1
Quando a morte não se atrasa
E penetra mansamente
Ou talvez mais bruscamente
Toda a sorte se defasa
E o que fosse enfim uma asa
Noutra face se apresente
E num átimo, um repente
No vazio já se embasa.
O que se fora uma atitude
Mesmo quando nos ilude
Vem chegando; supetão,
O que trago se esvaindo
O caminho presumindo
Desvio de direção?
2
Brevidade de uma história
Que pudesse ser diversa,
Para início de conversa
De que vale tal memória?
Quando a vida é merencória
Ou sozinha se dispersa
Noutro tempo não mais versa
Resta apenas mera escória.
O que fora no passado
Rumo outrora desenhado
Garatuja se transforma,
O final já se mostrara
E a verdade bem mais clara
Toma estranha e rude forma.
3
Cada instante que ultrapasse
O final pré-concebido,
Noutro tanto resumido,
Escondendo a velha face
Deste mesmo desenlace
Que embarace algum sentido,
Vivo e perco o já carpido
Cada anseio que se trace.
Navegar contra as marés
E saber até quem és
Se no fundo nada sou,
Do que tive, embora pouco,
O que pude feito um louco,
Mouco sonho, o que restou.
4
Uma senda ora perdida
Nas estradas ou bem perto,
O meu sonho que desperto
Já não vendo uma saída,
Traz a sorte em despedida
Ou o tempo sempre aberto
Ao que possa e não deserto,
Esperança corrompida.
Vejo o sonho e me aproximo,
Sei da queda em lodo e limo
Sei do cimo que não veio,
Eu tentara ser feliz,
Já não tento e se desdiz
O que tanto em vão rodeio.
5
Começando novo enredo
Onde houvera mais um sonho
No final o que proponho
Traz o tanto e já concedo,
Vejo o tempo e desde cedo
Novo mundo eu recomponho,
Sou atroz, rude e bisonho,
Mas não pude em teu segredo.
Terminando o quanto possa
Numa senda que foi nossa
Enveredo em meu passado,
Bebo tragos de loucura
E se tanto me tortura,
Noutro rumo já me evado.
6
Acabando um sonho, um mito,
A verdade que me sobra
Noutro tempo se desdobra
E procuro ou necessito
Deste encanto, nosso rito,
Penetrando em cada dobra
A palavra se desdobra
E traduz algo infinito.
Sendo assim, sou mesmo o nada
Ou quem sabe desta estrada
Encontrasse uma certeza
Que levasse meu anseio
Mesmo encanto não mais veio,
Sigo contra a correnteza.
7
Alcançasse qualquer ponto
Entre tantos portos, cais,
Ouso ouvir ou sem jamais
Encontrar qualquer desconto,
Sigo o mundo quase pronto
E se tanto agora esvais
No final tantos sinais
Transformando em mero conto.
Já não pude e nem pudesse
Entender a velha prece
Estender a mão em paz,
No que tange ao passo herege,
O momento que nos rege
Nem encanto enfim me traz.
8
Ao saber o que inda vinha
Emergindo do passado
Noutro tempo desenhado,
Numa sorte leda e minha,
O que tento e não continha
O meu verso desenhado
Mesmo quando em sonho evado
A palavra não se alinha,
Restam poucos sonhos meus,
Do que fossem apogeus
Gerações após a queda
Remoendo cada engano
No final seguindo insano,
Minha história ora se veda.
9
Sei somente desta morte
Que jamais eu pude ter,
O que possa amanhecer
Na verdade não conforte,
E se tento um novo norte,
O meu raro entontecer
No vazio a se perder
Ou no tanto me comporte,
Vago sem saber do quanto
Possa e nada mais garanto
Nem sequer tal previsão,
O meu sonho, meu bornal,
Num instante sem igual,
Traz apenas solidão.
10
Jamais pude num deserto
Crer apenas liberdade
O futuro sendo incerto
O que resta? Esta saudade.
Do que um dia foi desperto
E deveras sem verdade
Noutro passo não acerto
Sem saber tranquilidade.
Aversão ao que se visse
Noutra senda, outra tolice
O momento se repete,
No que tange ao sonhador
Esta marca em plena dor,
Ao vazio me arremete.
11
Nos anseios deste inferno
Onde a vida traz o não,
Anotando no caderno
Revivendo esta emoção,
O que posso e não externo
Não traduz uma ilusão,
Ou talvez num duro inverno
Novos dias nos verão.
Sei que pude acreditar
Sei que tento desejar
E no fundo nada vem,
Ouso crer neste cenário,
Velho rude itinerário
E prossigo sem ninguém.
12
Meu caminho estando aberto
Nada impede a caminhada
E seguindo este deserto
Como fosse alguma estrada,
No final quando desperto
Não restando quase nada,
A palavra em rumo incerto,
A verdade desolada.
Verso sobre o que não pude
Sem saber o que teria,
Se a verdade é sempre rude,
O que resta em agonia
Toma toda esta amplitude
E meu sonho ora se adia.
13
Tantas milhas; caminhei
Na procura de quem sou
Ao passar de grei em grei
Pouca coisa enfim restou,
O momento que hoje sei
O cenário me tomou
A verdade eu vasculhei
E o que possa não sobrou.
Sou deveras o que fora
A palavra sonhadora
A incerteza mais sutil,
O meu verso segue alheio
E colhendo o quanto veio
O final já se previu.
14
Adentrando o pensamento
O que tento e não percebo
Faz do amor, velho placebo
Onde o todo sigo e tento,
Ao viver o sentimento
Que deveras mal concebo,
Emplacando o quanto bebo
Num ausente firmamento.
Nada mais neste horizonte,
Nem o quanto já desponte
Após toda a tempestade,
Num olhar iridescente
O futuro se apresente,
Mas no fim também se evade.
15
Abordando a florescência
Do que tanto desejei
O cenário que entranhei
Ou por vaga coincidência
Traz apenas a influência
Do que tanto imaginei
E no fim já não terei
Nem sequer tal consciência.
Vago apenas onde possa
A certeza não é nossa,
Mas se apossa de minha alma,
A tempesta se aproxima
E reinando amargo clima
Nem o fim de tudo acalma.
16
Eu queria qualquer nexo
Onde apenas reina a dor,
O que possa refletor
Faz o dia mais complexo,
E procuro e mesmo anexo,
Um caminho sem temor,
Procurando a mansa flor
Ou num sonho amor perplexo,
Visto a pele de cordeiro
E se salto e vou inteiro
Nesta lúbrica loucura,
Sou hedônico fantoche,
Mas se fosse algum deboche,
A verdade não tortura.
17
Apagando cada lume
Que guiasse noite afora,
A verdade se resume
Na emoção que nos devora,
Tanto amor, raro perfume,
A palavra desancora
E o que possa em tal costume
Desenhando o que se aflora.
Já não tenho mais resposta
O que tanto mais queria
Na incerteza sendo exposta
A palavra nua e fria,
A incerteza da proposta
Traz a mágoa a cada dia.
18
Quando eu vou, cambaleante
Sendo assim cada momento,
Onde o tempo eu sigo e atento
No vazio me agigante,
Outro tanto não encante
Quem se faz em sentimento
Loucamente bebo e tento
O final não se garante.
Verso sobre o que não veio,
Ando em sóis e sem receio
Sou apenas este aborto,
O meu passo não se firma,
A palavra reafirma
Meramente o velho porto.
19
O volver do que se queira
Noutro tom ou mansa voz,
A certeza por bandeira
O momento mais atroz,
O caminho, esta ladeira
Da esperança, mera foz,
A se possa a vida inteira
Nada sigo em mar atroz,
Calidez? Mera desculpa
Nesta tanto que ora esculpa
Sem palavra e sem buril,
O que tanto desejei
Hoje traz em nova lei
O que outrora permitiu.
20
Um deserto, o velho rio,
Noutro ponto algum momento
E se vejo o que ora tento
E deveras desafio,
Bebo o tempo em desvario
E no fim eu me atormento,
Tendo amor, ledo fermento
O meu passo segue frio.
Sem saber do quanto pude,
O que tanto em juventude
Amortalha o coração
De quem age mansamente
E se traz o quanto sente
Trama a velha negação.
21
A maciez de uma senda
Onde nada se perdera
A vontade já desvenda
O que tanto parecera
Com o quanto mais atenda
Outra sorte em que tecera
A saudade que se estenda
Mesmo além e se esquecera,
Nada mais eu pude então
E se tento em provisão
Mais diversa do que possa,
A palavra mais cruel,
Rasga o sonho, rompe o véu
E no fundo é sempre nossa.
22
Quando a vejo e sinto a pele
Eriçado pensamento
E deveras sempre tento
O que tanto me compele,
Na saudade já se atrele
O meu tempo em manso vento,
E bebendo o sentimento,
Outro tanto me atropele,
Vivo em tal constância e sigo
Qualquer tom em rude abrigo,
Novamente me permito
Acredito no que seja
Nosso amor, rude peleja,
Num cenário mais aflito.
23
Nos veludos, no cetim,
Nos delírios e nas tramas,
Quando vens eu vejo em mim
O que tanto sempre clamas,
E bebendo desde o fim
Já não possa em velhos dramas
Mergulhar enquanto eu vim
Açodado em tuas chamas,
Nada mais pudera ter
E se tanto não pudesse
O que possa em rude messe
Não traria algum prazer,
Tão somente o que se tece
Nos anseios do querer.
24
Minha vista em miopia
O meu canto em tom diverso,
O que posso e não teria
Desenhando em cada verso,
Molda a sorte em agonia
E o cenário mais perverso,
Vejo o quanto te queria,
Neste enredo sigo imerso,
Nada mais se molda após
O que tanto quis e vejo
Onde a vida traz a voz
Não percebo tal traquejo
O momento mais feroz,
Traduzindo o que desejo.
25
Na incerteza um raro porto
Apoiando quem navega,
A palavra, o sonho morto,
A verdade quase cega,
O que possa segue torto
E negando alguma entrega,
Simplesmente mero aborto
Na verdade que sonega.
O versículo, a verdade,
O momento em tom cruel,
Vago sempre em ledo céu
E se bebo a claridade,
No final cumpro o papel
De quem sonha em liberdade.
26
Esta vida sem suspeita
Esta luta sem ter paz,
Do cenário onde se traz
A verdade que deleita,
O meu mundo não aceita
Nem sequer vive o mordaz
Desejar quando o que faz
Deixa atrás em leve espreita.
O veneno destilado
O caminho desenhado
Entre pedras e rochedos,
Os meus dias mais sutis,
Na verdade o quanto eu quis
Desfazendo meus enredos.
27
Sem a fresta a luz não passa
Cada treva diz de nós
E se tanto foi fumaça
O que tento em tom atroz,
A verdade se embaraça
E mergulha em leda foz,
O que versa sem trapaça
Dita o canto mais feroz.
Já não vejo qualquer sorte
Onde tanto mais queria
A saudade, esta heresia
No final não me comporte,
Bebo em goles bem diversos
A ilusão de velhos versos.
28
Caravanas que em desertos
Beduínos caminhantes,
O que tanto são despertos
Noutros rumos não garantes,
Outros cantos são abertos
Ou pudessem delirantes,
Mas mergulho nos incertos
E sei bem o que foi antes.
Realizo o verso quando
Outro tanto se mostrando
Na desnuda companhia
Do meu verso sem pudor,
Do meu canto em desamor
Ou do sonho que não via.
29
Esquecendo mais depressa
O que tanto prometesse,
A loucura recomeça
Onde o nada obedecesse
A vontade que me apressa
A incerteza que se tece,
Na palavra onde confessa
O que a vida não me desse.
Versejando sem sentido
Sem sentir o que viria,
Bebo enquanto o canto olvido
E mergulho em fantasia,
No meu tempo resumido,
O que perco, a cada dia.
30
Tempo traz o que não veio
E não venha o que se faz
Onde o canto diz receio
Encontrasse a minha paz,
Noutro rumo em devaneio,
O meu passo mais audaz,
A verdade mostra um meio
Que decerto satisfaz,
A incerteza da resposta
A palavra solta ao vento,
Na mortalha agora exposta
O que possa e não atento,
Esperando a decomposta
Sorte em raro pensamento.
31
Cada tempo, seu espaço
Trago os olhos no futuro,
E se tanto tento e traço
O que possa; eu asseguro,
Vejo a vida em rude laço
E no fim quando perduro
O meu mundo traz o lasso
Caminhar e me torturo,
Vagão sem locomotiva
A minha alma mais altiva
Vive vaga fantasia,
Do que possa ser apenas
Tão somente me condenas
Onde nada enfim havia.
32
Se eu pudesse ser feliz
Se tivesse esse poder
O que possa e tanto quis
Na verdade diz querer,
O cenário do aprendiz
Onde o todo a se perder
Não traria céu tão gris
Sonegando amanhecer,
O meu verso se invertendo
O meu tempo se prevendo
Num cenário multicor,
Primaveras que imagino,
Num cenário cristalino
Feito luzes, nosso amor.
33
Onde eu possa me encontrar
Depois disto ou mesmo até
Quando envolto num luar
Procurasse a mansa fé
O caminho a desenhar
O que tanto diz quem é
A vontade de chegar
O momento feito a pé.
O cenário mais profano,
Onde tanto desengano
Quem ilude o pensamento,
Marcações diversas; vejo
E se tanto amor, desejo
Noutro tanto reinvento.
34
Da esperança, leve fumo,
Da verdade a pedra rude,
O que possa e desilude
Transformando aonde eu rumo,
Na verdade me acostumo
E traduzo o mais que pude
Na finada juventude
Ou no sonho em mero sumo.
Verso após o que não veio,
E se tento outro receio
Impedisse um passo além,
A verdade se desenha
Onde o nada sempre venha
Onde o tempo nada tem.
35
São diversas sensações
As que possam me trazer
O caminho aonde expões
A verdade em desprazer,
O meu mundo em ilusões,
Nos porões eu possa ver
O que tanto em explosões
Já não possa mais conter.
Esquecendo o que afinal
Poderia menos mal,
Traduzir felicidade,
O meu barco num naufrágio,
Coração cobrando este ágio
Traz em dor, a liberdade.
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