O tempo; este corcel incontrolável
Seguindo as velhas regras, galopando
A cada novo instante renovando
Num ciclo que sei ser interminável,
No quanto poderia ter tocável
O todo que se molda desde quando
A sorte noutra sorte se tomando,
Apenas um cenário inigualável.
Reprises? Quem me dera, nunca mais,
As horas tão diversas, desiguais
Até que o jogo chegue ao seu final,
Após o nascimento e o batistério,
A vida em tal mistério ao cemitério
Galopa rumo ao tosco funeral.
As tantas noites soltas pela vida
O verso que tentara e não viera,
A senda mais diversa leda e fera,
A porta já trancada e consumida,
No quanto a própria história vai perdida,
A luta como fosse esta quimera
Depois de tanto tempo degenera
E trama a mesma lida, ora perdida.
Acasos entre ocasos, caos e casos
Até a pá de cal sobre o que resta,
Na cena mais diversa ou indigesta
Na morte do sentido destes vasos,
Exangue se prepara ao renascer
Em formas que tão vis, jamais vou ver.
O verso se aproxima em ato e sonho
Do quanto concebera em velhos dias,
Ousando com temor, mil fantasias
Aonde o descaminho; inda componho,
Percebo a cada instante o quão medonho
Meu mundo; e nele em dores vãs regias
Marcando com terror em agonias
A sorte que deveras decomponho,
Das cinzas de onde vim para onde vou
O nada após o nada me restou,
E o fato se transforma em corriqueiro,
Aquele que sonhava com jardim,
Renova-se afinal e sei que ao fim,
Também eu farei parte do canteiro.
Recrudescendo a guerra a cada instante
Açoda-me a incerteza e nada veio,
Ainda quando pude mais alheio,
Somente o desconforto se garante,
No quanto meu caminho é delirante
E sigo sem sentido algum, receio
Os tempos entre ocasos. Busco um meio
E nada se apresenta doravante.
Escusas não resolvem, muito menos
Momentos que pudera mais amenos
Vivendo esta incerteza até o fim,
Acrescentando ao verso uma emoção
E nela outras palavras moldarão,
Ditame pelo qual ao nada eu vim.
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Já não comportaria mais sequer
Um tempo aonde eu possa caminhar
Vencendo os meus anseios, céu e mar
Na maravilha em deusa, esta mulher
A vida aonde a pude desejar
Não deixa que se veja mais qualquer
Vontade do que possa e se vier
Traria esta certeza a nos rondar,
Vagando pelas noites, ermas, frias
Aonde no final nada querias
Encontro apenas nada após o nada
O tempo se esvaindo sem sentido,
Aos poucos o meu dia além olvido
E sigo sem saber em nova estrada.
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Levando dentro da alma esta vontade
Que tanto nos açoda e nos condena
A vida se apresenta mais serena
A quem todo este sonho agora invade,
E sei da mais dorida tempestade
A sorte não seria o que envenena,
Nem mesmo quando esta alma é tão pequena
Ousando muito além da liberdade,
No fim já não teria qualquer brilho
Quem segue outro caminho e já me pilho
Na ausência de esperança, fim de tarde,
Sem nada que pudesse ainda ver,
Apenas o caminho a se perder
Sem ter o quanto possa e nem resguarde.
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Nós somos sonhadores, tão somente,
A vida nos tornou loucos varridos
E os olhos entre tantos vão perdidos
Tentando neste solo uma semente,
E quando a própria vida ora nos mente
Trazendo na verdade os presumidos
Caminhos entre tantos resumidos,
E assim o sonho doma corpo e mente
A poesia aos pouco agoniza,
Qual pluma se perdendo em frágil brisa
Palavra não ecoa, morre só,
Mas mesmo assim lutamos contra a fúria
Da grana e do poder, da tosca incúria,
Sonhando com estrelas, piso em pó.
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Já não comporta em mim alguma sorte
Desdita se tornando mais freqüente
E quanto mais a vida aquém se sente
Do todo que decerto nos comporte,
A luta se desenha e traz em norte
A rara plenitude que não mente
E marca este caminho mais dolente,
Gestando um natimorto e turvo norte.
Carcaça de ilusões, mera fornalha
E quantas vezes; sigo e se batalha
Tentando vislumbrar algo e não vejo
Sequer a menor sombra do que fora
A sorte tantas vezes tentadora,
Perdida num momento em vão lampejo.
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Não pude e não quisera a menor chance,
O tanto se perdendo em quase nada,
A voz se transformando e desgrenhada
A sorte nada mais, decerto alcance.
O sonho noutro passo já se lance
E mostre a estrela rara e desenhada,
A minha vida então iluminada,
Pudesse se pensar nalgum relance,
Vestindo a mesma farda, medo e dor,
E nada mais aguarda um sonhador
Senão a mesma infâmia o mesmo vago,
Ainda se existisse Deus indago
E visto a fantasia em ar atroz,
Tentando adivinhar o que há de nós.
Levando dentro da alma a mesma face
Ainda que diversa, ouso além
E bebo do vazio que contém
O quanto na verdade se moldasse,
E quantas vezes; sinto o que se trace
Gerado pelo caos, ledo desdém,
Procuro inutilmente por alguém
E nada mais conduz ao que esperasse,
Vagando sem destino qual cometa
Ainda que ao jamais; vida arremeta
Meus sonhos são diversas cordilheiras,
Abutres, rapineiras aves trago
No olhar onde o não ser fazendo afago
Traz na mortalha atroz suas bandeiras.
Não trago qualquer marca do passado,
Sequer tal cicatriz que, tatuada
Expressa a imensidão da vaga estrada
E nela outro caminho desenhado,
Apenas ao sentir em ledo enfado
Fortuna tanta vez abrutalhada
Cerzindo do não ser o mesmo nada,
Enquanto pouco a pouco, aquém me evado.
Espero pelo menos num momento,
Viver o quanto possa e se me alento
Eu me alimento então desta esperança
Diversa magnitude dita o tanto
Aonde sem firmeza não garanto
Sequer o que este passo não avança.
Morrer e ter apenas a certeza
De um nada que deveras tomará
O quanto inda talvez e desde já
Seguisse seu destino e natureza,
A luta se desenha e sendo presa
Do todo que decerto tornará
O mundo sem sentido e aqui ou lá
Apenas o vazio por surpresa,
Negar qualquer anseio, ser aquém
Do quanto imaginara e nada vem
Somente a mesma face em dor e tédio,
Mortalhas? Lutos? Erros contumazes,
Apenas o sorriso que hoje trazes
Enquanto as larvas fazem seu assédio.
Bisonhamente crera num momento
Nos ermos mais longínquos da emoção,
E quantas vezes sinto imprecisão
Enquanto qualquer erro eu alimento,
Vencendo a cada engodo o desalento,
Navego e sei dos termos que trarão
Sementes desta rude ingratidão,
Ao espalhar o canto noutro vento.
Assento esta poeira e tento mais,
Os dias se perdendo, desiguais
Erráticos momentos, caos e queda,
E quando me aproximo do meu fim,
Apenas desenhando o que há em mim,
A vida sem sentido se envereda.
Legados que inda trago do passado,
Acrescentando ao tempo algum segundo,
O quanto poderia e já me inundo
Do rumo noutro tanto desenhado,
Ocasos entre medos, meu legado,
O tanto quanto quis bem mais profundo
E neste caminhar um vagabundo,
Expressa este cenário desolado.
Esqueço do que um dia fosse assim,
O tempo se aproxima do seu fim,
Marcando a ferro e fogo a fantasia,
Já nada mais resiste à fera sorte
Nem mesmo qualquer trama me conforte,
Talvez o que inda reste eu não veria.
Num tempo aonde eu possa prosseguir
Ousando contra erráticos momentos
E sei dos meus caminhos, desalentos
Já não vislumbro nada no porvir,
A luta se repete e me repele
Enquanto o que tentara não vestira,
As ledas ilusões, cada mentira
O lobo de carneiro veste a pele,
E o salto se prepara na tocaia,
Ainda quando quis alguma luz,
Cenário sem sentido reproduz
E quanto mais procuro a vida traia,
E vence os dissabores, desafetos
Matando os meus caminhos mais diletos.
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