quinta-feira, 1 de julho de 2010

39501 ATÉ 39600

1

Querido,
Não precisei ver teus olhos
Para me encantar,
É pela tua alma
Que me apaixonei,
Para além do espaço,
Do tempo,
Dos limites,
Da cronologia...
Encontro marcado em
Qualquer dimensão,
Estamos ligados
Pelo
Coração!


Regina Costa


Além do pensamento
Delírio em corpo e gozo
Um tempo mavioso
E nele me alimento
Singrando além do vento
Um campo majestoso
Desvendo os teus anseios
Em boca, lábios, seios
E adentro outras defesas,
Unidos pelo amor
Rendido, o vencedor
Não há feras nem presas...



2

Amor contigo..........

Sua mente aliciante,
Sua alma excitante
Instigam-me a
Fazer amor contigo!
Ler tornou-se sinônimo
De copular,
Corpo trêmulo,
Pele arrepiada,
Pupilas dilatadas,
Face rubra,
Coração acelerado,
Respiração oscilante,
Mamilos eriçados,
Clitóris rijo,
Lábios molhados...
Sinto desejo de fazer-lhe
Carícias e ser acariciada;
Nada mais doce e envolvente
Que a poesia,
Versos penetrando,
Sensivelmente,
Como uma língua quente
Lambendo a região clitoriana,
Levemente,
Fortemente,
Alternadamente,
De baixo para cima,
De cima para baixo,
De um lado para o outro,
Levantando a pele,
Delicadamente,
A aumentar,
Progressivamente,
Comprimindo-o entre os lábios e
Absorvendo-os
Como uma fruta fresca,
Doce e suculenta!
Regina Costa

Descendo as minhas mãos encontro enfim
Em vales e montanhas, doce rio
E bebo desta fonte e me sacio
Dessedentando o amor que não tem fim,
Adentro mansamente este jardim,
E quando gozo forte eu propicio
Delírio alucinante em raro cio
Imerso em paraísos, chego enfim
Ao máximo em prazer quando inundado
Por tua enchente em farta maravilha,
Concebo do caminho cada trilha
E sinto o belo anseio em farto prado,
Repetem-se excursões a cada instante,
Um prêmio inigualável nos garante.


3

A saudade
Tempera
O tempo de espera
Com sabor de menta
D’um beijo
Roubado e demorado,
Com olor de jasmim
D’um abraço
Intenso e apertado,
Com textura da pele
Macia e molhada
D’um desejo
Usufruído e realizado...


Regina Costa

Macia pele encontro enquanto bebo
A plenitude rara de um desejo
E quando o teu prazer também eu vejo
Assim como concedo amor, recebo.
E sinto a maravilha onde percebo
O gozo delicado em bom latejo
Divina fantasia em ar sobejo,
Nas loucas emoções também me embebo,
E sinto assim total diversidade
Na festa sem limites que me invade
Em regozijo imenso estar contigo,
Desvendo em tua pele a minha imagem
Reflete sem fronteiras, tatuagem,
Aonde a cada instante mais me abrigo.


4

Ainda procurando alguma sombra
Aonde eu poderia descansar
Depois de tanto tempo caminhar
Ausente do cenário, paz e alfombra,
Apenas pedra espinho e nada mais,
Delírios de um antigo sonhador,
E quando me entranhando em tentador
Caminho feito em glórias e cristais,
Não pude perceber esta armadilha
A queda deste abismo se fazendo
O mundo que pensara em dividendo
Perdendo sua cor, já nem mais brilha,
Acordo e nada resta senão isto,
O mero desenhar onde persisto.

5

Persisto procurando
Aonde eu poderia
Quem sabe noutro dia
Um tempo bem mais brando
Ou mesmo me tocando
A luz em harmonia
Ouvindo a melodia
E nela se entornando
Divina e fabulosa
Estrada em luz e rosa
Caminho flóreo e belo,
Mas quando nada vem
Somente sigo aquém
Do sonho que revelo.

6

O sonho não me diz
Do tanto que inda quero,
E sendo mais sincero
Buscara ser feliz
A vida por um triz
O olhar doloso e fero
O quanto desespero
Ausente chamariz
De um tempo delicado
Amor anunciado
Nos ermos de minha alma,
Não tendo outro caminho
Vagando ali sozinho,
O sonho não me acalma.


7

Acalma-me saber
Do fim que conseguiste
Num rito intenso e triste
Apenas desprazer,
O quanto receber
Depois que tu partiste
E nada mais ouviste
Senão quieto sofrer,
Agora ausente, pois
Distante de nós dois
A sorte caprichosa,
Enquanto tu fugias
Também de ti os dias,
Espinho doma a rosa.


8

Indômito desejo
De ter quem tanto quis
E agora por um triz
O máximo eu prevejo,
Mas logo se trovejo
O céu estranho e gris
Aonde fui feliz
Somente um vil lampejo,
Não resta nem sequer
A sombra e se inda houver
Não mais seria a tua,
Deitando em tal cenário
O mundo temerário
Ainda a dor cultua.

9

Cultuo a cada verso
O tempo de sonhar
E sei quando notar
Aonde estou imerso,
No passo mais perverso
No duro caminhar,
Ausente de luar
Aquém deste universo,
Encontro tão somente
O quanto se apresente
De mim noutro caminho
E sei que sendo assim
A vida chega ao fim
Dorido e tão mesquinho.

10

Mesquinho caminheiro
Em busca de outra luz
E quando se seduz
Nas sendas de um luzeiro
O tanto que me inteiro
Ou morto gero pus
No vago em contraluz
O canto derradeiro
Açoda-me a vontade
De ter felicidade
E nada vem enquanto
Em voz tão dolorida
Perdendo a minha vida
Somente o fim garanto


11

Garanto a queda quando
A Musa, traiçoeira,
Gerando outra bandeira
Ou mesmo desabando
Descendo em ar nefando
Restando em cordilheira
A sorte alvissareira
O mundo me negando,
Alheio ao caminhar
Pudesse ter no olhar
Este horizonte claro,
Mas quando me anuncio
O céu fica sombrio,
E o medo então declaro.

12

Escolhe em descaminhos
Os ritos mais doridos
E sei quando sentidos
Além dos mais mesquinhos
Em dias tão daninhos
Os passos revolvidos
Os olhos já perdidos
Procuram novos ninhos,
Mas sei quanto fui fútil
E sei também do inútil
Desenho aonde vejo
Reflexo de minha alma
Apenas mero trauma
Envolto em vão desejo.


13


Surgir em minha vida
Qual fosse redenção
Ou mesmo a alegação
Da paz já percebida
Enquanto presumida
A sorte desde então
Traçando em podre chão
Deveras a caída
De quem se fez além
Do quanto ou nada tem
Tentando um novo sol,
Mas quando me calava
Minha alma tola e escrava
Procura o teu farol.


14

O vento já trazia
Teu nome para mim,
O mundo ora sem fim
Sequer um novo dia
Alento em fantasia
Ou perco o todo enfim
Amordaçando assim
A voz que inda traria
Quem sabe algum nuance
Enquanto a vida avance
E trace esta mortalha,
No pouco que me resta
Apenas mera fresta
E nela se batalha.


15

Ao mesmo tempo, vai
Rendido contra a luz
E quanto mais me opus
A vida sempre trai,
Não vejo soluções
Nem mesmo as poderia
A noite amarga e fria
Ausente meus verões
E neles não se vê
Sequer o que pudera
Apascentar a fera
Medonha e sem por que
Ainda viva em mim,
Domando tudo enfim.


16

Nenhuma luz ainda
Desvenda-se no olhar
De quem eu quis amar
E já nem mais me brinda
Com toda a sorte e finda
Em brusco o caminhar
Traçando outro lugar
Enquanto se deslinda,
Ausência de esperança
A noite sempre avança
E traça a queda quando
O mundo que eu quisera
Sem ter a primavera
Agora está nevando.

17


E toda a fantasia
Perdida noutro instante
E nada me garante
A luz que ainda a cria
Apenas heresia
E sei que doravante
Aonde quis brilhante
Nem mesmo se veria
O brilho deste olhar
E nada a me mostrar
Qualquer caminho em paz,
O quanto nada tenho
Em frágil desempenho
O canto é mais mordaz.

18


Em bando além se esgueira
O sonho de quem tenta
Vencer esta sedenta
Manhã, a derradeira
O corte, a fonte à beira
Do monte em que apresenta
A paz já não sustenta
Nem mesmo que inda queira
O risco o prazo e o preço
O amor sei não mereço
E sinto ora meu fim,
Em leda fantasia
O pouco que eu teria
Já não existe em mim.

19

Mas antes que esta Musa
Derrame seu desejo
Aonde nada vejo
E a sorte é mais confusa
O passo não se cruza
Nem mesmo inda prevejo
O tempo onde sobejo
Amor não mais se escusa
E gera outro caminho
Sincero e nele o vinho
Redime algum engano,
E quando busco a paz
Somente nada traz
E então quieto eu me dano.


20

Espalha-se nos céus
Os rumos de quem tenta
Saber que esta tormenta
Revela os fogaréus
E os dias mais incréus
A sorte já se ausenta
E nada mais se inventa
Nem mesmo claros véus,
Os olhos se cansando
O tempo ora nublando
O sol já não havia,
Apenas mergulhar
No escuro e não achar
Sequer nem mais um dia.

21


Espero que consiga
Depois do temporal
Um dia bem ou mal
Aonde a sorte amiga
Traduza o que persiga
E gere em ritual
Caminho mais igual
E nele seja a viga
O amor que não se esgota
E toma logo a rota
E saciando a sede
Do quanto em maravilha
A lua doma e brilha
Por sobre a nossa rede.

22


Uma alegria ao menos
Um riso delicado
O tempo abençoado
Em dias mais amenos
E sendo tão pequenos
Os riscos ao teu lado
O mundo em alegado
Delírio sem venenos
Arcando com os erros
Vivendo em tais desterros
Durante muitos anos,
Agora que te vejo
Rendido ao teu desejo
Em mansos, claros planos.

23

Fazer um verso manso
E ter esta certeza
Do amor rara nobreza
Enquanto em paz avanço
Sem medo do futuro
E sem saber da ausência
Da dor em penitência
Ou mesmo um solo duro,
E vivo esta emoção
Reinando sobre a dor,
No quanto sonhador
Os dias mudarão
O rumo de uma vida
Há tanto já sofrida.

24

Promessas são apenas
Momentos onde eu posso
Falar do que foi nosso
E agora se envenenas
Não vês outro caminho
Senão este por onde
A vida já se esconde
Em ar tolo e mesquinho,
Resumo a minha sorte
No passo mais audaz
E sei que tanto faz
Somente me conforte
A lua de teus olhos
Sem medos nem abrolhos.

25

A vida se transcorre
Diversa da que um dia
Há tanto ali jazia
E quando não socorre
O manto renegado
A prece em novo rito,
No quanto eu acredito
Amor abençoado
Legado de uma sorte
E nela se percebe
O brilho de outra sebe
Aonde se conforte
O passo além de tudo,
E enfim em paz me iludo.

26

O dia dita a senda
Aonde nada vejo
Senão velho desejo,
Mas nada que inda atenda
O passo em rumo à lenda
E sei do mar sobejo
Em belo este azulejo
O céu qual bela tenda
Cobrindo em luz imensa
O passo onde se pensa
Prover farto caminho
E quando mais atroz
Ainda sem os nós
Eu luto e vou sozinho.

27


Pois bem querida amiga;
Não tenho mais sequer
O tempo e se vier
A sorte desabriga,
Não tendo mais a viga
O corte eu sei qualquer
O porte se trouxer
Assim tanto periga,
Revolvo cada instante
E nada me garante
Senão a queda após
E tento ver alheio
O amor que nunca veio
Um rio sem a foz.


28

Tentando em algum verso
Falar deste vazio
Aonde eu desafio
Quem sabe outro universo,
E sinto o quanto fora
Uma alma em voz sombria
Sem ter esta alegria
A pobre sonhadora,
Mergulha no infinito
E tenta alguma chance
E nada mais alcance
Além do que acredito,
Semeio tempestade
Nas ruas da Cidade.


29

Não sei se falo em sol
Nem mesmo em alvorada
Do quase ou mesmo nada
Apenas sigo em prol
Procuro este lençol
Em plena madrugada
A sorte enluarada
Não vendo algum farol,
Resume em negritude
O quanto ainda ilude
O coração de quem
Bebera até fartar
E nada mais tocar
Onde nada contém.

30

Sem mar e sem luar
Ausente do infinito
O quanto eu acredito
Ou tento acreditar
Nas ânsias e tomar
Nem que seja no grito
O rumo mesmo aflito
Aonde navegar,
O pranto, o peso o medo
E quando me concedo
Não vejo mais sinais
De quantas vezes vira
Além desta mentira
Momentos triunfais.


31


Mas te prometo um canto
Aonde poderia
Traçar em alegria
O que desejo tanto
E quanto mais garanto
Maior a fantasia
Ou mesmo a alegoria
Vestida em claro manto,
Resumo em verso e glória
A nossa vaga história
Caminhos de esperança,
Mas quando ao nada lança
A sorte merencória
Não vejo mais mudança.

32

Olhando para além
Sem ter noção de nada
A sorte desenhada
Agora não contém
Sequer eu sou refém
Da vida desejada
Ainda quando alçada
Nas ânsias quando vem
Dizer do passo aonde
A ausência me responde
E gera inconfidências
Pudesse pelo menos
Saber bem mais amenos
Os dias e inclemências.

33


Luzindo gloriosa
A noite em lua clara
E quando se prepara
Traçando em mim a rosa
Além da nebulosa
Viagem se escancara
E dita esta seara
Por si tão fabulosa.
Erguendo qualquer prece
Ao nada onde se tece
O fim de quem sonhava
O medo não mais dita
A sorte necessita
De uma alma não escrava.

34

Guerreira em noite vã
Buscando seu caminho
Sabendo cada espinho
E negando a manhã
A sorte sei malsã
E nela vou sozinho,
Aonde quis um ninho
Inútil cada afã
Respaldos? Não mais tendo
Apenas sou remendo
Respiro tão somente
E sei do quanto outrora
A vida não se aflora
E quando chega, mente.

35

No amor me trouxe rosa
Ou mesmo algum perfume
Por onde quer que eu rume
Estrada pedregosa,
A marca dolorosa
Até que eu me acostume
Ausente qualquer lume
A vida é caprichosa,
Resumo em verso e medo
O todo onde procedo
E nada mais teria,
Senão esta vazia
Manhã escassa e fria
Em pleno desenredo.


36

Na vida, carnaval
No tempo tempestade
E o mundo na verdade
Caminha muito mal,
Aonde quis astral
Reinasse a claridade
O medo já me invade
E torna desigual
O passo rumo ao quanto
Pudesse e sei que tanto
Espaço não me cabe
Bem antes que desabe
Em mim este universo,
Prefiro e me disperso.


37

Desculpe-me, querida
Não quero mais saber
Da vida sem prazer
Ou mesmo se duvida
Do tempo aonde urdida
A morte posso ver
E nela o que viver
Aonde tudo acida,
Revendo o meu caminho
Eu sei quanto é daninho
O passo que inda dou,
Recolho os meus pedaços
E sinto velhos baços
Caminhos pr’onde eu vou.


38

Sem Musa, é impossível
Seguir sendo poeta
A roupa predileta
Agora é perecível
Vencer o que puder
Saber do quanto ilude
O manto em atitude
Ou corpo da mulher
Risonha companheira
Sisuda vez em quando
Ao todo me entornando
Descendo a cordilheira
A sorte se desfaz
E nada dita a paz.

39

O homem guarda a fera
Bisonha e traiçoeira
E quando mais não queira
A sorte destempera
E novamente gera
A poda derradeira
E sei quanto estradeira
A morte em outra esfera,
Resumo de um passado
Aonde sonegado
Sorriso não se via,
Apenas o que tenho
E nisto sou ferrenho
A dura fantasia...

40


Crescendo aos olhos quando
O mar já me inundara
Tomando esta seara
E tudo naufragando
O manto desabando
E o corte desampara
E nada mais prepara
Quem vive em contrabando,
Restando de meu sonho
O quanto inda proponho
Em verso, voz e treva,
O parto não se dera
E morta a primavera
Inverno em mim, já neva.

41


Na mão que me maltrata,
O olhar que violenta
A sorte mais sedenta
Deveras tão ingrata
Aonde esta fragata
Vencera uma tormenta
No fundo se apresenta
A voz mais insensata,
Restando do que eu sou
O pouco que sobrou
Depois do maremoto,
O sonho não mais vejo
E sei qualquer desejo
Deveras mais remoto.

42

A dura tirania
Da sorte sobre o sonho
Momento mais bisonho
Aonde não teria
Sequer a fantasia
E nela se me enfronho
O todo recomponho
Em podre alegoria
Resumo do que sinto
O preço deste instinto
Extinta luz em mim,
Aos poucos me negara
A lua intensa e clara
Ausente em meu jardim.


43

Na luz que sempre nega
O passo de quem busca
Sabendo ser tão brusca
A vida quase cega,
Fagulhas num momento
Em novos temporais
E sei dos desiguais
Caminhos onde tento
Seguir a lua quando
O dia se transforma
E toma nova forma
Aos poucos se nublando
Assim dentro de mim
Também vejo o meu fim.

44


A fera ruge alheia
Ao quanto pode estar
Quem tanto quis amar
Tecendo a velha teia
Aonde se incendeia
E bebe este luar,
Pudesse navegar
Aonde amor anseia,
Reluto e a queda sinto
No passo quase extinto
Mudando a direção,
O olhar já não combina
E sabe a cristalina
Manhã de outro verão.

45

A mesma mão que bate
Talvez ainda acolha
E sei quando recolha
O tempo onde relate
O corpo este arremate
E nele a velha bolha
Aonde quis a folha
Podado já desate
Meu passo em verso e pranto
E quando me garanto
Não tenho a sutileza
De quem se sabe além
Do todo e já contém
Consigo esta certeza.

46

O quanto se oferece
Do olhar a quem domina
E logo se fascina
Ou tanto ainda tece
O quanto se merece
A mão que determina,
E assim a minha sina
Esquece qualquer messe,
Vagando pelo nada
Aonde quis estrada
Somente solidão
Atalhos, desconheço
Apenas o tropeço
Meus pés encontrarão.


47

A boca que pragueja
O medo que sacia
O risco a cada dia
A vida mais andeja
A porta não teria
Sequer aonde veja
O quanto em mim lampeja
Ou mais não se irradia
Erguendo cada olhar
Neste horizonte além
O todo quando vem
Desvenda devagar
Meu passo rumo ao nada,
E nele nova estrada.

48

Ainda quis a porta
Aonde pude ver
O sol ao renascer
E o sonho já transporta
E nisto pouco importa
O quanto acontecer
Somente perceber
A sorte atroz e morta,
Não vejo outro momento
E quando dessedento
A sorte de outra forma,
A morte se traçando
Aonde fora brando
E tudo se deforma.

49

Palavra que consola
Aquela que talvez
Já nem sequer mais crês
Ou mesmo em vã degola
Estende a mão enquanto
Permite a punhalada
A sorte assinalada
E nela já me espanto
Morrendo pouco a pouco
E nada mais eu levo
Aonde quis longevo
Agora mero louco
Restando no vazio
E nisto eu me desfio.


50

Injúrias são constantes
E sei que nada disto
Traduz enquanto insisto
Em ritos que garantes
Diversos e brilhantes,
E nunca mais desisto,
Restando se resisto
Em medos discrepantes,
Galopo pelo nada
E vendo esta alvorada
Há tanto desolado,
Refém da fantasia
O quanto me daria
Agora é vão passado.

51

A morte deste amor
Não pode ser assim
Começo dita o fim
E em vão tal sonhador
Procura o redentor
Caminho em seu jardim
Vagando sempre em mim
O corte o medo e a flor,
Resulto deste nada
E quando em invernada
A sorte poderia
Gerar uma alegria,
Mas morta esta alvorada
Apenas fantasia.

52

Ainda quando eu quis
Sentir o leve aroma
Do amor quando nos toma
E ser talvez feliz,
A sorte por um triz
Negando qualquer soma
Deveras não mais doma
E gera a cicatriz,
Restando deste encanto
O pouco que garanto
Em ar mais delicado,
Resumos de uma vida
Há tanto destruída
Em duro e ledo enfado.

53

O canto que me ofende
O manto que não cobre
O resto se descobre
E nada mais atende,
O pranto vaga em nós
E doma cada passo
Aonde apenas traço
Sorriso quase atroz
E sinto assim o fim
E nele não cabia
Nem mesmo a fantasia
E o corte sei em mim
Podando esta esperança
Ao medo agora lança.

51

A morte deste amor
Não pode ser assim
Começo dita o fim
E em vão tal sonhador
Procura o redentor
Caminho em seu jardim
Vagando sempre em mim
O corte o medo e a flor,
Resulto deste nada
E quando em invernada
A sorte poderia
Gerar uma alegria,
Mas morta esta alvorada
Apenas fantasia.

52

Ainda quando eu quis
Sentir o leve aroma
Do amor quando nos toma
E ser talvez feliz,
A sorte por um triz
Negando qualquer soma
Deveras não mais doma
E gera a cicatriz,
Restando deste encanto
O pouco que garanto
Em ar mais delicado,
Resumos de uma vida
Há tanto destruída
Em duro e ledo enfado.

53

O canto que me ofende
O manto que não cobre
O resto se descobre
E nada mais atende,
O pranto vaga em nós
E doma cada passo
Aonde apenas traço
Sorriso quase atroz
E sinto assim o fim
E nele não cabia
Nem mesmo a fantasia
E o corte sei em mim
Podando esta esperança
Ao medo agora lança.

54

Lançando a minha voz
Procuro algum remanso
E quando não alcanço
Saudade diz feroz
E o canto mais atroz
Deveras não mais manso
Enquanto ao vão me lanço,
Sabendo o nada após.
Ao menos se eu pudera
Viver além da espera
Momento mais tranqüilo,
Mas quando vejo o fato
Em vão eu me maltrato
E as dores eu desfilo.

55

Desfilo ao longe o olhar
Buscando outro horizonte,
Mas nada mais aponte
Senão este lutar
Ausência a se entornar
Negando qualquer fonte
E mesmo que desponte
Jamais virá tocar
O coração de quem
Já sabe o que contém
Este horizonte gris,
E nada sendo meu
O mundo escureceu
Diverso do que eu quis.


56


Diverso imaginar
Pudesse ainda ter
Senão algum prazer
Quem sabe me tocar
E sendo assim só teu
Viver esta ventura
Que tanto se procura
Enquanto se perdeu,
Vencido pela dor
Gerada pela ausência
Quem tanto em inclemência
Buscasse o redentor
Desejo que não veio
Num tolo e vão anseio.

57

Anseio algum momento
Aonde ainda tenha
A luz onde se embrenha
Inteiro o pensamento
E quando mais eu tento
Ausente brasa e lenha,
Sem nada que convenha
A vida fecha o cenho,
Quando absolutamente
O corpo também mente
Buscando outra paragem,
Não quero e não prossigo
O sonho era contigo,
Agora é só bobagem...

58

Bobagens tantas delas
Durante a minha vida
Tentando em despedida
Além do que revelas
Tecendo em nós as telas
A sorte consumida
Na aurora presumida,
No barco, soltas velas.
Navego por diverso
Caminho em cada verso
Buscando ser feliz,
A cada engano eu vejo
A morte do desejo
Diversa do que eu quis.

59

Quisera apenas isto
Um manso caminhar,
Sem nada a reclamar
Apenas, pois existo,
E quando além insisto
Tentando devagar
Somente divagar
Aos poucos eu desisto,
O mundo traz a adaga
A nisto tudo draga
Estraga o Paraíso,
Em mantos mais escusos
Os passos mais confusos,
Já nem quero ou preciso.

60

Preciso tão somente
De quem possa comigo
Vencer meu medo antigo
E ter no olhar semente
Aonde se pressente
O tempo onde prossigo
Um mar imenso e digo
Do quanto em paz freqüente
Altares recriados
Em dias desolados
O fim já se concebe,
O manto em turva face
Ainda quer que eu grasse
A morte me percebe.

61

Percebo após o vento
Devastação completa
Aonde se repleta
A vida em sofrimento
Por vezes me alimento
Da fúria predileta
Do corte que ora veta
E traz o alheamento,
Vencer meus dissabores
Tentar em novas cores
O que se fez grisalho,
Assim no dia a dia
O quanto poderia
Em vão teimo e batalho.



62

Batalhas que esta vida me ensinara
Estúpida promessa de vitória
Não quero esta inefável tola glória
O meu olhar não passa da seara
Aonde a realidade se escancara
E gera novamente merencória
A face que hoje sou; a mera escória
E o nada que após isto se prepara.
Não quero os privilégios de quem arca
Com sua realidade mesmo parca,
Apenas liberdade pra sonhar.
O corte a falsa luz, delírio e fama
Minha alma com certeza não reclama
Somente quer um canto e descansar.


63

A vida não se fez conforme eu quis
E nisto pouco importa sim ou não,
Não quero os raios fartos do verão
Nem mesmo o céu etéreo, amargo e gris
Seguir a correnteza como eu fiz,
Não tendo em minhas mãos este timão,
Apenas carregar a embarcação
A um porto dos meus sonhos, chamariz.
Falena que seguira a tênue luz
O tanto onde sonhara e o vão compus
Sem ter sequer além uma ousadia,
Usando da palavra, um instrumento
De um mundo em incertezas me alimento
E dele faço a minha poesia.

64

A sorte descerrando último pano
Fechando o que deveras fora vida.
Decepcionando a sorte em despedida
Gerando a cada passo desengano,
Quisera na verdade um novo plano
A messe abençoada e repartida
Palavra sobre o fato sendo erguida
Não tem magia alguma, gera o dano.
Senhores e senhoras; pois adeus.
E por favor rasgando os versos meus
Perdoem cada frase que escrevi
O mundo necessita de ilusão
Crueza diz do nada e nisto é vão
O nada que encenei e pus aqui.

65

Jorrando dentro em mim apenas isto,
O farto caminhar, cansaço tanto
E quando alguma vez ainda canto
Minha alma sem Jesus e sem Mefisto,
O pouco que inda resta e nisto insisto
Não passa na verdade de quebranto
À morte vez por outra me adianto,
E enquanto houver teclado inda resisto.
Mas sei do quanto inútil ser assim,
Retrato o desvario de onde vim
Ousando pelo menos na verdade,
E sinto que talvez seja esta face
Aquela que no fundo me desgrace
Enquanto ato final mais parte brade.

66

Queria poder crer no amor e ter
Versos mais delicados, sonhadores.
Falar das ânsias tolas dos amores
E ver mesmo que falso algum prazer,
Queria discernir o que é viver
E crer nestes momentos redentores,
Cevando em meu jardim diversa flores,
Porém tempo se esvai sem recolher
Apenas a mortalha dita o rumo
E quando neste nada eu me acostumo,
Minha última parceira, a poesia
A cada dia ausenta um pouco mais,
Deixando rastros duros, terminais
E a noite cada vez fria e vazia.

67

Não vejo mais sequer sombra de quem
Um dia se fez tanto e agora nada
A vida não permite esta alvorada
E sei que meu caminho não contém
Senão a mesma dor e nela vem
A fúria de uma noite anunciada
E sendo sempre assim fria e nublada
Dos sonhos de um poeta, muito aquém;
Um mero passageiro do vazio
Ainda quando tento, teimo e crio
Percebo a fonte ausente onde não veio
Sequer uma alegria e; quem me dera,
Gerasse novamente em nova esfera
O tempo que não vejo, mas anseio.

68

Aqui tu não terás sequer a face
Horrenda da verdade em que me infiltro
O mundo preparando o fino filtro
Trazendo o olhar que duro me desgrace,
Um biltre tão somente eis o que sou,
Resumo em dor e medo esta verdade,
No quanto algum sorriso em falsidade
O olhar bem mais suave se mostrou,
No fundo tudo é mera hipocrisia
Acompanhando o mundo em seu sarcasmo,
Tentando imaginar um novo e pasmo
Caminho onde a verdade não traria
Sequer a menor sombra do ilusório,
Especular desenho atroz e inglório.

69

O canto de quem sonha e se faz tanto
Fiel de outra balança mais diversa
E quando sobre o nada o tempo versa,
Apenas ilusão e isto eu garanto,
O passo contra o qual eu me levanto
Tentando enquanto a vida desconversa
Gerar outra incerteza e mais dispersa
Vencer a dura face em vil quebranto.
Mentiras, falsas luzes, nada além,
E o pouco que em verdade ainda vem
Não deixa que se veja em face clara
O mundo já desnudo de paixões
No nada aonde o tanto tu me expões
Apenas a mortalha se declara.

70

Ouvindo a mesma voz que um dia fora
Aquela que traçara o meu caminho
E tendo a cada passo novo espinho,
A sorte não seria tentadora,
Aflora-se somente esta ilusão
E nela me alimento sem saber
Do dia que jamais virá nascer
Matando o que restara de um verão,
A podre face exposta da maçã
Mortalhas acumulo vida afora
E o pouco que em verdade ainda aflora
Traduz a realidade tão malsã.
Quisera pelo menos um instante
De um mundo mais suave ou deslumbrante.

71


Acrescentando o nada ao quanto pude
Vestir durante a vida em ilusões
Diversas, discrepantes sensações
E um passo sempre aquém ator e rude,
Tentando até mudar minha atitude
Vencer as mais terríveis tentações
E crer nas esperanças dos verões
Embora o tempo sempre eu sei que mude.
Olhar e pelo espelho perceber
O quanto decomposto posso ver
Meu rosto envolto em marcas tão profundas,
A morte me rondando e nada vejo
Somente a ausência plena de um desejo
As próprias mãos agora estão imundas.

72

Restando muito pouco do que um dia
Pensara ser um todo e nada resta
Somente este final de fria festa
Aonde outra verdade não havia,
O corte se traduz hipocrisia
A morte já perdeu a tez funesta
A luz não passa mais de mera fresta
O passo dado em vã desarmonia.
Tetânico caminho em luz tão turva
O passo ensandecido agora curva
E tenta vislumbrar o que não há
Contando os meus retalhos vida afora
Apenas o vazio ainda aflora
E toma toda a vida desde já.



73

Não quero mais saber de qualquer fato,
Apenas numa ermida, esta redoma
Minha alma na verdade ora se doma
E nisto não sou mesmo bom ou grato,
E quando no vazio eu me retrato
Cansado de lutar, o nada assoma
E toda este certeza agora toma
Servindo o mesmo insosso e vago prato.
Ousara até gerar os meus demônios,
E agora depois destes pandemônios
Não crendo mais em santos nem na cruz
Do nada ao nada volto e pouco importa
O que inda existiria atrás da porta
Se à plena escuridão eu me propus.

74

Alheio ao que vier, ou riso ou dor,
Sigo anestesiado; vida afora
Nem mesmo a morte agora me apavora
E digo mais; seria um bom favor.
No quarto escuro vejo este estupor
E a marca do que eu fora já decora
Em tatuagem funda e se demora
Reflexo de outro tempo encantador,
Dos goles de aguardente, meus cigarros
Prazeres momentâneos disto eu sei,
Jamais eu desejei riquezas, carros,
Apenas ser feliz. Não consegui.
E agora no vazio eu encontrei
O quanto desejei, e estava aqui.

75

Não posso e não devia nem falar
Das tantas heresias que acumula
Uma alma entregue à fúria, medo e gula
Sem ter sequer aonde descansar.
Ausente dos meus olhos qualquer mar
Apenas solidão ainda ondula
Nem mesmo uma saudade mais me adula
Pudesse tão somente me encontrar.
Adentro estes porões de uma alma podre
E arrebentando assim tonel ou odre
Os vinhos da esperança se esvaindo,
Com sangue, o que me resta em rubro tom,
Tentando adivinhar do sonho o dom,
Não tendo mais opções, decerto eu brindo.

76

Talvez fosse um poeta e mesmo assim
O sonho se afigura em pesadelo.
Real caminho feito em tal desvelo
A seca não traria algum jardim,
Dos ermos que carrego este estopim
Deveras com terror eu passo a vê-lo
E sei desta ilusão torpe novelo
Matando qualquer luz que houvera em mim.
O canto de promessa, falso guizo
E sei do toque atroz tão impreciso
Da vida amortalhando cada passo,
Navego em mar sombrio e na distância
Na vida sigo alheio e a discrepância
A cada nova ausência, em mim eu traço;

77

Falar das ilusões é bem melhor,
Redime as nossas falsas fantasias,
Mas quando na verdade tu erguias
O mundo feito em lágrima e suor,
O tanto que eu conheço já de cor
Caminho entre pedras e agonias,
Mergulho meus anseios em vazias
Estâncias, meu espaço é bem menor.
Apenas condenado ao nada ser
O corpo mesmo em vida apodrecer
Nascido temporão em tempos quando
A farsa dominando a realidade
Ainda quando forte o sonho brade
O mundo sem defesas, sonegando.

78

Expresso em ilusões o meu caminho
E tento adivinhar qualquer espaço
Aonde na verdade o que inda traço
Não gera nada além do vago espinho,
Se eu tanto fora outrora mais mesquinho,
O olhar adoecido diz cansaço,
E quando me entranhara em velho laço
Pressinto quanto eu sou ermo e daninho.
Resolvo com mentiras minha vida?
No quanto esta verdade fora urdida
Difícil mesmo olhar num claro espelho;
Tentando imaginar o que não fui,
O quadro aos poucos queda e tudo rui,
Um tolo, na esperança eu me aconselho.

79

Não posso coletar entre os meus danos
Escombros que inda façam nova vida,
A imagem tantas vezes destruída
Traduz ora somente os desenganos,
Mudara tantas vezes, velhos planos,
Verdade noutra face sendo urdida
A senda imaginária já perdida.
Os cortes entre medos mais profanos.
Restaurações de velhos tolos prédios
Gerando novamente em mim tais tédios
E assegurando apenas o non sense
Em solilóquio busco uma resposta
A verdadeira face decomposta
Apenas do vazio me convence.

80

Amigo, não terás aqui o alento
Nem mesmo alguma hipócrita mentira
O quanto desta vida nos retira
Levando sempre ao mesmo sofrimento,
A dor regendo enfim meu pensamento,
Do todo já puído em cada tira
A farsa se embebendo ora desfira
O tiro em holocausto e provimento.
Não venderei sequer mais ilusões,
Se os dias mortos negam soluções
Nem deuses nem demônios, tudo é vago,
Apenas ar sombrio e olhar nefasto,
Porém desta verdade eu não me afasto,
É tudo que sincero hoje eu te trago.

81

Agarro-me aos sargaços como um cais,
Um náufrago desenha em tom atroz
O quanto já distante; tantos nós
Dos barcos ou de sonhos virtuais,
A morte se aproxima e sei bem mais
Ao dizimar em mim a luz e a voz,
O próprio acreditar se fez o algoz
Momentos que inda restam; terminais.
Ocaso dentro da alma de um poeta,
E nada do que vejo; me completa
Nem mesmo poderia, pois no fim,
A morte se apresenta mais sublime
E enquanto meus enganos; já redime
Transcende ao que inda existe dentro em mim.

82

No tanto que inda fora meu reflexo
Devastações em turvas tempestades
Percebo embora mesmo não te agrades
O mundo agora morto e mais perplexo,
Buscara na verdade qualquer nexo
Aonde discernisse realidades,
Cansado dos meus ermos, falsidades
O passo rumo ao nada é mais complexo.
Arranco dos meus olhos o horizonte
E sei quanto deveras não se aponte
Nem mesmo qualquer luz onde se quer
Ausenta-se esperança quando eu tento
Tentar acreditar em tolo alento
Na imagem mais etérea da mulher.

83


Restando muito pouco do que um dia
Pensara resistir aos temporais,
E quando mais distante vejo o cais
A sorte se transforma em ironia,
O todo noutro pouco se daria
E apenas resumindo em tais jograis
O olhar enfrenta turvos vendavais
Do todo só me resta a hipocrisia.
Na farsa desenhada pela vida,
Ourives da palavra, na partida
Não sabe mais sequer inda seu nome,
Imagens tão confusas, minha mente,
Aos poucos o final agora sente
E a dura realidade me consome.

84


Não quis acreditar em luzes quando
O mundo se desfaz e toma a cena,
Nem mesmo uma esperança já serena
Enquanto este cenário desabando,
O passo rumo ao nada me tornando
Menor enquanto a vida me apequena
E a morte na verdade agora acena
Momento inesquecível me tomando.
Pudesse ainda ter leve esperança
Mudança? Na verdade nada alcança
Cansado caminheiro da ilusão.
Se a própria poesia me atormenta
Uma alma exposta à luz morre sangrenta
Aonde encontraria a solução?

85


Meu canto muitas vezes se fez breve
E tendo alguma luz após o nada
Gerara por si só uma alvorada
E agora com certeza não se atreve,
O quanto quis de sol, gerara a neve
A morte se demonstra e assim em cada
Verso prenunciando a derrocada
Não tendo mais um cais aonde leve
O corpo ensangüentado da esperança.
Mortalha já tecida pelo anseio
E quando a realidade tensa veio
E uma alma insaciada ora se cansa,
Não resta qualquer luz, a vida esvai
O pano lentamente, então descai.



86

Fechando de minha alma seus umbrais
Não tendo outro momento em sol e luz,
Apenas ao vazio me conduz
O passo aonde um dia quis bem mais.
Realidade morta em vendavais
E neles o passado inda reluz
Maltrata e degenera em corte e pus
Sabendo que embebê-lo; pois, jamais.
Meu canto em dissonância e em vagos tons
Momentos que julgara ainda bons
Não foram nada além do falso brilho,
Afasto-me dos sonhos e mergulho
Cavando com meus dedos cada entulho,
Porém é minha a dor; não compartilho.


87

O canto abençoado de um passado
Aonde até pensara ser feliz,
O quanto do futuro é chamariz
Ou mesmo este vazio retratado,
O gozo muitas vezes delicado
O tempo na verdade contradiz,
E sendo tão somente este infeliz
Há tanto pela fúria já marcado,
Não tendo qualquer deus que ainda alente
Após o descaminho irei ausente
Sem luz ou treva ou medo ou ânsia e gozo,
Apenas tão somente ermo e vazio,
Jazigo vira a foz de um turvo rio
Que em todo o seu caminho é pedregoso.

88

Não quis e não pudera acreditar
Nas ânsias de uma louca fantasia;
A vida na verdade não queria
Nem mesmo qualquer lume a me tocar,
O farto e necessário caminhar
Buscando qualquer sombra de alforria
No fundo gera a velha hipocrisia
Atormentando a vida devagar.
À sombra de uma leda paciência
Ainda busco ao menos a clemência
E sei que no final, a dor impera.
Arguta e sem preceitos vejo a morte
Roubando cada apoio que suporte
Mantendo com frieza viva a fera.

89

Jogado nalgum canto desta casa
Cadáver da esperança nada traz
Aonde no passado quis a paz
A sorte pouco a pouco se defasa,
O medo na verdade não se atrasa
Nem mesmo a face escusa e tão mordaz
Do que pensara ser somente audaz
Em fúria me tomando tudo abrasa.
No incêndio sem defesas, cinzas, morte
A porta se cerrando e nada além
Apenas o sombrio vão contém
Não tendo nada mesmo que conforte,
É fim e neste enredo nada faço
Do pouco que já fui nem mesmo um traço.

90

Matando há muito tempo Satanás
Não temo seus rancores, pois são meus,
Os olhos se preparam para o adeus
Quem sabe no final, ausência é paz?
O todo ou mesmo o nada, tanto faz,
Meus ritos se tu queres, são ateus
Também não necessito do teu deus,
Que é tantas vezes vil, cruel, mordaz.
No fim especular imagem; dano
Daquilo que deveras sendo humano
Propõe um ideal ou seu contrário
Embora reconheça, na verdade
Que mesmo vaga e fria falsidade
À plebe este caminho é necessário.

91

Não quero qualquer prêmio nem castigo,
Não necessito assim de teus senhores
Demônios e deidades tais tumores
Condenam ao risonho e mau abrigo,
Verdade já cansei e não persigo,
Os olhos não traduzem mais as cores,
Rebanho prosseguindo se tu fores
Louvores preparando pro jazigo.
Se nada mais movendo o pensamento
Já não buscando além qualquer provento
Ou mesmo esta vergasta, fogo e fúria,
Uma alma se esgotando no final,
Adentra este vazio sepulcral
Não tendo qualquer messe nem penúria.

92

O risco de sonhar é tão premente
E gera novo dia aonde há nada,
Eterno renascer de uma alvorada
Jamais uma alma apenas alimente
Não sou e não seria mero crente
Ou mesmo quero a sorte premiada
Tampouco o desvario em vergastada
Não sou e não seria penitente.
Vivendo por viver e nada mais,
Esgoto o meu caminho em dias tais
Sem ter qualquer alento ou mesmo a glória,
Rasgando este evangelho onde a mentira
À torpe fantasia nos atira,
Sendo indigesta a imagem da vitória.

93


Não posso e nem que eu queira poderia
Arcar com tais tolices, luta e guerra
Enquanto esta heresia nos encerra
Gerando tão somente esta sangria,
Fantasmas, deuses, ritos, a ironia
Aonde toda a sorte já se cerra
Cordeiro? Bom deveras o que berra
Jamais o que se dá em fantasia.
Não quero ser por ti pastoreado.
Se na verdade nunca quis ser gado,
A liberdade é tudo o que me resta,
A vara em tuas mãos, o prêmio após,
Escondem o sarcasmo deste algoz,
Que à própria criação, nega ou detesta.


94

Se eu trago em meu olhar desesperança
Somente e nada mais, o que interessa
A quem se fez audaz e tendo pressa
À morte na verdade não se lança,
Não tendo nem na crença confiança
Ainda noutra face se confessa
Vontade de lutar, já não expressa
Não suportando até qualquer mudança.
Ridículos fantoches em rebanho,
Apenas vendo à frente perda ou ganho
Caminha sobre a Terra, em marcha fútil,
Redimem-se nas vagas vãs quermesses
E assim uma esperança além tu teces,
Fingindo ser deveras um ser útil.

95

Ocasionais esgotos onde eu pude
Tentar sorver a benta fantasia
No olhar de quem se esconde em sacristia
A mão castiga e espalha em tom mais rude
Precoce aborto, morta a juventude
No olhar mais tenebroso, esta ironia
Pensando ter em dom, sabedoria
A quem ainda a fera tola ilude?
Olhando os templos de ouro, mirra e incenso
No quanto em desamor agora eu penso
E lavando a minha alma na verdade,
Escárnio feito em tom de safadeza
Rebanho se transforma em tola presa
O prêmio em redenção, eu sei que o agrade.

96

Aos cães este alimento em salvação
Já basta e na verdade é feito o jogo
E nele cada aparte dita o rogo
Moldando tão somente a divisão.
Os dias mais estranhos mostrarão
O quanto é falso o gozo e também fogo,
A morte é sempre igual, aqui, no Togo
Final é traduzido em podridão.
Mais fácil é te vender esta promessa
De um tempo que após outro recomeça
E ter sob o domínio a humanidade,
Há tanto se repete esta falseta
Mais fácil se cobrar o que prometa
Fingindo com sarcasmo uma humildade.

97

Encruzilhadas ditam descaminhos
A sórdida presença deste deus
Vendido em rituais, ditando adeus
Sagrando mais a dor e seus espinhos
Do quanto são tais seres mais daninhos
Os vendilhões espalham torpes breus
Caóticos canalhas, desde hebreus
Aos novos coronéis, iguais os ninhos;
A viperina fome não se aplaca
Do dólar à velhusca e vã pataca
Exploram infantil temor que ainda
Espalha-se deveras no universo
Nas mãos de um ser canalha e tão perverso
Tilinta esta vergonha onde se brinda.

98

Jazigo da esperança? Nada disto,
Apenas não suporto ver a fera
Atocaiando o gado que inda espera
O salutar caminho; aonde insisto
Imagem secular, velho Mefisto
E nele eternamente a primavera
Gerando o pandemônio destempera
Na face contraposta de algum Cristo.
Negar este deboche; uma heresia?
No quanto o corpo em dor ali jazia
Orgásticos e hedônicos venais
Repartem com furor os vários dotes
Em ritos tão diversos quando iguais
Chacais se travestindo em sacerdotes.

99

O gozo que tu tens ou mesmo até
O mero caminhar por sobre a Terra
No quanto em sortilégio se descerra
Marcando em sutileza a podre fé,
Ataram desde sempre esta galé
E nela toda a farsa não desterra
Aonde se quis paz, somente a guerra
Semente apodrecida pela Sé.
Exploram velhos mitos, profecias,
E geram mais demônios do que luzes
E vendem com tal lucro suas cruzes
Além do que talvez; tu pensarias
Esgoto o verso em trevas quando vejo
A imagem de um cadáver em tosco ensejo.

100

Já não queria mesmo algum alento,
A morte se aproxima e sei que é minha,
O quanto do vazio se avizinha
E nega qualquer luz ou provimento
Em pouco de outros seres alimento,
A sorte nem por isso é mais daninha
O nada aonde a vida ora me aninha
Fazendo neste solo, o pavimento.
A pútrida faceta da verdade
Não tanto me delira ou desagrade
Apenas não me diz nada somente;
Quem tanto de cadáveres se fez
Agora qual cadáver tem a vez
De ser da própria vida outra semente.

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