu quero a maciez do sentimento
Que faz o meu caminho mais em paz.
Eu quero teu amor, todo o momento,
De tudo que pensei, ser mais capaz...

Eu quero meu timão, sou timoneiro,
Amor de minha vida, verdadeiro!


56

Minha retina ofuscas com teu brilho,
Tu és todo esse encanto, minha fonte...
Meu sonho te seguindo perde o trilho,
Procuro pelos rastros no horizonte...

Nos mares e nos céus, altas montanhas,
Amor já preparou sua emboscada,
Em busca destas luzes, sim, tamanhas,
Encontro com minha alma apaixonada...

Eu quero teu amor bem mais que pude,
Nas loucas caminhadas mais soturnas...
Por vezes te pareço um tanto rude,
São as ânsias divinas e noturnas...

Entendo tanta dor que não pretendo,
Nos braços de quem amo, vou morrendo


57

Minha querida amiga, mesmo só
Prossiga a caminhada pela vida.
Não queira imaginar que vira pó
Toda esperança nunca está perdida...

A luz que te ilumina está em ti,
Não tema escuridão no teu caminho.
Teu futuro por certo vai ali
O teu trilho jamais será sozinho.

Amada amiga, seja então feliz,
Com tua força sempre mais ativa.
De tudo que na vida sempre quis
A luz do coração mantenhas viva...

Quanto maior a treva que chegar,
Mais forte tua luz irá brilhar!


58

Minha porta sempre aberta
Não precisa nem abrir,
Nada tem para impedir
Nosso amor que me desperta.

Minha amada, estou alerta
E não canso de pedir,
Nosso amor usufruir
Sem ter hora, em noite certa.

Saciando a minha sede
No teu corpo sedutor,
Vem comigo, em minha rede,

Vamos fazer muito amor.
Nem janela nem parede
Estou contigo aonde for...
Marcos Loures


59

Minha pele é caqui, é verde e rosa
E cedo se amofina quando sabe
Que toda serventia não me cabe
No verso que inventei negando a rosa
Ciência de que tudo vira glosa
Bem antes do que o mundo já se acabe

Morena, vem comigo e vem ligeiro
Depressa antes que a vida chegue ao fim,
Preciso de carinho quero um cheiro
O sol já vai morrendo e mesmo assim
O teu olhar me diz ser verdadeiro
O que restou de tudo eu guardo em mim.

Toda mulher merece ser estrela,
Por isso é que desejo tanto vê-la...


60

Minha noite se torna mais confusa
Milhares de estampidos e de gritos,
O peito aberto, a bala encara a blusa
E forma estes espectros mais aflitos,

Minha vontade sempre mais obtusa
Esquece que o desejo tem seus ritos
Embora tantas vezes a alma reclusa
Se esquece das algemas, velhos mitos...

À noite se procura por alguém
Envolta em meus formatos de desejo.
Ás vezes sim ou outras sem ninguém,

Mas quase sempre nunca sobra nada,
Talvez uma esperança feita em beijo,
Talvez encontre enfim, a namorada...


61

Minha noite nos teus braços, tem alento
E a força necessária pra saber,
Que por mais que seja intenso e forte o vento,
Eu tenho o meu amor pra proteger

Do frio da saudade, de um tormento
Que mata sem a gente perceber.
Sentindo o teu carinho, o sentimento
Que invade a minha vida é de prazer.

Teu canto que me encanta e que me ampara,
Os olhos que me guiam, estrelares
Gostoso mergulhar nos teus olhares

E ver cada pepita, perla rara,
Tu és a companheira que sonhei,
Amor que sempre, sempre imaginei...
Marcos Loures


62

Minha noite emoldura teu rosto
Em fantástica luz, rara tela,
Meu cantar se mostrando disposto
A louvar este amor se revela

Bem distante de todo desgosto
Qual corcel que voando sem sela
Deixa um sonho feliz mais exposto
De poder perseguir luz tão bela

Encontrar entre estrelas aquela
Onde a vida se apega e se atrela
Tão igual e também seu oposto.

No teu sol, com certeza eu me tosto
És meu barco, encontrei leme e vela
Primavera matando um agosto.
Marcos Loures


63

Minha noite é tão vazia
A chuva lá fora é forte
A minha alma é que se esfria
Vai perdida, a minha sorte.

Moça foi a minha sina
Eu gostar tanto d'ocê
Nesta chuva pequenina
Meu amor; vou lhe perder.

Você brinca com saudade
Com saudade não se brinca,
Assim a felicidade,
Num instante já se trinca.

Venha aqui pro meu colinho,
Não deixe esse amor sozinho


64

Minhas mãos passeando tuas pernas,
Sentindo a maciez da carne dura,
Prometes novas noites densas, ternas
Nesta umidade repleta de ternura.
Quem dera fossem sempre assim, eternas
Teria qualquer mal, por certo, cura...

Soltando os meus desejos sobre ti,
Percebo os teus gemidos mal contidos,
Sentindo o teu perfume que bebi
Nossos momentos são bem resolvidos
E tudo que mais quero encontro aqui,
Contigo, travesseiros revolvidos...

Sabor tão delicado, é bom provar,
No gosto refinado de teu mar...


65

Minhas mãos estão cansadas,
De procurar por carinho.
Perdido nas madrugadas,
Vou andando assim sozinho...

Procuro-te nas ruas e nos bares,
E nada de saber onde encontrar
Vestígios que deixaste ao lá passares
Nem sombra nem noticias, volto ao lar

Que foi um dia nosso como altares
Onde amor se entregava no luar,
Forrando nossa cama em constelares
Sonhos de poder sempre te adorar.

As mãos procuram em vão o teu carinho.
Distante de meu mundo onde andarás?
Cansado de viver aqui sozinho

Talvez alguma vez tu pensarás
Naquele que perdeu o seu caminho,
E assim, quem sabe, amor tu voltarás!


66

Minhas mãos apalpando maravilhas,
Descendo por teu corpo querem mais,
Nos seios e nas coxas, nas virilhas,
Buscando este tranqüilo e raro cais

Aonde desemboca o meu prazer,
E com vigor adentra a bela furna,
Num fervilhante mar vai se aquecer,
Tomado por vontades em ternura.

Recebo o gotejar delicioso
Que pressinto invadir em convulsão,
Deitando sobre um rio caudaloso,
Na fúria sem igual de um furacão.

Assim, corpos sedentos se saciam,
Nos gozos sensuais que nos viciam..
Marcos Loures


67

Minhas mãos acarinham o teu rosto,
Não persigo, na vida, uma outra prenda...
Delícia de sentir teu doce gosto,
Que a noite, lamparina bela acenda!

Nosso amor, de alegrias é composto;
Freqüenta um palacete ou uma tenda,
Calor de fevereiro, ou frio agosto,
Não há nenhum segredo ou simples venda...

Amor que não conhece solidão,
Nem deixa-se levar por ledo engano...
É flor desse jardim, caramanchão...

Amor que não se corta com navalha,
Não deixa nenhum campo de batalha,
Amor que não se emana qual metano...
Marcos Loures


68

Minhas lágrimas, gritos e tormentas
Tolos. Vago espaços mais remotos;
Nas irradiações, rotações lentas.
Guardados os teus olhos, velhas fotos

Amareladas quedam-se esquecidas...
Os anjos, os arcanjos vão passando,
Proclamam tanto amor em pobres vidas.
Nas tormentas celestes, renovando...

Religiões, enigmas, convulsões
Das hiperestesias, dos portões
Abertos nos castelos do meu sonho...

Deliciosamente uma ambrosia
Regada ao néctar; lúbrica folia...
Transmudam meu delírio, enfim risonho...
Marcos Loures


69

Minha esperança afeita ao teu abraço
Não quer desvincular-se nunca mais,
Agora que encontrou seu manso cais
Recebe o vento calmo a cada passo.

Atados lado a lado não desfaço
Os nós que nos uniram, magistrais,
Vencendo os precipícios abismais
Um novo alvorecer contigo, contigo eu traço.

Qual fora um privilégio inesquecível
A força que nos une, indestrutível
Impérios constelares segue e trilha.

Sentindo finalmente esta magia:
O quanto a vida em paz já se anuncia
Em minhas mãos contendo a maravilha.
Marcos Loures


70

Minha doce namorada
Em teu corpo irei morrer,
Nesta noite enluarada
Vou cantando o bem querer

Que mudando a minha estrada,
Trouxe um belo amanhecer,
Numa aurora anunciada
Pelas sendas do prazer.

Embrenhando em tuas matas,
Conhecendo tuas sendas,
Nosso amor que sem bravatas

Nos permite a claridade
Pouco a pouco tu desvenda
A real felicidade!


71

Minha deusa dos olhos tão volúveis
Envolto nos teus braços perco o tino...
Curaste estes meus medos insolúveis
Nas tuas mãos entrego meu destino...

Espero sempre em ti, felicidade,
Movendo com teus passos, minha sina.
Encontro, nos teus olhos, claridade,
Embora bela deusa, uma menina...

Não temo nosso amor, mergulho fundo...
Nos cânticos que faço; tanta prece...
De todos os desejos neste mundo,
Viver essa emoção que se oferece.

Aos olhos, aos desejos, sentimento...
Na eternidade vária dum momento...


72

Minha certeza, vaga e tão serena,
Não poderia lírica e fatal,
Acreditar n’amor tão abissal,
Mas que mal se descuida, me envenena...

Das carteiras, cigarros são tragados,
Num sem sentido, nexo faz falta,
A dor me inclui vazio, nessa malta,
momentos em temores desfraldados,

Teria alguma chance finalmente
Sabendo da esperança que me alente
E mostre alguma luz, mas nada resta

Senão esta seara tão vazia,
A noite sem te ter cedo se esfria,
E a solidão no peito faz a festa...
Marcos Loures


73


Minha certeza sofre com mentiras,
Não quero mais colher tal dividendo
Quando o sonho de belo, fica horrendo
A vida sangra, passa toda em tiras...

Meu corpo ao chão, jogado, quando estiras,
Não sei mais se terei, nem bem pretendo...
Passarei a sentir meu mundo, lendo
No carrossel de lendas onde giras...

Nas legendas da sorte, fiz a rima,
amor que em solidão ainda esgrima
tentando perceber ancoradouro.

amor perdendo o rumo em nascedouro
Reflete em céu escuro o nada tenho,
Nas trevas da paixão, vazio embrenho...

Marcos Loures


74

Minha casa vazia, nada resta...
Poeira se acumula no meu quarto.
A vida se mostrando pela fresta
Como um raio solar! Eu vivo farto

Das noites que pensei viver em festa,
Das lutas incessantes, não me aparto.
Pretendo certo dia, já me molesta,
Viver a sensação do amor, do parto...

Meu lar abandonado, vida seca...
Na vida sem amor, como se peca!
Espero teu chamar, ao telefone.

Do que tínhamos, vida em paz, completa,
Sobraram as lembranças e a violeta
Vermelha que esqueceste aqui Ione...
Marcos Loures


8575

Minha carcaça resta sobre ti;
Maravilhosamente desnudada.
Adormeces, tão bela e descuidada.
Recordando, nest’ hora, o que vivi,

Os prazeres, as dores, que senti,
Desespero ao chegar triste alvorada...
Quem dera não passasse a madrugada!
Teu corpo, livro aberto, que já li...

Belo templo, rosário e monumento.
Deus permita ficar mais um momento;
Mas a manhã chegando irá varrer...

Por que, meu Deus, responda! Eu te suplico...
Por que ter que partir... Aqui eu fico
Agonizando a sorte do morrer!


76

Minha carcaça passa pelas ruas
Em fétido desfile, um arremedo,
As carnes latejantes quase nuas
Demonstram meu passado frio e ledo.

Os olhos desenhando garatujas,
Os dentes que apodrecem cada beijo,
As mãos tão calejadas, sempre sujas,
Distantes da promessa de um desejo.

As vísceras expostas, galerias,
As águas vão lambendo as minhas pernas.
Resquícios do que fomos, das orgias,
Das mocidades antes quase eternas.

E assim, amada sombra que carrego,
Do amor outrora esquivo e nunca cego...


77


Minha carcaça exposta na calçada
Entregue a tais abutres tão vorazes
Lambida pelos cães, aprisionada,
Em meio a seus carinhos, mais audazes

Percebo a tua imagem destroçada
Refém destes delírios em que trazes
Bocarra sorridente, que esfaimada
Devora em gargalhadas tão falazes,
Não deixando sobrar quase mais nada.

Entregue aos teus desejos, sem defesas,
Prazeres que te trazem saciedade.
Meu sangue se esvaindo em correntezas,

Tu sabes: teus quereres são tão meus,
Querendo te entregar felicidade,
Amor em sacrifício, louva-deus...


78


Minha carcaça é feita de ilusões,
Castelos que criei na fantasia,
Tocado por imensos turbilhões
Não resta nada mais do que eu queria.

As sombras do que fomos- das paixões,
Retratam tão somente uma agonia.
Silêncios se transformam – turbilhões.
E a noite prosseguindo em sombras, fria.

O brilho desta lua nos vitrais
Permite que inda reste uma lembrança
Saudade que chegou não larga mais,

Promessa de um incauto amanhecer
Nos beirais adentra uma esperança,
Apenas aumentando o meu sofrer...
Marcos Loures


79

Minha cara, desejo amizade,
Nada além que este canto de paz.
Tantas vezes, pedi claridade,
Mas saudade demais, só me traz.

O teu rosto brilhando em meu peito,
Me alucina, sem pena de mim.
Eu bem sei que te amar sem direito
Me trará tanta dor, isso sim.

Se te nego, que faço comigo?
Se te trago, não posso dormir.
Eu só devo ficar teu amigo,
Sem te ter não terei mais porvir.

Minha cara, te quero. Amizade?
Devo ou não omitir a verdade?


80

Minha cabeça roda sem juízo
Bebendo cada boca diferente.
Em todas, procurei o paraíso,
Que na verdade estava até bem quente

Mais parecendo inferno onde sem siso,
Descubro que valeu ser penitente.
No toque mais veloz e mais preciso,
A boca me mordia, de repente.

Se necessário, amada, beijo os pés,
Molambo desarmado e sem vergonha.
Vivendo quase sempre de viés

No jogo da esperança e da incerteza
Onde quer que essa sorte me componha,
Me deixarei levar na correnteza...


81

Minha boca te procura
E não cansa de buscar
Tanto amor, farta ternura
Que em teus beijos pude achar.

Se esta noite for escura
Eu terei em ti luar
Claridade se assegura
Só por meu amor chegar

Minha fonte, doce mina,
Onde os desejos sacio.
Coração não se domina

Mata inverno cria estio
Nosso amor é minha sina,
Nos teus lábios sonhos, crio...


82

Minha amiga, meu canto procura
Novamente te ter por aqui,
Toda noite que sei sendo escura
Se refaz noutro dia que vi.

As auroras nascendo prometem
Novo sonho em raios de sol.
Os meus erros jamais se repetem
Teu olhar que me guia, farol...

Os meus versos te faço querida
Esperando teu canto pra mim
Não consigo entender outra vida
Se não tenho teu sonho por fim.

Nosso amor, esperança divina,
Traz a paz que bem cedo domina...


83

Minha amiga te falo a verdade,
Nestes versos que tento fazer.
Todo amor necessita saudade,
Não precisa, por isso, sofrer...

Se tu temes a noite sozinha,
Nada além poderás exigir.
Quando a vida, depressa caminha,
Bem mais forte virá te exigir.

Não se esqueça de ter esperança,
Nada além do que podes conter.
Toda ação que tu fazes se lança
No futuro; virá te trazer.

Quem se perde no meio da estrada
No final, sobrará quase nada...


84

Minha amiga é tão bom saber de ti
Em meio a tantas dores nessa vida.
Amiga, representas o que vi
Pensando em minha sorte, já perdida...

Tu és linda, querida companheira,
Da beleza sem par que sempre quis.
Amiga a nossa noite é verdadeira
Nos sonhos que me fazem mais feliz....

Os meus versos dedico com carinho
A quem jamais me nega todo o mel
Sabendo que jamais tive outro ninho,
Ajuda como um anjo, leva ao céu...

Razão de tanta paz neste meu verso,
Estrela mais brilhante do universo!


85

Minha amiga, por mais que não pareça,
Saiba querida: adoro o teu cantar.
Vida traz tantas dores... Mas esqueça;
O caminho do rio é sempre o mar.

Assim como, em meus versos, eu te peço
O carinho que sei que podes dar,
Tantas vezes, pedindo, te aborreço,
Mas sei que em ti, eu posso confiar...

Nas escadas diversas, mil degraus,
Nas horas mais difíceis, teu abraço.
É luz que me ilumina em pleno caos,
É força que me impele, sem cansaço...

Teu canto é meu sustento de alegria.
Nele, toda esperança em harmonia...


86

Minha amada sutis os teus perfumes,
Dálias, lírios, crisântemos, e rosas
São testemunhas desses meus queixumes,
Açucenas, jasmins, as olorosas

Flores. Com loucos hábitos costumes,
De roubar do meu amor vaporosas
Belezas. Demonstrando assim ciúmes.
Todas elas são belas, invejosas...

Minha amada tem frágeis, delicadas,
Formas que me permitem sonhar...
Quem me dera poder sempre encontrar,

As tuas mãos gentis, maravilhadas,
A cada anseio, sonho e madrugada...
Procuro te encontrar na minha amada...

87






Bem podia os seus divinhos
atender os meus gemidos,
que de castigo já basta
o que eu tenho padecido.


Minha amada o teu castigo

Já me maltrata demais.

De noite sonho contigo,

A manhã nada me traz.


Vou fingindo que não ligo,

Mas sem amor, cadê paz?

Vou ficando ao desabrigo.

Nada mais me satisfaz....


Por favor; minha menina,

O que faço desta vida?

Esse amor já me domina


Não me deixa respirar.

Pois vem logo, amor, querida

Pára de me castigar!


A trova mote é da região Oeste de Minas


88


Minha amada eu desejo boa sorte
A quem sempre comigo esteve aqui.
O destino desata e bate forte,
Mesmo assim agradeço o que vivi...

Não desejo que sofras mais querida,
A saudade por certo sempre chega.
É preciso que sigas sua vida,
Noutros mares, amores, tanta entrega...

Eu só quero que guarde na lembrança
Esse amor que num dia já foi nosso.
Vivendo sem saber de uma esperança,
Querer-lhe bem feliz, o que mais posso...

Tanto tempo vivi amor consigo,
De tudo o que restou, sou seu amigo!


89



Quem tiver moça bonita,
traga-a presa na corrente,
que eu também já tive a minha
e jacaré levou no dente.

Minha amada era bonita,
Bonita como uma flor,
Um vestidinho de chita,
Cheiro gostoso do amor,

No cabelo amarrou fita,
Fez meu peito sonhador,
O meu coração palpita
Já batendo sofredor...

Na ribeira que tem léu
Meu amor caiu de quatro,
Jacaré levou pro céu

Eu fiquei quase doente,
Agora não banco o pato,
Amarro numa corrente!

A Trova Mote é da região Oeste de Minas Gerais

Marcos Loures


90

Minha alvorada nasce em meio a tempestade...
Procuro pelo canto, um passarinho triste...
No beijo que me deste achei felicidade...
Um deus apaixonado eu sei que, enfim, existe...

De amor embriagado, encontrei a verdade...
Tristeza companheira, adormece e resiste.
Minha alvorada plena esconde-se, saudade...
A lua desejada, estranha, tudo assiste...

Teu beijo traz frescura, as águas deste rio...
Um coração moreno, aguarda nesta curva.
Os trilhos do caminho, escondem todo o cio...

Na calma, na brandura, um gosto do desejo.
Minha alvorada desce, a noite não é turva.
Deslinda-se em beleza, a mansidão do beijo...
Marcos Loures



91


Minha alma, embalde, passa, vai perdida!
Não permita tristezas nem vinganças...
Das voltas que passei sem despedida,
As cordas que cortei das esperanças!

Na plantação dos sonhos, minha vida;
As flores não brotaram... Minhas lanças
Ultrapassam espaços. Já perdida,
A noite que busquei deixou lembranças.

Meu velho camarada não descanses...
A luta que se trava tem segredos.
Batalhas tem matizes, tem nuances,

Não se deixe enganar pelos teus medos...
As mãos que plantam tanto se calejam,
Por amores insanos já pelejam!


92

Minha alma, assim de cócoras se entrega
A quem por tantas vezes foi mentira
Aquém da poesia à qual se atira
Metáfora enganosa quase cega.

O quanto que não sei, alma navega
Usando amarrações de pura embira
Por mais que outra saída ela prefira
Desculpas sem proveito, a tola emprega.

Pesando qual jubarte em minhas costas
As crostas não disfarçam velhas cracas
Noturnas maravilhas sendo opacas

Perdendo desde sempre estas apostas,
Cortando minha pele, o canivete
Dos sonhos, na verdade se intromete...


93

Minha alma vou matando de tristeza,
Não consigo sequer mais distinguir
Se a luz que inda ilumina a correnteza
Trará em clara foz o meu porvir.

À beira deste abismo que me legas
Vertentes tão diversas, riso e pranto.
Caminho sem destino, vou às cegas,
Um náufrago perdido em desencanto...

Resíduos de alegria são promessas
Apenas os vestígios do que fomos.
Litígios e guerrilhas. Recomeças
Matando esta aquarela, opacos cromos.

Partícipe da festa da ilusão,
Herança? Transformada em solidão...
Marcos Loures


94

Minha alma vai ebúrnea e vai proscrita.
Virginal esperança lamuria...
Entre estreitas cimalhas, vai restrita,
O cansaço do sonho me exauria

Sonhadora- em abóbadas se atrita...
Quem, entre tantas festas, luxuria;
Presa, atada, morrendo assim, constrita...
Lutando, em desespero já se hauria...

O céu que te atraia, cores plenas,
Parece-te impossível, tão distante...
Pois como o alumbramento p’ras falenas,

Da luz inebriante, sua amante,
Minha alma se escraviza, tantas penas...
Aprisionada, morre a cada instante...

Marcos Loures


95

Minha alma transparente não esconde
Sequer um sentimento mais atroz.
Sabendo desde sempre quando e aonde
O amor se debruçou por sobre nós.

Quem sabe navegar não compra bonde,
Nem quer que o tempo passe mais veloz.
Não quero ser teu duque nem visconde,
Tampouco teu escravo ou teu algoz.

Teus olhos refletindo o azul do mar,
Um mero passageiro da esperança
Rondando por estrelas vem buscar

À noite seus castelos sob luar
Refém destes desejos; nada vejo,
Senão o teu olhar, raro azulejo...
Marcos Loures


96

Minha alma tecelã perdeu o ponto
As sedas que busquei se desbotaram,
Rebocadores todos demoraram
A vida jamais deu algum desconto.

E quando me julgava estar já pronto
Castelos sobre a areia desabaram,
Se os meus dias desnudos; desamparam,
Aos meus velhos amores; eu remonto.

E colho mesmo as flores abortadas,
As águas entre as pedras derramadas
Não servem pra regar quem tanto quis

Dançar conforme a música da vida,
Já velho não conheço mais saída
O mel da poesia se desdiz...



97

Minha alma te procura em tantos lagos,
Vivendo a sensação de ser só tua.
Por vezes esquecida vai embalde,
E sem amor sequer se rasga nua...

Querida tanto quis quanto fizeste
Tufão que me derruba e me transtorna.
Tu és a soberana que domina,
De tanto amor que tenho, a alma se entorna.

Mas sinto que depois de certo tempo,
Virás para os meus rios, cachoeiras.
E seguirás comigo para um mar.
Trazendo novas luas verdadeiras.

Cercado por carinho, então serei
O rei que tu quiseste amar, sereia.
E tanto amor enfim nos levará.
Deste pequeno lago; imensa areia.

E vamos nos salgar, tanto prazer,
Trazer para a lagoa, o grande mar.
Na imensidão insana e deliciosa
Que traz essa alegria de te amar!


98

Minha alma te procura e já se espraia
Deitada no teu braço, amor imenso,
A lua delicada, enfim desmaia
Neste horizonte belo, e tão extenso,
Deitando seu carinho sobre a praia,
O mar ruge voraz, tão forte, intenso...

A solidão que fora tão amarga,
Morrendo de ciúmes, neste inverno,
Ao ver esta emoção, bendita carga,
Procura outro caminho vão, eterno,
Meu mundo desfilando assim à larga,
Distante da tristeza, rudo inferno...

Quem teve uma esperança a vida inteira,
Agora encontra a paz mais verdadeira...
Marcos Loures


99

Minha noite começa sem teus braços...
Distante desta luz, ficando cego,
Aguardo pelos mares que disfarço
Nas dores que, sincero, assim carrego...

Minha noite traz promessas de desejos
Na boca que jamais esquecerei.
Querida como quero estes teus beijos,
Amor que tanto quero e que terei...

Minha noite vazia sem amor,
Não nego que te quero totalmente,
Vencido pelas dores, sem calor,
Mergulho nos teus braços, fogo ardente...

Tu foste e não voltaste, minha amada,
A vida continua, não foi nada...


8600

Minha mão passeando por você,
Buscando por seus seios divinais.
Querendo, tão somente me perder,
Em meio a suas selvas, matagais...

Meus lábios, vão buscando, por querer,
Entradas e bandeiras, quero mais...
Vertendo meus desejos, vou saber,
Onde encontrar você; mananciais...

Vou descer, mansamente, cachoeira;
Que em meio a suas pernas, incendeia.
Saber lhe conhecer, viver, inteira.

Intensas as fogueiras que incendeia;
Meu vício se fazendo em verdadeira
Morfina - nosso amor - em minha veia.
Marcos Loures


1

Minha lembrança guarda o teu sorriso,
Serenidade em meio a dissabores.
Roubando uma tristeza, mata as dores
E mostra que viver é mais preciso.
No verde de teus olhos me matizo
E sonho com futuro em outras cores
Recendendo ao jardim repleto em flores.
A sorte que se esvai não manda aviso.

E sinto que te apartas deste sonho
Distância que se aumenta no silêncio...
Coração! Haverá, pois quem convence-o;
Prevendo teu futuro mais tristonho;
Dos erros que cometes tão freqüentes?
Seus sonhos, para sempre, inconseqüentes?


2


Minha infância longínqua, entardecida,
Lembranças esquecidas neste outono,
Passando tão veloz a minha vida,
Vivida nestas cores do abandono...

Depois de tanto tempo tão distante,
Os campos e arvoredos desta infância,
Percebo no teu colo, minha amante,
O brilho desse tempo, uma fragrância...

Cansado dos caminhos mais doridos,
Arrasto minhas dores nas saudades
Das penas e das ânsias, nos olvidos,
Ficaram tantas luas, tempestades...

Agora que retorno deste mundo,
Deste teu puro amor, eu já me inundo...


3

Minha funérea amiga, que saudades...
A vida parecia tão distante.
Sem a tua presença delirante,
Passando todo o tempo em veleidades...

Viver sem ti, simples frugalidades
Oferecidas, sinto-me inconstante.
Vago assim ... Simplesmente, vou errante...
Tua distância nas sombrias tardes...

Vértice das agônicas esperas,
Bebo essa taça, rogo pelas feras
Horas... Faço teu cântico, meu hino!

Nas tuas garras, gélido persisto,
Nas devassas manhãs, jamais insisto,
Antiga companheira, meu destino...

Marcos Loures


4


Minha alma feita em fumo já se esvai,
Exposta às intempéries do caminho.
Dos altares dos sonhos, frágil cai,
E tenta inutilmente o velho ninho...

Retalho do que fomos, pedacinho
Do amor que enlouquecendo agora trai
Aos escombros, querida, em vão me aninho
Nem mesmo a poesia me distrai...

Quem fora e desejara ser também
Apenas ilusão, não volta mais...
Dos frangalhos desta alma, ouço o jamais

Que a cada pesadelo, sempre vem...
Falar do amor que um dia foi meu cais
E agora está vazio, sem ninguém...
Marcos Loures


5


Minha alma escravizada perde a cor.
O brilho que trazia não reluz!
Nos seus palácios sobrevive a dor,
Pesada, arrasta pelas ruas, cruz...

Lavas, derrete. Não detém amor
Às armas da saudade, velho obus...
Revivendo ascos que me dão torpor,
Minha alma sangra e se escondeu da luz

Tive saída? Solidão me nega...
Já me calei diante disso tudo...
Quem fora amor, a realidade esfrega.

Minha alma serva ja não mais encanta
Palavras calo, ficarei mais mudo..
Essa dor entalada na garganta!


6

Minha alma envelhecida não percebe
Beleza que se faz amanhecer.
Espinhos espalhados pela sebe
Não deixam mais os sonhos percorrer.

O vento em tempestade que recebe
O corpo que navega sem prazer
Uma alma envelhecida, pária, plebe,
Decerto sem ninguém, deve morrer...

Outrora em fantasias, mocidade
Deixara suas garras benfazejas,
Porém somente resta uma saudade

De luas em mortalhas escondidas.
Àquelas que serenas; sertanejas,
Volvi num labirinto sem saídas...


7

Minha alma enamorada, agora canta,
Ao ver chegar o Rio de Janeiro,
Descendo do avião, saudade tanta,
Entrego o coração me dou inteiro.

Lembrando de Ipanema, o Corcovado,
O jogo do Fogão, Maracanã
O tempo de viver dói um bocado,
A sorte inda resiste no amanhã;

Um gole de cerveja, um mexilhão,
As pernas das morenas pela areia,
Meu Rio vai mostrando na canção
Encantos da cidade, uma sereia.

Saudades da cidade, o mar sem fim,
Rio, você foi feito para mim!


Homenagem a Vinicius de Moraes e Tom Jobim


8


Minha alma enamorada de tua alma
Numa alameda feita toda em sonhos.
Traduz a luz que emana e que me acalma
Portanto, vem portando sóis risonhos.

Quem teve em sentimento medo e trauma
Ressentimentos idos tão medonhos.
Percebe nesta sebe imensa calma
Deixando para trás dias tristonhos.

A voz apaixonante da pantera
Que espero desnudada em minha cama
Trazendo toda a flor em primavera

Num reboliço mostra ebulição
Com sorriso maroto então me chama
E acende com um beijo, este vulcão...
Marcos Loures


9




Minha alma em trevas dorme e assim pranteia
Não leva mais sequer uma saudade
Da lua que pensara eterna e cheia
Nem mesmo algum resquício – claridade;

A dor que no meu peito serpenteia
Aos poucos se tornando iniqüidade.
Minha alma sem destino, ainda anseia
Amor que seja puro e de verdade.

Do luto de minha alma transparente,
Sorrisos espelhando uma esperança
De um dia renascer bem mais contente

Amor que já se foi sem dar aviso.
Vivendo tão somente da lembrança,
Eu sonho ser feliz. No paraíso?


10



Minha alma tão voraz, desconhecida
Sorvendo mil pecados me amofina
Quem dera se encontrasse uma estricnina
Talvez tivesse a sorte resolvida.

A morte que se mostra como sina
Pudera reservar em outra vida
A cura procurada e descabida.
A mente que pairando se alucina

Encontra tão somente uma resposta
Que possa refazer sem sofrimento
Depois de ter cortado a carne em posta

Um vento mais suave em liberdade
Batendo na janela num momento
Demonstra bela estrela na amizade...

Marcos Loures


11

Minha alma tantas vezes, vã, perdida,
Legada à solidão, temível sorte.
Buscando inutilmente, rumo e norte,
Transita nos espaços, dolorida...

Nas névoas e neblinas embebida,
Por mais que o pensamento seja forte,
Sucumbe, sem defesa, ao fundo corte
Letárgica ilusão, apodrecida...

Seguindo pelas ruas, bar em bar,
Alcança tão somente embriaguez.
Imagem que tristonha sempre vês

Exposta em noite escura sem luar.
Sob o peso cruel de seus amores,
Cultiva em ermos pântanos, as flores...
Marcos Loures


12

Minha alma solitária se deleita
E pensa que, ao final, de tudo sabe
Ainda que a saudade ainda acabe
Tristeza se aproxima enquanto deita

As mãos sobre o meu rosto, satisfeita.
Ainda que esperança já desabe
Um resto de ilusão ainda cabe
Palavra tantas vezes imperfeita.

Sonhara ser alguém, trazer um mundo
Aonde em fantasias me aprofundo,
Porém minha alma segue amargurada...

Olhando para trás, não vejo nada,
Apenas o que resta deste sonho,
Que agora, em solidão, sei ser medonho!
Marcos Loures


13

Minha alma sem alarme mal desperta
E busca da janela deste hotel
O quanto se perdeu em negro céu
A morte sem juízo não me alerta.

A porta da ilusão se mostra aberta
Enquanto me recobre um falso véu
O tempo girassol em carrossel
A poesia atroz já se deserta.

Navego por estrelas tão vulgares
E bebo tantas plêiades sem nexo.
No choro a gargalhada faz altares.

Colares de mulheres que guardei
Refletem fantasia feita em sexo
No trânsito em mil luzes mergulhei...
Marcos Loures


14

Minha alma segue em prantos, vã tristeza,
Dolente necessita dum amparo.
Lasciva mergulhada em sutileza
Buscando uma alma gêmea apura o faro.

Envolta em tal delírio da beleza
Percebe que se encontra em desamparo.
Frágil, tímida, plena de incerteza,
Anseia pelo amor que sabe raro...

Soberbos sofrimentos meu idílio,
Lamúrias e senões, silenciosa.
Exposta a tais torturas, triste exílio...

Tantas vezes padece desolada...
Minha alma sofredora e carinhosa,
Procura pela tua, não há nada...


15

Minha alma se reflete nos teus olhos
Espelho em que mergulho o sentimento,
Vencendo nos caminhos os abrolhos,
Deixando para trás qualquer tormento,

Beijando a tua boca, vou contigo
Buscar dentro de ti o que sou eu,
O meu olhar ao ver perfeito abrigo,
Num momento sublime se perdeu…

Tocando a tua pele de mansinho,
Sentindo o teu perfume junto a mim
Sabendo desfrutar cada carinho
Encontra o que buscara, em ti, enfim.

Ser teu é na verdade o que eu mais quis
Certeza de ser sempre tão feliz...
Marcos Loures


16

Minha alma se refez em nova aurora
Assim quando te vi, num outro dia,
Qual tônico que logo revigora
Bebi de tua boca esta alegria.

Tristeza e solidão jogadas fora,
A vida de repente renascia,
Agora uma alma nova aqui já mora
Envolta com delícia e maestria.

Paixão ardente e louca me trazendo
O gosto tão febril da mocidade.
Aos poucos me sentindo renascendo,

Em desvarios, tonto de emoção,
Refez-se a juventude, na verdade,
Moleque sem juízo: o coração!

Marcos Loures


17

Minha alma se perdendo, aguarda a sorte
Que há tanto desejei e nunca tive.
A mera poesia, imenso corte
Dizendo do vazio aonde estive.

Sem ter, na minha andança algum suporte
Apenas a esperança sobrevive,
Mudar a direção em outro Norte
Imensa fantasia não se prive.

Envolto nas sombrias paisagens
Querências tão distantes, onde irei?
Saber do coração sua vontade

Marcando o meu olhar, frágeis miragens,
Buscando no infinito, cais e grei,
Quem sabe enfim terei felicidade?


18

Minha alma se perdendo em meio a curvas tantas
Derrames de agonia atingindo meus versos.
Quem fora desespero aguarda novas mantas
Que possam me trazer caminhos mais diversos.

Por vezes encantando enquanto desencantas
Os ares que encontrei; decerto são perversos.
Quebranto, pedregulho, espinhos, não sei quantas
Palavras em tormenta, os sonhos vãos, dispersos...

A cada flor plantada a frustração aumenta.
As asas/ liberdade atadas não voaram,
A vida vai passando, e cada vez mais lenta.

Quem sabe inda terei, além desta saudade
Do quanto que não tive e os versos não negaram,
Um fio de esperança, ao menos, na amizade...


19

Minha alma se entregando a tal tristeza,
A solidão entranha em mãos sombrias,
Figuras perambulam, vãs e esguias
Quem sabe amar o faz com tal destreza

Que nem a poesia mais despreza
Moldando em suas mãos as fantasias,
O verso que invadindo as cercanias
Vencendo com ternura as correntezas.

A chuva vai caindo e já não pára,
O passo que me guia desampara
E a gente não concebe mais o trilho.

A neve empalidece este arrebol,
Jamais conhecerei a luz do sol
A morte aperta forte o seu gatilho...
Marcos Loures


20

Minha alma se encontrava, antes perdida
Beijando qualquer boca no caminho,
Bebendo com vontade amargo vinho,
Vencido pela sorte distraída

De toda esta ilusão foi abstraída
Até morrer sem dó, ledo e sozinho.
Chicote me cortando de mansinho,
A noite sem vigia está perdida.

No pé de manacá eu me estrepei,
Verrugas quando estrelas apontei,
Amor deu seu sorriso mais boçal.

Despido dos desejos meu prazer
Agora é tão somente já me ver
Subindo calmamente este degrau.
Marcos Loures


21


Minha alma se aposenta em teus carinhos,
Deitada em tua cama, gozo e dor,
Guardando o sentimento em escaninhos,
Me entrego ao teu desejo e teu furor...

Abusas dos folguedos mais vorazes,
Acendes a fornalha da loucura
Mostrando teus delírios tão mordazes,
Me morde e me maltrata com ternura.

Sentindo-me um joguete nos teus braços,
Dominas cada qual dos meus sentidos,
Riscando em cicatriz, tatuas traços
Nas costas, nos meus pés já combalidos...

E vamos noite adentro em tal bailado;
Sangrando nosso amor, apaixonado...


22


Minha alma se alegrando neste porto
Aonde o coração encontra abrigo,
O bom é caminhar sempre contigo,
Embora o meu destino seja torto.

A vida preparando esta surpresa
De me trazer a cria dos meus sonhos,
Que sana velhos dias mais tristonhos
E faz de uma alegria, mansa presa.

Sorrisos de menina; peito aberto,
Nas margens do Guaíba, o brilho certo,
A dor da solidão, agora extinta;

Seguindo de uma estrela, a bela trilha,
Com alma resoluta e farroupilha
Encontro a luz no paralelo trinta...


23

Minha alma se abrasando na tua alma,
De forma que se entrega totalmente,
Descubro que minha alma só se acalma
Aos olhos de tua alma mais clemente...

Nos tempos de descuido sofri tanto
Por ter uma alma assim tão dependente,
Vencida por tua alma em tal encanto
Que tudo se sublima de repente.

Por quanto tempo uma alma sobrevive
Sem ter essa tua alma como amiga.
Nos sonhos mais divinos onde estive,
Minha alma sem tua alma já periga.

Por isso, minha amada, te preciso,
Minha alma na tua alma, em paraíso...


24


Minha alma repartida, aparta-se de mim...
Do meu corpo se solta em busca de paragem.
Num vôo delirante, inicia a viagem.
Mal sabe seu começo, espera tenha um fim.

Na boca de Luisa, um vivo carmesim;
A promessa de paz passou a ser miragem.
Minha alma, transtornada; em plena decolagem
Pressente, nesta boca, um promissor jardim.

Nas mãos desta guerreira a santa piedade,
Promessa de viver, enfim, felicidade.
Minha alma já se encontra em manso vôo, em brisa...

Na glória deste amor, a vida esplendorosa.
Na trilha da guerreira, a lua gloriosa...
Minha alma, adormecida, em pleno amor, Luisa!
Marcos Loures


8625

Minha alma que antes fora uma andarilha
Vagando bar em bar pela cidade,
No grito solitário da novilha
Espreita o fim da tarde com saudade.

O par que se perdeu renova a trilha
E vence com carinho, a tempestade.
Andando nos espaços cada milha
Seguindo busca a tal felicidade.

Parceira dos detalhes que negaste,
Entalhes nestas pedras, no desgaste
Diário molda a noite em vários breus.

Depois de ser vencido, sigo só,
Voltando novamente ao ledo pó
Não quero mais seguir rumos ateus.
Marcos Loures


26

Minha alma oferecida nas quermesses
Vendida a qualquer preço num leilão,
Em lances duvidosos da paixão,
Nem sabe quanto ou quando me ofereces.

Às vezes me escondendo atrás de preces
Dispara no meu peito um carrilhão,
No fundo sempre a mesma negação
Eu sei que no verão já não me aqueces.

Verdade acondoplásica se torna
Quando tu mentes sobre a vida morna
Que adorna cada passo sonegado.

Participando sempre deste engodo,
Buscando o meu retrato então me açodo
Bebendo os erros todos do passado.


27


Minha alma ocidental e italiana
Latina e eternamente atada ao lírico,
Às vezes com certeza sendo empírico
Desfilo minha origem lusitana

Enquanto a poesia em mim se ufana
O mundo que imagino quase onírico
Num átimo diverso deste etílico
Caminho em que a verdade desengana

Mergulho nas distâncias amazônicas
E quando em fantasias tão hedônicas
Procuro no final ser mais eclético.

Ao fundo este cenário vasto e lúdico
Aplausos; não espero deste público,
Mas mostro o meu caminho atroz, poético...



28

Minha alma no teu cais não mais perdida,
Encontra ancoradouro que buscara
Durante quase toda a minha vida
Nos braços da mulher que agora ampara.

Revendo tantos erros cometidos
Eu sinto ser possível novo dia.
Momentos em penumbra, desvalidos
Adentram noite afora, poesia.

Pesadelos distantes, dentes, fogo.
Velhos ritos satânicos, terror.
Olhar enunciando o mesmo rogo
Procura em outro encanto recompor

O quanto se perdera da ilusão,
Mudando destes ventos, direção...


29



Minha alma neste outono da existência,
Refém do pouco tempo que me resta,
Adentra a solidão, fria floresta,
E pede pelo menos indulgência.

Não quero deste inverno, a penitência,
Se bem que a primavera ainda gesta
A doce fantasia em que se atesta
A réstia desta luz feita demência.

As folhas vão caindo devagar,
O vento muda tudo de lugar,
A mocidade morre após a curva.

Quem dera a juventude... Isto é passado...
O velho caminheiro maltratado
Enfrenta: peito aberto, a fina chuva...


30

Minha alma necessita de reboco,
A casa embolorada tem nas teias
Ainda a velha marca das candeias
E a antiga cicatriz ganha num soco.

Da alameda dos sonhos, resta um toco,
O sangue se perdeu, mudou de veias,
Se as luas que sonhei seguem alheias,
Não posso suportar mais tal sufoco.

Quando a constelação, teimoso eu toco,
A vida vai mantendo o mesmo foco,
E entoco-me depois da tempestade.

No porto solitário a solidez,
Se tudo o que eu tentara não se fez,
Reforma nesta casa? Uma inverdade...


31

Minha alma não conhece mais brandura
E tantas já sofreu que vai cansada,
Recebe este carinho que degrada
Nas mãos da solidão, velha tortura.

O amor ao refazer tal varredura
Não deixa mais sobrar sequer a escada,
E a queda, insensatez, preconizada
Ainda me domina e assim perdura.

Sério, sob os meus óculos o olhar
Que sorrateiramente ainda finge
Procura decifra a velha esfinge

Sem ter o que sequer comemorar.
Bebendo com fartura esta tristeza
Só resta então seguir a correnteza...


32



Minha alma na tua alma tatuada,
Tu és a minha doce cicatriz...
Sentindo tua pele, aqui deitada,
Unidos, somos quase um só matiz.
A mão que te procura, extasiada,
A boca te roçando... estou feliz...

E quero te fazer, de novo, amor,
E sinto que tu queres novamente,
Teu toque insinuante, sedutor,
Entrega-se ao desejo totalmente,
Encontro em tua sede este esplendor.
Na pele que me esbarra, ardor se sente...

Assim recomeçamos... tão unidos...
Suspiros, arrepios e gemidos...
Marcos Loures


33

Minha alma na tua alma se completa
Esmeros delicados influindo.
A vida que eu queria qual cometa,
Aos poucos em carinhos diluindo.
Amar e ser feliz se mostra a meta
De quem quer um futuro claro e lindo.

Um límpido azulejo invade o espaço
Decoro em pedras raras, cristalinas
O campo do prazer, divino paço,
Em raras expressões diamantinas.
O amor cerrando assim, com firme laço,
Explode em luas fartas, belas minas.

Termino cada verso te clamando
Ao mundo que entre nós vai se mostrando...
Marcos Loures


34

Minha alma na tua alma já se ufana
E segue os descaminhos vida afora,
Enquanto a fantasia nos engana
O sonho sem juízo revigora.

A morte não desejo, assim temprana,
Tampouco quero a luz que se demora,
Se o vento da paixão ainda abana
O gosto do vazio invade e ancora.

Seria muita audácia, pois sonhar
Com toda a maravilha do teu mar,
Deixando estas procelas na gaveta?

Eu sei que tu virias feita em sonho.
A paz em nosso amor, o que proponho,
Não quero em minha vida um vão cometa...


35

Minha alma na tua alma já se aninha,
Roçando com fervor os meus sentidos.
Não quero uma esperança assim sozinha
Morrendo entre mil beijos já perdidos.

Eu sinto que talvez possa sonhar
Depois de tantos anos pesadelos
Tocando a tua pele devagar,
Roçando com meus lábios teus cabelos

Sentindo o teu aroma inesquecível,
As peles que se encontram, mil promessas,
Deixando no passado, a dor incrível
Em noites tão vazias quão possessas.

Somando nossas forças, posso crer
Num novo e mavioso alvorecer...
Marcos Loures


36

Minha alma na tua alma enveredada
Passando por tais pontes perigosas
Que valorizam sempre mais as rosas
Por terem sua senda perfumada.

Pretendo te fazer o que sonharas
Nos tempos doloridos da saudade
Amor que se traduz felicidade
Libertando os corcéis dos tristes haras.

Não posso me caber se não te sei
Nem sinto teu suspiro junto ao meu.
Minha alma de tua alma se perdeu.

O rumo que buscamos; nova grei,
Passando por distantes arvoredos,
matando pouco a pouco tolos medos...
Marcos Loures


37

Minha alma na sarjeta já mendiga
Pedindo por amor ou caridade,
Que aquela a quem amei, ao menos diga
Se resta alguma hipótese ou verdade

Que faça demonstrar em mão amiga,
Ao menos um restolho em claridade,
Deixando que esta vida assim prossiga,
Ficando por consolo uma amizade...

Quem tem uma incerteza como trilha,
Desfrutando dos restos com ardor,
Sugando das goteiras maravilha,

Fazendo-se do nada quase um rei,
Poeira consagrada de um amor,
É tudo o que na vida, em vão, busquei...


38

Minha alma inebriando-se em tristeza,
Neblinas ofuscando cada dia.
A noite em pesadelos, segue fria.
Entrega sem limites, sem defesa.

Nefastos pensamentos põem a mesa
O vento na janela, uma agonia
Nesta álgica expressão da fantasia.
Inútil resistir à correnteza

Nevascas e tempestas, vendavais...
Ouvir a tua voz? Creio jamais
Apenas teu retrato inda persiste.

E traz como ironia, o teu sorriso
Agrisalhada noite sem aviso
Cada vez mais soturna, amarga e triste...
Marcos Loures


39

Minha alma com tua alma vai unida
Às vezes capotando, outras nem tanto.
Se o gesto diz paixão, mais comovida
É quem não conhecia o velho canto.

Da boca uma aguardente bem bebida,
Na dança que fazemos, desencanto.
Não tendo quem me açode nem me agrida
A gente reconhece cada manto.

Querendo ser o que talvez não fosse
Se a vida não mostrasse que agridoce
O tempo de sonhar agora foi-se;

Não suportar o velho coice,
Nem mesmo irei cortar, esqueço a foice,
Se dos sonhos de outrem não tomo posse...
Marcos Loures


40

Minha alma carcomida vou expondo
Nos versos que espalhei em noite triste.
De toda a solidão que em mim resiste
Um novo amanhecer contigo eu sondo

A cada novo dia recompondo
O resto de esperança que inda existe,
Palavra mais tranqüila, mero chiste
Negando um canto manso em alto estrondo.

As vísceras em pútrido desgaste
Não deixam perceber uma esperança.
Na mão que em ironia me negaste

A queda se mostrando inevitável.
No olhar de quem vagando já se cansa,
A vida passa a ser dura, intragável...
Marcos Loures


41


Minha alma bate à porta deste inferno
Criado por meus erros e delírios,
Cobrindo esta nudez um roto terno
Imerso em poucos cravos, rosas, lírios.

Apenas os parentes no velório,
Amigos? Esqueci de convidar.
Depois da cervejada, no mictório
Conversas: como é bom desabafar!

Incrível que pareça: um outro assunto;
A saia da viúva, o futebol,
Deixando assim de lado, este defunto:
Como demora, enfim, nascer o sol.

Termina na manhã, o ritual,
E tudo retornando ao seu normal...


42


Minha alma aprisionada nos teus sonhos...
Vetusta e tão austera, morre encantos...
Os olhos que te miram, mais tristonhos
Servis, esperarão teus mansos cantos...

Os dias que passei, tão enfadonhos,
Decerto se tornaram belos, santos...
Matando pesadelos vis, medonhos...
Num átimo, se tornam acalantos...

Para amores, sonhares, fabulosos...
Minha alma aprisionada em teus desejos!
Perfumes delicados, olorosos,

Navego nos teus braços sem ter medo...
Minha alma procurando por teus beijos
Descobre, desta vida, seu segredo...


43


Minha alma ao perceber quanto é sutil
O canto enamorado de quem sonha,
Depois de ter passado por medonha
Estrada, tantas vezes, dura e vil,

Recebe este bafejo mais gentil
Da vida que promete ser risonha,
Deixando aquela senda tão tristonha
Em busca deste dia que previu

Uma alma que se mostra e se desnuda
Sabendo procurar qualquer ajuda
Que a torne então macia e bem mais calma

Viceja no calor de uma amizade,
Ao transbordar em paz e claridade,
Em ânima se mostra porque é alma.
Marcos Loures


44

Minha alma ao contemplar-te segue errática,
Teus olhos embuçados vãos, perdidos...
Não posso nem saber desta temática,
Meus erros em teus braços divididos...

A fera que me deste, queda estática,
Deveres que jamais serão cumpridos...
Minha alma ao te chamar de forma enfática,
Espera por lembranças, tempos idos...

Não quero ter vergonha dos meus falsos,
Nas sendas que passaste, caminhante...
Te prometo algo além destes percalços.

Não quero que se engane nem confie,
A boca que me morde, tenebrante.
Espero um novo tempo que se estie...
Marcos Loures


45

Minha alegria espalho pelos campos,
Em tantas melodias que pretendo.
Sabendo deste canto, em fantasia
Nos olhos tanto brilho convertendo...

Vivendo desta luz que me irradias
Nas danças e nas festas com certeza
Eu sinto tantos lumes e delírios
Nas cores e nas flores, natureza...

Floresce meu amor em cada dia
Brotando no jardim mais delicado;
A lua se derrama sobre mim
E vejo meu carinho extasiado...

Revendo os meus defeitos sei que tantos
Sem medo vou buscando teus encantos...


46

Minha alegria é faca, corta fundo.
Dilacera qualquer que tenha medo.
Vagueando, penetra todo o mundo,
Na ponta dessa faca, meu segredo.

Nas marés cheias, enche tudo, inundo...
Faca foi amolada, no degredo.
Temperada a coragem, vagabundo,
Nas tardias da vida, cortou cedo.

Faca vadia, trava guerra à toa.
Embarca na arapuca preparada
Por essas mãos, as mesmas, que canoa

Fizeram virar, tomba marejada.
Inda por cima, fala: faca boa!
Minha alegria, faca enferrujada...


47


Minha alegria às vezes te incomoda;
Bem sei que isto parece um contra-senso
Porém eu não admito qualquer poda,
Se trago em minha vida amor imenso

Permita que eu sorria; companheiro...
Se espero desta vida algo melhor,
Talvez pela metade, ou bem inteiro,
Talvez pouco menor, até maior,

Só sei que tenho em mim esta esperança
De que num belo dia, esteja bem,
O bom humor me traz boa lembrança
E dá felicidade para alguém.

Espero em ti, também, esta harmonia
Que traz, em sintonia, uma alegria!


48

Minha açucena, bela, porém álgica...
Nasceste em jardim fúnebre, nostálgico
A vida me ensinou, defesa antálgica,
Um coração tão frio fosse plástico...

Minha açucena, flor de minha vida...
Quem nasce em tal jardim, recende a dor...
De todas cercanias, esquecida,
A beleza sutil, mágica flor...

Açucena, serena companheira...
Não me deixes sozinho, eu tanto peço...
És brilho de esperança verdadeira...

És o que me restou desse universo!
Resplendes toda a luz, minha existência!
Açucena, não vás... Peço clemência!


49

Minh’alma sonhadora quer um porto
Onde possa parar e descansar,
Depois deste futuro quase morto,
Depois de tanto tempo flutuar...

Quero o teu recanto e teu remanso,
Quero o teu carinho e teu afeto...
Distante da esperança que eu alcanço,
Vivendo nesse jogo predileto...

Amar passou a ser um desvario,
Um sonho sem igual, forte e risonho.
Descendo meu amor trafego um rio
Que perde-se em cascatas mais medonho...

Sou teu amante triste e vaporoso,
Porém do nosso amor, mais orgulhoso...


8650


Mineiro sentimento diz deste aço
Nos olhos e nas pedras do caminho.
Retratos na parede, velho traço
De quem entre as montanhas me avizinho.

Olhando para trás, eu mal disfarço
E passo tão somente, vento e vinho.
Silente caminheiro, ganho espaço,
Nas rimas de mim mesmo, vou sozinho.

Se o mundo fosse apenas adereço,
Se o sonho diz das pedras seculares,
Às minas do passado eu me endereço

E cato os diamantes desta terra.
À noite em serenatas, ruas, bares
Imagem refletida se descerra...
Marcos Loures


51



Mineiro se esgueirando pela porta
Fechada por montanhas e mentiras.
O coração poeta exposto em tiras,
A natureza aos poucos bem mais morta.

Não sei se ainda tenho ou se comporta
Os arcos com os quais teimas e atiras
Sem academicismo cismo em miras
No sismo que destrói; mas não aborta.

Estrelas do cruzeiro americano
O galo canta às quatro da matina;
Duchamps quis o bidê, vendo a latrina,

Depois de tudo entramos pelo cano.
Quintana no quintal rio-grandense;
Das Minas quero a mina ipanemense...


52


Mineiro não despreza um desafio,
Não foge desta raia, segue em frente,
Não temo nem sequer um ser vivente
E teimo em discorrer horas a fio.

Se assim bem mais feliz eu fantasio
Eu fujo do meu mundo num repente,
Dizendo o que minha alma crê ou sente
Não quero mais inverno, busco o estio.

E sei que talvez seja a solução
Viver sem dar qualquer satisfação
A quem não me suporta nem me quer.

Eu bebo esta alegria gota a gota
Até que esta alma fique quase rota
Nos braços delicados da mulher...


53

Mineiro coração não perde o trem,
Que quando descarrila é fim de estrada.
Não deixo como herança quase nada,
Tampouco quero o gozo de outro alguém,

E enquanto a morte torpe inda não vem,
Eu bebo sem juízo a madrugada,
Usando da palavra como enxada,
Cevando mesmo estando sempre aquém.

Queria pelo menos ser ouvido,
Mas quando condenado ao vão olvido
Polvilho meus luares com poemas.

Ninguém sabe decerto o que virá,
Mas deixo rabiscado desde já
Rompendo com o tempo tais algemas...


54

Mineiro com mineira faz bom trato,
Silenciosamente vou em frente
Bebendo com carinho do regato
Felicidade imensa se pressente.

No coração, amor, querida é mato
O que me faz tristonho e tão contente
Nos olhos de quem amo eu me retrato
Sem medo deste brilho tão luzente.

Triangulo Mineiro, Muriaé
Distância, na verdade não importa
Amar é ser liberto e ter com fé

A sorte de poder estar liberto,
Meu sonho nos teus sonhos abre a porta
E faz de qualquer longe, ficar perto...
Marcos Loures


55

Mineiras esperanças bem que quis
Na espera sem ter tréguas nem cansaço.
O gesto da morena mais feliz
No gosto que se acena no seu braço.
Querendo ser da vida um aprendiz
Uma beleza rara pega a laço.

Espera tão feliz, mata mineira,
Valendo a pena ser tão insistente.
Descendo pelo Vale em cachoeira
No Paraíso o verso mais contente.
Lerdeza de sonhar a vida inteira,
O mundo fica belo, de repente....

Espera Feliz, nunca mais só,
Morena que sonhei, Caparaó...


56

Mineira por mineiros desejada;
Rainha dos meus sonhos, deusa plena.
A vida sem teus braços vira o nada,
A sorte no teu canto já se acena.

Recebo o teu carinho, doce amada,
E vejo em minha vida a bela cena
Mostrando uma rotina mais amena
Refeita com a luz de uma alvorada...

Eu quero estar contigo, e sempre mais.
Embora uma outra gente com ciúme
Também te quer, amada companheira.

Subimos as montanhas das Gerais,
Chegando em nosso amor, bem cedo ao cume
Nos braços da morena, uma mineira...
Marcos Loures


57

Milhões de paraísos eu cometo
Usufruindo desse amor sincero
Encontrei o que desejo e quero
No teu olhar em perfeição, dileto

O meu caminho se tornando reto
Sem estas curvas não será mais fero,
Apenas luz ao te encontrar, espero
Contigo amor eu conheci o afeto.

Agora os dias não serão bravios
A calmaria me permite assim
Chegar ao cais que desejei enfim

Quem no passado recebera os frios
Ventos; sabe que em mares tão revoltos,
Sargaços e bagaços: ossos soltos.
Marcos Loures


58

Milagres a granel, vendas à vista.
Melhor não resistires, pobre presa.
Nas mãos de quem te explora, uma defesa?
No olhar de teu Pastor, venal artista.

Ainda se quiseres, tem cambista,
O preço deste ingresso? Uma surpresa!
Pululam vários Judas nesta mesa,
Do amor que ELE pregou, nenhuma pista.

Se queres, podes ter um crediário,
Cordeiro transformado em um otário,
Entrada para o Céu sem preços fixos.

Variando conforme cada bolso,
Depois Jesus garante o teu reembolso,
Nem que seja em “dourados” crucifixos.
Marcos Loures


59

Milagre em primavera nosso caso,
Depois de tantas noites sem ter flores.
Quando já pensava em meu ocaso,
Surgindo, nos teus braços, os amores...

Nas flores estampadas na camisa,
A mansa solução, felicidade.
O vento devagar, a mansa brisa;
Trazendo a maciez, fragilidade...

Depois que se pensara nada mais...
Depois da prometida mansidão,
Descubro quanto amar eu sou capaz,
Nas ondas desta temporã paixão...

Que invade e que derruba, nada resta...
Amor que nos carrega; imensa festa!


60

Mil sonhos que me levam ao teu lado
E moldam um porvir bem mais risonho.
Vivendo em harmonia cada sonho
Eu sinto-me por ti apaixonado.

Ouvindo o coração em seu recado
Um novo amanhecer eu te proponho,
Juntinho, adormecida do meu lado,
Meu barco no teu mar, amada, eu ponho.

E vejo num sorriso, a calmaria
De um rosto tão bonito em plena paz.
Tua beleza, amada, sempre traz

O gosto delicado da magia
Que invade, de mansinho, a poesia
Em cada novo verso que se faz...
Marcos Loures


61

Mil laços de ternura reproduz
Farturas encontradas no canteiro
Aonde nosso amor negando a cruz
Derrama em maravilhas seu tinteiro.

Eu tenho aqui comigo esta alegria
Que a cada novo dia se renova.
Deitando a fantasia em poesia
A lua se refaz, pra sempre nova.

Na trama feita em rede, nas esteiras
Rolando a tarde inteira, espero a noite.
Palavras muitas vezes corriqueiras
Às vezes se transformam num açoite

Porém quando em verdades, num torpor,
O bom da vida mostra o seu valor.
Marcos Loures


62

Mil fronteiras separam nossos sonhos,
Mas saibas que também sonho contigo.
Tu fazes os meus dias mais risonhos,
Meu verso nos teus braços quer abrigo...

Os dias se passaram tão tristonhos
Vieste iluminar e assim prossigo
Matando tantos medos mais medonhos,
Que falem, que perturbem, já não ligo...

Eu quero a tua boca e teu carinho,
Deitando do teu lado a fantasia.
Um sonho que se sonha se sozinho,

Apenas morre sonho. Outra verdade:
Se quando em outro sonho se extasia,
Quem sabe; de repente, é realidade?


63

Mil filhos! Parabéns querida amiga,
Estrelas que espalhaste no recanto,
Trazendo um multicor e raro encanto
No qual a poesia já se abriga.

Que a luz inebriante assim prossiga
Cobrindo todos nós com este manto
Que em pobres, simples versos, ora canto,
Porém é tão sincera esta cantiga

Que ousando; nestes versos dedicar
A quem se fez tão bela em luz solar,
Eu venho, neste instante em alegria

Dizer humildemente, num soneto
Que audaciosamente; ora cometo,
Fartando-me de néctar e ambrosia...
64

Mil fases
Poemas
Se fazes
Não temas

Que as gemas
São bases
Dilemas?
Mordazes.

Fazer
Do verso
Diverso

Prazer.
Quem sabe...
NÃO CABE...


65

Mil beijos prometidos e já dados,
Mil dados onde jogas minha sorte
Amores que tivemos são fadados
Lançando flechas, dardos; bem mais forte.

Sedados pelos sonhos maviosos,
Se dados com amor e com prazer
Sentidos os cabelos mais sedosos
Somados nossos sonhos de viver.

Se somos o que somos temos sumos
Iguais em perfeição, nossos destinos,
Seguimos por iguais sendas e rumos,
Sentindo esses desejos peregrinos...

Que roçam nossas peles e nos tragam,
Para os desejos tontos que se afagam...


66
Miasmas do que um dia uma alma sonha
Eflúvios que, dispersos, vão ao ar.
Depois de tanto tempo, fui notar
A imagem refletida; vil, medonha.

A face carcomida que envergonha
Aquele que se fez tolo luar,
Morrendo a cada dia, devagar,
O inferno pouco a pouco, já enfronha.

Nefastos querubins, vis carpideiros,
Rondando estas desérticas searas;
Escárnio tão somente e nada além.

Afasto dos meus olhos os viveiros
Cevando frias larvas nas escaras
Que à noite em pesadelos sempre vêm...


67

Minha alma em tantos lumes se decora,
Um zíngaro procura acampamento
Vivendo a cada vez todo momento
Eu quero e necessito disto agora.

Da boca que se dá na qual se aflora
O gozo que invadindo o sentimento
Não deixa mais espaço ao pensamento
Teimosamente sorve e revigora.

Luzindo sobre nós intensidade,
A par da soberana liberdade,
Soberbas ilusões já não resistem.

Enquanto em força intensa sempre existem
Espaços para amor mais atrevido,
A cada instante o sonho é revivido...


68

Minha alma em suas pétalas perdida,
Beberrona; aguardentes não dispensa.
Vadia; nas saudades vai carpida
Comendo toda a carne da despensa.

Minha alma nos bordéis prostituída
Deseja a santa orgia em recompensa,
Entrando nestas coxas vê saída
E sangra a noite inteira, ereta e tensa.

De leites e deleites sendo feita
Minha alma vagabunda se deleita
Em lúbricos desejos em gandaias.

Nas gôndolas deixadas no passado,
Um templo divinal adivinhado
Ao suspender morena, as tuas saias...


69

Minha alma em solidão, triste chorou,
Buscando a quem amei perdidamente,
Lamento de minha alma, vem urgente
Clamar por quem depressa me deixou.

O tempo sem te ter, duro passou
Agora a noite cai suavemente,
Nos braços do quem sabe, vou contente,
Trazendo o doce gozo que sonhou

Um coração vadio e vagabundo,
Vagando em vento incerto pelo mundo
Até chegar às sendas da ilusão.

Agora em novo amor, minha alma acalma,
Sabendo desfrutar com toda calma
As novas diretrizes da paixão...
Marcos Loures


8670

Minha alma desemboca em tua foz
E resta tão distante do passado,
O tempo que já fora assim nublado,
Mudando de faceta logo após

Ter conhecido o bem de audazes nós,
Aos quais permanecendo em paz, atado,
Florindo em esperança o antigo prado,
Que um dia imaginara sempre atroz.

O fardo de sonhar inutilmente
Já não sufoca mais meu coração,
O amor que a cada dia mais se sente

Ungindo nossas vidas, tão benquisto,
De todos os meus males, solução,
Provando que em verdade ainda existo...


8671

“Minha alma de buscar-te anda perdida”,
E cada amanhecer sempre renova
Esta esperança amarga e tão querida,
Amor se colocando assim à prova.

Não posso suportar tal despedida,
A vida preparando a fria cova
Aguarda tão somente uma saída
Na lua que renasce bela e nova.

Meus olhos procurando o teu olhar
Em meio a constelares viajantes.
Estrelas que encontrei a divagar

Acendem pirilampos deslumbrantes;
Jamais me cansarei de procurar
Teus raros e mais belos diamantes.
Marcos Loures

8672



Mulheres do passado? Não as quero,
Prefiro a que me nega e me concede
Ao menos neste fato sou sincero,
Desejo não tem nada mais que mede.

Um beijo representa muito além
Dos anseios do sexo e da vontade,
Querendo ser tão teu sereno bem,
Na soma que se faz em liberdade

Multiplicando os gozos e as carícias,
Depois de repartirmos, a partilha
É feita em divisão, tantas delícias,
Dos metros vejo mais que simples milha.

E assim, somos parceiros de viagem,
Tornando mais viçosa esta paisagem...


73

Mulher, perfeita dádiva divina
A diva, a companheira, amiga, amante,
Estrela que se mostra deslumbrante
E todo este cenário já domina.

Eternamente traz uma menina
Razão desta beleza ser constante
Na frágil fortaleza, uma gigante
Meu peito enamorado segue a sina

De ser assim somente um teu cativo,
Na busca de teus lábios sonho e vivo,
Sabendo a perfeição que existe em ti.

Meu verso se mostrando mais feliz,
Engalanado, em glória vem e diz
Da deusa que em meus sonhos concebi.
Marcos Loures


74


Mulher que nos lampejos mais venais
Encerra a podridão em cada riso
Trazendo insanidade nos bornais.
Nas vergastadas vende o paraíso.

Prostíbulos desta alma feita em cais.
Dilacerando sonhos sem aviso,
Nas lúbricas carícias demonstrais
Espinhos que espalhais enquanto eu piso.

Mas amo cada beijo que, sarcástica
No rosto enternecido fingis dar.
Nesta ilusão terrível e fantástica

A face verdadeira dos desejos
Ao semear assim, venais lampejos
Percebo no agridoce o bem de amar...




8675

Mulher que me levou para o infinito...
Nos beijos e carinhos que trocamos.
Amor que nós fizemos, tão bonito...
Nas noites que sem fim, nós nos amamos...

Passeio minhas mãos e te procuro.
Meu coração sofrendo, tanto frio...
Procuro teus cabelos, tão escuros.
Mas nada encontrando, só vazio...

Mulher que me deixou aqui sedento.
Promessas tantas fez e não cumpriu.
Palavras se soltaram nesse vento
Amor que como veio, assim partiu...

Procuro por teu beijo onde estiver.
És tudo o que desejo enfim, mulher!


76

Mulher que me jogando aos mansos braços
Trazendo tantos sonhos e delícias
Depois de várias lutas e cansaços
Vem salpicando amor entre malícias.

Trazendo tanto rosas quanto espinhos
Forrando meu caminho de flor e urzes.
Decora destruindo nossos ninhos
Ao mesmo tempo beijos e cruzes.

Mulher que proclamando uma grandeza
E um desejo de guerra insaciável
Leva para os meus sonhos a beleza
E o medo de viver, inconsolável...

Mulher que emoldurando minha cama,
Entre mordidas, beijos; diz que me ama!


77

Mulher que me entolece com olhares
Sutis e penetrantes qual um raio...
Em meio a cataclismos estelares,
Deponho meus desejos. Tonto, caio...

Levando meus anseios, corcel baio,
Desesperadamente, lejos mares...
Ausculto teus cantares nos altares
Ofusca-me este lume, então desmaio...

Mulher que me entristece se não vejo!
Emblemático manto do futuro.
No canto que decifro, meu desejo.

Uma abelha rainha , sou zangão,
Esperando esta morte, com apuro,
Débora, me devora o coração!



78


“Mulher nova, bonita e carinhosa”
Que sempre desejei estar aqui,
Tramando teu sorriso, mansa rosa,
Em todos os momentos que vivi...

Eu quero teu ciúme, meu tempero,
No tempo que te espero, vou cantando,
O mundo que pretendo, tanto esmero,
Aos poucos coração se conquistando..

Eu sempre desejei amor igual
Sabendo da criança que nascia,
Vivendo meu amor, percorro astral,
Em cada noite mansa, brilha o dia...

Amada, não se esqueça do meu verso,
Em teus desejos singra esse universo


79

Mulher na plenitude que não teme
Amor santo e profano, sabe bem,
Que sabe ter nas mãos, decerto o leme
E mostra sem temores o que tem

De belo em ser amada e desejar
E que isso se completa por si só.
Quem tem medo de ter e de se dar,
Nas próprias pernas logo dá um nó.

Bendita diferença que nos faz
Ser homem e mulher, ou fêmea e macho;
Somente esta verdade é bem capaz
De incendiar o mundo em belo facho

De luz que nos dourando, santifica,
Do amor que sendo imenso, glorifica...
Marcos Loures


80

Mulher maravilhosa; uma criança
Que o tempo esculturou em obra prima.
O vento tão gostoso da lembrança
Trazendo no teu peito tanta estima.

Na mão direita a rosa da esperança
No coração, amor fazendo rima.
Amor que já domina e não se cansa
De lhe trazer calor em qualquer clima.

No riso delicado, na loucura,
Os olhos radiantes do desejo.
Uma alma tão sutil, ardente e pura.

Nos sonhos um abraço da alegria,
Na boca ansiedade, quer o beijo
Nos lábios da ansiada fantasia...


81


Mulher dos meus delírios e defeitos,
Espero teu carinho e tua glória.
Não sigo por caminhos mais perfeitos,
A dor que me consome, na memória.

O verde de teus olhos, mansos leitos,
As matas que carregam minha história.
Persigo, nas vontades, tantos pleitos.
A luta que travamos, peremptória...

Amada que não queixa nem ciúme,
Amada que feliz, permite sonho....
Não posso ter de ti qualquer queixume;

Encontro-te nos olhos desta fada
Futuro; nos teus braços, mais risonho.
És próspera mulher, meus sonhos, ADA!


82


Mulher deliciosa, mas casada
Com homem mais leal ao rei que um dia
Ao ver tanta beleza já queria,
Tomar a bela moça desnudada...

Porém maldisse a sorte, que a coitada,
Era fiel, jamais fora vadia,
O rei querendo muita putaria
Em um momento teve esta sacada.

Tirando do caminho o que atrapalha,
Faremos tudo aquilo que mandar,
Da forma que quiser e que vier,

Mandando o tal soldado pra batalha,
Entrou com lança em riste a se fartar
Na doce bocetinha da mulher.


83

Mulher amada! Vivo esta magia
Das terras amorosas num estio.
A cútis calejada aos poucos cria
Um sonho delicado e bem macio.

Meus olhos embotados de tristezas
Se tornam meigos, mansos, companheiros.
Tu vês assim tantas belezas
Nascidos nos espinhos costumeiros...

Um príncipe se erguendo em seu castelo
Surgido nos barracos e taperas.
Num trono imaginário, num rastelo,
As flores numa eterna primavera...

Mulher amada; sonha eternidade
Distante desta rude realidade....


84

Mulata que se assanha em minha cama,
Balançando os quadris, fenomenais.
Delírios entre sonhos sensuais,
Vontade de loucura o corpo clama.

Pecado é não viver. A noite inflama
E pede novamente, muito mais,
Vertendo em fantasias, doces, sais,
Roçando pele a pele, acesa chama...

No encontro de nudez, mil fogaréus,
Cometas percorrendo nossos céus
Garantem farto brilho, o tempo inteiro..

Bebendo desta fonte à me fartar,
Declinas sobre nós alvo luar
Encanto deste sonho. Brasileiro....
Marcos Loures


85

Música ao longe, canto tão suave;
Noite perpetua-se mais tranqüila,
Nem os grilos entoam nessa vila;
A música distante vem do vale;

Chega para os ouvidos, traz a chave
Que poderá afinal fazer da argila,
a vida que da vida se destila
E me fará ver luzes dessa nave

Que seguindo sem rumo, pensei morta...
A música atravessa, o tempo corta
Deixando a solidão lado de fora...

Quem me dera pudesse ter outrora
o som que dissonante agora aflora
arrombando do peito, a velha porta...
Marcos Loures


86

Musa, minha rainha e minha amada,
Permita que eu te fale uma verdade,
Por mais que a vida esteja transformada
Ainda é bom se ter boa vontade.

O amor prepara em cada barricada
Uma armadilha para a liberdade,
Não deixa-se prender em tola grade,
Bandeira libertária desfraldada.

Permite que eu te fale com franqueza,
Gostoso é variada e farta mesa,
Eu não suporto, amor tal mesquinhez.

Por isso, por favor mude o cardápio
Senão este desejo um vil larápio
Encontra outra rainha desta vez...


87

Murmuro pelas noites o teu nome,
Em busca do que foi felicidade.
A noite que te trouxe também some...
Aguarda sem sentidos, u’a saudade...

Meus versos não se calam nem pretendo,
Viver do que sonhei e que perdi.
Aos poucos, sem saber irei morrendo,
Amores que estiveram bem aqui...

Perfumes de minha alma tão cativa
São rastros que não posso mais deixar...
A mando da saudade sempre viva
A vida vai custando a se passar...

Murmuro pelas noites que te amei,
Depois de todo sonho que penei...


88 Murmurava a chorar; bela menina
A quem amor fingira ser fiel,
Roubando toda a cena em negro céu
Nublada madrugada descortina.

A dor em desamor que desatina
Amarga na verdade todo o mel,
Neste riso sardônico, cruel,
Tristeza vem surgindo, fria e fina

Lateja dentro da alma, rasga o peito,
Invade e nos destroços que deixou,
Num riso de ironia, contrafeito,

Alçando em desvario a tempestade,
Somente uma esperança assim restou:
O renascer nos laços da amizade...


89

Murchou num triste vaso sem ter flores
O velho sentimento que trouxeste.
Rasantes que em momentos vários deste
Não foram nem as sombras dos louvores

Que um dia tu pensaste e não quiseste
Somando o que dissemos sobre amores,
Matamos desde sempre por supores
Que a vida não seria tão agreste...

Mereces o que tens, néscia e vazia,
O quase não permite qualquer gozo.
Amor é tantas vezes caprichoso

Uma alma solitária fantasia
Erguendo em taças falsas de cristal,
Um brinde repetido e sempre igual...


90

Mundo cruel, fizeste-me plebeu...
Quem dera se pudesse fosses minha...
A noite esconderia o triste breu,
A vida não seria mais sozinha...

Meu coração, outrora vil, ateu,
Encontraria luzes, velas, linha.
Seguiria caminho todo meu,
Distante da gaiola em que se aninha...

Ah! Como a solidão, medonha fera,
Esfrega suas garras no meu peito.
O mundo que sonhei se degenera.

Ao menos se pudesse ser alcaide,
Decerto, assim tivesse jeito
De poder vislumbrar bela Adelaide!

91

Multicêntricas rotas, rotos rumos
Levando à mais sombria decisão.
Estrambóticas luzes, velhos prumos
Soerguem-se na noite, uma ilusão.

Unidos tais escombros, podres grumos,
Aportam o cenário outrora são,
Mastigam o que resta da emoção
E bebem meus cadáveres, seus sumos.

Esfuma-se a esperança, velha algoz,
Que há tempos maldizia a minha sorte.
Dos velhos carretéis, os mesmos nós

Impedem minha fuga, titubeio
E ouvindo a gargalhada atroz da morte,
Eu perco, em paradoxo, algum receio...
Marcos Loures


92

Mulheres, tantas tive, tão diversas...
Negras, louras, mulatas e morenas.
Todas as formas, gordas, magras, pequenas...
Muitas ganhei, perdi, simples conversas.

Brasileiras, latinas, russas, persas.
Mulheres não faltaram. Açucenas,
No meu jardim plantei, colhi apenas
As que plantei, nenhuma foi às pressas...

Desses amores falsos, nada resta,
Nem me permitirei falar de festa,
Pois sei desses amores, tudo em vão!

Mulheres, sem pensar, tantas troquei...
Eu, na verdade, tantas encontrei;
Mas não a que detém meu coração...


93



Mulheres perdidas
São tão procuradas
As horas vencidas
As noites chegadas,

Distantes, curtidas,
Novas madrugadas,
Se encontram as vidas,
Tão despedaçadas...

Não falo da sorte
Do amor que não tive,
Procurando a morte,

Contigo eu estive,
Porém bem mais forte
Esperança revive...
Marcos Loures


94


Muitas vezes andei tão sozinho
Que nunca poderia imaginar
Depois de tanta pedra no caminho
Houvesse ao fim da tarde tal luar

Que mostra em poesia de mansinho
Beleza tão sublime, que sem par
Adentra na janela, com carinho
E não me deixa em nada mais pensar...

Ciúmes? Meu amor ... Não sei do quê.
Mesmo nos meus cigarros quando fumo,
E em todos os meus sonhos, pensamento.

Tu és toda esperança em que se crê
Amor que além do amor, querida assumo,
Num êxtase sublime: o sentimento...


95

Muitas glórias a Deus por ter deixado
Neste momento imenso de beleza;
Um ser repleto, manso, iluminado,
Que não deixasse sombras de tristeza...

Agradeço-te Pai, ajoelhado.
Pelo Teu belo gesto de grandeza,
Permitindo-me, pleno de pecado,
Conhecer tua glória e realeza...

Bendito sejas, Pai, te glorifico.
Perdão pelos meu erros que cometo...
Entre todos os homens, sou mais rico,

Mais feliz... Minha vida abençoada...
Por isso, com certeza, te prometo,
Trazer felicidade a minha amada!
Marcos Loures


96

Muié se me atiçá vancê vai vê
Cum quanto pau se faiz uma canoa.
Juntim e coladim eu e vancê
A noite vai ficá, garanto boa.

Se ansim vancê promete dá prazê,
Eu deito inté na prancha de taboa.
No corpo da morena recoiê
As gota mais gostosa da garoa..

Eu quero tê vancê bem safadinha,
Debaxo das cuberta, maravía.
Dexano bem pelada a piludinha,

Encheno nossa cama di cubiça
Vem logo, meu amô, vem minha fia
Tô doido prá fazê tanta bubiça..
Marcos Loures


97


Mudaste com ternura cada imagem
Que um dia cultivei, certo ou errado.
Restituindo flores, deste ao prado
Divina compleição, quase miragem.

Por tanto amor dourando esta paisagem,
Deixando o que pensara deformado,
Não sei o que restou do meu passado,
Bebendo a fantasia em mansa aragem.

Teus olhos permitiram, bons luzeiros,
Que os raios percebidos se filtrassem
Tornando bem mais clara a caminhada.

E assim eu pude ver quão verdadeiros
Os brilhos sem as nuvens que os disfarcem
Holofotes expondo a nossa estrada...
Marcos Loures


98

Mudarás cada passo desta estrada
Em que dizes amor em profusão,
Depois de tanto tempo resta nada
Daquilo que se fora uma emoção.

Jamais te negarei, ó minha amada,
A doce namorada, meu coração.
Porém logo que chegue outra alvorada,
Por certo eu ouvirei, teu duro não.

Mas saiba que te quero mesmo assim,
Em cada novo dia, outra festança.
Morrendo o teu amor tão grande em mim,

Eu sei que sorrirás um outro dia
Verás dentro de ti, em gozo e dança,
Outro semblante pleno de alegria...


99


Mudar a trajetória de uma vida,
De uma outrora pária; vencedora,
Usando da palavra mais sofrida
Cevando a luz suprema e redentora.

Buscando, da esperança uma jazida,
Tentando a fantasia como escora,
Minha alma com destreza ora lapida
A jóia em que alegria se decora.

Pudesse ser assim; ah quem me dera,
Talvez ainda houvesse primavera
Ao coração que cisma em hibernar.

Se a chuva molha mansa o meu quintal,
O florescer dos sonhos bem ou mal
Já ultrapassa a mesa deste bar...


8700

Mudando de caminho e de calçada
Ao ter a sensação de uma mudança,
O velho assassinando esta criança
Devora o seu cadáver, resta o nada.

A boca que se mostra escancarada
Impede o revoar de uma esperança.
Pensando: “quem espera sempre alcança”
Mal vê que quem se cansa já se enfada.

O dia não retorna, com certeza,
E a vida se esvaindo em correnteza
Não deixa nem resíduos, se embaça.

Ao esperar que volte a primavera
Não vê que uma alma só, se degenera.
O tempo que se quis, agora passa.
Marcos Loures


1

Mudando, de repente o seu papel,
Estreito os nossos laços, sem temor.
As nuvens vão dançando em nosso céu,
Traçando este cenário encantador.

Metáforas entranham nossos dias,
Porteiras do meu peito estão abertas,
Além do que mais queres; tu já crias
Desenhos em palavras sábias, certas.

Cirandas espalhadas por estrelas,
Escarpas não impedem nossos passos,
O barco sem destino abrindo as velas,
Ganhando a plenitude dos espaços.

Refletem cada sonho que tivemos,
Fortalecendo assim, os nossos remos...
Marcos Loures


2

Mudando totalmente esta paisagem Eu sigo, cabisbaixo, vida afora,
Mudando totalmente esta paisagem
Eu sigo, cabisbaixo, vida afora,
O tudo que eu queria se demora,
O amor se transformou numa bobagem.

O olhar que desejei, falsa miragem,
O barco sem destino, não ancora,
A velha solidão que nos devora
Sonega desde sempre nova aragem.

Lutar inutilmente. Estou cansado,
Cenário tão agreste, desolado,
Após diversos anos em batalhas.

Sombria madrugada nos cercando,
Meus olhos no vazio estão mirando
Tristezas que ora rondam, frias gralhas.
Marcos Loures


3

Mudando todo o rumo em nossas vidas
Um velho timoneiro não descansa
Enquanto em mar imenso vê saídas,
Exibe a mais sublime confiança.

As cargas devem ser bem dividas
Trazendo a mais completa temperança,
Amor que nos transforma em novos Midas
De toda essa alegria, faz fiança.

A mansa sensação que traz poder,
A dura tempestade que nos toma,
Nos laços bem mais fortes do prazer

Amor é bem querer em rica soma,
Meu verso enamorado, assim, de ti,
Encontra o Xangrilá que em sonhos vi...
Marcos Loures


4

Mudando todo o rumo de uma vida
As tramas desdenhosas da esperança.
Já sei que quem espera nunca alcança
E a sorte há tempos fora decidida.

A sina deve ser sempre cumprida
E nela não encontro uma aliança,
Morrendo mesmo assim, quero a pujança
Deixando para trás a alma perdida.

A chuva vem caindo no telhado,
Trazendo em cada gota o meu passado,
Mostrando quanto é dura a velha trama.

Aos poucos vem chegando aos borbotões
A tempestade faz em furacões
Alagação no peito de quem ama.
Marcos Loures


5

Mudando toda a sorte em um momento
As fases deste amor bebem da lua.
Às vezes diminui, noutras aumento
Porém o sentimento continua.

Nascendo de mansinho em lua nova
Aos poucos como em mágica envolvente
Quanto mais se pensa mais se prova
Até que em outra fase está crescente.

Chegando ao apogeu nada receia
Poeira toma assento noutro instante
A lua que se fez tão plena e cheia
Depois de certo tempo na minguante.

Mas saiba que entre as fases do luar
Eu nunca deixarei de sempre amar...
Marcos Loures


6





Mudando o trivial (arroz/feijão)
Preparas um banquete insuperável.
O amor pra ser sincero e palatável
Procura noutro amor, diapasão...

Por mais que ainda teime, o coração,
É sempre; se sozinho, insuportável,
Viver sem emoção sendo execrável
Aborta sem esterco, muda e grão.

De tantas variantes, água e fogo,
Delírios que encontramos neste jogo
Preparam com carinho a sobremesa.

Talheres estendidos sobre a mesa,
Condimentos picantes e gostosos
Momentos sem igual. Maravilhosos


7

Mudando nossa história, de repente,
Um vento vem chegando de mansinho.
Necessidade mostra o quanto urgente
Cuidarmos com carinho deste ninho

Deixando como herança há tantos anos,
Ao ser que se pensara ser perfeito.
Soberba dominando os soberanos
Matando pouco a pouco e desse jeito

Apenas o vazio sobrevive
À fome insaciável desta fera
Que em nós, tenha a certeza sempre vive
Negando aos nossos filhos, primavera.

Poder ensandecido do dinheiro,
No orgulho que se mostra corriqueiro.
Marcos Loures


8

Mudando em transparência, opaco norte
Recolho as minhas baixas no caminho.
Azar que em minha vida foi consorte
Do reflorestamento ceva espinho

Grileiro da esperança, risos fáceis,
Delitos cometidos, sobretaxas,
Bailando sobre nós estrelas gráceis
Barris em ilusões, velhas cachaças

Não acho o que buscara em cada bar
Na ronda pela vida, num bordejo
Atrelo o meu luar ao teu olhar
Coleto com prazer, fiel desejo.

Amor, qual trombadinha, este pivete
Jogando em nossa vida mais confete...


9

Mudando em temporal, tranqüilidade,
Olhar que me bendiz em fogaréu.
Arcano querubim estende o céu
Tentando transmitir a sobriedade.

Porém amor insano, em liberdade
Indômito e frenético corcel
Galopa em ventania e mesmo ao léu
Espalha sobre nós felicidade...

Geleira que derrete; o amor corsário
Num vôo que se mostra temerário
Vislumbra do infinito este tesouro,

Cigano ao enfrentar mar revoltoso
Estende como rastro o pleno gozo,
Descobre no teu corpo; ancoradouro...
Marcos Loures


10

Mudando em pensamento, o meu porvir
A vida é muitas vezes caprichosa,
Não quero mais falar; quero sentir
Teu corpo em noite clara, maviosa.

No brilho de teus olhos, refletir
A lua que luzindo é fabulosa.
Somente o que me resta é te pedir
Que voltes para mim, bela e fogosa,

Senão esta saudade a maltratar,
Pode, mais depressa, me matar.
Calando em cores gris os belos sóis

Dos olhos de quem amo, a luz persigo,
Vislumbro o que sonhara, está contigo
Meus olhos de teus olhos, girassóis...
Marcos Loures


11

Mudando em calmaria, a tempestade,
Não temo mais sequer a ventania,
Vivendo o nosso amor no dia-a-dia,
Percebo junto a mim, tranqüilidade.

Caminho pelas ruas da cidade,
Encontro a solidão em agonia
Nos laços deste amor que agora invade,
A dor morre deveras tão sombria.

Somando nossos passos pela vida,
Iremos resgatar o que perdemos,
O barco recupera antigos remos,

Tomando esta tristeza de vencida,
Farturas de delícias sobre a mesa,
O amor enfrenta a dura correnteza...
Marcos Loures


12

Mudando do meu céu, todo o matiz,
Eu crio uma fantástica ilusão.
Pensando ser deveras tão feliz,
Encaro com mais força esta explosão

Não temo mais o corte e a cicatriz,
Exponho, destemido, o coração.
Amor vem dominando e já me diz
Do fogo em desvario da paixão.

Acendo o meu cigarro, tiro um trago,
Nos olhos da esperança, quando afago
Espalho os meus caminhos, vou sem medo.

O cheiro do café adentra o quarto,
Do gozo deste amor, eu não me farto,
Descubro a bela fonte e seu segredo...
Marcos Loures


13

Mudando destes ventos, direção
Um flamejante barco ronda a noite
Nos seios da mulher, a sedução
No colo deste sonho, o meu pernoite.

Do quanto a vida fora insânia e treva
O coração apenas um granito,
Amor em precisão prepara e ceva
Um rumo que se mostre mais bonito.

Na boca tão voraz da dura fera
Um grito desumano ronda a casa,
Porém amor refaz a primavera
Incendiando a vida nos abrasa.

Os desencantos rudes, mais atrozes
Calaram já faz tempo nossas vozes...
Marcos Loures


14

Mudando destes ventos, direção,
Entalhes no meu rosto, cicatrizes.
Ao menos recolhendo a solidão,
Os olhos vagam velhas meretrizes.

Durante a madrugada, a negra lua
Vencida pelas nuvens me angustia.
Cadáveres de amores pela rua
A boca escancarada, podre e fria.

Temíveis pesadelos, rota estrada,
Olhares me observando, desapegos.
A fonte feita em sonho ensangüentada
Rondando minha cama, mil morcegos...

Esquálida presença ainda dança
Trazendo em suas mãos, velha esperança...


15

Mudando a face algoz a nos tocar
Uma esperança feita em amizade
Talvez inda consiga transformar,
Trazer a quem deseja a liberdade.

Desértico país que se deixou
Levar pelos carrascos mais temidos,
O céu que em tempestades se nublou,
Mata-borrão sorvendo tais gemidos,

Estampa em ironia, ordem progresso,
Bandeira que jamais foi nossa glória,
Nas artimanhas vis deste Congresso,
A face do poder expõe a escória.

Abutres rapineiros não se cansam,
Enquanto os pés mendigos não descansam...
Marcos Loures


16

Mudando a direção de um triste fado,
Guinando num momento para frente,
Deixando todo o medo no passado,
Promessas de um futuro mais ardente.

Alçando ao infinito em firme brado,
Na força da amizade se pressente
Um mundo mais feliz e iluminado
Que traga um canto belo e tão contente

A força que se mostra, assim perene,
Permite que sejamos mais libertos
Ao enfrentarmos todos os desertos.

Contemplo uma alegria que me acene
Mostrando um novo tempo de viver
Na eternidade imensa de um prazer.


17

Movimentos dos barcos no meu porto,
Parecem com amores que perdi,
Renascendo outros tantos, vivo, morto...
A paz que bebi há muito esqueci...

Sem rumos nem correntes, esmo, torto...
Ressurgem madrugadas, já vivi,
Obsessão, meus navios. Matas, horto,
Tantas vezes pensei estar aqui,

Mas as marés não deixam, sigo a sina
Das algas, sem pousada. Da menina
Que deixei, nem ao menos um sorriso...

Movimento dos barcos, das marés...
Sofrendo por quem sou e por quem és.
Ancorar minha vida, isso preciso...

Marcos Loures


18


Movimento lascivo e tão intenso
Rebola sobre mim, quadris em fogo,
Em túrgidas manobras, fico tenso,
Assim eu participo do teu jogo

Enlaças minhas pernas desde logo
E adentro estas entranhas, recompenso.
No ardume da luxúria então me afogo
Desejos sem limites, me convenço.

Gozar amor perfeito, fendas, rocas,
No mar que vai entrando em belas tocas,
Murmúrios de prazer, roucos gemidos.

Ocupo os teus espaços, viro a mesa,
Depois de toda a festa, a sobremesa
Que roça e convulsiona os meus sentidos...
Marcos Loures


19

Movido por motivo inconfessável
Assombro tua casa, a noite inteira.
Lascivo o meu desejo interminável
Parece até vontade corriqueira
Mas mostra quanto amor é formidável,
Mulher que me domina, feiticeira...

O teu afrodisíaco perfume
Explode com loucura, nas narinas,
Atinjo dentro em ti, do jogo, o cume,
Em jatos, sem pudores me alucinas.
Depois dos nossos gozos, de costumes,
Vagueio em solidão outras esquinas.

Nos óvulos perdidos, tantos filhos
Jogados nas janelas, ruas, trilhos...


20

Motivos pra falar de amor sem fim
Não tive desde que te conheci.
Mordendo em minha boca, sendo assim,
O quanto deseja me esqueci.

Cansado de pastar, deixo o capim
Somente, meu amor, todo pra ti,
Da merda em que nasci, por onde vim,
Chegando noutra bosta, estou aqui.

Ganhar qualquer aposta com a sorte
E ser já condenado então à morte,
É tudo o que garante este namoro

Que mata enquanto lambe e não sacia,
No fundo esta mulher de tão vadia
Desrespeita a moral, cadê decoro?


21

Motivas o soneto que hoje faço.
Manso, doce, pacífico e tão cru...
Tropeço, mergulhando me embaraço.
Desejo simplesmente o corpo nu.

Amada quero a boca, forte laço.
A rosa apodrecida, um abaju
Aceso, descobrindo meu cansaço.
Novas asas partidas, seminu...

Amor traga paixões e despedidas...
Estragando as cantigas, solidão...
Nossas portas fechadas, divididas...

As noites que enluaram o sertão...
Motivas meus sonetos, fomos vidas.
Destrambelhado bate o coração!
Marcos Loures


22

Muito bom ter sabido na viagem
Dos ventos benfazejos que trouxeste
Aliviando o peso da bagagem
Tornando o meu viver menos agreste.

A grácil silhueta desta diva,
Desfila em minha casa semi-nua,
Mirando no horizonte, segue altiva,
Trazendo para a Terra a luz da Lua.

Surgiste na hora certa. Eu não duvido
Que nada valeria sem te ter.
Quem dera se eu pudesse ter sentido
Outrora o que trazes com prazer.

É tarde, minhas mãos tão calejadas
Bem na hora da colheita, espedaçadas...
Marcos Loures


23



Muitas vezes, entregue aos meus tormentos,
Adormeço nos jardins dessa casa.
Sem saber, mergulhando numa brasa.
Procuro me esquecer dos velhos ventos,

Vagas vozes volvendo, ventos lentos,
Todos os totens, tolo o tempo atrasa.
O quanto que procuro se defasa
No jasmim nos jardins dos sofrimentos...

Em mim, nada assim, símio sinto o fim;
E cravo o desagravo dentro em mim.
Nos galhos da roseira sou espinhos...

Nas dálias, peito em tralhas fiz enredo
Desses lírios, delírios, meu segredo
Hibiscos, passarinhos... perco os ninhos...


24



Muitas vezes vencido por tormentos
Deitando nos jardins da velha casa,
Mergulhos, simplesmente numa brasa,
Queimado pelos tristes pensamentos.

Vagas vozes volvendo por momentos,
Tocam os totens. Tolo tempo atrasa,
Tentar sentir, ter sonhos... Nada embasa.
Nas urzes dos jardins, meus sofrimentos...

Sentindo o fim chegando para mim,
Cravando tais agravos, vou assim.
Das roseiras somente sei espinhos.

Das falhas cometidas, meu enredo,
Delírios e martírios vão segredo.
Deitando nos jardins... cadê meus ninhos?


8725

Muitas vezes um sonho ao se mostrar disforme
Arranca em pesadelo os gritos mais medonhos.
A mão que me tortura imensa e tão enorme
Tomando o inconsciente em formatos bisonhos

Avança sobre mim enquanto a rua dorme
E toca com vigor meus olhos tão tristonhos.
Não há, pois, na verdade alguém que se conforme
Ao ver tal heresia invadindo seus sonhos.

Percebo em cada dedo a seta inquiridora
Qual fora o meu pecado o que não se perdoa.
Um grito aterrador pelo meu quarto ecoa

Acordo em sobressalto e vejo a redentora
Presença deste amor. Solidão vai embora
A sudorese cessa... E a noite enfim se escoa...


26



Muitas vezes procuro a liberdade
Que possa permitir um passo além,
Aquele que minha alma não contém,
Estrela a passear pela cidade...

Prosaica sensação: tranqüilidade,
Mineiro coração aguarda o trem
Que um dia com certeza ainda vem,
Singrando Paraísos sem ter grade.

Por mais que se degrade esta esperança
Olhar de um seresteiro com pujança
Espreita a lua plena em raios tantos...

O tempo não descansa e nunca pára,
O verso que se enquadra desampara
E espalha sobre todos, desencantos...


27

Muitas vezes pesadas as palavras...
Estúpido, agredindo a quem tanto amo!
Embora nessas flores, minhas lavras...
Embora tantas vezes eu te chamo...

As palavras escapam e maltratam,
Palavras simplesmente sem desculpa...
As mesmas mãos carinham, mansas tratam,
São que cortam, ferem... Minha culpa!

Muitas vezes errante caminheiro!
Busquei teus passos, soltos no deserto!
Amo-te tanto! É certo e verdadeiro...

Meus dias sem te ter nas caminhadas,
São trágicas feridas, peito aberto!
Não sei por que palavras tão pesadas!
Marcos Loures


28


Muitas vezes deixei de caminhar
Por medo desta pedra pontiaguda.
Depois de me perder e me encontrar
Contei e fui feliz com tua ajuda.

Amiga, te agradeço a cada dia
O fato de eu poder sobreviver.
Se trago algum resquício de alegria
A ti eu reconheço o meu dever.

Somos tantas vezes machucados
Por quem imaginávamos amigo.
Às vezes nos amores, magoados,
Não temos mais ninguém, que dê abrigo.

Mas tive tanta sorte nesta vida,
De ter tua amizade tão querida...


29

Muitas vezes brincaste com, simplesmente
De forma leviana e tão venal.
Uma alma que se faz tão tola e mente
Não deixa nem resquícios no final.
Errante, sem sentidos, tolamente
Se coloca em distante pedestal.

Depois de tanto tempo percebi
O quanto fora estúpido, querida.
Em toda esta alegria que há em ti
O brilho mais sensível desta vida.
Sorriso de menina que perdi
Jogado em algum canto, em despedida.

Nesta amargura insana, o meu caminho,
Trilhado entre mil pedras, tanto espinho...


30

Mostrando quanto o amor se faz capaz,
Eu sigo cada rastro que ele deixa,
Vivendo em sua glória, o bem tenaz,
Não tenho em minha vida, qualquer queixa.

Num ritmo tão frenético, não paro,
Revigorando a força em carrossel.
O medo do destino, vil, amaro,
Esbarra nos teus lábios, fonte, mel.

Não quero mais carpir a solidão,
Tampouco me perder em plena estrada,
Deixando no passado algum senão,
Promessa de sonhar, sendo aguçada

Nos toques mais sutis de corpos nus,
Deixando para trás, o medo e a cruz...
Marcos Loures


31

Mostrando quanto é bom poder te amar
Por tantas vezes tive a rara glória
De ter em minha boca e paladar
O gosto que transcende uma vitória

O fruto que eu julgara inacessível,
Desejo soberano e sem limites
Agora que percebo e sei ser crível
Imploro: meu carinho, não evites.

Seguindo cada passo que tu dás,
Encontro o que almejara a vida inteira.
O quanto em harmonia eu sinto a paz
Imensa e com certeza verdadeira

Transforma totalmente o que eu pensara,
Manhã vai se mostrando bem mais clara...


32

Mostrando o sol intenso, claro e lindo
O amanhecer se fez em magnitude.
Enquanto em raios límpidos surgindo
O dia modifica uma atitude,
Forjando uma esperança em que deslindo
O vento que decerto, o rumo mude.

Colheitas entre frutos, grãos e flores,
Expondo em renascer, toda a riqueza.
Atado pelas mãos dos bons amores,
Eu sinto a força plena da beleza,
O céu traz em mosaicos tantas cores,
Parece que um bom Deus, agora reza.

Altares entre nuvens, olhos belos,
Rolando pelos céus, raros novelos.
Marcos Loures


33

Mostrando o que retrato, sempre o nada,
Minha alma insanamente vai perdida,
Numa expressão cruel e dolorida
A cada novo sonho, a derrocada.

Melodia infernal, agoniada,
Em fumo mais espesso esvaecida
Um mundo solitário, a paz acida
Uma esperança morre, desprezada.

O medo em meu caminho ninguém vê
Andando sem saber sequer porquê
Do quanto que pensei um dia ter

A sorte num momento desabou
Apenas o vazio, o que restou,
Tomando em agonia todo o ser...
Marcos Loures


34


Mostrando o que é sentir felicidade,
Amor já se assenhora de meus versos.
Passando por momentos mais perversos
Das trevas renasceu a claridade.

Agora esta alegria que me invade
Tomando num clarão ganha universos
Em cores e matizes tão diversos
Permitem vislumbrar tranqüilidade.

Adentro num segundo, o raro altar
Aonde amor se fez iluminar
Com rara precisão e magnitude

Aporto ao infinito nos seus braços,
Sorvendo a fantasia em teus abraços
No gozo que se dá farto e amiúde...
Marcos Loures


35

Mostrando o quão amor se faz capaz
De transformar o descaminho em glória
Quem sabe assim ao festejar vitória
Eu saberei desta palavra audaz

O beijo que em desejos satisfaz
Tornando esta emoção mais peremptória
Ao impedir volúpia de vanglória
Permitirá uma era feita em paz.

A lua que se entrega em preamar
Deitando sobre a terra o seu luar
Prateia toda a cena farta em luz.

Quando se faz no nosso amor viagem,
Decerto encontrarei uma ancoragem
Além do que a saudade reproduz...
Marcos Loures


36

Mostrando esta magia que tu tens
A vida em mansidão vem me tomar
Por vezes titubeio, mas tu vens,
E apóias cada passo que eu for dar,

Por mais que o céu se turve em negras nuvens,
Tu trazes emoção no teu olhar,
E assim ao demonstrar sagrados bens,
Tesouros da amizade a nos mostrar

Que o tempo: ser feliz se faz agora,
E a lua emocionada, o céu decora
Caminho mais sublime em que bebemos

Da glória que nos traz supremacia
Vencendo toda forma de agonia,
A chama que em carinhos convertemos.
Marcos Loures


37

Mostrando em paz profunda um raro tema.
A fonte não se esgota e traz de novo,
Veneno tão gostoso quando provo
Uma ambrosia rara, bela gema.

Querida; só te peço: nunca trema,
Senão a gente quebra a casca do ovo
E o verso que sair trazendo estorvo
Decerto causará qualquer problema.

Não quero baboseiras tão românticas,
Nem teorias tolas, meras, quânticas,
Apenas o que sirva ao meu proveito.

Demônios recebidos fui Mefisto,
Sabendo que ao amor nunca resisto,
A sina de ser teu; agora aceito.
Marcos Loures


38

Mostrando ao fim de tudo, falsidade
O tempo não trará nova notícia.
Talvez numa hora calma e mais propícia
A gente possa ter felicidade.

O barco noutra praia não invade
Nem deixa que preveja uma delícia
Nos olhos traiçoeiros, a malícia
Opacificará u’a claridade.

Nem tudo o que reluz traduz-se em ouro
Disfarço nesta busca por tesouro
Sabendo que ao final, nada me resta.

Beirando ao suicídio sigo em frente,
Às vezes vou cativo e penitente
No fundo, nosso amor, eu sei; não presta...


39

Mostrando ao fim da estrada um raro prado
Prossegue a companheira de viagem,
Amar é uma eterna aprendizagem,
Às vezes é melhor ficar calado.

Enfrento a calmaria e mesmo o enfado
Sabendo que virá em nova aragem
O dia desejoso e tão sonhado,
Prazer tendo em teu corpo uma estalagem.

Se díspares buscamos mesmo senso,
Diverso do que queres quando penso,
Procuro coordenar até o fim

Sabendo ser possível a unidade
Vivendo plenamente em amizade,
Encontro aqui, contigo, amor enfim.
Marcos Loures


40

Mostrando a sua bunda na janela
A moça se imagina a mais gostosa.
Coitada da menina berinjela,
Já diz sua vizinha mais vaidosa.

Enquanto em sua bunda ela revela
Inteligência assim, maravilhosa,
Vizinha desbocada vem e sela:
Rainha das estrias anda prosa.

Ao ver esta polêmica questão,
Da melancia ou mesmo do abobrão,
O que vale decerto é o requebrado.

O amor que em abundância já se fez,
Não deve perder nunca a sensatez
Tampouco quebrar sempre o mesmo estrado...
Marcos Loures


41

Mostrando a mais temível derrocada
O vento da ilusão já me deixou,
O tempo ao mesmo instante revoltou
A vida se tornando então, nublada.

Mudando a direção, noutra calçada
Passo titubeante demonstrou
Que nada do que fora ainda sou,
Resumo minha vida em quase nada...

Apenas vou seguindo cada rastro
Legado pelo amor, temível astro
Que trama com sarcasmo tal desgaste.

Encontro nestas sendas, simples marca,
Pegada que esperança ainda abarca
Deixada nos caminhos que trilhaste.
Marcos Loures


42

Mostrado em cada chaga, o fundo corte
Provocado com risos e ironias,
Palavras mensageiras mais vadias,
Fazendo da amargura fim e norte.

Esgares tão diversos dizem morte,
Além do que me verdade não farias,
Amordaçando o sonho, descobrias
O quanto é necessária alguma sorte.

Quilômetros e milhas percorridos,
Ninguém compreenderá tuas mentiras.
Por mais que insanamente tu me firas

Não bastam mais suspiros ou gemidos.
Do cálice que um dia, quis cristal,
Apenas vidro e corte, no final...
Marcos Loures


43


Mostra um firme caminhar
Quem peleja pela sorte,
Enfrentando céus e mar
Desconhece mesmo a morte

E nas ânsias de lutar
Desprezando em brilho o corte,
Entranhando devagar
Emoção que já suporte

Rasga a pele em cada espinho
Pedregulhos jamais teme.
Sem ter nada que o algeme

Acompanhado ou sozinho
Arrebenta uma porteira
Faz a dor ser corriqueira...
Marcos Loures


44

Mostra em glória tamanha nossas danças
A boca que beijando uma fornalha
Ao mesmo tempo morde e me agasalha,
Fundindo dissabor com esperanças

Enquanto noutro tempo ainda tranças,
Eu vejo no final desta batalha
A morte que estendo a cordoalha
Promete noites calmas e mais mansas.

Veria o que não pude desvendar
Nas tramas sem encantos do luar,
Coberto por néons na madrugada.

Arranco as tabuletas, piso a grama,
O fogo que não queima já me inflama
Deixando por final ainda o nada....


45

Mosaico onde demonstro os sentimentos,
Caleidoscópio imenso dentro da alma,
Fazendo de um amor, rosa dos ventos,
Tempestuosa noite já me acalma.

Incêndio das paixões, queimando lento,
A vida não trará, espero, um trauma,
Reflito enquanto a porta eu arrebento,
Quem sabe manterei, assim, a calma.

A barca naufragada da ilusão,
Ancora seus pedaços no meu peito.
O amor jamais serviu de atracação

Ser vil e não saber desta emoção
Que enquanto vai levando do seu jeito,
Explode com certeza, o coração...
Marcos Loures


46

Mosaico feito em braços, arabescos
Em refrigério sonhos que desfilo.
Momentos que enfrentei, dias dantescos
Tormento tão difícil de senti-lo.

Estilos diferentes, mesmo aprumo,
Estio dominando a direção.
Estrídulos distantes, perco o rumo,
Estímulo renova esta estação.

Na ação que tantas vezes eu reclamo,
Monção que assim me inunda, apaixonando.
Menção ao tempo amargo ainda exclamo
Noção do que vivi já destoando.

Andando, o peito aberto, exposto ao vento,
Bebendo o bom licor do sentimento...
Marcos Loures


47

Mosaico de emoções em corpo lasso
De tantas tempestades, neste instante
Buscando bem mais firme cada passo,
Seguindo mesmo assim, prossegue avante
Procuro disfarçar enquanto eu traço
Numa esperança um sonho radiante.

Assomando terrível ,dura fera
Enquanto a mansidão já se perdia,
A solidão algoz, que eu não quisera
Raiando, o caminhar não permitia,
Nas garras tão cruéis desta pantera
Jamais imaginei um novo dia.

Porém; por amizade, abençoado,
Renasço bem mais forte, do passado...


48



Morto de sede neste vasto rio
Por vezes não entendo o meu destino.
Com tantas águas, mágoas vão a fio,
E me desato um ato em desatino.

Alcançaria nuvens mais espessas
Se tantas harmonias fossem preço,
Que pago por viver sempre às avessas
Minha alma não se muda de endereço.

Na fome desse amor já me mantenho
Embora nunca saiba da verdade,
Na sede desse amor já me sustenho,
E nunca mais pretensa essa saudade.

Amor que sempre foi meu preferido,
Jamais será na vida, preterido...


49

Mortalhas que vesti são meus delírios,
Os prados que visito são falsários...
No fundo o que resta são martírios,
Tal qual corvo imitando estes canários.

Amores nunca foram bons colírios,
São males, com certeza, necessários,
Nas velhas procissões, derrubam círios,
Guardando a poesia em seus armários.

Degelo da esperança em pleno inverno,
Mormaço transformado em lava, inferno,
Virando as nossas vidas pelo avesso.

Será que inda teria alguma chance?
Sem ter uma palavra que afiança,
Teimoso, nova história eu recomeço...
Marcos Loures



8750

Mortalhas que carrego pela vida
No luto que eternizo em gozo pleno.
A carne que dourara, apodrecida
Promete após a morte um canto ameno.

Minha alma eviscerada vai perdida
Envolta em armadilhas, no veneno
De quem em ironia deu partida
Ao fim que necessito em manso aceno.

Nas tênues brumas vejo o teu olhar,
Crotálica mulher que se fez minha.
Molambo que hoje sou, ledo caminha

Aguarda este verdugo a trucidar.
Amores gargalhando com sarcasmo
Explodem; derradeiros, num orgasmo...


51

Mortalhas que vesti são meus delírios,
Os prados que visito são falsários...
No fundo o que resta são martírios,
Tal qual corvo imitando estes canários.

Amores nunca foram bons colírios,
São males, com certeza, necessários,
Nas velhas procissões, derrubam círios,
Guardando a poesia em seus armários.

Degelo da esperança em pleno inverno,
Mormaço transformado em lava, inferno,
Virando as nossas vidas pelo avesso.

Será que inda teria alguma chance?
Sem ter uma palavra que afiança,
Teimoso, nova história eu recomeço...
Marcos Loures


52


Mortalha que teceste, violeta,
Rasgando em garras frias, coração.
Apenas me restando a solidão,
Que um dia voltará como um cometa.

As ilusões se foram, incompleta
A vida não passou de uma emoção
Jogada na lixeira, resta o não
Palavra mais ouvida, fina seta.

Agora em meus caminhos, um deserto,
No vento da tristeza, amargurado.
O passo que não dei com peito aberto

Encontra na agonia, um ledo trilho.
Futuro eu não terei, morto o passado,
A mãe desilusão beijando o filho...



53

Mortalha abandonada em preamar
Jogada em plena areia, vai e volta.
Numa onda interminável viajar
Na imensidão do mar, noite revolta.

Estrelas espiando este cenário
Das dores entranhadas numa praia.
No canto tão amargo e solitário
A morte se aproxima e de tocaia

Espera um derradeiro brado agônico
Carcome uma esperança relutante.
A voz vai se perdendo e quase afônico
Esperança se esvai no mesmo instante.

Agora que não restam ilusões
Dominam, tal cenário, as solidões...
Marcos Loures


54


Mortalha a recobrir sela o segredo
Carregando os espectros dos meus sonhos.
O vento balançando um arvoredo
Em ritos, tramas, gritos mais medonhos

Assisto ao funeral da fantasia
Estendo os meus escombros nas calçadas.
A morte em noite negra quer e guia
Imagens de esperanças destroçadas.

Nós somos o que resta, nada mais.
A carne putrefeita em labaredas,
Resquícios estendidos nos varais
Vagando quais zumbis por alamedas

As almas passeando num zoológico,
Resumos de nós mesmos, necrológico.


55

Morreu? Bem, na verdade, mora aqui
O amor que escorraçaste a vida inteira.
Depois de ter passado o que perdi
Veredas encontrei, nova ribeira

O quanto que desejo e vejo em ti
Deixando assim de lado ainda cheira
E veste o coração que agora abri
Usando uma emoção como bandeira.

Moleque, o tal do amor já não sossega,
Adorna com espinhos os florais
E muda os meus enredos num segundo.

A cola nesta rede toma pega,
Amamos sobre pedras e jornais,
Nas tramas deste insano eu me aprofundo...


56

Morreste numa cruz, pobre judeu,
Depois de torturado feito um cão;
Parece que isto tudo foi em vão,
Caminho? A humanidade já perdeu.

Melhor se o mundo fosse então ateu;
Canalha travestido em sacristão
Vendendo cada gota de perdão,
Inferno está na moda, no apogeu.

Político safado e picareta
É quase um pleonasmo, com certeza,
O povo se vendendo pro capeta,

Fazendo do Teu templo um lupanar,
Lutando contra a forte correnteza,
Quem sabe possa enfim, te reencontrar...


57

Morreram em cruéis desilusões
As pétreas esperanças, fatais erros,
Do quanto foram luzes, emoções
Morrendo dentro em mim, frios desterros.

Ardumes me tomando olhar tão rubro,
Especiarias tive e não cuidei,
Agora em solidão eu me descubro,
Amarga sensação que eu entranhei.

A carne decomposta, nauseante
Aroma que se espalha pelas ruas,
Tivesse em pleno amor algum instante
Minha alma navegando em claras luas.

Mas resta tão somente o riso inglório
Irônico festejo em meu velório...
Marcos Loures


58

Mostrou que fui somente um passatempo
O riso em ironia da pantera
Que quer ou não serviu de contratempo
Causando cruel seca em primavera

Tempera a minha vida numa espreita
Tapera que se fez outrora casa.
Na lua que se entorna enquanto deita
Eu sinto o coração loução em brasa.

Loções que se aspergiram giram mundo,
As soluções somente foram chistes
O beijo em que se dá por um segundo
Imunda sensação de olhares tristes.

Depois que se passou este tormento,
Eu sinto a brisa mansa, em calmo vento


59

Mostrou o que é, em verdade, um grande amor
O riso alucinante, sem motivos
Aparentes. Do amor somos cativos,
Nos elos deste sol libertador.

Um novo amanhecer a se compor
Trazendo para a vida os aditivos
Que possam nos manter em glória vivos
Fomentos deste bem encantador.

Porém quando lembramos de outros dias
Distantes de emoções e fantasias
A dor residual vem e se acena,

Bebendo desta fonte tão salobra
Na trama que infeliz, já se desdobra,
O vento do passado inda envenena.
Marcos Loures


60

Mostrou algum resquício de esperança
O olhar tão carinhoso que me toca,
Palavra em mansidão já desemboca
Nas fozes que o amor, em paz alcança.

Trazendo num momento a confiança
Que tantas vezes quis em minha boca
Num beijo solitário, a vida enfoca
A possibilidade de aliança.

E mesmo neste inverno que inda trago
O toque tão suave e quase mago
Das mãos que se procuram e se aquecem.

Tu tens a redenção, esteja certa,
Amor se aproximando, num alerta
Expressa as fantasias que se tecem...
Marcos Loures


61

Mostrando, gloriosa, a nossa sina
A mão de uma mulher iluminada
Nos olhos de quem traz diamantina
Ternura e que se mostra dedicada,

Eterna sensação de ser menina,
Sonhando com castelo, reis e fada,
A boca delicada me alucina
E pede, sem saber pra ser beijada.

A moça se transforma num vulcão
Causando no meu peito uma erupção
Moldando uma alegria, assim, sem par.

Sentindo em nossa vida mansa aragem
O sol tomando em brilho a paisagem
Cenário em alegria a nos tomar...
Marcos Loures


62

Mostrando um novo encanto num instante
Uma ilusão se faz sublime e forte,
Cicatriza a ferida e cura o corte
E traz altivo porte, triunfante.

Com passos bem mais firmes, elegante
A vida mudaria toda a sorte,
Porém sem ter um cais aonde aporte
O barco vai sem rumo em mar distante.

Não quero mais mentiras e nem sonhos,
Meus ritos são doridos e tristonhos,
Não tendo a mão amiga e verdadeira.

Futuro desde agora decidido,
Não quero andar sozinho ou iludido,
Quem ama, na verdade traz bandeira.
Marcos Loures


63


Mostrando um cais seguro onde aportar
Depois de navegar sem segurança.
Agora quando encontro uma esperança
Estendo minhas mãos para o luar

E venho, mansamente dedicar
Um sonho mais gentil que já me alcança
Promessa de ser livre, em aliança
Com quem eu escolhi para adorar.

Castigos? Não mais temo, sem pecados,
Recebo de teus olhos os recados
E vejo: poderei seguir em paz.

Quem fora tão somente um sonho triste
Ao ver uma alegria não desiste,
Somente teu amor me satisfaz!


64

Mostrando que é possível ser feliz
Estendo uma esperança na varanda.
A sorte benfazeja já condiz
Com toda esta alegria que comanda

O sonho de um eterno trovador
Enamorado ser que não se cansa
De sempre revelar o bem do amor
Trazendo a vida calma e sempre mansa.

Por isso, num repente eu tanto falo
Do quanto necessito deste bem.
Eu quero ser cativo, e teu vassalo
Sabendo quando o sonho, agora tem

De uma realidade promissora
Vivendo toda a sorte desde agora.
Marcos Loures


65


Mostrando que amizade é nosso trilho
Vencendo toda a dor, quimera e fado,
Não vejo mais sequer um empecilho
Que impeça nosso passo sempre dado

Com força onde me apego e maravilho,
Atrás de um dia claro, assim, dourado,
O mundo redobrando cada brilho,
Deixando para trás todo o passado.

Somamos nossas forças, vamos juntos,
Na clara sensação de amor sincero,
Amiga, nós sabemos tais assuntos

Aonde transformar o que mais quero,
Seguindo par a par, sempre contigo,
Desfilo nos teus olhos, meu abrigo...


66


Morena tão sacana e safadinha,
Eu quero desfrutar de cada gozo,
Pelado procurando a peladinha,
Entrando num buraco tão gostoso;
Sacana, vou lambendo a meladinha,
Amor que a gente faz, maravilhoso.

Tacape vai entrando no escurinho
E sente estremecer qual um vulcão,
Prometo colocar devagarinho,
Até chegar gostosa inundação.
Eu quero que tu bebas bem quentinho
Enquanto vou bebendo o meu quinhão.

A gente na divina sacanagem,
Repete toda noite esta viagem...


67

Morena tão gostosa dos meus sonhos...
Eu quero desfrutar desta loucura
Delitos mais audazes e risonhos,
Na caça em que se faz nossa procura.

Sereia tão divina do meu mar
Teu canto me chamando para a festa,
Vontade de contigo namorar
O tempo desta vida que me resta...

Menina tão amada e mais querida,
Contente por ser teu e seres minha,
Do labirinto encontro esta saída
Direta pro teu leito de rainha.

E assim caminharemos gozo e canto,
No mundo que sonhamos, tanto encanto...


68



Morena sensual que sei sapeca,
Uma açucena rara,a tão bonita.
Bem sei que quando amável logo peca,
Meu coração tristonho já se agita.

É carne maviosa, uma bisteca,
Rebrilha nos meus olhos, qual pepita.
A fonte dos desejos logo seca,
Morena delicada, laços, fita...

Mas vejo que este amor não tem futuro,
Embora na morena, um bom perfume,
Ser enganado assim, querida, é duro.

Por isso estou alerta, aberto um olho,
Morena tão gostosa... meu ciúme,
Há muito coloquei barbas de molho!
Marcos Loures


69

Morena se fez vítima de quem
Vivera só por ela o tempo inteiro,
Agora em meu caminho sem ninguém
Apenas no vazio, um companheiro.

A vida me negando o que ela tem
De mais bonito e tão alvissareiro,
Quem dera se eu tivesse noutro alguém
Amor que necessito, verdadeiro...

Não vejo e nem temo a claridade
Apenas não consigo mais seguir
Meu rumo com total tranqüilidade

Por isso, minha amiga eu vou pedir
Um pouco de carinho e de amizade,
Senão não posso nunca prosseguir...
Marcos Loures


70


Morena quero estar junto contigo
No frio que este inverno nos promete,
Nas cores deste outono, o teu abrigo
Ao sonho mais feliz, cedo remete.
Em primavera bela assim prossigo,
O amor que a gente faz, sempre repete...

Estou atado a ti, não mais duvido,
Amor é nosso guia e companheiro,
Não deixo o sentimento num olvido,
Te quero aqui comigo, o tempo inteiro.
Eu te amo em cada passo decidido,
Amor em pleno mar, nosso veleiro...

Estamos para sempre, aprisionados,
Nos laços deste sonho, apaixonados....


71

Morena que não pude namorar,
Na praça das canoas vida mansa.
Morando sem demora de passar,
Carpina campineira, a dama dança

Amor amora morta vem morar
Na manjedoura, doura e não alcança
A vela que me leva leve o mar,
A praça que me embaça trava a lança.

Nas curvas que choveste me disponho,
Pagarei para ver se virá vera
Nada mais misturando mares ponho.

Ferida à derivar a velha dera,
Se nunca mais serei nunca mais é,
A vela que me leva, vai maré...


72


Morena que encontrei no Maranhão,
Deixando o coração em alegria,
Viajo tantas horas no sertão
Na busca deste amor que eu bem queria

A cachoeira desce em borbotão
Molhando minha pele em água fria
Nos olhos de quem amo a sensação
Da vida que em delícias se fazia.

Descendo pela estrada no meu carro,
Acendo mais nervoso outro cigarro,
O tempo de teimoso já não passa.

Vontade de beijar a tua boca,
Paixão alucinante me treslouca,
Teu rosto, uma miragem na fumaça....
Marcos Loures


73

Morena quando passa pela rua
Desfilas tal desejo em cada passo,
As coxas tão roliças, semi-nua
Meus olhos te seguindo, traço a traço...

Ah! Quem me dera estar num lago azul
Beijando a minha Iara, sob o sol,
No corpo de Iracema, brônzeo, nu,
Enfeitiçado como um girassol...

Vibrando de vontade da morena
Que passa tão depressa e nem me vê,
Guardando na retina a bela cena,
Procuro-te ao meu lado, mas cadê?

Na graça da morena, enfeitiçado,
Acordo e ninguém vejo aqui do lado...


74

Morena eu te queria aqui bem perto,
Eu sei que não é fácil conseguir.
Criaram entre nós mais que um deserto
Difícil, mas eu quero prosseguir...

São tantos os percalços, eu bem sei,
Mas nada vai deixar; amor que eu lute
Por tudo que mais quero e quererei,
Por isso, vem comigo e não relute.

A fruta proibida? A mais gostosa
Embora tenha a cerca a proteger,
Roubei neste canteiro a bela rosa,
Querida, p’ra te dar e convencer.

Tu és deste rosal a desejada,
Bem sei que a proibida... Mais amada!
Marcos Loures


8775

Morena balançando o meu coreto
Quebrando com certeza a sapucaia,
Carinho em profusão eu te prometo
Mas venha assim logo a noite caia.

Eu quero esconderijo predileto
Tu sabes que é debaixo desta saia.
Garanto que o jantar será completo
Dos corpos que caíram na gandaia.

Eu quero me embrenhar em teus cabelos
Fazer de nossas pernas mil novelos
E assim a noite inteira sem descanso.

Dançando este xaxado a noite inteira
Agarro na cintura, companheira
Garanto na verdade que sou manso...


76

Morena ao molho pardo, um gosto genial.
Depois de certo tempo, eu sei que isto fascina,
A boca desejada, o ciclo menstrual
Não tendo na verdade, alguém que me domina

Mergulho no teu corpo a trama sensual
E bebo gota a gota, o jeito da menina
Que traz no paraíso um gosto especial
Na rubra serventia, o quanto determina...

Não deixo de querer tampouco de buscar
O nosso bel prazer em lua, céu e mar,
Mas vejo que esta lua, a deusa avermelhada

Deitando bela e nua envolta nos lençóis,
Na flama que irradia, uma explosões de sóis,
Tornando a nossa noite, assim, ruborizada...


77

Mordisco tua orelha, de mansinho,
Nos lóbulos, delícias delicias...
Aos poucos esculpindo do carinho,
A sensação divina em que vicias...

Neste elixir suave que produzes,
Convites ao mergulho caloroso.
Teus olhos rebrilhando em tontas luzes,
Aguardam explosão louca do gozo.

Vassalo de teus sonhos ansiados,
Por tanto tempo espero esse pecado.
Teus mares-maravilha, navegados,
Mergulho no oceano, naufragado...

Não quero mais sair desta tua ilha
Onde o sol, natureza, sempre brilha...


78


Mordendo minha carne, tara e fome,
Devoras cada parte dos meus dias
No fogo que me ateias se consome
Este prazer em gozo, em agonias...

Depois de certo tempo vai e some,
Transtorna minha vida. Fantasias
Delírios e vontades. Tanto come
Quanto me retribuis em alegrias...

Espaços penetrados, marcas, dentes,
Os olhos se reviram, entontecem,
Amores se tornando mais urgentes,

Rondando cada parte, corpo à vista,
Na nudez dois caminhos se conhecem;
Fazendo com que a noite não resista.


79

Mordazes sensações, profundas chagas
Mostradas entre sorrisos e carícias...
Resquícios de distantes, outras plagas,
Misturam mansidão, gozos, malícias.
Ferina, mostra os dentes e me afagas,
Palavras carinhosas são fictícias...

Mas cedo ao teu feitiço e fico aqui,
Tal qual presa esperando pelo bote.
A faca que escondida, guarda em ti,
Quebrado há tanto tempo, mel e pote,
Nos olhos viperinos sempre li
Não tenho mais defesa que rebote

Os mórbidos momentos, noite e dia...
Mordazes refletores da agonia...


80

Morava num palácio esta princesa
Que um dia se tomou em fantasia
E quase se perdeu numa tristeza
Matando o seu amor, uma alegria...

Depois ao se encontrar sozinha um dia,
Sem ter mais esperanças, mas vaidosa
Rasgou o seu silêncio e me pedia;
De novo cultivasse aquela rosa

Regada com amor, neste jardim;
Porém tanta tristeza condenava
Pobre rosa a morrer antes do fim,
Bem antes do que dela se esperava.

A rosa em sacrifício se entregou,
Princesa descuidada, nem notou...


81

Morar na roça tem suas vantagens.
A lua em plenilúnio, magistral,
O galo anunciando no quintal
O dia que trará novas aragens,

Ao longe, no horizonte as paisagens,
Canto espetacular de um madrigal,
O vento balançando o milharal,
O feijoeiro expondo verdes vagens.

A broa de fubá; num belo ninho
O encanto de um sublime passarinho,
E o cheiro inebriante do café.

Mugido no curral, bezerro e vaca.
Mas também tem cupim e jararaca
E a maldita formiga lava-pé...


82

Moral quatrocentona é um absurdo,
Não posso com a podre burguesia,
Tampouco ficarei calado ou surdo,
Enquanto houver somente hipocrisia.

Não quero ser nem turco ou mesmo curdo,
Julgando esta moral bijuteria,
Apenas tão somente daqui urdo
O gozo que perfeito me sacia.

Prazer jamais trará felicidade!
Eu sei da diferença; um mundo harmônico
Nunca se disfarçou em tolo hedônico,

Mas não vejo nenhum mal quando o sexo
É feito com carinho, e sem complexo,
Não posso me calar defronte à grade.



83

Amor que me tortura e não revela
A noite que não temos, morre fria.
Aquela estrela brilha pois é dela,
A mão que me carinha vai vazia.

A sombra de teus olhos é tão bela.
A lua que me trazes, fantasia.
O tempo que passaste, na janela,
Não viste nem sequer raiar o dia...

Carolina menina que me mata
Meu mote que se perde sem refrão.
Calada tua voz já me maltrata

A vida sem teus braços, vai passando...
Quem dera um doce alento ao coração.
Príncipe no ultra leve foi... Voando...
Marcos Loures


84

Montanhas, cordilheiras, os condores
Voando livres, levam suas alas
Por tantas terras, Andes, casas, salas...
Nas asas dos condores, meus amores...

Nas selvas, pantanais, matas e flores...
Zunindo meus ouvidos travam balas,
As mortes nas conquistas tristes, calas...
O cheiro dessa terra, seu olores,

A lhama que sustenta tua fome.
A prata que roubaram, ouro e vidas...
Quando te vejo, paro, tudo some...

As marcas indeléveis, te sangraram...
Marcando pouco a pouco, essas feridas
Que trazes simbolizam: te roubaram...

As luas são mais belas nos teus mares,
As terras que invadiram, dividias...
Mãe serena, mancharam teus luares!


85


Montando o teu cavalo, nu em pelo,
Na noite em cavalgada, sou corcel.
Sentindo-te ofegante, em louco apelo,
Voando sem ter asas, ganho o céu.

Matando o que se fora pesadelo,
Bebendo cada gota deste mel,
Envolvo teus cabelos, meu novelo,
Apenas te recubro, braço e véu.

Usando a montaria com tal arte
Que faz com que eu delire e te ganhe
Na brasa deste sonho a desejar-te.

Por vales e montanhas infinitas,
As costas te pedindo que me lanhe,
Com garras afiadas. Caço as criptas...


86


Montando no meu jegue por aí,
Apenas nesta vida mais um Zé
Agora finalmente eu descobri
Um jeito bem melhor, andar a pé.

Não fosse este maldito do chulé
A moça que eu sonhava e que perdi
Ainda misturava com ralé,
Aonde é que se esconde? Nem a vi.

O mar que me navega, o do Paulinho,
O moço que em viola ou cavaquinho
Faz rimas tão gostosa de se ouvir,

Mergulha no teu braço amorenado,
E diz ao coração descompassado
Que o bom ainda está sempre por vir...



87

Montado no meu Pégaso, esperança
Sonhando com teu corpo. Vê se encosta
Que a vida se promete em nova dança.
Amar a quem da gente se desgosta
É sofrimento imenso. A noite avança
E a cabeça no meu peito... vem, recosta...

Assim posso chegar até sonhar
Com céu deveras claro, meu amor.
Bem sei que tanto quis o teu luar,
E há tempos que eu espero, sem calor.
Mas veja como é bom poder amar,
Compartilhar perfume em cada flor.

Quem sabe assim tu saibas como é bom,
Voltarmos a vibrar, tom sobre tom...


88

Montado no cavalo da ilusão
Entrando em teu castelo, em teu destino,
Recebo a baforada da emoção
Ao ver-te ali deitada, me alucino!

Vencendo, do castelo, estas defesas,
Invadindo teu quarto, nos umbrais,
Nas formas tão sutis delicadezas,
Desnudo-te no olhar e encontro a paz.

Princesa adormecida, te encontrei,
E quero me entregar aos teus delírios,
No leito da princesa, hoje sou rei,
Nossas batalhas nunca têm martírios.

Cavalgas mansamente teu corcel,
E loucos, nossos sonhos vão ao céu!

Marcos Loures


89

Montado no cavalo da esperança
Voando por espaços tão diversos
O coração moleque da criança
Espalha em seu caminho, risos versos.

Além da poesia, o vento alcança
No colo desta serra, os universos
O sonhador carrega suas lanças
Colhendo os astros tontos e dispersos.

Perversos descaminhos esquecidos
Entre estrelas, arreios e gemidos
A boca da manhã devora o sonho.

Assim, dois andarilhos que se tocam
Dois rios que em mil mares desembocam
Tornando o Paraíso mais risonho...
Marcos Loures


90

Montado em meu corcel, o pensamento,
Voando por espaços mais distintos,
Não quero sossegar um só momento,
Perdido em meus reinados sei que extintos.

Bebendo esta saudade como o vento
Guardados da memória ,mais retintos.
Montado em meu corcel, um sentimento
Forjado nos meus olhos, céus tão tintos.

Mulher, uma amazona da esperança
Que traz uma paixão quase inconteste.
A lua que se pôs, não é tão mansa,

A fúria tão intensa nada aplaca,
Na prata dos teus olhos, bela veste,
No peito me cravaste amor estaca..


91

Montado em meu cavalo,o pensamento,
Vagando pelos campos sem destino.
Distante das angústias e tormento
Além do que sonhei ou imagino.

No doce galopar deste momento,
Morena que embalava este menino,
Fazendo meu terreiro, sentimento,
Cabendo em cada canto, em ti me afino.

Da antiga namorada, belos seios.
Em nova sensação tu me revelas.
Cavalo se perdeu sequer arreios,

Galopas noite afora, sem cansaço.
Deitando sobre mim, sequer as selas;
Depois nos entregamos, num abraço...


92

Morrer sem ter vivido plenamente,
Não deixarei sequer sombra ou saudade,
Fantasma andando a esmo na cidade
Uma alma sonhadora e penitente...

Do amor colecionei gaiola e grade,
O quanto que te amei tão tolamente,
Apenas o vazio se pressente;
Na cova enfim terei tranqüilidade...

“Jazigo da esperança” me chamaste,
Um poeta do amor? Torpe contraste
Com esta realidade que apresento

Num verso derradeiro exponho a face,
Por mais que a fantasia, tola embace
Aos poucos decomposto, em fogo lento...
Marcos Loures


93

Morrer num mar de amor que vai e vem,
Em ondas toca a areia, beija a praia.
Depois de tanto tempo sem ninguém,
No encanto de teus olhos, sol se espraia

E muda a direção. Sigo também
O balançar sutil de tua saia,
A força que este encanto agora tem
Tomando este cenário, nunca saia.

E volte a cada noite em fantasia,
Nas águas do oceano do desejo.
Além do que pensara ou que prevejo

Um sonho interminável que se cria.
Fazendo da alegria o seu refrão,
Morrer num mar de amor, doce ilusão...


94


Morrer no nascedouro? Desencanto.
O amor não deve ser arma letal,
Nem mesmo ter a dor por ritual,
Se à noite fizer frio, és o meu manto.

Não quero adivinhar se houve quebranto,
Se quis arquibancada, na geral
Na lauta refeição faltando o sal
Deveras provocando medo e espanto.

Logrando melhor sorte; eu quis amor
Sem ter o que tirar, tampouco pôr,
Talvez tenha chegado por osmose.

No quadro desbotado da lembrança.
O terno coração mata a criança
Bem antes que o futuro veja e goze...


95

Morrer na juventude, em minha aurora,
Sem ter satisfação de ter vivido.
Amor por tanto tempo comovido
Permite que se chegue essa triste hora.

Não posso resistir, minha alma implora,
Ao tempo que não cabe, dividido,
O beijo que te dei, já vai partido.
Minha alma sem sossego, não demora.

Não quero conhecer o Paraíso
Sem ter que revelar o que preciso.
É como não haver sequer a sorte.

A dor responde sempre que não deixa
Amor cariciando uma madeixa
Dos cabelos terríveis dessa morte.
Marcos Loures


96

Morrer do amor intenso e sem juízo
Qual fora um byroniano pós moderno;
Jamais eu arcarei co’o prejuízo
Em mangas de camisa, esqueço o terno.

Se em nuvens, vem em quando ainda piso,
Na crua realidade eu já me interno
A morte chegará sem dar aviso,
Mas não farei da vida um pleno inferno.

Não morrerei do amor; pois nele vivo,
Por mais que seja assim, convidativo
Falar com verve estúpida e imbecil

Lirismo? Meu amigo! Paciência...
Não cumpro por viver tal penitência
Meu verso abandonando o velho ardil...


97

Morrer depois de ter uma alegria
Fingida, mas decerto alentadora.
Sonho que se foi sem ter demora
Deixando como herdeira, esta agonia.

Ouvir a voz que insólita dizia
Do quanto a fantasia revigora,
Porém quando esperança vai embora
A noite, sem suporte já se esfria...

Eu quis amar, um erro que eu admito,
Quisera que em minha alma, aço e granito
Talvez eu não sofresse tanto assim.

Romântico poeta, um sonhador,
Bebendo desta fonte feita em dor,
Eu vejo aqui tão próximo, meu fim..
Marcos Loures


98

Morrendo sem ter flores, jardineiros
Dos sonhos delicados, seguem vãos,
Pudessem semear sublimes grãos
Com toda precisão em seus canteiros.

Espinhos entranhando em suas mãos,
Os cortes mais profundos; derradeiros,
Matando os ideais puros, cristãos,
Das trevas e dos medos, são ceifeiros...

Invernos se sucedem dia-a-dia,
Granizos, neves, temporais diversos.
Nas estéreis paisagens vão imersos

Os sonhos. Quando a noite vã se esfria
Apenas o lamento feito em dor,
Vazias mãos de um velho lavrador...
Marcos Loures


99

Morrendo pouco a pouco; faca em riste
O corte se aprofunda em minha pleura.
O quanto de esperança ainda existe
Gerando a solidão; qual fora neura.

Ao ver a garatuja num espelho
Colhendo os cacarecos do que fui
Ao fardo que carrego me assemelho
Enquanto o que passara ainda flui

Expondo os meus resíduos; sigo em frente
E mesmo assim não posso mais sonhar
O quanto que viver faz continente
Daquilo que pensei pudesse mar.

Não vejo outro cenário senão este.
O fim das ilusões que tu me deste.


8800

Morrendo abandonada, amarga e triste
Quem fora solidão se leva ao léu.
De um pássaro esse amor se fez alpiste
Permite que se eleve e ganhe o céu.

A par desta vontade não me esqueço
Do quanto ser feliz é meu destino.
A vida muitas vezes cobra um preço
Maior que pensara ou imagino.

Talvez inda consiga transformar
Em parto o que se fez cruel aborto.
Entranho o pensamento, ganho o mar,
Só falta estar contigo, ter meu porto.

A porta em fantasias segue aberta
Enquanto amor deveras me desperta.


1

Moreno carpinteiro, meu amigo.
Tantas vezes perdido em meu caminho,
Na busca por um colo, um bom abrigo,
Julgara-me tristonho e tão sozinho.

Às vezes nem sei mesmo se prossigo,
Por outras, me sentindo um passarinho
Contando tão somente, aqui, contigo,
Recebo o Teu abraço, o Teu carinho...

Quando as carnes cortadas, chagas puras, Quando os olhos perdidos, sem ter rumo.
Nas esquinas da sorte, só torturas,

O sangue se esvaindo, pobres sumos.
Te percebo companheiro e camarada,
A vida se transforma, abençoada....


2

Monopolizaste Deus,
Teu escravo e teu Senhor.
Os meus pecados são meus
Nunca foste protetor.

Meus dias não são ateus
Não conheces minha dor
Tais poderes não são teus
Nem é luz sequer calor!

Queres traficar perdão!
Impossível te conter
Queres ter a primazia!

Não quero essa comunhão
Sou do Pai, um qualquer ser.
Me dás noite e quero o dia!
Marcos Loures


3

Monólito. É assim que vejo o amor
Que nada pode ao menos arranhar.
Tomado por encanto e por torpor
Indestrutível sonho a nos tocar

Num sentimento imenso eu acredito
Sabendo que jamais se romperá,
Distante da frieza de um granito,
Eu quero a intensa chama desde já

Vulcânica explosão que nos aquece
Derrama incandescências sobre nós
Mosaico de emoções nos enternece
Vencendo a tempestade mais atroz,

Fertilidade espalha sobre a terra
Na força insuperável que ele encerra...
Marcos Loures


4


Montado em meu cavalo ganho o céu
Levando na algibeira o teu retrato.
Quem dera galopasses teu corcel
Mostrando este sorriso, nosso trato.

Da boca desejosa escorre o mel
Que beija e que lambuza, raspa o prato.
Deitada em minha cama, tiro o véu
Morena sertaneja lá do Crato

Eu quero o teu desejo, rente ao chão,
Trotando teu cavalo sem parar,
Embola teu prazer neste alazão

Depois de ter matado toda a sede,
Mais gostoso é poder recomeçar
Toda essa montaria numa rede!

Marcos Loures


5


Montada num cavalo e seminua,

Em todos os meus sonhos, tu estás;

A mão ao me tocar, logo recua,

O desejo transtorna minha paz...


Donde vens? Amazona mais bonita,

Tua pele morena, olhos morenos...

A crina e o cabelo, tudo agita

Nos campos e nas relvas, mais serenos...


Ao seguir o teu perfume já me perco,

E penso que encontrei felicidade

De toda esta beleza que me acerco

Encontro profusão de claridade...


Porém o teu perfume me alucina,

E já te denuncia, m’a menina...



6



Momentos de prazer e de loucura,
Caminhos percorridos noite afora
Na rara plenitude da ternura
Meu corpo em tua pele se decora.

Depois de tanto tempo em vã procura
Vivemos cada gozo que se aflora,
Agradecendo sempre esta ventura
De ter quem tanto eu quero, sem demora.

Sabemos da magia deste instante
Que torna a nossa vida bem melhor.
O olhar que se debruça, fascinante

Acendendo o farol das emoções.
Num cenário divino, o bem maior
Explode, dominando os corações...
Marcos Loures


7

Momentos de grandeza em meio à lama,
Viscosas emoções entre louvores,
Assim ao proclamar nossos amores
Fortuna mais diversa, uma alma trama.

Ao encarar surpresas, o ser que ama,
Cultua sem saber frágeis andores,
E embarca em tais caminhos tentadores,
E, tolo, quer a paz, cultiva dores.

Desarmonias forjam falsos lumes
Que, opacos, se perdendo em tais estrumes,
Confundem este estúpido andarilho.

Na Gênese do encanto, um disparate,
Vendendo flores rudes, se combate
A imensa e rara luz com fátuo brilho...


8

Molhando, acende o fogo da paixão
E faz tal reboliço em minha vida
Que aos pouco vou perdendo a direção
A colisão se mostra divertida.

Perguntas sem respostas ou saída,
O mar em que embrenhando imensidão
Às vezes numa farpa recebida,
Vazio vai secando todo o chão.

Eu vejo o teu retrato no meu rosto,
Embora tantas vezes mal exposto
Amplia uma verdade que não sinto.

De todo bem que tenho em meu caminho,
Cedendo a força imensa de um carinho,
Inundo de desejo o teu recinto...
Marcos Loures


9

Moleque, mal sabia das proezas
Dessa moça escondida no quintal.
Seus olhos me comiam feito presas
De uma arapuca assim, fenomenal.

Depois fui perceber as tais belezas
Das pernas revirando o matagal.
As tardes se passavam mais acesas
Debaixo deste sol, suor e sal...

A moça disfarçada em clara estrela
Pulando uma janela já sabia
Que a noite iria ser louca e vadia.

Sem pejos de tentar ir convencê-la,
Um assobio simples bastaria
Dos grilos e dos sapos, cantoria...


8810


Moleque tão travesso nas calçadas
Olhando as pernas belas que passavam.
Desejos e vontades alcançadas
Nas noites que gentis se enluaravam.

Rasgando destemido, estas estradas,
As ruas sem limites se mostravam,
As carnes nas janelas desnudadas
Segredos infalíveis se contavam.

Namoros escondidos no jardim,
As ruas eram feitas de balão.
O mundo era pequeno para mim,

Tão grande, com certeza, o coração.
Agora a vida vem chegando ao fim,
Traz-me este gosto bom: recordação..


11

Moleque que se fez em desperdício
Bebendo a tempestade e rindo tanto.
Ladrando a noite inteira como um vício,
Morrendo em ironia, cada canto.

Beijando a moça bela, um precipício.
Salgando o velho mar lambendo o pranto.
No viço das morenas, meu ofício.
Meu karma se perdendo em desencanto.

Alcanço uma manhã como quem neva
Deixando o meu prazer na doce treva
Que ronda e não descansa a vida inteira.

Noctâmbulo fantasma; eu me alucino,
Uma alma vadia, meu destino,
Na bela meretriz, a companheira...

12

Moleque quando andava nas calçadas
Bem reparava a bela que subia,
As saias pelos ventos levantadas
Deixando a molecada em euforia.

As frutas dos vizinhos, se roubadas
Traziam para a turma uma alegria,
Depois nos campos- várzeas, as peladas
A gente foi feliz, disso eu sabia.

Agora uma barriga que é burguesa
Se lembra das lombrigas e cupins.
A mãe chamando a turma para a mesa,

Café com broa, pão, doce de leite.
Bermudas de Tergal, nada de jeans.
Viver era tão bom: doce deleite...


13

Moleque mais travesso e tão traquinas,
Criado em liberdade, sem juízo.
Olhando para as pernas das meninas,
Promessas de encantados paraísos.

Cavalo no galope, soltas crinas,
Na boca iluminando um bom sorriso,
Debaixo dos lençóis as mãos tão finas
No toque mais gostoso, assim, preciso.

Menino que cresceu em águas claras,
Morrendo na velhice sem remédio.
Feridas se transformam em escaras,

As horas de prazer, amigo, raras,
De noite a mocidade faz assédio,
A vida em contraponto é puro tédio...


14

Moleque atrás de um sonho segue arisco,
E beija fartas luas sertanejas.
Na boca da manhã, maçãs, cerejas
O amor inda se esconde: é bom petisco,

E quando em saltos tolos, eu me arrisco,
Distante tu gargalhas, mas desejas
A queda insofismável e lampejas
Quebrando sem ouvir tal tosco disco.

Chispando pelos céus do interior,
Riscando em frágeis tons, matizes vários,
O canto persistente dos canários

O joio valoriza o plantador.
Colheitas no futuro? Não me importa,
Apenas adivinho atrás da porta...


15

Moldura em que minha alma se encontrou,
Criada pelas mãos de um ser supremo,
Ao lado de teus passos nada temo,
Caminho que esperança vislumbrou.

O Céu que em fantasias se desnuda
Persegue com seus brilhos as pegadas
Deixadas pela deusa nas estradas
E a natureza, pasma queda muda

Ouvindo a tua voz que me apascenta,
Paixão mesmo feroz e violenta
Amansa-se em teus olhos tão serenos.

Mergulho meus anseios em teu colo,
Semeio as alegrias em teu solo
E durmo em braços fartos e morenos...
Marcos Loures


16

Moldando um dia claro; enlanguescente
Uma alvorada em rara magnitude
Trazendo; ao nosso amor, plena saúde
Belezas deste prisma iridescente.

Carinho que se pede é o que se sente
Buscando ao fim da tarde, a juventude.
Amando, com certeza mais que pude
É certo que andarei sempre contente.

Sem medo de mortalha, véu ou luto,
A voz desse desejo; agora escuto,
O coração batendo em disparada.

Buscando conhecer cada fronteira,
Desbravador fincando uma bandeira,
Exploro cada ponto de chegada...
Marcos Loures


17

Moldando o nosso amor em vários ritos
Palavras já traduzem as vontades
Distante de ilusões, temíveis mitos
Aplaco nos teus braços, as saudades.

Amor com suas setas me atingindo,
Um alvo muito fácil, isso eu não nego,
No espelho de minha alma refletindo
Promessa em ventanias, de sossego.

Por vezes me pegando distraído
Amor se mostra audaz, noutras sereno.
Em calmaria acende uma libido
No gozo mais suave eu me enveneno.

Em meio a fartas trevas radiantes,
Perfaz Amor, caminhos intrigantes.
Marcos Loures


18

Moldando nossa vida em bons desejos
Quedando sobre nós carnais anseios.
No frêmito infinito, sigo os veios
E esqueço que já tive ou tenho pejos.

Ouvindo maravilhas em arpejos
Seguindo minha mão sobre teus seios
Eu deixo-me encantar pelos enleios
Num mundo mais sereno, nos cortejos

De estrelas que entrelaçam-se nos céus
Alvíssaras previstas, altaneiras.
Retiro de teu corpo os alvos véus

Em frágeis emoções tão verdadeiras,
Aqueço-me em teus lábios doces méis
E loucos, galopamos mil corcéis...
Marcos Loures


19

Moldando em maravilha todo astral
Aquela que se fez perfeita amiga,
Deixando bem distante todo o mal
Tramando a nossa sorte em forte viga.

Teu braço sempre forte e sem igual
Toda a felicidade enfim abriga
Permite que se faça triunfal
Unindo nossos sonhos rara liga.

Ao aniversariares companheira
A terra se colore por inteira
E faz do brilho intenso, seu matiz.

Pois saiba que decerto estou contente
Assim como bem sei que toda a gente
Encanta-se e se mostra mais feliz.
Marcos Loures


20

Moldando em glória o rumo que eu mais quero
Estendes os teus braços. Num mergulho
Esqueço do passado um ledo orgulho
Descubro a sensação que tanto espero

Sorvendo em tua pele, o bom tempero
Deixando para trás o pedregulho,
A solidão não passa de um entulho,
Cuidando deste amor com tanto esmero...

Estendo as minhas mãos buscando as tuas
Enquanto nesse sonho tu flutuas
Levito de prazer, e quero mais.

Estrelas coletadas no caminho,
Cevadas com palavras de carinho
Iluminando assim nossos bornais...
Marcos Loures


21

Moldando amor perfeito que declaro
Nos versos que eu te faço a cada dia,
Tomado pela luz da poesia
Encontro nos teus braços meu amparo.

O mundo que se fez outrora amaro,
Num apogeu promete esta alegria
Que há tempos esperança já dizia,
O espelho – mais tranqüilo- agora encaro.

Esplendidas manhãs que assim prometes,
Numa ilusão coberta de confetes
Estendes os tapetes da emoção.

E vivo tão somente por sonhar
Com o raro brilho expresso em teu olhar,
Na dádiva sublime da paixão.


22

Moldando a mais divina liberdade
Em meio a tantas pedras no caminho,
O canto de um amor em amizade,
Demonstra o caminhar ledo e sozinho
Daquele que sedento de vaidade
Esquece quão importa um bom carinho.

O amor na plenitude do perdão,
Permite uma amizade que se cante,
Deixando para trás a solidão,
O medo de viver queda distante,
Encontra a mais sublime perfeição
Vivendo lado a lado a cada instante.

Amiga, meu amor eu te ofereço,
Apoio mais seguro num tropeço...
Marcos Loures


23


Moldada por esparsos sentimentos
A poesia unindo corações
Exposta à profusão dos vários ventos
Trafega por diversas direções.

Às vezes calmaria, outras tormentos
Ao traduzir assim as emoções
Enquanto fere mostra bons ungüentos
Apascentando em plenos turbilhões.

Gerando e destruindo; reproduz
A escuridão disforme ou plena luz,
Mosaico indescritível e prismático.

A mão que a quem tropeça, cedo apóia,
Lapida tanto o podre quanto a jóia,
Por isso ser poeta é ser lunático...


24

Moldada em maravilha, sonho e estima
Vontade de chegar perto de ti,
Amor é muito além de simples rima,
É tudo o que sonhei, e quero aqui.

Atando nossos corpos, mãos além,
Roçando em fantasia cada poro,
Guiando o pensamento, o gozo vem,
No corpo que vasculho e já decoro.

Intenso fervilhar, dança febril,
Partilha que se busca sem demora,
O lábio mais audaz segue sutil,
Meu corpo flutuando nega escora

E vaga no infinito de teus seios,
Descobre em tuas sendas, ricos veios...



8825


Molambo de minha alma andando pelos becos
Rosnando em cada esquina, investe contra todos.
Movida ao nada tenho; apenas traz engodos.
Em outras almas busca a ressonância em ecos.

Andando sem destino, entre bares, botecos
Minha alma se embriaga e nunca tomo modos!
Depois numa sarjeta esfrega-se nos lodos
Jogada em algum canto, uma alma em cacarecos!

Alma destrambelha e bebe da saudade
Recebe em fogaréu o vento da lembrança
Que queima devagar e aborta uma esperança.

Depois de ter caído em festa, gozo e dança,
Minha alma inda persegue alguma claridade
Posso contar então com a tua amizade?


26

Modéstia à parte, eu sei fazer soneto
E disso me envergonho ultimamente.
A poesia morre infelizmente
Nos braços sem calor de um poemeto.

Existem resistentes, frágil gueto,
Porém esta visão tão infreqüente
Traduz o amargo fim que se pressente,
Perdoe se algum erro; aqui, cometo,

Talvez seja somente teimosia
De um velho ultrapassado e sem talento.
Recolho algumas flores – heresia.

Convites para o féretro virão,
Ao fim da tarde o seu sepultamento,
Soneto – antes que emane podridão...
Marcos Loures


27

Mocidade, distante, leva o vento...
Um pálido retrato na parede...
Exponho toda a dor do pensamento,
Procuro meus amores, tenho sede...

Distante, vai ao vento a mocidade...
Ardendo nas fogueiras da beleza,
De um tempo que jamais será verdade.
Dos cantos de esperança, viva presa...

Fecho meus olhos! Nada mais terei...
O gosto deste orvalho, nunca mais...
Rocio de minha alma foi a lei.

Porém essa implacável, fria fera;
Responde: mocidade? Não, jamais!
Inverno destronando a primavera!


28

Mocidade vibrante, me estonteia...
Audácias e desejos são constantes.
Nas luas e nas ruas tece teia,
Viaja por planetas mais distantes.

A noite, nas delícias, incendeia,
Os raios do luar, simples amantes...
Nos cantos e motéis, noturna ceia,
Os corpos se entrelaçam, delirantes.

Mocidade... Faz tempo que não vejo...
Meus carinhos dormitam na incerteza,
O peito, démodé qual realejo,

Na visão de teu corpo se alucina...
És manto de pureza e de beleza.
Por que tu demoraste, Catarina?


29

Mocidade terrível fantasia,
Que nos leva a loucuras e delírios!
Dores e fantasmas numa orgia
Misturando cegueiras e colírios.

Vagando entre mistérios forja o dia
Amiga iluminada dos martírios.
Vencida nunca morre a maestria
Saber que podres águas brotam lírios...

Nascente de fantásticas canções,
Trazendo chocolate tão amargo;
Multiplica temores, aversões.

Se ri do que jamais soube enfrentar
E chora, do que sempre passa ao largo,
É noite que promete seu luar...
Marcos Loures


8830

Mocidade perdida nestes bares,
Nas lamparinas, tontas borboletas...
Voando livremente, buscam ares...
Nos céus vão navegando meus cometas...

A mocidade morta, velhos mares,
Nas bocas que beijaste, prediletas...
Estrelas e galáxias, constelares
Transcendem as cantigas dos poetas...

Quem dera a juventude desse bis,
Os medos não seriam companheiros...
À noite mariposas mais gentis,

Nos templos da saudade, meus parceiros.
No corpo da fogosa meretriz,
Amores que se foram, verdadeiros...
Marcos Loures


31

Moça num faça comigo
O que vancê qué fazê;
Meu amô num é castigo
Pois ele é tudim procê;

Sô sujeto que trabáio
E gosto de trabaiá
Nesses forró eu num cáio.
Pois nem prindi a dançá;

Mas eu quero seu amô
Eu quero tudim prá mim,
Venha cá faiz o favô
Eu pércizo di carim.

Tanta dô qui tem se cura,
Só na tua fermosura...


32


Moça bonita, quero o teu desejo
Te vejo a cada instante dentro em mim,
Se perco meu caminho, tanto pejo,
Vivendo por viver, te quero sim...

Tua pele que cheira igual jasmim,
Nau perdida, me encontro dentro em ti.
Achando esta esperança vou enfim,
Afim desta emoção que já perdi.

A cereja da boca da morena,
Açucena gostosa posso ver,
Amor vem devagar, vê se tem pena,
Apenas do teu lado vou viver.

Eu quero lambuzar tua boca,
Vem logo que a vontade é muito louca...


33

Moça bonita há tanto quero ter
O gosto destes lábios junto aos meus
A jardineira sem camélia? Adeus.
Não mais suporto a vida sem prazer.

Sem ter sequer motivos para crer
Meus olhos morrem sem teus céus, ateus.
Me afasto pouco a pouco deste Deus
Que cisma toda noite em te esconder

Entre as estrelas tão distantes; vago
Buscando tão somente algum afago
E nada encontro no horizonte frio.

Moça bonita; aonde posso, enfim,
Se o amor transborda e vai pesando em mim
Negando a luz; tornando o sol sombrio...


34

Momentos que sonhei. Somente o pó...
Sementes que joguei sobre os penhascos,
Vazios, encontrei seguindo só;
Quebrando sem cuidado, os velhos frascos.

Alheio ao que talvez fosse colheita,
Mecânica expressão de rima e verso,
A lua tão distante se deleita
Rondando sem descanso este universo.

Joguetes de nós mesmos. Nada temos
Sequer a solução, somente enganos.
Os barcos soçobrando sem os remos,
Os dias que vierem; desumanos,

Trarão esta resposta que buscamos,
O fogo irá queimando folhas, ramos...

35

Momentos que passamos lado a lado,
Certeza de ternura e de carinho,
Arando uma esperança, firme ancinho,
Premissa de um jardim tão bem tratado.

Primaveril cenário, belo prado,
As mãos cultivam flores, de mansinho,
Da glória em absoluto eu me avizinho,
Diamantino amor, dourado Fado.

Na intensa eternidade de um segundo,
Delírio abençoado; eu me aprofundo,
E vejo o tão sonhado Paraíso.

Minha alma de delícias já se inunda,
Certeza de uma senda que, fecunda,
Permite um caminhar claro e preciso...
Marcos Loures


8836



Momentos nossos. Sobraram lembranças
De um tempo tão feliz. Eu não sabia
Que a vida nos permite a fantasia
Imersa em luzes calmas, doces, mansas;

Mal pude acreditar que estas bonanças,
Morressem sem cuidado, dia-a-dia,
E quando percebi: noite vazia,
Deitando solitário sobre lanças...

Não vejo mais saída e; assim, perdido,
O amor que eu encontrei quase esquecido,
Apenas no perfume de uma flor

Deixada nalgum canto do jardim,
Invade derramando sobre mim
Os últimos tentáculos do amor...


8837

Momentos maviosos e diversos
Tornando uma emoção mais corriqueira
Meu canto contemplando os belos versos
Que fazes; minha amada e companheira.

Depois de tantos passos mais dispersos,
Razão para viver se mostra inteira.
Os dias não serão jamais perversos,
Na lua deste amor, mais verdadeira

Razão para seguir em noite imensa,
Depois de tanta treva, a recompensa
Dizendo bem mais forte para mim

O quanto é necessário poder ter
Felicidade em forma de prazer
Gritando em nosso amor, eterno sim...
Marcos Loures


8838

Momentos fascinantes, sem medida,
Desejos e delírios desfrutados.
Distantes dos castigos e pecados,
Seguimos pareados pela vida.

Tristeza há tanto tempo já se olvida,
Vislumbre de floradas, belos prados,
Por gozos e prazeres, irmanados,
No amor que tão constante, não duvida.

E vejo nos teus olhos a alegria
Que emana de minha alma sonhadora,
E enquanto se destila a fantasia

Bebemos a fartar desta aguardente
Te quero sem perguntas, nem demora,
Tomando num segundo o corpo e a mente...

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