domingo, 4 de julho de 2010

40001 ATÉ 40100

1

Procuro algum caminho aonde eu possa
Sentir a mansidão em luz e paz
O quanto na verdade sou capaz
De crer nesta alegria, sendo nossa
A sorte aonde a vida já se apossa
E trama a realidade mais audaz
No quanto o pleno amor sempre nos traz
Resposta procurada enquanto endossa
Palavra mais sincera ou mesmo rude,
E nela muito além do quanto pude
Resvalo à eternidade quando creio
E cedo o coração sem perguntar
Aprendo a liberdade enquanto amar
Deveras para o Pai caminho e veio.

2

Nos veios que me levem ao pleno amor
Singrando cada passo em luz tranquila
Enquanto a solidão além desfila
Eu vejo em meu caminho o redentor
E nele se percebe a vara e a flor
Aonde a solidão já não perfila
A luz em plenitude luz destila
E trama outro desenho multicor.
Restando dentro em mim a primavera
E nela com certeza a sorte espera
O todo pelo qual tanto redime
Errático cometa sobre a terra
No todo se preserva o que se encerra
Gerando um dia claro e até sublime

3

Não posso mais negociar a fé
Insuportável cena que se assiste
Deixando o carpinteiro bem mais triste
Bisonho e caricato mundo em que é
Apenas o cordeiro de uma Sé
Que ainda a cada dia mais insiste
E tudo se transforma e em vão persiste
Atando a cada ovelha esta galé,
Não sou e não serei jamais o gado
Nem mesmo o meu caminho é já traçado
Por donos da verdade e do perdão,
Perdoem meus amigos mercenários,
Eu sei o quanto são desnecessários,
Pois na verdade apenas sou CRISTÃO.

4


Jogada nalgum canto desta casa
A imagem destrutiva em cruz e dor,
Aprisionando assim libertador
E toda a solidão da vida embasa
Na fúria que mantendo acesa a brasa
Esquece totalmente o quanto amor
Demonstra em seu poder transformador
E assim a realidade se defasa.
A base da união é a verdade
E nela se concebe a liberdade
Não vejo o crucifixo como tal,
Se assim é que tu vês o carpinteiro,
Tu justificas fome de dinheiro
Ousada a cada novo ritual.

5

Liquidação de rara serventia
Perdão a preço justo fora um ágio
Garante a escapatória do naufrágio
Curando até pior desinteria,
O manto mais sagrado não valia
Sequer o que deveras diz o adágio
O pano semi-roto num pedágio
Jogando uma água fora da bacia,
Milagres são constantes nesta igreja
Que assim sempre bendito, pois se veja
Riquezas a granel, perdão à vista
Ou mesmo em qualquer forma o pagamento,
Garanta antes que venha um novo aumento,
E não precisa nem ter avalista.

6

Esta água abençoada pelo padre
Também pelo pastor promete e faz
Afasta mau olhado e Satanás
Ajuda até broxada no compadre,
Curando a dura cólica, comadre
Deixando até mocinha agora em paz,
Se não adiantar seja tenaz,
Existe uma versão nova da madre.
Fazendo até careca cabeludo,
Protege de um vizinho que abelhudo
Não deixa que progrida o companheiro,
Aqui não se admitindo outra valia,
Não serve a tal venal pirataria,
Aceito até cartão, cheque ou dinheiro.

7

Ofertas aceitamos, minha gente,
O todo justifica qualquer parte,
Depois com os pastores se reparte
O que esta grana agora se apresente,
Depois herdeiro em céu, o meu parente
Não admitindo assim nenhum descarte
Silêncio no missal, sem um aparte
É coisa de infiel, tolo e descrente,
Condeno-te ao terror de um vasto inferno
Se não vieres belo em farto terno,
Pior é se pensares e por isto
Ouvindo a ladainha em procissão,
O gado garantindo a provisão
Do pão que multiplica Jesus Cristo.

8

Na porta deste templo tu terás
Setor de informações e se quiseres
Verás outros caminhos e talheres
Banquete repartido agora em paz,
A faca retalhando Satanás
E toda a milagragem sempre esperes
Só não quero que enfim ora interferes
O rito em solilóquio já se faz.
Cuidado com pecado, mas amigo
Se aqui vieres saiba é sem perigo,
Perdão eu anuncio e até te vendo,
Um copo d’água apenas isto basta
De mau-olhado e cara feia já te afasta,
E não verás sequer qualquer remendo.

9

Restando dentro da alma esta alegria
De quem porfia e sabe da vitória
Sem lança sem furor sem brilho e glória
Apenas se mostrando dia a dia,
E nela com certeza beberia
A fonte muita vez aleatória,
Deixando para trás qualquer vanglória
Aonde uma verdade em luz traria
A plena confiança noutras eras
E quando em claridade tu temperas
O verso mais feliz e mesmo assim,
Alheio aos meus terríveis medos venho
E sei deste caminho onde ferrenho
Dourando com ternura o meu jardim.

10

À vida se completa em alegria
E o senso mais comum ditando a sorte
E quando encontro o passo que suporte
O novo amanhecer transformaria
O quanto fora outrora mais sombria
E nessa luz bebendo sou mais forte
Guerreiro da esperança já conforte
Quem tanto nesta vida sofreria,
Apenas libertário caminhar
Nas sendas onde o amor vem se mostrar
Tramando algum instante mais feliz,
Eu creio na verdade e nada mais,
Libertação em dias magistrais
Revela o que em verdade eu sempre quis.

11

Um radical cristão e nada mais,
O quanto poderia ser profano
Ou mesmo até puindo o velho pano
Que sei já não nos cabe em castiçais,
O olhar mais doloroso dos boçais
E dele se vislumbra o quanto eu dano
E morto este canalha soberano
Apenas vejo vivo em magistrais
Desenhos o mais simples entre tantos,
Aquele que reinando já abdicara
E agora muito além desta seara
Espalha sobre o mundo seus encantos,
Não quero na verdade o sacerdote
Que apenas quer partilha de Seu dote.

12

O tanto quanto a vida trata deste mundo
Mergulha num marasmo e dita a sorte
Aquém do que talvez inda comporte
O velho coração de um vagabundo,
Saber dos descaminhos e me inundo
Apenas do que possa e já conforte
Sem ter certeza alguma busco um norte
E tento outro desejo mais profundo,
Aperolado rumo em tanta luz
Não serve como estrada a quem buscara
Realidade viva em tal seara
Aonde tão somente reproduz
Cenário mais fecundo em raro brilho,
Porquanto a mansidão de um lago eu trilho.

13

Esbarro nos meus ermos e percebo
O quanto em dissabores traz a vida
E nesta solução já convertida
Além do que decerto em vão recebo,
O todo na verdade diz placebo
E quando a realidade é sempre urdida
Na força anunciada e na ferida,
O fogo delirante ora concebo.
O pranto se transforma em redenção
E nele se detém a direção
Por onde cada passo permitira,
Vencer as mais diversas agonias
E quando em novos tempos tentarias
A messe não traduz qualquer mentira.

14

Organizando o passo nada temo
E sei do quanto vejo em tom maior,
O manto se inundando de suor
E o corte me aproxima deste demo,
E quando na verdade falta o remo,
O tanto que pudesse é bem melhor
Que o risco anunciado num menor
Delírio feito em cruz, e não me algemo,
O prazo de viver já se termina
E sei quanto deveras cada mina
Proporcionando a vida outra vertente,
No todo ou no tão pouco se resume
O quanto com ternura dita o lume
Além do que talvez não se apresente.


15


As velhas saudações em medo e reza
O parto revelando o que galgasse
Ainda na verdade nova face
Sem nada que o caminho vão despreza,
O manto se percebe enquanto preza
E traça com terror algum impasse,
No todo que talvez já perfilasse
O porte alentador vida represa
E trama noutro tanto o que inda vejo,
E sinto a cada queda novo ensejo
E sirvo de histrião a quem se fez
O marco mais dorido em lua triste
E quando a solidão ainda existe
O manto noutro tanto se desfez.

16

Não pude ter ao menos a esperança
Depois de tantos anos erros vários
Os dias sempre foram temerários
E a voz já no vazio ora se lança
E quando neste pouco ou nada avança
Minha alma saqueada por corsários
E nestes tantos dias necessários
O corte não produz qualquer mudança.
A crença inabalável já se esvai
E o tanto que pudera agora trai
E trama este vazio dentro da alma,
Nem mesmo a plenitude que julgara
Ainda assenhorar-se da seara
Deveras neste instante ainda acalma.

17

As vozes se perdendo noutro rumo,
O manto se puindo pouco a pouco
E o quanto se permite ainda rouco
Não deixa que se veja ao menos sumo,
E tanto quanto eu erro e mesmo assumo,
O passo na verdade se treslouco
O ouvido mais sutil qual fora mouco
O marco de uma vida além esfumo,
E escudo-me deveras na ilusão
E nela novos dias não verão
As sombras do que foram outros tantos,
Coleto estas sementes e bem sei
O quanto na verdade eu encontrei
Nos ermos de minha alma, desencantos.

18

Os desencantos foram a promessa
Da vida que pensara noutra face,
E quando a realidade já desgrace
O passo no vazio se tropeça
O risco de viver, trazendo em pressa
O mesmo caminhar aonde grasse
Ventando dentro em mim nada se trace
Senão este temor onde confessa
Engodo após engodo e nada além
O manto se transforma e quando tem
A mancha de um passo em sangue exposta
Não tenho mais sequer um só momento
Ainda que deveras outro invento
O mundo não traria mais resposta.

19

Pedaços de uma vida ao léu sem ter
Sequer a menor marca da esperança
O quanto se perdera em confiança
Agora nem lembrança busco ver,
Restando o que pensara em ser prazer
E vago caminhar vento balança
Funâmbulo desenho já se cansa
E a queda a cada instante a se prever.
Negar outro momento e ser alheio
E quando se promete nada veio
Senão as velhas marcas tatuadas
Estranhamente sorvo a solidão
E o todo se mostrando agora em vão
Reflete este vazio das estradas.

20

Estradas onde tento algo mais
Que mera inconseqüência e nada traço
Senão este terror e toma espaço
Quebrando velhas taças e cristais,
Os riscos e os demônios triunfais
O pântano devora enquanto faço
Meu mundo neste encanto morto e lasso,
Resisto o mais que posso e sei jamais,
O vasto de meus sonhos não traduz
Sequer o que pensara em mera luz,
Apenas noutro anseio se reflete
Cenário aonde tanto poderia
Viver a mais sobeja fantasia
E agora ao mais daninho caos compete.


21

Querendo teu amor
Embora saiba bem
Do quanto não convém
O passo sonhador
Vivendo sem a flor
E nisto vou também
Vagando sem alguém
Que possa além supor.
Vencer outros caminhos
E ser mesmo em espinhos
Um ser melhor, porquanto
A vida traz no olhar
Por vezes um sonhar
Aonde desencanto.

22

Espero que me queiras
Por mais quanto se estenda
O mundo tira a venda
E traça estas bandeiras
E nelas corriqueiras
Loucuras onde entenda
A sorte sem contenda
Condena às derradeiras
Vontades, mas sei bem
Do quanto sem alguém
O tanto não se faz,
Pudesse ter ao menos
Em dias mais serenos
Quem sabe um canto em paz?

23


Querer que tanto trago
Aonde muita vez
O quanto se desfez
Em manso ou turvo afago
O olhar por onde vago
Diverso do que vês
Procura em altivez
Sentindo mesmo mago,
O vasto dentro em nós
Sem ter sequer a foz,
Jamais se mostraria
Dourando o que inda possa
Além da velha troça
Traçar a fantasia.

24


Em versos dedicando
Meu canto aonde pude
Viver a plenitude
Em ar claro e mais brando
O quanto vai pesando
Além do que se mude
Ou mesmo em atitude
Permita onde desando
Em versos as versões
E nelas tanto pões
Os ermos de tua alma,
No fundo nada levo
E quando além me atrevo
Nem mesmo a morte acalma.

25

A mente me remete
Ao dia que não veio
E busco sem receio
O quanto se promete
E nada se transforma
Além do que pudera.
Medonha infanda fera
Tomando a minha forma,
Formato a poesia
No tanto ou quase nada
Não tendo alvoroçada
A luz onde se guia
O passo vago e manso
Aonde o nada alcanço.


26

Vencido pelas tramas
Ausente dos caminhos
Somente entre os mesquinhos
Delírios, almas claras
E vês quando reclamas
Os dias mais sozinhos
E bebo dos teus vinhos
E neles sei das chamas,
Pudera ser astuto,
Mas quanto mais reluto
Não tendo outra vontade
O frio que me invade
Traduz em duro vento
O quanto ainda eu tento.

27

Nas sendas do querer
Jogando sobre as rocas
As sortes que provocas
E nelas cada ser
Aonde pude ver
O todo onde deslocas
E morro em toscas locas
Vencido e sem saber
Se eu posso ou nunca mais
Vestir em desiguais
Caminhos tais searas,
A queda se anuncia
E tudo em fantasia
Enquanto o não preparas.

28


Embora tantas lutas
Não deixam mais espaço
O pouco que inda traço
Ou mesmo se relutas,
As horas mortas, brutas
E nelas cada passo
Transcende ao que desfaço
E vejo podres frutas,
Promessas de um pomar
Aonde desfrutar
Apenas meu anseio,
O olhar em dor e pranto
E quanto mais garanto
O sol; nem sei se veio.

29


Não pense que compensa
O passo quando é dado
Além do demarcado
Em noite clara e imensa,
Vencido em recompensa
E dando o meu recado,
Vagando no passado,
Aonde a sorte vença
E desço patamares
Aonde tu notares
A sombra do que resta
Aprendo a ser assim,
Começo dita o fim
E toma qualquer fresta.

30




Em campos delicados
Dispersos passos tento
E quando em sofrimento
Vislumbro os velhos fados,
Apenas sendo dados
Os corpos ao relento,
O manso provimento
Em dias mais nublados,
Não vejo solução
E quando além virão
Os olhos do futuro,
Somente esta mortalha
Que agora além se espalha
Em chão amargo e duro.

31



Querer quando nos quer
É fácil, mas sei bem
Do quanto me convém
O riso até qualquer
E nada mais vier
Ou vejo se também
O pouco onde retém
O passo da mulher
Recende ao teu perfume
E quando me acostume
Alheio ao me delírio,
Resvalo nos meus erros
E sei dos vãos desterros
Herdando este martírio.

32

E traz o nosso amor
O olhar mais reticente
E quando se apresente
Além do dissabor
Tramando espinho e flor
No todo que apascente
O manto mais urgente
Em luz a se compor,
Não tento outra saída
E sei da nossa vida
Ausente dos meus dias,
E quando mais querias
A história decidida
Renega as poesias.

33

Mas desarmado vou
E entranho selva e mata,
Aonde se arrebata
O pouco que restou,
A marca tatuada
A pele se lacera
E sinto a dura fera
Além atocaiada
E nada do que pude
Ainda resistindo
O quanto fora infindo
Mudando de atitude,
Cenário sem igual
Em ato terminal.

34


Somente de querer
Quem tanto não me quis
Pudesse ser feliz
E ter este prazer
Aonde pude ver
A imensa cicatriz
E o todo contradiz
O pouco a se saber,
O risco, o peso e o tanto
E nisto teimo e canto
Vagando siderais,
Mas ecos não escuto
E sei do quão astuto
Meu passo em nunca mais.

35

Não pude ou mesmo tento acreditar
Nas tantas heresias de uma vida
E nela se percebe distraída
A sorte onde buscara imaginar
O tanto mesmo quando mergulhar
Na sorte ou na palavra desprovida
De toda esta certeza se duvida
Buscando algum momento, outro lugar
Resvalo no que possa ainda vir
Depois de tantos anos sem sentir
Sequer a menor chance de algum brilho
Avanço em solidão e ocupo o tempo
Restando dentro em mim tal contratempo
Regendo cada passo aonde eu trilho.

36

Abençoando o passo rumo ao quanto
Bebera sem saber da plenitude
Cavando dentro em mim o que se ilude
Desvendo o pudera ser encanto

Enquanto o mundo tece o turvo canto
Fracassos encontrando ou quando pude
Gestar em nova luz, mesma atitude
Holocaustos terríveis não garanto

Iludo-me com versos onde eu tento
Jogado pela sorte ao sofrimento
Lutando solitário contra tudo,

Marcando a minha vida já me iludo
Negando qualquer passo rumo ao dia
Olhando para trás; a fantasia


37

Buscando dentro em mim o que inda possa
Cerzir em alegria ou mesmo a dor,
Derramo os meus olhares sobre a flor
Espero qualquer messe alheia à nossa

Fartando-me do fogo onde apossa
Gesticular caminho aonde eu for,
Horrenda fantasia a se propor
Inusitado rumo; a sorte endossa

Jazigo da esperança o verso dita
Levando para além a cruz maldita
Marcando com meu canto o que inda sinto,

Negando qualquer passo rumo à vida
Ouvindo desde então a despedida
Perdendo este cenário, agora extinto.


38

Cruzando as minhas mãos, bem que pudera
Depois da tempestade uma bonança
E quando a solidão somente avança
Fracasso noutra face dita a espera,

Gravetos alimentam e quem dera
Horríveis ilusões, a vida amansa,
Inconstante delírio da esperança
Jogando para além a primavera.

Levasse com meus olhos o meu rumo
Marcando com palavras o futuro
Negando qualquer sombra já me escumo,

Organizando o mundo aonde vejo
Perdendo-se deveras o que auguro
Queimando em tom atroz qualquer desejo.

39

Depois de nada ter ou mesmo até
Escassa realidade diz do quando
Fragilizado dia nos tomando
Gestando com terror amor e fé,

Hedônico caminho eu sigo a pé
Ilusionário manto desvendando
Jocosa realidade se moldando
Liberto desenhar somando o que é

Mesquinho para quem se fez bem mais
Necessitando apenas da promessa
Ocasionando o fim em vendavais

Pressinto qualquer luz que ainda venha
Questiono cada passo onde confessa
Risonho desdenhar não me convenha.

40

Escassa noite traz em tom sombrio
Fagulhas de um momento mais risonho
Gastando o dia a dia onde proponho
Herético caminho em desafio,

Ilustrações diversas ditam rio
Jornada após jornada recomponho
Levado pelo dia tão bisonho
Mergulho no cenário onde desfio

Neófito delírio em tez audaz
Orgânicos finais a quem se quis
Putrefação de uma alma em cicatriz

Querendo muito pouco enquanto faz
Restando tão somente esta quimera
Semeio cada corte que me espera

41

Fragilizando o passo a queda eu vejo
Gritantes ilusões nada trarão
Heresias ditando o meu verão
Idílico caminho de um desejo.

Jorrando dentro em mim a cada ensejo
Leonina fantasia em solidão
Medíocre desenhar da solução
Nefasta lua morre em tal negrejo.

Opacos tons em noite mais grisalha
Profana realidade ora se espalha
Quotiza cada passo rumo ao nada,

Resido na esperança mais tenaz
Servindo tão somente quando traz
Terríveis noites matam a alvorada.

42

Gerasse pelo menos um momento
Holofotes diversos; noite em vão
Idiossincráticos terrores não
Jaziam sobre o duro desalento.

Legados onde às vezes me alimento
Marcando com mesquinhos os que irão
Negar a própria sorte, em ilusão
Ossadas do passado em tal fomento.

Pereço quando busco alguma luz
Quasares iluminam o que pus
Restituindo o manto mais sutil,

Servindo como fosse uma alimária
Tentando cada noite em procelária
Urdindo muito além do que se viu.

43

Honrarias a quem se fez poeta
Iludido, porém jamais cansado
Jogando em emoções o velho dado,
Levando a sua vida em voz repleta

Marcado pela dor, ou mesmo asceta
Navega por tamanho mar alçado
Ourives da palavra disfarçado
Procura a cada instante nova meta

Quedando solitário muita vez
Restando no que pode e se desfez
Sensível camarada do futuro

Tentáculo da vida em tons diversos
Ungido pela essência de seus versos
Vagando em céu tão claro ou mesmo escuro.

44

Ilíadas que tento com meu canto
Juízos tão diversos que não faço
Levando a minha voz ao torpe espaço
Marcando com terror o desencanto,

No pouco ou mesmo nada me agiganto
Ou orgulhosamente eu me desfaço
Presumo no vazio novo traço
Quebrando cada espelho, eu não me espanto

Resumos de promessas e ilusões
Sacrílega figura e nela expões
Tétricas versões de várias chagas

Usando da palavra vez em quando
Versando sobre o nada e desvendando
Xerez com que te embebes e embriagas.


45


Já nada mais teria senão isto,
Levando a minha vida desta forma
Marcado pela fúria que transforma
Não posso e na verdade não desisto,
Organizando o passo inda persisto
Procuro obedecer à clara norma
Querendo qualquer luz, vida deforma
Restando dentro em mimo quanto insisto
Sementes da esperança? Não cultivo
Temáticas diversas, mas cativo
Urgentes ilusões? Nada mais tento
Vencer os descaminhos, sofrimento
Xucro corcel adentra noite insana
Zarpando enquanto a vida já se dana.

46

Abrindo qualquer porta doravante
Braseiros da esperança; não mais quero
Carpindo este delírio, eu sou sincero
Desenho cada face num instante

Espero atocaiado quem garante
Frenético desenho eu não venero,
Galanteador anseio onde tempero
Hermético cenário me agigante,

Irônicos demônios dentro da alma
Jazidas de ilusões; nada me acalma
Levando para além o passo quando

Mercenários fantoches desvendando
Não posso e nem pudera acreditar
Ou mesmo cada passo sonegar.

47

Brasões entre fileiras, guerra e paz,
Cravando dentro da alma a bala e a fúria,
Destreza não traduz qualquer lamúria
Expresso com meu verso e sou capaz,

Frenesis onde um dia quis audaz
Gerânios na janela, sem penúria
Hibiscos no jardim jamais a incúria
Imagens de um passo, a vida traz.

Jasmins no meu quintal, aromas, sonho...
Lavandas e promessa eu recomponho
Madressilvas, nenúfares, olores

No tanto que pensei e não sabia
O quanto mavioso o novo dia
Perfumes tão diversos destas flores.

48

Cravando dentro em mim a fina adaga
Devastações diversas, mares tantos,
Erguendo fortalezas, velhos mantos
Fragilizando o passo que me afaga,

Grassando sob a noite imensa e maga,
Havia muito mais que tais quebrantos
Imantando meus dias com teus cantos,
Jardim que esta promessa antiga traga.

Levar o meu caminho aonde eu possa
Marcar cada palavra tua ou nossa
Num cântico divino e sei sobejo,

Orgástica loucura traduzindo
Prazer que sem igual diverso e lindo
Querência abençoada que eu desejo.


49

De todos os meus dias do passado,
Espécies tão diversas de alegrias
Festivo coração; navegarias
Gerando cada instante lado a lado

Hortênsias no quintal, o doce prado
Incandescentes noites, fantasias
Jurando sobre as ânsias, mesmo irias
Levar o meu caminho em novo fado,

Mesquinhas noites dizem do abandono
Negar o que pudera e se me abono
Onírica paisagem se desenha

Percebo cada dia com a luz
Questiono o velho passo aonde eu pus
Riscando do meu rumo esta resenha.

50

Eu tanto quis saber de um novo sol
Franzindo o cenho quando via a luz
Gracejo da verdade não seduz
Homérico caminho em vão farol,

Infante coração seguindo em prol
Jargões aonde o tanto não produz
Levando para sempre a velha cruz
Mecânicas diversas, girassol.

Nefertiti que um dia se fez minha
Origem dos meus medos, meus anseios
Presença delicada em fartos seios

Quando a verdade toma e se avizinha
Resumo em verso o canto mais agudo
Somente o passo em vão e não me ludo.


51

Partindo desde quando se mostrara
A vida em face escusa e mesmo dura,
Num fato aonde a sorte não perdura
Encontro o meu resgate em tal seara,
O porte se assemelha e se prepara
No quanto a própria vida diz candura
E nesta face oculta, turva e escura
Procuro uma visão que seja clara.
Iridescentes sonhos juvenis,
O tempo na verdade contradiz
E deixa como marca simplesmente
A velha cicatriz que tanto caos
Causara ao naufragar quais fossem naus
Os sonhos onde a sorte se apresente.

52

A grata mordia de algum sonho
Agora desolada pela vida
Não deixa qualquer marca, destruída
E nela nem a vaga mais proponho,
O quanto me abandono e me reponho
Na sorte tantas vezes distraída
Porquanto a realidade nos agrida
Esboça outro caminho, mais risonho.
Mas sei quanto se faz inutilmente
Ou mesmo se omitindo em tênue luz
Se tanto ou muito pouco já reduz
O vago desenhar e se alimente
Dos restos da emoção há tanto morta,
Eu sei quanto foi fútil qualquer porta.

53

Mortal certeza dominando o passo
De quem tentara além do quanto vê
E nada do passado diz clichê
Enquanto o novo em mim; mesmo desfaço.
O tempo perde aos poucos cada espaço
E o todo se apresenta como se
O risco persistisse, mas não crê
No prazo que bem sei demais escasso.
Cravando as ânsias fartas no meu peito,
E quando em solidão, teimo e me deito
Rescaldos de outros tempos inda vejo,
Velando o sono em troca de um afeto,
Apenas desta forma eu me repleto
Aproveitando assim o raro ensejo.

54

Dos ócios que esta vida me trouxera
Apenas aprendendo com o farto
Delírio aonde às vezes me reparto
Deixando bem distante a primavera,
O ranço de um caminho destempera
E gera a mansidão em novo quarto
Além do que mais pude, tento e parto
A vida na certeza é bem mais mera.
Esgarço em fantasias o que ainda
Trouxesse e na incerteza a vida brinda
Gerando em contraluz, o contra-senso,
Assumo meus enganos e desvios
E quando perco velas e pavios,
Apenas neste escuro tento e penso.

55

Separado dos sonhos, tantas milhas,
Os versos não seriam mais mutantes
E quando em novo rumo me adiantes
As horas são deveras armadilhas,
E quantas vezes teimas quando pilhas
Os campos noutros tantos verdejantes,
Porém em ermos fúteis degradantes
Ao mesmo tempo domas ou me humilhas.
Ocasionando a queda após tropeço
O todo quando muito eu reconheço
Não vale mais vintém, resto vazio.
Senzalas onde tanto me acorrento
Seguindo contra a fúria deste vento
Espólios do meu nada; assim desfio.

56

Ignoro o meu destino e sendo assim
Não temo o que vier. Mesmo se é dor
O tanto aonde fora sonhador
Gerando outro caminho de onde vim
Transcende ao meu delírio e diz enfim
Do pouco ou do vazio em redentor
Desvio neste prado em vaga cor,
Matando ou ressecando algum jardim.
O passo rumo ao fim não mais convém
A quem deveras sabe muito bem
Do tanto ou do tão pouco que inda cabe,
Não tendo na verdade o quanto gabe
De ser ou não saber qualquer começo,
Meu mundo prosseguindo em vão. Do avesso.

57

Aonde poderia estar oculto
O resto de algum sonho que inda trago,
Porquanto me afastando de algum lago
Apenas bebo e sorvo o teu insulto,
E sei quanto sou morto ou insepulto
E nisto cada resto dita afago,
Não vejo do passado qualquer bago,
Já não suportaria missa ou culto,
Culpando cada errático vazio
No qual se tanto bebo ou desafio
Não deixo qualquer sombra aonde passo,
Apraza-me viver mesmo que ainda
A história no vazio; agora finda
Reflito enquanto o sonho; ora desfaço.

58

Buscar-te pelas ruas, noites frias
E ter esta certeza do não ter
Senão a mesma história em desprazer
Bem sei que as horas passam, não virias,
Erguendo dentro em mim as cercanias
Procuro a bela forma de viver
No quanto desenhando ao bel prazer
Não quero mais sentir tais vilanias.
Escassos e ermos versos; traduzira
A mão mais melindrosa da mentira
E cada tira expõe novo fracasso,
O tanto que pensara não existe,
O olhar agora segue imerso e triste,
Procura algum alento, mesmo escasso.

59

Já não satisfazendo alguma luz
Temores se desnudam dia a dia,
E quanto mais talvez, mesmo teria
Quem noutra face busca o que propus,
O canto se mostrara em farsa e cruz
Ao nada que apresenta; eu poderia
Tramar quem sabe mesmo, a melodia,
Mas nada do que tento; eu faço jus.
Acasos são comuns e nisto eu sigo
Enquanto cada verso mesmo antigo
Trazendo para mim o novo alento,
Esboça a realidade em tom cruel,
E quando mais ausente deste céu,
Apenas uma luz ao longe eu tento.

60

Correndo pelos mares mais distantes
E neles procurando qualquer cais,
Encontro calmarias vendavais
E nisto nova face me garantes,

Os dias são deveras fascinantes
E bebo cada gota dos cristais
Sabendo que deveras muito mais
Do que inda poderia em inconstantes

Levantes traduzir a minha voz,
E todo o meu passado eu dessedento
Na fúria mais audaz de qualquer vento

Mesmo que o tempo esteja tão atroz
Esgarço-me na vaga tempestade
Enquanto a fantasia toma e invade.


61


Procuro ao caminhar diversa margem
Aonde eu possa mesmo ter o porto
E neste instante vejo o sonho morto
E a fúria destroçando a velha vargem,
Não posso acreditar em nada além
Do pouco que inda trago dentro em mim,
Viceja outra esperança em vão jardim
E nisto a morte aos poucos doma e vem,
Resistiria enquanto fosse forte
O passo não traduz a realidade
E quando a minha vida já degrade
Não resta da esperança algum aporte
Neste horizonte ledo, ausente luz,
Apenas a que outrora em vão compus.

62

Levanto entre meus mortos e procuro
Alguma luz que possa ainda haver
Depois de tanto tempo perceber
O corpo abandonado em ermo escuro,
E quando noutra face me amarguro
Gerenciando o quanto em desprazer
Pudesse na verdade ainda haver
E sei do todo ou nada e me torturo,
Negociar um sonho em troca de
Vazio que deveras nada vê
Não serve a quem ainda, sonhador
Encontra os velhos rastros de uma senda
Aonde na verdade nada atenda
Sequer as meras vagas de um amor.

63

O quanto ultrapassara algum limite
E tento imaginar outro caminho,
E ainda mesmo apenas mais sozinho
Não tendo nem sequer o que acredite,
Não quero nem o manto; necessite
Apenas meu delírio deste espinho
E quando do vazio eu me avizinho
Errático demônio dá palpite
Eclodem dentro em mim vários momentos
Desvios entre tantos desalentos
Gerando a mesma espúria ingratidão,
Acordes dissonantes da esperança
E neles nada além a sorte alcança
Senão as mesmas vagas que virão.

64

Chegando ao mar imenso aonde vejo
Cismarem as estrelas refletindo
Cenário que pensara bem mais lindo
E agora não concentram meu desejo,
Aproveitando assim diverso ensejo
O corpo com mortalha se cobrindo,
O quanto deste sonho agora findo
O céu jamais bebera este azulejo.
Estranhas luzes dizem da verdade
E nela a mais total opacidade
Acasos entre farpas, facas, medos,
E os tantos vastos fuscos riscos tento
Sorvendo com ternura o sofrimento
Deixando os meus anseios mortos, ledos.


65

Ainda entre diversos tons e climas
Eu risco o meu caminho em turva face
E quando a realidade ainda grasse
Por vezes mesmo além ainda estimas,
E bebes com terror o que redimas
E negas outra vez algum impasse,
Sem nada que deveras inda trace
O manto se transforma onde o suprimas.
Não tento acreditar em abandono
E quando na verdade desabono
Errático delírio vez em quando,
O marco denegrindo o meu futuro
O parto aonde o sonho em vão procuro,
Aos poucos vejo em mim já se abortando.

66

Pudesse em tais vestígios inda ver
Litígios do passado e nada resta,
O quanto se percebe pela fresta
Não deixa o coração esmorecer,
E quando imaginara o amanhecer
E o todo noutra face não se empresta
A manta se moldara tão funesta
Gerando o que pudesse em desprazer.
A queda, a sorte, a morte, o corte, a adaga
Nem mesmo a mansidão ainda afaga
Quem fora mais sutil e tão venal,
O vasto caminhar já se esgotando,
O mundo noutra face desde quando
Pensara num futuro desigual.

67


Após sentir dos sonhos esta ausência
E nela construir falso castelo,
O canto aonde o tempo não atrelo
Perdendo na verdade alguma essência
Não tenho, e isto traduzo em paciência
O manto mais sutil quem dera belo,
Desnuda fantasia onde revelo
O quanto não mais quero em pestilência,
Apodrecida face de um desejo,
Aonde o tanto faz agora eu vejo,
Negociando a sorte a cada engano,
O preço a se pagar não vale o risco,
E quando do mundo o nome eu risco,
Mesmo sozinho eu sei que não me dano.

68

Não quero e nem preciso do mistério
Se nele te defendes fragilmente,
O quanto da verdade já se ausente
No olhar que não condiz, qualquer critério,
O pântano se faz em dor e pranto,
Mas nada do que eu vejo em charqueada
Transcende à vida em medo já traçada
Nem mesmo outro cenário ora garanto,
Resulto do que um dia se fez farto
E quando me abandono sem defesa,
Seguindo o que talvez dite leveza
Do vasto mundo inerme enfim me aparto,
Pressinto assim o fim desta nova era
Que há tanto tempo em mim nunca estivera.

69


Amores novos, velhos sofrimentos.
Os erros cometidos? Nunca mais.
Os cortes na verdade são boçais
E neles não pretendo em instrumentos
Viver os mais sublimes desalentos
Nem tanto quanto pude assim jamais
Vestir os velhos ermos rituais
Sabendo dos meus vários excrementos,
Resulto do passado e na verdade
Sem nada que pudesse ou tanto invade
O peso deste sonho mais audaz
Esgotos dentro da alma; os acumulo,
Porém qualquer asneira eu não engulo,
E a morte ou sorte ou forte, tanto faz.

70

A sorte se abusando de quem tenta
Singrar qualquer promessa de oceano
E quando na verdade enfim me engano
Seguindo com terror qualquer tormenta,
A face mais cruel e virulenta
Cedendo e já puindo qualquer pano
Pudesse ter um tom de desengano
Enquanto outro cenário se apresenta,
Meu verso não condiz com esperança
Tampouco quero festa e a falsa dança
Resumos de promessas enganosas,
Já não suporto mais qualquer canteiro
E sei que fui tão fútil jardineiro
Matando ao mesmo instante tantas rosas.

71

No leito a desejosa deusa nua
Entregue em languidez ao pensamento
Sensualidade adentra em manso vento,
Bebendo esta beleza a rara lua,
Minha alma ao lado teu também flutua
E sorve com ternura, olhar atento
E nesta maravilha dessedento
Vontade que incontida te cultua,
E toco os belos seios de romãs
E assim as noites seguem seus afãs
Deliciosamente anunciadas,
As fúrias em prazeres e vontades
Desvendam no teu corpo imensidades
Em ânsias sem limites, tatuadas...


72

Reclinas tua fronte enquanto eu bebo
Beleza incomparável, e me entrego
Quem tanto fora outrora quase um cego
Agora em tal loucura além recebo
Do quanto com ternura em paz concebo
Alimentando em gozo assim meu ego,
O tanto que procuro e não sossego
Enquanto o teu orgasmo eu não percebo.
Vencido pelo sonho mais audaz,
O amor quando demonstra ser capaz
De dominar o passo de quem sonhar,
Produz em erupções divinos atos,
E os dias do passado, mais ingratos
Morrendo na presença deste altar.

73

Orvalhas em desejos no lençol,
Sacio tua sede mansamente
E quanto mais a fúria se apresente
Dourando em plena noite imenso sol,
Brilhante luz emana em arrebol
Domina com fulgor o corpo e a mente
E o tanto em desvario que se sente
Um furioso rumo e sempre em prol
Inundações invadem nossa cama,
E quando mais audaz eu sinto a frágua
Também dentro em teu mar, o meu deságua
Ao mais pleno caminho amor nos clama,
E o gozo anunciado já se espalha
Umedecido campo de batalha...

74


As pálpebras fechadas, corpo entregue
Navego com meus dedos, língua e boca
Adentro mansamente cada loca
E assim em noite imensa se navegue,
O quanto do desejo me persegue,
E a mão entre teus seios se desloca,
Resulta na delícia onde se entoca
Voluptuosamente a cena segue.
Até que se eclodindo dentro em nós
Os rios afluindo em mesma foz,
Num átimo este espasmo toma o quarto,
No quanto me entregando sem defesa
Do amor na ansiedade mera presa,
O prêmio incomparável; já reparto.



75

Contemplo adormecida após o gozo
A sílfide perfeita, esta sereia
E quanto mais a noite se incendeia
Momento tão sublime e majestoso,
O quanto se permite fabuloso
Caminho aonde a glória nos rodeia,
A santa em tez vadia não receia
E bebe deste mar voluptuoso,
Altares profanados em bacantes
Momentos onde tanto me agigantes
Enquanto sou somente teu e nada
Permite outro desejo senão este,
E quando a minha pele te reveste
Enfim te vejo em mim mimetizada.

76


Cabelos soltos nesta cavalgada,
Orgásticos momentos constelares
E quanto mais desejos demonstrares
Maior a fúria em cada galopada
A noite adentra assim a madrugada
Dentro do quarto rondam mil luares,
E tramam-se decerto em tais altares
A fúria ao deus do amor já consagrada,
Misturam-se os hormônios e os suores
Momentos divinais dentre os melhores
Certeza da sublime divindade
Até que num uníssono caminho
Completos, unos seres, num carinho
O humor leitoso a deusa adentra e invade.

77

Num tépido caminho rumo ao tanto
Desenhos entre tantas maravilhas,
As noites preparando as armadilhas
Aonde este prazer, quero e garanto,
Um jogo alucinante quase santo
Espaços entre os astros vagas, trilhas
E assim também em mim gozos polvilhas
Num único e constante raro encanto
Apresso-me seguindo em plenitude
O quanto num instante tudo mude,
Furores se transformam em cansaço.
Em vinhos e licores prediletos
Os corpos entranhados, mais completos
Unidos pelo mesmo e firme laço.


78

Desmaias em meu peito em gemidos
Suspiros consonantes e loucuras
Aonde com ternura me torturas
Momentos sem igual tomam sentidos
Pra Dionísio altares erigidos
Em ânsias delicadas e tremuras,
Enquanto novos rumos tu procuras,
Os ermos mais recônditos vertidos
E sem fronteiras, sigo em tez profana
A santa agora ri, bela e sacana,
O lamaçal em gozos misturados
As roupas pelo chão, nudez exposta
A cada novo instante outra proposta
Caminhos, pernas, coxas, misturados.

79

Furtando de teus lábios os caminhos
Sedento da saliva e do mucoso
Desenho aonde eu bebo o majestoso
Delírio, em raro fruto dos carinhos,
Os corpos entrelaçam novos ninhos
O olhar sem mais sentido torporoso,
Apraza-me saber voluptuoso
Cenário em tal licor; divinos vinhos
A via láctea além é testemunha
No quanto este cenário se compunha
Em árduas madrugadas ao luar,
Ao ar livre sem medo ou preconceito
As folhas vão servindo como leito
Sem asas aprendemos a voar...

80

Teus seios em meus dedos, minhas mãos
Abrindo de mansinho este botão
Começo a mais sutil navegação,
Ao penetrar suave; úmidos vãos
Já nem escuto mais tímidos nãos
Entregue a tal poder de sedução
Momentos divinais; sei que virão
De todos os meus males, corpos sãos.
Fartando-se em orgástica beleza,
Clitóris eriçado com destreza
Os ermos desta furna onde eu concentro
Em montes, vales, tento bebo e cismo
Até que ao encontrar superno abismo,
Um bandeirante audaz; agora adentro.


81

Enquanto tanto amor o amor revela
Levando muito além do pensamento,
Vagando em infinitos, quando tento
Ousando ter nos sonhos rara vela,
O tempo em paz assim decerto sela
Legando ao mais terrível sofrimento
Ausente deste olhar o alheamento,
Estrela que observara eu sei que é dela.
Assíduo companheiro da ilusão,
Envolto nos anseios da emoção
Vivenciando o dia mais feliz,
No tanto de um desejo mais presente
O amor com sua fúria; se apresente
Fazendo em meu caminho o que bem quis.


82

Saber em ti a noite fabulosa
Erguida sob um céu diverso e raro,
O quanto de desejo ora declaro
Tramando a vida plena e majestosa,
Cevando dentro em mim canteiro e rosa
A cada encanto vejo um tempo claro
E bebo ao mesmo instante enquanto o amparo
Prepara a sorte grande onde se goza
Dos tantos privilégios de uma vida
Ousando muito além de uma saída
Erguendo um brinde à sorte que nos doma,
Amar e ser feliz, eis o que importa,
Ouvindo o seu chamado em minha porta,
A mágica esperança em sonhos toma.

83

Amar e ter nas mãos além de tudo
Beleza sem igual, capaz de tanto
Cerzindo em alegria cada canto
Erguendo um raro altar onde transmudo
Farturas de esperança; eu não me iludo
Gestando cada passo aonde encanto
Habilmente prepara um claro manto
Idólatra dos sonhos; sigo mudo,
Jazendo dentro em mim esta esperança
Divinamente além o mundo avança
Levando com seu gesto mais suave
Marcando a minha pele com seu marco,
Navego as soluções se nele embarco
Ouvindo este gorjeio, uma bela ave...

84

Aprendo a cada dia e sempre mais
Bebendo da esperança o doce mel,
Cruzando os oceanos; sigo ao léu
Deixando no passado os temporais
Encontro após a chuva o manso cais,
Fecundo com meu verso este papel
Graciosamente imerso em raro véu
Hedônicos delírios; sei demais.
Introduzindo enfim a paz sublime
Jogado contra as pedras, mas redime
Louvor em rara forma de alegria,
Medonhas noites mortas; não teria
No quanto desejara e poderia
Ourives deste amor tanto se estime.

85

Beijando a tua boca, amada minha
Cruzando cada porto sem receio
Desvendo tanto amor e sigo alheio
Esboço a noite aonde se adivinha
Ferrenha maravilha onde se aninha
Grudando em minha pele sem receio,
Havendo muito mais que algum recreio,
Instando esta alegria em bela vinha.
Jamais eu poderia acreditar
Levado pelas ânsias deste amar
Mereço pelo menos uma chance,
No todo ou mesmo pouco que inda resta
O manto à fantasia já se empresta
Provendo este caminho aonde avance.


86


O céu em fogaréus trazendo o dia
E vejo a bela imagem desta que
O tanto quanto pude e já se vê
Traçando dentro em mim mera alegria,
E quando outro momento eu poderia
Fazer da fantasia o quanto crê
Quem sabe caminhar e seu por que
Vertendo sem temor a poesia.
Elevo o pensamento e te alcançando
Restando alguma luz e mesmo o brando
Delírio se transborda em plenitude,
Enquanto o amor resgata a nossa vida,
Deixando para trás a despedida,
Encantador desenha o que ora pude.

87

Auréolas sensuais de um belo seio,
O fogo das paixões domina e acende
O quanto da esperança se desprende
Deixando o sofrimento mais alheio,
No todo que percebe ao que se veio
Caminho sem igual já se desvende
E o tanto num instante não depende
Da imensidão do amor em devaneio.
Resistiria enfim a tal loucura?
Amor ditando a regra e na procura
De um porto mais tranqüilo venho aqui
E sei que em ti percebo o quanto existe
De belo e na verdade agora em riste
O encanto mais sublime que sorvi.

88

Dourando o mar em claras ondas vejo
O sol do meu anseio em raro véu,
Tomando como intenso fogaréu
A fúria delicada de um desejo,
Aproveitando assim a cada ensejo
Viver e desvendar no imenso céu
Segredos deste mundo em doce e fel,
Num claro e mais sutil, raro azulejo.
Eu bebo a fantasia e me inebrio
E quando outro caminho dita o fio
Por onde em labirintos sei saída,
O amor não me permite nova rota,
E quanto mais feroz em mim já brota
Não vejo solução para esta vida.

89

Bafio destas ondas sobre a areia
Beijando cada traço que desnuda
A sorte mais audaz e tanto acuda
Quem nela se percebe e devaneia,
A mão abençoada onde se creia
Sem nada que deveras mais iluda
O amor perpetra assim em rara ajuda
O passo aonde o nada se receia.
Eu vejo e te percebo mais bonita,
Aonde toda a glória necessita
Apenas de um apoio e nada mais,
Vencendo os meus diversos medos, sito
O coração em ar claro e bendito
Momentos sem igual, fenomenais.


90

Reflete sobre o mar o brilho imenso
Da lua se deitando no horizonte
É quando o meu desejo ali desponte
E nesta que se fora; agora eu penso,
E quanto mais eu sinto este ar tão tenso
Gerando dentro em nós a rara fonte
Por onde o meu delírio já se aponte
Bebendo da esperança eu me convenço.
O risco, o rito, o gozo a voz e o medo,
O tanto quanto quero e me concedo
Permite muito além de um mero passo,
Assim em tal momento mais audaz,
O todo que deveras já se faz
Transita neste espaço onde eu me traço.

91

No olhar vejo o infinito refletido
E bebo cada gota da esperança
Assim ao longe o canto agora avança
E toca com ternura este sentido,
O vento noutro tempo presumido
A fúria aonde o nada já se lança
O risco de sonhar, qualquer mudança
Amante delicada, este gemido.
O vasto navegar em corpos nus
Harmônica loucura onde me pus
Sem medo e sem pudor, apenas sendo
O tanto imaginário agora é vivo,
Do amor deveras sendo este cativo
Num ato tão sutil quanto estupendo.

92

Boiando nos espaços mais sutis
Eu quero acreditar noutro momento
Aonde o amor me traga em manso alento
O sonho mais audaz que sempre quis,
O tanto quanto sou ora feliz
E o risco sonegando o sofrimento,
E quando nos teus braços me alimento
Da imagem mais audaz onde me fiz.
Não pude e nem pudera acreditar
Além de qualquer raio de um luar
Divino e tão tranqüilo aonde eu vejo
Desenhos de uma vida sedutora
E nela muito além do que mais fora,
A sombra delicada de um desejo.

93

Viver longe das praias onde o canto
Tão mágico e superno das sereias
Adentra mansamente tais areias
Gerando esta ternura aonde encanto
O olhar vislumbra assim em claro manto
E sei deste delírio onde incendeias
Tomando o coração penetra as veias
E muda num instante dor e pranto.
Ousar e ser feliz já bastaria
A quem se fez além de um mero dia,
Bem mais do que um poeta simplesmente
Amar e ter decerto ilimitado
Caminho a cada noite desenhado
Na nua forma em luz que se apresente.

94

Sentir a ventania que nos toca
Em tal bafejo raro, noite imensa
E vejo em teu olhar a recompensa
O amor quebra na areia e em cada roca,
O mar imenso aonde se desloca
A fúria desta noite onde se vença
O medo do passado ou desavença
E o risco de sofrer não se provoca.
Eu tento adivinhar cadências tais
Em atos e momentos magistrais
Aonde poderia ter a messe
Do canto sem temor, apenas isto
E quando neste amor quero e persisto
Desenho sem igual a vida tece.

95

Cismando além do quanto pude um dia
Vivenciando o amor que nos tocara
A vida semeando em tal seara
A luz deveras forte nos traria
A rara e mais sublime fantasia
E nela com certeza se prepara
O rumo aonde a glória nos ampara
Gestando a mais suave melodia.
Não pude acreditar noutra promessa
E quando a minha vida recomeça
Depois da tempestade em tal bonança
O amor não mais dá tréguas, sigo em frente
No todo aonde o muito se apresente
E enquanto o passo em paz agora avança.

96

Prelúdios de manhãs em raros tons,
E sinto quantas vezes for preciso
O toque mais sutil e mais conciso
Da boca em rubros beijos e batons,
Os dias com certeza em claridade
A vida refazendo após a queda
E novo caminhar jamais se veda
Enquanto a paz imensa nos invade.
Presumo ver além de mero cais
Um mundo sem igual, sobejamente,
E quando este cenário se apresente
Querendo novamente e muito mais,
Olhando de soslaio vejo apenas
O amor quando deveras me envenenas.

97

Iluminando assim o meu caminho
O olhar de quem se fez enamorada
Ditando a claridade desta estrada
Aonde com ternura ora me aninho,
Dos sonhos e dos cantos, passarinho
Encontra no teu corpo uma pousada
E bebe cada gota da orvalhada
Manhã e nela vive este carinho,
Restando em cores fartas o jardim
Do amor que um dia tive dentro em mim
Numa primaveril e rara estância,
O amor se transformando multiplica
E a cena mais audaz, suave explica
Felicidade agora em abundância.

98

Um luminoso e farto amanhecer
Depois da nossa noite em tanto amor,
O céu agora eu vejo multicor
E nele esta presença de um querer,
Além do que pudesse acontecer
Gerando a cada olhar o refletor
Por onde se percebe o teu sabor,
Delito delicado de um prazer,
Marcando a minha pele, tatuagem
E quando em ti vislumbro tal aragem
Miragem se transforma em realidade
E o gozo mais audaz e mais feroz
Agora vai ditando dentro em nós
O tanto que decerto em paz invade.

99

A cândida manhã em seus manás
Trazendo maravilha para nós
E o gosto delicado toma a voz
E bebo com ternura, mas audaz,
O tanto que desejo e satisfaz
O risco de seguir sem medo e foz,
Beijando a tua boca, nossos nós
Além do que eu seria mais capaz.
O pranto a sede a fome a fúria e o medo
O marco mais sutil onde procedo
O risco de viver sem ter além
Da sorte mais vibrante e carinhosa,
História mais sutil e majestosa
Aonde o grande amor já nos contém.


100

Venturas tão diversas deste sonho
Aonde novas trilhas eu tentara
Vibrando a cada luz nesta seara
Porquanto o meu desenho já componho
E traço com ternura o mais risonho
Desejo aonde a sorte se prepara
E bebo a fantasia bem mais clara
E nela outro delírio eu te proponho.
Viceja dentro em nós este jardim
E nele se percebe tudo enfim,
Se resolutamente não receio
O marco mais feliz que vejo em ti,
O amor que tantas vezes persegui
Encontra no teu corpo rota e veio.

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