terça-feira, 29 de junho de 2010

39101 até 39200

1


Na savana angolana,
No norte fluminense
Aonde quer que eu pense
A sorte já se dana
O mundo desengana
E nisto quem convence
Deveras recompense
A morte em voz profana,
Vencer ou mais lutar
E tento imaginar
Qualquer cenário aonde
A vida sem defesa
Adentre a correnteza
E nada mais se esconde.

2


Estou apaixonado?
Há quanto não sabia
Que ainda houvera um dia
Aonde desvendado
Caminho decorado
Em dor e hipocrisia
Mergulho em heresia
Gerasse novo enfado,
Ridículo poeta
E nisto se completa
A vida de um fantoche,
Agora após a festa
Quando a mortalha resta
Expondo-me ao deboche.

3

Lembro-me da menina
Que há tanto; a vida nega
E sei quando navega
Por mar e se destina
À velha foz ladina
Aonde a fonte é cega
E tudo sem entrega
Não mais me determina,
Deteriorado passo
E nisto me desfaço
Do quanto pude ou menos,
Vencido em tal tocaia
A vida já se traia
Em ritos nunca amenos.

4

Seus olhos, meu farol;
Um dia pude ver
E quando me perder
Ausente céu e sol,
Mergulho no arrebol
Das ânsias do querer
Sabendo não conter
Sequer um riso em prol,
Vagando em noite escusa,
A sorte tanto abusa
E nega qualquer messe,
Medonha face aonde
O nada me responde
E a morte enfim se tece.

5

Vontade de voltar
E ver a cada instante
O quanto me garante
Ainda algum lugar,
Diverso caminhar
E nele este inconstante
Delírio onde agigante
O imenso e claro mar,
Mas nada do que eu pude
Mudar esta atitude
Gerando a paz em mim,
Se a morte se aproxima
E doma todo o clima
Destroço, eu viro enfim...

6



Distante, no Brasil,
Meu mundo em derrocada
A sorte desejada
Jamais alguém a viu,
O tempo em vago e vil
Caminho diz do nada,
A fonte desenhada
Há muito presumiu
Em sal e sol e fúria
O corte em tal penúria
Não deixa que se creia
Senão nesta mortalha
Aonde em vão se espalha
Desfaz da vida a teia.

7


Quem dera viajar
E ter a cada instante
Um mundo fascinante
E nele me entranhar,
Vencido em desejar
O quanto se adiante
O tempo em tom constante
E nada a perguntar.
Mas vejo esta parede
E nela presa a rede
Atando-se em corrente
No chão a mesma esteira
Sobeja companheira
Única e persistente.

8

E num segundo só
Depois de tantos anos
Em fartos desenganos
A sorte sem ter dó,
O vento a mão vazia
O risco de saber
Se eu tenho algum prazer
Aonde não teria
Somente vejo e tento
Vencer a minha dor,
E morto em desamor
Seguindo mesmo atento,
Resido no passado
E nada levo ao lado.

9

A lua no sertão
O manto em cores prata
A sorte sobre a mata
Diversa imensidão,
Os olhos não verão
A face mesmo ingrata
Que tanto me maltrata
E nega esta amplidão,
A lua, o medo a adaga
A sorte nunca afaga
Quem traga esta esperança,
O tempo em virulência
A morte em decadência
Ao nada o sonho lança.

10


Abrindo essa janela
Eu vejo a tez sombria
Do quanto quis o dia
E nada se revela
Somente a turva tela
E nela merecia
Quem sabe uma alegria,
Porém revejo a cela,
Aonde se incrustara
Diversa e vã seara
Dispersa deste olhar,
E teimo contra todos,
Adentro os velhos lodos
E cismo em caminhar...

11


Promete a minha vida
Algum momento ao menos
Após tantos venenos
Quem sabe uma saída?
A sorte sendo urdida
Em ritos mais amenos
E volto aos dias plenos,
Sem medo ou despedida.
Reinando sobre o sonho
Um mar belo eu componho,
Mas sei ser fantasia.
O tanto do querer
A vida sem poder,
A morte é quem me guia.

12



A lua se esbaldando
Promete outro cenário
O mundo temerário
O corte se moldando
E desde mesmo quando
Em tom imaginário
Julgara necessário
Um riso bem mais brando,
Quem sabe eu pude ver
Diverso do prazer
Algum momento além?
Mas sei que me perdi
Distante hoje de ti,
Somente o frio vem...


13



A sorte, esta morena
Deitada sobre a areia
No quanto me incendeia
Também já me serena,
A vida em ti é plena
A messe me rodeia
E beijo esta sereia
Aonde a sorte acena,
Resumo de uma luz
E nela se me pus
Acreditava mais
Que a mera fantasia
E nisto só veria
Enfim meus temporais.


14

A lua faz o claro
Aonde pude até
Saber com muita fé
O amor que ora declaro,
O risco, o rito raro
O fardo, o chão, o pé,
O medo e sei quem é
Causando desamparo.
Resumo do que tento
E sei do sofrimento
E nele me entranhei,
Dourado algum passado?
Apenas sonegado
O rumo noutra grei.


15



As urzes no caminho
O risco de viver
A vida sem prazer
O mundo mais mesquinho,
Aonde eu adivinho
O quanto eu possa ver
E mesmo padecer
Em ledo e amargo vinho,
Resumo de outro tempo
Imerso em contratempo
Resisto enquanto pude,
Mas sei deste vazio
E nele desafio
A paz, sem atitude.

16



Um sonho cristalino
Depois da tempestade
Ou toda esta cidade
Aonde mal domino
O passo sem destino
O rumo à claridade
Ausente liberdade,
Percebo e me alucino,
Revolta e medo aonde
O nada me responde
E gera outra inclemência,
Pudesse ter talvez
O quanto se desfez
Em mera imprevidência.

17


A lua, companheira
De tantas noites quando
O tempo emoldurando
No céu prata bandeira
Traduz a mensageira
Do dia transformando
Enquanto desnudando
A vejo clara e inteira,
As fases e estações,
Assim além expões
Minha realidade,
Agora na minguante
A morte se adiante
E o fim somente invade.

18


Estrela tão formosa
Aonde quis um dia
Viver a fantasia
De um mundo cor de rosa,
Mas quando a sorte glosa
E trama em heresia
O quanto poderia
Ainda majestosa
Não resta um só momento
E mesmo se me alento
Encontro o vendaval,
Mortalha se tecendo
A vida em tal remendo
Prepara o seu final.

19


Ó lua do sertão
Ausente dos meus dias,
Aonde te escondias
Meus olhos não verão,
Somente a ingratidão
Em meio às ironias
E tanto poderias,
Mas sigo sempre em vão,
Resumo em verso e canto
O quanto me adianto
E nada tenho em troca,
O passo além jamais
Pudesse em raios tais
Se a bruma te desloca...

20

Quem antes me deixou
Levando a melhor parte
Enquanto já se aparte
No fim nada restou,
Do pouco que inda sou
Apenas o descarte
De um mundo sem mais arte
O farto mergulhou
Nos ermos de um vazio
E nada mais recrio
Aonde fora tanto,
E quando me incendeio,
O olhar seguindo alheio,
Somente em vão me espanto.

21


A lua que carrego
O olhar ausente e a dor,
O farto desamor,
O medo, o passo cego,
O quanto não navego
E sei deste temor
Aonde me propor
Se enfim já não me entrego,
E resolutamente
A vida tanto mente
E nada mais me traz
Senão tal dissonância
Aonde em redundância
Perdera a minha paz.

22

Da lua do sertão
O medo apenas isto
É tudo onde persisto
Num mundo turvo e vão
Quisera esta amplidão
E nisto até insisto,
Mas logo não resisto
E sei do imenso chão,
Exalto em verso a luz
E nela se produz
A fúria de um anseio,
Mas quando a realidade
Deveras tudo invade,
Percebo; nada veio...

23


Apaixonadamente
Procuro quem me diga
Aonde já se abriga
Quem tanto a minha mente
Há tempos, pois pressente
E sendo mais que amiga
Decerto inda consiga
Comigo estar presente
Em tanto desalento
E sei que quando eu tento
A vida não me traz
Somente a tempestade
Aonde o medo invade
Matando o que era paz.

24

Eu quero, simplesmente
Viver o que me cabe
Bem antes quando acabe
O quanto a vida ausente
Um passo mais demente
Ou nisto se desabe
A sorte que já sabe
Do fim tão inclemente,
Vislumbro no horizonte
A luz por onde aponte
Alguma solução,
Porém esta miragem
Tomando tal paisagem
Traduz ingratidão.

25

Os outros já se ofuscam
Enquanto nada vejo
Somente o meu desejo
Em sonhos que se buscam,
E nada mais se tendo
Somente este vazio,
O quanto desafio
Procuro um dividendo
E sei que na verdade
O parto em tal aborto
O risco, o cais, o morto
Caminho onde degrade,
Passando muito além
Do quanto amor retém.

26


o meu verso se encanta;
não vejo mais o quanto
ainda me adianto
ou busco nova manta
e tudo já se espanta
mordaz o triste canto,
o sonho diz quebranto
e a vida não garanta
sequer algum luar
difícil de contar
estrelas que pudera
trazerem para mim
vicejar o jardim
se é morta a primavera...

27

Embalde te procuro
Cansado desta luta
O passo, a força bruta
Saltando neste escuro,
O verso, o chão mais duro,
A morte é mais astuta
O canto não reluta
E nem sequer perduro
Além do quanto pude
E morta a juventude
Não resta nada e venho
Medonha face exposta,
Aonde sem resposta,
O mar morre ferrenho...

28

esconde-te na mata
Dos sonhos e em verdade
O todo se degrade
Enquanto em cena ingrata
A porta não reata
Nem vejo claridade
O porto diz saudade
E nisto me maltrata,
Resumo em verso e fato
O quanto me desato
Ou mesmo busco a luz
Aonde nada havia
Somente esta sombria
Vacância onde eu me pus.

29

o mundo fica escuro
se não estás aqui
o quanto me perdi
e nada mais procuro.
A voz se cala e o chão
Abrindo esta cratera
Aonde nada espera
Nem rumo ou direção,
A voz ausente encontro
Depois de tantos anos,
Apenas desenganos
E nisto o desencontro
Mostrando em tom mordaz
O quanto amor não traz.

30

estrela, ver teu brilho,
é tudo o que eu queria,
porém mal surge o dia
distante olhar eu trilho
e quando te adivinho
é falsa imagem, pois
o amor entre nós dois
apenas tão mesquinho
impede qualquer raio
um dia de tocar
quem tanto quis olhar
e assim deveras traio
o mundo aonde eu vim,
sem nada, morto enfim...

31

enorme fantasia
apenas nada mais,
e sei dos vendavais
gerando esta ironia
aonde não queria
sequer outros iguais
os riscos tão venais
matando uma alegria,
escondo-me deveras
enquanto além temperas
com brilho incontestável
o quanto quis amar,
e nada a divagar
em tempo deplorável.

32

espera por um sol
que nunca mais virá
e sei que desde já
é morto este arrebol,
o quanto fiz em prol
do tempo onde terá
somente o que fará
de mim teu girassol,
mas viver dita além
do quanto nos convém
ou mesmo o que se queira,
a manta da esperança
enquanto nos alcança
eu vejo, é traiçoeira.

33

um sonho de delícia
aonde pude crer
no amor a pertencer
sem ânsias nem malícia
a quem se deu notícia
e nisto pude ver
o todo a me conter
num toque em tal sevícia,
resumos de uma história
aonde de memória
eu guardo e sei até
o fardo que carrego
o passo num nó cego,
ausente em mim a fé.

34

um canto de alegria
quem dera ter se tanto
procuro e me adianto
até ao próprio dia
aonde não veria
com ares mais de espanto
o negro ou turvo manto
se tanto eu merecia,
resido no que outrora
pensara e inda vigora
gerando este vazio,
restando muito pouco
do quanto fora louco
e agora desafio...

35

esconde-me este olhar
aonde pude crer
no quanto do querer
traduz além o amar,
ainda a procurar
nas ânsias do sofrer
o canto a se tecer
e nele este lugar,
remanso em plenitude
e nisto o tempo ilude
e mostra a direção
ausente dos meus dias,
diversas alegrias,
e o medo desde então.


36

amor em espirais
esfuma-se decerto
enquanto eu mal desperto
dos sonhos ancestrais
e busco muito mais
que apenas rondo perto
e tanto já deserto
alheio e torpe cais.
Revolvo a minha vida
À espera do que olvida
E nada mais se vê
Somente este vazio
E nele eu desafio
A vida sem por que.

37


o vento me tortura
dizendo do que um dia
pudesse em alegria
ao menos ou ternura
e tudo se procura
na falsa hipocrisia
aonde beberia
até vaga loucura,
não penso no final
nem mesmo em divinal
caminho que não tenho,
resumo cada verso
no manto mais perverso
aonde ora me embrenho.

38


Estribilha este não ser
Aonde pude outrora
Saber do que devora
Vontade de viver
A vida sem ter hora
O canto a se perder
Ausência de prazer
E o medo desancora
O parto, o pasto, o passo
E quando vago traço
Um dia após a queda
Não tendo solução
Somente se verão
As faces da moeda.

39

Minha loucura eu bebo
E sei que na verdade
O quanto já degrade
Além do que eu recebo,
Ou mesmo até concebo
Morrendo em tal saudade
Vasculho a falsidade
E nela já me embebo,
Restando quase nada
Da fúria preparada
Na estrada sem final,
O risco de sonhar
Vontade de tocar
Aos poucos este astral.

40

O mais preciso porto
Jamais se fez presente
E quanto me atormente
O manto agora morto,
O gozo deste aborto
E nele não se sente
Sequer o mais freqüente
Caminho em desconforto,
Resvalo no infinito
E assim eu acredito
Na vida que terei,
Embora siga alheio
Às ânsias se eu rodeio
Diversa e torpe grei.

41

Alvuras neste céu
Aonde quis a sorte
Que nada mais aporte
Sequer ditame e véu,
O amor ledo e cruel,
O risco sem o norte,
O pássaro deporte
O vinho, o medo e o fel;
Aprendo quase nada
E tento nova estada
E nela entranho a voz,
Sedento navegante
Se nada me garante
Persisto em tom atroz.


42

Tristeza, a vida dita
E mostra sem saída
O quanto fora a vida
Agora tão maldita,
Se tanto necessita
De crer na despedida
Ou mesmo nesta ungida
Palavra mais aflita,
Resumo em verso e canto
O quanto não garanto
Senão da própria luta,
E quando vejo a foz,
O mundo mais atroz,
Deveras já reluta.


43

Amor que me curasse
Dos medos e receios
Ainda são alheios
Os olhos neste impasse
E nada mais se trace
Senão meus velhos veios
E neles meus anseios
O parto não se cace
Aonde vejo a morte
E nela eu me conforte
Eu tento a mera luz,
Reflito este non sense
E sem quem me convence
Somente a dor propus.


44

Cigarros devorando,
O medo se anuncia
Na luz de um novo dia
Ou mesmo se nublando
A sorte desde quando
O mundo não traria
A viva fantasia
Aos poucos me matando,
Resumo em fumo e dor
O quanto deste andor
Já não concebo mais,
E bebo deste farto
Ainda me descarto
Dos velhos vendavais.

45

O mar já não fascina
Quem fora timoneiro
O vento traiçoeiro
Negando qualquer mina,
A sorte me domina
E mostra o derradeiro
Caminho em espinheiro
E sela a minha sina,
Revolvo nas entranhas
Partidas onde estranhas
Os ritos mais cruéis,
E bebo dos erráticos
Demônios sensos práticos
E sorvo em paz teus féis.

46

Ainda houvesse mar
No pouco que me resta,
Ausente fenda ou fresta
Por onde mergulhar,
O corte a se mostrar
Aonde quis a festa,
O nada já se empresta
E não quero lutar,
Cansei de tanta incúria
E vivo esta penúria
Legado de uma história
Mortalha se tecera
E nisto se perdera
A lua, merencória.


47

Engaiolado sonho
Jamais viu liberdade
Atrás da velha grade
Aonde me componho
Em verso mais bisonho
Ou mera realidade
Ausente da verdade
O bêbado proponho
E risco além da queda
A morte aonde seda
O passo noutro tanto
O mundo em desencanto
O porto resumido
Na falta de sentido.

48


Procuro quem adote
A lenda de um poeta
Aonde se completa
E nada dita o bote
E risco este holofote
A sorte se deleta
O mundo não repleta
Nem mesmo o mero pote,
Eu quis ser mais que pude
E sei desta atitude
Nefasta ou coerente
E quando mais a voz
Perdendo o tom feroz,
Porém nada apascente.

49

Menina doce, ainda
Não sabe o quanto é vaga
A vida onde se alaga
E mesmo até nos brinda
Da morte quando advinda
Da queda em corte e chaga,
A sorte morta ou maga,
Palavra sempre finda,
O manto não me cabe
E quando nada sabe
O vento não traduz
Sequer o que pudera
Vencer a primavera
Ou encontrar a luz.


50

Ainda sem amor
Que possa me conter
O mundo não faz crer
Senão em tentador
Caminho sem a flor
Ou mesmo parecer
O quanto eu quis saber
Um mero sonhador,
Cansado desta luta
O passo inda reluta
E morre a cada instante
Instando a fantasia
Aonde não cabia
O passo que adiante.

51


Um resto de paixão
Adentrando este sonho
E quando me proponho
Aos dias que virão
Diversa dimensão
E nisto se eu me enfronho
Por vezes enfadonho
Negando a diversão
De quem se fez presente
Ou mesmo me apresente
Com outra face enquanto
A sorte não sabia
E toda a fantasia
Agora não garanto.

52

Espero por teu colo
Morena quando tento
Vencer o sofrimento
E nele sem tal dolo,
No quanto em paz me assolo
Ou verto o pensamento
Aonde busco alento
E quero novo solo
Porquanto pude crer
No claro amanhecer
Após o temporal,
O risco de viver
Ou mesmo sem prazer
Eu sei quanto é banal.

53

O meu limite eu teimo
Em desvendar após
A queda em tom feroz
E assim quando me queimo
Não resta qualquer luz
Ainda se pudesse
A vida em tal benesse
Não vejo e só a cruz
E nela meu caminho
Há tanto em vão desenho
Agora se me empenho
Eu sigo então sozinho
Vertendo em verso e canto
O quanto inda me espanto.

54

Buscando que perdoes
Os dias onde outrora
A sorte desancora
E nela ainda entoes
Diversas melodias
Porquanto a vida trama
Além da mera chama
Ou mesmo em ardentias
As sortes não são tais
Conforme eu necessito
E quando este infinito
Desvendas em cristais
As quedas costumeiras
Além do que mais queiras.


55

Em plena fantasia
A vida não se dá
E sinto desde já
O quanto poderia
Vencer esta agonia
E quando reinará
A sorte e mudará
Decerto o dia a dia
A poesia morta
Atrás da velha porta
Somente esta ilusão
E nela sem certeza
O amor é mera presa
Dos dias que virão.

56


Um sonho mais feliz
Depois da tempestade
Ou mesmo se degrade
E traga o que eu não quis
A sorte do aprendiz
A queda aonde a grade
Demonstre a falsidade
Do amor quando desfiz
Cenário em tela frágil
O salto bem mais ágil
A morte não evita,
Enquanto o tempo atrai
O gozo não distrai
E nega a velha dita.

57

O quanto amor pudera
Querer além do medo
E quando assim procedo
Apascentando a fera
Gestando esta quimera
E nela o meu degredo,
Mudando o velho enredo,
Meu Deus, ah quem me dera...
No quarto quase escuro
O quanto em vão procuro
A fresta, a luz, a festa,
O manto já puído
O amor mero ruído
E nada agora resta.

58


O vento não me traz
Senão esta lembrança
E quando a dor avança
Em passo mais audaz,
O corte nega a paz
E o tempo em tal mudança
Sem ter a confiança
Gerando outro mordaz,
Mordaças e palavras
E nelas já não lavras
Apenas mal recolhes
O quanto não pudesse
Gerando esta benesse
Deveras nem mais olhes.


59


A noite ressurgiu
Depois de tantos dias
Aonde em alegrias
O tempo foi gentil,
Imagem mais sutil
E nela as heresias
Tantas hipocrisias
O nada presumiu
A queda após o tanto
E neste farto eu canto
Insólita promessa,
O peso contraposto
A vida em tal desgosto
Decerto em vão tropeça.

60

Ardis diversos trazes
E mostras com ternura
A fonte da amargura
Em riscos, velhas fases,
E quanto mais atrases
Sem ter qualquer brandura
O tempo me tortura
E neles são mordazes
Palavras reticentes
Se tanto já te ausentes
Não vês qualquer sinal
De um brilho em meu olhar
Cansado de lutar
Prevendo o meu final.


61

Abraça-me feroz
O olhar ensimesmado
Dizendo de um passado
Aonde fora algoz,
Ausência de uma foz,
O rio desmembrado
O sonho ensolarado
Em tons turvos, atroz.
A morte após a queda
Cenário refletindo
O quanto agora findo
O peso onde se seda
Mortalha divisando
Com dia mais nefando.

62

Espero por notícias
De quem se foi faz tanto
E nada mais garanto
Sequer velhas carícias
E sem ter tais delícias
O mundo é vão quebranto
E quanto mais me espanto
Exposta às tais sevícias
Erguendo o olhar além
O nada me convém,
A morte é o que inda tenho,
O canto do passado,
Agora exterminado,
Ressoa em tom ferrenho.

63

Meu mundo é traiçoeiro
A sorte não traduz
O pouco desta luz
Nem mesmo este luzeiro
Aonde fora inteiro
E agora reproduz
O mundo em contraluz
Mexendo em tal vespeiro
A sorte não me quis
E sei quanto infeliz
O verso se transforma
E o medo não condiz
Com tudo o que já fiz,
Das ânsias, torpe forma.


64

A minha voz além
Do quanto pode um dia,
Já não se escutaria,
Pois nada mais convém
E vivo, então aquém
Do quanto poderia
E sendo esta magia
Apenas teu desdém,
O vago caminhar
Em noite sem luar
Transcorre em penitência
Queria pelo menos
Em dias mais serenos,
Somente esta indulgência.

65

Jamais eu escondi
O quanto te queria,
Mas nada mais seria
Senão restando aqui
O mundo que há em ti
E nele esta ironia
Vencendo o dia a dia
Matando o que senti.
Vestindo esta mentira
A sorte se retira
E nada deixa atrás,
O pântano que eu crio
Aonde mais sombrio
Meu mundo nada traz.

66


As ondas e sereias
Os olhos dessedento
Nas sortes deste vento
Aonde me rodeias,
Vencidos por alheias
Manhãs em sofrimento
Agora busco e tento
As luas sempre cheias,
Mas nada na verdade
Demonstra a claridade
Que tanto procurava,
A morte se aproxima
E muda todo o clima
Expondo fúria e lava.


67

Das teias que a manhã
Tramara em céu tão claro,
O quanto ora declaro
E sei que a voz é vã
Falando em temporã
Vontade, sendo raro
O rito em tom amaro,
Moldando esta maçã
Navego pela ausência
E sei da penitência
Que a vida me prepara,
Augúrios mais atrozes
Em rios mortas fozes,
Negando esta seara.


68


Por onde prosseguira
A luz de teu olhar
Cansado de lutar
Deveras sei mentira
E quando mais retira
As frutas do pomar
Certeza a me tomar
Da morte feita em tira,
O pântano persiste
E neste olhar mais triste
Resumo a realidade,
No passo ao charco eu sigo
E quando em desabrigo
Somente o medo invade.

69


Nas conchas, belo canto
Refletem estes mares
E quando me notares
Verás que me agiganto
No passo sem espanto
Por onde navegares
Sabendo dos sonhares
E neles me garanto
Resumo em verso e luz
O todo ao que propus
Pensando em ter comigo
Quem tanto desejara
Aqui nesta seara
Também é teu abrigo.

70

O tempo não tem pressa
E sei do quanto ausente
De ti quem mais freqüente
Pensara em tal promessa
A vida se confessa
Por mais que se apresente
No todo onde se tente
Vencer e recomeça
Após a queda a fúria
Ausência de lamúria
Ou mesmo de esperança
A morte não me vendo
O olhar dita o remendo
Aonde o todo alcança.

71


Explode em tom voraz
O risco de sonhar
E nada mais tocar
Senão morrer na foz
De um rio tão feroz
Diverso caminhar
E sem poder chegar
Nem mesmo agora, após.
Acerco-me do não
Tentando os que trarão
O olhar em mansa luz,
Mas tudo o que se vê
Agora sem por que
Jamais, pois me seduz.

72

Meu mundo desencanta
No quanto sou mais teu,
E todo se prendeu
Deveras nesta manta
E quando me garanta
Além do medo e breu
O coração ateu
Agora em ti se espanta
E bebe esta certeza
De grande fortaleza
Após a própria vida,
No tanto que pensara
Agora outra seara
No amor é percebida.


73


Esgota-se na lama
O passo de quem tanto
Buscara e te garanto
Além do quanto chama
Viver sem ter mais drama
Ou mesmo algum espanto,
Olhar dito quebranto
O corte nega a chama,
O peso da esperança
Agora em tal balança
Aonde é dor fiel,
Roçando esta amplitude
Aonde nada ilude
Transforma em carrossel.

74

Explode esta ilusão
Em verso mais feliz
Quem dera se já quis
Os cantos que virão
Ou mesmo da emoção
Servindo em chamariz
O corte ou cicatriz
Diversa dimensão,
Gerando outro caminho
E mesmo se sozinho
Ninguém me impediria
De ter sob este olhar
Beleza a me tocar
Num claro e manso dia.

75

Um resto de esperança
Aonde se fez tanto
Ainda se me espanto
Quem sabe da mudança
E nela sempre lança
A voz dita em quebranto
Rasgando o velho manto
Mudando esta fiança,
Na parte que me resta
Ausente qualquer festa
Apenas funerais,
Dizendo sempre adeus
Os dias não são meus
E não serão jamais.

76

Embalde se destrói
O mundo quando tento
Vencer o sofrimento
Que tanto me corrói
A vida sempre dói
E gera o desalento
Enquanto em atormento
O nada se constrói
Pudesse acreditar
Nos raios do luar
E neles me entranhando
Bebendo a claridade
Que agora nos invade
Também me enluarando.

77

A noite avança enquanto
Procuro pelo menos
Olhares mais serenos
Ausente algum quebranto
Do tanto que me espanto
Em meio aos teus venenos
Pudessem mais amenos
Os dias que ora canto,
Mas sei da dor imensa
E nada me convença
Do passo mais desperto
E sei quanto pudera
Vencer esta quimera
Que agora enfim alerto.

78

Entranhada de medos
A noite segue o rumo
E quando enfim me aprumo
E bebo os seus segredos
Condena-me aos degredos
Então também me esfumo
Jamais eu me acostumo
Aos dias duros, ledos
Resumo a minha vida
Em cada despedida
E tento embora seja
Diverso do meu manto
O mundo onde me espanto
E aquém só relampeja.

79


A noite não perdoa
Quem bebe solidão
E os dias não trarão
Uma alma assim à toa
O pensamento voa
E bebe do verão
Enquanto esta ilusão
Ataca pela proa,
Arpoa a realidade
E tudo ainda brade
Com forças desiguais
Depois de certo tempo
Vencendo contratempo
Encontro enfim meu cais.


80


Sobrevoando além
Dos sonhos mais gentis
Pudera quando eu quis
Saber o que contém
Ou mesmo se não tem
E perco por um triz
Querendo então seu bis
Aonde fora alguém
Alhures nada tendo
O medo, este remendo
Não deixa qualquer sonho,
Aprendo muito pouco
E como fosse um louco
Deveras sou medonho.

81

Encaro os meus receios
Degredos de minha alma,
E nada mais acalma
Aonde vão alheios
Os dias, devaneios
Conheço cada palma
Da vida aonde o trauma
Encontra os meus receios,
Vestindo esta quimera
Ausente primavera
A noite não se deu
E toda a vaga espera
Agora degenera
O que julgara meu.

82

Em arvoredos tantos
Os olhos procurando
Algum lugar se quando
Amor ditasse em cantos
Pudessem sem espantos
Viver se transformando
No passo entrelaçando
Caminhos não sei quantos,
Restando dentro em mim
O pouco do jardim
Que a seca não levou,
Vagando sem destino,
Aos poucos determino
O que o amor deixou.

83

Ecoa além o brado
Aonde pude ouvir
A voz do meu porvir
Reflexo do passado
E sei do sonegado
Caminho a persistir
Vagando sem sentir
O quanto andei errado,
Resumo em verso e medo
E assim quando eu procedo
Encaro a realidade
No fato mais cruel,
Ausente qualquer céu,
Somente a bruma invade.


84


Embarco o pensamento
Aonde quis um dia
Diversa montaria
Vencendo o próprio vento
Galopa o sentimento
E quando não podia,
Sentir a ventania
Eu mesmo em mim a invento,
Vestígios de uma vida
Há tanto em despedida,
Mas viva pelo sonho,
E quanto mais ausente
Aqui mais se apresente
Na forma em que a componho.


85

Eu sei destes segredos
E guardo bem comigo
Enquanto assim persigo
Destinos ermos, ledos,
Os dias passarão
Sem nexo e sem juízo
Apenas prejuízo
A conta em divisão,
Acréscimos de vida
Já não procuro e sei
Da dura e fera lei
Que não prevê saída
A quem se deu além
E nada mais contém.

86


Aurora é minha amiga
Promete novos sonhos,
Alguns nem tão risonhos,
A sorte já periga,
Mas quando enfim abriga
Momentos enfadonhos
Ou tétricos, medonhos,
Em medo guerra e intriga
Não resta quase nada
Do quanto imaginada
Pudesse ser a dita,
E o passo rumo ao vão
Somente em negação
O olhar ausente fita.

87


A morte após a queda
A sorte mais sangrenta
Porquanto a gente tenta
E tudo enfim se veda,
A luz que agora seda
O medo que aparenta
Nefasta e violenta
A mão na qual se enreda
O passo em tal ditame
E quando mais reclame
Quem sabe encontre a messe
Das ondas e dos mares,
Por onde tu notares
Jamais nada obedece.


88

A vida dita a espreita
E trama em luz agreste
O quanto nos reveste
Enquanto a lua deita
Os raios e deleita
Além do que vieste
Ou mesmo já me deste
Reverso da colheita.
De tanto prosseguir
Na busca do porvir
Cansado de lutar
A morte se entranhando
Aonde quis mais brando
O tempo de sonhar.

89


A noite em tempestade
Açoita o pensamento
E quando até me alento
É pura falsidade,
O quanto desagrade
Quem busca em sentimento
Além do sofrimento
A vida atrás da grade,
Aprendo o quanto posso
Destino não é nosso
Apenas queda e dor,
A manta se puindo
O tempo outrora lindo
Agora em estupor.

90

Em nuvens se escondia
O sol que tanto quis
E como por um triz
A sorte poderia
Mudar a luz do dia
E tanto contradiz
O quanto este infeliz
Caminho não cerzia,
Mergulho no passado
E vejo desvendando
Apenas o meu não,
Pudera acreditar
Na força do luar,
Mas vejo escuridão...

91

A vida me entristece
No fato mais cruel
De seguir sempre a o léu
O quanto fosse em messe
E o mundo não mais tece
Senão tal turvo véu
E bebe deste fel
Quem mesmo não merece,
Rendido ao que pudera
Talvez ser primavera
Não perco a paciência
Embora saiba bem
Do quanto sou refém
Da mera coincidência.

92

Em prantos prosseguira
Quem tanto quis um dia
Agora esta agonia
Seara da mentira
Ao nada joga e atira
A morte não se adia,
E mata a fantasia
Acerta em boa mira,
Olhando de soslaio
Eu mesmo já me traio
E busco uma resposta
Aonde mergulhava
Em mar de intensa brava
A carne decomposta.


93


O rumo desta vida
Ausente porto e cais
Jazigo em funerais
Aonde decidida
A sorte desprovida
De sonhos e cristais
Moldando o nunca mais
Não vendo uma saída
Resumo em verso e dor
O quanto a te propor
E ser além do nada,
Vestindo o preconceito
No quarto onde me deito
Não resta uma alvorada.

94

A mão maltrata quem
Procura algum apoio
E desce tal arroio
Aonde nada tem,
Buscando um novo alguém,
O trigo exposto ao joio
As dores em comboio
O que deveras vem,
O risco de sonhar
A queda a te tomar
A soma dita o não,
E ainda mesmo assim,
Lutando até o fim,
Em tétrica ilusão.


95

A tempestade trama
O medo de viver
E quando em desprazer
A sorte forma o drama
E o quanto meu é lama
Aprendo a conviver
Com fome de prazer
E nada ainda clama
Somente a morte vem
E sei que sem ninguém
A vida não se dera,
Mergulho no passado
E bebo desolado,
Distante primavera.


96


Aonde em plenitude
Pudesse adivinhar
Caminho a procurar
Aonde nada ilude
O todo já se mude
E traga outro lugar
Por tanto que lutar
Ainda em amplitude
Diversa da que outrora
E nela se demora
A morte e nada resta,
O peso do viver
Quisera sonho e festa
Agora é desprazer.

97

A primavera cálida
Aonde pude crer
No belo florescer
Embora a noite esquálida
A sorte da crisálida
O tempo a percorrer
Um mundo a perceber
Na face amara e pálida,
Há pouco dentro em mim
E sei que tento enfim
Ao menos um caminho,
Depois de tantos anos
Em meio aos desenganos
Eu sigo e vou sozinho.


98

As nuvens e a manhã
O sol jamais se vira
E quanto além mais gira
A terra em seu afã
A vida se faz vã
E sorve da mentira
Aonde já se atira
A dita ora malsã,
Revejo a queda e o tempo
Vencendo o contratempo
Adentra o temporal,
Atemporal verdade
A morte em realidade
Um rito magistral.

99

Aonde quis meu verso
Falar da liberdade
Beber da claridade
Aonde fora imerso,
Agora eu me disperso
E rondo a falsidade
No pouco que inda invade
O olhar duro e perverso
De quem se fez ausente
E mesmo quando tente
Não mais conseguiria
Em pleno vendaval
Vestir fenomenal
Luzeiro feito em dia.

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