1
O gozo mais profano em santidade
Delírio abençoado em mil orgasmos,
Deixando no passado dias pasmos
Enquanto este desejo nos invade,
Até chegar enfim à saciedade
Os olhos rodopios nos espasmos
Jamais encontraremos mais marasmos
Nesta beleza em glória e divindade,
A xana se encharcando, o gozo vem
E bebo do rocio e sei também
Leitoso paraíso onde embebes
Desvendo as loucas trilhas da paixão,
E morto de vontade e de tesão
Invado sem defesas tuas sebes.
2
A deusa feita puta em minha cama,
Reinando em absoluta maravilha,
Enquanto se permite e o gozo trilha
Mantendo com furor a imensa chama,
A gruta umedecida já reclama
Um firme penetrar e enquanto brilha
Orgástico delírio se polvilha
Moldando incandescente e rara trama,
Num êxtase comum, caminho igual,
A cavalgada em raro ritual,
Profano altar num leito a descoberto,
Lençóis já pelo chão, roupas além
E quando a lava intensa agora vem
Inunda o vale pleno e agora aberto.
3
Safada e delicada, santa e puta
A noite não termina, adentra o dia,
E gera com superna fantasia
Inundações diversas nesta gruta,
Quem tanto se deseja e não reluta
Invade sem defesa a fantasia
Orgástica loucura em tal orgia
No quanto a sorte mostra mais astuta,
Resumo em verso o quanto quero e creio,
Mordisco mansamente cada seio
E sinto a rigidez de um grelo belo,
E quando penetrando esta seara
A xana em maravilha se escancara
E o gozo no teu gozo enfim atrelo.
4
Eu quero molhadinha esta rainha
Em tons maravilhosos, nossos ritos
Os dias do teu lado se infinitos
Do paraíso a sorte se avizinha,
Rendido aos teus anseios, quando vinha
A noite em tons vorazes, mais bonitos
A gelidez temível dos granitos
Agora noutra face já se alinha,
E frêmitos transformam em suor
Delírio que desejo e sei de cor,
Nas ancas a potranca se desfaz,
E quanto mais rendida aos devaneios
Para os prazeres tantos sabe os veios
E a cada novo instante é mais audaz.
5
Sedento de teu gozo nesta noite,
Em furiosa cena me entregando,
Sem perguntar sequer aonde e quando
A boca serve apenas como açoite,
E tento outro delírio num pernoite
Aos poucos no rocio mergulhando
Também numa explosão ir te encharcando
Aonde o falo enfim, adentre e acoite.
Requebras em gemidos e suspiros,
Traduzo teus enigmas e papiros
Erétil fantasia se extasia
Num jogo aonde nunca há perdedor
As sendas mais audazes de um amor
Gerando a mais bendita putaria.
6
Insaciável noite aonde eu bebo
O teu delírio em gozo mais suave
E quanto mais a noite nega a trave
Maior carinho dou e já recebo,
Sem nada que perturbe, sem juízos
Apenas entre nós esta vontade
Sabendo no teu corpo a majestade
A vida não traria prejuízos,
A xana me encharcando, o falo adentra
Num movimento agora mais febril,
Numa explosão fantástica se viu
Aonde toda a força se concentra,
Agora em espasmódica loucura
Toda a tensão da vida já se cura.
7
Bendito seja o sexo onde sacias
As ânsias e também sacio as minhas
E quando dos meus êxitos te aninhas
Gerando após tormentas alegrias,
E tanto quanto tens já propicias
Deliciosamente entranho em rinhas
Aonde estas vitórias são vizinhas
Geradas pelas mesmas fantasias.
Orgásticos anseios, seios, pernas,
As bocas adivinham bem mais ternas
Macias e sutis ondulações,
E quando adentram furnas inundadas,
Avançam sem pudores alvoradas
Tramando novamente as explosões.
8
A cópula perfeita, o gozo farto,
E quando não se faz maravilhosa
A noite se passando pesarosa
A solidão a dois invade o quarto,
Mas quando este prazer ganho e reparto
A sorte se mostrando majestosa,
Recende a mais sublime e bela rosa
Contigo em devaneio além eu parto.
E sinto o quanto bebes deste sonho
Aonde com ternura eu me proponho
Sedento companheiro de viagem,
Perfeitas as loucuras quando vejo
Bem mais do que o desfecho de um desejo
O amor na mais sublime sacanagem.
9
Eu quero o teu prazer e nada mais
Assim eu satisfaço o meu também,
O amor quando reparte o que se tem
Em ritos tão diversos magistrais,
Permite o que se pensa e sei demais
Do todo quando dele sou refém,
Anunciando o gozo nos convém
Viagem por supernos, bons astrais,
Num êxtase sublime a conexão
E nela cada toque com tesão
O farto anunciar de um bem imenso,
Meu leite te inundando, em corpo e na alma
Certeza deste jogo em que se acalma
E nele cada dor eu recompenso.
10
Gostoso penetrar esta xaninha
Deliciosa e bela maravilha
Aonde em explosão leite polvilha
Quem tanto te queria apenas minha,
A santa delicada e safadinha
Estrela que em meu céu agora brilha
Enquanto satisfaz perfaz a trilha
Por onde toda a sorte se adivinha,
Gulosa me deseja e quero assim,
A noite sem juízo não tem fim,
Teus seios em meus lábios, teus mamilos
Depois neste descanso merecido,
Ainda ouvindo em eco este gemido,
Momentos saciados e tranqüilos.
11
Penetro devagar e quero mais
Desejos sem limites, preconceitos
Os corpos entre gozos satisfeitos
Altares em delírios sensuais
Não quero outros caminhos sem os quais
Vazios estarão sobejos leitos,
E quando saciados, novos pleitos
E neles outros tantos, desiguais,
As pernas convidando, agora abertas
A xana delicada e perfumada,
Vagando sem juízo a bela estrada
E nela com furor também despertas
Assim a nossa noite se completa
Atento à guloseima predileta
Perpetuando em doce fantasia
Além do que deveras mais queria.
12
As coxas delicadas tênues pêlos,
A depilada fonte do prazer
E quero sem juízo me perder
Além dos mais divinos bons apelos,
Sentindo em teus furores os meus zelos
Orgasmos repetindo posso ver
No olhar outro delírio a se verter
Sem medos e sequer sem atropelos,
Meneios entre anseios nos quadris,
Puxando delicados, os cabelos
Sentindo-te molhada e em tais novelos
Deveras quero além e sou feliz,
Dos gozos quero mais e até revê-los
Até que em novos rumos convertê-los.
13
Quero te beijar vorazmente,
Por partes inteiramente...
Beijo sensual e demorado,
Saliva ardente,
Língua quente,
Movimentos lentos e carinhosos,
Rápidos e mais firmes,
Boca gelada,
Contrastando
Frio/Quente,
Sensorialmente delicioso!
Hipotermia
Taquicardia
Delírio de amor...
Regina Costa
Sacias meu desejo plenamente
Nos beijos e nas ânsias mais audazes
E quando tu também te satisfazes
O corpo se transforma em forma ardente,
O gozo se anuncia e já pressente
Inundações e nelas tu me trazes
Delírios sem igual, faces vorazes
Encharcas com anseios feramente
Volúpia se tecendo e quero mais,
Enquanto com incêndios magistrais
A noite se transborda em fartos cios,
Abrindo estes caminhos, erétil grelo
Vontade de tocar e de sabê-lo
Também nos mais sobejos desvarios.
14
O quanto te queria
E muito mais te quero
E sendo tão sincero
Adentro noite e dia
O gozo em fantasia
E sinto quanto espero
O toque e ora venero
O amor sem ironia,
Resvalo ao paraíso
E bebo o mais preciso
Caminho para estrelas,
Sabendo desde já
O quanto brilhará
Somente por contê-las.
15
Não temo mais a noite
Nem mesmo os meus tormentos
E sinto em tais alentos
O quanto já se acoite
Amor e divindade
Andando em sincronia
Louvável sacristia
E nela o tempo invade
E sorve cada gota
Do todo insaciável
O rumo palatável
A sorte não mais rota
Uma explosão divina
Deveras me fascina.
16
Querendo e sem temor
O quanto mais audaz
O gozo tão tenaz
E nele a se compor
Jardim e beija flor
No todo satisfaz
E a gente agora em paz
Vivendo este louvor,
Amantes sem limites
No todo que permites
Espaços concebendo
O amar sem ter pecados
Traçando nossos fados
Sem dor e sem remendo.
17
Um canto de alegria
Promessa de outro tempo
Sem medo ou contratempo
Aonde se recria
O tanto que te quero
Ou mesmo além de tudo
E quando eu já me iludo,
Tentando ser sincero
Percebo em farta voz
O corpo se traçando
Em dia claro e brando
Singrando a mesma foz,
O tempo se transborda
E o dia em paz, acorda.
18
Tua carícia em minha pele mil delícias,
Eriçando pêlos em malícia,
Quanto mais a mão se perde em delícias,
Minha flor umedecida abre e clama,
Tua língua passeando, sugando inflama,
Tarde de amor ensandecida.........
Regina Costa
Carícias delicadas
Em ânsias perpetrando
Desejo penetrando
Aonde mais safadas
As noites desejadas
E mesmo desde quando
O todo se entornando
Volúpias ancoradas
Nas tantas maravilhas
Aonde queres, trilhas
E deixas teu perfume,
No quanto te desejo
O mais sublime ensejo
Por onde a gente rume.
19
Amar e ser feliz
É tudo o que se quer
O gosto de mulher
No quanto mais eu fiz,
Bebendo cada toque
Sacio esta vontade
Do todo que me invade
Além de algum estoque
Resumo em verso e luz
O tanto que se presumo
E bebo todo o sumo
Aonde me propus
Vencido e vencedor
Nas ânsias deste amor.
20
Jamais esqueceria
O todo quando entranho
E bebo cada ganho
Qual fosse fantasia,
O tanto mais alheio
Ou mesmo sem destino
Enquanto determino
Em ti o vasto veio,
Recebo em farto alento
A sorte mais querida,
Assim a nossa vida
Sem dor eu quero e tento,
Resumo deste verso
Aonde eu me disperso.
21
Tirando tua blusa, devagar
Mamilos eriçados, que delícia
Tocando mansamente com carícia
Vontade quase insana de sugar
Depois ir suavemente navegar
Sentindo o teu sorriso com malícia
Esta umidade farta dá notícia
Aonde se pretende naufragar,
Retiro cada parte até que nua
Encontro-te deveras e flutua
A noite sem limites o desejo,
Vagando sem juízo em plenitude
Inundo com ternura o calmo açude
E nele este delírio ora prevejo.
22
Alheio ao dissabor
Seguindo muito além
Do quanto se contêm
As ânsias deste amor,
E quero sem pudor
Deveras ter alguém
E quando sou refém
E em ti navegador
O porto o cais a senda
Aonde se desvenda
A incúria de um anseio,
Tocando com ternura
O quanto se procura
E sabe cada veio.
23
Não quero outro caminho
Senão este que tento
E sigo agora atento
Ao rumo sem espinho,
A rosa com carinho
O beijo em alimento
O sonho já fomento
E nele em paz me aninho,
Querendo sempre mais
Desejos magistrais
Vontades sem limites,
E tanto quanto posso
O amor agora nosso
Além do que permites.
24
Amiga bem pudera
A vida ser diversa
E nisto sem conversa
A sorte esta quimera
O quanto degenera
Ou mesmo já submersa
Ao quanto ora se versa
Apascentando a fera
Que tanto poderia
Gerar esta agonia
E até a imensa dor,
Mas quando estou contigo
O todo quero e abrigo
Sem medo e sem pudor.
25
Erguendo um brinde a quem
É mais que companheira
A vida não se esgueira
No todo onde provém
Cevando esta alegria
Colheita garantida
Assim a nossa vida
Transcorre em sincronia,
O tanto sendo teu
O pouco não me traz
Ainda aquém da paz
E nisto se colheu
O risco de viver
Sem gozo e sem prazer.
26
Meu verso não traduz
Sequer alguma sorte
Sem nada que conforte
Restando em contraluz
Apenas esta cruz
E nela sei meu norte
No tanto que inda aporte
O medo não seduz
Resumo de um viver
Alheio ao bel prazer
Riscando em dor e pranto,
Mas quando vejo enfim
Florada em meu jardim,
A paz quero e garanto.
27
Jogando esta toalha
Cansado desta luta,
A força bem astuta
Aonde amor espalha
No fio da navalha,
O passo se reluta
O corte trama a bruta
Vazia e vã batalha,
Restando do passado
Ainda este legado
E nele não mergulho,
Abismos dentro em nós
O tempo dita a foz
Algoz o pedregulho.
28
Apenas solidão
E nisto este abandono
Aonde desabono
Os dias que virão
Trazendo em traição
A morte em pleno sono,
O corte o medo o dono
Do rumo ou direção
Se porventura sigo
Além de algum abrigo
Tocaia se prepara
Marcando com terror
O quanto quis amor,
Aquém desta seara.
29
Realidade dita
O mundo mais atroz
E sem a mansa voz
A sorte é vaga e aflita
O coração se agita
E busca em novos nós
O toque mais feroz
Da trama onde é finita
A lua não mais brilha
E quando além palmilha
O risco de sonhar,
Não tendo outra promessa
A vida já tropeça
Nas ânsias do luar.
30
Meu tempo de viver
O templo não mais vive
E nada sobrevive
Ao quanto pude crer,
Ausente o bem querer,
E nisto a dor se crive
E tudo mais se prive
Somente posso ver
Em desalento o passo
Aonde o nada traço
E sigo solitário
O manto descoberto
O tempo aonde alerto
O rumo necessário.
31
A paisagem trama
Belezas e temores
Diversos dissabores
Sabores de outro drama
Aonde houvera chama
Em tantos vãos fulgores
Seguindo aonde fores
E nisto volto à lama
Dos charcos de minha alma
A vida não acalma
Nem mesmo me sedenta
O risco de sonhar
E ter além do mar
Qualquer vaga ou tormenta.
32
Um infinito porto
Aonde nada mais
Que versos vendavais
E o tempo semimorto
E neste vago aborto
O risco adentra o cais
E neles o jamais
Em passo atroz e absorto
Resume a minha vida
E nisto se duvida
Do quanto possa haver
Depois da tempestade
Ou mesmo o que degrade
Gerando o desprazer.
33
As flores e matizes
Diversos dizem quando
O tempo decorando
Além do que me dizes,
Sabendo as cicatrizes
O tanto circulando
Aonde fora em bando,
Agora vejo crises
E nestes caminhares
Por tantos vãos lugares
Jamais pude colher
Sementes grãos infectos
Os dias prediletos
Agora em desprazer.
34
A transparente senda
Aonde nada vejo
Somente o meu desejo
E nunca mais se atenda
O quanto se desvenda
A cada bom ensejo
O risco mais andejo
E nele torpe venda
O parto sonegado
O beijo, a mão e o gado
A cena se repete
O tanto que eu queria
E nunca mais seria
Senão o que reflete.
35
Abrindo as velhas velas
Vagando mar afora
O todo desancora
Aonde tu me atrelas
E sei quanto são belas
As noites, mas agora
O risco se demora
E nele vejo as celas,
Apenas as algemas
E quando nada temas,
Somente o fim se vê
O tanto que eu pudesse
Agora já tropece
Na vida sem por que.
36
Esperando o toque terno e leve,
Rompendo o tempo e a distância,
Sinto-me bem pertinho...
São seus... Delicie-se sem moderação!
Nesse mundo de magias e delícias,
Corpos quentes,
Desejos ardentes,
Despimo-nos, delicadamente,
Passeando com olhos e bocas
Por caminhos pedidos e perdidos,
Susurros e gemidos,
Arfantes, nosso
Infante Amor...
Regina Costa
Ardências em loucuras
Anseios inclementes
Cravando garras dentes
Em gozos me torturas
E quando me procuras
Deveras dessedentes
Vontades inclementes
Ausentes amarguras,
Dos corpos portos cais
Em fartos rituais
Caminhos em delírios
Sem medos e martírios
Singrando aonde eu possa
O amor não tem limites
E sei que mais permites
Sem trégua a noite é nossa.
37
Arrastam-se os caminhos
Por tantas noites sendo
O todo que desvendo
Em doces vãos carinhos,
Os dias mais daninhos
O todo sem remendo
Assim já se prevendo
Floradas sem espinhos,
E quero ser somente
De ti mera semente
Aonde amor tempera
E tudo quanto pude
Em rara plenitude
Sobeja primavera.
38
Juntando nossos vultos
A noite em luz e sombra
O medo não assombra
E nega mais insultos
Convulsas madrugadas
E nelas devaneios
Buscando sem receios
As sortes alcançadas
Eu quero e não me calo
O todo sendo nosso
E sei que já me aposso
E sou de ti vassalo,
O pranto, o amor o riso
O toque em Paraíso.
39
O sol dourando o cais
E nele quero e tento
Estando sempre atento
Procuro muito mais
Que riscos rituais
E medos, sofrimento
Aonde o pensamento
Em belos, magistrais
Desenhos onde eu pude
Em rara juventude
Viver além do quanto
Mergulho e sem ciúmes
E tanto além já rumes
E assim em ti me encanto.
40
O beijo em paz ou fúria
O tempo não sacia
E quanto mais queria
Em ti sem ter lamúria
A vida em tal incúria
Pudesse em heresia
Saber desta alegria
E dela sem penúria
Viver tranquilamente
O todo que apresente
E gere muito além
Do tanto que pudera
Vencendo qualquer fera
Que amor por si contém.
41
Um porto mais sombrio em palidez
Traduz o teu olhar ausente e só
Amor se reduzindo a mero pó
O quanto neste instante se desfez
Aonde no passado pude ver
O brilho mais audaz, agora é nada,
A sorte desta vez já desolada
O mundo se percebe sem prazer,
A morte se anuncia em ilusões
E nesta face escusa tu me trazes
Em dias tenebrosos e mordazes
Desnuda alma dorida agora expões,
A madrugada em brumas se transforma,
E o tempo de tua alma toma a forma.
42
Jamais acreditei em qualquer trama
Aonde o amor não fosse mais sublime,
E quando a realidade nos suprime
Esvaziando assim gerando a lama,
O passo na verdade se reclama
E o quanto ainda possa e nos redime,
O vento noutra face já se exprime
E traz a cada instante o velho drama,
Felicidade existe? Não mais creio,
Olhando para além seguindo alheio
Não tenho mais sequer uma esperança
O passo sem destino noite afora
Temor, vicissitude, tudo aflora
E o medo de viver o sonho alcança.
43
Ascendo ao mais sublime dentro em mim
Tentando descobrir qualquer razão
Que possa me traçar a direção
Gerando após o caos algum jardim.
O manto se desfaz e sei do fim
E nele se adivinha a direção
Por onde novos tempos não virão
Marcando a minha vida, sempre assim.
Medonha face exposta da verdade
E nela esta ilusão demais degrade
E trame outra falácia invés de luz,
O marco desejado eu não alcanço
E quando ainda tento algum remanso,
Ao nada o meu caminho me conduz.
44
Esqueço qualquer luz e tento ainda
Depois do vendaval a calmaria
A noite aonde tudo já se esfria
Somente este vazio ao fim deslinda,
E quando a solidão pensara finda
Renasce com terror vasta agonia
E marco com a dor o novo dia,
A vida não seria mais benvinda.
Restando muito pouco do que outrora
Durante a minha vida desancora
Entorna em trevas dor e medo apenas,
Aonde se fizesse mais perfeito,
O amor quando deveras eu me deito
E nele com teus males me envenenas.
45
Zarpando para além do cais eu tento
Saber de alguma estância aonde eu tenha
Além do que a verdade já desdenha
Um dia sem ter medo e sofrimento,
Apenas um sobejo pensamento
A sorte sonegando qualquer senha
A porta na verdade não contenha
Senão mesmo caminho, alheamento.
Riscando do meu mapa esta certeza
De um dia feito em glória e com nobreza
Resumo o meu caminho no non sense,
E quando a luz invade, sei que é falsa
Minha alma tão somente o espúrio ora alça
E nada do que eu busque me convence.
46
Ocaso dentro da alma, nada além
Do passo em falso em rumo desmedido,
O todo se perdera em raro olvido
E apenas o vazio me detém,
Não sei o quanto posso sem alguém
A vida já não faz qualquer sentido
E sei do quanto andando desprovido
Do gozo, no horizonte muito aquém.
A lua ora não brilha, nem o sol,
Somente a bruma doma este arrebol
Farol de teu olhar, agora ausente,
Agouros tão terríveis desfilando
O dia se aproxima mais nefando,
E a morte tão somente se apresente.
47
Escusas não pretendo e nem preciso
Não necessito além de mera paz,
O quanto do vazio satisfaz
E o nada já seria um paraíso,
O tempo se perdendo me prejuízo
Até alheamento é mais mordaz,
Pensara num instante ser capaz,
Mas como se a certeza perde o siso,
No pântano que esta alma adentra agora
Meu lamaçal deveras, pois devora
Não deixa qualquer sombra em terra firme,
E tanto movediço cada passo
Aonde o meu delírio ainda traço
Sem ter sequer quem luz inda confirme.
48
Jamais negociei a liberdade
Algemas não suporto, nem correntes
E quanto mais atrozes dias tentes
Embalde caminhar delírio invade,
Fortuna não sustenta a qualidade
Da vida onde deveras me apresentes
Os olhos mais vazios e inclementes
Queria ter em paz, felicidade.
Mas nada mais concebo doravante
Mortalha a cada dia se garante
Nefasta realidade toma tudo,
E manso caminheiro do passado
Agora um fero atroz vivo enjaulado
E sei que após a queda não me iludo.
49
Ocasionando a queda de quem tanto
Pensara produzir algo que fosse
Talvez ainda mesmo em agridoce,
Porém somente o fel hoje eu garanto,
O passo sem ter nada desintegre
O risco de sonhar já não sustenta
Quem bebe tão somente esta tormenta
Jamais conseguiria ser alegre,
O parco caminhar em luz sombria
A noite não sossega e me entranhando
Esbarro neste quadro outrora brando
E tento e até quem sabe poderia
O corpo na verdade se arrebate
E nada mais rompesse um bom engate.
50
Ao perceber assim o fim do dia
Não vejo quem pudesse ainda ter
No olhar diversidade em bel prazer
E o gozo na verdade já se adia,
Ao menos novo tempo diz sangria
E nesta sordidez tento colher
O quanto poderia perceber
Não fosse a vida pura hipocrisia,
Restando dentro em mim a solidão
E nela novos tempos não virão
Senão para açoitar o corpo inerme,
E assim ao perceber a podridão,
Meu corpo se transforma e em aversão
Banquete irá servido para o verme
51
Aumento a minha voz nesta procura
Por cais que talvez possa redimir
Os erros tão comuns e no porvir
Traçado um novo tempo em aventura
A voz que imaginara mais segura
Diversa da que possa ainda ouvir
E nela se tramando o que há de vir
Deixando para trás a desventura,
O medo noutro passo se transforma
E bebo a sordidez em turva forma
E a norma preconiza uma esperança.
Aonde quis mudança e nada veio,
Agora novo sonho e em devaneio
O passo no vazio já se lança.
52
Arcando com as duras vãs promessas
Enquanto os dissabores mais constantes
E neles os delírios adiantes
Porquanto tantos erros me confessas
As sortes onde agora tu tropeças
As partes em caminhos discrepantes,
Os risos mais medonhos, delirantes
E neles minhas sortes são avessas,
O quarto em luz sombria e escuridão
O tempo se transforma e não virão
Sequer as mais terríveis tempestades,
A morte se apossando do meu verso
E quando noutro rumo eu me disperso
Os sonhos mais além bem sei degrades.
53
Assíduo caminheiro da ilusão
A desventura cega cada passo
E quando algum delírio ganha espaço
Apenas neste olhar a ingratidão,
Pudesse acreditar nalgum verão
E tendo em minhas mãos medo e cansaço,
O todo se perdendo enquanto enlaço
As sombras com total sofreguidão,
Arguta noite em luzes constelares
E nela com certeza desvendares
Momentos mais afoitos e sombrios,
Assim ao percorrer margens diversas
Os olhos se perdendo sem conversas
Adentram os mais podres, turvos rios.
54
Negando qualquer messe que desnude
O risco de sonhar agora ausente
E quando este vazio se apresente
Matando o que se quis em plenitude
O manto na verdade sempre ilude
Quem busca muito além do que pressente
E quanto mais feroz em mim já vente
Atrás do quanto tive em juventude,
Amordaçando o canto em ledo sonho,
Ao nada simplesmente me proponho
E bebo cada gota em podridão
Ainda nada resta além do cais
E sei que em devaneios desiguais
A vida me condena ao vão porão.
55
No pranto e na verdade o gozo tenta
Sentir outro momento mais feliz,
O todo que deveras nunca fiz,
A cena se desenha mais sangrenta,
O risco de sonhar já violenta
O tanto que perdera por um triz,
O corte se aprofunda e a cicatriz
A cada nova lua mais aumenta,
O verso inutilmente busca ainda
A sorte pela qual já se deslinda
Um horizonte manso; esta heresia
Não deixa qualquer sombra de ilusão
E sei das noites turvas que virão,
Enquanto o meu caminho se esvazia.
56
Vazios olhos buscam no horizonte
Algum luar ainda onde eu possa
Viver a sensação que fora nossa
E nela novo tempo ainda aponte
Destroço do que um dia fora a ponte
O medo a cada fato mais se apossa
E gera este delírio feito em troça
Aonde a sutileza já desponte
Mergulho em insensato abismo quando
O tempo novamente sonegando
Alguma luz a quem se deu a mais,.
A cada nova ausência a vida trama
A morte dessedenta qualquer drama,
Expondo os mais doridos funerais.
57
Funérea fantasia ainda doma
O coração atroz de quem se dera,
E nada mais deveras já se espera
Senão a proteção, frágil redoma,
O corte sonegando qualquer soma,
Atocaiada a vida esta pantera
Aonde a ingratidão agora impera
E cada passo a sorte amarga toma,
Mergulho nos meus ermos e te vejo
Além do que pudera num ensejo
Entranhas minha pele adentrando a alma,
E apenas a mortalha que me deste
E nele este cenário mais agreste
Nem mesmo a solidão, ainda acalma.
58
A solidão deveras companheira
De quem se fez aquém do que queria
Morrendo pouco a pouco, dia a dia
Não tendo mais sequer qualquer bandeira
A vida num instante já se esgueira
E morre em tons agrestes na sombria
Ausência aonde a vida não traria
Senão meu descaminho em tal cegueira.
Somando o mesmo nada de onde vim,
Apenas adivinho agora o fim
E tento alguma luz, mesmo distante
O passo sem cadência morre alheio
E toda esta incerteza aonde eu creio
Num ato mais terrível degradante.
59
No parto sonegado, aborto em vida
A manta não me cabe, só tal luto
E quando ainda tento e até reluto
Já sei desta seara ora perdida,
No quanto a própria ausência é mais provida
De um ar deveras frio ou mesmo astuto
Nem mesmo a minha voz ainda escuto
A história pelo tempo denegrida
Velhusco companheiro da esperança
A fantasia entranha a fina lança
E corta mais profundo sem defesas,
Aonde o passo nega e não avança
O mundo se mostrando sem pujança
Seguindo o que me resta em tais vilezas.
60
Olhando para trás procuro ver
Ao menos um momento mais tranqüilo
E quando a realidade ora destilo
O gozo na verdade a se perder,
Não tendo outro caminho a me prender
O pouco que inda resto hoje eu desfilo
E tento até manter algum estilo
No resto a desenhar e obedecer
Ocasionando a morte mais precoce
Sem ter esta alegria que me acosse
Aposso-me do nada e nisto eu sigo
Buscando inutilmente o que inda diga
Da morte mesmo atroz, ainda amiga
E nela o derradeiro e bom abrigo.
61
Grassando pela vida sempre alheio
Aos tantos ermos pálidos que trago,
Tentando da esperança algum afago,
O olhar perdido em pleno devaneio.
O quanto imaginara ser recreio
Deveras na verdade onde me alago
E sigo com terror ao firme estrago
Até a própria sombra hoje receio.
Revendo os meus enganos tento ainda
Um novo amanhecer, mas nada brinda
O mero sonhador com esperanças,
E quando qualquer luz já se avizinha,
A mesma face escusa e tão daninha
Do riso em ironia que me lanças.
62
Aprendo com a vida e sei o quanto
A sorte se fez vaga a quem queria
Vencer a mera face da ironia
Tentando alguma luz em turvo encanto,
Meu mundo desabando e não me espanto
Certeza de manhã dorida e fria
O quanto ainda vivo poderia
No fim gera somente o escuso manto.
Restando alguma chance aonde o nada
Reinara desde a tenra e tola infância
A cada novo passo outro vazio
E quando vejo a sorte, desconfio,
Apenas um sinal de irrelevância.
63
Bisonhamente a vida trouxe a queda
E aquém do que pudera acreditar
O risco tão somente de sonhar
Um passo no futuro doma e veda,
Aonde esta esperança não se enreda
O riso toma o sonho e sem lugar
A messe se perdendo devagar
Cobrança é nesta mesma vã moeda.
O ranço, o riso, o sonho, a morte e a lei
O quanto poderia e não terei
Nem mesmo a mera sombra de um futuro,
O torpe desenhar em frágil senda
Sem nada e nem ao menos quem atenda
Apoio em vagos tons hoje eu procuro.
64
Crivando de ilusões o que talvez
Pudesse ser ainda a redenção,
Errático caminho desde então
Aonde na verdade a queda fez
O pouco que inda resta em lucidez,
As horas com certeza negarão
E apenas vislumbrando este ermo chão
Imagem dolorosa que ora vês,
Não pude e nem quisera ter ao menos
Momentos mais felizes e serenos,
Durante o pouco tempo que me resta,
O rastro que deixara sobre a terra
Em horas, dias meses já se encerra
Imagem mais real e sei honesta.
65
Desenho a minha face caricata
Nas minhas ânsias tolas e se vendo
Apenas o que sei mero remendo
Realidade turva me maltrata
E quando o caminhar já se desata
Do passo aonde um dia me vi crendo
Num dia bem melhor, nada desvendo
A queda se prepara em vã cascata.
Risível caminhante da esperança
No quanto ao mesmo nada já se lança
E deixa sem defesas, minha vida.
O parto renegando uma ilusão
Os dias com certeza só trarão
A mera sensação de despedida.
66
Erguendo o meu olhar neste horizonte
E nada se percebe além da bruma,
A fantasia além o tempo esfuma
Sem nada nem verdade que se aponte,
No todo que deveras fora a fonte
Ao pranto com terror já se acostuma
Quem tenta outro caminho e ora não ruma
Sem ter em pleno mar alguma ponte.
Vacância dentro da alma presumida
A fúnebre dolência dita a vida
E o risco de sonhar não mais existe,
O sol se ausentaria eternamente
Quem disse claridade se desmente,
Cenário que hoje levo em mim é triste.
67
Fadado a nada ter senão a morte
O quase se transforma em redenção,
O medo não transcorre em solução
A seca dominando sem aporte,
Não tendo na verdade qualquer norte
Apenas os medonhos mostrarão
Demônios que deveras domarão
Caminho aonde o nada me comporte.
E resolutamente a vida traz
Somente um passo turvo e sempre atrás
Do quase que talvez reinasse ainda
Enquanto em sortilégios o abandono
Do qual a cada dia mais me adono
A história sem beleza alguma finda.
68
Gestara dentro da alma esta esperança
Aborto programado e nada veio
Porquanto ainda sigo em devaneio
O mundo não promete mais mudança
O corte se aproxima e a fonte lança
Invés de luz um turvo e vão anseio,
O quase se tomando e sem receio
Não resta dentro em mim mais confiança
E o tudo não pudesse ser além
Do quanto a vida nega e não retém
Senão a mesma face inconfundível
Medonha garatuja; eu sigo em frente
Sem nada que deveras apresente
O canto ainda ao longe é inaudível.
69
Horrenda face exposta sem segredos,
O manto já puído da ilusão
E nele novamente o mesmo vão
Traduz os dias mortos, ermos, ledos.
A vida se esvaindo pelos dedos,
Jamais reviverei qualquer verão,
O porto se transforma em solidão
E apenas restam tolos, vagos medos.
Espectros de um passado mais feliz
E o todo na verdade não mais diz
Sequer de alguma sombra, sigo só,
O tanto que buscara nesta estada
Estrada há tanto tempo desolada,
Apenas em poeira, ausência e pó.
70
Iria acreditar em qualquer luz?
Jamais eu pude ver além das trevas
E quando por caminhos vãos me levas
O medo tão somente reproduz
A face amarga e nela vejo a cruz
E as dores mais antigas e longevas
Matando o que seriam nossas cevas
Esgoto florescendo em farto pus.
O caos e nada além, apenas isto,
Verdade é que; talvez um tolo; insisto
Buscando esta certeza onde jamais
O mundo se faria mais diverso
E sigo sem destino no universo
Perdido em riscos tolos, siderais.
71
Jazigo da esperança; eu sigo em vão
Tentando adivinhar alguma sorte
Aonde não há nada que comporte
Somente a mesma história em solidão.
O verso se transforma em aflição
Apenas outro tanto dita o corte
E nada do que eu possa foge à morte
Em turva e tosca podre dimensão.
O riso, o risco, o medo, o pranto e a luz
Ao tanto que pudesse já me opus
Proponho outro caminho, mas não vejo
Senão a mesma espúria realidade
E o quanto a cada dia mais degrade
Não perde na verdade um só ensejo.
72
Levando a minha vida desta forma,
Sem nada nem sequer um risco a mais,
O manto em novo sonho ou desiguais
Caminhos onde o tempo nos deforma,
E quando a realidade vem e informa
Dos riscos mesmo os tolos e banais
Os ermos entre tantos invernais
O manto pouco a pouco nos transforma,
E a senda desejada agora ausente
Apenas esta queda se apresente
E mostre com terror pura verdade,
Na face desenhada em contra-senso
O tanto que desejo e já não penso,
Aos poucos sem defesa se degrade.
73
Marcando a minha pele em tons sombrios
O nada se tornando o companheiro
E nele com certeza se me inteiro
Não vejo além dos tolos desvarios,
Descendo em afluência vários rios
O mar se mostra além, mas derradeiro
Caminho aonde entranho em corriqueiro
Anseio sem saber dos desafios,
Em tantas corredeiras e cascatas
E quanto mais atroz, inda maltratas
Realças com terror o que não pude
Sagrar aos meus delírios no passado,
O risco a cada passo demonstrado
No olhar amargurado, atroz e rude.
74
Negando qualquer passo a quem se dera
Num átimo mergulho em solidão,
E sei das várias dores que virão
Reavivando em mim turva quimera,
O pranto a cada ausência desespera
E mostra a falta em rumo e direção,
Jazigo da esperança, a sensação
Da morte sem defesas se apodera.
Ocasionando em mim este cenário
Por vezes ou decerto temerário
E nele se reflete o turvo olhar
Esqueço e quando pude nada fiz,
O manto encarniçado em cicatriz
A morte pouco a pouco a me rondar.
75
Ourives da ilusão, meu verso tenta
Vencer os meus descuidos mais constantes
E quando novamente me garantes
Além do que pudesse esta sangrenta
Manhã em turva face se apresenta
Marcando com terror os degradantes
Caminhos onde em lutas agigantes
E nisto a vida trama ou dessedenta.
Expresso qualquer música em meu peito
E tanto aquém da sorte se deleito
Aceito os meus errôneos caminhares,
E sinto mal percebes ou notares
O vago delirar onde desfeito
O sonho no final, ainda aceito.
76
Procuro dentro em mim qualquer resposta
Embora saiba mesmo que não há
O mundo discordando desde já
Aonde a vida fora em vão exposta,
No quanto quis apenas a proposta
O tempo na verdade negará
E o corte com terror se mostrará
Ainda quando a fúria tanto gosta.
Resisto aos devaneios e procuro
Sabendo deste solo amargo e duro
Riscando do meu mapa uma esperança.
O vago desta ora argentina
Enquanto tantas vezes me fascina
Ao mais ledo caminho ora me lança.
77
Querendo ao menos paz, e nada havia
Somente a solitária noite em vão,
Ainda se procura a solução
Embora a face escusa e mais sombria
Demonstra a plena ausência deste dia
E mata sem sentir qualquer verão
Os tempos que vierem não verão
Sequer a menor face da alegria,
Sem ter alento sigo em noite vaga
O quanto de esperança ainda vaga
Tentando alguma praia, porto ou cais,
Mas nada se apresenta e tão somente
O mundo finalmente já se ausente
Exposto aos mais diversos temporais.
78
Restando quase nada do que há tanto
Pensara ou mesmo quis por solução
O corte se transcorre em solidão
E quando busco a messe, desencanto.
O vago caminhar aonde espanto
Incerta noite amarga em ilusão
Ourives do que fora uma emoção
Agora tão somente a dor garanto.
Esgoto em verso triste a realidade
A fonte mais amarga da saudade
Negando qualquer brilho, jaz sombria
E quando mais tentei felicidade
Apenas outra face da saudade
Aos poucos noutro canto já se erguia.
79
Somando tantos erros, nada tenho
Senão este vazio mais constante
E quando o passo apenas não garante
O todo que pensara em desempenho,
Resumo o meu caminho e não convenho
Cerzindo o corte aquém e degradante
A morte se apresenta doravante
E bebe todo o sangue que contenho.
Restando do meu canto este vazio
E nele cada vez que inda recrio
O verso se traduz por medo e dor,
Aonde quis presente uma emoção
Olhando em volta vejo o mesmo não,
Agrisalhado céu já não tem cor.
80
Tentando alguma voz que ainda escute
O canto mais audaz de quem se fez
Além do quanto pode em lucidez
Jamais se permitindo quem permute
O lastro se perdera e repercute
No tanto aonde o pouco já desfez
Além deste vazio que tu vês
Amor não permitindo algum desfrute;
O carma, a carne o gozo outra quimera
O vandalismo toma este cenário
E o manto que pensara imaginário
Agora noutra face não se esmera
E morto em vida sigo esta promessa
Aonde a sorte ausente se confessa.
81
Urdido passo em falso não me traz
Senão a mesma queda aonde um dia
Vencera com temor a fantasia
Porquanto ainda fosse mais audaz
O corpo noutro canto exposto jaz
E deixa a mera sombra em agonia
De quem se fez atroz e não teria
Senão ausência em luz, dura e tenaz.
Refeito do passado? Quem me dera,
Apenas a verdade dita a espera
E o medo se aproxima do terror,
O amante delicado agora é morto
O solitário rumo diz do aborto
Aonde se percebe desamor.
82
Vestira a mesma sombra de um alento
E nisto não coubera mais espaço
Aonde o meu caminho busco ou traço
O risco se transcorre, alheamento,
Não vejo outra alegria um só momento
O quanto me condeno a tal cansaço
E vejo o meu delírio e me desfaço
No quanto ainda quis um incremento.
Um excremento apenas, o que sou,
O vaso da esperança se trincou
Já não suporta mais conter o sonho,
E a luz vai se esvaindo em cada fresta
Apenas o que eu tenho e o que me resta
Resumo de um viver tolo e medonho.
83
Xícaras, café, bule; saudade
De um tempo que se foi pra nunca mais
Agora nos meus olhos funerais
E o manto se recobre enquanto invade
O todo se percebe na verdade
E nisto vejo apenas vendavais
Os riscos se repetem; rituais
O marco demonstrando a realidade…
Apresentando a dor como um escudo
Às vezes noutra face em vão me iludo
E tento acreditar numa esperança,
Mas quase não recebo mais o alento
De quem ao se entregar ao pensamento
Ao nada sem defesas já se lança.
84
Zelando pelo sonho de quem tenta
Acreditar na luz que ora não vejo
O tanto que pudera neste ensejo
A sorte não seria tão sangrenta,
A boca de saudade mais sedenta
O corte aonde o tanto num lampejo
Traduz a realidade onde prevejo
A morte me tomando, atroz e lenta.
Pudera acreditar em quem me disse
Do tempo traduzindo esta mesmice
E nela a sorte alheia dita o rumo,
E quando mergulhando no passado
O tanto que se vê abandonado
Nas águas do vazio já me escumo.
85
Aprendo com meu sonho a procurar
Algum mero descanso e nada vem,
Somente esta incerteza e sem ninguém
Cansado tantas vezes de lutar,
A incoerência dita devagar
O prazo que em verdade não retém
O passo aonde o nada me convém
Somente este vazio a maltratar,
Restando dentro em mim apenas isto,
O pouco que inda resta não conquisto
E sigo meramente em procissão
Vagando pela noite turbulenta
Aonde nem a sorte me apascenta
Morrendo antes da imensa insolação.
86
Bebendo cada gota do passado
Aonde fui feliz e não soubera
Do quanto em solidão a vida espera
E gera do vazio duro enfado,
Ainda acreditara em tal legado,
Mas quando vejo a sombra da quimera,
O beijo se anuncia e dita a fera
Que há tanto imaginara noutro lado,
O risco, o bote, a sorte esta tocaia,
O passo no vazio já se espraia
E o vândalo sonhar, velho ditame
Não deixa que se creia no futuro,
O tanto quanto posso me torturo
Ainda se esperança em vão reclame.
87
Cevando dentro da alma alguma luz
O marco se desenha em turbulência
Aonde poderia em eloqüência
O corte se aprofunda e gera a cruz,
O tanto quanto pude ou mais compus
O verso se transforma em virulência
A morte desta estúpida excrescência
Apenas se regala em verme e pus.
Aprendo com meus erros e os repito,
O quanto acreditara mais bonito
No fundo não seria esta verdade
Por onde caminhara em torpe passo,
E quando noutro instante me desfaço
Olhando de soslaio vejo a grade.
88
Demônios que apascento dentro em mim
Vergando em minhas costas tanto peso,
O quanto imaginara estar ileso
O nada se aproxima e dita o fim,
O manto desenhado em tal cetim
O vândalo caminho ora surpreso,
No tendo outro delírio, este desprezo
Transcende às ilusões por onde eu vim.
Acordo e nada mais do que ilusões
Os dias; mesmo nada aonde expões
A face caricata da verdade,
Resulto do que fora algum alento
E bebo inconseqüente este fomento
No qual a própria vida desagrade.
89
Escusas não as quero ou mais preciso,
O vago deste sonho nega a messe
E o tanto quanto espúrio em mim se tece
Negando qualquer sorte e algum sorriso,
O vasto caminhar, passo impreciso
Aonde nada verdade recomece
O corpo com ternura não aquece
Enquanto em sordidez eu me matizo.
Abarco a solidão e nela entranho
Sabendo a cada queda novo ganho
E gero esta insolência quando vago
Em ondas mais bravias, vejo o mar
Por onde começara a navegar
Resumo libertário e mesmo mago.
90
Flagrante caminhada rumo ao quase
Por onde comecei o verso quando
O mundo noutra face se mostrando
Ainda que em verdade sempre atrase
Enquanto a realidade me defase
Ou mesmo novo tempo deserdando
O sonho que pensara acumulando
Agora já percebo em vão sem base.
Neste ostracismo bebo a solidão
E dela se percebe desde então
O quanto acreditei e não houvera
Somenos importância tem a vida
De quem abrindo sempre esta guarida
Entrega-se ao caminho desta fera.
91
Girando o tempo mudo vez em quando
E tento acreditar nalguma luz
Ainda mesmo alheio se me opus
Eu tento novo dia vislumbrando
A queda a cada passo anunciando
O risco e nele perco o que propus
Servindo de alimária, já me pus
Revendo o que pensara renegando,
O marco se transforma em cicatriz
A própria fantasia contradiz
O barco aonde apenas sei da ausência
Porquanto procurara a solução
E sei que novos dias não virão
Enquanto nos tomar tal virulência.
92
Hedônicos caminhos; desvendara
Antanho quis a sorte que não vinha
A vida se atormenta sempre é minha
E nela se percebe a vã seara
O quanto esta verdade se escancara
E gera a tempestade aonde tinha
Somente a solidão e se avizinha
A noite solitária e não mais clara.
Rescaldos que acumulo de um passado
Aonde o preço outrora mais cobrado
Não deixa qualquer lucro ou prejuízo
Mesquinhos caminhares vida afora,
O tanto que buscara não ancora
O passo se mostrando ora impreciso.
93
Imagens tão dispersas que inda trago
De um tempo aonde um dia quis feliz
E nada mais traduz o que já fiz
Semente se transforma em tolo afago,
Neste âmago voraz aonde eu vago
O rastro tatuando em cicatriz
O velho coração, mero aprendiz,
Adentra sem defesas qualquer lago,
E embargo a minha voz quando buscara
Sentir a mansidão, mas sendo rara
A sorte benfazeja nada traz
Somente este delírio e nele tento
Ao menos aplacar o forte vento
Figura tão nefasta quão mordaz.
94
Já não suporto mais pensar no quanto
Pudesse ainda ter em dor ou prece
Bem antes que a tempesta recomece
Algum momento em paz teimo e garanto,
O quase se transborda em medo e pranto
Ao nada meu caminho agora esquece
E gesta este vazio ou já tropece
Mergulha no terrível desencanto.
Reparto outro cenário aonde pude
Vencer com mais temor uma atitude
Aonde o canto ausente dita o rumo,
E quando me vislumbro em tom sombrio
O canto; se inda existe, logo adio
E tendo o desvario além me aprumo.
95
Legado do que fora uma esperança
A fonte imaginária já não traz
Sequer mínima luz e mais mordaz
Ao nada tão somente ora me lança.
O risco de sonhar, a temperança
O fardo que carrego, mais audaz,
A morte na verdade satisfaz
Quem tem no olhar a fúria em fogo e lança;
Ausente dos meus dias qualquer messe
O tempo ao desvario se obedece
Permite tão somente o nada ter,
Quem dera ter ao menos dignidade
E ver com toda a incúria esta verdade
Sabendo a cada dia envelhecer.
96
Mergulho nos meus ermos e não tenho
Sequer a menor sombra de ilusão,
O tempo muda logo a direção
E marca com terror o ledo empenho,
A cada novo dia mais desdenho
O parto em puro aborto, a negação
E sei dos meus momentos que virão
E neles a verdade em vão desenho,
O rastro se perdendo no infinito
E quando ainda tento e sonho e grito
O medo se transforma em tal pavor,
O riso se inundando em turvo pranto,
Porém audacioso ainda canto
Tentando amenizar a fosca cor.
97
Negar a própria luz e ter à frente
Apenas o vazio onde mergulho,
O quanto no passado fora orgulho
Agora em face escusa se apresente
Por mais que novo mundo ainda tente
O velho se transborda em pedregulho,
E quando qualquer sombra inda vasculho,
O olhar se torna amargo e imprevidente.
Jardins das ilusões? Nada mais levo,
O tanto que pensara e não me atrevo
Transcende ao meu caminho e dita o fim,
Partindo para o nada de onde vim,
O todo se aproxima da verdade
E o corpo se transforma e se degrade.
98
Olhando meus pecados e são tantos
Os muitos caminhares já vazios
A cada novo tempo desafios
E sei que acumulando desencantos
Rompendo os tão puídos velhos mantos
Secando na nascente os tantos rios,
Perdendo em labirinto agora os fios
Encontro ao fim de tudo os meus quebrantos,
Não pude e não quisera acreditar
No fim a se tornar e me tocar,
Sem horizonte algum seguindo alheio,
Colhendo apenas medo e nada mais,
Os dias são terríveis, mas iguais,
E neles o terror apenas veio.
99
Pecados entre turvas heresias
E nada mais se vê somente o não,
E sei dos meus anseios de verão
Aonde na verdade não querias,
Sabendo das noitadas onde vias
O mundo em nova face e dimensão,
Agora o que me resta, podridão,
E as noites solitárias e vazias.
Não pude acreditar nalgum alento
E quando alguma sorte ainda tento
Esbarro nos meus erros, tão somente
Granando dentro em mim leda esperança
A morte sem defesas já me alcança
Não deixa sobre o solo mais semente.
100
Quimeras costumeiras, dias vãos,
E sei dos abandonos onde vivo
E tento outro caminho, mas me privo
Tentando renegar os tantos nãos.
Os tempos mais dourados, meus irmãos,
O canto aonde ainda sobrevivo
E o olhar mesmo soberbo e atém altivo
Na crença sem perguntas dos cristãos,
O caos se aproximando e no meu fim,
Uma árida expressa doma o jardim,
Escusas e promessas? Sei de cor,
Do todo que pensara, sou menor,
O farto caminhar? Mera promessa
Aonde a realidade em vão tropeça.
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