domingo, 2 de janeiro de 2011

Num posso acreditá nu qui se diz
Nas banda do sertão da minha terra,
A gente se perdendo o tempo encerra
O quanto cum certeza tanto eu quis.

Se fui ou num pudésse sê filiz
Viveno quanta veiz já nem mais erra
O véio coração enfrenta a guerra,
Mas continua sempre um aprendiz,

Ansim o meu caminho diz do nada
E nisso vou sumino nessa estrada
Tramano otra arapuca, uma armadia,

O tempo sem te tempo di discanso,
O meu oiá cansado quando arcanço
O sonho qui jamais inda pudia.


2

Oiano para trais cum piedade
Dos dia mais sufrido que passemo,
O tempo qui me assusta como um demo
Quar fosse praga e dô diz da sodade,

E quano na verdade a luta invade
Os dia cumpricado qui vivemo
Nus passo sem sentido, nós vortemo
Dexano no passado a craridade,

Os ói procura a lua e nada tem,
Dispois de tanto medo e sem arguém
Qui póssa consolá um cantadô,

No sumo da esperança, uma cachaça
A sorte sem sabê de nada traça
Sumente um dia triste e sufredô.


3

A vida num se cansa di mostrá
Nos passo cumpricado em noite escura
Ainda qui a verdade se pércura
Sabeno a véia istória desde já,

O tempo vai passano e vô falá
Enquanto a solidão diz amargura
Nem mermo um dia em pais vida assegura
E o sonho se perdeno aqui ou lá,

Metade do que fálo ninguém pensa,
A luta de quem sabe sê imensa
A noite perseguida prú quem ama,

Trazeno ao meu oiá intêra a lua,
Ponteio essa viola e a sorte crua
Bebeno essa vontade em luz e chama.

4

Sujeito mintiroso cumo o quê
Fazeno qui enxergasse quem num via,
A vida se mudano em agunia
O tempo já num dá qualque prazê,

A boca qui foi feita pra mordê
Causando no verdade essa arrelia
Falano do qui trais e num sabia
Venceno o quanto tenho por vencê,

Vancê num sabe nada dessa vida
E quano mais armenta essa firida
É munto mais pió do qui pensava

Quem sabe no finár ainda venha
E acende cum carinho a véia lenha
Inquanto o passo agarra i já me intrava.

5

Num fálo pur falá e nem discanso
Dispois de todo dia lá na roça
A vida trais o quanto a gente possa
E ansim a cada passo mais avanço.

Quem tem o coração mais doce e manso,
Ainda qui a verdade dando coça
Trazê inquanto a vida numa adoça
Cunforme u mufuá eu sarto e danço.

Os ói percura apenas uma luiz
E sigo o meu caminho, a minha cruiz
Fazeno dos meu verso qui ponteia

Viola qui só farta ansim dizê
Do mundo e nele tento argum prazê
Na lua qui esparrama intêra e cheia.

6

O canto se aprendeno di premera
Num dexa qui se fale noutra sorte,
A luta quano o sonho é munto forte
Trazeno a minha sorte companhera,

O tanto qui pudera e num mais quera
Vivê na poesia qui suporte
O prazo se espaino cura o corte
E trais no coração nova bandera,

Fazeno dessa inxada o meu sustento
O novo amanhecê trabaio e tento
Bebeno esta cachaça, a liberdade,

Dispois de tanto tempo tão sozinho
A moça se aproxima do caminho
Dexano esse prefume de sôdade.

7

Robáda pela vida uma esperança
Num dexa nem sinár pur onde passa
E quano se aproxima otra disgraça
Meu mundo na batáia enfim se cansa,

Num pósso nem falá dessa lembrança
A mão vai preparano nessa massa
O tempo quando o rumo diz e caça
A luta qui roçano já me arcança.

Viage qui pudésse notro passo
Inquanto com certeza o dia eu traço
Pintano cum meus ói essa beleza

O céu tudinho azul em forte sór
O sonho qui se qué sempe miór,
Dexano no camim essa incerteza.

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