sexta-feira, 2 de julho de 2010

39601 até 39700

1

Viver e acreditar na redenção?
Não sei o quanto possa divergir
Do todo ou tão pouco que há de vir
Seguindo sem pensar tal procissão;
O mundo em mais completa divisão
Não sabe e nem concebe este elixir
Não sendo nem plebeu sequer vizir
Somente o tempo diz do sim ou não.
Herméticos caminhos? Nada disso
O quanto do meu passo é movediço
Ou mesmo nada traz senão a queda,
O risco de sonhar ou ter em mente
A vida noutra face onde freqüente
Apenas a certeza que me veda.



2

Cerzindo com meu verso o que me importa
Abrindo o coração ao que virá
E sei do tempo amargo ou mesmo já
Ainda não descerro plena a porta,
O sonho a cada instante o mundo aborta
E vejo a realidade aonde irá
O tempo com terror demonstrará
O nada aonde o pouco me transporta.
Escuto a voz do vento e isto me basta,
A farsa desmontada agora gasta
A garra desta fera não me entranha,
Além só vejo enfim neste horizonte
O sol que inevitável sim, desponte
Por sobre azulejada e grã montanha.


3

O tempo não mais traz qualquer lembrança
Nem mesmo poderia alimentar
A vida com o velho caminhar
Sabendo que este tempo sempre avança,
Se ainda residisse na criança
Bebendo a falsidade deste altar
Ou mesmo a tenra imagem macular
Tentando inexistente temperança
Seria na verdade mais cruel,
A vida não se faz qual carrossel,
Retrovisor quebrado, eu sigo em frente
Após a luta insana o que me resta
Após o sol imenso ou mera fresta
Apenas o que traz este poente.

4

Não pude acreditar em cada farsa
Jogada sem sentido ou direção,
O mundo se mostrando sempre em vão
O passo a cada ausência se disfarça
E quando a realidade o tempo esgarça
Tecendo dentro em mim a podridão
Nem mesmo novos rumos se farão
Migrante arribação, imensa garça,
A vida não permite o recomeço
Resumo o meu caminho em adereço
E mudo até quem sabe ver o fim,
Colheitas sonegadas, vagos dias,
E nele com certeza cevarias
Eu sendo mero esterco em teu jardim.

5

Ocasiões diversas; tive enquanto
Ainda pude crer noutro cenário,
Mas quando vira apenas temporário
Delírio aonde eu tento e mesmo planto,
Revelo em desvario o que ora canto
O gozo é mero mote imaginário
Não gero e nem preciso de adversário
É meu e pouco importa riso ou pranto.
Bastando-me decerto sou opaco
Meu barco em qualquer cais; agora atraco
E não me importa mais se existe rumo.
Do nada simplesmente ao nada volto
Amarras da ilusão delas me solto
E a tal fragilidade eu me acostumo.


6


Não sei e não preciso descobrir
O quanto pude ou posso, tanto faz.
Meu erro é caminhar buscando a paz
Sabendo do vazio no porvir,
Errático cometa, eu sou tenaz,
E busco ainda um dia a presumir
E sinto que deveras vai se abrir
A cova aonde o corpo se desfaz
E nada alimentando outro caminho,
Se um dia serei cardo, flor e espinho,
Não tenho a dimensão desta verdade,
Apenas degradado e decomposto
O mundo cobra em ágio cada imposto
Sedento caminheiro em vão degrade.


7


Durante alguns momentos quis além
Do nada que em verdade sei que sou.
O todo no vazio se esgotou
E apenas esta sombra me contém.
O fardo carregado segue aquém
Do pouco aonde o rio se mostrou
Na foz e tão somente demonstrou
O olhar imerso em turvo e vão desdém.
O tempo levará qualquer pedaço
Do quanto muito ou pouco ainda faço,
Resgate natural do que me dera.
Do inverno deste corpo inda utilmente
Um novo amanhecer já se pressente
E nele revivendo a primavera.

8

Marchando para o fim, nada mais levo
Senão a mesma espúria face aonde
O quanto no passado se fez fronde
E agora noutro passo não longevo
Mergulho muito além do que me atrevo
E nada do que busco em vão responde,
A terra me devora e nela esconde
A pútrida verdade e assim eu cevo
Imagem mais versátil do que sinto,
E quando imaginaste o corpo extinto
Em urze ou mesmo em flor se faz refeito,
Nos átomos, moléculas, matéria
Esboça em nova forma a de bactéria
Eternidade assim eu sei e aceito.

9

Jocosa imagem; vendes deste que
Ainda se fez pleno em sua essência
E dele derivamos? Que impudência
De um ser em sordidez já não se vê
Especular fantoche quer e crê
Gerando outro deboche na imprudência
Demonstra com terror tal prepotência
Qual fosse a semelhança e não revê
Na podre imagem tosca de um primata
Aonde a consciência se arrebata
E deixa algum sinal por sobre a Terra.
Nefasta criatura e nada mais,
Soberba entre tantos animais
E nele a vida apenas já se encerra.

10

O quanto é prepotente este demônio
Vestindo-se de deus não sabe além
Do nada e da vergonha onde provém
Criando tão somente um pandemônio
Qual fosse o criador mero campônio
E tendo olhar inútil de um desdém,
O pouco que em verdade ele detém
Fazendo do universo um patrimônio.
Escuso e vago ser por sobre a Terra
Na fúria aonde gera a dor e a guerra
Destrói e nada traz somente este ódio,
Pudesse ser melhor talvez quem sabe
Bem antes que isto tudo já se acabe
E o pobre do canalha sobre um pódio.

11

Ascendo ao que pudesse num instante
E vejo o tanto quanto inda não pude
A vida mesmo atroz dorida e rude
No passo quando muito me adiante
Ao tempo e em tal voraz quão torturante
Caminho deixa além a juventude
E muito do que tanto inda transmude
Impede qualquer passo doravante.
Esgarço a minha voz quando inda tento
Vencer com calmaria este tormento
E sigo após a queda noutro rumo,
Espero algum alento onde não há
E mudo o meu destino aqui ou lá
Enquanto a cada engano meu consumo.

12


Olhando este retrato sobre a mesa
Revejo minha vida em um segundo
E quando nos meus ermos me aprofundo
Ainda que inda tente com destreza
Vencer o descaminho eu sigo presa
Aonde o caçador domando o mundo
Gerando o meu caminho e moribundo
O tempo se ditando em incerteza
Aparo as minhas garras, mas sustento
A fúria noutro passo em provimento
Do pouco que inda resta ou mesmo nada,
Olhando este retrato vejo agora
A fome aonde o risco se demora
Negando da esperança outra fornada.


13


A fome de sonhar e até de crer
Num dia mais tranqüilo aonde é nossa
A sorte que a verdade não endossa
E gera em seu lugar o desprazer,
Ainda quando pude me rever
No coração exposto à fúria e à fossa
Meu erro dos meus dias já se apossa
Peçonha tão diversa e posso ver
No olhar de quem talvez me inebriasse
A fonte insaciada e neste impasse
O caos domando o verso aonde eu tento
Seguir sem as amparas costumeiras
Ousando no vazio tais bandeiras
Expondo o coração ao pleno vento.

14

Sanguinolenta face aonde pude
Rever o mesmo passo rumo ao farto,
E quando cada ausência eu já descarto
Ainda sigo alheio em plenitude
E mesmo que ao revés o tempo mude
O corpo se exaurindo chega ao quarto
E os sonhos mais audazes; não reparto
Porquanto a própria queda ainda ilude.
O rastro de um cadáver pela casa
A fúria de um passado vivo abrasa
E gera esta tormenta incendiária,
A vida na verdade se transforma
E toma esta satânica e vil forma
No quanto sempre fora temerária...

15

Rasgando qualquer máscara que ainda
Pudesse me esconder da realidade
Enquanto a vida agride e desagrade
À morte com certeza o sonho brinda,
Na pútrida figura se deslinda
A manta mais cruel, turva saudade
Negando qualquer tom ou claridade
A sorte pouco a pouco enfim se finda,
Vislumbro após a queda outro cenário
E sei o quanto fora necessário
Seguir contra a maré, mesmo bravia,
Incandescente sonho em noite vã
Ainda sigo em busca da manhã,
Porém esta ilusão já se esvaía.

16

Dos ancestrais momentos vejo apenas
As ânsias de uma vida e sendo assim
Maior que qualquer luz, qualquer jardim,
Edênicos caminhos, ledas cenas.
Em viperinos botes me envenenas
Traçando desde agora um ermo fim,
Bisonhamente outrora quis enfim,
Mentiras tão suaves quanto amenas.
Refaço este caminho em vário tom
E sei da falsa imagem de um neon
No quanto qualquer fuga satisfaz,
Negar a consistência da ilusão
E ver bem mais diversa a criação
Num ato corriqueiro e nunca audaz.

17

Incesto, assassinato e vilania
Assim fora o começo em deidade
Na podre face escusa, a humanidade
A cada novo instante isto recria,
A fonte em Evangelho, hipocrisia
Enquanto com total voracidade
Demônio se vestindo em divindade
Gerando novo tempo mostraria
A face desdenhosa da serpente
E nisto quanto mais se esteja ausente
De alguma coerência, se faz crença.
Depois acreditar num Paraíso
Em ermo caminhar tolo e impreciso,
Querendo que em tal erro eu me convença?

18

É natural o instinto que domina
A espécie mais arguta e violenta
Enquanto um deus humano bebe e inventa
Ao ver o seu retrato se fascina,
Matando da existência a própria mina
E nisto tão voraz, sanguinolenta
A morte a cada passo se apresenta
Depois ao duro inferno determina,
Açoita com a mão pesada quem
Com olhar mais piedoso ainda vem
Tentando acreditar noutra verdade,
A fúria animalesca do primata
Devasta a natureza e já maltrata
Quem contra tal vileza ainda brade.

19

Arranco dos meus olhos esta venda
E tento acreditar noutro caminho,
Mas quando se aproxima e é tão mesquinho
O duro sortilégio onde se atenda
À fúria deste ser que já se estenda
E dome com terror cenário e ninho,
Do quanto do demônio tal vizinho
Entregue à prazerosa e vã contenda.
Ocasos entre ocasos no horizonte,
Sem ter qualquer sinal que ainda aponte
Vagando desde sempre sem destino.
A sórdida canalha doma a terra
E mata mais com fome que com guerra
Espírito danoso, vil, canino.



20

Em meios aos vãos escândalos decerto
Eu tento acreditar num novo enredo.
E quando alguma chance eu me concedo
A própria sanidade enfim deserto,
Apenas mal encontro se eu desperto
O tempo em tal vacância, vil degredo,
Aonde no passado um arvoredo
Agora a mera imagem de um deserto,
Assim caminha o mundo e não se vê
Em tal orgia insana algum por que
Senão a hipocrisia e esta ganância
O deus gerado a ferro fogo e brasa
De alguma divindade se defasa
Servil à corja humana em discrepância.


21

Anunciando assim a despedida
Jamais emaranhara com certezas
Os rios afluências, correntezas
Trazendo tão diversa a minha vida,
A voz já tanto faz se está contida
Os olhos não mais bebem as surpresas
E quando imaginar almas ilesas
Não vejo a minha agora em vão, perdida.
Partir do pressuposto que sou nada
E ter a afirmação enraizada
Nos ermos mais profundos do meu eu,
Das dúvidas e dívidas mal pagas
Enquanto o meu caminho; enfim apagas
O que inda houvera ao fundo se perdeu.

22



Protesto contra a forma mais venal
Aonde se desfaz qualquer caminho
E mesmo enveredando ora sozinho
Cercando com terrível ritual
O passo rumo ao farto e bem ou mal,
Nas ânsias mais vulgares eu me aninho
E quando do infinito eu me avizinho
Aquém da imensidade sideral,
Percebo quão falível sou enquanto
Vendidas as promessas de um distante
Cenário entre as estrelas; deslumbrante
Se não cabe em verdade um ledo manto,
E quando neste espelho eu já me espanto
Apenas este ocaso me garante.

23

Hedônico porquanto ainda quero
Ao menos o prazer que inda mereço,
E quando na verdade este adereço
Agora se mostrara mais austero,
No todo quando arisco e sou sincero,
Não sei desta esperança este endereço
Tentando pelo menos um apreço
Aonde em frágil gozo eu degenero.
Esqueço qualquer traço que inda possa
Vagar sobre o vazio e a dor se é nossa
Gerando também raios discrepantes.
Demônios sacralizam o pecado
Orgástico delírio anunciado
E dele cenas raras, bons instantes.

24

Um primitivo ser perambulando
Por sobre este cenário magistral,
Depois deste primata irracional
O todo noutra face transmudando,
E o quanto se pensara desde quando
A víbora prepara o ritual
E ejeta esta peçonha, triunfal
Um mundo noutro olhar degenerando.
Aporto em ares frágeis e enfadonhos
Os tantos que inda fossem claros sonhos,
E teimo em transformar a vida em nada,
De um ermo latrocínio à divindade
Purgando sobre a torpe humanidade
Figura sobreposta e imaginada.


25

Lutando pela vã sobrevivência
Gerando a morte enquanto dita a vida,
Figura há tanto tempo apodrecida
Gestando insuportável convivência,
Os donos do perdão torpe indecência
Humanidade agora desprovida
E vejo tão mais frágil sem saída
Enquanto em sacerdotes, prepotência.
Não creio em ingerências nem se tente
Acreditar num deus subserviente
Domado em Roma ou em Jerusalém,
Um deus escravizado e tão servil,
Que apenas a mortalha permitiu
Aos seus amos da Terra em mal ou bem.

26

Não quero o teu batismo e nem perdão,
Não vejo qualquer força a ti doada
Tu és tal qual eu sou, o mesmo nada
Patética figura sobre o chão,
Ainda que se espalhe o cantochão
Ou mesmo a mão em fé acorrentada,
Não reinas sobre os céus nem a alvorada
Teu jugo não se faz; é tosco e vão.
Adagas escondidas, evangelhos
Em carcomidas cãs, escaravelhos
E assim domina a plebe com vergastas,
Enquanto de teu deus tu já te apossas
Fazendo de outros tais, colheitas roças
Da luz de uma verdade mais te afastas.

27

Satânica figura desdentada
Agora se mostrando em tal nudez,
E nela com certeza queres, crês
Senão a tua vida vira um nada;
Imagem tantas vezes endeusada
Aonde se percebe em sordidez
O quanto do juízo se desfez
Na lenda tolamente mal traçada.
Espalhas o pecado com tal ágio
Terrível aproveitas do naufrágio
E cobras o perdão que não é teu,
A serpe do jardim, mera aprendiz
Perto de ti, apenas infeliz
Demônio aonde deus já se escondeu.

28

Funérea solução a quem se dera
Mais forte e mesmo até onipotente
O todo noutra face já freqüente
A corte aonde a vida dita a fera,
No olhar mais traiçoeiro da pantera
O bote na tocaia se apresente
E quanto mais atroz e incoerente
Riquíssimo honorário sempre gera.
Vendê-la como fosse o mal em si
Enquanto em ti demônios percebi,
Sarcástico fantoche se enriquece
Com juros sobre juros cobra o bem
Além do que pertence ou mais convém,
Ridícula figura em cada prece.

29

Há tanto se vestindo em salvação
Espúria criatura assexuada
Ou mesmo em bastidores depravada
Senhor da desventura e do perdão,
Tua alma, se existir, em podridão
A porta deste inferno arreganhada
E quando se mostrando em voz velada
Ainda se disfarça em bom cristão.
Que cristo te pertence ó vil canalha?
Aquele aonde a fúria já se espalha
E mata por somente algum poder?
Não bastava sequer a mera cruz
A ti, demônio, nunca ele fez jus.
Melhor seria em paz apodrecer.

30

Pacato cidadão? Somente vejo
No olhar deste imbecil a fúria quando
O tempo noutra face se formando
Adentra o seu caminho e seu desejo.
A corja num momento, num lampejo
Autofagia em si determinando
Cadáver de outro ser se deformando
E neste caminhar, o olhar sobejo.
Depois, é ir pra igreja, missa ou culto
Cuspir sobre o cadáver insepulto
Fingindo alguma prece ou oração,
Se cabe ao seu senhor, o sacerdote
A parte generosa deste dote,
Comprada enfim a imensa salvação.


31

Vencido o que angustia
Quem dera se eu pudesse
Ou mesmo ainda tece
A luz de um novo dia
Em tanta fantasia
Percebo esta benesse
E nela se oferece
Amor em poesia,
Resulto disto ou nada
Do peso desta estrada
Aonde pude crer
Nas ânsias mais audazes
E nelas tu me trazes
Delírios do querer.


32

Aguardo a claridade
Ou tudo o que convém
A quem se faz aquém
Do todo ou inda brade,
No quanto desagrade
Ou gere novo bem,
A morte sem desdém
No fundo é liberdade.
Resulto deste fato
E sei que me destrato
Enquanto tento o lume,
No olhar do sanguinário
Além do imaginário
Ao nada se acostume.

33

Ferido pelo anseio
De quem desejo ou mais
Pudesse em desiguais
Caminhos; mesmo veio
Enquanto inda receio
Os ermos vendavais
Esboço em irreais
Delírios meu recreio.
Vagando pelas noites
Em fardos, teus açoites
Coiotes na tocaia,
A manta denegrida
Imagem de uma vida
Que aos poucos já se esvaia.

34

Pudesse ter mudanças
Nas minhas atitudes
E quanto mais me iludes
Ao fogo tu me lanças
E sei quais temperanças
E nelas amplitudes
Ainda que saúdes
Quem morre em tais fianças
Não vejo e não pretendo
Sequer qualquer remendo
Aonde me fiz tanto,
O pouco onde se fia
Gerando a fantasia
Deveras, nada canto.

35

Qual fosse um eremita
Em solilóquio tento
Vencer o alheamento
Aonde segue aflita
Esta alma necessita
De ter algum alento
E mesmo em sofrimento
Procura outra pepita,
Lapida este vazio
E quando não mais crio
Audaciosamente
O tempo me sonega
A vida segue cega
E a própria sorte mente.

36

Aonde a castidade
Domina além de Deus
Os olhos não são meus
Apenas se degrade
O risco, esta ansiedade
Ausente em plenos breus
Preparo novo adeus
E nada em liberdade.
Fecundas ilusões
E nelas tu compões
Eunucos ou canalhas,
Assim na fúria e prece
O todo se esvanece
Mentiras logo espalhas.

37



O beijo que me deste
Depois de tantos anos,
Após meus desenganos
Em mundo mais agreste
Agora se reveste
A sorte em novos planos
E aonde houvera danos,
Encontro ao que vieste.
Resvalo no passado
E bebo este legado
E nele me entranhava
Sorvendo cada gota
A vida não mais rota
Ausente pedra e trava.

38

Esperanças? Jamais.
O corte se aprofunda
A sorte moribunda
Afasta-se do cais
E quando nunca mais
A lua que ora inunda
E segue vagabunda
Atrás dos seus cristais
Arisca companheira
Aos poucos já se esgueira
E segue outro rincão,
Deixando polvilhado
Caminho iluminado
Prateia inteiro o chão.

39

Machuca enquanto cura
E traz além do frio
O tanto onde este rio
Ainda a foz procura,
Nas ânsias da loucura
Completo desvario
O quanto desafio
Traçado se perdura
Marcando a ferro e fogo
Negando prece e rogo
Jogado em quaisquer margens,
Aonde quis futuro
O mundo agora escuro
Medonhas paisagens.

40


Saudade de quem tanto
Pudera ainda ver
Além de algum prazer
Momento que ora canto
E quando já me espanto
E bebo o mais não ter
Trazendo o bem querer
Ou nele mero espanto,
Rescaldos de uma vida
Há tanto já perdida
E nada após a queda
Assim em sortilégio
Um mundo outrora régio
Agora em vão se veda.

41


Embora benfazejo
Este ar que em ti se emana
Imagem mais profana
Aonde o vão desejo
Eu quero em ar andejo
Seguir toda a semana
Aquela que me dana
E nela ora eu me vejo
Restando dentro em mim
O pouco ou mesmo assim
Um mundo mais cruel
Vencido pelo medo
O tempo agora ledo
Reflete em si meu céu.

42

Vinganças entre fúrias
E nelas as verdades
Aonde tu degrades
E tramas tais injúrias
As sortes em penúrias
Olhares, claridades
Ausentes liberdades
Sem elas, as lamúrias.
Restando muito pouco
E quando me treslouco
Vagando em lua e sol,
Apenas mero brilho
Do quanto inda polvilho
De mim neste arrebol.

43

O sonho mirando o alvo
Procura algum momento
Embora o desalento
Transborda e não me salvo,
O corte que ressalvo
O toque aonde eu tento
Vencer o sofrimento
Estando sempre a salvo,
Mas vejo desta forma
A vida que deforma
E gera tão somente
O nada sem sentido
O olhar mais desvalido
Ao fim já se apresente.

44

O amor sendo esta lança
Aonde perpetua
Beleza clara e nua
E nisto o todo alcança
Ou mesmo se balança
E morre ou não flutua
Enquanto o vão cultua
Traduz uma esperança.
Resumos de passados
Retalhos disfarçados,
Escombros de ilusão,
Amor não poderia
Gerar um novo dia,
Tampouco algum verão.

45

Beijo ressuscitou
O quanto já perdi
No todo que há em ti
O mundo se gestou
E agora se inda sou
O medo eu aprendi
Vivendo inteiro aqui
Caminho decorou.
Os riscos, ritos, medos
As ânsias, meus segredos
Os olhos no futuro.
Mas como se em verdade
Amor sem claridade
Traduz um tempo escuro.

46

Amargo esta presença
Lembrança desolada
Desta alma enamorada
E agora quem convença?
O nada mais compensa
O risco, outra alvorada
A sorte desenhada
A fúria mais intensa,
E o gozo se pressente
Aonde tanto ausente
A vida não pudera
Gerar quem sabe a luz
E tanto me propus
Aonde o nada espera.

47


Por que fizeste assim
Se tanto desejei
Viver o que sonhei
E nele vivo enfim,
Mergulho em mar sem fim,
Vagando grei em grei
No fundo esquecerei
Até se ainda vim
Galgando esta ilusão
Eu sei que não virão
Nem mesmo luzes quando
O tempo se transforma
E tudo noutra norma
Agora desabando.

48

Amor, tolo e tirano
Não deixa soluções
E quando tu me expões
Além da queda e dano,
O todo me profano
E vago em direções
Diversas ilusões
Puindo último pano.
Vencido pelo tempo
Agora em contratempo
A morte dita o rumo,
E quando me imagino
Em pleno desatino,
Aos poucos eu me esfumo.

49

Adormecido em mim
O sonho de nova era
Aonde a vida gera
Diverso este jardim,
Procuro e sei que enfim
O corte degenera
E nada mais espera
Quem luta até o fim.
Seguindo cada rastro
Em vão eu já me alastro
E perco o que pudesse
Ainda ser melhor,
Marcado em tal suor,
Não vejo tal benesse...

50

Durante mais que a vida
Pudesse acreditar
No amor a me tocar
Ou mesmo na saída
Diversa e preferida
De quem ceva o luar
E tenta transformar
A sorte sem guarida,
Adorno meu delírio
Envolto em tal martírio
Com lírios, belas rosas,
No fundo nada levo
O tempo aonde nevo
Em noites tenebrosas...

51

Guardo no coração,
As dores e os remédios
Os dias velhos tédios
Falta de direção
Caminho sempre em vão
Destroça antigos prédios
A morte em seus assédios
Gerando outro senão,
Restando quase nada
Da farsa bem montada
No olhar de quem se quis,
Eu vejo a minha lenda
E nela não se atenda
O sonho mais feliz.

52

As dores que eu vivi
Durante a tua ausência
Terrível penitência
Sabendo já sem ti
O rumo que escolhi
E nele esta inclemência
Em torpe virulência
Do mundo eu me perdi.
Não tendo quem me toma
Apenas a redoma
Aonde não houvera
Sequer uma esperança
Enquanto ao nada lança
A vida imensa fera.

53

Se dentro do meu peito
Encontro tuas luzes
Aonde me conduzes?
Ainda insatisfeito
Enquanto em vão me deito
Ao todo em contraluzes
Dispensas e produzes
Somente o tosco pleito,
Resumos desta vida
Em ânsia repartida
Vencido por vazios,
E quando me perdera
Nem mesmo mais vivera
Além dos frágeis fios.

54

A fina e atroz areia
Tocando a tua pele
Ao quanto te compele
E ao todo já me anseia
A vida te rodeia
E nisto sempre atrele
Caminho onde se sele
A nossa lua, cheia.
Resido e sei que estás
Em plena e rara paz
Negando qualquer medo,
E quando mais além
Do amor que nos contém,
Amores eu concedo.

55


Espalha um novo canto
A voz de quem se fez
Em toda insensatez
Buscando e me adianto
Ao tempo em tal quebranto
E quando nada vês
Procuro em altivez
Motivos para tanto,
A vida sem amor
O tempo noutra cor
O corte o medo e o nada,
Aonde quis o brilho
Apenas eu palmilho
A turva e tosca estrada.

56

Sereia que buscava
Em praia bela e clara
O amor quando declara
Em onda imensa e brava
O tanto onde se lava
Uma alma se prepara
E o canto que me ampara
Apenas dita a lava.
O pensamento voa
A sorte segue à toa
E à tona vejo então
A fúria de um desejo
Aonde o bem prevejo
E quero esta erupção.

57

Qual ostra, então pari
O perolado sonho
E nele eu já proponho
O Amor que sei em ti
E sinto e ora perdi
Este ar calmo e risonho
E nada mais componho,
Além do que vivi.
Na luz que tanto quero
O canto mais sincero
Não traz sequer o brilho
E quando mais desejo
Além ainda eu vejo
O encanto que polvilho.

58

Dona de um claro olhar
Além deste horizonte
Aonde o tanto aponte
E busco outro luar
Vagando sem parar
Do amor sabendo a fonte,
E nisto já desponte
Em mim belo raiar
Do canto e da emoção
E sei que inda virão
Momentos mais diversos,
E assim sem ter mais medo,
Ao todo me concedo
E entrego enfim meus versos.

59

Já não me bastaria
Acreditar em ti,
O todo que perdi
Sonega qualquer dia,
E trama em heresia
O peso onde senti
O mundo que escolhi
E nele não teria
A melodia após
Ainda em mansa voz
Em lua prata e clara,
A vida não se trama
Além da velha chama
Aonde amor declara.

60


Em toda vida tive
Ausente do meu braço
O rumo que ora traço
E nele me contive,
A sorte não revive
Sequer o fino traço
Aonde cada passo
O amor já sobrevive,
Navego no teu mar
E bebo até singrar
Completo este oceano,
E quanto mais audaz,
Maior o sonho traz
Delírio, gozo e dano...

61

O tempo diz do nada
Aonde bem te quis
E nada em chamariz
Nem mesmo a madrugada
E tento enluarada
A noite onde te fiz
E sendo este aprendiz
A dita renegada,
Ainda me maltrata
Ausente serenata
No olhar, janela e luz,
Espero alguma chance
Enquanto a noite avance
Diversa da que eu pus.

62

A festa se acabando
Aonde nada via
Somente a fantasia
E a vida em contrabando
Aos poucos me negando
O quanto em alegria
Ainda viveria
Ou mesmo destroçando
O rumo noutro ledo
Caminho onde procedo
E busco um bom final,
A sorte não se dera
A quem em mesma espera
Repete o ritual.

63

Não consigo falar
Com que desejo tanto
E quanto mais me espanto
Diverso caminhar
Deveras maltratar
E nisto eu te garanto
O mundo nega o manto
E marca outro lugar
Em devaneio eu sigo
E o todo que consigo
Não vale mais sequer
O gozo ou esperança
Aonde o nada lança
Perfume de mulher.

64

Enquanto telefono
Procuro te encontrar,
Mas sempre a se negar
O quanto sem abono
Vivendo este abandono
O mundo a não tocar
Nem mais a mergulhar
Aonde fora dono
Apenas o vazio
E nele desafio
O tempo e sigo ao fim,
Gerando esta inclemência
Amor. Coincidência?
Ou nada mesmo assim.

65


Tristeza dominara
A vida de quem tenta
Buscar nesta tormenta
A lua bela e clara,
Olhando esta seara
Apenas a sangrenta
Manhã já se apresenta
E a morte se escancara,
Fagulhas entre sonho
E nelas me proponho
Além de mera frágua
A fúria do passado
Agora em novo lado
No vago já deságua.


66

Restando o que talvez
Ainda possa haver
No gosto sem prazer
Aonde se desfez
Completa insensatez
E bebo até saber
O quanto ainda ter
No olhar se não me vês.
Gerenciando o nada
Apenas madrugada
Mergulha dentro da alma,
A morte se anuncia
E traz além do dia
O vago que me acalma.

67


As ondas deste mar
Levando para além
O todo que provém
Das ânsias deste amar,
Negando a divagar
E nisto sou refém
Do gozo deste bem
Aonde navegar.
Pudesse de mansinho
O mundo em teu carinho,
Mas nada se apresenta,
Enquanto esta saudade
Domina a claridade,
A vida é vã, sedenta.

68

A noite nos envolve
Com toda esta beleza
E desço em correnteza
O canto onde dissolve
E tudo se resolve
Deveras na certeza
Aonde em tal leveza
O tempo me revolve,
Vagando sem destino
Somente mal domino
Meu passo rumo ao tanto,
E busco em plenitude
A sorte que se mude
E assim eu me agiganto.


69

Marinhas maravilhas
Em sóis e madrugadas
Sereias desejadas
E nelas tu polvilhas
Vibrando em raras trilhas
As esperanças dadas,
Alegrias marcadas
Em doces armadilhas,
E tendo que te ter
Além deste prazer
É mais e necessito
De tanto quanto possa
A vida ser mais nossa
Em mundo mais bonito.

70

O quanto foste minha
E nada mais me importa
Minha alma abrindo a porta
A sorte se adivinha
E gera da daninha
A luz que nos transporta
E tanto quanto aporta
A vaga estrela vinha
Deitando sua guia
Aonde brilharia
Amor ensandecido,
Meu rumo no teu passo,
Agora quero e traço,
E em paz sou envolvido.


71

À morte eu não concedo
Sequer alguma chance
E enquanto ao vão me lance
Desvendo este segredo
Aonde fora ledo
Num novo tom, nuance
O tanto já me alcance
E mostre além do medo,
A ausência do pavor
A farsa da existência
O canto em providência
As lendas de um amor
E tudo se acabava
Numa onda imensa e brava.

72

Chorar e crer no amor?
Jamais eu poderia
Não fosse um mero dia
O tempo redentor,
Vagando em estupor
A sorte em heresia
A vida, a melodia
O canto de louvor,
Termino assim a senda
Aonde não se estenda
Senão a liberdade,
Bebendo desta sorte
Agora quem conforte
Deveras já me agrade.

73

A paz que se fizera
No amor que não valeu
O todo fora meu
E agora quem me dera,
Ausente primavera
Gerando em mim tal breu
O risco esmoreceu
A força onde tempera,
Não quero acreditar
Nas ânsias deste amar
Nem mesmo noutra luz,
Apenas sigo em frente
Aonde se apresente
O sonho que compus.


74

Não quero solidão
Nem mesmo a falsa imagem
Jamais busco a miragem
Em tal indecisão,
Os dias que virão
Tomando esta paisagem
Tramando nova aragem
Domando este sertão,
Gerando a paz em mim
Traçando este jardim
Em rosas magistrais,
Chorar em desespero?
Além do destempero
Deveras, nunca mais!

75

O tempo vai dizendo
Da sede saciada
Na fonte anunciada
Além deste remendo
Amor logo desvendo
E bebo a madrugada
Riscando a minha estrada
Em ar mais estupendo,
Amor vaga promessa
E quando recomeça
Gerando confusão,
Marcando em lenha e brilho
Cenário onde palmilho
E perco a direção.


76

Não quero outra mentira
E nem verdade sonsa
A vida gerando onça
Do todo não me tira,
Descanso após a guerra
E bebo esta alegria
E nela se faria
Além do que desterra
O passo rumo ao farto
Ou nada se trazendo
Apenas um adendo
E nisto nunca parto,
Apenas sonho e vejo
À sombra de um desejo.

77

Jamais eu pude ver
As sendas mais diversas
Aonde sempre versas
Versões de teu prazer,
Resolvo anoitecer
Nas ondas já dispersas
E tanto são submersas
As trevas no meu ser.
Vagando sem descanso
O quanto ainda alcanço
Não traz resposta e sigo
Sentindo o teu perfume
E nele me acostume
Bebendo o teu abrigo.

78


Não fico por aqui
Depois do temporal,
O mundo é desigual
E nele me perdi
O tempo que há em ti
Ou mesmo outro sinal
Gerando um ritual
E nele percebi
A sorte da saudade
E nisto já me invade
A face de quem tanto
Outrora fora além
E agora sempre vem
Moldar o que ora canto.

79

Morena em praia e sol,
Delírios de uma areia
Buscando esta sereia
E nela o meu farol,
O mundo sempre em prol
Do quanto me incendeia
E quando devaneia
Uma alma em arrebol
Vagando sem destino
Aonde me alucino
Requebros e baladas,
As horas mais distantes
E nelas me adiantes
As nossas madrugadas.

80


Reúno em verso e prosa
O quanto pude em vida
E sei da face urdida
E nela a majestosa
Noctívaga formosa
Aonde percebida
Além do que me agrida
Espinho doma a rosa,
Escondo a plenitude
No verso que me ilude
E bebo um gole enquanto
Buscando o teu retrato
Deveras eu já me ato
E nisto em fé eu canto.

81

Olhando o teu olhar
No meu já refletido
A vida faz sentido
E busco em ti meu mar,
Assim ao navegar
O mundo revolvido
Sorriso construído
Nas vagas de um amar,
Olhar traduz em fonte
O quanto no horizonte
Aponte em majestade
Sonhar e ser feliz
É tudo quanto eu quis
Quando este olhar me invade.

82


Bebendo a sorte imensa
E nela te encontrando
Um dia bem mais brando
A sorte em recompensa
E quanto mais convença
Do rumo desenhando
No céu já não nublando
Amor em rara crença,
Sem desavença e dor,
Aonde quer que eu for
Contigo eu estarei,
Restando dentro em mim
Amor que não tem fim
Domando inteira a grei.


83

Os teus olhos, promessa
De tempo bem melhor
Aonde o tom maior
Domine e nada impeça
O passo sem ter pressa
A estrada já de cor
Caminho em bom suor
E nisto recomeça
A casa pequenina
A vida determina
Beleza sem igual,
Cenário entre montanhas
Palavras onde entranhas
Delírio magistral.

84

Vivendo esta saudade
Do tempo todo nosso,
Agora já me aposso
Do todo que inda brade
E rompo qualquer grade
No verso aonde endosso
O rumo e nele posso
Sentir a claridade,
Mesquinha noite alheia
A vida não permeia
Sorrisos e tristezas,
Não quero o cadafalso
Nem mesmo o riso falso
E nem sequer surpresas.


85

Olhando de mansinho
Bebendo este clarão
Aonde se verão
Das sombras, nosso ninho,
No reino me avizinho
E sei desta emoção
Gerando outra ilusão
Ou mesmo sem espinho
Roseira em mais perfeita
Beleza onde se aceita
Perfume que nos ronda
Rainha dos meus sonhos
Em dias mais risonhos,
Aonde a luz se esconda.

86

Além deste quintal
Pomares e canteiros
Os dias derradeiros
O mesmo ritual,
A vida em bem sem mal
Olhares verdadeiros
E neles rumos, cheiros
A sorte sempre igual,
Resumo em verso e canto
O quanto quero e encanto
O passo com teu brilho,
Vagando em noite imensa
O amor sempre convença
Ao sonho este andarilho.


87


Serás o que desejo
Na noite mais feliz
O todo quando fiz
Pensando e agora almejo
A sorte deste ensejo
Aonde um aprendiz
Vivendo o que mais quis,
Realça este azulejo,
O parto o canto a prece
Ao todo se obedece
E gera em nós a paz,
O tanto quando pude
Em luz ou atitude
Encanto sempre traz.


88

Cartazes com teu nome
Espalho pelas ruas
E logo além flutuas
E tudo se consome
No corpo em tal renome
E nada mais atuas
Deveras continuas
Aonde mato a fome,
Capaz de fazer sol
E ter neste arrebol
O brilho deste olhar,
Assim sem mais descanso
Em ti o todo alcanço
Sem medo de chegar.


89

Jamais imaginara
A vida de outra forma
E quando nos deforma
A sorte, outra seara
O todo se prepara
E a senda se reforma
Sem medo, sem a norma
Nem luto nem amara
Manhã que se anuncia
E nela mais vazia
A morte noutro canto,
Restando dentro em nós
Intensa e clara voz
Aonde eu me agiganto.

90

O quanto em violão
Em lua e em devaneio
Se agora eu já ponteio
Buscando a direção
Do passo outrora vão
E nisto me incendeio
Vagando sem alheio
Caminho ou divisão,
Bebendo a imensa sorte
Aonde se comporte
Com calma e claridade
O manto nos servindo
Em dia belo e lindo
Além desta saudade...

91

Vagando noite escura
Na busca deste lume
Aonde foi ardume
A sorte não perdura
E quando se procura
Ou mesmo além se rume
No todo ou manso cume
O peso da loucura.
Vencer os temporais
Querer e sempre mais
Sem nada que limite
O todo se extasia
E gera a fantasia
E nisto se acredite.


92

A moça desfilando
Na praia em belo anseio
Olhando cada seio
Aos poucos me entregando,
O tempo em contrabando
A vida sem receio
E nisto me incendeio
O tanto transbordando,
A moça mal sabia
Que toda a fantasia
Ditava o nome dela,
E quando vi a estrela
Vontade de bebê-la
Em ti, querida Estela.

93

Realço em verso e gozo
O rumo mais audaz
E nisto tanto faz
Se o tempo é generoso
Ou mesmo se é danoso
O corte mais audaz,
Negando o que traz
Num toque majestoso.
Jamais insensatez
Naquilo que se fez
Além de verso e sonho,
O todo quando espero
Ou mesmo até sincero
Caminho eu me proponho.


94

O tanto que pudera
Depois do quase nada
Gerar a nova estrada
Marcada em primavera
A sorte destempera
E mata esta florada
Aonde fora alçada
A turva e vã quimera.
Não quero e tu não queres
Sequer entre as mulheres
A que afinal redime
Embora em teu olhar
Um belo desvendar
De um dia mais sublime.

95

Perdoe quem te quer
E sabe dos anseios
E bebe em tons alheios
Caminho se vier,
Risonho sem sequer
Tocar teus belos seios,
Vicejo em tais rodeios
Meneios da mulher
Que tanto desejava
E agora alma se lava
E bebe cada gota,
Da pele bronzeada
A cena anunciada
Aonde fora rota.

96

Começo do começo
O passo diz além
E tudo me convém
Enquanto recomeço
E trago este endereço
E nele sempre vem
O gozo deste alguém
Bem mais do que mereço.
No fundo sou só teu
E o mundo se perdeu
Nas ânsias deste tanto,
E quando estás ausente
O nada se apresente
E enfim me desencanto.

97

Não quero mais saber
Do gosto da maçã
Nem mesmo deste afã
Diverso de um prazer
O pouco que eu viver
A vida sendo vã,
Ainda de manhã
Querer teu bem querer,
Não quero mais nuance
Apenas que se avance
A vida sem defesas,
O gosto do café
O amor sempre dá pé
Servido em raras mesas.

98

Ficando por aqui
Sem nada mais querer
Somente o teu prazer
E nele eu me perdi,
O quanto pressenti
Do mundo ao poder ter
E enfim agora crer
No amor que existe em ti,
O quanto já desfruto
Do amor e sendo astuto
Eu não suporto o frio,
Açoda-me em lençóis
Diversos claros sóis
E neles me desfio.

99

Armando temporais
A noite não se vê
Na bruma sem por que
No tempo em vão jamais
Pudesse muito mais
E quando a gente crê
Ou mesmo o bem revê
Esquece os vendavais.
A vida se promete
E nisto se arremete
O passo muito além
Do quanto ainda pude
E vivo a juventude
Que ainda o sonho tem.

100

As cordas da viola
A noite em luz intensa
Aonde amor é crença
E nisto não viola
A sorte que me assola
E gera a recompensa
E sempre nisto pensa
Quem em sonhos decola.
Acordo e nada tendo
Senão este remendo
De um dia mal vivido,
O pranto rege o passo
E quando me desfaço
Já nada faz sentido.

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