terça-feira, 17 de maio de 2011

1

Quando se desenha em uniforme
Caminho a mesma face ou mesmo até
Aquela que deveras nos conforme
Ou gere a insensatez de cada fé,
E quando em solidão meu peito dorme
Vagando sem saber mais por quem é
A face se mostrando mais disforme
Traduz o quanto a vida segue a pé
Vestindo a mesma velha inconseqüência
Ousando acreditar na competência
De quem jamais se fez além do vago,
Invisto cada passo no futuro
E tanto quanto possa, configuro
O tempo; aonde sempre em vão divago.

2


Teologias várias me trariam
Talvez algum alento ao fim de tudo,
O quanto na verdade me transmudo
No quanto velhos sonhos poderiam.
Vassalos da esperança moldariam
O enredo; aonde eu tanto desiludo
Porquanto siga só, alheio ou mudo
Os dias entre enganos seguiriam,
Versando sobre o que inda me restara
A noite se mostrara em prata rara
Num plenilúnio intenso e mavioso,
Mas quando me avizinho do vazio
Reparo o quanto sigo ora sombrio
Tornando o meu caminho pedregoso.

3

Ou quando se mostrara em tal miséria
O mundo desnudado rudemente
No todo que deseja agora mente
E sabe a franca face da matéria,
O verso noutro tanto, a voz mais séria
Enquanto o que pudesse plenamente
Apresentando o corte e sem semente
A vida não tecendo a sorte; espere-a.
Decerto o caminhar se moldaria
No tanto que se inunda em poesia
O versejar suave e soberano
O vento nos tocando devagar
Uma esperança eu sinto a divagar,
Porém o meu anseio diz engano.

4


O tempo mudando a sorte
De quem tanto poderia
Procurar qualquer aporte
Noutro tom sem ironia,
O cenário que conforte
A verdade e a fantasia
Noutro dia mesmo o corte
Nada mais alegaria,
Verso sobre o que pudera
E se vejo viva a fera
Que alimenta-se de entranhas
O meu sonho se desfaz
Num momento onde mordaz
Outros erros; tanto assanhas...

5

Percebo este ser obscuro
Que alimenta o pensamento
E se tanto quero ou tento
Noutro passo me asseguro,
O que possa e já procuro
Outro fato onde lamento
O meu verso em sofrimento,
Solidão trama e perduro,
Navegando no vazio
Onde o quanto desafio
Traça enganos tão somente,
A verdade não se omita
Quando a sorte traz aflita
A esperança que ora mente.

6

Não queria acreditar
Nos engodos mais comuns
Meus momentos; sei de alguns
Onde houvera algum luar
Vou vertendo num vagar
Busco sonhos incomuns
Aguardentes, vinhos runs
E o meu mundo a naufragar.
Na esperança que não veio
No caminho sempre alheio
No cenário sem descanso,
Onde possa ter a sorte
Que deveras me comporte
Na verdade não alcanço.

7


Brindo ao sonho que partira
Noutro rumo de tal forma
Que a palavra que reforma
Traz apenas a mentira
E deveras já prefira
Caminhar enquanto a norma
Não trouxesse o que deforma
Nem matasse insana pira.
Versejando sobre o nada
A certeza destroçada
A verdade não se traz
Onde o vento me inundasse
Ao vencer qualquer impasse
Outro rumo, mais audaz.

8

Divagando sobre o fato
De viver o quanto pude
Mesmo sendo em atitude
Tão diversa, ora constato,
O momento mais ingrato
A palavra dura e rude
Velha flor da juventude,
Outra face em vão retrato.
Jamais tento acreditar
No que possa caminhar
Neste rumo, mais incerto.
Já não quero o mero sonho,
O que tenho decomponho
E alimento este deserto.

9

Ao falar do pleno amor
Que deveras nos guiasse
Onde quer que a vida trace
Mesmo engano sem pudor,
Caminhando aonde eu for
A verdade em desenlace
Trama o quanto desejasse
A palavra sem a dor,
O meu mundo se discerne
Procurando pelo cerne
Da questão que ora apresento,
Mas sabendo do que trago
Não supondo algum afago
Da esperança sigo isento.

10

Exorcizo esta ilusão
E desejo novo rumo,
Onde possa e não me aprumo
Novos dias não verão
A terrível solidão
Que pudera em mero sumo
A palavra que resumo
Nesta vasta imensidão.
Ousaria acreditar
No que possa algum luar
Espalhando em luz suave,
O caminho que se cria
Trama a imensa fantasia
Que decerto nada agrave.

11


Já não possa perceber
O que a vida me ensinara
Desde quando a sorte amara
Desdenhara o meu viver,
E se tento agora ver
Outra luta se prepara
E navego em vã seara
Sem sequer me perceber,
O vazio que entranhasse
Traça o rude desenlace
De uma vida sem proveito,
Galgo os sonhos, mas a queda
No tormento se envereda
E deliro, mas aceito.

12


Não me cabe decidir
Sobre o fato que não veio
Sigo o mundo sempre alheio
Ao que tanto há no porvir,
A verdade a perseguir
O momento onde rodeio
O caminho em devaneio
Dos meus sonhos me excluir.
Ver somente o que interessa
E deveras já sem pressa
Procurar algum alento,
Mas pudesse ser enfim
O que trago dentro em mim
Ou deveras mesmo tento.

13

Nada mais se vendo após
O caminho sem seu norte
O que possa e não conforte
Traduzindo a velha voz
Do momento nosso algoz,
Desenhando o quanto corte
Sei somente desta morte
Num anseio mais feroz.
Resumindo cada verso
Onde tanto sigo imerso
Vago além do pensamento
Outro fato se repete
Na verdade o canivete
Corta fundo em tom sangrento.

14

Presumisse outro final
A verdade se veria
Muito embora a fantasia
Molda o verso mais banal,
E seguindo o ritual
Bebo apenas a ironia
E se possa em alegria
Com certeza é menos mal.
O meu passo em retrocesso
O que possa e não confesso
Sem sentido e sem razão,
Ouso mesmo quando dano
O meu mundo em desengano
Ou os dias que virão.

15

Visto o sonho e nada mais
Do que possa acreditar
No meu verso a desenhar
Seus diversos temporais,
Outro tempo é crer jamais
Não restando céu ou mar
Nem tampouco algum lugar
Que pudesse ser meu cais,
Vejo apenas o que pude
Num momento em plenitude
Ou após em livre queda,
Refazendo o que tentara
Noite em paz, coisa tão rara,
Solidão, cara moeda...

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